jornal da ciÊncia - drleonardocrema.files.wordpress.com · será no centro de convenções de...

12
JORNAL da CIÊNCIA PUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 31 DE JANEIRO DE 2014 • ANO XXVII N 0 752 • ISSN 1414-655X C,T&I de Pernambuco: emenda constitucional (p.4) Desafios para uma ciência internacional (p.12) Opiniªo As sociedades protetoras na regula- mentação da experimentação animal - Artigo dos pesquisadores da Fiocruz Ana Filipecki, Silvio Valle e Marcia Teixeira. (Página 3) Poucas & Boas Apagão científico, inovação e cidada- nia. Confira o que foi dito sobre esses e outros assuntos. (Página 3) Breves Projeto Andar de Novo - Pesquisa liderada pelo brasileiro Miguel Nicolelis foi citada na revista Nature. (Página 11) Livros e Revistas Liinc em Revista - O volume 9 da publicação já está disponível e conta com um dossiê sobre Acesso à Infor- mação Governamental. (Página 11) Agenda Cientfica 37ª Reunião Anual da Sociedade Bra- sileira de Química - Este ano, o evento será no Centro de Convenções de Natal, de 26 a 29 de maio. Saiba mais sobre a programação. (Página 11) Participaªo brasileira nos grandes experimentos internacionais Cientistas ainda não chegaram a um consenso sobre a adesão do Brasil a importantes projetos de ponta como o Cern e o ESO. Por um lado, um grupo de cientistas defende a participação brasileira em prol do avanço científico nacional. Por outro, especialistas consideram os custos desses projetos elevados, diante da baixa participação que o país teria nas pesquisas. (Página 6) Exploraªo de xisto ameaa qualidade da Ægua no Brasil De onde vem e para onde vai a água utilizada na exploração do gás de xisto? Cientistas alertam para a carência de informações que identifiquem onde as jazidas de gás natural estão localizadas e se estão perto de aquíferos importantes. Rocha a ser fraturada encon- tra-se a algumas centenas de metros abaixo do aquífero Guarani, que teria riscos de ser contaminado. (Página 8) Para MEC e CNPq, Olimpada de Biologia nªo Ø prioridade A X Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) corre o risco de não ser realizada em 2014. O motivo é a falta de recursos do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), seus principais apoiadores. A situação preocupa pesquisadores. (Página 4) O analfabetismo cientfico no Brasil O Brasil sofre de analfabetis- mo científico. A avaliação é de educadores brasileiros que afir- mam: nossas crianças não se interessam por ciência, e a ra- zão disso está num ensino fun- damental deficiente e desinte- ressante, com professores mal preparados e condições inade- quadas de infraestrutura. Eles alertam para o fato de a ciência não fazer parte do cotidiano das pessoas. A análise foi motivada pelo resultado do Programa In- ternacional de Avaliação de Es- tudantes (Pisa) 2012, que reve- lou o mau desempenho dos alu- nos brasileiros nas provas de matemática, leitura e ciências. O país ficou no 59º lugar em ciên- cias, num ranking de 65 países. Pensando em respostas prá- ticas para melhorar nossa per- formance, o professor sênior do Instituto de Física da Universida- de de São Paulo (USP), Luís Carlos de Menezes, aposta numa educação mais eficaz não só como preparação para exa- mes. “Isso não se deve resumir ao ensino das ciências, mas a modificações profundas em to- dos os componentes de instru- ção”, enfatiza. Menezes, que atua na área de formação de professores, acredi- ta que uma educação melhor de- pende de várias transformações que levem a escola a ser um espa- ço de produção cultural, com prá- ticas que envolvam a participação ativa e propositiva dos alunos. De acordo com o professor da USP, a formação de profes- sores não deve estar restrita a aulas em faculdades, mas a prá- ticas docentes supervisionadas nas escolas. E a ciência e tecno- logia devem ser tratadas com atualidade e envolvimento cria- tivo, não com ouvir falar de des- cobertas dos outros. Para Nelson Pretto, profes- sor da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Secretário Re- gional da SBPC/BA, está na po- lítica, parte da solução. “Precisa- mos de uma política de implan- tação massiva e universal de museus, planetários, hackers labs, fab labs, espaços coletivos associados com a escola, onde a meninada possa criar, e, claro, tudo isso fortemente articulado com a cultura", disse. (Página 7) Reuniªo incentiva pesquisa no Acre Com a expectativa de atrair, na 66ª Reunião Anual da SBPC, um público de 10 mil pessoas, a vice-reitora da Universidade Fe- deral do Acre (Ufac), Margarida de Aquino Cunha, destaca que o encontro representa uma opor- tunidade para o estado atrair mais políticas públicas para educação, a fim de melhorar as pesquisas voltadas para a re- gião. (Página 2) Ensino Superior: reformas urgentes Especialistas reunidos no simpósio Excellence in Higher Education disseram que a grade curricular das universidades bra- sileiras está defasada e precisa mudar para se adequar às ne- cessidades atuais. Para eles, é preciso dar condições para que os alunos estudem mais. Foi consenso que a grade curricular das universidades brasileiras está defasada. (Página 5) Tœnel da CiŒncia chega a Sªo Paulo Para despertar a curiosidade dos jovens, foi aberta em São Paulo a exposição “Túnel da Ci- ência Max Planck”, que vai até 21 de fevereiro. A exposição mul- timídia tem mil metros quadra- dos e é dividida em oito grandes temas. “Todos os módulos pos- suem exemplos da Sociedade Max Planck e suas bases são as pesquisas realizadas em seus institutos. (Página 12) Oramento do MCTI em 2014 Oficialmente, o orçamento deste ano do Ministério de Ciên- cia, Tecnologia e Inovação (MCTI) será de R$ 9,520 bilhões, praticamente estável em rela- ção aos R$ 9,424 bilhões de 2013.Os dados constam da Lei Orçamentária da União (LOA), sancionada pela presidente Dilma Rousseff. Os investimen- tos oficiais em CT&I são de R$ 1,302 bilhão. (Página 7)

Upload: doannhan

Post on 02-Dec-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 31 DE JANEIRO DE 2014 • ANO X XVII N0 752 • ISSN 1414-655X

C,T&I dePernambuco:

emendaconstitucional

(p.4)

Desafiospara umaciência

internacional(p.12)

OpiniãoAs sociedades protetoras na regula-mentação da experimentação animal -Artigo dos pesquisadores da FiocruzAna Filipecki, Silvio Valle e MarciaTeixeira. (Página 3)

Poucas & BoasApagão científico, inovação e cidada-nia. Confira o que foi dito sobre essese outros assuntos. (Página 3)

BrevesProjeto Andar de Novo - Pesquisaliderada pelo brasileiro MiguelNicolelis foi citada na revista Nature.(Página 11)

Livros e RevistasLiinc em Revista - O volume 9 dapublicação já está disponível e contacom um dossiê sobre Acesso à Infor-mação Governamental. (Página 11)

Agenda Científica37ª Reunião Anual da Sociedade Bra-sileira de Química - Este ano, o eventoserá no Centro de Convenções deNatal, de 26 a 29 de maio. Saiba maissobre a programação. (Página 11)

Participação brasileira nos grandesexperimentos internacionais

Cientistas ainda não chegaram a um consenso sobre a adesãodo Brasil a importantes projetos de ponta como o Cern e o ESO. Porum lado, um grupo de cientistas defende a participação brasileiraem prol do avanço científico nacional. Por outro, especialistasconsideram os custos desses projetos elevados, diante da baixaparticipação que o país teria nas pesquisas. (Página 6)

Exploração de xisto ameaçaqualidade da água no Brasil

De onde vem e para onde vai a água utilizada na exploração dogás de xisto? Cientistas alertam para a carência de informações queidentifiquem onde as jazidas de gás natural estão localizadas e seestão perto de aquíferos importantes. Rocha a ser fraturada encon-tra-se a algumas centenas de metros abaixo do aquífero Guarani,que teria riscos de ser contaminado. (Página 8)

Para MEC e CNPq, Olimpíada deBiologia não é prioridade

A X Olimpíada Brasileira de Biologia (OBB) corre o risco de nãoser realizada em 2014. O motivo é a falta de recursos do Ministérioda Educação (MEC) e do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq), seus principais apoiadores. Asituação preocupa pesquisadores. (Página 4)

O analfabetismo científico no BrasilO Brasil sofre de analfabetis-

mo científico. A avaliação é deeducadores brasileiros que afir-mam: nossas crianças não seinteressam por ciência, e a ra-zão disso está num ensino fun-damental deficiente e desinte-ressante, com professores malpreparados e condições inade-quadas de infraestrutura. Elesalertam para o fato de a ciêncianão fazer parte do cotidiano daspessoas. A análise foi motivadapelo resultado do Programa In-ternacional de Avaliação de Es-tudantes (Pisa) 2012, que reve-lou o mau desempenho dos alu-nos brasileiros nas provas dematemática, leitura e ciências. Opaís ficou no 59º lugar em ciên-cias, num ranking de 65 países.

Pensando em respostas prá-ticas para melhorar nossa per-formance, o professor sênior doInstituto de Física da Universida-de de São Paulo (USP), LuísCarlos de Menezes, apostanuma educação mais eficaz nãosó como preparação para exa-mes. “Isso não se deve resumirao ensino das ciências, mas amodificações profundas em to-dos os componentes de instru-ção”, enfatiza.

Menezes, que atua na área deformação de professores, acredi-ta que uma educação melhor de-pende de várias transformações

que levem a escola a ser um espa-ço de produção cultural, com prá-ticas que envolvam a participaçãoativa e propositiva dos alunos.

De acordo com o professorda USP, a formação de profes-sores não deve estar restrita aaulas em faculdades, mas a prá-ticas docentes supervisionadasnas escolas. E a ciência e tecno-logia devem ser tratadas comatualidade e envolvimento cria-tivo, não com ouvir falar de des-cobertas dos outros.

Para Nelson Pretto, profes-sor da Faculdade de Educaçãoda Universidade Federal daBahia (UFBA) e Secretário Re-gional da SBPC/BA, está na po-lítica, parte da solução. “Precisa-mos de uma política de implan-tação massiva e universal demuseus, planetários, hackerslabs, fab labs, espaços coletivosassociados com a escola, ondea meninada possa criar, e, claro,tudo isso fortemente articuladocom a cultura", disse. (Página 7)

Reunião incentivapesquisa no Acre

Com a expectativa de atrair,na 66ª Reunião Anual da SBPC,um público de 10 mil pessoas, avice-reitora da Universidade Fe-deral do Acre (Ufac), Margaridade Aquino Cunha, destaca queo encontro representa uma opor-tunidade para o estado atrairmais políticas públicas paraeducação, a fim de melhorar aspesquisas voltadas para a re-gião. (Página 2)

Ensino Superior:reformas urgentes

Especialistas reunidos nosimpósio Excellence in HigherEducation disseram que a gradecurricular das universidades bra-sileiras está defasada e precisamudar para se adequar às ne-cessidades atuais. Para eles, épreciso dar condições para queos alunos estudem mais. Foiconsenso que a grade curriculardas universidades brasileirasestá defasada. (Página 5)

�Túnel da Ciência�chega a São Paulo

Para despertar a curiosidadedos jovens, foi aberta em SãoPaulo a exposição “Túnel da Ci-ência Max Planck”, que vai até21 de fevereiro. A exposição mul-timídia tem mil metros quadra-dos e é dividida em oito grandestemas. “Todos os módulos pos-suem exemplos da SociedadeMax Planck e suas bases são aspesquisas realizadas em seusinstitutos. (Página 12)

Orçamento doMCTI em 2014

Oficialmente, o orçamentodeste ano do Ministério de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação(MCTI) será de R$ 9,520 bilhões,praticamente estável em rela-ção aos R$ 9,424 bilhões de2013.Os dados constam da LeiOrçamentária da União (LOA),sancionada pela presidenteDilma Rousseff. Os investimen-tos oficiais em CT&I são de R$1,302 bilhão. (Página 7)

JORNAL da CIÊNCIAPublicação quinzenal da SBPC— Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência

Conselho Editorial: Alberto P.Guimarães Filho, Jaime MartinsSantana, Lisbeth KaiserlianCordani, Maria Lucia Maciel eMarilene Correa da Silva FreitasEditor: Mario NicollRedação e reportagem: EdnaFerreira, Vivian Costa e VivianeMonteiro.Colaboraram com esta edição:Camila Cotta e Beatriz BulhõesRevisão: Mirian S. CavalcantiDiagramação: Sergio SantosIlustração: Mariano

Redação: Av. Venceslau Brás,71, fundos, casa 27, Botafogo, CEP22290-140, Rio de Janeiro, RJ.Fone: (21) 2295-5284. E-mail:<[email protected]>

ISSN 1414-655XAPOIO DO CNPq

31 de Janeiro de 2014Página 2 JORNAL da CIÊNCIA

Secretaria de SóciosConheça os benefícios em setornar sócio da SBPC no site<www.sbpcnet.org.br> ou en-tre em contato pelo e-mail<[email protected]>.

Valores das anuidades 2013:• R$ 60: Graduandos, Pós-Gra-duandos, Professores de ensinomédio e fundamental, sócios deSociedades Associadas à SBPC.• R$ 110: Professores do ensinosuperior e profissionais diversos.

