pontifícia universidade católica de são · pdf filesocial; a...

154
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Faculdade de Ciências Sociais Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social Rosimeire Aparecida Mantovan A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR E O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL - CREAS SÃO BERNARDO DO CAMPO MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL São Paulo 2016

Upload: phamngoc

Post on 06-Feb-2018

216 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Sociais

Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social

Rosimeire Aparecida Mantovan

A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR E O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS

NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -

CREAS SÃO BERNARDO DO CAMPO

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

São Paulo

2016

Page 2: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Sociais

Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social

Rosimeire Aparecida Mantovan

A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR E O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS

NO CENTRO DE REFERÊNCIA ESPECIALIZADO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL -

CREAS SÃO BERNARDO DO CAMPO

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Serviço Social, sob a orientação do Prof. Dr. Ademir Alves da Silva.

São Paulo

2016

Page 3: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

3

Banca Examinadora

_________________________________

_________________________________

_________________________________

Page 4: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

4

Aos meus pais, que me ofereceram as

condições físicas, emocionais e éticas

para minha trajetória pessoal e

profissional. Gratidão eterna.

Page 5: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

5

AGRADECIMENTOS

O término deste importante percurso acadêmico somente foi possível em

razão de tantas pessoas que ao longo da caminhada me permitiram acreditar neste

sonho. Agradeço a todos(as) os(as) colegas que comigo discutiram, criticaram e

compartilharam conhecimentos e experiências, minha mais profunda gratidão.

Dessas pessoas, destaco algumas cuja participação foi fundamental:

Meu companheiro Alessandro, parceiro, que soube conviver com as minhas

ausências, incentivando e apoiando todos os meus desafios, com carinho e muita

paciência.

Minha família, sempre presente em minha vida, que constitui a minha base de

afetividade.

Meus amigos, especialmente Marcelo Gallo, incentivador, Tatiana Domingues

Bruno e Maira Kelly Verengue Moya, que dividiram comigo caronas, estudos,

pesquisas, preocupações e tantos outros compartilhamentos.

A Prefeitura de São Bernardo Campo, na pessoa da Secretária Márcia Barral,

que me acolheu e me respeitou profissionalmente, permitindo meu desenvolvimento

e a presente pesquisa.

Os(As) colegas da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania de São

Bernardo do Campo, que viveram comigo a construção de uma nova Política

Pública, acreditaram e me apoiaram, com muitos debates, enfrentamentos e na

coleta de dados desta pesquisa, especialmente a equipe da Gerência de Apoio ao

SUAS sob coordenação da amiga Camila Quinonero.

As colegas, amigas do CREAS de São Bernardo do Campo, coordenado por

Andreia Satrapa, pelas quais tenho profunda admiração e carinho, e que

construíram comigo esta trajetória de reflexões e inquietações, sem as quais não

seria possível este produto. Avante!!

Todos os professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço

Social da PUC/SP, que me acolheram, acreditaram, estimularam, permitiram meu

crescimento e fizeram parte de uma importante etapa da minha vida.

A professora Aldaíza Sposati, que durante toda a minha formação me

inspirou, acolheu, incentivou e me ofereceu tantas oportunidades.

Page 6: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

6

Ao meu mestre e orientador Ademir Alves da Silva, que com sabedoria e

paciência me permitiu superar meus limites e ansiedades, sempre acreditando na

minha capacidade de produção, não poupando elogios e incentivos.

Ao Ministério da Educação (MEC), que, por meio da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), possibilitou as condições

materiais para esta realização.

Page 7: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

7

Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é.

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;

Assisto à minha passagem,

Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo: “Fui eu?”

Deus sabe, porque o escreveu.

(Fernando Pessoa)

Page 8: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

8

RESUMO

A presente dissertação é fruto de pesquisa que objetivou discutir o trabalho

social com famílias em São Bernardo do Campo nos serviços de Proteção Social

Especial. A experiência no município de São Bernardo do Campo – iniciada em

2009, com o desafio de implantar o Centro de Referência Especializado da

Assistência Social - CREAS e formar uma equipe de profissionais capaz de

desenvolver ações à luz da nova Política de Assistência Social – inspirou a reflexão

sobre a responsabilidade com as famílias que chegam ao serviço apresentando

diversos graus de vulnerabilidade e situações de alta complexidade. A pesquisa

abrange o estudo da família na contemporaneidade e sua relação com as Políticas

Públicas, a partir de bibliografia sobre o tema, além do referencial legal-normativo

que ao longo da história regulou a atenção às famílias e a Política de Assistência

Social.

Utiliza-se a pesquisa quantitativa para levantamento de dados quanto às

famílias atendidas na Proteção Social Especial de São Bernardo do Campo, à rede

de atenção existente nos territórios das famílias pesquisadas e à demanda existente.

Na pesquisa empírica a metodologia adotada é a qualitativa, recorrendo-se às

técnicas de entrevista e grupo focal, com os profissionais do serviço, abordando

questões como as metodologias utilizadas, à luz da Política Nacional de Assistência

Social; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade

Sociofamiliar; as medidas para se identificar a demanda e como a família chega ao

serviço; a intersetorialidade e as ações em rede. A análise das entrevistas traz à luz

um trabalho que ainda se apresenta pontual e emergencial, mas com importantes

avanços e um forte potencial e ser explorado.

Palavras-chave: Metodologia; Trabalho Social com Famílias; Proteção Social

Especial; Sistema Único de Assistência Social - SUAS

Page 9: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

9

ABSTRACT

The present thesis is the result of a research that aims to discuss the social

work done with families in the city of São Bernardo do Campo, state of São Paulo,

Brazil, related to services of Special Social Protection. The experience in São

Bernardo do Campo, which has started in 2009 with the challenge of establishing the

Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) [Specialized

Reference Center for Social Assistance] and constituting a staff of professionals able

to develop actions according to the new Social Assistance Policy, has inspired the

reflection about the responsibility regarding the families that look for the service and

present different levels of social vulnerabilities and high complexity situations. The

research embraces the family study in the contemporaneity and its relation with the

Public Policy based on a bibliography about the subject, as well as the legal and

recognized referential that has ruled the social support for the families and the Social

Assistance Policy through history.

Quantitative research is adopted for investigating data about the families

attended at Special Social Protection in São Bernardo do Campo, the social

assistance system present in the researched families‟ territories and the current

demand. Qualitative methodology is adopted on the empirical research, in which

interview and focus group techniques with the professionals are used, as well as

questions related to the methodologies adopted according to the National Social

Assistance Policy; the conception about family and the occurrence of familiar

matriciality; the measures for identifying the necessities and families‟ situation as

soon as they look for the social service; intersectoriality and networked actions. The

analysis of the interviews reveals a work that is still punctual and emergency

however it presents important progress and a strong potential to be developed.

Keywords: Methodology; Social Assistance with Families; Special Social Protection;

Unified Social Assistance System - SUAS

Page 10: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

10

SUMÁRIO

Lista de siglas.............................................................................................................11

Lista de tabelas..........................................................................................................13

Lista de mapas e gráficos...........................................................................................14

INTRODUÇÃO...........................................................................................................15

CAPÍTULO I – A FAMÍLIA E SUA HISTÓRIA...........................................................22

1.1 O PAPEL SOCIAL DA FAMÍLIA...........................................................................22

1.2 A FAMÍLIA E SUA RELAÇÃO COM O ESTADO E AS POLÍTICAS

PÚBLICAS...........................................................................................................28

1.3 A ASSISTÊNCIA ÀS FAMÍLIAS E A ATUAÇÃO PROFISSIONAL......................41

CAPÍTULO II – O SUAS - SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

E A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR......................................47

2.1 A REGULAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A DIRETRIZ

DA MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR............................................................47

2.2. O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS............................................................50

2.3. METODOLOGIAS DE TRABALHO SOCIAL NO ÂMBITO DO SUAS................56

CAPÍTULO III – SÃO BERNARDO DO CAMPO: REALIDADE SOCIAL

E POLÍTICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL.......................................67

3.1 A FORMAÇÃO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO.............................................67

3.2 A HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL EM SÃO BERNARDO

DO CAMPO..........................................................................................................69

3.3 CARACTERIZAÇÃO ATUAL DO MUNICÍPIO.....................................................76

3.4 PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA – CRAS E SEUS TERRITÓRIOS.......................84

CAPÍTULO IV – A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR E O TRABALHO SOCIAL

COM FAMÍLIAS NO CREAS DE SÃO BERNARDO

DO CAMPO......................................................................................96

4.1 A PESQUISA........................................................................................................96

4.2 A PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL - CREAS...................................................100

4.3 O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS...........................................................109

CONSIDERAÇÕES FINAIS.....................................................................................132

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................137

APÊNDICES.............................................................................................................151

Page 11: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

11

LISTA DE SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada

CADÚnico Cadastro Único

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CENTRO POP Centro de Referência para Pessoa em Situação de Rua

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CF Constituição Federal

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social

CRAM Centro de Referência e Atendimento à Mulher

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado da Assistência Social

CRI Centro de Referência do Idoso

CRPD Centro de Referência da Pessoa com Deficiência

DRADS Diretoria Regional de Assistência e Desenvolvimento Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EMIP’s Escola Municipal de Iniciação Profissional

ESF Estratégia de Saúde da Família

FEBEM Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor

FMAS Fundo Municipal de Assistência Social

FMDCA Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

FUNABEM Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

LOA Lei Orçamentária Anual

LBA Legião Brasileira de Assistência

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

LOPS Lei Orgânica da Previdência Social

MDS Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Page 12: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

12

MEC Ministério da Educação

NEPSAS Núcleo de Estudos e Pesquisa em Seguridade e Assistência

Social

NOB Norma Operacional Básica

NOB/RH Norma Operacional Básica de Recursos Humanos

PAEFI Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e

Indivíduos

PAIF Serviço de Proteção e Atendimento à Família

PETI Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PMSBC Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PPD Pessoa com Deficiência

PTR Programa de Transferência de Renda

PUC/SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

SAGI Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação

SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SEDESC Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI Serviço Social da Indústria

SUAS Sistema Único de Assistência Social

SUS Sistema Único de Saúde

UBS Unidade Básica de Saúde

Page 13: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

13

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Quadro sinóptico das definições de PAIF E PAEFI de acordo com a

Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais............................58

Tabela 2 - População residente e densidade demográfica......................................78

Tabela 3 - População em área de proteção e recuperação de mananciais.............79

Tabela 4 - Principais receitas do município entre 2009 e 2011...............................80

Tabela 5 - Receitas do orçamento 2015..................................................................81

Tabela 6 - Despesas realizadas por função entre 2009 e 2011...............................82

Tabela 7 - Despesas realizadas por função 2015....................................................83

Tabela 8 - Unidade de CRAS e sua referência territorial.........................................85

Tabela 9 - Serviços oferecidos pelos CRAS‟s..........................................................87

Tabela 10 - Número de famílias x inserção em serviço da Assistência Social por

unidade de CRAS....................................................................................93

Tabela 11 - Serviços da Assistência Social ofertados por unidade de CRAS x

Famílias atendidas por modalidade........................................................93

Tabela 12 - Perfil dos assistentes sociais entrevistados............................................98

Tabela 13 - Famílias referenciadas por motivo - 2014.............................................106

Tabela 14 - Acompanhamento das famílias por serviço - 2014...............................106

Tabela 15 - Novas famílias referenciadas (2014)....................................................107

Tabela 16 - Motivos das Demandas (2014).............................................................107

Tabela 17 - Origem das demandas ao CREAS (2014)............................................108

Tabela 18 - Distribuição de famílias por território de CRAS (2014).........................109

Page 14: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

14

LISTA DE MAPAS E GRÁFICOS

Mapa 1 - Localização do município de São Bernardo do Campo..............................68

Mapa 2 - Posição geográfica e área de mananciais do município.............................77

Mapa 3 - Localização aproximada dos CRAS‟s........................................................86

Mapa 4 - Rede de cultura...........................................................................................89

Mapa 5 - Rede de saúde............................................................................................90

Mapa 6 - Rede de esporte e lazer..............................................................................91

Mapa 7 - Rede de educação......................................................................................92

Gráfico 1 - Tempo de formação das assistentes sociais...........................................99

Gráfico 2 - Tempo de trabalho dos profissionais na PMSBC.....................................99

Page 15: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

15

INTRODUÇÃO

A Política Nacional de Assistência Social - PNAS (BRASIL, 2004a)

estabelece a Matricialidade Sociofamiliar como eixo estruturante, e seu papel

fundamental no processo de conquista da autonomia pelas famílias, objetivando a

garantia de seus direitos socioassistenciais e a construção de alternativas para o

rompimento com práticas focalizadas, fortalecendo sua capacidade protetiva e

reconhecendo a necessidade de garantir sustentabilidade para tal.

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução 109 de

11/11/09) define o PAIF (Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família)

como:

[...] o trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida de modo proativo, protetivo. (BRASIL, 2009a, p.6)

O PAIF tem caráter preventivo e territorializado, devendo assegurar o

acesso a direitos e a melhoria da qualidade de vida. Por sua vez, o PAEFI (Serviço

de Proteção e Atendimento Especializado à Família e Indivíduos) é definido como:

[...] serviço de apoio, orientação e acompanhamento às famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos, compreendendo atenções e orientações direcionadas para a promoção de direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e sociais e para o fortalecimento da função protetiva das famílias. (BRASIL, 2009a, p.19)

Objetiva ainda contribuir para a inclusão das famílias no sistema de proteção

social e nos serviços públicos e promover o rompimento com os padrões violadores

de direitos.

Os conceitos que se tem de família e do seu papel na sociedade vão

interferir diretamente no trabalho a ser realizado. Ao se considerar, por exemplo, a

família como responsável pela proteção dos seus membros, desobrigando o Estado,

a atenção será direcionada para a responsabilização da família e sua preparação

para exercer seu papel protetivo, com o mínimo de intervenção do Estado. Por outro

Page 16: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

16

lado, se concebermos o princípio da primazia da responsabilidade do Estado na

condução das Políticas Públicas, a atenção às famílias proporcionará possibilidades

para o protagonismo e a proteção social integral e matricial, a partir da realidade e

do território onde vivem, palco das vulnerabilidades.

Nossa experiência no município de São Bernardo do Campo, iniciada em

2009 com o desafio de implantar o Centro de Referência Especializado da

Assistência Social - CREAS e formar uma equipe de profissionais capazes de

desenvolver essas ações à luz da nova política, foi que levou à reflexão sobre a

nossa responsabilidade com as famílias que chegam ao serviço apresentando

vulnerabilidades e situações de alta complexidade.

Nessa mesma experiência, a estrutura da Secretaria de Desenvolvimento

Social e Cidadania (SEDESC) – que mantém o funcionamento de outros Centros de

Referência para atendimento aos idosos, pessoas com deficiência e mulheres

vítimas de violência, assim como a Fundação Criança1, todos executando serviços

originalmente de competência do CREAS – exigiu uma forte capacidade de

articulação na tentativa de minimizar as sobreposições e as fragmentações no

atendimento. Apesar disso, prevalecem práticas segmentadas, com medidas de

proteção aos membros tomados isoladamente, como idosos, crianças e

adolescentes e pessoas com deficiência, havendo pouca ação sobre as famílias.

Exceto a ação da responsabilização, muitas vezes judicial, quando situações de

vulnerabilidade, pouco cuidado ou suspeita de maus-tratos são levadas diretamente

ao Ministério Público, Delegacias ou Conselhos Tutelares, muitas vezes encerrando-

se aí a intervenção profissional. Uma frágil atuação da proteção social básica nos

territórios e a desarticulação entre os serviços e benefícios socioassistenciais

ofertados fortalecem as ações fragmentadas.

A partir das articulações com os demais Centros de Referência, observamos

as diversas concepções teóricas e metodológicas de trabalho social com famílias em

cada serviço, muitas vezes se sobressaindo práticas conservadoras, refletindo uma

desarticulação. Tal cenário nos faz questionar a real capacidade de interferir

positivamente na vida dessas famílias, ofertando proteções e alcançando os

objetivos propostos pela PNAS.

1 Fundação pública municipal que tem por objetivo a execução dos serviços de atenção à criança e

ao adolescente.

Page 17: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

17

Contribuindo para esse contexto, a fragilidade na efetivação do SUAS, com

serviços precários, quadro de recursos humanos insuficiente e despreparado e

dificuldade em garantir ações intersetoriais, coloca a atuação profissional em um

patamar de retrocesso, ou de não avanço, uma vez que acaba por ter ação

focalizada e imediatista.

Nessa perspectiva, é importante definir o conceito de Matricialidade

Sociofamiliar e seu lugar na Política de Assistência Social. Matriz, na língua

portuguesa, é aquilo que é principal, de que originam outros, o molde para alguma

coisa. Conforme o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA,

2004), é “o lugar onde alguma coisa se gera ou se cria; fonte, manancial”.

Matricialidade, entendemos, é a qualidade do que está no centro, como eixo

principal.

Segundo a Política Nacional de Assistência Social, a família é definida como

“espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização primárias, provedora

de cuidados aos seus membros, mas que precisa ser cuidada e protegida” (BRASIL,

2004a). Tal assertiva, no entanto, não induz a responsabilização das famílias, e não

desobriga o Estado. Ao contrário disso, exige do Estado a garantia à família da

sustentabilidade da sua capacidade protetiva.

A Política de Assistência Social, ao lado da Saúde e da Previdência Social,

constitui a base da Seguridade Social no país, financiada pelo Orçamento da

Seguridade Social. De acordo com a Constituição Federal e a Lei Orgânica da

Assistência Social (LOAS), a Assistência Social é um direito do cidadão e um dever

do Estado. Ela é uma política social não contributiva que deve ofertar proteção

social, de caráter material e relacional2, a fim de garantir o atendimento das

necessidades do(a) cidadão(ã) que dela necessitar.

Os objetivos da PNAS (BRASIL, 2004a, p.33) são:

[...] prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural; e Assegurar que as ações

2 O caráter relacional da Politica de Assistência Social se caracteriza pelas ações de convivência,

fortalecimento e restabelecimento de vínculos familiares e comunitários, realizados a partir do trabalho técnico, planejado e com bases teóricas. Tem caráter imaterial, embora possa ser a ele somado o material.

Page 18: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

18

no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária.

Ao tratar de família, importante destacar que falamos de um grupo primário

formado por pessoas com vínculos de afeto, independentemente de laços legais de

parentesco. Ou, como define a PNAS, “o grupo de pessoas que se acham unidas

por laços consanguíneos, afetivos ou de solidariedade” (BRASIL, 2004a, p.41).

Sabemos que, ao longo do processo de industrialização, em que ocorreu de

forma mais intensa o deslocamento das famílias em busca de novas oportunidades,

se acentuou a fragilização dos vínculos familiares e comunitários, rompendo

especialmente com o sentimento de pertença entre os indivíduos e destes com as

redes de proteção primária, antes fortes e protetivas, aumentando as situações de

vulnerabilidade e os riscos vividos, além do crescente empobrecimento promovido

pelo desemprego e condições de trabalho precárias.

Nesse sentido, a matricialidade sociofamiliar prevista na Política visa superar

essas vulnerabilidades e romper com as ações focalizadas e imediatistas. Pretende

superar o processo de individualização e responsabilização das famílias pelos riscos

que envolvem seus membros, propondo um sistema de proteção e promoção que

garanta que a família possa de fato exercer seu papel protetivo a partir da atenção

ofertada pelo Estado. Para tanto, as ações do Estado devem estar pautadas nas

necessidades da família e de seus membros, a partir do conhecimento de sua

realidade e do contexto em que vive, ou seja, demanda e território.

Sposati (2009), ao relacionar os conceitos de proteção social, riscos e

vulnerabilidades, nos ensina que, “quando se tem por centralidade, na politica de

assistência social, a matricialidade sociofamiliar, a necessária análise é a da

capacidade protetiva da família, e dos fatores que a reduzem”. Afirma ainda que

“atuar com vulnerabilidades significa reduzir fragilidades e capacitar as

potencialidades”.

Define a PNAS (BRASIL, 2004a, p.43):

[...] a centralidade da família com vistas à superação da focalização, tanto relacionada a situações de risco como a de segmentos, sustenta-se a partir da perspectiva postulada. Ou seja, a centralidade da família é garantida à medida que na Assistência Social, com base em indicadores das necessidades familiares, se desenvolva uma política de cunho universalista, que em conjunto com as transferências de renda em patamares aceitáveis se desenvolva, prioritariamente, em

Page 19: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

19

redes socioassistenciais que suportem as tarefas cotidianas de cuidado e que valorizem a convivência familiar e comunitária.

Assim, ao analisar essa diretriz, entendemos ser ela uma estratégia na

oferta da proteção social, e que cabe ao Estado disponibilizar, de forma integral e

integrada, Políticas Públicas que sejam capazes de atender às necessidades das

famílias, reconhecendo seus diversos modelos, os riscos sociais a que estão

expostas e suas fragilidades, de modo a ampliar sua capacidade de proteção e

autonomia.

A importância da família no contexto social está reconhecida desde a

Constituição Federal de 1988, que estabelece em seu artigo 226 que “a família, base

da sociedade, tem especial proteção do Estado”. A partir dessa diretriz, a Política

Nacional de Assistências Social - PNAS/2004 reconhece a família como mediadora

das relações entre os sujeitos e a coletividade, por transitar entre o público e o

privado e estabelecer os modos de vida da comunidade.

Destacamos, porém, que a família enfrenta acentuada fragilidade em

decorrência das pressões que processos de exclusão geram sobre ela, sofrendo

enorme processo de fragilização dos vínculos familiares e comunitários, tornando-a

mais vulnerável e reduzindo sua capacidade protetiva. Nesse contexto, as práticas

do trabalho social com famílias têm demonstrado fraco entendimento da nova

Política e pouca disposição para a efetivação de um sistema forte de proteção social

não contributivo, que dê alcance às perspectivas da PNAS.

Caracterização do Campo de Pesquisa

São Bernardo do Campo - SP é um município localizado no ABC Paulista,

fazendo divisa com os municípios de São Paulo, Santo André, Diadema e Cubatão,

no litoral paulista. Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome - MDS, por meio da Secretaria de Avaliação e Gestão da

Informação - SAGI3, o município possui 765.463 habitantes. Esses dados apontam

que a população do município cresceu, entre os Censos Demográficos de 2000 e

2010, à taxa de 0,88% ao ano, passando de 701.289 para 765.463 habitantes.

3 Fonte: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria de Avaliação e

Gestão da Informação - SAGI. SUAS - Ambiente de Gestão. Disponível em: <http://aplicacoes. mds.gov.br/sagirmps/suasag/index.php>. Acesso em: jan./2016.

Page 20: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

20

Quanto aos níveis de pobreza, o Censo Demográfico de 2010 indicava que o

município contava com 18.710 pessoas na extrema pobreza, sendo 1.297 na área

rural e 17.413 na área urbana. Em termos proporcionais, 2,4% da população estava

na extrema pobreza, com intensidade maior na área rural (10,1% da população na

extrema pobreza na área rural contra 2,3% na área urbana).

Dados mais recentes do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à

Fome (MDS)4 apontam que São Bernardo do Campo apresenta 23.453 famílias

pobres, elegíveis ao Bolsa Família, e 52.979 famílias de baixa renda, elegíveis ao

Cadastro Único (PNAD 2006). Atualmente o município possui 18.6615 famílias no

programa de transferência de renda Bolsa Família e 42.6816 inseridas no CAD

Único. Atende ainda 9.364 famílias no Beneficio de Prestação Continuada - BPC.

Cerca de 200 mil pessoas vivem em assentamentos urbanos irregulares

existentes nas áreas de proteção aos mananciais, sendo o território do Alvarenga

uma área representativa das ocupações irregulares, compreendendo cerca de 35

bairros (loteamentos urbanos), que ainda sofrem pressão de ocupação por famílias

de baixo ou pequeno poder econômico.

Procedimentos da Pesquisa

A pesquisa busca examinar o tema da família na contemporaneidade e sua

relação com as Políticas Públicas em bibliografia sobre o tema, além do referencial

legal-normativo que ao longo da história regulou a atenção às famílias. Ainda,

optamos pela pesquisa quantitativa para levantamento de dados quanto ao perfil das

famílias atendidas na Proteção Social Especial de São Bernardo do Campo, à rede

de atenção existente nos territórios das famílias pesquisadas e à demanda existente.

Na pesquisa empírica utilizamos a metodologia de pesquisa qualitativa, com

as técnicas de entrevista e grupo focal, possibilitando o contato direto com as

profissionais que atuam no CREAS. Os dados colhidos nas entrevistas e no grupo

focal ensejaram importante análise das motivações, limitações e anseios das

profissionais envolvidas e comprometidas com o trabalho que realizam, nos

permitindo sair de uma leitura superficial do cotidiano para uma compreensão mais

4 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Disponível em: <http://mds.

gov.br/>. Acesso em: jan/2016. 5 Dados referentes a janeiro de 2016.

6 Dados referentes a novembro de 2015.

Page 21: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

21

abrangente das razões que fragilizam ou estimulam a efetivação de Políticas

Públicas de Direito e Proteção Social.

No Capítulo 1 procuramos apresentar o referencial teórico a respeito da

evolução histórica da formação da família, suas diversas formas de organização e a

relação com o Estado por meio da legislação, responsável por sua definição e

controle, bem como a prática profissional na atuação com famílias ao longo da

história.

No Capítulo 2 abordamos a regulação da Política de Assistência Social a

partir da Constituição Federal, a diretriz da matricialidade sociofamiliar nela prescrita

e a proposta metodológica prevista na Política de Assistência Social, mais

especificamente pelos serviços denominados PAIF - Serviço de Proteção e

Atendimento Integral à Família e PAEFI - Serviço de Proteção e Atendimento

Especializado a Famílias e Indivíduos.

No Capítulo 3 examinamos a formação da sociedade são-bernardense, a

história da Assistência Social no município, características dos territórios, a rede de

Proteção Social identificada e a organização da Proteção Social Básica no

município.

No Capítulo 4 apresentamos a pesquisa realizada, identificando as

características e organização da Proteção Social Especial e a experiência do

trabalho social com famílias realizado no CREAS - Centro de Referência

Especializado de Assistência Social.

Page 22: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

22

CAPÍTULO I – A FAMÍLIA E SUA HISTÓRIA

1.1 O PAPEL SOCIAL DA FAMÍLIA

As diversas concepções dos profissionais acerca da família, muitas vezes

conservadoras, e a expectativa da sociedade em torno dos seus papéis contribuem

para uma ação pouco efetiva na oferta da proteção social como dever do Estado. A

expectativa quanto aos papéis da família, construída a partir dos modelos

tradicionais, presentes nas legislações em vigor, e nos modelos das Políticas

Públicas, não representa as famílias reais, especialmente as que compõem os

territórios de maior demanda da Política de Assistência Social.

O modelo de família idealizado pela sociedade é o modelo de família nuclear

burguesa, patriarcal, com papéis entre homens e mulheres bem definidos, em que

crianças, idosos e outras pessoas em situação de vulnerabilidade devem estar

protegidos pelo cuidado doméstico, especialmente das mulheres, que são mantidas

pelos homens, trabalhadores e provedores. A família, nessa concepção

contemporânea, monogâmica, foi concebida a partir da necessidade de regular as

relações do mercado e da propriedade privada, garantindo a transmissão de riqueza

hereditariamente, concentrando-a assim na mesma família.

Toda a legislação tem fortalecido esse modelo nuclear de família, essencial

para a manutenção do modelo atual de sociedade. Basta observar, no caso do

Brasil, nas Constituições Federais desde a Independência do país e no Código Civil

de 1916, que vigorou até 2002, a forte presença da preservação patrimonial em

torno do casamento, a exemplo dos impedimentos para o matrimônio, das regras

para um novo casamento, do direito à sucessão e herança ou das regras de adoção,

que preservavam o direito à herança somente aos filhos legítimos havidos do

casamento. Dessas regras, algumas aparentemente ultrapassadas estão mantidas

na nova legislação.

As características de solidariedade presentes em sociedades primitivas

também mudaram, e os projetos do grupo familiar, antes coletivos, foram

substituídos pelo desejo de sucesso individual e valores de consumo, que,

vivenciados por famílias de menor poder aquisitivo, transformam a vida familiar em

espaço de conflitos e frustrações.

Page 23: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

23

Na história da humanidade encontramos diversos modelos de “família”, uns

com membros mais afetivos e protetores, cuja responsabilidade de proteção era

igualmente partilhada na comunidade, independentemente da consanguinidade das

relações – cenário que, somado ao acesso comum aos bens e aos meios de

produção, oferecia maior proteção. O modelo de organização coletiva vai mudando

sua forma à medida que os modos de produção evoluem, e a produção dos

excedentes dá início à exploração do homem pelo homem, à acumulação de bens e

à propriedade privada, incutindo nas relações monogâmicas a proteção ao

patrimônio daquele grupo, cada vez mais reduzido. Essa mudança torna as relações

fragilizadas e os comportamentos individualizados, estabelecendo papéis sociais

entre homens e mulheres e a desigualdade entre ambos.

A constituição da família monogâmica, nuclear, de caráter patriarcal,

reproduz a exploração entre as classes, além de estabelecer relações de

subordinação entre homens e mulheres. Segundo Engels (2012, p.87),

[...] a primeira divisão do trabalho é a que se fez entre o homem e a mulher para a procriação dos filhos, e o primeiro antagonismo de classes que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino.

Nesse sentido, Lessa (2012, p.26) afirma:

A origem da família monogâmica se situa na transição para a sociedade de classes. Para que a resistência contra a exploração seja controlável, é fundamental que os escravos, servos, proletários, etc. busquem a sua sobrevivência de modo individual, não coletivo. Era, para isso, necessária a destruição dos laços primitivos que faziam da sobrevivência de cada indivíduo a condição necessária para a sobrevivência de toda a comunidade. Ao mesmo tempo, os membros da classe dominante perseguem as suas sobrevivências com o individualismo que caracteriza a propriedade privada; e, mesmo quando articulam ações conjuntas para a defesa de seus interesses de classe, cada um almeja apenas o enriquecimento pessoal. Ninguém quer pagar os custos da alimentação, da educação, da criação dos filhos dos outros. Por isso, quando a exploração do homem pelo homem se instaura e a concorrência passa a predominar na vida social, não mais é possível que a criação e a educação das crianças, que a preparação dos alimentos e da moradia, etc. permaneçam como atividades coletivas. Terão de ser,

Page 24: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

24

agora, atividades privadas, que se destacam da vida social (tal como o indivíduo, agora, também passa a ter uma vida privada que se destaca de sua vida coletiva). É assim que a família se descola do coletivo e se constitui em núcleo privado: essa nova forma de organização de família é a família monogâmica ou família nuclear.

Como núcleo privado, sem a organização e a solidariedade do grupo, a

família enfrenta individualmente os reflexos de questões coletivas que dizem

respeito à classe social a que pertence.

No modelo atual, os papéis de homens e mulheres são bem definidos,

cabendo à mulher a função de educação dos filhos e proteção dos demais membros.

Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a partir da industrialização

acelerada, tornou-se rotina entre as classes trabalhadoras as mulheres trabalharem

fora de casa, não para a realização pessoal, mas como manutenção da própria

sobrevivência, em trabalhos precários e com grandes períodos de desemprego –

diferentemente do que se observa nas famílias burguesas, cujas mulheres,

profissionais qualificadas, contam com uma rede de apoio, seja familiar, seja de

trabalhadores contratados.

No caso da classe trabalhadora, a inserção no mercado de trabalho não

significa que as tarefas domésticas e a criação dos filhos deixam de ser serviço

privado a ser prestado por elas, se constituindo uma dupla jornada de trabalho. Para

sobreviver a essa condição, as mulheres trabalhadoras “chefes de família”

dependem da mobilização de uma rede familiar que ultrapassa os limites da casa,

especialmente para os cuidados com os filhos. Assim, ocorre muitas vezes, como

afirma Sarti (2011), o deslocamento das crianças da família de origem para famílias

de apoio, bem como a ocupação do papel masculino por outras figuras da família,

como irmão, pai, entre outros, improvisando formas de manutenção e cuidados,

além da socialização dos filhos por meio de uma rede de vizinhos, quando possível.

A organização das famílias, em especial as de menor renda, ocorre muitas

vezes mais por laços de afetividade do que de parentesco, por necessidade de

proteção entre os membros, o que contraria as formas tradicionais de organização,

com papéis definidos para pai e mãe – ele de provedor e responsável pela família,

ela de cuidadora e responsável pela casa.

Page 25: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

25

Sarti (2011) aponta que, nas famílias trabalhadoras, o trabalho da mulher,

precarizado na maioria das vezes, não a libera das tarefas domésticas e do papel

social que representa, de cuidadora e responsável pela organização da casa e dos

filhos. Cumulativamente, em famílias monoparentais em que há a ausência da figura

paterna também caberá à mulher responder pela representação externa da família,

pelo controle e respeito nas relações familiares, tradicionalmente atribuídos ao pai.

