jornal primeiro texto - alemoa

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PRIMEIRO TEXTO Jornal Laboratório do 4 o semestre de Jornalismo (FaAC) - Noite - Edição Especial - Dezembro 2007 CADERNO ESPECIAL

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Jornal comunitário universitário Primeiro Texto – Especial Alemoa, desenvolvido em 2007 e ganhador do prêmio de melhor veículo impresso informativo do Brasil na Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom) 2008, realizada em Natal (RN).

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Page 1: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

PRIMEIRO TEXTOJornal Laboratório do 4o semestre de Jornalismo (FaAC) - Noite - Edição Especial - Dezembro 2007

CADERNO ESPECIAL

Page 2: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 2 Dezembro 2007

Expediente

Alemoa: histórias e paradoxos

Jornalismo SocialAlunos ouvem moradores eelaboram mural comunitário

PAULA FURLAN

Em um bairro cheio deparadoxos, uma história quese entrelaça ao próprio de-senvolvimento da Cidade.

No bairro da Alemoa,encontra-se uma réplicada realidade do País: aconvivência nem sempreharmoniosa e pacífica en-tre um dos pólos indus-triais mais importantespara a economia paulistae nacional e uma das áre-as mais pobres e sem es-trutura do Município.

Apesar da austeridadede suas indústrias, aAlemoa era, em princípio,um bairro rural, formado namaior parte por sítios.

Com a criação da Via

Anchieta, na década de 50,o caráter residencial dobairro foi quase totalmenteperdido, as indústrias e em-presas retroportuárias seinstalaram na região, que évizinha do município deCubatão, lugar estratégicopara que os serviços destascompanhias subissem aSerra do Mar.

As palafitas começarama ser construídas a partir dadécada de 60 e hoje a fa-vela da Alemoa comportacerca de 10 mil habitantes– contra apenas cerca de600 no restante do bairro.

O nome Alemoa ouAlamoa também é motivode controvérsias. A histó-ria oficial conta que a es-posa de um imigrante ale-

mão, Maria MargaridaKünem, adquiriu um sítiono lugar que hoje abriga obairro da Alemoa. O povose referia a Adan Künemcomo “o alemão” e apóssua morte, passaram achamar o lugar de sítio daAlemoa ou Alamoa, queapesar de gramaticalmen-te incorreto, permaneceu.

O pesquisador DanielBicudo diz, ainda, que onome pode ter surgidocom os imigrantes portu-gueses de Famalicão, daantiga lenda portuguesadas almazenas oualmajonas, mulheres gor-das, grandes, de seiosimensos, também chama-das de alamoas, vistascomo assombrações.

PRIMEIRO TEXTO é o Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo.Redação, edição e diagramação dos alunos do 2º ano de Jornalismo do período noturno.Diretor da FaAC: Humberto Iafullo ChalloubCoordenador de Jornalismo: Robson BastosProfessores Responsáveis: Fernando Claudio Peel, Fernando De Maria, Luiz Carlos Bezerrae Valéria Nader.Editores de textos: Douglas Luan e Sheila AlmeidaEditor gráfico: Aline MonteiroEditor Fotográfico: Jeifferson MoraesFoto da capa: Sheila Almeida

O teor das matérias e artigos são de responsabilidade de seus autores não representando,portanto, a opinião da instituição mantenedora.

GABRIELA SOLDANO

Os alunos do4º semestrede Jornalismo partici-param de

um Projeto Comunitário doPrimeiro Texto. Cada alunoproduziu uma matéria sobrea Vila Alemoa, sob a orien-tação dos professoresFernando De Maria,Fernando Peel, Luiz CarlosBezerra e Valéria Nader.

Primeiramente, três líde-res comunitários compare-ceram à Faculdade: MariaLuiza Cristina de Jesus Sil-va, Ronaldo Pereira eJoselma Lima da Silva, per-tencentes a Frente Popu-lar da Vila Alemoa. Elesconversaram sobre o bair-ro, explicando as dificulda-des e as possíveis solu-ções para os problemasdo local. Os alunos ouviramatentos para posterior pro-dução do mural.

Todos puderam sanar

suas dúvidas sobre aAlemoa, com perguntasdesde saúde pública até acontribuição da mídia paraa melhoria do lugar. Os lí-deres informaram que hojehá na Alemoa 1113 famíli-as vivendo com luz elétricae água precários, além deesgoto a céu aberto. Elesreclamaram da falta de ur-banização do local para me-lhorar a qualidade de vida.

Também explicaram aosalunos sobre as condiçõesem que estão convivendoas vítimas do incêndio de19 de dezembro de 2006;sobre as escolas disponí-veis para as crianças mora-doras da vila; das condi-ções de atendimento dapoliclínica e sobre o proje-to da CDHU. Falaram tam-bém sobre a SociedadeMelhoramentos e do movi-mento que está tentandoajudar a comunidade, doqual fazem parte a FrentePopular da Alemoa.

Os alunos também per-

guntaram sobre a coletaseletiva do lixo no local, aação da Polícia Militar etambém sobre as empre-sas que ali se instalaram.Os líderes explicaram ain-da sobre a falta de proje-tos do governo para amelhoria do local, tanto nolazer quanto em termos deeducação e cultura, entreoutros assuntos que foramlevantados na ocasião.

No final da reunião, cadaaluno recebeu uma pauta,escolhida por eles mes-mos para a produção domural. A segunda etapa dotrabalho foi visi tar aAlemoa, no dia 6 de outu-bro de 2007, para a elabo-ração das matérias.

O veículo será enviadopara cada vereador e tam-bém para o prefeito da Ci-dade, para que eles pos-sam conhecer os proble-mas da comunidade, quevai ter voz por meio dosalunos do curso de Jorna-lismo.

Depois de ouvir os moradores da Vila Alemoa, alunos discutem os assuntos que virariam matérias

Sheila Almeida

DIAGRAMAÇÃO: ELAINE SARAIVA

DOUGLAS LUAN E SHEILA ALMEIDA

Nós, alunos, sabemos que o Jornalismo cumpreuma função social muito importante. Os professo-res nos falam isso desde o primeiro dia em queentramos na faculdade. Essa importância é com-provada a cada dia, a cada reportagem universitá-ria que nos traz cada vez mais aprendizado.

Neste último mês, ao visitarmos o bairro da VilaAlemoa, uma antiga vila que fica à margem daRodovia Anchieta, na entrada da cidade de San-tos, conhecemos de perto uma realidade comple-tamente diferente daquelas que estamos acostu-mados a ver. Em nosso dia a dia, passamos porruas asfaltadas, largas, bonitas com esgoto trata-do e carros do ano. Tudo isso foi trocado pela vi-são de becos com cerca de um metro de largura,pontes de madeira, estreitas e perigosas, e carrosbem longe, pois o acesso para veículosautomotores na maior parte da favela é impossí-vel. Assim foi a primeira impressão durante a visitada turma da Jornalismo, ao bairro. Enfim, muitostiveram um verdadeiro choque de realidade.

Além de servir para nos abrir os olhos para umarealidade até então desconhecida, esse primeirocontato nos ajudará daqui para frente no dia-a-diado Jornalismo. Daí a convicção: momentos comoestes nos fazem enxergar a vida de uma outra for-ma, pois o povo da Alemoa precisa de ajuda, e nós,como futuros jornalistas, temos que fazer algumacoisa.

Já sentimos na pele a força do Jornalismo. Fazí-amos estágio em um jornal comunitário na ZonaNoroeste quando fomos pela primeira vez até a VilaAlemoa. Lá conhecemos um bebê que moravanuma palafita com sua mãe. A criança tinha umproblema de má formação nos lábios, conhecidocomo lábio leporino. Por essa razão, não podiamamar. Essa família precisava de ajuda e fizemosuma matéria contando o caso do bebê. Em poucotempo, diversas doações chegaram à casa da mãeda criança. Elas vinham de empresários e pesso-as comuns que leram o jornal e se sensibilizaramcom aquela história. Ficamos felizes e satisfeitospor saber que aquilo sim era Jornalismo.

Quando surgiu a oportunidade de mostrar o quevimos para os nossos colegas, não pensamos duasvezes. Numa disputa acirrada pela escolha do bair-ro que visitaríamos, a Alemoa ganhou por um votodo Quarentenário, na Área Continental de SãoVicente. A partir daí as portas se abriram e a classeconheceu um pouco mais de uma área que tam-bém faz parte de Santos.

Nas próximas páginas você, leitor, verá a reali-dade traduzida em textos feitos por nós, alunos,em pleno exercício da futura profissão. Além de de-núncias graves, matérias factuais e investigativas,mostramos também uma Alemoa humana. Um bair-ro formado por pessoas que ainda têm um fio deesperança, uma vontade de mudar, de ter uma vidamelhor.

Esperamos que esse trabalho sensibilize a soci-edade, assim como o texto daquela criança queconseguiu ajuda por meio de um trabalhojornalístico semelhante a esse. Esperamos tam-bém que essa edição especial do Primeiro Textosensibilize as autoridades competentes para quea realidade que perdura por décadas, se torne re-almente passado. Esperamos também que os nos-sos textos mostrem aos moradores do bairro quevale a pena lutar por uma comunidade melhor. Porfim, esperamos que o Jornalismo sempre cumpraa sua função social.

Editorial

Sheila Almeida

Page 3: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 3Dezembro 2007

JOSÉ BARBOSA

Apesar detodas asdificuldades,o comércioinformal éforte nobairro

Problemascomiluminaçãoforam o“estopim”para a criaçãoda Frente Po-pular

Professores ealunoschegando nacasa deCristina, líderda FrentePopular

A primeira impressão é de que avida é inviável naquelas condi-

ções. Casas amontoadas,ainda de alvenaria, a pobrezaestampada nas moradias,vestuário e rostos querecepcionaram os alunos maiscautelosos do que curiosos.

Em pleno movimento doscaminhões que rumampara o maior pólo de entra-da e saída de mercadoriasdo País e da América Lati-na, crianças dividem a pis-ta com os veículos, brincan-do descalças em meio aemaranhados de fios quese amontoam nos postes,e como uma teia avançampara as casas. Este foi o ce-nário da primeira parte deuma “viagem” especial.

Avançando dentro do

A primeira impressão é que não “dá”

complexo “habitável” daAlemoa, o que parecia im-possível se torna real. A po-breza descrita acima pioraem níveis inaceitáveis. Essequadro remete a triste ver-dade, localizada a 15 minu-tos dos centros de Santose São Vicente. As casas ou-trora de alvenaria dão espa-ços aos madeirites e jane-las, ou qualquer tipo de ma-terial que possa ser usadopara erguer uma “casa”. Aspalafitas sobre o esgoto e olixo exalam um odor terrível,nauseante aos narizesacostumados à brisa domar, o cheiro dos perfumes,e do saneamento básico doecossistema centro-urbano.

Essa deplorável realidaderemete a uma música doimortal Chico Science:

“Os urubus têm casas,mas ‘eles’ não têm asas”

Segunda Impressão Mesmo com todos essesagravantes o comércio émuito aquecido no local. Já

na entrada há umabicicletaria, uma quitanda, eum bar. Aliás, os bares cha-mam a atenção, pois a cadaquatro bares se vê um co-mércio diferente. As igrejastambém são fatores intrínse-cos dentro da comunidade.Padarias, placas oferecen-do serviços de carretos eaté o artesanato feito pelaMaria Lúcia Cristina, a Cris,uma das guias dos alunos,que comercializa na gara-gem de sua casa, são en-contrados no complexo.

Na Travessa São Jorge,uma das principais do bair-ro, um garoto corria com umcarrinho, gritando “Olha ogás!”. A estranheza estavano fato de que não havia ne-nhum caminhão próximo e ocarrinho carregava apenascinco botijões. O rapaz tem21 anos e se chama Tiago.

De acordo com oentregador, os caminhõesnão chegam até o local pela

dificuldade de acesso. Con-tudo, ele passa cinco ve-zes por semana e chegaa vender até 12 botijõespor dia, que custam emmédia R$ 33,00 cada.Como em toda periferia,alguns botijões são vendi-dos no “F”, como eles cha-mam, que nada mais é doque o bom e velho “fiado”.

Outra loja que atrai aatenção é a do aposenta-do José Marques, 70anos, há cinco moradordo complexo. Nascido emPilar do Sul, desde 1965na Baixada Santista, elecompra a matéria-prima efaz em sua lojinha, de doismetros de largura por seisde comprimento, os desin-fetantes, e cloros, e afins,os quais ele mesmo sai ven-dendo de porta em porta.

Diferente de “Seo Zé”,Manuel do Carmo, 53 anos,comerciante há sete naAlemoa, que comanda uma

mercearia dentro daspalafitas, onde carros nãoconseguem chegar. Porisso, ele não tem fornece-dores à sua porta e faz assuas compras no Assai ouno Atacadão, que ficam pró-ximos ao bairro. Contudo, amaior dificuldade ainda nãoé esta. Ele precisa levar asmercadorias da entrada atéo seu comércio com umcarrinho de mão, pois nãoexiste outra forma. Manueltrabalha com alimentos.

Impressão finalComo não poderia dei-

xar de ser, o tráfico de dro-gas e o comércio de pro-dutos sem procedênciatambém ocorrem no local.Segundo uma fonte quepreferiu não revelar a suaidentidade, menorescomercializam drogas li-vremente no local. Pode-se encontrar um cigarro demaconha por R$ 3,00, atédrogas sintéticas, como o“Ácido”, que varia de R$30,00 a R$ 75,00.

De acordo com a fonte,são comuns os playboys- jovens de classe média-alta - irem até o local embusca da droga, e existeum respeito ao consumi-dor, mas a maioria não searrisca a entrar no lugarpara comprar, e usam“aviõezinhos” para fazer oserviço, pois têm medoda ação da polícia.

Outro aspecto que cha-ma a atenção são os celu-lares e aparelhos eletrôni-cos. Muitos são vistos e ospreços desses produtossão caros. Contudo, exis-te um grupo de pessoasque “consegue” estesaparelhos e os levam paraas favelas da região, e re-passam a preços promo-cionais. É a saída dos queainda não conseguem en-trar em outros mundos.

Frente Popular defende núcleo

Jeifferson Moraes

CAMILA NATALO

A Frente Popular daAlemoa é uma organizaçãode 18 moradores do bair-ro, formada para reivindicarsoluções para problemasda comunidade, sem a de-pendência da Prefeitura ouda Associação de Melhora-mentos do bairro.

Um problema com aCompanhia Paulista deForça e Luz (CPFL) foi oestopim para a criaçãoda Frente. No dia 20 dese tembro de 2006, aA lemoa ganhava um“time” para trabalhar embenefício da comunida-

de, idealizado por MariaLúcia Cristina de JesusSi l va , nasc i da naAlemoa, que por meio deuma eleição se tornou al íder do grupo com 36vo tos . Os pr inc ipa ismembros, além da líderCris t ina, são: RonaldoPereira, o caçula de 21anos, já que a média de

idade do grupo é de 40anos , Marco Auré l i o ;Cosme e Damião da Sil-va ; Rosa Barbosa eCarlos Roberto BarbosaBarre to , para quem obairro foi esquecido pe-las autoridades.

As reuniões acontecempelo menos duas vezes aomês, nas sextas-feiras, na

casa da líder. “A Frente Po-pular é uma organizaçãoclandestina”, segundoRonaldo. “Uma das preten-sões é torná-la oficial econstruir uma sede.”

As últimas conquistasda equipe foram: o paga-mento do salário atrasa-do que a Prefeitura dápara as vítimas do incên-dio que ocorreu no anopassado, para pagar oalu-guel das casas, e umpalco para a confraterni-zação do Dia das Crian-ças, cedido pela Adminis-tração Regional. Foi o pri-meiro evento do tipo or-ganizado pela Frente.