JC E-MailAssine e receba diariamente. Cadas-tre-se gratuitamente em <www.jornaldaciencia.org.br/cadastro.jsp>.

ComCiênciaRevista eletrônica de jornalismo ci-entífico da SBPC-LabJor. Site:<www.comciencia.br>.

Ciência e CulturaDistribuição gratuita para sócios qui-tes. Mais informações sobre venda eassinatura, entre em contato:[email protected] ou (11)3355.2130.

ASSINE NOSSAS PUBLICAÇÕES

ASSINE TAMBÉM

Ciência Hoje11 números: R$ 105,00. Descontopara sócios quites da SBPC: R$55,00.Fone: 0800-727-8999.

Ciência Hoje das Crianças11 números: R$ 79,00. Desconto paraassociados quites da SBPC: R$ 35,00.Fone: 0800-727-8999.

SBPC - Sociedade Brasileirapara o Progresso da CiênciaR. Maria Antonia, 294 - 4º andarCEP: 01222-010 - São Paulo/SPTel.: (11)3355-2130

Inscrições abertas para a 66ª Reunião AnualEdição terá a participação de associações científicas dos Estados Unidos, China, Europa e Índia

Estão abertas as inscrições para a 66ª ReuniãoAnual da Sociedade Brasileira para o Progressoda Ciência (SBPC), que será realizada entre 22 e27 de julho de 2014, na Universidade Federal doAcre (Ufac), em Rio Branco, e terá como temacentral “Ciência e Tecnologia em uma Amazôniasem Fronteiras”.

As inscrições podem ser feitas no site do evento,onde é possível encontrar outras informações. Oencontro é aberto ao público e qualquer pessoapode participar, sem inscrição prévia, da maioriadas atividades. A inscrição e o pagamento de taxasão necessários apenas para aqueles que preten-dem apresentar trabalhos científicos, que queiramparticipar de um dos minicursos ou receber aprogramação impressa.

Entre as novidades, a próxima edição contarácom a participação das principais associações cien-tíficas dos Estados Unidos, da China, da Europa e daÍndia, além de pesquisadores renomados da Amé-rica Latina, para participarem de debates sobretemas de impacto em política científica. Estarãopresentes dirigentes da Associação Americana parao Avanço da Ciência (AAAS), a Associação Chinesapara a Ciência e a Tecnologia (Cast, na sigla eminglês), a Associação Europeia para Ciência(EuroScience) e o Congresso de Associações deCiência da Índia (Isca). A proposta é de que taisinstituições participem de debates sobre um determi-nado tema de impacto em política científica.

Incentivo à educação e à pesquisa no AcreViviane Monteiro

Com a expectativa de reu-nir, no maior encontro científi-co do Brasil, um público aproxi-mado de 10 mil pessoas entrebrasileiros e estrangeiros, avice-reitora da UniversidadeFederal do Acre (Ufac), Marga-rida de Aquino Cunha, destacaque a 66ª Reunião Anual daSBPC representa uma oportu-nidade para o estado atrair maispolíticas públicas, principal-mente para educação, a fim demelhorar as pesquisas volta-das para a região nortista. “Osesforços são para fazer umareunião de qualidade, honrar atradição da SBPC e trazer re-torno positivo para o estado”,analisa Margarida, que é tam-bém coordenadora local dareunião.

Destacando a necessidadede aumentar o número de dou-tores na região, a professora dizque a Região Norte respondepor 4% do universo de doutoresformados no Brasil, com desta-que para o Acre, com menos de1% do total, patamar considera-do “pequeno” diante do númeronacional e do potencial da re-gião, rica em biodiversidade.

Dados divulgados este anopelo Centro de Gestão e Estu-dos Estratégicos (CGEE), vin-culado ao Ministério da Ciên-cia, Tecnologia e Inovação(MCTI), confirmam a desigual-

dade regional. Revelam que onúmero de mestres e doutoresformados pelas universidadesbrasileiras somou 55.047 em2011. Por sua vez, evidenciama distância entre as regiões Sule Sudeste, responsáveis por44% do total, e Norte com 18%.

Tal cenário, na avaliação deMargarida, reflete os baixos in-vestimentos em pesquisa que“as pequenas” universidadesrecebem, como a Ufac, na com-paração com as maiores insti-tuições do país, como Universi-dade de São Paulo (USP), Uni-versidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ) e Universida-de Federal de São Paulo(Unifesp).

“Nossa região tem sido fa-vorecida, um pouco mais, nosúltimos anos pelo governo fe-deral. As regiões Sul e Sudes-te, porém, oferecem mais opor-tunidades para fazer doutora-do fora e pesquisas mais qua-lificadas, além de contar commais recursos para fazer boaspesquisas. Por isso, concen-tram um maior número de dou-tores”, lamentou. “O Acre é ca-rente disso.”

Habitado por 750 mil pesso-as, o Acre é um dos estadosmenos populosos do país. Maisda metade desses habitantes,cerca de 400 mil, reside na ca-pital, conforme dados do setorde pesquisa da Secretaria deEstado de Planejamento do

Acre. A população acreana re-presenta cerca de 0,38% dapopulação nacional. Com aeconomia pautada hoje no de-senvolvimento socioambiental,em crédito de carbono, produ-ção de madeira legalizada eextrativismo, o estado respon-de por 0,2% do Produto InternoBruto (PIB) nacional, ao somarR$ 8 bilhões, acrescentam ospesquisadores da Secretaria.

Na avaliação da professora,de imediato, a reunião deve con-tribuir para fortalecer a área cien-tífica local, que será colocadana pauta da ciência nacional,exatamente em um momentoem que se discute o Código deCiência, Tecnologia e Inovação(CT&I), em tramitação no Con-gresso Nacional.

Troca de experiências sobrea Amazônia - A professora daUfac fez questão de ressaltar otema do encontro, “Ciência eTecnologia em uma Amazôniasem Fronteiras”, que deve con-tribuir, também, para estreitaras relações bilaterais com osvizinhos andinos e trocar expe-riências e pesquisas sobre aAmazônia. Margarida lembrouque a instituição hoje possuiconvênios (intercâmbio e pes-quisa) com universidades pe-ruanas e bolivianas, acordosque podem aumentar a partirda realização da 66ª ReuniãoAnual da SBPC.

31 de Janeiro de 2014 Página 3JORNAL da CIÊNCIA

Poucas & BoasPoucas & BoasAs sociedades protetoras naregulamentação da experimentação animal Inovação � �Tentativas de for-

çar as instituições científicas a atuarna área da inovação não vão levar anada, exceto aomau uso dos recursospúblicos.No entanto, poderá levar aodeclínio da atividade científica, dimi-nuindo assim as chances de melhorentrosamento entre o setor científicoe o setor empresarial.�

Wanderley de Souza é profes-sor titular da UFRJ, ex-secretárioexecutivo do MCT, membro daAcademiaBrasileiradeCiênciasedaAcademiaNacionaldeMedici-na, em artigo noMonitor Mercan-til (21/1).

Inovação II � �A questão é queas empresas não estão investindo navelocidade necessária para acompa-nhar esse ritmo. Ainda são poucas noBrasil as quede fato fazeminovação.Épreciso mudar, o governo está atentoe é um parceiro para a modificaçãodeste cenário�.

LuizAntonioElias, secretário-executivo do Ministério da Ciên-cia,TecnologiaeInovação(MCTI),sobre o baixo dinamismo da ino-vação empresarial no Brasil, naAgência CT&I (26/1).

Cidadania � �A escola não éfábrica. A educação escolar, contudo,deve ser também educação para acidadania e para os valores domundodo trabalho.�

João Batista Araujo e Oliveira,presidente do Instituto Alfa e Beto(IAB),noOEstadodeS.Paulo (27/1).

Apagão � �Corremos o risco deum apagão científico.�

Laerte Machado, pesquisa-dor do Instituto Biológico e pre-sidente da Associação dos Pes-quisadores Científicos do Esta-do de São Paulo (APqC), no OEstado de São Paulo, 27/01, sobrea falta de especialistas nos insti-tutos de pesquisa.

Índios � �Estamos falando de13,3% das terras do país. Muitasáreas são de difícil acesso e é necessá-rio ter capilaridade para alcançá-las.Boa parte dos nossos servidores estãoperto de se aposentar e há a necessi-dade de trazer mais pessoas.�

Tatiana Vilaça, coordenadorade prevenção de ilícitos em terrasindígenas da Funai, sobre a faltade fiscais para vigiar áreas deconservação ambiental, noOGlo-bo (27/01).

Ambiente � �Os resíduos dashidrelétricasmudamamigração, suadinâmica, o que afeta os peixes e podefazer com que os botos fiquem semcomida.�

Tomas Hrbek, professor daUniversidade Federal do Ama-zonas, responsável pela pesquisasobre a ameaça de extinção deuma nova espécie de boto, re-cém-descoberta naAmazônia, naAgência EFE (26/1).

Ana T. Filipecki, Silvio Valle eMarcia Teixeira*

Passados meses da invasãoao Instituto Royal (Organizaçãoda Sociedade Civil de InteressePúblico – Oscip), cujo objetivoera resgatar cães da raça Beagleutilizados em experimentaçãoanimal, aguardamos respostasmais convincentes para o fecha-mento. A invasão desencadeoudiscussões sobre o uso de ani-mais em pesquisas científicas esuscitou perplexidades. Entreelas, o desconhecimento, porparte da imprensa e da socieda-de, de que o Brasil possui umalei específica. O uso de animaispara fins científicos não é em siilegal, mas é regulado pela LeiNo 11.794/2008, concomitantecom outras regras.

Essa regulamentação foi con-siderada por parte da comuni-dade e instituições científicas umavanço. Ela prevê a participa-ção das Sociedades Protetorasdos Animais - SPAs no Conse-lho Nacional de Controle deExperimentação Animal -Concea e nas Comissões deÉtica no Uso de Animais -CEUAs. Os debates ganharamas redes sociais e a imprensa,sem, contudo, abordar a partici-pação das SPAs.

A norma legal determina queas CEUAs (Art. 9º, inciso III) e oConcea (Art. 7º, inciso II) tenhamrepresentantes de SPAs legal-mente estabelecidas. A qualifi-cação do representante (e darepresentação) foi determinadapor decretos e resoluções nor-mativas. No Concea os repre-sentantes das SPAs devem ser“cidadãos brasileiros, com grauacadêmico de doutor ou equiva-lente, nas áreas de ciências agrá-rias e biológicas, saúde humanae animal, biotecnologia, bioquí-mica ou ética, de notória atua-ção e saber científicos e comdestacada atividade profissio-nal nestas áreas” (Art. 9º DecretoNº 6.899/2009).

De acordo com o Art. 43, orepresentante das SPAs nasCEUAs deve ser cidadão brasi-leiro “de reconhecida competên-cia técnica e notório saber, denível superior, graduado ou pós-graduado, com destacada ativi-dade profissional em áreas rela-cionadas ao escopo da Lei”. AResolução Normativa Nº 1 - RN1do Concea, estabelece que “nafalta de manifestação de indica-ção de representantes (...)” as“CEUAs deverão comprovar aapresentação de convite formalde no mínimo, três entidades” e“enquanto não houver indicaçãoformal de sociedades protetorasde animais” é possível “convidarconsultor ad hoc, com notório

saber e experiência em uso éticode animais” (Art. 4º, § 4º e 5º). ARN1 sofreu alterações em 2010,2011 e 2012, e a versão atualsubstitui a expressão “poderãoconvidar consultor ad hoc” por“deverão convidar (...)”.

A Lei Nº 11.794 não estabele-ce a necessidade de títulos aca-dêmicos ou experiência profis-sional comprovada na seleçãodo representante das SPAs. Achicana regulamentar do con-sultor ad hoc foi criada peloConcea, para contornar um pro-blema compartilhado pela mai-oria das CEUAs, o de encontrarrepresentantes das SPAs. A Leie o Decreto não definem o termo“sociedade protetora de animaislegalmente estabelecida” nemseus órgãos de registro. O papele função do representante daSPA na CEUA não foram tam-bém estabelecidos.

Nos Estados Unidos, o “Ani-mal Welfare Act”, determina serdever do representante da so-ciedade civil defender os inte-resses da prote-ção dos animais.A participaçãodas SPAs nasCEUAs deveriadar voz aos de-fensores da Pro-teção Animal,ampliando a to-mada de decisãosobre a experi-mentação ani-mal. A represen-tação deveria serexercida com vi-sões políticas,éticas, culturais diversas das ci-entíficas e, sobretudo, por nãoespecialistas. Qual o sentido deexigir que o representante daSPA tenha reconhecida compe-tência técnica e notório saber,possua nível superior, gradua-do ou pós-graduado, e destaca-da atividade profissional rela-cionada com a Lei?

No lugar de um membro ativoe comprometido com a sociedadecivil, exigiram um profissional comformação acadêmica. O sentidoda participação cidadã, herdadada CF de 1988, foi subvertido.Tornamos a representação pre-vista na Lei Nº 11.794 uma partici-pação seletiva e excludente.