Quando a família conta com uma rede primária de apoio, composta por pessoas

próximas, em geral essa tarefa é dividida com outra figura masculina, seja o avô, o

tio, padrinho ou outro, já que tal representação se torna mais difícil para a mulher.

A mesma autora, em sua pesquisa denominada “Um estudo sobre a moral

dos pobres”, analisa:

Cumprir o papel masculino de provedor não configura, de fato, um problema para a mulher, acostumada a trabalhar, sobretudo quando tem precisão; para ela, o problema está em manter a dimensão do respeito, conferida pela presença masculina. Quando as mulheres sustentam economicamente suas unidades domésticas, podem continuar designando, em algum nível, um “chefe” masculino. Isso significa que, mesmo nos casos em que a mulher assume o papel de provedora, a identificação do homem com a autoridade moral, a que confere respeitabilidade a família, não necessariamente se altera. (SARTI, 2011, p.67)

A dificuldade se agravará se a mulher não contar com rede de apoio, de

forma a distribuir essa responsabilidade, e não receber o apoio do Estado.

As redes de apoio primárias, fundamentais para a sobrevivência das famílias

trabalhadoras, ficaram fragilizadas em razão da industrialização acelerada e

consequente deslocamento populacional, primeiro, das áreas rurais para as urbanas

e, agora, entre as cidades, em busca de novas oportunidades de trabalho. O

processo de fragilização e rompimento dos vínculos familiares e comunitários se

acentua, quebrando especialmente o sentimento de pertença dos indivíduos e

enfraquecendo as redes de proteção primária. Verifica-se mais uma vez a

modificação dos modelos de família e de organização comunitária, sem, no entanto,

ser reconhecida pela legislação vigente e pelas Políticas Públicas, que continuam a

exigir das famílias o papel protetivo antes exercido.

Page 26: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

26

O modelo de família protetora é concebido principalmente pelo Estado

neoliberal, que tem sua atenção voltada para as políticas sociais e a regulação da

economia, privilegiando o mercado, e situa a família como instituição subsidiária das

Políticas Públicas. Nesse modelo de Estado as Políticas Públicas atribuem às

unidades familiares a responsabilidade pelo bem-estar social dos seus membros,

porque não provê suficiente apoio à família, que tem de buscar proteção no

mercado, com seus próprios recursos, o que não se concretiza nas famílias de

menor poder econômico.

Silva (2010, p.67), em seu estudo quanto aos modelos de Estado, afirma

que

[...] no modelo liberal prevalece a concepção de que a ação estatal justifica-se para suprir insuficiência do mercado, junto a certos segmentos sociais. A politica social é seletiva. Há duas formas de estímulo ao mercado. Passivo, pela contenção dos serviços sociais, forçando o retorno ao trabalho. Ativo, pelas medidas em favor do seguro privado. A assistência social é prestada aos comprovadamente pobres, com caráter tópico e residual.

Esse quadro cria uma contradição entre a família idealizada e a família

vivida, gerando assim expectativas nas famílias que não conseguem sobreviver pelo

próprio trabalho e se sentem responsáveis pelo fracasso no cumprimento de suas

funções, fortalecendo o sentimento de incapacidade.

A ausência ou precarização no cuidado e na proteção à família provoca o

sentimento de fracasso pessoal, ante a ambiguidade entre os padrões tradicionais

de família e as diversas formas de organização das famílias contemporâneas,

especialmente as de menor renda (SARTI, 2011). O papel masculino de provedor e

o feminino do cuidado não se realizam integralmente, aquele, pela ausência de

trabalho qualificado e de posição social, e este, pela necessidade de exercer muitas

vezes o papel de provedor, em detrimento do cuidado, frustrando o projeto de

casamento idealizado na sociedade burguesa.

Teixeira (2009) alerta para a responsabilização da família no exercício de

papéis tradicionais que não poderão ser exercidos por elas, sendo necessários

serviços públicos alternativos que minimizem suas funções, com ações protetivas

públicas. Afirma ainda que:

Page 27: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

27

[...] a ação de impulsionar suas funções de guarda, cuidado, proteção, socialização e outras, social e culturalmente atribuídas às famílias, gera culpabilização, por não poderem realizar „plenamente‟, conforme o padrão, essas funções. (TEIXEIRA, 2009, p.260)

Segundo a mesma autora, o mito das famílias harmoniosas, afetivas e

protetivas alimentado na sociedade gera sofrimento para aqueles que não

conseguem garantir esse tipo de ambiente. Esses valores colocados na família

fazem com que seja chamada à responsabilidade excessivamente e de forma

desprotegida.

Para Teixeira (2013, p.17),

[...] o “ressurgimento” da família, ou as expectativas em relação às suas funções de proteção social, inclusão e integração social se ampliam, nas últimas décadas, favorecidas pelo recuo do Estado no provimento social, pela defesa de um regime de bem-estar plural que envolve o mix público/privado na provisão social, e propostas neoliberais de que a intervenção estatal deve se dar quando cessam as fontes naturais de proteção social, sejam as formais como mercado, terceiro setor, sejam as informais como família e comunidade. Assim, embora seja estratégico e econômico contar com a família para potencializar a proteção social oferecida, considerando sua tradicional e cultural função na reprodução social, há sinais de que a proteção familiar não pode ser estendida, sobrecarregada para além de sua capacidade, considerando: a ausência de cuidadores em tempo integral, com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, pela necessidade de compartilhar a função provedora com o cônjuge ou até mesmo de desempenhá-la sozinha, ou pelo interesse em participar do mercado de trabalho como elemento de mobilização social e status; as transformações urbanas e a redução das redes de apoio; redução do tamanho das famílias; fragilidade de renda, de proteção pública e vulnerabilidade que reduzem a capacidade cuidativa da família e a disponibilidade das mulheres para o cumprimento deste papel.

Essas características apontam para a necessidade de reconhecer essas

novas organizações familiares que por vezes se mantêm somente por laços afetivos

ou de obrigação moral. Que não se constituem legalmente, que não representam o

modelo nuclear, mas se efetivam como família. Especialmente levando em conta as

crianças, que por vezes vivem em famílias extensivas7 e/ou formadas por relações

7 Família extensiva entendida como parentes próximos, como avós, tios e outros parentes

consanguíneos.

Page 28: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

28

de afeto, que não se regularizam formalmente pela adoção, constituindo unidades

familiares não definitivas, mas por períodos longos.

Como afirma Sarti (2011, p.79), esse modelo pode ser interpretado como um

padrão cultural que permite uma solução conciliatória entre o valor da maternidade e

a dificuldade concreta de criar os filhos. Essa situação de fato encontra nas Políticas

Públicas muitos entraves, pois o valor legal da constituição familiar está sempre

presente em suas regulações. Tais exigências, se não presentes nas Políticas, estão

no cotidiano profissional.

1.2 A FAMÍLIA E SUA RELAÇÃO COM O ESTADO E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

A primeira regulação sobre a obrigação do Estado no âmbito da Família está

prevista na Constituição Federal de 1934, com um capítulo específico, mas trata

apenas da proteção do Estado em relação ao casamento e à filiação.

Art. 144 - A família, constituída pelo casamento indissolúvel, está sob a proteção especial do Estado. Parágrafo único - A lei civil determinará os casos de desquite e de anulação de casamento, havendo sempre recurso ex officio, com efeito suspensivo. Art. 145 - A lei regulará a apresentação pelos nubentes de prova de sanidade física e mental, tendo em atenção às condições regionais do País. Art. 146 - O casamento será civil e gratuita a sua celebração. O casamento perante ministro de qualquer confissão religiosa, cujo rito não contrarie a ordem pública ou os bons costumes, produzirá, todavia, os mesmos efeitos que o casamento civil, desde que, perante a autoridade civil, na habilitação dos nubentes, na verificação dos impedimentos e no processo da oposição sejam observadas as disposições da lei civil e seja ele inscrito no Registro Civil. O registro será gratuito e obrigatório. A lei estabelecerá penalidades para a transgressão dos preceitos legais atinentes à celebração do casamento. Parágrafo único - Será também gratuita a habilitação para o casamento, inclusive os documentos necessários, quando o requisitarem os Juízes Criminais ou de menores, nos casos de sua competência, em favor de pessoas necessitadas. Art. 147 - O reconhecimento dos filhos naturais será isento de quaisquer selos ou emolumentos, e a herança, que lhes caiba, ficará sujeita, a impostos iguais aos que recaiam sobre a dos filhos legítimos. (BRASIL, 1934)

Page 29: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

29

Ainda nessa Constituição Federal, outro capítulo, intitulado Ordem

Econômica e Social, cita novamente a família e propõe como responsabilidades do

Estado cuidar da higiene mental e lutar contra os venenos sociais, reservando-lhe

funções genéricas e subsidiárias, além de atenções focalizadas.

Art. 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas: a) assegurar amparo aos desvalidos, criando serviços especializados e animando os serviços sociais, cuja orientação procurarão coordenar; b) estimular a educação eugênica; c) amparar a maternidade e a infância; d) socorrer as famílias de prole numerosa; e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual; f) adotar medidas legislativas e administrativas tendentes a restringir a mortalidade e a morbidade infantis; e de higiene social, que impeçam a propagação das doenças transmissíveis; g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais. (BRASIL, 1934 - grifo nosso)

Nesse mesmo capítulo, ao regular as relações de trabalho, estabelece o que

nos parece reforçar o caráter feminino e caridoso do cuidado com a família:

Art. 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País. [...] § 3º - Os serviços de amparo à maternidade e à infância, os referentes ao lar e ao trabalho feminino, assim como a fiscalização e a orientação respectivas, serão incumbidos de preferência a mulheres habilitadas. (BRASIL, 1934 - grifo nosso)

A Carta Magna de 1934, no que compete à legislação trabalhista, é bastante

progressista, muito em razão do momento político-econômico e do intenso

movimento dos trabalhadores, mas não no que se refere à proteção social,

revelando um caráter meramente assistencialista. A partir daí, seguiram-se as

Constituições Federais de 1937, 1946, 1967 e 1969, sem nenhuma novidade quanto

ao tema, mantendo a redação tradicional. Há de se destacar que, nesse período,

tivemos a instituição de sistemas contributivos de proteção social pelas Caixas de

Page 30: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

30

Aposentadorias e Pensões, mas reservando a atenção não às famílias, mas à

sociedade civil, especialmente as instituições religiosas.

A Constituição Federal de 1969, que teve sua vigência até a moderna

Constituição Federal de 1988, foi instituída sob o regime militar e, apesar do período

de desenvolvimento econômico – também cerceamento das liberdades e

perseguição político-ideológica –, refletia os padrões moralizadores estabelecidos

para as famílias, não inovando no tema e limitando-se a regular o casamento. Em

relação à legislação infraconstitucional, vigorou por todo o período o Código Civil de

1916, até sua revogação pelo Novo Código Civil de 2002. Também vigorou o Código

de Menores, em sua versão de 1926, com reformulação em 1979.

O Código Civil de 1916 trazia em seu conjunto de regras o modelo patriarcal

de sociedade conjugal, com a submissão da mulher ao marido e a objetiva

diferenciação entre filhos legítimos e ilegítimos, além de rigorosas normas para

adoção. Regulava a administração dos bens do matrimônio, sua divisão e

transmissão, de forma tradicional. Previa o Código Civil de 1916:

Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts. 240, 247 e 251). Compete-lhe: I - A representação legal da família II - a administração dos bens comuns e dos particulares da mulher que ao marido incumbir administrar, em virtude do regime matrimonial adotado, ou de pacto, antenupcial (arts. 178, § 9º, nº I, c, 274, 289, nº I e 311); III - o direito de fixar o domicílio da família ressalvada a possibilidade de recorrer a mulher ao Juiz, no caso de deliberação que a prejudique IV - prover a manutenção da família, guardadas as disposições dos arts. 275 e 277 [...] Art. 240 - A mulher, com o casamento, assume a condição de companheira, consorte e colaboradora do marido nos encargos de família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta. (BRASIL, 1916)

Tais dispositivos somente foram alterados a partir da igualdade estabelecida

na Constituição Federal de 1988.

Por sua vez, o Código de Menores de 1926, alterado em 1979, vigorou até a

aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, e tratou da

responsabilização da família e do poder do Estado para punir condutas

Page 31: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

31

consideradas irregulares dos pais e dos “menores delinquentes e carentes”, se

referindo especificamente a “menores em situação irregular” – ou seja, em situação

de ausência de condições de sobrevivência e de condições morais – e com desvio

de conduta. Assim, o Estado cuidava dos chamados “menores” por caridade ou

punição, já que a situação irregular causava pena ou medo na sociedade.

Art. 1º Este Código dispõe sobre assistência, proteção e vigilância a menores: I - até dezoito anos de idade, que se encontrem em situação irregular; II - entre dezoito e vinte e um anos, nos casos expressos em lei. Parágrafo único - As medidas de caráter preventivo aplicam-se a todo menor de dezoito anos, independentemente de sua situação. Art. 2º Para os efeitos deste Código, considera-se em situação irregular o menor: I - privado de condições essenciais à sua subsistência, saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de: a) falta, ação ou omissão dos pais ou responsável; b) manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las; Il - vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável; III - em perigo moral, devido a: a) encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes; b) exploração em atividade contrária aos bons costumes; IV - privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável; V - Com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária; VI - autor de infração penal. (BRASIL, 1926 - grifo nosso)

Dessa forma, em breve análise, nota-se que todas as legislações citadas

tratam do tema família em dois aspectos: um relacionado aos direitos e obrigações

do casamento, marcados por parâmetros tradicionais, de indissolubilidade, e com

papéis definidos entre homens e mulheres, tendo a mulher papel subsidiário em

relação ao homem; e outro, especialmente o Código de Menores, tendo em vista a

responsabilização da família nos casos de “abandono” ou de incapacidade, inclusive

econômica.

No período de vigência do Código de Menores, foram estruturados o

Departamento Nacional da Criança (1940) e o Serviço de Assistência a Menores

(1941), com o objetivo de dispor uma orientação nacional às práticas de assistência

Page 32: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

32

e controlar as instituições públicas e particulares que realizavam serviços nessa

área. O SAM foi substituído pela Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor

(FUNABEM), no ano de 1964, já sob a vigência do regime militar. Nos estados,

foram criadas as FEBEMs (Fundações Estaduais de Bem-Estar do Menor). A

FUNABEM teve por finalidades instituir a Política Nacional do Bem-Estar do Menor,

promover estudos sobre o problema da infância para a elaboração de propostas e

coordenar, fiscalizar e dar orientação às entidades assistenciais (Lei Federal nº

4.513 de 1º de dezembro de 1964).

A Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor tinha uma função reguladora,

mais do que executiva e propositiva. Cuidava da regulação e incentivo da sociedade

à causa do “menor”, sem, no entanto, cuidar da proteção social das famílias. Todas

essas leis reafirmaram o caráter punitivo e moralista das ações do Estado na área

em questão e se omitiram quanto à proteção às famílias.

Observa-se, desse modo, a ausência do tema Família na legislação anterior

à Constituição Federal de 1988. Esta estabeleceu as diretrizes da cidadania e a

garantia dos direitos, colocando a família no centro das responsabilidades do Estado

e indicando, assim, a necessidade de nova legislação e Políticas Públicas capazes

de assegurar o acesso aos Direitos Sociais e a proteção à Família, com especial

atuação do Estado.

O período pós-Constituição inaugurou novos caminhos para o cuidado com

as famílias, sendo que, a partir dela, várias leis trataram do reconhecimento das

unidades familiares, incluindo as famílias monoparentais e aquelas constituídas a

partir de União Estável. Não se avançou, no entanto, quanto às uniões

homoafetivas, que somente voltam ao debate após mais de 20 anos da promulgação

da Constituição Federal.

Assim, a Constituição Federal trata do conceito de família, ainda que com

recortes setoriais de proteção, reconhecendo a União Estável e a obrigação do

Estado na implantação de Políticas Públicas de atenção, com aplicação de recursos

públicos. A carta magna rompe ainda com dois pilares que tradicionalmente

sustentaram a estrutura da família até então: a chefia da família, delegada ao

homem, e a diferenciação entre filhos legítimos e ilegítimos, estabelecendo a

igualdade entre homens e mulheres na sociedade conjugal, e colocando em

igualdade de condições filhos havidos dentro ou fora do casamento, inclusive por

adoção.

Page 33: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

33

Embora longa, justifica-se a citação a seguir, dos parágrafos 226 a 230 da

Constituição Federal, por tratar da família, que constitui objeto central da presente

pesquisa.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 66, de 2010) § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem, admitida a participação de entidades não governamentais, mediante políticas específicas e obedecendo aos seguintes preceitos: (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência materno-infantil; [...] VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) § 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.

Page 34: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

34

§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros. § 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. § 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se- á em consideração o disposto no art. 204. § 8º - A lei estabelecerá: (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) I - o estatuto da juventude, destinado a regular os direitos dos jovens; (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) II - o plano nacional de juventude, de duração decenal, visando à articulação das várias esferas do poder público para a execução de políticas públicas. (Incluído Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) [...] Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida. § 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares. § 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. (BRASIL, 1988a)

Apesar dos avanços, muito ainda se mantém de concepções neoliberais,

quando observamos a formalização dos direitos, por meio das leis, e a implantação

das Políticas Públicas. A começar pela redação da Constituição Federal e legislação

infraconstitucional, que permite dupla interpretação na ordem de responsabilidades

quando afirma que "é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar [...]",

podendo-se atribuir ao Estado responsabilidade subsidiária, devendo agir quando da

ausência da família e da sociedade.

Passamos a uma breve análise das principais leis infraconstitucionais que

tratam do tema família e suas regulações em direitos e deveres. O Código Civil de

2002, lei que regula as relações civis e patrimoniais na sociedade, se atualiza a

partir dos preceitos constitucionais e renova seus parâmetros no que diz respeito à

igualdade entre homens e mulheres, à União Estável – já anteriormente reguladas

por leis ordinárias – e à igualdade entre os filhos nascidos ou não no casamento ou

por adoção. Porém, ainda com lacunas, não avança nas relações homoafetivas ou

outras formas de organização de unidades familiares, mantendo padrões formais de

reconhecimento.

Page 35: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

35

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração. Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da lei. Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família. Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. Art. 1.515. O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração. Art. 1.516. O registro do casamento religioso submete-se aos mesmos requisitos exigidos para o casamento civil. § 1o O registro civil do casamento religioso deverá ser promovido dentro de noventa dias de sua realização, mediante comunicação do celebrante ao ofício competente, ou por iniciativa de qualquer interessado, desde que haja sido homologada previamente a habilitação regulada neste Código. Após o referido prazo, o registro dependerá de nova habilitação. § 2o O casamento religioso, celebrado sem as formalidades exigidas neste Código, terá efeitos civis se, a requerimento do casal, for registrado, a qualquer tempo, no registro civil, mediante prévia habilitação perante a autoridade competente e observado o prazo do art. 1.532. § 3o Será nulo o registro civil do casamento religioso se, antes dele, qualquer dos consorciados houver contraído com outrem casamento civil. (BRASIL, 2002)

E quanto à União Estável:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável. Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos. Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.

Page 36: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

36

Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato. (BRASIL, 2002)

Outras leis também definiram os modelos de família reconhecidos. Entre

elas, o Estatuto da Criança e do Adolescente inclui o Estado no dever de cuidado,

mas versa acerca da efetivação de direitos e do papel da família a partir da mesma

ordem vista na Constituição Federal, dando margem à interpretação de

responsabilidades consecutivas e excludentes, e não solidárias, modelo que se

repete no Estatuto do Idoso.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. (ECA, 1990)

O ECA define ainda o conceito de família:

Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público, qualquer que seja a origem da filiação. Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes. Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça. (BRASIL, 1990)

Para Sarti (2011), o ECA dessacraliza a família a ponto de introduzir a ideia

da necessidade de se proteger legalmente a criança contra seus próprios familiares,

ao mesmo tempo que reitera a convivência familiar como um direito básico dessas

Page 37: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

37

crianças e adolescentes. Essa nova concepção muito difere daquela segundo a qual

a família “pobre” seria penalizada pelo Estado por “não cuidar”8 dos seus filhos – às

famílias eram garantidos todos os direitos sob seus membros, inclusive o de

castigar, não se reconhecendo nesse ato uma violação, mas sim um direito da

família, parte de sua função.

Melhor reconhecimento em relação à unidade familiar, inclusive de pessoas

esporadicamente agregadas, se deu na aprovação da Lei Maria da Penha, que hoje

estende sua interpretação à união homoafetiva para efeitos de violência doméstica:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de violação dos direitos humanos. (BRASIL, 2006 - grifo nosso)

Já a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, de 1993, não trouxe

originalmente o conceito de família ou a diretriz da Matricialidade Sociofamiliar,

inserida pela primeira vez na PNAS de 1998, repetida pela PNAS em 2004. A LOAS

somente tratou do conceito de família para efeito de concessão do BPC,

emprestando conceitos da Lei Orgânica da Previdência Social, Lei 8.213, de 24 de

julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefícios da Previdência Social.

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de dependentes do segurado: I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental

8 A legislação e a atenção ofertada às crianças e adolescentes entendiam a pobreza e a falta de

condições materiais como motivos para se caracterizar maus-tratos por parte da família.

Page 38: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

38

que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011) II - os pais; III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental que o torne absoluta ou relativamente incapaz, assim declarado judicialmente; (Redação dada pela Lei nº 12.470, de 2011) § 1º A existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações os das classes seguintes. § 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho mediante declaração do segurado e desde que comprovada a dependência econômica na forma estabelecida no Regulamento. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997) § 3º Considera-se companheira ou companheiro a pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226 da Constituição Federal. § 4º A dependência econômica das pessoas indicadas no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada. (BRASIL, 1991a)

A LOAS define família a partir de um conceito tradicional, tendo como regra

vínculos formais de estado civil e parentesco, não considerando a diversidade na

composição das famílias e impondo responsabilidades diretas a elas à medida que

restringe o acesso ao Direito do idoso ou pessoa com deficiência de acordo com a

renda familiar.

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. § 1º Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

Somente trazem melhor conceito de família a PNAS (BRASIL, 2004a),

definindo-a como o “conjunto de pessoas unidas, seja por laços consanguíneos, seja

por laços afetivos e/ou de solidariedade”, e a Norma Operacional Básica de 2005

(BRASIL, 2005a), que faz uma recomendação quanto ao entendimento de família:

Page 39: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

39

Para a proteção social de assistência social o princípio de matricialidade sociofamiliar significa que: a família é o núcleo social básico de acolhida, convívio, autonomia, sustentabilidade e protagonismo social; a defesa do direito à convivência familiar na proteção de assistência social supera o conceito de família como unidade econômica, mera referência de cálculo de rendimento per capita e a entende como núcleo afetivo, vinculada por laços consangüíneos, de aliança ou afinidade, onde os vínculos circunscrevem obrigações recíprocas e mútuas, organizadas em torno de relações de geração e de gênero (BRASIL, 2005a, p.16 - grifo nosso)

Em relação à ordem de responsabilidade já apontada anteriormente, cabe

destacar a redação da mais recente Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com

Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), lei nº 13.146, de 6 de julho de

2015, que, de maneira intencional ou não, inverte a redação em seu artigo 8º,

colocando o Estado em primeiro lugar:

Art. 8o É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Torna-se importante essa análise, se considerarmos que a legislação

representa, na maioria das vezes, a vontade da classe dominante, que exerce o

Poder, legitimada pelo Estado, responsável pelas Políticas Públicas. A lei tem ainda,

por sua vez, aplicabilidade interpretativa, por ter o Direto como fonte secundária os

costumes. Sendo assim, será aplicada a partir da percepção e convencimento de

quem a analisa ou, como define a Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro,

Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. (BRASIL, 2002)

Page 40: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

40

As políticas sociais não apontam para melhores perspectivas. Muitas vezes,

os destacados avanços alcançados pela recente legislação ficam comprometidos na

sua regulamentação, e os critérios impostos na operacionalização dos Direitos

violam os próprios Direitos previstos em lei. Observa-se assim que a lei inova na

garantia, mas por vezes os critérios de operacionalização da política ou

interpretação da lei limitam o direito conquistado. Daí a necessidade de cada vez

mais garantirmos uma legislação social detalhada, pois ela é que garante a

exigibilidade do Direito, ainda que em condições adversas em relação aos Poderes.

No que diz respeito ao tema Família, há de se ressaltar que, na contramão

dos avanços, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 6.583/2013, que trata

do Estatuto da Família. O dispositivo representa um retrocesso no conceito e

definição de núcleo familiar, hoje já bastante avançado, especialmente no

reconhecimento dos Tribunais em sua jurisprudência e na aplicação das Políticas

Públicas, a exemplo do reconhecimento das uniões homoafetivas e do núcleo

familiar ampliado para efeito de inclusão nos programas federais, por meio do

Cadastro Único, se sobressaindo o Bolsa Família, previsto na lei no 10.836, de 9 de

janeiro de 2004, e suas alterações:

Art. 2o Constituem benefícios financeiros do Programa,

observado o disposto em regulamento: [...] § 1o Para fins do disposto nesta Lei, considera-se: I - família, a unidade nuclear, eventualmente ampliada por outros indivíduos que com ela possuam laços de parentesco ou de afinidade, que forme um grupo doméstico, vivendo sob o mesmo teto e que se mantém pela contribuição de seus membros;

Ao contrário, o Projeto de Lei que cria o Estatuto da Família considera, para

efeito de proteção do Estado, a família assim definida:

[...] núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda por comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

Page 41: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

41

1.3 A ASSISTÊNCIA ÀS FAMÍLIAS E A ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Tradicionalmente, a família sempre foi o foco da atenção na atuação do

Serviço Social, porém de maneira fragmentada. Ou seja, cada integrante da unidade

familiar era visto de forma individualizada, descontextualizada, portador de um

problema e destinatário de uma política específica para sua condição, sem

considerar o todo. Ademais, as práticas educativas sempre buscaram solucionar

problemas “morais e religiosos” das famílias, culpando-as por sua situação. Dessa

forma, as ações eram direcionadas às soluções individuais dos problemas

apresentados. Ocorria assim um “policiamento” das famílias, de forma a possibilitar

seu enquadramento na sociedade.

Atuando na direção do “indivíduo-problema”, e com metodologias

disciplinadoras e moralistas, colocava as famílias na condição de responsáveis

individualmente por suas fragilidades e pela atenção aos seus membros. Elas

sofriam então a intervenção do Estado, que em regra promovia o rompimento da

convivência familiar e comunitária, com o afastamento de seus membros, em geral

crianças e adolescentes, em razão da incapacidade econômica para promover

condições dignas de sobrevivência. O Estado, nessa perspectiva, sempre atuou de

forma subsidiária.

Conforme nos ensinam Bonetti, Carvalho, Sposati e Yazbek (2014), até

1930, as vulnerabilidades não eram entendidas como questão social. A pobreza era

tratada como disfunção individual, não se relacionava com a questão econômica, e,

dessa forma, se caminhava para a promoção individual das pessoas. Os pobres

eram tratados como grupos especiais, de responsabilidade das ações de

assistência. O Serviço Social foi implantado no Brasil já com esse caráter de

preocupação do Estado na atenção aos pobres, tornando estatais as ações

assistenciais.

Após a instituição do sistema de previdência social, em 1923, com a

aprovação da Lei Eloy Chaves, a primeira grande instituição pública no Brasil

voltada para a atenção àqueles excluídos dessa proteção foi a LBA, em 1942,

fundada tendo como função principal promover ações de assistência social.

Administrada pelas primeiras-damas, “reconhecida como órgão de cooperação com

o Estado no tocante a tais serviços”, foi criada pelo Decreto-Lei 593 de 1969, que

prevê:

Page 42: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

42

Art. 1º Fica o Poder Executivo autorizado a instituir uma fundação, vinculada ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, com o objetivo de prestar assistência à maternidade, à infância e à adolescência, através da família desprovida de recursos, mediante o estudo das realidades médico-sociais, periódica e metódicamente apuradas. § 1º A assistência de que trata o artigo será prestada prioritàriamente àqueles que não sejam protegidos por outro sistema de assistência.

De acordo com as mesmas autoras,

[...] são chamadas de Assistência Social as atividades de pronto-socorro, ou seja, as de ajuda material ou financeira destinadas às populações com problemas agudos de subsistência, em geral procedidas por voluntários ou auxiliares sociais. (BONETTI et al., 2014)

Ao lado das ações do Estado, algumas organizações vinculadas ao

empresariado são criadas, como o SENAI e o SESI, de forma a pacificar a relação

com os trabalhadores.

Ao assumir as ações de assistência, o Estado passa a garantir orçamento

público para elas, mas, ideologicamente consideradas despesas, há forte controle

sobre os gastos, para não haver desperdício do dinheiro público. Somente a partir

da Constituição Federal de 1988 a Assistência Social é reconhecida como política

pública, de responsabilidade do Estado, e passa a exigir dos profissionais o

desenvolvimento de habilidades para atuar nas contradições do capitalismo –

desemprego, trabalho precário, moradia nas ruas ou em condições insalubres,

violência doméstica, drogas e outras tantas questões relacionadas às desproteções

de diversas naturezas –, não obstante a fragilidade das políticas sociais setorizadas

e seletivas.

Os direitos sociais, negados durante muito tempo e garantidos na

Constituição Federal, expressam hoje uma contradição, uma vez que, assegurados

legalmente, são enfraquecidos e enfrentam gestões sociais de caráter neoliberal,

que estimulam o paternalismo estatal e violam direitos individuais. Exemplo disso

pode ser observado no debate em relação às políticas afirmativas e de transferência

de renda, questionadas sob a alegação de promover desigualdades e privilégios, e

de que os mais necessitados também precisam empreender mais esforços na

garantia de seus direitos. Dessa forma, os direitos sociais são assegurados de modo

Page 43: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

43

racionado e mediante diversas e expositivas formas de constatação de sua

necessidade.

Diante disso, a atuação profissional com famílias que se encontram em

situação de vulnerabilidade e risco exige do profissional a compreensão dessa

realidade e a transição da esfera privada para a pública, atuando nas dimensões

econômica e política, geradoras das expressões da questão social, definida assim

por Yazbek (2008, p.16):

A questão social, portanto, resulta da divisão da sociedade em classes e da disputa pela riqueza socialmente gerada, cuja apropriação é extremamente desigual no capitalismo. Supõe, desse modo, a consciência da desigualdade e a resistência à opressão por parte dos que vivem de seu trabalho. [...] Analisar a questão social hoje permite que nos defrontemos com novas e velhas questões, são os “novos pobres” e a pobreza estrutural de sempre. São enfim situações de desigualdade, pobreza e vulnerabilidade, exclusão e subalternidade com múltiplas faces, com as quais convivemos cotidianamente, como: o desemprego, a falta de trabalho, a violência doméstica da qual são vítimas mulheres, crianças, adolescentes, idosos; a droga, a AIDS, a discriminação por questões de gênero e etnia, a moradia na rua ou em habitações precárias e insalubres, as crianças e os adolescentes sem proteção, os doentes mentais, as dificuldades dos portadores de deficiência, o envelhecimento sem recursos, a fome e a alimentação insuficiente e outras tantas questões e temáticas relativas a uma forma de pertencimento social. Colocar a Questão Social como tema permite também refletir sobre os caminhos para enfrentá-la, sem esquecer, e essa é uma nota de esperança nesse quadro, que a reprodução ampliada da questão social é a reprodução ampliada das contradições sociais, e que não há rupturas no cotidiano sem resistência, sem enfrentamentos, e que se a intervenção das Políticas Sociais se efetiva e circunscreve um terreno de disputa, é aí que está o desafio de construir as mediações capazes de articular a vida social das classes subalternas com o mundo público dos direitos e da cidadania.

A qualificação dos profissionais para essa atuação é importante, uma vez

que as principais diretrizes da Política de Assistência Social não parecem tão claras

quanto à atuação profissional. As situações apresentadas nos desafiam. É preciso

dialogar com as demais Políticas Públicas e instituições de poder, de forma a afirmar

as competências da Política de Assistência Social. É necessário superar a pretensa

neutralidade pela criticidade, a fim de construir de fato um sistema de proteção

social não contributiva.

Page 44: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

44

Os valores e a postura do profissional diante das situações que se

apresentam podem ser determinantes na condução dos processos de emancipação

e na garantia dos direitos. Princípios éticos na atuação profissional definem a

adequada acolhida ao usuário e, como se pode perceber, na relação com a

sociedade e a família, que deve ser igualmente cuidada. A família estará sempre

presente, ainda que em sua ausência, pois se trata de uma referência na

subjetividade das pessoas. Há um sentido de família para cada um, a partir de suas

vivências. O modelo é determinado pela realidade, e não por padrões construídos. E

será nesse modelo que as relações de afeto e proteção se fortalecerão.

