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Filiada à: Veículo informativo da CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES CONTAG ANO XII • NÚMERO 139 • OUTUBRO DE 2016 Jornal da ATÉ QUANDO FICAREMOS ASSIM?

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Page 1: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG 1Filiada à:

Veículo informativo da

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES

CONTAGANO XII • NÚMERO 139 • OUTUBRO DE 2016

Jornal da

ATÉ QUANDO FICAREMOS ASSIM?

Page 2: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG2

EDITORIAL

PRESIDÊNCIA

Alberto Ercílio BrochPresidente da CONTAG

MSTTR sai fortalecido das eleições municipais 2016

A população brasileira está desacre-

ditada e insatisfeita com a classe

política como um todo e esse fato

ficou evidenciado no último pleito eleitoral,

no dia 2 de outubro, quando foi registrado

um alto índice de votos brancos e nulos e

de abstenção do eleitorado.

No primeiro turno, 17,58% do eleitora-

do em todo o País, ou seja, mais de 25

milhões de eleitores e eleitoras deixaram

de comparecer às urnas. Quanto à soma

nacional dos votos brancos e nulos, ain-

da não foi finalizado pelo Tribunal Superior

Eleitoral (TSE). Mas, em São Paulo, o nú-

mero já está consolidado e apontou para

uma alta de quase 3% em relação à elei-

ção passada. Foram 1,2 milhão de votos

brancos e nulos em 2016, o equivalente

a 13% do universo total de eleitores(as)

paulistanos(as). E, infelizmente, esse foi o

cenário em quase todo o País.

Os casos de corrupção envolvendo

políticos e instituições públicas deixaram

o eleitorado desanimado e com poucas

perspectivas. E esse descrédito também

é inflamado pela mídia, que apresenta

os casos ilícitos como algo que envolve

todos os políticos e partidos. Nesse sen-

Veja o balanço das eleições nas páginas 4 e 5 deste jornal.

tido, é fundamental a participação de to-

dos e todas e, principalmente, que haja

um aprofundamento do debate sobre a

importância da classe política para a to-

mada de decisões nos municípios, esta-

dos e no âmbito federal, e para que as

mudanças necessárias no sistema político

brasileiro aconteçam de fato. Precisamos

resgatar nos próximos pleitos a nossa

luta por um processo eleitoral democrá-

tico, transparente, justo e com igualdade

de oportunidades para todos(as), onde

os(as) eleitores(as) podem continuar ele-

gendo os seus candidatos e candidatas

de uma forma consciente, empoderada e

articulada para cobrar dos seus eleitos(as)

o cumprimento das promessas e compro-

missos firmados durante a campanha. Ou

seja, precisamos amadurecer e avançar

na nossa democracia, porque só assim,

com o passar do tempo, poderemos re-

cuperar a credibilidade da classe política

e das instituições públicas para que con-

sigam responder aos anseios da popula-

ção. Afinal, o processo democrático não

passa apenas pela eleição, está também

em participar, fiscalizar e cobrar dos(as)

eleitos(as) para o Legislativo e Executivo.

Dentro dessa lógica, o Movimento

Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais (MSTTR) tem a estratégia política de

apostar nos pleitos eleitorais, elegendo os

representantes da agricultura familiar. Mais

especificamente sobre as eleições munici-

pais, esse é um processo extremamente

importante porque muitas das demandas

do cotidiano dos agricultores e agricultoras

familiares e das comunidades rurais, como

estradas vicinais, energia, escolas, saúde,

segurança pública, entre outras, passam

por decisões das Câmaras de Vereadores

e a execução pelas Prefeituras. Além dis-

so, fortalecendo a nossa participação e

aumentando a nossa representação no

poder público local, estaremos trilhando

avanços nos espaços estaduais e no fe-

deral. Precisamos avançar na Câmara dos

Deputados, no Senado, nas Assembleias

Legislativas e nos governos estaduais, es-

paços com perfil bem conservador e com

resistência à pauta da agricultura familiar.

Com as informações que recebemos das

nossas Federações até o momento, pode-

mos afirmar que acertamos na estratégia

e saímos das eleições 2016 fortalecidos.

Conseguimos eleger uma quantidade con-

siderável de prefeitos(as), vice-prefeitos(as)

e vereadores(as) orgânicos e comprometi-

dos com o MSTTR e com o nosso projeto

político. Portanto, vislumbramos um ce-

nário de avanços da pauta da agricultura

familiar e da classe trabalhadora como um

todo. Precisamos, agora, fiscalizar, cobrar

e apoiar os(as) nossos(as) representantes

para que possam fazer um bom manda-

to e sejam uma referência para os demais

municípios de que é possível fazer uma

gestão pública responsável e fortalecer o

campo e a agricultura familiar.

Page 3: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG 3

Ronaldo Ramos

JORNAL DA CONTAG 3

A Agência Nacional de Assistência

Técnica e Extensão Rural (Anater)

foi criada há dois anos, depois de

muita luta dos movimentos sociais e, so-

mente agora, no final de 2016, existe a pos-

sibilidade de que seja formada uma equi-

pe de trabalho para que o órgão comece

suas atividades. Durante o Seminário para

Avaliação do Cenário Nacional de Ater, re-

alizado pela CONTAG entre os dias 21 e

23 de setembro, o presidente em exercí-

cio da Anater, Walmir Severo, afirmou que

os gerentes de cada Diretoria Executiva

da instituição serão contratados em ou-

tubro, e que o processo seletivo para os

cargos de técnicos seria aberto ainda

neste ano. Outro participante do seminá-

rio, o representante da Secretaria Especial

de Agricultura Familiar e Desenvolvimento

Agrário, Everton Ferreira, afirmou que o

valor do contrato de gestão entre governo

e Anater seria duplicado, passando de R$

31 milhões para mais de R$ 60 milhões.

O valor deverá ser utilizado para as des-

pesas de funcionamento do órgão, para a

capacitação de agentes de Ater e para o

lançamento de chamada pública de Ater

para o semiárido.

“Trata-se de um valor insignificante para

a realização efetiva e eficiente da Ater em

todo o Brasil. Enfrentamos ainda a realida-

de de um problema constante e muito gra-

ve que são os passivos existentes com as

empresas que realizaram serviços de Ater.

Há empresas que estão há um ano sem

receber pelo trabalho realizado”, aponta o

secretário de Política Agrícola da CONTAG,

David Wylkerson. O representante do Incra

no seminário realizado pela CONTAG,

POLÍTICA AGRÍCOLA ATER

Um longo caminho pela frenteFuncionamento efetivo da Anater deve ser objeto de mobilização constante dos movimentos sindicais e sociais

Jorge Tadeu, informou que o órgão não

tem recursos suficientes para honrar as

dívidas. Durante o seminário de avaliação,

Everton Ferreira sinalizou que os contra-

tos de serviços deverão ser repactuados,

o que pode significar a redução do valor

destinado para contratações e do número

de famílias atendidas pelo serviço de Ater.

A justificativa de falta de recursos se

mostra insustentável diante do Decreto-Lei

1.146/1970, que determina que 2,5% da

contribuição sindical dos trabalhadores e

trabalhadoras na agroindústria seja desti-

nado ao Incra e isso não ocorre. Os recur-

sos estão sendo destinados ao Orçamento

Geral da União, com o objetivo de consti-

tuir superávit primário. Somente de janeiro

a novembro de 2015, o valor arrecadado

equivale a pouco mais de R$ 1,2 bilhão,

recursos que deveriam ser aplicados para

desapropriação de terras para a Reforma

Agrária, para estruturação de assentamen-

tos, para a contratação de serviços de Ater

e outras atividades – além de ser valor mui-

to maior do que o Incra tem disponível em

2016, cuja demanda financeira até o final

do ano é de cerca de R$ 419 milhões e

só pagou R$ 143 milhões até o momento.