A corrosão do princípio departicipação, inicialmente previs-to pelo legislador, não se resumeà qualificação dos representan-tes. O Decreto (Art. 11) estabele-ce competência ao ministro deCiência, Tecnologia e Inovação -MCTI para selecionar os dois re-presentantes das SPAs para quecomponham quadro de mem-bros do Concea, a partir de listatríplice elaborada por comissãoad hoc. O MCTI instituiu consulta

pública para as SPAs em 11/08/2009 e precisou prorrogá-la até13/10/2009. Mas nenhuma ins-tância envolvida propôs rever oscritérios para seleção dos repre-sentantes das SPAs.

Na composição do grupo detrabalho responsável pela ela-boração da minuta de decretoque regulamenta a Lei Nº 11.794pela Portaria N°1, de 12/03/2009,os integrantes, em sua maioria,são cidadãos que possuem ati-vidades reguladas pela Lei, es-tão direta ou indiretamente en-volvidos com a criação ou utili-zação de animais de laborató-rio. A maioria é ligada às institui-ções científicas, sem represen-tação da sociedade civil. Padrãoreproduzido nas comissões adhoc que elaboram a lista tríplicedestinada à escolha de repre-sentantes das SPAs.

Importante fonte de erosão aparticipação ampliada da socie-dade civil é a própria dinâmicaassumida pelas CEUAs e peloConcea. Os critérios utilizados

pelas CEUAs epelo Conceapara selecionarseus membrosnão são divulga-dos. As CEUAsimpõem sigilosem definiçãoclara e públicasobre quais te-mas e decisõessão sigilosos,e seus motivos.A aprovaçãodo protocolode pesquisa

com animais se dá por maioriasimples. Significa que o voto dorepresentante da SPA, minori-tário, não conseguirá reprovarou aprovar qualquer projeto. Oconsultor ad hoc, em substitui-ção ao representante da SPA,assegura o funcionamento dasCEUAs, não resolve a questãoe gera insegurança jurídica.

Com a manutenção das re-gras para a participação de re-presentantes das SPAs, o de-bate sobre uso de animais parapesquisa científica continuarárestritivo. Acreditando que C&Té um tema de poucos, não con-seguiremos produzir normasefetivas, e a sociedade civil con-tinuará desconfiada da legali-dade e legitimidade das pes-quisas e as instituições científi-cas e pesquisadores em ciên-cias de animais de laboratóriocontinuarão caminhando no fioda navalha.

*Ana T. Filipecki, Silvio Valle eMarcia Teixeira são pesquisa-dores da Escola Politécnica deSaúde da Fundação OswaldoCruz.

"Com amanutençãodas regras para aparticipação de

representantes dassociedades protetoras,o debate sobre usode animais para

pesquisa científicacontinuará restritivo"

JORNAL da CIÊNCIA 31 de Janeiro de 2014Página 4

Para MEC e CNPq, Olimpíada de Biologia não é prioridadeParticipação de brasileiros em eventos internacionais também está ameaçada por falta de recursos e de apoio do governo federal

Edna Ferreira

A X Olimpíada Brasileira deBiologia (OBB) corre o risco denão ser realizada em 2014. Omotivo é a falta de recursos doMinistério da Educação (MEC)e do Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq), seus princi-pais apoiadores. Por enquan-to, apenas a Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado doRio de Janeiro (Faperj) com-prometeu-se em apoiar o even-to. Mas os valores não repre-sentam nem 25% do que a or-ganização precisa. Com isso, oBrasil não poderá participarnem das modalidades interna-cionais de biologia.

A situação preocupa Leila dosSantos Macedo, presidente daAssociação Nacional de Biosse-gurança (Anbio), responsávelpela coordenação da OBB. Se-gundo ela, o projeto encaminha-do ao CNPq no edital de apoioàs Olimpíadas foi negado peloórgão com o argumento de quemesmo tendo sido consideradocom mérito, não era de priorida-de do governo. “Recorremos aopresidente do CNPq imediata-mente após recebermos o pare-cer em 17 de dezembro de 2013,e até a presente data não tivemosqualquer resposta”, afirmou ela.

A participação do Brasil emcompetições internacionais embiologia também está ameaça-da, pois o processo de seleçãoprévio no país ocorre por meiodas três etapas da OBB. De acor-do com a presidente da Anbio,existe um edital das olimpíadasinternacionais que deve ser se-guido pelos organizadores daolimpíada nacional. “Não pode-mos mudar as regras, sob penade desclassificar o país. Alémdisso, a Olimpíada Internacionaleste ano será realizada naIndonésia, e a Ibero-Americana,no México, o que representa ele-vado custo para envio das dele-gações compostas por seismembros cada, como regra dainternacional. Sem recursos nãoteremos mesmo como enviar adelegação brasileira”, preocu-pa-se Leila.

De acordo com a coordena-ção nacional da OBB, cerca de 60mil alunos de ensino médio par-ticipam de uma série de provas acada ano. Destes, os dez primei-ros colocados são trazidos parauma semana de treinamento prá-tico no Rio de Janeiro. O progra-ma conta com o apoio de profes-sores de instituições como a Uni-versidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj), Universidade Fe-deral Fluminense (UFF), MuseuNacional, Instituto ORT e Uni-versidade Federal do Estado do

Rio de Janeiro (Unirio).Para o biólogo José Carlos

Pelielo de Mattos, professor ad-junto do Instituto de AplicaçãoFernando Rodrigues da Silveira(CAp-Uerj) e pesquisador do Ins-tituto de Biologia Roberto Alcân-tara Gomes, a questão é grave.Ele participa da preparação dasprovas teóricas e das atividadespráticas da OBB. Além disso,junto com o professor RubensOda, coordenador nacional daOBB, ele faz parte da delegaçãobrasileira nas olimpíadas inter-nacionais.

Segundo ele, sem o apoiofinanceiro do MEC e do CNPq,não há como realizar o treina-mento prático que já estava pre-visto no cronograma da X OBBpara os primeiros colocados apósas provas teóricas. “O custo comhospedagem, alimentação etransporte desses alunos é altoe depende do apoio financeirodesses órgãos. As etapas práti-cas correspondem a 40% danota final do aluno. Vale ressal-tar que as atividades experimen-tais das olimpíadas internacio-nais são cobradas em níveis dedificuldade e complexidade aci-ma daqueles cobrados pela to-talidade das escolas de ensinomédio brasileiras, o que torna aetapa de treinamento fundamen-tal para uma boa participaçãodos alunos nas fases internacio-nais”, explicou Pelielo.

Mobilização – De acordo com acoordenação da OBB, em 2013o evento custou cerca de R$ 200mil, incluindo todos os gastosrelacionados ao treinamentoprático dos alunos em laborató-rios, às viagens, aos uniformesda delegação brasileira, e com osoftware para gerenciar todo osistema de provas, correções eclassificação automática on linee correspondências. Com umgasto médio de R$ 3 por alunoinscrito, para Leila Macedo, aOBB não está entre as mais ca-ras. “Considerando que mesmoolimpíadas que não exigem trei-namento prático como a de Ma-temática recebe montantes bemsuperiores a 1 milhão, a de Bio-logia foi sempre a que recebeumenos recursos em relação àsdemais desde 2005”, apontou.

Enquanto a resposta do CNPqnão sai, a coordenação da OBBestá mobilizando diferentes enti-dades que apoiam a olimpíada,como Conselhos de Biologia,empresas para possíveis patro-cínios, universidades, alunos eescolas participantes. “Fizemosum abaixo-assinado, a ser enca-minhado ao MEC e MCTI. Alémdisso, enviamos correspondên-cia ao Comitê Olímpico Interna-cional relatando a situação do

Brasil. O Comitê ficou de enviarcartas aos ministros informandoa importância da nossa participa-ção no evento”, afirmou a presi-dente da Anbio.

O abaixo-assinado está dis-ponível em www.change.org/pt-BR/peti%C3%A7%C3%B5es/cnpq-e-governo-federal-pelo-apoio-a-olimp%C3%ADada-brasileira-de-biologia.

A Coordenação de Comuni-cação Social do CNPq informouque a seleção de propostas deolimpíadas científicas é realiza-da por meio de edital, e as pro-postas são analisadas por umcomitê integrado por pesquisa-dores especialistas da área deDivulgação e Popularização daCiência. No julgamento são le-vados em consideração os se-guintes aspectos: qualificaçãoda equipe executora e experiên-cia na organização de competi-ções similares; abrangênciaterritorial da competição; maiornúmero de participantes em po-tencial; possibilidade de inser-ção dos vencedores em compe-tições internacionais.

Ainda segundo a Coordena-

ção de Comunicação, cada pro-posta é analisada de acordo comesses critérios e em compara-ção com as demais propostassubmetidas. No julgamento ocor-rido em dezembro de 2013, aproposta da X Olimpíada Brasi-leira de Biologia (OBB) recebeuparecer favorável, ficando na 11ªposição no ranking das propos-tas recomendadas. Tendo emvista limitações orçamentáriasdo CNPq, foram apoiadas asoito primeiras colocadas.

As olimpíadas de conheci-mento, como a OBB, a de Mate-mática e de Astronomia, entreoutras, são reconhecidas pelaOrganização das Nações Uni-das para a Educação, a Ciênciae a Cultura (Unesco). Os defen-sores da OBB afirmam que a ini-ciativa vem buscando o interesseativo em estudos através de solu-ções criativas a problemas bioló-gicos, além da aproximação dauniversidade do ensino médiode Biologia, incentivando que osestudantes descubram nessaciência e na educação a capaci-dade de crescimento intelectual,econômico e social.

A Constituição de PernambucoEmenda constitucional é resultado da luta da comunidade científica

Foi realizada no final de de-zembro em Pernambuco a assi-natura da emenda constitucio-nal que garante à Fundação deAmparo à Ciência e Tecnologiado Estado de Pernambuco(Facepe) um orçamento de nomínimo 0,5% da receita de im-postos do estado. A mudança foiuma vitória conquistada pela lutada comunidade científica per-nambucana por muitos anos.

Com a emenda à Constitui-ção Estadual, o orçamento daFacepe será superior a R$ 50milhões. Fica também assegu-rado que o orçamento da funda-ção não poderá ser inferior ao

hoje praticado, considerado ine-ficaz. A emenda corrige uma fa-lha da legislação pernambuca-na que tornava muito pequeno ovalor do mínimo constitucionalassegurado à Facepe, porquedele estava excluída a receita deimpostos. “Este orçamento erauma luta antiga da comunidadecientífica”, disse o segundo te-soureiro da SBPC, José AntonioAleixo. Sérgio Machado Rezen-de, professor titular no Departa-mento de Física da Universida-de Federal de Pernambuco(UFPE) e ex-ministro de Ciênciae Tecnologia, também comemo-rou a emenda.

Na Olimpíada Internacional de Biologia de 2013, na Suíça, o Brasilconquistou uma medalha de prata e duas de bronze

Div

ulga

ção

OB

B

JORNAL da CIÊNCIA31 de Janeiro de 2014 Página 5

Ensino Superior pede reformas urgentesSimpósio realizado em SP discute formas de adequar as universidades às necessidades atuais

Vivian Costa

Entre tantos pontos para sealcançar a excelência de ensinosuperior, as universidades bra-sileiras devem repensar a estru-tura curricular, tendo em vista ascrescentes transformações dasociedade, da economia e dacultura atual. Conceitos comoflexibilidade, interconectividade,interdisciplinaridade não podemser ignorados. O primeiro passoé reduzir a carga horária, dandocondições para que os alunosestudem mais e passem menostempo dentro da sala de aula.

Durante o simpósio Excellencein Higher Education, especialis-tas disseram que a grade curricu-lar das universidades brasileirasestá defasada e precisa mudarpara se adequar às necessida-des atuais. Nos dias 23 e 24 dejaneiro foram discutidas formasde viabilizar ações para elevar asuniversidades brasileiras à exce-lência em educação superior eformular recomendações que po-derão embasar políticas públicas.O encontro foi promovido pelaFundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo (Fapesp)em parceria com a Academia Bra-sileira de Ciências (ABC).

Foi consenso entre os de-batedores que é preciso facilitaro trânsito dos alunos pelas di-versas modalidades do curso,formando assim profissionaismais generalistas. Para LuizDavidovich, da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ),para alcançar a excelência é pre-ciso inovar, mas, para isso, a uni-versidade precisa ser autocrítica.

Entre os desafios para queisso aconteça está o enfrenta-mento do conservadorismo dascorporações, o conservadorismodos colegas professores, alémda baixa qualidade na educa-ção básica, principalmente, emciências. “Harvard adotou no-vas linhas de currículo, por exem-plo. Em outros países, as univer-sidades tradicionais estão lide-rando as mudanças. Ao contrá-rio daqui, que quem inova são asmais novas”, lamentou.

Luiz Bevilacqua, do Labora-tório Nacional de ComputaçãoCientífica (LNCC), também con-corda que as universidades pre-cisam mudar. “O aluno não apren-de indo para a sala de aula. Sóaprende quem estuda. Por isso,é preciso reduzir o número dehora/aula para dar ao aluno opor-tunidade de estudar”, comentou.

José Roberto Cardoso, daEscola Politécnica da Universi-dade de São Paulo (Poli-USP),também concorda que a refor-mulação da grade curricular éimportante. “As universidadesprecisam ser flexíveis para per-mitir que o aluno faça escolha

curricular que se adapte ao seuperfil. E não ao contrário”, disse.

