jornal a família católica, 23 edição, abril 2015

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ORGULHO OU PRECONCEITO? Dom tomás de aquino SANTOS E FESTAS DO MÊS: 13– Nossa Senhora da Penha; 14– São Justino; 19– Domingo do Bom Pastor; 21– Santo Anselmo; 23– São Jorge; 25– São Marcos; 26– Nossa Senhora do Bom Conselho; 27– São Pedro Canísio; 28– São Paulo da Cruz; 29– São Pedro de Verona; 30– Santa Catarina de Sena. NESTA EDIÇÃO: Orgulho ou Preconceito? 1,2 Missão cumprida Pe. Júlio Maria 2,3 O GREC, uma história oculta, agora revelada Parte 1 4,5 Abril/2015 Edição 23 A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S A revista VEJA publicou uma matéria sobre as controvertidas cerimônias realizadas no mosteiro da Santa Cruz (Nova Friburgo – RJ) entre as quais a de maior importância foi a sagração episcopal de Mgr Jean-Michel Faure. Esta sagração feita por Mgr Richard Willi- amson foi seguida da ordenação sacerdotal do Irmão André Zelaya de León, da Guate- mala, monge de nosso mosteiro há mais de vinte anos. Ambas cerimônias foram apre- sentadas como atos de rebelião. Aliás, o título do artigo é: “Rebelião no altar”, artigo que se termina da seguinte maneira: “O francês Faure, cheio de orgulho, tem até apeli- do para o racha: La Resistance”. Orgulho mesmo ou preconceito da revista? Eis a ques- tão. Orgulho se pode tomar em dois sentidos. Ou será o senso da dignidade de sua condi- ção como quando um filho da Santa Igreja se declara, com justo orgulho, católico, apos- tólico, romano. Ou será um vício, um pecado; pecado de rebelião contra Deus. O pecado de Lúcifer. Talvez o autor do artigo quisesse deixar ao leitor a escolha, já que o jornalista da VEJA foi bastante cordial conosco, embora o tom geral do artigo indique de preferência o sen- tido de revolta. Seja como for, a pergunta permanece: orgulho de Mgr Faure, de Mgr Williamson e dos monges de Santa Cruz ou preconceito contra eles? A questão continua não respondida. Retrocedamos no tempo, pois assim fazendo encontraremos o fio de Ariane que nos tirará do labirinto em que a crise atual da Igreja nos lançou, e nos fornecerá o necessá- rio para responder à pergunta já feita. Retrocedamos até a Reforma protestante e ao declínio do Cristianismo na Europa e no mundo. Declínio contra o qual lutaram vitoriosa- mente, mas só por um tempo, o Concílio de Trento e os grandes santos da Contra- Reforma. Duas forças se chocaram então e se chocam até hoje. Uma nova religião que põe o homem no centro da civilização e combate a Igreja Católica antes de combater Nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa para terminar negando a existência de Deus, com o marxismo, e mesmo corrompendo a eterna noção de Verdade com o Modernismo, condenado por São Pio X. Dois mundos, dois amores; o amor de Deus levado até o esquecimento de si, e o amor de si mesmo levado até a negação de Deus. Dois mundos, duas forças, duas correntes

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Page 1: Jornal A Família Católica, 23 edição, abril 2015

ORGULHO OU PRECONCEITO?

Dom tomás de aquino

SANTOS E

FESTAS DO MÊS:

13– Nossa Senhora da Penha;

14– São Justino;

19– Domingo do Bom Pastor;

21– Santo Anselmo;

23– São Jorge;

25– São Marcos;

26– Nossa Senhora do Bom

Conselho;

27– São Pedro Canísio;

28– São Paulo da Cruz;

29– São Pedro de Verona;

30– Santa Catarina de Sena.

