jornalismo popular ancorado e espetacularizaÇÃo: o modelo regionalizado do programa balanço geral

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7/29/2019 JORNALISMO POPULAR ANCORADO E ESPETACULARIZAÇÃO: o modelo regionalizado do programa Balanço Geral http://slidepdf.com/reader/full/jornalismo-popular-ancorado-e-espetacularizacao-o-modelo-regionalizado-do 1/56 Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) Tatianne Barcellos Luciano JORNALISMO POPULAR ANCORADO E ESPETACULARIZAÇÃO: o modelo regionalizado do programa Balanço Geral Belo Horizonte 2012 

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Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH)

Tatianne Barcellos Luciano

JORNALISMO POPULAR ANCORADO E ESPETACULARIZAÇÃO:

o modelo regionalizado do programa Balanço Geral

Belo Horizonte2012 

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Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH)

Tatianne Barcellos Luciano

JORNALISMO POPULAR ANCORADO E ESPETACULARIZAÇÃO:

o modelo regionalizado do programa Balanço Geral

Monografia apresentada ao Departamento de Comunicação e Design(ICD) do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), comorequisito parcial para obtenção do título de bacharel em Jornalismo

Orientadora: Lorena Tárcia

Belo Horizonte

2012

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SUMÁRIO

SUMÁRIO .................................................................................................................................. 3INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 41 A TELEVISÃO BRASILEIRA E O GÊNERO OPINATIVO ................................................61.1 Breve histórico da televisão no Brasil .................................................................................. 61.2 Discurso no jornalismo televisivo .......................................................................................101.3 A televisão e a disputa pela audiência ...............................................................................111.4 A opinião entrelaçada à informação jornalística ................................................................. 131.5 O papel do âncora no telejornalismo .................................................................................. 15

1.6 Telejornalismo regional ...................................................................................................... 182 O SENSACIONAL E O ESPETACULAR NO TELEJORNALISMO POPULAR ............202.1 O crescimento do jornalismo popular ................................................................................ 202.2 A espetacularização da notícia na televisão ........................................................................222.3 O sensacionalismo na imprensa .........................................................................................262.4 Merchandising no telejornalismo ........................................................................................303 JORNALISMO POPULAR ANCORADO E ESPETACULARIZAÇÃO ............................333.1 Metodologia de pesquisa .....................................................................................................333.2 Breve histórico da Record ..................................................................................................353.3 Rede Record Minas .............................................................................................................363.4 A receita regionalizada do Balanço Geral .......................................................................... 37

3.5 O Balanço Geral Minas: equipe e rotinas de produção .......................................................393.6 Análise descritiva do Balanço Geral Minas ........................................................................ 413.6.1.Os gêneros jornalísticos ..................................................................................................413.6.2 Construção da notícia .......................................................................................................453.6.3 A presença do apresentador e a participação do telespectador no telejornal ...................48CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 52REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................55

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INTRODUÇÃO

A televisão é a principal fonte de informação e entretenimento de uma parte significativa dos brasileiros. Essa mídia se popularizou e avançou em tecnologia. As coberturas jornalísticas

ficaram mais ágeis com o advento tecnológico digital.

Bistante e Bacellar (2010) alegam que a televisão é um negócio, como tal, precisa de receita

 para sobreviver no mercado. As organizações precisam elevar o número de telespectadores,

que corresponde ao faturamento da empresa. As pesquisas de audiência são fundamentais para

acompanhar o crescimento da emissora. A audiência interfere de forma direta na linhaeditorial de um programa, capaz de definir interrupção de um VT, explicam as autoras.

A busca incessante pela renovação das notícias e a exigência de rapidez na divulgação são

fatores que prejudicam o resultado satisfatório da informação, critica Arbex Junior (2002). A

mídia transformou-se em sinônimo de grandes investimentos. Com expansão e o crescimento

econômico da camada popular, muitas emissoras começaram a direcionar as programações

 para este público.

Alguns telejornais acabam sendo adaptados à classe popular com predomínio da linguagem

chula, chamadas irreverentes, matérias cômicas e ligadas às denúncias de interesse público.

Amaral (2006) afirma que o jornalismo popular passa também por transformações nos

aspectos visuais e no conteúdo. Dentre as estratégias para seduzir o público, estão a busca da

linguagem simples e a apresentação das matérias voltadas para o cotidiano da classe.

O presente trabalho de pesquisa em questão discute a espetacularização da informação

 jornalística nos telejornais. Para isso, foi analisado o programa Balanço Geral , exibido pela

 Record Minas, de segunda a sexta-feira, por volta de 12h50, no horário de almoço. A linha

editorial é voltada para o público popular, sendo composta por matérias da editoria de polícia,

gerais e a prestação de serviço. As notícias de caráter popular e utilidade pública são o foco

do programa, acompanhadas pelo bom humor e a crítica do apresentador.

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O Balanço Geral é apresentado por Mauro Tramonte e propõe mostrar as principais notícias

de Minas Gerais. Uma característica do programa é a presença efetiva do apresentador, nos

comentários pessoais nas reportagens e na apresentação de alguns quadros de merchandising. 

A escolha do tema da proposta de pesquisa deve-se à observação empírica da constante

 presença de discursos opinativos nos telejornais da capital de Minas Gerais, uma prática que

ganha cada vez mais espaço.

O objeto de pesquisa escolhido é relevante para o estudo da produção jornalística regional,

 pois se trata de um programa de grande audiência na capital mineira. O Balanço Geral é um

 programa jornalístico que tem agradado ao público popular, com matérias voltadas paracobertura policial e prestação de serviço, além de mesclar entretenimento. O programa é lider 

de audiência no horário, com crescimento de 36%, entre os anos de 2008 e 2011. Nos últimos

três anos o Balanço Geral aumentou seu índice em 13%, segundo dados do IBOPE1.

 Nas escolas de comunicação os alunos aprendem que o jornalista tem o compromisso de

informar ao público sobre um determinado fato sem impor juízo de valor à reportagem. O

trabalho pretende estimular uma reflexão da prática jornalística nos dias atuais, expor paracomunidade acadêmica a importância de executar a função diária do jornalista seguindo as

diretrizes teóricas. Um olhar crítico sobre o papel dos telejornais é importante para formação

 profissional.

1  http://noticiasdatvbrasil.wordpress.com/tag/mauro-tramonte/, 2012.

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1 A TELEVISÃO BRASILEIRA E O GÊNERO OPINATIVO

1.1 Breve histórico da televisão no Brasil

Em 1949, a televisão começou a ser implantada no Brasil, pelo jornalista Assis

Chateaubriand. O empresário adquiriu cerca de 30 toneladas de equipamentos para montar 

uma emissora e tornou-se dono do primeiro grupo brasileiro de veículos de comunicação de

massa, o grupo Diários Associados. (MATTOS, 2002)

A televisão foi inaugurada oficialmente no Brasil em 1950, na cidade de São Paulo. Seu

desenvolvimento ocorreu apoiado no rádio, utilizando a estrutura, o mesmo formato de programação, além dos técnicos e artistas.

A vida cultural do Brasil, na época da chegada da televisão, era concentrada no Rio de

Janeiro. A cidade era palco de atrações internacionais e o cassino era a diversão da elite local.

Mas o jogo foi proibido e as pessoas foram obrigadas a encontrar outra distração. A televisão

ajudou a suprir a demanda desses grupos por novos entretenimentos. (MATTOS, 2002)

Segundo Mattos (2002), o crescimento inicial da televisão pode ser atribuído às licenças

concedidas pelo governo para exploração de canais. Mas o Ministério das Comunicações

alterou o processo de concessão em 1967 e “passou a levar em conta não apenas as

necessidades nacionais, mas também os objetivos do Conselho de Segurança Nacional, de

 promover o desenvolvimento e a integração nacional.” (MATTOS, 2002, p.51) Todas as

medidas foram tomadas devido o contexto político da época, a ditadura militar.

Desde o início da implantação da televisão no Brasil, a publicidade se fez presente,

influenciando os mais variados setores socioeconômico e cultural do país, de acordo com

Mattos (2002). O patrocinador chegava a interferir diretamente sobre vários aspectos dentro

da emissora. Ainda hoje a televisão aberta tem a publicidade como a principal fonte de renda.

As primeiras imagens da televisão no país foram transmitidas pela TV Tupi-Difusora, que

 pertence ao grupo Diários Associados. Quatro meses depois da inauguração da primeira

emissora, foi instalada a TV Tupi Rio, na cidade do Rio de Janeiro.

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As primeiras transmissões contavam com apenas 200 televisores, que pertenciam à elite da

 população. Esse período também foi marcado pela falta de recursos e de profissionais

capacitados. A maioria dos funcionários da televisão trabalhava no rádio. Com isso, o

improviso ganhou destaque dentro dos estúdios, explica Mattos (2002).

Em 1952, foi inaugurado o Repórter Esso, um marco do telejornalismo brasileiro. O programa

foi implantado pela Tupi Rio e era uma adaptação de um rádio-jornal. O telejornal tinha um

único apresentador, além de expor o patrocínio de uma empresa, segundo Mattos (2002).

O primeiro telejornal apresentava informações controladas por uma agência de publicidade. O

 programa foi copiado em todas emissoras do jornalista Assis Chateaubriand. O Repórter Esso permaneceu no ar até 1970.

 No final da década de 1950, existiam dez emissoras de televisão em funcionamento. A TV

Excelsior, fundada em 1959, foi responsável pela primeira telenovela em capítulos diários,

além de ser considerada a primeira emissora administrada dentro dos padrões empresariais da

atualidade. Mattos (2002) destaca que a Excelsior foi pioneira na criação das vinhetas de

 passagem.

A TV  Record , fundada em 1953, apresentava vários programas musicais e festivais que

revelaram cantores e compositores. “A TV Record chegou a ocupar o primeiro lugar entre as

emissoras de maior audiência no país, até que devido a uma série de incêndios ocorridos entre

1968 e 1969, entrou em decadência.” (MATTOS, 2002, p.87)

A TV Globo estreou pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 1965. O dono da emissora,Roberto Marinho, herdou o jornal O Globo do pai, em 1925. Marinho assumiu a direção do

 jornal e iniciou as transmissões da  Rádio Globo, na década de 40. A concessão da televisão

foi obtida em 1957, no contexto da ditadura militar. O objetivo era disseminar as ideias do

governo.

Em 1962, Roberto Marinho assinou um contrato de colaboração entra a Globo e o

grupo Time-Life. Os primeiros meses de funcionamento foram um fracasso e Walter Clark foi

contratado para dirigir a emissora. O sucesso da Globo iniciou com a transmissão ao vivo das

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enchentes no Rio de Janeiro, em 1966. O acontecimento representa um momento decisivo da

TV Globo, enquanto as outras emissoras simplesmente ignoraram a tragédia.

Para Mattos (2002), o desenvolvimento da televisão pode ser dividido em seis fases, a fase

elitista, a fase populista, a fase do desenvolvimento tecnológico, a fase da transição e da

expansão internacional, a fase da globalização e da tv paga e a fase da convergência e da

qualidade digital. A classificação tem o objetivo de obter um perfil global da evolução da

televisão, com base no contexto sócioeconômico, político e cultural do país.

A fase elitista, segundo Mattos (2002), foi marcada pelo período em que o televisor era

considerado um artigo de luxo. A programação da televisão era elitizada, devido à ausência deuma estrutura comercial e à pequena audiência formada pela elite local.

A fase populista foi marcada pela adesão aos programas de auditório de baixo nível à grade de

 programação, além da intervenção direta do governo no desenvolvimento da televisão. Na

fase do desenvolvimento tecnológico, o profissionalismo ganha espaço na rede, assim como a

sofisticação técnica e as produções mais intensas, segundo Mattos (2002).

 Na fase de expansão e transição internacional intensificaram-se as exportações de programas.

O contexto político foi marcado pela transição do regime militar para o regime civil. Nesta

fase, prevaleceu a competitividade das grandes redes de comunicação, em busca de avanços

no mercado internacional.

Mattos (2002) define a fase da globalização e da tv paga como o momento em que a televisão

adaptou-se aos novos rumos da redemocratização. As redes de comunicação aumentaram osinvestimentos em infraestrutura. A televisão por assinatura exerceu um papel decisivo na

mudança do perfil do veículo. O mercado da tv paga no Brasil ainda era pequeno, mas tinha

adesão das classes A e B. As classes mais baixas começam a exercer o poder de compra e

alavancaram a audiência da tv aberta.

