jornal lisboa, capital, repÚblica, popular (2ª ediÇÃo)

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Sob o lema “A Boca Diz o Que Quer” 5 questões sobre utopia para os convidados do festival. Com que notas se cantará a utopia? ESTE JORNAL É EM 3D. MAIS UTOPIA QUE ISTO, NÃO HÁ. MÚSICOS E UTOPIA ENTREVISTAS E OPINIÃO Vitorino e Jacinto Lucas Pires pensam sobre utopia e João Peste e Mónica Marques dão-nos a sua visão pessoal sobre o tema. NÃO HÁ TERRA QUE RESISTA Sonhos a que se deu corpo de letra: lugares utópicos que povoam o imaginário de vários escritores para descobrir e sonhar. FADO PESSOA Pensado por Padre António Vieira e Fernando Pessoa, o Quinto Império é uma das maiores utopias lusas de sempre. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA ABRIL, 2010

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2ª edição do jornal Lisboa, Capital, República, Popular || Edição dedicada à UTOPIA

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Page 1: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

Sob o lema “A Boca Diz o Que Quer” 5 questões sobre utopia para os convidados do festival. Com que notas se cantará a utopia?

ESTE JORNAL É EM 3D. MAIS UTOPIA QUE ISTO, NÃO HÁ.

MÚSICOS E UTOPIA

ENTREVISTAS E OPINIÃOVitorino e Jacinto Lucas Pires pensam sobre utopia e João Peste e Mónica Marques dão-nosa sua visão pessoal sobre o tema.

NÃO HÁ TERRA QUE RESISTASonhos a que se deu corpo de letra: lugares utópicos que povoam o imaginário de váriosescritores para descobrir e sonhar.

FADO PESSOAPensado por Padre António Vieira e Fernando Pessoa, o Quinto Império é uma das maiores utopias lusas de sempre.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITAABRIL, 2010

Page 2: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

02 I ABRIL, 2010

OS UTOPIANOS PENSAM QUE OS HOMENS ESTARÃO UNIDOS UNS AOS OUTROS DE MODO MAIS SEGURO E JUSTO PELO AMOR E PELA CARIDADE DO QUE PELOS PARÁGRAFOS DE UM CONTRATO, POR AMIZADE

FRATERNA DO ESPÍRITO DO QUE POR MERAS PALAVRAS. Thomas More, Utopia.

FICHA TÉCNICA:DIRECÇÃO DO PROJECTO: ALEXANDRE CORTEZ E GONÇALO RISCADODIRECÇÃO EDITORIAL: MAFALDA LOPES DA COSTA E SANDRA SILVACOORDENAÇÃO EDITORIAL: FERNANDA BORBAASSISTENTE EDITORIAL: PATRÍCIA RAIMUNDOPRODUÇÃO EDITORIAL: 101 NOITESREDACÇÃO: FERNANDA BORBA, HUGO TORRES, MAFALDA LOPES DA COSTA, PATRÍCIA RAIMUNDO, SANDRA SILVA

DESIGN: ZÉ DA PAZ E PAULO ARRAIANO ILUSTRAÇÃO: ZÉ DA PAZ: CAPA; PAG. 2; PAG.5 / ADD FUEL TO THE FIRE: PAG. 7 / PAULO ARRAIANO: PAG. 9 / LEONORMORAIS: PAG.11 / LUCAS ALMEIDA: PAG.12 COLABORADORES: JOÃO BARREIROS, JOÃO PESTE GUERREIRO, MÓNICA MARQUES, RICHARD ZENITHIMPRESSÃO: GRAFEDISPORT - IMPRESSÃO E ARTES GRÁFICAS, S. A.TIRAGEM: 10 MIL EXEMPLARES

WWW.MUSICBOXLISBOA.COMMUSICBOX: GONÇALO RISCADO, ALEXANDRE CORTEZ, JOÃO TORRES, JOÃO RISCADO, PEDRO AZEVEDO, DÉBORA MARQUES, AFONSO CABRAL, HUGO TORRES

Ilustração . Zé Paz

Page 3: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

EDITORIALO pregão é tão provocador quanto soa: “Lisboa, Capital, República, Popular”. A perplexidade aumenta significativamente se recuarmos 36 anos e o ouvirmos ainda antes da vertigem – e concretização – da Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974. Portugal vivia sobre uma opressão de índole fascista e a bordoada final – “República, Popular” – remetia para regimes comunistas, desde logo com a China maoísta à cabeça.Uma sociedade oprimida está, de forma quase inevitável, altamente politizada. As leituras que se fazem dos mais simples actos são complexas construções que misturam autoridade e medo. Gera-se uma necessidade extrema de sobrevivência de ambos os lados. E precisamente: o pregão saía das bocas dos ardinas lisboetas sem sombra de ingenuidade, antes com a intenção de agitadores com caras de anjo em horário laboral.A argúcia destes trabalhadores permitiu a construção do “Lisboa, Capital, República, Popular” a partir de alguns dos principais jornais da então capital do Império: Diário de Lisboa, A Capital, República e Diário Popular. É claro que não se esgotam aqui os títulos: O Século, Diário de Notícias e Diário da Manhã tinham relevo, em particular os primeiros, sendo que os últimos eram controlados pelo Estado Novo e pela Igreja.Todavia, estes não permitiam a graça aos ardinas e eram anunciados separadamente do quarteto ardente. Aqueles jornais tinham todos em comum a luta permanente contra a Censura, que desprezavam apesar das nuances nos posicionamentos políticos das redacções – mais das direcções e sobretudo das administrações, já que num jornal cabiam muitas cores.O Lisboa estaria mais à esquerda, trabalhando para ser órgão “de referência”, de onde saíram os fundadores de A Capital em 1968. O República desempenhava o papel central mas, fundado em 1911, encontrava-se envelhecido nas décadas de 1960 e 1970, quando o trabalho nos jornais estava em franca mutação, proporcionada em boa medida pelos mais jovens. O Popular fazia jus ao nome e tinha o público mais vasto.Hoje, nenhum dos quatro persiste. O República desapareceu pouco depois da Revolução dos Cravos, suspendendo a publicação em 1976. Passou-se toda a década seguinte e só então chegaram ao fim o Diário de Lisboa em 1990 (nasce o Público) e o seu principal concorrente,

o Diário Popular, em 1991. A Capital manteve-se até 2005. O “Lisboa, Capital, República, Popular” recupera os valores destes históricos e lança o debate.Este jornal é anual e, nesta segunda edição, pretende desenvolver o tema “Utopia e Revolução”, o que se faz por estas páginas partindo da criação musical. O cartaz do festival que acompanha a iniciativa, no MusicBox, permite vislumbrar o conjunto de sensibilidades com as quais se promove a reflexão sobre a importância do pensamento utópico, tanto nos anos revolucionários como no presente e mesmo no futuro.Samuel Úria, Boss AC e Oquestrada; B Fachada, Carminho e Pedro Abrunhosa; Vitorino, Os Quais e Brigada Victor Jara são os artistas convidados para o palco, mas também, para a procura de respostas através de artigos de opinião, entrevistas e reportagens. O rol de artistas que participaram na primeira edição permite já profundidade ao projecto: Sérgio Godinho, Couple Coffee, JP Simões, Janita Salomé, Sam the Kid, Cool Hipnoise, José Mário Branco, Dead Combo e Camané.A busca por uma sociedade ideal é o desafio em debate neste jornal com direcção editorial de Sandra Silva e Mafalda Lopes da Costa. Assim como os processos revolucionários: temas, valores, estéticas e uma variedade ética que é interessante constatar. Os músicos que marcam presença no festival não são os únicos cujo pensamento descobriremos: há mais figuras da vida cultural lisboeta em letra.A História tem contribuições a dar, a arte também. O último século foi fértil na construção de distopias, ficcionais – ver os avisos de Aldous Huxley, George Orwell, Anthony Burgess ou Philip K. Dick – ou reais. Por outro lado, as grandes utopias sociais surgiram antes e foram regressando, maturando. A convicção dos artistas que acolhemos é a de que a utopia é uma possibilidade que se descobre por tentativa e erro.O debate e o pensamento crítico afiguram-se, então imprescindíveis, mas também uma mente aberta. E é através de uma linguagem actual que a relação das comunidades utópicas com o presente é estabelecida. Que sejam artistas de diferentes gerações a fazê-lo confere ao projecto a densidade e a perspectiva próprias de uma árvore de frutos.

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MUSICBOX

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CIDADE DO HOMEM

04 I ABRIL, 2010

O neologismo criado pelo escritor inglês para designar a sociedade ideal que descreve na sua obra é construído a partir das palavras gregas ou (não) e topos (lugar), ou seja, um sem lugar. More descreve-nos no seu livro uma ilha imaginária, um Estado ideal, inspirado na República de Platão, em que a propriedade privada é banida e onde reina a igualdade e a virtude. Esta representação de uma realidade ideal e sem defeitos traduz-se por um regime político e uma sociedade perfeita habitada por uma comunidade de indivíduos capazes de viverem felizes e em harmonia com o mundo. A obra é apresentada sob a forma de diálogo, sendo o personagem principal um viajante fictício, um pretenso companheiro de Américo Vespucci que teria prosseguido a sua viagem na exploração das ilhas do Novo Mundo. Na primeira parte do livro, More leva a cabo uma severa crítica à sociedade inglesa da época, e na segunda, descreve as instituições, o modo de vida e a história dos habitantes da ilha de Utopia. A novidade desta obra – tão profusamente citada e infelizmente tão pouco lida nos nossos dias – é que essa sociedade se situa aqui, na terra, e é obra dos homens e não dos deuses. Não existe idealização do espaço e da natureza – como acontece no mito da Idade de Ouro – e os Utopianos não passam de homens comuns que se limitam a construir um novo tipo de organização social libertando-se assim dos males e dos vícios da sociedade.A utopia começou assim por se afirmar como um género literário cujo nome deriva não de um conjunto de textos de vários autores mas de um livro específico: Utopia de Thomas More. Nessa ilha sem lugar (ou-topos) onde habitam os aleopolitas, os “cidadãos sem cidade”, governados pelos Ademos, os chefes “sem povo” e banhada por Anidris, o “rio sem água”, reina o amor, a justiça e a virtude. Tal como afirma o personagem principal do livro, Hitlodeu, “se tivésseis estado na Utopia, se tivésseis observado as suas instituições

