jornal de saúde pública, fevereiro de 2012

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www.newsfarma.pt Próxima edição março Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2102, de 9 de fevereiro de 2013. Venda interdita. PharmaKERN Portugal, Lda����������������parceiros de confiança PUB SAÚDE JORNAL de Pública Portugueses passam um terço da vida a dormir No âmbito das celebrações do 30.º aniversário da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), é de salientar que a patologia do sono foi uma nova área que, segundo Vítor Oliveira, seu presidente, “surgiu e tem vindo a ganhar uma dimensão re- levante”. Mas, para além desta, nos últimos anos, ocorreram grandes avanços ligados à epilepsia e à doença de Parkinson. Págs. 4/5 com tratamentos mais eficazes e menos tóxicos Oncologia Pág. 2 DIABETES: USO ADEQUADO DA INSULINA REDUZ COMPLICAÇÕES Pág. 3 Osteoartrose não é uma fatalidade Pág. 8 news farma Edições Portugal precisa de mais reumatologistas Pág. 6

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Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

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Page 1: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

www.newsfarma.pt

Próxima edição março

Este Jornal é parte integrante da edição do Expresso n.º 2102, de 9 de fevereiro de 2013. Venda interdita.

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SAÚDEJORNAL de

Pública

Portugueses passam um terço da vida a

dormirNo âmbito das celebrações do 30.º aniversário da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), é de salientar que a patologia do sono foi uma nova área que, segundo Vítor Oliveira, seu presidente, “surgiu e tem vindo a ganhar uma dimensão re-levante”. Mas, para além desta, nos últimos anos, ocorreram grandes avanços ligados à epilepsia e à doença de Parkinson.

Págs. 4/5

com tratamentos mais efi cazes e menos tóxicos

Oncologia

Pág. 2

DIABETES: USO ADEQUADO DA INSULINA REDUZ COMPLICAÇÕES

Pág. 3

Osteoartrose não é uma fatalidade

Pág. 8

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farma

Edições

Portugal precisa de mais reumatologistasPág. 6

Page 2: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

“A Oncologia sofreu, ao longo dos últimos 30 anos, um espe-tacular desenvolvimento cien-

tífico, com uma mudança qualitativa na compreensão da biologia do cancro e no desenho de novas terapêuticas, com benefícios evidentes para os doentes.” A afirmação é do Dr. Joa-quim Abreu de Sousa, pre-sidente da SPO, no âmbito da celebração do aniversá-rio da Sociedade.

Como resultado da ace-leração do progresso do conhecimento, assistiu-se a uma rápida expansão de tratamentos, mais eficazes e menos tóxicos.

Na opinião do respon-sável, “estes ganhos fo-ram conquistados a um preço elevado, porque a investigação e o desenvolvimento são onerosos e, atualmente, os doentes são tratados com algoritmos terapêuticos cada vez mais complexos, o que inclui não só a terapêutica, mas também uma vigilân-cia imagiológica e laboratorial mais in-tensiva, para monitorizar a resposta e a toxicidade”.

No entanto, este momento de extraor-dinários avanços científicos coincide com um cenário de exiguidade económica e com o aumento de restrições orçamen-tais da medicina em geral e da oncologia em particular.

Na verdade, nesta nova era de te-rapêuticas mais eficazes contra o cancro, “o custo do tratamento compete di-retamente com a sua dispo-nibilidade, como um fator limitante na nossa guerra contra o cancro”. Aparente-mente, este progresso pode ser transformado num preo-cupante paradoxo: “Quanto mais avançarmos cientifi-camente mais constrangi-mentos económicos vamos enfrentar.”

Controlar as despesas de saúde tem sido, nos últimos anos, e parece desti-nado a permanecer, o centro do debate das políticas de saúde.

A título de exemplo, o aumento do preço dos novos medicamentos onco-lógicos é alvo de um enorme escrutínio. “A taxa de aumento dos gastos com me-dicamentos de oncologia parece estar

A Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) acaba de completar 30 anos de “vida”. Ao longo destas três décadas, foram dados “passos” muito sig-nificativos do ponto de vista clínico e científico. O Dr. Joaquim Abreu de Sousa, presidente da SPO, fala sobre os avanços, os receios e os desafios.

2 | Jornal de Saúde Pública | 9 de fevereiro 2013

a aumentar mais rapidamente do que noutras áreas da saúde, no entanto, o desenvolvimento de novos medica-mentos é condição sine qua non para o progresso na área da oncologia médica”, alerta, divulgando ainda que, “devido a um processo científico cada vez mais ro-busto, podemos esperar, nos próximos anos, dezenas de novas terapêuticas contra o cancro. O benefício de qualquer terapêutica oncológica é frequentemen-te visto como marginal relativamente ao seu custo”.

Algumas teorias comportamentais têm proporcionado modelos para perce-ber o que pode ser mais relevante para os doentes com cancro. Uma destas teorias sustenta que, “habitualmente, as pesso-as tomam decisões com base no valor potencial de perdas e ganhos, em vez do resultado final, e que o valor absoluto de um resultado não é determinante das decisões de saúde de um indivíduo”.

