jornal do museu dos transportes e comunicações

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JORNAL DO MUSEU DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES Nº2 INVERNO 2003 Souto de Moura metamorfose de um lugar Memórias de um Despachante Oficial Porto: Histórias de uma Rádio com Sotaque ACP - 100 anos de Serviço, Mérito e Glória ISSN 1645-6386

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n.º 2 (Inverno 2003)

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Page 1: Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

JORNAL DO MUSEU DOS TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES Nº2 INVERNO 2003

Souto de Moura

metamorfose de um lugar

Memórias de um Despachante Oficial

Porto: Histórias de uma Rádio com Sotaque

ACP - 100 anos de Serviço, Mérito e Glória

ISSN 1645-6386

Page 2: Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

Jornal do Museu dos

Transportes e Comunicações

ficha técnica

periodicidade sazonal. propriedade da

Associação para o Museu dos Transportes e

Comunicações. coordenação editorial

Alexandra Melo. tiragem 1000 exemplares.

imagem da capa azul sobre um desenho de

Eduardo Souto de Moura. designazul.

impressão Greca, artes gráficas.

fotografias: p2 Elsa Duarte |1997. p5 Arquivo

Fotográfico da Alfândega |1950

issn 1645-6386

nota de abertura

O Inverno é uma época propícia à meditação e ao despertar das memórias.Neste 2o número do Jornal do Museu dos Transportes e Comunicaçõescomeçamos por prestar uma homenagem ao arquitecto responsável pelasobras de recuperação do edifício da Alfândega, Eduardo Souto de Moura,fazendo um balanço do trabalho desenvolvido até hoje.

No mês de Dezembro foi colocada em frente ao edifício da Alfândega umapedra de granito, com seis metros de altura por dois de largura, pesando15 toneladas. O objecto/escultura foi idealizado por Souto de Moura paraassinalar as novas funções do edifício – Museu dos Transportes eComunicações e Centro de Congressos, mas representa também a marcada intervenção de um dos mais consagrados arquitectos portuguesesnum edifício de grande valor patrimonial.

A Metamorfose do edifício foi, precisamente, o tema da alocuçãoproferida pelo pintor José Paiva, em Outubro de 2002, na Conferênciasobre Arquitectura e Património organizada pelo Museu da Ciência e daIndustria e da qual publicamos alguns extractos.

Um dos espaços intervencionados, pelo Arquitecto, a Sala dosDespachantes, vai abrir as suas portas ao público, no dia 31 de Janeiro,com uma exposição sobre as Comunicações Tácticas no Exército.

Joaquim Moreira Vaz, despachante oficial, trabalhou durante váriasdécadas neste espaço e compartilhou algumas das suas memórias com oJornal do Museu dos Transportes e Comunicações.

As memórias dos primórdios das transmissões de rádio, na cidade doPorto, são relembradas, neste número, pelo jornalista António JorgeBranco, autor do programa Dicionário da Rádio, transmitido pela TSF.

Esperamos regressar na Primavera com muitas novidades.Até Breve.

jMTC.inverno2002 editorial2

Com o aumento constante do parque automóvel,rapidamente também se esgotaram as hipótesesde combinações letras/números e, assim, houvenecessidade de abandonar as restrições na atribui-ção das letras às zonas Norte, Centro e Sul.

Passaram, então, a aparecer matrículas com acombinação de grupos de letras misturadas dea a z, como sejam os exemplos:

“SD-02-72” ou “AR-02-72”.

A partir de 1 de Janeiro de 1992, passaram a serutilizadas as chapas de matrícula retrorreflectoras,com fundo branco e letras pretas, não havendo,no entanto, obrigatoriedade de se proceder à subs-tituição das chapas anteriores, como aconteceuna primeira alteração de 1936.

Estas novas placas passaram a ter um conjuntode letras no final de dois grupos de algarismose, sobre o lado esquerdo, o símbolo comunitário:quinze estrelas amarelas e a letra P a branco (Por-tugal) sobre o fundo azul retrorreflector.

A partir de 1 de Janeiro de 1998, sobre o lado direi-to da chapa de matrícula, foi colocada a identifi-cação respeitante ao ano e mês de atribuição daprimeira matrícula, com os números em cor pretasobre o fundo amarelo.

carla coimbra alves

Esta realidade vigorou até 31 de Dezembro de 1936,altura em que foi introduzido um novo sistemade numeração.