DIAGRAMAÇÃO: MONIQUE ARAÚJO DE OLIVEIRA

Mesmo com os problemas estruturais, comércio é forte na Alemoa

Page 4: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 4Dezembro 2007

Ligaçõeselétricaspodem terocasionado oincêndio quedestruiu oslares de 166famílias

Quem não foipara o abrigo,recebe ajudada Prefeiturapara alugaruma moradia,como esta,por R$ 250,00mensais

Algumasfamílias foramencaminhadaspara abrigosprovisórios

Incêndiosmostram

fragilidade dasfavelas

ALINE MONTEIRO

O excesso de proble-mas sociais na VilaAlemoa fez com que mo-radores, como CarlosRoberto Barbosa Barreto,participante da Frente Po-pular, apelidassem o lugarde “Terra dos Esqueci-dos”. Para eles, a favelanão é lembrada pelosgovernantes, que só sepreocupam com a orla daPraia. No dia 19 de dezem-bro de 2006, um incêndiodestruiu cerca de 200 bar-racos e tornou o bairro daAlemoa mais conhecido.

As favelas se tornam al-vos fáceis para incêndiosdevido a proximidade dosbarracos, o material deque são construídos e omodo de distribuição daenergia elétrica. MariaVirgínia dos Santos, de 57anos, vive em um dos 30alojamentos construídospela Prefeitura para abri-gar as famílias que perde-ram suas casas no anopassado. Segundo ela,os becos estreitos dificul-taram a passagem dasmangueiras usadas pelaequipe do Corpo de Bom-bei ros para apagar aschamas. Maria Marilenedos Santos, de 35 anos,morava em uma casaa lugada na área ondeocorreu o incêndio. Elaperdeu o barraco, masnão pôde permanecercomo os demais na Uni-dade Municipal de Edu-cação (UME) OswaldoJusto. “Não poderia ficarnaquela s i tuação comuma barriga de 8 meses.Fiquei na casa da minhasogra”, afirma.

CubatãoO drama de não ter onde

viver e precisar dividir omesmo espaço com ou-

tras pessoas é hoje vividopelos desabrigados do in-cêndio ocorrido, no últimodia 27 de setembro, emuma favela da Vila Espe-rança, em Cubatão. Cercade 50 desabrigados divi-dem com cortinas de len-çóis um pátio da UME D.Pedro I. Wel l ington deOliveira, 35 anos, e Cin-tia de Menezes, 30 anos,estão com os seis filhosno pátio da escola. “Mi-nha filha que percebeu oiníc io do incênd io” .Gabrielly, de 11 anos, as-sistia ao programa infan-til Sítio do Picapau Ama-relo quando foi até a por-ta, percebeu o fogo e avi-sou a mãe. “Só deu tem-po de pegar as crianças,morávamos no fundo ese demorássemos umpouco mais não dariapara sair”, afirma Cintia.

Ainda que os dois aci-dentes tenham desa-brigado muitas famílias,há o alívio de não teremcausado vítimas. O quenão aconteceu no incên-dio da Vila Socó, atualVi la São José, tambémem Cubatão, em 24 defevereiro de 1984. O va-zamento de 700 mil litrosde gasolina no oleodutoda Petrobrás, que ligavaa Ref inaria PresidenteBernardes ao Terminalda A lemoa, des enc a -deou o incêndio à umahora da manhã e quei-mou cerca de dois mi lbarracos. O número demortos chegou a 93, ofi-cialmente, embora con-tagens extra-oficiais ba-seadas no número dealunos que deixaram decomparecer às escolas,e em famí l ias in tei rasque não t i veram seuscorpos reclamados, afir-mem um número apon-tem 500 vítimas fatais.

“Gatos” e até churrascos próximos aos barracos podem ser fatais

AMANDA CRISTINE

P or volta de1h30 da madrugada, osmorado resac o rda ram

com gritos e choros. Assus-tados tiveram tempo apenasde salvar suas vidas e a deseus filhos. Alguns aindasalvaram os documentos epeças de roupa. Esses fo-ram os momentos difíceispassados por 166 famílias,que ficaram desabrigadasno incêndio do bairroAlemoa, em 19 de dezem-bro de 2006.

“Foi triste! Foi a experi-ência mais horrível da mi-nha vida e ainda está sen-do. Estamos aqui sem es-perança, vivendo de pro-messas”, relembra MariaVirgínia dos Santos, aindatraumatizada com o episó-dio. “O fogo acabou comtodos os barracos e só seapagou porque não tinhamais nada para queimar.Às 6h da manhã, só resta-va a fumaça”.

Os bombeiros tiveram di-ficuldades no combate aofogo. Eles não tinham comochegar com o caminhão pipaao local, pois os becos sãoestreitos. A mangueira tam-bém não alcançava e ohidrante que há no lugar nãotinha água. Celso Ricardodos Santos, uma das víti-mas, conta como os mora-dores tentaram ajudar a apa-gar o fogo. “A gente se reu-niu e quebramos o cano.Pegamos baldes com águae tentamos apagar o incên-dio”, relembra.

Madrugadapara

esquecerAtualmente, as famílias

estão morando no aloja-mento provisório da prefei-tura e aguardam a constru-ção do conjunto habitacionalno morro da Nova Cintrapara a mudança definitiva.Mas a situação está indefi-nida. “Prometeram os prédi-os e até agora ninguém veionos dar satisfação. Não fa-laram mais nada, não temosuma resposta, uma decisãoe nem esperança”, afirmaMaria Virgínia dos Santos.

Alguns dos moradoresque estão nos alojamentosprovisórios gostariam queesse conjunto habitacionalfosse construído no própriobairro. É como afirma o mo-rador Celso Ricardo dosSantos. “O conjuntohabitacio-nal deveria serconstruído aqui mesmo, enão no Morro da Nova Cintra,porque temos famílias quemoram aqui. Nossos filhosjá estão acostumados como bairro e o nosso trabalhofica aqui perto da Alemoa.Se formos para lá, quem vaiarcar com as despesas detransporte?”, indaga.

Além de todos essesproblemas, as vítimas doincêndio não estão rece-bendo o auxílio prometidopela Prefeitura de Santos.De acordo com os morado-res, a administração muni-cipal deveria doar duranteum ano cestas básicas evale-transporte. “Eles ajuda-ram com vale-transporte ecesta básica somente portrês meses. Depois disso fi-camos desamparados”, re-clama a dona-de-casa Ma-ria Virginia dos Santos.

Área da Vila Alemoa devastada pelo incêndio, que afetou 166 famílias

Aline Monteiro

DIAGRAMAÇÃO: RODRIGO CASTELÃO

Jeifferson Moraes

Page 5: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 5Dezembro 2007

Jovens querem direitosbásicos e infra-estrutura

“Queria seroperador demáquinas,mas meu graudeescolaridadeé muito baixo,por isso ficadifícil”.Celso Ricardodos SantosMotoboy

Á

“Aurbanização, jágarantiria ametade domeu futuro”.Ronaldo Pereira

“Esses diaseles estavamcom sede ànoite. Tiveque esperaramanhecerpara dar debeber a eles”.Ginalva,EmpregadaDoméstica

res da Vila Alemoa é a es-perança de um futuro me-lhor. A falta de benfeitorias nacomunidade se torna o princi-pal obstáculo de uma pers-pectiva de vida melhor, princi-palmente para os jovens, quealmejam objetivos diversos.

A dona-de-casa, JaciaraBarbosa, 24 anos, tem trêsfilhos e está desemprega-da. Ela é uma das pessoasque sonha em ter águaencanada. “Eu queria tomarbanho em um chuveiro, nãode balde. Para mim, a feli-cidade seria a água”.

Ela também reclama dasituação do bairro e se mos-tra desmotivada. “Estamosesquecidos. Vivemos emuma situação precária. As li-gações elétricas são malfeitas e a qualquer momen-

gua e luz para amaioria das pes-soas é o básicoda vida, maspara os morado-

MONIQUE ARAUJO

Além dos problemas di-ários, os moradores daVila Alemoa, em Santos,sofrem com o rac iona-mento de água no calor.Isso se torna ainda maisconstante nas áreas irre-gulares do bairro. O líqui-do, necessidade básicano dia-a-dia para lavarroupa, cozinhar, beber, to-mar banho, entre outrasfunções, chega escassopara a população paganteda conta da Sabesp,quando o tempo estáquente. Se o sol é muitoforte, nem passa nas tor-neiras. A alternativa, emmuitos casos, é armaze-nar em casa ou recorrerao vizinho.

Para Marcos Gouveia,funcionário público e resi-dente há 18 anos do bair-ro, essa redução ocorreem função da alta tempo-rada de verão. “No calor,eles cortam a água, poispreferem deixar os turistascom água do que a gente”.

na. “Estou l impando asroupas desde às seis damanhã. Só faltam os tênis,que pelo jeito terá que es-perar, pois já está acaban-do a água”.

De acordo com a líderda Frente Popular daAlemoa, Maria LuciaCristina de Jesus Silva,cerca de 150 famílias daárea irregular convivemcom essa rot ina. ASabesp, segundo a líder,já foi notificada, mas nadafez para a melhoria detodo o bairro.

Falta do líquido éproblema constante

Moradores consideram a água encanada e luz elétrica um luxo. Eles pedem benfeitorias no bairro

A água é escassa e os moradores precisam captá-la em canos

DIAGRAMAÇÃO: GABRIELA SOLDANO

to pode causar outro incên-dio, sem contar que não te-mos uma área de lazer. Elesdizem que vão melhorar,mas daqui a quantos anos?Ninguém mais acredita. Eupelo menos não tenho es-perança alguma”.

Jaciara estudou até a6ª série, mas gostaria determinar os es tudos ecursar Administração.

A declaração da mora-dora não é diferente dasoutras. A maioria deixabem claro que resolvendoesses problemas a situa-ção seria melhor.

Ronaldo Pereira de21anos, também tem o so-nho de ter água e luz nacomunidade. Ele esperaum dia ser político para tra-zer a urbanização ao bair-ro. “Tendo a urbanização,

já garantirá a metade domeu futuro”. Ronaldo estádesempregado, mas pro-cura um trabalho registradopara pagar o curso de Psi-cologia que tanto deseja.

A falta de infra-estruturano bairro afeta outras pers-pectivas dos jovens. Umadelas é a educação, queconsequentemente atrapa-lha a busca por um empre-go melhor e qualificado.

Celso Ricardo dosSantos, 25 anos, tem doisempregos. Ele é motoboye repositor de supermer-cado e diz que seu maiorerro foi parar de estudar.Celso foi vítima do incên-dio que ocorreu em de-zembro de 2006 e tam-bém reclama dos proble-mas de moradia, água eluz, mas sua prioridade é

terminar os estudos parater um bom emprego.“Queria ser operador demáquinas, mas meu graude escolaridade é muitobaixo, por isso fica difícil”.Ele cursou até a 8ª série.

A maioria dos jovensanse iam por melhorescond ições de v ida nopróprio bairro, mas exis-tem pessoas que nãotêm mais esperança emficar na comunidade. “Es-tou pensando em ir paraMinas Gerais, onde morameu pai. Faz 17 anos quemoro aqui e não vejomais perspectiva. Apesarda região ter muitas em-presas, não consigo em-prego porque sou menorde idade”, desabafa o es-tudante Stiven Jesus Sil-va, de 17 anos.

A situação é mais gra-ve para quem mora naparte invadida, na traves-sa São Jorge, no final daMalv ina, onde só temágua diariamente das 22hàs 4h e bem pouca. Casoesteja muito calor, o líqui-do nem vem. Os morado-res deste trecho não pa-gam conta. Desta forma al igação é feita sem ummarcador da Sabesp. Se-gundo a empregada do-mést ica Ginalva , quemora no local há 12 anos,a maior dificuldade com afalta d’água é não tê-lapara dar aos filhos, quan-do estão com muita sede.“Nestes dias eles estavamcom sede à noite. Tive queesperar amanhecer paradar de beber a eles”.Ginalva aproveita um canodebaixo de sua casa paralavar roupas. Ela trabalhade segunda a sexta-feira esó fica em casa no perío-do noturno. O único tem-po que lhe resta para rea-lizar suas tarefas domés-ticas é nos finais de sema-

Resposta

Em resposta, às reclama-ções da população, aSabesp diz não ter conheci-mento da falta de água nostempos quentes, assim man-dará técnicos para avaliar osproblemas que ocorrem noslocais regularizados. Segun-do a empresa, para que hajaágua encanada na travessaSão Jorge, a Prefeiturasantista precisa autorizar aimplantação da rede, pois setrata de um espaço de ocu-pação irregular.

Jaciara BarbosaDona-de-casa

‘‘’’

Eu queria tomar banhoem um chuveiro, não debalde. Para mim, a felici-dade seria a água.

Jeifferson Moraes

Jeifferson Moraes

JESSICA SALLES

Page 6: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa Dezembro 20076

Iniciativa do governo não impedeaumento do número de barracos

DOUGLAS LUAN

um pouco nos últimos seisanos.

Em Santos, o progra-ma de congelamento foiimplantado em 2001 pormeio de um decreto quecriava a Comissão Espe-cial de Controle para As-

sentamentos Habitacio-na i s , responsáv e l porcuidar de todas as mora-dias irregulares da Cida-de . Compunham es sacomissão representan-tes do Poder Público emoradores destas áreas

Em seis anos, 42 barracos foram construídos, apesar do programa de congelamento do Poder Público

O Programa deCongelamento de Favelas,in ic iat iva do

Governo Federal em par-ceria com o Estado e Mu-nicípio, fo i cr iado em2001 para barrar o cres-cimento de moradias emáreas irregulares em todoPaís. Mas, mesmo com aimplantação desta iniciati-va na Alemoa, o númerode barracos aumentou 4%em seis anos, com baseno último levantamento re-alizado ano passado. Em2000, existiam no lugar1.039 moradias e em2006 esse índice passoupara 1.081.

Segundo a gerente deserviço social da Cohab/BS, Adriana Bispo Araújo,a distorção dos númerospode ter acontecido porcausa da troca de equipesde triagem. “Por não terpessoal suficiente, tercei-rizamos o serviço de le-vantamento em 2006. Aempresa que contratamosconta somente o númerode famílias e, em 2000,

nós incluíamos no ma-peamento o número debarracos”. Ela explica quea Cohab/BS é responsávelsomente pelo levantamen-to de moradias e a Admi-nistração Municipal buscaapoio do Governo Fede-ral, por meio do Ministériodas Cidades, paraurbanizar os locais. A ge-rente ainda diz que para aCOHAB existe, em média,quatro pessoas por barra-co, o que dá cerca de cin-co mil moradores.

Já para o arquiteto VictorMendonça, assessor dachefia do departamento daSeção Zona Noroeste daPrefeitura de Santos, o pa-pel da sua equipe é so-mente monitorar e fiscali-zar se estão sendoconstruídas novas moradi-as. “Se é constatado algo,orientamos as famílias aparalisar a construção e irpara casa de parentes ouintegrar projetos da Prefei-tura”, explica. Mas, mesmocom o incêndio que atingiuo lugar em 2006, o núme-ro de famílias ainda evoluiu

de r i s co. A par t i r de2005, o organograma daPrefe i tura mudou, e osistema passou a ser di-vidido em quatro seções:Zona Noroes te , ZonaLeste, Morros e Caruara(Área Continental).