“Todos os profissionais pre-cisam de base para enfrentar ofuturo. Há coisas que podemossuperar facilmente”, disse, aocitar que a faculdade de enge-nharia da Poli fez uma reformano currículo de seus cursos ereduziu a carga horária. “O novoengenheiro precisa de uma for-mação mais abrangente e me-nos focada para ser capaz de seadaptar rapidamente aos novosconceitos e tecnologia”, disse.

A Federal do ABC foi citadacomo exemplo, já que conta comuma formação curricular maisampla desde a criação dos cur-sos, em 2006. A diferenciaçãocomeça pelo modo de ingresso.Alunos entram em bacharela-dos interdisciplinares, com cur-rículo de três anos. No segundoquadrimestre, podem escolherdisciplinas além das obrigató-rias. Quem se matricula em Ciên-cia & Tecnologia pode seguirpara uma das oito Engenhariasque a UFABC oferece.

Para Luiz Davidovich, daUniversidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), o Brasil fez al-guns progressos no ingresso dealunos no ensino superior, masprecisa melhorar. “O Brasil gas-ta mais com estudantes do ensi-no superior do que com os deensino básico, quando compa-ramos com alguns países”, dis-se. “Mas, por outro lado, há maisalunos matriculados na rede pri-vada do que na pública no ensi-no superior”, lamentou.

Para facilitar o ingresso emuniversidade pública, MarceloKnobel, da Universidade Estadualde Campinas (Unicamp), exem-plificou o sucesso do Programade Formação Interdisciplinar Su-perior (Profis), que utiliza apenaso Enem para ingresso em um deseus programas de graduação.

Ele lembrou que o programatem cumprido um papel impor-tantíssimo de desfazer a ideiadesses alunos da rede públicade que uma universidade dequalidade e de renome como aUnicamp é inatingível para eles.“Os estudantes, que geralmente

desconhecem como funcionauma instituição de pesquisa, porcausa do programa têm contatocom experiências e com um uni-verso desconhecido.”

Ao citar os desafios para al-cançar a excelência em pesqui-sa, Davidovich disse que embo-ra a produção científica brasilei-ra tenha crescido nos últimosanos, o impacto dos artigos pu-blicados continua abaixo damédia mundial. “Tivemos umaépoca de crescimento, enquan-to a China estava se aproximan-do. Hoje estagnamos, e a Chinanos passou”, comentou.

Davidovich explicou que, du-rante a crise em 2012, o Brasilcortou gastos com pesquisa.Enquanto a China informou queiria aumentar os investimentosem pesquisa, mesmo com a re-dução de seu PIB (Produto Inter-no Bruto). “Isto explica o cresci-mento da China.”

Investimentos – Especialistasafirmam que mesmo a excelênciade ensino sendo a meta de todasas universidades, poucas institui-ções do país teriam condições dedar um salto de qualidade e setornarem de classe mundial empesquisa científica. Para que issoocorra, as universidades preci-sam receber investimentos dife-renciados para desenvolver pla-nos institucionais ousados.

Para a presidente da Socieda-de Brasileira para o Progresso daCiência (SBPC), Helena Nader, opeso da ciência que cada univer-sidade produz é um fator relevan-te e, portanto, o investimento nãopode ser o mesmo para todas asinstituições. “A ciência, para serde ponta, precisa de um investi-mento superior ao que está sendofeito no país”, avaliou.

Nader sugere que a socieda-de decida em quais áreas devemser feitos os investimentos e quaisas instituições que têm perfil paratrilhar o caminho da internacio-nalização. “Cada uma deve terum perfil e uma área de excelên-cia. Somente assim o Brasil vai setornar capaz de pautar a ciênciainternacional e não apenas serpautado”, opinou.

PEC da EducaçãoIntegral deve

voltar à discussãoProposta amplia jornada escolarda rede pública para sete horas

Uma proposta de emenda àConstituição que amplia a jorna-da escolar da rede pública parasete horas é considerada priori-tária para os líderes partidáriosna Câmara dos Deputados(PEC 134/07). O assunto divideopiniões entre parlamentares eprofessores.

Pelo texto, a ampliação dacarga horária valerá para a edu-cação infantil e os ensinos fun-damental e médio regulares. Asescolas teriam até 2020 paraimplantar a nova jornada, quedeve incluir também atividadesopcionais extraclasse, após assete horas diárias mínimas deeducação formal.

O Plano Nacional de Educa-ção (PNE - PL 8035/10), em dis-cussão na Câmara, já prevê ameta de oferecer tempo integral,gradativamente, pelos próximosdez anos, nas escolas públicasdo país.

Melhorar a qualidade - O relatordo PNE, deputado AngeloVanhoni (PT-PR), considera oensino integral um instrumentofundamental para melhorar aqualidade da educação no país.

“Todas as pesquisas de-monstram que, para as criançasque frequentam o regime inte-gral, o desenvolvimento educa-cional é muito mais facilitado doque o regime que temos hoje,que é de quatro horas”, afirmouo relator.

“O que nós precisamos éinstitucionalizar um programanacional de apoio, de estímulo ede meta, porque a aprendiza-gem, a qualidade da educaçãomuda no Brasil a partir do mo-mento em que tivermos a maiorparte das nossas crianças naeducação integral”, acrescentouVanhoni.

Faltam condições - A diretorado Sindicato dos Professoresno Distrito Federal, RosileneCorrêa, avalia que obrigar asescolas a ampliarem a cargahorária sem as condições paraisso pode tornar precário o sis-tema educacional.

“Primeiro, as escolas não têmespaço físico adequado paramanter esses alunos lá o diatodo. Em muitos casos, estãoconsiderando como tempo inte-gral, mas os alunos são rema-nejados para atividades emoutras áreas, como por exem-plo, escolas-parque”, disse asindicalista.(Agência Câmara, adaptado)

Educadores querem que alunos passem menos tempo em da sala de aula

Edn

a F

erre

ira

A ciência brasileira nos grandes experimentos internacionaisCientistas ainda não chegaram a um consenso sobre a adesão do Brasil a importantes projetos de ponta como o Cern e o ESO

Viviane Monteiro

Após três anos de discussãoe de um longo processo, o Brasil,finalmente, participará da Orga-nização Europeia de PesquisasNucleares (Cern, na sigla emfrancês), o maior laboratório defísica do mundo, sediado emGenebra. Na reunião do Conse-lho Executivo do Cern, em de-zembro, os membros deram car-ta branca para o Brasil aderir aoprojeto, depois de avaliar que asituação brasileira atende àssuas exigências. A informaçãofoi confirmada pelo Itamaraty,segundo o físico RonaldShellard, pesquisador titular doCentro Brasileiro de PesquisasFísicas (CBPF).

O acordo de adesão serásubmetido ao governo federal,que o encaminhará ao Congres-so Nacional. Hoje alguns labo-ratórios de física do Brasil já co-operam com os projetos do Cern.O laboratório opera, desde 2008,o maior acelerador de partículasdo mundo, o famoso LHC (LargeHadron Collider), que confirmoua existência do bóson de Higgs,o que rendeu o Prêmio Nobel deFísica de 2013.

Divergências - Apesar de anosem discussão, cientistas ainda nãochegaram a um consenso sobre aadesão do Brasil a grandes expe-rimentos científicos internacionaiscomo o Cern e o ObservatórioEuropeu do Sul (ESO, na sigla eminglês). Considerado o maior te-lescópio óptico do mundo, o ESOpertence a um consórcio de pes-quisa em astronomia, compostopor 14 países da Europa. O Brasilpode se tornar o primeiro país nãoeuropeu a participar da constru-ção desse telescópio.

O assunto é polêmico. Por umlado, um grupo de cientistas de-fende a participação brasileira emprol do avanço científico nacional.Por outro, especialistas conside-ram os custos desses projetoselevados para o Brasil, diante dabaixa participação que teria naspesquisas. Com esse argumento,recomendam que o governo in-vista em outras alternativas, comcustos menores. Aconselhamtambém que se dê prioridade aprogramas nacionais, tambéminovadores, em andamento noMinistério de Ciência, Tecnologiae Inovação (MCTI).

Professor titular do Instituto deAstronomia, Geofísica e CiênciasAtmosféricas (IAG) da Universi-dade de São Paulo (USP), oastrofísico João EvangelistaSteiner, do Laboratório Nacionalde Astrofísica (LNA), é contra oBrasil participar do ESO, em de-corrência do elevado custo que opaís teria, em contrapartida: aoredor de R$ 800 milhões, além deparcelas anuais superiores a R$300 milhões. Ele não quis opinarsobre o Cern, por desconheceros detalhes do projeto.

O entendimento de Steiner éde que a relação custo-benefí-cio para o Brasil é “baixíssima”,diante da “pouca” participaçãoou aproveitamento que o paísteria nas pesquisas internacio-nais, mesmo injetando milhõesno projeto. Assim, Steiner calcu-la que os investimentos brasilei-ros podem implicar subsídio àciência europeia, o que consi-dera injusto. “Sou contra issoporque não temos esses recur-sos. E se os tivéssemos, seriajusto dar essa quantidade dedinheiro do contribuinte brasi-leiro para subsidiar a ciênciaeuropeia?”, pergunta. “Acho quenão seria justo”, opina.

Em vez de dar “um passo maiordo que as pernas”, Steiner reco-menda que o Brasil leve em con-sideração outras alternativas, comcustos menores. Como exemplo,citou o telescópio americano GiantMagellan Telescope (GMT), de25 metros, que custaria para oBrasil cerca de US$ 40 milhões, oequivalente a R$ 80 milhões.”OESO é dez vezes mais caro do queo GMT”, comparou Steiner.

Prioridade interna - O físicoAdalberto Fazzio, professor titu-lar do Instituto de Física da Uni-versidade de São Paulo (USP),também é contra a participaçãonacional nesses projetos. Paraele, o governo precisa dar priori-dade aos programas em anda-mento no MCTI, que também “sãomeritórios”. Como exemplo,Fazzio citou os projetos de nano-tecnologia, biotecnologia, tecno-logia da informação, de inclusãosocial científica e o da Amazônia.

“O governo precisa saber oque quer, porque não há dinhei-ro para tudo”, disse Fazzio, ex-secretário adjunto da Secretariade Desenvolvimento Tecnológi-co e Inovação do MCTI e ex-presidente da Sociedade Brasi-leira de Física (SBF).

Ao lamentar as constantesperdas de recursos do FundoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (FNDCT),a principal fonte de recursos doMCTI para pesquisas e desen-volvimento tecnológico, Fazziocitou, também, como prioritáriosos investimentos para a constru-ção do Laboratório Nacional deLuz Síncrotron (LNLS) e para oprimeiro reator nuclear multi-propósito brasileiro de grandeporte, o RMB.

Posição favorável - Já a favorda participação do Brasil tantoao ESO quanto ao Cern, o físicoRonald Shellard, pesquisadortitular do CBPF, considera es-ses dois projetos fundamentaispara o avanço científico nacio-nal, o que pode contribuir paraa “exibição da maioridade” daárea científica do país. “Nãoconheço nenhum país que ficoupobre por ter colocado dinheirono Cern”, disse.

Para Shellard, a participaçãobrasileira nos projetos implica-ria a mobilização da indústria ea transferência de tecnologia,trazendo benefícios à socieda-de. Ele avalia que o processo deadesão ao Cern é mais rápido,por exigir recursos em menorescala – de US$ 10 milhõesanuais.

Shellard também considerao GMT interessante, emboramenos do que o ESO. Para ele,os benefícios do ESO para oBrasil seriam maiores. “É igualaquele negócio, você podecomprar um carrão ou umfusquinha”, comparou.

O professor Alberto Santoro,

O polêmico acordo que prevêa participação do Brasil no Ob-servatório Europeu do Sul (ESO)sinaliza avanço na Câmara dosDeputados, mesmo diante dedivergências. A proposta, assi-nada pelo então ministro da Ci-ência e Tecnologia, Sergio Re-zende, em 2010, foi encaminha-da em fevereiro daquele ano aocrivo do Congresso Nacional.

O Projeto de Decreto Legisla-tivo (PDC) nº1287/2013, que es-tabelece a adesão do Brasil, co-meçou a tramitar com urgênciaem setembro deste ano, quandoaprovado na Comissão de Rela-ções Exteriores e Defesa Nacio-nal (CREDN). Com isso, passoua ser analisado simultaneamen-te nas demais comissões. Em13 de novembro, o projeto foiaprovado, por unanimidade, naComissão de Ciência e Tecno-logia, Comunicação e Informáti-ca (CCTCI). Será submetido,também, à Comissão de Finan-ças e Tributação (CFT), que temcomo relator o deputado AfonsoFlorence (PT/BA), e à Comissãode Constituição e Justiça e deCidadania (CCJC), cujo relatoré o deputado Eduardo Sciarra(PSD/PR). A análise nessasduas comissões será simultâ-nea. Se aprovado, o texto seráencaminhado ao plenário da

coordenador do Departamen-to de Física Nuclear de AltasEnergias (Instituto de Física)da Uerj, reforça a importânciade o Brasil investir nos proje-tos. Para ele, o Cern realizapesquisas “fantásticas” nomundo da instrumentação damedicina, da indústria, aindaque sua finalidade seja a deestudar as interações funda-mentais da natureza e sua base.“É preciso alimentar a popula-ção de que ela deveria ter oorgulho de participar de algocomo isso”, sugeriu Santoro,que coordena o Instituto de Fí-sica, que já mantém trabalhosde cooperação com o Cern.

