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Jornalismo As boas notícias contribuem para a nossa felicidade? P

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JornalismoAs boas notíciascontribuempara a nossafelicidade? P

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O segredo da felicidade está nas notícias positivas? Pág. 4/5

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O jornalismo deveajudar as pessoasa serem felizes?Pode (e deve) o jornalismo contribuir para a felicidade através dapublicação de "boas notícias"? Especialistas em felicidade - sim, afelicidade já chegou às universidades - defendem que sim. O truque estáem encontrar o equilíbrio. Por Rita Himmel

• Mortes, acidentes, guerras,terramotos, fome, crise, crise,crise... Que papel desempenhaa comunicação social no meiode tudo isto? Os especialistas emfelicidade defendem que é precisoencontrar um equilíbrio entrenotícias positivas e negativas. O

jornalismo pode contribuir para afelicidade dos leitores, acreditamresponsáveis de alguns órgãos de

comunicação social que pugnampelas boas notícias. Mas ser"bonzinho" não vende, admitem.

"A percentagem de tempoocupado nos telej ornais comnotícias de crime não correspondeao peso dos crimes na realidadeda sociedade", o que cria uma"distorção" na percepção darealidade e causa uma sensação de

insegurança, avalia Gabriel LeiteMota, o primeiro português com

um doutoramento em Economiada Felicidade.

Helena Marujo, investigadoraque introduziu a psicologia do

optimismo em Portugal, lamenta

que algumas pessoas "receiem

que a apresentação de temáticaspositivas mascare as questõesda injustiça ou da violência que,infelizmente, estão presentes". No

entanto, alerta: "As pessoas estão

cansadas do massacre das notícias

que lhes tiram a esperança e não

promovem a acção.""A questão não é negarmos o

negativo, é preciso é lembrarmo-nos de que é preciso activarrecursos para dar a volta",acrescenta, por sua vez, CatarinaRivero, psicóloga clínica, que,com Helena Marujo, escreveuPositiva-mente: Viva o Seu Dia-a-Dia com Equilíbrio, Bem-Estar e

Optimismo, editado pela Esfera dosLivros. Rivero refere que os media

podem ter um efeito mobilizadorforte, ao "passar exemplos de

referência, positivos, por exemplo,de instituições que dão a volta, de

grupos que servem de exemplo nacomunidade ou de empresas desucesso que existem no país".

Helena Marujo salientaainda que seria interessante "o

jornalismo passar a ter algumapreocupação em ajudar as pessoasa florescer".

"Nós sabemos, de acordo com aciência, que os sistemas humanossó florescem, as pessoas só estãono seu melhor, nomeadamente

para enfrentar situações de crise,quando sobrecompensam o

negativo", explica Helena Marujo,e cita o estudo da investigadora

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Barbara Fredrickson, que conclui

que a experiência de três emoçõespositivas por cada negativa é orácio que leva as pessoas a sermais resilientes face à adversidadee capazes de atingir os seus

objectivos.Adaptar o modelo desse rácio

ao jornalismo poderia ser um"exercício interessante" para os

jornalistas, considera CatarinaRivero, que lança ainda outrodesafio: "Porque não começar eacabar o noticiário com notíciaspositivas?"

Gabriel Leite Mota distingueuma forma indirecta e umadirecta em que o jornalismo podecontribuir para a felicidade e obem-estar de uma sociedade. Aprimeira está relacionada com "a

qualidade de uma democracia".Ao informar, os media

podem "munir as pessoas deinstrumentos para tomar decisõesmais informadas", e refere que"os países que têm democraciasmais desenvolvidas e em que a

participação é maior têm maisbem-estar subjectivo".

De forma directa, os meiosde comunicação social podeminfluenciar de forma negativaatravés de "sensacionalismo", ou

procurar o "equilíbrio", ao "tentartodos os dias trazer à luz coisas queacontecem e que são positivas",defende.

"Ser bonzinho não vende"No dia 5 de Janeiro de 2004, o jornaldiário alemão Berliner Morgenpostdecidiu criar uma edição "fora do

vulgar", composta praticamente só

de notícias positivas. "Concentrámo-nos simplesmente em tudo aquiloque, tantas vezes, fica submersono fluxo das notícias negativas",escrevia, na altura, o chefe de

redacção.Em Portugal, a revista Xis,

projecto de jornalismo positivo deLaurinda Alves, foi publicada entre1999 e 2007, primeiro com o Correioda Manhã, e, mais tarde, com oPÚBLICO. Hoje, há publicações empapel, como as revistas Zen Energye Gingko, dedicadas a questõesrelacionadas com o bem-estar,há ainda publicações online quese debruçam exclusivamente nadivulgação de notícias positivas,como o BoasNoticias.pt.

"Na minha opinião, o jornalismodeve publicar, consoante os

critérios editoriais de cada jornal,as notícias que são relevantes",defende Ana Rita Ramos, directora

da Gingko, mas critica que "se temconfundido, nos últimos tempos,que pessimismo é necessariamentejornalismo". A directora da revista,cujas primeiras 13 edições foramdistribuídas com o semanárioSol, explica a estratégia da sua

publicação: "Numa questão de focoeditorial, entre uma má e uma boanotícia, escolhemos a boa." Evitam,ressalva, o "optimismo bacoco".