Em 2000, iniciou-se a fase da convergência e da qualidade digital, afirma Mattos (2002). A

tendência do desenvolvimento tecnológico é a convergência entre a televisão e a internet. Os

estudos para mudança do sistema analógico para digital começaram em 1999. A tecnologia

digital aponta cada vez mais para interatividade dos veículos de comunicação. A televisão terá

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uma alta qualidade de som e imagem, mas o conteúdo depende do comprometimento que cada

emissora assumir.

O crescimento da televisão foi diretamente influenciado pelo desenvolvimento econômico do

 país, explica Mattos (2002).

 

O desenvolvimento da televisão está diretamente correlacionado a fatores tais comoa urbanização, a industrialização e o nível de analfabetismo, bem como aocrescimento do PIB e da renda per capita, à melhor distribuição de renda e aoaumento dos investimentos publicitários. (MATTOS, 2002, p. 44)

A televisão é o principal meio de comunicação no mundo e apresenta o maior índice de

inserção social. No Brasil, é considerada uma importante fonte de informação para a maioria

da população.

Segundo pesquisa realizada em 2010, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), 97% das residências no Brasil possuem televisores. A mesma pesquisa revelou que a

 presença dos aparelhos convencionais como o rádio caiu de 87,45% para 81,4% do total.

A modernização e a convergência tecnológica não afetaram o uso dos televisores. De acordo

com uma pesquisa do IBOPE Nielsen online2, 43% dos brasileiros navegam na internet

enquanto assistem à televisão. Destes, 59% declararam fazer isso todos os dias. Mesmo com a

 popularização da internet, o uso da televisão é mantido, pois as pessoas costumam buscar 

informações na rede sobre o que está sendo transmitido. Esta tendência é resultado da busca

 pela interatividade.

Um levantamento feito pela Meta pesquisas3, em 2010, aponta que 40,9% da população daregião Sudeste passa de duas a quatro horas na frente da televisão diariamente. A maioria dos

telespectadores da região costuma assistir à tv aberta, cerca de 71%, enquanto 22,6% assistem

à tv aberta e à tv por assinatura.

Ainda de acordo com a mesma pesquisa, os telejornais lideram o ranking dos programas mais

assistidos, pela população regional, com 42%, seguido pelas telenovelas com 30,4%. A

2 IBOPE Nielsen on line é uma parceira do grupo IBOPE. Nielsen está relacionado a uma medição e estatísticada internet no Brasil, que mostra com mais detalhes os costumes dos usuários brasileiros na internet.3 Meta pesquisas é uma empresa que atua no segmento de pesquisa há 28 anos. O instituto atua no segmento de

 pesquisa de mercado, sócio-econômico, empresarial e eleitoral.

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maioria dos espectadores dos telejornais, 76,4%, preferem a programação no período das 18h

às 22h.

1.2 Discurso no jornalismo televisivo

Luciana Bistane e Luciane Bacellar (2010) apresentam a rotina dos telejornais e a produção

da notícia. O trabalho na televisão tem uma linha de produção, as funções são delimitadas, o

 produtor é responsável por apurar os fatos e redigir a pauta, que irá orientar o repórter durante

a execução da matéria. O editor é responsável por fazer a ponte entre o repórter e a redação,

além de organizar as informações para construção do texto, explicam Bistane e Bacellar 

(2010).

O desafio da televisão é relatar com precisão e síntese os acontecimentos. O texto deve

complementar a imagem de maneira harmônica, a escrita precisa ser clara e direta, afirmam as

autoras.

Arbex Junior (2002) considera que a televisão é um canal de serviço e a linguagem televisiva

rege-se por leis próprias. A televisão permite uma fácil transposição entre ficção e realidade, por oferecer uma variedade de programas. O fim do limite entre informação e entretenimento

obrigou o telejornalismo a se adaptar ao ritmo das mensagens publicitárias, afirma o autor.

A imagem e o ritmo das transmissões têm importância no telejornalismo, de acordo com

Arbex Junior (2002), pois são as imagens que proporcionam certa percepção do mundo. Com

o desaparecimento da fronteira entre realidade e ficção, a televisão ganhou a capacidade de

criar uma opinião pública sobre um fato transmitido pela mídia.

Para Charaudeau (2006), a televisão funciona pela associação da imagem e da fala, cada uma

das matérias com uma organização interna própria. O discurso constrói universos de sentidos

 particulares, sendo a imagem associada com a representação do sensível e a palavra

relacionada à evocação, afirma o autor.

O ato de comunicação efetiva-se segundo duplo processo de transformação e transação. O

 processo de transformação consiste em passar um acontecimento de um estado real ao estado

midiático, dando origem à notícia. O processo de transação é a construção da notícia em

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função da instância receptora, de como esta imagina a notícia. Este duplo processo consiste no

contrato de comunicação, em que se determinam as condições de encenação da informação,

explica Charaudeau (2006).

Charaudeau (2006) conceitua o acontecimento segundo três critérios; atualidade, pois a

informação precisa compreender uma temporalidade co-extensiva do sujeito informado; a

expectativa, pois a informação precisa captar o interesse do sujeito alvo; e o critério de

sociabilidade, pelo qual a informação deve abordar aquilo que surge no espaço público. O

universo da informação midiática é um mundo construído, afirma o autor.

A informação é uma questão de linguagem, de transmissão de um saber. A linguagem podeser caracterizada pelo sistema de signos internos da língua em momentos particulares da

comunicação, conceitua Patrick Charaudeau (2006). A informação é definida pelo processo de

 produção do discurso em determinada situação da comunicação.

Charaudeau (2006) explica que o tratamento da informação é uma questão de escolha, de

definir os efeitos de sentidos para influenciar o outro, ou seja, a escolha das estratégias

discursivas. O discurso origina-se da combinação das circunstâncias em que se fala, com aintencionalidade da maneira pela qual se fala. O sentido do discurso consiste em uma relação

do emissor da mensagem com o receptor.

1.3 A televisão e a disputa pela audiência

A informação exclusiva e a rapidez para disseminá-la viraram sinônimo de prestígio para

vários veículos de comunicação de massa. Ser mais rápido demonstra poder financeiro e político. A notícia passa a ser uma mercadoria perecível; por isso, ser o primeiro veículo a

informar ganha importância. O telespectador não tem tempo de entender a fundo uma notícia,

fator que incentiva o uso do recurso clichê, a repetição de concepções já formuladas.

(ARBEX JUNIOR, 2002)

Divulgar uma informação exclusiva proporciona prestígio ao veículo de comunicação, mas

essa prática pode levar ao erro, devido à rapidez necessária para exibir uma notícia. Bistane e

Bacellar (2010) propõem que a apuração da notícia seja criteriosa, pois o jornalista tem um

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compromisso com a verdade dos fatos, a credibilidade está associada à precisão da

informação.

A busca incessante pela audiência leva muitas emissoras a persistirem em fórmulas que já

foram aprovadas pelo telespectador. O faturamento das emissoras está relacionado ao número

de telespectadores. A audiência passa a intervir na produção do telejornal. Se uma emissora

 perde público, é preciso tomar algumas medidas, “o Ibope colabora realizando, sob

encomenda, as pesquisas qualitativas. Baseado nos dados, o editor chefe pode orientar as

 pautas para atender as expectativas.” (BISTANE; BACELLAR, 2010, p. 80)

Para Arbex Junior (2002), o destaque da televisão como principal fonte de informação noBrasil se deve ao fato dos principais telejornais ditarem a pauta do dia seguinte, para os

demais veículos de comunicação. O Estado também tem poder na informação, devido às altas

verbas oriundas da publicidade paga pelo governo.

Arbex Junior (2002) considera que a falta de um debate intelectual democrático fez com que a

dominação e o controle da elite fossem recebidos com passividade pelo público. O

autoritarismo é inseparável da produção e divulgação de ideias, destinado a um público poucohabituado aos debates.

Arbex Junior (2002) afirma que a possibilidade de crítica consiste em escapar das armadilhas

da sedução, para que se possa construir a história segundo a perspectiva pluralista e não

autoritária. Apenas no processo de interlocução com outra pessoa, o crítico consegue resgatar 

as memórias dos fatos, como forma de fugir da orientação manipulada.

A empresa televisiva busca agradar o público, apresentando conteúdos que despertam a

atenção da massa. Para isso, o gosto popular interfere na programação, como forma de

entretenimento a ser consumido pelo o público, característica fundamental da cultura de

massa.

A notícia é sempre um produto à venda, o profissional do ramo jornalístico está sempre

 preocupado com a audiência, segundo Arbex Junior (2002). O jornalista é submetido às

 pressões do mercado e da audiência, faz uso de mecanismos de sedução e do clichê para atrair 

a atenção do telespectador.

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 No noticiário televisivo são destacados, preferencialmente, os valores emotivos,

espetaculares, com a intenção de aumentar a audiência, com base na convicção de que as

emoções fáceis exercem uma poderosa atração do público.

Os telejornais trabalham com a ideia de transmitir uma notícia como um produto atraente e

que não comprometa o conteúdo informativo, segundo Bistane e Bacellar (2010). Mas a mídia

tem uma maior preocupação com os interesses econômicos da empresa, por isso a grade de

 programação se adequa ao gosto do telespectador, independente do caráter jornalístico.

 Na busca desenfreada pela audiência, as empresas de comunicação tentam prender a atençãodo público a todo custo, a audiência se tornou sinônimo de qualidade. A mídia estimula o

sensacionalismo de fatos e crimes bárbaros, além de propocionar uma interatividade com o

 público, em nome dos altos índices de audiência.

O sensacionalismo e os apresentadores “indignados com a impunidade do país” foram

estratégias adotadas no telejornalismo com objetivo de aumentar a audiência, defendem as

autoras. Os programas seguem a linha de quanto mais violência no noticiário, maior é aaudiência, mais aumenta o preço do horário para anúncios e maior será o retorno em

 publicidade. O modelo foi utilizado pelos americanos, para justificar a mudança na grade de

 programação da televisão.

1.4 A opinião entrelaçada à informação jornalística

O jornalismo apoia-se em dois gêneros fundamentais: informativo e opinativo. No séculoXIX, o jornalismo informativo configurou-se com destaque; neste contexto, o opinativo teve

seu espaço reduzido às páginas chamadas de editoriais, segundo José Marques de Melo

(2003).

Melo (2003) define o jornalismo informativo como o registro dos fatos e dos acontecimentos

 para assegurar informação à sociedade. O jornalismo opinativo tem como função contribuir na

formação da opinião, atua como conselheiro. O equilíbrio entre ambas as categorias está

ligado à peculiaridade de cada processo jornalístico.

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A diferenciação entre as categorias jornalismo informativo e opinativo resulta da necessidade

sociopolítica de diferenciar os fatos das opiniões, corresponde a um artifício profissional e

 político.

Profissional no sentido contemporâneo, significando o limite em que o jornalista semove, circulando entre o dever de informar e o poder de opinar, que constitui umaconcessão que lhe é facultada ou não pela instituição em que atua. Político nosentido histórico: ontem, o editor burlando a vigilância do Estado, assumindo riscoscalculados nas matérias cuja autoria era revelada, desviando a vigilância do públicoleitor em relação às matérias que aparecem como informativas, mas na prática

 possuem vieses ou conotações. (MELO, 2003, p. 25)

Cada processo jornalístico tem a proporção ideológica própria, independente do artifício

narrativo adotado, segundo o autor.

De acordo com Melo (2003), os gêneros jornalísticos integram as propriedades discursivas,

definidas pelo estilo jornalístico. A essência do estilo depende do diálogo entre o jornalista e

o público e a classificação é determinada pela delimitação do espaço cultural. O autor passa

 por várias classificações dos gêneros, mas a divisão do pesquisador Luiz Beltrão (apud

MELO, 2003) foi considerada a mais consistente e funcional.

A classificação dos gêneros adotada por Melo (2003) foi baseada em dois critérios. No

 primeiro, associam-se os gêneros às categorias, de acordo com a intencionalidade dos relatos.

 Nessa categorização, existe uma bifurcação no discurso jornalístico, identificando-se o

 jornalismo informativo e o opinativo. O segundo critério baseou-se na identificação dos

gêneros a partir da estrutura dos relatos observados no processo jornalístico.

O jornalismo informativo foi dividido em nota, notícia, reportagem e entrevista. O jornalismoopinativo divide-se em editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura e

carta. A distinção entre os tipos de jornalismo é explicitamente funcional, tendo o objetivo de

informar, explicar e orientar o público (MELO, 2003).