No entanto, o que ocorre desde 2011 é

a interrupção ou atraso dos pagamentos

das instituições privadas sem fins lucrativos

que prestam serviços de Ater em todo o

Brasil. E, por isso, essas instituições estão

perdendo infraestrutura pois precisam ven-

der patrimônio para honrar seus deveres

trabalhistas. “Trata-se de um desmonte,

que tem como consequência o discurso de

que as instituições privadas sem fins lucra-

tivos não são viáveis. O objetivo é destinar

os serviços de Ater prioritariamente para

as instituições públicas de Ater e, assim,

tirar força das organizações da sociedade

civil”, aponta David Wylkerson. “É preciso

muita mobilização e articulação para pautar

o governo federal para o fortalecimento da

Assistência Técnica e Extensão Rural, por-

que nenhuma política pública é dádiva dos

governos: elas são sempre resultados de

insistência e de muita luta dos movimentos

sociais”, afirma o dirigente.

OUTRAS POSSIBILIDADES DE RECURSOS PARA ATER:Alienação do patrimônio não utilizado do Incra: R$ 300 milhões;Atualização das taxas do Incra: R$ 300 milhões/ano (*);

Cobrança devida ao ITR (em parceria com a Receita Federal): R$ 800 milhões/ano (*);Cotas de reserva ambiental e crédito de carbono dos assentamentos: R$ 1 bilhão/ano (*);Tributação dos agrotóxicos: R$ 6 bilhões/ano (*);

Destinação de recursos do Plano Safra (ao invés de pagar equalização): R$ 1 bilhão/ano (*).(*) Soma total dos valores anuais, consi-derando o Decreto-Lei 1.146/1970: R$ 10,3 bilhões/ano.

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JORNAL DA CONTAG4

SECRETARIA GERAL ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016

MSTTR amplia representação política nos municípiosNo balanço parcial, foram eleitos cerca de 42% dos candidatos e candidatas comprometidos(as)

com o fortalecimento da agricultura familiar

O Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais (MSTTR), desde meados da década de 90, luta pela

implementação do Projeto Alternativo de Desenvolvimento

Rural Sustentável e Solidário (PADRSS), que questiona o modelo he-

gemônico de desenvolvimento, contemplando um conjunto de pro-

postas que visam a emancipação dos sujeitos do meio rural brasilei-

ro e a superação de problemas históricos e estruturantes do campo

em seus aspectos social, político, econômico e ambiental.

Para isso, o PADRSS tem como um dos seus elementos centrais

e estruturantes o fortalecimento da democracia participativa. Ao lon-

go dos últimos anos, a CONTAG, as Federações e Sindicatos vêm

participando ativamente das ações em Defesa da Reforma Política

e Eleições Limpas, do Plebiscito Popular por uma Constituinte

Exclusiva Soberana do Sistema Político, e têm incentivado a candi-

datura de trabalhadores(as) rurais e lideranças comprometidas com

o projeto político do MSTTR.

Avaliando dados enviados pela maioria das Federações filiadas,

podemos afirmar que houve intensa participação dos agricultores e

agricultoras familiares nas eleições municipais de 2016, possibilitan-

do o fortalecimento da representação política da agricultura familiar

nas Prefeituras e nas Câmaras de Vereadores em todo o País. De

1.021 candidaturas registradas, conseguimos eleger 438, ou seja,

42%, chegando a 55% de eleitos(as) em alguns estados.

Levando em consideração que vivemos um cenário político ad-

verso no País, com a criminalização dos movimentos sociais e de

partidos de esquerda, de descrédito da população no geral com a

classe política, o resultado obtivo pelo MSTTR nas urnas foi bastante

positivo, um avanço para a agricultura familiar brasileira.

“A partir desse resultado nas eleições municipais, pudemos per-

ceber o amadurecimento e um interesse maior do movimento sin-

dical pela política partidária que é de fundamental importância para

mudarmos a realidade do meio rural brasileiro”, avaliou a secretária

Geral da CONTAG, Dorenice Flor da Cruz.

A dirigente destacou que, agora, é preciso manter o diálogo e

acompanhar de perto o mandato dos eleitos e eleitas para avançar-

mos na pauta de fortalecimento da agricultura familiar. “É preciso que

os eleitos e eleitas permaneçam ao lado dos nossos trabalhadores

e trabalhadoras para defender os nossos direitos que estão amea-

çados e para lutar por novas conquistas para a categoria e para o

campo. Temos que participar das sessões das Câmaras Municipais,

cobrar e fiscalizar o trabalho do Legislativo e do Executivo de perto.

Através da nossa participação efetiva podemos fazer a diferença no

nosso País, que precisa avançar nas políticas públicas e não retroce-

der”, enfatizou a secretária.

Total de candidatos(as): 1.021(803 HOMENS E 218 MULHERES)

PREFEITOS(AS) - 27

VICE-PREFEITOS(AS) - 47

347 HOMENS79%

91 MULHERES21%

24 HOMENS89%

3 MULHERES11%

38 HOMENS80%

9 MULHERES20%

284 HOMENS79%

79 MULHERES22%

TOTAL DE ELEITOS(AS) - 438 (42%)

VEREADORES(AS) - 364

78% 22%

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JORNAL DA CONTAG 5

ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016

MULHERES RURAIS

Representação política das mulheres precisa avançarMSTTR amplia representação política nos municípiosApesar de representar maioria da população brasileira, o índice de mulheres eleitas para as prefeituras não passa de 11%

A luta das mulheres por democracia,

poder e participação política está

presente na vida das Margaridas.

Mas esta não é uma luta fácil! Mesmo as

mulheres representando 51% da popu-

lação brasileira, segundo o último Censo

do IBGE, ainda existe muito preconceito,

violência, falta de prioridade e conserva-

dorismo quando o assunto é aumentar a

representatividade política feminina nos

poderes públicos.

Dos 5.509 municípios com eleição de-

finida no primeiro turno, apenas 639 terão

prefeitas mulheres no próximo mandato,

representando um índice de 11,6%, ou

seja, 0,3% inferior nas eleições de 2012,

quando foram eleitas 663 prefeitas.

Muitos partidos cumprem a cota de 30%

de registro de candidaturas de mulheres

apenas no papel, mas muitas das candida-

tas acabam nem chegando às urnas, e as

que chegam a disputar as eleições recebem

recursos dos partidos bem inferiores ao que

é destinado aos candidatos homens.

Portanto, não é uma missão fácil au-

mentar a representação política das mu-

lheres diante deste cenário. Seguindo as

orientações do Movimento Sindical de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

(MSTTR) e da Marcha das Margaridas,

a CONTAG, as Federações e Sindicatos

incentivaram a candidatura de compa-

nheiras em todo o País compromissadas

com o projeto político do MSTTR e das

Margaridas. De um total de 218 candi-

datas, conseguimos eleger 91 mulhe-

res, ou seja, 41,74%. Desse total de elei-

tas, três serão novas prefeitas, nove

vice-prefeitas e 79 vereadoras.

“Esse resultado já é o reflexo do tra-

balho desenvolvido pelo MSTTR voltado

à organização, formação política e em-

poderamento das mulheres para atuar

em todos os espaços de representação,

seja nas comunidades, no movimento

sindical ou no poder público”, destaca

a secretária de Mulheres da CONTAG,

Alessandra Lunas.

Apesar do avanço nas candidaturas das

mulheres comprometidas com o projeto

político do MSTTR, a média nacional ainda

se apresenta como um desafio para todas

nós. Por mais quatro anos, teremos que

conviver com uma grande maioria de pre-

feitos, vice-prefeitos e vereadores homens,

brancos, empresários e com idade igual ou

superior a 50 anos. Esse é um perfil que

difere da maioria da população brasileira.

De acordo com Alessandra, as mulheres

continuarão a ser sub-representadas, im-

pactando, sobretudo, na prioridade que

será dada às políticas públicas específicas

para as mulheres nos municípios e os res-

ponsáveis em realizar esse trabalho.

“O resultado das eleições demonstra

mais uma face do golpe efetivada, seja

pelos investimentos milionários em can-

didaturas da direita, seja pelos ataques à

capacidade das mulheres em ocupar os

espaços de poder e às candidaturas de

esquerda, e seja pelo crescimento da cor-

rupção do voto. Essa estratégia da direita

ganhou força nesse último pleito e ela sai

fortalecida para 2018. Precisamos intensi-

ficar a nossa luta”, avalia Alessandra.

