jornal de cultura | ediÇÃo nº. 2

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Gonçalo Martins “Queremos tornar-nos uma referência editorial em todos os países onde estamos presentes e continuar a abrir portas a escritores emergentes” ao “Jornal de Cultura” Fundador e Cérebro da “Chiado Editora” p6/7 p2 “A Saga de Pêro da Covilhã” p3 Assim vai o Centro de Ativ’idades p4 e 5 Viagem guida ao GIR do Rodrigo DIRETOR: ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA // CHEFE DE REDACÇÃO: JOSÉ MANUEL MACEDO // EDIÇÃO Nº. 2 - OUTUBRO 2015 // DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

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Edição Nº. 2 do Jornal de Cultura.

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Page 1: Jornal de Cultura | EDIÇÃO Nº. 2

Gonçalo Martins

“Queremos tornar-nos uma referência editorial em todos os países onde estamos presentes e continuar a abrir portas a escritores emergentes”

ao “Jornal de Cultura”

Fundador e Cérebro da “Chiado Editora”

p6/7

p2

“A Saga de Pêro da Covilhã”

p3

Assim vai o Centrode Ativ’idades

p4 e 5

Viagem guida ao GIR do Rodrigo

DIRETOR: ANTÓNIO JOSÉ DA SILVA // CHEFE DE REDACÇÃO: JOSÉ MANUEL MACEDO // EDIÇÃO Nº. 2 - OUTUBRO 2015 // DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Page 2: Jornal de Cultura | EDIÇÃO Nº. 2

/2 OUTUBRO 2015

A SAGA DE PÊRO DA COVILHÃ

A noite de 4 de Setembro de 2015 ficará na memória de to-dos os que se deslocaram à Praça do Município para as-sistir ao espectáculo “A Saga de Pêro da Covilhã”, organiza-do pela Câmara Municipal. A

Vale a pena recordar o Grande Evento Cultural, que atraiu ao “Pelourinho” uma gigantesca massa humana

ASTA, a Orquestra de Sopro da Covilhã superiormente dirigida pelo Maestro Luís Clemente, a bailarina acrobática Carolina Touceda, deliciaram a especta-cular massa humana, com uma noite ímpar e para recordar.

“Notável exibição do Grupo ASTA”

“A Orquestra de Sopro da Covilhã superiormente dirigida pelo Maestro Luís Clemente.”

“Enorme massa humana, aplaudindo vibrantemente o grande Evento Cultural “A Saga de Pero da Covilhã”

“Representando “Pêro da Covilhã”

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/3OUTUBRO 2015

ASSIM VAI O CENTRO DE ATIV’IDADES

Editorial

António José da Silva(Director)

Para assinalar o reinício das Actividades no Centro de Ativ’IDADES, realizou-se em 01 de Setembro, o encontro de concertinas “As nos-sas Concertinas”, com um grupo de 12 elemen-tos, que animou os utentes durante a tarde. Ao serão, Noite de Fados, com a participação das vozes de Isabel Bicho, Helena Cleto e Ce-lina Gonçalves e nas guitarras portuguesa e clássica: Hugo Ramos, Diogo Pinto e José Luís Cleto. Uma grande noite de fados que voltou a encher a sala multiusos do Centro.Dum preenchido e vasto leque de actividades, destaca-se:1 a 30/9 - Exposição “Companhia dos Mochos” por Ana Isabel Borrego;10/9 - Divulgação das várias obras da autora Rogélia Proença, com a presença musical de Rúben de Matos;17/9 - Workshop subordinado ao tema “Doenças

Hoje vou fazer o meu Editorial em forma de poema. Vou homenagear a minha cidade, que a partir de 20 de Outubro de 1870 nasceu como cidade. São 145 anos, a data que em 20 de Outubro se vai come-morar. Fui a um dos meus livros ( “Chuva de Mel”), onde retirei o poema “Covilhã Cidade Linda”.

Covilhã, cidade linda

Feliz de quem nasce aqui, neste paraíso sem fim.Covilhã tão linda terra, filha da serra, casou com o céuo arval desfilou e a montanha ves-tiu-lhe o véulá na encosta da serra, no branco das pinceladasuma brisa sopra leve, frias mon-tanhas nas madrugadas.

O casario em silêncio, é um pre-sépio lá nos seus cantosaté os deuses murmuram engala-nados nos seus encantosnas capas pretas de estudantes e nas altivas chaminésmitigam rimas cantantes, ruas estreitas, bares e cafés.

Cheira a pinhos, verdes caminhos e terranão há nada mais bonito que a minha linda serrae até as nuvens fugidias que per-correm cada manhãlavam com beleza e perfumam a princesa Covilhãonde a paixão se respirae a poesia se escreve, na alma que nunca findaou na teladesta cidade tão linda.

sob o ponto de vista das Medicinas Alternativas” – Olga Ribeiro; 24/9 - 7ª Sessão do Ciclo de Conferências “RE-VITALIZAR A VIDA, subordinada ao tema “Exer-cícios práticos para ajudar a melhorar a saúde no nosso dia-à-dia” pelo Prof. João Barra;25/9 - Visita ao Centro Interpretativo da Cereja do Ferro.O Centro de Ativ’IDADES retoma este mês os seguintes ateliers:Aulas de “Expressão oral/escrita”; Aulas de Es-panhol “Habla conmigo”; Aulas de InformáticaDanças Latinas; Workshop de Malhas e Ren-das; Atelier de Bordados; Encontros Geracio-nais e Intergeracionais; Atelier de Pintura Cria-tiva; Atelier de Artes Decorativas; Workshop de Teatro; Matinés Dançantes.(Notícia extraída da Página “Covilhã Munícipio”)