Melo (2003) descreve as subdivisões do jornalismo opinativo. O editorial expressa a opinião

oficial do veículo de comunicação diante do fato de maior repercussão. No rádio e na

televisão, a presença do editorial ocorre em episódios em que a empresa está em momentos de

crise. O comentário foi introduzido no Brasil por meio de uma mutação jornalística, é

 produzido por um profissional com bagagem para emitir opinião sobre determinado assunto.

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Ainda segundo Melo (2003), artigo é uma forma de expressão verbal, uma matéria que

desenvolve uma ideia e apresenta uma opinião. Na televisão, um artigo mescla fatos e ideias,

mas trabalha os argumentos. A resenha crítica é uma análise, designada para cobrir 

determinadas áreas da cultura e orientar o público na escolha dos produtos culturais.

A coluna é uma seção especializada, publicada regularmente, geralmente assinada e redigida

em estilo livre. A crônica é um grupo bem definido: uma narração de fatos do cotidiano de

forma cronológica, explica Melo (2003)

A caricatura é uma forma de ilustração da fisionomia humana com característicashumorísticas com sentido opinativo, ironizando o cotidiano. A carta é um espaço de certo

modo democrático, ao qual o público pode recorrer. Para Melo (2003), compreender os

gêneros jornalísticos significa estabelecer comparações.

Melo (2003) faz uma contextualização das mudanças dos gêneros opinativos com as

transformações do jornalismo, em um contexto industrial. Os critérios usados para estruturar 

os gêneros jornalísticos seguiram uma lógica mercadológica.

A classificação dos gêneros opinativos foi definida com o objetivo de organizar a opinião

dentro dos veículos de comunicação. Segundo o autor, cada um dos gêneros jornalísticos

 possui características comuns, mas tem sua própria identidade no contexto do jornalismo

 brasileiro. O autor explica que as opiniões no jornalismo passam a se fragmentar, organizar.

1.5 O papel do âncora no telejornalismo

O telejornal é um dos gêneros televisuais mais conhecidos e difícil de ser abordado, segundo

Arlindo Machado (2005). O telejornal precisa ser encarado como um efeito de mediação,

intercedido por repórteres competentes para construir versões do que acontece.

O autor afirma que o problema do telejornal está relacionado às abordagens tradicionais, que

se restringem apenas às análises de conteúdo. O equívoco desse tipo de abordagem é supor 

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que o telespectador é ingênuo ao ponto de repetir a intenção da empresa jornalística. O

telejornal sempre permite uma ambiguidade.

Segundo Machado (2005), o telejornal consiste em tomadas de um primeiro plano com foco

nas pessoas que desenvolvem a fala diretamente para a câmera, sejam elas, apresentadores,

âncoras, correspondentes ou repórteres, apoiados por um teleprompter 4. 

O quadro básico de um telejornal também apresenta ao fundo um cenário, enquanto gráficos e

textos inseridos na imagem situam e contextualizam o fato. O autor explica o que é

importante extrair dessa estrutura básica.

O telejornal é, antes de mais nada, o lugar onde se dão atos de enunciação a respeitodos eventos. Sujeitos falantes diversos se sucedem, se revezam, se contrapõem unsaos outros, praticando atos de fala que se colocam nitidamente como o seu discursocom relação aos fatos relatados. O telejornal é uma montagem de vozes, muitasdelas contraditórias, e sua estrutura narrativa não é suficientemente poderosa paraditar a qual voz nós devemos prestar mais atenção. (MACHADO, 2005, p. 104)

O fato de todas as vozes terem um nome é significativo para a individualização do relato, a

fim de uma identificação do relato com um sujeito enunciador.

De acordo com Sebastião Carlos de Morais (1993), o primeiro jornalista a desempenhar o

 papel de âncora no telejornal brasileiro foi Joelmir Beting, na Rede Bandeirante, no início dos

anos de 1980. O improviso marcou o novo modelo de jornalismo.

Boris Casoy também assumiu o papel de âncora em 1988, no Telejornal Brasil , pelo SBT.

Foi a primeira vez no telejornalismo brasileiro, que o apresentador passou a entrevistar e

comentar os acontecimentos anunciados. O telespectador aprovou a novidade, com isso o

SBT conseguiu atrair mais publicidade para a emissora.

Aos poucos, várias emissoras adotaram o novo modelo de jornalismo, a presença de um

 jornalista para participar do processo de elaboração do jornal passou a ser essencial no

telejornalismo. A presença do âncora passa maior credibilidade e segurança para o noticiário.

4 Teleprompter é um equipamento acoplado às câmeras de filmar, que exibe o texto a ser lido pelo apresentador.

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A voz do apresentador transpõe sobre às matérias e ocorre um acúmulo de função na redação.

O apresentador costuma ocupar o cargo de chefe de reportagem, diretor geral e produtor. O

âncora começa a ser a personificação do programa. Os interesses mercadológicos das

emissoras definem as possíveis mudanças, sendo que a âncora passa a representar o programa,

define Machado (2005).

Para o autor, a autonomia do apresentador precisa ser limitada, consiste em ler as notícias e

amarrar as chamadas, apresentar os repórteres e as matérias, mas não lhe cabe fazer 

comentários ou conclusões sobre o acontecimento. O repórter que tem certa autonomia entre a

voz empresarial e a voz individual constitui uma espécie de troca entre a televisão e o

acontecimento.

Machado (2005) explica que a opinião explícita no telejornal jamais cabe ao apresentador ou

aos repórteres, mas, sim, aos comentaristas. Esta modalidade enunciativa precisa ter um lugar 

definido.

A necessidade do uso de uma linguagem mais próxima do público popular ganhou força nos

telejornais. O âncora tornou-se peça chave na mediação entre a empresa e o telespectador.Uma pessoa dinâmica, firme e próxima do cotidiano das pessoas é essencial no sucesso destes

 programas, medido pela crescente audiência, afirma o autor.

Um telejornal mais opinativo exerce uma influência junto à opinião pública e produz uma

mobilização real. Esses modelos de telejornal deixam claros os interesses empresariais, sob a

máscara de uma possível neutralidade do veículo, em relação aos fatos cotidianos. Mas o

autor apresenta as consequências desse modelo de jornalismo.

 Não podemos esquecer das trágicas consequências desse tipo de telejornalismo,sobretudo em conjunturas políticas mais fechadas como a ditadura de direita ou deesquerda, quando a televisão foi utilizada, por apresentadores comprometidos comos regimes vigentes, para mobilizar a massa popular. (MACHADO, 2005, p. 109)

Um telejornal opinativo sempre tem dois lados, tudo é uma questão de observar qual a opinião

adotada pelo veículo.

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1.6 Telejornalismo regional

Os telejornais locais surgiram da necessidade das grandes emissoras de apresentar notícias

que despertam interesse para uma comunidade específica de um Estado ou região. Nessa

modalidade de telejornalismo, a característica fundamental é cobrir os principais

acontecimentos dessa localidade, define Maia (2007)

 No jornalismo regional, o lado social é mais evidente, pois privilegia os problemas do público

local, afirma o autor. As reivindicações dos telespectadores populares ganham destaque, como

 problemas de infraestrutura nos bairros, os questionamentos na administração pública e a

valorização da cultura regional.

Os jornais nacionais apresentam um conteúdo reduzido sobre várias regiões do país, devido à

abrangência e o tempo do telejornal. Já o regional, cria maior proximidade com o público, por 

conter matérias especificas de uma região, apresenta notícias diretas à população local, além

de criar uma interação entre o telespectador e a emissora.

A programação regional no Brasil surgiu na época da ditadura militar, momento em que ogoverno pretendia manter a união do país em rede nacional, segundo Maia (2007). O

conteúdo era distribuído para as filiais, a fim de atender a totalidade nacional. O crescimento

dos canais regionais se deu pelo valor atribuído às questões locais.

O telespectador se interessa pelo o que acontece no mundo, mas ao mesmo tempo vive em um

lugar específico e necessita receber informações do meio em que está localizado. É nesse

cenário que o telejornalismo regional ganha importância.

A televisão brasileira, como principal fonte de informação, adaptou-se às exigências do

mercado jornalístico. A necessidade de aproximação do veículo com o público introduziu o

uso de um discurso informal durante as programações. O objetivo de proporcionar esta

aproximação foi motivada pela busca inccessante da audiência.

Os altos índices de audiência significam um bom desenvolvimento da mídia no mercado,

originando grandes patrocínios. Algumas estratégias são utilizadas para manter os

identificadores favoráveis: o uso constante da opnião entrelaçado a informação jornalística é

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uma tática adotada por algumas emissoras, a fim de conquistar o telespectador. Um

apresentador com uma presença marcante e um telejornalismo regional são outras estratégias

utilizadas, para gerar maior proximidade com o público. Mas algumas emissoras optam em

alterar a programação na busca de público, optando pelo uso desenfreado do sensacionalismo

e do espetacular da informação.

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2 O SENSACIONAL E O ESPETACULAR NO TELEJORNALISMO POPULAR 

2.1 O crescimento do jornalismo popular

O mercado jornalístico mudou desde a década de 1980 e a palavra sensacionalismo, que era

associada a publicações voltadas para classes B, C e D, foi atualizada. Márcia Franz Amaral

(2006) prefere usar a expressão jornalismo popular, para compreender a lógica desses jornais.

Historicamente, o sensacionalismo era o termo utilizado pela imprensa em publicações com

chamadas escandalosas, informações distorcidas e apelativas.

Por volta de 1980, os jornais destinados à classe popular se reconfiguraram. Houve uma

necessidade de aumentar a circulação, e a mercantilização da informação ganhou importância.

Estratégias começaram a ser adotados nas redações para agradar o leitor. O segmento popular 

ganhou força, no Brasil, com o lançamento de vários periódicos. (AMARAL, 2006)

Em 1994, houve um aumento das revistas a preços baixos. Houve uma segmentação de

mercado e as revistas voltadas para o público feminino popular aumentaram. O periódico

 passa a ser destinado à mulher que busca histórias dramáticas, novelas e receitas novas; são

assuntos voltados para entretenimento da dona de casa, de acordo com Amaral (2006).

Amaral (2006) caracteriza dois tipos de jornalismo. Para ela, o  jornalismo de referência

obedece a certos padrões éticos, pois precisa ter credibilidade e prestígio no mercado para

conquistar o sucesso comercial. O  jornalismo popular enfatiza as notícias que interferem no

cotidiano da população, com características mais dramáticas, de modo a criar uma

 proximidade com o público.

Os jornais populares abordam assuntos direcionados para o público alvo, e surge pela

necessidade do mercado.

A imprensa popular ligada a grandes empresas de comunicação existe pelanecessidade de ampliar o mercado de consumidores de jornais para o público quevive numa situação social, cultural e econômica diferente da do público das classesA e B. Os jornais assumem formas específicas porque o que move essa imprensa é,

antes de qualquer coisa, a sedução do público e não a credibilidade ou prestígio.(AMARAL, 2006, p. 58)

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A imprensa popular cria um modelo próprio de lidar com a credibilidade, é um estilo dos

tempos atuais, mas deixa de lado os valores jornalísticos tradicionais, explica a autora.

O fato, para ganhar destaque no jornalismo popular, precisa ter entretenimento, ter o contexto

dramático, possuir identificação e ser próximo do espectador. No jornalismo de referência, o

conteúdo para ser notícia precisa ter pessoas importantes envolvidas, ter impacto sobre o

grande público, gerar desdobramentos e ser relacionado com a política pública, como

descreve Amaral (2006).

 Na cobertura dos programas populares de televisão predominam os dramas particulares de

cidadãos comuns, os programas de auditório que misturam vários estilos e se intitulam

 jornalísticos e, principalmente, as coberturas policiais, define Amaral (2006). Nos telejornais

 produzidos para classe popular predomina o entretenimento misturado à cobertura policial.

Márcia Franz Amaral (2006) relaciona alguns riscos da prática do jornalismo popular.

Primeiro, o excesso de dramatização; o jornalista precisa saber o limite entre um fato bem

contado e um fato apelativo. O profissional da comunicação precisa ter respeito pelo

sofrimento alheio, ser ético. Segundo, a prioridade para o interesse do público nos noticiários;

nem todo fato é de interesse comum. O terceiro risco refere-se à representação dos populares

como vítimas, as pessoas comuns deveriam ser levadas à condição de cidadão e não de

vítimas do fato.

O jornalismo com fins comerciais, destinado à classe popular pode ser de qualidade, segundo

Amaral (2006). O jornalismo deve focar principalmente nos problemas sociais vividos

diariamente pelo público, estimular a população a exercer a cidadania. Afinal, o jornal é o

meio de comunicação em que pessoas mais confiam, considera a autora.