N E S T A

E D I Ç Ã O :

Orgulho ou

Preconceito? 1,2

Missão cumprida

Pe. Júlio Maria 2,3

O GREC, uma história

oculta, agora revelada

Parte 1 4,5

Abril/2015 Edição 23

A Família Católica C A P E L A N O S S A S E N H O R A D A S A L E G R I A S

A revista VEJA publicou uma matéria sobre as controvertidas cerimônias realizadas no

mosteiro da Santa Cruz (Nova Friburgo – RJ) entre as quais a de maior importância foi a

sagração episcopal de Mgr Jean-Michel Faure. Esta sagração feita por Mgr Richard Willi-

amson foi seguida da ordenação sacerdotal do Irmão André Zelaya de León, da Guate-

mala, monge de nosso mosteiro há mais de vinte anos. Ambas cerimônias foram apre-

sentadas como atos de rebelião. Aliás, o título do artigo é: “Rebelião no altar”, artigo

que se termina da seguinte maneira: “O francês Faure, cheio de orgulho, tem até apeli-

do para o racha: La Resistance”. Orgulho mesmo ou preconceito da revista? Eis a ques-

tão.

Orgulho se pode tomar em dois sentidos. Ou será o senso da dignidade de sua condi-

ção como quando um filho da Santa Igreja se declara, com justo orgulho, católico, apos-

tólico, romano. Ou será um vício, um pecado; pecado de rebelião contra Deus. O pecado

de Lúcifer.

Talvez o autor do artigo quisesse deixar ao leitor a escolha, já que o jornalista da VEJA

foi bastante cordial conosco, embora o tom geral do artigo indique de preferência o sen-

tido de revolta. Seja como for, a pergunta permanece: orgulho de Mgr Faure, de Mgr

Williamson e dos monges de Santa Cruz ou preconceito contra eles? A questão continua

não respondida.

Retrocedamos no tempo, pois assim fazendo encontraremos o fio de Ariane que nos

tirará do labirinto em que a crise atual da Igreja nos lançou, e nos fornecerá o necessá-

rio para responder à pergunta já feita. Retrocedamos até a Reforma protestante e ao

declínio do Cristianismo na Europa e no mundo. Declínio contra o qual lutaram vitoriosa-

mente, mas só por um tempo, o Concílio de Trento e os grandes santos da Contra-

Reforma. Duas forças se chocaram então e se chocam até hoje. Uma nova religião que

põe o homem no centro da civilização e combate a Igreja Católica antes de combater

Nosso Senhor Jesus Cristo em pessoa para terminar negando a existência de Deus, com

o marxismo, e mesmo corrompendo a eterna noção de Verdade com o Modernismo,

condenado por São Pio X.

Dois mundos, dois amores; o amor de Deus levado até o esquecimento de si, e o amor

de si mesmo levado até a negação de Deus. Dois mundos, duas forças, duas correntes

Page 2: Jornal A Família Católica, 23 edição, abril 2015

históricas que se opõem há mais de

cinco séculos. Qual das duas é movi-

da pelo orgulho? Eis mais do que uma

pista para encontrarmos a resposta à

nossa pergunta inicial.

Aprofundemos pois a pista já indica-

da e entremos na atualidade, ou me-

lhor, na história recente da Igreja.

Falemos de Vaticano II. Os Papas do

século XIX e do século XX até a morte

de Pio XII haviam condenado o Libera-

lismo Católico dos que queriam a uni-

ão da Igreja com os princípios da Re-

volução Francesa. Não só o Liberalis-

mo mas também o Modernismo, o

Neomodernismo, o Progressismo e

demais erros modernos haviam sido

devidamente condenados. A Igreja

Católica dizia e dirá sempre “não” a

estes erro.

Porém o velho sonho dos mais

cruéis inimigos da Igreja realizar-se-ia.

Um Concílio consagraria os teólogos

modernistas, liberais e progressistas.

Este Concílio foi o Concílio Vaticano II.

Mas dois Bispos permaneceram fiéis

e denunciaram este Concílio. Mas só

dois? Não é pouco demais? Para um

mundo que preza mais a quantidade

do que a Verdade, dois é igual a nada.

Mas em questão de doutrina não é o

número que conta, e as doutrinas

apregoadas pelo Vaticano II já haviam

sido condenadas por Gregório XVI, Pio

IX, Leão XIII, São Pio X, Bento XV, Pio

P á g i n a 2 A F a m í l i a C a t ó l i c a

Padre Júlio Maria era um amante de Nossa Senhora.