“Enorme Adesão aos bailes que se efectuam periodicamente no Centro”

“Grande animação dos utentes do Centro de Ativ’IDADES”

“No dia 11 de Setembro, foram apresentadas várias Obras, da poetisa Rogélia Proença”

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/4 OUTUBRO 2015

reportagem

Viagem guiada ao GIR do RodrigoReportagem: José Manuel Macedo

O Grupo Instrução e Recreio do Rodrigo, abriu as portas ao Jor-nal de Cultura, para numa via-gem ao passado, sabiamente conduzida pelo seu presidente, o senhor João José da Silva, mostrar a razão da sua funda-ção, em Abril de 1921.“Fundado pelo movimento ope-rário da Covilhã, teve como seu principal fundador José António Lopes, homem com caracterís-ticas especiais, pois para além de presidente, foi professor, en-saiador de rancho, de teatro, de

cinema, tudo isso ele sabia fa-zer com apenas a 4ª. Classe”. É assim que o senhor João José da Silva começa a contar-nos história do GIR do Rodrigo. E continua: “Em 1927, resolveu ser professor dos filhos dos associados, e começou a en-sinar-lhes o ABCD. Não tardou muitos anos e a coletividade transformou-se em escola ofi-cial do bairro do Rodrigo”. Situado num edifício onde antes existiu uma fábrica de lanifícios, composto por um rés do chão

onde um palco proporcionava a exibição de peças de teatro e outros espetáculos, o GIR do Rodrigo, fruto da visão futuris-ta dos seus dirigentes, soube modernizar-se e transformar-se numa moderna sede, onde não falta o espaço, distribuído pelos seus três andares. João José da Silva recorda-se muito bem da última fase, quando em 1951 foi inaugurado o segundo piso, onde atualmente funciona o sa-lão multiusos.Foi uma coletividade virada

para dar apoio social, pois na-queles tempos as casas não possuíam água canalizada e esgotos, “e era aqui na coleti-vidade que os sócios vinham tomar banho de água quente, um luxo naquela época, pagan-do apenas 1 escudo”, recorda João José.Ao lado da direção, um grupo de homens formava a Lutuosa, corpo que acompanhava ao ce-mitério os funerais dos associa-dos. Na falta de apoios do esta-do, pois não havia Previdência,

“Presidente do GIR, João José Silva, abriu as portas ao JC”

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/5AGOSTO 2015

era o GIR do Rodrigo que dava um subsídio de funeral, por morte de um seu associado. Quando o Papa veio pela pri-meira vez a Portugal, o GIR tinha uma televisão no salão do rés-do-chão. Abriu as portas e “eu estive na fila para entrar para ver o Papa e o meu pai pagou por mim, 5 tostões para ocupar uma cadeira”. Esta coletividade “nunca esteve muito vocacionada para a prá-tica do desporto, mas foi aqui que os primeiros Jogos Florais aconteceram, o Teatro Experi-mental da Covilhã também aqui deu os seus primeiros passos, os colóquios eram frequentes, às vezes semanais, e houve até edição de livros”, recorda João José Silva. ”A Covilhã dos Outros Tempos” foi uma obra editada pelo GIR do Rodrigo. Houve pessoas que passaram pelos órgãos sociais e que mui-to contribuíram para a cultura desta terra, como Mário Quin-tela e Zé Ramalho, escritores e jornalistas. Politicamente a dita-dura controlava o que se pas-sava culturalmente, e a coleti-vidade teve problemas estando anunciado o seu encerramento.Uma biblioteca rica, com cen-tenas, ou talvez, milhares de li-vros, chamou a atenção do Jor-nal de Cultura, que questionou sobre o interesse dos jovens pela leitura. “Nos anos 30, 40 e 50, o grupo atribuía os livros escolares aos filhos dos sócios. Era um apoio social muito importante. Nesse tempo a biblioteca emprestava livros, os sócios vinham fre-quentemente a requisitar vários que levavam para ler em casa, sem qualquer custo”.“Hoje, os jovens pouco ou nada se têm importado com a cultu-ra ou com o recreio”, continua João José, com alguma triste-za. “Desde que surgiram as dis-cotecas e os bares, a net, os ta-bletes, os telemóveis, os jovens passam o tempo a carregar nas teclas, e não há conversas. Isto tem de mudar, isto vai ter de mudar. Isto de ir ao grupo para tomar um cafezinho ou o copo de vinho porque é mais barato, isso não chega. Tem de haver uma mudança de mentalida-des”, diz. Os apoios, mesmo que peque-nos, não lhe têm faltado. A Jun-

ta de Freguesia todos os anos tem apoiado, e ainda recente-mente a Câmara lhes atribuiu um subsídio de 40.000,00 Eu-ros.Com instalações próprias, João José da Silva considera que o GIR do Rodrigo é uma associa-ção sustentável. As despesas são as normais de uma casa pública em atividade, com ex-ceção do IMI, que é um imposto que não deveria ser pago pelas coletividades. “Mas não deve-mos um tostão a ninguém”, di-z-nos.As atividades atuais, são mui-tas. Para lá do mês de Abril, mês do aniversário, onde há uma grande variedade de ações, são as festas de Santo