Luiz Fernandes

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JORNAL DA CONTAG6

POLÍTICAS SOCIAIS NÃO AOS RETROCESSOS

Muito trabalho pela frente

APesquisa Nacional por Amos-

tragem de Domicílio (Pnad) aponta

que, do total do trabalho infantil

no Brasil, 30,8% é realizado no meio ru-

ral. A mesma pesquisa mostra que, en-

tre os anos de 2001 a 2014, houve uma

queda na utilização do trabalho infan-

til: de 5,1 milhões de crianças para 2,83

milhões. No entanto, entre 2013 a 2014

esta queda foi interrompida, e o trabalho

infantil cresceu 14,75%, sendo 5,8% em

atividades agrícolas.

Mesmo com a queda no período de

2001 a 2014, o Brasil ainda está distan-

te de alcançar as metas assumidas com

a Organização Internacional do Trabalho

(OIT) em eliminar as piores formas de

trabalho infantil até 2015 e de erradicar

a totalidade do trabalho infantil até 2020.

Em 2006, o Brasil sediou em Brasília a

XVI Reunião Regional Americana da

Organização Internacional do Trabalho

(OIT). Na ocasião, o governo brasileiro

se comprometeu em cumprir as referi-

das metas. Entre as “piores formas” es-

tão a pulverização de lavouras e o traba-

lho em estábulos.

Na perspectiva de continuar a luta

pela erradicação do trabalho infantil, em

agosto de 2016, a Comissão Nacional

de Trabalho Infantil (Conaeti) vem coor-

denando um processo de construção

do novo Plano Nacional de Prevenção

e Erradicação do Trabalho Infantil e

Proteção ao Adolescente Trabalhador,

período 2016-2019. A CONTAG está

presente nesse debate para assegurar

que o recorte do campo seja incorpora-

do ao novo plano, e garantir que crian-

ças e adolescentes não sejam obrigados

a lidar com agrotóxicos ou em condições

de perigo, ou que deixem de ir à escola

para trabalhar - situação que, infelizmen-

te ainda é muito comum no meio rural.

A primeira edição do Plano, que en-

globou os anos de 2011 a 2015, deter-

minou a eliminação das piores formas do

trabalho infantil, meta não cumprida, por

diversas razões, entre elas destacamos a

pouca renda das famílias que ainda vivem

em situação de pobreza e a não compre-

ensão por parte destas famílias sobre as

implicações no desenvolvimento físico,

mental e social das crianças e adolescen-

tes no futuro.

MENOS TRABALHO, MAIS EDUCAÇÃO – “O

trabalho infantil tem raízes em questões

culturais, porque muitos acreditam que é

melhor colocar os(as) jovens para trabalhar

do que deixá-los à toa. Mas é preciso lutar

para que eles tenham escolas e atividades

culturais e esportivas para que possam

ocupar o tempo de forma produtiva e que

os ajude no futuro. A luta da erradicação

do trabalho infantil está muito junta à luta

pela educação do campo”, afirma o se-

cretário de Políticas Sociais da CONTAG,

José Wilson Gonçalves.

O dirigente aponta, ainda, que é preci-

so saber reconhecer a exploração infantil,

pois, no campo, existem muitos tipos de

trabalho que podem proporcionar ferra-

mentas práticas e sociais que refletirão

positivamente na vida adulta, gerando

autoconfiança, autoestima, relação fa-

miliar e competência laboral. “Obrigar

a criança a trabalhar e não dar a ela a

chance de brincar e de se educar é muito

diferente de proporcionar para elas tare-

fas apropriadas à idade, que não repre-

sentem risco à saúde e integridade física

da criança e não interfiram nas condições

de escolarização e no tempo para o la-

zer”, explica José Wilson.

O Brasil ainda não cumpriu metas de erradicação do trabalho infantil com as quais se comprometeu junto à Organização Internacional do Trabalho: a luta continua

Carol Garcia - SECOM GOV/BA

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7

JUVENTUDE RURAL LUTA CONTRA RETROCESSOS

Tudo parado

trabalho que executam nessa área. Neste

ano, a presidência do Conjuve deveria

passar da representação da sociedade

civil para um integrante do governo,

mas não há notícia sobre esse proces-

so de transição. A Secretaria Nacional de

Juventude não respondeu às perguntas

feitas pela CONTAG sobre a previsão de

atividades do Conjuve, nem sobre temas

relacionados à juventude rural.

A juventude do campo, floresta e águas

do Brasil deve se mobilizar também con-

tra a PEC 241/2016, de autoria do atual

governo federal, que pretende impedir,

por 20 anos, o aumento dos inves-

timentos em políticas sociais

como saúde, educação e progra-

mas sociais. Trata-se de medida que

prejudica toda uma geração em nome de

um “ajuste fiscal” que tem como objetivo

garantir o pagamento da dívida pública

para bancos. Seria a consolidação de uma

transferência para instituições financeiras

de recursos que deveriam ser investidos

na população.

“A atual conjuntura política exige

grande mobilização da juventude do

MSTTR para garantir, nas ruas e jun-

to aos parlamentares de seus estados, que

medidas como essas não sejam aprovadas.

Também devemos cobrar a volta das ativida-

des dos espaços de debate de políticas pú-

blicas para a juventude, para garantir que

todos os e as jovens brasileiros(as)

tenham direito a uma vida digna,

com condições de crescimento

e felicidade”, afirma a secretária de

Jovens da CONTAG, Mazé Morais.

Políticas fundamentais para a juventude rural não avançam no atual governo federal

A extinção do Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA) pelo

atual governo federal representa um

enorme retrocesso para todas as políticas pú-

blicas voltadas para a Agricultura Familiar, es-

pecialmente o Plano Nacional de Juventude e

Sucessão Rural, instituído em maio pela pre-

sidenta Dilma Rousseff, por meio do Decreto

8.736/2016.

No entanto, com o processo de rees-

truturação do MDA em uma Secretaria

Especial de Agricultura Familiar e do

Desenvolvimento Agrário ligada à Casa

Civil, ações fundamentais para a execução

do plano ainda não saíram do papel. É o

caso da configuração do Comitê Gestor do

Plano Nacional de Juventude e Sucessão

Rural, que será o responsável por coorde-

nar as ações necessárias para a execução

de diversas ações do plano.

Também é motivo de preocupação a falta

de atividades de espaços de discussão e pro-

posição de políticas para a juventude como

o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve),

e o comitê permanente de Promoção

de Políticas para a Juventude Rural do

Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural

Sustentável (Condraf). O Conjuve tem como

objetivos formular e propor diretrizes voltadas

para as políticas públicas de juventude, de-

senvolver estudos e pesquisas sobre a reali-

dade socioeconômica dos jovens e promover

o intercâmbio entre as organizações juvenis

nacionais e internacionais.

O conselho conta com representantes

dos movimentos juvenis, organizações não

governamentais, especialistas e persona-

lidades com reconhecimento público pelo

para bancos. Seria a consolidação de uma

transferência para instituições financeiras

de recursos que deveriam ser investidos

“A atual conjuntura política exige “A atual conjuntura política exige “A atual conjuntura política exige

MSTTR para garantir, nas ruas e jun-

to aos parlamentares de seus estados, que

medidas como essas não sejam aprovadas.

Também devemos cobrar a volta das ativida-

des dos espaços de debate de políticas pú-

blicas para a juventude, para garantir que

todos os e as jovens brasileiros(as)

to aos parlamentares de seus estados, que

medidas como essas não sejam aprovadas.

Também devemos cobrar a volta das ativida-

des dos espaços de debate de políticas pú-

Jovens da CONTAG, Mazé Morais.

tenham direito a uma vida digna,

7

blicas para a juventude, para garantir que

todos os e as jovens brasileiros(as)

Juventude não respondeu às perguntas

feitas pela CONTAG sobre a previsão de

atividades do Conjuve, nem sobre temas

A juventude do campo, floresta e águas

do Brasil deve se mobilizar também con-

tra a PEC 241/2016, de autoria do atual

governo federal, que pretende impedir,

por 20 anos, o aumento dos inves-

mas sociais. Trata-se de medida que

prejudica toda uma geração em nome de

um “ajuste fiscal” que tem como objetivo

garantir o pagamento da dívida pública

mas sociais. Trata-se de medida que

prejudica toda uma geração em nome de

um “ajuste fiscal” que tem como objetivo

garantir o pagamento da dívida pública

por 20 anos, o aumento dos inves-

tra a PEC 241/2016, de autoria do atual

governo federal, que pretende impedir,

por 20 anos, o aumento dos inves-

trabalho que executam nessa área. Neste

ano, a presidência do Conjuve deveria

Políticas fundamentais para a juventude rural não avançam no atual governo federal

so de transição. A Secretaria Nacional de

Juventude não respondeu às perguntas

feitas pela CONTAG sobre a previsão de

atividades do Conjuve, nem sobre temas

A juventude do campo, floresta e águas

passar da representação da sociedade VOLTA

MDA!MDA!MDA!

