jornal egbé - edição 02, ano 1

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Jornal Egbé a voz da comunidade Itanhaém Julho de 2016 Edição 02 Ano 01 www.jornalegbe.com [email protected] jornalegbe Jornal de distribuição gratuita A MÚSICA TEM CASA PRÓPRIA EM ITANHAÉM A Casa da Música atende toda a população da cidade e ministra cursos dos mais diversos instrumentos musicais. Página 9 O SURGIMENTO DOS TRÊS PODERES Sequência da série de reportagens sobre política percorre séculos de filosofia, de Aristóteles a Montesquieu, para mostrar como se formaram e o que são os três poderes. Página 4 QUANTOS DENTES VOCÊ TEM? A reportagem mostra os efeitos deletérios da cultura da extração dentária e especialistas dizem que há alternativas a essa prática. Página 8 Outro dilema que qualquer professor enfrenta atualmente: a resistência à leitura. Como ensinar alguém que ler é importante? Para formar bons leitores é preciso revisar o que ensinamos e, principalmente, o método utilizado. Nossos alunos estão pedindo inovação porque, com a cultura digital, eles têm acesso a muitas informações e são atraídos para outras linguagens e outras formas de interação. Pág.12 LEITURA, NOVOS DESAFIOS De acordo com o Instituto Pró-Livro (IPL), que traça um perfil dos hábitos de leitura do brasileiro, 56% leram ao menos um livro nos últimos 3 meses. Entretanto 44% continuam sem ler. É um quadro alarmante e que precisa urgentemente ser mudado, pois falamos em mais de 80 milhões de pessoas. Pág. 2 Língua Portuguesa ou Brasileira? O que os falares brasileiros revelam? Segundo os estudiosos, nossas origens e identidade. Quais as razões da nossa língua, do nosso jeito de falar serem tão diferentes do modo como o português fala e pensa? Apesar de termos sido colonizados pelos lusitanos, nosso vocabulário e nossa cultura seguiram por cami- nhos muito distintos. Apresentamos aqui algumas palavras que expressam a nossa diversidade da nossa ancestralidade. Pág. 10 Estudos científicos comprovam que as crianças inseridas no bilinguismo, desde a tenra idade, apresentam um grande desenvolvimento cognitivo, devido ao aumento de conexões cerebrais. Com isso, os alunos bilíngues desenvolvem melhor a atenção, a memória, o raciocínio e a criatividade. Pág.10 A escrita surgiu em muitas culturas e em diferentes momentos das suas próprias histórias: falar delas é falar da diversidade das trajetórias culturais de diferentes povos. No Ocidente, o surgimento da escrita levou ao surgimento das bibliotecas, a Nacional e a de Itanhaém. Pág. 6-7 Antônio Luz

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Segunda Edição, de 06/07/2016, com o tema "Leitura", traz reportagem sobre a Biblioteca Paulo Bomfim, sobre a Casa da Música de Itanhaém, entre outras.

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Page 1: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

Jornal Egbé a voz da comunidadeItanhaémJulho de 2016Edição 02 Ano 01

www.jornalegbe.com [email protected] jornalegbe

Jornal de distribuição gratuita

A MÚSICA TEM CASA PRÓPRIA EM ITANHAÉMA Casa da Música atende toda a população da cidade e ministra cursos dos mais diversos instrumentos musicais. Página 9

O SURGIMENTO DOS TRÊS PODERESSequência da série de reportagens sobre política percorre séculos de filosofia, de Aristóteles a Montesquieu, para mostrar como se formaram e o que são os três poderes. Página 4

QUANTOS DENTES VOCÊ TEM?A reportagem mostra os efeitos deletérios da cultura da extração dentária e especialistas dizem que há alternativas a essa prática. Página 8

Outro dilema que qualquer professor enfrenta atualmente: a resistência à leitura. Como ensinar alguém que ler é importante? Para formar bons leitores é preciso revisar o que ensinamos e, principalmente, o método utilizado. Nossos alunos estão pedindo inovação porque, com a cultura digital, eles têm acesso a muitas informações e são atraídos para outras linguagens e outras formas de interação. Pág.12

LEITUR A,NOVOS DESAFIOSDe acordo com o Instituto Pró-Livro (IPL), que traça um perfil dos hábitos de leitura do brasileiro, 56% leram ao menos um livro nos últimos 3 meses. Entretanto 44% continuam sem ler. É um quadro alarmante e que precisa urgentemente ser mudado, pois falamos em mais de 80 milhões de pessoas. Pág. 2

Língua Portuguesa ou Brasileira?O que os falares brasileiros revelam?

Segundo os estudiosos, nossas origens e identidade.

Quais as razões da nossa língua, do nosso jeito de falar serem tão diferentes do modo como o

português fala e pensa? Apesar de termos sido colonizados

pelos lusitanos, nosso vocabulário e nossa cultura seguiram por cami-

nhos muito distintos.Apresentamos aqui algumas palavras que

expressam a nossa diversidade da nossa ancestralidade. Pág. 10

Estudos científicos comprovam que as crianças inseridas no bilinguismo, desde a tenra idade, apresentam um grande desenvolvimento cognitivo, devido ao aumento de conexões cerebrais. Com isso, os alunos bilíngues desenvolvem melhor a atenção, a memória, o raciocínio e a criatividade. Pág.10

A escrita surgiu em muitas culturas e em diferentes momentos das suas próprias histórias: falar delas é falar da diversidade das trajetórias culturais de diferentes povos. No Ocidente, o surgimento da escrita levou ao surgimento das bibliotecas, a Nacional e a de Itanhaém. Pág. 6-7

Antônio Luz

Page 2: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

E

Jornal EgbéA Voz da ComunidadeCel. (13) 99682-7120

Editor-chefeAwdrey Sasahara

MTB:42944/SP

Diretor de arteAntônio Luz

Diretora comercial

Andréia Cerqueira

Diretor de mídias sociaisRodrigo Garcia

RevisãoAR. Textos & Contextos

[email protected]

jornalegbe.com

facebook.com/jornalegbe

@JornalEgbe

O Jornal Egbé não se responsabiliza

pela opinião de seus articulistas

Tiragem: 7.000 exemplares

Voz da comunidade

Temos um espaço reservado para todos os leitores e leitoras do Jornal Egbé manifestarem suas opiniões, críticas, sugestões e elogios sobre as matérias veiculadas.

Eu sugiro o tema "Empreendedo-rismos & Reciclagem" , incluir essa discussão nas escolas, em faculda-des. Eu separo o lixo e muitas vezes não sei para quem entregar.Já exis-tem cidades que têm a economia vol-tada para a reciclagem. Gostaria de ver no jornal.

Maria Dantas - Centro

Sugiro que falem sobre trabalhos voluntários no esporte.

Andreia Miranda, Umuarama

Gostaria de cumprimentar toda a equipe do jornal pelas excelentes matérias veiculadas na edição 01 do Jornal Egbé. Com certeza contribuí-ram para o debate sobre aspectos importantes da nossa cidade e re-gião, além de temas amplos, como a menstruação, que interessam a toda sociedade e o papel da Educação em diversos níveis.

João Moura - Suarão

Olá, li inicialmente o Jornal im-presso. Gostei, sinceramente. Gostei muito. Parabéns ao editor e seus co-laboradores. Matérias de interesse e densas de conteúdo!