Câmara e, posteriormente, aoSenado Federal.

Se não passar por alterações,o projeto será encaminhado aoPalácio do Planalto. A previsãode Florence é de que seu pare-cer seja colocado na pauta dacomissão, nos próximos dias, eque o voto será favorável à ade-são do Brasil ao ESO. “Tudoindica que será pela aprovação”,disse o parlamentar.

O texto do Executivo, encami-nhado ao Congresso Nacional,em fevereiro deste ano, diz que ainfraestrutura científica do ESO é“a mais importante” do mundo nasáreas de astrofísica, cosmologia,astronomia ótica e de infraverme-lho, com patrimônio superior a 2bilhões de euros, o equivalente acerca de R$ 6 bilhões. Destacaque a participação do Brasil aoprojeto surtirá impacto positivo,também, no desenvolvimento deoutras ciências do Brasil, como afísica, a matemática, as engenha-rias, a computação, as geociên-cias e a química.

Os desembolsos brasileirosprevistos são da ordem de 270milhões de euros, corresponden-tes a cerca de R$ 800 milhões até2021. Além disso, existem as co-branças anuais de R$ 367,08milhões (140 milhões de euros) atodos os países signatários. (V.M.)

Observatório Europeu do Sul

O Large Hadron Collider é o maior acelerador de partículas do mundo

Imag

em: C

ern

O analfabetismo científico no BrasilEducadores propõem soluções para melhorar desempenho de crianças e jovens em ciências

Edna Ferreira

O Brasil sofre de analfabetis-mo científico. A avaliação é deeducadores brasileiros, que afir-mam: nossas crianças não seinteressam por ciência, e a ra-zão disso está em um ensinofundamental deficiente e desin-teressante, com professores malpreparados e condições inade-quadas de infraestrutura. Elesalertam para o fato de a ciêncianão fazer parte do cotidiano daspessoas. A análise foi motivadapelo resultado do Programa In-ternacional de Avaliação de Es-tudantes (Pisa) 2012, que reve-lou o mau desempenho dos alu-nos brasileiros nas provas dematemática, leitura e ciências. Opior resultado do país foi o 59ºlugar em ciências em um rankingde 65 países.

Pensando em respostas prá-ticas para melhorar nossa per-formance, o professor sênior doInstituto de Física da Universida-de de São Paulo (USP), LuísCarlos de Menezes, apostanuma educação mais eficaz nãosó como preparação para exa-mes. “Isso não se deve resumirao ensino das ciências, mas amodificações profundas em to-dos os componentes de instru-ção”, enfatiza.

Menezes, que atua na área deformação de professores, acredi-ta que uma educação melhordepende de várias transforma-ções que levem, por exemplo, aescola a ser um espaço de produ-ção cultural, com práticas queenvolvam a participação ativa epropositiva dos estudantes.

De acordo com o professorda USP, as transformações ne-cessárias não se fazem sem re-cursos materiais e humanos edependem de efetiva vontadepolítica. “A formação de profes-sores não deve estar restrita aaulas em faculdades, mas a prá-ticas docentes supervisionadasnas escolas. E a ciência e tecno-logia devem ser tratadas comatualidade e envolvimento cria-tivo, não com ouvir falar de des-cobertas dos outros”, opina.

Física também é cultura - ParaNelson Pretto, professor da Fa-culdade de Educação da Uni-versidade Federal da Bahia(UFBA) e Secretário Regionalda SBPC/BA, também está napolítica, parte da solução. “Pre-cisamos de uma política de im-plantação massiva e universalde museus, planetários, hackerslabs, fab labs, espaços coletivosassociados com a escola, ondea meninada possa criar, e, claro,tudo isso fortemente articuladocom a cultura, pois como já diziaJoão Zanetic, professor de Físi-ca da USP, em sua tese de dou-torado, “Física também é cultu-ra”, afirma.

Os hackers labs, a que se

refere Pretto, são assim denomi-nados com base na Hackers Lab- empresa criada na década de90, na Coreia do Sul, que pas-sou a contratar jovens hackersque antes eram investigados porcyber-crimes. Esta empresa as-sessorava outras companhiasem questões de segurança derede e com soluções informati-zadas. Já um fab lab (do inglêsfabrication laboratory) é umaespécie de oficina para fabrica-ção de produtos tecnológicos.

Com esses exemplos, Nel-son Pretto chama a atenção paraa forma como o conhecimentodeve ser transmitido. “A questãofundamental é não achar que aformação científica seja apenasde forma escolarizada, ou seja,não basta que a juventude tenhaaulas de ciências. Os conteúdosformais são importantes, mas nãosão as únicas coisas importan-tes. Fazer com que os jovenstenham gosto pelos fenômenosda natureza, pela criação e nãoapenas pelo consumo de infor-mação científica”, argumenta.

Popularização da ciência - Umapesquisa realizada em 2010 peloMinistério de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação (MCTI) sobre apercepção pública da Ciência eTecnologia no Brasil mostrou quea população brasileira não co-nhece os seus próprios cientistase, muito menos, a ciência e tecno-logia aqui produzidas. A enquetedemonstrou também que a mai-oria dos entrevistados não fre-quenta espaços científicos e cul-turais, como museus, zoológicos,jardins botânicos e bibliotecas.

Para Isaac Roitman, profes-sor emérito e coordenador doNúcleo do Futuro (UnB), parareverter essa vergonhosa posi-ção no Pisa, é preciso que hajauma inflexão da divulgação e apopularização da ciência, e queo público-alvo sejam as crian-ças, adolescentes e adultos. “Aciência deve ser matéria diárianos vários veículos da mídia:jornais, revistas, rádio, televisão,web etc. Essas matérias devemabordar desde a história da ciên-

cia, as grandes descobertas ci-entíficas e mostrar a aplicaçãodos resultados das descobertasno cotidiano da vida de cadaum”, destaca.

De acordo com ele, não me-nos importante é a educaçãocientífica que pode ser perfeita-mente iniciada na faixa etária dedois e três anos. Nessa idade ascrianças são curiosas e, portantoávidas e motivadas para a inicia-ção científica. “As nossas crian-ças não são atraídas para a car-reira científica por várias razões.A primeira é que na maioria doslares brasileiros a ciência nãofaz parte do cotidiano e certa-mente o analfabetismo científicoé bem maior que o analfabetis-mo das letras”, conclui Roitman.

Para os educadores, a pro-moção de feiras de ciências eolimpíadas com a participaçãode crianças e jovens tambémdeve ser estimulada. Na opiniãodo astrônomo João BatistaGarcia Canalle, coordenador daOlimpíada Brasileira de Astro-nomia e Astronáutica (OBA) eprofessor da Universidade doEstado do Rio de Janeiro (Uerj),para os estudantes terem moti-vação em aprender é necessá-ria a experimentação. “Quandoo educador provê uma demons-tração de maneira prática, ouseja, uma atividade lúdica quevai além do quadro negro, osjovens prestam mais atenção.Nosso ensino é puramentelivresco. O docente não sabepassar o conteúdo com ajuda delaboratórios, quando os tem. Nãosabe improvisar um experimen-to ou demonstração”, avalia.

Segundo Canalle, as olimpí-adas científicas vêm mostrandoaos professores que há muito deexperimental e prático. “E issotudo pode ser explorado em salade aula, desde que se conheça,com certa profundidade, os con-teúdos a serem ensinados. Es-sas iniciativas tentam levar paraos professores conhecimentos,técnicas de ensino e informa-ções. Torna assim a aprendiza-gem demonstrativa e divertida”enfatiza o astrônomo.

Orçamento doMCTI em 2014

Recursos para CT&I são de R$1,3 bilhão, 18% abaixo de 2013

Viviane Monteiro

Oficialmente, o orçamentodeste ano do Ministério de Ciên-cia, Tecnologia e Inovação(MCTI) será de R$ 9,520 bilhões,praticamente estável em rela-ção aos R$ 9,424 bilhões de2013. Os dados constam da LeiOrçamentária da União (LOA),sancionada pela presidenteDilma Rousseff.

O montante avançou, se com-parado ao da Proposta Orça-mentária da União (Ploa), enca-minhada pelo Executivo ao Con-gresso Nacional no fim de 2013,de R$ 9,327 bilhões. Tal aumen-to é decorrente de emendasparlamentares. A boa notíciapara a área de ciência, tecnolo-gia e inovação é a promessa dapresidente Dilma de não cortarou contingenciar recursos des-sa pasta para 2014.

No que se refere aos investi-mentos oficiais em CT&I paraeste ano, os recursos são de R$1,302 bilhão, 18% abaixo do R$1,601 bilhão registrado em 2013.Os recursos ficaram praticamen-te estáveis em relação aos valo-res previstos na Ploa de 2014,de R$ 1,227 bilhão.

Também é observada estabi-lidade no orçamento do FundoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico(FNDCT): R$ 3,421 bilhões. Noexercício do ano passado, osvalores desse fundo somaramR$ 3,419 bilhões. Houve um li-geiro avanço, porém, se compa-rar com o montante indicado naPloa, que eram de R$ 3,380 bi-lhões. O orçamento da agênciade fomento da área de ciência,tecnologia e inovação ainda estáem estudo, segundo a assesso-ria de imprensa da agência defomento da área de ciência, tec-nologia e inovação.

Em uma tentativa de aten-der aos anseios da comunida-de científica, que se rebeloucontra o repasse de recursosdo FNDCT para fomentar o pro-grama Ciência sem Fronteirasno ano passado, a expectativade integrantes do governo é dereforçar em 2014 o orçamentoda Finep, via outros programas,a fim de compensar o repassede recursos do fundo para oprograma estudantil.

No fim de 2013, a presidenteda Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC),Helena Nader, encaminhouuma carta a parlamentares natentativa de inviabilizar o uso derecursos do FNDCT para o pro-grama Ciência sem Fronteiras.A recomendação éusar outrasfontes financeiras nesse pro-grama, para não prejudicar oandamento das pesquisas ci-entíficas nacionais.

Participação ativa dos estudantes é uma das metas para transformação

SX

C.H

U

JORNAL da CIÊNCIA 31 de Janeiro de 2014Página 8

Exploração de xisto ameaça qualidade da água no BrasilRocha a ser fraturada encontra-se a algumas centenas de metros abaixo do aquífero Guarani, que teria riscos de ser contaminado

Camila Cotta, especial para oJornal da Ciência

De onde vem e para onde vaia água utilizada na exploraçãodo gás de xisto? Essas ques-tões geram frequentes polêmi-cas e debates, uma vez queprodutos químicos são utiliza-dos nesse tipo de extração. Deacordo com o conselheiro daSociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC),o pesquisador Jailson de An-drade, ainda faltam estudoscriteriosos sobre o assunto.

Andrade alerta, sobretudo,para a carência de informaçõesque identifiquem onde as jazi-das de gás natural estão locali-zadas e se estão perto deaquíferos importantes. “Os estu-dos realizados até agora sãocontestados. Não se sabe paraonde vai a água contaminadapor produtos químicos utiliza-dos na exploração do gás. Aindanão há uma experiência no Bra-sil que possa se tomar comobase. Falta informação”, diz.

Apesar de os dados aindaserem imprecisos, existem com-panhias ansiosas por entraremem processos licitatórios de ex-ploração do gás de xisto no Bra-sil, e outras vislumbrando lucrospara despoluir a água e as áreasporventura afetadas pela suaextração. O pesquisador obser-

va, no entanto, que não há tec-nologia para despoluir os aquí-feros, caso eles sejam atingidos.Para Andrade, esse é um dospontos cruciais a serem resolvi-dos. “A exploração do gás dexisto sem critério afetará a águasob nosso solo, já que a rocha aser fraturada (o folhelho Irati)encontra-se a algumas cente-nas de metros abaixo do aquíferoGuarani, na bacia geológica doParaná”, detalhou.

O Guarani é uma das maioresreservas subterrâneas de águadoce do mundo. Tem a capaci-dade de abastecer, de formasustentável, muitos milhões dehabitantes, com trilhões demetros cúbicos de água docepor ano. No Brasil, está nosubsolo dos estados de SãoPaulo, Goiás, Minas Gerais, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul,Paraná, Santa Catarina e RioGrande do Sul. Na visão de par-lamentares, estudiosos e pes-quisadores, essa riqueza podeestar ameaçada por uma enor-me pressão econômica, a exem-plo do que já ocorre nos EstadosUnidos.

A exploração de xisto utiliza ométodo de fraturação hidráuli-ca, chamado em inglês de“fracking”. Trata-se de injeçãode toneladas de água, sobaltíssima pressão, misturadacom areia e produtos químicos,

com o objetivo de quebrar a ro-cha e liberar o gás nela aprisio-nado. Nos EUA, 90% dos poçosde gás de xisto são perfuradoscom a utilização dessa técnica.

Esse tipo de extração utilizavinte vezes mais recursos hídri-cos do que as técnicas conven-cionais. Com isso, as pequenascidades norte-americanas nosarredores dos poços de gás dexisto enfrentaram problemas defalta d’água para consumo eagricultura, além da contamina-ção dos aquíferos subterrâneose das reservas de água potável.Mas a falta de água não é o únicoproblema.