Segundo a nova legislação, todos os veículos ins-critos até então deveriam substituir a antiga nume-ração, facto que não envolveria qualquer custopor parte do proprietário. Também este novo siste-ma contemplava a identificação da zona onde oautomóvel tinha sido matriculado.

Para o caso dos automóveis registados na zonanorte, foram reservadas as combinações de M aT, seguidas de dois grupos de algarismos , tendoa combinação MM sido reservada para os automó-veis antigos até ao no 9.999 e a combinação MNpara os números 10.000 e seguintes.

Para os automóveis registados na zona centro,foram atribuídas as combinações de duas letrasde U a Z, tendo a combinação UU sido atribuídaaos automóveis antigos desta zona.

No que toca à zona sul, foi estabelecido que osautomóveis registados nesta zona receberiammatrículas com combinações de A a L, tendo sidoreservadas as seguintes combinações para osautomóveis antigos: AA até 9.999; AB de 10.000a 19.999; AC de 20.000 a 29.999; AD de 30.000e seguintes.

À semelhança do sistema anterior, também as le-tras e os números destas combinações eram embranco sobre fundo preto.Este sistema manteve-se em vigor até 31 de Dezem-bro de 1991.

A exposição “O Automóvel no Espaço e no Tempo”,patente no Museu dos Transportes e Comunica-ções, apresenta um núcleo que mostra a evoluçãodas infra-estruturas que permitiram ao automóveltransformar-se num meio de transporte eficaz.As estradas, os mapas, a sinalização e as regrasde trânsito, contribuíram para os seu desenvolvi-mento como meio de transporte. Desta vez relem-bramos a história das matrículas em Portugal.

Os automóveis que circularam em Portugal até1911, não ultrapassavam as escassas centenas enão possuíam matrículas.

No início do século XX, tal como as carruagense as carroças de cavalos, também os automóveiseram registados nas Câmaras Municipais queatribuíam um número ao veículo em questão.Eventualmente, alguns automóveis faziam-seacompanhar desta identificação que, no entanto,não constituía uma matrícula.

Porém, com base no decreto-lei publicado noDiário da República a 27 de Maio de 1911, todosos automóveis foram obrigados a usar uma chapade matrícula, cuja identificação era feita atravésde uma letra seguida da respectiva numeração,identificação esta que se apresentava em brancosobre fundo preto. Para o efeito, foram escolhidastrês letras que identificavam a zona do país ondetinha sido efectuado o registo do automóvel.Assim, vejam-se os seguintes exemplos:

Zona norte de Portugal N- 287; N- 498; N-869...Zona centro de Portugal C- 289; C-523; C-968...Zona sul de Portugal S-403; S-741; S-990

A História das Matrículasde Automóveis em Portugal

o automóvel jMTC.inverno2002 3

Page 3: Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

respeitando a traça original, minimizando as condicionantes de ordemambiental, que o edifício coloca face às novas funções, equipando-os commodernas infra-estruturas de resposta às novas necessidades, mantendoa flexibilidade exigida pelas grandes áreas da Alfândega, uma vez que,como o próprio Arquitecto afirma,

"um museu destas dimensões (36 800 m2)será sempre um somatório deespaços desenhados ao longo do tempo e conforme as circunstâncias."

Cada projecto propõe-se como resposta funcional às novas exigências deprogramação museológica, numa completa autonomia na composiçãovolumétrica e no tratamento dos materiais.A intervenção pode definir-se como uma arquitectura invisível orientando-se pelos princípios de Aldo Rossi que defende que

“a arquitectura nascida da necessidade actualmente é autónoma, na suamais elevada forma cria peças de museu a que os técnicos se referem,para tranformá-las e adaptá-las às múltiplas funções e exigências em quedevem ser aplicadas”, daí a importância da recuperação do espaçoacompanhar em paralelo o projecto do museu.

Uma nova fisionomia sócio-cultural muda a noção de museu desde a suaarquitectura até aos seus projectos.

Estas afirmações são legíveis de forma expressiva nas afirmaçõesproferidas aqui e ali, em debates como este, em textos publicados peloarquitecto Souto de Moura, mas, principalmente, na sua obra e, emparticular, no projecto de requalificação do edifício da Alfândega, sede doMuseu.

