jornal do mab | nº 07 | dezembro de 2008

8
Via Campesina realizou sua 5ª Conferência Internacional Vitória da organização popular no Rio Grande do Sul População contesta projetos de barragens em Minas Gerais Página 3 Página 5 Página 6 Nº 7 | Dezembro de 2008 Foto: Arquivo do MAB Trabalhadores protestam contra o alto preço da energia na Paraíba

Upload: movimento-dos-atingidos-por-barragens

Post on 04-Mar-2016

218 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Jornal do MAB | Nº 07 | Dezembro de 2008

TRANSCRIPT

Jornal do MAB | Dezembro de 2008 1

Via Campesina realizou sua 5ª Conferência Internacional

Vitória da organização popular no Rio Grandedo Sul

População contesta projetos de barragens em Minas Gerais

Página 3 Página 5 Página 6

Nº 7 | Dezembro de 2008

2009:uma janela entreaberta

Foto

: Ar

quiv

o do

MAB

Trabalhadores protestam contra o alto preço da energia na Paraíba

Jornal do MAB | Dezembro de 20082

EDITORIAL

www.mabnacional.org.br

Jornal do MABExpEdiEntE

Uma publicação do Movimento dos Atingidos por BarragensProdução: Setor de Comunicação do MAB

Projeto Gráfico: MDA Comunicação IntegradaTiragem: 5.000 exemplares

2009, uma janelaentreaberta

Ao finalizar o ano de 2008, olhando para a rea-lidade do povo atingido pela construção das barragens, percebemos que não houve grandes

mudanças em cada comunidade atingida. As grandes empresas fazem de tudo para construir as obras, e des-prezam conquistas históricas do povo, tentando sempre, com práticas cada vez mais sofisticadas, nos enganar.

A resistência popular é sempre considerada erra-da e as empresas são tidas como “corretas”, se apro-priando dos recursos públicos e naturais, negando o direito dos atingidos e cobrando preços abusivos nas contas de luz para todas as famílias brasileiras. É im-pressionante perceber que mesmo o que está estabele-cido em lei não é cumprido e, se não tiver outro jeito, as grandes empresas fazem de tudo para mudar a lei.

Mesmo assim fizemos muitas denúncias e lutas; reclamamos os direitos dos atingidos, e construímos alianças com setores da sociedade que nos fizeram avançar nas lutas por um Projeto Popular para o Brasil.

2009 já está aí, teremos novidades?

Existe uma crise econômica que fez com que o consumo máximo de energia ficasse abaixo do regis-trado em 2006. No entanto, isso por si só não interfe-re muito nos planos das empresas.

Diante desta situação entendemos que uma janela está entreaberta, como escreve nosso com-panheiro Pe. Antonio Claret. Por este pequeno es-paço podemos ver que teremos oportunidade de questionar o caminho cego dos planos atuais, que devemos lutar para recompor os direitos do povo atingido pela água ou pelo preço da luz, que pode-mos propor alternativas que favoreçam a maioria do nosso povo sem destruir a vida das populações e nem depredar a natureza.

Muito podemos fazer em 2009, porém muito dependerá da capacidade que teremos de nos organi-zar e reagir diante da verdadeira ditadura que o capi-tal nos impôs nos últimos anos.

Acreditemos, teremos muitas vitórias.

Coordenação Nacional do MAB

Água e energianão são mercadorias!

D e 17 a 19 de novembro aconteceu em São Paulo o Seminário Internacional “Agro-combustíveis como obstáculo à constru-

ção da Soberania Alimentar e Energética”, do qual participaram cerca de 35 organizações e movimentos sociais brasileiros e representan-tes de 14 países.

O seminário demarcou uma forte posição contrária ao atual modelo industrial de pro-dução dos agrocombustíveis, baseado princi-palmente no monocultivo e na exploração da mão de obra. “Discordamos radicalmente do modelo e da estratégia de promoção dos agro-combustíveis: entendemos que estes não são vetores de desenvolvimento, nem tampouco de sustentabilidade. Esta estratégia representa um obstáculo à necessária mudança estrutural nos sistema de produção e consumo, de agri-cultura e de matriz energética”, afirma o docu-mento final do seminário.