António, São João, São Pedro, Fim de Ano e Carnaval, que mobilizam mais meios. São festas para angariar fundos, tão necessários ao equilíbrio das contas. A aquisição de um equipamento de som para a re-alização das festas, é hoje uma fonte de receita, pois o serviço é alugado a outras entidades que necessitam de um equi-pamento sonoro. O serviço de som da Feira de São Tiago, foi este ano e durante treze dias, prestado pelo GIR do Rodrigo.Para lá destas, há as danças de salão, ginástica localizada, dança e movimento, composta por diversas crianças desde os cinco anos de idade, atividades que se desenvolvem nos salões

da coletividade todos os dias da semana.Para terminar, há uma pergunta habitual que o Jornal de Cultu-ra faz. Após estes anos, que já são muitos, à frente desta cole-tividade, sente-se realizado?“Estou cá como presidente desde 2002, e quando che-guei encontrei um passivo de 132.000,00 Euros. E, conjun-tamente com a equipa que me acompanhava na altura e a que me vem acompanhando ao lon-go destes anos, conseguimos eliminar esta divida. Esta foi a minha grande missão, e hoje não devemos nada a ninguém, nadinha” remata o senhor João José da Silva, com evidente sa-tisfação e orgulho.

“A famosa sala de troféus do GIR do Rodrigo”

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/6 OUTUBRO 2015

JC - Como aparece a Chiado Editora no sector livreiro, e atendendo à crise que o país vivia no ano de 2008, pensa que foi uma aposta de risco?GM - Começar um negócio, seja qual for a área ou momento escolhidos, é sempre um risco. Mas sabia que o mercado edi-torial podia e devia oferecer mais, que existiam muitas janelas de oportunidade fechadas e que tudo era extremamente arcaico e demasiado tradicional. É nesse contexto que surge a Chiado Editora.A Chiado é criada no ano em que a crise realmente começa em Portugal, mas como

tudo, também essa crise teve uma dimen-são positiva: Obrigou-nos a ser mais exi-gentes, rigorosos, criativos e competentes desde o primeiro dia, o que acabou por se transformar na nossa forma de estar todos os dias, mesmo passados estes sete anos.

JC - Como se diferencia a Chiado Edi-tora, das mais convencionais Editoras Nacionais?GM - A nossa missão é a democratização da edição em todos os países onde nos encontramos. E é nisso que estamos foca-dos. As restantes editoras todas elas são necessárias e bem-vindas, pois trazem

mais oferta e alternativa para os leitores, fortalecendo todo o sector editor e livreiro. JC– Sabendo que é das Editoras mais dinâmicas e que mais vende em Por-tugal, quais as principais metas para o futuro?

GM - Queremos continuar a crescer, mas sem perder o foco e o propósito com que criámos a Chiado: A aposta em autores contemporâneos. Queremos tornar-nos uma referência editorial em todos os paí-ses onde estamos presentes e continuar a abrir portas escritores emergentes.

GonçaloMartins

Formado em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, Gonçalo Martins já em plena preparação de início de trabalho na advocacia, teve a cora-gem de arriscar e redireccionar o seu destino: apostou nos seus verdadeiros sonhos e na materialização das suas ideias de negócio e, rapidamente, a Chiado Editora ganhou forma, conteúdo e resultados.Com apenas 7 anos de existência, a Chiado Editora impõe-se como um dos projectos culturais de referência e exemplo de capacidade empreende-dora em Portugal, registando o maior e mais rápido crescimento no sector a nível nacional.Especializada na publicação de autores portugueses e brasileiros contemporâneos, a Chiado é já a maior editora em Portugal neste segmento, e uma das editoras em maior crescimento no Brasil, a partir dos seus escritórios de São Paulo. O ano de 2014 fechou com a publicação de mais de 1.000 novos títulos, 700 dos quais em Portugal e 300 nos restantes 11 países onde opera com as suas chancelas internacionais. A Chiado Editorial, um dos projectos mais recentes, dedicado à publicação de novos autores para Espanha e América Latina, publica já 20 novos títulos por mês no seu terceiro ano de operação.Exemplo acabado da revolução que a Chiado se propôs a fazer no mundo editorial é a sua página de Facebook. A Chiado é a marca n.º 1 em Por-tugal nesta rede social, com mais de 2.200.000 seguidores, número alcançado de forma exclusivamente orgânica, feito que constitui um case study de sucesso em matéria de projecção de negócio no on-line.

Entrevista conduzida por António José da Silva

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/7OUTUBRO 2015

JC – Se alguém quiser escrever um Li-vro, e pretender que a Chiado Editora o ajude, como deve proceder?GM - Basta que envie o seu original para a Chiado Editora. E no prazo máximo de 10 dias, receberá uma resposta, seja ela positiva ou negativa. A Chiado recebe milhares de originais mensalmente. E or-gulhamo-nos de responder a todos estes envios em pouco mais de uma semana, mesmo quando a resposta não é a que o autor pretende ouvir. Faz parte da nossa filosofia não ser uma empresa fria, fechada, sem capacidade ou sensibilidade de perceber que naqueles

manuscritos estão os sonhos e aspirações de alguém.

JC – Descreva-nos a sua visão sobre o Mercado Editorial no nosso país?GM - Quando a Chiado foi criada encontrei um mercado amorfo, de grandes pergami-nhos, que ainda via o livro de uma forma extremamente conservadora. Nos últimos 7 anos essa realidade parece ter-se alte-rado.Hoje os desafios são completamente di-ferentes: o mercado profissionalizou-se bastante, mas com isso o espaço para o autor português contemporâneo fechou-se

ainda mais. Dessa forma, acredito que o papel da Chiado Editora se tornou ainda mais relevante. Temos de criar esse espa-ço constantemente! O nosso crescimento é a prova que é possível fazê-lo com su-cesso.