A liberdade com que o arquitecto instala numa ampla sala de alto pé-direito um volume com dois pisos, destinado a albergar os escritórios doMuseu, autónomo e amovível, ilustra tanto a sua ousadia funcional comoo respeito e a valorização do espaço pré-existente.

A criação de infraestruturas, de comunicações, eléctricas, de aquecimento,etc., tornadas invisíveis por força de sua inclusão nas paredes, solos ecoberturas existentes, segue as referidas opções arquitectónicas.Objectos diversos, mobiliário, sinalética integram sabiamente os velhosespaços, acrescentando nova vida e novos valores ao edifício que,gradualmente, se afirma como um novo espaço de centralidade culturalna cidade e argumento de povoação de seu centro histórico.

bibliografia:

CANNATÁ, Michele e FERNANDES, Fátima

‘Construir no Tempo’

ESTAR Editora, Lisboa, 1999

‘Alfândega Nova, o Sítio e o Signo’

Museu dos Transportes e Comunicações,

Porto, 1995

‘Architécti’

no 33, mai, jun, jul, 1996

‘Prototypo#033’

no 3, jan 2000

josé paiva [adaptação da alocução proferida na conferência arquiitectura e

património organizada pelo museu da ciência e da industria]

A história que vamos contar refere-se à metamorfose operada nummonumento de reconhecido valor patrimonial, o Edifício da AlfândegaNova do Porto, transformado gradualmente em sede do Museu dosTransportes e Comunicações.

O edifício do século XIX onde se aloja hoje o Museu sediou anteriormentea Alfândega Nova do Porto.

Decorrendo das alterações políticas e económicas da revolução liberal,ocorrida em 1820, a cidade e o governo procuraram encontrar soluçõesurbanas e financeiras que viabilizassem a construção de um edifício novopara a Alfândega, permanente e digno do grande comércio da cidade.

De acordo com o plano do governo para o novo complexo portuário quedefine a implantação da Alfândega Nova em Miragaia, a partir de 1856, emrespeito pelo projecto de Jean Colson, é iniciada a sua construção.

A Alfândega Nova é um edifício ambicioso, marcado pela sobriedadeclássica, de estrutura robusta e construído com materiais incombustíveise vedados às águas pluviais e às frequentes cheias do rio.

As paredes graníticas e o alto frontão que encima o edifício centralidentificam o estilo neoclássico coerente com a gramática utilizada nasgrandes construções da época, na cidade.

Uma das maiores singularidades do edifício da Alfândega Nova é acombinação harmoniosa de três tipos de materiais (granito, ferro emadeira) e a utilização de diferentes soluções estruturais nos sucessivospisos, perfeitamente adequadas ao carácter e à tipologia de um edifício dearmazéns, respeitando as exigências funcionais, higiénicas e desegurança ao bom armazenamento e conservação de mercadorias.

Destinado agora a Museu, o edifício da Alfândega precisava de serreabilitado.Decide-se então estabelecer um programa que articulasse a execução dasobras de requalificação com uma actividade museológica e museográfica,que instituísse o Museu e argumentasse os financiamentos necessários.

A missão do Museu, centrada na área dos Transportes e dasComunicações, alarga-se de forma adquirida para a valorização do edifícioe preservação da sua memória.

Passa, assim, a constituir espaço de programação a divulgação doinegável valor arquitectónico e patrimonial e, em simultâneo, das novasvalorizações que vai adquirindo por arte da execução dos projectos doarquitecto convidado para dirigir os trabalhos, o internacionalmenteprestigiado Eduardo de Souto Moura.A valorização da 'alma' do edifício, respeitando os espaços, constituíramas pedras basilares sobre as quais toda a recuperação arquitectónica foipensada. O arquitecto Eduardo Souto de Moura recupera os espaços,

Metamorfose de um Lugar:Alfândega Nova do Porto | Museu dos Transportes e Comunicações

“Um Museu destas dimensões (36.800 m2) será sempre um somatório deespaços desenhados ao longo do tempo e conforme as circunstâncias”eduardo souto de moura

jMTC.inverno2003 alfândega4 alfândega jMTC.inverno2003

O Nome das CoisasOs Despachantes tinham um papel fundamental no complicado processoalfandegário, embora não fossem funcionários da Alfândega.O local onde se reuniam para desenvolver a sua actividade era a primeirasala do lado direito de quem entra no Edifício da Alfândega e que por issoficou a chamar-se Sala dos Despachantes.