Ana Rita Ramos acredita que"o jornalismo tem um papelimportantíssimo de denúnciadas situações que estão mal". Por

vezes, a crítica é que o jornalismotransforma informações positivasem notícias negativas. "Não somos

parvos, nem somos tontos, masacreditamos que o optimismonem sequer é uma opção, é umaobrigação", sublinha.

Elisabeth Barnard, directorada revista Zen Energy, nota umatendência dos media para "fomentarsempre tudo o que é negativo, tudoo que não está bem". "É claro quetodos nós queremos ser informados,saber aquilo que realmente se

passa", mas "nunca se fala de coisas

que acontecem e que são positivas,como pessoas que conseguem umtrabalho interessante, ou empresasque conseguem estar presentes

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íiConseguimos dar às

pessoas aquilo que elasbuscam: a esperança, a

tranquilidade, um poucode paz interior, de saber

como encarar a vida.Elisabeth Barrará

no estrangeiro e que têm muitosucesso".

O caso da página de InternetBoasNoticias.pt é um poucodiferente. É uma "publicaçãoespecializada em boas notícias,como há outras especializadas em

viagens", exemplifica Patrícia Maia,editora executiva.

Contudo, a estratégia de apostaeditorial em conteúdos positivosnem sempre é fácil do ponto de vistafinanceiro.

"Ser bonzinho não é sexy, serbonzinho não vende", lamenta AnaRita Ramos. A directora da Gingkonota, porém, uma tendência de

surgimento de "públicos que hoje,provavelmente, já não compravamjornais nem revistas e encontramaqui uma alternativa válida".

Apesar de admitir que "nem

sempre é fácil", Elisabeth Barnard,considera que, "num períododestes, as pessoas estão maisabertas" a meios alternativos. "O

que nós temos reparado - comoa nossa revista é cada vez maisprocurada - é que conseguimos daràs pessoas aquilo que elas buscam:a esperança, a tranquilidade, umpouco de paz interior, de sabercomo encarar a vida."

"Temos muitas pessoas quedizem que nós somos o seu meiode comunicação de eleição,porque estão fartas de ver desgraçana televisão", afirma a editoraexecutiva do BoasNoticias.pt, quediz ter a "sensação de que os outrosmeios têm tido algum cuidado e têm

integrado mais notícias positivas" e

que "o mito de que a notícia boa nãovende" está a ser desconstruído.

Ser felizA felicidade é um tema que nãotem sido só esquecido pelosmeios de comunicação social,como, durante muito tempo, foiostracizado pela ciência. Mas, nasúltimas décadas, tem-se imiscuídono meio académico de formatransdisciplinar. Desde a PsicologiaPositiva à Economia da Felicidade,a preocupação dos investigadorescom o bem-estar individuale da sociedade tem crescido

exponencialmente. Assistimosa fenómenos como o Action forHappiness (Acção pela Felicidade),um movimento "de pessoasempenhadas na construção de umasociedade mais feliz", criado em2010, ou o Movement for Happinessin Universities (MovimentoUniversitário pela Felicidade), que,em Portugal, já levou à fundaçãode três happiness clubs (clubes defelicidade) nas universidades deLisboa, Nova de Lisboa e do Porto,que têm a sua face mais visível naorganização de conferências comvários especialistas em felicidadee numa acção de lobbying junto

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das direcções das faculdades

para integrar as preocupaçõescom o bem-estar nos currículosacadémicos.

A economia esteve, "durantemuito tempo, preocupada como crescimento económico,implicitamente assumindo queeste é uma variável muito valiosano bem-estar, mas sem fazer essa

avaliação", contextualiza GabrielLeite Mota.

A partir do momento em

que alguns dados começaram asurgir, passou a ser possível aoseconomistas fazer testes estatísticos

simples que concluíram que, "àmedida que estamos mais ricos,cada vez menos os acréscimos de

riqueza contribuem para o nossobem-estar", continua o investigador.Existem mesmo outras variáveis

que, se forem esquecidas ousubstituídas por riqueza, podemfazer com que "o resultado líquidoseja negativo". Isso acontece, porexemplo, quando substituímos

tempo de lazer por trabalho.Nas universidades registou-se um

aumento nos níveis de ansiedadee depressão na população jovem"relacionados com a pressão e oambiente competitivo, explicaLuís Plácido Santos, que iniciou

o projecto do Happiness Club naUniversidade Nova de Lisboa. O chiefhappiness officer, ou seja, o directorexecutivo de felicidade do clube,

espera que, "daqui a uns anos, umdos critérios para escolher paraonde se vai estudar possa ser nãosó o lugar no ranking em que ficadeterminada faculdade, mas quãofelizes os seus estudantes são", visto

que "a felicidade, de certa forma,pode ser ensinada". "A cadeiramais popular de Harvard é sobrefelicidade", revela.

Catarina Rivero é membrofundador da Associação Portuguesade Estudos e Intervenção emPsicologia Positiva (APEIPP) edescreve a crise actual como sendo"não só económico-financeira",mas "do sentido para a vida"."Esta correria desmesurada parao consumo, do ter, não está a sersuficiente", o que faz com que"pessoas que têm tudo acabem porsentir um vazio".

Este modelo aplica-se sobretudoaos países mais ricos, ressalvaGabriel Leite Mota. "Nos paísespobres, como há tão poucorendimento, qualquer acréscimo derendimento costuma ser canalizado

para bens que contribuem para o

bem-estar", conclui o docente.

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