JC - Pensa que alguma vez a era do digital pode interferir no negócio do li-vro?GM - Estes dois elementos interferem um com o outro todos os dias e vão interferir cada vez mais.O digital não é uma ameaça para o livro impresso, mas sim um complemento ex-tremamente interessante para o mesmo. Os e-books, blogues e redes sociais vie-ram trazer mais plataformas de exposição literária, mais espaço aos escritores e mais alternativas para os leitores. Todos os dias vendemos livros que chegaram ao conhe-cimento do leitor através de um blogue ou de uma página de Facebook. Na Chiado Editora oferecemos o e-book a todas as pessoas que comprem, através do nosso site, livros em papel, para que todos os leitores possam ter os dois for-matos.

JC - Qual o segredo para o sucesso que a Marca Chiado Editora demonstra?GM - Não há segredo. O principal motivo de termos crescido muito é o trabalho de toda a equipa. Mas também a vontade de inovar, de pensar diferente, de fazer sem-pre mais e melhor.

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/8 OUTUBRO 2015

“Abertura do ano lectivo na Academia Sénior”

ficha técnica

Director: António José da Silva * Editor: Pedro Leitão * Chefe de Redacção: José Manuel MacedoMarketing: Rui Salcedas * Distribuição gratuita * E-mail: [email protected] * Variadíssimo Colectivo de Colaboradores e Colaboradores Regulares * Apoio da Câmara Municipal da Covilhã e da Universi-dade da Beira Interior * Paginação: Gigarte - Design e Comunicação * Exemplares: 1000

EXPOSIÇÃO DE ESCULTURA “PEDRAS COM HISTÓRIA”

ACADEMIA SÉNIOR DA COVILHÃ

Integrada nas comemorações dos 500 anos da morte de Mateus Fernandes, foi inaugurada no passado Sábado, dia 19 de Setembro, no Museu de Arte Sacra, uma exposição de escultura intitulada “Pedras com História”.Esta mostra reúne 14 peças de seis artis-tas, três deles oriundos da Batalha e os restantes naturais do concelho da Covilhã. A exposição vai estar patente ao público até ao dia 4 de Outubro, no pátio exterior do Museu de Arte Sacra transitando para o Mosteiro da Batalha onde poderá ser apre-ciada a partir de 17 de Outubro.Na cerimónia de abertura, além do execu-

A Academia Sénior da Covilhã realizou a abertura solene do ano lectivo 2015/2016 na sua sede, no dia 1 de Outubro, pelas 16 horas .A cerimónia contou com a participação do grupo de bailado GIR do Rodrigo.Foi lançado em 20 de Setembro, o Livro de contos da autoria de Maria do Carmo Vaz. A autora, natural de Aldeia de Souto publicou a obra, através das edições Vieira da Silva

tivo covilhanense, estiveram presentes os representantes da Câmara Municipal da Batalha e o director do Mosteiro de Santa Maria da Vitória, da Batalha. A vereadora da Câmara da Batalha, Cíntia Silva, referiu a importância da cooperação entre municípios, afirmando que esta “é uma relação muito própria e é neste sen-tido que iniciamos esta parceria. Muitas vezes pequenos passos como este que foi dado vão contribuir com certeza para pas-sos muito maiores”. Palavras reiteradas pelo Presidente da Câmara da Covilhã, Ví-tor Pereira, que considerou que estas par-cerias são um factor de desenvolvimento

e não um pretexto para efectuar viagens turísticas.Joaquim Ruivo, Director do Mosteiro da Batalha, enalteceu a importância desta exposição, indicando que “este é um mo-mento de grande contexto cultural, não só pela ligação dos concelhos, mas também pelo homem que marcou a nossa arquitec-tura e a nossa arte”.De referir ainda que Mateus Fernandes nasceu na Covilhã e foi um dos projectis-tas do Mosteiro da Batalha, um ex-libris em Portugal, que o tornou assim o introdu-tor do estilo gótico português, designado manuelino, e uma das mais marcantes in-dividualidades da arte em Portugal. (in Covilhã Municipio)

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/9OUTUBRO 2015

José Paixão

ACORDO DA DISCÓRDIA

É notório que o ser humano nem sempre aceita de bom agrado as mudanças que se ope-raram na sociedade.Ao longo dos milénios foram introduzidas alterações subs-tanciais. E muitas foram. Umas bem aceites e sucedidas, e ou-tras, como as do novo acordo ortográfico, contestadas.Numa época relativamente re-cente, em Portugal, a indústria dos lanifícios estava concen-trada a sul do rio Douro, com maior incidência na Covilhã que foi apelidada da Manches-ter portuguesa, sendo a activi-dade algodoeira desenvolvida a norte do referido rio.As pessoas mais antigas ain-da se recordarão dos teares de madeira, ou de pau, como na altura se dizia, movidos pela força braçal do homem que fazia a lançadeira atravessar a cala entre 15/20 passagens por minuto. É óbvio que uma pro-dução tão diminuta não satisfa-zia as necessidades do mercado e, para precaver esta carência, os industriais adquiriam mais alvarás para aumentar as tecela-gens, e esse aumento obrigava a equiparem-se também com mais mecanismos de tinturaria, cardação, fiação e ultimação.Inicialmente, os teares tinham dois pedais, logo, duas percha-das que apenas permitia fabri-car tafetás. Como a imaginação do homem é fértil, surgiram os primeiros teares com 4 pedais, (na altura diziam apeanhas) que permitiam fabricar, para além do tafetá, a sarja de quatro e sarja cortada, proporcionando a concepção de remissas que possibilitavam outros desenhos nos tecidos. Mais tarde, surgiram novos tea-res com seis pedais que faculta-vam mais e variados desenhos e texturas. Com a evolução tecnológica surgiram os primeiros teares mecânicos, ou de ferro, como se dizia, proporcionado o au-mento significativo do fabrico. Considerando a velocidade da máquina, a produção podia tri-plicar ou quadruplicar, já que a lançadeira passou a atravessar a cala entre sessenta e cem pas-sagens por minuto sem esforço do homem. No entanto, e por-