Eram eles que davam os nomes às coisas.O nome que davam às coisas iria custar um determinado valor ao donodas coisas.Muitas coisas chegavam e partiam diariamente e eram eles que , depoisde lhes darem um nome, lhes davam também ordem de partida ou deentrada.Eles eram os despachantes.As coisas eram as mercadorias que chegavam diariamente ao Rio Douroe eram descarregadas para controle alfandegário.

Ao longo do século XIX a grande actividade mercantil que caracterizavaa cidade do Porto era “medida” pelo movimento da Alfândega. Os temposde crise ou de prosperidade eram sentidos imediatamente naquele centrode recolha e partida de mercadorias.A grande azáfama junto ao rio foi diminuindo com o aparecimento denovos meios de transporte e com a construção do Porto de Leixões, masna década de sessenta ainda havia muito que fazer no Cais da Alfândega.Uma testemunha desses tempos, Joaquim de Lima Moreira Vaz, contou-nos algumas das suas memórias.

Os navios ingleses que chegavam do Porto de Liverpool; o Palmelian oLucian, o Darinian, o Crosbian... Os nomes, sempre os nomes.... JoaquimMoreira Vaz recorda os nomes dos navios ingleses que via entrar no RioDouro.

Regressa a 1953, quando tinha 12 anos e acabava de ser admitido paratrabalhar numa prestigiada relojoaria na rua das Flores.Era expedito, fazia entregas e compras de materiais para a loja,entreoutras tarefas, mas quando, um dia, o mandaram desmontar elimpar a engrenagem de um despertador, não foi capaz. O patrão, dequem guarda boas memórias, logo anteviu uma profissão que o rapaznunca teria; relojoeiro.

joaquim moreira vaz trabalhou durante 34 anos no edifício da alfândega.

hoje é presidente da assembleia geral da cãmara dos despachantes da secção

do porto.

Joaquim Moreira Vaz, vê-se então a chegar ao serviço da Alfândega, em1960, já com a certidão de Ajudante de Despachante na carteira. Para trásficou a Escola Comercial concluída com boas notas e uma lembrança desua mãe de que havia uma vaga na Alfândega para Despachante.

Joaquim Moreira Vaz chega à grande Sala dos Despachantes - o que demais parecido com a Wall Street havia na cidade, na época. Lá dentrotrabalhavam cerca de 200 homens, divididos por guichets, cada qualrepresentando um despachante oficial.

Chegavam os clientes, chegavam as mercadorias, entravam e saiampessoas, por entre o barulho das máquinas de escrever e das vozesapressadas. O relógio na parede, ao centro da sala, marcava os minutos, etrazia as pausas de almoço e as horas de saída. Haveria de trazer em 1994a ordem de saída dos despachantes daquela sala que seria completamenteremodelada e entregue ao Museu dos Transportes e Comunicações.Na pausa para almoço, chegava a Senhora Isolina com o tabuleiro dosbaús na cabeça. Vinha a pé da Madalena, em Vila Nova de Gaia com osalmoços para quem trabalhava no Porto. Todas as manhãs a mãe deJoaquim Moreira Vaz lhe preparava a refeição e a mandava chegar àAlfândega através deste, precioso, serviço de entregas.

Acabado o almoço logo começava o reboliço das entregas, dosdespachos. Verificar as pautas aduaneiras... qual é o nome da mercadoria?Como é que está classificada? Qual é o país de proveniência? O cliente aguarda pelo desembarque da mercadoria, é preciso verificartodos os documentos...

alexandra melo

As Comunicações Tácticas do Exército

Inaugura no dia 31 de Janeiro, na Sala dos Despa-chantes a exposição “Comunicações Tácticas doExército”. Esta exposição organizada em colabo-ração com o Exército Português, uma das institui-ções associadas do Museu vai mostrar ao visitantea evolução das formas de comunicação militares.A presença física de um considerável número deequipamentos utilizados em situações de campa-nha, vai possibilitar um contacto directo dos visi-tantes com esta realidade e a experimentação dealguns dos meios de comunicação presentes. Éesse o caso do núcleo final da exposição ondeserá utilizada uma tenda usada durante a guerracolonial, com os equipamentos da época de ondeserá possível comunicar para uma viatura táctica,actual e igualmente equipada com os meios decomunicação agora utilizados.