e os seus costumes, como eu que ali passei cinco anos da minha vida, [...] confessaríeis que em nenhuma outra parte existe sociedade tão perfeitamente organizada”. Mais tarde, o género literário inaugurado por More irá revestir-se de novos significados e surgirão as eutopias (do grego eu “bom”), as distopias (do grego dus, “dificuldade”), as anti-utopias ou as contra-utopias. Será apenas na segunda metade do século XIX que o sentido actual do termo se irá impor e que a utopia passará a designar um projecto político e social irrealista. Se, na realidade, só podemos falar de utopia depois de 1516, ano em que este humanista publica o seu tratado sobre a forma ideal de governar, o conceito remonta a tempos distantes e inspira-se na mitologia antiga, na filosofia grega e na doutrina cristã. De facto, o homem sempre desejou um mundo melhor, quer situando-o num passado ou num futuro longínquo quer num lugar desconhecido e inacessível.Thomas More descreve-nos pois uma cidade ideal, mas uma cidade no sentido de polis, de comunidade e não tanto de espaço urbano delimitado geograficamente. Na época em que a obra foi escrita, em pleno Renascimento, a cidade era ainda um ideal de esperança em construção. Hoje, decerto, More situaria a ilha de Utopia no “campo”, pois a cidade passou a ser muitas vezes sinónimo de solidão e não de espírito comunitário. Por seu lado, o “campo” ganhou a conotação de lugar idílico recuperando os elementos positivos atribuídos na época à cidade.Apesar de, na linguagem corrente actual, utopia ter passado a designar algo impossível – uma quimera, uma construção imaginária cuja concretização está fora do nosso alcance – para More e para os autores que exploraram este género literário a intenção era, paradoxalmente, a de alargar o campo dos possíveis e a de convencer os leitores de que existem outros modos de vida. Não há dúvida

que este género (ou subgénero como por vezes é considerado) confunde imaginação e realidade, verosimilhança e ficcionalidade, mas imaginário e fictício não são sinónimos de impossível: nem todos os sonhos são quimeras. Muitas utopias baseiam-se numa crítica à ordem pré-estabelecida e num desejo de mudança profunda. De facto, o recurso à utopia permite um distanciamento relativamente ao presente e, consequentemente, uma crítica da sociedade actual (por esse motivo foi inúmeras vezes utilizada para fugir à censura).Podemos questionar-nos por que motivo o adjectivo utópico se tornou sinónimo de impossível. Talvez muito simplesmente pelo facto das utopias modernas terem continuado ligadas à herança judaico-cristã e à questão da “salvação” e do “fim do mundo”. Para muitos, a utopia surge como um processo natural de evolução histórica e, assim sendo, há que acelerar esse processo de forma a alcançar mais rapidamente o reino da liberdade. Na literatura portuguesa há alguns exemplos deste tipo de utopia, como é o caso do sonho utópico do Quinto Império – concebido pelo Padre António Vieira e mais tarde recuperado por Fernando Pessoa – de um mundo de húmus religioso em que a conversão da humanidade ao credo católico traria uma consequente era de paz e concórdia universais sob a égide de um monarca luso.Mas, existem de facto momentos na história em que a utopia deixa de constituir uma ficção literária transformando-se, devido ao desmoronamento dos valores da sociedade, numa crença na refundação da realidade política e social. Outra forma de utopia recorrente ao longo da História é a tentativa de levar a cabo uma revolução que permita recomeçar do zero, iniciando um novo ciclo histórico e o surgimento de uma humanidade regenerada. É pois natural que, tal como em todas as épocas

de profunda incerteza, os ideais utópicos tenham movido os protagonistas da Revolução de Abril, nomeadamente toda uma geração de músicos que projectou nas suas canções esses mesmos sonhos. Contudo, no século XXI, a corrente utópica parece ter-se dividido em duas vertentes antagónicas: as utopias tecnológicas, utilizadas pelos sistemas totalitários, e as utopias que renunciam à técnica e preconizam o regresso à natureza. De facto, parece que nos dias de hoje a utopia tem dificuldade em conviver com a complexidade da sociedade contemporânea e com as expectativas e ameaças dos avanços tecnológicos. Mas, se o homem souber tirar partido das novas tecnologias poderá servir-se delas para construir esse mundo utópico tão sonhado ao longo da História, como afirma Pierre Lévy no seu livro A Inteligência Artificial (1995): “O papel da informática e das tecnologias da comunicação digitais não será tanto o de “substituir o homem” nem de aproximar-se de uma hipotética ‘inteligência artificial’, mas sim o de permitir a construção de colectivos inteligentes em que as potencialidades sociais e cognitivas de cada um possam desenvolver-se e ampliar-se mutuamente. Segundo este ponto de vista, o maior projecto arquitectónico do século XXI será imaginar, construir e criar um espaço interactivo e em movimento no ciberespaço. Talvez assim seja possível ultrapassar a sociedade do espectáculo para abordar uma era pós-media, uma era na qual as tecnologias da comunicação servirão para filtrar os fluxos de conhecimento, para navegar pelo saber e pensar em conjunto em vez de acumular toneladas de informações.” Caso contrário, resta-nos partilhar o sentimento de Lewis Mumford, autor do livro História das Utopias, “a minha utopia é a vida real, aqui ou em qualquer outro lugar, levada até ao limite das suas possibilidades ideais” e continuar a acreditar, como Zeca Afonso, que aquilo com que sonhamos é sempre concretizável.

AO PUBLICAR EM 1516 UM LIVRO INTITULADO UTOPIA, THOMAS MORE (1478-1535) INVENTA UM NOVO TERMO E FUNDA UM NOVO GÉNERO LITERÁRIO NO CRUZAMENTO DA LITERATURA, POLÍTICA E FILOSOFIA.

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É numa pacata mais fervilhante vila alentejana que a história começa, ou não fosse Vitorino a contá-la. Foi no Redondo, onde nasceu e viveu a infância, que as cantorias lhe bateram à porta. “A música entra na vida das pessoas de forma natural e eu não sou excepção. Eu tinha um ambiente familiar muito musical, tinha muitos instrumentos em casa. O meu avô Salomé tocava bandolim, viola, violoncelo, concertina… o meu pai e os meus irmãos todos também tocavam instrumentos”. Para além de ser coisa de família, a forte tradição musical que se vivia – e vive ainda – no Redondo ajudou também a contagiar o jovem Vitorino. “Uma vila que tem 2500 habitantes tem um grupo de cantadores e duas orquestras! Há uma sociedade filarmónica, dos anos 20, que tem sido a responsável feliz por uma geração de músicos muito interessante. Os meus irmãos andaram lá, eu também comecei lá, mas depois fui-me embora e acabei por não aprender música, o que foi uma idiotice. Ou não, ainda não sei”.Não sabe ler pautas mas acredita que a música que respirou no Redondo foi uma grande escola, determinante para o que se seguiria. Era tempo de ir estudar para fora – primeiro para Évora, depois para Lisboa, mais tarde para França – e conhecer mais e diferentes músicas. Determinante foi também a ligação que Vitorino acabou por criar com o contra-poder ao Estado Novo e, como consequência, à canção que lhe cantava os ideais. “O meu avô era do reviralho, o meu pai e os meus tios estavam ligados ao Partido Comunista, e isso tudo tinha uma banda sonora por trás: o Zeca, o Adriano Correia de Oliveira, a canção que vem de Coimbra e desce para Lisboa”.É em França que Vitorino reencontra Zeca Afonso – que conhecera ainda em Portugal durante o serviço militar – e que conhece Francisco Fanhais, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Luís Cília, músicos opositores ao regime, muitos deles proibidos de regressar ao país. Não era o caso de Vitorino, não estava exilado, era um emigrante voluntário.

“Fui para Paris para desenhar e pintar, mas depois descambei para a música e sobretudo para viver. O que estava a acontecer era tão importante que eu não fazia nada, só vivia. Foram tempos de grande agitação e de grande maluqueira. Havia uma agitação social muito forte em França e eu, que ia de um país muito quieto, fiquei deslumbrado com as barricadas na rua, porrada na polícia, polícia na porrada… Uma agitação na rua que resultou numa agitação cultural única, que revirou tudo”, recorda.Razões muito práticas levaram-no a deixar o trabalho que tinha como organizador de bebidas num self-service e a viver de e para a música, até hoje. “Vivia melhor se cantasse. Encontrei um boliviano a cantar na rua e perguntei-lhe se queria um parceiro. Eu tocava muito mal guitarra – ainda toco mal à brava – mas ele disse que sim. Então comecei a tocar com ele na rua, ganhava muito mais numa hora do que no self-service”.Rapidamente Vitorino integra o grupo de cantores chamados “de intervenção” e começa a acompanhar Zeca Afonso nas cantorias. “No 16 de Março, que foi o prenúncio do 25 de Abril, estava em Madrid com o Zeca. Quando vi os jornais de manhã pensei que estávamos tramados e que já não íamos poder voltar para Portugal. Mas aí convencemo-nos logo de que aquilo agora já não parava”.E não parou mesmo. Pouco mais de um mês depois, os cravos saem à rua, o regime ditatorial cai, a democracia instaura-se, estala a agitação. Vitorino já estava em Portugal, os outros cantores deixam França quase de imediato e percorrem o país em apoio às lutas sociais que se começavam a travar. “Depois do 25 de Abril, houve um grupo de cantores e de agentes culturais que esteve dez anos a viver a história do muito agitado movimento social português e só não perdeu dinheiro porque não o tinha. Não ganhávamos nenhum, éramos sustentados pelas famílias. Lembro-me de sermos pagos uma vez em arroz integral e cenouras. Dormíamos na casa das pessoas ou no carro,