Podemos conhecer um pouco desse amor através de suas

obras sobre a mãe de Deus e por suas biografias. Sabe-

mos que, quando estava ainda no seminário preparando-

se para o sacerdócio, gravou com ferro em brasa os no-

mes “JESUS e MARIA” em seu peito, junto com alguns

seminaristas, e depois, escreveu com seu sangue a con-

sagração à Santíssima Virgem pelo método de São Luis

Maria G. de Montfort. Excessos que mostram um amor

que transborda. Vemos coisas parecidas na vida dos san-

tos.

Quem já conhece a vida de nosso padre sabe que ele

era famoso por seus livros, nós mesmo já dissemos isso

em um outro artigo. De fato, ele escreveu mais de cem

obras em português e francês abordando temas católicos,

eucarísticos, marianos, meditação, entre outros. Alguns

dos livros sobre Nossa Senhora, a meu ver os principais,

foram escritos antes de vir para o Brasil, outros logo após

chegar aqui, quando estava nas missões do Macapá-

Amazonas. Ou seja, foram escritos quando ainda era rela-

tivamente jovem. Ele mesmo relatou a seus seminaristas,

pouco antes de morrer, com seus 66 anos:

“Tinha sempre um papel e lápis na mão. No Amazonas,

quando viajava de barco, enquanto os outros fumavam e

conversavam, eu ficava num canto a rascunhar idéias

sobre a Virgem Santa. Nas costas de meu burrinho, de

viajar para as missões, eu escrevi várias páginas sobre a

Mãe de Deus. Graças a esse sacrifício me conservei fiel à

vocação religiosa, mesmo no meio de indígenas comple-

tamente nuas."1

Interessante notar, nesta fala do padre belga, a impor-

tância da oração mental ou meditação dos mistérios da

nossa santa Religião. Padre Júlio escrevia nos poucos

momentos que tinha livre aquilo que meditava o tempo

todo, e isso lhe deu forças contra as mais variadas tenta-

ções. As situações repletas de impureza que ele por vezes

tinha que passar, naquele Amazonas chamado então de

inferno verde, não são em substância muito diferentes

das de nossa época, onde a impureza está em toda parte.

Na verdade penso que a nossa época é pior. No mundo

moderno tudo converge para o pecado, mais do que indí-

genas nuas, temos a impureza em todo lugar e não só a

XI e Pio XII para citar apenas alguns da

longa série de Papas que dista de São

Pedro à Pio XII, os quais guardaram o

depósito da Fé que lhes havia sido con-

fiado por Deus Ele mesmo.

Mas o que isso tem que ver com a

sagração do 19 de março de 2015 em

Nova Friburgo? Isto tem tudo que ver

com essa sagração, já que Mgr William-

son foi ele mesmo sagrado por estes

dois bispos fiéis à Tradição bimilenar da

Igreja. Estes dois bispos são Mgr Marcel

Lefebvre e Mgr Antônio de Castro Ma-

yer.

Contudo, eles sagraram Mgr William-

son, assim como Mgr Fellay, Mgr Tissier

e Mgr de Galarreta, contra a vontade de

João Paulo II em junho de 1988? Sim, é

verdade. Logo eles são uns rebeldes e

uns orgulhosos? Não. A verdade não se

deixa encontrar tão facilmente assim.

Desobedecer ao Papa pode ser, em

casos extremos, um ato de virtude, en-

quanto que obedecê-lo pode ser, em

casos extremos, um pecado. “Quem faz

o mal porque lhe ordenaram, não faz

ato de obediência, mas de rebelião”, diz

São Bernardo.

A rebelião no altar não se deu em

Nova Friburgo, no dia 19 de março. Se

aprofundarmos a questão veremos que

a rebelião no altar se deu não em Fri-

burgo, mas em Roma desde o Concílio

até hoje.

Quem duvidar do que afirmamos, que

estude os livros que falam da crise

atual e lá verão que o próprio Cardeal

Ratzinger, futuro Bento XVI, afirma

que o Vaticano II foi um “contra-

Syllabus”, ou seja, que ele vai contra

o ensinamento do Magistério da Igre-

ja, contra uma doutrina já definida

pelos Papas anteriores.