Os representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens presentes na ativida-de disseram que o atual modelo energético não prioriza o povo brasileiro e sim as empresas donas de barragens, a indústria canavieira e os bancos. Além disso, enfatizaram a importância do debate como instrumento de diálogo com a sociedade em geral e a base dos movimentos sociais. “Há tempos o MAB afirma que a água e a energia não devem ser tratadas como mer-cadorias, pois são direitos dos povos. Hoje saí-mos desse seminário internacional reforçando essa posição”, afirmam.

Seminário Internacionalcritica atual

modelo de produção dos agrocombustíveis

Jornal do MAB | Dezembro de 2008 3

Via Campesina realizou sua5ª Conferência Internacional

em Moçambique

Entre os dias 16 e 23 de ou-tubro, mais de 600 campo-neses, indígenas, atingidos

por barragens e sem-terras vin-dos de 60 países, reuniram-se em Maputo, Moçambique, durante a 5ª Conferência Internacional da Via Campesina, o principal even-to da organização, que acontece a cada quatro anos. Os que falavam hindu, árabe, francês, espanhol, inglês, português ou xangana gri-tavam juntos pela mesma causa - “Soberania alimentar já! Com a luta e unidade dos povos!” – e dançavam juntos ao mesmo som: o dos tambores africanos.

No Brasil não foi diferente. O 16 de outubro é Dia Mundial da Alimentação (definido pela FAO) e Dia Internacional em Defesa da Soberania Alimentar (definido pela Via Campesina). As manifestações aconteceram em todo mundo e aqui, em 11 estados brasileiros, mi-litantes de movimentos sociais, da assembléia popular e outras organi-zações denunciaram a irresponsabi-lidade das empresas transnacionais da agricultura e do setor elétrico na elevação dos preços dos alimentos e das tarifas de energia elétrica.

E como uma alternativa viável ao modelo de produção capitalista,

a Via Campesina tem elaborado e aplicado o conceito de Soberania Alimentar, que segundo a organi-zação, é o direito que os países têm de decidir sobre suas próprias polí-ticas para a agricultura, protegendo as comunidades locais, os meios de sobrevivência das pessoas, a saúde e o meio ambiente. O MAB é re-ferência em outro conceito também incorporado pela Via Campesina, o de Soberania Energética.

“A água e a energia devem estar à serviço e sob o controle da classe trabalhadora brasileira. Te-mos que lutar contra as transna-cionais que saqueiam os nossos re-cursos naturais e depois vendem a energia a um preço muito caro para a população”, posicionaram-se os militantes MAB durante a jornada de lutas. As manifestações acontece-ram em grandes redes de supermer-cados como o Wallmart e o Extra e em distribuidoras de energia. Foram distribuídos produtos cultivados em áreas da Reforma Agrária e autode-

clarações para concessão da Tarifa Social foram entregues nas distri-buidoras de energia.

Em Moçambique, antecede-ram a 5ª Conferência Internacional, a III Assembléia das Mulheres e a II Assembléia dos Jovens da Via Campesina. Um dos temas mais apontados pelos jovens durante as análises da situação dos países foi a migração do campo para a cida-de. Segundo alguns jovens da as-sembléia, o aumento dos conflitos no campo - gerado pela expansão do agronegócio - somado à falta de condições básicas nas comunida-des rurais, como educação, saúde e lazer - fazem com que o jovem saia cada vez mais do campo.

Já as mulheres lançaram a Campanha Mundial Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. “Ao lutarmos contra essa violência te-mos que lutar contra o neolibera-lismo, que fortalece a opressão e a violência contra nós mulheres”, disse uma das presentes.

No Brasil,militantes daVia Campesina realizaramjornada de lutaspela soberania alimentar e energética

Atividade da 5ª Conferêcia Internacional da Via Campesina

Foto

: Sí

lvia

Alv

arez

Jornal do MAB | Dezembro de 20084

A pós o Movimento dos Atin-gidos pelas Barragens de-nunciar os responsáveis pela

construção da Hidrelétrica de Estreito por violação dos direitos humanos, o Ministério da Justiça firmou o com-promisso de enviar, até o fim de no-vembro, uma comissão à divisa entre os estados de Maranhão e Tocantins para verificar a gravidade do caso.