que as vendas eram superiores aos metros produzidos, ainda assim, os industriais, (os que tinha mesmo veia de indus-trial), sentiam a necessidade de aumentar o número de teares, e consequentemente, o número de tecelões, e por arrasto, ope-rários para outras máquinas de apoio à tecelagem. Havia trabalho para quem qui-sesse trabalhar, pese embora, nem sempre bem remunerado.A transformação industrial nessa altura não teve qualquer resistência, já que não colidiu com os interesses da população, antes proporcionou desenvolvi-mento e bem-estar, pese embo-ra com mais visibilidade para o patronato que enriqueceu.Mais recentemente houve nova transmutação com teares mais produtivos, sendo os tecelões obrigados a trabalhar com dois, mais tarde com quatro, seis, oito teares… etc.. De referir que estas mudanças já não fo-ram tão pacíficas, pois aí houve alguma contestação, já que le-vou ao desemprego em massa quando surgiram os teares sem lançadeira, em que o pente en-costava o fio da trama, quatro-centas, seiscentas, oitocentas passagens por minuto…, e a es-tes, passaram a chamar máqui-nas de tecer, em vez de teares.É óbvio que, com esta modifi-cação aliada à introdução das novas tecnologias, (máquinas digitais e computorizadas) su-punha-se que a economia cres-cesse substancialmente e que os resultados financeiros das empresas fossem consideravel-mente superiores aos de antiga-mente. O que não aconteceu.Com esta última alteração, seria lógico que a economia medras-se de forma sustentada. Porém, constatou-se que, enquanto as empresas laboravam com má-quinas de baixa produção, não havia desemprego e a econo-mia, segundo os números, este-ve melhor que na época actual, considerando o fracasso social que resultou de tal mudança. A indústria laneira quase desa-pareceu, e a Covilhã perdeu o estatuto que lhe fora atribuído. No entanto, com inteligência souberam colmatar tal lacuna, considerando que a Universi-

dade ocupou, com vantagem, o lugar que perdera. Aqui, esta transformação resultou, e hoje, a Covilhã tem na Universidade o seu motor de sustentabilida-de. Das terras que viviam dos lanifícios, foi das que se soube renovar.Outra reacção está na ordem do dia: à do acordo ortográfico.Tanto quanto se sabe, desde o início da nacionalidade que a língua portuguesa tem vindo a sofrer alterações consideráveis. No entanto, e tanto quanto nos é dado observar, jamais terá havido uma alteração tão ino-portuna como a que estamos a assistir actualmente. Por razões políticas, foi esta-belecido um acordo entre os países de expressão portuguesa para introduzirem modificações na escrita. Porém, as alterações que agora foram introduzidas, não estão a ser aceites pela maioria dos portugueses e, se-gundo parece, os outros países, por o acharem caricato e des-virtuoso, não lhe estão a dar o cumprimento que foi estabe-lecido. Parece que só Portugal está a impor tal acordo.A haver mexida na ortografia, ela devia contemplar clarifica-ção de linguagem e não con-fundi-la. Se comprarmos um fato, de fato não tem lógica nenhuma, já que, o que quero é de facto comprar, um fato, ou: eu hei--de comprar uma maçã, e não, eu hei de comprar uma maçã. São apenas dois exemplos entre centenas que, na minha óptica, não fazem sentido.Eu concordo que se simplifique a escrita e não se a confunda. E melhorar, segundo a minha óp-tica, começa logo pelo alfabeto, nas letras c/s - c/q - s/z - j/g - X/z que se podem ler da mesma forma, consoante a palavra. Por exemplo: por que o C há-de ter dois sentidos? (Carlos – Cen-tro) o X e Z exemplo – ezem-plo, - G e J - tinGir – tinJir . São apenas 3 exemplos. Se repararmos, o c utiliza-se como q, o s como z, o G como j, o X com z, etc. Porque não se utilizam as letras apenas e só como se pronunciam?Muitos mais exemplos se po-dem dar mas, para não ser fas-tidioso, deixo aqui o que penso sobre o assunto da resistência ao que chamam inovação. Eu, cá por mim, também sou resistente ao Acordo da dis-córdia e tenho a perfeita noção de que, o que expresso, vai ser alvo de comentário. Não sou perito nesta matéria, mas também tenho direito à minha opinião. No entanto, deixo em aberto a discussão do tema para o debater quem tenha mais co-nhecimentos do que eu.

José Duarte Saraiva

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

RITUAL ÁCIDO

Percorres a estreita vereda que se chama AURORAnuma cidade-fóssil de visões e sombras;

a teu lado respiro a combustão que te adivinhae vejo no silêncio pálido dos teus olhosuma matéria que se expande e cristaliza e arruína.