Na opinião de Joaquim Abreu de Sousa, “a definição genérica do valor de um tratamento pode levar a erros e es-tes erros podem ocorrer facilmente em oncologia, porque tratamos grupos de doentes que são muito heterogéneos e com situações clínicas frequentemente únicas”.

Embora os médicos incluam com frequência considerações de custo-efe-tividade nas suas decisões, estas pode-rão não ser uniformes e os doentes não devem ser submetidos a graus variáveis de acesso em função de decisões indi-viduais.

Dr. Joaquim Abreu de Sousa

Oncologia com tratamentosmais eficazes e menos tóxicos

DR. JOAQUIM ABREU DE SOUSA, PRESIDENTE DA SPO, FALA EM “ESPETACULAR DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO”Desafios que se colocam…

Atualmente, os oncologistas traba-lham num ambiente complexo, em que “muitos fatores estruturais e operacionais de saúde estão fora do seu controlo”, afir-ma, de forma perentória, Joaquim Abreu de Sousa, sustentando ainda que “os mé-dicos não têm controlo sobre o preço das terapêuticas. Embora possam considerar o custo de um determinado tratamento excessivo, eles podem sentir menos res-ponsabilidade para as implicações dos custos, desde que o tratamento beneficie os doentes”.

Todos estes assuntos obrigam a en-frentar várias questões essenciais sobre o custo do tratamento do cancro: Qual é o custo adequado para o tratamento do cancro? Quais são as principais cau-sas do aumento dos custos? Quem ou que mecanismos devem determinar o custo? Até que ponto os doentes devem ser convidados a partilhar o custo de seu próprio tratamento e o que fazer quando não puderem? O que podemos fazer para reduzir o custo do tratamen-to?

Segundo o presidente da SPO, “as medidas que podem ser tomadas para reduzir os custos, evitando as disparida-des de acesso e mantendo a qualidade e a inovação, deverão ser incluídas em programas de ação abrangentes, do pon-to de vista conceptual, técnico e ético, e nunca como medidas isoladas”. A comu-nidade científica continua a desenvolver uma enorme inovação para o tratamento de cancro.

“Mas o desafio atual passa por intro-duzir a inovação nos processos de pres-tação de cuidados, com a utilização efi-caz e eficiente dos recursos existentes”, finaliza.

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JORNAL DE SAÚDE PÚBLICA

Diretora: Paula Pereira ([email protected]) Assessora de Direção: Helena Mourão ([email protected]) Diretor Comercial: Miguel Ingenerf Afonso ([email protected]) Assessora Comercial: Sandra Morais ([email protected]) Diretora de Publicidade: Conceição Pires ([email protected]) Gestora Comercial: Cláudia Sousa ([email protected]) Agenda: [email protected] Editor de Fotografia: Ricardo Gaudêncio ([email protected]) Diretor de Produção: João Carvalho ([email protected]) Diretor de Produção Gráfica: José Manuel Soares ([email protected]) Diretora de Marketing: Ana Branquinho ([email protected]) Redação e Publicidade: Av. Infante D. Henrique, 333 H, 37 1800-282 Lisboa, Tel. 21 850 40 65, Fax 21 043 59 35, [email protected], www.newsfarma.pt Jornal de Saúde Pública é um projeto da News Farma, de periodicidade mensal e de distribuição conjunta com o Expresso, com a tiragem total do próprio jornal. News Farma é uma marca da Coloquialform, Lda. Pré-press: IMPRESA Publishing Impressão: Lisgráfica. A reprodução total ou parcial de textos ou fotografias é possível, desde que indicada a sua origem (News Farma) e com autorização da Direção. Nota: Os conteúdos publicados no presente dossier não são da responsabilidade da Direção do Expresso ou da IMPRESA Publishing, sendo editorialmente autónomos.

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Page 3: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

Segundo os dados de 2010, do Rela-tório Anual do Observatório Nacio-nal da Diabetes, a pre-

valência total da doença foi de 12,4% e da diabetes não diagnosticada de 5,4%, nú-meros que têm vindo a au-mentar nos últimos anos.

“A prevenção da doença é fundamental”, alerta o Prof. José Luís Medina, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD), referin-do que a Direção-Geral da Saúde criou o Programa Na-cional para a Diabetes (PND), sendo um dos seus objetivos implemen-tar a prevenção da diabetes.

Nas suas palavras, “o aparecimento de uma diabetes tipo 2 em indivíduos geneti-camente predispostos – filhos de pessoas com diabetes, por exemplo – implica na maioria dos casos, a associação de insuli-norresistência (favorecida pela obesidade) com a deficiência de insulina precoce”.

Para combater estes mecanismos, José Luís Medina explica que é necessário impe-dir o excesso de peso e a vida sedentária. “A alimentação e a atividade física, a desenvol-ver no dia-a-dia, são tão importantes como os medicamentos. A terapêutica deve inci-dir sobre o controlo da glicose no sangue, mas também nos casos de hipertensão arterial e de aumento das gorduras do san-gue”, menciona, advertindo para a necessi-dade de dar atenção particular aos pés.