Segundo Amaral (2006), o interesse mercadológico é mútuo, tanto nos jornais de referência

quanto nos populares. A imprensa popular procura satisfazer o leitor, seguindo a lógica de

 priorizar a interesse público nas coberturas jornalísticas. Os veículos especializados na

cobertura popular fundamentam-se no entretenimento, utilizam fontes populares e abordam os

assuntos de maneira particular, mesmo quando dizem respeito à sociedade.

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A mídia tem a função de desenvolver um serviço em benefício da cidadania, que busca

responder a uma demanda social, mas também é definida por uma lógica comercial, segundo

Charaudeau (2006). Para atender a demanda comercial dos veículos de comunicação, a

captação do público é essencial. Por outro lado, a busca excessiva por espectadores obriga os

meios de comunicação de massa a recorrerem à sedução, e a exigência da informação a

serviço do cidadão perde espaço.

Para Arbex Junior (2002), uma das maneiras que a televisão encontrou para garantir 

credibilidade junto ao público foi investir no apresentador e nos jornalistas que demonstram

grande autonomia para manifestar opiniões. O especialista em determinado assunto se tornou

uma ligação entre a mídia, o público e o mercado, defende o autor.

Arbex Junior (2002) considera que a descrição de um fato significa interpretá-lo, estabelecer 

um desenvolvimento e possíveis desdobramentos, segundo o acervo de conhecimento do

narrador. A ideia de que um fato é capturado fielmente e retransmitido ao público é

insustentável.

2.2 A espetacularização da notícia na televisão

A espetacularização invadiu o telejornalismo no século XX, em 1980, e está relacionada com

o distanciamento do telejornalismo investigativo, de acordo com Coelho (2006). A expansão

da espetacularização ocorre no mesmo período de avanço dos conglomerados econômicos

relacionados a grupos de comunicação.

A sociedade de consumo, junto com os meios de comunicação de massa, tornou-se asociedade do espetáculo, afirma Arbex Junior (2002). O espetáculo deve ser entendido como

“[...] a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. É a

forma mais elaborada de uma sociedade que desenvolveu ao extremo o fetichismo da

mercadoria”. (ARBEX JUNIOR, 2002, p.69).

A atividade jornalística na sociedade contemporânea firmou-se como difusor ideológico da

indústria cultural, segundo Coelho (2006). Predominam nas grandes redações os temas

 pessoais de figuras públicas e os assuntos que garantem grandes lucros econômicos.

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Para o autor, a segmentação da produção contribui para definição dos veículos de

comunicação como produtos da indústria cultural. Essa estratégia é adotada para atender aos

diversos públicos consumidores dos produtos culturais de massa. A fragmentação das

 publicações segue as orientações mercadológicas, baseadas nas pesquisas de opinião.

Os grandes veículos de comunicação utilizam algumas estratégias para se aproximarem do

 público, como o jargão jornalístico, que é formado por um conceito que desvaloriza o

 pensamento crítico e apresenta os fatos sem uma contextualização, que possa criar um sentido

histórico. O uso do jargão abre espaço para os clichês no telejornal, define Coelho (2006).

A transformação da notícia em mercadoria na televisão tem muito peso, devido à força daimagem, de acordo Coelho (2006). Os veículos de comunicação de massa deixam de abordar 

assuntos que estimulem o debate e a reflexão na sociedade. A notícia é transformada em

mercadoria. A imprensa passa a utilizar mecanismos que garantem a satisfação artificial da

necessidade do público.

A programação da televisão tem sido marcada por programas que mesclam jornalismo e

espetáculo, com foco na suposta solução dos problemas sociais transmitidos pela emissora,define o autor. Os programas geralmente são direcionados para determinadas categorias

sociais (classes B, C e D).

De acordo com Debord (1997), o foco da sociedade do espetáculo está relacionado com a

tendência de negociação das relações sociais para além das relações de produção.

O espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,mediada por imagens. [...] Considerado em sua totalidade, o espetáculo é ao mesmotempo o resultado e o projeto do modo de produção existente. Não é um suplementodo mundo real, uma decoração que lhe é acrescentada. É o âmago do irrealismo dasociedade real. O espetáculo constitui o modelo atual da vida dominante nasociedade. (DEBORD, 1997, p. 14)

O autor afirma que o planejamento de produção de mercadorias cria uma necessidade de

consumo artificial.

O avanço tecnológico exige que as notícias transmitidas pela televisão sejam exibidas em

tempo hábil. Prevalece, nas grandes redações, a simplificação do discurso rotineiro, através da

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escolha da mesma fonte e de um processo de espetacularização da notícia, que tende a recriar 

a realidade dos fatos, afirma Coelho (2006). Esta prática não estimula o pensamento de

reflexão e transforma o discurso jornalístico em ideologia.

O grotesco pode ser definido como uma forma de resistência da cultura popular em relação à

cultura erudita, define o autor. A espetacularização consiste na aproximação do

entretenimento e do grotesco, distanciando do discurso de supremacia.

De acordo com Coelho (2006), os programas populares incentivam um poder de violência

simbólica, que era exclusivo do Estado. Os programas trabalham com a manipulação do real

não para desmistificar o poder estatal, mas para substituí-lo no plano simbólico. A violência passa a ser compartilhada com a mídia.

 Na sociedade do espetáculo, há um predomínio da imagem sobre a coisa, da representação

sobre a realidade. Algumas emissoras fazem uso de vídeos amadores independente do

contexto jornalístico; para que um fato seja transmitido pela televisão basta ter imagem.

 Na sociedade de consumo, o ser humano deixa de ser sujeito ativo da própria história. A vidadas pessoas é moldada pelos espetáculos da mídia. A sociedade moderna pode ser entendida

como palco do espetáculo, em que reina o mundo das aparências, da representação, afirma

Coelho (2006).

Segundo Coelho (2006), o espetáculo multiplicou-se nos mais diversos meios de

comunicação. O fenômeno, do ponto de vista econômico, começa a ser um meio de

divulgação e venda de mercadorias. Surge o conceito de infoentretenimento, uma mistura deinformação e entretenimento que produz o espetáculo. Vários noticiários exibem uma espécie

de notícia e espetáculo.

De acordo com Debord (1997), a cultura do espetáculo expandiu em todas as áreas da vida. A

 publicidade faz uso da televisão, dos filmes, da internet, a fim de veicular imagens e marcas

das empresas sob a forma de espetáculo. A vida é retratada como forma de entretenimento.

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Os telejornais que produzem um espetáculo da violência levam as pessoas a consumirem o

conteúdo do programa e transmitem a ideia de que a sociedade vive em uma constante crise

do aumento da violência e enfraquecimento das instituições. (COELHO, 2006)

 Na espetacularização da notícia, a informação que causa impacto e está sendo transmitida no

momento do fato ganha preferência na redação, esclarece Coelho (2006). O avanço

tecnológico contribui para a transmissão das notícias em tempo real no telejornal.

A espetacularização no telejornal pode ser caracterizada pela narração de imagens dos

acontecimentos, no local em que o fato ocorreu, explica Coelho (2006). A descrição no tempo

 presente feita por um repórter na rua, o registro do depoimento dos envolvidos, helicópterosequipados com câmera, para capturar o melhor ângulo são elementos utilizados pelas

redações, a fim de atrair atenção do público.

O autor expõe ainda que a velocidade e instantaneidade com que a notícia vai ao ar são

características do modelo espetacular. Para os telejornais, a presença do repórter no local do

fato torna-se mais importante do que a própria notícia, pois transmite mais veracidade.

As emissoras que adotam o modelo de espetacularização da notícia costumam fazer um

espetáculo em torno do acontecimento. O ritmo acelerado no processamento da informação

 proporciona pouca margem de entendimento para o telespectador. Alguns veículos costumam

utilizar a narração do fato ao vivo, independente do momento em que o caso tenha ocorrido,

explica Coelho (2006).

Um movimento de banalização domina as redações, que apresentam programas voltados paraespetacularização da informação, afirma o autor. A aceitação de uma matéria no espelho do

telejornal necessita somente de imagens e uma boa história espetacular.

Para o autor, a exploração das emoções e especulações sobre a vida privada das pessoas

envolvidas nos casos apresentados, misturados com conceitos jornalísticos ocupa

constantemente o espaço no telejornal. Muitas emissoras adotam a espetacularização na grade

de programação, na busca pela sedução do público.

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2.3 O sensacionalismo na imprensa

O sensacionalismo está enraizado na imprensa. No século XIX, os jornais eram vendidos nas

ruas, por pessoas que gritavam as manchetes de cunho chamativo e apelativo. O

sensacionalismo não admite neutralidade ou distanciamento do público, afirma Danilo

Angrimani (1995).

O sensacionalismo pode ser definido como “a intensificação, valorização da emoção, a

exploração do extraordinário, a valorização de conteúdos descontextualizados, a troca do

essencial pelo supérfluo ou pitoresco e inversão do conteúdo pela forma” (AMARAL, 2006,

 p. 21). O sensacionalismo está relacionado ao exagero.

O gênero sensacionalista pode ser definido como uma exploração do extraordinário, do

anormal, utilizando imagens e linguagens chocantes, a fim de criar grandes expectativas no

 público. “O jornalismo sensacionalista extrai do fato, a sua carga emotiva e apelativa e a

enaltece. Quase fabrica uma nova notícia, que passa a se vender por si mesma.” (COELHO,

2006, p. 81)

Um dos programas pioneiros na linha sensacionalista foi O homem de sapato branco, que

estreou em 1966, com Jacinto Figueira Junior. O programa foi veiculado por várias emissoras,

como Bandeirantes, Globo e SBT.

Por volta de 1970, a rede Tupi elevou os índices de audiência com o programa  A voz do povo

na TV . O foco da atração era a prestação de serviço para sociedade. Em 1991, estreia o

noticiário  Aqui Agora, comandado por Gil Gomes, que seguia a mesma lógica de seus predecessores sensacionalistas, com foco nos assuntos policiais em tons sensacionalistas. Os

temas grotescos ou sem a menor relevância eram adotados na editoria do programa.

Para Coelho (2006), o interesse das emissoras por cenas que contêm violência é caracterizado

 pela busca do espetáculo, não pela solução do problema em prol da sociedade. Ocorre uma

fusão entre o que é noticiado e os bens de consumo apresentados pela publicidade da

emissora.

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As empresas fazem uso de concessão para transformar a violência em espetáculo. Mas, na

verdade, defende Coelho (2006), o papel das emissoras deveria ser o de propor um debate

 profundo sobre o assunto e auxiliar a sociedade na solução dos problemas. O telejornal

sensacionalista propõe uma ilusão de solucionar as questões levantadas.

O telejornalismo sensacionalista, ainda de acordo com este autor, trabalha com conteúdos que

fazem parte do cotidiano do telespectador, como casos familiares e relacionados à vida da

 pessoa comum. A linguagem sensacionalista precisa ser entendida por todas as classes sociais,

além de causar choque no público.

Uma imagem forte é sinal de impacto emocional garantido no telespectador, afirmaAngrimani (1995). O autor conclui que o sensacionalismo é tornar excepcional uma notícia,

que em outras circunstâncias editoriais não mereceria o mesmo tratamento. O noticiário que

ultrapassa o real proporciona um dimensionamento enorme ao fato.

As imagens são fundamentais no jornal sensacionalista, pois a cena sensibiliza, atrai e prende

a atenção do público. Na televisão, um fato pode virar notícia se as imagens do acontecimento

forem impactantes ou comoventes, destaca Coelho (2006).

A exploração do inusitado, a seleção dos aspectos mais sensacionais definem se um fato é

noticioso no jornal sensacionalista. A estratégia é utilizada para superar a concorrência e

 provocar o interesse do telespectador. A tendência do sensacionalismo é produzir produtos

que possam ser consumidos pelo imaginário, pela emoção, ao invés da razão. (COELHO,

2006)

Um jornal sensacionalista transforma a morte em um tema de destaque, o fato é tratado como

um estímulo de venda para o jornal, uma espécie de culto diário ao fetiche à morte. Todos os

assuntos relacionados à violência ganham destaque, define Angrimani (1995).

O autor diferencia a morte narrada em um jornal sensacionalista da morte comum. A primeira

é perturbadora, pois apresenta imagens impressionantes, no jornal é acompanhada da

linguagem-clichê. A segunda morte envolve sofrimento, dor, angústia. O jornalista utiliza

uma técnica semelhante à piada, para tornar a morte cômica.

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Uma característica comum nos jornais que exploram a violência é a descrição completa dos

crimes, com riqueza de detalhes, além da constante repetição dos sons, imagens e

comentários. No entanto, observa Coelho (2006), a repetição contínua da violência extingue a

indignação e proporciona uma banalização da violência na percepção das pessoas.