cantávamos onde calhava. Chegámos a cantar numa cooperativa no Alentejo em que o espaço para os cantores era um sobreiro e uma cadeira. O sobreiro, por trás de nós, era para termos sombra, a cadeira era para pôr o pé e apoiar a viola. Mas estavam centenas de pessoas em silêncio a ouvir”.Vitorino não gosta do rótulo de cantores de intervenção que acabou por se colar a estes músicos que apoiavam os movimentos sociais e as reivindicações dos trabalhadores. “Toda a gente que canta intervém. Quem diz que não está a intervir, normalmente até está a intervir mais. Lembro-me de o Marco Paulo dizer ‘eu não sou cá desses cantores de intervenção!’, mas é evidente que era, porque ele até se vestia com um casaco amarelo e umas calças azuis, que eram as cores do CDS. Tinha todo o direito de o fazer, só não tinha o direito de dizer que não intervém, porque isso engana as pessoas”, explica.Por ter um espírito contestatário sem freio, Vitorino esteve pouco tempo no Grupo de Acção Cultural – Vozes na Luta, que juntava vários cantores. “Acho que fui expulso, já não me lembro. Julgava que era anarquista, ou exercia o ofício de anarquista, e contestava tudo”. Nunca chegou a largar definitivamente os ideais da grande utopia que era o anarquismo, apesar de se considerar “estruturalmente republicano”.No rescaldo da revolução, a sociedade de consumo começa a ganhar terreno. As principais reivindicações salariais foram cumpridas, passou a haver saúde grátis e o acesso à educação tornou-se incrivelmente mais fácil. Mas, para Vitorino, a rosa do desenvolvimento teve os seus espinhos. “Todas as revoluções têm uma desilusão logo a seguir, uma ressaca. E a nossa não fugiu à história. A ressaca começou nos anos 80 com o yuppismo e o individualismo importados dos Estados Unidos. Esta crise global é só por isto, porque a determinada altura uns pensadores americanos e ingleses quaisquer acharam que os trabalhadores do mundo estavam a viver bem demais. E aí começa uma conspiração incrível contra

os povos, que eu não sei onde vai parar. Vai parar noutra revolução, seguramente”. Desta vez, acredita Vitorino, a revolução será transfronteiriça, capaz de rebentar o forte aparelho repressivo em que vivem os países. “Já apertaram demais. E o aperto não é só faltar o dinheiro para a gasolina, quase faltar dinheiro para comer, o aperto também é a depressão forte que provoca o autoritarismo cada vez mais obscuro”, diz.Defensor aguerrido da música cantada em português, Vitorino nem hesita quando diz que Portugal tem das canções mais interessantes da Europa, muito embora os portugueses não o reconheçam. “Quando a escola de Coimbra faz uma ruptura com a sua tradição através do Zeca e do Adriano, a música popular portuguesa emerge em paralelo com a música que surge nos Estados Unidos, também com sentido ideológico, que é a música de contestação à Guerra do Vietname. A música portuguesa emerge e caminha paralela a uma das maiores músicas do século XX”. O músico é também admirador confesso do hip-hop nacional, que diz ser, de certa forma, uma continuação da chamada canção de intervenção. “A vanguarda cultural de contestação do poder deixou as universidades e foi para a periferia. Esse movimento do hip-hop é muito interessante, porque é todo em português, não caiu na esparrela de cantar em inglês, porque assim ninguém perceberia, não teria reflexos sociais”.Depois da recente colaboração com o rapper Boss AC, Vitorino prepara novos caminhos para as suas músicas. “Estou a criar alguns conceitos como o neo-romantismo ou mesmo um neo-hip-hop, um hip-hop romântico, atento à realidade mas menos duro na expressão”. Vencer a preguiça é o próximo desafio: “Sou muito preguiçoso, não gosto de trabalhar, prefiro viajar. Se não viajas não tens um sentido global do mundo, viajar é a grande liberdade”.

Texto de:Patrícia Raimundo

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ANDANDO PELA VIDACOMPANHEIRO DE CANTORIAS DE ZECA AFONSO, VITORINO CORREU O MUNDO À BOLEIA, DE MOCHILA ÀS COSTAS. HOMEM DE UTOPIAS, PARTILHOU IDEAIS COM OS HIPPIES E DIZ QUE ATÉ HOJE NÃO DEIXOU DE SER ANARQUISTA. DEFENSOR AGUERRIDO DA MÚSICA CANTADA EM PORTUGUÊS, O MÚSICO ALENTEJANO CONTA COMO FOI VIVER A AGITAÇÃO SOCIAL ANTES, DURANTE, E DEPOIS DO 25 DE ABRIL, E ESPREITA O FUTURO QUE AÍ VEM.

Ilustração . Zé Paz

Page 6: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

06 I ABRIL, 2010 Ilustração . Add Fuel To The Fire

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ABRIL, 2010 I 07

ATLÂNTIDALugar Geográfico: Continente imerso em pleno Oceano Atlântico ou ilha sobre a Dorsal Oceânica que faria parte dos Açores, da Madeira, das Canárias ou de Cabo Verde.Lugar Literário: Vinte Mil Léguas Submarinas (1870), Jules Verne.“Estaríamos diante de um fenómeno natural ainda desconhecido pelos cientistas da Terra? Cheguei até a pensar que era produzido por intervenção humana. Haveria naquele abismo de água uma colónia de desterrados que, cansados das misérias da Terra, tinham procurado e encontrado a independência no fundo do oceano?”

BABEL (BIBLIOTECA DE)Lugar Geográfico: Indeterminado.Lugar Literário: A Biblioteca de Babel (1941), Jorge Luis Borges.“Quando se proclamou que a Biblioteca abarcava todos os livros, a primeira impressão foi de extravagante felicidade. Todos os homens sentiram-se senhores de um tesouro intacto e secreto. Não havia problema pessoal ou mundial cuja eloquente solução não existisse: em algum hexágono. O universo estava justificado, o universo bruscamente usurpou as dimensões ilimitadas da esperança”.

COOPERATIVALugar Geográfico: Cidade no Estado de Main, E.U.A.Lugar Literário: The World, a Department Store. A Story of Life under the Cooperative System (1900), Bradford Peck.“O regime político da cidade de Cooperativa é baseado na autêntica cooperativa de índole cristã; através da cooperação, a humanidade transforma a sociedade numa verdadeira organização de prática ética, verdadeira e moral”.

DICIONOPOLISLugar Geográfico: Cidade das palavras (rival de Digitopolis, cidade dos números) situada no sopé do Monte da Confusão e banhado pelo Mar do Saber.Lugar Literário: The Phantom Toolboth (1962), Norton Juster.“O mais pequeno dos teus passos pode mudar o rumo da Terra. Sempre que ris, a alegria expande-se como ondas num lago e, sempre que estás triste, ninguém consegue ficar contente. E, lembra-te que muitos dos lugares que gostarias de ver não estão no mapa e que muitas das coisas que gostarias de saber não se encontram descritas, mas que, um dia, alcançarás todos esses lugares e todos esses conhecimentos”.

EL DORADOLugar Geográfico: Reino situado algures, ou entre o Peru e a Amazónia, ou no Planalto das Guianas, ou ainda, na parte central de Nova Granada (actual Colombia).Lugar Literário: Comentários Reais que Tratam da Origem dos Incas (1609), Garcilaso de la Vega.“Toda a lagoa cercada de índios e iluminada em toda sua circunferência, os índios e índias todos coroados de ouro, plumas e enfeites de nariz… Despiam o herdeiro e o untavam com uma liga pegajosa, e cobriam tudo com ouro

em pó, de maneira que ia todo coberto desse metal. Metiam-no na balsa, na qual ia de pé, e a seus pés punham um montão de ouro e esmeraldas para que oferecesse a seu Deus [...] O índio dourado fazia sua oferenda lançando no meio da lagoa todo o ouro e as esmeraldas que levava aos pés.”

FADAS (PAÍS DAS)Lugar Geográfico: Clareira no fim de um caminho de floresta.Lugar Literário: Phantastes – A Faerie Romance for Men and Woman (1858), George Mcdonald.“O espaço em branco, que é apenas o de uma vida esquecida, situa-se para lá da consciência; daí que toda revelação misteriosa de outras eventuais ligações com o mundo que nos rodeia deverá ser procurada para além da ciência e da poesia. Neste mundo das fadas não há círculos brilhantes, nem luares reluzentes, mas apenas o revelar das coisas escondidas pelo corpo enquanto parte integrante da casa viva onde a alma reside.”

GIFÂNTIALugar Geográfico: Ilha situada no Mar das Areias Movediças algures nos desertos do Norte de África.Lugar Literário: Gifântia ou a Zizirocracia (1760), C-F Tiphaigne de la Roche.“A ilha é habitada por espíritos provenientes dos quatro elementos [ar, água, fogo e terra] É o único lugar no mundo onde a natureza conserva ainda a sua energia original e continua a produzir novas espécies de animais e plantas [...] Onde o homem conserva a inocência e vive em perfeita harmonia com a natureza”.

HARMONIALugar Geográfico: Indeterminado, talvez numa pintura de Ruskin.Lugar Literário: No País da Harmonia (1906), Georges Delbruk“Governado por um monarca liberal e hedonista, este é um país onde todas as leis obedecem a critérios estéticos. Todos os actos devem decorrer segundo os princípios da beleza, do amor e da harmonia. Nada deverá ofender o critério estético das obras de Pater ou Ruskin”.

ICARIALugar Geográfico: República algures no Mediterrâneo.Lugar Literário: Viagem a Icaria (1839), Etienne Cabet.“A satisfação pessoal não é o fim último dos icarianos; definem-se a si próprios como irmãos e a sociedade onde vivem como uma sociedade de partilha fraterna [...] A entrada é vedada aos comerciantes; apenas os viajantes que desejem levar para as suas terras de origem os princípios e a sabedoria de Icaria podem aceder a esta república”.

JANSENIALugar Geográfico: País jansenista situado entre a Libertinia, a Desesperania e a Calvinia.Lugar Literário: Relação do País de Jansenia (1660) Zacharie de Lisieux. Este país dos jansenistas é uma sátira alegórica às utopias preconizadas pelas cisões religiosas

protestantes (jansenistas e calvinistas), tidas como heréticas, liberais e hedonistas pela Igreja Católica.