Destacam-se ainda, a exces-siva circulação de caminhões, ainjeção de fluidos que provocampequenos abalos sísmicos, aausência de regulamentação, apresença na água de pequenasquantidades de produtos quími-cos e metais pesados cancerí-genos, bem como a acumulaçãode metano, que pode provocarexplosões.

“Há um estudo da NationalAcademy of Science, nos Esta-dos Unidos, que mostra que, em141 poços de água potável naPensilvânia, quanto mais próxi-mo de áreas de exploração degás não convencional, maior aquantidade de metano (tóxico einflamável) na água”, informouJailson. “A controvérsia na lite-

ratura é se isso já existia antesou se é resultado da perfuraçãopara obtenção de gás”, obser-vou Andrade.

Nomenclatura equivocada – Háuma longa e equivocada tradi-ção brasileira de se chamar ofolhelho (shale) de xisto (schist).Apesar disso, os especialistasesclarecem que é incorreto cha-mar o gás de folhelho de gás dexisto: “O xisto é uma rochametamórfica que sofreu grandestransformações geológicas, nãopossibilitando a geração de gás;o folhelho, por sua vez, é umarocha sedimentar com grandequantidade de matéria orgânicaque dá origem ao gás”, explicaJailson Andrade.

O gás de folhelho, encontra-do em áreas de permeabilidaderelativa e também chamado de“gás de xisto”, é um dos três tiposde gases não convencionais cujaocorrência não está associada abolsões de gás armazenados apartir das camadas de petróleo.Estas produzem o gás fóssil con-vencional, encontrado na plata-forma continental e em outrasregiões do Brasil. Os demais ga-ses não convencionais são oconfinado (tight gas), com ocor-rência em rochas impermeáveisou de baixa permeabilidade, e ometano associado a camadasde carvão.

Experiência norte-americana

Correu o mundo a famosa foto em que a água sai da torneirapegando fogo. O fato ocorreu na pequena cidade de Dimock, naPensilvânia, nos EUA. A explicação para esse estranho fenômenoé simples: trata-se da presença do metano liberado pela exploraçãode gás de xisto nas redondezas. O metano é um gás tóxico que,supondo proporções iguais, contribui 25 vezes mais do que odióxido de carbono para o efeito estufa e o aquecimento global.

Além de água contaminada com metano, as áreas vizinhas aospoços de exploração de gás de xisto já tiveram de suportar explo-sões, contaminação do lençol freático e da terra agricultável,inviabilizando a produção agropecuária, além de pequenos abalossísmicos, em regiões onde as construções não estão preparadaspara tremores de terra.

Após inúmeras manifestações e protestos da população, algunsestados da América do Norte, como Nova York, Maryland e Ohio, e doCanadá, como Quebec, proibiram o fracking. Na Europa, a fraturaçãohidráulica está proibida na França, Bulgária e em diversos governoslocais de vários países como Alemanha, Espanha, Irlanda e Holanda.

Impressões brasileirasContra a exploração do gás

de xisto, o Partido Verde querimpedir o procedimento no Bra-sil. “Não temos segurança tec-nológica para explorar isso. Porque não damos ênfase nas ener-gias renováveis?”, criticou o de-putado Sarney Filho (PV/MA),líder do partido na Câmara dosDeputados. Em audiência públi-ca realizada em dezembro, eleafirmou que o PV vai propor umamoratória de cinco anos deprospecção do recurso. O parla-mentar informou que o partidotomará a decisão como exemplode países da União Europeia,como a França.

Segundo Ricardo Baitelo,coordenador da Campanha deEnergia da ONG Greenpeace, ouso do gás de xisto não é impres-cindível neste momento. “Aindaque a demanda energética na-cional aumente mais de duasvezes até 2050, temos fontesrenováveis e reservas de gásconvencional suficientes parasuprir a demanda do setor in-dustrial e elétrico”, defendeu.Para Carlos Alberto Bocuhy, doInstituto Brasileiro de ProteçãoAmbiental, o país “não pode

embarcar em uma aventura tec-nológica ainda sem respostas”.

O professor da UniversidadeFederal de Santa Catarina LuizFernando Scheibe alertou que aexploração deve ser submetida auma avaliação ambiental estraté-gica antes de autorizada. A avali-ação, prevista legalmente, é uminstrumento mais amplo do queos estudos de impacto ambiental.

Conselheiro da SBPC, Jailsonde Andrade disse que ainda hámuita controvérsia científica quan-to à questão. E acrescenta “O Bra-sil está em uma posição muitoconfortável em relação à energia,sua matriz energética é majorita-riamente hídrica, renovável, temum programa de bicombustívelque é o melhor do mundo, entãopor que entrar nesta nova era sema menor necessidade energéticaque justifique isso?”.

O posicionamento científico –A Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência (SBPC) eAcademia Brasileira de Ciências(ABC) enviaram uma carta à pre-sidente Dilma Rousseff, solici-tando a suspensão da licitaçãopara a exploração do gás de

Rep

rodu

ção

da in

tern

et

JORNAL da CIÊNCIA31 de Janeiro de 2014 Página 9

xisto, até que estudos mais con-clusivos sejam realizados. Nodocumento, a presidente daSBPC, Helena Nader, e o presi-dente da ABC, Jacob Palis, jus-tificam sua preocupação quantoaos possíveis danos ambientais,e pedem que, antes da realiza-ção da licitação, sejam realiza-dos novos estudos por universi-dades e institutos de pesquisapúblicos sobre a real potenciali-dade da utilização do método dafratura hidráulica para a retiradado produto das rochas e os pos-síveis prejuízos ambientais cau-sados por isso.

Otaviano da Cruz Pessoa, ge-rente-geral da Gerência Executi-va de Exploração da Petrobras,reconheceu que há riscos naexploração. Mas, segundo ele,são riscos inerentes a qualqueratividade energética, inclusivede gás convencional. “A únicadiferença do gás de xisto emrelação ao tradicional é que, nocaso do xisto, as rochas têmmenos fluidos e, por isso, vocêtem que perfurar milhares depoços”, explicou.

De acordo com Luciano Tei-xeira, representante da AgênciaNacional de Petróleo, Gás Natu-ral e Biocombustíveis (ANP), osriscos inerentes à exploração degás de xisto são reais e devemser mais bem conhecidos. Mas,segundo ele, a exploração co-mercial do produto dependeráde autorização prévia, a partir decritérios que devem ser divulga-dos pela agência .

“Essa regulamentação temuma base forte na questão daapresentação de estudos e do-cumentações que venham a de-monstrar que aquele operadorestá em condições de realizaraquela atividade e que o ambi-ente onde ele vai realizar a ativi-dade vai estar protegido da me-lhor forma possível”, afirmou.

No entanto, Luciano Teixeiraexplicou que, “com isso, conta-se com a apresentação delicenciamentos ambientais, es-tratégia de utilização e disposi-ção de efluentes gerais e o mo-nitoramento de toda a regiãocom relação à possível degra-dação dos recursos hídricos.”Segundo o representante daANP, a atual fase de pesquisanão depende de autorizaçãoprévia. Essa etapa pode levaraté oito anos, prorrogáveis pormais seis.

Em leilão realizado, no dia 28de novembro, pela ANP, foramarrematados 72 de 240 blocosofertados com possibilidade deexploração de gás de xisto. APetrobras participará da explora-ção em 70% das áreas, localiza-das, principalmente, em Sergipe,Alagoas, Bahia e Paraná. Em umprimeiro momento, as empresasestão autorizadas apenas a fazerpesquisas para avaliar a segu-rança econômica, ambiental esocial da exploração.

�Túnel da Ciência� chega a São PauloExposição multimídia da Sociedade Max Planck, da Alemanha, desperta interesse dos jovens

Vivian Costa

Com o objetivo de despertara curiosidade dos jovens, che-gou a São Paulo a exposição“Túnel da Ciência Max Planck”,que vai até 21 de fevereiro. Aabertura oficial no dia 29 de ja-neiro teve a presença de espe-cialistas da área científica, entreeles, a presidente da SBPC,Helena Nader, e o ministro daCiência, Tecnologia e Inovação(MCTI), Marco Antonio Raupp.Esteve também presente o se-cretário municipal de educação,Cesar Callegari, que represen-tou o prefeito de São Paulo, Fer-nando Haddad, e Rodrigo Tava-res, assessor especial de as-suntos internacionais do estadode São Paulo, representando ogovernador Geraldo Alckmin.

Segundo o cônsul-geral daAlemanha em São Paulo,Freidrich Däuble, a SociedadeMax Planck, responsável pelaexposição, quer com a mostradespertar nos jovens o interessepela ciência, principalmentepelas exatas, que são ditas comoas mais difíceis. “Eles precisamconhecer o mundo da ciência omais cedo possível. O objetivo édivulgar e estimular a curiosida-de sobre a importância da ciên-cia e inovação, construindo umaponte consistente entre a pes-quisa básica moderna e sua in-fluência na vida”, disse.

Durante a cerimônia de aber-tura, Raupp ressaltou a impor-tância do evento para a divulga-ção e a popularização da ciên-cia no Brasil. “Acredito que estamostra possa ajudar a populari-zar a ciência. Este evento é umencontro de instituições interes-sadas em mostrar para a socie-dade o quanto a ciência é impor-tante. Aqui, serão mostrados di-versos exemplos concretos decomo a ciência chega à socieda-de”, explicou.

O ministro salientou que é pre-ciso desenvolver mais atividadesnos mesmos moldes para que apopulação tenha acesso às infor-mações e práticas, para, assim,desenvolver uma cultura científi-ca. Ele lembrou que a cidadaniamoderna se constitui com aquisi-ções de várias formas de cultura,como, por exemplo, a cinemato-gráfica e a esportiva, que contamcom grandes espaços na mídiade massa, diferente da científica.“Sei que um dos motivos é que anossa pesquisa científica é rela-tivamente nova, além de existi-rem falhas no sistema de ensinoem geral em todos os níveis. Porisso, o conhecimento da culturacientífica é incipiente. Atividadescomo o “Túnel da Ciência” con-tribuem para reverter com quali-dade essa situação”, disse.

A presidente da SBPC tam-bém concorda que atividadescomo o “Túnel da Ciência” re-presentam um ótimo meio paramotivar e estimular os jovens. “Écom educação que vamos aju-dar nossos jovens a produzir aciência e a inovação que o Brasilprecisa. Mas, uma educaçãomotivadora e construtiva e nãosomente aquela da sala de aula.Acredito que os jovens encon-trarão este diálogo nesta expo-sição”, disse.

Helena ressaltou que a vindada exposição para o Brasil foiresultado de um conjunto deesforços de toda a comunidade,liderada pela SBPC. “Fico atéum pouco triste porque espera-mos tanto por esta mostra e elaficará apenas em São Paulo. Oprojeto inicial era que ela pas-sasse por três lugares – em BeloHorizonte, São Paulo e Rio deJaneiro”, lamentou.

Quanto ao retorno do eventoao país, Helena disse que espe-ra que isso aconteça, mas pon-derou que os empresários brasi-leiros precisam colaborar e nãodeixar tudo nas mãos do gover-no. “Se todo mundo der umpouquinho é possível”, e comple-tou, “eu espero que os empresá-rios se animem com o sucessodeste evento e se entusiasmem atrazer de volta esta exposição aoBrasil. Investir nessa área é su-cesso financeiro certo.”

Raupp, por sua vez, disse quepor conta da qualidade do even-to, o governo irá se empenharem trazer a mostra de novo aoBrasil. “São Paulo foi a primeira,mas não pode ser a última areceber esta exposição. Temosque trazer esta versão, ou outra,para outras cidades brasileiras,já que este evento é de extremaimportância para a divulgaçãocientífica”.

A mostra - A exposição foi divi-dida em oito módulos: Universo,

Matéria, Energia, Cérebro, Saú-de, Vida, Sociedade e Comple-xidade. Os destaques da expo-sição no Brasil são uma réplicado veículo de exploração espa-cial Curiosity, enviado pela Nasaa Marte em 2012 e que identifi-cou o leito de um antigo curso deágua e amostra de solos, e oEspelho Mágico, aparelho que,através da tecnologia “realida-de aumentada”, alinhando ima-gens reais e virtuais, produz umefeito semelhante ao do raio-x,criando a ilusão de que é possí-vel visualizar internamente opróprio corpo.

A exposição multimídia temmil metros quadrados e é dividi-da em oito grandes temas. “To-dos os módulos possuem exem-plos da Sociedade Max Planck esuas bases são as pesquisasrealizadas nos nossos institu-tos”, revela Peter Steiner, coor-denador da exposição. Esta é aterceira versão do Túnel criadoem 2000.

O módulo Universo trata dosquarks ao cosmo; Matéria traz omundo da nanociência; Vida vaidos elementos aos sistemas;Complexidade contempla a in-teração e a informação; Cérebrofaz uma viagem dentro desseórgão humano; Saúde apresen-ta as pesquisas na medicina fu-tura; Energia mostra as alterna-tivas de fontes renováveis; e, porfim, Sociedade aborda as ciên-cias humanas.

Durante esse percurso, osvisitantes são conduzidos nes-se universo de pequenas e gran-des dimensões, descobrindo,por exemplo, o processo biome-cânico das plantas, as comple-xas estruturas do cérebro e ain-da as turbulências caóticas naformação de nuvens. A visitaçãoao “Túnel da Ciência” é gratuita,no sétimo andar do ShoppingFrei Caneca, na rua Frei Cane-ca, 569. A classificação etária é12 anos.