Hildefonso Cirino, Satélite

O envio das mensagens pode ser realizado por nosso canal de contato: [email protected]

EXPEDIENTE

Abrimos este editorial sem deixar de agradecer a todas e todos que receberam de bra-ços abertos a primeira edição (de muitas) do JE. Recebemos muitos e-mails com vários elogios de incentivo, suges-tões – que já estão anotadas – e algumas críticas constru-tivas. Sabemos como é difícil transmitir cultura e educação neste país, de modo que os in-centivos de apoio nos trazem mais certeza da linha editorial que aqui propomos. Nesse ra-ciocínio, pretendemos ser A Voz da Comunidade, ou seja, prefeitura, comércio, socieda-de civil, enfim, toda a popu-lação pode e tem espaço para juntos fazermos de Itanhaém uma cidade cada vez maior (e melhor).

Agradecemos também aos colunistas e anunciantes, que apesar de ser um projeto novo e audacioso, acreditaram e pu-

deram participar contribuin-do e enriquecendo o conteúdo do jornal. Um abraço a eles e que nossa parceria perdure por muito tempo.

Mudando de assunto, se você está lendo este editorial, seja com um jornal em mãos, seja pela versão digital, é bem provável que se interesse por ler. Talvez não tenha o hábito ou leia muito pouco. De acordo com o Instituto Pró-Livro (IPL), que traça um perfil dos hábitos de leitura do brasileiro, 56% leram ao menos um livro nos últimos 3 meses. Entretanto 44% continuam sem ler. É um quadro alarmante e que precisa urgentemente ser mudado, pois falamos em mais de 80 milhões de pessoas.

Nesta edição trazemos uma reportagem especial sobre incentivo e benefícios da lei-tura, além do surgimento da

escrita ao longo da história, culminando com as bibliote-cas Nacional e de Itanhaém. Teremos também a Casa da Música, projeto da prefeitura que oferece aulas de diversos instrumentos musicais para aproximadamente mil pesso-as. Além disso, nossa coluna Por onde piso? traz o filho ilustre da cidade, Benedito Ca-lixto, e temos um texto da di-retora escolar Patrícia Caram Bastos sobre ensino bilíngue na educação. Finalizando, te-mos um texto bem bacana so-bre as influências africanas em nossa linguagem. Imperdí-vel. Esperamos que o leitor e a leitora gostem e aguardamos sugestões, elogios e críticas. Boa Leitura!

Awdrey [email protected]

jornalegbe

2Jornal Egbé EDITORIAL

LEITURA E EDUCAÇÃO

Os meios de comunicação de massa são de vital impor-tância na vida das pessoas. São por eles que os diversos acontecimentos que ocorrem em nossa sociedade são veicu-lados, servindo para informar, entreter, educar ou apenas ser

um instrumento de discussão de ideias. Já faz parte da vida das pessoas ler o seu jornal diário, esperar sua revista pre-dileta, seja semanal ou mensal, ouvir e assistir àquele progra-ma de rádio ou televisão. E, depois do advento da internet,

acompanhar em tempo real o que acontece tanto no Brasil como no mundo.

Ampliando nossa proposta editorial de levar informação, cultura e educação, além de abrir um espaço para nossa comunidade, no último dia 20 do mês de junho o Jornal Egbé (JE) inaugurou seu programa radiofônico intitulado “Egbé na Rádio”. Com intuito de am-pliar e aprofundar discussões com variados temas da socie-dade, Athus Rivas, João Luiz Carneiro e Rutinaldo Bastos recebem convidados nas ma-nhãs de segundas e quartas--feiras, sempre às 10hs. Além disso, os melhores momentos do programa são postados em vídeo em nossa página do Fa-cebook e canal do YouTube e todos podem participar do programa ao vivo, por meio de nosso e-mail, WhatsApp, Twit-ter, Facebook e telefone da Rá-dio Anchieta.

Não percam!

Jornal Egbé na rádio

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OPINIÃO Jornal Egbé 3

Uma mulher que era, foi e será sempre um bálsamo da inteligência lúcida a serviço dos direitos de liberdade

Em dezembro passado a revista Cult, em sua edição nº 208, realizou uma belíssima reportagem sobre a vida e a obra de Hannah Arendt, que é, sem nenhum favor, uma das maiores pen-sadoras do século XX e cujo legado in-telectual se converte em material ines-timável àqueles que têm interesse na sofisticada elaboração política de conte-údo demasiadamente humano.

Nascida em outubro de 1906, na ci-dade de Hanôver, Alemanha, Hannah Arendt tinha sólida formação filosófi-ca, mas não se considerava filósofa. De personalidade forte e olhar visionário, escreveu sobre temas de especial rele-vância sociopolítica como, por exem-plo, direitos humanos, automação no trabalho, crimes contra a humanidade e mentira na política. Era cética com relação a quase tudo, embora profunda teóloga. Acreditava no que tinha pos-sibilidade de demonstrar pela força da razão. Rechaçava a imposição política, tendo construído extraordinário estudo sobre a autoridade e o poder.

Origens do totalitarismo (1951) e A condição humana (1958) são as obras que contêm as ideias mais difundidas de Arendt. Em A condição humana, ela procura responder à pergunta: o que estamos fazendo? Para tanto, estuda o labor, o trabalho e a ação, e apresenta a imprevisibilidade e a irreversibilidade dos atos humanos como fator desen-cadeador de uma série de fragilidades. Sustenta que a diminuição das “fragili-dades humanas” estaria nas potenciali-dades do perdão e da promessa. Espe-cificamente com relação ao perdão, é interessante o que ela explicou: o “mal radical”, como os atos nazistas da 2ª Guerra, seriam insuscetíveis de perdão; a outra ideia é de que o que se perdoa não é o ato em si, mas o agente. Para ela, nesta segunda perspectiva, o perdão se-ria dirigido a alguém que cometeu algo. Seria, portanto, um ato de amor. Han-nah escreveu pelo amor à dignidade das pessoas.

Mulher verdadeiramente à frente do seu tempo, Arendt tinha grande coragem e jamais temeu enfrentamen-to com o poder. Era livre, refratária às amarras do sistema político limitador do pensamento. Ao analisar a vida des-sa professora de excepcional valor cien-tífico, fica evidente que ela não queria,

como não quis, convencer ninguém de nada. Afirmou certa vez que “não que-ria educar ou convencer”. Considerava que as pessoas não deveriam se esfor-çar para concordar com ela, mas que todos se dispusessem a ouvir o que es-tava sendo dito apenas para compreen-der o que estava sendo dito, e não para assumir aquilo como verdade.

O que mais me impressiona em Arendt é a maneira com que ela, numa época tão sombria como a Alemanha do final dos anos 30 e início dos 40, conce-beu ideias substancialmente imprescin-díveis à formulação de uma doutrina de direitos humanos que ainda hoje é am-

pliada pela revisitação de sua obra, que fixou a noção do “direito de ter direitos” a partir da experiência do displaced people, dos refugiados. Traduzindo em miúdos, a partir da constatação da rea-lidade, ela definiu que somente quem tem acesso à ordem jurídica é que pode pensar no direito de ter direitos – o que considerava um atentado à dignidade humana. Acreditava, como hoje já está definido na ordem internacional, que não basta estabelecer que as pessoas têm direitos se elas não têm uma ordem jurídica de cidadania que os garanta. A ideia de direitos humanos está vincula-da a isso. Alguém, um ser humano, pela

sua simples condição de pessoa, mes-mo que sem cidadania formal reconhe-cida, tem direitos e, nessa concepção formulada por Arendt, deve receber – e obter – a garantia de sua efetivação.

Também considero excepcional o modo como Hannah enxergava a pre-sença política das pessoas no espaço público. Dizia que nós, seres humanos, “somos do mundo, e não apenas es-tamos nele”, em que necessariamente vemos e somos vistos. Logo, para ela, não bastava que fôssemos; era preciso que aparecêssemos (exatamente as-sim) ser. Você pode imaginar que essa formulação não era até então inédita. Mas era. Arendt afirmava, a partir dis-so, que “neste mundo em que chegamos e aparecemos vindo de lugar nenhum, e do qual desaparecemos para lugar nenhum, ser e aparecer coincidem”. Ou seja, quem aparece é porque é – ou é o que aparece. A formulação é política. Nesse ponto, ela não tratou da essência das pessoas. Falou da maneira como nós somos e como aparecemos na per-cepção do espaço público, no exercício de “promulgação de opiniões, expondo--se ao teste dos outros”.