O MAB denuncia que o go-verno tem sido omisso quanto ao

Em Tocantins, empresas donas daUHE de Estreito desrespeitam

a população atingida

seu papel de cobrar o Consórcio Estreito de Energia (Ceste) pela garantia de suporte e compensação à população atingida pela obra. O consórcio é formado pelas em-presas Camargo Corrêa, ALCOA, Vale e a Suez-Tractebel.

Assim como acontece em outras regiões do país, os estudos e relatórios de impacto ambien-tal, que permitiram a construção da usina, foram feitos por uma

empresa ligada à Camargo Cor-rêa, que faz parte do consórcio responsável pela obra. Uma das lideranças locais diz que os estu-dos são incompletos e que o ideal seria uma análise abrangente da bacia hidrográfica de Araguaia-Tocantins, capaz de avaliar com profundidade os reais impactos socioambientais. Além disso, as audiências públicas para decisão sobre a viabilidade das obras de Estreito foram um processo de participação popular maquiado, em que só participaram políticos e acadêmicos. “A população di-retamente interessada não teve informação sobre as audiências”, afirmam as lideranças.

Se não bastasse, muitas das pessoas que tiveram suas terras desapropriadas não conseguiram comprar novas propriedades com o valor pago pelo consórcio e se mudaram para favelas da cidade de Araguaína (TO). “A maioria dessa população é de pescadores, que migraram para a cidade após perderem seu emprego baseado na pesca”, finalizam as lideranças.

Durante a jornada nacional de mobilização que acon-teceu em meados de outu-

bro, trabalhadores do campo e da cidade realizaram uma marcha no Centro de João Pessoa/PB contra o alto preço da energia elétrica e dos alimentos e entregaram cen-

tenas de autodeclarações na em-presa distribuidora de energia do estado, Energisa.

Segundo lideranças, além do aumento em 15,77% nas contas da luz no último mês, a Energisa descumpre a lei que incide sobre a aplicação da tarifa Social. “Em

alguns estados do Brasil as famí-lias já conseguiram o desconto da tarifa social em sua conta, porém aqui na Paraíba a Energisa se re-cusa a cumprir a lei, se negando a aceitar as autodeclarações”, disse Gleyson Ricardo, da Assembléia Popular do estado.

Protesto contra aumento de energia elétrica e entrega de autodeclarações na Paraíba

Protesto da população na UHE de Estreito, na divisa do Tocantins com Maranhão

Jornal do MAB | Dezembro de 2008 5

Vitória da organização popularno Rio Grande do Sul

O direito dos trabalhadores sobre a Tarifa Social foi a pauta principal da audiên-

cia pública que aconteceu no final de outubro em Erechim/RS. Na ocasião, o MAB solicitou que a empresa de distribuição RGE (Rio Grande Energia), esclarecesse o não cumprimento da Lei 10.438/ 2002 que determina a cobrança da tarifa diferenciada para as famí-lias que, no estado, consomem até 160KWh/mês.

Uma das definições da au-diência foi a de que a RGE deve cumprir a lei, ou seja, que aceite as autodeclarações entregues pelas famílias sem a necessidade destas estarem cadastradas em programas do governo e sem comprovação de renda. “Isso é uma conquista dos trabalhadores. O debate foi pro-posto inicialmente pelo MAB, mas agora é assumido por diversas enti-dades e movimentos, o que fortale-

ce a luta”, disse uma das lideranças do Movimento.

Segundo o Procurador do Ministério Público Federal de Erechim, a audiência avançou no sentido da necessidade de respei-tar as leis e as decisões do poder judiciário, que passa pelo respeito à decisão do Desembargador Ca-tão Alves, determinando que as

distribuidoras aceitassem as au-todeclarações dos trabalhadores sem qualquer restrição, bastando que a pessoa se autodeclare sem qualquer outro tipo de burocracia ou exigência. “Esta é uma de-cisão judicial que estava sendo descumprida pela RGE e conse-guimos fazer com que ela fosse respeitada”, concluiu.

Entre os dias 16 e 18 de se-tembro, cerca de 200 ri-beirinhos ameaçados pela

construção das hidrelétricas do Complexo Madeira fizeram um grande ato de resistência: acam-param no local onde está sendo instalado o canteiro de obras da UHE Santo Antônio. Na margem esquerda do rio, chegavam as má-quinas da Odebrecht para dar iní-cio às obras, mas também chegava o povo para defender o rio.