Os sons ganham um instinto procriador acima dosreflexos, o fumo invade o colo da cobiça que anes-

tesia:há entre muros um grito que se sublima de estertore nas gargantas escavado um túnel com estrias.

Um barco enterra no areal a quilha da renúnciae os fantasmas a bordo erguem os remos para um

esforçopando; nus, sobre mosaicos de algodão, devoramospedras, ou o sentido mórbido das palavras escamadaspelo perfume inútil das mortes consabidas…

Punhais estremecem no interior dos nossos lábios bons;

os corpos improvisam o absoluto império dos trapézios;nos ares ziguezagueiam vozes, a melodia dos pífarosdivinos (ou o barulho azedo das patas dos cavalosescarvando o pó negro dos hipódromos do tempo?!).

Desejos, o abúlico desejo de escrever nos teus om-bros

uma viagem de desgraça e reconquistar o teu foral de espaçoprimitivo, a virgindade das flores que morrem sem sen-tidona memória das masmorras de um império carnívoro.

Escancaram-se portas; entram corpos tatuados deveneno onde as falas servis se confundem com as

mãos;sob o fumo imaterial das alvoradas mágicas trocam-se beijose estandartes, e os rostos mostram o nu das feridas sobremáscaras. Atrevemo-nos à cobiça do silêncio dosdeuses positivos, e os teus joelhos suam picados porabelhas. Falamos de solidão e do alvoroço postiço dasregras da rua, viagens estão nos horizontes, eterna-menteanfíbios do sal nos oceanos e dos vulcões nas ilhas.

Estou em paz comigo, mas a terra arde. É o tempo das

selvas e dos horizontes, estátuas de sal comandam asestradas, sexos boquiabertos lembram-me medronhos,claustros onde avançam passos de vestais maceradasa fogo na curva dos seios. A HORA, enfim, é doce e osilêncio nobre. Nada se inventou que não seja praga –sombras que não findam, antros de degredo, ondeem vão cavalgo a acidez dos sonhos (…) onde emvão me sonho como um arlequim que forjou a lendado seu heroísmo ao suicidar-se por não fazer rir.

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/10 OUTUBRO 2015

No passado dia 18, o Jardim Público, foi palco do 1º. Cer-tame sob o tema da “Pastora”. Este Evento, foi organizado pela ADRAB – Associação de Desenvolvimento e Agríco-la das Beiras, teve o apoio do Município da Covilhã, contan-

No passado dia 26 de Setem-bro, o auditório da Banda da Covilhã encheu-se para acolher a primeira edição das Jornadas do Património Industrial e Téc-nico.O primeiro painel debruçou-se sobre o património industrial da cidade, os Bairros operários onde foram apresentadas vá-rias propostas para a sua rea-

do ainda com Conferências, workshops, e expositores, com produtos agrícolas e regionais.O certame, procurou contextua-lizar o papel da mulher na agri-cultura e muito particularmente na sociedade.

bilitação.Seguiu-se, num segundo mo-mento, uma comunicação so-bre os moinhos do concelho que virá a dar origem a uma carta patrimonial sobre este tipo de estrutura. O ciclo de co-municação encerrou com uma abordagem à possibilidade de musealização de espaços mi-neiros.

JARDIM MUNICIPAL FOI O PALCO DA “PASTORA”

Primeira edição das Jornadas do Património Industrial e Técnico

Houve ainda lugar para a apre-sentação do projeto “Canadas da Covilhã “ que se encontra já a ser implementado e que visa a identificação e requalificação destas vias com um importante significado para as comunida-des rurais.O programa destas Jornadas contemplou ainda visitas de estudo à unidade fabril Laneira

(dia 26) e ao Couto Mineiro da Panasqueira e Aldeia de São Francisco (dia 27), a inaugura-ção de um um Totem alusivo à transumância, localizado na Avenida Pêro da Covilhã, (dia 26) bem como a apresentação da obra “Bairros da Covilhã”, da autoria de António Garcia Bor-ges (dia 25).

Page 11: Jornal de Cultura | EDIÇÃO Nº. 2

/11OUTUBRO 2015

Em 3 de Setembro, foi inau-gurado pelo Presidente da Câ-mara Municipal da Covilhã, Dr. Vítor Pereira, o novo espaço de lazer na Mutualista Covilhanen-se. Com a participação de mui-

tas Entidades Oficiais, e com o acolhimento geral de muitos residentes e populares.Durante a tarde, actuou o Agru-pamento “Tantos e Mais Um”, seguindo-se um lanche para todos os participantes.