Em 1964, em histórica entrevista ao jornalista Günter Gaus, Hannah Arendt iniciou dizendo que era alguém que “não se enquadrava em nada”. De fato. Ela era ela: demasiadamente original, corajosa e autêntica. Hoje, neste mundo de divisão política e de sectarismo, que flerta com o conservadorismo de extrema direita, é triste perceber que os problemas de existência política que ela tanto combateu continuam vivos, e que, a despeito de estar teoricamente consolidado nos sistemas políticos que “a pluralidade é o que caracteriza a condição humana”, a verdade é que o diferente não encontra lugar neste espaço em que um quer ser e aparecer melhor que o outro, tentando se distinguir pelo ter e se tornando “enquadrado” no modelo de uma sociedade de consumo desenfreado em que o ser não vale nada.

Rutinaldo BastosAdvogado, professor universitário Presidente da 83ª Subseção da OAB/SP

REPRODUÇÃO

Page 4: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

Continuando nossa série de re-portagens sobre a instrumentaliza-ção da política, levantamos alguns aspectos fundamentais tanto histó-ricos como conceituais. Para o filó-sofo grego Aristóteles, em seu texto intitulado Política, o homem é um animal político por natureza, pois tem o dom da palavra, sabe distin-guir entre bem e mal, e justiça e in-justiça. Dona Maria, 63 anos, dona de casa e moradora do bairro Jd. Sabaúna, nunca teve acesso à obra aristotélica, porém, mesmo sem sa-ber quem foi, tem a nítida noção de seu pensamento. “Assim que ponho o pé para fora da cama e vou com-prar o pãozinho do café da manhã, já estou fazendo política”, diz.

Para o historiador e professor universitário Pedro Barbosa dos Santos, quando se fala em política, as pessoas ainda estão muito liga-das ao ato de votar. “Não se ensina que a política está no preço dos pro-dutos do supermercado, no custo da saúde, da educação, no trabalho, na segurança pública, na escola de samba, no time de futebol e assim por diante”, explica o professor.

O termo (conceito) política sur-giu na Grécia antiga, mais especi-ficamente em Atenas 2500 anos atrás, onde as pólis eram as ci-

dades-estados, que por extensão podiam significar sociedade, co-munidade, coletividade, em que os cidadãos se reuniam para falar sobre a cidade. Nessa ocasião pro-punha-se que todo cidadão podia se apresentar e assumir funções públicas de comando que até en-tão estavam de maneira despótica na mão dos tiranos. Apesar de ain-da haver uma aristocracia, da qual mulheres, escravos e estrangeiros não participavam, pessoas até en-tão excluídas puderam participar. Os cargos públicos eram sorteados em assembleia popular e os elei-tos trabalhavam na administração das pólis com uma característica fundamental, a rotatividade para evitar apego ao poder. A partir daí surgem os processos democráticos com a valorização do espaço pú-blico (ágora) e intenção de debater questões sociais e melhor adminis-tração da cidade.

Fazendo um paralelo entre a de-mocracia ateniense e os dias atu-ais, vê-se um grande descompas-so. A democracia que idealizamos e a realidade em que vivemos nos afastam da política. Esse modelo democrático proposto na Grécia era participativo, ao passo que o mode-lo atual é o representativo, no qual

elegemos pessoas que decidem por nós. Com a complexidade do mun-do atual, seja no excessivo número de pessoas, nas grandes extensões territoriais, ou nos conflitos entre determinados grupos sociais, a de-mocracia representativa nos deixa longe das decisões. “O eleitor se sente distante do eleito. O ato de votar é automático, sem valor deci-sivo”, completa o historiador Pedro Barbosa dos Santos.

Em meados do século XVIII, o fi-lósofo francês conhecido como Ba-rão de Montesquieu estrutura a te-oria de separação dos poderes que serviria de modelo para algumas constituições que perduram até os dias atuais. O objetivo era frear o absolutismo e corrigir os excessos dos reis no fim da Idade Moderna. “Todo homem investido de poder tende a abusar dele”, dizia.

“O Espírito das Leis” propunha que os poderes executivo, legisla-tivo e judiciário tivessem funções independentes, delimitadas e autô-nomas, porém harmônicas dentro do processo de governo da unidade chamada Estado. Em 1776, os Esta-dos Unidos, na Declaração de Inde-pendência, e, 13 anos mais tarde, a Revolução Francesa adotariam essa sistematização proposta pelo filósofo. No Brasil, desde sua pri-meira Constituição, em 1824, e em alguns períodos em que não houve

governo despótico, como a ditadura militar, que cassou a autonomia do legislativo e judiciário, esse mode-lo foi utilizado. Na próxima edição discutiremos mais a fundo como esse processo desenvolveu-se em nosso país, desde a colônia até a re-pública. Até lá.

Awdrey Sasahara

4Jornal Egbé POLÍTICA

Surgimento da política e dos 3 poderes

MONTESQUIEU

Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, conhecido como Montesquieu (castelo de La Brède, próximo a Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 — Paris, 10 de Fevereiro de 1755), foi um político, filósofo e escritor francês. Ficou fa-moso pela sua teoria da separação dos poderes, atualmente consagrada em muitas das modernas constituições internacionais. ((Fonte: Wikipedia)

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ECONOMIA Jornal Egbé5

PRECISA DA NOTA?ENTENDA O QUE É SONEGAÇÃO FISCAL, POR QUE ACONTECE E COMO EVITAR

É o ato realizado visando su-primir ou reduzir tributo, me-diante omissão, fraude, falsi-ficação, alteração, adulteração ou ocultação. Talvez o exemplo mais simples de sonegação seja o ato de deixar de emitir a nota fiscal, quando devida. Muitos são os conceitos e as teses en-volvendo a relação entre socie-dade e Estado, especialmente quando se trata da questão fis-cal. Por parte da Administração Tributária existe o entendimen-to de que o contribuinte só cum-pre suas obrigações sob coerção e, por isso, sobrecarrega tanto as pessoas físicas como as em-presas com uma enorme carga de obrigações, aplicando pesa-das multas pela falta de cumpri-mento de suas normas e prazos. Do lado da sociedade existe a descrença no retorno do dinhei-ro pago com os tributos, em função da má aplicação do di-nheiro arrecadado e, principal-mente, por conta da corrupção.

Com toda certeza, é verdade que não há Estado sem a arre-cadação de tributos. Mas não pode haver sobrecarga tribu-tária em um Estado justo. Daí surge a questão: os tributos aumentam porque a sonega-ção é alta ou a sonegação é alta porque os tributos aumentam? Não é possível saber o que co-meçou primeiro, o que importa é que esse círculo vicioso pre-cisa ser interrompido sob pena de jamais conseguirmos atingir a justiça fiscal em nosso país. Afinal, é impossível pensar em um Brasil desenvolvido, pro-dutivo e competitivo enquanto o contribuinte tiver que traba-lhar mais de 4 meses só para pa-

gar impostos. Da mesma forma, para o empresário que arca com o alto custo Brasil, seja ele gran-de, médio ou pequeno, torna-se injusto e desleal ter que compe-tir com concorrentes que agem na ilegalidade, que não emitem notas fiscais e contratam em-pregados por fora, sem regis-tro na carteira profissional.