Page 4: Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

Porto: históriasde uma rádio com sotaque

comunicações jMTC.inverno2002 7

microfone e “consolette” – mesa de mistura –dotada de enormes potenciómetros e de um

“VUímetro”, cujo “ponteiro” constituía o centrode toda a con-centração: interdito originar um

“pico” no som (palavra ou música) que “atirasseo emissor abaixo”.Os Emissores do Norte Reunidos procuravam,tanto quanto possível, rivalizar com a delegaçãoportuense da EN (estúdios na Rua Cândido dosReis) – vivia-se a concorrência! – e com as emis-sões nacionais (sempre em Onda Média) da RRe do RC.Vozes populares nos ENR que, entre outras, pelosanos 50’, andavam no ar: Humberto Branco (RádioPorto), Júlio Silva (Ideal Rádio), Maria Moreira(Electro-Mecânico), Eugénio Alcoforado (ORSEC),Ernesto de Oliveira (Rádio Clube do Norte) sendoque, na opinião do narrador, os dois últimos sedestacavam (de par com o já citado Alfredo Alvela)como pouco dados à atitude institucionalizada,ao microfone, formal, rígida, de “leitura”: melhorescomunicadores, menos “locutores”.Tudo isto num tempo em que os programas musi-cais mais populares nos ENR eram os musicais,preenchidos com os “discos pedidos”: chegavaminvariavelmente por carta.Enfim! Memórias “tripeiras” de outras formas defazer rádio o que equivale a dizer que, tendo a TSF– Telefonia Sem Fios – sido sempre o espelho dassociedades, são memórias de outras porventura(à vista dos tempos actuais)... estranhas formasde vida!

Nota: Referências baseadas quer na investigação feita por

Matos Maia – “Telefonia”, Ed. Círculo de Leitores – quer em

memórias pessoais passíveis de involuntárias imprecisões.

antónio jorge branco,

jornalista e professor de jornalismo

tsf rádio notícias – “dicionário da rádio”

rádios da colecção do museu da rádio

actualmente patentes na exposição

“comunicação do conhecimento e da imaginação”

Estamos em 1950 e já a ORSEC se inscrevia nosEmissores do Norte Reunidos, com outros associ-ados: Rádio Clube do Norte (Rua Duque de Loulé),Rádio Porto (Rua dos Clérigos), Portuense RádioClube (Rua de Entreparedes), Ideal Rádio (RuaAlferes Malheiro) e Electro-Mecânico (Rua de San-ta Catarina). Transmitiam rotativamente (em “tran-ches” de 3 ou 4 horas) pelo mesmo emissor deOnda Média, localizado no Monte da Virgem (V.N.de Gaia).Digamos que, no geral, o conteúdo das emissõesdo ENR se podia considerar dentro do género “po-pular”, raiando frequentemente as margens doque hoje se chamaria “estilo pimba”. Neste domí-nio, a ORSEC (já com a designação comercial deORSEC-SERL) destacava-se pela maior “contenção”sem no entanto se assumir como estação...

“intelectual”.Por exemplo: em 1953, a ORSEC abre um concursopara “locutores”. Surgiram algumas dezenas decandidatos. À frente do júri está Elisa de Carvalho– poetiza, considerável notariedade no mundocultural portuense – e as provas poderiam ser ho-je vistas como de nível acima da média: leiturasem português, francês e inglês, simulação de en-trevista, apresentação de um programa musicalcom discos e – suplício dos suplícios! – simulaçãode reportagem em directo.Para vencer, valeu ao escrevedor a experiência vi-vida uns 2 anos antes, na companhia do saudosoAlfredo Alvela, amigo “da noite”, “pivot” de umaemissão em directo sobre as corridas no CircuitoInternacional do Porto – linha da meta junto àpraia de Matosinhos, ao Castelo do Queijo - notempo em que reinavam, nessa pré-F1, os Ascari,os Bonetti, os Castelotti, todos ases mundiais.A experiência de “assessoria” voluntarista de en-tão revelou-se fundamental: o género “reportagemem directo” era, precisamente, o de fingir, fechadonaquela cave, a descrição de... um dia nas corridasno Circuito do Porto!!Depois foi a rápida aprendizagem sobre a formade conduzir as emissões, num estúdio minúsculo,totalmente auto-operado: 2 gira-discos (com as3 velocidades – 78, 45 e 33 e 1/3 rotações por mi-nuto), 2 gravadores profissionais de mesa Grundig(para ler pequenas bobines com publicidade),