LILLIPUTLugar Geográfico: Ilha no Oceano Índico a sudoeste de Sumatra.Lugar Literário: As Viagens de Gulliver (1726), Jonathan Swift.“A filosofia dos Liliputianos consiste em estabelecer princípios infalíveis que levem o espírito a preferir o estado medíocre de um homem honesto ao bem-estar de um rico e ao fausto de um financeiro e, às conquistas de um general vitorioso, o vencerem em si próprios a força das paixões”.

MANDAILugar Geográfico: País junto ao Pólo Norte indicado pela Estrela Polar. Lugar Literário: Iran (1905), Hirmiz Bar Anhar“Num clima temperado, os habitantes de Mandai são loiros, andam nus, apenas cobertos por uma finíssima penugem branca [...] Vivem em comunhão perfeita com a natureza numa comunidade igualitária e sem qualquer noção de propriedade privada”.

NAUDELYLugar Geográfico: Ilha situada a três meses de navegação à vela a partir de Amesterdão. Lugar Literário: Ideia de um Reino Doce e Feliz (1703), Pierre de Lesconvel“Os habitantes são católicos fervorosos, silenciosos e austeros, e com uma educação tão rígida que não existem nesta ilha nem ladrões, nem hipócritas [...] Ninguém tem o direito de possuir o dobro das terras necessárias para o sustento de uma família [...] Em tempos de penúria, os habitantes são ajudados pelo Estado que cria um fundo comum de ajuda mútua”.

OFIRLugar Geográfico: Reino no Sudoeste da ArábiaLugar Literário: Bíblia: 1º Livro dos Reis, 2º Livro das Crónicas e 1º Isaías.Reino de justiça e caridade de onde o Rei Salomão irá buscar a riqueza e onde o ouro é o símbolo de uma vida sem pecado, o dinheiro o da rectidão e justiça, e o marfim o do comércio honesto.

POESIALugar Geográfico: Ilha algures na auroraLugar Literário: “Diálogo das letras do Alfabeto” suplemento de L’Histoire Véritable (1654), Sieur d’Ablancourt “Ilha habitada por gente distraída, sonhadora e pouco faladora [...] Os visitantes ficarão perplexos perante a ausência de organização política, de desenvolvimento económico e de forças militares [...] Solitários como as nuvens, os indígenas passam grande parte do tempo a passear [...] gostam de se sentar à beira dos riachos para compor versos que recitam com ênfase.”

ROSSUMLugar Geográfico: Ilha em local desconhecido ao largo dos Estados UnidosLugar Literário: Rur – Rossum Universal Robots (1923), Karel Ĉapek

Livro que introduziu a palavra “Robot”. Produzidos em massa para ocuparem o lugar dos homens nas tarefas mecânicas, os robots são eficientes e servis mas desprovidos de criatividade. Vivem num mundo ideal e utópico mas, ao não conseguirem reproduzir-se, não encontram significado para a vida. Revoltam-se matando os seus criadores humanos e criam um mundo de robots.

SABEDORIALugar Geográfico: Gigantesco arquipélago do PacíficoLugar Literário: As Ilhas da Sabedoria (1922), Alexander Moszkowski“As ilhas são pacifistas e partilham de um mesmo ideal que consiste em eliminar todos os sentimentos que levam ao egoísmo [...] O clima é idílico e os habitantes levam uma vida inteiramente dedicada ao prazer. São tão hedonistas que vivem como que no paraíso terrestre descrito pelos autores clássicos.”

TERRA LIVRELugar Geográfico: Ilha no Pacífico, a norte da Nova Caledónia. Lugar Literário: Terra Livre (1908), Jean GraveComunidade anarquista fundada por prisioneiros e condenados franceses fugidos da deportação para a Nova Caledónia.

UTOPIALugar Geográfico: Ilha em forma de crescente situada algures a quinze mil milhas de uma qualquer costa da América do Sul.Lugar Literário: Utopia (1516), Thomas More“Os utopianos fundaram as suas instituições como base da república e estas asseguram-lhes a continuação e prosperidade [...] pois que os vícios e as causas da ambição e sedição foram extirpados, não pode haver perigo de discórdias civis [...] E porque reina a concórdia e as leis justas são observadas, nada consegue abalar a república”.

VICTORIALugar Geográfico: Cidade modelo à beira de um rio navegável algures em Inglaterra.Lugar Literário: National Evils and Practical Remedies (1849), James Silk BuckinghamNomeada em honra da Rainha Vitória, esta cidade modelo é regida pelos princípios da vida saudável, da serenidade de espírito, do trabalho agradável e do amor pelo próximo. É proibido o tabaco, as bebidas alcoólicas e as armas. Os cuidados médicos e a educação são gratuitos.

ZUVENDISLugar Geográfico: Território algures em África.Lugar Literário: Allan Quatermain (1887), Henry Rider HaggardRico em ouro e com uma população inteiramente composta por indivíduos de raça branca, este território é uma monarquia regida pelos princípios políticos, artísticos e civilizacionais da antiga Pérsia e do antigo Egipto.

Fontes: obras citadas e Dicionário dos Lugares Imaginários de Alberto Manguel e Gianni Guadalupi)

NÃO HÁ TERRA QUE RESISTASONHANDO COM UMA SOCIEDADE IDEAL E QUERENDO DAR-LHE CORPO, FILÓSOFOS, ROMANCISTAS, PINTORES, ARQUITECTOS, MÚSICOS E CINEASTAS ESCOLHEM DESENHAR CONTINENTES, PAÍSES, CIDADES E ILHAS: LUGARES IMAGINÁRIOS ONDE ALOJAR A DESCRIÇÃO MITIFICADA DE UMA ORGANIZAÇÃO SOCIAL, POLÍTICA E ECONÓMICA DE UMA COMUNIDADE HUMANA – OS LUGARES DA UTOPIA. TERRITÓRIO DE FICÇÃO PURA, E DEMASIADO FÉRTIL PARA CABER EM POUCAS LINHAS, AQUI DEIXAMOS APENAS UM PEQUENO ROTEIRO, EM JEITO DE MAPA DE A A Z, DE LUGARES LITERÁRIOS IMAGINADOS PARA ALBERGAR A UTOPIA.

Page 8: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

08 I ABRIL, 2010

1. O 25 DE ABRIL FOI UMA UTOPIA?Vitorino: Alguma Revolução cumpriu o programa? São todas uma utopia pegada.

Samuel Úria: Não. A tangibilidade da revolução não se relaciona com a intangibilidade das utopias. Pormos um foco ilusório numa mudança efectiva é sermos negacionistas de Abril. Cada revolucionário poderia ter uma utopia em mente – felizmente muitas delas se concretizaram, felizmente outras tantas não – mas, a data pouco celebra intenções individuais, celebra antes o esforço colectivo pela liberdade e pela democracia, o tal sistema que é o pior com excepção de todos os outros.

Pedro abrunhoSa: Não. De utopias distorcidas vivia o Estado Novo.

Jacinto lucaS PireS (oS QuaiS): Não apenas mas também. E esse lado “utopia” é que torna a celebração do dia mais do que uma simples “efeméride”.manuel rocha (brigada Victor Jara): Claro que e 25 de Abril foi uma utopia. Foi, aliás, a melhor das utopias – aquela que se torna realidade! A indignidade do regime salazarista (com Primavera ou sem ela) era, de resto, um chão – entre muitos – propício ao nascimento das utopias; tem sido sempre assim na história do mundo dos humanos: quanto mais indigno o chão, mais urgente a utopia. Depois, de repente, caem de podres os dentes dos que escarnecem do utópico. Assim foi com o 25 de Abril. Por isso é que há tanto pragmático desdentado.

2. QUE SONHOS DO 25 DE ABRIL ESTÃO AINDA VIVOS?Vitorino: Sobra do 25 de Abril uma sociedade completamente diferente da vivida no regime anterior: massificação da cultura, do consumo, acesso mais fácil ao ensino, possibilidade de viajar; tudo para o bem e para o mal. A música portuguesa, essa sim, sofre com os ataques por dentro (não tem air-play nem na rádio nem na televisão).

Nos jornais ela é tratada com incompetência generalizada. As excepções são raras.

Samuel Úria: Penso que perpetuar o 25 de Abril enquanto laboratório ideológico é menosprezar a data de 25 de Abril de 1974. A grande importância devia centrar-se na transição, não nessa aura quase sobrenatural que descaracteriza os resultados efectivos que a data trouxe. Um dia tirou-se a mordaça; quem acha que deve continuar a ser tirada insinua, ou que a mordaça nunca existiu, ou que nunca foi realmente removida. 25 de Abril foi o dia em que Portugal acordou – falar em sonhos é para quem ainda está a dormir.

Pedro abrunhoSa: Ter um jornal a colocar perguntas destas sem irmos todos presos é um deles.

Jacinto lucaS PireS: O sonho de uma igualdade real, a poesia na rua, mais poesia na democracia, o sonho de um sempre-começo.manuel rocha: Os sonhos da liberdade. Como na canção do Sérgio Godinho: “só há liberdade a sério quando houver/ a paz, o pão, habitação, saúde, educação”. Mais uma utopia de que andamos atrás... de encontrar ao virar da esquina das nossas vidas.

3. A MÚSICA REFLECTE OU CONSTRÓI UMA SOCIEDADE?Vitorino: Seria muito pretensioso afirmar que ela constrói uma sociedade, mas ajuda muito. Estou a falar de música de qualidade, não de música do regime. É muito corrosiva quando exerce o contra-poder.

Samuel Úria: Ambos. A música são os músicos, músicos são cidadãos, cidadãos são e constituem (reflectem e constroem) a sociedade. O papel na definição social é que dependerá sempre da unanimidade em torno da expressão musical. Quanto mais uma música gerar uma vontade, ou quanto mais uma vontade gerar uma música, maior será o reflexo e a construção. Ser a voz de um povo não é para muitos. Ser o povo de uma voz, ainda menos.