O encontro chamado “Semi-nário contra a privatização do rio Madeira e pela soberania da Ama-

zônia”, foi organizado pela Via Campesina e entidades urbanas de Rondônia. Segundo José Josival-do Alves de Oliveira, do MAB, o acampamento foi um momento de estudo e de conscientização sobre os direitos dos ribeirinhos atingidos e sobre a soberania da Amazônia. “O povo saiu de lá muito animado para lutar pela sua terra e pela Ama-zônia. Depois do acampamento Fur-nas e Odebrecht estão encontrando dificuldades para fazer os despejos dos ribeirinhos”, afirmou.

Uma vitória para a luta con-tra as barragens do Rio Madeira

foi a censura sofrida pelo governo brasileiro pelo Tribunal Latinoa-mericano da Água, uma instância internacional que dá voz às comu-nidades envolvidas em conflitos hídricos. Em reunião na Guate-mala, nos dias 11 e 12 de setem-bro, o Tribunal considerou que as usinas ocasionarão uma destrui-ção ambiental sem precedentes e colocarão em risco a vida das po-pulações atingidas. A censura ao governo brasileiro aconteceu pelo fato deste desconsiderar os direi-tos indígenas e os impactos das obras fora das fronteiras do país.

Atingidos pelo Complexo Madeiraacampam no canteiro de obras

População protesta contra alto preço da Luz no Rio Grande do Sul

Jornal do MAB | Dezembro de 20086

População contesta projetos debarragens em Minas Gerais

Estas barragens, em período de cheias, represarão os rios que causam enchentes em algu-

mas cidades da região numa média de seis em seis anos. Ao invés da água correr, ficaria represada e es-coaria pelas comportas.

À primeira vista o projeto está andando sem maiores proble-mas. Porém, um clima de tensão está instalado entre os moradores e a Copasa, que não realizou nenhu-ma audiência pública de esclarecimento. A maioria das famílias atingidas estão deses-peradas e sem garantias de indenização e novos locais de moradia e tra-balho; o projeto não tem o Estudo e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA); órgãos de regulação e fiscalização como o co-mitê de bacias e o Ibama não foram consultados, e por aí vai.

Além disso, os moradores criticam a forma autoritária como o projeto vem sendo imposto pela empresa. O que mais os intimida é a ameaça de que, se não deixarem medir suas casas, não receberão in-denizações ou terão que ir até Belo Horizonte garantir seu direito. Já houve o caso de duas mortes nas co-munidades e vários casos de depres-são. Dona Raquel, líder de uma das

O governo de Minas Gerais, através da Companhia de Saneamento do estado (Copasa), está tentando implementar no sul do estado um projeto que prevê a construção de três grandes barragens.

comunidades atin-gidas, contou que a partir do momento em que os empre-gados da Copasa entraram no bairro, os idosos foram pio-rando e nos últimos meses, dois mora-dores faleceram de infarto. Dona Elisa Maria, que vive na região há 33 anos, precisou levar seu marido de 78 anos para São Paulo para fazer tratamen-tos de saúde. “Ele agora tem depres-são, a gente lutou tanto pra ter isso aqui, agora eles vão destruir tudo de uma hora pra outra e foi isso que deixou meu marido doente”, disse ela.

Os projetos de barragens têm a suposta justificativa de acabar com as enchentes em locais que as cidades cresceram onde não deve-

riam ter crescido, pois as prefeituras permitiram que fossem aprovados loteamentos em áreas que historica-mente inundavam. “É errado dizer que o rio invadiu nossas casas, pois na verdade foram as casas e as fábri-cas que invadiram os rios”, afirmou Alexandre Santos, professor da Uni-versidade Federal de Itajubá (Uni-fei), que faz uma dura crítica: “A implantação do projeto está sendo feita de maneira totalmente arbitrá-ria, não existe projeto de realocação das famílias e recuperação das co-munidades que são bem estrutura-das e com alta geração de emprego e

renda. E o pior é que, tal como estão projetados, os muros não resolverão o problema das cheias nas três cida-des mais atingidas e, em 20 anos, as barragens estarão com 50% de sua efetividade superada”, conclui.