Ademais, olhar para o coletivo é a maneira de fazer a leitura da realidade a

partir das dinâmicas sociais que a determinam, sendo a aproximação com o território

fundamental, pois é no cotidiano que se estrutura a identidade dos sujeitos – e seu

fortalecimento depende da ação nesse espaço. Não se constrói proteção somente

no interior da família, pois, de forma geral, a desproteção também não foi construída

exclusivamente nesse espaço. Portanto, as ações articuladas e em rede são que

garantem o sucesso da intervenção.

No entanto, a rotina profissional, comprometida pela fragilização dos

vínculos de trabalho e pela redução da presença do Estado nas políticas sociais,

também é um fator de comprometimento da atuação, refletindo-se nas interações

com os usuários, colocando o profissional em ações extremamente burocratizadas,

em detrimento de relações mais pessoais e humanas. Mioto (2004) analisa a

fragilidade da atuação profissional do assistente social no trabalho com famílias,

podendo ser estendida aos demais trabalhadores sociais:

Apesar de sua longa tradição no trato com famílias e do aprofundamento da discussão teoricometodológica e eticopolítica, ocorrida no Serviço Social nas últimas décadas, a ação dos assistentes sociais continua sendo considerada muito aquém das exigências que lhes estão sendo colocadas. Essas exigências estão relacionadas à necessidade de consolidação do atual projeto eticopolítico da profissão, de qualificação das ações profissionais nessa área, além da afirmação do espaço do Serviço Social num campo cada vez mais disputado por outras profissões. (MIOTO, 2004, p.2)

O profissional precisa ter a capacidade de compreender e articular uma rede

de proteção, olhando para a realidade econômica, as condições concretas de

acesso aos Direitos e demais Políticas Públicas, a proteção primária de que dispõe e

Page 45: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

45

a organização de seu território. A partir disso, deve construir um projeto de

intervenção para cada família, incluindo metodologias grupais, individuais e em rede,

criando vínculos e referências no serviço, tendo como principal eixo a garantia dos

Direitos, muitas vezes em contradição com as exigências institucionais.

Além da fragilização nos vínculos e da qualificação profissional, já

apontados, há de se considerar a precarização e a ausência de condições objetivas

de trabalho, os quadros de recursos humanos insuficientes para as demandas

existentes, bem como as exigências institucionais, que levam, na maioria das vezes,

ao imediatismo na ação profissional. Ações fragmentadas e pontuais estão

presentes em um cotidiano profissional repleto de contradições e se dão tanto pela

postura profissional – que, diluída nesse cotidiano, não permite um planejamento de

ações coletivas e estruturantes – como pela cobrança de gestores e demais

profissionais da rede por uma resposta imediata a demandas urgentes que se

colocam à frente do profissional, visando dar respostas superficiais às demandas

institucionais.

Heller (2014, p.57) muito bem define o cotidiano como esfera de alienação:

[...] de todas as esferas da realidade, é aquela que mais se presta à alienação. Na cotidianidade, parece “natural” a degradação, a separação de ser e essência. Na coexistência e sucessão heterogêneas das atividades cotidianas, não há por que revelar-se nenhuma individualidade unitária; o homem devorado por e em seus “papeis” pode orientar-se na cotidianidade através de simples cumprimento adequados desses “papéis”.

Assim parece ocorrer, na medida em que os profissionais, absorvidos por

suas tarefas cotidianas, não conseguem ultrapassar a linha entre a rotina e a

intervenção crítica, caindo em processos de repetição, em que as ações passam a

ser realizadas por semelhança a tantas outras, sem que se possa apontar uma ação

transformadora e emancipatória. A condição de trabalhadores assalariados muitas

vezes os submete ao cumprimento de tarefas alheias ou até contraditórias em

relação à sua formação profissional e à própria Política de Assistência Social. E,

com pouca articulação política e de fortalecimento da categoria profissional, o

assistente social mantém-se isolado em seu espaço sócio-ocupacional.

Page 46: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

46

Outro fator que merece destaque diz respeito à quase inexistente de

formação continuada da categoria, afastando o profissional da dimensão teórico-

metodológica e o aproximando da dimensão técnico-operativa, que é o espaço em

que a profissão se concretiza, um campo frágil que favorece a execução de ações

repetitivas, por vezes exigidas pelo próprio volume burocrático e de procedimentos

impostos pelas Políticas Públicas. Essa condição no exercício profissional, além de

não permitir que o assistente social desenvolva sua ação de forma a atender um

projeto oficial, cria uma imagem equivocada da profissão, tornando a atuação frágil

em relação às demais Políticas Públicas e em relação ao usuário, que não

reconhece o sistema de proteção social, não ocorrendo o empoderamento da

profissão de Assistente Social e da Política Pública.

Page 47: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

47

CAPÍTULO II – O SUAS - SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

E A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR

2.1 A REGULAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E A DIRETRIZ DA

MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR

A Constituição Federal de 1988, chamada Constituição Cidadã, garante

direitos fundamentais e sociais como responsabilidade pública estatal e fixa a

Assistência Social no campo da Seguridade Social. Ishikawa, Mantovan, Nascimento

e Quinonero (2013) apontam que, para regulamentar o texto constitucional, no ano

de 1993, foi promulgada a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS, que instituiu a

Assistência Social como um direito social não contributivo e estabeleceu princípios e

diretrizes, bem como a proteção social a ser garantida por meio de serviços e

benefícios, detalhando posteriormente em outras regulações: a primeira Política

Nacional de Assistência Social de 1998 e duas Normas Operacionais Básicas,

editadas em 1997 e 1998.

Análise realizada pelos autores observa que:

Durante este período, observa-se que, embora a Constituição Federal de 1988 tenha estabelecido a assistência social como política pública não contributiva, resistia à concepção que a tratava como área de transição de atenções, operando sob a ótica da negação do direito, que num viés conservador e neoliberal, o Estado atuava a partir do princípio da subsidiariedade. (ISHIKAWA et al., 2013, p.48)

É de se lembrar que, nesse período, foi criado pela presidência da República

o Programa Comunidade Solidária, coordenado pela então primeira-dama Ruth

Cardoso, cujos princípios se contrapunham a fortalecer a responsabilidade estatal

pela assistência social como direito social, representando um retrocesso na Política

Pública.

O Sistema Único da Assistência Social - SUAS foi instituído com a

aprovação da Política Nacional de Assistência Social - PNAS de 2004 e da Norma

Operacional Básica - NOB/2005, e “a política alcança avanços que marcaram a sua

implementação” (ISHIKAWA et al., 2013). De Política de Governo, por importante

evolução normativa, a Assistência Social se fortalece como Política de Estado com a

Page 48: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

48

promulgação da Lei 12.435 de 2011, que alterou a LOAS, instituindo o SUAS na

legislação nacional, uma vez que operava desde 2004 sem a exigência legal.

Essa condição foi adensada com a aprovação da NOB/2012, que

estabeleceu instrumentos de aprimoramento de gestão do SUAS e de qualificação

da oferta de serviços, sob a ótica do planejamento e monitoramento, avançando na

função de vigilância socioassistencial, no aperfeiçoamento da definição das

responsabilidades dos entes federados e no controle e participação social.

(ISHIKAWA et al., 2013)

Sposati argumenta que:

A inclusão da Assistência na Seguridade Social foi uma decisão plenamente inovadora. Primeiro, por tratar esse campo como conteúdo da política pública, de responsabilidade estatal, e não como uma nova ação, com atividades e atendimentos eventuais. Segundo, por desnaturalizar o princípio da subsidiariedade, pela qual a função da família e da sociedade antecedia a do Estado. [...] Terceiro por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais. (SPOSATI, 2009, p.14)

De acordo com a mesma autora, a Assistência Social, como política de

Estado no Brasil, apresenta “uma regulação social tardia e frágil na efetivação dos

direitos sociais, principalmente pela vivência de processos ditatoriais agravados pela

sua duração e travamento da maturação democrática da sociedade” (SPOSATI,

2005, p.08). Assim, a Assistência Social, como política de Seguridade Social, está

estruturada por um conjunto de normas e regras que visam a implementação e

operacionalização, ou seja, o provimento da proteção social a partir de dispositivos

legais e um conjunto de princípios e diretrizes. Num Estado Democrático de Direito,

os princípios são tomados como uma aproximação entre o direito e a ética, no caso,

ética pública na política social.

Ao analisarmos o processo de evolução histórica da Política de Assistência

Social a partir da Constituição Federal e sua formatação em outro marco normativo,

isto é, na LOAS, constata-se que a diretriz da primazia da responsabilidade do

Estado e o comando único das ações em cada esfera de governo são referendados.

Na PNAS/2004 esses princípios se alargam ao incluir a matricialidade na família

para concepção de serviços, projetos, programas e benefícios.

Page 49: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

49

A diretriz relacionada à matricialidade familiar estabelecida na PNAS/2004

para concepção e implantação de benefícios e serviços traduz a importância da

família no contexto da vida social, conforme também afirmado na Constituição

Federal quando institui que a “família, base da sociedade, tem especial proteção do

Estado”. A PNAS/2004 conceitua família referindo-se a grupos de pessoas com

laços consanguíneos e/ou alianças/afinidades, cujo vínculo circunscreve obrigações

recíprocas, estando respaldada em torno das relações de gênero e de geração,

sendo o lócus primário de socialização, aprendizagem e desenvolvimento de

capacidades humanas. Reconhece as fortes pressões que os processos de

exclusão sociocultural geram nas famílias, acentuando suas fragilidades e

contradições, mas também as assinala como espaço privilegiado e insubstituível de

proteção e socialização primária, provedoras de cuidados aos seus membros, que

precisam ser protegidos, bem como ter suas potencialidades incentivadas.

Essa concepção supera o modelo tradicional de família como o modelo

“padrão”, unidade idealizada, mesmo porque temos hoje um universo familiar

expressamente variado. Ou seja, como um pilar do SUAS, a Política Nacional de

Assistência Social enfoca a família em seu contexto sociocultural e em sua

totalidade.

A matricialidade sociofamiliar prevista no âmbito da Política de Assistência

Social aponta para a construção de uma política pública de direitos, dever do

Estado, mas expõe aos profissionais o desafio de não assumirem práticas

conservadoras nesse exercício, buscando nas famílias a solução individual para

suas dificuldades, como resultado do comportamento de seus membros. Os serviços

de atenção à família devem objetivar a alteração das condições de vida dela como

um todo, e não de seus membros individualmente, de forma fragmentada, assim

como devem ter a família e o contexto em que vive como referência na implantação

do serviço. Para tanto, é necessária a ação do Estado de forma a oferecer a

proteção social devida, com políticas sociais integradas e articuladas, que

reconheçam que a família provê cuidados, mas precisa ser protegida.

Segundo Mioto (2011, p.115),

A questão da centralidade da família que aparece no SUAS, é, portanto, fundamental para resgatar a necessidade de olhar as relações sociais em sua totalidade. Implica também em não deixar que essa totalidade se esgote na família, porque ela

Page 50: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

50

está num dado contexto social e expressa os conflitos da sociedade na qual está inserida. Portanto, os problemas que eclodem no seu seio não dizem respeito somente a ela.

Para garantir a convivência familiar e fortalecê-la para seu papel de

proteção, são necessários serviços que possam substituir parte das funções da

família, e não somente atribuir a ela as responsabilidades socialmente impostas.

O trabalho matricial com as famílias exige o enfrentamento das expressões

da questão social de forma integrada aos serviços socioassistenciais, garantindo

direitos e proteção social e superando metodologias de caráter moralista e

disciplinador que pretendem intervir nas formas de pensar da família.

2.2 O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS

A diretriz da matricialidade sociofamiliar no âmbito do SUAS retoma o debate

sobre o trabalho social com famílias, nos colocando diante de questionamentos

como: Que trabalho é esse? Para que se faz esse trabalho? Qual a finalidade?

Quais as metodologias? O que e como fazer? Seria esse trabalho mais um

instrumento de manutenção das relações sociais já estabelecidas e reprodução da

classe trabalhadora ou teria por finalidade a emancipação das famílias e a

construção de sua autonomia?

Por outro lado, os conceitos de emancipação e autonomia, como

percebemos no cotidiano do trabalho, são também interpretados de forma mais

conservadora. Não raro a autonomia e a emancipação, frequentemente abordadas

entre os profissionais, restringem-se à possibilidade de acesso da família ao

mercado, por meio do trabalho remunerado. Ou seja, construir a autonomia da

família pode representar meramente sua (re)colocação no mercado de trabalho, se

encerrando assim o papel da Política Pública de Assistência Social.

Para nós parece que o trabalho social com famílias deve ter por finalidade o

enfrentamento e a superação das situações de risco que se apresentam, o

enfrentamento da questão social que invade e compromete a vida digna das

famílias. Há de se analisar em que sociedade vivemos e de que família falamos, sob

pena de fortalecer metodologias de trabalho já existentes de segregação de classes

e territórios.

Page 51: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

51

O trabalho social, diferentemente das ações fragmentadas, das de caráter

dispensarial e de benefícios específicos, tem caráter relacional e deve ser

desenvolvido de forma integral e interdisciplinar. De responsabilidade pública, na

expressão contraditória que é peculiar às políticas sociais, busca garantir o acesso

dos cidadãos aos bens e serviços produzidos na sociedade. Reforçamos esse cunho

contraditório porque, ao longo da história, tem persistido o conservadorismo e

clientelismo na ação do Estado, que, de forma tutelar, não permite a autonomia e o

protagonismo dos cidadãos, construindo fortemente uma relação de benemerência e

favor, e não a do Direito, gerando uma “representação” desse cidadão por alguém

considerado mais bem preparado para identificar suas necessidades, por vezes o

trabalhador social.

Para Mioto (2010, p.169),

Pensar em trabalho com famílias é importante reconhecer quais as tendências predominantes na incorporação da família no campo da política social enquanto seu sujeito destinatário. A grosso modo, temos indicado que atualmente existem duas grandes tendências em disputa nesse campo que vimos denominando de proposta familista e de proposta protetiva.

E, nessa direção, define o familismo, que se trata, no nosso entendimento,

de concepção oposta à da proteção social, prevista na atual Politica Pública de

Assistência Social.

A idéia central da proposta familista reside na afirmação da tradição secular que existem dois canais naturais para satisfação das necessidades dos indivíduos: a família e o mercado. Somente quando esses falham é que interferência pública deve acontecer e, de maneira transitória. Então a idéia que vem embutida no campo da incorporação da família na política social é a idéia de falência da família. Ou seja, a política pública acontece prioritariamente, de forma compensatória e temporária, em decorrência da sua falência no provimento de condições materiais e imateriais de sobrevivência, de suporte afetivo e de socialização de seus membros. Isso corresponde a uma menor provisão de bem-estar por parte do Estado. (MIOTO, 2010, p.169)

Nessa perspectiva, fazemos uma primeira identificação acerca do trabalho

social, que é a sua direção ético-política. A depender das caraterísticas da gestão

Page 52: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

52

estatal na implantação de políticas sociais e do perfil do profissional em sua

execução, o trabalho social pode sim se transformar em mero instrumento de

reprodução da vida social e de adesão dos cidadãos aos objetivos do Estado na

manutenção da ordem societária vigente e na adequação das necessidades do

cidadão às possibilidades, inclusive orçamentárias, do Estado. Pode ainda

representar uma mera execução de tarefas burocráticas da Política

institucionalizada.

Nesse sentido, Couto reflete sobre o trabalho técnico nas políticas públicas

quando discute o trabalho social:

[...] não só o sujeito é colocado no papel de não-protagonista, sem possibilidade de falar, de argumentar, mas também compreende-se o trabalho técnico como uma tarefa de duplo sentido, ou seja, ser caridoso, entender as demandas da população carente e fazer com que os pobres compreendam que o Estado não tem condições de atender a todas as suas demandas. Cabe aí um trabalho de seleção e convencimento para que a população entenda a disponibilidade submetendo-se ao patamar dos programas sociais oferecidos no Brasil. (COUTO, 2008, p.47)

A Constituição Federal nos coloca importante desafio ao estabelecer

princípios de participação e Direitos Sociais em patamares nunca previstos.

Contudo, os ideais constitucionais não se concretizam por si, e tornar o cidadão

protagonista, a gestão pública democrática e os direitos sociais efetivos impõe a

todos nós a necessidade de romper com paradigmas seculares do “não direito”, o

que certamente aumentará os necessários tensionamentos entre as classes

antagônicas, por meio do Estado, mediador dessa relação.

O trabalho social deve ter a perspectiva da emancipação humana e interferir

positivamente na vida de cada cidadão. Dessa forma, pensar no trabalho social com

famílias implica elaborar alternativas, em conjunto com essas famílias, de

participação na vida social e na vida do Estado, construindo as possibilidades de

enfrentamento, resistência e luta pelos direitos.

As famílias, com peculiaridades individuais, guardam coletivamente os

reflexos de uma sociedade desigual, no sentido amplo da desigualdade –

econômica, de gênero, etária, racial –, que promoverá as desproteções sociais

passíveis de atenção pelo Estado, muitas delas da própria natureza humana,

potencializadas pela questão social, entre elas a violência e o abandono, frutos de

Page 53: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

53

relações societárias mercadorizadas e individualistas. É nesse universo que deverá

estar presente o trabalho social, de forma que as famílias se reconheçam cidadãs,

partícipes da sociedade e sujeito de direitos.

As metodologias de trabalho social devem apontar caminhos para essa

construção, definidos, portanto, de modo peculiar, sem um modelo padrão, mas

adequando-se à leitura da realidade a ser modificada e considerando as

subjetividades presentes nas relações. Nesse sentido, Wanderley define

metodologia de trabalho social como:

[...] o conjunto de processos, estratégias e procedimentos técnicos interventivos, eleitos a partir de pressupostos fundamentais disponibilizados por ampla base teórico-metodológica e ético-politica e processados numa adequação às diversidades regionais. (WANDERLEY, 2008, p.13)

Há de se privilegiar na escolha das metodologias as diversidades regionais e

dos territórios de vivência dessas famílias, não no sentido de isolamento e

segregação, mas do reconhecimento do espaço onde vivem, que se constitui de

afetividades, contradições, disputas e conflitos, reproduzindo as relações da

sociedade. As manifestações e comportamentos de uma comunidade ou sociedade

são frutos de suas vivências, histórias e experiências, que também determinam a

forma como se dá a inserção na sociedade, como participante ou mero espectador.

Para Koga (2011, p.33),

O território também representa o chão do exercício da cidadania, pois cidadania significa vida ativa no território, onde se concretizam as relações sociais, as relações de vizinhança e solidariedade, as relações de poder. É no território que as desigualdades sociais tornam-se evidentes entre os cidadãos, as condições de vida entre os moradores de uma mesma cidade mostram-se diferenciadas, a presença/ausência dos serviços públicos se faz sentir e a qualidade destes mesmos serviços apresenta-se desiguais.

É nesse espaço que as famílias vivem e desenvolvem suas relações, seus

espaços mais ou menos protetivos e, por vezes, seu isolamento. O trabalho social

deve reconhecer tais cenários e construir alternativas para uma nova sociabilidade

humana. Importante destacar que o trabalho social exige uma ação multiprofissional,

Page 54: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

54

consideradas as diversidades da realidade social e individual, bem como a

necessidade de olhares diversos na ação profissional.

Outro aspecto não menos importante no trabalho social é a

intersetorialidade, que para a Política de Assistência Social se torna um desafio, em

razão da sua própria identidade, uma vez que precisa romper com a imagem de

política residual que tratará das questões não solucionadas por outras políticas. A

importância de uma articulação da rede socioassistencial e de uma rede intersetorial

em torno do trabalho social se justifica pela incompletude das políticas sociais

específicas e pela exigência de uma visão matricial e integral do cidadão para a

garantia da proteção social.

A ausência de reconhecimento da Assistência Social como política pública,

com atribuições próprias, acaba por transferir a ela a responsabilidade da “solução”

dos problemas de cada família de maneira fragmentada e imediatista,

desconsiderando um conjunto de violações de direitos, que devem ser abordados no

âmbito coletivo e de modo integrado. A ação passa a ser isolada na Política, não

havendo tratamento intersetorial, na medida em que persiste a ideia de que sua

finalidade é dar respostas a todas as necessidades da população excluída das

políticas públicas e do acesso ao mercado.

Dessa forma, a Política de Assistência Social e sua perspectiva de proteção

se efetivam de forma fragmentada: uma vez que grande parte da sua demanda é

fruto da ausência ou precarização das demais políticas, como habitação, saúde e

desenvolvimento econômico, desloca a atenção de sua função específica e se torna

um caminho de passagem para o acesso às demais políticas. O profissional acaba

por desenvolver a sua ação de maneira individualizada, buscando auxiliar na

solução de um problema direto relacionado muitas vezes à pobreza, e não a

vulnerabilidades decorrentes da desproteção, perdendo o foco no trabalho social de

caráter emancipatório, como já abordamos.

Nesse contexto, os profissionais que atuam com as famílias acabam por

buscar soluções compensatórias e, na tentativa de romper com os riscos

enfrentados por elas, tornam a Assistência Social a porta de entrada das demais

políticas, reforçando-a como política transversal9. Buscam, por vezes, na própria

9 A ideia de política transversal se opõe à especificidade de uma politica pública. No caso da

Assistência Social, a coloca como um caminho de acesso às demais políticas públicas. A transversalidade se refletirá nas diversas ações de um profissional com a finalidade de “selecionar” e

Page 55: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

55

família a resposta para as vulnerabilidades que enfrentam, desconsiderando seu

caráter externo, haja vista que a vulnerabilidade está relacionada a um determinado

risco social, como nos ensina Sposati (2009, p.34):

[...] é preciso reconstruir o sentido de vulnerabilidade social relacionada a um dado risco social. Nesta ótica o sentido é o de ser vulnerável a uma dada ocorrência, estar mais sujeitado por algumas vivências e capacidades já instaladas. Do ponto de vista biológico, a vulnerabilidade inclui a ideia de estar mais predisposto a que ocorra algo. E é necessário eliminar a vulnerabilidade substituindo-a por força/resistência bem como eliminar os fatores de risco. A idéia de vulnerabilidade social indica uma predisposição à precarização, vitimização, agressão. (SPOSATI, 2009, p.34)

E ainda afirma que, numa sociedade complexa, a “vulnerabilidade social não

é só econômica, ainda que os de menor renda sejam mais vulneráveis pelas

dificuldades de acesso aos fatores e condições de enfrentamento a riscos e

agressões sociais” (SPOSATI, 2009, p.34). Destarte, a proteção social, como oferta

pública dos meios necessários para a sobrevivência e a vida digna do cidadão, não

se efetiva e, apesar do avanço na concepção da Política de Assistência Social, as

práticas profissionais não correspondem ao proposto, seja pela ausência de

formação profissional, seja pela ausência de serviços e da ação integral e integrada

com as demais políticas.

Há de se destacar que a construção de uma rede de proteção implica o

envolvimento institucional das políticas que a compõem, e não somente de pessoas

mais ou menos interessadas nessa relação. Rede se constitui na construção

processual de procedimentos e fluxos que não se dão somente pela localização

geográfica dos serviços, mas pela pactuação de objetivos e metas e pela precisa

identificação de competências setoriais. Dessa forma, a ação em rede intersetorial

se define como um modelo de gestão.

eleger aqueles que terão acesso às demais Políticas, por meio da Assistência Social. A Assistência Social enquanto Politica Pública possui uma especificidade, provedora de seguranças sociais próprias, definidas na sua regulação.

Page 56: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

56

2.3 METODOLOGIAS DE TRABALHO SOCIAL NO ÂMBITO DO SUAS

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS foi criado

em 2004 e é responsável pela Política de Assistência Social em nível nacional. A

partir da aprovação da Política Nacional de Assistência Social de 2004, e da

instituição do SUAS, assumiu o desafio da implantação da Assistência Social, seus

benefícios e serviços. A partir de então muitas normativas e orientações técnicas

foram criadas, na perspectiva de orientar a implantação da Política.

As principais normativas para materialização do SUAS foram as NOB‟s

(Normas Operacionais Básicas de Assistência Social) em 2005 e 2012, a NOB-RH

(Norma Operacional Básica de Recursos Humanos) em 2006 e a Tipificação

Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução 109 do CNAS - Conselho

Nacional de Assistência Social) em 2009. Esta última possibilitou a padronização

dos serviços da Assistência Social em todo o território nacional, criando assim uma

identidade para a Política Pública de Assistência Social, conforme define Denise

Colin (2013, p.4), Secretária Nacional de Assistência Social:

Esta normativa possibilitou a padronização em todo território nacional dos serviços de proteção social básica e especial, estabelecendo seus conteúdos essenciais, público a ser atendido, propósito de cada um deles e os resultados esperados para a garantia dos direitos socioassistenciais. Além das provisões, aquisições, condições e formas de acesso, unidades de referência para a sua realização, período de funcionamento, abrangência, a articulação em rede, o impacto esperado e suas regulamentações específicas e gerais. A aprovação da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais representou uma importante conquista para a assistência social brasileira alcançando um novo patamar, estabelecendo tipologias que, sem dúvidas, corroboram para ressignificar a oferta e a garantia do direito socioassistencial.

Quanto ao trabalho social com famílias, foi definido como serviço

socioassistencial pela Tipificação Nacional e recebeu tratativas específicas por meio

de orientações técnicas, assim definidas: Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (PAIF), no âmbito da Proteção Social Básica, a ser ofertado pelos

CRAS‟s (Centros de Referência de Assistência Social); e Serviço de Proteção e

Atendimento Especializado à Família e Indivíduos (PAEFI), de responsabilidade do

CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social). Dessa forma, a

Page 57: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

57

definição dos serviços e suas orientações técnicas possibilitaram ao trabalhador do

SUAS construir metodologias a partir dos objetivos a serem alcançados.

Os referidos documentos não definem metodologias específicas, mas

indicam instrumentos a serem utilizados, o que pode, por vezes, ser considerado um

vazio para o desenvolvimento da ação, uma vez que seus conceitos são genéricos e

não direcionam o profissional. Diversas questões sobre o tema são colocadas em

debate, sobretudo quanto à natureza e características das orientações técnicas,

sendo predominante a ideia de que documentos orientadores devem ter caráter mais

amplo, deixando a especificidade da implantação dos serviços aos seus executores,

em geral os gestores municipais.

Queremos aqui defender a importância de que documentos dessa natureza

tragam concepções e procedimentos claros, especialmente por se tratar da

inauguração de um novo paradigma de proteção social. Conceitos genéricos – como

“riscos e vulnerabilidades”, “fortalecimento da função protetiva”, “autonomia”,

“emancipação”, “exercício da cidadania”, entre outros – constituem um moderno

vocabulário, presente nos discursos e documentos planejadores das ações, mas não

se concretizam na prática profissional, dada a sua imprecisão.

Muito comum ouvir de gestores e profissionais, por exemplo, afirmações

orgulhosas sobre determinada ação que tem por objetivo a autonomia das famílias,

sem, no entanto, precisarem esse objetivo. E, como resultado, vemos o acesso da

família a alguma forma de renda, preferencialmente pelo trabalho, a exemplo dos

diversos programas denominados “frentes de trabalho”, por vezes sob

responsabilidade da Assistência Social.

O que seria essa autonomia? Para nós, autonomia é a construção de um

caminho para o protagonismo e fortalecimento das famílias no enfrentamento

político e social das diversas contradições presentes nas relações sociais, em busca

de equidade, dignidade e acesso a bens e serviços. Portanto, tem caráter coletivo e

de organização de classes, o que exigirá uma ação mais politizadora e educativa do

que psicologizante10 e direcionada à regulação de comportamentos. Pressupõe um

atendimento na perspectiva de família como sujeito de direitos.

10

Psicologizante no sentido de que as ações com as famílias tendem a direcionar para o caminho do tratamento psicológico como principal ferramenta de mudança nas relações sociais e na superação das expressões da questão social. Nesse sentido, também observamos que a atenção aos adolescentes nas escolas tende a seguir a mesma linha, sugerindo tratamentos psicológicos para solucionar situações de indisciplina escolar.

Page 58: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

58

Mioto (2010, p.174) afirma que:

Os processos sócio-assistenciais correspondem as ações profissionais desenvolvidas diretamente com as famílias. Sua lógica reside em atendê-las enquanto sujeitos e não como objetos terapêuticos. Assim, busca-se responder às suas demandas/necessidades numa perspectiva de construção da autonomia. Autonomia que lhes permitam um engajamento ativo no contexto da participação política.

Apesar dos conceitos mais genéricos, outros caminhos estão sendo

utilizados para fortalecer a PNAS, como a realização de diversos debates,

seminários regionais e nacionais para exposição do tema Trabalho Social com

Famílias, destacando a intencionalidade do trabalho e as aquisições pretendidas,

dando o esperado alinhamento para o trabalho técnico.

Importante ressaltar que há muito mais normativas relacionadas ao trabalho

social vinculado à Proteção Social Básica do que à Proteção Social Especial, e

ambas guardam diferenças entre si – dá-se um caráter mais coletivo a uma, e um

caráter mais individual à outra, o que pode gerar equívocos na sua execução. Além

disso, isso parece dividir os objetivos do trabalho social com famílias a partir das

demandas individuais por elas apresentadas, e não pela característica do conjunto

de famílias trabalhadoras, pertencentes ao mesmo processo de exclusão social.

A seguir, o quadro apresenta algumas definições, comparativamente, de

ambos os serviços, de forma a facilitar a observação dos conceitos.

Tabela 1 - Quadro sinóptico das definições de PAIF E PAEFI de acordo com a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais

PAIF PAEFI

DESCRIÇÃO

O Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família - PAIF consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo.

Serviço de apoio, orientação e acompanhamento a famílias com um ou mais de seus membros em situação de ameaça ou violação de direitos. Compreende atenções e orientações direcionadas para a promoção de direitos, a preservação e o fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e sociais e para o fortalecimento da função protetiva das famílias diante do conjunto de condições que as vulnerabilizam e/ou as submetem a situações de risco pessoal e social.

continua

Page 59: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

59

continuação

USUÁRIOS

Famílias em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, do precário ou nulo acesso aos serviços públicos, da fragilização de vínculos de pertencimento e sociabilidade e/ou qualquer outra situação de vulnerabilidade e risco social residentes nos territórios de abrangência dos CRAS‟s.

Famílias e indivíduos que vivenciam violações de direitos.

OBJETIVOS

- Fortalecer a função protetiva da família, contribuindo na melhoria da sua qualidade de vida;

- Prevenir a ruptura dos vínculos familiares e comunitários, possibilitando a superação de situações de fragilidade social vivenciadas;

- Promover aquisições sociais e materiais às famílias, potencializando o protagonismo e a autonomia das famílias e comunidades;

- Promover acessos a benefícios, programas de transferência de renda e serviços socioassistenciais, contribuindo para a inserção das famílias na rede de proteção social de assistência social;

- Promover acesso aos demais serviços setoriais, contribuindo para o usufruto de direitos;

- Apoiar famílias que possuem, entre seus membros, indivíduos que necessitam de cuidados, por meio da promoção de espaços coletivos de escuta e troca de vivências familiares.

- Contribuir para o fortalecimento da família no desempenho de sua função protetiva;

- Processar a inclusão das famílias no sistema de proteção social e nos serviços públicos, conforme necessidades;

- Contribuir para restaurar e preservar a integridade e as condições de autonomia dos usuários;

- Contribuir para romper com padrões violadores de direitos no interior da família;

- Contribuir para a reparação de danos e da incidência de violação de direitos;

- Prevenir a reincidência de violações de direitos.

IMPACTO SOCIAL ESPERADO

- Contribuir para a redução da ocorrência de situações de vulnerabilidade social no território de abrangência do CRAS;

- Prevenção da ocorrência de riscos sociais, seu agravamento ou reincidência no território de abrangência do CRAS;

- Aumento de acessos a serviços socioassistenciais e setoriais;

- Melhoria da qualidade de vida das famílias residentes no território de abrangência do CRAS.

- Redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou reincidência;

- Orientação e proteção social a famílias e indivíduos;

- Acesso a serviços socioassistenciais e das políticas públicas setoriais;

- Identificação de situações de violação de direitos socioassistenciais;

- Melhoria da qualidade de vida das famílias.

continua

Page 60: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

60

continuação

TRABALHO SOCIAL

Acolhida; estudo social; visita domiciliar; orientação e encaminhamentos; grupos de famílias; acompanhamento familiar; atividades comunitárias; campanhas socioeducativas; informação, comunicação e defesa de direitos; promoção ao acesso à documentação pessoal; mobilização e fortalecimento de redes sociais de apoio; desenvolvimento do convívio familiar e comunitário; mobilização para a cidadania; conhecimento do território; cadastramento socioeconômico; elaboração de relatórios e/ou prontuários; notificação da ocorrência de situações de vulnerabilidade e risco social; busca ativa

Acolhida; escuta; estudo social; diagnóstico socioeconômico; monitoramento e avaliação do serviço; orientação e encaminhamentos para a rede de serviços locais; construção de plano individual e/ou familiar de atendimento; orientação sociofamiliar; atendimento psicossocial; orientação jurídico-social; referência e contrarreferência; informação, comunicação e defesa de direitos; apoio à família na sua função protetiva; acesso à documentação pessoal; mobilização, identificação da família extensa ou ampliada; articulação da rede de serviços socioassistenciais; articulação com os serviços de outras políticas públicas setoriais; articulação interinstitucional com os demais órgãos do Sistema de Garantia de Direitos; mobilização para o exercício da cidadania; trabalho interdisciplinar; elaboração de relatórios e/ou prontuários; estímulo ao convívio familiar, grupal e social; mobilização e fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio

Quadro elaborado pela autora Fonte: Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (BRASIL, 2009a)

Complementarmente foram editados os Cadernos de Orientações Técnicas

do PAIF, em que observamos aspectos bem mais conceituais do trabalho social com

as famílias do que na Tipificação Nacional, que define as ações necessárias de

forma exemplificativa e aponta um trabalho direcionado para a emancipação da

família, por meio de atividades socioeducativas individuais e/ou coletivas. Indica

como ações do PAIF a acolhida, oficinas com famílias, ações comunitárias, ações

particularizadas e encaminhamentos e seus respectivos detalhamentos.

Destaca-se entre as Orientações Técnicas a definição dos objetivos das

oficinas com famílias, pressupondo o trabalho coletivo e a garantia de direitos por

meio do protagonismo das famílias. O conteúdo do material aponta para a busca do

exercício da cidadania, inclusive com sugestão de temas relacionados a Direitos

Civis e Políticos.

Page 61: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

61

As oficinas com famílias têm por intuito suscitar reflexão sobre um tema de interesse das famílias, sobre vulnerabilidades e riscos, ou potencialidades, identificados no território, contribuindo para o alcance de aquisições, em especial, o fortalecimento dos laços comunitários, o acesso a direitos, o protagonismo, a participação social e a prevenção a riscos. As oficinas com famílias propiciam a problematização e reflexão crítica das situações vividas em seu território, além de questões muitas vezes cristalizadas, naturalizadas e individualizadas. Elas possibilitam o entendimento de que os problemas vivenciados particularmente, ou por uma família, são problemas que atingem outros indivíduos e outras famílias reconhecendo, desta forma, nas experiências relatadas alternativas para seu enfrentamento. Buscam, ainda, contextualizar situações de vulnerabilidade e risco e assegurar a reflexão sobre direitos sociais, proporcionando uma nova compreensão e interação com a realidade vivida, negando-se a condição de passividade, além de favorecer processos de mudança e de desenvolvimento do protagonismo e da autonomia, prevenindo a ocorrência de situações de risco social. (BRASIL, 2012, p.24)

Em relação ao acompanhamento individual da família, o documento prevê:

O acompanhamento familiar do PAIF consiste, assim, em um conjunto de intervenções, desenvolvidas de forma continuada, a partir do estabelecimento de compromissos entre famílias e profissionais, com a construção de um Plano de Acompanhamento Familiar que estabelece objetivos a serem alcançados, realização de mediações periódicas, inserção em ações do PAIF, a fim de superar gradativamente as vulnerabilidades vivenciadas, alcançar aquisições e ter acesso a direitos. Objetiva-se, ainda, contribuir para ampliar espaços de participação e diálogo com instituições e para o alcance de maiores graus de autonomia, para a capacidade de vocalização das demandas e necessidades, para o desenho de projetos de vida. (BRASIL, 2012, p.63)

Pressupõe a realização de um Plano Individual entre a família e o serviço,

nesse caso o CRAS, de maneira a propor ações capazes de superar as

vulnerabilidades apresentadas, com processos de encaminhamento e mediações

com os membros da família. Apesar de indicar uma ação mais interna no universo

da família, procura destacar a diferença da abordagem como “caso de família”.

Assim é preciso ultrapassar a lógica do atendimento “caso a caso” ou “caso de família”, que vincula a satisfação das necessidades sociais à (in)competência individual das famílias. Portanto, é preciso redimensionar a lógica do trabalho com

Page 62: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

62

famílias na perspectiva dos direitos, coletivizando as demandas e reafirmando que o caminho para a concretização da cidadania é via políticas públicas de responsabilidade do Estado. (BRASIL, 2012, p.65)

O documento reforça ainda o cuidado para a garantia do protagonismo da

família e de ação intersetorial de responsabilidade do Poder Público:

O princípio fundamental que deve nortear o acompanhamento familiar é o reconhecimento de que as famílias são protagonistas de suas histórias, mas que sofrem os impactos da realidade socioeconômica e cultural na qual estão inseridas, em especial as expressões da questão social que se manifestam no território. Tal compreensão é fundamental para negar a postura que individualiza os problemas vivenciados pelas famílias e as estigmatizam. Caso a família, no processo de acompanhamento, tenha sido atendida por vários serviços setoriais, é importante que o município se organize para realizar uma avaliação intersetorial conjunta dos resultados alcançados, para contribuir para a organização do Serviço, bem como para o aprimoramento dos fluxos de trabalho. (BRASIL, 2012, p.70)

Importante destacar que as Orientações Técnicas definem o PAIF como um

conjunto de ações, entre elas o acompanhamento particularizado, o que significa

dizer que a família poderá participar de várias ações do PAIF, conforme a viabilidade

e o seu desejo, como oficinas, reuniões, ações comunitárias e acompanhamentos

coletivos.

No que se refere à Proteção Social Especial, que tem como referência o

CREAS (Centro Especializado de Assistência Social), as normativas são bem mais

condensadas e direcionadas para o serviço, não havendo um documento específico

de procedimentos para execução do PAEFI, mas um caderno de orientações para o

CREAS e, nele, o trabalho social a ser realizado. O documento define o trabalho no

CREAS a partir das normativas já existentes, como a Tipificação Nacional dos

Serviços Socioassistenciais, portanto, de forma mais genérica, indicando muito mais

o que não deve ser feito, o que representa uma lacuna que pode dificultar a

implantação do serviço.

O papel do CREAS e as competências decorrentes estão consubstanciados em um conjunto de leis e normativas que fundamentam e definem a política de assistência social e regulam o SUAS. Devem, portanto, ser compreendidos a partir

Page 63: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

63

da definição do escopo desta política do SUAS, qual seja, afiançar seguranças socioassistenciais, na perspectiva da proteção social. (BRASIL, 2011, p.23)

E quanto ao que não deve ser feito, define:

Frente ao exposto, e considerando o papel do CREAS e competências decorrentes, destaca-se que a este não cabe: • Ocupar lacunas provenientes da ausência de atendimentos que devem ser ofertados na rede pelas outras políticas públicas e/ou órgãos de defesa de direito; • Ter seu papel institucional confundido com o de outras políticas ou órgãos, e por conseguinte, as funções de sua equipe com as de equipes interprofissionais de outros atores da rede, como, por exemplo, da segurança pública (Delegacias Especializadas, unidades do sistema prisional, etc), órgãos de defesa e responsabilização (Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Conselho Tutelar) ou de outras políticas (saúde mental, etc.); • Assumir a atribuição de investigação para a responsabilização dos autores de violência, tendo em vista que seu papel institucional é definido pelo papel e escopo de competências do SUAS. (BRASIL, 2011, p.25)

No que se refere especificamente ao acompanhamento especializado, o

documento afirma:

A oferta de trabalho social nos CREAS pressupõe a utilização de diversas metodologias e técnicas necessárias para operacionalizar o acompanhamento especializado. Requer, ainda, a construção de vínculos de referência e confiança do usuário com a Unidade e profissionais da equipe, além de postura acolhedora destes, pautada na ética e no respeito à autonomia e à dignidade dos sujeitos. Nesse contexto, a escuta qualificada em relação às situações e sofrimentos vivenciados pelos usuários tornam-se fundamentais para o alcance de bons resultados e a viabilização do acesso a direitos. (BRASIL, 2011, p.28)

Mais uma vez reforça a necessidade de que as metodologias sejam

adequadas a cada caso, de comum acordo com as famílias:

As singularidades de cada situação deverão, inclusive, orientar a decisão conjunta, com cada família/indivíduo, das metodologias a serem utilizadas no trabalho social especializado, para a adoção das estratégias mais adequadas em cada caso, tendo em vista a construção de novas possibilidades de interação, projetos de vida e superação das situações vivenciadas. Nessa direção, algumas situações

Page 64: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

64

poderão requerer atendimentos mais individualizados, enquanto outras demandarão intervenções mais coletivas, com a participação de todos os familiares implicados na situação ou até mesmo a inclusão em atendimentos em grupo. (BRASIL, 2011, p.27)

Como eixos norteadores do trabalho social, define: atenção especializada e

qualificação do atendimento, território e localização do CREAS, acesso a direitos

socioassistenciais, centralidade na família, mobilização e participação social e

trabalho em rede. Quanto aos processos de trabalho no CREAS, o documento

propõe as seguintes ações: planejamento do trabalho no CREAS; coordenação dos

recursos humanos e trabalho em equipe interdisciplinar no CREAS; reuniões de

equipe; reuniões para estudos de casos; supervisão e assessoria de profissional

externo.

Importante destacar que o documento reforça a existência de uma

“expertise” da Política de Assistência Social, e não subsidiária das demais:

É importante ressaltar que os serviços especializados ofertados pelos CREAS somam-se às ações das demais políticas públicas (saúde, educação, trabalho e outras), na perspectiva de ampliar a capacidade das famílias e indivíduos no enfrentamento e superação das situações de risco pessoal e social, por violação de direitos, não se sobrepondo ou confundindo-se com os serviços de competência das outras políticas. (BRASIL, 2011, p.66)

Enfatiza, dessa forma, a importância do trabalho intersetorial e em rede, de

modo a garantir uma ação integral e integrada, implicando as demais políticas

públicas.

Regido pelo princípio da intersetorialidade e da incompletude institucional, o órgão gestor de Assistência Social deve buscar a articulação em rede para fortalecer a complementaridade das ações dos CREAS com os diversos órgãos envolvidos no acompanhamento às famílias e aos indivíduos em situação de risco pessoal e social, por violação de direitos. Para tanto, deve primar pela articulação que almeje o acesso dos usuários aos demais serviços, projetos e programas que integram o SUAS e às outras políticas públicas, considerando a complexidade destas situações, que exigem atenções para além das proporcionadas pelo CREAS. (BRASIL, 2011, p.37)

Page 65: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

65

Observa-se que na Proteção Social Especial, quanto aos processos de

trabalho, se retoma a “discussão de caso”:

Reuniões para estudos de casos: Estes momentos tem como objetivo reunir a equipe para estudar, analisar e avaliar as particularidades e especificidades das situações atendidas, de modo a ampliar a compreensão e possibilitar a definição de estratégias e metodologias de atendimento mais adequadas, além de serviços da rede que deverão ser acionados, tendo em vista o aprimoramento do trabalho. Nessas reuniões, busca-se discutir determinados casos e situações em acompanhamento, sendo também um momento para que a equipe reavalie suas ações, dimensione os resultados do atendimento e redefina estratégias e procedimentos. (BRASIL, 2011, p.57)

No cotidiano do trabalho, muito se aprecia essa prática da discussão de

“casos” na ação intersetorial, porém, pode dar margem a uma compreensão

individualizada das questões que afetam as famílias acompanhadas pela Proteção

Social Especial, já que essa modalidade carece de aprofundamento e orientações

técnicas específicas.

As orientações relativas ao trabalho social com famílias no âmbito da

Proteção Social Especial sugerem ainda instrumentos e procedimentos:

O desenvolvimento do trabalho social pelos Serviços do CREAS pressupõe escuta qualificada e compreensão da situação vivenciada por cada família/indivíduo, considerando seu contexto de vida familiar, social, histórico, econômico e cultural. A construção de projetos de vida e de novas possibilidades de relacionamento, com superação das situações adversas vivenciadas; a perspectiva do trabalho em rede para a atenção integral e o acesso a direitos; o desenvolvimento de potencialidades; e a ressignificação de vivências devem nortear a elaboração do Plano de Acompanhamento Individual e/ou Familiar. A elaboração do Plano de Acompanhamento junto com as famílias e indivíduos é essencial para guiar o trabalho social no CREAS, bem como para delinear, junto aos usuários, a construção de novas perspectivas de vida. (BRASIL, 2011, p.58)

Como procedimentos, propõe: a acolhida; acompanhamento especializado e

articulação em rede, com destaque para o CRAS; Gestão do Cadastro Único para

Programas Sociais e dos Programas de Transferência de Renda e Benefícios (PETI,

Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada - BPC); Serviços de Saúde, em

especial a Saúde Mental; Órgãos de Defesa de Direitos (Conselho Tutelar, Ministério

Page 66: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

66

Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública, Delegacias Especializadas); Rede de

Educação; Serviços de Acolhimento; Trabalho e geração de renda.

E, finalmente, sobre o procedimento específico para o acompanhamento

especializado, prevê que deverá ser:

[...] construído de forma conjunta com cada família/indivíduo, e o Plano de Acompanhamento deve delinear estratégias que serão adotadas no decorrer do acompanhamento, bem como os compromissos de cada parte, em conformidade com as especificidades das situações atendidas. (BRASIL, 2011, p.60)

A breve análise das normativas indica a flexibilidade na definição das

metodologias de trabalho social, a partir de referenciais teórico-metodológicos e

políticas, que poderão ser o diferencial nos resultados da ação. O PAIF e o PAEFI

pretenderam romper com práticas tutelares no trabalho com famílias no âmbito da

Assistência Social, porém normativas como PNAS e Tipificação Nacional dos

Serviços Socioassistenciais não foram suficientes, requerendo a publicação dos

diversos Cadernos de Orientações e outros debates sobre o terma, com propostas

de abordagens metodológicas. Sua efetividade, no entanto, não se dará pela mera

indicação teórica, dependendo de um conjunto de posturas éticas e políticas das

gestões públicas responsáveis pela execução da Política e dos profissionais,

trabalhadores sociais.

Page 67: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

67

CAPÍTULO III – SÃO BERNARDO DO CAMPO: REALIDADE SOCIAL

E POLÍTICA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL

3.1 A FORMAÇÃO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

Conforme dados disponibilizados pela Prefeitura de São Bernardo do

Campo11, a cidade está localizada próximo à Serra do Mar, fazendo divisa com o

município de Cubatão, no litoral paulista. Integra a região conhecida como ABC

paulista, composta por sete municípios, quais sejam, Santo André, São Bernardo do

Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da

Serra.

O município de São Bernardo do Campo foi emancipado em 1890. Possui

uma área de 408,55 km2, com população de 765.463 habitantes, conforme censo do

IBGE de 2010 – com estimativa de 811.489 para o ano de 2014. Sofrendo forte

processo de industrialização a partir de 1947, especialmente com a inauguração da

Via Anchieta, viveu acelerado crescimento. Incentivadas pelas facilidades logísticas

proporcionadas pela estrada, pela presença de mão de obra razoavelmente

qualificada na região e também por alguns incentivos fiscais concedidos, um grande

número de empresas estrangeiras se instalou na cidade. Em consequência da vinda

de grandes indústrias automobilísticas como a Ford, Scania e Volks e de diversas

fábricas de autopeças como a Perkins, Gemmer e Mangels, a cidade converte-se,

nas décadas de 50, 60 e 70, num dos principais polos industriais do país, atraindo

enorme contingente de mão de obra, que elas absorviam e que aumentava com a

chegada de migrantes de várias regiões do país.

A pequena vila do início do século XX dá lugar a uma grande metrópole: o

número de habitantes, que era de 29 mil em 1950, alcançou em 1980 a marca dos

425 mil, dos quais 292 mil eram migrantes, conforme indicava o censo do IBGE

realizado naquele ano. Como resultado da expansão populacional, as chácaras e

sítios dos velhos núcleos coloniais saíram de cena para o surgimento de novos

11

Fonte: SÃO BERNARDO DO CAMPO (Município). Serviço de Pesquisa - Seção de Pesquisa e Documentação, Divisão de Preservação da Memória, Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo. História da cidade. Disponível em: <http://www.saobernardo.sp.gov.br/historia-da-cidade>. Acesso em: jan./2016.

Page 68: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

68

loteamentos urbanos, regulares ou irregulares, transformando inteiramente as

feições de bairros antigos e criando novos aglomerados.

Paralelamente a esse crescimento industrial, cresce na cidade um

sindicalismo fortemente organizado e com grande poder reivindicatório. Tal cenário

levou São Bernardo, durante as crises econômicas do final dos anos 70 e início dos

80, a ser palco de alguns dos mais incisivos movimentos grevistas já ocorridos na

história do país.

Na década de 90, a cidade foi afetada pelo impacto das grandes alterações

ocorridas na economia mundial. A abertura comercial e o acirramento da competição

internacional impulsionaram transformações estruturais no mercado de trabalho e na

organização da produção. Em São Bernardo, o setor industrial perdeu parcela de

sua importância, ao mesmo tempo que cresceu o setor de serviços e a economia

informal.

São Bernardo do Campo hoje apresenta os problemas próprios das grandes

metrópoles, tais como a violência, a poluição, o déficit habitacional, moradias

precárias, insuficiência de serviços públicos, desemprego, todos inimagináveis

décadas atrás.

Mapa 1 - Localização do município de São Bernardo do Campo

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Page 69: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

69

3.2 A HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL EM SÃO BERNARDO DO CAMPO

A primeira lei a tratar da Assistência Social no município de São Bernardo do

Campo data de 1976, qual seja, a Lei nº 2.240, de 13 de agosto de 1976, que dispõe

sobre a consolidação da reforma administrativa e aprova o plano de classificação de

cargos e funções da administração municipal – é possível deduzir que se trata da

primeira legislação sobre o tema uma vez que não revoga ou cita leis anteriores. A

referida lei cria a Secretaria de Saúde e Promoção Social, inserindo na área de

Saúde do município funções de Promoção Social, destinadas ao atendimento à

população em geral, com foco em atividades médicas e ações comunitárias,

instituindo, para tal, o Departamento de Promoção Social.

Observa-se que o referido Departamento tem por competência o

desenvolvimento de projetos e atividades em especial voltados para benefícios e

ações de assistência e integração social, sem, no entanto, regular de forma objetiva

as ações que seriam desenvolvidas nessa área, além da finalidade de opinar sobre

os convênios com entidades sociais. Sabe-se que, àquela ocasião, a saúde era

prestada por entidades assistenciais àqueles que não tinham acesso à previdência

social, inexistindo nessa área sistema público de caráter universal, embora nessa

mesma década os movimentos pela saúde já ocorressem no Brasil. Tal estrutura

criada pela lei de 1976 vigorou no município por 22 anos.

Em 1991 foi criado no município o Fundo Social de Solidariedade, Lei

nº 3.789, de 10 de outubro de 1991, que não aponta diretamente ações de

assistência social e, portanto, não altera a estrutura existente. O órgão tem por

objetivo “a mobilização da comunidade para atender às necessidades e problemas

sociais locais”. No ano de 1998, cinco anos após a aprovação da Lei Orgânica da

Assistência Social de 1993, foi que o município alterou a estrutura da Assistência

Social e, por meio da Lei 4.669, de 15 de outubro de 1998, criou a ainda existente

Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania.

Prata (2012), em estudo realizado para levantamento da história da

Assistência Social no município, verifica a ausência de ações do Poder Público,

especialmente a falta de planejamento urbano e serviços, ante a importante

industrialização que teve o município, como causa dos diversos problemas sociais

atuais:

Page 70: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

70

Nos anos 1970, em função do crescimento populacional, as carências também crescem, levando a ampliação dos serviços da Promoção Social para além das questões de saúde, o que deu origem, nos dias atuais, a outras Secretarias voltadas para o social: Secretaria de Habitação e Meio Ambiente, Defesa Civil, o Serviço Social da Secretaria da Saúde e creches comunitárias, hoje na Secretaria da Educação. Mesmo com a intervenção do poder público municipal, na aparente intenção de solucionar os problemas, muitas vezes a tentativa parecia apenas a de querer mediar os conflitos. Ou então, dependendo da administração, se acabava fazendo uma clara opção pela parcela melhor posicionada socialmente. A demanda habitacional é um exemplo [...]. Em 1978, já na administração do Prefeito Tito Costa (1976/82), inicia-se a urbanização de favelas do município. Nesse período, a Promoção Social conta com o apoio da Secretaria de Serviços Urbanos. A idéia era cadastrar as famílias para depois passar a fazer um trabalho mais qualitativo. Na verdade, a intenção era “congelar as favelas”. Segundo dados da prefeitura, constatou-se, em 1978, a existência de 6.418 barracos, em 36 favelas, somando em torno de 36.400 habitantes. [...] [...] a atuação da prefeitura carregava uma ambigüidade flagrante: De um lado, reforçava junto aos moradores a necessidade de urbanização, cedendo às famílias o que ficou conhecido como “kit barraco”, ou seja, madeira e orientação técnica para reconstruir as habitações. E, ao mesmo tempo, procurava acabar, literalmente, com as favelas. O dilema dentro da prefeitura no tocante às favelas mostra, efetivamente, o vazio em relação a uma política pública para o setor: Não havia um plano de urbanização de favelas […] há alguns pesquisadores que mostram o seguinte: no começo dos anos 70, com as indústrias automobilísticas, havia uma participação da prefeitura no sentido de que as indústrias traziam a mão-de-obra barata do nordeste e a prefeitura dava os madeirits para esses trabalhadores construírem favelas. [...] Então, de certa forma, a Prefeitura incentivou o surgimento das favelas na segunda metade da década de 70. Diria que a Promoção Social entrou nesse papel e eu o critico, porque, no caso, a Prefeitura, se havia o crescimento da indústria automobilística na região, tinha de ter uma política de planejamento urbano, um plano diretor, para dar conta desse crescimento, ter alternativas de construção… isso não foi feito. Simplesmente vinha mão-de-obra mais barata e o município dava lastro para que fossem construídas as favelas. (PRATA, 2012)

A autora identifica o forte adensamento e a consequente precarização das

condições de vida da população recém-chegada à cidade, que hoje compõe a sua

população residente.

Page 71: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

71

A lei criada em 1998, Lei nº 4.669, alterou a legislação do longo período

anterior e estabeleceu como campo funcional e competência da então criada

Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania a formulação e execução de

políticas na área de desenvolvimento social, prestação de serviços de assistência

social à comunidade e desenvolvimento de ações de geração de renda e

capacitação para o trabalho. Importante observar que, mesmo após a Constituição

Federal e 1988 e a LOAS de 1993, que indicam objetivos e diretrizes da Política de

Assistência Social e a definem como Política de Seguridade Social não contributiva,

de dever do Estado, a Secretaria recém-criada assume papel de capacitação para o

trabalho e geração de renda, além de funções de educação e formação profissional,

tratando a Assistência Social de forma mais genérica. Nesse universo, assume

ainda como competência algumas ações afirmativas relacionadas às mulheres,

pessoas com deficiência e idosos.

Além dessas funções, instituiu em sua estrutura hierárquica órgãos de

assessoria e planejamento, entre eles os Conselhos de Assistência Social, dos

Direitos da Criança e do Adolescente e Conselhos Tutelares, estabelecendo graus

de subordinação destes ao órgão gestor, o que identificamos como desvio ao

caráter de controle social desses órgãos. A Secretaria foi criada com dois

departamentos em sua estrutura, o de Desenvolvimento Social e o da Criança e

Juventude. As ações do Departamento de Desenvolvimento Social eram voltadas ao

atendimento de famílias, tendo entre suas funções a execução “de ações de geração

de renda para o enfrentamento à pobreza”. Já o Departamento da Criança e

Juventude, apesar de estabelecer entre suas funções as de articulação, atendimento

e proteção às situações de violência, mantém uma seção de formação e iniciação ao

trabalho, com a finalidade de inserir jovens no mercado de trabalho.

Uma análise mais geral nessa legislação nos faz observar que a Assistência

Social ainda assume caráter residual, emergencial e complementar ante as demais

políticas setoriais, tendo como foco de sua atuação ações de natureza formativa e

de geração de renda como alternativa e caminho para a população carente e os

jovens, público-alvo da Secretaria.

Ao longo dos anos, várias leis criaram programas de assistência social, ou a

ela vinculados, e realizaram reformas administrativas, com pequenas alterações na

estrutura então existente, sem, no entanto, modificar sua natureza, a saber:

Page 72: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

72

● A lei nº 4.757 de 1999 cria o Programa de Renda Mínima e o Programa

Emergencial de Desenvolvimento Social, que visa a contratação e capacitação de

pessoas em situação de desemprego para torná-las aptas ao mercado de trabalho;

● A lei nº 4.937 de 2000 cria o serviço voluntário, objetivando o atendimento aos

usuários dos programas da Secretaria;

● As leis nº 5.249 de 2003 e nº 5.370 de 2005 alteram parcialmente a estrutura dos

órgãos e divisões da Secretaria;

● A lei nº 5.431 de 2005 cria cargos de coordenador e trabalhador no serviço de

Equoterapia desenvolvido pela Secretaria para o atendimento de pessoas com

deficiência – aqui apontamos mais uma vez a vinculação à Secretaria de funções

distintas da Política, já que a equoterapia é modalidade de tratamento para pessoas

com deficiência por meio de atividades com cavalos, assunto de competência da

Política de Saúde.

Já em 2008, uma reforma administrativa altera a legislação então vigente e

cria uma nova estrutura para a Secretaria, substituindo e compondo novos serviços

e seções, entre eles serviços voltados às pessoas em situação de rua e seções

específicas para atendimento de pessoas idosas, com deficiência e mulheres vítimas

de violência. Isso, no entanto, não muda seu caráter complementar e fragmentado,

que, ao contrário, é reforçado com a criação de um Departamento de Inclusão

Produtiva.

A nova lei traz em seu conteúdo terminologia mais condizente com a

legislação vigente da Assistência Social, porém não faz referência ao Sistema Único

da Assistência Social - SUAS, que já estava em vigor e em fase de implantação.

Ademais, não cita serviços como os Centros de Referência Especializados CRAS e

CREAS, embora unidades do CRAS já estivessem implantadas no município,

conforme exigência da Política Nacional. Também importante ressaltar que, em

todas as leis mencionadas, a Assistência Social é referida como uma ação dentro de

uma Política de Desenvolvimento Social, em meio a um leque de ações de

competência de diversas outras políticas públicas, mas todas direcionadas à

população carente, reforçando o caráter de “ação para os pobres”.

A Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania mantinha em sua

estrutura, até 2009, mais de 12 EMIP‟s (Escolas Municipais de Iniciação Profissional)

e, em seus quadros, 50% de servidores da Educação, entre eles professores e

diretores de escola, que conduziam ações de formação e colocação profissional a

Page 73: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

73

um público selecionado pela pobreza. No ano de 2009, após mais de 16 anos sem

alternância na representação política da cidade, nova gestão teve início e, com ela,

se propôs nova reforma administrativa, que somente foi aprovada em novembro

desse mesmo ano, após um ano de dificuldades na relação com o Poder Legislativo.

Finalmente aprovada, a Lei nº 5.982, de 11 de novembro de 2009, propõe

ampla reforma administrativa em toda a estrutura da Prefeitura, reordenando e

criando novas secretarias. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania,

fundada em 1998, sofre então alterações em sua estrutura, porém tem mantido seu

nome, já conhecida entre a população como SEDESC, sendo a principal referência

para o atendimento com cursos profissionalizantes para jovens.

Essa reforma aponta uma importante mudança na concepção da Assistência

Social no município, adequando as estruturas às exigências do SUAS e transferindo

para a Secretaria de Educação toda a estrutura educacional existente, como as

EMIP‟s e os servidores daquela Política. A mudança trouxe, no entanto, o

esvaziamento da Secretaria, uma vez que as ações prioritárias eram de formação e,

ao revés, pequeno era o quadro de trabalhadores da Assistência Social, e precários

eram seus serviços.

Há de se observar que, apesar da mudança realizada, a lei ajustou-se a

algumas estruturas já existentes. Alguns equívocos foram cometidos e certos itens

merecem nova análise e eventual alteração, uma vez que a própria estrutura

fragmenta a ação, como no caso da manutenção de Centros Especializados e

serviços diversos distintos dos CREAS‟s, mas com as mesmas funções.

Atualmente, a SEDESC, secretaria responsável pela formulação, gestão e

execução da Política de Assistência Social, mantém o campo funcional já previsto na

Lei Municipal nº 4.669, de 15 de outubro de 1998. Sua estrutura foi da seguinte

forma organizada:

Da Estrutura Hierárquica Art. 363. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania compreende os seguintes órgãos de linha, diretamente subordinados ao titular da Pasta: I - Serviço de Expediente II - Departamento de Políticas de Assistência Social III - Departamento de Políticas Afirmativas IV - Divisão de Planejamento e Apoio à Gestão [...] Art. 365. Os órgãos de linha da Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania têm os seguintes órgãos subordinados:

Page 74: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

74

[...] § 2º Departamento de Políticas de Assistência Social I - Serviço de Expediente II - Gerência de Proteção Básica III - Gerência de Proteção Social Especial IV - Gerência de Apoio ao Sistema Único de Assistência Social § 3º Departamento de Políticas Afirmativas I - Serviço de Expediente II - Gerência de Políticas para a Pessoa com Deficiência III - Gerência de Políticas para a Mulher e Questões de Gênero IV - Gerência de Políticas para o Idoso V - Gerência de Políticas para a Igualdade Racial

Uma análise geral desta lei e da construção da Política de Assistência Social

no município permite notar importantes avanços na implantação do SUAS, mas

também uma priorização inicial da implantação de benefícios, em detrimento dos

serviços, especialmente com a criação do Programa Oportunidades (Lei nº 6.033, de

15 de abril de 2010), que dispõe sobre programa de geração de trabalho e melhoria

de renda das famílias em situação de vulnerabilidade social. Também revela

equívoco quando trata, no citado § 2º, do Departamento de Políticas de Assistência

Social (grifo nosso), parecendo indicar várias “ações” de Assistência Social, e não

uma Política Pública.

Outro aspecto importante a se analisar é a criação e manutenção do

Departamento de Políticas Afirmativas na estrutura da Secretaria, cabendo a ele

também a execução de vários serviços, segmentados, de atenção às diversas

violências, apartando-os do recém-criado CREAS, que não aparece formalmente na

normativa. Esse Departamento de Políticas Afirmativas mantém os Centros de

Referência, que executam ações de proteção social básica e especial,

desvinculados dos serviços de CRAS e CREAS. Aliado a isso, o município também

possui uma Fundação Pública, Fundação Criança, que, responsável pela execução

de políticas para a infância e a juventude, por vezes confunde suas ações com as do

órgão gestor, além de duplicar proteções.

Por seu turno, a Lei Orgânica do Município, de 1990, atualizada até 2011, ao

contrário das disposições previstas na Constituição Federal de 1988, em seu título

“Da ordem social”, Capítulo III - “Da Promoção Social”, não trata a Assistência Social

como integrante da Seguridade Social, mas como ações de natureza emergencial e

compensatória que não devem prevalecer sobre as demais políticas sociais básicas,

Page 75: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

75

além de tratar de subvenções às entidades assistenciais filantrópicas, em vez do

cofinanciamento da Política, como prevê suas regulações.

TÍTULO VI Da Ordem Social [...] Capítulo III DA PROMOÇÃO SOCIAL Art. 221. As ações do Poder Público, por meio de programas e projetos na área de promoção social, serão organizadas, elaboradas, executadas e acompanhadas com base nos seguintes princípios: I - participação da comunidade; II - integração das ações dos órgãos e entidades da administração em geral, compatibilizando programas e recursos e evitando a duplicidade de atendimento entre as esferas estadual e municipal; III - o entendimento das políticas de assistência social enquanto direito de cidadania, possibilitando, aos munícipes que dele necessitarem, o acesso a benefícios e serviços que garantam o atendimento de suas necessidades básicas. Art. 222. As ações governamentais e os programas de assistência social, pela sua natureza emergencial e compensatória, não deverão prevalecer sobre a formulação e aplicação de políticas sociais básicas nas áreas de saúde, educação, abastecimento, transporte e alimentação. Art. 223. O Município subvencionará os programas desenvolvidos pelas entidades assistenciais e filantrópicas, sem fins lucrativos, com especial atenção às que se dediquem à assistência aos portadores de deficiência, conforme critérios definidos em lei. Parágrafo único. Compete ao Município a fiscalização dos serviços prestados pelas entidades citadas no "caput" deste artigo. Art. 224. O Município criará o Conselho Municipal de Promoção Social, cuja composição, funções e atribuições serão definidas em lei. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 1990 - grifo nosso)

Dessa forma, observamos que a Assistência Social, como direito do cidadão

e dever do Estado, está presente de forma frágil e incompleta na legislação, o que

não chama a atenção do legislador, considerando que várias alterações ocorreram,

após a aprovação da Constituição Federal e da Lei Orgânica da Assistência Social -

LOAS, e suas redações foram mantidas. Importante destacar que as mudanças na

legislação e as nomenclaturas utilizadas são capazes de mobilizar e alterar posturas

e comportamentos, e a inserção dos direitos em normas formais permite que esses

direitos sejam reconhecidos e exigidos. A ausência de uma legislação que fortaleça

Page 76: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

76

os conceitos da Política Pública pode representar a ausência de interesse público e

a baixa mobilização social em torno do tema que se pretende analisar.