Mas é possível mudar essa si-tuação? Acreditamos que sim, através da efetivação da de-mocracia e do controle social. A sociedade precisa deixar de ser encarada pelo Estado como “cliente” dos serviços públicos e passar a se enxergar como “pro-prietária” do Estado, seguindo o que prescreve a Constituição Federal em seu Artigo 1º, pará-grafo único: “Todo poder ema-na do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Enquanto a sociedade não assumir sua responsabilidade sobre a fisca-lização e o controle da “coisa pública” participando de Asso-ciações de Bairro, Entidades de Profissionais, audiências pú-blicas, Conselhos Municipais, fiscalizando seu representante no Parlamento e no Executivo, tal situação dificilmente muda-rá. Tão ou mais importante de tudo o que foi dito, talvez, é a quebra do paradigma de se “le-var vantagem em tudo”. A socie-dade precisa fazer a parte dela tanto nas grandes como nas pe-quenas ações do dia a dia, como não adquirir produtos piratas, obedecer às leis de trânsito, exi-gir nota fiscal, enfim, respeitar as leis e o direito do próximo.

Francisco Garzon foi secre-

tário de Desenvolvimento Eco-nômico na gestão anterior e secretário de Saúde na gestão atual. É também responsável pela Contabilidade e Imobiliá-ria Itanhaém.

Olá! Na primeira edição do Jornal Egbé, falamos sobre a importância de entender os conceitos básicos da conta, como o significado de potência dos equipamentos em Watt (W) e energia elétrica medida em quilowatt-hora (kWh). Desta vez falaremos sobre o quanto a lâmpada LED pode fazer a diferença na economia da casa. Sabendo-se que a iluminação equivale aproximadamente 35% do valor final da conta de energia, podemos fazer algumas comparações a fim de acharmos valores correspondentes a essa economia.

Estimando-se um consumo mé-dio de uma residência em torno de 250 KWh e o consumo de ilumina-ção representando 35% desse con-sumo, teríamos em torno de 87,5 KWh só na iluminação. Se analisar-mos a tabela abaixo, comparando a lâmpada fluorescente compacta com a LED, podemos perceber que a lâmpada de LED tem uma potên-

cia 50% menor que a fluorescente compacta. Com isso estimamos que a economia seria de 43,75 kWh por mês. Se a o valor do kWh for R$ 0,67, teríamos uma economia média mensal mínima de R$ 30,00. Se considerarmos o preço de uma lâmpada LED de 6 W como R$ 15,00 poderíamos comprar 2 lâmpadas por mês só com a economia. Em 10 meses trocaríamos as lâmpadas da casa, sendo a economia real alcan-çada a partir do décimo mês. Se a duração do LED for de 8 anos, te-ríamos uma economia no 86° mês (em 7,2 anos) de R$ 2.580,00. Vale ou não a pena?

Mas será que a lâmpada de LED ilumina o mesmo que a lâmpada fluorescente? Será que tem o mes-mo conforto visual que a lâmpada incandescente? Na próxima edição do Jornal Egbé contarei todos es-ses segredos da economia da lâm-pada de LED.

Vagner Costa CEO da TecnoResolve CREA: 2003100864

ECONOMIA DE ENERGIA ATRAVÉS DA LÂMPADA LED

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No âmbito da educação, há um consenso segundo o qual a leitura traz muitos benefícios para quem a pratica. Por ela, desenvolve-se e aumenta-se o repertório linguístico, bem como é um meio de desenvolver o senso crítico, ampliar o vocabulário, estimular a criatividade e, consequentemente, facilitar a escrita. Nesse raciocínio, dentro de um processo natural e até histórico, ela só existe porque em algum momento a humanidade optou por registrar todo seu conhecimento pelo processo da escrita. Antes, as sociedades antigas comunicavam-se e transmitiam seu conhecimento aos seus descendentes pela oralidade, ou seja, por contos, histórias, rezas, provérbios, cânticos, entre outros. Apesar de não ser considerada uma escrita de fato por não possuir significado linguístico, a protoescrita surge no período neolítico, entre 10 000 e 7 000 a.C., e serviria como base para o que futuramente seria a escrita propriamente dita.

Alguns milênios à frente, os Mesopotâmicos desenvolveram uma escrita silábica gravada em placas de barro denominada cuneiforme. Nesse mesmo período os egípcios desenvolveram duas formas de escrita. A demótica, que era mais simples, e a hieroglífica, que se constituía de desenhos e símbolos. De acordo com o historiador Pedro Barbosa dos Santos, a escrita mostrava o caráter místico/religioso da época, pois refletia uma vida pós-morte. “Nas paredes internas das pirâmides havia rezas em forma de textos que contavam a vida dos faraós e traduziam mensagens para espantar possíveis saqueadores”, explica Santos. Além disso, era produzida uma espécie de folha chamada papiro, utilizada para se escrever.

Entretanto, a partir da influência fenícia, foram os gregos que desenvolveram o que podemos considerar o primeiro alfabeto “real”, pois apontava de maneira clara letras compostas de consoantes e vogais. Além disso, influenciou o alfabeto latino, que é um dos mais utilizados no mundo atual. Concomitantemente surgem os pergaminhos, que eram peles de animais esticadas e preparadas para escrever. Mais à

frente, no provável ano 105 d.C., os chineses inventariam o papel, utilizando diversas matérias-primas, como o cânhamo, juta, linho, algodão, bambu, entre outras plantas. Isso contribuiu para a disseminação da escrita numa escala maior.

Apesar disso, a leitura e escrita estavam restritas a poucos privilegiados que sabiam ler e escrever. Na Grécia, apenas filósofos e aristocratas tinham acesso, enquanto em Roma desenvolveu-se como forma de garantir os direitos dos patrícios e sua propriedade. Na Idade Média, centralizou-se no clero, de modo que a maioria da população era analfabeta e somente com o desenvolvimento das atividades comerciais e manufatureiras cresce a necessidade de disseminar esse conhecimento e o aporte com a instrução.

É neste contexto que surgem as primeiras bibliotecas no mundo ocidental. “É difícil dizer qual foi a primeira a ser criada, até porque em essência elas já existiam antes do livro. Só para citar alguns, babilônicos, assírios, egípcios, persas, chineses já reuniam seus

acervos registrados em placas de argila, papiros e pergaminhos”, explica Santos. Registros apontam a biblioteca de Nínive, capital do império Assírio, atual Iraque, como a mais antiga. Porém, a mais famosa foi a de Alexandria no Egito, com aproximadamente 500 mil volumes. Fundada por Ptolomeu I Sóter, rei do Egito, teve no poeta Calímaco sua primeira catalogação e, segundo a lenda, foi totalmente destruída por um incêndio. Próximo aos primeiros séculos a.C., os romanos mais abastados começaram a criar bibliotecas particulares com obras gregas e latinas. A crescente procura deu origem ao comércio de livros e o estabelecimento de bibliotecas públicas em Roma.