O TRATAMENTO

“A pessoa com diabetes tipo 2 não está livre de ter que tomar insulina”, alerta José Luís Medina. Isso pode acontecer se surgir uma intercorrência (pneumonia, cirurgia,

gravidez) ou simplesmente nos casos em que se verifica um mau controlo da diabe-

tes com outros fármacos.Por seu lado, o Dr. José

Manuel Boavida, diretor do Programa Nacional para a Diabetes, lembra que as complicações da diabetes representam os maiores custos com a doença. Por isso, aconselha, “quando a compensação não é atingi-da por qualquer forma de medicamento introduzida, é necessário começar rapida-mente com a insulina”.

Na sua opinião, “é preciso afastar os ‘fantasmas’ que a insulina ainda transpor-ta consigo”, designadamente “que cria dependência, que é igual a uma droga, ou que pode provocar um agravamento das complicações da diabetes”.

Segundo José Manuel Boavida, a insulina ainda não é bem aceite em Portugal, uma situação que também acontece porque os médi-cos, nomeadamente nos cui-dados primários, têm pou-cas pessoas a fazer insulina e, portanto, não conseguem ter uma grande experiência da sua utilização.

O responsável acredita que, com o tempo, essa rea-lidade mudará. “Se os médicos se orga-nizarem entre si, se tiverem enfermeiros que os possam ajudar no controlo e no benefício dessa insulina e, ao mesmo tempo, se partilharem as pessoas com diabetes entre o hospital e o centro de saúde, a insulina ganhará seguramente um papel mais importante e, neste sen-

Em Portugal, estima-se que mais de um milhão de pessoas tenham dia-betes. A introdução precoce da insulina na diabetes tipo 2, que muitos julgam ser utilizada apenas na diabetes tipo 1, pode diminuir as compli-cações da doença.

Uso adequado da insulina reduz complicações da diabetes

tido, contribuirá para evitar as complica-ções”, admite.

A MULTIDISCIPLINARIDADE DA DIABETES

“A complexidade do tratamento da diabetes exige um conjunto de profissio-nais (médico, enfermeiro, dietista, podo-logista, professor de educação física) que sejam capazes de colaborar uns com os outros para poderem ajudar as pessoas com diabetes a cuidar-se melhor e a atin-

gir os objetivos de um bom controlo”, afirma José Ma-nuel Boavida.

De acordo com o respon-sável, “infelizmente, as compli-cações ainda surgem por um diagnóstico tardio da própria diabetes”, sendo muitas vezes a diabetes tipo 2 diagnostica-da apenas ao fim de 5-10 anos da sua existência. “Não é raro ainda haver pessoas em que a doença é diagnosticada ape-nas quando aparece uma com-

plicação”, indica.Também podem surgir complicações

porque não há uma adesão à terapêutica e um acompanhamento à medida das ne-cessidades de cada um. Na opinião de José Manuel Boavida, este é “claramente” um dos grandes problemas.

“As pessoas confiam demasiado nas es-

9 de fevereiro 2013 | Jornal de Saúde Pública | 3

truturas de saúde e não têm noção da ne-cessidade absoluta de serem médicas de si próprias, de saberem cuidar-se e de terem uma educação de acordo com as suas ne-cessidades”, afirma, concluindo que “a dia-betes não se trata apenas nas consultas, mas ao longo das 24 horas de cada dia, da sua vida com diabetes”.

Prof. José Luís Medina

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SPD desenvolve atividades de informação

A SPD é uma instituição que tem como obrigação garantir atuali-

zação científica através de reuniões, congressos e publicações, promover a investigação e colaborar com insti-tuições públicas e outras sociedades científicas e associações. O Fórum da Diabetes reúne anualmen-te 1800 a 2000 pessoas com diabetes, para debater problemas relacionados com a sua doença e procurar ajudar a encontrar soluções. “A SPD está empenhada em desenvolver ativida-des de informação a toda a população, procurando apoios para esta ação tão importante que visa, conforme desejo do PND, um Portugal sem diabetes”, garante José Luís Medina.

Dr. José Manuel Boavida

Os profissionais de saúde devem educar os doentes acerca das complicações da diabetes

Page 4: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

“A epilepsia conheceu avanços extraordinários, não só com as novas terapêuticas medicamen-

tosas, incomparavelmente mais efi cazes do que na época da constituição da SPN, como enveredou por caminhos então in-suspeitáveis, como as terapêuticas cirúrgi-cas e as estimulações elétricas.”

A explicação é dada pelo Prof. Vítor Oli-veira, presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), afi rmando que tais pro-gressos só foram possíveis num contexto de interligação com outras áreas científi cas e tec-nológicas, de que “salientamos a imagem (pri-

meiro a TAC e depois a ressonância magnética e a tomografi a de emissão de positrões)”.

A eletroencefalografi a, instrumento inseparável da prática neurológica, teve igualmente um papel fundamental no co-nhecimento dos mecanismos da epilepsia e permitiu identifi car, com grande precisão, os focos epiléticos quer com registos sobre o escalpe, quer ainda, diretamente, sobre o próprio cérebro, durante as cirurgias. A mo-nitorização das crises com vídeo-EEG cons-tituiu também uma mais-valia importante.