Os visitantes são conduzidos por um universo de pequenas e grandesdimensões que compõem o túnel de mil metros quadrados

Tem

pora

da A

lem

anha

+ B

rasi

l 201

3-20

14 / L

uiz

Mac

hado

JORNAL da CIÊNCIA 31 de Janeiro de 2014Página 10

Prêmio Nobel de Medicina: "curiosidade, persistência esorte são fundamentais para descobertas científicas"

Palestra do biofísico alemão Erwin Neher atraiu centenas de estudantes, acadêmicos e cientistas para exposição em São Paulo

Em passagem pelo Brasil, obiofísico alemão Erwin Neherafirmou que a curiosidade, apersistência e a sorte estão en-tre os principais responsáveispelas descobertas científicasque lhe renderam o prêmioNobel de Medicina e Fisiologiaem 1991. A declaração foi feitadurante a palestra “CreatingKnowledge: Research forUpcoming Generations” (Cria-ção de Conhecimento: pesqui-sa para as gerações futuras),realizada no dia 29 de janeiroem São Paulo.

O evento atraiu centenas deestudantes, acadêmicos e cien-tistas ao Teatro Shopping FreiCaneca, onde era realizada aabertura da exposição científi-ca multimídia “Túnel da CiênciaMax Planck”, de responsabili-dade da Sociedade Max Planck,da qual Neher é pesquisador.Como parte da temporada“Alemanha+Brasil”, a mostraitinerante vai até 21 de fevereiro,com apoio da Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciên-cia (SBPC) e de outros órgãos.

Ao discorrer sobre sua expe-riência e os desafios enfrentadosna ciência, Neher declarou queem qualquer descoberta científi-ca é preciso acreditar na impor-tância do trabalho para solucio-nar os problemas da sociedade.Segundo o biofísico alemão, acuriosidade e o interesse em sa-ber mais na área científica sãorelevantes para obter êxito noresultado final de suas descober-tas. “Não pode esperar ganhar o

prêmio Nobel imediatamente. Seacreditar em sua descoberta ha-verá reconhecimento. A sortetambém tem seu papel”, disseele, atribuindo à sorte o fato deter encontrado bons mestrescomo orientadores.

Na tentativa de estimular osjovens brasileiros, disse que“não há receita pronta” para asconquistas em descobertas ci-entíficas. Reforçando que o Prê-mio Nobel é outorgado às des-cobertas das ciências da nature-za, citou como exemplo o suces-so dos antibióticos, o que, se-gundo ele, beneficiará a socie-dade para sempre. “A maior par-te dos que recebem o prêmioNobel é movida pela curiosida-de de que as descobertas po-dem resolver problemas da so-ciedade”, disse.

Eletrofisiologia - Formado emfísica pela Universidade Técni-ca de Munique, Neher foi apre-sentado à plateia pela presiden-te da SBPC, Helena Nader, mo-deradora do debate. Ela contouque o biofísico alemão e seuparceiro Bert Sakmann fizeramrelevantes descobertas sobre afunção dos canais iônicos nascélulas e decifraram a comuni-cação celular.

Eles desenvolveram, em1976, a técnica denominadapatch-clamp, que revolucionouo estudo da eletrofisiologia (ciên-cia que explica, diagnostica etrata as atividades elétricas docoração), por permitir o isolamen-to da corrente de um tipo especí-fico de canal iônico em diversostipos celulares e em uma grandevariedade de espécies.

Neher considera que foi gra-ças ao progresso científico que asociedade atual melhorou o pa-drão de vida em relação a déca-das passadas. Ressaltou, por-tanto, a importância do financia-mento à ciência para melhorar ascondições de vida da sociedade.“O cerne do progresso científicoestá nas descobertas”, afirmou.

Juventude - Ao relatar sobresuas experiências e desafios ci-entíficos, Neher disse que, des-de jovem, tinha interesse pelaeletricidade do corpo humano.“Por volta de 17 anos, descobri,nas aulas de biofísica, que aeletricidade de nosso corpo eraalgo fascinante. Depois quissaber mais sobre a bioeletrici-dade”, lembrou.

Ao progredir nos estudos naAlemanha, o cientista adquiriuuma bolsa para estudar na Uni-versidade do Wisconsin-Madison,nos Estados Unidos, onde fezmestrado em biofísica. Ao voltarà Alemanha, fez doutorado erecebeu, em 1987, o PrêmioWilhelm Leibniz da DeutscheForschungsgemeinschaft, a maisalta honraria concedida à áreacientífica na Alemanha.

Questionado pela plateia seera considerado um nerd emsala de aula, fez uma autoava-liação. “Não acho que eu eranerd. Mas também não tinha no-tas ruins, era um bom aluno. Pra-ticava esporte, atletismo, mesmonão sendo bom no esporte. Mashavia um equilíbrio na minha vidaacadêmica”, avaliou.

Neher foi apresentado à plateia pela presidente da SBPC, Helena Nader

Tem

pora

da A

lem

anha

+ B

rasi

l 201

3-20

14 / L

uiz

Mac

hado

.

Helena Nader defende mais investimentos em C,T&IPara presidente da SBPC, a ciência é fundamental para assegurar o desenvolvimento do Brasil

Viviane Monteiro

O Brasil precisa aumentar oinvestimento no conhecimentocientífico para assegurar o de-senvolvimento nacional e con-quistar a posição de 7ª maioreconomia do mundo, conformealmejado internamente. A ava-liação é da presidente da So-ciedade Brasileira para o Pro-gresso da Ciência (SBPC), He-lena Nader, depois de partici-par no dia 29 de janeiro de pa-lestra proferida pelo biofísicoalemão Erwin Neher, prêmioNobel de Medicina e Fisiologiaem 1991 (veja matéria acima).

“A ciência e a tecnologia sãopeças-chave para o desenvol-vimento de qualquer nação. Ficofeliz porque o Brasil acordoupara o chamamento mundial de

que tem de investir mais. Poisnosso investimento ainda estáaquém do que o Brasil precisa”,disse a presidente da SBPC.

Investimento privado - Para as-segurar o desenvolvimento na-cional, Helena defendeu maisparticipação do setor privado nosinvestimentos em pesquisa e de-senvolvimento. “É isso o que aChina vem fazendo, é o que fize-ram os Estados Unidos e é o quea Alemanha faz até hoje”, disse.

De acordo com as últimaspesquisas do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE),sobre investimentos em pesqui-sa e desenvolvimento, a partici-pação do setor privado é de 0,53%no Brasil, contra 1,08% na China.

Para Helena, a universidadebrasileira vem fazendo sua parte

na tentativa de alavancar o co-nhecimento científico. “A empre-sa tem de investir. A universidadejá está formando e avançando noconhecimento”, observou.

Desenvolvimento sustentável- Segundo Helena, a ciênciatorna-se cada vez mais impor-tante e determinante para o de-senvolvimento sustentável dequalquer país. “Sem ciência nãohaverá desenvolvimento e nemtecnologias que não agridam anatureza”, disse.

Sobre a dependência mun-dial por energia fóssil, Helenadisse que a ciência vem tentan-do descobrir novas fontes deenergias limpas que não agri-dam tanto o planeta. “É a ciên-cia que vai garantir a nossalongevidade”, presumiu.

Mesa-redonda:divulgação científica

Dentro da programação cien-tífica complementar à exposição“Túnel da Ciência Max Planck”,foi realizada, no dia 28 de janeiro,a mesa-redonda “Divulgaçãocientífica no Brasil e na Alema-nha”. Participaram da mesa PeterSteiner, coordenador do “Túnelda Ciência”, Douglas Falcão, di-retor do Departamento de Popu-larização e Difusão da Ciênciado Ministério da Ciência, Tecno-logia e Inovação (MCTI), Ildeude Castro Moreira, da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), e Glória Queiroz, da Uni-versidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj). Steiner disse quea divulgação científica na Ale-manha era secundária até pou-co tempo e que tudo mudou de-pois do ano 2000, quando foiestabelecido um diálogo, do qualesta mostra faz parte.

Agenda científicaAgenda científica

JORNAL da CIÊNCIA31 de Janeiro de 2014 Página 11

BrevesBreves Livros & RevistasLivros & Revistas

Tome CiênciaExibido em diversas emissoras com variadas alternativas de horários,o programa promove debates sobre temas da atualidade com cientistasde diferentes especialidades. Horários e emissoras podem ser confe-ridos na página www.tomeciencia.com.br. A seguir, alguns dos próxi-mos temas:

Burocracia x Ciência - De1 a 7 de fevereiro. Pesquisadores defendemmudanças na burocracia que atravanca o progresso da ciência.

Doenças nos tempos modernos - De 8 a 14 de fevereiro. Debatesobre a capacidade da ciência de amenizar ou mesmo solucionar osproblemas de saúde decorrentes da modernidade.

Encontros científicosFNE anuncia adiamento da Conae 2014 - O Fórum Nacional deEducação (FNE), organizador da II Conferência Nacional de Educação(Conae 2014), lançou Nota Pública para informar que a etapa nacionalda Conae, marcada para 17 a 21 de fevereiro deste ano, a ser realizadaem Brasília, será para 19 a 23 de novembro de 2014. Mais informaçõeshttp://fne.mec.gov.br/images/notas/20%20NOTA%20PBLICA.pdf

XIX Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia CBGG 2014- Será realizado de 29 de abril a 03 de maio, em Belém - Pará.Com otema "A nova geração de idosos e os desafios contemporâneos", oevento fará uma reflexão sobre o envelhecimento da população.

5º Congresso Internacional de Atividade Física e Saúde Pública- ICPAPH - No RJ, de 8 a 11 de abril. Esta é a primeira vez que o eventoacontece fora do eixo América do Norte-Europa-Oceania, o querepresenta uma clara manifestação da Sociedade Internacional deAtividade Física e Saúde de que a saúde global é a prioridade.

37ªReunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (SBQ) - A37ª RASBQ será realizada em Natal, Rio Grande do Norte, no Centrode Convenções de Natal, de 26 a 29 de maio de 2014. Mais informações:www.ccnatal.com.br e www.centroconvencoesnatal.com.br

14ª Conferência Anpei de Inovação Tecnológica - O evento queacontece no ExpoCenter Norte, em São Paulo, nos dias 28 e 29 de abril,terá como tema central "InovaAção - Modelos de Negócios Competitivos".As inscrições podem ser feitas pelo site www.anpei.org.br/conferencia.

12ª Semana Nacional de Museus - Inscrições abertas até 7 defevereiro. O evento será realizado de 12 a 18 de maio. Contato: (61)3521 4122/ 3521 4135/ Mais informações em: http://e v e n t o s . m u s e u s . g o v . b r / d o c s / M U S E U S % 2 0 a s % 2 0coleções%20criam%20conexões.pdf

QualificaçãoEspecialização na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia(UFRB) - A universidade divulgou o processo seletivo extra para oscursos de mestrado e doutorado em Ciências Agrárias para o primeirosemestre de 2014. As inscrições seguem abertas até 7 defevereiro.Confira o Edital de Seleção Extra 2014.1. Mais informações:www.ufrb.edu.br/pgcienciasagrarias

ConcursosInstituto Nacional de Câncer (Inca) - O Ministério da Saúde autorizoua realização de concurso pública para 377 vagas de nível superior e206 de nível médio, para atuação no Inca. O edital está previsto parao primeiro semestre deste ano. As informações constam da PortariaN- 15, De 21 de janeiro de 2014. Mais informações: http://acheconcursos.com/imagens/dwcms/1399/editalms2014.pdf

Vaga para ictiólogo no Museu Nacional, da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ) - O período de inscrição vai até 17de fevereiro. O edital de Concurso Público para provimento de vagasde cargos efetivos de Magistério Superior da UFRJ (anexo) pode seracessado em http://concursos.pr4.ufr j .br/ images/stories/_concursos_PR4/edital-460-3013/1_editais_anexos_e_legislacao/Edital_460_de_23_de_dezembro_de_2013_-_Consolidado_em_22-01-14.pdf

Residência médica no Hospital Federal dos Servidores do Estado- Inscrições para o programa de residência médica do serviço deOftalmologia, na área de transplante de córnea, do Hospital Federal dosServidores do Estado (HFSE). O processo seletivo oferece seis vagasa médicos que já concluíram o último ano de residência em Oftalmologia.Informações: 2291-3131 / ramais: 3512 e 3780.

Pesquisa Qualitativa em Geo-grafia: reflexões teórico-concei-tuais e aplicadas – A obra reúne27 artigos que têm como fio con-dutor a pesquisa qualitativa emgeografia, tratando ora de refle-xões teórico-conceituais, ora desua aplicação empírica, em dife-rentes recortes espaciais do ter-ritório brasileiro. Glaucio JoséMarafon, Julio Cesar de LimaRamires, Miguel Angelo Ribeiroe Vera Lúcia Salazar Pessôasão os organizadores. Os textosresultam de estudos envolven-do pesquisadores e alunos depós-graduação e de iniciaçãocientífica. Editora da Universi-dade do Estado do Rio de Janei-ro (EdUERJ).