O CONJU

VE

O CONJU

VE

O CONJU

VE

PREC

ISA

PREC

ISA

VOLTAR

VOLTAR

VOLTAR

PELO

PLA

NO

PELO

PLA

NO

PELO

PLA

NO

NACIO

NAL

DE

NACIO

NAL

DE

NACIO

NAL

DE

JUVEN

TUDE

E

JUVEN

TUDE

E

JUVEN

TUDE

E

JUVEN

TUDE

E

SUCES

SÃO R

URAL

SUCES

SÃO R

URAL

SUCES

SÃO R

URAL

SUCES

SÃO R

URAL

PELA GARANTIA

PELA GARANTIA

PELA GARANTIA

DOS DIR

EITOS

DOS DIR

EITOS

DOS DIR

EITOS

NÃO À PEC 241

NÃO À PEC 241

NÃO À PEC 241

JORNAL DA CONTAG

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JORNAL DA CONTAG8 JORNAL DA CONTAG8

GOLPE NOS TRABALHADORES(AS)

ASSALARIADOS(AS) RURAIS

Não é modernização, é retrocessoPropostas do Governo Temer para mudar leis trabalhistas são, na prática,

a extinção da Consolidação das Leis do Trabalho

O ministro do Trabalho do gover-

no de Michel Temer, Ronaldo

Nogueira, já afirmou, em várias

entrevistas para a imprensa, a intenção

de mandar ao Congresso Nacional, até

dezembro, propostas para “modernizar” a

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A CLT é o conjunto de leis aprovadas

na década de 40, ainda no governo de

Getúlio Vargas, que foram modificadas por

leis posteriores, mantendo-se, entretanto,

a sua essência. É este conjunto de

normas que garante, nos dias atuais, di-

reitos mínimos a todos os trabalhadores e

trabalhadoras urbanos e rurais, protegen-

do-os(as) e promovendo a dignidade e a

segurança no trabalho.

Entre as principais ameaças da propos-

ta do Governo Temer está a possibilidade

de que o negociado prevaleça sobre o le-

gislado. Isso significa que um acordo feito

entre sindicatos e empresas, ou entre sin-

dicatos patronais e de trabalhadores(as),

seja mais forte do que a lei, mesmo que o

acordo prejudique os(as) trabalhadores(as).

Atualmente, os acordos feitos em con-

venções coletivas só podem ser diferen-

tes da lei se forem favoráveis ao(à)

trabalhador(a). A lei estabelece os

limites mínimos de direitos, e o

acordado nunca pode ficar

abaixo disso. Se a proposta

do Governo Temer

for aprovada, isso

será possível. “Nas

situações em que a

representação dos tra-

balhadores for fraca, ou que

haja desconhecimento da legisla-

ção, haverá muitos prejuízos para

os(as) trabalhadores(as), que têm

menos força de barganha diante das

empresas”, afirma o secretário de

Assalariados(as) Rurais da CONTAG,

Elias D’Angelo Borges.

Outro prejuízo que ameaça os(as)

trabalhadores(as) é a flexibilização da

jornada de trabalho. O governo po-

derá levar em consideração propostas

como as da Confederação Nacional

da Indústria (CNI), que defende, por

exemplo, a jornada intermitente: o tra-

balhador seria pago somente pelas

horas que efetivamente trabalhasse, e

nas horas em que ficasse ocioso, mas em

prontidão para o trabalho, não seria remu-

nerado. Nesse período de prontidão, seria

impossível para o(a) trabalhador(a) investir

seu tempo em outra atividade de traba-

lho, de formação ou de lazer, pois estaria

sempre de sobreaviso, mas sem ganhar

nada por isso. “O intuito dessa proposta

é não precisar pagar pelo horário de almo-

ço do(a) funcionário(a), um tempo que os

empresários(as) consideram como despe-

sa”, explica Elias Borges.

Há ainda a grande ameaça de mu-

dança do conceito de trabalho escravo,

com a retirada dos elementos “jornada

exaustiva” e “condições degradantes de

trabalho”. O projeto de alteração está no

Senado Federal pronto para ser votado e,

se aprovado, vai impedir que os fiscais do

trabalho autuem de maneira adequada os

empresários(as) que impõem aos funcio-

nários condições indignas de trabalho. “A

alteração do conceito vai restringir o tra-

balho escravo somente à restrição de mo-

bilidade, mas nós sabemos que no cam-

po, floresta e águas no País não é apenas

isso o que acontece. São conhecidos os

casos de trabalhadores(as) que foram

resgatados(as) e que eram obrigados(as) a

dormir com os porcos”, aponta o dirigente.

TERCEIRIZAÇÃO – Outra aposta do Governo Temer é a aprovação do PLC 30/2015, que permite a terceirização am-pla e irrestrita nas atividades rurais e ur-banas. Pela proposta, os empregadores sequer querem assumir a responsabilida-de solidária pelo cumprimento das obri-gações previstas em lei. Precisamos ficar atentos, pois a terceirização é uma por-ta para a violação dos direitos mínimos dos(as) trabalhadores(as). A comprovação disto é que 90% dos trabalhadores(as) resgatados(as) em situação análoga à es-cravidão são terceirizados.

Page 9: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

POLÍTICA AGRÁRIA JORNADA DE LUTAS UNITÁRIA

JORNAL DA CONTAG 9

Nenhum direito a menos para os povos do campo, florestas e águas

CONTAG e demais entidades que compõem o Campo Unitário realizam acampamento em Brasília e ações em vários estados em defesa da democracia, reforma agrária, políticas públicas e soberania territorial e alimentar

A conjuntura de ameaça aos direitos

dos povos do campo, das águas

e das florestas exigiu a retomada

de ações unitárias entre as organizações

sociais e sindicais do meio rural para for-

talecer a mobilização em defesa da reto-

mada da democracia, da soberania terri-

torial e alimentar e para impedir qualquer

retrocesso nos direitos conquistados pela

classe trabalhadora.

Segundo as lideranças do Campo

Unitário, essa primeira ação da Jornada de

Unitária de Lutas após o impeachment da

presidenta Dilma Rousseff, demonstrou o

protagonismo e a força política dos prin-

cipais movimentos sociais do campo e

deu o tom ao governo ilegítimo de Michel

Temer sobre o que irá enfrentar no próximo

período, caso não faça avançar a reforma

agrária e insista na implementação de me-

didas retrógradas e de retirada de direitos.

A pauta de reivindicações, construída

conjuntamente, traz como principais pon-

tos a defesa da soberania nacional, a defe-

sa do MDA forte para concretizar a reforma

agrária e fortalecer as políticas para a agri-

cultura familiar e camponesa, a defesa da

terra e do território com o assentamento

das famílias acampadas e com a demar-

cação das terras indígenas e titulação das

terras quilombolas. Outros pontos também

importantes na pauta são a defesa das

políticas públicas - como o Minha Casa

Minha Vida, os Programas de Aquisição de

Alimentos (PAA) e de Alimentação Escolar

(Pnae), assistência técnica, Pronera, entre

outros-, bem como a contrariedade ao blo-

queio das ações de reforma agrária, à re-

forma da Previdência Social, ao retrocesso

nos direitos das mulheres, à criminalização

dos movimentos sociais e sindicais, e em

defesa do direito à alimentação saudável.

AÇÕES DA JORNADA DE LUTAS – As organiza-

ções integrantes do Campo Unitário, entre

elas a CONTAG, mobilizaram cerca de dois

mil trabalhadores(as) rurais para a ocupação

do Ministério do Planejamento. No entan-

to, esta foi uma ação nacional e, ao todo,

foram 13 estados mobilizados por meio de

ocupações de terras e de prédios públicos e

marchas realizadas por uma ampla unidade.