NATALIA MONTEIRO

Moradores da VilaAlemoa reclamam da Pre-feitura de Santos, que pro-meteu, há quase um ano,projetos que garantiriammoradia digna aosdesabrigados pelo incên-dio, ocorrido na favela em19 de dezembro de 2006.

No dia do trágico inciden-te, após cadastrar todos osdesabrigados, a Prefeituraalojou a maioria deles naescola do bairro, enquantoos demais ficaram na casade amigos e parentes.

Segundo Maria LúciaCristina de Jesus Silva,uma das líderes da FrentePopular da Alemoa, 166barracos queimaram na-quele incêndio e, atual-mente, apenas 30 famíliasvivem nos alojamentos, en-quanto, para o resto “a Pre-feitura está pagando umaluguel de R$250,00, paraque vivam em situação piordo que aquela que enfren-tavam antes”.

Janete dos SantosFerreira acredita que asfamílias abrigadas na es-cola foram mais benefici-adas do que aquelas que,como sua família, forampara a casa de parentes ouconhecidos e não tiveramdepois a oportunidade deir para o alojamento.

Vítimas do incêndio clamam porsoluções definitivas

Maria Marlene dos SantosDona-de-casa

‘‘’’

Queria ver se o(prefeito) Papaconseguiriadormir uma noitenessa casa!

Entretanto, a moradoraJailda Barbosa dos Santos,que está vivendo com omarido e o filho em umadas casas do alojamento,não está nada satisfeitacom a medida tomada peloprefeito João PauloTavares Papa e lembra que“a promessa era que fica-ríamos aqui só três mesese, depois, seríamos trans-

feridos para prédios”.As vítimas do incêndio

estão apenas cobrando oque foi prometido pelopróprio prefeito, ou seja,a t ransferência para oConjunto Cruzeiro do SulII, no Morro da NovaCintra, que servi ria deabrigo provisório, até otérmino da construção deum núcleo habitacional naárea do incêndio.

De acordo com Maria

Lúcia, o Governo Federalliberou uma verba R$ 2,5milhões, mas até hoje odinheiro está parado e oprojeto não saiu do papel.“Antes, eles t inham, aomenos, o seu barraco e,agora, precisam esperara boa vontade do gover-no para ter novamente oseu cantinho”.

Maria Marilene dos San-tos diz não ter encontra-do nenhuma casa por exa-tamente R$250,00 e, porisso, vive com seu mari-do e duas crianças emuma casa alugada porR$150,00. Dentro há sóum banheirinho, onde malcabe o vaso sanitário e ochuveiro, e um cômodoque serve de sala, quartoe cozinha. Na atual situa-ção, a mãe de família dor-me com seu bebê na úni-ca cama que cabe no cô-modo, enquanto seu ma-rido e filha passam as noi-tes em um colchão desol te i ro estendido nochão de cimento.

O casal tinha compradohá dois anos a casa queperdeu. Maria lembra queela não era grande, masera maior do que a que es-tão vivendo hoje e, desa-bafa: “ Queria ver se o pre-feito Papa conseguiria dor-mir uma noite nessa casa!”

Adriana Bispo de Araújo,

funcionária do serviço so-cial da Cohab, informa que“até a presente data nãohouve acordo entre a Pre-feitura de Santos, a Com-panhia de Desenvolvimen-to Habitacional Urbano(CDHU), o Governo Fede-ral e a Caixa Econômica,proprietária do conjuntoresidencial inacabado, de-vido à falência daempreiteira responsável”.

CDHU esclareceDe acordo com José

Marcelo Ferreira Marques,gerente regional da CDHUde Santos, os planos daPrefeitura da cidade nãopuderam ser concretiza-dos, pois a verba do Pro-grama de Resposta aosDesastres, do Governo Fe-deral, só poderia ser utili-zada no local do incêndioe não na compra efinalização das obras doCruzeiro do Sul II.

Mas, ele garantiu que jáexiste um outro projeto emandamento. Nele, os R$ 2,5milhões serão utilizadospara a urbanização e regu-larização da área do desas-tre e o prefeito utilizará re-cursos do Programa deAceleração do Crescimen-to (PAC) para a erradicaçãodefinitiva da favela.

Conforme Marques:“Em tese, o Governo Fe-

deral já anunciou que osrecursos serão l ibera-dos”. Mas, o projeto seráapresentado até o finaldeste mês e deve demo-rar seis meses para seraprovado e licitado.

O novo Bairro daAlemoa contará com a ca-nalização do Rio Furado,saneamento, água, ener-gia e com a construção de1240 apartamentos.

No fim, a CDHU fez acor-do com a Caixa Econômi-ca Federal e vai adquirir oCruzeiro do Sul II, assimque a atual proprietária fi-nalizar as obras. Esse con-junto residencial acabarámesmo servindo de pul-mão para o projeto da VilaAlemoa, mas não necessa-riamente para as vítimasdo incêndio, revela o ge-rente regional da CDHU.

O fato é que a favelapossui áreas que precisa-rão ser preservadas e in-vadiu parte do trecho daDersa, por isso perderá es-paço ao ser reurbanizada.Os moradores serão distri-buídos entre áreas do Jar-dim São Manoel, da própriaAlemoa e no ConjuntoHabitacional Cruzeiro doSul II, onde provavelmen-te pagarão uma taxa men-sal durante determina-do tempo, até que adqui-ram a casa.

DIAGRAMAÇÃO: GABRIELA AGUIAR

Jeifferson Moraes

Page 7: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 7Dezembro 2007

s moradoresdo Bairro daA l e m o asentem a fal-ta de vagas

único problema é que, àsvezes , demora pa raconseguir vaga”, explicaa man icu re Qui tér iaSoares da Silva, que temseus filhos matriculadosna escolinha.

Essa situação deixa ospais das cr ianças semopção , já que es testrabalham e muitas vezesnão têm com quemdeixar seus filhos.

A mesma reclamaçãofoi ouvida de vários outrosentrevistados. “Depois defazer a inscrição,demoram mui to parachamar, e a gente tem

ISABEL TETÉO

A Companhia Piratiningade Força e Luz (CPFL),empresa responsável pelofornecimento de energiana região, é apontadacomo uma das principaiscausadores de queixasdos moradores do Bairroda Alemoa em Santos.

Segundo os moradores,o local sofre comfreqüentes quedas deenergia principalmenteapós as 18 horas, quandoo problema costuma seagravar, não possibilitandoa ligação dois aparelhoselétricos ao mesmo tempo.De acordo com osmoradores, quando issoocorre sempre um dosaparelhos tende a queimar.

Outro fato apontado pormembros da comunidadeé o valor das contas deenergia, que custam deR$300,00 a R$ 600,00.“Eu já enviei carta comcópias de contas,falando sobre as quedasde luz, os perigos queestamos sofrendo. Afinal,do jeito que está, aqualquer momento, podeacontecer uma tragédia,mas a CPFL nãoresponde, não nos dá uma

Fornecimento de energiada CPFL é criticado

posição concreta sobre onosso caso”, reclama amoradora e uma daslíderes da Frente Popular,Maria Lúcia Cristina Silva.

O bairro possui umelevado número de casasnão regularizadas pelaempresa e isso faz com queexistam fontes, de energiaclandestina no local, oschamados “gatos”. Sãoesses dispositivos querepresentam perigo para osmoradores, aumentando achance de curto-circuito ede descarga de energia emcaso de contato com algumfio que esteja desencapado.

“A CPFL só sabe cobrarde nós. Meu sogro estácom uma conta deR$399,00 em casa parapagar. Agora, como umaposentado vai conseguirpagar isso? Até osmoradores das casas queforam queimadas noincêndio do ano passadoainda recebem conta deluz. Não existe mais a casamas ainda há a conta”,desabafa o morador CarlosRoberto Rosa.

Segundo o assessor deimprensa da CPFL, MarcosSambro, a empresa temum projeto no qual o Bairroda Alemoa está incluído,

chamado Rede Comu-nidade, que tem por objetivoregularizar consumidores deenergia clandestinos e debaixa renda. Para que issoocorra, é necessário apenasa aceitação da população.

Sambro diz ainda que váriosfatores podem contribuir paraos altos valores das contaspagas por moradores, dentreeles a possibilidade dosequipamentos de instalaçõesinternos de energia estaremem mau estado de uso, etambém o fato de umaresidência servir de fonte deenergia para outrasresidências vizinhas.

A relação das casas queforam queimadas emdezembro passado,segundo o assessor ficousob a responsabilidade daPrefei tura, que deverepassá-la à CPFL com osnomes dos proprietários,para então acontecer ocancelamento das contas.O que ocorreu, segundoMarcos, foi que algunsnomes não constaram narelação. Ele aconselha osmoradores que estãonessa si tuação acomparecer ao posto deatendimento em Santos,que fica à Praça doAndradas, 30, no Centro.

“Eu souagentecomunitáriode saúde emSantos efalta muitacoisa parafazer nasaúde poraqui”

Edilson SantiagoAgente

comunitário

“Eu nãogostaria desair daqui.Minha casapegou fogo eestoumorando noalojamentodaprefeitura”

Maria das Dores,moradora há mais

de 40 anos

que ficar com a criançaem casa” argumentaRonaldo Pereira.

O bairro da Alemoadispõe de duas creches,sendo uma destasMunicipal e outra particularsem fins lucrativos(Sorriso de Criança).

A creche Dona HildaRabaça aceita matrículas decrianças com idade entre 1e2 anos e 11 meses e foiinaugurada no dia 5 deagosto de 1994.

A creche se localiza àRua San ta Mar i a ,número 9 , no ba i r roChico de Paula.

DIAGRAMAÇÃO: ELAINE SARAIVA E LINCOLN CHAVES

Os chamados “gatos” predominam na Alemoa, causando perigo a quem mora nas proximidades

“Até osmoradoresdas casasque foramqueimadas noincêndioaindarecebemconta de luz”

Carlos RobertoRosa,morador

“Antigamentetinha um riobonito, compeixes, hojeestá cheiode sujeira.Mas aqui ébem melhorparatrabalhar,porém o queé ruim mesmosão osmosquitos”

Manoel Franciscode Furtado, donode uma papelaria

“Era tudomato. Nóslutamos muitopara ter oque nóstemos. Faltahomem dopoder pararesolvernossosproblemas,mas pareceque eles nãoquerem. Émuitoimportanteconhecer ooutro lado dacidade”

Sebastião daSilva,

Morador há 30 anosna Alemoa

“As crechessão boas. Oúnicoproblema éque, àsvezes,demora paraconseguirvaga”

Quitéria Soares daSilva,

Manicure

ODEBORAH PELLEGRINETI

para as crianças nascreches do bairro.

Para famil iares decrianças matriculadas nacreche Dona HildaRabaça, as crechesmunicipais da Alemoa,apesar de seremcapacitadas, não atendema quantidade de criançasque residem no bairro.“As creches são boas. O

Faltam vagas nascreches da Alemoa

Jeiferson Moraes

Page 8: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Portuário da Alemoa – sur-giu com o objetivo de uniras empresas do bairro parainteragir e reinvidicar juntoaos órgãos governamen-tais, principalmenteambientais e municipais, so-luções referentes aos pro-blemas enfrentados pelasempresas, como a falta desegurança, asfaltamento deruas ou até mesmo adragagem do cais santista.

Contando atualmentecom 45 empresáriosfiliados, a instituição é co-mandada desde 2002 peloproprietário da Alemoa S.A.,João Maria Menano, 37anos, que representa im-portantes empresas dopólo, como Fassina,Acimex, Granel Química,Usisal, Columbia, Vopak eUnião Terminais. kkkkkkkkkk

No momento, uma dasmaiores preocupações dogrupo é coordenar açõespara reduzir o trânsito de ve-

JORDAN FRAÏBERG

Além de conviver comgraves problemas sociais,muitas vezes os moradoresse deparam com abusos deautoridades policiais, confor-me relatam. “Não tem horá-rio para isso acontecer. Eles(policiais) chegam armadose xingando sem termos fei-to nada. Os investigadoresaparecem por aqui, mas di-ficilmente acham algumacoisa.”, declara *C.F., semfalar o sobrenome commedo de represálias. Emdefesa da Polícia Civil, odelegado da Seccional deSantos, Paulo Eduardo Bar-bosa, afirma que para os in-vestigadores possam entrarnas moradias é necessáriauma ordem judicial. Os po-liciais só entram em casode flagrante ou se a vítimaprecisa de socorro.

A segurança no local nãoé questionada porque nãoexistem problemas de fur-tos, mas o tráfico aparece.“Não sei se tem alguém quemanda aqui na favela, masas drogas existem em todosos lugares”, afirma CarlosRoberto, morador e inte-grante da Frente Popular daVila Alemoa. A maioria dosmoradores adota um bordãoem relação à polícia, que é:“Polícia só vem pra bater”.

O Grupo de OperaçõesEspeciais (GOE), que éuma força especial da polí-cia civil e que tem como fun-ção prestar auxílio às unida-des policiais em ocorrênci-as de alto risco, tambémaparece por lá. “Houve umavez que eles vieram aqui enão tinham o que fazer, pro-curaram umas coisas e chu-taram um garoto” diz outrolíder da comunidade. “Sehouver algum policial quefaça algo ilícito é expedidoum ofício para aCorregedoria investigar omesmo que praticou”, expli-ca o delegado. As agres-sões verbais e algumas fí-sicas são consideradas nor-mais pelos moradores davila. Quando havia baile funknuma casa chamada Tocado Leão a confusão entrejovens e policiais eram mai-ores. “Eles chegam pelas vi-elas e estão nem aí. Pegamtudo o que é seu, celular,corrente, carteira etc. O queé meu é deles agora” decla-ra um jovem de 14 anos quepreferiu não se identificar.

Os moradores só gos-tariam que essas agres-sões terminassem, poisali, na Vila Alemoa, é re-lativamente seguro.

* As fontes da matériaestão com iniciais fictíciaspor motivos de segurança.

Alemoa, localizado naentrada de Santos, pare-ce um lugar esquecidopelas autoridades. Comotoda periferia, é conside-rada feia. Se houvessemais organização, talvezos moradores tivessemmenos problemas. Faltade água, luz, saneamentobásico, moradia regular evias de acesso são ape-nas alguns dos desafiosenfrentados pela popula-ção do local, aspectosque para qualquer cida-dão de classe média po-dem ser banais e quepassam despercebidosno dia-a-dia.kkkkkkkkkk

Na Alemoa, no último dia6 de outubro, bastaramdez minutos no local paraque integrantes da equipeda FaAC fossem aborda-dos por um senhor de tra-jes simples, costeletasbrancas, lembrando oElvis Presely um poucomais velho. Aparentandomuita preocupação, disseque uma passarela muitouti l izada está cedendo.Este senhor se chamaCarlos Roberto BarbosaBarreto, um homem quedemonstrou estarengajado em mudar a suarealidade social, mas queencontra muita dificulda-

Moradores da periferiasofrem com o descaso

de ao tentar da melhormaneira possível. Dificul-dade essa que pode sersent ida nos diassubsequentes. "A passa-rela está cedendo, já fazquase um mês e cada vezque chove a água vai mi-nando ainda mais" desa-bafou o humilde morador.A situação é lamentável

devido ao risco queoferce. O piso está empéssimas condições e asrachaduras são visíveis naestrutura da passarela. Eleafirmou ainda que a mes-ma foi construída pelaEcovias, por estar em umtrecho de estrada, mas aempresa está pintando emvez de resolver o proble-ma. Aquela é a única pas-

sagem para o outro ladoda pista. Carlos tentou en-trar em contato com aEcovias e a Defesa Civilde Santos, mesmo saben-do que não é responsabi-lidade desta última, masnão adiantou nada, nenhu-ma o atendeu. Então, de-cidiu fazer um abaixo as-sinado e em duas sema-nas já conseguiu quase 50assinaturas. Pretende con-seguir mais, para resolveresse problema.kkkkkkkkk

O descaso das duasinstituições preocupa. Emtentativa de contato pelareportagem não ouve qual-quer retorno. Foram 14dias, seis e-mails e cincotelefonemas para ambas.Os telefones da DefesaCivil de Santos parecemnão existir, pois só dãoocupado ou ficam mudos.Na Ecovias, os telefonessó servem para dar infor-mações sobre as estra-das. Ao se tentar falar coma atendente, a ligação nãoé completada.kkkkkkk

Como se não bastas-se a falta de estrutura bá-sica para aqueles cida-dãos , o descaso comseus problemas é umfato. É como se aquelaspessoas e suas dificulda-des não existissem pe-rante a sociedade.kkkkkk

BRUNO PIESCO

8 Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa Dezembro 2007

João Maria MenanoPresidente da Alemoa

S.A

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Acredito que asolução seria aconstrução deconjuntoshabitacionais emoutro lugar.