Não! Mgr Faure não falou com orgu-

lho, ou melhor, falou com justo orgu-

lho de defender este Magistério infalí-

vel da Igreja contra os erros de Vatica-

no II. Mas como um Concílio pode

ensinar erros? Eis a grande pergunta.

Leiam pois as obras de Mgr Marcel

Lefebvre. Estudem, aprofundem-se na

Fé, pois o mal é grande e a abomina-

ção da desolação foi posta no lugar

santo. Portanto, a revolta no altar não

está no mosteiro da Santa Cruz. A

revolta no altar está – é triste repeti-lo

– no Vaticano.

Mas quem nos crerá? Orgulho nos-

so ou preconceito da VEJA? Só estu-

dando. Só rezando. Sem oração e

estudo ninguém poderá encontrar a

resposta. Ela está ao alcance de

quem a procura, mas antes de tudo é

preciso procurá-la. O que já dissemos

é o suficiente por ora. Agora, caro

leitor, lhe cabe a sua parte, caso de-

seje tirar a limpo se é orgulho nosso

ou preconceito da VEJA chamar-nos

de rebeldes. Bom trabalho.

Missão Cumprida!

Page 3: Jornal A Família Católica, 23 edição, abril 2015

i m p u r e z a ,

mas a excita-

ção de todos

os sete peca-

dos capitais,

fontes de

todo o mal.

Sem falar no infeliz catolicismo libe-

ral, que infestou a Igreja, que é a

conformidade com este mundo de

revolução. Já dizia um Dominicano

irlandês: Cidade grande, pecado

mortal.

E como sair ileso de tudo isso?

Padre Júlio nos dá a resposta. Ele

venceu o seu combate porque pen-

sava e meditava nos mistério da Reli-

gião; pensando se ama, e amando a

Verdade, amando a Santíssima Vir-

gem, a alma fica revestida de um

escudo contra todo o mal. “Pensar

em Nosso Senhor santifica” nos diz

Dom Columba Marmion. Os Católi-

cos devem pensar, meditar, ler e

estudar para conhecerem Nosso

Senhor e sua Santa Igreja, e assim

amá-los, e amando, detestar as

falácias desse mundo sem Deus.

São Luís de Montfort nos adverte:

“Praticamente quase ninguém estu-

da como se deveria, à semelhança

do apóstolo, esta eminente ciência

de Jesus: a mais nobre, a mais do-

ce, a mais útil e a mais necessária

entre todas as ciências e conheci-

mentos do céu e da terra.”2

Jean Vaquié (1911-1992), um

grande católico francês contra-

revolucionário, escreveu um artigo

intitulado “Reflexões sobre os nos-

sos inimigos” e nele podemos conhe-

cer alguns dos nossos inimigos, e

percebemos que não são poucos. De

fato, hoje os Católicos têm mais ini-

migos do que amigos, o problema é

que nós não enxergamos isso, ou

enxergamos muito pouco. Assim co-

mo na civilização Cristã tudo conver-

gia para Nosso Senhor Jesus Cristo e

sua Igreja, para a ordem e a paz, no

mundo moderno tudo se arrasta pa-

ra a revolução, para o pecado, levan-

do à perdição das almas e ao caos

nas sociedades. Nosso Senhor está

totalmente excluído da nossa época.

É preciso uma resposta por parte

dos católicos à altura do grande dra-

ma que vivemos, da guerra atual. O

problema, insisto, é que os católicos

ainda não entenderam isso. Padre

Júlio conhecia os seus inimigos, que

na época eram, principalmente, os

maçons e protestantes, e combatia

os seus erros. Hoje esses continuam

e podemos acrescentar vários outros.

Ele tinha consciência que estava em

guerra e que não podia compactuar

com os inimigos. O apostolado da Ver-

dade era o melhor apostolado do pa-

dre Júlio, denunciava o erro e acolhia

os arrependidos, e é isso que deve-

mos fazer também nós, cada qual

segundo suas possibilidades.

