Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao XVI Prmio Expocom 2009 Exposio da Pesquisa Experimental em Comunicao

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Uma pauta experimental para um jornal-laboratrio1

Maria Gabriela Florenciano Ferreira de BRITO2

Andr Azevedo da FONSECA3

Universidade de Uberaba, Uberaba, MG

ResumoO artigo procura discutir o processo de discusso de pauta e de edio do jornal-laboratrio Revelao, produzido pelos alunos de Comunicao Social da Universidade de Uberaba (Uniube). Para isso, efetuamos um estudo de caso sobre a edio no 340, realizada por alunos da disciplina Tcnica de Reportagem, Entrevista e Pesquisa no primeiro semestre de 2008.

PALAVRAS-CHAVE: jornalismo literrio; jornal-laboratrio; pauta; cultura e diversidade

1 INTRODUO

O jornal-laboratrio Revelao o veculo experimental do curso de Comunicao

Social da Universidade de Uberaba (Uniube). Criado em agosto de 1997, o peridico

passou um uma substancial transformao grfica e editorial no ano seguinte, sobretudo a

partir das novas perspectivas propostas por Edvaldo Pereira Lima (1995), ento diretor do

curso. Deste modo as reportagens passaram a ser realizadas sob a tica da humanizao da

narrativa jornalstica, tal como registrada por Lima (1999) por ocasio da meno honrosa

conferido ao Revelao no Prmio Top Educacional Mrio Palmrio, em 1999.

No decorrer desses anos as equipes de alunos e de professores orientadores

procuraram manter esse compromisso com o relato humanizado e criativo, orientando-se

tambm pela perspectiva do dilogo entre a escrita e a oralidade, tal como sugere Vargas

(2003), e pelo princpio do jornalismo como uma ferramenta de reflexo crtica e

transformao social, tal como prope Fonseca (2005), fundamentando-se em Paulo Freire

(2003). Alm disso, em um trabalho anterior j tiver a oportunidade de argumentar sobre

alguns dos ideais que norteiam a prtica do jornal Revelao:

O jornal-laboratrio uma experincia bastante enriquecedora para estudantes de Comunicao. Com este instrumento, os alunos podem experimentar novas formas de praticar o jornalismo e testar linguagens que ainda no foram consolidadas pela histria da profisso. Assim, a pesquisa, a criatividade e a experimentao de novas pautas e modelos jornalsticas se configuram como

1 Trabalho submetido ao XVI Prmio Expocom 2009, Categoria Jornalismo, modalidade Jornal Impresso (avulso).2 Aluna do 5 perodo de Comunicao Social, habilitao Jornalismo, da Universidade de Uberaba (Uniube)3 Professor orientador. Docente no curso de Comunicao Social e na ps-graduao em Lingstica Aplicada na Universidade de Uberaba (Uniube). Coordenador do Memorial Mrio Palmrio (Uniube). Doutorando em Histria na Universidade Estadual Paulista (Unesp/Franca). Autor de Cotidianos culturais e outras histrias: a cidade sob novos olhares. (Uniube, 2004). http://azevedodafonseca.sites.uol.com.br

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alternativas viveis para a permanente construo e reconstruo deste jornal. O aluno tem a oportunidade aplicar o embasamento terico e exercitar as reflexes tericas no seu texto jornalstico, compreendendo a maneira como ele foi estruturado. (FONSECA; SANTOS, 2008)

Como o presente trabalho procura analisar a edio 340, publicada em maro de

2008, faremos um esforo para concentrar nossas atenes neste nmero em particular. Na

ocasio o Revelao era veiculado mensalmente, com 20 pginas, e sua linha editorial

estava voltada a temas relacionados sobretudo cidadania, cultura e comportamento. Ao se

deparar com o produto impresso, os leitores dificilmente imaginam todo o processo criativo

que deve ser desenvolvido para a realizao do peridico. Pelo fato de no se tratar de um

jornal profissional, todas as etapas tm um sentido pedaggico e, por isso, despertam

numerosos debates, muitos deles impraticveis no processo industrial do jornalismo

comercial.

A pauta principal foi decidida atravs de discusso em sala de aula com os alunos do

da disciplina Tcnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa, no primeiro semestre de 2008.