Anabela Gaspar Silvestre

Anabela Alexandra Gaspar Sil-vestre nasceu, na Covilhã, onde reside.Mestre em Língua, Cultura Portu-guesa e Didática, pós-graduada em Ciências Documentais – Op-ção de Biblioteca e Documentação e licenciada em Língua e Cultura Portuguesas (Ensino) pela Univer-sidade da Beira Interior.Sócia da APP (Associação Portu-guesa de Poetas) e da APE (Asso-ciação Portuguesa de Escritores).Autora da obra poética Retalhos de Alma editada em 2014 e coau-tora em diversas Antologias e Co-letâneas – textos em prosa e em verso.Alguns dos seus poemas já foram musicados e cantados por talento-sos músicos portugueses e brasi-leiros.Gosta de ler, escrever, meditar, ouvir música, apreciar os inúme-ros encantos da natureza…

Página de escritora:https://www.facebook.com/anabe-lagasparsilvestreescritora

Conheça os nossos Poetas

O seu nome é José,- José Lourenço -foi e será sempre o meu amigo.Deambuloupor todaa bela Serra da Estrela!Conheceu todos os caminhoscomo a palma da sua mão.Enfrentoumuitos perigospara salvaras lindas ovelhasdo seu rebanho!Calcorreoumuitos quilómetrospara perfazeros caminhos da transumância;enfrentou:nevechuvaventofriocalor…mas com a sua capa espessa e de cor castanha feita de burelsempre escapou;Lá diz o ditado:«Quem tem capasempre escapa!»De olhar doce,serenoe apaziguador;de trato fácile brincalhãorapidamente passoude pastor amigoa pastor avô!OBRIGADApor todos os ensinamentosque me transmitiu!São sabedoria,cultura popularque jamais esquecerei!Devido a siolhei para a vilade Manteigascom outra perspetiva!Peguei na objetiva,fiz clique, disparei…E não é que ganhei?...Um prémio fotográfico,graças à sua fotogenia!...Agora descanseem PAZ,para sempreuma vezque labutouuma vida inteirapara nada faltarem casae ao seu rebanho!OBRIGADAmeu ternopastor avôserrano,de Manteigas!

Pastor amigo

Inauguração do novo espaço de lazer da Mutualista Covilhanense

Page 12: Jornal de Cultura | EDIÇÃO Nº. 2

/12 OUTUBRO 2015

“À lupa” com Pedro Leitão

ARTISTAS DE CÁ

UM LIVRO

UM FILMEUMA MÚSICA

UM ESCRITOR

SENTIMENTO

Eu sou o Jonh; sou pescador de la-gostas. Um dia apaixonei-me. Che-guei ao sítio meia hora antes e ner-voso com o aproximar da hora pensei em sair dali. Fugir. Ou então escon-der-me para ver se ela viria. Foi má ideia – pensava. O que lhe vou dizer? E ela o que estará a pensar? Mas eu tinha de lhe dizer o que deci-dira dizer-lhe e isso a ser, só poderia ser naquele momento. Eu embarcaria com meu pai no dia seguinte, para voltar um mês depois. Ela também partiria no dia seguinte, talvez vol-tando passado um ano pela mesma altura durante novas férias de verão; e um ano aos 14 anos era como se abalasse para sempre. Desde o jogo das escondidas nas dunas, que eu não deixara de pensar constantemente nela e então, tudo o que fazia mistu-rava-se com esse pensamento. Agora, no fim das férias, não suportava saber que ela iria partir. O primeiro susto chegou com a manhã, ao ver o pai a revisar o motor do carro, e a mãe a transportar malas para o interior da casa que alugaram à viúva de Ben-jamim.Ver que ele iria embora deu-me um aperto que me cortava a respiração. Por isso a mandei encontrar-se co-migo. Aquele dia era a última hi-pótese de a ver. Tenho de lhe dizer o que sinto. Ela tem de saber. Posso arrepender-me depois. Rondei a casa durante a manhã toda. Sentei-me no paredão mesmo em frente à mora-dia, fingindo contemplar o mar, na esperança de que talvez ela me vis-se e viesse perguntar-me qualquer coisa ou dizer que chegara a hora da despedida porque abalaria no dia se-guinte. Mas ela não me viu. Ou pior. Viu-me e não veio. Farto do mar, que conhecendo bem de tanto para ele olhar nunca me fartara até aquela manhã, ganhei a coragem e virei-me para o casario marginal. Lá estava a janela dela. Eu sabia que era ali que ela dormia porque na primeira noite das escondidas, foi a única luz que se acendeu na casa, pouco depois da sua entrada silenciosa. E fiquei a olhar a janela. Às vezes parecia que alguém a ia abrir e eu desviava o olhar. Tal-vez fossem apenas as cortinas a aba-nar numa aragem, porque a janela permaneceu sempre fechada. E foi na janela que deixei um bilhete: vai ter comigo hoje ao entardecer ao tal sítio onde voámos. Agora ali estava eu à sua espera na varanda da sereia. Já lá tinha estado com ela dois dias antes quando prometi levá-la a an-dar de balão. Quando daquela local da falésia se olhava só em frente, o abismo que se prolongava até ao mar a rebentar muitos metros abaixo dava a ideia de estar no ar, e o vento que nos rasava o rosto parecia fazer-nos

