jorge luzzi

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111 TERCEIRO QUADRIMESTRE 2011 VERSÃO BRASILEIRA ANO XXVIII Jorge Luzzi O risco de longevidade nas pessoas centenárias O risco do tipo de juro Resiliência na Gerência de Riscos Observatório de sinistros “A Gerência de Riscos é uma necessidade absoluta para as empresas” Impacto nas carteiras de rendas vitalícias Experiência espanhola e Solvência II Um conceito inovador Lorca: terremotos na Cidade do Sol Gerente de Riscos do Grupo Pirelli e Presidente da FERMA JOSÉ MIGUEL RODRÍGUEZ-PARDO DEL CASTILLO FRANCISCO CUESTA AGUILAR FRANÇOIS SETTEMBRINO ALICIA OLIVAS

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VERSÃO BRASILEIRA

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Jorge Luzzi

O risco de longevidade nas pessoas centenárias

O risco do tipo de juro

Resiliência na Gerência de Riscos

Observatório de sinistros

“A Gerência de Riscos é uma necessidade absoluta para as empresas”

Impacto nas carteiras de rendas vitalícias

Experiência espanhola e Solvência II

Um conceito inovador

Lorca: terremotos na Cidade do Sol

Gerente de Riscos do Grupo Pirelli e Presidente da FERMA

JOSÉ MIGUEL RODRÍGUEZ-PARDO DEL CASTILLO

FRANCISCO CUESTA AGUILAR

FRANÇOIS SETTEMBRINO

ALICIA OLIVAS

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Instituto de Ciencias del SeguroT 91 581 20 08Paseo de Recoletos, 23. Madrid

VI PRÊMIO INTERNACIONAL

DE SEGUROS JULIO CASTELO MATRÁN

www.fundacionmapfre.com.br

Para mais informações:www.fundacionmapfre.com.br

• A FUNDACIÓN MAPFRE, através do Instituto de Ciências do Seguro, abre inscrições para o Prêmio Internacional de Seguros Julio Castelo Matrán. O prêmio destina-se a reconhecer trabalhos científi cos de importância relevante relacionados com o Seguro e a Gestão do Risco.

• O Prêmio Internacional de Seguros tem uma periodicidade bienal e abrange a Espanha, Portugal e os países ibero-americanos.

• Para a decisão do Prêmio, a FUNDACIÓN MAPFRE designa um júri composto por pessoas de reconhecido prestígio nos âmbitos empresarial e universitário, além de representantes de instituições do mundo segurador.

• O Prêmio é de 35.000 euros em espécie, além de um diploma que comprova sua obtenção.

• O prazo para a apresentação de trabalhos para esta sexta edição vai até o dia 31 de maio de 2012.

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alNecessidade de inovar

No final de 2011 nosso planeta apresenta grandes desequilíbrios, que nos fazem crer que o mundo, tal como o conhecemos, não será o mesmo por muito mais tempo.

Por um lado, as catástrofes naturais e suas consequências colocam na mesa, mais uma vez, as crenças apocalípticas e, por outro, a situação financeira mundial, e principalmente a europeia, põe em dúvida a sobrevivência do sistema socioeconômico ocidental que nos conduziu à atual crise econômica. Estamos vivendo o fim de uma era ou será simplesmente que agora vivemos as catástrofes (naturais ou provocadas pelo homem) com maior velocidade e frequência por causa dos meios de comunicação globalizados?

Acabamos de ultrapassar, segundo o Fundo de População da ONU (cuja sigla é UNFPA em inglês), o marco de sete bilhões de pessoas no mundo. Um número impressionante, que traz consigo êxitos, reveses e paradoxos. Vivemos mais tempo, nos alimentamos melhor e realizamos trabalhos que não são tão duros fisicamente. Sermos mais não nos caiu mal, e acrescentar uma população de mais idade também não será ruim; no entanto, a grande questão é como prover uma vida digna para milhões de pessoas de modo compatível com a preservação da Terra.