3.3 CARACTERIZAÇÃO ATUAL DO MUNICÍPIO

Dados gerais do município de São Bernardo do Campo, divulgados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS), apontam que o município possuía 765.463

habitantes em 2010, com estimativa de 816.925 habitantes para o ano de 2015.

Portanto, o crescimento populacional previsto era de cerca de 7% no período, quase

o dobro do aumento ocorrido entre os anos de 2000 e 2010, à taxa de 0,88% ao

ano, passando de 701.289 para 765.463 habitantes.

Entre 2000 e 2010 foi verificada ampliação da população idosa, que, em

termos anuais, cresceu 4,9% em média. Em 2000 esse grupo representava 6,9% da

população municipal, já em 2010 consistia em 10,2% do total. Por sua vez, o

segmento etário de 0 a 14 anos registrou crescimento negativo entre 2000 e 2010

(-1,4% ao ano): crianças e jovens eram 26% do contingente populacional em 2000, o

que correspondia a 182.259 habitantes; em 2010 esse percentual reduziu para

20,7% da população, totalizando 158.745 habitantes. Verificou-se, no entanto,

crescimento populacional na faixa etária de 15 a 59, passando de 472.496

habitantes em 2000 para 528.797 em 2010 – representando 69,1% da população de

São Bernardo do Campo.

O Sumário de Dados do município aponta forte densidade demográfica, em

especial pelo fato de que apenas 28,9% do território refere-se a zona urbana; 53,7%

consistem em área de proteção aos mananciais e 18,6% do território é ocupado pelo

corpo d‟água da Represa Billings. Assim, aproximadamente 98% da população se

concentra na zona urbana. Essa concentração reflete-se na alta densidade

demográfica da zona urbana do município (6.741 hab./km²), destacando-se os

bairros de Santa Terezinha, Dos Casa, Ferrazópolis, Baeta Neves e Alves Dias,

todos com mais de 13.500 hab./km² .

Page 77: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

77

Cerca de 200 mil pessoas vivem em assentamentos urbanos irregulares

existentes nas áreas de proteção aos mananciais, sendo o território do Alvarenga

uma área representativa das ocupações irregulares, compreendendo cerca de 35

bairros que ainda sofrem pressões de ocupação por famílias de baixo poder

econômico.

Na imagem a seguir apresentamos o mapa de São Bernardo do Campo,

mostrando sua posição geográfica e a importante área do município cravada no

entono da Represa Billings, com área rural e de proteção de mananciais.

Mapa 2 - Posição geográfica e área de mananciais do município

Fonte: Google Maps 12

12

GOOGLE MAPS. São Bernardo dos Campos. Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/@-23.8046745,-46.6697907,11z>. Acesso em: jan./2016.

Page 78: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

78

Tabela 2 - População residente e densidade demográfica

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Na tabela acima observamos a grande concentração populacional

especialmente em alguns bairros, quais sejam, Alves Dias, Baeta Neves, Dos Casa,

Ferrazópolis e Santa Terezinha. A zona rural envolve 10 bairros, localizados no

distrito do Riacho Grande, cujos moradores se utilizam de balsa para chegar ao

centro de São Bernardo ou à zona sul da capital, sendo que 40% do espaço está

nos limites da área de proteção ambiental.

Page 79: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

79

São Bernardo possui ainda uma grande área de proteção de mananciais,

porém altamente populosa, com quase 200.000 habitantes, conforme tabela a

seguir:

Tabela 3 - População em área de proteção e recuperação de mananciais

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Em termos orçamentários, o município se classifica entre os de maior

orçamento da região. Sua receita orçamentária passou de R$ 1.671,6 bilhão em

2005 para R$ 2.041,3 bilhões em 2009, o que retrata uma alta de 68,4% no período

ou 13,91% ao ano, e R$ 2.447,3 bilhões em 2011, conforme apontado pelo Sumário

de Dados.

Page 80: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

80

Tabela 4 - Principais receitas do município entre 2009 e 2011

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Já em 2015, de acordo com a Lei Orçamentária Anual - LOA, Lei 6.373 de

14 de dezembro de 2014, a receita da administração direta do município passou

para R$ 4.551.886.000, com crescimento em relação a 2011 de quase 100%.

Page 81: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

81

Tabela 5 - Receitas do orçamento 2015

Fonte: Lei Orçamentária Anual, 2014

13

No que diz respeito a despesas, em 2011 as áreas da saúde, educação,

administração, previdência social e trabalho foram responsáveis por 61,2% das

despesas municipais. Em Assistência Social as despesas alcançaram 1,1% do

orçamento total, registrando redução em relação a 2009.

13

SÃO BERNARDO DO CAMPO (Município). Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo. Orçamentos. Disponível em: <http://www.saobernardo.sp.gov.br/orcamentos-sopp>. Acesso em: jan./2016.

Page 82: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

82

Tabela 6 - Despesas realizadas por função entre 2009 e 2011

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

No ano de 2015, as despesas com Assistência Social se mantiveram no

patamar de 1% da receita, com 0,82% de recursos próprios e 0,22% de recursos de

outras fontes, indicadas transferências da União e Estado.

Page 83: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

83

Tabela 7 - Despesas realizadas por função 2015

Fonte: Lei Orçamentária Anual, 2014

14

Há de se considerar que as despesas identificadas como de Assistência

Social incluem as despesas de toda a Secretaria. As despesas específicas do

Departamento de Assistência Social totalizam R$ 21.696.000, conforme orçamento

publicado.

14

SÃO BERNARDO DO CAMPO (Município). Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo. Orçamentos. Disponível em: <http://www.saobernardo.sp.gov.br/orcamentos-sopp>. Acesso em: jan./2016.

Page 84: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

84

Quanto aos níveis de pobreza, o Censo Demográfico de 2010 indicava que o

município contava com 18.710 pessoas na extrema pobreza, sendo 1.297 na área

rural e 17.413 na área urbana. Em termos proporcionais, 2,4% da população está na

extrema pobreza, com intensidade maior na área rural (10,1% da população na

extrema pobreza na área rural, contra 2,3% na área urbana).

Dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)

apontam que São Bernardo do Campo apresenta 23.453 famílias elegíveis ao Bolsa

Família e 52.979 famílias de baixa renda, elegíveis ao Cadastro Único (PNAD 2006).

Atualmente, o município possui 18.661 famílias15 no programa de transferência de

renda Bolsa Família e 42.68116 inseridas no CAD Único. Atende ainda 9.364 famílias

no Benefício de Prestação Continuada - BPC.

3.4 PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA – CRAS E SEUS TERRITÓRIOS

Dados coletados do município, por meio da Secretaria de Desenvolvimento

Social e Cidadania, apontam que 24.037 famílias estão referenciadas nas cinco

unidades de CRAS existentes, embora não se tenha definição clara sobre esse

referenciamento, sendo consideradas referenciadas todas as famílias que em algum

momento passaram pelo CRAS desde o início do seu funcionamento. Dessas

famílias, 3.017 estão inseridas em serviços da rede conveniada, sendo 1.842 em

serviços de convivência e fortalecimento de vínculos, 1.075 em serviços

denominados “complementares ao PAIF” e 1.000 em serviços oferecidos pela

Fundação Criança, fundação de caráter público que desenvolve as ações

relacionadas a crianças e adolescentes no município, podendo-se assim considerar

que são essas as famílias inseridas no PAIF.

As unidades de CRAS estão localizadas nas seguintes áreas:

15

Dados referentes a janeiro de 2016, disponíveis no site do MDS. Cf.: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento e Combate à Fome. Disponível em: <http://mds.gov.br/>. Acesso em: jan./2016. 16

Dados referentes a novembro de 2015, disponíveis no site do MDS.

Page 85: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

85

Tabela 8 - Unidade de CRAS e sua referência territorial

Unidade Bairros/ Regiões Quantidade de bairros, vila e conjuntos

habitacionais que compõem a região de referência

CRAS I Baeta Neves, Montanhão, Ferrazópolis, Nova Petrópolis, Santa Terezinha

83

CRAS II Alves Dias, Assunção, Cooperativa Independência, Jordanópolis, Planalto

117

CRAS III Batistini, Botujuru, Demarchi, Dos Alvarenga, Dos Casa

127

CRAS IV Balneária Botujuru, Riacho Grande, Dos Finco, Montanhão, Rio Grande, Zona Rural

62

CRAS V Anchieta, Baeta Neves, Centro, Paulicéia, Rudge Ramos, Taboão

155

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania - Prefeitura de SBC 17

A seguir, o mapa demonstra a localização dos CRAS‟s, de forma

aproximada, e sua relação com o conjunto dos bairros referenciados, possiblitando

um olhar da distribuição na totalidade do município.

17

Dados obtidos em visita à Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania de São Bernardo do Campo.

Page 86: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

86

Mapa 3 - Localização aproximada dos CRAS’s

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania - Prefeitura de SBC

A localização das unidades corresponde às áreas mais populosas e de

maior vulnerabilidade, conforme identificamos anteriormente, os bairros Alves Dias,

Baeta Neves, Dos Casa, Ferrazópolis e Santa Terezinha e a zona rural, que envolve

dez bairros situados no distrito do Riacho Grande. No entanto, ocorre que, em razão

da característica geográfica do município, há relativa distância entre os bairros, o

que dificulta sobremaneira o acesso da população à unidade, além de desproporção

entre a população do território e a oferta de serviços.

Podemos observar que quatro unidades de CRAS estão concentradas na

região mais central, representada pela parte superior do mapa, cujos bairros de

abrangência estão descritos no quadro anterior. Observamos ainda que somente o

CRAS IV responde por toda a área referente à parte inferior do mapa, incluindo a

CRAS I

CRAS II

CRAS III

CRAS V

CRAS IV

Page 87: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

87

área rural e a de proteção de mananciais, separadas pela Represa, cujo acesso se

dá por meio de balsa.

Há ainda uma dificuldade de acesso da população às unidades de CRAS em

razão da distância entre os bairros e a unidade de referência, além de número

insuficiente de unidades na região mais afastada. Mesmo em relação às unidades

mais próximas se apontam dificuldades de acesso, uma vez que o sistema de

transporte muitas vezes não atende às necessidades de locomoção entre os bairros,

sendo assim mais fácil o acesso da população ao centro da cidade. Os CRAS‟s não

possuem equipes volantes e todas as ações são realizadas na própria sede das

unidades.

O Sumário de Dados do município, em 2012, última edição publicada,

relacionou os serviços ofertados em quatro unidades de CRAS:

Tabela 9 - Serviços oferecidos pelos CRAS’s

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Page 88: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

88

Apesar de passados mais de dois anos da divulgação, os dados nos fazem

notar que as ações são especialmente focadas no acolhimento/atendimento e

encaminhamento para serviços da rede. Em seguida aparece a concessão de

benefícios eventuais e em menor número, as reuniões de equipe e grupos

socioeducativos.

Os dados coletados e identificados no Sumário não incluem informações

precisas quanto ao número de famílias envolvidas, já que o referencial “número de

atendimento” não permite individualizar por referência o número de famílias

atendidas. Da mesma forma, o total de grupos socioeducativos não possibilita

identificar qual trabalho é realizado, a frequência em que ocorre e a continuidade da

participação das famílias. Nossa experiência aponta que são realizadas reuniões

pontuais com grupos de famílias, muitas vezes por programas, como o “Renda

Cidadã”, programa estadual de transferência de renda, que podem se repetir ou não,

não indicando necessariamente o trabalho social requerido pelo PAIF.

Analisamos a seguir a presença de serviços públicos nos territórios com a

demonstração dos mapas. Pretende-se aqui analisar a oferta de serviços públicos,

que constituem elemento importante de proteção social, reduzindo os níveis de

vulnerabilidade das famílias em relação aos territórios de vivência.

Page 89: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

89

Mapa 4 - Rede de cultura

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Observamos, no que diz respeito aos pontos de cultura, maior oferta de

serviços itinerantes como cineclube e ação cultural nos bairros.

Page 90: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

90

Mapa 5 - Rede de saúde

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Em relação à rede de saúde, há maior número de UBS‟s - Unidades Básicas

de Saúde, embora também concentradas na parte superior do mapa, identificando a

fraca presença desses serviços nas áreas de mananciais e zona rural. Há poucos

hospitais e serviços especializados nos territórios.

Page 91: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

91

Mapa 6 - Rede de esporte e lazer

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Esporte e lazer ficam mais fortemente marcados pela presença de campos

de futebol e ginásios de esportes, havendo poucos parques municipais.

Page 92: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

92

Mapa 7 - Rede de educação

Fonte: Sumário de Dados do Município (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2012)

Em todos os casos, a exemplo das Unidades de Saúde, há maior

concentração de serviços, de todas as políticas, na parte superior do mapa,

ratificando sua fraca presença nas áreas de mananciais e zona rural, que

concentram um número significativo de famílias.

Especificamente em relação à cobertura dos serviços ofertados pela

Assistência Social, observamos significativa desproporção entre o número de

famílias inseridas no Cadastro Único do Governo Federal e nos programas de

transferência de renda e o daquelas inseridas em serviços no território. Essa análise

é interessante já que os territórios dos CRAS‟s, em sua maioria, apresentam

importantes riscos sociais, registrando ausência de serviços e moradias precárias.

Sem contar que o perfil das famílias inseridas nos programas sociais indica algum

grau de vulnerabilidade, o que exigiria atenção a elas, por meio de serviços, à luz da

proposta de integração entre serviços e benefícios prevista na Política de

Assistência Social, explicitada no Protocolo de Gestão Integrada de Serviços,

Benefícios e Transferências de Renda no âmbito do Sistema Único de Assistência

Social - SUAS, Resolução CIT nº 7, de 10 de setembro de 2009.

Page 93: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

93

Tabela 10 - Número de famílias x inserção em serviço da Assistência Social

por unidade de CRAS

Famílias do CAD Único no território de abrangência

Famílias inseridas em Benefícios (PTR e BPC) no território

de abrangência

Total de famílias referenciadas

Total de famílias inseridas em serviços no

território

CRAS I 10.057 9.386 7.500 782

CRAS II 6.579 4.476 3.537 925

CRAS III 5.506 7.825 7.500 895

CRAS IV 8.570 2.968 4.500 815

CRAS V 10.310 4.247 1.000 500

Total 41.022 28.902 24.037 3917

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania - Prefeitura de SBC

Nos dados acima podemos observar que em torno de 13% das famílias

inseridas em Programas de Transferência de Renda e Benefícios de Prestação

Continuada estão inseridas nos serviços, se destacando ainda que, desse total,

apenas 1.075 casos, menos de 4%, conforme demonstramos abaixo, referem-se a

serviços de atendimento às famílias (PAIF), sendo os demais, a maior parte,

modalidade de Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças e

adolescentes, ofertado por organização não governamental e ainda assim de baixa

cobertura.

Tabela 11 - Serviços da Assistência Social ofertados por unidade de CRAS x Famílias

atendidas por modalidade

CRAS I CRAS II CRAS III CRAS IV CRAS V Total

SCFV18

* conveniado no território

307 360 525 355 295 1842

Serviço complementar ao PAIF

225 315 120 210 205 1075

SCFV - Fundação Criança

250 250 250 250 0 1000

Total 782 925 895 815 500 3917

Fonte: Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania - Prefeitura de SBC

18

Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.

Page 94: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

94

Não observamos a presença de atividades coletivas no território envolvendo

os serviços locais, tampouco de Serviços de Convivência e Fortalecimento de

Vínculos para idosos, pessoas com deficiência ou mesmo para o conjunto das

famílias, assim como não identificamos a proteção ofertada em domicílio para

pessoas idosas e/ou com deficiência.

Nosso objetivo aqui foi demonstrar que a oferta de Proteção Social nos

territórios é diretriz da Política de Assistência Social, e sua ausência refletirá na ação

do CREAS. Famílias em situação de desproteção e com dificuldade de acesso a

serviços de proteção básica, sejam da Assistência Social ou das demais políticas

públicas, serão identificadas somente por ocasião de ocorrências de maior

gravidade, muitas vezes já judicializadas, e com maior dificuldade para intervenções,

senão aquelas de caráter emergencial e pontual.

Nesse sentido, Sposati (2009) define o sentido de proteção social na

Seguridade Social brasileira:

O sentido de proteção (protectione do latim) supõe antes de mais nada tomar a defesa de algo, impedir sua destruição, sua alteração. Nesse sentido a idéia de proteção contém um caráter preservacionista – não da precariedade, mas da vida – supõe apoio, guarda, socorro e amparo. Este sentido preservacionista é que exige tanto as noções de segurança social como de direitos sociais [...]. A idéia de proteção social exige forte mudança na organização das atenções, pois implica em superar a concepção de que se atua nas situações só após instaladas, isto é, depois que ocorre uma “desproteção”. Ela exige que se desenvolvam ações preventivas. (SPOSATI, 2009, p.21)

A forma de ofertar proteção social no município de São Bernardo do Campo

carece de mudanças, a começar pela definição dos territórios de referência das

políticas públicas, que são distintos entre si e entre as regiões definidas pela

administração, para elaboração do planejamento e orçamento da cidade. A ação

intersetorial, outro fator importante de proteção social, precisa ser uma diretriz de

governo, e não de exclusividade da Assistência Social, devendo implicar toda a

gestão. O investimento nas Políticas Sociais, seja por meio de implantação e

qualificação de serviços, seja pela composição e formação de Recursos Humanos,

deve garantir cobertura de acordo com a demanda identificada a partir dos

territórios. A Assistência Social precisa apontar maior clareza de conceitos relativos

Page 95: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

95

às especificidades das respectivas proteções e à articulação necessária, de forma a

se demonstrar eficiente em sua resolutividade para, de forma integral, completar-se

com as demais políticas públicas de proteção social.

Por essas razões, a normatização da Política de Assistência Social se faz

necessária, e deve contemplar o modelo de gestão proposto pelas normativas

nacionais, definindo, entre outros, as responsabilidades do município na efetivação

da Política de Assistência Social e garantindo a instalação das três funções:

Proteção Social, Vigilância Socioassistencial e Defesa de Direitos. Deve organizar

a rede socioassistencial por proteções, articuladas entre si, com os serviços das

demais políticas e com os municípios vizinhos. Deve ainda implantar a gestão do

trabalho e a educação permanente.

A normatização fortalece a Política Pública, demarcando sua

responsabilidade e especificidade no município, construindo sua própria identidade,

além de torná-la exigível.

Page 96: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

96

CAPÍTULO IV – A MATRICIALIDADE SOCIOFAMILIAR E O TRABALHO SOCIAL

COM FAMÍLIAS NO CREAS DE SÃO BERNARDO DO CAMPO

4.1 A PESQUISA

A pesquisa abrange o estudo da família na contemporaneidade e sua

relação com as Políticas Públicas, a partir de bibliografia sobre o tema, além do

referencial legal-normativo que ao longo da história regulou a atenção às famílias e a

Política de Assistência Social. Utilizamos a pesquisa quantitativa para levantamento

dos dados quanto ao perfil das famílias atendidas na proteção social especial de

São Bernardo do Campo, à rede de atenção existente nos territórios das famílias

pesquisadas e à demanda existente.

Na pesquisa empírica adotamos a metodologia de pesquisa qualitativa, com

as técnicas de entrevista e grupo focal, envolvendo profissionais do serviço,

orientados a partir de um roteiro abordando questões como a análise das

metodologias utilizadas à luz da Política Nacional de Assistência Social; a

concepção das equipes técnicas em relação à família e a diretriz da Matricialidade

Sociofamiliar; as formas como se identifica a demanda e como a família chega ao

serviço; os procedimentos para acolhida inicial; como são realizadas as visitas

domiciliares, a periodicidade e a forma do acompanhamento; além da ocorrência de

intersetorialidade e o trabalho em rede.

Optamos pela pesquisa qualitativa considerando que possibilitaria maior

aproximação com o cotidiano dos profissionais e das famílias atendidas, permitindo

alcançar melhor resultado na identificação de conhecimentos, conceitos e valores

que outros meios. Para Martinelli (2012, p.25),

[...] essa pesquisa tem por objetivo evidenciar o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não só da minha visão de pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me dizer a respeito. Parte-se de uma perspectiva muito valiosa, porque à medida que se quer localizar a percepção dos sujeitos, torna-se indispensável - e este é um outro elemento muito importante - o contato direito com o sujeito da pesquisa.

Page 97: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

97

Realizamos entrevistas individuais e com o grupo focal, que é uma forma

rápida e prática de pôr-se em contato com a população que se deseja investigar.

Pode ser considerado um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com

o propósito de obter informações de caráter qualitativo em maior profundidade, a

partir da reunião de pessoas que possuem características comuns e produzem

dados qualitativos sobre a discussão focalizada.

O trabalho com grupos focais permite compreender processos de construção da realidade por determinados grupos sociais, compreender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos e atitudes, constituindo-se uma técnica importante para o conhecimento das representações, percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologia prevalentes no trato de uma dada questão por pessoas que partilham alguns traços em comum, relevantes para o estudo do problema visado. (GATTI, 2012, p.11)

Para melhor identificar as condições objetivas19 de trabalho dos

profissionais, foram levantadas questões relativas à formação das equipes,

articulação da Rede de Serviços, os serviços socioassistenciais disponíveis e sua

presença nos territórios das famílias acompanhadas, além das formas de construção

dos processos de trabalho intersetorial. Entendemos que as condições objetivas de

trabalho refletem diretamente na qualidade da atenção ofertada pelo profissional, por

vezes causando frustração e incapacidade de intervenção profissional, mesmo que

se tenha clareza quanto às demandas sociais e profissionais.

Na pesquisa de campo realizamos reunião com os profissionais com o

objetivo de apresentar a pesquisa e suas etapas e prestar esclarecimentos sobre

sua participação na pesquisa. Realizamos entrevistas individuais com profissionais

de nível superior, assistentes sociais. Escolhemos o perfil dos profissionais

considerando o tempo de formação, o tempo de trabalho na Prefeitura e o segmento

em que atua, já que os profissionais se dividem internamente por demandas

envolvendo crianças e adolescentes, idosos e pessoas com deficiência, de forma a

contemplar a heterogeneidade do grupo.

19

Para Yolanda Guerra (2013), as condições objetivas são aquelas relativas à produção material da sociedade, são condições postas na realidade material. Por exemplo: a divisão do trabalho, a propriedade dos meios de produção, a conjuntura, os objetos e os campos de intervenção, os espaços sócio-ocupacionais, as relações e condições materiais de trabalho.

Page 98: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

98

Tabela 12 - Perfil dos assistentes sociais entrevistados

Profissional Tempo de formação

Tempo de serviço público

Segmento de atendimento prioritário *

AS - 1 14 anos 12 anos Criança e adolescente

AS - 2 08 anos 01 ano Criança e adolescente

AS - 3 29 anos 24 anos Idoso

AS - 4 33 anos 24 anos Criança e adolescente

AS - 5 23 anos 20 anos Idoso

*De acordo com a divisão interna das atividades do CREAS

Fonte: Dados da pesquisa

Não foi possível a entrevista individual com a assistente social de referência

para as situações de pessoas com deficiência em razão de seu período de férias,

que coincidiu com o período da pesquisa de campo, porém a profissional participou

do grupo focal.

Realizamos finalmente o grupo focal, que envolveu 13 profissionais do

CREAS, quase a totalidade dos profissionais. Dessa forma, foi contemplada a

heterogeneidade pretendida quanto a tempo de formação, de serviço público e área

prioritária de atuação. O grupo contou com nove assistentes sociais, duas

coordenadoras psicólogas, uma coordenadora assistente social e uma estagiária de

psicologia.

Considerando o tempo de formação das assistentes sociais, o maior grupo

possui mais de 20 anos de formação na graduação. Nenhuma profissional tinha

curso de pós-graduação até a oferta do Curso de Especialização em Gestão da

Política de Assistência Social, pela Prefeitura, realizado pela PUC/SP, no ano de

2012, com a participação de seis profissionais, 46% das que atuam no CREAS.

Parte dos profissionais ainda não estava contratada na ocasião do curso.

Page 99: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

99

Gráfico 1 - Tempo de formação das assistentes sociais

Fonte: Dados da pesquisa

Sobre o tempo de formação das duas psicólogas que completam o grupo

focal e exercem atividades de coordenação, ambas afirmaram que faz entre 10 e 20

anos que se graduaram.

Quanto ao tempo de serviço dos profissionais na Prefeitura de São

Bernardo, a maioria tem até cinco anos de trabalho.

Gráfico 2 - Tempo de trabalho dos profissionais na PMSBC

Fonte: Dados da pesquisa

2 15%

3 23%

3 23%

5 39%

ate 5 anos

ate 10 anos

ate 20 anos

mais de 20 anos

7 54%

1 8%

3 23%

2 15%

ate 5 anos

ate 10 anos

ate 20 anos

mais de 20 anos

Page 100: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

100

4.2 A PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL - CREAS

A Proteção Social Especial em São Bernardo do Campo, conforme já

identificado em capítulo anterior, compõe a estrutura administrativa da SEDESC, por

meio da Gerência de Proteção Social Especial, responsável por dois serviços:

Serviço de Atenção à População em Situação de Rua e Serviço de Atenção à

Criança e ao Adolescente em Vulnerabilidade. Dessa forma, o CREAS, na forma

estabelecida no SUAS, não está previsto no organograma da SEDESC. Esse

serviço passou a funcionar efetivamente em janeiro de 2010, a partir de uma equipe

que atuava na extinta Seção Família, cuja principal atividade era realizar o

acompanhamento das famílias inseridas no PETI - Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil.

Em função das necessidades de implantar o SUAS e de articular os serviços

socioassistenciais do município para uma atuação em rede, se iniciou a discussão

para a construção de um fluxo de atendimento para os casos de violência contra

crianças e adolescentes. Embora o serviço tenha assumido as funções de um

CREAS já em meados de 2010, sua formalização como porta de entrada para os

casos da Proteção Social Especial envolvendo crianças e adolescentes ocorreu no

dia 18 de agosto de 2010, com uma formação para os conselheiros tutelares do

município. A partir de sua constituição, esforços foram sendo realizados no sentido

de fortalecer sua função e reorganizar os fluxos de trabalho no município, com o

reconhecimento do CREAS e a organização dos serviços a ele vinculados.

De acordo com o relatório de gestão 2009/2012 da Gerência de Proteção

Social Especial, do ano de 2013, somente famílias com crianças e adolescentes em

situação de violência eram atendidas no CREAS, em razão da existência de outros

Centros de Referência, quais sejam, Centro de Referência da Pessoa com

Deficiência - CRPD, Centro de Referência de Apoio à Mulher - CRAM, Centro de

Referência do Idoso - CRI, Centro de Referência da Pessoa em Situação de Rua -

Centro POP e a Fundação Criança:

Em São Bernardo do Campo, devido à organização da oferta dos serviços contar com outros Centros de Referência especializados (CRPD, CRAM, CRI e Centro Pop) e com a Fundação Criança de São Bernardo do Campo, o CREAS executa diretamente apenas o PAEFI (Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos), tendo

Page 101: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

101

como foco principal o atendimento e acompanhamento de famílias com crianças e adolescentes em situação de violência, referenciando os demais serviços, bem como os usuários desses serviços. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2013)

O CREAS assumiu ainda a função de monitorar a rede conveniada e iniciou

o desafio da construção de redes de atendimento:

Outra atividade realizada pelo CREAS, além do atendimento direto e do acompanhamento das famílias referenciadas, é o monitoramento da rede socioassistencial de proteção social especial conveniada. Em 2010 eram acompanhados 14 programas e projetos conveniados com recursos do FMAS e FMDCA, demandando leitura mensal de relatórios, visita de monitoramento periódica e elaboração de relatórios de avaliação. Em 2012 o CREAS acompanha 08 programas e projetos, executados por 06 instituições. Essa atividade algumas vezes entra em conflito com a atribuição de realizar a mobilização e articulação dos serviços referenciados, em razão daquela se formatar por meio de uma relação um pouco mais hierarquizada, e esta, exigir relações horizontais e de construção coletiva. Visando mobilizar, articular e também monitorar a rede socioassistencial de proteção social especial, o CREAS passou a agrupar os serviços em sub-redes. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2013)

Relata, dessa forma, a construção de sub-redes temáticas e intersetoriais,

de forma a articular e fortalecer os serviços. Entre elas, a sub-rede de Medidas

Socioeducativas, sub-rede de Atendimento Especializado em casos de Vitimização,

sub-rede de Trabalho Infantil e sub-rede de acolhimento institucional, além da

articulação com demais instituições.

O CREAS iniciou um trabalho no sentido de se aproximar dos demais

Centros de Referência do município, formando assim outras sub-redes intersetoriais,

incluindo, além dos Centros de Referência já citados, os CRAS‟s, Sistema CAPS e

Conselhos Tutelares. Esses grupos visavam construir aproximação e fluxos de

atendimento às famílias assistidas pelo CREAS.

Ainda no relatório de gestão (2009-2012) registra-se:

No âmbito do CREAS, há a necessidade de definir como será organizada a proteção social especial, que atualmente é ofertada no CREAS, e nos outros quatro centros de referência especializados (CRPD, CRI, CRAM e Centro Pop), além de ser ofertada na Fundação Criança, dificultando o processo de

Page 102: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

102

referenciamento no CREAS e favorecendo intervenções fragilizadas, setorizadas e com duplicidade de atendimento. No que concerne à atuação do CREAS na atual configuração da política de Assistência Social em São Bernardo do Campo, verificamos avanços na articulação com a rede socioassistencial não governamental e com a Fundação Criança, por meio das reuniões com as sub-redes de cada serviço referenciado. Esta articulação se mostra mais consistente com a sub-rede da proteção social especial de alta complexidade, a qual, após pactuar um fluxo de informações e atendimentos, deu início à construção de uma metodologia comum de atendimento às famílias. Em relação à Fundação Criança, entretanto, ainda há um longo processo de definições de competências e pactuações, no sentido de evitar duplicidades nos atendimento e, principalmente, diminuir a incidência de intervenções frágeis. (SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2013)

Observamos aqui um longo processo de implantação e de esforços para o

fortalecimento da função do CREAS, que perdurou por toda a gestão 2009-2012.

Analisando o relatório do ano seguinte (Relatório de Gestão da Gerência de

Proteção Social Especial – 2013), notamos alterações importantes na organização

dos serviços:

No que concerne à atuação do CREAS na atual configuração da política de Assistência Social em São Bernardo do Campo, verificamos avanços na articulação com a rede socioassistencial não governamental, por meio da consolidação das reuniões com as sub-redes como locais de referência para a discussão de casos complexos cuja intervenção é intersetorial. Cada uma das sub redes apresentou avanços em termos da construção de alinhamento de conceitos e de metodologias, descritos no item acima. Outro avanço importante refere-se à incorporação, pelo CREAS, do atendimento à violência contra idosos e pessoas com deficiência, a partir do mês de outubro, diminuindo, assim, a fragmentação dos atendimentos por segmento, na perspectiva de consolidação do atendimento integral à família.

Em relação à formação da equipe, além do já citado Curso de

Especialização oferecido pela Prefeitura no ano de 2012, o relatório aponta a

formação, em caráter de extensão, oferecida pelo Consórcio Intermunicipal do ABC

aos profissionais nos sete municípios que compõem a região.

Outro avanço refere-se à participação de parte da equipe na Formação Regional aos Profissionais do SUAS, oferecida aos sete municípios do ABCDMRR pelo Consórcio Intermunicipal

Page 103: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

103

Grande ABC, de modo que 100% da equipe passou por formação relativa ao SUAS nos últimos dois anos. Além da Formação, membros da equipe participaram de Seminários, Encontros e Grupos de Trabalho oferecidos pela Defensoria Pública, PMSBC, DRADS, etc.