Na exposição Comunicação do Conhecimento eda Imaginação o núcleo Falando na Rádio propor-ciona ao visitante a possibilidade de realizar umprograma de rádio utilizando, para isso, um estúdiopreparado para a produção de emissão radiofónica.A história da Rádio em Portugal pode ser ouvidaatravés de uma recolha efectuada nos arquivossonoros da RDP, onde são apresentados sonsrepresentativos de 40 anos de emissões (1934-

-1974).Pode-se observar, ainda, a evolução do objectorádio e do microfone e ouvir alguns excertos deprogramas, entre eles o Dicionário da Rádio, trans-mitido pela TSF, da autoria do jornalista AntónioJorge Branco.Especialmente para este número do Jornal do Mu-seu dos Transportes e Comunicações, AntónioJorge Branco recorda alguns momentos da Histó-ria da Rádio no Porto.

Quando se fala dos pioneiros da rádio em Portugalhá uma certa tendência para enfatizar que a aven-tura terá começado em Lisboa e... o Norte é paisa-gem. Nada mais ilusório.A verdade é outra: antes de o justamente celebradoAbílio Nunes dos Santos (CT1AA) ter começadoa “irradiar” sobre a capital as primeiras emissõesexperimentais, já na Cidade Invicta os “gloriososmalucos das máquinas falantes” largavam notíciasno ar...Caso dos irmãos Oliveira: Jorge, Francisco e Antó-nio traziam com eles a “prática” de dezena e meiade anos em... radioelectricidade!Aliás, a ORSEC começou por ser um estabeleci-mento de “audio-visuais” (mas a palavra viriamuito mais tarde). Através do primeiro emissorCS2XJ – 50 watts, banda dos 221 metros (OndaMédia) – a sigla da estação era orgulhosamentedescodificada ao microfone: Oficinas de Rádio,Som, Electricidade e Cinema!! A loja instalou-seprimeiro na Rua dos Caldeireiros (1935), poucodepois na Rua de Cedofeita (bem perto do cruza-mento com a Rua dos Bragas) e expandiu-se, mu-dando para um espaço amplo na Rua FernandesTomás (mesmo em frente ao Mercado do Bolhão)onde, numa cave, havia o estúdio de emissão.É hoje um comércio de mobiliário e decoração...

jMTC.inverno2002 associados AMTC6

Automóvel Club de Portugal100 anos de serviço, mérito e glória

revista acp

ano 25 . janeiro|fevereiro 1955

Quando em Outubro de 1902 um grupo de entusiastas decidiu organizara primeira grande corrida de automóveis, entre a Figueira da Foz e Lisboa,estava lançada a semente para a criação de um clube que congregasse todaa vontade de dinamizar uma área de locomoção própria em crescimento.

Seis meses mais tarde, a 15 de Abril, nascia o Real Automóvel Club dePortugal, uma associação de ilustres automobilistas que, na Sociedade deGeografia de Lisboa fez eleger os seus primeiros corpos gerentes.

Ao longo de praticamente 100 anos o ACP, designação que veio a adquirirmais tarde, tornou-se um símbolo para os automobilistas nacionais.Actualmente, com mais de 190 mil associados, tem atrás de si toda umahistória plena de concretizações em prol dos interesses dos automobilistas.

A história do ACP não se confina à história do automóvel: interfere também,na história deste país. Desde logo, pelo valioso contributo que prestou aoarranque da regulamentação do tráfego, tanto na elaboração do Código daEstrada, como na implantação dos sinais de trânsito e placas identificadorasdas localidades, para além da criação, em 1913, do primeiro Mapa dasEstradas, hoje uma referência indispensável.

Depois, pelo incremento que deu ao desenvolvimento do desportoautomóvel e ao turismo, arrastando multidões para assistir às provas quetinham lugar por todo o país, tendo-se atingido elevado prestígiointernacional nas décadas 70 e seguintes com o Rallye de Portugal, a serconsiderado por diversas vezes o melhor do mundo. Finalmente, por tudoquanto fez para conseguir o regresso da Fórmula 1, com diversas ediçõesdisputadas na pista do Autódromo do Estoril.