Os alunos fizeram um brainstorm, juntamente com o professor, e discutiram diversos

temas. O primeiro ponto observado foi a questo da periodicidade: como se tratava de um

jornal mensal, as pautas deveriam ser direcionadas a temas capazes de perdurar. Ou seja, o

veculo no comportava as chamadas matrias quentes. Em seguida, observamos que o

pblico-alvo do jornal eram os estudantes universitrios, tendo em vista que o jornal

distribudo no Campus ainda que parte da edio seja encartada em um jornal da cidade.

Por tudo isso, procuramos enfatizar a contemporaneidade dos temas, a criatividade da

abordagem e a vinculao com o interesse dos universitrios. Contudo, o mais importante

era o carter experimental da pauta. Em outras palavras, a turma no queria matrias

convencionais, mas reportagens que ousassem tanto no tema quanto na linguagem. Vrias

sugestes foram debatidas, at que a equipe chegou a um consenso sobre as pautas a serem

cumpridas e tambm sobre a matria de capa.

Ficou decidido, por fim, que a reportagem principal deveria investigar as mensagens

que os universitrios registram nas portas dos banheiros da faculdade. O reprter deveria

ligar para os telefones anotados caneta, em supostos anncios informais, para verificar se

eles eram verdadeiros ou no. Ficou estabelecido que trs alunos deveriam explorar o tema,

pois uma matria deveria apurar os banheiros masculinos, e outra os femininos. Alm disso,

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inspirado em Fonseca (2004), decidiu-se que o terceiro reprter deveria tratar de algumas

lendas de banheiro, tal como a Mulher do Algodo.

Aps o desenvolvimento das pautas os alunos realizaram as entrevistas e efetuaram

as reportagens, que passaram por vrias etapas de correo e edio. O prximo passo foi

distribuir os textos de modo coerente pelas pginas do jornal e criar as chamadas de capa.

Aps muita discusso, tendo em vista o tema da matria principal, a maioria concordou

com o ttulo "Cultura Privada".

Toda a produo foi realizada pelos alunos do terceiro perodo, sob orientao do

professor. O nico texto publicado de aluno outra turma foi no Caderno Literrio. Ao todo

foram nove matrias, um editorial, uma nota da redao e um conto. As matrias discutiram

assuntos variados, mas todos relacionados, de um modo ou outro com a vida universitria.

Uma reportagem mostrava um aluno que cursava Direito e Medicina ao mesmo tempo, e

ainda destacava-se nos dois cursos. Alm disso, publicamos uma matria sobre Role

Playing Game (RPG) na educao e outra sobre o circuito de jazz nos bares da cidade.

Procuramos discutir tambm temas relacionados ao consumismo, tanto em relao moda

quanto cultura de fast-food. A ltima reportagem narrou o drama de um aluno de

Comunicao Social que foi para os Estados Unidos ilegalmente para encontrar a me e a

irm, e acabou sendo preso.

2 OBJETIVO

Como registramos em um trabalho anterior o objetivo do Revelao , em primeiro

lugar, oferecer um instrumento pedaggico para que os alunos exercitem, de forma

experimental, algumas dimenses da prtica jornalstica profissional. Ao mesmo tempo, o

jornal procura servir como um meio de comunicao que contribua para que a sociedade

local conhea sua histria e personagens do cotidiano. (FONSECA; SANTOS, 2008).

No caso do Revelao nmero 340, o objetivo foi mobilizar a turma para a produo

em jornalismo impresso e incentivar o debate sobre cultura, educao e consumismo, alm

do debate sobre imigrao.

3 JUSTIFICATIVA

Defendemos que o jornal impresso ainda um instrumento importante para o registro

e a difuso da memria da comunidade. (FONSECA; SANTOS, 2008). Utilizar o jornal-

laboratrio como um instrumento de discusso de temas contemporneos assumir o

compromisso com a construo de um ambiente de idias mais democrtico.