Associação busca parceirospara solucionar problemas

ículos pesados, devido aoaumento substancial no vo-lume de cargas comer-cializadas pelos terminais.Segundo o presidente daentidade, um dos pontosfortes do seu mandato é oexcelente relacionamentocom a Prefeitura Municipalde Santos. “Desde que oprefeito Papa assumiu, fo-ram realizadas importantesobras para o bairro como otérmino do recapeamentodas avenidas Alfredo dasNeves, Albert Schwartz e ViaC, além das instalações decâmeras de segurança liga-das ao SIM – Sistema Inte-

grado de Monitoramen-to”,diz Menano.kkkkkkkkkk

A parceria da Prefeituracom a AMA permitiu a am-pliação do SIM, que ganhoumais sete quilômetros derede de fibra óptica entre oPaço Municipal e o bairro.Foi possível instalar as trêsprimeiras câmeras no Distri-to - uma no viaduto e outrasduas em diferentes pontosda Via C, e estão previstasoutras duas. A associação in-vestiu R$ 260 mil no proje-to, segundo João Maria.Além de contribuir com a se-gurança, os equipamentospermitem melhor controlesobre o trânsito. Outra par-ceria formalizada foi com aPolicia Militar, que recebeua doação de R$ 22 mil, re-ferentes a compra de 2 mo-tos e 8 bicicletas, para auxi-liar no trabalho de seguran-ça e vigilância do bairro.

Quanto à responsabilida-de social das empresasperante a comunidade, opresidente da instituição foicategórico. “Procuramosajudar as entidades quepossuem credibilidade pe-rante a sociedade e quedemonstrem seriedade na

ROGÉRIO AMADOR

Criada em 1981, aAMA - A Associação dos Empresários do

Distrito Industrial e

execução de projetos co-munitários”, enfatizou. Re-centemente a entidadedoou uma cozinha industri-al para a pastoral da Asso-ciação de Melhoramentosdo bairro JardimPiratininga, mais a contri-buição de mil reais pormês para a “ComunidadeMãos Dadas”, que mantémum trabalho social na Vilados Criadores, lugar próxi-mo Distrito Industrial.kkQuestionado sobre a VilaAlemoa, lugar visitado pe-los estudantes, Menanoafirmou que pelo fato daárea ser da União, adminis-

trado pela Secretaria dePatrimônio da União –SPU, a AMA resolveu nãoajudar as pessoas quemoram em lugares invadi-dos. “Acredito que a solu-ção seria a construção deconjuntos habitacionais emoutro lugar da cidade pelaPrefeitura, regularizando asituação tanto para os mo-radores como para o Go-verno”, emendou o empre-sário, que é a favor da utili-zação do terreno pelas em-presas, aumentando ocrescimento empresarial ea geração de empregospara o município.kkkkkkkkk

Reprodução

O Distrito Industrial da Alemoa concentra dezenas empresas

Agressões da polícia civil sãorotineiras, dizem moradores

DIAGRAMAÇÃO: MARIANE RODRIGUES

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A passarela estácedendo, já faz qua-se um mês e cadavez que chove aágua vai minandomais.

Carlos Roberto BarretoMorador do Bairro

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Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 9

Moradores acusamPM de abuso do poder

tidos pela Polícia Militar.Essa é a afirmação de vári-os moradores que se dizemassustados com as amea-ças e agressões que a po-lícia realiza frequentemente.

“O pior horário é de noitee madrugada”, afirma S.J.S.de 17 anos, que também jáfoi vítima dos abusos. “Es-tava vindo de um baile e pa-rei para conversar commeus colegas aqui na rua.A polícia chegou, abordoutodo mundo e começou aperguntar se nós tínhamosalguma droga. Quando nósfalamos que não, eles co-meçaram dar tapa na cara echute em todo mundo”,relembra.

Além das ameaças eagressões, moradores tam-bém já presenciaram polici-ais atirando nas ruas da fa-vela para assustar a popu-lação. “De noite, se você

der bobeira, você podemorrer à toa de bala perdi-da, porque eles entram nasvielas atirando”, destaca *A.B, de 18 anos.

Outro abuso freqüenteque os policiais cometem éo de “plantar” drogas eprendê-los por crimes queeles não cometeram. Umexemplo disso foi a situa-ção passada por *R.S., de18 anos. “Fui jogar bola eela caiu dentro de uma em-presa. Eu pulei o muro parapegá-la e a polícia chegoue me prendeu dizendo queeu estava roubando as jane-las de alumínio da empre-sa. Mesmo uma mulher ten-do testemunhado ao meu fa-vor, fiquei preso uma sema-na na delegacia. Para ser li-berado, fui obrigado a con-tratar um advogado e gas-tar R$ 4 mil,”.

Ele também diz que ospoliciais confiscam objetosde valor que os jovens pos-suem. “Os policiais já toma-ram de mim uma correnteque paguei R$ 2.500. Ou-tra vez, eles me enquadra-ram e queriam meu celular.

A sorte é que eu tinha notafiscal, senão eles levariamtambém”.

De acordo com o mora-dor, a maior agressão co-metida pela polícia foi numafesta há três anos. “Estavaacontecendo uma festa emum grêmio daqui do bairroe a polícia invadiu jogandobomba de gás lacrimogê-neo e spray de pimenta.Eles bateram nos homens,nas mulheres e até nas cri-anças. Todo mundo apa-nhou e a festa acabou nahora. Ainda bem que nin-guém foi ferido gravemen-te, mas algumas pessoas

ficaram com alguns hema-tomas pelo corpo”.

Arrombamentos a casastambém fazem parte dosabusos da polícia. De acor-do com a moradora *C. F,de 24 anos, os policiais in-vadem as residências e ti-ram os moradores das ca-sas para revistá-los na vie-la. “Às vezes estamos aquisentados ou almoçando eeles entram e mandam agente ir lá para fora para nosrevistar. Em outra ocasiãoeles invadiram a minha casa,olharam e saíram sem darqualquer justificativa”.

Os moradores já reclama-ram sobre os abusos nosbatalhões e delegacias,mas segundo eles, nadaadiantou. Alguns não denun-ciam a violência da políciacom medo de represálias.É como afirma o morador A.B. “Se você ir lá e reclamar,eles riem da sua cara e fa-lam que se pegarem vocêna rua será pior. Aqui elesmatam mesmo”.

*As fontes da matériaestão com iniciais fictíciaspor motivo de segurança.

O major PM ArmandoBezerra Leite, sub-coman-dante do batalhão e res-ponsável pelo policiamen-to da cidade de Santos,afirma que principalmentede 1998 para cá, a PolíciaMilitar do Estado de SãoPaulo passou por uma sé-rie de mudanças, dentreelas os ProcedimentosOperacionais Padrão, quevisam justamente a ques-tão da abordagem de pes-soas: “ Regiões mais po-bres da cidade e a Alemoanão foge disso normalmen-te são mais movimentadasna questão do tráfico, e jus-tamente por esse motivo, apopulação se vê inibida dedenunciar e quando o fazfica no anonimato, com re-ceio de se expor. Não exis-te uma maneira discreta daPM chegar a esses locais.O normal nestas áreasmais complicadas, geogra-ficamente falando, são asOperações de Saturação,ou seja, nós vamos com umaparato acima do normal,com mais viaturas e efeti-vo redobrado. Estes polici-ais chegam com mais“energia” a esses locais,que normalmente não sãomuito propícios a nós e pri-meiro de tudo, devemoszelar pela nossa seguran-ça. Os policiais são devida-mente instruídos para que

Para major, policiais chegam com mais “energia”JÉFERSON MARQUES

não ocorram excessos”,diz o major.

Na questão da chegadada PM ao local econsequentemente, o usoexcessivo de palavrões,Armando diz que nem sem-pre ele está presente emtodos os momentos: “A re-comendação nos treina-mentos é que isso nãoaconteça. Essa região émuito problemática paranós em termo de tráfico deentorpecentes, e normal-mente quem a habita, ou játeve algum problema coma polícia ou algum de seufamiliar já o teve”. Confor-me ele, no geral, a primei-

ra atividade dosjovens remune-rada começacomo “aviãozi-nho”, passan-do pela condi-ção de consu-midor chegan-do até a condi-ção de gerente,e neste cami-nho acaba fa-talmente se en-volvendo coma PM: “Não éum preconcei-to, mas perce-bemos quenestes locais,cerca de 30 a40% das pes-soas aborda-das já tiverampassagem cri-

balha junto com o Ministé-rio Público e a Secretariade Segurança de Santospara evitar estes tipos deevento. “ Estas coisas sóatraem o que há de pior nasociedade. Nem semprese restringe ao lazer deseus moradores locais.Muitas vezes serve demeio para arrecadação dereceita para o PCC - Pri-meiro Comando da Capi-tal - . Na verdade não pas-sa de uma forma de lucrarpara o crime organizado”,comenta o major.

Armando finaliza dizen-do que por incrível quepareça a PM ajuda muitoos moradores da Alemoa:“É um loca l de d i f íc i lacesso e que o serviçopúblico muitas vezes nãoconsegue chegar. Auxiliano socorro de pessoasdoentes ou mulheres grá-v idas , por exemplo .Quem chega primeiro é aPolícia Militar. Sabemosque esses locais são ha-bitados por muitos quenão têm opção, mas infe-lizmente o crime se apro-veita disso, das condi-ções do local. Em umaavaliação mais recente dac idade de Santos , aAlemoa não tem nos dadotanto problema. Existemloca is mui to maispreocupantes. Dificilmen-te temos feito operaçõespreventivas no local”.

minal. Mesmo quando aspessoas abordadas sãodo bem, trabalhadoras, no-tamos que essas tambémnão ficam tranqüilas com aação da PM, pois podeacontecer um enfren-tamento por parte dos tra-ficantes para com a polícia,colocando em risco a suavida e a de seus familia-res”, explica Armando.

Já a questão do fecha-mento de um baile funk noestabelecimento dentro daAlemoa chamado de Tocado Leão, Armando diz quea polícia, infelizmente, nãopossui autonomia para fe-char esses locais, mas tra-

DIAGRAMAÇÃO: AMANDA CRISTINE E JÉSSICA SALLES

Arte: Thiago Chichorro

SIDNEY GIMENEZ

Ap o p u l a ç ã oque mora naAlemoa estácansada dosabusos come-

‘‘De noite, se derbobeira, vocêpode morrer à toade bala perdida,porque eles entramnas vielas atiran-do.

’’R. S.18 ANOS

A proximida-de com a ViaAnchietacoloca emrisco asituação dosmoradores

“Aqui elesmatammesmo”,afirma omorador R.S.referindo-seà PM

“Não existeuma maneiradiscreta daPM chegar aesses locais”,diz o majorPM ArmandoBezerra Leite,referindo-se àVila Alemoa

Dezembro 2007

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Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa Dezembro 200710

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Custo de construção decasas levanta suspeitas

BRUNO QUIQUETO

Oincêndio ocorrido em 19de dezembrode 2006, naAlemoa, pare-

ce que ainda não terminou. Ofogo atingiu 166 famílias quetiveram seus lares destruídose suas vidas transformadas.Destes, 30 ficaram no núcleo,em alojamento, exatamenteonde o “fogo” continua, nãoem chamas, mas em dúvidas,desconfiança e denúncias.

Os moradores questionamas despesas com a constru-ção desse alojamento quefica na Travessa Vila Nova. De-nunciam que os valores exis-tentes na planilha de preços eserviços dos materiais com-prados, enviada pelaTerracom, empreteria respon-sável pela obra, para a FrentePopular da Alemoa, estão comum aumento de mais de 100%em alguns casos. “É um ab-surdo os preços que estão naplanilha”, declarou um dos lí-deres da Frente, Ronaldo Pe-reira. Eles estão enviando o as-sunto para a Câmara Munici-pal de Santos.

O preço das torneiras (mar-ca Kelly), que foram instaladasnas casas, custaram, confor-me a Terracom, R$ 77,23, en-quanto que o levantamento re-alizado pela Reportagem doPrimeiro Texto consta que asmesmas torneiras, em três lo-jas de materiais de construçãodiferentes, não passam de R$20,00. O mesmo pode ser ob-servado nos chuveiros. Alémda marca detalhada na nota(Lorenducha) não ser a mes-ma observada nas instalações(Corona), o valor também di-

Jeifferson Moraes

Ronaldo PereiraLíder Comunitário

‘‘’’

É um absurdoos preçosque estão naplanilha

fere de R$ 56,13 (mostradano documento) para R$ 23,00,o maior encontrado.

Em relação à bacia sanitá-ria, caixa de descarga comtampa e acessório, a discre-pância dos números conti-nua. No documento apresen-tado, o custo do conjunto fi-cou R$ 236,00 e as pesqui-sas demonstraram um gas-to máximo de R$ 90,00 parao equipamento.

Um fator importante é quenenhum valor levantado se en-caixou com os números en-contrados na planilha. Alémdestas incongruências, as ca-sas, quando entregues, nãopossuíam piso, ficando os mo-radores com seus pés emcontato direto com areia, ape-sar da obra prever o piso.

Outra dúvida dos morado-res é que, na área onde foiconstruída o alojamento, já ha-via outro no local, feito de al-venaria. Eles perguntam: “Porque então este foi demolidopara a construção de um demadeira? E por que na notaentregue consta uma limpezade materiais, enquanto queesta foi feita pelos própriosmoradores?”

A Reportagem entrou em

contato com o engenheiroresponsável pela obra, o qualnão quis se pronunciar e pe-diu que fosse feito um conta-to por meio da assessoria deimprensa da empresa. Liga-ções e e-mails foram enviadosexplicando toda situação, masnão houve nenhuma respostadurante duas semanas. Se-gundo a assessora Any deOliveira, os diretores da em-presa receberam a notifica-ção, mas não se pronuncia-ram. O presidente da Compa-nhia de Habitação da Baixada

Santista, COHAB-ST, HélioVieira, também foi procurado,mas estava viajando.

A Terracom foi contratadapela COHAB-ST, processo n0005/2007- I, sem licitação,com fundamento no inciso IVdo artigo 24 da lei federal n8666/93, em caso de emer-gência, ganhando a concor-rência da Terral Engenharia eConstrução e da Conterpav.A obra foi entregue dia 17 defevereiro deste ano e custouR$ 244.835,00 para os co-fres públicos.