A par de tudo isto, o ACP sempre pugnou pela segurança dosautomobilistas e pela defesa dos seus direitos, ora denunciando ás mascondições das vias de comunicação e sua sinalização, ora criticando apolítica de preços de combustíveis, portagens e, sobretudo, fiscal, afirmando-se neste último caso em clara oposição ao sistema que tem sido adoptadoe que estrangula uma renovação do parque automóvel, maior protecçãoambiental e a segurança dos automobilistas.

A galeria dos dirigentes do Club conta com personalidades de referênciaque se projectaram para além dos seus mandatos e que a história não vaiesquecer.

E, nos dias de hoje, quando se abatem sobre o automóvel tantas ameaças:dos puritanos, porque polui, porque entope estradas e ruas, porque mata,e , por isso, o pretendem excomungar; dos governantes, porque descobriramnele a galinha dos ovos de ouro e o esmagam com impostos; o papel doACP ganha, por tudo isso, uma importância muito maior. Mas quem soma 100 anos plenos de serviço, mérito e glória, está prontopara enfrentar os desafios que se lhe apresentem.

A História do ACP está claramente documentada na Revista do Clube, umapublicação com 74 anos de vida (nasceu em Janeiro de 1929), que,ininterruptamente, chega graciosamente a todos os Sócios.

carlos morgado . acp

Page 5: Jornal do Museu dos Transportes e Comunicações

jmtc.inverno2002 notícias do museu dos transportes e comunicações8 Exposições Permanentes

“O Automóvel no Espaço e no Tempo”A história do automóvele a sua relação com a sociedade

“Comunicação do Conhecimentoe da Imaginação”Exposição interactiva sobre os modose os meios de comunicação

“Visita Interpretativa ao Edifício da Alfândega”Conheça o edifício, a sua história e ospormenores da sua reabilitação

Exposições Temporárias

“As Comunicações Tácticas do Exército”31 de Janeiro a 13 de Abrillocal: Sala dos Despachanteshorários: terça a sexta 10h›12h e 14h›18hsábados, domingos e feriados 15h›19hEntrada Gratuita

Informações

Museu dos Transportes e ComunicaçõesEdifício da Alfândega - Rua Nova da Alfândega4050 - 430 Portotelefone 223 403 058telefax 223 403 [email protected]

Um Museu perto de si…

Visitas acompanhadas para gruposFique a saber mais sobre os conteúdosexpostos e a história do Edifício da Alfândegado Porto, usufruindo das visitas acompanhadaspelo Serviço Educativo e de Animação doMuseu.

Modalidade 1 visita a uma das exposiçõesModalidade 2 participação em uma dasoficinas/laboratórios da exposição

“Comunicação do Conhecimento e daImaginação”Modalidade 3 visita a uma ou duas exposiçõese participação em uma dasoficinas/laboratórios da exposição

“Comunicação do Conhecimento e daImaginação” (todo o dia no Museu)

Ao Fim de Semana

Visitas AcompanhadasProgramas para FamíliasTraga a família e os amigos e passe umatarde no Museu.Outros Programas EspeciaisFique atento à programação do Museu.

Férias Lectivas Oficinas de Verão e de Natal

Horárioterça a sexta: 10hoo › 12hoo e 14h00 › 18h00sábados domingos e feriados 15h00 › 19h00

PreçárioBilhete de entrada no Museu: ¤ 3.00Estudantes, 3a idade e cartão jovem: ¤ 1.50Crianças até 6 anos e professores enquantoacompanhantes de um grupo: gratuita

GruposModalidade 1 e 2: ¤ 2.00Modalidade 3 (todo o dia): ¤ 3.00

Programas para famílias(aos fins de semana, com lanche): ¤ 3.75

Oficinas Pedagógicas na Garagemdo Sr. Teixeira(fins de semana): ¤ 4.50

Exposições Temporárias: gratuitaCom acompanhamento do ServiçoEducativo e de Animação: ¤ 2.00

Marco Indicativo do Museu dosTransportes e Comunicações

Uma pedra de granito, com seis metros de alturapor dois de largura, pesando 15 toneladas, foi colo-cada no principio do mês de Dezembro passado,em frente ao edifício da Alfândega.O objecto/escultura foi idealizado pelo ArquitectoEduardo Souto de Moura, autor das obras de recupe-ração a que o edifício da Alfândega tem sido sujeito.O arquitecto explica que, após a encomenda dotrabalho, pensou em trabalhar um objecto em ferro,mas dadas as características monumentais do edi-fício, também ele construído em granito, optoupela colocação de uma pedra.Por um acaso, a pedreira de Humberto Peixoto,em Alpendurada, com quem o Arquitecto costumatrabalhar, tinha em armazém uma pedra com 30toneladas proveniente da Beira-Alta.Foi esse bloco que Eduardo Souto de Moura es-colheu para trabalhar. Depois do desbaste provo-cado pelo desenho do Arquitecto a pedra ficoucom 15 toneladas e um ligeiro distorce que a har-moniza com o traçado da rua Nova da Alfândega.