Frente a isso, o que justifica a construção dessas barragens? Quem e o quê está por traz das obras? Não por coincidência, um dos locais mais atingidos pelas cheias na cida-

de de Itajubá é o distrito industrial, construído na base do rio. Lá estão se-diadas grandes empresas como a Areva, referência mundial em geração de energia nuclear e trans-missão e distribuição de

eletricidade; a Mahle, empresa da indústria automobilística; e, entre outras, a Helibras que constrói heli-cópteros, cujo site informa que, em Itajubá, a Helibras tem como acio-nista a MGI Participações, perten-cente ao governo de Minas Gerais. Lideranças locais afirmam que as empresas fazem fortes pressões para a construção dos barramentos. Além disso, afirmam que existem interes-ses políticos de loteamento de áreas na cidade que são inundadas com as cheias. Se não bastasse, as grandes beneficiadas com obras desse porte são as empreiteiras de construção.

Número de barragens do projeto 3 barragens

Número de atingidos 850 famílias, cercade 6.000 pessoas

Área inundada no nível máximodas cheias 3.142 hectares

Investimento da Copasa 310 milhões de reais

Trabalhadores das fábricas de doces do sul de Minas

Jornal do MAB | Dezembro de 2008 7

Juventude latino americana realizou acampamento “Che Guevara”

na Venezuela

De 18 de outubro até o dia 15 de novembro realizou-se o Acampamento “Che Gueva-

ra”, realizado pela Juventude da Via Campesina. O acampamento aconte-ceu no Instituto Agroecológico Lati-no Americano (IALA), na Venezue-la, e tem a participação de cerca de 200 jovens camponeses, indígenas, afrodescendentes e estudantes de

onze países da América Lati-na e Caribe.

Duas jovens do MAB participaram do acampamen-to, cujo lema foi “Trabalho, Estudo e Luta” e sobre o qual se realizaram atividades para comprender a realidade

latino americana, compartilhar ex-periências organizativas e de luta, além de intercâmbios culturais. O trabalho voluntário foi fundamental no sentido de retomar os valores de Che. “Construímos intercâmbios de experiências agroecológicas, seme-adura, colheita e manutenção das atividades agrícolas do IALA, assim como práticas de criação e cuidado

de animais”, disseram os coordena-dores. Além disso, com a técnica da bioconstrução e com materiais exis-tentes no entorno, os jovens cons-truíram uma casa que servirá como espaço de estudo para o IALA.

No acampamento, os jovens es-tiveram atentos à atual situação mun-dial em que o jovem sofre com a falta de trabalho, acesso à educação, avan-ço da criminalização e assassinatos. Neste sentido, a Via Campesina vem impulsionando espaços de encontro para a juventude do campo e da cidade com a perspectiva de construir alter-nativas e propostas de luta, com base nos valores da solidariedade, compa-nheirismo e construção coletiva.

O MAB vem há muito tempo mantendo contato com en-tidades e organizações in-

ternacionais, que de alguma forma tratam do tema da energia ou que buscam um projeto popular para seus países. Este ano o MAB foi convidado a participar de vários encontros internacionais de traba-lhadores rurais e urbanos. “Nossa relação com essas entidades estão aumentando cada vez mais e esta-mos sendo referência internacional na discussão sobre o modelo ener-gético e o projeto popular”, disse Soniamara que já esteve na Espa-nha, Colômbia e no Chile represen-tando o MAB.

Em julho deste ano, na Co-lômbia, representantes do MAB participaram do 4º Encontro Lati-noamericano de atingidos por bar-

ragens, pela defesa de nossos territórios, da cul-tura e da vida organiza-do pela Redlar. Foi uma grande oportunidade de se aproximar de entidades que também lutam contra as barragens e pelo direi-to do atingido. Segundo Rogério Honn, que este-ve presente no encontro, várias organizações pro-curaram o MAB para pe-dir ajuda no processo de construção de movimentos nacio-nais e de resistência a projetos de barragens implementados em seus países.