A patologia do sono foi uma nova área que, segundo Vítor Oliveira, “surgiu e que

A área das Neurociências sofreu uma grande evolução ao longo dos últimos anos. A Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), que assinala agora 30 anos de existência, acompanhou este desenvolvimento. O Prof. Doutor Vítor Oliveira, presidente da SPN, além de destacar alguns avanços relacionados com a epilepsia, com a patolo-gia do sono e com a doença de Parkinson, afi rma que, para benefício dos doentes, a SPN deve ser cada vez mais ativa e atuante em Portugal.

4 | Jornal de Saúde Pública | 9 de fevereiro 2013

tem vindo a ganhar uma dimensão impor-tante. Estranho é que situações tão relevan-tes que ocorrem em um terço da nossa vida que passamos a dormir não tenham desperta-do interesse há mais tempo”. E acrescenta: “Aqui, também, o progresso da engenharia no âmbito da eletromedicina foi fundamental, ao desen-volver instrumentos de regis-to prolongado do sono com eletroencefalografi a, associa-dos ao registo simultâneo em vídeo, e os equipamentos de monitorização cardíaca, ven-tilatória e muscular.”

EVOLUÇÃO TERAPÊUTICA AJUDA DOENTES

As doenças associadas ao envelhecimento ganharam uma nova expressão não só devido ao aumento da longevidade da população e a maior exigência com a saúde, como ao apare-cimento de terapêuticas mais efi cazes.

“A doença de Parkinson, por exemplo, be-nefi cia atualmente de tratamentos que revo-lucionaram a qualidade de vida dos seus por-tadores”, informa o neurologista, enfatizando ainda que “na doença de Alzheimer e noutras demências também se verifi caram progres-sos notáveis, com repercussão direta na qua-lidade de vida não só dos seus portadores, como dos seus cuidadores e familiares”.

As doenças desmielinizantes, de que a mais comum é a esclerose múltipla, particu-

larmente importante e dramá-tica ao atingir pessoas na força das suas vidas, “têm benefi cia-do de um progresso extraordi-nário, através de medicação in-comparavelmente mais efi caz do que existia há alguns anos”.

A área do estudo das ce-faleias constitui também um componente importante da Neurologia, com trabalhos pu-blicados em revistas científi cas internacionais.

As doenças vasculares ce-rebrais, nessa época, área órfã da Medicina, dada a escassez de meios de diagnóstico e de terapêuticas, não obstante o trabalho de Egas Moniz e colaboradores, foram conquis-tadas para a Neurologia. A sua expressão mais paradigmática traduziu-se na via verde do AVC e nas unidades de AVC, desenvolvi-das nos últimos anos por todo o país.

UM PASSADO QUE MERECE REFLEXÃO

Nas palavras de Vítor Oliveira, ao olhar para trás, “todos os neurologistas portu-gueses certamente se sentem orgulhosos do contributo da Neurologia Portuguesa para o progresso da especialidade”.

O especialista salienta ainda, “natural-mente, a obra e a fi gura de Corino de Andra-

Prof. Vítor Oliveira

Epilepsia, patologia do sono e doença de Parkinsonregistaram grandes avanços

SOCIEDADE PORTUGUESA DE NEUROLOGIA CELEBRA 30 ANOS

Missão da SPNÀ SPN cabe também uma missão de grande relevância (talvez a mais importante),

que é a de promover a formação dos médicos mais novos, que dão os seus primeiros passos na especialidade de Neurologia. A vitalidade da SPN mantém-se, enfrentando novos desafi os, com vista a satisfazer os sócios no que eles poderão esperar de uma sociedade científi ca que é a sua.

Assim, de acordo com Vítor Oliveira, “no nosso congresso anual, procuramos trazer co-legas nacionais e estrangeiros que estejam a desenvolver trabalhos da maior qualidade e interesse para a nossa prática. Incentivamos o caminho dos mais novos com a atribuição de prémios para os melhores trabalhos apresentados nas nossas reuniões, bem como apoia-mos a investigação com a atribuição de bolsas, após escrutínio rigoroso pelos pares”.

Temos sentido o reconhecimento de outras sociedades médicas em Portugal, bem como o apoio da indústria farmacêutica e de equipamentos médicos, que “veem na nossa Sociedade o meio privilegiado quando querem contactar a comunidade da Neu-rologia Portuguesa.

Ao fi nalizar, o presidente da SPN diz: “Queremos uma SPN cada vez mais ativa e atuante no nosso país, de modo a melhor servir a valorização profi ssional dos seus membros e a contribuir para melhorar a saúde dos cidadãos.”

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As áreas de investigação básica em Neurociências têm-se desenvolvido com considerável pujança

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de e colaboradores, no Porto, com a identi-fi cação da paramiloidose familiar (PAF) ou “doença dos pezinhos”, para a qual surgiu agora uma terapêutica medicamentosa para que todos olhamos com esperança”.

A Unidade de Estudos das Funções Nervosas Superiores (Laboratório de Es-tudos de Linguagem), em Lisboa, funda-da por António Damásio, hoje um cien-tista de reputação mundial a dirigir uma unidade numa prestigiada universidade dos Estados Unidos, a par de Alexandre Castro-Caldas, mantém hoje um labora-tório em atividade que lhe assegura uma reputação internacional.