Neste sentido, tudo indica que, quando foi necessário, a sociedade mostrou sua capacidade de mudar de rumo para novas direções e inovar. A inovação é o fator chave do progresso e do bem-estar na sociedade atual. Os investimentos se dirigem para onde está o talento, e não para onde o custo de mão-de-obra é mais baixo, o que - diante do deslocamento da produção para os mercados emergentes - nos obriga a sermos capazes de continuar inovando em nossas áreas de gestão, com o propósito de melhorarmos a competitividade e recuperarmos, assim, a confiança.

Como paradigma de uma empresa com vocação inovadora, abrimos esta edição com Jorge Luzzi, Gerente de Riscos do grupo empresarial Pirelli e, desde este outono, presidente da Federação Europeia de Associações de Gerentes de Riscos (FERMA), que pudemos entrevistar durante o Foro 2011 celebrado no início de outubro em Estocolmo. Na entrevista ele nos manifesta a necessidade absoluta da Gerência de Riscos para as empresas e nos revela os três pilares da sua ocupação: a comunicação, a interação e a inovação.

No primeiro dos três estudos incluídos neste exemplar, apresentamos as reflexões sobre os limites da vida humana, os fatores que influem na longevidade e na expectativa de vida (agora que já somos mais de sete bilhões de seres humanos). Nele, seu autor - professor da Universidade Carlos III de Madri e profissional de reconhecida trajetória no setor segurador - analisa qual pode ser o impacto das pessoas centenárias nas carteiras de rendas vitalícias.

O segundo estudo apresenta a visão que um inspetor de seguros do Estado nos oferece sobre as metodologias contempladas no projeto de Solvência II para o controle e a medição dos requerimentos de capital por risco de tipo de juro na fórmula padrão, mediante a análise de diferentes métodos de cálculo do Valor em Risco, como medida básica de comparação para se estimar as perdas.

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A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, nem o fato de publicá-los implica conformidade ou identifi cação com os trabalhos apresentados nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor.

PRESIDENTE: FILOMENO MIRA CANDEL

DIRETOR: JOSÉ LUIS IBÁÑEZ GÖTZENS CHEFE DE REDAÇÃO: ANA SOJO GIL COORDENAÇÃO: MARÍA RODRIGO LÓPEZ CONSELHO DE REDAÇÃO: IRENE ALBARRÁN LOZANO, ALFREDO ARÁN IGLESIA, FRANCISCO ARENAS ROS, MONTSERRAT GUILLÉN ESTANY, ALEJANDRO IZUZQUIZA IBÁÑEZ DE ALDECOA, CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ, JORGE LUZZI, MIGUEL ÁNGEL MACÍAS, FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA, IGNACIO MARTÍNEZ DE BAROJA Y RUÍZ DE OJEDA, FERNANDO MATA VERDEJO, EDUARDO PAVELEK ZAMORA, Mª TERESA PISERRA DE CASTRO, CÉSAR QUEVEDO SEISES, FRANÇOIS SETTEMBRINO.PRODUÇÃO EDITORIAL: COMARK XXI CONSULTORES DE COMUNICACIÓN Y MARKETING

DESENHO GRÁFICO: ADRÍAN Y UREÑA

VERSÃO BRASILEIRA: FUNDACIÓN MAPFRE - DELEGAÇÃO BRASIL

DIREÇÃO: FÁTIMA LIMA

COORDENAÇÃO: MERCEDES GÓMEZ NIETO

TRADUÇÃO: MARISTELA LEAL CASATI

REVISÃO: MARISTELA LEAL CASATI E INNEWS INTELIGENCE

PROJETO GRÁFICO E DESIGN ADAPTADO: bmEW PROPAGANDA

FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

Paseo de Recoletos, 23.28004 Madrid (España)Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09

www.gerenciaderiesgosyseguros.com

No último estudo, volta às nossas páginas o ex-presidente da FERMA e membro do nosso Conselho de Redação, François Settembrino, que incorpora a capacidade de resposta diante de situações de crise ou de risco. A resiliência, explica, é a capacidade de sobreviver. Assim como as pessoas passam a vida se adaptando a suas novas circunstâncias, as empresas devem estar preparadas para mudar e se adaptar ao meio, e neste contexto o papel do business continuity manager é manter a plena atividade da empresa.