Alojamentos construídos para 30 das 166 famílias atingidas pelo incêndio ocorrido na Alemoa, apresentam indícios de irregularidades

Falha na infra-estrutura do alojamento causa problemas aos moradoresDIAGRAMAÇÃO: GABRIELA AGUIAR

A marca dochuveirocustava nodocumentoR$ 56,12,enquanto queo maior valorencontrado foide R$23,00

O conjuntocompleto debacia sanitáriacustouR$236,00, e aspesquisasmostraram queo máximo erade R$ 90,00

O preço dastorneiras, nasnotas daTerracom,custaramR$ 77,23. Masnas lojas nãopassam de R$20,00

Sheila Almeida

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Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 11Dezembro 2007

titude é o queos moradoresdo bairro daAlemoa emSantos espe-

Operações das empresas põem emrisco a segurança da população

O mau cheiro também éoutro problema quepermeia o bairro por causadas fábricas que jogamseus resíduos no espaçoonde estão os barracos degrande parte dos morado-res da Alemoa.

Outra reclamação feita éo barulho exaustivo das má-quinas, comenta a líder daFrente Popular da Alemoa,Maria Lucia Cristina, conhe-cida como Cristina: “Não te-mos um horário de descan-so, o barulho dura pratica-mente 24 horas”. No come-ço deste ano, os morado-res encaminharam um ofi-cio para a prefeitura, pedin-do que as empresas termi-nassem seus serviços an-tes das 20h, porém, atéhoje, este horário ainda nãofoi cumprido.

Para Marcos Gouvêa, de37 anos, morador há 18 naAlemoa, esse comporta-mento por parte das em-presas é uma falta de res-peito com todos os mora-dores do bairro. “Acima detudo, somos cidadãos bra-sileiros. Não é justo viver-mos assim, nestas condi-ções”, ressalta Marcos.

DIANA LIMA

Os moradores daAlemoa enfrentam no seudia-a-dia as dif iculdadesde conviverem, na visãodeles, com o preconceitode quem não conhece bemo bairro e vê todos comosimples favelados.

As pessoas colocam nocurrículo o bairro Chico dePaula em vez de Alemoapor medo de serem rejei-tados na procura ao em-prego. Membro da FrentePopular, Carlos RobertoBarreto diz que seu filhonão conseguiu várias ve-zes emprego porque mo-rava no bairro e que porisso passou a usar o en-dereço da irmã. Na opiniãode Car los Roberto, “Osmoradores sofrem discri-minação simplesmente pormorar aqui”.

Segundo a moradora Ma-r ia Adriana dos Santos,muitos sentem vergonha dedizer onde moram por cau-sa do preconceito e da re-ação da polícia. O fato demorar, estar perto de uma“boca” (local de venda econsumo de drogas), oumesmo andar à noite na ruajá os tornam alvos deagressões e humilhaçõespela polícia. ”Os policiais

botam medo nas crian-ças e quando chegamao bairro não diferenci-am morador de bandidoe acabam usando de vi-olência contra qualquerum”, afirma a moradora.

A participante da Fren-te, Rosa Barbosa, des-creve cenas que sãocontadas por todos quesentiram na pele ou vi-ram a ação policial. “Apolícia bate primeiro edepois pergunta... Quan-do vê os meninos na ruanão interessa se são debem ou não. Vão enfian-do as mãos nos bolsosdeles sem falar nada an-tes, sem ter o direito defazer isso”, d iz RosaBarbosa. Ela acredi taque tudo isso aconteceporque a polícia e aspessoas acham quetodo mundo que mora na

Preconceito prejudica aconquista por trabalho

GABRIELA AGUIAR

Desempregado há 11anos, Carlos RobertoBarbosa Barreto , 56anos, achou uma ma-neira de suprir a faltado seu emprego ajudan-do a comunidade daAlemoa a se recuperardos problemas que en-frentam no cotidiano.Além de poder colabo-rar com o bairro, ele viveprestando serviços paradar assistência a sua es-posa e seus dois filhos.

Segundo MarcosRober to BarbosaBarreto, 20 anos, filhode Carlos Roberto, afalta de capacitação daescola da Alemoa nãoo favorece para queconsiga um emprego.“Minha mãe trabalha emuma cooperativa, nos fi-nais de semana comodomést ica, e meu ir-mão em uma papelaria.É assim que a gentesobrevive”. Ele acredi-ta também que as pes-soas têm preconceitocom quem é moradordo bairro da Alemoa,pois nas várias tentati-vas de emprego elepercebia que era des-cartado em razão de

seu endereço.A Alemoa é um bair-

ro circulado de empre-sas retroportuárias quenão fornecem qualquertipo de benefício paraos moradores. Ao in-vés de nos dar empre-go, eles estão toman-do nosso espaço”, dizCarlos Roberto.

Em f rente aCoordenadoria de Aids(Crais) há uma firmaidentificada como MM,que faz a ponte para acontração de funcioná-rios às empresas dobairro. “Eles disseramque iam reg ist rar agente há um ano enada acontece. Ganha-mos R$ 50,00 por noi-te, mas só recebemosno sábado, rec lamaLuiz Carlos, que não ci-tou o sobrenome.

A comunidade daAlemoa é uma dasque mais sofrem como desemprego e osmoradores estão lutan-do para que a única es-cola municipal localiza-da no bairro, OswaldoJusto, tenha o EnsinoMédio e que promo-va cursos paraauxiliá-los em oportu-nidades de emprego.

“Não temosum horário dedescanso, obarulho durapraticamente24 horas”

Maria LúciaCristina, LíderComunitária,arespeito damovimentaçãode contêiners

favela é malandro.“A pessoa rouba por-

que não encontra traba-lho”, afirma a dona-de-casa, Inácia Maria da Sil-va. Ela tenta mostrar quea população é honesta etrabalhadora apesar dafama que leva por causada minoria. “Se houvesseajuda para melhorar a co-munidade a situação seriadiferente”, explica Inácia.

As pessoas do local lem-bram da necessidade de di-zer que precisam de maisrespeito dos policiais e dasociedade, que quando nãosão esquecidos, são mar-ginalizados. “Precisamosde segurança, mas com apolícia agindo de outromodo. Existe muita coisaruim, mas também tem mui-ta coisa boa que não é mos-trada. Queremos respeito”,diz Maria Adriana.

Desemprego: Umarealidade comum

DIAGRAMAÇÃO: PAULA FURLAN

AWILLIAN CÉSAR

ram por parte da Prefeitura.Há mais de cinco anos elesreivindicam ações que ve-nham diminuir os riscos àsaúde e ao meio ambiente,causadas pelas empresaslocalizadas nas proximida-des do bairro.

A formação do bairro daAlemoa ocorreu por voltados anos 30 e as indústriasiniciaram seus trabalhos, apartir dos anos 50. Atualmen-te, são mais de cinco empre-sas de exportação, envolven-do papel reciclado, madeirae material hospitalar.

Um dos vários pedidosfeitos pelos moradores é adiminuição da fumaça, quepode causar até doenças,ressalta uma das morado-ras, Nilda Ferreira, de 32anos. Ela mora no bairro há3 anos e teme que seu filhomais novo tenha algum pro-blema de saúde no futuro,como bronquite alérgica ousinusite, devido ao excessode pó, que se acumula emfrente à sua porta. O risco com a movimentação dos contêiners preucupa os moradores

“Os moradores são discriminados por morar na Alemoa”, afirma Carlos

Foto: Jeiferson Moraes

Foto: Jeiferson Moraes

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Dezembro 2007Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa12

Núcleo carece deáreas de lazer

ANDRESSA RAMIREZ

Os moradoresda Alemoap r o c u r a mm a n e i r a sd i f e ren tes

para se divertir em um ce-nário que carece de muitosrecursos. O lugar não teminfra-estrutura que dê segu-rança para as crianças e mo-radores do bairro.

Neste cenário tãoatípico, pais enfrentam omedo de deixar seus fi-lhos pequenos brincarem

fora de casa. “Pref i rocomprar dvd’s para man-ter os meus três filhos emcasa”, conta a manicureQutéria Soares.

Um dos divertimentosfavoritos das crianças dobairro é, quando a marésobe, pular de uma gran-de pedra, o que amedron-ta muito os pais, já queessa é uma brincadeirasem a mínima segurança.

Os adultos também nãoencontram opções delazer no local. Segundo omorador Ronaldo Pereira, Com o pouco espaço, crianças se divertem em volta do lixo e entulhos

Lincoln Chaves

Falta de espaço prejudica práticade atividades esportivas na Vila

LINCOLN CHAVES

O gramado estava bas-tante maltratado, mas nadaque impedisse a vontadedos jogadores que nelecorriam. Em seu entorno,uma pequena, mas mudaplatéia, que ia de um ladopara o outro, sem parar. Eisque, de repente, duas bo-las entram em campo. Sim,eram duas partidas ocor-rendo ao mesmo tempo...No mesmo lugar!

O ambiente acima descri-to pode parecer familiar aquem está acostumado àspartidas de várzea – e, decerta forma, até o é - masapenas lembra, pois as con-dições para que essa situ-ação contada ocorressesão as mais tristes possí-veis. O maltratado não dizrespeito apenas ao projetode gramado do local. Tratatambém do acúmulo de pe-dras e insetos que estavamespalhados no pequenocampo, que tinha um tama-

nho um pouco maior ao deum escritório comum. A pla-téia muda é nada menos doque o amontoado de mos-quitos que voavam em cír-culos, próximos aos sacosde lixo (em alguns casos,abertos), que estavam es-palhados em volta do gra-mado. São nestas condi-ções que as crianças daAlemoa conseguem prati-car algum tipo de esporteperto de casa.

O garoto Klisman Silva,de 13 anos, é um dos quetem que se virar para batersua bolinha. Além do terre-no, ele também joga na qua-dra da escola Oswaldo Jus-to, mas apenas nos finaisde semana, quando o localé aberto ao público. Maspode-se notar que falta in-centivo. “Até pouco tempo,meu irmão dava treinos naescola. Tinha até um time.Mas ele precisou sair e nun-ca mais teve nada. Agora,é só um espaço para o pes-soal jogar mesmo”, explica.

PraçaAo lado do colégio, já fora

da comunidade, há uma pe-quena praça onde, às ve-zes, a garotada também seencontra para jogar. O es-paço é semelhante ao cam-po encontrado próximo àentrada da Alemoa. Klismanconta como é jogar lá. “Nor-malmente, vão umas 20pessoas. Quando vai gen-te desconhecida, nós arru-mamos um jeito de jogartodo mundo, fazendo o timedeles contra o nosso. Massempre sobra, porque o lu-gar é bem pequeno”.

O garoto, porém, diz es-tar feliz, apesar das dificul-dades para praticar o es-porte que tanto gosta. “Deuma forma geral, amolecada aqui acha issobom. É o que a gente tem,não é?”, resume.

Dá para ver que o fute-bol é o esporte de maiordestaque na Alemoa, prin-cipalmente por ser o maispraticável. Os que não gos-

tam, porém, têm dificulda-des ainda maiores para fa-zer alguma modalidade. Umdos principais membros daFrente Popular da VilaAlemoa, Ronaldo Pereira, éum exemplo. Ex-campeãode atletismo quando prati-cava a atividade no SESI,ele assume que, apesar deadorar assistir a partidas defutebol (é são-paulino roxo),não gosta de jogar. “Alémde tudo, é um monte de ho-mem correndo atrás deuma bola. Não é muito le-gal isso”, brinca.

Com a experiência deque, desde pequeno, co-meçou a correr treinandonas ruas de areia do bair-ro, Ronaldo acredita queseu caso não é único. “Es-portes como o vôlei e obasquete, além do próprioatletismo, são muito bemaceitos principalmente pelacriançada. O problema éque eles só têm como jo-gar futebol. Como alguémvai jogar basquete por

aqui? O futebol, pelo me-nos, se você tiver duas pe-dras e uma bola qualquer,você consegue fazer umgol e jogar”.

O SESI, que fica a apro-ximadamente dez minutos apé da região onde se loca-liza a Vila Alemoa, é umadas saídas para a práticade algum tipo de esporte.O grande problema dissotudo é o preço. Ronaldo rei-tera, porém, que o clubetem um planejamento quevisa a captação de talentose ainda tenta incentivar otreinamento da garotada.Por isso, critica o pensa-mento de alguns pais. “Acabeça deles é muito pe-quena, infelizmente. O ga-roto ou a menina tem achance de poder, por meiodo esporte, dar início à bus-ca de algo melhor, mas ospais seguram essa criança,não deixando que ela parti-cipe de competições forada cidade, sendo que o pró-prio SESI banca isso”.

Serrano FC busca parceria para iniciar projeto socialO varzeano Serrano Fute-

bol Clube é a equipe maistradicional e conhecida daVila Alemoa. Sofrendo domesmo problema que a ga-rotada, o time não tem es-paço para treinar “Partida,só mesmo jogando no cam-po do adversário”, conta opresidente do clube,Ricardo Nunes dos Santos,o Ricardinho.

Apesar dessas dificulda-des, a equipe não deixou apeteca cair. Por duas vezesdesde que começou a dis-putar a competição ficou naterceira posição. Em 2006,ficou em quarto. Muito dissoocorreu pela força de vonta-de da turma mais jovem doSerrano, que, liderada porRicardinho, conseguiu, hádois anos, recuperar o clube,que estava à beira da falên-

cia. De pé novamente, a en-tidade agora luta também portriunfos fora das quatro linhaspara a comunidade.

O jovem presidente do Ser-rano, de 30 anos, conta que,já algum tempo, o clube pre-tende criar uma escolinha defutebol. “A gente sabe que ascrianças daqui, por mais aten-

ta que seja a família, têm umrisco muito grande de parar nacriminalidade. Queremos dara elas essa distração, que é ofutebol, para elas se ocupa-rem com algo que, no futuro,possa até dar frutos, e deixá-las longe de problemas”.

A idéia, entretanto, aindanecessita de apoio.“Estamos em busca deparceiros. Se tivermos issoe um local, por menor queseja, nós, do Serrano, po-demos correr atrás da es-trutura”. Entre os planos,está também o incentivo aofutebol feminino, em altaapós os Jogos Pan-Ame-ricanos e a Copa do Mun-do. “Para isso tudo, pode-ríamos juntar um professordaqui da Alemoa com al-gum estagiário de Educa-ção Física, e eles desen-

De umaforma geral,a molecadaaqui acha issobom. É o quea gente tem,não é?

Klisman Silva,13 anos

She

ila A

lmei

da

o único divertimento queeles tinham era o BaileFunk, onde as pessoasdescontraíam e davam ri-sadas. Porém, o lugar ondeeram realizados esses bai-les não tinha alvará e assimo local foi fechado.

“Da mesma manei raque abordam temas so-bre violência, gostaría-mos que abordassem te-mas sobre alegria. Masinfelizmente não é o quevemos no d ia -a-d ia ” ,conclui a moradora MariaLúcia Cristina.

DIAGRAMAÇÃO: LINCOLN CHAVES

volveriam esse trabalhoque queremos. Buscamosusar o prestígio que temospor aqui para poder incen-tivar a molecada a aderir”,explica o presidente.

As expectativas para oprojeto estão, de certa for-ma, boas para 2008. A ra-zão? “O ano que vem éeleitoral, e, provavelmen-te, muitos políticos influen-tes passarão por aqui. Aidéia é divulgar nossosplanos, junto da Frente(Popular), e ver se isso co-meça a andar”, aval iaRicardinho. “É uma iniciati-va muito interessante, e,com certeza, vai ajudar San-tos a revelar ainda mais atle-tas, pois temos aqui muitostalentos que, pela falta deoportunidade, acabam sen-do desperdiçados”. (LC)

”Ricardo dos SantosPresidente do Serrano

Queremos dar àscrianças essadistração paraelas se ocuparemcom algo que pos-sa deixá-las lon-ge de problemas

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Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 13Dezembro 2007

Chinelos,brinquedos,lixo domésticoe outrosmateriais sãoencontradosna área demangue

Além do odordesagradável,a dona decasa vê dajanela de seular, umapaisagemcheia de lixo

Até pneus emóveis sãoencontradosno ambienteem que vivemos moradoresda Alemoa

DIAGRAMAÇÃO: MONIQUE ARAUJO

NATALIA MORAESDouglas Luan

Condições ambientaissão inadequadas

rata-se deum dos mai-ores bairrosde Santos ,mas, por ser

crianças. Por falta de es-paços recreativos, brin-cam entre o lixo e o maucheiro do mangue.