As áreas de investigação básica em Neurociências têm-se desenvolvido com considerável pujança, existindo atual-mente vários centros de investigação es-palhados pelo país.

“Vemos, hoje, que proliferam em Portu-gal unidades de Neurologia, as quais, não obstante os condicionalismos que o país atravessa, vão lutando incansavelmente por prestar às populações que servem um serviço da maior qualidade, tendo em vista os padrões internacionais”, revela.

É com justifi cado regozijo que “vemos os neurologistas portugueses e estran-geiros a exercer em Portugal, bem como neurocientistas oriundos de várias áreas, juntarem-se sob a égide da SPN, para par-tilharem os seus conhecimentos e discuti-rem os assuntos que lhes dizem respeito”.

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Alguns dos momentos mais marcantes da Sociedade

1949

1950

1951

1952

1960

1971

1977

1979

1982

SPN 30 anos depois

A SPN foi fundada em 1982, tendo resultado da antiga Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria, criada em 1975. Sem fins lucrativos, é constituída por neurologistas e por outros especialistas dedicados às ciências neurológicas.A Sociedade tem como principal finalidade a promoção do desenvolvimento da Neurologia ao serviço da população portuguesa, através do fomento do ensino, da investigação científica, do intercâmbio e divulgação de conhecimentos sobre as ciências neurológicas e da promoção de melhores condições de prestação de cuidados médicos e assistência aos cidadãos com doenças neurológicas. É filiada na World Federation of Neurology e na European Federation of Neurological Societies.

No dia 20 de Abril deste ano são aprovados os estatutos da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria (SPNP).

A sessão inaugural, que decorreu no dia 21 de Janeiro, é presidida pelos Drs. Trigo de Negreiros e Veiga de Macedo. Na mesma sessão, o Prof. Doutor Egas Moniz proferiu a oração "Conceitos neurológicos em Psiquiatria". Neste ano, toma posse a primeira direção da SPNP, cuja duração do mandato era de dois anos.

Mais um marco histórico na vida longa da SPN. No dia 28 de Junho, assinalou--se o 25.º

aniversário da primeira angiografia cerebral, com uma homenagem ao Prof. Doutor Egas Moniz. Esta sessão comemorativa decorreu no Hospital Miguel Bombarda, na altura a sede da SPN (com a designação de SPNP).

A segunda direção da SPNP toma posse neste ano, sob a presidência do Prof. Doutor Barahona Fernandes.

Pela primeira vez, as reuniões da SPNP decorrem fora da capital portuguesa. A 17 de Dezembro, a reunião anual é organizada na cidade do Porto, «cumprindo-se o estabelecido» nos estatutos da SPNP.

Discute-se o anteprojecto que poderá conduzir à revisão dos estatutos da SPNP, que pretende separar as secções de Neurologia e Psiquiatria, o que se concretiza, oficialmente, dois anos mais tarde.

É eleita a última direção da SPNP (com esta designação), presidida pelo Dr. António Fernandes da Fonseca.

É debatida a cisão da SPNP, com o objectivo de se criarem duas sociedades científicas independentes: Psiquiatria e Neurologia. Esta divisão acontece em 1979. A SPNP é extinta neste ano, mas surge, entretanto, a Sociedade Portuguesa de Neurologia. Uma comissão instaladora, presidida pelo Prof. Doutor João Alfredo Lobo Antunes, elaborou os estatutos, que acabaram por ser aprovados no dia 28 de Julho de 1981.

No dia 11 de Dezembro, é elaborada a acta inaugural da SPN, sobre a reunião do dia anterior, que juntou os 18 sócios fundadores da

recém-criada Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN).

SPN seguiu o progresso

das Neurociências

Três décadas da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN) são motivo de regozijo para todos os neurologistas que nela participam e também para um momento de refl exão.

A SPN surgiu da separação entre os neu-rologistas e os psiquiatras que integravam a anterior Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria.

Tratou-se de uma separação natural, feita de comum acordo, pois as respetivas especia-lidades estavam a ganhar um desenvolvimento científi co de tal ordem específi co e vasto que passava a ser muito difícil, se não impossível, aos seus membros interessarem-se e abarcarem todos os conhecimentos que iam surgindo.

Por isso, “os seus membros optaram por abraçar uma das duas áreas que se constit-uíam e seguir os seus caminhos. Esta sepa-ração era a resultante natural da separação já ocorrida da especialidade de Neuropsiquia-tra em Neurologia e Psiquiatria”, explica Vítor Oliveira, presidente da SPN.

Sendo assim, a vida da novel SPN começa-va com a eleição dos seus órgãos sociais, pela primeira vez, em 1982.

Olhando o percurso percorrido, vemos que “a SPN acompanhou, nestas três décadas, o progresso fascinante das Neurociências”.

As áreas de investigação básica em Neurociências têm-se desenvolvido com considerável pujança

Page 6: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

O Instituto Português de Reumato-logia (IPR) recebe sobretudo doen-tes da Administração Regional de

Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo que são referenciados pelos centros de saú-de.