Pedro abrunhoSa: Tem o mesmo papel que o calceteiro: preenche mas sustenta.

Jacinto lucaS PireS: Mas porque é que pensamento e acção têm de estar sempre em regime de ou/ou?

manuel rocha: A música reflecte. A música constrói. Tudo depende das mãos que a percebem, tudo depende das mãos que a moldam. Tudo depende dos ouvidos que a entendam, tudo depende da desatenção dos que nem dão por ela. A Nona de Beethoven, por exemplo, há-de viver entre o maravilhamento e a completa indiferença. Porque, se há quem consiga (e precise) ver o mundo através daquelas notas, também haverá quem as dispense totalmente. Nuns haverá reflexo e construção, os outros limitam-se a existir. A sociedade é um vazadouro – mas só os primeiros a farão avançar.

4. COM QUE NOTAS SE CANTA A UTOPIA?Vitorino: Com as necessárias. O Zeca Afonso cantou-a como ninguém.

Samuel Úria: Não tenho bem a certeza, mas julgo que o Si bemol anda lá pelo meio.

Pedro abrunhoSa: As do “Talvez Foder” ajudam.

Jacinto lucaS PireS: Principalmente com os tais corações dos desafinados.

manuel rocha: Com as doze da escala cromática (e suas infinitas ascendências e descendências) e todas as outras que caibam nos interstícios. O canto é, em si mesmo, uma utopia. Haverá expressão mais imaterial e, ao mesmo tempo, mais patrimonial na nossa humana existência, se de vida se tratar?

5. DO PONTO VISTA PESSOAL QUAL SERIA A SOCIEDADE IDEAL?

Vitorino: As sociedades ideais não existem. É para isso que serve a utopia, para nos consolar. Se a introduzirmos no nosso quotidiano, vivemos melhor...

Samuel Úria: Descrever uma sociedade ideal é como tentar lamber o cotovelo. Por muito que estique a língua e encolha o braço, fico sempre aquém. A insistência é uma coisa perigosa que pode acabar em línguas penduradas e omoplatas deslocadas. Querer sociedades ideais pode acabar em câmaras de gás e gulags. Desejar o menos mau, às vezes, já é desejar o menos malíssimo.

Pedro abrunhoSa: Aquela em que ninguém roube dos meus impostos.

Jacinto lucaS PireS: O lugar da justiça, da abertura e da máxima possibilidade, um lugar em permanente invenção, revolução que durasse para sempre.manuel rocha: Mas se eu ainda há pouco rasguei tanto elogio à utopia!… A sociedade ideal é aquela que hão-de construir os vindouros, da mesma maneira que os antepassados nos confiaram a materialização dos seus ideais. Mas, isso, sou eu a falar. Se eu fosse um burguês monopolista a sociedade ideal seria aquela em que não houvesse dias santos nem salários e as leis fossem todas feitas pelos deputados do centrão. Eu peço pouco: uma escola para quem quiser estudar, um médico para quem tenha dores, um jardim para quem quiser reflectir, um tecto para quem precisar de se abrigar, um palco para quem precisar de se mostrar, uma ferramenta para quem precisar de construir – e assim possa ganhar o pão de cada dia. Já viram? Peço tão pouco e mesmo assim pareço o mais utópico dos pedintes. A sociedade ideal é aquela em que cada homem, lutando por aquilo (material) que é seu, luta para que tudo (material) seja de todos. Propriedade privada só nos sonhos e nas paixões! Eu chamo-lhe comunismo (quem falou em utopia?).

A BOCA DIZ O QUE QUER

Page 9: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

ABRIL, 2010 I 09Ilustração . YUP | Paulo Arraiano

Page 10: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

10 I ABRIL, 2010

Antes mesmo das interpretações dadas em Portugal por Bandarra, Padre António Vieira e Fernando Pessoa, a primeira referência ao Quinto Império surge na Bíblia, no Antigo Testamento; mais precisamente, no livro de Daniel. De acordo com o texto sagrado, Nabucodonosor, rei da Babilónia, teve um sonho em que uma gigantesca estátua com cabeça de ouro, peito e braços de prata, ventre e ancas de bronze, pernas de ferro e pés de barro era derrubada por uma simples pedra que se tinha desprendido da montanha. Depois de consultados os sábios, e não tendo estes encontrado interpretação para este sonho que o rei acreditava ser profético, Nabucodonosor recorre ao profeta Daniel que lhe decifra o sonho. Na interpretação de Daniel, o colossal ídolo com pés de barro é o símbolo de que, independentemente da vontade e poder humanos, o nascimento e a queda dos impérios acontecem pela vontade de Deus. Diz Daniel “Tu, ó rei, és o rei dos reis, a quem o Deus dos céus deu a realeza, o poder, a força e a glória; a quem entregou o domínio sobre os homens, os animais terrestres e as aves do céu. Tu é que és a cabeça de ouro. Depois de ti surgirá um outro reino, menor que o teu; depois um terceiro reino, o de bronze, que dominará sobre toda a terra. Um quarto reino será forte como o ferro [...] No tempo destes reis, o Deus dos céus fará aparecer um reino que jamais será destruído e cuja soberania nunca passará a outro povo”. É desta profecia de Daniel que nasce o mito de um Quinto Império universal. Reinterpretando o texto bíblico, Padre António Vieira desenvolve, na sua História do Futuro, o mito do Quinto Império. Segundo Vieira, depois dos impérios liderados por Nabucodonosor (Assíria), Ciro (Pérsia), Péricles (Grécia) e César (Roma), chegará o Império Universal Cristão – o Quinto Império, liderado pelo Rei de Portugal. Trata-se de um novo império civilizacional liderado enquanto desígnio nacional pelo povo português: “Chamamos Império Quinto ao novo e futuro que mostrará o discurso desta nossa História [...] este é o Mundo presente, e este será o Mundo futuro; e destes três mundos unidos se formará (que assim o formou Deus) um Mundo inteiro. Este é o sujeito da nossa História, e este o império que prometemos do Mundo. Tudo o que abraça o Mar, tudo o que alumia o Sol, tudo o que cobre e rodeia o Sol será sujeito a este Quinto Império; não por nome ou título fantástico, como todos os que até agora se chamaram impérios do Mundo, senão por domínio e sujeição verdadeira”.Partindo do sonho formulado por Padre António Vieira, e acreditando nesta missão nacional, Fernando Pessoa inscreverá na Mensagem o poema “Quinto Império”. Para Pessoa, mais do que um desígnio, trata-se do advento messiânico e civilizacional de um reino para além do material, um império espiritual e, sobretudo, uma utopia muito própria; algo que Richard Zenith tão bem explicita na Fotobiografia de Fernando Pessoa editada pelo Círculo de Leitores: “Se recordarmos que o Quinto Império deveria ser cultural, ‘um império de poetas’, que Pessoa profetizava ser o super-Camões, arauto de uma ‘Nova Renascença’ destinada a irradiar de Portugal para o resto do mundo, e que os heterónimos encarnavam ora o sensacionalismo (‘sentir tudo de todas as maneiras’), ora o neopaganismo (aceitação de todos os deuses, todos os credos), conferindo ao seu criador uma universalidade inédita e transformando-o, só por si, em toda uma geração literária, verificamos que tudo se encaixava perfeitamente. O que não se verifica neste sistema engenhoso é a mínima possibilidade de existir materialmente no tempo e no espaço – pormenor que Pessoa preferia (fingia?) esquecer”.

No final do século XX, as ideias e energias utópicas sofreram um enorme abalo e desgaste, por um lado, devido ao desvanecimento gradual que as utopias foram sofrendo no Ocidente a partir do Maio de ‘68 e, por outro lado, devido às inevitáveis constatações de falhanço das utopias revolucionárias acontecidas após a queda do muro de Berlim e o inevitável eclipsar de todo o bloco de leste que se seguiu ao desmoronamento e desaparecimento da União Soviética. Jürgen Habermas foi, sem dúvida, um dos principais pensadores a antecipar o desvanecimento das utopias num mundo em que as ditas teorias pós-modernas iam ganhando terreno e se tornando cada vez mais credíveis numa realidade mais marcada pelo avanço e apogeu dos mass media, pelas teorias da comunicação e pelo advento das novas tecnologias de informação.De facto, não obstante, as revoluções estudantis ocorridas numa série de países no final da década de 1960 e início da década de 1970 (da França ao México, passando pela Alemanha) e a Revolução dos Cravos, o final do século XX ficou marcado, no plano ideológico, pela descrença não só na ideia de revolução, mas também nos ideais utópicos que vinham modelando o pensamento ocidental desde os alvores da época moderna.O século XXI tem-se definido como uma época de profundas transformações, induzidas em grande parte pelo crescente processo de globalização e pelas imprevisíveis inovações das novas tecnologias de informação. Temos assistido ao surgimento de vários movimentos sociais, assentes em torno da construção de identidades, e que questionam o modo como as sociedades contemporâneas se têm vindo a desenvolver, sem apresentarem, no entanto, verdadeiras propostas e alternativas à realidade. A possibilidade de transformação das sociedades não deixou de existir, só que se tem tornado cada vez menos óbvio quem poderão vir a ser os verdadeiros protagonistas dessa mesma transformação. A revolução nos moldes em que foi pensada ao longo dos séculos XIX e XX, com o proletariado como seu protagonista, parece ser, cada vez mais, um mito; ou seja, parece ser assumida como uma verdadeira utopia.Hoje, as novas utopias tratarão cada vez mais de lutar contra o poder e não de lutar pelo poder – sem, no entanto, deixar de ter em conta que o próprio poder, também ele, se transformou. Na verdade, a transformação social dos dias de hoje, parece depender cada vez mais dos movimentos sociais, surgidos a partir da segunda metade do século XX – desde os movimentos estudantis, dos anos 1960 e 70, até aos actuais movimentos anti-globalização passando por movimentos de índole ambientalista, feminista ou gay & lesbian, entre outros mais preocupados com questões como a liberdade, a sexualidade, os direitos humanos, o racismo, a criação artística ou o meio ambiente do que com a tomada e posse do poder propriamente ditos.A ideia de que a transformação social passaria antes de tudo pela tomada do poder e posse dos aparelhos de Estado tem vindo a ser reconhecida como um mito. Até porque os referidos aparelhos de Estado e as instituições governamentais são cada vez mais uma fachada, que serve para manter uma ilusão de soberania democrática, pois os estados são cada vez menos autónomos e o poder real dos governos é cada vez mais ilusório. A luta pelo poder tem vindo a tornar-se uma causa menor, senão mesmo uma causa perdida, num mundo globalizado onde esse mesmo poder, embora real, se tem tornado também cada vez mais imaterial e global e, por isso mesmo, cada vez mais invisível e inacessível. As lutas de hoje deverão ser contra o poder e os limites e normas por ele impostos enquanto os modos de luta deverão ser transgressivos.A ideia de uma revolução protagonizada pelo proletariado parece cada vez mais ultrapassada pelos factos históricos ocorridos nas últimas décadas. Se a ideia de revolução perdeu a sua centralidade histórica, a ideia de transgressão poderá estar em vias de tomar o seu lugar. Por outras palavras, a utopia da revolução deverá ceder lugar a uma ultratopia da transgressão. Através da transgressão poder-se-á continuar a assegurar a transformação social, e a sobrevivência da história com as suas continuidades e descontinuidades, pois a transgressão é, e será sempre, tão antiga quanto a existência da ordem, dos limites e das normas que ela desafia. Enquanto existirem limites e constrangimentos à acção humana existirá sempre transgressão. Mesmo para os teóricos do social mais deterministas, a transgressão deverá ser vista como a prova provada de que a liberdade é sempre possível: a liberdade que é a opção de acção de que podemos dispor e que em certo sentido irá depender dos constrangimentos existentes e do seu maior ou menor grau de eficácia. Assim, existe sempre alguma liberdade possível, ou seja, existe sempre a opção possível de aceitar ou não as normas e os limites que nos são impostos. Existe sempre a opção de transgredir ou não. Nenhum totalitarismo será suficientemente forte para acabar com a transgressão. Nem nenhuma falsa democracia será suficientemente subtil para a diluir. A verdadeira liberdade é aquela que se conquista, não aquela que nos é imposta.