O relatório expõe, no entanto, dificuldades na gestão do serviço e nas

articulações internas, especialmente com os serviços da Proteção Social Básica e a

oferta dos benefícios eventuais:

Mostra-se necessário, ainda, avançar na articulação com os CRAS, pois com essas unidades de atendimento da própria da Secretaria ainda não foi possível pactuar um fluxo de atendimento e de informações que garantam a continuidade do atendimento às famílias que transitam pelas proteções básica e especial, assim como definir os conceitos das proteções para melhor construir as referências. [...] [...] A disponibilização irregular dos benefícios eventuais para os serviços da Secretaria é outro fator que afeta negativamente a qualidade do atendimento prestado à população. A falta de regularidade em sua oferta implica na impossibilidade de que os Serviços planejem adequadamente a melhor maneira de utilização destes recursos. Talvez seja pertinente avaliar a possibilidade de, estando os CRAS fortalecidos, concentrar a oferta de benefícios eventuais nos territórios, no âmbito da proteção social básica, visto que sua concessão refere-se ao enfrentamento da situação de vulnerabilidade socioeconômica; no entanto, para que essa organização possa ser efetivada, a articulação entre os dois níveis de proteção social precisa estar bastante avançada, o que não ocorre no momento.

Outra dificuldade apontada pelo CREAS refere-se à relação com o Poder

Judiciário, o Ministério Público e órgãos da Segurança Pública, em razão das

demandas por eles geradas e da responsabilização do CREAS em situações de

apuração de denúncias de maus-tratos e outras violências como serviço “auxiliar”.

Enfrentamos ainda a judicialização da Politica de Assistência Social e a dificuldade dos órgãos dos sistemas de segurança e justiça (delegacias especializadas, ministérios público e poder judiciário) em compreenderem a função da Politica de forma autônoma, não sendo esta um “apoio” complementar às demais politicas. A desconstrução da demanda dos órgãos de segurança e justiça pela utilização da equipe do CREAS ainda constitui-se num desafio. Embora o processo tenha sido iniciado e obtidos alguns resultados positivos, a constante mudança dos interlocutores dos respectivos órgãos exige que as conversas sejam retomadas de seu ponto de partida, várias vezes. Consideramos de extrema importância que esse

Page 104: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

104

processo se mantenha, de modo que a equipe possa ater-se ao desempenho de suas funções de atendimento e acompanhamento familiar, como previsto pela Política de Assistência Social.

Destacamos aqui nossa afirmação anterior quanto ao não reconhecimento

da especificidade da Política de Assistência Social por outras políticas e/ou serviços

existentes, sobrecarregando os serviços com demandas que deveriam ser atendidas

nas suas esferas de competência. É comum que o CREAS seja acionado para

produzir provas aos órgãos de segurança e justiça, com a finalidade de dar

andamento a procedimentos criminais diversos.

Nesse sentido, pesquisa realizada pelo IPEA em 2015 aborda um conflito

existente entre o SUAS e o sistema de justiça, em caráter nacional, relatado pelos

profissionais do SUAS, que descreveram o sentimento em relação às demandas da

Justiça.

Destacaram o elevado número de requisições recebidas e a sensação de que não há compreensão, tampouco respeito às funções e limitações do SUAS. Em meio às ameaças de prisão por não cumprimento de requisições e violação de direitos trabalhistas em virtude de trabalho não remunerado ou não previsto em seus cargos originários, agentes do SUAS concebem a solução do conflito como essencial no processo de consolidação e efetividade do próprio Sistema de Assistência Social. O impacto causado pelas tensões entre o SUAS e o Sistema de Justiça deve-se ao fato de que as solicitações oriundas do Sistema de Justiça são responsáveis por alterações de planos de trabalho e de fluxos originalmente estabelecidos a fim de cumprir as metas previstas ao Sistema de Assistência Social e seus serviços. (IPEA, 2015, p.196)

Ainda, o Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial -

2013 menciona outras demandas que interferem na qualidade e continuidade em

relação ao trabalho social com famílias:

Outra demanda refere-se à reorganização da rede de acolhimento institucional para adequação à legislação vigente, tornada ainda mais urgente em função dos problemas de articulação com a Fundação Criança e com o Sistema de Justiça (Ministério Público e Vara da Infância e Juventude). Tais circunstâncias implicam na falta de qualidade na continuidade do acompanhamento familiar tanto durante o processo de acolhimento, quanto no pós-acolhimento institucional.

Page 105: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

105

As múltiplas atribuições dos técnicos que atendem à proteção social especial demanda deles formação especializada e capacidade interna de lidar com as vicissitudes do trabalho com situações de violência, as quais muitas vezes apresentam-se em formas bastante chocantes e extremas. Devido a essas características, faz-se urgente a contratação de supervisão específica para a equipe, visto ainda que em muitos casos a possibilidade de intervenção é pequena, os avanços são lentos e permeados por retrocessos, demandando muito investimento dos técnicos em cada caso atendido, além de elevada tolerância à frustração, gerando desgastes na equipe. Neste contexto, identificamos algumas dificuldades na oferta de serviços, a serem consideradas no planejamento da Secretaria para que possamos qualificar a Rede de Proteção:

inexistência de serviço qualificado para o acolhimento de famílias com crianças;

poucos serviços de convivência que atendem aos interesses e necessidades dos adolescentes;

ausência de serviço de cuidadores de idosos e de pessoas com deficiência;

ausência de centro-dia para pessoa com deficiência;

poucas vagas em centro-dia para idosos.

dificuldades na rede de acolhimento para idoso

Atualmente, o CREAS atua em espaço físico próprio, que atende às

orientações do MDS, e possui uma equipe com 12 Assistentes Sociais, cinco

estagiários de Psicologia e cinco profissionais de ensino médio, sendo três com

funções administrativas e uma monitora social. Ainda não possui a equipe

multiprofissional recomendada, uma vez que não se vê no quadro de servidores da

Secretaria o cargo de Psicólogo. Também não possui advogados ou outro

profissional. As psicólogas que atuam no CREAS exercem cargo de coordenação,

sendo uma servidora pública efetiva e outra em cargo comissionado.

Conforme Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial de

2014, o CREAS tinha 3.900 famílias referenciadas, sendo assim consideradas todas

as famílias que estejam em acompanhamento pelo CREAS, diretamente pela equipe

ou nos serviços da Rede de Proteção Social Especial. Nesses casos para cada

serviço conveniado se destaca um técnico de referência para a supervisão técnica e

referência da família. Também são consideradas referenciadas as famílias que não

estão mais em acompanhamento, já desligadas do serviço.

Page 106: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

106

Tabela 13 - Famílias referenciadas por motivo - 2014

Nº %

Trabalho Infantil 56 1,5%

Violência na Escola 1.212 31%

Demais violências contra crianças e adolescentes 1.985 51%

Violências contra idosos 578 14,5%

Violências contra pessoas com deficiência 69 2,0%

Total 3.900 100%

Fonte: Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial - 2014

(SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2015)

Em relação ao atendimento realizado diretamente pelos técnicos no CREAS,

o relatório aponta 2.324 famílias em acompanhamento, o que representa 59,5% do

total, sendo as demais incluídas nos serviços conveniados, com acompanhamento

indireto pela equipe, ocorrendo assim a referência e a supervisão.

Tabela 14 - Acompanhamento das famílias por serviço - 2014

Nº %

Atendimento direto por técnicos do CREAS 2.324 59,5%

Acompanhamento na rede de acolhimento Criança e Adolescente 70 1,8%

Acompanhamento na rede de Idosos 124 3,2%

Acompanhamento na rede de violência Criança e Adolescente 420 10,8%

Acompanhamento na rede de medidas socioeducativas 77 1,9%

Acompanhamento na rede de trabalho infantil 42 1,01%

Famílias em atendimento na Fundação Criança 23 0,6%

Casos de “Força Tarefa” reencaminhados à Diretoria de Ensino 100 2,6%

Concluídos/encerrados 720 18,5%

Total 3.900

Fonte: Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial - 2014

(SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2015)

Podemos observar que, para o universo das 2.324 famílias em

acompanhamento direto no CREAS, contamos com 15 assistentes sociais. Assim,

temos em média 154 famílias para cada Assistente Social, que atua por 30 horas

semanais, considerando ainda as atividades de monitoramento da Rede que lhe são

atribuídas.

Consta ainda no documento que, no ano de 2014, foram inseridas no

acompanhamento 1.082 novas famílias, totalizando o atendimento de 1.419

pessoas, assim definidas:

Page 107: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

107

Tabela 15 - Novas famílias referenciadas (2014)

Nº Média/Mês

Famílias 1.082 90,16

Pessoas atendidas por segmento Nº Média/Mês

Crianças 446 37,16

Adolescentes 596 49,66

Idosos 305 25,41

PPD 29 2,41

Total 1.419

Fonte: Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial - 2014

(SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2015)

Quanto aos motivos da inserção da família no acompanhamento do CREAS,

predominam famílias com crianças e adolescentes que vivenciam situações de

violência física e negligência, não considerados os casos de indisciplina escolar,

uma vez que, em razão de ação intersetorial com envolvimento do Ministério Público

e escolas estaduais, nominada Programa Força Tarefa, os jovens envolvidos com

atos infracionais nas escolas estaduais também são atendidos pelo CREAS.

Tabela 16 - Motivos das Demandas (2014)

Criança/

adolescente Idoso Deficiente Nº Total

Abandono 7 25 2 34

Ato Infracional 6 - - 6

Uso de Drogas por Criança / Adolescente

14 - 1 15

Uso de Drogas na Família 17 1 2 20

Indisciplina Escolar (Força Tarefa) 236 - - 236

Negligência 75 47 10 132

Pós-Acolhimento Institucional 5 150 - 155

Trabalho Infantil 4 - - 4

Violência Física 176 34 3 213

Violência Psicológica 21 23 2 46

Violência Sexual - Abuso 77 - 1 78

Violência Sexual - Exploração 1 - - 1

Outros 109 25 8 142

Total 748 305 29 1082

Fonte: Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial - 2014

(SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2015)

Page 108: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

108

Das novas situações que chegaram ao CREAS no ano de 2014, 35% delas

foram encaminhadas pelos Conselhos Tutelares, 22% pela rede pública estadual de

educação, em razão do já destacado programa “Força Tarefa”, 12% pela rede

socioassistencial e 3% pelos CRAS‟s do município. Os demais 27% se distribuem

entre os mais diversos órgãos, como Ministério Público, Defensoria Pública,

Delegacias e demais Secretarias Municipais, em especial Educação e Saúde, e uma

parte identificada apenas como “outros”. Chama atenção o percentual de somente

3% de encaminhamentos realizados pelos CRAS‟s, o que demonstra baixa

interlocução entre os serviços.

Tabela 17 - Origem das demandas ao CREAS (2014)

Cça./Adol. Idoso Defic. Total

Conselho Tutelar 381 - 1 382

CRAS 22 9 31

Defensoria Pública 2 2 2 6

Delegacia Regional de Ensino 236 - - 236

Fundação Criança 1 - - 1

Ministério Público 28 24 7 59

Poder Judiciário 12 8 3 23

Rede Socioassistencial 19 102 4 125

Secretaria de Educação 5 - - 5

Secretaria de Saúde 13 57 4 74

Segurança Pública 3 21 1 25

Outros 26 82 7 115

Total 749 305 29 1.082

Fonte: Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial - 2014

(SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2015)

Destacamos ainda que, entre as famílias encaminhadas, considerando os

motivos do encaminhamento, 69% se relacionam a crianças e adolescentes, 28,5%

a idosos e 2,5% a pessoas com deficiência. O atendimento aos segmentos idoso e

pessoa com deficiência somente foi iniciado pelo CREAS em 2014, com a

transferência desses serviços, que eram realizados pelos Centros de Referência do

Idoso e de Referência da Pessoa com Deficiência, respectivamente, vinculados ao

Departamento de Políticas Afirmativas. Originalmente, o CREAS atendia somente

situações relacionadas a crianças e adolescentes, em razão da existência desses

Centros de Referência Específicos, de responsabilidade de outro Departamento que

não o da Assistência Social.

Page 109: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

109

O CREAS apresenta ainda o número de famílias acolhidas no serviço, por

região de CRAS, não significando, no entanto, o referenciamento ou atendimento

naquele serviço.

Tabela 18 - Distribuição de famílias por território de CRAS (2014)

CRAS Nº

I - Vila São Pedro 333

II - Vila Ferreira 162

lll – Batistini 240

lV - Riacho Grande 93

V – Centro 229

Fora do município 10

Sem informação 15

Total 1.082

Fonte: Relatório de Gestão da Gerência de Proteção Social Especial - 2014

(SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2015)

Cabe ressaltar o baixo número de famílias da região do CRAS IV, que

abrange o Distrito de Riacho Grande e área Pós-balsa, incluindo a zona rural. Esse

dado, ao contrário de representar ausência ou baixo grau de risco naquele território,

parece indicar falta de acesso da população aos serviços, tendo em vista sua baixa

presença, conforme já indicamos.

4.3 O TRABALHO SOCIAL COM FAMÍLIAS

Conforme abordamos, o trabalho social com famílias no âmbito do SUAS

está tipificado como serviço socioassistencial nominado PAIF - Serviço de Proteção

e Atendimento Integral à Família, no âmbito da Proteção Social Básica, a ser

ofertado pelos CRAS‟s - Centros de Referência de Assistência Social e PAEFI -

Serviço de Proteção e Atendimento Especializado à Família e Indivíduos, de

responsabilidade do CREAS - Centro de Referência Especializado da Assistência

Social.

Para que pudéssemos identificar a natureza do trabalho social com famílias

realizado pelo PAEFI e os conceitos e procedimentos utilizados pela equipe do

CREAS de São Bernardo do Campo, adotamos um roteiro de temas que se inserem

no trabalho social. Selecionamos temas amplos, de forma que os profissionais

Page 110: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

110

pudessem discorrer livremente sobre eles, como o trabalho social com famílias no

CREAS; a observância da matricialidade sociofamiliar; a concepção acerca de

família a partir da percepção dos profissionais; a presença e efetividade do trabalho

intersetorial; os serviços oferecidos no CREAS; e referência e contrarreferência entre

CRAS e CREAS.

Nas entrevistas individuais, muitos dos conceitos trazidos pelas profissionais

carregavam um tanto de experiências pessoais e certa angústia quanto às

dificuldades encontradas de ordem objetiva, relacionadas com os recursos, mas

também muito de ordem subjetiva, como a percepção da fragilidade teórica e a

ausência de supervisão externa capaz de fortalecer a atuação. Outras vezes, a

angústia apontava exatamente o contrário: um domínio teórico do tema e a

percepção de dificuldade em dar qualidade às ações em razão das condições

objetivas, o que demonstra o importante potencial da equipe a ser explorado a partir

de educação permanente e supervisão.

Já no grupo focal, o debate teórico ocorreu de forma mais enriquecida, já

que houve troca de experiências e conhecimentos, porém pouco se alteram as

manifestações quanto às questões objetivas. As falas individuais apresentadas no

grupo focal podem ser consideradas como posicionamento do grupo, com base na

coesão demonstrada pela equipe e acenos de concordância vistos durante os

debates.

Observamos em ambos os casos que o SUAS - Sistema Único de

Assistência Social ainda é tema que exige maior debate teórico, seja pelas dúvidas

quanto às regulações existentes, seja pela experiência profissional, que em alguns

casos transitou da fragmentação e assistencialismo na atuação para o Direito e a

Integralidade previstos na Política Pública atualmente vigente. Tal fator coloca os

profissionais em zona de conflito e, por vezes, impõe dificuldades para compreender

o novo, deixando claramente demonstrar que as ações antigamente executadas se

escondem muitas vezes sob uma nova roupagem.

O trabalho social com famílias executado no CREAS de São Bernardo do

Campo não contempla todos os elementos de uma metodologia de caráter

continuado e socioeducativo previstos nas normativas do SUAS. Existe, no entanto,

entre os profissionais a percepção dessa ausência, uma vez que reconhecem a

fragilidade das ações realizadas e a intervenção muito mais individual e psicossocial

do que socioeducativa e coletiva.

Page 111: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

111

Acho que a gente ainda tem uma vivência de estar trabalhando muito mais no individual, né? Acho que a gente entende, sim, que deveria ser psicossocial, por exemplo, mas só que isso acaba ficando muito mais numa intervenção aqui só do assistente social. Porque a gente tem os psicólogos na equipe. (Participante do Grupo Focal)

Afirmam que realizam o trabalho social com famílias, mas, na sua descrição

e na descrição das metodologias, apontam para uma ação mais pontual e

emergencial. E, em razão da demanda existente, relatam não conseguir manter as

atividades, o que tornaria o trabalho mais eficaz e condizente com o esperado pela

Política.

Aí você acaba trabalhando no emergencial. Então quando vem uma demanda emergencial, você também não tem como fazer um trabalho da forma que a gente gostaria de fazer, porque você está trabalhando questões pontuais que estão ali, explodindo. Então eu acho que isso também é um fator, assim, de sofrimento, né? Aqui dentro da equipe, a gente fala muito disso aqui entre nós... Apagar incêndio mesmo, né? À medida que as coisas vão “bombando”, que a gente chama aqui, a gente vai atendendo da forma como a gente consegue. Limite mesmo, profissional, institucional. A gente faz o que está no nosso limite. A metodologia eu não sei, acho que cada um usa a sua, né? A gente discute junto, né? Porque não tem como definir. (Participante do Grupo Focal)

Pelas mesmas razões justificam a impossibilidade de realizar um trabalho

social de forma continuada, inclusive com o acompanhamento do cotidiano das

famílias de modo sistemático, indicando a realização de uma ação mais pontual:

Não dá pra acompanhar todas. As que estão em mais riscos, digamos assim. Aquela que chega aqui... que você conseguiu resolver, são mais simples. (Assistente Social 3)

E ainda:

Não da forma como deveria ser... Eu acho que assim, a gente conseguiu fazer lá no começo do CREAS. Hoje a gente não consegue mais. Então hoje você não consegue toda a semana estar estabelecendo um contato. Não vou dizer na semana, mas estabelecer o contato sempre de uma forma necessária. Não é mais assim... Às vezes a família liga pra você e você só consegue retornar dois dias depois, porque você tem uma demanda aqui muito mais urgente, e aí você tem que priorizar. (Assistente Social 4)

Page 112: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

112

As famílias acessam o CREAS normalmente a partir de uma denúncia ou

fato já identificado, e essa situação definirá a metodologia, que não é

preestabelecida e sistematizada no serviço. Mesmo conhecendo as orientações

técnicas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, elas não

influenciam integralmente a ação desenvolvida – os profissionais criam as

metodologias a partir das capacidades individuais e consensos no grupo.

A terminologia “casos” ainda é utilizada no CREAS para definir as famílias

atendidas, mas também expressa as situações apresentadas:

Quando chegam os casos, às vezes são poucas informações, os relatórios não trazem uma questão completa. Sempre tem uma preocupação de entender quem é aquela família que está chegando no CREAS. A questão da denúncia... Sempre vem os aspectos negativos primeiro. É para você entender quem é aquela família que está passando por aquela situação. Então, acho que, dentro da metodologia, primeiro um conhecimento, às vezes, não tão completo... Tem que ter uma aproximação com aquela família, primeiro o contato telefônico, que é o mais possível. (Assistente Social 1)

De modo geral, os profissionais iniciam o atendimento com uma entrevista,

na sede do CREAS ou em visita domiciliar. Os procedimentos são definidos pelo

profissional, que tem como referência discussões na equipe, espaço em que as

profissionais trocam suas experiências.

Então, assim, a metodologia, nós fazemos visitas domiciliares, ou então a gente chama a família para o atendimento aqui no CREAS e... E também essa questão da rede, né? A questão da rede, do trabalho em rede... É esse trabalho mais em conjunto mesmo com outros, o intersetorial. A minha metodologia, às vezes, assim, tem casos que eu faço visita, tem casos que não. Se eu atendo e vejo que é um caso que eu preciso, que é mais emergencial, ou se eu já conheço o contexto onde a família vive, se é uma família que tem dificuldade de estar vindo aqui [...]. Eu respeito muito essa questão da escolha da família, de explicar diferença entre CREAS com o conselho tutelar. (Assistente Social 2)

Nos relatos em relação ao acompanhamento familiar, os profissionais

atribuem aos modelos das Políticas Públicas a responsabilização das famílias pelas

vulnerabilidades e a centralidade do cuidado pela mulher.

Page 113: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

113

Além disso, eu percebo que às vezes tem uma questão assim que a gente acaba culpabilizando as famílias por determinadas situações e, né, não sei... [...] Eu acho que é pela política mesmo, isso acontece, de estar focando muito nas famílias, não que não seja. Não sei como eu posso explicar, mas a gente percebe que as políticas sociais agora são muito focadas na família. Família, família, família. Então às vezes isso faz com que você esqueça um pouco o âmbito do Estado, por exemplo, o idoso, as meninas trabalham aqui com o idoso e é superdifícil. Porque colocam na família essa responsabilidade de cuidar, por exemplo, a filha, sei lá, principalmente a mulher tem essa responsabilização. (Assistente Social 2)

Quando relatam as metodologias utilizadas e suas fontes teóricas, indicam

muito o uso da experiência cotidiana e de instrumentos tradicionais, e pouca

aproximação com as orientações teóricas:

Eu gosto também da visita domiciliar. Mas não para investigar, não para ver como a casa está limpa ou suja, não. É para aproximar mais, é para você ver como aquela família está inserida na comunidade, o quão longe ela está do serviço... Às vezes a gente não avalia. Por exemplo, vamos colocar ela no Bolsa Família e ela tem que levar a criança no médico, tem que levar na escola... Como que está para ela ali na comunidade? Ver se tem algum vizinho próximo [...]. E aí sim tem o encaminhamento para a rede. A articulação com a rede, principalmente de saúde e educação e as famílias. Tem a necessidade da saúde, mas não tem o vínculo e não entendem a saúde. Lembrando lá do caso da Dona [...], não entende a saúde como aquela atenção às questões primárias como preventivas. Nem na audiência vai. Aí você tem que fazer um vínculo com aquela família. O que é serviço de saúde, a sua importância, a escola, mediar também um pouco a questão da família com a escola, que tem muitos conflitos também, dentro da família... Não sei. É tão difícil parar e olhar para a prática, né?” (Assistente Social 1)

É bastante presente a identificação e aproximação dos profissionais com as

famílias, por meio de visitas domiciliares e entrevistas, e depois o trabalho de

inserção na rede de serviços, que ocorre a partir do conhecimento adquirido por

meio de experiência do profissional. Importante observar que as orientações

construídas pelos órgãos gestores não chegam de forma efetiva no cotidiano da

ação profissional, embora sejam citadas como modelo com certa frequência:

Vai muito mais pela prática do dia a dia do que de uma concepção assim metodológica, entendeu? De um modelo, sabe? Até porque você sabe que no CRESS a gente tem

Page 114: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

114

muitas dificuldades até de estar unificando, porque também passam por algumas questões que você teria que ter um trabalho muito mais aproximado, né? Na equipe hoje, o que a gente consegue fazer mais são as discussões dos casos. Mesmo assim eu acho que pelo volume a gente perdeu um pouquinho disso na trajetória, né? Mas eu acho que, assim, é muito mais pela prática. (Assistente Social 4)

Embora os profissionais tenham algumas divergências quanto ao uso de

metodologias coletivas de trabalho, de forma quase unânime reconhecem que a

construção do vínculo entre o serviço, o profissional e a família será sempre a base

para o fortalecimento da ação, seja interna, seja na rede intersetorial. Vínculo usado

como meio de construção de possibilidades, destacando o aspecto relacional do

trabalho social:

Eu já não acho tanto assim. Acho que cada profissional tem o seu jeitão de lidar, né? Mas eu acho que o modo de trabalhar dos assistentes sociais não varia tanto. Eu estava aqui até tentando pôr em palavras aquilo que nós fazemos. Acho que a primeira coisa que todas trabalham é com o vínculo, né? A primeira coisa é estabelecer um vínculo com a família, né? E o que a gente percebe é: quanto mais estabelecido está esse vínculo, quanto melhor está, mais capacidade de agir se tem. E a ação é muito na pessoa mesmo. É uma ação do técnico com as famílias. É uma doação mesmo do técnico com a família por meio desse vínculo. E depois de estabelecido esse vínculo, de se entrar na família, ela começa a se mostrar mais para o técnico nas suas fragilidades, né? Aí a segunda parte é a articulação da rede, né? Então acho que isso se dá nesse contato do técnico com aquele núcleo familiar, que é o individual, né? Que não é pessoa a pessoa, mas um técnico com um núcleo familiar ali. E depois de estabelecido esse vínculo, é utilizado para que a pessoa acesse a rede. Então esse vínculo que é o condutor. A partir do vínculo com o técnico, consegue-se formar um vínculo, às vezes, com a UBS que não tinha antes; às vezes com o CAPS que não tinha antes. (Participante do Grupo Focal)

Essa importância destacada pelos profissionais quanto à construção de

vínculos entre usuários e o serviço vem ao encontro das orientações técnicas

estabelecidas pelas normativas sobre o tema:

A oferta de trabalho social nos CREAS pressupõe a utilização de diversas metodologias e técnicas necessárias para operacionalizar o acompanhamento especializado. Requer, ainda, a construção de vínculos de referência e confiança do usuário com a Unidade e profissionais da equipe, além de

Page 115: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

115

postura acolhedora destes, pautada na ética e no respeito à autonomia e à dignidade dos sujeitos. Nesse contexto, a escuta qualificada em relação às situações e sofrimentos vivenciados pelos usuários tornam-se fundamentais para o alcance de bons resultados e a viabilização do acesso a direitos. (BRASIL, 2011, p.28)

A respeito de como percebem a matricialidade sociofamiliar no trabalho

social realizado, os conceitos são diversos e por vezes se confundem. Para a

maioria dos profissionais a matricialidade sociofamiliar é percebida como a

possibilidade de organizar a dinâmica familiar olhando a partir das potencialidades

da própria família e da oferta de apoio entre os seus membros:

[...] atender a família no sentido um pouco mais amplo e o núcleo mais fragilizado. Ou é uma família extensa ou é alguém muito próximo que está ali para ajudar também, e às vezes ele não pode... E tem toda a questão dentro da lei: não é parente, não é responsável. Às vezes, eu tenho uma grande parte de famílias vulneráveis economicamente falando, isso é uma coisa [...] nesse sentido é fortalecer também. Quando falo de eles ficarem mais exigentes é para eles se fortalecerem para enfrentar os problemas que vão existir a vida toda. É para eles estarem fortalecidos e criarem habilidades também para lidar com esses problemas. Vejo muitas famílias que às vezes não têm habilidade em lidar com problemas, aí vai esconder com a agressividade. (Assistente Social 1)

Interessante observar que o olhar para a família é feito para dentro, ou seja,

a ideia é fortalecê-la para enfrentar os problemas, que não irão mudar, ou para que

ela não transforme os problemas em agressividade. A matricialidade sociofamiliar

assume um significado diverso do proposto, de construção de alternativas de

proteção dentro da própria família, não olhando para os direitos violados e a

necessidade da intervenção e responsabilização pública.

Também chama atenção a preocupação quanto aos aspectos legais e

normativos do conceito de família, como quando a profissional relata “Tem toda a

questão dentro da lei: não é parente, não é responsável”. Isso nos parece indicar o

nível de exigência no reconhecimento do parentesco para a inserção da família na

rede, ou como garantia de proteção entre os membros, mas também uma postura

que pode estar presente no núcleo das famílias: atribuir a responsabilidade do

cuidado para um ou outro membro especificamente, por ser parente. Esse olhar é

muito comum em situações envolvendo o abandono de idosos. A mera relação de

Page 116: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

116

parentesco exige do ente familiar a responsabilidade, sem se identificar a existência

de vínculo e possibilidade do cuidado.

Os profissionais reconhecem a matricialidade como avanço, mas poucos a

definem, seja na teoria ou na descrição de sua ação.

Acho que esse olhar das políticas públicas para a família, é isso? Eu acho que tá muito incipiente ainda... É... não sei. Eu tô vendo assim no ponto de vista bem prático mesmo... Se eu for olhar a assistência, eu acho que tem muita coisa aí que tá faltando mesmo. De serviço, de como fazer essa família avançar, né? (Assistente Social 3)

Interessante notar ainda que, por vezes, as novas diretrizes do SUAS podem

não estar promovendo mudanças na ação dos profissionais, embora poucos

reconheçam. No geral, afirmam a importância do SUAS, mas, na análise da sua

ação, observamos poucas mudanças. Alguns verbalizam a pouca interferência no

cotidiano:

A questão da matricialidade, do conceito de família... Eu penso assim, o SUAS trouxe muito a discussão, a meu ver, muito mais nos níveis mais macro da assistência social. No dia a dia, no cotidiano do meu trabalho, eu não acho que eu sou uma assistente social que o SUAS revirou, não. Eu me vejo numa evolução, claro, eu venho mudando, eu me vejo em uma continuidade. Eu tenho um perfil, talvez, profissional que vem me conduzindo... Assim, claro, o SUAS acrescentou algumas coisas, ele chamou outras para reflexão, mas eu não me sinto revolucionada pelo SUAS não. (Assistente Social 5)

Esse fato nos faz refletir sobre o alcance que a Política de Assistência Social

logrou entre os chamados profissionais da ponta, que atuam diretamente com as

famílias, distantes dos grupos gestores e dos debates acadêmicos.

Nas discussões do grupo focal o tema matricialidade toma corpo à medida

que os profissionais vão discutindo entre si os conceitos e, então, encontramos

melhor entendimento de alguns profissionais:

De fato, só vai conseguir proteger se você tiver uma rede e essa rede... Eu acho que estávamos nos referindo a esses serviços públicos, tanto da rede socioassistencial quanto intersetorial, né? Precisa de um serviço de convivência e fortalecimento de vínculos, mas precisa de um tratamento de saúde, precisa de uma cirurgia, precisa do CAPS, né? E mais

Page 117: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

117

ou menos assim: está posto, a lei está aí, é um avanço. Porém, isso ainda não está claro. Ainda não é fato. (Participante do Grupo Focal)

Muitas vezes, afirmam os profissionais que a matricialidade fica

comprometida pelo não envolvimento das demais Políticas Públicas e até pela não

organização adequada dos serviços da Assistência Social.

Eu penso assim, que a matricialidade, acho que é um consenso ganho que você tem na teoria, que foi apontado. Acho que é um avanço, é um ganho. Mas, na prática, eu acho que... Concordo com tudo que foi colocado, né? Falta a composição da equipe no CREAS para que tenha um olhar – como eu até falei para você – em que se somem as dimensões de conhecimento da parte jurídica, psicológica, do assistente social. Então falta aqui dentro maior suporte, e falta também dos serviços, das outras políticas. E eu tenho visto também uma culpabilização da família, que eu acho que tem aumentado. A postura que a Saúde vem adotando em relação às famílias, eu tenho visto e tenho lido respostas que são assustadoras [...] situações assim, por exemplo, eu recebi um encaminhamento de uma idosa com uma série de questões psiquiátricas. Aí eu falei com a apoiadora “Olha, mas ela tem questões psiquiátricas. Ela precisa do atendimento psiquiátrico do CAPS”. “Ah, mas ela não tem quem leve.” Aí se torna da Assistência. Como? (Participante do Grupo Focal)

Ainda por vezes parece permanecer, especialmente entre as demais

políticas públicas, a ideia da transversalidade20 da Política de Assistência Social, já

superada pelo SUAS.

Uma pessoa com deficiência, por exemplo. Tem um caso que me chamou muito a atenção. Segundo a denúncia, a tia estava colocando o rapaz para fora de casa. A médica liga aqui falando: “Você precisa ir fazer uma visita. Você tem que ir lá e tem que ir logo.” Aí eu pergunto para ela: “O que você entende que eu vou fazer nessa visita que vá resolver essa situação?” Então o olhar deles está muito equivocado com relação a esse cuidado. E é muito difícil a gente lidar, porque eles cobram da gente como se a gente tivesse responsabilidade total enquanto Assistência, como se tivesse a tutela da família. (Participante do Grupo Focal)

Por outro lado, conceitos da Política de Assistência Social ainda se misturam

com os da Saúde, talvez pela sua referência na construção do SUAS.

20

Ver nota de rodapé nº 9.

Page 118: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

118

Porque a Saúde já sabe matriciar. Não vem de matricialidade? Eu escuto a Saúde falar “Ah, essa família já está matriciada”. E será que eles têm entendimento dessa matricialidade? Eu acho que, por parte de alguns profissionais da Saúde, existe sim. Tanto que quando você vai discutir um caso, com alguns você tem facilidade, outros não. (Participante do Grupo Focal)

Importante destacar que o matriciamento previsto no SUS não corresponde

ao modelo de matricialidade do SUAS. O matriciamento no SUS é um processo de

inserção do usuário/paciente em vários serviços e equipes ao mesmo tempo, de

forma a oferecer uma ação integrada, o que no SUAS se aproxima do conceito de

trabalho em rede. Prevê a atenção de vários profissionais conjuntamente, por

intermédio das chamadas “equipes de referência” e equipes de apoio matricial.