De acordo com a Dr.ª Eugénia Simões, presidente do IPR, “houve uma altura em que o Instituto recebia doentes de todo o País”. Segundo a médica, apesar de ainda serem referencia-dos alguns doentes da zona do Alentejo, o número tem baixado substancialmente, uma situação que acontece por “variadíssimos fatores”.

“Deixou de haver paga-mento de transportes e as próprias sub-regiões da ARS do Alentejo não querem re-ferenciar os doentes para o IPR”, relata.

Um dos objetivos passa por “manter e até aumentar a visibilidade e reputação do Instituto, quer entre os profi ssionais de saúde, como junto do público em ge-ral”.

Neste sentido, avança, “pretende-mos continuar uma política de visibili-dade, mas também de viabilidade eco-nómica, uma vez que, neste momento, estamos quase completamente de-pendentes do acordo que temos com a ARS de Lisboa e Vale do Tejo, que é uma situação que nos deixa bastante ‘desconfortáveis’ perante o quadro ge-ral do País”.

Relativamente ao panorama nacional da especialidade, Eugénia Simões co-menta que o número de reumatologistas “ainda não é o recomendável”.

Segundo refere, este deve rondar as duas centenas e, atualmente, situa-se nos 120. “Considero que ainda há falta de reu-matologistas, sobretudo em certas zonas do País.”

A responsável avança ainda que, “neste momento, não há sequer um reu-matologista em todo o Alentejo” e que “os médicos de família da região estão a ser pressionados para enviar os doentes reumáticos para consultas de outras es-

pecialidades, nomeadamente Medicina Interna”.

VALÊNCIAS CLÍNICAS DO IPR

Atualmente, o Instituto constitui o maior serviço de Reumatologia do País, com o maior número de consultas pres-

tadas e com o internamento mais alargado.

Existem diversas consul-tas no IPR, nomeadamente, Reumatologia Geral, Espon-dilite Anquilosante, Reuma-tismo Psoriásico, Síndrome de Sjögren, Esclerose Sis-témica, Doença de Behçet, Lúpus, Artrite Reumatoide, Artrite Recente, Doenças Ósseas Metabólicas, Postu-ra, Cardiologia Preventiva, Reumatologia Pediátrica,

Médico-cirúrgica (Ortopedia e Cirurgia da Mão), Fisiatria e Nutrição.

Os serviços clínicos estão distribuídos por três localizações. A “principal” situa--se na Rua da Benefi cência, onde está todo o setor de Internamento, a maior parte da

Numa altura em que se fala de cortes na Saúde, a Dr.ª Eugénia Simões, atual presidente do Instituto Português de Reumatologia (IPR), está preo-cupada com as consequências. Neste momento, existem muitos doentes, por exemplo, do Alentejo, que não estão a ser referenciados, nem o seu transporte para o IPR para receberem tratamento é facilitado.

6 | Jornal de Saúde Pública | 9 de fevereiro 2013

“Número de reumatologistasnão é o recomendável”

Consulta Externa, nomeadamente a Con-sulta de Reumatologia Geral, um setor de Fisiatria, Hospital de Dia e Podologia.

Há um segundo edifício (as primeiras instalações do Instituto) na Rua Dona Es-tefânia n.º 187, onde existe um setor de Fisiatria e um ginásio, com a maioria da fi sioterapia de ambulatório. Neste espaço realizam-se, ainda, algumas consultas pri-vadas (subsistemas de Reumatologia) e é onde se encontra a sala de Direção.

Há ainda um terceiro edifício, na Ave-nida Praia da Vitória, onde funcionam as consultas de Doenças Ósseas e Metabóli-cas e de Reumatologia Pediátrica e onde se encontra o Densitómetro.

Na opinião de Eugénia Simões, o gran-de ponto forte da instituição são os tra-balhadores, que proporcionam um trata-mento global, multidisciplinar e integrado do doente reumático, “um aspeto que nos distingue em relação a outros serviços de Reumatologia do País”.

ALERTA A DR.ª EUGÉNIA SIMÕES, PRESIDENTE DO IPR:

Dr.ª Eugénia Simões

Recursos humanos:

Reumatologistas: 20 (35 h) e 3 (tempo parcial)Internos de Reumatologia: 3Fisiatras: 3 (tempo parcial)Cardiologista: 1Cirurgia Plástica: 2Psicóloga: 2 estagiáriosNutricionista: 3Estagiários de Nutrição: 2Fisioterapeutas: 7Terapeutas ocupacionais: 1Podologista: 1Massagista: 3Osteopata: 1Enfermeiros: 8Farmacêutico: 2Assistentes sociais: 1Secretárias clínicas: 2Documentalista: 1Auxiliares de ação médica: 13Gestor hospitalar: 1Administrativos: 19Técnico de Informática: 1

“O IPR foi criado com a fi nalidade do tra-tamento do doente reumático, quer

numa vertente médica – à luz do que havia na altura –, quer social”, avança Eugénia Simões, recordando que, nesta época, já era reconhe-cida a importância das doenças reumáticas e do sofrimento que estas causam.

“O objetivo era tentar tratar o maior número possível de doentes reumáticos, independente-mente da sua proveniência, da sua condição social, fazer esse tratamento numa perspetiva integrada e, se possível, complementado com a vertente social”, desenvolve.