“Essa Jornada de Lutas Unitária demons-

trou a organicidade e a união dos movimen-

tos sociais e sindicais do campo diante de

um governo ilegítimo, que vem impondo re-

trocessos muito grandes nas políticas públi-

cas e dos direitos. Com os movimentos uni-

dos, o nosso objetivo é conseguir mobilizar

e conquistar avanços na reforma agrária e

garantir que esta política avance e não haja

retirada de direitos da classe trabalhadora,

em especial dos trabalhadores(as) rurais”,

destacou o secretário de Política Agrária da

CONTAG, Zenildo Xavier.

Durante o período de 5 a 7 de setembro,

em Brasília, além de ocupar o Ministério do

Planejamento e instalar um acampamento

no Incra, foram realizadas oficinas, assem-

bleias, místicas, conversas e negociações.

Fruto da pressão das ações, uma comissão

foi recebida no Palácio do Planalto por qua-

tro ministros, pelo secretário de Agricultura

Familiar e o presidente do Incra para ne-

gociar a pauta. No decorrer dos dias, tam-

bém ocorreram outras negociações, que

não trouxeram resultados concretos, mas

apontaram para novas agendas de reuni-

ões para continuidade das tratativas.

A jornada foi encerrada no dia 7 de se-

tembro, num grande ato político junto com

o Grito dos Excluídos, quando a Esplanada

dos Ministérios foi ocupada por mais de 10

mil pessoas do campo e da cidade. Para

a Diretoria da CONTAG, esse foi um mo-

mento importante de passar uma mensa-

gem coletiva de unidade, demonstrando

que independência significa a soberania e

a liberdade efetiva do povo brasileiro e o

respeito ao voto.

“Não nos demos por satisfeitos com as

primeiras negociações da nossa pauta.

Continuamos mobilizados e vigilantes con-

tra qualquer retrocesso. Está tendo luta e

união dos trabalhadores e trabalhadoras

rurais!”, reforçou Zenildo.

Nicinha Porto

Page 10: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG10

Contra a aprovação da PEC 241

O Governo de Michel Temer en-

viou ao Congresso Nacional

a Proposta de Emenda à

Constituição (PEC) 241, que impõe o

congelamento por 20 anos dos gastos

da União com a justificativa de estabele-

cer um novo regime fiscal. A medida limi-

ta as despesas primárias ao equivalente

aplicado no ano anterior corrigido apenas

pela inflação.

Apesar de o governo alegar que precisa

conter os gastos públicos para minimizar

os impactos da crise econômica, a maior

despesa do orçamento público é com a

dívida. A dívida brasileira é obscura e cres-

ce a cada ano devido a juros inconstitucio-

nais. Somente em 2015, 42,43% do PIB

brasileiro foi destinado para o pagamento

de juros da dívida pública brasileira. Já

os investimentos em áreas como saúde,

educação e infraestrutura representaram

menos da metade do que foi gasto com o

pagamento de juros.

Caso a PEC 241 seja aprovada, serão

grandes os impactos para a população

NENHUM DIREITO A MENOS

TERCEIRA IDADE

Proposta de Emenda à Constituição pretende congelar salários, aposentadoriase investimentos nas políticas públicas por 20 anos

brasileira, em especial para as pessoas ido-

sas. Serão reduzidos drasticamente os in-

vestimentos na saúde, nas políticas sociais

- entre elas a habitação -, e a Previdência

e Assistência Social também serão impac-

tadas com a falta de reajustes com ganho

real e com uma possível desvinculação do

salário mínimo. O Sistema Único de Saúde

(SUS) será enfraquecido, o acesso aos

medicamentos nas Farmácias Populares e

ao programa Minha Casa Minha Vida fica-

rá mais difícil, e assim com outras políticas

que visam a melhoria da qualidade de vida

e a distribuição de renda da população.

O Diesse divulgou recentemente um es-

tudo que aponta como seriam os investi-

mentos feitos pelo governo federal na saú-

de e educação caso a PEC 241 estivesse

em vigor desde 2002. Na educação, o in-

vestimento teria sido 47% menor do que é

investido atualmente. Na saúde, teria sido

26% menor.

Ou seja, as mudanças propostas por

meio desta PEC confirmam a opção do

Governo Temer em priorizar o ajuste fiscal

pela ótica da despesa primária, colocando

em risco a maioria das conquistas da clas-

se trabalhadora. Em nenhum momento

cogitam criar novas possibilidades de ar-

recadação, como a taxação das grandes

fortunas, como a CONTAG sempre defen-

deu, o aumento de impostos ou com a re-

alização de uma reforma tributária.

As medidas anunciadas até o momento

levam a uma redução relativa do papel do

Estado como indutor do desenvolvimento

no País, bem como de sua responsabilida-

de com o bem-estar da população e dos

seus idosos e idosas, que necessitam de

políticas que garantam um envelhecimento

saudável e digno.

Para evitar tais retrocessos, é funda-

mental que todos e todas cobrem dos

seus deputados(as) e senadores(as) que

não aprovem a PEC 241. Precisamos es-

tar mobilizados e articulados para fortale-

cer a nossa luta. A secretária de Terceira

Idade da CONTAG, Lucia Moura, destacou

que um dos principais papeis do MSTTR

é alertar os trabalhadores e trabalhadoras

rurais sobre os projetos que tramitam no

Congresso Nacional e que impactam dire-

tamente na vida de todos(as). “Essa PEC

não está sendo amplamente divulgada pela

mídia e nós precisamos orientar as pessoas

que estão na base. Essa PEC traz um retro-

cesso gigantesco, principalmente para as

pessoas da terceira idade. Não podemos

admitir que essa proposta seja aprovada e

nem que digam que significa um avanço.

Quem vai pagar pelo ajuste fiscal serão os

mais pobres, os(as) trabalhadores(as) e os

idosos e idosas. Vamos perder a qualida-

de de vida, o poder de compra e o Estado

deixará de ser responsável pelas principais

políticas públicas”, alertou a dirigente.

Rovena Rosa/Agência Brasil

Page 11: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

Brasil ratifica os termos do Acordo de Paris

Você ouviu falar da Conferência do

Clima de Paris (COP 21) que acon-

teceu de 30 de novembro a 11 de

dezembro de 2015, não é mesmo? Na

ocasião, 195 países, entre eles o Brasil,

assinaram o chamado Acordo de Paris,

no qual os governos se comprometeram a

tomar diversas medidas para garantir que

a temperatura do planeta não aumente em

2°C até o ano de 2100, ou, até melhor, im-

pedir que o aumento ultrapasse 1,5°C.

Até abril de 2017, cada um dos países

participantes da COP 21 precisa transfor-

mar o pacto firmado em lei nacional den-

tro dos seus territórios. Esse processo

é chamado de ratificação. As conse-

quências da elevação da tempe-

ratura do planeta são a de-

sertificação de diversas

áreas, a alteração

do regime de

chuvas, o

Para a agricultura familiar, isso significa colaborar com os esforços para impedir desmatamento e preservar os recursos naturais

MEIO AMBIENTE MUDANÇAS CLIMÁTICAS

derretimento das calotas polares seguido

da inundação de cidades litorâneas e, até

mesmo, a extinção de inúmeras espécies

de animais.

Cada país definiu e apresentou as me-

didas que tomará para alcançar o ob-

jetivo de manter a temperatura do pla-

neta sob controle. Esse compromisso

são as Contribuições Nacionalmente

Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). O

Brasil afirmou que, até 2025, deve diminuir

as emissões de gases de efeito estufa em

37%, e chegar a uma redução de 43% até

2030 – tendo como base de comparação

os níveis de gases emitidos em 2005.

Além disso, nosso País se comprome-

teu a até 2030 interromper totalmente o

desmatamento da Amazônia Legal e a

restaurar 12 milhões de hectares de flores-

tas. Isso porque o compromisso brasileiro

afirma que até 2100 não haverá mais ne-

nhuma emissão de gases poluentes, em

uma descarbonização total da economia.

Para alcançar essa meta, além do reflores-

tamento e recuperação de áreas desmata-

das, o Brasil se compromete a aumentar

até 2030 a participação de bioenergia

sustentável (biodiesel, gás natural,

etc) para 18% da sua matriz

energética, e a partici-

pação de energias

renováveis (solar, eólica, hidrelétrica, etc)

para 45%.