O telejornal não se limita a informar, o repórter e o apresentador precisam enfatizar os

aspectos considerados irrelevantes para os veículos tradicionais. Essa maneira de demonstrar 

o acontecimento proporciona uma sensação ao telespectador de que o noticiário é repetitivo.

A impressão de repetição é causada pelo gênero e modo e modo pelo qual a linguagem foi

construída, explica Coelho (2006).

Segundo Angrimani (1995), a definição de que o jornal sensacionalista é mais violento que o

tradicional está incorreta. Em todos os jornais há uma carga intensa de violência, mas nos

veículos definidos como tradicionais, a violência não é exposta com a mesma

intencionalidade que os jornais sensacionalistas.

A presença da violência nos jornais tradicionais pode ser encontrada na crítica de um editorial

agressivo, em um artigo apelativo ou em uma foto marcante. Enquanto no jornalsensacionalista, a violência faz parte da linguagem e da forma de edição, que é feita de modo

a provocar sensações no público.

A emissora vende a notícia pela manchete e aborda as chamadas de modo que provoquem

atração, impacto no público, pretendendo despertar a curiosidade do telespectador. O

sensacionalismo tem o compromisso de satisfazer as necessidades do público, por meio de

fórmulas que expõem as pessoas ao ridículo. (ANGRIMANI, 1995)

Ainda de acordo com Angrimani, a manchete seria o primeiro contato do público com a

notícia e criaria uma expectativa em torno do que seria revelado na matéria. Mas a promessa

de revelação na chamada acaba sendo maior do que o desenvolvimento que o conteúdo

oferece. O público seria movido pela compulsão da novidade e da curiosidade.

Para satisfazer este formato noticioso, o repórter precisa narrar a notícia em tom dramático, de

modo que envolva o telespectador na história, a fim de que o indivíduo tenha a ilusão de que

se vê na televisão. O público precisa se sentir como participante da mídia. Durante uma

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entrevista, as emoções e as falas marcantes precisam ser capturadas pelo repórter e a edição

 precisa fugir do convencional, esclarece o autor.

Angrimani explica qual é o público dos jornais sensacionalistas:

Deve-se dizer que tanto o leitor sóbrio, quanto aquele que prefere o sensacionalismo,se interessa pelo crime, pelo rapto, pelo acidente, pela catástrofe. O que vai fazer com que o mercado se divida e haja um público exclusivo para o veículosensacionalista é a linguagem, a linguagem editorial que é a forma de se destacar uma foto, tornar o texto mais atraente, enfim, a busca de um equilíbrio entreilustração e texto. (ANGRIMANI, 1995, p. 54)

A diferença entre um público e outro está relacionada com a divisão de mercado, com a

diferenciação do uso da linguagem específica de cada veículo.

A linguagem simplificada dos noticiários sensacionalista favorece a fusão entre o público e a

matéria. A predominância da linguagem coloquial, gírias e palavrões procura legitimar os

gostos e as expectativas populares. Além de apresentar uma proximidade com a camada

 periférica da sociedade, por utilizar uma linguagem comum ao cotidiano do público.

O discurso popular divide-se em tentar indicar as causas da violência, a falta de segurança e

mostrar os crimes, a polícia em ação, os tiroteios, normalmente relacionados com os pobres e

marginalizados. A linguagem popular retrata o favelado como violento e bandido, ao mesmo

tempo em que exige os direitos desse cidadão. O discurso pressupõe omissão de questões

sociais, políticas e econômicas.

Para Coelho (2006), o telejornal sensacionalista utiliza recursos da teledramaturgia e ficção, a

fim de estabelecer interação com o telespectador. O autor afirma que não há um estilo própriodo telejornalismo, como se ainda não tivesse encontrado uma linguagem apropriada para o

meio.

A credibilidade de uma notícia sensacionalista não tem tanta importância, quanto a forma que

uma informação é narrada. A narrativa predomina sobre a veracidade do fato, para que o

telespectador possa encontrar o que procura em um veículo desse gênero, de acordo com

Angrimani (1995).

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Guillermo Sunkel (2002) expõe a estrutura das notícias sensacionalistas, a narração dos fatos

ocorre de maneira cronológica, contendo começo, meio e fim, sempre com uma riqueza de

detalhes. A linguagem do noticiário contém vários adjetivos, com intenção de promover 

maior proximidade com o telespectador. O autor defende que a imprensa sensacionalista

 pretende suprir uma demanda de reconhecimento da classe popular da sociedade.

2.4 Merchandising no telejornalismo

O telejornal segue a lógica do mercado, visando o consumo, e adquire a linguagem do

espetáculo, em que tende a informar cada vez menos. O público passa a ser tratado como

mercadoria, a fim de aumentar a audiência da emissora, para atrair os anunciantes.

Uma das estratégias dos telejornais sensacionalistas é a prática do sorteio de brindes. Os

 jornais fogem das discussões sobre os temas importantes para sociedade e a falta acaba sendo

suprida pela oferta de consumo, que atrai atenção do público. Com isso, as questões políticas

como exercício da cidadania, são esquecidas.

 

A publicidade é uma peça importante para movimentar o capitalismo, com o uso de técnicasde persuasão e valores ideológicos. Os fetiches e a ideia de felicidade são reforçados e podem

ser adquiridos no mercado. A publicidade passa a fazer parte do mundo da manipulação de

consumo, afirma Coelho (2006).

O discurso publicitário é compreendido no contexto do desenvolvimento do capitalismo e na

relação com o progresso tecnológico da mídia. Na metade do século XX, a publicidade

conquistou papel fundamental na sociedade capitalista, tornando-se um meio que passa por todos os segmentos da sociedade, com a “linguagem da sedução”.

Há dois tipos de apelo publicitário, “o primeiro é a chamada propaganda racional, que se

 prende às próprias características do produto. O outro tipo é a propaganda emocional, que

constrói argumentos de venda com base no emocional.” (COELHO, 2006, p. 116)

A televisão concentra a maioria das verbas publicitárias do mercado, pois a imagem seduz o

 público, além dos espectadores comentarem o que assistem na televisão em outros meios de

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comunicação. A credibilidade dos telejornais atraiu patrocinadores e anunciantes. A pressão

mercadológica transformou o produto no segundo mais rentável da televisão.

O merchandising é uma estratégia publicitária que permite promover determinado produto,

com o objetivo de destacar uma mercadoria sem que seja evidenciada como uma ação paga

 pelo anunciante, regido pelo uso do apelo audiovisual.

 No primeiro momento, o termo merchandising foi utilizado em qualquer ação que pretendia

expor melhor um produto de venda. O merchandising  eletrônico foi uma transposição da

técnica para a mídia eletrônica, sendo vinculado a programas de televisão.

Almeida (sd.) apresenta uma definição do termo publicitário adaptado para a mídia eletrônica.

O merchandising  comercial utilizado coerentemente é uma forma de propagandaindireta, em que o produto publicitário é inserido em um contexto maior, como nocaso da novela, simulando pertencer “naturalmente” ao cenário. Contudo,ultimamente têm ocorrido abusos em sua utilização e ele já chega a ser consideradocomo marketing de interrupção. É enxertado artificialmente nas cenas, sem nenhumaconexão com as tramas e faz com que o telespectador seja retirado da narrativaficcional identificando seu uso como propaganda. (ALMEIDA, sd, p. 6)

O merchandising é uma estratégica de marketing, que utiliza do carisma do apresentador para

influenciar na escolha de determinados produtos pelo telespectador.

O conteúdo do merchandising  deve ser sutil, de forma que a intenção de venda não fique

explícita na mensagem publicitária, pois os apelos de venda geram usualmente desconfiança

do público. A intenção mercadológica precisa ser camuflada entre as falácias do apresentador,

define a autora.

Os telejornais populares direcionados para a classe B, C e D normalmente contam com um

apresentador carismático. Estes progrmas apresentam grande popularidade e são vistos como

oportunidades de comerciais como merchandising . No telejornalismo o merchandising  é

anunciado geralmente pelo apresentador, no decorrer do programa.

Em alguns merchandising , o produto é apresentado ao vivo no estúdo, para demonstrar maior 

 proximidade do produto com o apresentador, que carrega a imagem do programa. O

merchandising precisa ser convincente na indicação do produto. Costumam transmitir um VT

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com imagens do produto enquanto o apresentador fala sobre ele. A duração varia de 15

segundos a um minuto.

Com o uso intensivo do merchandising , o aspecto comercial fica explícito no telejornal, pois

apresenta imagens, slogan e logomarca do produto, além da demonstração de consumo, por 

 parte do apresentador. Desta forma, o merchandising  faz com que o programa apresente

vestígios da indústria cultural.

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3 JORNALISMO POPULAR ANCORADO E ESPETACULARIZAÇÃO

3.1 Metodologia de pesquisa

Os métodos de pesquisa utilizados neste trabalho foram a análise de conteúdo, a fim de

verificar os elementos de jornalismo popular, a ancoragem e a espetacularização da notícia

que caracterizam o programa Balanço Geral. A estratégia de investigação consistiu em

análise quantitativa e qualitativa do programa Balanço Geral de Minas Gerais. Em seguida,

 promovemos uma comparação com outros dois programas, do Rio de Janeiro e de São Paulo,

com o objetivo de caracterizar a regionalização do modelo jornalístico adotado pelo

 programa.

O material empírico é composto por cinco edições do programa  Balanço Geral . O período de

coleta ocorreu do dia 14 de maio até 15 de junho de 2012, por meio de semana composta.

Este tipo de coleta foi definido levando-se em consideração os critérios de conteúdo, a fim de

evitar coberturas especiais ou temáticas. Foram selecionadas uma edição do programa por 

semana, em dias alternados.

A partir do material coletado, procuramos identificar os gêneros e os formatos jornalísticos

 presentes no Balanço Geral , por meio da observação empírica e dos conceitos trabalhados por 

José Marques de Melo (2003). Os operadores análitico utilizados nesta primeira parte foram:

• Verificar a presença dos gêneros jornalísticos no  Balanço Geral , a partir da

classificação:

- Jornalismo informativo: nota, notícia, reportagem e entrevista.- Jornalismo opinativo: editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica,

caricatura e carta.

• Analisar qual a frequência e o tempo destinado para os gêneros jornalísticos no

 programa.

• Verificar qual é o perfil editorial predominante.

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Em um segundo momento, utilizamos o método qualitativo, em que foi feito um recorte do

telejornal para análise dos elementos de espetacularização e jornalismo popular, além da

atuação do apresentador, enquanto âncora. Consideramos as seguintes categorias de análise:

• Em que momento a opinião se faz presente no Balanço Geral 

• Como ocorre a construção da notícia e da opinião

• Como é estruturado o cenário

• Como é a participação do telespectador 

• Quanto ao apresentador, analisamos:

- Postura gestual

- Linguagem

- Deslocamento dentro do estúdio

Fizemos ainda uma análise da estrutura das notícias do programa e de um elemento do

 jornalismo opinativo, o comentário.

• Leitura e análise das notícias do telejornal

- Construção textual

- Abordagem adotada

- Tipos de imagens e ângulos utilizados

- Tipos de fontes empregadas nas matérias

- Recursos gráficos escolhidos

• Quanto ao comentário

- Em que momento é empregado

- Em que se baseia

- Processo de construção

Por último, fizemos um breve exercício comparativo para observar como este formato tem

sido aplicado em outros estados, transformando-se em um modelo regionalizado de

 jornalismo popular, baseado na receita da espetacularização e do âncora enquanto personagem

 principal. Para isso, utilizamos as informações e programas disponíveis na internet.

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3.2 Breve histórico da Record

A rede  Record  de Televisão, inaugurada em 1953, tinha a programação voltada para o

entretenimento, musicais e o esporte. A emissora causou impacto na época, apresentando

tecnologia avançada e recursos financeiros para produção dos programas.

De acordo com o site da TV Record5, nos primeiros anos, o programa de maior sucesso era

um musical, Grandes espetáculos União, apresentado por Blota Jr. e Sandra Amaral. No

telejornalismo pode ser destacado o  Mesa Redonda, criado em 1954 e apresentado por Geraldo José de Almeida e Raul Tabajara. Já no esporte, a emissora foi a primeira a transmitir 

uma partida de futebol.

A  Record  iniciou um período de expansão, a audiência aumentou de forma significativa e

contava com um público fiel, segundo relatos da própria emissora. O canal chegou a superar a

TV Tupi, então líder de audiência. Com objetivo de expandir a cobertura pelo estado de São

Paulo, novos programas foram criados.