O relatório publicado pela FUNDACIÓN MAPFRE sobre o ranking 2010 de grupos seguradores na América Latina (Vida, Não Vida e Total), do qual aqui publicamos um resumo, destaca como os 25 maiores grupos seguradores da região tiveram uma emissão de prêmios superior a 58 bilhões de euros, 28,1% a mais que em 2009, e acumularam 64% dos prêmios, quase três pontos a mais que no ano anterior.

Antes das costumeiras seções sobre novidades bibliográficas e das últimas notícias da Associação Espanhola de Gerência de Riscos (AGERS), concluímos este número da revista com o Observatório de Sinistros, que trata do terremoto ocorrido em Lorca (Murcia) em 11 de maio último e que, além de causar enormes danos materiais em edifícios e no patrimônio artístico, provocou a perda de nove vidas humanas e uns 30.000 pedidos de indenização, que somam mais de 200 milhões de euros.

Apesar de o ano vindouro se apresentar incerto e de seu prognóstico ser desconhecido no que diz respeito às graves condições que a economia internacional enfrenta, não se trata agora de nos aferrarmos às lembranças, e sim de definir o futuro conforme as experiências vividas e fazer frente aos grandes desafios fomentando a criatividade e a inovação.

FELIZ 2012

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Notícias AGERS 84

Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 3º Quadrimestre de 2011.

TERCEIRO QUADRIMESTRE 2011

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Livros 77

Caderno Brasil

EIMA 8: A caminho da Rio+20 ..................................................................................86

Atualidade 6Nova página web da IGREA. RISK 2011, a gestão do risco no setor bancário e segurador. Jorge Luzzi, presidente da FERMA. Inauguração do curso acadêmico 2011/2012 da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa. Metodologias de gestão de risco para o desenvolvimento de projetos de energias renováveis. Jornadas de proteção de infraestruturas técnicas. Terremoto na Turquia. II Congresso de novas tecnologias.

Jorge Luzzi, Gerente de Riscos do Grupo Pirelli e Presidente da FERMA“A Gerência de Riscos é, atualmente, uma necessidade absoluta para as empresas.”

Entrevista 16

Estudos

O risco de longevidade nas pessoas centenárias.JOSÉ MIGUEL RODRÍGUEZ-PARDO DEL CASTILLO .................................................... 26 O risco do tipo de juro: experiência espanhola e Solvência II.FRANCISCO CUESTA AGUILAR ..................................................................................... 40O conceito de resiliência na Gerência de Riscos.FRANÇOIS SETTEMBRINO ............................................................................................. 46

Agenda 2012 15

Observatório de sinistros Lorca: terremotos na Cidade do Sol.ALICIA OLIVAS .............................................................................................................. 64

Relatório Ranking 2010 de grupos seguradores na América Latina.FUNDACIÓN MAPFRE. CENTRO DE ESTUDIOS .......................................................... 53

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LEGISLAÇÃONovidades Nova página web da IGREA

Já está operacional a nova página web da IGREA (www.igrea.es), com conteúdos novos e melhores. A nova página é mais dinâmica e pretende oferecer informações de interesse dos associados e usuários de forma mais ordenada e acessível, assim como acrescentar novas seções e fontes de informação.

Na seção “Eventos”, serão informados os acontecimentos e encontros com o mercado que a IGREA realizará no futuro próximo, bem como um resumo daqueles que já foram realizados.

Na nova seção “Nosso Critério” (dentro de Biblioteca), nos posicionaremos sobre assuntos regulatórios, legislativos e de outra natureza, defendendo os interesses dos associados no que diz respeito à indústria do seguro e à Gerência de Riscos.

O foro de debate em tempo real, de uso exclusivo para os membros da IGREA, permitirá aos Gerentes de Riscos associados à IGREA trocar experiências e opiniões sobre qualquer assunto da atualidade que os preocupe e que seja de interesse para as empresas representadas.

Real Decreto 1622/2011, de 14 de novembro, pelo qual se modifica o Regulamento sobre a colaboração das seguradoras de acidentes de trabalho e doenças profissionais da Seguridade Social, aprovado pelo Real Decreto 1993/1995, de 7 de dezembro. BOE núm. 277, de 17 de novembro de 2011.