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4 MTODOS E TCNICAS UTILIZADOS

Para executar o jornal, a turma reuniu-se em sala de aula com o professor para a

deciso do tema principal. Durante quase toda a aula os estudantes propuseram diversos

assuntos que foram enumerados no quadro-negro. Aps muita discusso, decidiu-se o tema

da matria de capa: no caso, grafitos nas portas de banheiros pblicos. Referindo-se ao

Revelao, Fonseca e Santos (2008) registraram que:

As discusses de pauta no deixam de abordar problemas ideolgicos, polticos, sociais e histricos da construo da notcia, pois o objetivo desses encontros fazer uma reflexo profunda sobre o fazer jornalstico, e no apenas simular uma reunio de pauta convencional. (FONSECA, SANTOS, 2008)

Nessa etapa tambm so designados os reprteres interessados em redigir as matrias

sobre determinada pauta.

4.2 Redao das matrias

Os reprteres foram a campo pesquisar as fontes capacitadas para tratar dos assuntos

escolhidos. Aps esse trabalho, cada um produziu sua prpria reportagem, que passou

depois pela aprovao dos outros alunos e pela correo do professor responsvel. Quando

as matrias foram aprovadas e corrigidas elas foram encaminhadas para a equipe de

diagramao.

4.3 Diagramao

A diagramao foi feita por duas alunas bolsistas, que so selecionadas especialmente

para trabalhar na composio grfica do Jornal Revelao. Durante todo o processo o

professor e os alunos responsveis pela edio acompanharam os trabalhos, sugerindo

novas idias e corrigindo problemas na disposio de textos e fotos. Alm disso, a turma

discutiu ttulos, linhas finas, olhos e legendas.

4.4 Distribuio

O prprios alunos foram responsveis pela distribuio no Campus. Quatro mil

exemplares foram encartados em um jornal local. Os outros foram distribudos em todos os

Campi da Uniube, assim como em lugares estratgicos, tal como shoppings e bibliotecas.

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5 DESCRIO DO PRODUTO

O Revelao nmero 340 um jornal-laboratrio que foi produzido pelos alunos do

3 perodo da matria de Tcnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa. O jornal possui

formato tablide e confeccionado em papel jornal. Ele possui 16 pginas, sendo que

quatro so coloridas: a matria central (duas pginas), a capa, e a ltima pgina, que

geralmente vem com alguma arte produzida pelos alunos da Portflio, uma agncia

publicitria-laboratrio da Uniube. Um edio do jornal feita a cada ms, distribudo por

toda a Universidade e em pontos estratgicos da cidade.

6 CONSIDERAES FINAIS

Ter a possibilidade de participar da produo de um jornal no qual os prprios alunos

definem as matrias seguindo uma linha editorial prpria uma experincia muito preciosa

para a formao profissional. Alm disso, os reprteres tm a chance de ver seu nome

divulgado pelo Campus e pela cidade, o que trs orgulho e incentivo.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

LIMA, Edvaldo Pereira. O livro-reportagem como extenso do jornalismo e da literatura. Campinas: Unicamp, 1995.

________________. O jornal-laboratrio Revelao e a humanizao da narrativa jornalstica. ABMES Cadernos 4: Prmio Top Educacional Mrio Palmrio 1999. Disponvel em:. Acesso em: 20 mar. 2009.

FONSECA, Andr Azevedo da. Cotidianos culturais e outras histrias: a cidade sob novos olhares. Uberaba: Uniube, 2004.

FONSECA, Andr Azevedo da. Jornalismo para a transformao: a pedagogia de Paulo Freire aplicada s Diretrizes Curriculares de Comunicao Social. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CINCIAS DA COMUNICAO, 28, 2005, Rio de Janeiro. Anais... So Paulo: Intercom, 2005. Disponvel em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0561-1.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2009.

FONSECA, Andr Azevedo da.; SANTOS, Graziela Tavares. Revelao: jornal-laboratrio do curso de Comunicao Social da Uniube. In: EXPOCOM SUDESTE, 2008, So Paulo. Anais... So Paulo: Intercom, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 28 mar. 2009.

FREIRE, Paulo. Educao como prtica da liberdade. 15 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

VARGAS, Raul Hernando Osrio. O lugar da fala na pesquisa da reportagensaio: O homem das areias, um flagrante do dilogo oratura-escritura. 2003. Tese. (Doutorado em Comunicao) Universidade de So Paulo, So Paulo, 2003.