Desses rascunhos que nosso padre

missionário escrevia às pressas, nas

costas de seu burrinho ou quando

viajava de barco, saíram obras como:

Porque amo Maria; O segredo da ver-

dadeira devoção para com a Santíssi-

ma Virgem; Maria e a Eucaristia; A

mulher bendita diante dos ataques

protestantes; Princípios da vida de

intimidade com Maria Santíssima;

entre outros. Não precisamos escrever

grandes obras como o padre Júlio,

mas precisamos ter uma boa forma-

ção, uma vida sólida de oração, fre-

quentar os sacramentos, meditar nos

mistérios da nossa religião e conhecer

os nossos inimigos. Temos muitos

inimigos neste mundo atual, mas es-

tamos com a Verdade do nosso lado e

com os santos e papas de todas as

épocas. Temos também o nosso missi-

onário belga.

Devemos então lutar, essa é a nossa

única opção se quisermos sair vence-

dores desse combate contra o mundo

moderno. O padre Júlio tinha tanta

visão deste combate, que chegou a

fundar uma editora com o nome “O

Lutador”. Como nos ensina o grande

Donoso Cortes: “Não me digas que

não queres combater; porque no exa-

to momento em que o dizes, já estás a

combater. Nem digas que ignoras a

que lado deves inclinar-te; porque no

mesmo instante em que o dizes, já

escolheste um. Não afirmes que

queres ser neutro; porque, quando

pensas sê-lo, já não o és. Nem me

assegures que permanecerás indife-

rente; porque escarnecerei de ti,

dado que, ao pronunciares tal frase,

já tomaste partido . Não te canses

em procurar asilo seguro contra os

açoites da guerra, porque cansar-te-

ás inutilmente. Esta guerra dilata-se

tanto quanto o espaço e prolonga-se

tanto como o tempo. Somente na

Eternidade, Pátria dos justos, pode-

rás encontrar descanso; porque só lá

não haverá combate. Não presu-

mas, advirto-te, que se abrirão para

ti as portas da Eternidade feliz, se

não mostrares primeiro as cicatrizes

que trazes do combate; porque

aquelas portas não se abrem a não

ser para aqueles que combateram

aqui os combates do Senhor glorio-

samente, e para os que vão, tal co-

mo Cristo, ser nesta vida já crucifi-

cados.” 3

Se quisermos ganhar o céu, se

quisermos ser felizes nesta e na

outra vida, se quisermos fazer valer

o nosso batismo e não cair no infer-

no, e principalmente, se quisermos

trabalhar pela maior honra e glória

de Nosso Senhor, não temos opção,

devemos lutar. São Pio X em uma

alocução à famosa Ação Católica,

recomenda que tudo esteja ordena-

do em três princípios: Piedade, Estu-

do e Ação.4 Tudo está encerrado

nestas três palavras, esse deve ser o

lema da nossa vida. Era o que o pa-

dre Júlio fazia. Combateu heroica-

mente e venceu, ganhou o céu. An-

tes de morrer, quando estava agoni-

zando, pôde dizer com toda confian-

ça: “Ah minha Nossa Senhora do

Carmo... Missão cumprida!”5

Possamos nós também ao fim da

vida dizer tal frase.

***

1- Nos passos do missionário, Ivan F.

Cavalieri.

2- O amor da sabedoria eterna, São Luís

Maria Grignion de Montfort.

3- Ensaio sobre o Catolicismo, o Libera-

lismo e o Socialismo, Juan Donoso Cor-

tés.

4- Atas de Magistério, Mons. Lefebvre

citando São Pio X em uma alocução de

25 de setembro de 1904.

5- Missão cumprida, padre Demerval A.

Botelho, SDN.

Page 4: Jornal A Família Católica, 23 edição, abril 2015

A F a m í l i a C a t ó l i c a E d i ç ã o 2 3

Em dezembro de 2011, o Pe. Michel Le-

long, membro da Sociedade dos Padres

Brancos, publicou nas Novas Edições Lati-

nas uma obra intitulada Pela necessária

reconciliação, com prefácio de Dom Éric de

Lesquen OSB, sacerdote emérito de Randol

(fundação do mosteiro de Fontgombault).

“Este livro de 159 páginas relata os tra-

balhos do Grupo de Reflexão entre Católi-

cos (GREC), de 1998 a 2010, que fazem

doze anos de encontros “discretos, mas

não secretos” (p. 29), algumas vezes men-

sais, entre os representantes da hierarquia

oficial, dos responsáveis dos institutos Ec-

clesia Dei, e dos membros da Fraternidade

São Pio X. A finalidade: “falar sem se enojar

das coisas que nos enojam [i]” para favore-

cer a “necessária reconciliação”. Sem dúvi-

da que se tem que precisar o que os res-

ponsáveis do GREC entendem por esta

expressão.”