No Brasil, a primeira biblioteca instituída oficialmente foi a Biblioteca Nacional (BN), na cidade do Rio de Janeiro, com acervo inicial de 60 mil peças trazidas por D. João VI na sua fuga ao Brasil, em razão da invasão de Napoleão a Portugal em 1808. Dois anos depois, com data de 29 de outubro, é marcada a fundação oficial, porém sua entrada era restrita apenas a estudiosos,

mediante consentimento da coroa. Somente em 1814 foi finalmente aberta ao público. Hoje, a BN possui um acervo de mais de 700 mil peças, chegando a 300 mil livros impressos. Em 2006 é lançada a BNDigital, que integra coleções digitalizadas em parceria com instituições nacionais e internacionais. Hoje, recebe mais de 500 mil acessos mensais para consulta dos mais de 900 mil documentos disponibilizados, que correspondem a mais de 11 milhões de páginas. São 160 Terabytes de arquivos digitais armazenados e disponibilizados ao público com segurança. Livros, mapas, fotografias, desenhos, gravuras, discos, partituras, revistas, jornais, manuscritos e outras publicações podem ser acessados de qualquer lugar, sem custo. Para mais informações, o site é www.bn.br

Diferentemente da Idade Mé-dia, época em que os livros eram de difícil alcance à população, hoje podemos dizer que o acesso a es-ses ambientes é bem vasto, apesar da mudança desse quadro históri-co não ser do dia para a noite. Há

6Jornal Egbé CAPA

As Letras como patrim

ônio

da humanidade

DIVULGAÇÃO

Page 7: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

também uma mentalidade her-dada daquele período segundo a qual bibliotecas são locais elitiza-dos e inacessíveis, e que seu con-sumo é uma obrigação, e não algo natural. Para Maraléia Menezes de Lima, responsável pelas ativi-dades da biblioteca de Itanhaém há mais de dez anos, o correto se-ria destituir esse peso obrigatório da leitura e transformá-lo em um ato espontâneo do cidadão e do frequentador desses ambientes. “As pessoas vêm porque querem e gostam. Os bibliotecários devem sempre ter um pensamento ino-vador. Além disso, as bibliotecas não devem ser mais um lugar só de emprestar livro ou de estimu-lar a leitura. Ela tem que ser pen-sada em uma dimensão que possa acolher diferentes tipos de apren-dizado, seja coletivamente ou por si só”, ressalta.

Em Itanhaém, a biblioteca fun-ciona muito além do empréstimo de livros. É um polo cultural, edu-cacional e – por que não dizer? – político. Além do empréstimo de livros, a biblioteca realiza ofici-

nas culturais com cursos de pipa, origami, história em quadrinhos, desenho e pintura, cursos de in-formática e redes sociais para terceira idade, curso de elabora-ção de currículos, bate-papos com autores consagrados, exposição e lançamentos de livros, rodas de poesia, peças teatrais, além de se-diar eventos da Academia Itanha-ense de Letras, como a semana li-terária. Karina Ramos, estudante de 16 anos, frequenta a biblioteca desde os nove anos e acredita ser de grande valia. “Faz sete anos que venho com minha irmã mais velha e os livros emprestados me ajudaram muito nas minhas pes-quisas”, diz a estudante. “Além de ser um espaço democrático, me-xemos também com a economia criativa, pois muitos que saem da-qui acabam até trabalhando e sen-do remunerados no que aprende-ram”, completa Léia.

Fundada em 14 de dezembro de 1964, e após várias mudanças, ganhou sede própria no dia 22 de abril de 1999, ocupando hoje o prédio onde funcionava anterior-

mente a Prefeitura Municipal de Itanhaém. O acervo é composto de livros, folhetos, mapas, manus-critos, gibiteca, revistas e livros adaptados para deficientes visu-ais (Braille), além de audiobooks. A coleção de livros contempla todas as áreas do conhecimento humano e conta com aproximada-mente 50 mil volumes, dos quais grande parte foi adquirida atra-vés de doação. Seu acervo inicial foi formado por obras adquiridas pela doação de intelectuais bra-sileiros, entre eles o Poeta Paulo Bomfim, que dá seu nome ao lo-cal. Além disso, atende em média 350 usuários por dia, prestando serviços a professores, alunos e pesquisadores, servindo a toda a comunidade. Por ser a maior Bi-blioteca da região, atende também usuários de municípios vizinhos, como Mongaguá e Peruíbe. O pú-blico frequentador é heterogêneo, dividindo-se em crianças, jovens estudantes e terceira idade.

A última novidade é uma gela-deiroteca, instalada inicialmen-te na prefeitura e futuramente

em mais cinco pontos na cidade, como Rotary Club, Rodoviária, UPA e bairros mais afastados do centro, como Gaivotas e Loty. Os livros podem ser retirados gratui-tamente, de modo que é necessá-rio devolvê-los para que outras pessoas também possam usufruir. Não é necessário realizar cadas-tro, basta apenas comparecer nos horários de funcionamento de cada local. Vale lembrar que a Biblioteca está localizada na rua Cunha Moreira, 71, no Centro, e recentemente foi reformada e repaginada para atender melhor seus usuários. “Apesar de algu-mas pesquisas dizerem que há muita gente que não lê, prefiro me focar nas pessoas que leem. Tem muita gente lendo e querendo ler. Quando você vê pessoas que gos-tam, que têm o hábito e estão aqui diariamente, isso te motiva a fa-zer mais e melhor. Nessa cidade temos muitos leitores. A leitura é libertadora em todos os sentidos. Venham conhecer”, finaliza.

Awdrey Sasahara

CAPA Jornal Egbé 7

BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO - DIVULGAÇÃO

As Letras - Biblioteca

Page 8: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

Os dentes são órgãos essen-ciais dentro da constituição humana. Afinal, são por eles que se inicia o processo de ali-mentação. Entretanto sua fun-ção não se limita à mastigação dos alimentos, seja triturando, perfurando, cortando ou mo-endo. Relacionam-se também com a fonação, com o desen-volvimento adequado da maxi-la e mandíbula, com a saúde da gengiva e ainda influenciam no processo respiratório e estéti-co do rosto.

Para Fernanda Aterje, dentis-ta com 17 anos de profissão e que atende em vários consul-tórios na cidade de Itanhaém, problemas bucais não tratados podem gerar doenças em ou-tras partes do organismo, além de causar uma exclusão social imposta pelos padrões estéti-cos exigidos pela sociedade. “A saúde começa pela boca. O san-gue que entra e sai do coração é o mesmo que irriga a gengiva. Nosso organismo não trabalha separado e uma doença nunca é algo pontual e específica. Cui-dar da boca significa zelarmos pela saúde do nosso corpo. O aspecto dos dentes ou a ausên-cia deles atrapalha a vida so-cial, seja no afeto, amizades e até no trabalho”, explica.

Desde as antigas civilizações até povos mais recentes, sem-pre houve uma preocupação com a saúde bucal. Historia-dores dizem que os egípcios inventaram a pasta de dentes com misturas à base de sal, pimenta, menta e flores. Com-pressas quentes e aplicações de vapor eram utilizadas para o alívio da dor, assim como a acupuntura pelos chineses por volta de 2700 a.C. Além disso, bochechos com água e folhas

de hortelã eram utilizados para deixar o hálito mais agradável.

Contudo, antes de existirem os atuais dentistas, o cuidado com a saúde bucal era feito de forma amadora e até com cer-to requinte de tortura. Isso porque não havia exames para identificar os problemas e tudo era resolvido com a “extração do elemento causador”. Além disso, não se usava anestesia e, às vezes, o procedimento era realizado com as próprias mãos. Infelizmente, em muitas regiões do Brasil ainda existe a cultura de “arrancar dente”. Para a endodentista Cristiane Lugli, que também atende em Itanhaém, o medo, a falta de cultura, as baixas condições financeiras e, frequentemente, profissionais despreparados

acabam levando o paciente à extração dental, quando pro-vavelmente o melhor método seria o tratamento restaurador.

Com relação a esse assunto, Fernanda é enfática. “A cultura de extrair os dentes é uma total desvalorização do ser huma-no consigo mesmo. Afinal de contas é uma mutilação igual quando perdemos um braço, uma perna ou um dedo. An-tigamente não existia um pro-cesso de conscientização, não havia muitos profissionais e tudo era muito precário. Mas

estamos em pleno século XXI. Temos internet, televisão e melhor acesso às informações. Melhoramos muito, pois o Bra-sil era considerado o país dos desdentados, mas sabemos que hoje temos uma odontologia de ponta que não fica atrás dos EUA e Europa”, ressalta.