Resolução 4B0/38238/2011, de 2 de novembro, do Instituto Social das Forças Armadas, pela qual se publicam os acordos com entidades de seguro pelos quais se prorroga, durante o ano de 2012, o acordo para a assistência sanitária de titulares e beneficiários do ISFAS. BOE núm. 276, de 16 de novembro de 2011.

Real Decreto 1616/2011, de 14 de novembro, pelo qual se regula o seguro dos proprietários dos navios civis para reclamações de direito marítimo. BOE núm. 275, de 15 de novembro de 2011.

Resolução de 30 de setembro de 2011, da Secretaria Geral de Política Social e Consumo, pela qual se publica o Acordo do Conselho Territorial do Sistema para a Autonomia e Atenção à Dependência, sobre critérios comuns para a conceitualização, elaboração e avaliação de boas práticas no

Sistema para a Autonomia e Atenção à Dependência. BOE núm. 268, de 7 de novembro de 2011.

Ordem ARM/2974/2011, de 26 de outubro, pela qual se definem as produções e os rendimentos seguráveis, as condições técnicas mínimas de cultivo, o âmbito de aplicação, os períodos de garantia, as datas de subscrição e os preços unitários do seguro com coberturas crescentes para explorações de cultivos forrageiros incluído no Plano 2011 de Seguros Agrários Combinados. BOE núm. 266, de 4 de novembro de 2011.

Real Decreto 1386/2011, de 14 de outubro, pelo qual se modifica o Regulamento do seguro de riscos extraordinários, aprovado pelo Real Decreto 300/2004, de 20 de fevereiro. BOE núm. 259, de 27 de outubro de 2011.

Real Decreto 1490/2011, de 24 de outubro, pelo qual se modifica o Real Decreto 764/2010, de 11 de junho, pelo qual se desenvolve a Lei 26/2006, de 17 de julho, de mediação de seguros e resseguros privados em matéria de informação estatístico-contábil e do negócio, e de competência profissional. BOE núm. 257, de 25 de outubro de 2011.

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MEMBROS ASSOCIADOSDesde que a IGREA

nasceu, há dois anos e com seis sócios-fundadores, nossa associação vem crescendo e já somos 25 membros. A categoria e o peso das empresas associadas nos animam a continuar trabalhando e defendendo seus interesses no âmbito da Gerência de Riscos e Seguros.

Na seção de “membros associados” serão incluídos os novos sócios que forem se incorporando, pois este é, sem dúvida alguma, o maior ativo da IGREA.

Atualmente as entidades associadas à IGREA são: Abengoa, Campofrío Food Group, Endesa, Ferrovial, Iberdrola, OHL, Telefónica, Indra Sistemas, Cemex España, Bahía Bizkaia

Electricidad, Grupo Empresarial San José, Mondragon Sociedad Cooperativa, Sacyr Vallehermoso, Gas Natural SDG, Red Eléctrica Española, Uralita, BBVA,Ortiz Construcciones, Grupo Ence, Acerinox, Sol Meliá, Acciona, AGBAR, ACS Dragados, Enagas.

ATIVIDADES E ENCONTROS PARA ASSOCIADOS DURANTE O ÚLTIMO TRIMESTRE DE 2011

No dia 8 de novembro, a IGREA, o Commercial Risk Europe e a Apogeris realizaram no hotel Tryp Atocha de Madri uma jornada sobre Gerência de Riscos e Seguros na América Latina. Foram analisados as oportunidades e os desafios

que enfrentam nossas empresas com fortes investimentos nos países emergentes do continente americano, bem como as mudanças regulatórias que estão ocorrendo e que nos afetam de forma muito direta.

No dia 29 de novembro realizou-se no hotel NH Alcalá de Madri uma jornada onde se analisaram as perspectivas de renovação para o ano de 2012. Foram debatidas as previsões para o próximo ano nos mercados americanos e europeus e particularmente um assunto que preocupa todos os grandes compradores de seguros: as NAT CAT (catástrofes naturais) e os problemas de limite e capacidade depois de um ano realmente difícil para esse tipo de risco.