A origem do GREC: o sonho de um embaixa-

dor

O GREC encontra sua origem em uma

nota redatada em 1995, uns meses antes

de sua morte, pelo senhor Gilbert Pérol,

antigo embaixador da França frente ao

governo italiano. Ele teve a ocasião de se

encontrar com Monsenhor Lefebvre em

Roma e, quando estava em Paris, gostava

Dominicanos de Avrillé: O Grec (Grupo de Reflexão entre

Católicos), uma história oculta, agora revelada – parte I

Pelo irmão Marie-Dominique O.P.

Le Sel de la Terre Nº 90, pg. 142-158

de ir à missa de São Nicolau de Chardonnet

todos os domingos com sua esposa (p. 90).

Mas, deixemos a palavra à senhora Pérol:

“Como bom diplomático (meu marido) reda-

tou o que se chama um texto de “bons

ofícios”, onde se apresenta o ponto de vista

de uns e de outros, buscando os pontos

“em comum”, e que convidava cada um a

dar um primeiro passo até o outro. É a par-

tir deste texto que nasceu o GREC, uma

maneira de continuar a fazer viver meu

marido “ (p. 90).

Logo após os diversos encontros relata-

dos na obra do Pe. Lelong (p. 21-25), se

constituiu um primeiro grupo de trabalho no

ano de 1998, que desembocou na organi-

zação de conferências-debates sobre os

pontos controvertidos atualmente na Igreja.

Os participantes: uma gama muito variada Além da senhora Pérol, do Pe. de La Bro-se O.P., do Pe. Lorans (FSSPX) e do Pe. Lelong, os principais animadores do GREC foram, desde os primeiros anos de sua

existência: - O Pe. Barthe, “que tem muitas relações na Santa Sé e na igreja da França, e nos aju-dou muito” [ii]: - O Pe. Vincent Ribeton, superior do Distrito da França da Fraternidade São Pedro, “que deu uma preciosa contribuição por sua presença nas reuniões, tanto por suas in-

tervenções como por seus escritos” (p. 40); - Pe. Hervé Hygonnet (FSSP); - Leigos como Paul Airiau, Jacques-Régis du Cray, Luc Perrin, Philippe Pichot-Bravard,

Jean Maurice Verdier. - Srta. Marie-Alix Doutrebente foi nomeada secretária.

Agreguemos, para completar a lista dos

principais responsáveis que, em 18 de

setembro de 2004, foi criado, no seio do

GREC, um “grupo teológico” do qual partici-

pava o Pe. Charles Morerod O.P., professor

do Angelicum de Roma (p. 57). Este religio-

so “será uma das pessoas escolhidas por

Bento XVI para participar das conversações

doutrinais entre a Santa Sé e a FSSPX” (p.

48). O Pe. Morerod tem toda a confiança da

Roma atual, pois foi consagrado bispo pou-

co tempo depois. Em todo caso, o vínculo

entre o GREC e as conversações romanas

de 2010-2011 está muito claro.

Nas reuniões do GREC participaram bis-

pos da França, sacerdotes e leigos perten-

centes à diocese de Paris e à diocese de

província, membros da FSSPX, da FSSP, do

Instituto Cristo Rei (p. 27).

Apoiaram esta iniciativa desde seu início,

o Pe. du Chalard (FSSPX), cujo “apoio foi

tão discreto quanto atento” (p. 26); e Dom

Éric de Lesquen (então Pe. de Randol), “do

qual sabemos o papel que desempenhou

O GREC: Jacques Régis du Cray (fiel da FSSPX), P. Lorans FSSPX, Sra. Pérol, P. Lelong, P. Barthe, P. Du Chalard FSSPX, P.

Célier FSSPX, Mons. Charles Morerod, Marie-Alix Doutrebente (fiel da FSSPX), P. Ribeton FSSP, P. Hygonnet FSSP, Luc Perrin.