Roberto Almeida, dentista

com consultório no bairro do Suarão, acredita que as desi-gualdades e exclusão social guardam forte relação com a experiência das doenças bu-cais. “Desemprego, pobreza, má distribuição de renda, baixa escolaridade, entre outros, são catalisadores determinantes e que contribuem para esta reali-dade. Além dessa desvantagem social, o acesso ao tratamento inexiste para os mais de 30 mi-lhões de brasileiros que o IBGE estima nunca terem visitado um dentista”, explica.

Além do consultório parti-cular, Roberto também faz um trabalho voluntário em diver-sos bairros com comunidades carentes, atendendo uma par-cela da população que não pode pagar um dentista. “Precisamos trabalhar com prevenção. Esco-var os dentes após as refeições, usar fio dental e, principalmen-te, não dormir sem a escovação, fazendo a limpeza da língua e bochechas, o que irá contribuir e garantir maior qualidade de

vida”, argumenta Roberto, que usa o slogan em seu consultó-rio “sorriso é coisa séria”.

A prefeitura de Itanhaém desde 2013 mantém o Centro Especializado em Odontologia (CEO), que é uma unidade de atendimento especializado em odontologia. Conta com profis-sionais das seguintes especiali-dades: endodontia (tratamento de canal), a periodontia (do-enças da gengiva), a estoma-tologia (diagnóstico bucal), o bucomaxilo (cirurgias) e mais um dedicado a atender pesso-as com deficiência intelectual e física. Para obter o atendimen-to, o paciente deverá passar primeiro por um dentista de uma das Unidades de Saúde da Família (USF) mais próxima, passará pela avaliação e será encaminhado para tratamento. O CEO fica localizado na Ave-nida Tiradentes, 184, no Jardim Mosteiro, próximo à escola Jon Teodoresco. O atendimento é feito de segunda a sexta-feira das 7 às 17 horas. O telefone é (13) 3422-6972.

Desde o ano de 1982, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece metas como forma de avaliação e de estabelecer parâmetros para a melhoria da saúde bucal das populações. “Tento incentivar meus pacientes a tomarem consciência da importância da escovação e de sempre ir ao dentista para uma manutenção da higidez bucal. O retorno é bem baixo, mas não desisto, continuo falando, cuidando e zelando pela saúde oral dos meus pacientes, afinal de contas sou uma profissional da saúde bucal”, finaliza Fernanda.

Awdrey Sasahara

8Jornal Egbé SAÚDE 8Jornal Egbé SAÚDE

Arrancar dentes, uma extração social

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Endereço

Rua Teodoro Ratisbone, 803Suarão - Itanhaém - SPProx. aos Correios

Page 9: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

Dentre os diversos tipos de arte pro-duzidos pela natureza humana, a mú-sica talvez seja a que mais fale à alma. Dificilmente ela passa despercebida na vida das pessoas. Para o musicólogo e professor aposentado pela Universi-dade Estadual Paulista (UNESP) Alber-to Ikeda, os povos antigos baseavam suas crenças a partir de cantos e sons, porém historicamente é impossível dizer como isso surgiu. Para algumas culturas a música teve uma origem di-vina, pois acreditavam que os sons fo-ram dados pelas divindades e tinham relação direta com o universo. Assim apareceram diversas lendas e mitos sobre sua origem. “Desde as primeiras comunidades étnicas, como trata a an-tropologia e que inclui os índios brasi-leiros, as manifestações ligadas à reli-giosidade tinham a música como ele-mento essencial”, explica o professor.

Em Itanhaém, desde 2005 o de-partamento de Cultura da prefeitura mantém a Casa da Música, institui-ção criada com o intuito de incen-tivar o acesso às artes musicais e promover socialmente a inclusão da população local. Até essa data, as ati-vidades eram realizadas nas diversas oficinas e polos culturais da cidade, porém, a partir de sua inauguração, obteve melhor estrutura e visibilida-de para atender os futuros músicos.

Júlio César Nascimento dá aulas de violão há 20 anos. Formado em regên-cia, com uma base erudita, alia a téc-nica da música clássica ao repertório popular. “O violão é mais acessível do que outros instrumentos e faz com que tenha mais procura”, afirma o pro-fessor, que dá aulas para todas as ida-des e também para deficientes visuais.

Além do violão, há aulas de contra-baixo elétrico, guitarra, bateria, tecla-

do, piano, canto, percussão, trompete, trompa, trombone, linha de frente, eufônio e aulas de desenho e pintu-ra. Tem aproximadamente mil alunos matriculados, na faixa etária de 4 a 80 anos. Juliana Galiati resolveu ma-tricular os dois filhos de 10 e 11 anos de idade, pois acredita que a música é também uma forma de educação. “Além de ser cultura é também educa-tiva. É um aprendizado que se pode levar para o resto da vida. Talvez até sigam como profissão, pois eles gos-tam mesmo”, completa a mãe. Já Bru-na Lima, moradora do Belas Artes e mãe de Ana Beatriz, buscava alguma atividade que não estivesse relaciona-da aos meios tecnológicos. “Diferente do computador ou celular, a música é um momento da pessoa com ela mesma. Além disso, exige treino e dis-ciplina, que trazem desenvolvimen-to para a pessoa”, completa Bruna.

Entretanto, as aulas da Casa da Música não estão restritas às crianças e adolescentes. Dona Miriam Lopes Sobrinho, 66 anos, estuda violão há 3 anos. Para ela o instrumento serve como uma terapia: “Era um sonho que tinha desde criança, mas não con-segui realizar por não ter condições. Além disso, a música é uma ativida-de que evita a solidão e a monotonia. Posso tocar em festinhas com ami-gos e em casa também”, relata. Para seu Júlio, a música está na alma das pessoas e remete a pensar e refletir o mundo. “Comecei este ano e estou gostando muito. Os professores são muito bons e atenciosos”, ressalta.

Seu corpo docente é formado por 18 instrutores culturais que aliam aulas teóricas e práticas. “As duas se complementam, assim como concei-tos históricos, técnicos e estilísticos.

Com relação ao aprendizado da par-titura, são trabalhados todos os mé-todos de leitura rítmica, melódica, estrutural e seus principais símbolos e sinais. Em alguns instrumentos, como o violão, a guitarra e o tecla-do, também se trabalha a cifragem popular”, explica Yara Maria Assun-ção, coordenadora da instituição.

Antônio Cestari é um exemplo que gerou frutos. Após ser aluno da instituição por alguns anos, resolveu seguir carreira e hoje trabalha como professor. Além de cursar faculda-de de música, passou também pelo conservatório e finalmente, por meio de concurso público, voltou ao local onde tudo começou. Apesar de já ter interesse musical, quem o levou foi sua mãe, que iria estudar desenho e pintura na Casa da Música. No início o intuito era aprender guitarra e vio-lão para montar uma banda de rock, porém, por influência de um profes-sor que estava se formando, foi in-centivado a prosseguir nos estudos, tornando-se bacharel. “A música é mi-nha vida. Vivo, estudo, ensino, respiro música. Não vivo sem ela”, completa.

A influência da Escola também foi fundamental na vida de Anderson Oli-veira. Assim como Antônio, também foi aluno e agora é professor. “A Casa da Música é de fundamental importância para muita gente, pois, além de muitos saírem daqui e fazer faculdade de mú-

sica, outros acabam tocando na noite como músicos profissionais. Inclusive muitos foram meus alunos. E mais: vejo uma grande inclusão social, pois mistura pessoas de diversas classes so-ciais com o objetivo de aprender o ins-trumento”, conta Anderson, que não somente é bacharel, como também fez pós-graduação em educação musical.