CONCEBIDO PELO PADRE ANTÓNIO VIEIRA NO SÉCULO DEZASSETE, O QUINTO IMPÉRIO É, ENTRE O SONHO E A CRENÇA MILENARISTA, TALVEZ A GRANDE UTOPIA PORTUGUESA; A IDEIA DE UM NOVO IMPÉRIO CIVILIZACIONAL LIDERADO POR PORTUGAL.

FADO PESSOA

UTOPIAS E TRANS-GRESSÃO

OPINIÃO

Page 11: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

ABRIL, 2010 11

A minha teoria, que não é minha e já vem aparecendo em vários estudos, é que em pleno século XXI as pessoas além de desejarem estabilidade nas relações também querem, ou gostariam de ter, mais possibilidades amorosas e mais criatividade sexual e emocional – seja lá o que isso for – e felizmente a durabilidade das relações passou (para muitos de nós) a ser um ideal e não uma obrigação. O fascínio pela devassidão e por ruas sem saída onde ando às apalpadelas – ora aqui está uma boa imagem – à procura de um caminho menos monótono que o dos pombos lá no Rossio, levou-me ao consultório de um judeu chamado Slazenger

a quem pago a peso de ouro para libertar a minha cabecinha manhosa das instruções de fábrica com que venho e me parecem, na prática, não estar a dar certo, porque além de chata comecei a andar muito triste e quase me tornei numa miserável sentimental. Explico: em havendo uma pessoa que me amasse, ou que eu pudesse amar a mais não deveria almejar. Estaria bem perto de ter ganho a lotaria. Mas não. Não ganhei. E, ou bem que sofro de um grande desamparo – bem possível, bem possível – e gosto demais de pessoas e por isso passei a não me esquivar a cada vez que surge uma possibilidade, ou o homem anda num projecto qualquer de investigação comigo que me deixou novinha

em folha e libertou da culpa. Infelizmente ainda não vivo numa “suruba “generalizada, e não pretendo que as pessoas devam tal e qual igual aos coelhos ir com quem lhes acena com a cenoura – outra imagem de mau gosto – que só revela a minha dificuldade em relação ao tema. O que eu gostava era de conseguir ter relações mais ou menos adultas baseadas no amor, com várias pessoas, sem enganar ou ferir ninguém. E finalmente chegámos onde eu queria, a uma coisa fantástica que os malucos dos americanos inventaram e que chamam o poliamor. Ora o poliamor não é mais do que aquilo que acabei de referir no parágrafo

anterior: relações adultas baseadas no amor com mais de uma pessoa, em que todos os interessados estão ao corrente uns dos outros e não se importam, compreendem.E a mim parece-me que a vida seria mais feliz desta forma e que se tudo corresse na perfeição não mais teríamos que nos preocupar com a culpa. Uma utopia. Talvez. Mas, até ver, muito mais agradável que a do camarada Karl.Não se preocupem que vou dando notícias...

Mónica Marques

ESTAR À ESPERAOU PROCURARUTOPIA: POLIAMOR

OPINIÃO

Ilustração . Leonor Morais

Page 12: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

12 I ABRIL, 2010

O ROSTO DA UTOPIA JOSÉ AFONSO FICOU PARA A HISTÓRIA COMO O ROSTO DA UTOPIA DO 25 DE ABRIL. AO DESCREVER NA SUA MÚSICA “UTOPIA” UMA CIDADE PERFEITA “SEM MUROS, NEM AMEIAS”, UMA “CAPITAL DA ALEGRIA” COM “GENTE IGUAL POR DENTRO, GENTE IGUAL POR FORA”, O CANTAUTOR REVELA A SUA CRENÇA EM QUE A REVOLUÇÃO PODE DE FACTO TRANSFORMAR A SOCIEDADE PORTUGUESA. MAS SUBLINHA

IGUALMENTE QUE ISSO SÓ SERÁ POSSÍVEL SE O POVO SE UNIR E ACEITAR O DESAFIO DE TOMAR COMO SEU “O FRUTO DA TERRA”. POIS TAL COMO O PRÓPRIO AFIRMOU “ADMITO QUE A REVOLUÇÃO SEJA UMA UTOPIA, MAS NO MEU DIA-A-DIA PROCURO COMPORTAR-ME COMO SE ELA FOSSE TANGÍVEL. CONTINUO A PENSAR QUE DEVEMOS LUTAR ONDE EXISTA OPRESSÃO, SEJA A QUE NÍVEL FOR”.

CAPITAL DA ALEGRIA ZECA AFONSO

CIDADESEM MUROS NEM AMEIASGENTE IGUAL POR DENTROGENTE IGUAL POR FORAONDE A FOLHA DA PALMAAFAGA A CANTARIACIDADE DO HOMEMNÃO DO LOBO, MAS IRMÃOCAPITAL DA ALEGRIA

BRAÇO QUE DORMESNOS BRAÇOS DO RIOTOMA O FRUTO DA TERRAÉ TEU A TI O DEVESLANÇA O TEU DESAFIO

HOMEM QUE OLHAS NOS OLHOSQUE NÃO NEGASO SORRISO, A PALAVRA FORTE E JUSTAHOMEM PARA QUEMO NADA DISTO CUSTASERÁ QUE EXISTELÁ PARA OS LADOS DO ORIENTEESTE RIO, ESTE RUMO, ESTA GAIVOTAQUE OUTRO FUMO DEVEREI SEGUIRNA MINHA ROTA?

Letra e Música: Zeca Afonso

LERO-LERO JACINTO LUCAS PIRES ENTRE-

VISTA

ESCRITOR, ARGUMENTISTA E REALIZADOR, JACINTO LUCAS PIRES É TAMBÉM LETRISTA E VOCALISTA D’OS QUAIS, PROJECTO MUSICAL QUE PARTILHA COM O ARTISTA PLÁSTICO TOMÁS CUNHA FERREIRA. MEIO DISCO, O EP DE ESTREIA, FOI PRETEXTO PARA UMA MEIA ENTREVISTA ONDE CABEM MÚSICAS, PALAVRAS E UTOPIAS. Os Quais existem, quase secretamente, há cerca de 20 anos, quando conheceu Tomás Cunha Ferreira. O que é que vos fez deixar a “sombra”, assumir o projecto, gravar canções e pô-las no palco? Por um lado, o desafio da Amor Fúria [a editora] para gravarmos um EP mais rock. Por outro, a circunstância de agora ser mais fácil gravar e mostrar (gravações caseiras, myspace, etc). Os Quais é um projecto musical descontraído e descomprometido. Acha que esse pode ser o segredo para que as canções passem as suas mensagens? Eu diria descontraído mas comprometido. Comprometido com a nossa visão “qual”. Não há receitas – e, se as há, não

estamos interessados – mas parece-me que o único trunfo é o de encontrar um caminho original. No meio de tanta novidade diária, só fica o que é “diferença”. Para quando um sucessor de Meio Disco?Estamos a trabalhar nisso. Queremos que seja este ano, o mais cedo possível. Disse numa das suas crónicas no DN sobre a esquerda em Portugal que é urgente uma “nova e descomplexada utopia”. Que utopia seria essa? Por um lado, acho que é preciso voltar a acreditar na hipótese – na necessidade – de uma mudança a sério. Lutar por uma transformação profunda que dê a todos não

uma mera igualdade formal, mas uma real igualdade de possibilidades. Um futuro de liberdade concreta para todos nós depende disso. Uma verdadeira igualdade de acesso a melhores condições de vida em diferentes sentidos – material, educacional, social, cultural, cívico. Acho que, por um lado, falta isso: reinventar a linguagem radical de um sonho possível. Por outro lado, tal só será conseguido hoje se nos desamarrarmos de alguns complexos pós-revolucionários. Se traduzirmos a revolução para o nosso momento. Precisamos da revolução é hoje. Enquanto escritor, o tema da utopia está de alguma forma presente nos seus livros?