Conforme orientações contidas no Guia Prático de Matriciamento em Saúde

Mental do Ministério da Saúde,

Matriciamento ou apoio matricial é um novo modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica. (CHIAVERINI, 2011, p.13)

E ainda:

Na horizontalização decorrente do processo de matriciamento, o sistema de saúde se reestrutura em dois tipos de equipes: equipe de referência; equipe de apoio matricial. Na situação específica do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, as equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) funcionam como equipes de referência interdisciplinares, atuando com uma responsabilidade sanitária que inclui o cuidado longitudinal, além do atendimento especializado que realizam concomitantemente. E a equipe de apoio matricial, no caso específico desse guia prático, é a equipe de saúde mental. (CHIAVERINI, 2011, p.14)

Embora as orientações para o matriciamento previstas na Política de Saúde

apontem para ações territorializadas e com o núcleo familiar, pode haver

matriciamento sem necessariamente ocorrer a matricialidade sociofamiliar. O

matriciamento é então definido como um trabalho intersetorial.

Page 119: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

119

Portanto, o processo de saúde-enfermidade-intervenção não é monopólio nem ferramenta exclusiva de nenhuma especialidade, pertencendo a todo o campo da saúde. Isso torna o matriciamento um processo de trabalho interdisciplinar por natureza, com práticas que envolvem intercâmbio e construção do conhecimento. (CHIAVERINI, 2011, p.16)

Ao passo que a matricialidade sociofamiliar, podemos definir, implica a

implantação de políticas públicas voltadas para a atenção e proteção das famílias na

integralidade, de forma continuada e integrada, tendo como objetivo o enfrentamento

das vulnerabilidades e a potencialização das capacidades identificadas. De acordo

com o previsto nas Orientações Técnicas - CREAS, pelo MDS,

A centralidade na família no trabalho social no CREAS implica no reconhecimento da autonomia da família e de cada um de seus membros na construção de sua trajetória e projetos de vida. Nessa perspectiva, devem ser consideradas as especificidades de gênero e dos ciclos de vida dos integrantes das famílias atendidas, compreendendo suas potencialidades, necessidades humanas e peculiaridades, sob a ótica do direito assegurado ao cidadão(ã) no ordenamento jurídico brasileiro. Esta compreensão deve repercutir, inclusive, na definição de intervenções e metodologias que, por vezes, poderá impossibilitar a inserção de algum(ns) membro(s) da família no acompanhamento, de modo a resguardar a proteção, a confiança e o desejo dos demais membros. Isto pode ser considerado, por exemplo, no atendimento do possível autor(a) da agressão que implique em ameaça e risco à efetividade do atendimento dos demais membros. (BRASIL, 2011, p.35)

Se há divergências quanto à definição de metodologias e ao conceito de

matricialidade, o mesmo não ocorre quando passamos a definir as famílias

atendidas no serviço e os procedimentos para acompanhamento continuado do

cotidiano delas. Os profissionais, individualmente, descrevem as famílias com

características objetivas: geralmente numerosas, chefiadas por mulheres, envolvidas

em situação de violência, com filhos advindos de diversos relacionamentos, de

pouca escolaridade e com vínculos precários de trabalho, mas também outras

apresentam melhores condições econômicas, porém com relações fragilizadas e

envolvidas em situações de violência. Contudo, de forma marcante, especialmente

no grupo focal, definem os aspectos mais subjetivos, relacionados às

vulnerabilidades e ao processo de exclusão social.

Page 120: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

120

Ah, eu não vou falar assim que CREAS é violência, não pode falar, famílias violentas? Mas famílias que sofreram violência, né? Famílias fragilizadas, né? Que não tiveram espaço de escuta, que não foram acolhidas ou que não entenderam o acolhimento. É que, assim, cada um tem o momento, naquele momento não entenderam, em outro momento estavam mais abertas em receber aquela orientação. Eu vejo muito isso, falo com aquela família e nada. Aí no outro dia, não sei o que aconteceu, ligou com outra coisinha e fica “Ah, entendi”. Você já tinha falado e ela não tinha captado a informação. Mas, assim, são famílias fragilizadas, carentes, não gosto do termo carentes, mas não é carentes de afeto, carentes de recurso financeiros, acho que, assim, eu sei que está posta a violência não só para aquelas classes não favorecidas economicamente, mas acho que a grande maioria do CREAS está nessa situação, a situação econômica. O fator de risco ali também é o fator agravante. (Assistente Social 1)

Por considerarmos relevantes no trabalho social com famílias a observância

da matricialidade e o fortalecimento dos níveis de proteção social, buscamos

analisar o entendimento dos profissionais sobre o tema. Questionados sobre as

formas de proteção social e as ofertas existentes no CREAS, de forma quase

unânime relatam forte presença de benefícios de transferência de renda e baixa

realização de serviços de proteção social. A proteção é vinculada a serviços

externos à Política, o que aponta uma frágil compreensão da Assistência Social

como Política de Proteção Social não contributiva e de caráter relacional, com

especificidades determinadas.

Os profissionais, de forma geral, compreendem que seu papel na proteção

social é o de ofertar acolhida, escuta e encaminhamento às demais políticas

públicas, consideradas essenciais na proteção, indicando o papel fundamental dos

benefícios assistenciais, entre eles os eventuais.

Às vezes as famílias não reconhecem também os recursos das outras políticas. O que as outras políticas podem estar oferecendo? Acho que a assistência também abre um leque de possibilidades para essas famílias. A gente oferece o quê? Você fala uma escuta, uma acolhida. [...] No caso da violência, a gente ainda falta ampliar o convênio porque tem algumas que demandam psicoterapia. A gente, enquanto CREAS, e mesmo que a gente tivesse psicólogo, a gente não faria psicoterapia. E são umas situações de violência pra pessoa refletir, para realmente ocorrer... Eliminar a violência naquele núcleo familiar, para que eles desenvolvam outras formas de se relacionarem, precisa ter esse atendimento mais aprofundado... (Assistente Social 2)

Page 121: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

121

Parecem compreender a proteção social, no âmbito da Política de

Assistência Social, como a oferta de benefícios e a ação pessoal do profissional

especificamente com o usuário, sem considerar a existência de serviços. Dessa

forma, a especificidade da Política fica limitada à ação profissional direta e

individualmente.

Eu acho que, iniciando lá pela questão do atendimento, eu acho tem um diferencial do atendimento. Veja bem, o diferencial hoje que também tem lá no CRAS, entendeu? [...] Em cima disso, você oferecer um atendimento diferenciado mesmo, de muita escuta, de muita acolhida, né? Onde não tem realmente essa questão do julgamento, do pré-julgamento, e a partir daí ter essa liberdade da família de se colocar e de se expressar... E muitas vezes até não, porque ela não quer, e a gente tem que respeitar. Você vai atrás, continua indo, tentando dar apoio e... ela pode não querer. Eu acho que a partir daí, essa escuta, essa acolhida, eu acho que é diferente do que se faz por aí afora. A questão dos programas de transferência de renda... porque eu acho que isso dá um suporte, né? (Assistente Social 4)

Valorizam a ação articulada na proteção social, cuja ausência parece ser

determinante na desproteção.

Os serviços do CREAS não acontecem sem os outros serviços, senão eu acho que... Eu entendo que a gente fica sempre na mesmice, atendendo só no individual. Ou seja, enquanto a gente não conseguir ter braços, entendeu? Assim, para estar articulando de forma real – real, tá? Porque a gente tem umas articulações que a gente acha que tem, que a gestão acha que tem, mas eu acho que está no imaginário, porque elas não ocorrem de fato. Essa parceria não existe. É o que eu falo: só existe, né? De lá para cá. Quando precisa ali, do “Ó, vocês têm que fazer, vocês têm que...”, entendeu? Então eu acho que não adianta você também ter vários serviços aqui, né? Que eu acho que é difícil ter eles, porque a gente está sempre trabalhando pelo mínimo. Mas se você não tiver garantido, entendeu? E estabelecido o trabalho com os outros serviços, com as outras secretarias, com os outros setores... (Participante do Grupo Focal)

As profissionais apontam a ausência dos serviços, seja da Assistência

Social, seja das demais Políticas, como motivadora de sofrimento do profissional,

que se sente o único responsável pela atenção à família, ante as limitações da

gestão no fortalecimento dos serviços.

Page 122: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

122

Eu acho que mais uma vez a gente cai na questão da gestão. Porque, assim, a gente fica aqui se perguntando: o que nós podemos fazer? A gente faz documento, a gente mostra, a gente aponta a necessidade na discussão cotidiana dos casos. Em várias situações a gente fala: “Olha, não estaria nessa situação, uma demanda de acolhimento, se você tivesse um Centro-Dia.” Então aquilo que está ao nosso alcance de fazer como técnico, a gente faz. Só que não passa, assim, na questão da gestão, de entender a importância de existir, nem sequer a gente tem uma discussão sobre. (Participante do Grupo Focal)

As profissionais questionam ainda a insuficiência do financiamento da

Política, especialmente para os munícipios de menor porte e menor orçamento, tema

que tem sido bastante debatido nas reflexões sobre o financiamento da Seguridade

Social, especialmente na organização do SUAS, já que as normativas definem o

cofinanciamento, mas há lacunas quanto ao levantamento de custo real de cada

serviço e à vinculação de cofinanciamento de cada ente federado.

Mas eu acho que tem também uma outra coisa: em um nível maior de gestão nacional da política mesmo, não de gestão local... Eles pensam na estruturação dos serviços, pensam na tipificação, hierarquização, mas não vêm com dinheiro. Não adianta! Quer dizer, o que adianta você pensar? Então ninguém consegue implantar, né? Então você pensou: “Poxa, que bonito, que bacana!” Então me dá a condição. A gente acredita nisso também, nós queremos implantar, mas com que dinheiro? Quem paga? Daí o município arca com tudo sozinho? Ainda um município como São Bernardo, que é um município rico dentro do Brasil e pode arcar com alguns custos, por exemplo, o custo de idoso, que é basicamente pago com recurso municipal, né? Os outros municípios nem isso têm. (Participante do Grupo Focal)

Análise realizada pelo NEPSAS - Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre

Seguridade e Assistência Social da PUC/SP em leis de Estados e Munícipios

referentes ao SUAS indica que suas redações reproduzem a diretriz do

cofinanciamento, mas também não apontam a parcela de responsabilidade do ente

federado no custeio dos serviços.

O grupo expressou, de maneira enfática, o desgaste sofrido pelos

profissionais em razão do sentimento de incapacidade ante a ausência de serviços

que de fato possam oferecer alternativas às famílias, uma vez que o trabalho social,

Page 123: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

123

especialmente na Proteção Social Especial, não se articula sem alternativas de

proteção social para o fortalecimento das famílias e superação das vulnerabilidades.

[...] é um sofrimento – pelo menos para mim – eu posso falar isso. Porque a gente acaba trabalhando muito só com a nossa palavra, e aí tem a falta de recurso. Você não tem o que oferecer. Por exemplo, os adolescentes que a gente atende. Você pergunta: “Ah, você gosta de quê?” Você não tem um curso para oferecer... Você não tem, sabe, um esporte que você possa usar como apoio, encaminhar. Aí você fala, fala, fala e, no final, o que você oferece para aquele menino, para aquela família? Então é muito complicado. E aí, além dessa falta de recurso, ainda tem o volume de trabalho, de casos por técnico, que acaba também ficando difícil. (Participante do Grupo Focal)

Outro fator que parece fragilizar a ação do CREAS é a organização das

proteções sociais previstas na Política Nacional de Assistência Social (PNAS), que

subdivide a Proteção Social Especial em de média e alta complexidade, sem, no

entanto, definir a operacionalização da alta complexidade. No caso de São Bernardo

do Campo, a gestão está organizada em Gerências, sendo que os serviços

vinculados à Gerência de Proteção Social Especial são o Centro POP e o CREAS.

Dessa forma, sem outra estrutura, cabe ao CREAS fazer a gestão das proteções de

média e de alta complexidade, o que é apontado como uma dificuldade no trabalho

da equipe, uma vez que a Rede de Alta Complexidade muitas vezes acaba sendo

priorizada, diante da gravidade das situações apresentadas.

Eu acho que uma outra questão que impacta o CREAS é que, teoricamente, ele deveria ser o lócus do referenciamento da proteção social especial de média complexidade, né? [...] Na verdade, a gente está o tempo inteiro em função da alta, porque você está trabalhando com os idosos na perspectiva de acolhimento institucional, de evitar acolhimento, e o que eu vou fazer com criança e adolescente também? Os casos que não são tão graves, que seriam os nossos, a gente mal consegue olhar, né? Não sei se eu estou exagerando, mas a gente acaba tocando aquele caso gravíssimo, que é de alta e que a própria política não apresenta uma solução, não fala onde devia estar. Quem que cuida da alta complexidade? Não fala. Sobrou para o CREAS. E aí, para um município do tamanho de São Bernardo, com a demanda gigantesca que a gente tem, você fica lidando com essa alta complexidade. E daí, assim, é o pré-acolhimento institucional. Então você está trabalhando para evitar o acolhimento: “Vamos evitar o acolhimento! Vamos evitar.” Não evitou? Daí você fica trabalhando durante o

Page 124: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

124

acolhimento. Saiu? É o pós-acolhimento então, né? A organização do serviço, na verdade, se dá em função da alta complexidade, né? Eu acho que isso é uma falha da política mesmo, que não amarra a alta complexidade, não dá uma cara para ela. E, em minha opinião, depois de todos esses anos, deveria ter um serviço próprio, com uma equipe própria, articulando com a média, mas numa outra equipe como essa aqui quase, para lidar só da alta, né? E aí a gente ia poder fazer o PAEFI direito, né? Olhar para as famílias antes de chegar num grau tão grave, porque a gente acaba, pela necessidade, focando naquelas que já estão com os vínculos praticamente rompidos, né? Uma situação de violência mais extrema. (Participante do Grupo Focal)

A execução das proteções sociais no SUAS deve ser de responsabilidade do

Órgão de Gestão da Assistência Social, que entre as unidades deve garantir o

adequado funcionamento do CREAS. A confusão entre CREAS e Proteção Social

Especial fragiliza sua ação, já os serviços de maior complexidade exigem adequada

estrutura física e de Recursos Humanos, o que não significa dizer que não deverá

haver articulação e complementaridade entre ambos.

O Caderno de Orientações Técnicas - CREAS, em sua apresentação, define

o CREAS como referência da Proteção Social Especial de Média Complexidade:

O capítulo 2 apresenta os eixos que devem nortear a organização e oferta de serviços pelo CREAS. Além disso, discorre sobre as competências do CREAS como unidade de referência da Proteção Social Especial de Média Complexidade, distinguindo-as daquelas do órgão gestor de Assistência Social, tendo em vista o efetivo funcionamento da Unidade. (BRASIL, 2011, p.9)

A PNAS 2004 define a proteção social especial de média complexidade,

incluindo o CREAS:

São considerados serviços de média complexidade aqueles que oferecem atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar comunitário não foram rompidos [...]. A proteção especial de média complexidade envolve também o Centro de Referência Especializado da Assistência Social, visando à orientação e o convívio sociofamiliar e comunitário. Difere-se da proteção básica por se tratar de um atendimento dirigido às situações de violação de direitos. (BRASIL, 2005b, p.38)

Page 125: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

125

Em relação à Proteção Social Especial de Alta Complexidade, define de

forma mais genérica, sem, no entanto, esclarecer sua gestão:

Os serviços de proteção social especial de alta complexidade são aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário. (BRASIL, 2005b, p.38)

Achamos importante essa análise, já que os modelos de estrutura da gestão

não são detalhados na Política e ficam sob decisão dos municípios. Há de se

organizar melhor os padrões de estrutura, para além dos Recursos Humanos, de

forma a dar operacionalidade à Política e qualidade aos serviços. Não defendemos

aqui a criação de novas unidades ou divisões na implantação e execução dos

serviços e proteções, pois estaríamos negando os princípios aqui defendidos de

matricialidade, integralidade e integração, mas sim uma organização de gestão que

administre os serviços de maneira eficiente e eficaz21.

Finalmente, como elementos imprescindíveis no trabalho social com

famílias, levantamos a ocorrência da intersetorialidade e articulação ou referência e

contrarreferência entre CRAS e CREAS. Quanto ao trabalho intersetorial e ao

fortalecimento de redes a partir das inter-relações externas, o CREAS tem realizado

importante atuação e revelado maior reconhecimento, se articulando especialmente

com as demais Políticas Públicas, muito mais fortemente com Saúde e Educação, e

com órgãos de defesa e garantia de direitos, como Poder Judiciário, Ministério

Público, Defensoria Pública, Delegacias e Conselho Tutelar.

Quanto às políticas públicas de esfera municipal, reconhecem avanços na

articulação, mas também uma forte centralidade no CREAS para essa construção.

Muito ainda dos resultados ocorre pelas relações individuais, e não institucionais, o

que não favorece a consolidação do SUAS.

21

Nos princípios da administração pública, eficiência se relaciona ao meio de fazer certo um processo, em curto prazo, com o menor número de erros, ou seja, cumprir os procedimentos estabelecidos. Já a eficácia está ligada ao objetivo em si, os resultados almejados e as metas propostas, portanto, a qualidade e resultado do que se faz.

Page 126: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

126

Eu percebo que aqui em São Bernardo essa questão da rede está bem mais avançada que São Paulo. Então é uma coisa assim que, quando eu cheguei aqui, eu vi e pensei “Nossa, que trabalho maravilhoso”. Porque eu trabalhava lá em São Paulo no CAPS e trabalhava muito com o CRAS e com outras também políticas. Não é muito difícil, não sei se é porque é muito grande. É difícil juntar todo mundo. Eu acho aqui bárbaro o trabalho feito com a rede, que trabalho legal. Tem a rede de violência e, assim, acho que esse trabalho com a educação é muito legal, com a saúde é muito forte... Vem a gestora da saúde, ela está sempre presente. Você liga e o pessoal está disposto. Acho que o trabalho do CREAS é respeitado, eu percebo nas outras políticas, eu acho muito legal isso aqui. O CREAS conseguiu ter esse olhar de fora. (Assistente Social 2)

O trabalho intersetorial deve ser uma estratégia de gestão, e não limitada a

iniciativas individuais de profissionais ou da Política de Assistência Social, embora o

envolvimento e compromisso dos profissionais sejam fundamentais. A maneira como

se desenvolvem as políticas públicas favorece ou não o trabalho intersetorial.

As orientações técnicas para funcionamento do CREAS estabelecem a

intersetorialidade como instrumento de rompimento com as práticas fragmentadas

fundamental no trabalho social com famílias:

A intersetorialidade pressupõe uma forma de gestão das políticas públicas que visa superar a fragmentação dos conhecimentos e das estruturas sociais para produzir efeitos mais significativos na vida da população. Representa a articulação de poderes, setores e saberes para enfrentar e responder, de formar integrada e com objetivos comuns, as questões sociais, considerando suas complexidades e expressões nos diferentes territórios. (BRASIL, 2011, p.65)

Nesse sentido, há compreensão da equipe do CREAS quanto à necessidade

de fortalecer essa ação:

Acho que com as demais políticas seria a solução. Eu acredito nisso, você me fez acreditar nisso, porém eu acho que a gente está muito aquém de isso estar funcionando da forma como deveria funcionar. Porque, tipo assim, a gente discute, tem as reuniões de rede, só que, quando a coisa pega, é do CREAS. Então, quer dizer, é uma parceria até o ponto e vírgula. Enquanto tá caminhando, sou seu parceiro, na hora que o negócio estoura, é seu, é proteção especial, está referenciado com você. E tem algumas secretarias que a gente até entende. O município estabeleceu algumas prioridades de governo e tal, então a gente entende. Por exemplo, [...] uma situação gravíssima para a maioria das pessoas que a gente

Page 127: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

127

atende é a questão habitacional. A gente não tem um diálogo com a habitação. É culpa do pessoal da habitação? Não. É que a política posta hoje está estabelecida que seja assim, foi prioridade desse governo. (Assistente Social 4)

A equipe do CREAS, de forma unânime, reconhece a incompletude da

Política de Assistência Social e a importância do trabalho intersetorial.

O trabalho intersetorial é tudo que a gente precisa que fique melhor para poder dar continuidade... Eu vou falar sempre do deficiente, porque é o que eu atendo mais. E eu observo assim que, enquanto CREAS, 90% da demanda eu não vou conseguir fazer sozinha. Eu preciso muito da saúde, eu preciso muito de serviços que não tem, e eu acabo não conseguindo fazer nada além de acolher, de escutar, porque não tem o que oferecer, e sem esse trabalho fica muito difícil. (Participante do Grupo Focal)

Por outro lado, o trabalho de articulação é apontado como uma das ações

mais importantes que dão identidade ao CREAS:

Mas eu também gostaria de apontar o outro lado, né? Porque eu acho que a gente vai perdendo um pouco essa noção, na medida em que a gente está dentro e está fazendo e está no contato direto com a família. E o que a gente não consegue, machuca muito, dói muito, pesa muito, né? E acaba preocupando. Mas eu acredito que as pessoas que vêm de fora e conhecem São Bernardo, todas falam a mesma coisa. A “X” é uma que chegou faz pouco tempo e também fala isso: “Nossa! A “Y” é outra!” Ela saiu falando isso: “Esse trabalho de articulação de rede que vocês têm aqui, não tem em lugar nenhum.” Você fala “Ah, mas é aparente”. Mas no fundo cobram é da gente. Mas é só aqui que tem. Os outros municípios ninguém te atende, ninguém te ouve, ninguém vem aqui. A gente tem reuniões de rede cujos outros serviços comparecem em massa, a gente tem problema de superpopulação na sala. A gente tem que dividir em duas salas porque fica tão cheio, que daí o caso 1 vem para essa sala, o caso 2 vai para aquela sala. (Participante do Grupo Focal)

No que se refere às articulações internas, da própria Política de Assistência

Social, há uma aparente fragilidade nas relações, ausência de protocolos e definição

de papéis em relação aos serviços, especialmente entre as Proteções Básica e

Especial. As articulações com a rede conveniada parecem atender um pouco melhor

às expectativas, como já ocorre no trabalho intersetorial, o que não se repete com os

Page 128: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

128

CRAS‟s. Esse quadro enfraquece a proteção social e coloca o trabalho social em

retrocesso.

As famílias atendidas no CREAS não necessariamente são ou foram em

algum momento atendidas e/ou referenciadas no território de moradia, sendo sua

porta de entrada o CREAS, que já as recebe com uma situação de risco agravada.

Na definição do perfil das famílias atendidas, os profissionais as reconhecem como

famílias que já tiveram todas as portas fechadas, e por isso chegaram ao CREAS.

Ademais, nota-se que não foi construído até o momento um protocolo de referência

e contrarreferência entre os Serviços da Proteção Básica e Proteção Especial. As

famílias transitam entre eles muito mais como “casos” a serem resolvidos e

devolvidos, o que pode gerar entre os profissionais o que chamaríamos de uma

disputa negativa, ou seja, o não reconhecimento da competência do serviço para

acolhê-las, no intuito de acumular menos “casos” para atender.

Como pudemos observar pelos dados já apresentados, somente 3% das

famílias chegam ao CREAS por meio dos CRAS‟s, e não há dados sobre a

existência de procedimentos de acompanhamento conjunto ou a inserção das

famílias nos serviços do território. O que se evidencia é que a própria relação entre

os serviços é precária.

Então eu percebo que aqui... Nesse pouco tempo, eu não tive a oportunidade de visitar um CRAS e o meu contato foi por telefone. O que eu vejo aqui é que tem essa dificuldade com os CRAS, por exemplo, de definir o que é CRAS e o que é CREAS e de a gente receber casos que talvez não é aqui do CREAS e a gente não conseguir passar pra eles. Por exemplo, eu já tive caso que a família estava sendo atendida, eu ligo para o CRAS e eles falam que mandaram para o CREAS porque viu que já não dava mais. E eu não, eu acho que tem que ser atendido pelos dois. Acontece isso aqui: “Ah, você passou pro CREAS a responsabilidade? O acompanhamento é do CREAS.” (Assistente Social 2)

Essa ausência de protocolos e definições acarreta prejuízos às famílias

atendidas, uma vez que transitam entre os serviços como “um caso a mais”, o que

compromete a proteção a ser ofertada.

Comigo tem acontecido uma coisa assim, meio que ao contrário. O CRAS tem dito para as famílias, isso já aconteceu com mais de uma família: “Não, você está sendo atendido no CREAS, então você não vem mais aqui.” Aconteceu: “Você não

Page 129: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

129

vem mais aqui. Cartão é lá, tudo lá.” Teve uma família que até veio reclamar comigo e falou: “Mas como assim? Lá é mais perto. Lá está mais próximo. Aqui eu tenho que pegar condução, aqui é difícil.” Eu estou sentindo esse movimento meio que contrário. (Participante do Grupo Focal)

A ausência de procedimentos institucionais leva os profissionais a cuidarem

pessoalmente das tratativas, levando inclusive a um desgaste, o que não contribui

para o bom andamento das ações.

A gente construiu referenciais, construiu critérios. Os critérios foram pactuados entre as equipes. Vocês lembram disso, né? Tem um documentinho, tudo. Mas na prática, na hora do atendimento, não vira. A coisa fica como se nunca tivesse sido feita, né? A gente também tentou começar um fluxo para o encaminhamento do público prioritário do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Também fizemos um. Não foi criado um fluxo, mas foi criado uma minuta de fluxo: “Então vamos testar desse modo”. Não deu certo com nenhum CRAS. Cada coordenador de CRAS, quando você vai tentar articular, exige uma coisa diferente. (Participante do Grupo Focal)

Há dificuldades no entendimento e no esforço em separar as ações de

responsabilidade do CRAS e do CREAS. E, ao contrário disso, a proteção integral e

a matricialidade pressupõem uma articulação de ações, e não uma divisão, sob o

risco de antigos padrões emergirem em nova roupa, de ocorrerem fragmentações e

identificação das famílias por suas “fragilidades”, não podendo essa demanda recair

somente na responsabilidade de gestão local do CREAS. Compete ao órgão gestor

da Assistência Social promover e facilitar a construção de ações articuladas e a

aproximação do CREAS com os demais serviços.

O órgão gestor de Assistência Social tem papel relevante de coordenador do processo de articulação entre as unidades da rede socioassistencial do território de abrangência do CREAS, incluindo tanto as de natureza pública estatal quanto aquelas de natureza pública não estatal. (BRASIL, 2011, p.64)

Observamos a baixa oferta de serviços da Assistência Social nas áreas de

atuação dos CRAS‟s, mas também uma baixa oferta de serviços de outras Políticas,

especialmente nas áreas mais periféricas. Isso nos leva a inferir pela ausência de

proteção adequada nos territórios e potencialização das situações de risco, gerando

Page 130: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

130

demandas para o CREAS, que passa a ser reconhecido como responsável pela

solução de cada situação, individualmente, gerando um número de famílias inseridas

desproporcional à estrutura e em desacordo com a proposta da Política de

Assistência Social.

A partir dessa análise, verificamos que o trabalho social com famílias

realizado no CREAS em São Bernardo do Campo contém somente de forma parcial

os elementos objetivos que consideramos essenciais, quais sejam: metodologias

claras e definidas, ocorrência de intersetorialidade e articulação na rede

socioassistencial, diagnóstico da desproteção e proteção social fortalecida nos

territórios, e a oferta de serviços de responsabilidade da Proteção Social Especial,

de forma a oferecer a cobertura de acordo com a demanda, com qualidade. Dessa

forma, exigirá da Gestão esforço para mais uma etapa no fortalecimento do SUAS,

já que consideramos ter havido avanço nos últimos seis anos, período em que

relatamos o início de nova etapa na implementação do SUAS.

O trabalho ainda apresenta-se como uma ação pontual e emergencial, não

permitindo, ou permitindo em situações muito particulares, a garantia da construção

de fortalecimento e autonomia das famílias, ofertando respostas imediatas, que se

mostram muitas vezes necessárias ante o risco, mas que não se mantêm em longo

prazo. Revelam-se ainda incipientes alguns instrumentos importantes, como

manutenção de prontuários, registro e análise das informações, a construção de

Planos Individuais de Atendimento, indicada para o trabalho social, e o planejamento

das ações de forma mais abrangente.

Quanto aos aspectos do trabalho social que aqui chamamos de subjetivos,

como aqueles de caráter mais conceitual – o entendimento da matricialidade, da

família, da proteção social, da especificidade da Política de Assistência Social e da

construção de vínculos entre usuário e serviço, o que estabelece de fato a referência

–, são identificados avanços e um forte potencial e ser explorado na equipe de

trabalho. Todavia, lacunas importantes devem ser consideradas, tanto em relação à

formação permanente da equipe como no que diz respeito ao fortalecimento da

Política de Assistência Social no município perante as demais Políticas Públicas, o

Sistema de Segurança e Justiça e os demais órgãos de garantia de direitos.

Page 131: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

131

Há de se romper de fato com a fragmentação na oferta de proteção social,

revendo inclusive a estrutura e funcionamento dos serviços públicos envolvidos em

suas diversas áreas, além da necessária criação de instrumentos normativos locais

que definam responsabilidades e parâmetros para garantia de uma Política Pública

de Proteção Social não contributiva à luz dos preceitos constitucionais.

Page 132: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

132

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A família sempre esteve presente nas intervenções do Estado. Ao longo da

história se organizou de diversas formas, mas formalmente seus padrões foram

sendo estabelecidos a partir de interesses da classe dominante. A cada período

político e econômico se exigiu da família uma postura, e o Estado se ocupou desse

controle e definição.

Nunca a família foi foco de atenção do Estado para garantia de proteção em

sua integridade e autonomia, até a CF de 1988, que trouxe novos parâmetros de

proteção e Direitos Sociais. A importante mudança, no entanto, não foi suficiente

para a implantação e a execução de novas políticas sociais. Ao contrário, desafio se

impôs para a efetiva observância dos preceitos constitucionais quanto aos Direitos

Sociais das Famílias, com o enfrentamento de conceitos conservadores, que se

mantiveram impregnados na sociedade e reproduzem os interesses dominantes,

fortalecidos pelo Estado.

A Assistência Social faz parte desse desafio, tendo sido concebida na

Constituição Federal de 1988 a partir de um novo paradigma, elevando-a a Política

Pública, de dever do Estado e Direito do cidadão. A partir da Constituição Federal,

uma farta legislação passou a regular a Política de Assistência Social,

estabelecendo novos princípios e diretrizes para sua implantação. Entre eles, a

diretriz da matricialidade sociofamiliar, trazendo um novo olhar para a atenção às

famílias, rompendo com a fragmentação na atenção ofertada, com os modelos

tradicionais de família e estendendo as atenções aos núcleos compostos por laços

de afetividade e solidariedade. Rompe também com os paradigmas do “não direito”

e das ações de caráter paternalista e emergencial, passando a estabelecer o Direito

de acesso a serviços e benefícios de caráter público e contínuo, na perspectiva na

emancipação humana.

Uma breve análise na legislação brasileira apontou, no entanto, que, apesar

dos avanços, alguns conceitos legais de família e de responsabilidade pública não

acompanharam com a mesma velocidade as discussões teóricas da Política de

Assistência Social. Transitamos de um conteúdo normativo conservador e

excludente, anterior à Constituição, para um conteúdo mais avançado, mas muito

aquém dos ideais constitucionais e mais genérico do que deveria ser.

Page 133: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

133

A matricialidade sociofamiliar trouxe desafios também aos profissionais, que

carregam na sua formação pessoal e acadêmica esse reflexo conservador e

reproduzem as antigas formas de executar as ações sociais, desconsiderando a

relação da família com uma sociedade carregada de desigualdades estruturais e

olhando para ela a partir de suas relações internas, somente entre os seus membros

– ou, como afirmamos, estabelecendo um olhar para dentro da família,

desconsiderando as relações sociais. Avançar nesse modelo de trabalho é o nosso

desafio.

O SUAS propõe ações matriciais, intersetoriais, territorializadas, que

promovam o protagonismo e autonomia das famílias e sua participação nas

decisões, seja em caráter individual ou coletivo, além do controle social para garantir

a participação dos usuários da Política. Autonomia aqui entendida como a

capacidade de engajar-se na participação política e nas relações da sociedade de

forma a acessar Direitos e exercer Cidadania. O trabalho social com famílias deve,

dessa forma, ser capaz de promover o reconhecimento das famílias como cidadãs e

partícipes da sociedade, sujeito de direitos.

A análise das orientações e normativas da Política de Assistência Social

demonstra claramente esse propósito, embora se mostrem frágeis como

garantidoras de procedimentos, uma vez que, trazendo conceitos mais genéricos,

pela própria característica do pacto federativo requerido pela Política, a execução

dos serviços pelos municípios muitas vezes veste-se da teoria, mas não a

concretiza, ou seja “uma roupa nova para velhas ações”.