 No final dos anos 1970, a emissora iniciou um período de crise, marcado por alguns incêndios

nos estúdios, além do aumento da concorrência com o surgimento de vários outros canais na

televisão. A Record passou por seis incêndios e teve grande parte dos arquivos perdidos. Por 

volta de 1980, a emissora foi adquirida pelo Bispo Edir Macedo, fundador da igreja Universal

do Reino de Deus.

Em 1991, a TV  Record  iniciou uma nova fase. A emissora ampliou a programação e o

 jornalismo foi precursor da mudança. A  Record  criou uma rede nacional e adquiriu

equipamentos de última geração, além de investir na contratação de novos profissionais

consagrados no mercado.

Atualmente o sinal da  Record  cobre quase 190 milhões de brasileiros, em todo território

nacional e a rede possui treze emissoras próprias, as principais estão localizadas em São Paulo

(capital), Rio de Janeiro (capital), Porto Alegre, Distrito Federal (capital) e Salvador. A

5 http://rederecord.r7.com/

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empresa conta no total com 107 emissoras, entre as filiadas (próprias) e as afiliadas

(associadas), sendo de natureza geradora e repetidora, com relação à natureza de transmissão

do sinal.

O ano de 2005 foi marcado pelo desenvolvimento da emissora. No mesmo ano, a Record

consolidou-se na teledramaturgia e criou o RecNov, um centro de produções de telenovelas

em Várzea Grande, no Rio de Janeiro. Em 2006, a TV  Record atingiu a vice-liderança em

faturamento publicitário e audiência, com um crescimento histórico na TV aberta brasileira,

 principalmente no horário nobre, das 18h à meia-noite.

A  Rede Record  criou uma disputa em potencial com a emissora líder de audiência, nosúltimos anos. Por volta de 2007, a emissora começou a criar alguns programas idênticos aos

da Globo, como a  Record News, primeiro canal gratuito de jornalismo 24h, e investir em

telenovelas, apostando em contratação de alguns artistas consagrados na televisão. Em 2009,

foi criado o Reality Show A Fazenda, apresenta as dificuldades e prazeres da vida no campo,

com a participação de vários famosos. O canal pretende assim tomar o espaço da Rede Globo

em alguns pontos. Foi desenvolvido ainda o  Domingo Espetacular , uma revista eletrônica

nos mesmos moldes do Fantástico.

A emissora apostou também no direito de transmissões de alguns eventos, como os Jogos

Olímpicos de Inverno de 2010, em Vancouver e os Jogos Olímpicos de Verão de 2012, em

Londres. Com objetivo de alcançar alguns pontos de audiência a mais que a emissora

concorrente.

3.3 Rede Record Minas

A emissora foi fundada em 1991, pelo então governador de Minas Gerais, Newton Cardoso.

Em 1993, a TV Sociedade foi comprada pelo grupo Central Record de Comunicação, sendo

nomeada como TV   Record Minas.

Em 2000, a TV  Record  criou uma sede própria em Minas Gerais, localizada no bairro

Floresta, região oeste de Belo Horizonte. Naquele ano, a emissora produzia apenas o

 programa Informe MG em duas edições, uma no horário do almoço e outra à noite.

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Por volta de 2007, a TV Record Minas começa a investir na identificação com o público

mineiro e amplia a grade de programas. Em 2008, a emissora consagrou-se a terceira de

Minas a exibir sinal digital terrestre para toda a região metropolitana, por meio de parcerias

com companhias especializadas de São Paulo e Minas Gerais, como a japonesa de tecnologia,

Toshiba.

A filial mineira ganhou cada vez mais destaque, com visibilidade inclusive na grade de

 programação nacional da emissora. Com o slogan “Tv de primeira”, a  Record Minas conta

atualmente com cobertura em aproximadamente 853 municípios do estado. A programação

local tem cinco programas: MG Direto da Redação, MG no Ar, Balanço Geral, MG Record e

Caju e Totonho.

A rede Record tem permanecido em segundo lugar, atrás apenas da rede Globo. Mas mesmo

assim, tem conseguido ultrapassar a primeira colocada em índices de audiência, durante

determinados horários específicos.

3.4 A receita regionalizada do Balanço Geral

As característica de jornalismo popular, ancorado, regional e espetacular apontadas acima não

se restringem ao programa de Belo Horizonte. Ele constitui uma fórmula adequada

regionalmente, conforme aponta o quadro comparativo a seguir:

Balanço Geral SP Balanço Geral RJ Balanço Geral MG

Slogan O programa quedefende o cidadãoLogomarca

Duração 06h15 às 07h2512h às 13h15

12h às 14h30 12h45 às 14h50

Descrição O Balanço Geral SP éum telejornal que leva

 No Balanço Geralreservamos espaço para

Jornalismo popular éa principal marca do

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a informação certeira para o telespectador. O programa, que transitaentre o jornalismo e o

entretenimento atingedois públicosdiferentes.

o entretenimento,embora não seja o perfildo BG. Mas tambémfaz parte do programa

 por conta da personalidadedescontraída doapresentador com

 brincadeiras ecomentários inusitados.Tudo isso faz o BalançoGeral um campeão deaudiência.

Balanço Geral. Um programa voltado para a defesa dosinteresses dos

cidadãos mineiros

Apresentador Geraldo Luís Wagner Montes Mauro TramonteConteúdo Reportagens

exclusivas, denúncias, prestação de serviço eos assuntos quemexem com o dia adia da comunidade,como problemas nos

 bairros, segurança esaúde pública.

Reportagens

relacionadas aos problemascomunitários,segurança pública,comportamento, lazer ecultura popular.

Reportagens

especiais, séries,denúncias e prestaçãode serviçosabordados comrespeito e bomhumor.

O Balanço Geral foi lançado na Bahia e, devido à grande repercussão, a direção da emissora,em São Paulo, decidiu exportar o nome e o formato do programa para todas as praças, estados

 brasileiros que possuem um escritório da rede  Record . A programação é voltada para o

 público popular.

O Balanço Geral tem um formato padrão, que pode ser percebido pela logomarca e nome dos

 programas selecionados, além da descrição de cada um. Todos os programas apresentam uma

semelhança na característica disponível no site, além do conteúdo abordado nos telejornais. A programação é voltada para a camada popular, mas cada telejornal segue uma adaptação do

 público regional, desde a linguagem até a descrição do conteúdo.

Os horários dos telejornais também são similares, apresentados no período do almoço. A

 presença e atuação dos apresentadores são semelhantes, mas mantendo a particularidade

regional de cada programa, de modo a proporcionar maior identificação com o público local.

A adequação às características de cada praça fica clara na definição do conteúdo do programa

em São Paulo e no Rio de Janeiro. Enquanto São Paulo chama atenção para o conteúdo

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informativo, Rio de Janeiro destaca o entretenimento como característica principal do

 programa. São Paulo enfoca o jornalismo; Rio de Janeiro a descontração e as brincadeiras.

 Nos três casos, o apresentador é a figura marcante e central do Balanço Geral .

3.5 O Balanço Geral Minas: equipe e rotinas de produção

O  Balanço Geral Minas teve início em 2005, com apresentação de Ricardo Sapia. Antes de

fazer parte do grupo mineiro, Sapia atuou como repórter policial no Rio de Janeiro, no antigo

Cidade Alerta. O programa foi extinto em 2004, devido a vários processos judiciais.

 No período do apresentador Ricardo Sapia, o slogan do  Balanço Geral era “Balanço Geral: a procuradoria geral do povo”. O telejornal possuía um formato mais popularesco, que

 priorizava a área policial, sorteava brindes por telefone ou quantias em dinheiro e levava

telespectadores ao estúdio para fazer exames de DNA e resolver casos assistencialistas, como

 problemas de saúde ou desemprego.

Em 2007, o  Balanço Geral começou a ser apresentado por Gilvan Costa, locutor da  Rádio

 Itatiaia. Ricardo Sapia deixou o programa para comandar um telejornal em outra emissora. No mesmo ano, a diretoria de jornalismo da Record Minas foi substituída pelo jornalista

 paulista Vírgílio Abranches, por determinação da direção nacional da  Rede Record , em São

Paulo.

Com a nova diretoria, a equipe de reportagem e produção da emissora mineira foi reforçada.

Em 2008, inaugurou um news room na redação, a grade de programação foi reformulada e

criado o programa MG no Ar , hoje comandado pelo jornalista Eduardo Costa, e que vai ao ar às 07h20.

O jornalista Carlos Viana assumiu a apresentação do  Balanço Geral , em 2007. Os antigos

 programas foram extintos do telejornal. O foco do programa passou a ser notícias, reportagens

especiais e os colunistas, que eram convidados fixos. O telefone passou a ser utilizado como

um meio de interatividade com o telespectador. Pelas linhas telefônicas recebiam-se

denúncias, críticas e sugestão de pautas.

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A direção da Rede Record não estava satisfeita com o comando de Viana no programa, pois

queria um telejornal mais ativo, em defesa da população. O Balanço Geral ficou cerca de três

meses fora do ar. Em março de 2008, o telejornal retornou à grade de programação da

emissora e passou a ser comandado por Mauro Tramonte, que é o apresentador atual. O

 Balanço Geral  tem hoje duração de 2h06 e ampla infraesturura de produção, utilizando

inclusive o helicóptero da emissora.

O programa possui uma equipe própria de produção. O editor chefe é o João Hélio Andrade,

coordenador de jornalismo Bruno Menezes, produtores Sinara Peixoto e Antônio Paulo,

repórteres Garcia Junior e Rafael Martins, editores de texto Natália Rodrigues, Riney Ribeiro

e Joseany Cruz, editores de Imagens Fabiano Laktim, Sabrina Andrade, Anna Rodrigues eFraygner Ben Hur. Além de toda apuração, que funciona em prol dos programas da casa e a

equipe do switcher.

O Balanço Geral começa a ser organizado às 9h da manhã. O editor chefe chega à emissora e

verifica com a chefia de reportagem as matérias existentes. Posteriormente, o espelho do

 jornal é organizado pelo próprio editor, que verifica o que deve repetir dos outros programas

da emissora. Os editores e o coordenador vão chegando aos poucos e organizando a edição. Ocoordenador confere tudo que vai ao ar no dia com o editor, por volta das 12h e agiliza as

 pendências. O apresentador entra no estúdio por volta 12h30. O editor chefe vai para o

switcher 12h40 e de lá comanda o programa até o fim.

 Na reunião de pauta, os produtores são responsáveis por selecionar os assuntos que têm

ligação com o perfil do noticiário. As reuniões ocorrem no decorrer do dia, sem um horário

 pré-definido, pois são comandadas pela chefe de produção, que fica à disposição da equipe de produção e os resultados são apresentados ao chefe de redação, para aprovação final das

 pautas.

O programa é exibido de segunda a sexta-feira, às 12h45. Às 13h50, o telejornal é

interrompido para exibição do Momento de Paz (horário exclusivo de uso da Igreja Universal)

e retoma às 13h53. Por volta das 14h, começa a transmissão para TV Paranaíba e TV Leste

que vai até às 14h32. A finalização do programa acontece por volta de 14h50.

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Atualmente, o  Balanço Geral  é consolidado no segundo lugar, em termos de audiência.

Chega-se a ter  share de 16 pontos em alguns dias. A emissora costuma brigar pelo primeiro

lugar com a emissora Globo, em média de 13 pontos.

3.6 Análise descritiva do Balanço Geral Minas

3.6.1.Os gêneros jornalísticos

Os gêneros jornalísticos são categorias que classificam o conteúdo produzido. Nesta primeira

etapa da pesquisa buscamos verificar a presença desses gêneros no programa, com base na

classificação de Melo (2003), já que a opinião é uma das caracterísicas que ajudam adiferenciar os telejornais tradicionais dos sensacionalistas (ANGRIMANI, 1995).

 No Balanço Geral existe uma predominância do gênero informativo, com destaque para nota

e notícia, quando está sob responsabilidade de um repórter. A opinião fica por conta do

apresentador do programa, na função de âncora estabelecida pela emissora, dentro da lógica

explicada por Machado (2005).

Com relação ao material coletado, em cada edição há uma média de vinte notícias e cinco

notas cobertas por programa. As notícias são veiculadas da forma tradicional descrita por 

Paternostro (2006), com um repórter fazendo a narração dos fatos. As imagens são editadas de

acordo com o texto narrado. Algumas notícias possuem conteúdos cômicos, que atraem a

atenção do telespectador, mas com o mesmo formato das demais. A duração é relativa, pois as

notícias cômicas, nas quais os repórteres têm a liberdade de interpretar a notícia, costumam

ser exibidas em torno de sete minutos, já as notícias com conteúdos jornalísticos apresentamcerca de dois a três minutos.