Segundo o assessor daSecretaria do Meio Ambi-ente de Santos, Carlos Ta-deu Eizo, as famílias es-

tão morando de forma ir-regular. “Existe um proces-so judicial para a retiradadas famílias. A Cohab estátrabalhando para receberessas pessoas.”

Para Eizo, as famíliasmais antigas se instalaram

no bairro devido à rendaque obtinham do antigolixão. “Eles acabaram per-manecendo lá. É umasubsistência, pois o bair-ro é área industrial e co-mercial, não é um lugarapropriado para moradia.”

Falta de saneamento básico leva crianças a brincarem em valas a céu aberto ou no mangue

Tuma zona industrial. Osespaços verdes restan-tes desaparecem aospoucos para dar lugar àsnovas empresas.

O Bairro da Alemoaabriga hoje um importan-te complexo industria l,com pátios e depósitosde contêineres utilizadosno transporte de cargaspara o Porto de Santos. Éconsiderado o maior par-que industrial de Santos.

Os moradores que vi-vem nas proximidades daMargina l Anchie ta sãoprejudicados pela polui-ção, devido ao intensotráfego de caminhões eao pó fino que cai sobreos telhados das casas,nas árvores e nas vielase caminhos.

Devido a falta de sane-amento básico, o manguelocal izado no bairro foitransformado em esgoto.As mais afetadas são as

“Alegra Favela”busca

revitalização

Mesmo com todasas dificuldades, a co-munidade da V i laAlemoa demonstra es-tar sempre unida.

Quase um ano de-pois do incêndio queacabou com 166 barra-cos, os moradores ain-da têm von-tade de fa-zer comque o bair-ro ressurjadas cinzas.

D e p o i sde muitopedir ajudaa empresase inst i tui -ções e nãoter qualquertipo de res-posta, os próprios mo-radores resolveram bo-tar a mão na massa.

Um dos projetos queeles desenvolvem é o“Alegra Favela”, com aintenção de arrecadarbrinquedos , real i zarshows, dança, feiras dearte e teatro, tanto naAlemoa quanto nas ou-tras comunidades daZona Noroeste.

RODRIGO CASTELAO O primeiro evento foirealizado em 12 de ou-tubro, Dia das Crianças.Segundo Maria LúciaCristina de Jesus Silva,36 anos , uma dasidealizadoras do proje-to, o evento durou das13h às 22h, contou com2.200 brinquedos doa-dos por vereadores da

cidade eshows doMC Careca,Meninos daVila Alemoae Meninos daVila Saboó.

SegundoR o n a l d oPereira, 21anos, mo-rador dobairro e umdos l íde-

res comunitários, o pro-jeto é semelhante ao“Ale-gra Centro”, queesta-belece pol í t icasque funcionam comoindu-toras da revitaliza-ção da região centralde Santos , tan to naparte física quanto cul-tural. E é isso que asfamílias que moram naVi la A lemoa pedemhoje: revitalização.

Seriedade garanteo Sorriso de Criança

“As pessoas acham quetem sempre ‘maracutaia’, enão é o nosso caso, poisaqui todos trabalham comseriedade.” É assim que acoordenadora NoêmiaColafati de Carvalho definea instituição Sorriso de Cri-ança, idealizada e mantidapor seu Toninho e sua es-posa, que não gostam deaparecer e dar entrevistas,auxiliados pela Seduc- Se-cretaria de Educação. Osdois formam um discretocasal, mas ao mesmo tem-po presente na vida das 160crianças internas, aproxima-damente 70% delas resi-dentes na Alemoa.

“Eles tiram do própriobolso, montaram a escolapara não deixar fa ltarnada”, afirma Noêmia.Como um verdadeiro“paitrocínio”, os filhos en-tre dois e seis anos das fa-mílias de baixa renda dan-çam, brincam, comem,bebem e dormem nesteambiente, que representaum segundo lar. Mais doque moradia, os futuros ci-dadãos aprendem as liçõesda vida com cinco professo-ras e são assistidos pormais 20 profissionais.

Se por ventura, os valo-res morais e éticos neces-si tarem de reforço, asmães se reúnem por meiodo Projeto Célula-tronco. Ainteração promove umatroca de experiências, jáque elas discutem os pro-blemas individuais buscan-do soluções em conjunto.

Os projetos educacio-nais não se limitam às cri-anças. Após o término dasreformas, com a amplia-ção do refeitório, da áreade lazer, dos dormitórios edas salas de aula, a insti-tuição visa o atendimentoaos familiares. Alguns des-ses planos já foram desen-volvidos no papel, como,por exemplo, o ProjetoGrupos de Jovem e Alfa-betização de Adulto. Sãoidéias abrangentes a todasas faixas etárias, e só pelofato de serem estudadas,mostram que nunca é cedoou tarde demais para seaprender ou ser feliz.

A creche funciona naRua D. Alfonsina Proost deSouza, nº 185, Bairro Chicode Paula. As inscriçõessão abertas permanente-mente e as vagas preen-chidas de acordo com acapacidade de instalaçãoda entidade.

DOUGLAS CAMPOS

Ronaldo PereiraMorador

‘‘O projeto desen-volvido naAlemoa é seme-lhante ao AlegraCentro

’’

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Reeleições de presidenteincomodam moradores

Eu só entendo oque está no pa-pel, e o queestá documenta-do é que o pre-sidente da as-sociação soueu”.

”J. Inacio Leite

SHEILA ALMEIDA

Assim comoS a d d a mH u s s e i n ,que ficoudécadas no

poder no Iraque, outro pre-sidente também seeternizou na função. Issoporque desde 1981, o car-go da presidência da Asso-ciação Pró-Beneficiência eMelhoramentos da VilaAlemoa é ocupado pelomesmo homem: JoséInácio Leite.

Uma das diferenças, jáque Leite também é chama-do por alguns moradores daregião pelo apelido de“Saddam”, é o tempo depoder. Principal liderança domundo árabe, Hussein im-pôs ordem de 1979 a 2003,ou seja, por 24 anos. Já nobairro da Alemoa, em San-tos, o tempo de poder napresidência da Associaçãode Melhoramentos ultrapas-sou a 26 anos.

No entanto, tanto tempono poder, ao invés de abrirespaço para ampliar a rea-lização de cursos culturaise profissionais, registrou vá-rias histórias de festas.Olhando a sede por dentroé possível encontrar nasparedes de madeira, sus-tentadas na palafita sobre oRio Furado, memórias doque já ocorreu: Além de reu-niões com membros asso-ciados, festas de casamen-to e batizados celebradospelo padre local da época.Os cursos profissionais re-alizados na Associação,como corte e costura, dei-xaram de existir, segundo opróprio presidente, há maisde dois anos.

Reclamações da popula-ção indicam que seria im-possível tirar Inácio Leite dapresidência: “A gente tenta,mas não pode se associarna sociedade. Eles não dei-xam e ninguém tira o‘Saddam’”, conta RonaldoPereira, morador 21 anos,criado no local e que faz par-te do grupo social intitulado

Frente Popular da VilaAlemoa.

Para rebater a informação,Leite explica que no estatu-to da ‘sedinha’ consta quesomente é permitido asso-ciar pessoas “idôneas”.“Para se associar tem quese apresentar. A partir daí,toda a diretoria da Associa-ção conhece a pessoa parasaber as idéias dela. Depoistem que levar o R.G e pa-gar a “Jóia” (nomenclaturautilizada para designar o va-lor necessário para se ca-dastrar). Não associamosqualquer um que só apare-ce para reclamar. Os assun-tos têm que ser discutidosna hora que estão em pau-ta. Se quisessem, que par-ticipassem antes”, explica,pedindo para que a informa-ção de como se cadastrarnão fosse repassada.

Além de confirmar a atu-al situação de não associa-ção dos moradores, o valorda “Jóia” não foi lembradopelo atual presidente.

Questionado quanto auma data para que os mora-

dores retornem a participar,José Leite disse que antesserá feito umrecadastramento, necessá-rio por causa do afastamen-to da maioria dos associa-dos. Isso significa que, en-quanto esserecadastramento não come-ça e nem termina, ninguémse associa.

As eleições para a presi-dência acontecem a cadaquatro anos. Podem votar osmembros associados queestão em dia com as men-

barreiras que protegem aMarginal Anchieta. “Tambémpode ser que ninguém dêvalor, mas eu fico todos osdias pela manhã na sedinha,atendendo as pessoas quevão lá diariamente”, explicao presidente.

Porém, como nem todosos moradores desejam termarcadores de luz em suascasas por causa do alto va-lor gasto por causa dos ‘ga-tos’ (ligações de luz clan-destinas que visam roubarenergia a fim de dividir a luzpara outras moradias),Adriana Oliveira da Silva, de23 anos, explica: “Em algu-mas casas eles colocaramrelógio de luz, em outras,não. Daí, aqui nessa rua temrelógio para todo mundo, sópara ele que não tem”.

Entre as atividades queocorrem atualmente no localestão as aulas noturnas dealfabetização de adultos, re-alizada em parceria com aPrefeitura Municipal de San-tos e o programa Viva Lei-te, do Governo do Estado.

Maria Lúcia Cristina deJesus Silva, de 36 anos,desmente: ’Luz e água fo-mos nós que acompanha-mos as reuniões. As famíli-as vitimadas pelo incêndionão recebiam o valor do alu-guel cedido pela prefeitura.Reclamamos e tudo queestava atrasado foi pago.Nós conseguimos e eleque leva a fama”.

Para o ajudante de cami-nhoneiro, Edvaldo Oliveira,de 57 anos, “esse presi-dente de bairro não estácom nada, não”.

O ditador árabe foi enfor-cado em 30 de dezembrodo ano passado. Já a pró-xima eleição para a presi-dência acontece somenteem 2009.

salidades, que custam R$2,00 por mês ou R$ 20,00por ano.

Outro fato ressaltado pelojovem nascido e criado naAlemoa, Ronaldo Pereira foia facilidade de reeleição:“Entre os poucos membrosque podem votar, estão osfamiliares do presidente.” Aafirmação foi confirmadacom uma voz irritada pelo te-lefone: “Tenho parentes quemoram no bairro e podemse associar. Eles participam,mas eu tenho muita dignida-de. Já trabalhei desde o se-tor de limpeza até uma agên-cia de banco. Sei o quevocê quer apurar. Tem gen-te saindo no jornal A Tribunase intitulando líder comuni-tário. Eu só entendo o queestá no papel e o que estádocumentado é que o pre-sidente da Associação soueu”, enfatiza.

O lado bomAinda assim, não se pode

dizer que a sociedade nãofez nada pelo bairro. A pri-meira coisa a ser feita pela“sedinha”, como é conheci-da a Associação, na déca-da de 80, foi a festa de inau-guração que reuniu cerca de50 pessoas. A próxima açãopara o bairro se concretizouao longo de dois anos, quan-do o asfaltamento foi leva-do a alguns trechos e o pe-dido de saneamento e ilumi-nação de vias. Onde haviaterra firme, relógiosmarcadores de luz foraminstalados.

Leite afirma que a Asso-ciação conseguiu, além deágua e luz nas principaisvias, os conjuntoshabitacionais para os mora-dores de maior risco, gan-hos de processo de desa-propriação de barracos eDurante a noite acontecem as aulas de alfabetização de adultos

Douglas Luan

José Inácio Leite, está na presidência desde 1981

“Não temmelhoramentoalgum aqui. Opresidentenão faz nadapelo bairro.”

“Ah, essepresidente debairro não tácom nada,não!”

“Antes, ocanal eralimpo toda asemana. Faztempo queninguém vemlimpar...”

EdvaldoOliveira, de 57anos,ajudante decaminhoneiromorador daAlemoa

IracemaAraújo Silva,61 anosdo lar

AdrianaOliveiraSilva, 23anos,Do Lar

Sheila Almeida

DIAGRAMAÇÃO: SHEILA ALMEIDA

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa Dezembro 200714

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Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa15Dezembro 2007

AMANDA ALBUQUERQUE

A Alemoa conta com aju-da para deixar suas famíli-as protegidas e saudáveis.Existe um grupo de cincoagentes comunitários deSaúde para garantir e auxi-liar na saúde e controle denatalidade, preocupaçõesque não mais tiram o sonodos cidadãos. Os agentessão Edílson Gomes Santi-ago, Lucilene Albuquerque,Marta e Marilene (sobreno-mes desconhecidos), alémde Wanda Rosa, cada umresponsável por uma parteda Alemoa.

“Nosso trabalho é garan-tir que as famílias estejamsempre protegidas e beminformadas de todos osperigos e soluções de do-enças que possam atingi-las!”, diz Edílson. “Se temalgum problema, já indica-mos para o hospital, mas namaioria das vezes, visita-mos as casas alertando àpopulação e precavemosos problemas para que não

Agentes comunitários cuidam defamílias do bairro

haja doenças atacando osmoradores”.

O trabalho desses dedi-cados cidadãos baseia-senão só em cuidar e evitardoenças freqüentes, comoleptospirose e cólera, mas,também, em tratar as futu-ras mamães. “Instruindo ecuidando, o número demães precoces, entre 11 e15 anos, diminuiu muito emcinco anos! Agora distribu-ímos camisinhas e informa-

ANNE CAMPOS

“A população é quem ga-nha com a colaboração dainiciativa privada junto aosmunicípios na construçãode maternidade e hospitais”.Com essa frase, o secretá-rio de Saúde de Santos,Odílio Rodrigues Filho expli-cou os rumos da Saúde nacidade. Um dos exemplosdesta mudança é a novaUnidade Básica de Saúdedo bairro da Alemoa. “Nóscontaremos com todos osequipamentos dos grandeshospitais do País, com arclimatizado e muito confor-to”, diz o secretário. “É o re-sultado de uma parceria en-tre a prefeitura municipal eo Rotary Club de Santos -José Bonifácio”, diz.

O presidente da socieda-de melhoramentos daAlemoa, José Inácio Leite,diz que a antiga policlínicajá era excelente. “A unida-de que agora está em re-

Priscila Sancovich

Os moradoresda Alemoa eChico dePaula, naZona Noro-

este, já contam com melho-res condições nas áreasmédica e odontológica. AUnidade Básica de Saúdedo local foi reformada gra-ças à parceria da Prefeitu-ra com o Rotary Club deSantos- José Bonifácio. Du-rante a realização dos ser-viços, o atendimento da uni-dade foi feito no Centro Co-munitário da Alemoa (Mar-ginal Direita Anchieta, 218),onde algumas salas fo-ram adaptadas.

Para receber a unidade,o Centro Comunitário fez al-gumas mudanças. “Foi pre-ciso instalar divisórias e ou-tros equipamentos comopia e compressores parainalação”, diz o agente desaúde Edílson GomesSantiago. O local tem trêsconsultórios, sala de coletae curativo, sala de vacina,administração e farmácia.