E A AGRICULTURA FAMILIAR? – Para os agricul-

tores e agricultoras familiares, a ratificação

do Acordo de Paris tem várias consequên-

cias com benefícios a longo prazo. A primei-

ra é a necessidade de participar do esforço

nacional para combater o desmatamento e

contribuir para a preservação de recursos

naturais como a água, o solo, os animais e

as plantas. Evitar queimadas e a derrubada

de matas ciliares, proteger nascentes e cur-

sos d’água são ações que fazem parte do

esforço de preservar a vida no planeta para

nós e para as futuras gerações.

Outra consequência é que o esforço

de aumentar a participação da bioener-

gia sustentável e da produção de energia

renovável na matriz energética brasileira

abrirá oportunidades para que a agricultu-

ra familiar aumente a participação econô-

mica nesse processo, aproveitando o po-

tencial das propriedades rurais para além

da produção de alimentos.

A região do semiárido nordestino, por

exemplo, tem um grande potencial para

a geração de energia solar e eólica, e a

produção de oleaginosas que podem

ser transformadas em combustível é

um imenso campo a ser explorado em

todo o Brasil. O Movimento Sindical de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

precisa estar atento às outras dimensões

da agricultura familiar, em que a preserva-

ção do meio ambiente é aliada de formas

de gerar renda e promover o desenvolvi-

mento sustentável e solidário do campo,

floresta e águas de nosso País.

11

mar o pacto firmado em lei nacional den-

tro dos seus territórios. Esse processo

é chamado de ratificação. As conse-

quências da elevação da tempe-

ratura do planeta são a de-

sertificação de diversas

áreas, a alteração

do regime de

chuvas, o

2030 – tendo como base de comparação

os níveis de gases emitidos em 2005.

Além disso, nosso País se comprome-

teu a até 2030 interromper totalmente o

desmatamento da Amazônia Legal e a

restaurar 12 milhões de hectares de flores-

tas. Isso porque o compromisso brasileiro

afirma que até 2100 não haverá mais ne-

nhuma emissão de gases poluentes, em

uma descarbonização total da economia.

Para alcançar essa meta, além do reflores-

tamento e recuperação de áreas desmata-

das, o Brasil se compromete a aumentar

até 2030 a participação de bioenergia

sustentável (biodiesel, gás natural,

etc) para 18% da sua matriz

energética, e a partici-

pação de energias

sos d’água são ações que fazem parte do

esforço de preservar a vida no planeta para

nós e para as futuras gerações.

Outra consequência é que o esforço

de aumentar a participação da bioener-

gia sustentável e da produção de energia

renovável na matriz energética brasileira

abrirá oportunidades para que a agricultu-

ra familiar aumente a participação econô-

mica nesse processo, aproveitando o po-

tencial das propriedades rurais para além

da produção de alimentos.

A região do semiárido nordestino, por

exemplo, tem um grande potencial para

a geração de energia solar e eólica, e a

produção de oleaginosas que podem

ser transformadas em combustível é

um imenso campo a ser explorado em

todo o Brasil. O Movimento Sindical de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

precisa estar atento às outras dimensões

da agricultura familiar, em que a preserva-

ção do meio ambiente é aliada de formas

de gerar renda e promover o desenvolvi-

mento sustentável e solidário do campo,

floresta e águas de nosso País.

11JORNAL DA CONTAG 11

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JORNAL DA CONTAG12

FORMAÇÃO E ORGANIZAÇÃO SINDICAL PLATAFORMA MOODLE

Inclusão de tecnologias nos cursos de formação da ENFOC Ambiente virtual de aprendizagem proporciona interação entre educandos(as) e educadores(as) no tempo

comunidade e aprimora vivências durante o tempo escola

Aeducação popular está centrada

no sujeito: para construir o co-

nhecimento conjuntamente é im-

portante ouvir e interagir, compartilhar as

experiências. Dessa maneira, a presença

física das pessoas nas atividades forma-

tivas é fundamental, mas e se o contato

e a interação puder se estender também

para os períodos em que estamos longe

da escola?

Para isso, a tecnologia é a melhor aliada.

A 6ª turma do Curso Nacional de Formação

Política da ENFOC está passando pela ex-

periência de utilizar a Plataforma Moodle,

um ambiente virtual de aprendizado no

qual os(as) educandos(as) se mantêm em

contato, compartilhando aprendizagens

do tempo escola e também durante as

atividades do tempo comunidade, quando

interagem nos seus espaços de militância.

É importante destacar que as atividades

online são acompanhadas por tutores(as)

da Rede de Educadores(as) Populares da

ENFOC em todo o Brasil.

“Nossa intenção é expandir a experi-

ência para todas as atividades formativas

da ENFOC, além de incentivar que as

Federações e Sindicatos também se apro-

priem dessa ferramenta. A ideia é envolver

muitas pessoas de todos os estados, prin-

cipalmente as que compõem a Rede de

Educadores(as). Até o momento, já temos

26 educadores(as) assumindo a tutoria no

Curso. Queremos que cada vez mais gente

se aproprie das ferramentas para fortalecer

os nossos processos formativos”, afirma

o secretário de Formação e Organização

Sindical da CONTAG, Juraci Souto.

AVANÇOS – É a primeira vez que o Movimento

Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras

Rurais (MSTTR) utiliza a Plataforma Moodle

e os resultados surpreenderam positiva-

mente. No período entre o 1º e o 2º mó-

dulo, os(as) educandos(as) tiveram acesso

aos textos orientadores dos debates du-

rante todo o curso com a oportunidade de

discuti-los nos fóruns existentes no am-

biente virtual da plataforma, aprofundando

o conhecimento e fortalecendo os “laços

de camaradagem” criados entre os(as) par-

ticipantes. Nesta primeira vivência, 74%

dos(as) educandos(as) participaram efetiva-

mente do processo de interação online.

Neste período entre o 2º e o 3º mó-

dulo, o desafio é organizar ou participar

de Grupos de Estudos Sindicais (GES)

já existentes, para multiplicar todo o co-

nhecimento construído durante o curso a

partir de suas vivências. As etapas des-

se processo devem ser compartilhadas na

Plataforma Moodle, com o objetivo de que

os(as) educandos(as) troquem experiências

e acompanhem a evolução dos grupos.

É importante destacar que os(as)

educandos(as) que por diversas razões

não têm computador ou acesso à internet

não se sentem excluídos do processo,

pois podem usar seu smartphone, ou ain-

da, fazer no caderno, levar impresso todos

os materiais que são disponibilizados na

plataforma Moodle e, nos momentos de

encontro, podem compartilhar com o gru-

po suas ideias e experiências, ou podem

utilizar os computadores dos Sindicatos

e Federações. Mas, para aqueles(as) que

não têm dificuldade e podem acessar o

espaço virtual do curso, livremente e a

qualquer momento, existe a possibilida-

de dos educandos(as) postarem seus

trabalhos, emitir opiniões sobre assuntos

da conjuntura política, interagir com as

postagem dos colegas, compartilhar tex-

tos, vídeos e fotografias que interessem

ao grupo e ao desenvolvimento do curso,

enriquecendo o processo formativo em

uma experiência que já se mostra positiva

e promete muitos frutos para o MSTTR.

“Para nós que estamos vivendo esta

experiência, esta é uma demonstração de

que a ENFOC segue atualizada na pers-

pectiva da formação humana e da trans-

formAÇÃO política”, afirma Juraci.

Arquivo ENFOC

Page 13: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG 13

VICE-PRESIDÊNCIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS COOPERAÇÃO INTERNACIONAL

Agricultura familiar além das fronteirasFortalecendo esperanças na luta em defesa da cooperação internacional como ferramenta do MSTTR

para fortalecer a Agricultura Familiar no Brasil e em todo o mundo

13

Estamos todos articulados. Os

acordos comerciais entre a União

Europeia e o Mercosul, por exem-

plo, podem debilitar a comercialização de

produtos da agricultura familiar e campo-

nesa no Bloco e o acesso desta aos bens

naturais, já que normalmente se orientam

ao beneficiamento da produção em gran-

de escala. A agricultura familiar e campo-

nesa também é afetada pelos movimentos

do mercado internacional e por todos os

processos que constituem a globalização.

Por isso, as questões internacionais preci-

sam de cada vez mais espaço na agenda

do Movimento Sindical de Trabalhadores e

Trabalhadoras Rurais (MSTTR). É preciso

fortalecer as estratégias de ação conjun-

ta com outros países para garantir que os

direitos de agricultores e agricultoras fami-

liares sejam reconhecidos e efetivados no

Brasil e em todo o mundo.