Em uma edição no dia 14 de maio de 2012, por exemplo, foi elaborada uma matéria sobre o

mistério do dono da voz da rodoviária de Belo Horizonte, com duração de sete minutos e

quarenta e cinco segundos. O repórter inicia o VT6 fazendo um povo fala7, com os passageiros

do local, utilizando perguntas relacionadas ao locutor da rodoviária. Em outro momento as

6 Videotape: Uma fita de material plástico, usado para gravação prévia de programas televisivos, destinados atransmissões posteriores. O VT possibilita editar e regravar as cenas que antes eram feitas ao vivo.7 Povo fala: É a coleta de opiniões das pessoas na rua. Tem a mesma função da entrevista, mas a diferença estána quantidade de pessoas que emitem a mesma opinião e não na qualificação dos entrevistados.

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 perguntas são relacionadas ao perfil físico do locutor. No decorrer da matéria, foram

utilizados alguns recursos de espetacularizações, conforme caracterizado por Coelho (2006),

como a inserção dos vídeos de risos, em determinados momentos engraçados e o sobe som de

risadas e o canto de pássaros.

 Na mesma edição coletada foi feita uma matéria sobre um pé de couve com quase quatro

metros de altura, no bairro Taquaril, em Belo Horizonte. O VT teve duração de seis minutos e

oito segundos. A matéria inicia com um som de pagode, coberto por imagens do pé de couve.

A moradora explica sobre o procedimento de plantação da verdura. Durante a matéria foi

utilizado o jargão do programa “ô potência” e um boneco do apresentador, que é um recurso

gráfico do programa, elementos de espetacularização de acordo com Coelho (2006), como noexemplo a seguir (Fig.1).

 Figura 1: ilustração de uma matéria cômica.

Fonte: TV Record

Em um telejornal tradicional, as notas cobertas são notícias lidas pelo apresentador ao vivo,

enquanto as imagens ilustram a matéria, de acordo com Paternostro (2006). No  Balanço

Geral , a nota coberta é lida por um repórter, que é anunciado pelo apresentador. Do lado de

fora do estúdio, o repórter e o âncora conversam e comentam a respeito do fato. como no

exemplo a seguir.

A matéria exibida dia 15 de junho de 2012, aponta que a morte de um bebê pode ter sido

 provocada por erro médico. No fim do VT, o apresentador anuncia a nota do hospital, por umrepórter, “Garcia o que assessoria do hospital alegou sobre o caso?” O repórter começa a falar 

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 por meio de um pronome de tratamento, “Olá, Mauro, a assessoria do hospital, Sofia

Feldeman, informou que o bebê nasceu de cesariana programada. No pós parto, a criança teve

uma insuficiência respiratória e foi transferida para unidade de tratamento intensivo neonatal.

O hospital suspeita que o bebê tenha nascido com uma infecção adquirida ainda no útero. O

corpo foi encaminhado para IML a pedido da família.” O apresentador é quem finaliza a

matéria, “quando alguém passa em cima dos nossos direitos, temos que correr atrás, procurar 

uma delegacia de polícia, pedir exumação do corpo, para apurar o fato, então taí, vamos

esperar.” Além da linguagem informal, pouco característica de outros telejornais, o

comentarista procura se aproximar do telespectador, colocando-se como um deles, formato

também pouco comum no telejornalismo formal e apresentado por Coelho (2006) como

característico da espetacularização.

Algumas notícias são exibidas ao vivo, cerca de duas a três entradas, por programa. Fatos de

grande relevância são transmitidos por um link  ao vivo, do local do acontecimento, com a

 presença de um repórter. Essa transmissão ocorre em casos específicos, como flagrantes de

acidentes ou novidades sobre um caso de grande repercussão. Em uma matéria exibida no dia

07 de junho de 2012, uma fábrica de fogos explodiu, dois galpões ficaram completamente

destruídos e duas pessoas morreram, em Santo Antônio do Monte. Devido à gravidade docaso, um repórter foi deslocado para o local e entrou ao vivo no telejornal, com as últimas

notícias sobre o caso. “Uma das vítimas foi enterrada na cidade. O repórter Maicon Mendes

está ao vivo no local e tem mais informações.” O ritmo acelerado de produção e a presença do

repórter no local do acontecimento são recursos utilizados pelo jornalismo espetacular, como

formas de garantir a credibilidade jornalística, conforme defende Coelho (2006).

A entrevista pode ser verificada em apenas duas edições do material coletado. O gênero éusado em casos extraordinários, em que um especialista aparece ao vivo no estúdio ou em

uma transmissão ao vivo com um repórter, no local do acontecimento (MELO, 2003). No

 programa, a entrevista ao vivo faz parte da cobertura de uma notícia, geralmente na área de

 polícia, com a finalidade de comentar o fato abordado pelo telejornal e garantir a credibilidade

da informação.

 No dia 22 de maio de 2012, o  Balanço Geral exibiu uma entrevista ao vivo do estúdio com o

chefe do Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp), delegado Islande Batista.

O entrevistado falou sobre o andamento das negociações do sequestro de uma menina de 14

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anos, em São Roque de Minas. O formato e conteúdo da entrevista, neste caso, seguiram os

 padrões tradicionais do jornalismo e não indicaram elementos de sensacionalismo ou

indiscrição com relação à fonte.

Em outro caso, no dia 30 de maio de 2012, a repórter Shirley Barroso fez uma transmissão ao

vivo, na frente delegacia, com a chefe da Divisão Especializada de Atendimento da Mulher,

do Idoso e do Portador de Deficiência de Belo Horizonte, delegada Margaret Rocha. A

especialista é responsável pelo inquérito do caso de Pedro Meyer, um homem acusado de

cometer vários estupros, há quinze anos.

O gênero opinativo se faz presente no programa, principalmente por meio dos comentários doapresentador, personagem reconhecido pela emissora enquanto portador do direito de opinião

(MACHADO, 2005). No  Balanço Geral, as notícias são insistentemente comentadas pelo

apresentador, seguida da repetição das imagens mostrada nas matérias, recursos que marca a

espetacularização do fato comum (COELHO, 2006).

 Na edição do dia 22 de maio de 2012, Mauro Tramonte fez um comentário sobre um fato. A

notícia apresentava a prisão de uma quadrilha e vários materiais apreendidos, inclusivealgumas bananas de dinamite. O apresentador chama a matéria, após o fim do VT, Tramonte

comenta o caso “que que isso, gente? Todo mundo pode comprar banana de dinamite agora?

Quero saber como compra isso, na feira? Os órgãos competentes deviam dar um parecer pra

sociedade sobre esse caso.” Esta linguagem coloquial é um dos recursos utilizados pelo

 jornalismo popular para legitimar gostos e expectativas populares, aproximando o programa

das camadas periféricas da sociedade, conforme aponta Angrimani (1995).

A partir da análise das editorias do  Balanço Geral , a predominante é a de polícia, mais uma

das características do jornalismo popular, apontadas por Angrimani (1995). A temática

 principal são os crimes e assuntos relacionados à segurança pública, incluindo as ações da

 polícia e dos bombeiros. A editoria de cidades também está presente no programa, com foco

nos assuntos de interesse regional, como os problemas comunitários em geral, o que

caracteriza o programa como regional, na visão de Maia (2007).

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3.6.2 Construção da notícia

As notícias dos telejornais são compostas por textos e imagens, sendo que ambos precisam

estar em harmonia, explica Paternostro (2006). Recurso que, por sinal, é utilizado para

facilitar a compreensão do fato em si. A construção textual das notícias atende às normas do

coloquialismo, uma linguagem que aproxima a matéria do entendimento da camada mais

 popular do público, na avaliação de Machado (2005).

A forma como um fato é abordado é fundamental para o bom andamento do telejornal.

Segundo Arbex Junior (2002), “para vender uma notícia, muitas vezes, ela tem que ser dramatizada”, com uso de alguns efeitos especiais. O recurso é misturado com a realidade da

notícia.

 No  Balanço Geral , foram criados alguns recursos audiovisuais irreverentes e um jargão

 próprio do programa. Em uma edição coletada, no dia 14 de maio de 2012, Mauro Tramonte

faz a chamada de uma matéria, “uma família vive um drama, na região metropolitana. Duas

crianças com problemas de locomoção sofrem para ir até a escola diariamente.” Em seguidaentra um sobe som8, com uma voz fina dizendo “há probrema aí”, depois do jargão entra a

matéria.

Em outra matéria da mesma edição, o apresentador fez o uso de dois jargões criados no

 programa. Mauro Tramonte faz a chamada da matéria, “seis pessoas ficaram feridas, em um

acidente envolvendo um micro ônibus, em Belo Horizonte. Macetô, macetô a parede de uma

casa, balança aí.”

O apresentador faz as chamadas das matérias sempre direcionadas para o telespectador,

“atenção, você, meu amigo e minha amiga, veja como está a estrada na BR 381, com imagens

do nosso helicóptero”. Na chamada também é utilizado uma imagem de destaque da matéria,

em seguida entra o repórter, que faz um teaser do assunto.

8 Sobe som: É um recurso de edição das matérias especiais. O recurso corresponde ao uso de um som ao fundoda matéria, em determinada situação, em especial para agregar emoção.

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Para Pate rnostro (2006), a construção textual das notícias procura seguir os princípios

 jornalísticos e apresenta sempre um lead , que pode ser entendido como as primeiras

informações, no qual o telespectador deverá encontrar resposta a seis questões fundamentais:

o quê, quem, quando, onde, por que e como. O Balanço Geral também segue esta regra, além

de fazer uso de alguns elementos de espetacularização já citados.

As imagens são fundamentais para determinar a aceitação de um acontecimento em um

telejornal, pois são justamente as cenas que diferenciam a televisão dos demais meios de

comunicação, explicam Bistane e Bacellar (2010). A adequação de uma matér ia ao

telejornal geralmente depende das imagens e da história espetacular do fato. A

veiculação de imagens independente do caráter jornalístico do fato é característica deespetacularização, de acordo com Arbex Junior (2002).

Uma nota coberta exibida no dia 30 de maio de 2012 apresenta uma imagem de confusão feita

 por um telespectador. “Aconteceu um barraco na portaria do Hospital de Pronto Socorro João

XXIII, um ‘for fé danado’,” anuncia o apresentador. O repórter narra todo o fato, que se

restringe a um desentendimento entre familiares, que iniciaram uma agressão física na

 portaria do hospital. Um fato sem caráter jornalístico, mas que foi registrado em vídeo eganhou espaço no telejornal, demonstrando a tendência oportunista de utilizar-se de recursos

inusitados para compor o programa.

Em uma edição de reportagem, os editores procuram selecionar as cenas que transmitem a

informação desejada ao telespectador, pois as imagens que são responsáveis pela primeira

interpretação do público, afirmam Bistane e Bacellar (2010). Os ângulos fechados em

determinadas situações são muito usados no Balanço Geral . Como no caso de uma matéria dodia 07 de junho de 2012, em que uma garota foi agredida por outras três adolescentes, o

motivo da briga seria o namorado de uma delas. Para não identificar a jovem e mostrar os

ferimentos causados pela confusão, o cinegrafista faz uso do ângulo fechado em várias cenas,

o que demonstra certo cuidado na demasiada exposição de cenas chocantes, até mesmo pelo

horário de exibição do programa.

Em outra edição coletada no dia 15 de junho de 2012, foi abordada a questão da falta de água

em um determinado lugar, esquecido pelas autoridades públicas. A matéria deu espaço para

um vídeo amador feito pelos moradores do bairro Landi, inconformados com a constante falta

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de água, nos finais de semana. A gravação não possui uma boa qualidade de imagem e áudio,

mas serve para demonstrar as dificuldades que as famílias passam sem água na região e a

 busca de conexão com o telespectador. O vídeo apresenta depoimentos de várias famílias

revoltadas com a situação, que ficam sem água até para as necessidades básicas. Esta pauta

exemplifica o jornalismo regional e ao mesmo tempo popular, defendidos por Maia (2007) e

Amaral (2006).

A matéria tem a duração de seis minutos e vinte e oito segundos e tem uma abordagem

cômica. O repórter Garcia Junior que fez o VT, é denominado um repórter “especial”, dentro

da emissora, pois realiza matérias somente para o Balanço Geral . Esta figura ambígua, que se

situa entre o repórter e o âncora tem se tornado característico do jornalismo comercial edependente da audiência, de acordo com Machado (2005). Garcia Junior entrevista uma

moradora da região e simula cheirar o pescoço da mulher, a fim de perguntar como tomou

 banho. A ação cômica pretende demonstrar de forma descontraída, mas crítica, a indignação

dos moradores com a falta de água até para higiene pessoal.