A previsão é que a unida-de de saúde permaneça noCentro Comunitário duran-te três ou quatro meses.“Neste período, o ônibusodontológico já dá suportea quem precisa de trata-mento dentário, para queestes tratamentos não se-jam interrompidos”, desta-ca a chefe do Departamen-

Unidade de Saúde da Alemoareformada é inaugurada

Secretário destacareforma da unidade

forma já era querida pelacomunidade. Todos os mé-dicos e enfermeiros já co-nheciam as pessoas”. “Enão são só os moradoresdo bairro que utilizam a po-liclínica. Muitas pessoasvêm também do bairroChico de Paula”.

Um dos projetos do se-cretário é uma unidade daFarmácia Popular (criadapelo Governo Federal) naAlemoa, já que Santos con-ta com duas lojas, uma naZona Noroeste e outra naZona Leste. “Mesmo sema Farmácia Popular, as Uni-dades Básicas de Saúde(UBSs) continuam forne-cendo os medicamentosgratuitamente”, disse o se-cretário.

Em Santos, existem 20UBSs. “Cada uma podeatender de 20 a 25 mil pes-soas, ou seja, tanto a comu-nidade da Alemoa, como ade Santos está bem cober-ta”, acredita Rodrigues.

to de Atenção Básica, CarlaGonzaga.

“A reforma, estimada emR$ 100 mil, além de recu-perar toda a estrutura físicado imóvel que abriga a uni-dade de saúde, proporcio-nará a instalação de doisconsultórios odontológicosno piso superior, com aconstrução de mais de 85metros quadrados (totali-zando quase 300 metrosquadrados), e também areformulação da recepçãoe sala de espera, que ofe-recerá maior conforto aosusuários e atendimentomais hu-manizado”, diz oex- presidente do RotaryClub José Bonifácio,Virgilio Pina, que colaboroucom o projeto do bairro.

Também houve a instala-ção de uma plataforma hi-dráulica que dá acessoa todos os andares do pré-dio. Após a obra, os servi-

ços serão disponibilizadosda seguinte maneira: no pri-meiro piso fica a farmácia,sala de vacina, sala de cu-rativo e inalação, enferma-gem e três consultórios(pe-diátrico, ginecológico ede clinica geral), além dosbanheiros.

No segundo piso, estãoinstalados os dois consul-tórios odontológicos e maisum de pediatria, almo-xarifado,copa e cozinha,sala de reuniões, vestiários,sanitários e a sala do com-pressor.

O projeto é da Secreta-ria de Saúde e a realizaçãoe custeio da obra, que in-clui a contratação daempreiteira,esteve a cargoda T-GRÃO Cargo Terminalde Grãos,de propriedadede Pina.

A policl ínica funcionaà Rua Santa Maria,186na Alemoa.

CAMILA GASPAR

A Alemoa é um dos bair-ros mais antigos da Zona No-roeste de Santos. Surgiunos anos 60 e se localizasobre um grande man-guezal. O local, hoje, abrigaum importante complexo in-dustrial, com contêineres uti-lizados no transporte de car-gas para o Porto de Santos.As pessoas que habitamnaquela área moram nas viasmarginais à rodovia e con-tam com serviços prestadospela Prefeitura de Santos.

Os moradores da Alemoadispõem de Unidade Básicade Saúde, que facilita muitono atendimento e necessida-des diárias. Em junho desteano, foram realizados 1.945atendimentos. Outros 12 pa-cientes passaram pelo Ser-viço Atendimento Domiciliar(SAD). As crianças e adoles-centes do bairro estudam naEscola Osvaldo Justo loca-lizada no Chico de Paula. Naárea habitacional, 20 unida-des estão em fase de con-clusão.

O Centro Comunitário daAlemoa é outra opção deaprendizado para os mora-dores, com diversos cursos,como crochê, corte e costu-ra e bordado em ponto cruz,capoeira, pintura e desenhopara crianças e adolescen-tes. No dia 2 de agosto, aPrefeitura fez uma festa emcomemoração ao aniversá-rio do bairro, com direito amúsica e um palco comapresentações de gruposde dança.

Fátima dos Santos, uma

mos sobre os riscos de seter um filho tão cedo, alémde explicarmos e ajudar-mos no planejamento fami-liar!” afirma Edílson. “Mes-mo assim, ajudamos asmamães a cuidar de seusbebês desde o princípio:levamos para fazer pré-na-tal, acompanhamos a ges-tação e os dois primeirosanos da criança. Tudo paragarantir a saúde da família!”,completou Edílson.

Planejamento familiar também é preocupação dos agentes

A nova Unidade conta com 300 m2 e novos equipamentos

Jeifferson Moraes

Sheila Almeida

DIAGRAMAÇÃO AMANDA ALBUQUERQUE

Prefeitura trazmelhorias para o local

das organizadoras doseventos que acontecem nobairro, fala que semprequando organiza uma ativida-de fica muito feliz com o re-sultado. “Quando vejo as cri-anças brincando e os mora-dores se divertindo, é sinalde dever cumprido”, diz Fá-tima. Ela também conta quetodo evento que ocorre nobairro tem o apoio da Pre-feitura. “Tenho ajuda do Po-

Fátima dos SantosMoradora

‘‘’’

Quando vejo ascrianças brincando eos moradores sedivertindo, é sinal dedever cumprido

der Público e de pessoasvoluntárias. Isso contribuibastante para que o eventodê certo”, explica.

A dona-de-casa Maria deFátima, 53 anos, diz estar sa-tisfeita com as melhoriasque a Prefeitura tem feito.“Fico feliz de não esquece-rem do nosso bairro. Muitacoisa mudou e hoje está umlugar bem melhor para se vi-ver”, conta a aposentada. Jáa estudante Rafaela Silva, 13anos, diz que adora quandofazem festa no bairro. “Ado-ramos quando tem festa,tem muita coisa parafazer e vem muita gente”,disse Rafaela.

Page 16: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa16 Dezembro 2007

Durante afesta, tevepintura derosto e muitabrincadeira

A comunidadeajudou aorganizar oevento,preparandodoces e muitacomida

As criançastiveram umararaoportunidadepara, enfim,poderem sedivertir

ra para ser maisum Dia das Cri-anças normal nocomplexo daAlemoa, semE

MARIANE RODRIGUES

Festa é motivo de alegriapara 2.400 crianças

conhecidos por falta deapoio, interesse. Temosmeninos que jogam fute-bol, músicos, dançarinosde hip-hop, entre outras ati-vidades e com muito po-tencial. Eles precisam ter achance de crescer.”

Dos 17 vereadoresapenas quatro, um núme-ro considerado muito bai-xo, a judaram osorganizadores do evento,ent re e les estava àvereadora CassandraMaroni (PT), que ajudoucom 50 brinquedos, e osvereadores Benedi toFurtado (PSB),com R$50,00, profesor Fabião(PSB), com 50 brinque-dos, e Ademir Pestana(PSB), com 30 brinque-dos. A iniciativa privadatambém fez a sua parte.

O que ficou bem clarona declaração dosorganizadores é que essaajuda foi muito bem vindae foi fundamental para a re-alização do evento. Contu-do este foi um paliativopara o problema. O neces-sário mesmo é que a so-ciedade olhe para oAlemoa e faça mais paraaquelas crianças, que elaspossam não ter apenasbrinquedos no Dia das Cri-anças, mas condições dig-nas para crescerem comopessoas e se integraremà sociedade.

Além disto, Cosme res-saltou que o evento servetambém para não desviar ofoco da “molecada” e paraque eles mantenham o in-teresse nas coisas normaisda vida de qualquer crian-ça, como brincar, correr, sesujar, interagir com os ou-tros, não caindo no mundoda marginalidade, que estámuito próximo deles.

grandes novidades, semgrandes “nada”, mas esteano não foi. Graças ao Pro-jeto Alegra Favela, organi-zado pela comissão Fren-te Popular da Vila Alemoa,músicos da comunidade eapoiadores, as coisas fo-ram diferentes desta vez efoi possível fazer o primei-ro evento para os jovens.

Aproximadamente 2400crianças estiveram dentrodo complexo e participa-ram da festa que teve iní-cio às 13h, e forçadamenteacabou às 22h, segundoMaria Lúcia Cristina, co-nhecida na comunidadecomo Cris. Tal foi à alegriado evento, que ao desli-garem o som as pesso-as se queixaram, e disse-ram que a festa estavaapenas começando.

Não foi apenas a músicaque deu o tom dessa festi-vidade. As brincadeiras in-fantis como queimada, ba-tata-quente, entre outrasanimaram a criançada.Além das atividades tam-bém foi emprestado umcontêiner onde uma ban-cada foi montada com fo-gões para a preparação edistribuição dos alimentos.

De acordo com o MCJecão, cantor de funk emorador da Alemoa, a fes-ta foi maravilhosa. Ele res-saltou o prazer que teve emcantar para as crianças dobairro onde vive, e de per-ceber a felicidade estam-pada naqueles rostos.

Apesar disso, por trás dafesta houve um contextosocial. O evento serviu nãoapenas para dar um dia amais de alegria para os jo-vens e pais, mas para cha-mar atenção da sociedadee dos representantes mu-nicipais para a situação dascrianças do local. De acor-do com Cris, é necessáriomais ajuda.

“A intenção é conseguirmais apoio para as próxi-mas festas. Que não faltenada! Queremos proporci-onar o melhor para as cri-anças. Espero que tanto aPrefeitura e vereadores,quanto as empresas emgeral, ajudem para que me-lhorem cada vez mais as fu-turas festinhas”.

O ‘Seo’ Cosme Damiãoda Silva, carpinteiro e par-t icipante da comissão,concorda com a Cristina.

“Na Alemoa temos mui-tos talentos que não são re-

Mesmo com o cresci-mento da população evan-gélica na Vila Alemoa, as re-ligiões afro-brasileiras resis-tem duramente, assim comomuitas famílias resistiram aoincêndio ocorrido em 19 dedezembro de 2006. Umadas sobreviventes é abaiana Alice de Souza Oli-veira, de 65 anos, mais co-nhecida como Tia Alice.

Residente da Alemoa hámais de 40 anos, Tia Alice éa mais antiga babalaô (che-fe de terreiro) da vila. Elaincorpora diversas falangesda umbanda e do candom-blé (cultos de origem africa-na que se misturaram às tra-dições brasileiras). “Temosdiversos adeptos aqui naAlemoa, embora muitos pra-ticantes das religiões e sei-tas afro-brasileiras tenhamdeixado o local, por causado incêndio. Antes, eu era aprincipal chefe de terreirodaqui. Agora, sou uma daspoucas que restam”, lamen-ta Tia Alice.

O terreiro onde Tia Aliceincorporava diversasfalanges, como Pretos Ve-lhos e Caboclos das Matas,se transformou em cinzas.Com isso, ela perdeu boaparte de sua clientela. Mes-mo assim, ela conta que ain-da recebe pessoas de todaa região para fazer trabalhosou benzimentos. “Vem gen-te de todos os cantos: San-tos, São Vicente, PraiaGrande, Cubatão e atéGuarujá. Antigamente eu fa-zia de tudo. Hoje, eu atendona minha própria casa e façoapenas pequenos trabalhos,todos voltados para o bem,

Religiões afro-brasileirassobrevivem na Alemoa

como benzimentos e curade doenças.”

Mas a maioria pessoasprocura a babalaô para re-alizar trabalhos que resol-vam problemas sentimen-tais. “Embora muita genteme procure, não faço maiseste tipo de trabalho. Mes-mo assim, percebo que éo mais praticado, poisquando saio na rua e vejoum trabalho sei exatamen-te para quem ele foi ofere-cido e o que foi pedido. Ea maioria é referente àscausas do coração, envol-vendo amarrações e vin-ganças”, revela Tia Alice,que já trabalhou em maisde 10 terreiros na BaixadaSantista e na Bahia.

Ela dá crédito ao velho

VITOR GOMES

Temos diversosadeptos aqui naAlemoa, emboramuitos pratican-tes das religiõese seitas afro-brasileirotenham deixado olocal.

‘‘

’’Tia AliceBabalaô

mito popular e diz quequem debochar ou des-respei tar um t raba lhoserá amaldiçoado. ”Em-bora mui ta gente digaque não acredita nessascoisas, nunca vi ninguémfazendo pouco dos tra-balhos. No fundo, no fun-do, as pessoas respei-tam”, acredita. 

Mais de 2.400 jovens participaram da festa das crianças, organizada pelo projeto Alegra Favela

DIAGRAMAÇÃO: JORDAN FRAIBERG

Foto: Mariane Rodrigues e Gullith de Jesus (Frente Popular)

Page 17: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa 17Dezembro2007

“Durante aviagem queriasair do avião,e as 12 horasme deixaramimpaciente”

“Com a dançae a culturadiminui bas-tante aschances de ascrianças seenvolveremcom drogas eviolência”

“Em Paris, ohip-hop éconsideradouma arte,uma expres-são cultural”

Hip hop da Alemoa vai a ParisJEIFFERSON MORAES

Em fevereiro des-

t eano, o dançarinode hip hop daAlemoa, Leandrodos Santos de

Oliveira, foi representar o Bra-sil em uma das competiçõesmais importantes do mundo;o campeonato Mundial de HipHop, que ocorreu no Museudo Louvre, em Paris, na Fran-ça. Ley, como é conhecido,viajou com o amigo, ex-mo-rador da Alemoa, RicardoAlves da Silva, o Zóio, paradisputarem com outras 36 du-plas de vários países e che-garam até as oitavas-de-final.

Ley mora com sua mãe nafavela da Alemoa há seisanos. Em 19 de dezembro doano passado, ele perdeu suacasa no incêndio que deixou166 famílias desabrigadas.Mas a tragédia que quase ti-rou a vida de Ley trouxe tam-bém uma oportunidade. Porcausa do incêndio, o prefeitode Santos, João PauloTavares Papa (PMDB), visitoua favela e foi quando Ley oconheceu e apresentou suaintenção de participar do cam-peonato internacional paraconseguir apoio cultural. Se-gundo o dançarino, Papa pro-meteu ajudar e pediu que fos-se procurá-lo no gabinete.

Após várias idas à pre-feitura e todas sem terconseguido falar com oprefeito, conheceu o pre-sidente da Câmara Muni-cipal de Santos, Marcusde Rosis (PMDB). Pormeio do vereador, Ley ob-

teve R$ 1 mil para custe-ar parte das despesas daviagem.

O valor de R$ 1 mil arre-cadado foi o “pontapé inici-al”, mas ainda faltavam cer-ca de R$ 4 mil para compraras duas passagens e outrotanto para as despesas ehospedagem. Ley comentaque conseguiu comprar aspassagens porque o donoda Casa Real Turismo, naRua Augusto Severo emSantos, aceitou um chequepré-datado. Fez um emprés-timo bancário e com apenas400 euros no bolso foi como amigo para Paris.

Fizeram conexão emMadrid na Espanha e per-maneceram na França du-rante uma semana. Mas ti-nham pago apenas doisdias de hospedagem. Comajuda dos amigos france-ses que conheceram, nãodormiram na rua e se hos-pedaram em suas residên-cias. “Quando chegamosnão havia ninguém para nosrecepcionar, não sabíamosfalar o francês e o inglês eufalo pouco. Mas deu parase virar”, recorda Ley.

Para se alimentar, o dan-çarino comenta que semprecomprava pão e salame, tan-to para o almoço como paraa janta. O dinheiro não era su-ficiente. Os novos amigosfranceses perceberam a si-tuação delicada e levaramos dois dançarinos para al-moçar em um restaurantechinês em Paris. Com 20euros cada um, eles come-ram à vontade e, segundoLey, foi a primeira refeição de-

cente que fizeram na viagem.“A idéia de viajar para um

país distante não me davamedo, mas viajar de aviãome dá muito medo. Durantea viagem queria sair doavião e as 12 horas de vôome deixaram impaciente”,comenta Ley.