Não enquanto tema. Mas há uma “utopia” inerente a toda a ficção, uma “utopia” que se torna real nas melhores histórias. A ideia de que podemos ser outros. Que podemos estar noutros corpos, ver com outros olhos, pensar do lado de lá. No seu blog, “Chanatas”, diz ter os “pés bem assentes na lua”. É um homem mais sonhador ou mais distraído? Esse subtítulo não é sobre mim! É só um lema provocatório que dá o tom ao blogue. Quanto ao resto, não sei dizer. Mas sei que, muitas vezes, as melhores ideias vêm quando nos achamos distraídos.

Ilustração . Lucas Almeida

Page 13: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

ABRIL, 2010 I 13

BARBARELLA E A BARBA RALA FICÇÃO CIENTÍFICA O LUGAR DA DISTOPIAENQUANTO QUE NAS FICÇÕES PARA A UTOPIA SE PROCURA “O MELHOR DOS MUNDOS”, NA FICÇÃO CIENTÍFICA “O MELHOR DOS MUNDOS” SERVIRÁ APENAS PARA PODER DESCREVER “O PIOR DOS MUNDOS.” TRABALHAR A UTOPIA ATÉ A TRANSFORMAR NUMA DISTOPIA, PODERIA BEM SER O LEMA DA FICÇÃO CIENTÍFICA.CRIAR UMA SOCIEDADE IMAGINÁRIA COM O PROPÓSITO ÚNICO DE SERVIR COMO ADVERTÊNCIA MORAL OU POLÍTICA, EIS O TERRITÓRIO DA DISTOPIA, LUGAR DE ELEIÇÃO DA FICÇÃO CIENTÍFICA. A Ficção Científica é um género principalmente literário e cinematográfico estruturado em torno de hipóteses que partem dos conhecimentos actuais (científicos, tecnológicos, etnológicos, etc.) para imaginar um futuro e/ou universos desconhecidos ou paralelos. Distinguindo-se do género Fantástico e da Fantasy, e apesar dos seus muitos subgéneros, o campo especulativo da ficção científica é, por definição, a ciência: a Ficção Científica imagina descobertas científicas ou tecnológicas (ou a ausências delas), retrata-as e analisa as suas implicações. Ora, ao procurar, através de uma narrativa, as consequências dessas mesmas descobertas, torna-se praticamente inevitável o descrever de uma sociedade de distopia. Porquê? Porque, contrariamente às sociedades de utopia – como a de Thomas More – o universo descrito pela Ficção Científica não tem como objectivo o retrato de uma sociedade ideal (“perfeita”) enquanto resultado de um plano de pensamento com vista à concretização ideológica do mesmo. Pelo contrário, e ainda que as sociedades descritas possam fazer intervir uma visão ideológica, na Ficção Científica o objectivo será sempre outro e, no caso da Ficção Científica para a distopia, o objectivo é o da encenação de um modelo crítico. Por outras palavras, enquanto que nas ficções para a utopia se procura “o melhor dos mundos”, na Ficção Científica “o melhor dos mundos” servirá apenas para poder descrever “o pior dos mundos”. Assim sendo, não é de estranhar que este género vá buscar o que de mais utópico em termos de pensamento existe na sociedade do seu tempo para, a partir dessa mesma utopia, retratar a sua distopia possível. Basta pensar que grande parte dos livros de Ficção Científica retratam sociedades de um futuro próximo em que, naturalmente, os valores sociais e morais

se regem pelos do presente em que o autor escreve o livro. Trazer esses valores para um mundo distópico mas próximo e imaginável para o leitor é o meio mais eficaz para o autor concretizar a sua denúncia. Para João Barreiros, autor de livros de Ficção Científica, “as utopias na Ficção Científica são tanto mais improváveis quanto o género se alimenta sobretudo de distopias. E, mesmo no caso das utopias – que há poucas – elas apenas servem para que tudo possa depois correr mal, já que, mesmo nas sociedades perfeitas, as pessoas continuam a ser, por natureza, imperfeitas”. Trabalhar a utopia até a transformar numa distopia, poderia bem ser o lema da Ficção Científica. Ainda assim, pedimos a João Barreiros que nos indicasse algumas obras em que a utopia faz a sua aparição. Um guia de leituras possível de lugares impossíveis.Alguns exemplos de utopias na ficção científica por João Barreiros:

ISLANDIA (1942) DE AUSTIN TAPPAN WRIGHT RAVAGE (1943) DE RENÉ BARJAVEL SEVEN DAYS IN NEW CRETE (1949) DE ROBERT GRAVES LIMBO (1952) DE BERNARD WOLFE THIS PERFECT DAY (1970) DE IRA LEVIN TRITON (1976) DE SAMUEL DELANY

*João Barreiros, nascido em 1952 e um dos mais aclamados autores portugueses de contos e novelas de Ficção Científica, é co-autor (com Luís Filipe Silva) do grande clássico da FC portuguesa; o romance Terrarium. Com inúmeros contos em várias antologias, dirigiu colecções de FC para as editoras Clássica (Colecção Limites) e Gradiva (Colecção Contacto). As suas histórias foram traduzidas para inglês, espanhol, francês, italiano e sérvio. Publicou recentemente a novela A Bondade dos Estranhos na Editora Chimpanzé Intelectual e uma mega colectânea das histórias mais recentes, Se Acordar Antes de Morrer, na Editora Gailivro.

Page 14: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

14 I ABRIL, 2010

PALAVRAS DADASTAL COMO NA EDIÇÃO ANTERIOR E, EM JEITO DE HOMENAGEM, FIZEMOS NOSSAS AS PALAVRAS DOS MÚSICOS. ASSIM SENDO, CADA TÍTULO DESTE JORNAL VOLTA A ESCONDER UMA CANÇÃO.

QUESTIONÁRIO UTÓPICO POR JP SIMÕESA TUA UTOPIA PREFERIDA?O Mundo.COMUNIDADE OU SOCIEDADE?Liberdade e paciência.IMPOSSÍVEL OU PERFEITO?Extraordinário.CIDADE OU LUGAR?Lugar na cidade.SOCIAL OU ÉTICO?Irmão gémeos.MORAL OU FÍSICO?Irmãos inseparáveis.PRINCIPAL CARACTERÍSTICA DE UM UTÓPICO?A Miopia.SE FOSSES UTÓPICO,QUEM SERIAS?A voz na cabeça de Jesus.UTOPIA NO FEMININO?Joana D’Arc.UTOPIA NO MASCULINO?Dom Quixote.PRINCIPAL CARACTERÍSTICADE UM UTÓPICO?A Amnésia.

UMA COR PARA A UTOPIA?Azul em fundo negro.A REPÚBLICA OU A CIDADEDE DEUS?Venha o diabo e escolha.MORE OU ITALO CALVINO?Italo Calvino, pela candura.O TEU SONHO DE CIDADE INVISÍVEL?Algo como “A Estranha Morte do Professor Antena.” Uma cidade que às vezes aparece dentro da nossa cidade, vinda de outra dimensão, e que, em vez de nos atropelar misteriosamente, nos segreda ao ouvido que vivemos, de facto, a tal segunda vida que às vezes aspiramos viver.UMA CANÇÃO PARA A UTOPIA?“Inquietação” de José Mário Branco.UM LIVRO PARA A UTOPIA?A Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud.UMA COMPANHIA PARA OS JARDINS DO ÉDEN?A boa vontade.QUAL A DIVISA DE UM UTÓPICO?Estamos quase lá.