Liinc em Revista – O volume 9, nº2 conta com um dossiê sobreAcesso à Informação Governa-mental, organizado pelos pro-fessores José Maria Jardim eAna Celeste Indolfo, que assi-nam a apresentação. O volumetraz 11 artigos assinados. A Liincem Revista é uma publicação doLaboratório Interdisciplinar emInformação e Conhecimento, umespaço interinstitucional e multi-disciplinar, coordenado em par-ceria entre a UFRJ e o Ibict, vol-tado para a reflexão crítica sobreinformação, conhecimento e de-senvolvimento, ante as transfor-mações no mundo contemporâ-neo. A revista está disponível emwww.ibict.br/liinc

Atlas Fotográfico de AnatomiaComparativa de Vertebrados - OLaboratório de Anatomia Com-parativa de Vertebrados - LACVda Universidade de Brasília(UnB) lançou o livro digital AtlasFotográfico de Anatomia Com-parativa de Vertebrados - Volu-me 1 - Sistemas Cardiovasculare Respiratório. O trabalho, de-senvolvido ao longo de 11 anos,reúne cerca de 350 imagens fo-tográficas e links para vídeosdigitais. Produzida em formatodigital (e-book), a obra tem aces-so livre e gratuito na página doLACV: (www.lacv.unb.br).

Andifes e os Rumos das Univer-sidades Federais - A obra lan-çada pela Associação Nacionaldos Dirigentes das InstituiçõesFederais de Ensino Superior(Andifes) reúne 16 artigos de ex-presidentes da associação com-pondo um registro histórico so-bre a educação superior públicano Brasil nos últimos 20 anos. Apublicação é dedicada ao ex-presidente da Andifes e ex-reitorda Universidade Federal doParaná (UFPR), Carlos RobertoAntunes dos Santos, falecido em2012. O prefácio é assinado pelosecretário executivo da AndifesGustavo Balduino.

Sapos brilhantes - Cientistas do zooló-gico de Chester, na Grã-Bretanha, de-senvolveram uma forma de rastrear umanfíbio raro e ameaçado de extinção,injetando um composto fluorescentena criatura. A espécie escolhida é umpequeno sapo da ilha de Madagascar,no oceano Índico, o Mantellaaurantiaca. Uma quantidade mínimade silicone fluorescente é injetada logoabaixo da pele do anfíbio para marcaro sapo, a marca fica na parte de baixode uma das pernas, para que o sapo nãoseja visto pelos predadores.

Praga desvendada - Um estudo di-vulgado na revista The LancetInfectious Diseases indica que a Pragade Justiniano, que matou milhões depessoas no século VI, foi causada pelapeste bubônica, mas por uma cepadiferente da bactéria que causou aPeste Negra cerca de 800 anos depois.De acordo com Hendrik Poinar, pro-fessor da Universidade McMaster, noCanadá, a pesquisa é fascinante e as-sustadora, porque leva a novas ques-tões que precisam ser exploradas, como,por exemplo: por que essa pandemia,que matou entre 50 milhões e 100milhões de pessoas, desapareceu?

Projeto Andar de Novo – Pesquisaliderada pelo neurocientista brasileiroMiguel Nicolelis, o Projeto Andar deNovo, foi citado na edição da revistaNature do dia 2 de janeiro como um dosestudos que merecem ser acompanha-dos de perto em 2014. A lista conta comdez trabalhos em andamento. Nicolelis,que atua na Universidade Duke, naCarolina do Norte, Estados Unidos, lide-ra o desenvolvimento do exoesqueleto,equipamento que pretende fazer umjovem paraplégico dar o pontapé inicialda Copa do Mundo de 2014.

Maconha – Um grupo multidiscipli-nar de pesquisadores da Universidadeda República Uruguaia vai estudar ospossíveis efeitos da maconha no sonoe na vigília, uma área de estudo quepromete aumentar nos próximos anos,graças à regulação do mercado daerva, aprovada em dezembro. Os cien-tistas esperam a regulação da lei quelegaliza a produção de maconha, parainiciar um estudo sobre quais dos 500componentes da planta promovemsono e vigília, noticiou o jornal ElObservador.

Nova espécie ameaçada - A Iniaaragualiaensis, nova espécie de botodescoberta por cientistas brasileiros naAmazônia, já está ameaçada de extinçãopela ação do homem, disse nesta sema-na à Agência Efe o professor TomasHrbek, professor da UniversidadeFederal do Amazonas e responsávelpela pesquisa. De acordo com o pes-quisador, trata-se de uma espécie “vul-nerável” que está sendo ameaçada pelapresença de hidrelétricas e pelos culti-vos agrícolas nas proximidades do rio.

Células-tronco – Pesquisadores japo-neses descobriram um método extre-mamente simples que facilita a obten-ção de células-tronco. A técnica deexposição a um ambiente ácido trans-forma células maduras em célulaspluripotentes. Cientistas do Centro deBiologia do Desenvolvimento Riken,no Japão, chamaram esse novo méto-do de reprogramação celular de Aqui-sição de Pluripotência Desencadeadapor Estímulo. Os resultados forampublicados na revista Nature.

JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC • 31 DE JANEIRO DE 2014 • ANO XXVIII Nº 752

O objetivo das sociedades é promover a ciência, direcionandoa atenção geral para assuntos científicos, além de facilitar a inser-ção entre os cidadãos. A afirmação foi feita pela presidente daSociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), HelenaNader, durante a palestra “O papel das sociedades para o avançoda ciência em um mundo globalizado”, na XV Reunião CientíficaAnual do Instituto Butantan.

Durante o encontro, Helena discorreu sobre histórias e missõesde sociedades do mundo, que têm praticamente o mesmo ideal, comoa Britsh Science Association (BSA), American Association for theAdvancement of Science (AAAS), Indian Science Congress Association(Isca), Japan Society for the Promotion of Science (JSPS), ChinaAssociation for Science and Technology (Cast) e a EuroScience.

A mais antiga é a BSA, que foi criada em 1831, surgindo com aintenção de melhorar a percepção da ciência e dos cientistas no ReinoUnido. “Quando a gente vai ver o que a BSA propõe é muito parecidocom as coisas que estamos fazendo no Brasil, porque lá também háproblemas”, disse. “A BSA luta pela democratização da ciência. Elaquer que a ciência dialogue com a sociedade porque as pessoas sóvão defender uma sociedade se entenderem o que se faz”, completou.

Também citada por Helena, a American Association for theAncement of Science (AAAS), criada em 1948, para promover acooperação dos cientistas, fomentar a responsabilidade científica,além de apoiar a educação científica. “Ela têm várias vertentes, comopor exemplo, trabalhar junto ao governo federal. A AAAS tem emtodos os gabinetes do governo pessoas qualificadas para apoiá-la.Isso é fundamental. Teríamos que ter isso no Brasil, mas se precisade dinheiro. O Brasil faz um grande discurso que a ciência é impor-tante, mas não estamos sendo reconhecidos”, lamentou. “Reconhe-cer que é importante é financiar com altura. E nossos financiamentosjá foram melhores”, completou.

A Japan Society for The Promotion of Science (JSPS), surgiu em1932 de uma doação concedida pelo imperador Showa. Em 1967,ela se tornou uma organização quase governamental, no âmbito doMinistério da Educação, Ciência, Esporte e Cultura. Em 2003 virouuma instituição administrativa independente, buscando melhorar aeficácia e eficiência da gestão. “Ela é bem diferente das outrasporque avalia e financia projetos. A AAAS, por exemplo, publica aScience, por isso, ganha dinheiro de projetos de governo, mas nãofinancia ciência”, ressaltou.

De acordo com Helena, a sociedade mais recente do mundo é aEuroScience, criada em 1997, e que representa os cientistas euro-peus de todas as áreas de conhecimento e os interessados emciência em instituições públicas, universidades, institutos de pesqui-sa ou setor empresarial. “Esta sociedade realiza reuniões a cada doisanos. A próxima será em 2015 na Dinamarca”, disse. Entre asmissões da EuroScience está a de contribuir para o desenvolvimentocientífico e tecnológico da Europa.

SBPC - Helena também apresentou a SBPC. “Hoje a SBPC tem umpapel de interlocutor. Temos cada vez mais uma presença constantedentro do cenário político na defesa da educação, saúde, meioambiente e ciência”, disse. Dentre as missões da sociedade, apresidente citou a luta pela qualidade e universalidade da educaçãoem todos os níveis; a defesa dos interesses dos cientistas; a disse-minação do conhecimento científico por meio de ações de divulgaçãoda ciência; a luta pela remoção dos empecilhos e incompreensão queembaracem o progresso da ciência. “Não estamos tendo muito sorte,entre os exemplos está o PNE (Plano Nacional de Educação) que eraum projeto para 10 anos que ainda não foi aprovado”, lembrou.

Mas, nem tudo são derrotas. Helena lembrou que a SBPC teveum papel fundamental na aprovação do Código Florestal. “Emalgumas coisas fomos ouvidas, em outras não. Mas sem a interven-ção da SBPC o código seria muito pior do que aquele que foiaprovado”, explicou. Ao falar da importância da alfabetização cientí-fica para todas as crianças, Helena citou o Projeto 2061, que é umainiciativa de reforma nacional da educação da AAAS, para ajudar todosos americanos a tornarem-se alfabetizados em ciências, matemáticae tecnologia. “A China traduziu este projeto e distribuiu em todas asescolas. O meu sonho era poder fazer isso aqui no Brasil”, disse. Paraa presidente da SBPC, é preciso aumentar a consciência entre pais efamiliares do valor da alfabetização científica para todas as crianças.

Sociedades científicas a favor dos cidadãos

Desafios para a internacionalização da ciênciaReunião anual do Instituto Butantan promoveu uma ampla discussão sobre os caminhos e os desafios para pesquisdores no Brasil

Vivian Costa

A burocracia do governo, a fal-ta de um maior intercâmbio entrepesquisadores, a publicação deartigos de qualidade são algunsempecilhos à internacionalizaçãoda ciência brasileira. Diante des-se cenário, a XV Reunião Cientí-fica Anual do Instituto do Butantantrouxe como tema este ano a “In-ternacionalização da CiênciaBrasileira: Caminhos e Desafiospara o Instituto Butantan”. O en-contro foi realizado entre os dias4 e 6 de dezembro.

“O Instituto Butantan é interna-cional desde a sua origem, porconta de seu trabalho. Perdemosa liderança em alguns grupos,mas queremos recuperar estaposição”, disse Jorge Kalil, diretordo instituto, no último dia de even-to. “O mundo todo olha para oButantan por conta das suas vaci-nas inovadoras, dentre elas, a dadengue”, comentou.

Mesmo com o reconhecimen-to, o instituto precisa se internaci-onalizar, mas, para isso, é preci-so ser mais ágil. O excesso deburocracia atrapalha, disse Kalil.“Há uma regra da Secretaria deSaúde que diz que o pesquisa-dor do Butantan não pode ficarfora mais de três meses. Nesteperíodo não dá para fazer umtreinamento decente”, disse.

Segundo o diretor, outro pro-blema enfrentado pelo Institutoé a falta de novos funcionários.“Mesmo assim, há um esforço detrazer novos pesquisadores.Existe ainda uma promessa deabertura de 50 vagas para o anoque vem”, disse. “Já começa-mos a mudar algumas coisas,como a reforma de nossas uni-dades fabris de acordo com asregras internacionais”, disse. “Ésalutar que o Butantan faça pes-quisa. Estamos trabalhando paratrazer uma produção inovado-ra”, completou.

Qualidade - O coordenador ad-junto da Diretoria Científica daFundação de Amparo à Pesqui-sa do Estado de São Paulo(Fapesp) ,Walter Colli, que apre-sentou a palestra “A Fapesp e ainserção internacional da ciên-cia feita em São Paulo”, concor-da que o Instituto Butantan pre-cisa se internacionalizar, masressalta que o Brasil também. “Opaís tem publicado mais artigos,mas com menos qualidade.Quando comparamos com ou-tros países, como a Espanha,por exemplo, a qualidade dosartigos espanhóis é melhor. Oque é lamentável”, disse.

Segundo Colli, a média dosimpactos dos artigos publicadosno Brasil é de 0,6%, em relação à

produção mundial. “São Pauloconsegue um pouco melhor, epula para 0,8%”, afirmou. Já opresidente do Conselho Nacio-nal de Desenvolvimento Científi-co e Tecnológico (CNPq), GlauciusOliva, que apresentou a palestra“Internacionalização da CiênciaBrasileira: Programa Ciência semFronteiras”, disse que a ciênciatem cumprido seu papel pelo de-senvolvimento brasileiro, mas queé preciso avançar mais.

Ao citar dados do programaCiência sem Fronteiras, Oliva dis-se que um dos entraves é a línguainglesa. “Cerca de 60% das bol-sas são concedidas para cursos

de graduação. Quando o progra-ma foi lançado, a ideia era que aprocura fosse maior por alunosde pós-doutorado. O lado bom éque esses alunos estão voltandocom outra cabeça e o Brasil teráque se adaptar”, disse.

E segundo Oliva, a falta dedemanda para cursos de pós-graduação é por conta da língua.“Em diversos países os cursossão todos ministrados em inglês.A China tem cinco cursos emuniversidades diferentes em in-glês”, disse. “Infelizmente o Bra-sil não tem nenhum curso de pós-graduação ministrado em inglês.E isso precisa mudar”, finalizou.

Instituto Butantan é internacional por conta de suas vacinas inovadoras

Wik

imed

ia C

omm

ons