Ley revela que seu desejoem participar do campeona-to internacional era um sonhoque parecia distante.

“Foi uma conquista e umarealização muito gratificanterepresentar o País. Infeliz-mente o hip hop no Brasil ain-da não tem o reconhecimen-to como deveria”.

O dançarino critica a faltade apoio e incentivo culturalpara a modalidade no País,que muitas vezes é confun-dido com outros gêneros mu-sicais como o funk, que pre-domina nas periferias e fave-las brasileiras, e constante-mente são rotuladas comofestas que promovem a vio-lência e o sexo.

Hip hopO hip hop é uma cultura

muito saudável. Em Paris, éconsiderado também umaarte, uma expressão culturalonde é comum presenciar

dançarinos que realizamapresentações em praçaspúblicas e com movimentosque parecem desafiar “a leida gravidade”. No Brasil, ohip hop começou a se es-palhar a partir dos anos 80,por meio de dançarinoscomo Frank Ejara e NelsonTriunfo, que realizavam suasapresentações nas ruas docentro de São Paulo.

Atualmente, Ley recebeuma pequena ajuda daPrefeitura Municipal deSantos, realiza cursos eworkshops para criançasno projeto Escola Total, noespaço cultural da CadeiaVelha e em eventos naspraias. “Dar aula para cri-anças, principalmente ca-rentes, e tentar convertê-las para o hip hop é um de-safio. Acredito que enquan-to essas crianças estive-rem envolvidas com a dan-ça e a cultura, diminuirãobastante as chances de seenvolverem com as drogase a violência”, afirma Ley.

ServiçoLey dá aulas e faz apre-

sentações de dança hiphop. Contato pelo celular:(13) 9154.9260.

DIAGRAMAÇÃO: RODRIGO CASTELÃO

Dançarino Leandro dos Santos levou o hip hop brasileiro à França

Jeifferson Moraes

Jeifferson Moraes

Mãe de Leandro segura lembrança trazida da França pelo filho

Page 18: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa18 Dezembro 2007

“Graças aoartesanato eupude ajudar aconstruirminha casa,no pagamentodo carro e daruma vidamelhor aosmeus filhos”,Maria LúciaCristina.

“Quero sertécnico eminformática emorar naPonta daPraia”, VictorXavier, 16anos

“Crescemosjuntos e épara sempre.A farinha queum comia ooutro comiatambém”,Stiven deJesus, 17 anos

Artesanato dá dinheiroe traz dignidade

e a família. “Os cursos sãogratuitos e os materiais sãodisponibilizados aos alunos”

A aluna da oficina deponto - cruz, Anatal iaAragão, ainda nãocomercializa o seu artesa-nato, mas vê a atividadecomo uma fonte de renda.“Eu pretendo, se Deuspermitir, um dia venderpara fora”.

ResultadosPara Cristina, o artesa-

nato é mais do que umaajuda financeira - é umaterapia. “Ele distrai a ca-beça e dá fo rça pa raquerer investir em apren-der cada vez mais”. Eladiz ter vontade de aper-fe içoa r a técn ic a queaprendeu há duas déca-das, porém esbarra emuma questão que, se-gundo ela, afeta outrasmulheres do bai rro: oshorários que não combi-nam com os dos cursosoferec idos no Cen t ro .“Muitas mulheres traba-lham e cuidam dos filhosdurante o dia”. Uma so-lução , a inda segundoCristina, seria a criaçãode cursos noturnos.

Enquanto i sso nãoocorre, Cristina relembraoutro ponto importante doartesanato em sua vida.Para ela, a atividade sig-nifica também “dignidaderecuperada”. “Existe mui-to preconce i to com opessoal da Alemoa e omeu trabalho mostra queeu estou batalhando paraconquistar as coisas”, ex-plica Cristina.

Amigos de infância sonhamem mudar suas vidas

ções complicadas de se lidar.E a porta do tráfico sem-pre fica aberta para quemquiser entrar. Para que issonão aconteça a base fami-liar é fundamental.

Stiven de Jesus Silva, 17anos, estudante do 1º Ano doEnsino Médio da escola Pa-dre Bartolomeu de Gusmão éum desses adolescentes.Sempre morador da favela,confessa qual seu maior so-nho “Quero muito ser um fa-zendeiro, ter minhas vacas emMinas Gerais”. Para ajudar nosustento da casa e comprarsuas coisas ele faz pequenos

Descalços ou não, crianças brincam entre as vielas daspalafitas e sonham com um futuro melhor

DIAGRAMADOR JORDAN FRAÏBERG

ELAINE SARAIVA

Édentro de umacaixa que MariaLúcia Cristina,moradora e lí-der da Frente

Peças artesanais garantem renda complementar aos moradores

Popular da Vila Alemoa,guarda o que ajuda nocomplemento da renda fa-miliar, o artesanato. Segun-do Cristina, o trabalhocomo artesã “é uma árvo-re que plantou e que agoraestá colhendo os frutos”.

A moradora semeouessa idéia há 20 anos,quando começou a ven-der seus produtos. “Euaprendi sozinha, apenaslendo algumas revistas”.

Com seus trabalhos,Cris t ina contr ibui parauma melhor qualidade devida da família. “Graçasao artesanato eu pudeajudar a construir minhacasa, no pagamento docarro e dar uma vida me-lhor para meus fi lhos”.E la conta que vendeseus trabalhos em casa,na policlínica e na escolade judô que o filho fre-qüenta. “Eu consigo tirartorno de R$350,00 por

mês”, afirma Cristina.A “boleira” Suzana Cân-

d ida da Si l va é outroexemplo da importânciado artesanato na vida dea lguns moradores daAlemoa. “O que eu gan-ho ajuda bem na renda,além de garantir o frangono domingo” .

Ela faz doces e salga-dos há 4 anos, e chega aarrecadar R$250,00 men-sais, quantia que é repar-t ida com sua comadreMari luz ia Texei ra, quevende o que é produzidopor Suzana.

Ao contrário de Cristina,a boleira teve aulas antesde desempenhar o ofício.“Eu fiz um curso de panifi-cação e cheguei a dar au-

las no Centro Comunitárioaqui da Vila Alemoa”,relembra Suzana.

O Centro ComunitárioMaria das Graças Azeve-do Souza, mantido pelaPrefei tu ra de Santos ,promove algumas ativida-des para a população dobairro. Entre elas estãoof i c inas de Dança deRua, Lambaeróbica, Tea-tro, brinquedoteca, aulasde c rochê, macramê,patchwork - técnica queutiliza retalhos para con-fecção de peças comocolchas - e ponto cruz.De acordo com a coordena-dora de cursos, MagdaMuniz, as atividades realiza-das no local são voltadaspara crianças, adolescentes

Jeifferson Moraes

Aline Monteiro

Suzana Cândida da Sil-va

‘‘O que eu ganhoajuda bem narenda, além degarantir o frangode domingo

’’THAINARA ALVES

Na favela daAlemoa, crian-ças e adoles-centes esbar-ram em situa

Suzana Cândida da SilvaBoleira

bicos em animações de fes-tas infantis. Sobre sua famí-lia, ele desabafa: “Eu po-deria entrar no mundo dotráfico a qualquer momen-to. Seria a coisa mais fácil,mas tenho uma família uni-da que não me deixa faltarnada.” Stiven é um menino

de talento. Orgulhoso,mostra todos os certifica-dos de vários cursos quejá fez entre eles rádio, tea-tro, desenho e estamparia.

Sempre ao seu lado, estáseu amigo de infância VictorXavier de Assis, 16 anos, es-tudante do 9º ano da escola

Oswaldo Justo. Morador dafavela da Alemoa, ele acom-panha o amigo em anima-ções de festas infantis. Comsonhos um pouco distintosVictor quer ser jogador de fu-tebol. E a chance para seu so-nho se realizar não faltou. Foiconvidado para jogar peloSantos Futebol Clube, masdevido à falta de dinheiro seusonho foi interrompido. Poressa razão, por um momen-to, ele deixou de lado o fute-bol “quero futuramente ser téc-nico em informática e morarna Ponta da Praia.”

Quando questionadossobre a amizade dos dois,Stiven me responde com aseguinte frase “Cresce-mos juntos e é para sem-pre. A farinha que um co-mia o outro comia tam-bém”, relembra.

Page 19: Jornal Primeiro Texto - Alemoa

Primeiro Texto/Comunitário/Alemoa Dezembro 2007

Esperança por dias melhores

DIAGRAMAÇÃO: SHEILA ALMEIDA

ROSÂNGELA FERREIRA

Areunião realizada entre aPrefeitura deS a n t o s ,Companhia

de Desenvolv imentoHabi tacional e Urbano(CDHU) de Santos e os re-presentantes dos morado-res do Bairro da Alemoano dia 12 de novembrotrouxe à tona uma palavraque há muito tempo esta-va esquecida: Esperança.A reunião serviu paraapresentar o projeto àpopulação.

O Projeto Habitacionalda Vila Alemoa, como éconhecido, prevê a cons-trução de 520 apartamen-tos, 160 sobrados, alémde 274 apartamentos nobairro São Manoel, emSantos. Existem outras386 casas de alvenariaconstruídas que serãomantidas.

A área ocupada perten-ce ao Governo Federal ea CDHU não pretende aba-ter no preço das novas mo-radias o valor investido pe-los moradores que cons-truíram casas no terreno.

O projeto foi incluídono PAC - Programa deAceleração do Cresci -mento do Governo Fede-ral e conta com a parceriada Prefeitura de Santos eda CDHU, responsávelpela construção das mo-radias. O valor estimado éde R$ 16 mi lhões da

União e R$ 37,6 milhõesdo Estado.

A elaboração do projetojá começou e a realizaçãoestá sendo feita com a par-ticipação da comunidade.

A Prefeitura de Santoscedeu um terreno locali-zado no bai rro SãoManoel - próximo àAlemoa para completar oespaço necessário paraconstruir habitações queatendam todos os mora-dores do bairro.

Um dos cri térios queserá usado para definironde os 1113 moradoresda Alemoa cadastrados naCDHU irão morar, vai levarem consideração a quan-tidade de pessoas na fa-mília e se esta tem animalde estimação.

Para os moradores donúcleo, principalmente,para as 166 famílias víti-mas do incêndio ocorridono dia 19 de dezembro de2006, as obras de urbani-zação devem iniciar em fe-vereiro de 2008 e terminarem 2010, prazo dado pelopresidente Luiz Inácio Lulada Silva.

A aposentada ValdeliceRodrigues Bispo, 58anos, uma das vítimas doincêndio, lamenta a de-mora na construção dascasas e tem esperançasde ter de novo um lugarseguro para morar. “Ofogo destruiu em minutoso que levei uma vida paraconseguir: Deus sabe oque faz, mas é um trauma

que jamais vou esquecer,passe o tempo que pas-sar”, lembra donaValdelice que sonha empoder tomar em breve,um café feito no fogão dasua nova casa.

Marco Aurélio do Valemora há 12 anos no bair-ro com a esposa e o filhode 9 anos e revolta-se emver que o buraco deixadopelo incêndio que des-truiu sua casa de doisquartos é hoje usado pormoradores como área deinvasão e reclama da au-sência do prefeito Papadiante da situação. “Vaifazer um ano que aconte-ceu o incêndio e eu vi oprefeito aqui no bairro so-mente uma vez”, reclama.Marco é um dos 18 inte-grantes da Frente Popu-lar, movimento que repre-senta os moradores daAlemoa e a sua esperan-ça é continuar lutando:“Estou vivo, posso lutar!”

Para Mar ia LúciaCristina de Jesus Silva,36 anos, a Cristina, co-nhecida como a líder daFrente Popular, a urbani-zação do bai rro é achance que “os morado-res terão de viver num lu-gar digno, com espaço eoportunidade”, já que mui-tos construíram suas ca-sas de forma irregular enão têm escritura, pois oterreno pertence ao Go-verno Federal.

A esperança de Cristinaé a de que seus filhos pos-

sam ter um futuro melhore a Alemoa transforme-seem um bairro onde osseus moradores não te-nham vergonha de ondemoram.

A próxima reunião entreprefeitura, CDHU, FrentePopular e os moradoresda Alemôa está previstapara a segunda semana dedezembro.

EsperançaA notícia do início das

obras de urbanização dobairro da Alemôa para al-guns moradores é vistocomo o retorno de bene-

fícios suspensos desdemaio de 2007.

Rosa Barbosa da Silvade 54 anos mora há 30anos no bairro e reforça anecessidade dos morado-res em buscar mais infor-mações sobre o projeto eparticipar das reuniões, co-brando da prefeitura eCDHU agilidade nasobras.” Existe morador re-clamando por cestabásicas,mas eles esque-cem que antes do incên-dio, ninguém ficava semcomer.Só cesta básica nãoresolve. Esperança paramim significa moradia.”

Se o projeto acontecer, as crianças terão moradia digna até 2010

Alunos ouvem a comunidade apósconclusão do jornal

Douglas Luan

19

Alunos voltaram à comunidade e, após leitura e aprovação dos entrevistados, o jornal foi concluído

Sheila Almeida

DOUGLAS LUAN DA SILVA

O fechamento do jornalPrimeiro Texto não ficousomente na sala da aula daUniversidade. Os alunos,após encerrarem todo oprocesso de edição ediagramação do jornal,retornaram à Alemoa paraapresentar o produto finalà comunidade. Depois deouvir todas as opiniõesdos moradores locais, aFrente Popular do bairrovoltou à faculdade com ojornal para mostrar aos alu-nos os erros acertos e co-mentar sobre a experiên-cia realizada.

No dia 24 de novembroos estudantes e os profes-sores responsáveis peloprojeto levaram o jornalaté a casa de MariaCristina de Jesus, inte-grante da Frente Popular.No local, vários moradorespuderam ter o primeirocontato com o material, econhecer tudo o que foi

feito pelos alunos. Os pro-fessores explicaram comofoi feito o processo deedição e montagem do jor-nal, e como os alunos re-agiram com essa nova ex-periência. Neste dia foimarcada a volta dos inte-grantes à faculdade paraos comentários finais so-bre a publicação.

Na data marcada, dia 2de dezembro, três mem-bros da Frente vieram àUnisanta para passar aosalunos a opinião da comu-nidade sobre o jornal, aprópria Cristina, RonaldoPereira e Carlos Roberto.Segundo Cristina, “o tra-balho desenvolvido porvocês (alunos) foi maravi-

lhoso. Não há nota quecompense o material cri-ado por todos”. Já paraRonaldo, o Primeiro Tex-to vai ajudar a aumentar aauto-estima dos própriosmoradores. “Aquele quenão conhecia a Alemoa vaificar sabendo como sãoas coisas lá e, assim, teráforças para ir em busca de

um futuro melhor”, comple-ta.

Os alunos tambémaprovaram a idéia. ParaRogério Amador, o fato deir até o bairro e ver de per-to a realidade o ajudoubastante na produção damatéria “Conhecer in locoas dificuldades da popula-ção aumentou a minhasensibilidade e a percep-ção para a elaboração dotexto”. Já para DéborahPellegrineti, o mais impor-tante é tornar público osprincipais problemas donúcleo. “Foi interessanteconhecer a realidade daAlemoa, um lugar que nãovemos frequentemente. Odiferencial deste trabalhoé que vamos transmitirisso para as outras pesso-as”.

O professor FernandoCláudio Peel acredita que otrabalho ajudará os alunosno desenvolvimeno da futu-ra profissão. “O aprendiza-do ficará para sempre”.