Retirado de Non Possumus

Tradução: Capela Nossa Senhora das Alegrias

Nota da “Família Católica”: na última edição de nosso jornal publicamos uma entrevista com Mons. Faure e nela, ao falar sobre a

mudança de atitude que ocorreu na FSSPX em relação a Roma, monsenhor diz que os contatos do GREC foram “passos significati-

vos no sentido da reconciliação”. Achamos por bem publicar este excelente artigo dos dominicanos, que está dividido em 3 partes,

que esclarece sobre o que é este grupo, seus objetivos e o que pretende. As demais partes serão publicadas nas próximas edições.

Page 5: Jornal A Família Católica, 23 edição, abril 2015

com Dom Gérard durante sua aproximação

de 8 de julho de 1988 com Roma. [iii]

Na nunciatura, o acolhimento reservado

por Mons. Fortunato Baldelli foi caloroso. O

mesmo com seu sucessor, Mons. Luigi

Ventura (p. 29-32).

A Conferência episcopal da França foi

informada. Depois de uma visita da senho-

ra Pérol, do Pe. Lorans e do Pe. de la Bros-

se ao cardeal Ricard, um bispo foi designa-

do, por seu pedido, para seguir os traba-

lhos do GREC e informar sobre eles à Con-

ferência episcopal: foi Mons. Breton, bispo

de Aire y Dax. Quando Mons. Vingt-Trois,

arcebispo de Paris, sucedeu ao cardeal

Ricard, o mesmo grupo o visitou, prometen-

do-lhe manter informado regularmente (p.

35).

Entre os outros cardeais e bispos da Fran-

ça que apoiaram o GREC, citamos: o carde-

al Barbarin, arcebispo de Lyon; Mons. Du-

val, arcebispo de Rouen; Mons. Aubertin,

bispo de Chartres; Mons. Fort (Orléans) que

ia frequentemente às reuniões; Mons. Del-

mas (Angers); Mons. Aubry (La Réunion);

Mons. Rey (Toulon); os padres Brouwet e

Aillet antes e depois de sua consagracão

episcopal (p. 41).

A finalidade do GREC: um perigoso equívo-

co

Qual é a finalidade destas reuniões?

Se se tratasse somente de manter estas

conversações para tratar de fazer compre-

enderem as autoridades da Igreja conciliar

sobre a necessidade de retornar à Tradição

para salvar as almas e o espírito católico,

quer dizer, missionário, não poderíamos

mais que nos alegrar.

Desgraçadamente, desde o princípio o

GREC se comprometeu em uma via que

não pode ser mais equivocada.

No prefácio da obra, com efeito, Dom de

Lesquen deseja que a ação empreendida

“obtenha precisamente que o ato qualifica-

do de cismático pela Santa Sé em 1988

não se torne um cisma comprovado” (p. 12-

13). Acrescenta: “o objetivo do GREC é a

necessária reconciliação” (p. 15).

De que reconciliação se trata?

Para um católico, é clara: que a Santa Sé

se reconcilie com os ensinamentos dos

papas e dos concílios anteriores ao Vatica-

no II. Esta reconciliação é necessária, pois

é o único meio de salvar a Igreja e o mun-

do.

Em 20 de outubro de 2008, longe de

suplicar ao Papa Bento XVI para que aceite

culpar o Vaticano II, os responsáveis do

GREC lhe enviaram uma carta muito ambí-

gua dando a entender que era a FSSPX

quem estava em uma situação anormal.

Agradecendo ao papa pelo motu próprio

de 2007 sobre a missa tradicional [iv] e

solicitando o levantamento das

“excomunhões” de 1998, eles concluíram

assim:

Esperando que isto seja para a Fraterni-

dade São Pio X a ocasião de regularizar

sua situação canônica e de poder mani-

festar assim sua vontade de recuperar a

plena comunhão com o Santo Padre (p.

52).

O equívoco se define assim: uma frase

(ou uma palavra) que tem dois significa-

dos diferentes [v]. Aqui temos um perfeito

exemplo:

- Visto do lado das autoridades oficiais, a

carta ao Papa faz compreender que a

finalidade última dos trabalhos do GREC é

a de fazer entrar a FSSPX no seio da igre-

ja atual: se compreende o acolhimento

geralmente favorável que esta iniciativa

encontrou nestas mesmas autoridades.