Durante o VT, são exibidas animações gráficas que ilustram os depoimentos dos personagens,

como uma torneira pingando água e um balde vazio. O espetáculo da informação consiste naexibição de ícones e imagens entrelaçados à informação jornalística, de acordo com Arbex

Junior (2002).

As fontes uti lizadas nas matérias são selecionadas segundo as premissas

 jornalíst icas , destacam Bistane e Bacellar (2010). No programa, existe uma orientação de

ouvir os dois lados do fato, muitas vezes repassados por uma nota pé. Em uma nota coberta do

dia 30 de maio de 2012, uma paciente teve o joelho operado errado, em uma unidade de pronto atendimento público. Por meio de nota, a Secretaria de Saúde enviou um ofício à

emissora, explicando o que poderia ter acontecido no hospital. O documento foi lido após a

notícia.

Outro aspecto característico do programa é a inserção do comentário. De acordo com Melo

(2003), o comentário sempre é feito por uma pessoa que domine determinado assunto. No

telejornalismo, este gênero deve ser inserido de forma clara, de modo que o telespectador não

tenha dúvida que faça parte da matéria, definem Bistane e Bacellar (2010).

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Mauro Tramonte sempre insere uma nota pé opinativa, ou seja, um comentário embasado

sobre o assunto tratado na matéria. A interpretação do apresentador é inserida após a exibição

das notícias. No dia 22 de maio de 2012, foi veiculada uma matéria sobre um acidente no anel

rodoviário, que se suspeita ter sido provocado por um policial. Uma fonte acusa os militares

que fizeram o registro da ocorrência de acobertar o colega. Após exibição do VT, o

apresentador faz um comentário, “a lei é para todo mundo, ou seja, de acordo com a

constituição federal todos somos iguais perante a lei, o militar precisa responder pelo que

fez.”

Os comentários posteriores do apresentador a cada matéria são sempre contextualizados com

as informações das notícias e em linguagem coloquial popular, característica marcante do jornal. Como no caso da matéria exibida no dia 30 de maio de 2012, em que pacientes

reclamam da demora no atendimento e falta de materiais necessários na unidade de pronto

atendimento Norte, no bairro Primeiro de Maio.

Mauro Tramonte fez um comentário após o VT: “a Secretaria Municipal de Saúde informou

que o atendimento na unidade está normal e a equipe médica está completa. A Upa trabalha

com o sistema de manchester, em que são distribuídas fitas coloridas, de acordo com agravidade do caso. Tudo bem que no local usa o sistema de manchester, mas a gente, você

ficar com uma pulseirinha verde e esperar das 9h da noite até a manhã do dia seguinte é

normal? Realmente a coisa tá é preta, o povo sofre demais viu, vou te falar. O problema é que

nada muda.”

Os comentários do programa são improvisados pelo próprio apresentador, de modo a criar 

uma identidade com o telespectador. A construção textual é apelativa, constituída por elementos e falas que exprimem os questionamentos do público alvo. Mauro Tramonte se

 propõe a reformular um texto que, além de trazer uma nota pé da matéria, apresenta uma

cobrança das autoridades competentes, a própria indignação das pessoas.

3.6.3 A presença do apresentador e a participação do telespectador no telejornal 

O  Balanço Geral  é um programa informal do ponto de vista da movimentação do

apresentador. O espaço é todo ocupado por Mauro Tramonte, que apresenta o programa de pé

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e costuma percorrer todo o estúdio durante o telejornal. O plano de fundo é uma imagem de

 prédios tradicionais de Belo Horizonte, como o JK (Fig. 2).

A composição do cenário, além de conter os equipamentos básicos, apresenta também objetos

trazidos pelo apresentador, com objetivo compor alguns comentários. Durante a exibição de

uma matéria sobre a prisão de quadrilha de falsários que usavam notas frias para enganar as

 pessoas, Mauro Tramonte chegou a utilizar várias cédulas cenográficas no estúdio, para

comentar a matéria.

 

Figura 2: cenário e posicionamento cênico do apresentadorFonte: TV Record

O apresentador se comporta como porta-voz do cidadão, devido a seu desempenho no

telejornal, o que caracteriza o âncora como peça chave na mediação entre a empresa e o

telespectador (Machado, 2005). Mauro Tramonte, além de usar uma linguagem comum do

cotidiano do público, costuma interpretar algumas situações, enquanto faz os comentários do

VT (Fig. 3). Como no caso da matéria exibida no dia 30 de maio de 2012, quando ummotorista foi flagrado retirando combustível de um ônibus da prefeitura de Monte Brasivel,

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no interior de São Paulo. Após o VT, Tramonte comenta o caso e faz vários gestos no estúdio

com as mãos, “é, tio, vai ter que responder por isso. É uma forgança danada, viu.”

Figura 3: gestualidade característica da ancoragem popular e espetacularFonte: TV Record

O tom de voz do apresentador também é trabalhado nas matérias com apelo popular. Mauro

Tramonte usa o tom de voz mais sério, apresenta firmeza e indignação no que fala,

interpretando a notícia. Nas matérias cômicas, o apresentador costuma usar a voz suave e um

semblante tranquilo e alegre. Estes padrões de apresentação são construídos como forma de

 proporcionar impacto no telespectador, característica da espetacularização da informação,

define Coelho (2006).

O telespectador tem participação direta no programa, por meio das promoções e de sugestão

de pauta. A emissora oferece vários canais de comunicação com o público, como o portal de

voz, em que uma pessoa pode ligar e registrar uma denúncia, após a escuta de uma gravação.

Todas as ligações são apuradas e encaminhadas como sugestão pelo email geral da TV.

Outro meio de comunicação são as próprias linhas telefônicas, pelos quais o telespectador 

 pode conversar direto com um funcionário. A pessoa que preferir pode ir até à emissora e

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falar pessoalmente com um dos integrantes da equipe  Record Minas. Sugestão de pauta ou

reclamações também pode ser encaminhadas por email. A emissora oferece vários meios de

interação com o telespectador, a fim de proporcionar maior proximidade com o público, como

defende Amaral (2006).

3.7 O merchandising no Balanço Geral

 No programa o merchandising  é anunciado pelo próprio apresentador, no decorrer do

telejornal. De acordo com o material coletado, em média, o  Balanço Geral  possui cinco

inserções publicitárias.

Os quadros de merchandising são curtos, cerca de um a dois minutos. O momento de entrada

das propagandas no telejornal é aleatório. O editor chefe que define a ocasião em que ocorre a

inclusão dos anúncios, de acordo com o andamento do programa.

 No  Balanço Geral o merchandising pode ser apresentado de duas formas, Mauro Tramonte

faz a chamada do anúncio, destacando a necessidade do produto e depois entra um VT

gravado sobre a mercadoria. Na outra forma, o apresentador faz o anúncio do objeto ao vivono estúdio. Em alguns casos, um pequeno  stand  característico é montado em um canto do

cenário, para o âncora fazer o anúncio. Independende da forma utilizada para apresentar a

estratégia mercadológica, os produtos são anunciados com o comentário pessoal do Mauro

Tramonte.

 No material coletado foi observado propagandas de produtos diversos, como o colchão

magnético oriental, o emagrecedor Nutrilipo, o remédio de combate a ostoporose CalcitramD3, os imóveis da empresa PDG, os planos ilimitados da operadora Vivo, dentre outros. Não

existem restrições para anunciar no programa. Mas todos os produtos anunciados no telejornal

são destinados ao público alvo do programa, a classe popular.

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CONCLUSÃO

Após a pesquisa, podemos perceber que o  Balanço Geral Minas é um telejornal diferenciado

dos padrões jornalísticos tradicionais e apresenta as características apontadas pelos autores,que o posicionam como popular, regional e espetacular. O programa visa apresentar os

 problemas da cidade e do estado, de uma maneira informal.

A proposta de um programa diferenciado tem dado certo, o crescimento dos índices de

audiência do  Balanço Geral Minas tem sido satisfatório. Os índices não são informados

 publicamente, mas existe um acompanhamento frequente por um profissional da  Record . Na

emissora tem um aparelho do Ibope e os valores são acompanhados pelo editor chefe, nodecorrer do programa. A programação pode ser alterada durante a exibição do telejornal,

considerando que determinada matéria esteja proporcionando altos piques de audiência.

O formato do telejornal não é fixo e sofre reformulações constantes. Os produtores procuram

sempre inovar, por isso, quadros novos são inseridos regularmente no programa. A busca

 pela inovação do Balanço Geral Minas é motivada pelas várias sugestões e críticas recebidas

dos telespectadores, devido aos diversos meios de comunicação disponibilizados pelaemissora.

 Na nossa avaliação, apesar de caracterizado pelo popular, sensacional e se distinguir dos

telejornais tradicionais, o programa realiza uma cobertura jornalística de qualidade e, muitas

vezes diferenciada pela versatilidade do telejornalismo local. Devido à programação regional,

o Balanço Geral consegue aprofundar em uma cobertura jornalística, de forma descontraída e

original. A identidade criada pela emissora, construída ao longo do processo de produção da

notícia, faz com que a população se identifique com o Balanço Geral Minas.

O público acompanha um telejornal quando possui uma identificação com o programa,

estabelecendo um laço com a emissora. Por isso, os responsáveis pelo  Balanço Geral  se

 preocupam em manter uma constante relação direta com os telespectadores, seja pelos meios

de comunicação disponibilizados ou pela forma de conduzir o programa.

A opinião embasada é uma característica do  Balanço Geral . Os comentários do apresentador 

construídos de forma coloquial e informal são fundamentados no conteúdo da matéria exibida

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e não extrapolam para o sensacionalismo. A fala do Mauro Tramonte proporciona uma

sensação de proximidade com o público, pois, a opinião é emitida com o mesmo sentimento

de revolta ou aprovação do telespectador.

Devido à linguagem utilizada nos comentários e aos efeitos cômicos das matérias cria-se uma

identidade com o telespectador. As representações simbólicas utilizadas no telejornal buscam

uma assimilação com o público. A criação dessa identificação é importante para o programa,

 pois contribui para que o telespectador acompanhe diariamente o telejornal.

A televisão vista como um negócio precisa atrair lucros aos proprietários. No  Balanço Geral 

existe uma preocupação comercial apoiada na publicidade. Um recurso utilizado no programaé o merchandising , que mistura conteúdo publicitário no decorrer do programa. De acordo

com o material analisado, podemos notar semelhança entre os textos das ações e as maneiras

de anunciar, além de todos os produtos serem voltados para adultos da classe B, C, D e E.

Esta classificação coincide com o público alvo do telejornal.

Os anúncios são feitos pelo apresentador de forma descontraída e natural, como se fosse uma

indicação de algo que Mauro Tramonte tivesse utilizado. A maneira como as ações sãoanunciadas proporcionam uma sutileza no teor da mensagem publicitária. Esta estratégia

mercadológica é uma tentativa de mascarar o viéis comercial. Desta forma, o telespectador 

que se identifica com o telejornal tem uma tendência em adquirir o produto, gerando lucros

aos empresários.

 Nas edições selecionadas para análise podemos notar que o  Balanço Geral  apresenta um

modelo jornalístico regionalizado e ancorado na espetacularização. O regionalismo adotado pelo programa cumpre as premissas do conceito. O telespectador se sente representado na

notícia. Mauro Tramonte conduz o programa com desenvoltura e naturalidade, apresenta as

notícias proporcionando uma interação com o público. Estes fatores tornam-se fundamentais

 para a identificação do programa, pois se apoia fortemente na figura do seu âncora.

O âncora carrega a responsabilidade da veracidade do que está sendo noticiado. A

credibilidade do telejornal passa a ser vinculada a quem o apresenta. A espetacularização é

explicitada em algumas matérias cômicas, que não apresentam um cunho jornalístico e na

edição do VT, que costuma acrescentar efeitos nas matérias. Outra característica de

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espetáculo está na constante repetição de uma notícia, muitas vezes motivada pelos índices de

audiência.

O modelo regionalizado e ancorado na espetacularização é transmitido para várias praças da

emissora. O formato do programa é sempre mantido, com figuras marcantes a fim de conduzir 

o telejornal. O padrão do  Balanço Geral  se repete em muitos estados do país, com a mesma

descrição de conteúdo adequado às características locais. Em síntese, existe um padrão

ancorado na figura do apresentador, mas o conteúdo dos programas segue um processo de

regionalização.

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