Concerto dos Cinematic Orchestrafoi um êxito

O Concerto dos Cinematic Orchestra que se reali-zou no dia 20 de Dezembro na Sala do Arquivo,do edifício da Alfândega,foi considerado pela im-prensa o concerto do ano.Para além da forte repercussão que obteve na Co-municação Social, este evento trouxe ao edifíciocerca de 900 espectadores que tiveram acessoao que de melhor se produz no panorama da mú-sica de qualidade britânica.Com a realização deste tipo de eventos o Museudos Transportes e Comunicações assegura o seulugar de produtor cultural na cidade e conquistanovos públicos.

Oficinas de Natal

As Oficinas no Museu dos Transportes e Comuni-cações têm representado viagens a partir das expo-sições patentes.Temas diversos como a música, a literatura decordel, a xilogravura, o cinema de animação ouo teatro deram o mote às oficinas anteriores.No Natal de 2002 a escolha recaiu no fascínioprovocado pela "caixa mágica" que todos os diasnos entra pela casa adentro e a proposta, que ocu-pou 34 crianças durante dois dias, foi a de reflectirsobre o poder de sedução que este meio decomunicação possui.Utilizando Marionetas fabricadas também no lo-cal das oficinas, abriram-se as asas da imaginaçãopara conceber um telejornal diferente, com bone-cos a quem foi permitido dizer tudo com muitohumor e ironia.A Orientação da Oficina ficou a cargo do Teatrode Formas Animadas e a Organização e Coorde-nação foi do Serviço Educativo e de Animação doMuseu dos Transportes e Comunicações.

Exposição sobre a Vida e a Obrade Edgar Cardoso em Maio

A Exposição Edgar Cardoso – Vida e Obra, organi-zada pelo Museu dos Transportes e Comunicações,Faculdade de Engenharia da Universidade do Portoe Gabinete do Engenheiro Edgar Cardoso, inau-gura no dia 11 de Maio.Esta exposição será dedicada ao trabalho desteEngenheiro Civil que se destacou pela execuçãode projectos e sobretudo a construção de pontes,utilizando processos inovadores para a sua época.O guião da exposição terá como objectivo divulgaros momentos fundamentais da sua vida e o legadodo seu trabalho, destacando determinadas caracte-rísticas da sua personalidade e talento que acaba-ram por determinar a sua obra.

Plano de Formação de 2003

O Centro de Formação do Museu dos Transportese Comunicações concluiu em 2002 o Plano previs-to de 5 acções de formação.Em 2003 vão realizar-se sete acções de formaçãodestinadas a professores dos ensinos básico e se-cundário e educadores de infância.Entre os meses de Fevereiro e Abril realizam-seas seguintes acções:

“O Conhecimento de Si e Do Outro” (ExpressãoDramática); “Educação para os Media”Entre Abril e Julho:

“A Importância da voz na prática docente”; “Museu,Escola e Comunidade”Entre Outubro e Dezembro:

“Arquitectura e Utente, a importância de relataruma relação”; “Ensino Experimental das ciênciasna sala de aula”.Para mais informações, contactar os Serviços Edu-cativos do Museu.

Novo Conselho de Administração

No dia 8 de Janeiro, em reunião extraordinária doConselho Geral da AMTC, foram eleitos comomembros do Conselho de Administração:Eng. Carlos Eugénio Pereira de Brito, AssociadoIndividual com funções de Presidente do Conselhode Administração;Dr. Rui Alberto Barradas do Amaral, representanteda Câmara Municipal do Porto, com funções deVice-Presidente.Com Funções de Vogais foram eleitos:Dr. António Ricardo de Oliveira Fonseca,represen-tante da APDL;Dra. Maria Teresa da Costa Pereira Viana,representante do IPMProf. Doutor Alberto de Castro,representante da Universidade Católica.

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