CAPA“UTOPIA” Zeca Afonso

PÁGINA 4“CIDADE DO HOMEM” Zeca Afonso

PÁGINA 5“ANDANDO PELA VIDA”Vitorino

PÁGINA 6 “NÃO HÁ TERRA QUE RESISTA” Vitorino

PÁGINAS 8 E 9BOCA DIZ O QUE QUER” Boss AC

PÁGINA 10 “FADO PESSOA” Vitorino

PÁGINA 11 “ESTAR À ESPERA OU PROCURAR” B Fachada

PÁGINA 12“CAPITAL DA ALEGRIA” Zeca Afonso

“LERO LERO” Os Quais

PÁGINA 13“BARBARELA E A BARBA RALA”Samuel Úria

PÁGINA 14 “CADA UM”B Fachada“PALAVRAS DADAS”Carminho

PÁGINA 15“A CADA NÃO QUE DIZES” “PÁRA, RECOMEÇA, FAZ-ME ACREDITAR”Pedro Abrunhosa

DONATELLO, ANONIMA NUVOLARIUTOPIA: FIM DAS RELAÇÕES DE FORÇA Na sociedade real a maioria das pessoas tem tendência a ter um comportamento de força em relação aos mais fracos e de fraqueza com os mais fortes. Quanto mais pessoas conseguissem inverter este comportamento, mais próxima do meu ideal ficaria a sociedade.ANA CRISTINA TEIXEIRA, PERSONAL TRAINER, 25 ANOSUTOPIA: UMA SOCIEDADE HUMILDEA sociedade ideal seria uma sociedade humilde, que respeitasse o próximo, sem deixar de ter objectivos. Uma sociedade que quisesse sempre melhorar a sua qualidade de vida, trabalhando, procurando sempre aprender mais e evoluir. Deveria ser suficientemente aberta para aceitar outras opiniões ou, pelo menos, dar oportunidade aos seus próprios ouvidos de ouvir os outros falar. Se cada um olhar não só por si, mas pelo que o rodeia, o mundo decerto será um bocadinho melhor.FLORBELA BARÃO SILVAUTOPIA: A DISTOPIANo passado, o esperanto uniria a civilização emergida numa realidade babeliana no uso de uma língua comum. Nos nossos dias, identificam-se três principais utopias: a ecológica, a antropológica e a tecnológica. Esta última acredita que a humanidade acaba sempre por encontrar soluções técnicas para os seus problemas. A minha geração foi alvo da Prova Geral de Acesso ao Ensino Superior. Muitos recorreram a explicações ou a livros oportunistas sobre os hipotéticos temas a exame. Optei pelo tema livre e dei asas à imaginação ao escrever uma narrativa de ficção científica sobre um futuro catastrófico onde pessoas infectadas com o vírus da Sida eram isoladas em cápsulas que ficavam a vaguear pelo espaço. O texto começava por descrever o que eu observava como narradora ao fazer um zoom in no interior de um cocoon, e, eis quando, me apercebi que era também personagem daquela projecção que não era a de um futuro ideal (utopia) mas, sim, uma distopia; arriscando por um tema emergente naquela década e que me valeu um “bom”.RENATO RODRIGUESUTOPIA: A COOPERAÇÃOUma sociedade ideal seria uma comunidade mundial sem fronteiras nem religiões, sem escravos nem lacaios, sem oprimidos nem opressores. Um mundo onde a competição fosse substituída pela cooperação e a inveja pela compreensão, onde a dignidade fosse um direito adquirido à nascença e a igualdade uma realidade e não uma ficção.O homem hoje não nasce livre, nem o seu corpo lhe pertence enquanto a sua alma lhe é retirada aos poucos, até só restar uma fé no absurdo e uma esperança no impossível.O homem vendeu-se e perdeu-se, legalizou o roubo, enalteceu a ganância e louvou o compadrio fraudulento. Se outrora houve valores morais que cegavam ou alumiavam as massas, hoje só há valores materiais e o poder consequente.As conspirações tornaram-se negociações e, qual teatro da vida real, assistimos impávidos ao saque do pouco que nos deixaram ter.A democracia funcionará no dia em que todos formos políticos, mas a alienação das massas é o objectivo alcançado pelos que tomam as rédeas, e enquanto nós dizemos “eu não participo nesse circo”! Eles sorriem de contentamento, pois sem opositores nem alternativas tudo se torna possível na busca do lucro fácil.Não existe um master plan, mas sim uma ambição desmesurada de alguns, que jogando o jogo e fazendo as regras, nos limitam a formigar sem questionar, esperando a catarsis em que nos comemos uns aos outros.Uma sociedade ideal é possível quando sairmos das trevas e decidirmos o nosso futuro, quando confortavelmente sentados em casa, em vez de votarmos para o Marco sair da casa no Big Brother, votarmos decretos de lei, propostas de investimento e acções políticas importantes para a nossa região.Mas as leis de hoje são encomendadas por faces ocultas e moldadas por mãos habilidosas, que por migalhas e promessas vãs, enterram a cabeça na areia enquanto condenam o seu semelhante a uma vida de sacrifícios.E o homem tolera tudo, pois desde pequeno que lhe dizem que é assim, e enquanto tiver um pouco de pão, saciará a sua fome, dando graças ao nada pelo pouco que tem, temendo que piores dias virão.ADRIANA NIEMEYER, JORNALISTA CORRESPONDENTEUTOPIA: UM MAPA PARA PREGUIÇOSOSApesar das mais belas vistas compensarem o grande esforço que significa subir à Graça ou à Costa da Castelo, como utopia não posso deixar de imaginar um plano ou um mapa que indicasse como só se desce na cidade das sete colinas. A ideia não é nova e não é minha. Mas foi adoptada com muito carinho. O autor chama-se Duda Guennes, um jornalista brasileiro que chegou a Portugal antes do 25 de Abril e que tem a coluna semanal do jornal A Bola, considerada a mais antiga do país. Porque é que nós, que vivemos no “alto do morro”, não podemos ter as mesmas vantagens dos que vivem nas zonas baixas da cidade?Nada que os elevadores, as escadas móveis e a arquitectura não possam resolver para tornar a nossa vida muito mais confortável e evitar que a bela cidade fique deserta e se transfira para a periferia.

CADA UM...QUAL É A TUA UTOPIA? EM JEITO DE DESAFIO, EIS O REPTO LANÇADO NO CIBERESPAÇO PELO MUSICBOX E, EI-LAS; AS MELHORES RESPOSTAS!

Page 15: JORNAL LISBOA, CAPITAL, REPÚBLICA, POPULAR (2ª EDIÇÃO)

ABRIL, 2010 I 15

Top UTopiaaBRiLSoMoS LiVRESERMELINDA DUARTE

UTopiaZECA AFONSO

MUDaM-SE oS TEMpoS MUDaM-SE aS VoNTaDES JOSÉ MÁRIO BRANCO

CRaVo VERMELHoao pEiToJOSÉ BARATA MOURA

LiBERDaDESÉRGIO GODINHO

TEMoS a FoRÇa DoS VENToSVITORINO

ToURaDaFERNANDO TORDO/ARY DOS SANTOS

poRTUGaL RESSUSCiTaDoARY DOS SANTOS

pEDRa FiLoSoFaLMANUEL FREIRE

TOP UTó-PicOOne Love/ 1977BOB MARLEY

iMAGiNE/ 1971JOHN LENNON

What A Wonderful World/ 1968LOUIS ARMSTRONG

Another Brick in The Wall/ 1979PINK FLOYD

Message in A Bottle/ 1979THE POLICE

Heal The World”/ 1992MICHAEL JACKSON

On The Turning Away/ 1987PINK FLOYD

Blowin’ in The Wind/ 1963BOB DYLAN

Dreamer/1974SUPERTRAMP

Utopia/ 2002ALANIS MORISSETTE

SOPA DE LETRAS“PÁRA, RECOMEÇA, FAZ-ME ACREDITAR...”LOCALIZE ENTRE AS LETRAS DO QUADRO ALGUMAS DAS PALAVRAS/CONCEITOS QUE O 25 DE ABRIL PARTILHOU COM A OBRA UTOPIA DE THOMAS MORE. TENHA EM CONTA QUE ESTAS PODEM SER LIDAS EM QUALQUER DIRECÇÃO OU SENTIDO.

A CADA NÃO QUE DIZESQUESTIONÁRIO SOBRE A OBRA UTOPIA DE THOMAS MORE: UM JOGO DE MEMÓRIA PARA OS INICIADOS E UM CONVITE À LEITURA PARA OS APRENDIZES1. A PALAVRA UTOPIA...A) VEM DE A REPÚBLICA DE PLATÃOB) VEM DO FRANCÊS UTOPIEC) FOI CRIADA POR THOMAS MORE

2. QUANTOS LIVROS COMPÕEM A OBRA?A) 1B) 2C) 3

3. A OBRA UTOPIA É:A) UM DIÁLOGOB) UM MONÓLOGOC) UM RELATO DE VIAGEM

4. UTOPIA É...A) UMA ILHAB) UM VALEC) UMA PENÍNSULA

5. QUEM DESCOBRIU UTOPIA?A) UM FILÓSOFOB) UM COMERCIANTEC) UM NAVEGADOR

6. OS HABITANTES DE UTOPIA SÃO:A) OS UTOPIANOSB) OS UTÓPICOSC) OS UPOLITAS

7. POLITICAMENTE, UTOPIA É:A) UMA TIRANIAB) UMA REPÚBLICAC) UMA COMUNA

8. QUANTAS LEIS ESCRITAS EXISTEM EM UTOPIA?A) 10 LEIS GERAISB) NÃO EXISTEM LEIS ESCRITASC) O MÍNIMO POSSÍVEL

9. EM UTOPIA NÃO EXISTE:A) PROPRIEDADE PRIVADAB) NEGÓCIOS DO ESTADOC) TRANSACÇÕES EM OURO

10. EM UTOPIA, O TRABALHO É:A) OBRIGATÓRIOB) FACULTATIVOC) NINGUÉM TRABALHA

11. EM UTOPIA ESTÃO BANIDOS...A) OS MERCENÁRIOSB) OS ESCRAVOSC) OS ADVOGADOS

12. QUAL A ACTIVIDADE PRINCIPAL EM UTOPIA?A) O COMÉRCIOB) A AGRICULTURAC) A CAÇA

13. EM UTOPIA OS CIDADÃOS SÃO:A) AGNÓSTICOSB) MONOTEÍSTASC) POLITEÍSTAS

14. EM UTOPIA, OS INTELECTUAIS:A) NÃO EXISTEMB) SÓ PODEM EXISTIR EM NÚMERO LIMITADOC) FORMAM O GROSSO DA POPULAÇÃO

15. QUAL A IDADE MÍNIMA PARA O CASAMENTO EM UTOPIA?A) OS HOMENS E AS MULHERES AOS 18B) OS HOMENS AOS 21 E AS MULHERES AOS 16C) OS HOMENS AOS 22 E AS MULHERES AOS 18

16. QUAL O JOGO PREFERIDO EM UTOPIA?A) A BATALHA DOS NÚMEROSB) O XADREZC) AS DAMAS

Respostas:1, c | 2, b | 3, a | 4, a | 5, c | 6, a | 7, b | 8, c | 9, a | 10, a | 11, c |

12, b | 13, b | 14, b | 15, c | 16, a |

COMUNIDADE | MITO | PERFEITO | IDEAL | JUSTIÇA | SOCIEDADE | IMPOSSÍVEL | MUDANÇA | LIBERDADE | SONHO | FELIZ | MORAL

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DISTRIBUIÇÃO GRATUITAABRIL, 2010

MUSICBOXLISBOA.COMPASSATEMPO EM WWW.MUSICBOXLISBOA.COM/CONTESTSPREÇO: 10.EUROS€ P/ DIA . À VENDA EM BLUETICKET.PT E LOCAIS HABITUAIS

SAMUEL ÚRIA22H30 . CONCERTO . FOLCLÓRICA . LATINO . AMBIENTE . PT

BOSS AC23H10 . CONCERTO . HIP-HOP . RAP . PT

OQUESTRADA23H50 . CONCERTO . TASCA BEAT . PT

SEXTA,16B FACHADA23H . CONCERTO . POP . FOLQUE(LORE) MUITO ERUDITO . PT

CARMINHO23H40 . CONCERTO . FADO . PT

PEDRO ABRUNHOSA00H20 . CONCERTO . FOLK . ROCK . PT

SÁBADO,17OS QUAIS23H . CONCERTO . POP . PT

BRIGADA VICTOR JARA23H40 . CONCERTO . FOLK . POPULAR. ROCK . PT

VITORINO00H20 . CONCERTO . POPULAR . PT