Apresentações externas semes-trais organizadas pela prefeitura proporcionam uma interação do que se aprende em sala de aula com a co-munidade e mesmo entre os alunos dos diferentes instrumentos. “É um evento para família, amigos e aqueles que gostam de música. Inclusive, os pais podem ver o progresso de seus filhos. Exercita-se também a prati-ca de banda”, diz o professor César.

Nos dias 12 e 13 de julho estarão abertas inscrições para novas turmas. É necessário levar cópias do RG e de um comprovante de residência, uma foto 3x4 e 1 quilo de alimento não pere-cível. Vale lembrar que os horários das aulas serão distribuídos conforme dis-ponibilidade. A Casa da Música funcio-na de segunda a sexta-feira das 8h às 12h e das 13h às 20h. Se você tem von-tade de tocar um instrumento e nunca teve oportunidade, a pequena Rafaela de 11 anos faz um convite. “Venha que você vai gostar, é muito legal”, finaliza.

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Música como inclusão social

CIDADE Jornal Egbé 9

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Awdrey Sasahara

Page 10: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

10 EDUCAÇÃO Jornal Egbé

A IMPORTÂNCIA DO ENSINO BILÍNGUE NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA

Falamos a língua portu-guesa ou brasileira? Uma dúvida recorrente quan-do encontramos alguém natural de Portugal ou as-sistimos a programas ou novelas lusitanas. São per-ceptíveis as diferenças no sotaque, nas palavras, nos valores culturais e na visão de mundo, entre nós bra-sileiros e nossos irmãos e irmãs portugueses. Vamos dar aqui um exemplo do vocabulário usado em nos-so cotidiano.

Na praia, um grupo de moleques trajando sungas jogava bola alegremente, enquanto dois pitocos pro-duziam um fuzuê balan-çando-se nas gangorras e, perto dali, uma mãe ves-tida com uma canga colo-rida fazia cafuné no nenê, esperançosa de fazê-lo adormecer naquela muvu-ca domingueira.

As palavras moleques, sungas, pitocos, gangorras, canga, cafuné, nenê e mu-vuca, usadas corriqueira-mente, não são originárias

do vocabulário lusitano. O nosso português é diferen-te, dizemos bunda, e não nádegas, dizemos “cochi-lar” em vez de “dormitar”, em vez de “caçula”, usaría-mos uma palavra bem mais complicada: “benjamim”, se nosso português fosse como o de Portugal. Usar tais termos soaria estranho, pedante provavelmente, não é? Se recorrermos aos dicionários para saber a origem (etimologia) destas palavras, encontraríamos a maioria delas precedidas por abreviações do tipo “pop” (popular) ou “orig.obsc.” (origem obscura), ou seja, mesmo os dicionaris-tas parecem desconhecer a origem de tais palavras. Vamos entender as razões dessa dificuldade.

A língua é um sistema de signos compartilhados, um sistema de combina-ções possíveis presentes na mente humana e sua sobre-vivência só se torna pos-sível enquanto prática so-cial. Segundo Ferdinand de

Saussure, em seu livro Cou-rs de Linguistique Généra-le (1916), a língua é um con-junto de signos que serve de meio de compreensão entre os membros de uma mesma comunidade linguística. É também uma instituição so-cial, um sistema de valores, mutável ao longo do tempo em função de uma série de fatores: geográficos, climá-ticos, de intercâmbios cul-turais, alianças ou guerras de conquistas, disputas ét-nicas, religiosas, políticas, econômicas, entre outras. O Brasil “surgiu” no movi-mento de expansão colonia-lista econômica e religiosa da Europa sobre o planeta e foi alicerçado na globali-zação da escravidão negra africana e no genocídio dos donos da terra, no caso bra-sileiro, das diferentes e di-versas etnias que aqui exis-tiam. Dos 516 anos de nossa história, por 400 anos, pelo menos, a imensa maioria da polução brasileira era constituída de africanos ou afrodescendentes. Povos

que falavam diferentes lín-guas: quicongo, umbundo, quimbundo, entre outras, do tronco linguístico cha-mado banto e das línguas do tronco kwa: iorubá, ewe--fon, nupe, akan, bini, akan, bini, gã, ibo, entre outras.

A língua brasileira, por-tanto, é resultante de uma importante influência africana na construção de nossa nação, a ponto de a

maior estudiosa dos falares africanos no Brasil, Yeda Pessoas de Castro, afirmar que os falares brasileiros resultam de um português camoniano (do período de Camões) colonizado por africanos. Interessante, não? Se somos o que fa-lamos, ser brasileiro é ser africano também.

Antônio Luz

Língua portuguesa ou brasileira?

DIVULGAÇÃO

A infância é a fase de descober-tas e aprendizados para a crian-ça. Ela está a conhecer o mundo e as pessoas ao seu redor atra-vés de experiências vivenciadas em seu cotidiano. Durante esse período, a aquisição da língua materna ocorre naturalmente, como aprender a andar, por ser uma capacidade inerente ao ser humano. Em vista do fato de que a criança possui essa predispo-sição natural para aprender uma

língua, por que não aprender duas ao mesmo tempo?

O bilinguismo pode ser desenvolvido em qualquer fase da vida, porém há inúmeras vantagens em aprendê-lo desde os primeiros anos, tornando-o mais duradouro e efetivo. As crianças em fase de aquisição de linguagem aprendem a segunda língua com facilidade por serem naturalmente curiosas e dispostas a experimentarem e a interagirem com tudo aquilo que lhes é mostrado, e não sentem nenhuma estranheza pelo novo idioma, afinal, tudo é novo para elas!

Estudos científicos compro-vam que as crianças inseridas no bilinguismo, desde a tenra idade, apresentam um grande desenvolvimento cognitivo, de-vido ao aumento de conexões cerebrais. Com isso, os alunos bilíngues desenvolvem melhor a atenção, a memória, o raciocínio e a criatividade. Além de adqui-rirem um conhecimento cultural

que será levado para toda a vida. A língua está no coração

de toda cultura, e ao conhecê-la a criança expandirá seus horizontes de expectativas, aprendendo sobre diferentes países e suas tradições, tomando uma nova consciência da realidade em que está inserido.

A capacidade de comunicação em mais de um idioma é também um benefício para a vida futura, seja por oportunidades no mercado de trabalho, pela facilidade em viagens ou, até mesmo, pela possibilidade de “aprimoramento pessoal” em cursos de intercâmbio.

Todo esse aprimoramento cultural, pessoal e profissional, que se inicia com o estudo do ensino bilíngue nos anos iniciais, fará uma projeção positiva no futuro do “indivíduo”, fazendo com que ele consiga exercer seus plenos direitos de cidadão e tenha a capacidade de ocupar uma posição de destaque na sociedade em que esteja inserido.

Portanto, baseada nessa concepção de ensino bilíngue, o Colégio Albert Einstein oferece, desde o começo deste ano, essa oportunidade de transformação intelectual/pessoal/cultural aos seus alunos e seus familiares nos primeiros anos de vida escolar.