A atuação da CONTAG junto a orga-

nismos internacionais e às plataformas

da sociedade civil se dá, principalmente,

no âmbito da região da América Latina e

Caribe, e também com os países de lín-

gua portuguesa situados na Europa, África

e Ásia. Participamos dentro das repre-

sentações da sociedade civil em espaços

como a Reaf Mercosul, a Celac, a Unasul

e a CPLP*. A CONTAG também atua atra-

vés de plataformas internacionais como a

Coprofam, a Uita e o Fórum Rural Mundial.

Mas como se dá essa atuação?

Principalmente na forma de levar para os ou-

tros países a experiência do MSTTR na luta

para a conquista e consolidação de direitos

dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, e

na conquista de políticas públicas que con-

tribuam para o desenvolvimento solidário e

sustentável da agricultura familiar. Em muitos

países da América Latina, Caribe e África

não há sequer o reconhecimento da agricul-

tura familiar, o que torna inviável a luta por

políticas específicas, por exemplo. Outra for-

ma de atuação é a contribuição dentro dos

organismos internacionais para a construção

de diretrizes que garantam segurança e so-

berania alimentar para os países, elementos

que estão diretamente relacionados com a

agricultura familiar.

“Os problemas enfrentados pela agri-

cultura familiar e camponesa no Brasil

são muito semelhantes aos enfrentados

nos demais países porque são, em ge-

ral, problemas impostos pela mundializa-

ção do capital e sua livre circulação em

escala global. Enfrentamos falta de direi-

tos básicos como saúde, educação, sa-

neamento, dificuldade de acesso à terra

e para a comercialização da produção,

sofremos com a ação de multinacionais

e extrangeirização de terras e territórios.

Precisamos unir forças para lutar junto

aos órgãos internacionais, movimentos e

organizações sociais contra a suprema-

cia do capital, e assegurar que em todo

o mundo a agricultura familiar e campo-

nesa exerça seu papel de garantir sobe-

rania e segurança alimentar e nutricional”,

explica o vice-presidente e secretário de

Relações Internacionais da CONTAG,

Willian Clementino Matias.

Para aprofundar e fortalecer o conhe-

cimento sobre a importância da políti-

ca internacional do MSTTR, a CONTAG

promove o Curso Nacional de Formação

em Cooperação Internacional para

Promoção da Agroecologia e Soberania

Alimentar e Nutricional, cujo 1º módu-

lo foi realizado entre os dias 21 e 23

de setembro, em Brasília (DF), com a

participação de dirigentes sindicais e

trabalhadores(as) rurais, além de repre-

sentantes da Confederação Nacional

dos Trabalhadores Assalariados Rurais

(CONTAR), num total de 50 participantes.

Celac: Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos – criado em 2011, formado pelos 33 países da América Latina e Caribe.

Unasul: União de Nações Sul-Americanas – criada em 2008, formado pelos 12 países da América do Sul.

CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – criada em 1996, for-mada por Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Arquivo CONTAG

Page 14: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG14

FINANÇAS E ADMINISTRAÇÃO CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL

Por uma melhor sustentabilidade sindical do MSTTR CONTAG e Federações debatem com deputado sugestões para

Projeto de Lei que trata da contribuição sindical rural

OProjeto de Lei 5795/2016 trata

da regulamentação da contri-

buição sindical rural, da criação

da contribuição negocial (em substituição

à assistencial) e da criação do Conselho

Nacional de Autorregulação Sindical

(CNAS). O Projeto está sendo avaliado

na Comissão Permanente de Trabalho,

Administração e Serviço Público da

Câmara dos Deputados, e está apensado

ao PL 6706/2009 – de autoria do senador

Paulo Paim (PT-RS) e cujo relator é o depu-

tado Lucas Vergílio (SD-GO).

A discussão sobre seu conteúdo, por-

tanto, ainda está aberta e o Movimento

Sindical de Trabalhadores(as) Rurais

(MSTTR) busca contribuir para que o PL

5795/2016 seja aprovado de forma que

a sustentabilidade da luta pelos direitos

dos trabalhadores e trabalhadoras rurais

seja garantida e a organização sindical

fortalecida. No dia 12 de setembro, du-

rante reunião dos(as) presidentes(as) das

Federações e Diretoria da CONTAG, o

projeto foi extensamente debatido, e as

propostas formuladas pela CONTAG fo-

ram apresentadas ao relator do projeto,

deputado Bebeto (PSB-BA).

Uma das principais propostas acres-

cidas ao PL 5795/2016 é a transferên-

cia do recebimento da contribuição sin-

dical para a Caixa Econômica Federal

(CEF), por meio de uma guia unificada.

Dessa forma, as pessoas pagariam as

contribuições junto à CEF, como ocorre

com os trabalhadores(as) urbanos(as),

que faria a distribuição dos recursos de

acordo com código sindical fornecido

às entidades sindicais pelo Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE). As entidades

sindicais e os contribuintes poderão im-

primir as guias para a cobrança direto no

site da Caixa.

“A transferência do recebimento e distri-

buição dos recursos pela Caixa Econômica

Federal traz como vantagens o modelo

unificado da guia, possibilidade de utiliza-

ção do Brasão da República e a prestação

de contas junto ao Fundo de Amparo ao

Trabalhador (MTE/FAT) e ao Tribunal de

Contas da União (TCU), dando maior cre-

dibilidade ao processo de cobrança, dan-

do a ela um caráter oficial, o que incentiva

o recolhimento”, explica o secretário de

Finanças e Administração da CONTAG,

Aristides Santos.

O MSTTR apoia a iniciativa de criação da

contribuição negocial, assegurando trata-

mento diferenciado para os agricultores(as)

familiares. Os(as) presidentes(as) aponta-

ram, ainda, para que o recolhimento das

contribuições seja feito com um valor de

referência unificado nacionalmente para

os(as) agricultores(as) familiares e que a

cobrança para a categoria seja feita de

forma individual. Além disso, os partici-

pantes da reunião se posicionaram firme-

mente contra a proposta de criação de

um Conselho Nacional de Autorregulação

Sindical (CNAS).

“Do jeito como está no projeto, o

CNAS tem a função de regular as ativida-

des sindicais, mas o princípio que rege o

Movimento Sindical hoje é o da liberdade

e autonomia. As regras são necessárias,

porém não aceitamos ser tutelados, con-

trolados. Além disso, a composição do

conselho tal como está no PL 5795/2016

não considera a proporcionalidade da re-

presentação das centrais sindicais: todas

têm o mesmo peso, independentemente

de tamanho. Também não está garan-

tida a presença da representação dos

trabalhadores(as) rurais, pois a CONTAG

ainda precisaria disputar espaço entre as

três vagas para confederações”, explica

o dirigente. “Não vemos a necessida-

de da criação deste conselho”, conclui

Aristides Santos.

Cesar Ramos

Page 15: Jornal da CONTAG31 milhões para mais de R$ 60 milhões. O valor deverá ser utilizado para as des-pesas de funcionamento do órgão, para a capacitação de agentes de Ater e para

JORNAL DA CONTAG 15

Pelo presente edital, a Diretoria da CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES - CONTAG, convoca as Federações e Sindicatos filiados a participarem do 12º CONGRESSO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES -

12º CNTTR a se realizar nos dias 13, 14, 15, 16 e 17 de março de 2017; no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, no endereço SDC, Eixo Monumental - Lote 05, Centro de Convenções Ulysses Guimarães - Brasília - DF; para discussão e deli-beração do seguinte temário: I - analisar a situação política, social e econômica do País; II - analisar a situação política, social e econômica internacional; III - analisar a situação política, social e econômica da categoria trabalhadora rural agricultora fa-miliar; IV -avaliar o desempenho e a ação política do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais - MSTTR; V - definir diretrizes de atuação unitária do MSTTR em todas as áreas de interesse da categoria trabalhadora agricultora familiar, em especial: a) fortalecer a organização dos trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares, b) assegurar o acesso dos trabalhadores rurais à terra, c) melhorar as condições de vida e trabalho da categoria profissional trabalhadores rurais agricultores e agricultoras familiares e, d) assegurar o pleno exercício da atividade rural; VI - avaliar e atualizar as diretri-zes, o conteúdo e as ações e mecanismos de implementação do Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário - PADRSS; VII - avaliar e encaminhar o processo de dissociação sindical das entidades do MSTTR; VIII - eleger a Diretoria e o Conselho Fiscal da CONTAG, para o quadriênio 2017 a 2021; IX - alterar, por maioria simples, o Estatuto Social da CONTAG. O 12º CNTTR e as Eleições para a Diretoria e Conselho Fiscal da CONTAG, gestão 2017 a 2021, serão realizados de acordo com o Estatuto Social da CONTAG, aprovado pelo Conselho Deliberativo da CONTAG em 29 de julho 2016, e com o Regimento Interno do 12º CNTTR, aprovado pelo Conselho Deliberativo da CONTAG de 28 de julho de 2016, dos quais serão encaminhadas cópias a todas as entidades filiadas por meio de correio eletrônico e que estarão disponíveis a todos os interessados no site da CONTAG: www.contag.org.br. Será também fornecida cópia a todos os interessados e interessadas que o solicitarem, por escrito, à Secretaria Geral da CONTAG, arcando o solicitante com as eventuais despe-sas de reprodução e envio. Em atendimento ao art. 2º do Regimento Interno do 12º CNTTR, a CONTAG enviará, a todas as Federações e aos Sindicatos, por registro postal, até o dia 26 de agosto de 2016, Edital de Convocação do 12º CNTTR, detalhando as condições gerais para participação no mesmo.

Brasília - DF, 18 de agosto de 2016.

ALBERTO ERCÍLIO BROCH

Presidente

ESTE EDITAL FOI PUBLICADO NO DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO EM 22 DE AGOSTO DE 2016 E, NO MESMO PERÍO-DO, A VERSÃO COMPLETA DO EDITAL DE CONVOCAÇÃO FOI ENVIADA VIA CORREIOS A TODAS AS FEDERAÇÕES E SINDICATOS FILIADOS.

CONTAG

PREPARAÇÃO PARA O 12º CNTTR

EDITAL DE CONVOCAÇÃO12º CONGRESSO NACIONAL DOS TRABALHADORES RURAIS AGRICULTORES E AGRICULTORAS FAMILIARES - 12º CNTTR E ELEIÇÕES PARA A DIRETORIA E CONSELHO

FISCAL DA CONTAG PARA GESTÃO 2017/2021

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JORNAL DA CONTAG16

Por que é importante realizar um Cen-

so Agropecuário? Qual é a sua função?

O Censo Agropecuário é fundamental

para configurar um retrato do setor agro-

pecuário brasileiro em suas dimensões

econômica, social e ambiental. Tendo em

vista a complexidade das inter-relações

dessa estrutura, somente com uma pes-

quisa censitária modelada qual o Censo

Agropecuário torna-se possível conhecer

quem são, quantos são, onde e como

atuam os produtores agropecuários do

Brasil. E nesse sentido é que serão reve-

ladas informações sobre o dimensiona-

mento de áreas cultiváveis, os níveis de

produção de alimentos e da criação ani-

mal; os dados sobre a utilização e apli-

cação dos implementos e instrumental

agrícola, sobre a caracterização dos tra-

balhadores rurais, a propriedade e a dire-

ção dos trabalhos, além da classificação

dos padrões de obtenção e ocupação do

território agrícola nacional.

Tanto o agronegócio quanto a agri-

cultura de caráter familiar são funda-

mentais do ponto de vista econômico:

se o primeiro é um grande fornecedor

de divisas por meio de exportações, o

segundo representa quase 3/4 do pes-

soal ocupado na agropecuária, notada-

mente na produção de alimentos para o

consumo interno, cujo comportamento

tem impacto direto na inflação. Logo,

as duas vertentes do setor agropecuário

ENTREVISTAA

cerv

o IB

GE

EXPEDIENTE / Jornal da CONTAG – Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares (CONTAG) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretário de Relações Internacionais Willian Clementino da Silva Matias | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Elias D'Angelo Borges | Finanças e Administração Aristides Veras dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto | Secretaria Geral Dorenice Flor da Cruz | Jovens Trabalhadores Rurais Mazé Morais | Meio Ambiente Antoninho Rovaris | Mulheres Trabalhadoras Rurais Alessandra da Costa Lunas | Política Agrária Zenildo Pereira Xavier | Política Agrícola David Wylkerson Rodrigues de Souza | Políticas Sociais José Wilson Sousa Gonçalves | Terceira Idade Maria Lúcia Santos de Moura | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Edição e Reportagem Verônica Tozzi | Reportagem Lívia Barreto | Projeto Gráfico e Diagramação Fabrício Martins | Impressão Viva Bureau e Editora

www.contag.org.br facebook.com/contagbrasil @contagBrasil youtube.com/contagbrasil

devem ser alvos-chave de políticas pú-

blicas estratégicas.

Nesse sentido, as informações coleta-

das junto aos estabelecimentos agrope-

cuários brasileiros são o ponto de partida

para a elaboração de estudos e ações

efetivas de políticas que visem o desen-

volvimento do cenário rural, consideradas

as variantes econômicas, sociais e terri-

toriais. Não obstante, há especificidades

na pesquisa que também chancelam sua

excelência; por exemplo: os dados do

Censo Agropecuário são o único modo

de efetuar estimativas sobre o fluxo dos

gastos previdenciários com aposentado-

rias, dos agricultores familiares pertencen-

tes à modalidade de segurado especial

da Previdência Social. Tais estudos são

necessários à construção de um sistema

de proteção social robusto e efetivamente

aplicável à realidade dos agricultores fami-

liares, valendo lembrar que a área rural, ti-

picamente ocupada por estabelecimentos

agropecuários, é onde se concentram os

piores índices de pobreza no Brasil, reme-

tendo-nos a outro desdobramento aplicá-

vel para os dados coletados: subsidiar es-

tudos acadêmicos e desenvolvimento de

projetos que culminem em ações de com-

bate à pobreza. Por fim, seus dados tam-

bém servem às análises comparativas de

indicadores agropecuários e ambientais,

de organismos nacionais e internacionais,

como os indicadores para monitoramento

dos Objetivos do Desenvolvimento Sus-

tentável (ODS).

Quais os benefícios para a investi-

gação ao fazer uma ligação da base

de dados do Censo com a Declara-

ção de Aptidão ao Pronaf?

Como referido anteriormente, o Cen-

so Agropecuário reúne informações que

permitem vários tipos de olhares, e dentre

tantos, por exemplo, teríamos como evi-

denciar qual é o público-alvo da agricul-

tura familiar e, com base neste universo,

possibilitar-nos fazer comparações com

os dados do cadastro da DAP, facultan-

do-nos a oportunidade de efetuar análise

e verificar possíveis distorções.

Por que o governo brasileiro e o Con-

gresso Nacional não priorizaram a rea-

lização do Censo Agropecuário 2016?

Essa é uma situação complexa, não

é que não priorizem; a operação censi-

tária requer um tal montante de recursos

financeiros, que se distribuem basica-

mente em três anos de trabalho, e este

modelo de disponibilidades, na conjun-

tura econômica atual, está sempre con-

correndo com tantas outras necessida-

des, igualmente prementes. Tal como

ocorre em nossas próprias realidades

pessoais, quando priorizamos o atendi-

mento de uma demanda em detrimento

de outras.

Quais os impactos para a agricultura

familiar e para o monitoramento das

políticas públicas com a não realiza-

ção do Censo Agropecuário?

O Censo Agropecuário, no que repor-

te o potente e rico acervo de informações

referentes que produz e oferece, é fun-

damental para a compreensão e dimen-

sionamento do universo agropecuário

nacional. E tanto os que vivem e traba-

lham naquele cenário, quanto governo,

pesquisadores, ambientalistas e investi-

dores, todos dependem dessa foto.

ANTONIO CARLOS SIMÕES FLORIDO é gerente do Censo Agropecuário do IBGE. Em entrevista ao Jornal da CONTAG, explica a importância da realização do Censo Agropecuário no Brasil e sua função para as áreas econômica, social e ambiental. Após dez anos do último Censo específico na área rural, Florido também aponta alguns impactos com a não realização da pesquisa em 2016 por falta de recursos.