No País, o Internato de Reumatologia ini-ciou-se em 1981, sendo que o IPR recebeu os primeiros internos em 1982. Depois, indica, “a partir de 1989, entrou uma nova vaga de inter-nos, dos quais eu e o Dr. Augusto Faustino fo-mos os primeiros a entrar e, posteriormente, uma série de outros especialistas”.

Vários médicos de outras instituições fi -zeram a sua formação no IPR, entre os quais os Profs. Doutores Viana de Queirós (funda-dor do Núcleo e, mais tarde, do Serviço de Reumatologia do Hospital de Santa Maria) e Lopes Vaz (fundador do Serviço de Reumato-logia do Hospital de São João, no Porto).

IPR: uma instituição com 64 anos de vida

Parte da equipa de profi ssionais do IPR

Page 7: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

9 de fevereiro 2013 | Jornal de Saúde Pública | 7

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Saúde: Conhecer o risco

partilhamos o gosto pela Vida

Artigo com a colaboração:

USF Valongo – Uma equipa centradana saúde da pessoa.

O que pode influenciar a ocorrên-cia destas doenças?

A ocorrência da maioria destas doen-ças está relacionada com os estilos de vida, fatores fisiológicos e bioquímicos – em suma, os Fatores de Risco Cardiovas-culares –, muitos dos quais modificáveis.

Os Fatores de Risco Cardiovascular (FRCV) facilitam e tornam mais rápido o desenvolvimento de aterosclerose, que precede por muitos anos o apare-cimento de DCV evidente. Estes FRCV contribuem para o cálculo do Risco Cardiovascular Global do indivíduo. Se conseguirmos detetar e modificar pre-cocemente estes fatores iremos reduzir substancialmente as hipóteses de de-senvolvimento da doença.

Quais os FRCV de maior prevalência?O principal, e mais prevalente, é a Hi-

pertensão Arterial, seguido da Dislipide-mias (“colesterol elevado”), o Tabaco, a Obesidade, a Diabetes, o Stress, o Seden-tarismo, Idade e Sexo (mais prevalente no sexo masculino) e Hereditariedade.

Dados recentes concluem que cerca de 50% da população adulta tem obe-sidade ou excesso de peso. As doenças cardiovasculares são uma área prioritá-ria de intervenção na prevenção primá-ria (antes da ocorrência de doença).

O que fazer para reduzir o Risco Cardiovascular Global?

Não fumar, fazer escolhas alimentares

saudáveis, praticar atividade física regu-lar, manter ou adquirir peso adequado, ter a tensão arterial controlada < 140/90 mmHg, ter o Colesterol Total < 190 mg/ /dL e Colesterol LDL < 115 mg/dL, ter Gli-cemia < 110 mg/dL.

Os FRCV, frequentemente, são vários por indivíduo e, por vezes, interagem de forma exponencial.

De que forma o peso corporal influencia os níveis de LDL e HDL? O que fazer para conseguir minimizar este FRCV?

Relativamente ao Peso corporal, sa-bemos que uma redução de 5 a 10% do peso inicial pode conduzir a diminui-ções de 15% para o colesterol LDL “mau colesterol”, 20 a 30% dos triglicerídeos e a um acréscimo de 8 a 10% do colesterol HDL “bom colesterol”.

A adoção da Dieta Mediterrânica, rica em gordura monoinsaturada e hidratos de carbono provenientes dos frutos, legumes, cereais completos e porções moderadas de laticínios, é benéfica na redução da dislipidemia aterogénica (ní-veis elevados de triglicéridos e de coles-terol LDL e baixos de HDL).

E o exercício físico ajuda?Trinta minutos por dia de caminhada

vigorosa podem contribuir para a redu-ção da pressão arterial, do colesterol e do peso. Veja a alimentação saudável e a atividade física como um investimen-to, a médio prazo, em si e na sua família. Tente juntar prazer à mesa com equilí-brio nutricional. Exigirá tempo, paciên-cia e aprendizagem, como tudo o que realmente vale a pena na vida.

Aconselhe-se com o seu médico de família e procure ser um elemen-to interveniente na sua saúde. Toda a pessoa tem o direito à saúde e tem igualmente o dever de a promover e a defender.

Esta época do ano, propícia a er-ros alimentares e à diminuição de atividade física, contribui para aumentar o risco cardiovascular. Mais de 30% da mortalidade em Portugal deve-se às Doenças Car-diovasculares (DCV), como AVC e enfarte do miocárdio.

Dr.ª Margarida Abreu AguiarCoordenadora da Unidade de Saúde Familiar de Valongo

Page 8: Jornal de Saúde Pública, Fevereiro de 2012

Outrora descrita como uma fase final da degradação de uma arti-culação, muitas vezes confundida

com o processo natural de envelheci-mento, a osteoartrose é hoje reconhecida como uma doença “mais transversal, mais evolutiva e com um início muito mais pre-coce do que se pensava”, explica o Dr. Au-gusto Faustino, em declarações ao Jornal de Saúde Pública.