Em São Bernardo do Campo o trabalho social com famílias guarda essas

características. A história do munícipio é marcada por forte migração e

assentamentos precários, decorrentes de um intenso desenvolvimento que atraiu

milhares de pessoas em busca de melhores condições de vida. O planejamento da

cidade, no entanto, não acompanhou esse crescimento e, ao longo dos anos,

administrações também conservadoras mantiveram programas assistencialistas de

atendimento à população não garantidores de melhores condições de vida.

A partir de 2009 ocorreu significativa mudança na gestão pública e teve

início nova forma de gestão das Políticas Públicas, especialmente da Assistência

Social. Seis anos, no entanto, não foram suficientes para romper com práticas

conservadoras arraigadas, tampouco para superar o déficit dos diversos serviços no

município. Muitos territórios ainda apresentam precárias condições de vida e os

Page 134: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

134

serviços não atendem de forma integral e integrada, não garantindo a propalada

melhora na condição de vida das famílias, especialmente no que se refere aos

territórios mais distantes e com maior presença de riscos e vulnerabilidades.

O CREAS em São Bernardo do Campo foi efetivamente implantado em

2010, seis anos após sua instituição na Política de Assistência Social. Desde então,

vem enfrentando o desafio de romper com as práticas de décadas anteriores,

fragmentadas e de caráter assistencialista. Persiste ainda a nomenclatura “casos”

nos serviços, e uma forte presença de ações emergenciais, justificadas pelas

demandas apresentadas pelas famílias, significativas situações de violência e

abandono, sem acesso a nenhuma forma de proteção.

Para o atendimento das famílias no CREAS, prevalece o uso de

instrumentos tradicionais de intervenção, muitas vezes com pouco planejamento e

ausência da identificação de resultados esperados. Visitas domiciliares e entrevistas

são realizadas no cotidiano, mas com poucos desdobramentos dentro da Política,

tendo como principal aliado o encaminhamento para serviços das diversas Políticas

Públicas, com destaque para as de Saúde e Educação, ou represando as famílias

naquele serviço, sem maiores intervenções. Esses procedimentos, no entanto, não

acontecem por inabilidade profissional, mas, muitas das vezes, pela ausência de

serviços, seja da própria Política de Assistência Social, seja das demais Políticas

Públicas.

A antiga concepção, ainda existente no município, quanto ao papel da

Assistência Social reforça as dificuldades na articulação interna e na externa. Muitas

vezes setores diversos atribuem ao CREAS e à Secretaria a responsabilidade de dar

respostas imediatas às necessidades de famílias que já apresentam graves

violações quando são identificadas.

Da estrutura da gestão à concepção de seus trabalhadores, houve várias

intervenções que culminaram em importantes mudanças, mas ainda insuficientes

para a concretização do CREAS enquanto unidade de Proteção Social Especial de

média complexidade. Prevalecem ainda divergências nas concepções de

matricialidade sociofamiliar, proteção social e a respeito das funções da Política de

Assistência Social, ainda com forte caráter dispensarial, emergencial e

complementar, além da ausência de articulação entre os benefícios e serviços da

Assistência Social preconizados pelo SUAS.

Page 135: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

135

Quanto à gestão, carece de melhor estrutura e organização dos serviços a

partir das demandas identificadas e da observação dos objetivos e aquisições

exigidas pelo SUAS. O baixo investimento na Política de Assistência Social ainda

precariza serviços e dificulta a oferta de educação permanente e supervisão para a

equipe técnica, essencial para que os profissionais possam conhecer o SUAS,

reconhecer seus avanços e os novos paradigmas da proteção social.

O trabalho social com famílias vem se estruturando em passos lentos, mas

com uma perspectiva de avanços em médio prazo, no que depender da iniciativa do

gestor e dos trabalhadores. Apresenta elementos importantes para seu

desenvolvimento, como a construção de trabalhos intersetoriais e o forte vínculo das

famílias com o serviço e os profissionais, característica necessária para a existência

de referência. Porém, ainda se faz necessária melhor estruturação do serviço e

maior oferta de proteção nos territórios, de forma que a proteção social possa

assumir o caráter de prevenção à ocorrência de violações e exposição a riscos, o

que é incipiente. Há ainda fragilidades na articulação entre CRAS e CREAS e

ausência de protocolos entre os serviços.

No que se refere aos trabalhadores, é possível notar um potencial a ser

desenvolvido. O CREAS conta com uma equipe coesa, ética e com capacidade

técnica de significativa qualidade, formada, em parte, por profissionais experientes e,

em parte, por profissionais cuja formação mais recente alimenta o debate e a

reflexão teórica, ao mesmo tempo que são alimentados pela experiência da atuação

profissional.

Nesse sentido, prevalece ainda um distanciamento entre as normativas e

conceitos do SUAS e a prática profissional, já que as equipes acabam por escolher

metodologias e instrumentos mais pela reprodução das práticas do cotidiano do que

pela reflexão com base na experiência e no planejamento. Há a necessidade de

melhor definição nos padrões de organização do SUAS, com a apresentação de

normas claras e sem expressões genéricas e difusas – como vulnerabilidade,

autonomia, emancipação, risco, entre outras –, para facilitar aos profissionais o

entendimento da Política e favorecer a coesão entre eles e a gestão dos serviços.

Page 136: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

136

As metodologias necessárias ao trabalho social com famílias, a partir desses

avanços, não precisam de um modelo padrão nem único. Devem ser flexíveis e

adequadas às necessidades e objetivos a serem alcançados. Sua construção deve

privilegiar a participação do usuário e vislumbrar a alteração nas condições de vida

das famílias envolvidas a partir da construção, por elas, de novas perspectivas para

o reconhecimento e acesso aos Direitos Sociais.

Page 137: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

137

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACOSTA, Ana Rojas; VITALE, Maria Amália Faller (Orgs.). Família, redes, laços e

políticas públicas. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

BACKX, Sheila; GUERRA, Yolanda; SANTOS, Claudia Monica (Orgs.). A dimensão

técnico operativa do serviço social: desafios contemporâneos. 2. ed. Juiz de

Fora: Editora UFJF, 2013.

BONETTI, Dilsea Adeodata; CARVALHO, Maria do Carmo Brant; SPOSATI, Aldaíza

de Oliveira; YASBEK, Maria Carmelita. Assistência na trajetória das políticas

sociais brasileiras: uma questão em análise. 12. ed. São Paulo: Cortez, 2014.

CHIAVERINI, Dulce Helena. (Org.). Guia prático de matriciamento em saúde

mental. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. Disponível em: <http://bvsms.saude.

gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_matriciamento_saudemental.pdf>. Acesso em:

26 mar. 2016.

COLIN, Denise. Apresentação. In: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e

Combate à Fome. Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais. Brasília:

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2013.

COUTO, Berenice Rojas. Políticas públicas e trabalho social: polêmicas em debate.

In: INSTITUDO DE ESTUDOS ESPECIAIS DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE SÃO PAULO. Metodologias de Trabalho Social. São Paulo, 2008,

p.46-54.

ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado.

3. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2012.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua

portuguesa. 3. ed. Curitiba: Positivo, 2004.

Page 138: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

138

GATTI, Bernadete Angelina. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e

humanas. 10. ed. Brasília: Libe Livro, 2012.

GUERRA, Yolanda. A dimensão técnico-operativa do exercício profissional. In:

BACKX, Sheila; GUERRA, Yolanda; SANTOS, Claudia Monica (Orgs.). A dimensão

técnico-operativa no serviço social. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2013, p.45-74.

HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

INSTITUTO DE ESTUDOS ESPECIAIS DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE

CATÓLICA DE SÃO PAULO. Metodologias de trabalho social. São Paulo: IEE/

PUC-SP, 2008.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. As relações entre o

Sistema Único de Assistência Social - SUAS e o Sistema de Justiça. Brasília:

Ministério da Justiça; IPEA, 2015.

ISHIKAWA, Carlos Takeo; MANTOVAN, Rosimeire Aparecida; NASCIMENTO,

Rosana Cristina Januário; QUINONERO, Camila Gomes. Princípios e Diretrizes da

Assistência Social: da LOAS à NOB SUAS. O Social em Questão. Revista do

Departamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de

Janeiro, Rio de Janeiro, n. 30, p. 47-69, 2013.

KOGA, Dirce. Medidas de cidades: entre territórios de vida e territórios vividos.

2. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

LESSA, Sergio. Abaixo a família monogâmica. 1. ed. São Paulo: Instituto Lukács,

2012.

MARTINELLI, Maria Lucia (Org.). Pesquisa Qualitativa: um instigante desafio.

2. ed. São Paulo: Veras, 2012.

MIOTO, Regina Célia Tamaso. Trabalho com famílias: um desafio para os

assistentes sociais. Textos & Contextos. Revista do Programa de Pós-Graduação

em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Rio

Page 139: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

139

Grande do Sul, ano 3, n. 3, dez. 2004. Disponível em: <http://revistaseletronicas.

pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/979/5119>. Acesso em: 19 ago. 2014.

______. Família, trabalho com famílias e Serviço Social. Serviço Social em

Revista. Londrina, v. 12, n. 2, p.163-164, jan./jun. 2010. Disponível em: <http://www.

uel.br/revistas/uel/index.php/ssrevista/article/view/7584/6835>. Acesso em: jan./

2016.

______. Debate Simultâneo – Família, Gênero e Assistência Social. In: CONSELHO

FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. O trabalho do/a Assistente Social no SUAS:

Seminário Nacional. Gestão Atitude Crítica para Avançar na Luta. Brasília: CFESS,

2011.

PRATA, Nívea Cristina da Silva. Histórico da assistência social em São Bernardo

do Campo. Atividade realizada no curso de Pós-Graduação em Gestão da Política

de Assistência Social, In Company, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

2012.

SÃO BERNARDO DO CAMPO. Secretaria de Orçamento e Planejamento

Participativo. Sumário de Dados 2012: ano base 2011. São Bernardo do Campo:

Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo, 2012. Disponível em:

<http://www.saobernardo.sp.gov.br/documents/10181/37810/Sumario2012_Cap1a4.

zip/6db57ff4-c332-4a67-917e-c01aa43150cc?version=1.0>. Acesso em: 03 abr.

2016.

______. SEDESC - Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania. Relatório de

Gestão da Gerência de Proteção Social Especial – 2009-2012. São Bernardo do

Campo: Gerência de Proteção Social Especial, 2013.

______. SEDESC - Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania. Relatório de

Gestão da Gerência de Proteção Social Especial – 2014. São Bernardo do

Campo: Gerência de Proteção Social Especial, 2015.

SARTI, Cynthia Andersen. A família como espelho: um estudo sobre a moral dos

pobres. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

Page 140: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

140

SILVA, Ademir Alves. A gestão da seguridade social brasileira – entre a política

pública e o mercado. São Paulo: Cortez, 2010.

SPOSATI, Aldaíza. Regulação social tardia: característica das políticas sociais

latino-americanas na passagem entre o segundo e o terceiro milênio. VII Congreso

Internacional del Clad sobre la Reforma del Estado e de la Administración

Pública. Lisboa: Centro Latinoamericano de Administración para el Desarollo, 2002.

Disponível em: <http://unpan1.un.org/intradoc/groups/public/documents/CLAD/

clad0044509.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. A gestão da assistência social na cidade de São Paulo (2001-2004).

Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, n. 3, v. 39, 2005. Disponível

em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/view/6778/5360>. Acesso

em: 02 dez. 2015.

______. Modelo brasileiro de proteção social não contributiva: concepções

fundantes. In: BRASIL; UNESCO. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate

à Fome. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura -

UNESCO. Concepção e gestão da proteção social não contributiva no Brasil.

Brasília, 2009.

______; CARVALHO, Maria do Carmo Brant de; TEIXEIRA, Sônia Maria Fleury. Os

direitos (dos desassistidos) sociais. São Paulo: Cortez, 2012.

TEIXEIRA, Solange Maria. Família na Política de Assistência Social: avanços e

retrocessos com a matricialidade sociofamiliar. Revista de Políticas Públicas -

RPP. São Luís, v. 13, n. 2, p. 255-264, jul./dez. 2009. Disponível em: <http://www.

revistapoliticaspublicas.ufma.br/site/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper

&Itemid=69>. Acesso em: jan./2016.

______. A família na política de Assistência Social: concepções e as tendências

do trabalho social com famílias nos CRAS de Teresina-PI. Teresina: EDUFPI, 2013.

Page 141: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

141

WANDERLEY, Mariangela Belfiore; OLIVEIRA, Isaura Isoldi de Mello Castanho

(Orgs.). Trabalho com famílias. v. 2. São Paulo: IEE/PUC-SP, 2004.

______. Políticas Públicas e trabalho social: polêmicas em debate. In: ARREGUI,

Carla Carbajal; BLANES, Denise Neri (Orgs.). Metodologias de trabalho social.

São Paulo: IEE/PUC-SP, 2008.

YAZBEK, Maria Carmelita. Questão social: desigualdade, pobreza e

vulnerabilidade social. Curso de Capacitação de Gestores Sociais: São Paulo:

IEE/PUC-SP 2008.

Brasil: Leis, Decretos, Portarias e Resoluções

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.

Rio de Janeiro, 1º jan. 1916. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/

1910-1919/lei-3071-1-janeiro-1916-397989-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso

em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Decreto n° 4.682, de 24 de janeiro de 1923. Cria, em cada uma das empresas de

estrada de ferro existentes no país, uma caixa de aposentadoria e pensões para os

respectivos empregados. Rio de Janeiro, 24 jan. 1923. Disponível em: <http://

www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Historicos/DPL/DPL4682.htm>. Acesso em: 03

abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Decreto nº 5.083, de 1º de dezembro de 1926. Institui o Código de Menores. Rio

de Janeiro, 1º dez. 1926. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/

decret/1920-1929/decreto-5083-1-dezembro-1926-503230-publicacaooriginal-1-

pl.html>. Acesso em: 03 abr. 2016.

Page 142: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

142

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 16 de julho de

1934). Rio de Janeiro, 16 jul. 1934. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (de 10 de novembro

de 1937). Rio de Janeiro, 10 nov. 1937. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/Constituicao/Constituicao37.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 18 de setembro de 1946). Rio de

Janeiro, 18 set. 1946. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/

Constituicao/Constituicao46.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 4.513, de 1º de dezembro de 1964. Autoriza o Poder Executivo a criar a

Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, a ela incorporando o patrimônio e as

atribuições do Serviço de Assistência a Menores, e dá outras providências. Brasília,

1º dez. 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1950-1969/

L4513.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1967. Brasília, 24 jan. 1967.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.

htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Decreto-lei nº 593, de 27 de maio de 1969. Autoriza o Poder Executivo a instituir

uma fundação destinada a prestar assistência à maternidade, à infância e à

adolescência. Brasília, 27 mai. 1969. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del0593.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

Page 143: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

143

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969. Brasília, 17 out. 1969.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc_

anterior1988/emc01-69.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 6.697, de 10 de outubro de 1979. Institui o Código de Menores. Brasília, 10

out. 1979. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/

L6697.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 05 out. 1988.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constituicao

Compilado.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente e dá outras providências. Brasília, 13 jul. 1990. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da

Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 24 jul. 1991. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8213cons.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobre a organização da

Assistência Social e dá outras providências. Brasília, 7 dez. 1993. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério da Previdência e Assistência Social. Conselho Nacional de

Assistência Social. Resolução nº 204, de 04 de dezembro de 1997. Aprova a

Norma Operacional Básica - NOB, nos termos acordados na reunião extraordinária

do CNAS, em 02 de dezembro de 1997, e num prazo de 60 dias, proceder a

Page 144: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

144

avaliação da sua implementação. Brasília, 04 dez. 1997. Disponível em: <http://

www.mds.gov.br/cnas/legislacao/resolucoes/arquivos-1997/CNAS%201997%20-

%20204%20-%2004.12.1997.doc>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério da Previdência e Assistência Social. Conselho Nacional de

Assistência Social. Resolução nº 207, de 16 de dezembro de 1998. Aprova a

Política Nacional de Assistência Social - PNAS e a Norma Operacional Básica da

Assistência Social - NOB2. Brasília, 16 dez. 1998. Disponível em: <http://www.

mds.gov.br/webarquivos/legislacao/assistencia_social/resolucoes/1998/Resolucao%

20CNAS%20no%20207-%20de%2016%20de%20dezembro%20de%201998.pdf>.

Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, 10 jan.

2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>.

Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá

outras providências. Brasília, 1º out. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.

br/ccivil_03/leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução

nº 145, de 15 de outubro de 2004. Aprova a Política Nacional de Assistência Social.

Brasília, 15 out. 2004a. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/

resolucoes/arquivos-2004/CNAS%202004%20-%20145%20-%2015.10.2004.doc>.

Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Cria o Programa Bolsa Família e dá outras

providências. Brasília, 09 jan. 2004b. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

Page 145: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

145

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução

nº 130, de 15 de julho de 2005. Aprova a Norma Operacional Básica da Assistência

Social - NOB SUAS. Brasília, 15 jul. 2005a. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/

cnas/legislacao/resolucoes/arquivos-2005/CNAS%202005%20-%20130%20-

%2015.07.2005.doc>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política

Nacional de Assistência Social - PNAS 2004. Norma Operacional Básica - NOB

SUAS. Brasília, 2005b.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência

doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição

Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar

a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência

Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código

Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Brasília, 7 ago. 2006.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.

htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução

nº 109, de 11 de novembro de 2009. Aprova a Tipificação Nacional de Serviços

Socioassistenciais. Brasília, 2009a. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/cnas/

legislacao/resolucoes/arquivos-2009/cnas-2009-109-11-11-2009.pdf/download>.

Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução CIT

nº 7, de 10 de setembro de 2009. Dispõe sobre os procedimentos para a gestão

integrada dos serviços, benefícios socioassistenciais e transferências de renda para

o atendimento de indivíduos e de famílias beneficiárias do PBF, PETI, BPC e

benefícios eventuais, no âmbito do SUAS. Brasília, 10 set. 2009b. Disponível em:

<https://www.legisweb. com.br/legislacao/?id=111982>. Acesso em: 03 abr. 2016.

Page 146: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

146

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Protocolo de

Gestão Integrada de Serviços, Benefícios e Transferências de Renda no âmbito

do Sistema Único de Assistência Social - SUAS. Brasília, 2010.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações

Técnicas: Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS.

Brasília: Gráfica e Editora Brasil, 2011.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações

Técnicas sobre o PAIF: o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família -

PAIF, segundo a tipificação nacional de serviços socioassistenciais. v. 1. Brasília,

2012.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Orientações

Técnicas sobre o PAIF: trabalho social com famílias do Serviço de Proteção e

Atendimento Integral à Família - PAIF. v. 2. Brasília, 2012.

______. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei 6.583/2013. Dispõe sobre o

Estatuto da Família e dá outras providências. Brasília, 2013. Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=A45DF

E05BC28EB69A23820CCF182483E.proposicoesWeb1?codteor=1159761&filename

=PL+6583/2013>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério da Previdência e Assistência Social. Conselho Nacional de

Assistência Social. Resolução nº 33, de 12 de dezembro de 2012. Aprova a Norma

Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social - NOB/SUAS. Brasília,

03 jan. 2013. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/resolucoes/

arquivos-2012/cnas-2012-033-12-12-2012.pdf/download>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Resolução nº 9,

de 15 de abril de 2014. Ratifica e reconhece as ocupações e as áreas de

ocupações profissionais de ensino médio e fundamental do Sistema Único de

Assistência Social - SUAS, em consonância com a Norma Operacional Básica de

Recursos Humanos do SUAS - NOB-RH/SUAS. Brasília, 16 abr. 2014. Disponível

Page 147: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

147

em: <http://www.mds.gov.br/cnas/legislacao/resolucoes/arquivos-2014/cnas-2014-

009-15-04-2014.pdf/download>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.

Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa

com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, 6 jul. 2015.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/

L13146.htm>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Conselho

Nacional de Assistência Social. Legislação. Brasília: Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome, 2016. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/

cnas/legislacao>. Acesso em: 03 abr. 2016.

Legislação municipal

SÃO BERNARDO DO CAMPO (Município). Lei nº 2.240, de 13 de agosto de 1976.

Dispõe sobre a consolidação da Reforma Administrativa e aprova o Plano de

Classificação de Cargos e Funções (PCCF) da Administração Municipal de São

Bernardo do Campo. São Bernardo do Campo, 13 ago. 1976. Disponível em:

<http://www.legislacao.saobernardo.sp.gov.br/upload/pdf/1976_L/1976_L_02240.

pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Lei Orgânica do Município de São Bernardo do Campo. São Bernardo

do Campo, 5 abr. 1990. Disponível em: <http://www.camarasbc.sp.gov.br/pdf/

lei_organica/lei_organica.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2016.

______. Lei nº 3.789, de 10 de outubro de 1991. Dispõe sobre a criação do Fundo

Social de Solidariedade, e dá outras providências. São Bernardo do Campo, 25 nov.

1991. Disponível em: <http://www.legislacao.saobernardo.sp.gov.br/upload/pdf/

1991_L/1991_L_03789.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016.

Page 148: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

148

______. Lei nº 4.669, de 15 de outubro de 1998. Dispõe sobre a alteração da Lei

Municipal nº 2.240, de 13 de agosto de 1976, e a criação da Secretaria de

Desenvolvimento Social e Cidadania e dá outras providências. São Bernardo do

Campo, 15 out. 1998. Disponível em: <http://www.legislacao.saobernardo.sp.

gov.br/upload/pdf/1998_L/1998_L_04669.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Lei nº 4.757, de 10 de junho de 1999. Dispõe sobre o Programa de

Garantia de Renda Mínima - PGRM; Programa Emergencial de Desenvolvimento

Social e Cidadania, implementação da Política Municipal de Assistência Social, e dá

outras providências. São Bernardo do Campo, 10 jun. 1999. Disponível em: <http://

www.legislacao.saobernardo.sp.gov.br/upload/pdf/1999_L/1999_L_04757.pdf>.

Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Lei nº 4.937, de 21 de dezembro de 2000. Cria o Programa de Serviço

Voluntário e dá outras providências. São Bernardo do Campo, 21 dez. 2000.

Disponível em: <http://www.legislacao.saobernardo.sp.gov.br/upload/pdf/2000_L/

2000_L_04937.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Lei nº 5.249, de 19 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a alteração da Lei

Municipal nº 4.669, de 15 de outubro de 1998, e dá outras providências. São

Bernardo do Campo, 19 dez. 2003. Disponível em: <http://camara-municipal-de-sao-

bernardo-do-campo.jusbrasil.com.br/legislacao/701484/lei-5249-03>. Acesso em: 03

abr. 2016.

______. Lei nº 5.370, de 03 de fevereiro de 2005. Dispõe sobre a criação da

Coordenadoria de Licitações e Materiais e sobre alterações das Leis Municipais

nº 2.240, de 13 de agosto de 1976, com suas alterações; 4.473, de 9 de janeiro de

1997, com suas alterações; 4.804, de 11 de novembro de 1999, e 5.365, de 28 de

dezembro de 2004, e dá outras providências. São Bernardo do Campo, 03 fev. 2005.

Disponível em: <http://www.legislacao.saobernardo.sp.gov.br/upload/pdf/2005_L/

2005_L_05370.pdf>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Lei nº 5.431, de 06 de outubro de 2005. Dispõe sobre a alteração na Lei

Municipal nº 2.240, de 13 de agosto de 1976, com suas modificações, cria funções

Page 149: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

149

de especialista em equoterapia e auxiliar de pista, e dá outras providências. São

Bernardo do Campo, 06 out. 2005. Disponível em: <http://camara-municipal-de-sao-

bernardo-do-campo.jusbrasil.com.br/legislacao/701303/lei-5431-05>. Acesso em: 03

abr. 2016.

______. Lei nº 5.982, de 11 de novembro de 2009. Dispõe sobre a alteração da

estrutura administrativa da Prefeitura do Município de São Bernardo do Campo,

alteração da Lei Municipal nº 2.240, de 13 de agosto de 1976, e dá outras

providências. São Bernardo do Campo, 11 nov. 2009. Disponível em: <http://www.

legislacao.saobernardo.sp.gov.br/upload/pdf/2009_L/2009_L_005982.pdf>. Acesso

em: 03 abr. 2016.

______. Lei nº 6.033, de 15 de abril de 2010. Dispõe sobre a instituição do

Programa Oportunidades de Geração de Trabalho e Melhoria de Renda das famílias

em situação de vulnerabilidade social, e dá outras providências. São Bernardo do

Campo, 15 abr. 2010. Disponível em: <https://leismunicipais.com.br/a/sp/s/sao-

bernardo-do-campo/lei-ordinaria/2010/603/6033/lei-ordinaria-n-6033-2010-dispoe-

sobre-a-instituicao-do-programa-oportunidades-de-geracao-de-trabalho-e-melhoria-

de-renda-das-familias-em-situacao-de-vulnerabilidade-social-e-da-outras-

providencias>. Acesso em: 03 abr. 2016.

______. Lei nº 6.373, de 15 de dezembro de 2014. Estima a receita e fixa a

despesa do município de São Bernardo do Campo, para o exercício financeiro de

2015, e dá outras providências. São Bernardo do Campo, 15 dez. 2014. Disponível

em: <http://lnc001.saobernardo.sp.gov.br/dados1/lrf/orcamento/LEI%206373.pdf>.

Acesso em: 03 abr. 2016.

Sites

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/default.php>. Acesso em: jan./2016.

Page 150: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

150

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Disponível em:

<http://mds.gov.br/>. Acesso em: jan/2016

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Conselho

Nacional de Assistência Social - CNAS. Legislação. Disponível em: <http://www.mds.

gov.br/cnas/legislacao>. Acesso em: jan./2016.

______. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria de

Avaliação e Gestão da Informação - SAGI. SUAS - Ambiente de Gestão. Disponível

em: <http://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/suasag/index.php>. Acesso em:

jan./2016.

GOOGLE MAPS. São Bernardo dos Campos. Disponível em: <https://www.google.

com.br/maps/@-23.8046745,-46.6697907,11z>. Acesso em: jan./2016.

SÃO BERNARDO DO CAMPO (Município). Disponível em: <http://www.

saobernardo.sp.gov.br/home>. Acesso em: jan./2016.

______. Seção de Pesquisa e Documentação, Divisão de Preservação da Memória,

Secretaria de Cultura, Prefeitura de São Bernardo do Campo. História da cidade.

Disponível em: <http://www.saobernardo.sp.gov.br/historia-da-cidade>. Acesso em:

jan./2016.

______. Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo. Orçamentos.

Disponível em: <http://www.saobernardo.sp.gov.br/orcamentos-sopp>. Acesso em:

jan./2016.

______. Secretaria de Orçamento e Planejamento Participativo. Índice - Sumário de

Dados. Disponível em: <http:// www.saobernardo.sp.gov.br/sumario-de-dados>.

Acesso em: jan./2016.

Page 151: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

151

APÊNDICES

AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA

Local, ____/_____/_____ Eu, ____________, Secretária Municipal da Secretaria de ___________,

responsável pelo CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência

Social, DECLARO que autorizo a pesquisadora ___________, aluno(a) do curso de

Mestrado em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo -

PUC/SP, a realizar a pesquisa intitulada ___________, sob orientação do

__________.

Declaro conhecer e cumprir as Resoluções Éticas Brasileiras, em especial a

Resolução CNS 466/12. Esta instituição está ciente de suas corresponsabilidades

como instituição coparticipante do presente projeto de pesquisa, e de seu

compromisso no resguardo da segurança e bem-estar dos sujeitos de pesquisa nela

recrutados, dispondo de infraestrutura necessária para a garantia de tal segurança e

bem-estar.

___________________________

Page 152: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

152

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE

Gostaríamos de convidá-lo como participante voluntário da pesquisa intitulada

____________, que se refere a um projeto de pesquisa para a construção da

Dissertação de Mestrado da aluna ______________, vinculada ao Curso de Pós-

Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo -

PUC-SP, orientada pelo professor _______________. O objetivo geral do estudo é:

aprofundar o conhecimento acerca das concepções e metodologias utilizadas na

atenção às famílias, propondo então um alinhamento teórico-metodológico, de

caráter multidisciplinar, que conceba a Assistência Social como Política de

Seguridade Social, direito do cidadão e dever do Estado.

Durante a coleta de dados não haverá alteração de sua atividade, horário e função e

o tempo requerido será determinado pelo voluntário. Todos os dados coletados

serão tratados com sigilo e confidencialidade. Seu nome não será divulgado em

qualquer fase da pesquisa, o que garante seu anonimato. Não haverá custos, riscos

nem desconfortos decorrentes de sua participação neste estudo. Também não estão

previstos ressarcimentos ou indenizações, não haverá benefícios imediatos na sua

participação. Sua participação é voluntária e você poderá recusar-se a participar ou

retirar seu consentimento em qualquer momento da pesquisa, sem qualquer prejuízo

ou desconforto.

Desde já agradecemos sua atenção e participação e colocamo-nos à

disposição para maiores informações. Em caso de dúvida(s) em relação ao projeto

de pesquisa, poderá entrar em contato com a responsável pela pesquisa:

____________. Também poderá entrar em contato com o orientador

_________________.

Ao aceitar participar, você deve assinar, juntamente com a pesquisadora,

este termo de consentimento, do qual você terá uma cópia.

Agradeço por sua atenção.

Page 153: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

153

CONSENTIMENTO

Confirmo que ______________ explicou os objetivos desta pesquisa, bem

como a forma de participação. As alternativas para minha participação também

foram discutidas. Eu li e compreendi este Termo de Consentimento, portanto, eu dou

meu consentimento e concordo com a participação voluntária nesta pesquisa.

São Paulo, ______ de __________ de 2015.

Nome do Participante:

__________________________________________________

Assinatura do Participante:

_______________________________________________

Assinatura da Pesquisadora:

______________________________________________

Page 154: PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO  · PDF fileSocial; a concepção em relação à família e a presença da Matricialidade Sociofamiliar; as

154

RO

TE

IRO

DE

EN

TR

EV

IST

A E

GR

UP

O F

OC

AL

Ob

jeto

a s

er

ide

ntificado

C

ate

go

ria

s d

e a

lise

Pe

rgu

nta

s

A r

ea

liza

çã

o d

e T

raba

lho

So

cia

l com

F

am

ília

s e

a p

resen

ça

da

Ma

tric

ialid

ad

e

So

cio

fam

iliar

a p

art

ir d

a P

NA

S

Me

tod

olo

gia

s u

tiliz

ad

as e

ten

ncia

s p

resen

tes

no

tra

ba

lho

;

C

lare

za

da

dire

triz

de

ma

tric

ialid

ad

e;

Exis

tên

cia

de

“m

od

elo

s”

de

tra

ba

lho a

se

r re

aliz

ad

o x

au

tono

mia

do

pro

fissio

na

l a

pa

rtir

da

s n

ece

ssid

ad

es d

as fa

mília

s;

Ofe

rta

de

se

rviç

os e

m s

ub

stitu

içã

o a

ben

efí

cio

s

É r

ea

liza

do

tra

ba

lho s

ocia

l co

m

fam

ília

s?

Qu

al a m

eto

do

logia

utiliz

ad

a?

Descre

va

C

om

o s

ão

defin

ida

s a

s m

eto

do

logia

s?

C

om

o o

co

rre

a m

atr

icia

lida

de

so

cio

fam

iliar?

Qu

ais

as o

fert

as à

s f

am

ília

s n

o

CR

EA

S?

Con

ce

pçã

o d

e fam

ília

e e

xp

ecta

tiva

em

re

laçã

o à

s r

espo

sta

s

Con

ce

pçã

o d

e fam

ília

;

E

nte

nd

ime

nto

do

pro

fissio

na

l em

re

laçã

o à

p

rote

ção

so

cia

l

Qu

al a c

ara

cte

rística

da

s f

am

ília

s

ate

nd

ida

s n

o C

RE

AS

?

Com

o v

ocê

co

nh

ece e

aco

mp

an

ha o

co

tid

iano

da

s f

am

ília

s a

co

mp

an

had

as?

Q

ua

l e

xp

ecta

tiva

em

re

laçã

o á

s fa

mília

s

aco

mp

an

had

as

Pre

se

nça

de in

ters

eto

rialid

ad

e e

da

p

rote

ção

no

s te

rritó

rio

s

Dem

an

da

s p

resen

tes n

o C

RE

AS

;

E

xis

tên

cia

de

Re

de a

rtic

ula

da

As f

am

ília

s r

efe

ren

cia

da

s n

o C

RE

AS

o a

co

mp

an

had

as p

elo

CR

AS

?

Com

o o

co

rre

a

refe

rên

cia

/co

ntr

arr

efe

rên

cia

co

m o

C

RA

S?

Há t

rab

alh

o inte

rseto

ria

l co

m o

utr

as

po

lítica

s?

Com

o o

co

rre

?