- Vista do lado tradicionalista, uma inter-

pretação benévola – mas superficial – faz

compreender outra coisa: a carta ao papa

significa que a finalidade do GREC é refa-

zer a unidade na Igreja, encontrar final-

mente a união com a Santa Sé, sair desta

situação trágica e tão dolorosa que con-

siste em estar em oposição ao chefe da

Igreja.

A teologia moral agrega que “o equívoco

que oculta a verdade não pode ser em-

pregado mais que em caso de necessida-

de ou por uma causa razoável” [vi]. Veja-

mos bem, se há um momento em que a

ocultação da verdade é ilícita e perigosa é

quando a fé está em jogo. Como utilizar

um equívoco fazendo crer as autoridades

que se deseja entrar em plena comunhão

com elas, quando elas mesmas se obsti-

nam em uma via que conduz à apostasia?

Os representantes oficiosos da Tradição

que firmaram esta carta junto aos outros

membros do GREC se esqueceram das

advertências de Mons. Lefebvre?

Roma perdeu a fé. Roma está na apos-

tasia. [...] Não podemos ter confiança

nesta gente. Eles se separaram da Igreja,

eles se separaram da Igreja. Certamente,

certamente, certamente. [vii]

Quando nos perguntam quando haverá

um acordo com Roma, minha resposta é

simples: Quando Roma voltar a coroar

Nosso Senhor Jesus Cristo! Não podemos

estar de acordo com aqueles que destro-

naram Nosso Senhor. O dia em que eles

reconhecerem novamente Nosso Senhor

como rei dos povos e das nações, não

será a nós que eles se unirão, mas à Igre-

ja Católica à qual nós permanecemos.

[viii]

Então, a questão canônica estará ime-

diatamente resolvida.

Certamente, o GREC tinha consciência

dos limites de sua ação:

O GREC jamais teve como vocação parti-

cipar de nenhuma negociação. Sua ra-

zão de ser é muito mais humilde: se es-

força por criar, por meio de encontros e

discussões regulares, um clima de bene-

volência mútua, condição prévia e indis-

pensável para uma aproximação e uma

reconciliação cujas modalidades e o

calendário nos escapam. [ix]

Notas: i A expressão é de Pe. de La Brosse O.P.,

prior do convento da Anunciação em

Paris, “que encontrou esta feliz fórmula

para definir nossa ação”, disse o Pe.

Lelong (pág. 56). ii Pe. Lelong, entrevista sobre o GREC na

Rádio Courtoisie, quinta-feira, 19 de abril

de 2012. iii Entrevista com o Pe. Aulagnier (p.

104). iv As desventuras dos Franciscanos da

Imaculada, que foram proibidos de cele-

brar a missa tradicional, contra a letra

mesma deste famoso motu próprio, de-

veriam moderar o entusiasmo. Estes

acontecimentos mostram o que valem os

“favores” acordados por aqueles que

Mons. Levebvre chamava de “assassinos

da fé” (Carta ao padre prior de Avrillé de

7 de janeiro de 1991, publicada no Le

Sel de la Terre n° 0, p. 4). v Aequivocatio est verbum quod significat

duas res diversas, diz o Pe. Prümmer

O.P. (Manuale Theologiae Mora-

lis Friburgi Brisg., Herder, 1961, tomo 2,

n° 171). vi Aequivocatio est occultatio veritatis in

necessitate vel ex rationabili causa (P.

Plummer O.P. Manuale Theologiae Mora-

lis, ibid. N° 172) vii Mons. Lefebvre, Conferência aos sa-

cerdotes em Ecône pelo retiro sacerdo-

tal, 1° de setembro de 1987. Monsenhor

Lefebvre dizia isto comentando a entre-

vista que teve em 14 de julho de 1987…

con o cardeal Ratzinger viii Mons. Lefebvre, Conferência aos semi-

naristas de Flavigny, dezembro de 1988. ix Entrevista com M. Philippe Pichot Bra-

vard (p. 144).

Edição:

Capela Nossa Senhora das Alegrias - Vitória, ES.

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