O MAB também participou de grandes eventos como a 5ª Con-ferência Internacional da Via Cam-pesina, em Moçambique, e o Forum

Social das Américas, na Guatemala. Neste último, o Movimento promo-veu duas oficinas, em conjunto com o movimento anti-represas da Gua-temala e da Redlar, onde trabalha-mos o modelo energético no Brasil e na América Latina, e apontamos os aspectos políticos que envolvem a temática da energia.

MAB fortalece a organização dos atingidosna América Latina

Reunião no Acampamento da Juventude, na Venezuela

Marcha durante o Fórum Social das Américas, na Guatemala

Jornal do MAB | Dezembro de 20088

MAB participa da luta contra aprivatização do petróleo

Desde a descoberta de uma nova reserva de petróleo em território brasileiro, na cama-

da pré-sal, os movimentos sociais e sindicatos de petroleiros estão se or-ganizando para garantir que esse in-sumo tão estratégico seja controlado e esteja à serviço dos trabalhadores brasileiros. O MAB, que histori-camente defende uma exploração dos recursos energéticos de modo sustentável e que beneficie o povo brasileiro, está altamente engajado nessa campanha.

Em 1953, depois da vitorio-sa campanha popular “O petróleo é nosso”, que ainda hoje permeia o imaginário dos trabalhadores, o presidente Getúlio Vargas decre-tou o monopólio estatal do petró-leo, criando a Petrobrás. No entan-to, hoje já não podemos estufar o peito para dizer que ele é realmente nosso. Em 1997, o então presidente Fernando Henrique Cardoso per-mitiu a exploração do petróleo por empresas privadas, além de ven-der boa parte das ações da Petro-brás (62%) para grupos privados, a maioria estrangeiros.

Portanto, o desafio imediato a ser enfrentado pelos movimen-tos sociais organizados é tentar barrar os leilões promovidos pela ANP (Agência Nacional do Petró-leo) que vendem blocos de petróleo para a empresa que pagar mais. Em uma recente plenária nacional das

entidades engajadas na campanha, que aconteceu em São Paulo, fo-ram programadas diversas mobili-zações com esse fim.

O consumo desenfreado desse tesouro energético, no entanto, con-tinua a causar guerras e impactos ambientais e sociais. Segundo Luiz Dalla Costa, do MAB, “devemos buscar uma diminuição gradativa do uso do petróleo na nossa socie-

dade, e a defesa de todas as popu-lações afetadas pela atividade petro-lera”, disse. Além disso, chamou a atenção para a posição do Brasil em relação a sua política internacional comparando com o caso da usina binacional de Itaipu. “Já que reivin-dicamos a nossa soberania energéti-

ca não devemos defender uma posição de explorador e impe-dir que o Paraguai ou outro país que possui reservas de petróleo reivindique a soberania dele, ao contrário nossa posição tem que ser para a construção de uma política de solidariedade entre os povos”, afirmou.

Para além de barrar os leilões, os movimentos sociais

possuem uma pauta geral, de longo prazo, da campanha do petróleo. Al-gumas delas são: mudar a Lei do Pe-tróleo, aprovada no governo FHC, que permite a privatização do óleo; a não exportação do petróleo cru; criar um fundo social com os recur-sos do petróleo que sirva para pagar a “dívida social”, ou seja, que se destinem à educação, moradia, saú-de, reforma agrária dentre outros.

Imagine você um grupo de médicos especialis-tas saindo do seu país de origem para atender pesso-as carentes em outros países, contando apenas com um salário básico. Imagine um país que cede esses médicos ou professores para ajudar outros povos, re-cebendo em troca somente recursos naturais como o petróleo.

Imagine o povo de um país ajudando a construir uma escola em outro país, mas que será utilizada por todos, construindo métodos de erradicação do analfa-betismo, e investindo na formação científica, profis-sional e política de jovens e adultos.

Imagine os movimentos sociais construindo junto com governantes de diversos países estes pas-sos de solidariedade e soberania, apoiando-se mutua-mente em toda a América. Imagine agora que tudo isto já existe e que são propostas articuladas em torno da ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas).

Imaginemos juntos finalmente dar passos mais avançados para a construção da solidariedade entre os povos, da troca solidária e da valorização do ser humano, independente da sua nacionalidade. Para a construção destes passos, o MAB participa e apóia a ALBA.

Construindo a solidariedade entre os povos

ALBAAlternativa Bolivariana para as Américas