Patrícia Caram BastosDiretora de Ensino

do Colégio Albert Einstein

Page 11: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

AGENDA CULTURAL/CLASSIFICADOS/SERVIÇOS Jornal Egbé 11

02Descrição: Taboão Fest Dance Horário: às 13hLocal: Palácio das ArtesRealização: Sonia Ballet

03Descrição: Bandas e Fanfarras de Santos Horário: às 9hLocal: Av Conselheiro Nébias - SantosRealização: Prefeitura de Santos

04Descrição: Fotografia de Celular Horário: das 14h às 17hLocal: Av Conselheiro Nébias - SantosRealização: Prefeitura de Santos

05Descrição: Fotografia de Celular Horário: das 14h às 17hLocal: Pça Botelho, 149 - Centro HistóricoRealização: Departamento de Cultura

05Descrição: Oficinas de Canto e Coral Horário: às 15hLocal: Igreja Matriz Sant`Ana Realização: Departamento de Cultura

06Descrição: Fotografia de Celular Horário: das 14h às 17hLocal: Pça Botelho, 149 - Centro HistóricoRealização: Departamento de Cultura

06Descrição: Oficina Violão, Guitarra e Contrabaixo Horário: às 19hLocal: Rua Antônio Perreira, 202 - Belas ArtesRealização: Departamento de Cultura

12Descrição: Balé Clássico e Contemporâneo Horário: às 9hLocal: Rua Antônio Perreira, 202 - Belas ArtesRealização: Departamento de Cultura

20Descrição: Curso de Elaboração de Currículo Horário: às 9hLocal: Rua Cunha Moreira, 71 - CentroRealização: Departamento de Cultura

26Descrição: Filme: O Jeca e A Freira Horário: às 9h e às 14hLocal: Pça José Botelho, 149 - Centro HistóricoRealização: Departamento de Cultura do MIS

28Descrição: Filme: O Jeca e A Freira Horário: às 9h e às 14hLocal: Pça José Botelho, 149 - Centro HistóricoRealização: Departamento de Cultura do MIS

29 Descrição: Filme: O Jeca e A Freira Horário: às 9h e às 14hLocal: Pça José Botelho, 149 - Centro HistóricoRealização: Departamento de Cultura do MISInformações:Av. Condessa de Vimieiros, 1.131 - CentroTel.: 3241-1700 - ramal 1805

Na água salgada espargida em pedra batismallança teu corpoque o mar tudo carrega... No abismo das ondas cada vez mais fundonão temas o naufrágioalguém te esperabraçosalgas alongadas que te enlaçampara a vida e voltas à superfície... corpo leve alvohóstia que se oferece ao alvorecer do diaa qualquer boca faminta que se abre Regina Alonso

Academia Itanhaensede Letras - Acadêmica por correspondênciaAcademia Santista de Letras "Casa de Martins Fontes" - AcadêmicaAcademia Vicentina "Frei Gaspar da Madre de Deus - Acadêmica

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Na última edição discor-remos sobre Rui Barbosa. Em Itanhaém, a avenida que leva seu nome cruza e entrecruza-se com outras ruas e outros nomes não raro desconhecidos. Um deles é Benedito Calixto, nome de uma escola esta-dual de ensino fundamen-tal e médio e de praça no centro da cidade.

Você já deve conhecer essa praça, pode até ter estudado nessa escola, ou ter passado por ela várias vezes e visto gerações de estudantes que fazem dali um point nos horários de entrada e saída. Agora, quem foi Benedito Calixto?

Benedito Calixto de Jesus nasceu em Itanhaém em 14 de outubro de 1853 e diz-se que seu nome provém do dia de São Calisto, celebrado nessa data. Desde cedo

destacou-se pelo dom da pintura, sendo, quando muito, conhecido somente como pintor. Estudou pintura na França e seus temas principais incluíam paisagens marinhas e cenas históricas, como a Vista panorâmica da cidade de Santos e a imagem que pintou do bandeirante português Domingos Jorge Velho, a quem se atribui a destruição do Quilombo dos Palmares.

Mas Benedito Calixto também foi escritor, autor de livros como A Villa de Itanhaém (1895) e Os pri-mitivos índios de nosso litoral (1905), além de um dos pioneiros na fotogra-fia brasileira, porque teria trazido da França uma das primeiras máquinas foto-gráficas ao Brasil. E seus atributos não param por aí, pois Calixto ainda é re-

lacionado à astronomia, à cartografia, à música, à poesia, enfim, um artista de várias artes, apesar de, no que concerne à pintura, alguns criticarem-no pela alta produção sob deman-da, isto é, com a venda de pinturas encomendadas por particulares.

Casou-se aos 24 anos com sua prima Leopoldina de Araújo e veio a falecer em 31 de maio de 1927, sen-do enterrado no Cemitério do Paquetá, em Santos. Mais informações podem ser encontradas nos livros Itanhaém: história & estó-rias e Itanhaém histórica, de José Carlos Só e André Caldas, respectivamente, ambos disponíveis ao pú-blico na Biblioteca Paulo Bomfim.

Rodrigo Garcia [email protected]

Por onde piso?Benedito Calixto

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Page 12: Jornal Egbé - Edição 02, Ano 1

ARTIGO Jornal Egbé 12

“A nossa língua comum foi cons-truída por laços antigos, tão antigos que por vezes lhes perdemos o ras-tro”. Essa frase é do famoso escritor moçambicano Mia Couto. Nela, é possível perceber a grandiosida-de de uma língua, afinal, raramen-te paramos para pensar sobre sua constituição e história. Vejamos a língua portuguesa... você já pensou de onde ela surgiu? Quais outras línguas e países que fazem parte dessa história? Ou melhor, da nossa história?

O português surgiu como muitas outras línguas surgiram, a partir de migrações entre os continentes. É uma língua que surgiu do latim e recebeu influência de outros povos, como árabes, africanos e indígenas. Mas por que falar da história da língua portuguesa? Porque é justa-mente isso que Mia Couto pretende trazer com sua reflexão: a impor-tância de a pensarmos como forma de rememorar nossos contatos, nos-sos encontros e, com isso, perceber

a diversidade que nos compõe. É esse enfoque que procuro se-

guir no ensino de língua portugue-sa e de literatura. A escola, infeliz-mente, criou um modelo do que é a língua portuguesa “correta” (a nor-ma culta ensinada nas gramáticas) desprezando todos os falares que não se espelhem naquela. Que im-pacto isso pode ter para um aluno que, por exemplo, ouve de seus pro-fessores que ele e toda sua família falam “errado”? Desmotivação, esti-ma baixa, bullying. O agravamento dessa situação pode caminhar para a depressão.

Vejamos outro dilema que qual-quer professor enfrenta atualmen-te: a resistência à leitura. Como en-sinar alguém que ler é importante? Para formar bons leitores é preciso revisar o que ensinamos e, princi-palmente, o método utilizado. Nos-sos alunos estão pedindo inovação porque, com a cultura digital, eles têm acesso a muitas informações e são atraídos para outras lingua-

gens e outras formas de interação. Um bom caminho é o trabalho com projetos. É o que procurei fazer na disciplina Literatura Infantil que ministro para o curso de Pedagogia, mas que pode ser facilmente apli-cado para qualquer faixa etária. Eu tinha a “missão” de ensinar como é composto um livro, desde seus elementos textuais, imagéticos, produção, estrutura narrativa, per-sonagens, enredo, tema etc. Os alu-nos foram incentivados a produzir um livro infantil. Essa experiência possibilitou aos alunos descobrir habilidades e desenvolver compe-tências. Aprenderam a dimensão do trabalho coletivo e a riqueza de explorar temáticas que envolviam a diversidade de gênero, racial, de classe, acessibilidade, direitos hu-manos e ecologia.

Só há uma forma de resgatarmos os laços e rastros perdidos de que nos fala Mia Couto, para não esque-cermos de vez a língua portuguesa: com engajamento e a perspectiva

da língua como algo além de um instrumento de comunicação, uma forma de existência, de exercício da cidadania e criação no mundo!

Érica JorgeDoutoranda e Mestra em Ciências

Sociais (UFABC). Bacharel e licenciada em Letras (USP). Professora universitá-ria em Itanhaém e São Paulo. Principais temas de interesse: educação, socializa-ção de crianças, religião e literatura.

A nossa “esquecida”Língua Portuguesa!

Antônio Luz