Na opinião do especialista do Insti-tuto Português de Reumatologia e da Clínica de Reumatologia de Lisboa, têm ocorrido grandes evoluções na área do conhecimento sobre a patogenia da osteoartrose que levam a uma melhor compreensão dos mecanismos mais pre-coces responsáveis pelas alterações da cartilagem.

Por outras palavras, “a artrose não é um simples desgaste da articulação cau-sado pela idade, na medida em que todas as estruturas intracartilares estão impli-cadas, muito em especial o osso subcon-dral e a membrana sinovial. Começamos a perceber que a doença começa muito mais cedo do que pensávamos de forma quase assintomática”, esclarece o reuma-tologista.

“Com estas descobertas, a osteoartro-se passou a ser encarada não como um desgaste terminal da articulação, não

como uma doença mecânica, mas sim como um processo metabólico e inflama-tório evolutivo que, se não for controlado, acaba por levar a uma degradação da es-trutura articular e a manifestações mais avançadas da doença. Até dispormos destes conhecimentos fisiopatológicos da osteoartrose, o tratamento passava, essencialmente, pelo alívio da dor, pela manutenção da função e pela cirurgia para substituição da articulação”, subli-nha Augusto Faustino.

DIAGNÓSTICO DA OSTEOARTROSE

Hoje em dia, sem necessitar de grandes exames de diagnóstico, apenas com as queixas do doente e com manifestações radiológicas da osteoartrose, é possível iniciar uma intervenção para evitar que

Afeta cerca de 80% dos indivíduos com mais de 70 anos e é, provavelmente, a doença crónica mais prevalente no adulto idoso. A osteoartrose caracteriza-se por uma degradação lenta das articulações, cujo desfecho poderá ser a neces-sidade de substituição cirúrgica da articulação por uma prótese. Sabe-se hoje que esse processo, quando identificado e tratado nas fases iniciais, pode ser travado, evitando a evolução da doença para lesões irreversíveis.

8 | Jornal de Saúde Pública | 9 de fevereiro 2013

“A osteoartrose não é uma fatalidade, é um desafio”

o doente chegue aos últimos estádios da patologia, pois, “parece evidente que, se intervirmos nessas fases mais precoces, conseguimos evitar ou atrasar a evolução para as fases mais avançadas, só tratáveis adequadamente com recurso a cirurgia ortopédica para substituição da articula-ção por uma prótese”.

FATORES DE RISCO

Os principais fatores de predisposição para o desenvolvimento da osteoartrose não são modificáveis, nomeadamente a idade, o sexo e as condicionantes genéti-cas inerentes a cada indivíduo.

Porém, há fatores que contribuem para o agravamento da artrose que podem ser minimizados, como qualquer fator me-cânico que incida numa articulação que esteja num processo de artrose “É o caso do excesso de peso, bem como o exces-so de atividade física, o desalinhamento articular e todos os fatores que causem sobrecarga numa articulação”, descreve Augusto Faustino.

“O controlo do peso, não só para alí-vio da sobrecarga, mas também para a redução dos indicadores inflamatórios, assume uma enorme importância, inde-pendentemente do tratamento farmaco-lógico”, concluiu o reumatologista.

DR. AUGUSTO FAUSTINO:

Os doentes que sofrem de osteoartrose poderão vir a ter, num futuro próximo,

novas “armas” terapêuticas para combater efi-cazmente uma patologia como a osteoartro-se, que é tão dolorosa como incapacitante.

Estas foram as palavras iniciais do Prof. Jean-Yves Reginster, presidente da Sociedade Europeia para os Aspetos Económicos e Clí-nicos da Osteoporose e da Osteoartrose (ES-CEO), na sessão “Repensar a osteoartrose”, que decorreu nas XX Jornadas Internacionais do Instituto Português de Reumatologia, no passado mês de novembro.

O orador destacou os resultados de um estudo que demonstrou que o ranelato de estrôncio – um medicamento que está apro-vado atualmente para o tratamento da osteo-porose, na prevenção das fraturas vertebrais e da anca – tem também efeitos benéficos no tratamento da osteoartrose, atrasando a pro-gressão da doença e melhorando a sintomato-logia associada.

Os resultados do estudo, realizado em mais de 1600 doentes com osteoartrose do joelho e que seguiu uma metodologia rigo-rosa, de acordo com os critérios de avaliação definidos pelas Agências do Medicamento Europeia e Norte-americana (EMA e FDA), vêm demonstrar em termos clínicos que “três anos de tratamento com o fármaco equivalem a um atraso de cerca de um ano na progres-são da osteoartrose”.

Como referiu J. Y. Reginster, o tratamen-to com ranelato de estrôncio demonstrou retardar a evolução da doença, cuja con-sequência mais grave é a necessidade de cirurgia de substituição da articulação do joelho. Além disso, o orador sublinhou que os efeitos do ranelato de estrôncio a nível estrutural da articulação foram acompa-nhados de uma melhoria significativa da sintomatologia.

Jean-Yves Reginster concluiu que “estes dados, obtidos com o ranelato de estrôncio, representam uma nova esperança para os médicos e doentes que procuram uma gestão mais eficaz e global da osteoartrose”.

Novas perspectivas no tratamento da osteoartrose

Prof. J. Y. Reginster

Dr. Augusto Faustino

Cátia Jorge