deslocar; e isso era voar; o silêncio e a proteção de madeira faziam que o voo fosse como o de um balão. Dali olhando para o lado via-se toda a rua em baixo e era mais por isso que eu tinha subido; para ver se ela apareceria. De repente, lá vinha ela em baixo, na direção dos rochedos. O tempo pareceu uma eternidade mas como todas as eternidades também esta teve fim e ela chegou. Olá, disse, ela. Depois pousou a mão no socalco da rocha devido à vertigem inicial e disse-me: tão alto. Dá medo mas é um sítio maravilhoso. Ela olhava o mar em frente. Eu olhava-a a ela, e sentia de perto a sua respiração e o cheiro da sua roupa. Para ver o pre-cipício ela inclinou-se ligeiramente para a frente, apoiando no meu braço a mão esquerda que foi deslizando devagar até à minha mão. E o tem-po parou. E ali ficámos a dar a mão sem nada dizer. Ela olhava o mar. Eu olhava-a a ela e sentia a sua respira-ção. Pensei em aproximá-la mais de mim e abraça-la, mas a coragem não foi suficiente. E era tão bom estar ali a dar-lhe a mão que poderia ali ficar para sempre. A torre da igreja tocou logo a seguir, a dar as sete da tarde e Beatriz, terminou ali a ilusão. Chiii, tenho de ir. O meu pai deve estar uma fera. Disse-me para não me atrasar. Amanhã vou-me embora. Vai ter ao paredão mais à noite, disse-lhe eu. Talvez; os meus pais não gostam que eu saia à noite. Não te lembras da mi-nha aflição na noite das escondidas? Talvez o Miguel queira ir comigo e como é três anos mais velho e já vai para a faculdade, pode ser que os meus pais não se chateiem. Logo se vê. AdeusE começou a descida. Queres que te ajude a descer? Não, eu já conheço bem o caminho.E eu fiquei na falésia a vê-la abalar e a certificar-se que aquele momento tinha mesmo acontecido. Estava tão impavidamente estático que uma gai-vota distraída pousou naquele sítio levantando de seguida. Era verda-de. Tinha acontecido. “Ela deu-me a mão. Se calhar também gosta de mim”. Pensava e dava a mão direita à esquerda como para sentir novamen-te a mão dela.O tempo continuava parado. E Be-atriz desaparecera já atrás dos ro-chedos mais abaixo. Eu continuava a olhar esperando que ela voltasse a aparecer na marginal a caminho de casa. E lá chegou ela por fim. Bea-triz dirigiu-se à porta de casa e parou. Voltou-se e olhou para a falésia. Atra-vessou depois a rua até ao paredão debruçando-se sobre ele. O que esta-rá a fazer, perguntei a mim próprio. Baixou-se no paredão. Parece estar a ver de perto alguma coisa. Está a ler qualquer coisa. Não. Não está a ler. Está a escrever.E Beatriz voltou a olhar para a fa-lésia, atravessou a rua e entrou em casa.Eu, com a pressa e tontura do mo-mento, não desci só a andar; caí fi-cando com um corte na perna que ficou gravado na pele pelos anos seguintes. Mais tarde completaria o traço da cicatriz tatuando o resto da linha que faria um coração e lá den-tro, a data do dia da queda.A sangrar e dorido mas feliz, cheguei ao muro marginal e procurei o que encontraria. Estava escrito: É o nosso sítio secreto. Promete que não levas mais ninguém e que fico no teu cora-ção para sempre.E eu, embriagado pela paixão, levei dedo à ferida e a sangue escrevi: Juro. Para sempre.

A promessa

Pedro Leitão

As suas origens remetem-se a Vila do Carvalho, terra de seu pai, por lá conhecido como João da Barreira. Depois de uma passagem pela indústria de lanifícios, toda a sua vida profissional se misturou com a arte de escrever, a dar notícias em jornais locais e nacionais tradi-cionais e no informativo online, tão percursor como o foi o magazine “Kaminhos”. Desde cedo usou a sua capacidade de organização e a sua metodologia de comunicação nos meios políticos locais sem contudo mostrar interesse pelo exercício da política partidária. Consultor de comunicação nos meios empresariais e políticos, é atualmente chefe

de Gabinete do Presidente da Câmara de Belmonte. Já exerceu iguais funções nas câmaras de Castelo Branco e Covilhã. Com uma atividade literária recente já escreveu os livros “Diário dos Infiéis” (que eu considero a sua obra prima), Meio-Rico, Rio das Doze Águas, Diário dos Imperfeitos, Pássaro dos Segredos, Para ti, Vera Cruz e o livro infantil “Pedrito”.A sua obra tem já vários reconhecimentos: Prémio Literário Vergílio Ferreira, Prémio Nacional de Lite-ratura Lions de Portugal 2014/15, Prémio Literário Alçada Baptista, Prémio de Poesia Manuel Neto dos Santos, tendo visto os dois Diários adaptados ao teatro pela ASTA – Associação de Teatro e outras Artes.O João provou que é possível encontrar a solidão para escrever, mesmo no turbilhão de uma vida sem-pre preenchida de projetos.https://www.facebook.com/jmorgado5

“No dia seguinte ninguém morreu”. Assim começa este romance de José Saramago. Colocada a hipótese, o autor desenvolve-a em todas as suas consequências e o leitor é conduzido com mão de mestre numa ampla divagação sobre a vida e a morte, o amor e o sentido ou a fal-ta dele, da nossa existência. Como se comportaria o Homem perante a não morte? Um romance que mostra toda a falência da existência humana em contraponto com o sentimento produto do melhor dessa humanidade capaz de apaixonar a própria morte.“A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreen-der o que lhe estava a suceder, ele que nunca dormia sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.” Assim termina o romance genial de Saramago.

Indicado para Óscar de melhor animação, este filme de animação conta a história de uma me-nina que tem o poder de se transformar em uma foca e depois torna à condição humana. Segundo a lenda irlandesa, ela é uma das últimas da sua raça. Quando ela foge da vigilância da avó em-barca numa aventura subaquática onde tudo pode acontecer.

A-há | TAKE ON MEFizerem sucesso nos anos 80 com vários temas e continuam ainda em pleno a trazer momentos úni-cos aos apreciadores de música. Este vídeo de um concerto magnífico em 2005 deve ser ouvido com fones para obter toda a emoção da beleza sonora deste tema. https://youtu.be/qXxJeEMmFDM