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RISK 2011

A gestão do risco no setor bancário e segurador

Na quinta-feira 20 de outubro, no Centro Olavide de Carmona (Sevilha, Espanha), foi inaugurada a 4ª Reunião Científica de Pesquisa em Seguros e Gestão do Risco (4th Workshop on Risk Management and Insurance, RISK 2011), um evento organizado pelos professores do Departamento de Direção de Empresas da Universidade Pablo de Olavide, José Manuel Feria e Enrique Jiménez, em colaboração com o Grupo de Pesquisa de Risco em Finanças e Seguros da Universidade de Barcelona, que se estendeu até a sexta-feira e que reuniu mais de 80 especialistas e profissionais do setor procedentes da Europa e da América.

A crise financeira atual questionou as práticas de gestão do risco realizadas por certas entidades. Conscientes deste cenário, os órgãos reguladores, os supervisores nacionais e as próprias instituições envolvidas não demoraram em apresentar uma revisão urgente do contexto normativo, tanto no setor bancário quanto no segurador.

Neste sentido, as novas propostas da Basileia III (conjunto integral de reformas elaborado pelo Comitê de Supervisão Bancária da Basileia para fortalecer a regulação,

a supervisão e a gestão de riscos do setor bancário) e da Solvência II (projeto promovido pela União Europeia para que as companhias seguradoras operem dentro de seus âmbitos de responsabilidade com um nível adequado de viabilidade), respectivamente, marcam as pautas a serem seguidas na gestão e cobertura eficiente do risco, salvaguardando a estabilidade do sistema financeiro.

O RISK 2011 reuniu as declarações das reuniões anteriores realizadas em Barcelona (2005), Cantábria (2007) e Madri (2009), convertendo este foro de discussão em uma verdadeira referência científica para pesquisadores e profissionais das Ciências Atuariais e Financeiras.

Nesta edição do RISK 2011, os trabalhos se agruparam em quatro grandes blocos temáticos: Metodologia, Seguros e Resseguros, Gestão de Riscos e Proteção Social e Dependência. No decorrer do workshop também se fez a entrega dos prêmios aos melhores trabalhos sobre Gestão do Risco,

patrocinado pela Cajasol-Banca Cívica, e Seguros, patrocinado pela FUNDACIÓN MAPFRE, cada um deles no valor de 1.500 euros.

O Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE publicará um número especial de “Cuadernos de la Fundación”, em que estarão reunidos todos os trabalhos aceitos e apresentados no RISK 2011.

Jorge Luzzi, Presidente da FERMA

Jorge Luzzi, Diretor de Gerência de Riscos do Grupo Pirelli Internacional, foi eleito Presidente da Federação de Associações Europeias de Gerentes de Riscos (FERMA). Seu mandato começou após o término do Fórum da FERMA, no dia 5 de outubro de 2011, e se estenderá até a finalização do Fórum 2013.

Michel Dennery, Vice-responsável de Riscos da GDF Suez, foi nomeado Vice-presidente da FERMA por um período de dois anos, até junho de 2013. Julia Graham, responsável de Riscos da firma jurídica britânica DLA Piper, continuará como Vice-presidente até junho de 2012.

O Presidente que está deixando a FERMA, Peter den Dekker, presidiu o Fórum 2011 da FERMA, realizado em

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Estocolmo de 2 a 5 de outubro. Em seu aporte, felicitou Luzzi por sua nomeação: “Estou muito contente por passar o cargo ao Jorge, que muito tem feito para aumentar o prestígio da FERMA no cenário internacional”, disse.

Luzzi, até agora Vice-presidente da FERMA, preside a Federação Internacional de Associações de Gerentes de Riscos e Seguros (IFRIMA)

e é Presidente de Honra da Associação de Gerentes de Riscos da América Latina (Alarys) e membro ativo da associação setorial italiana ANRA.

Ele possui uma ampla experiência profissional no mundo dos seguros e da gestão de riscos. Além de Gerente de Riscos do Grupo Pirelli Internacional, é Diretor Executivo de Seguros e Resseguros da Pirelli em Dublin (Irlanda) e Conselheiro Delegado de Resseguros do Grupo Pirelli na Suíça.

FERMA FÓRUM 2011“Gerentes de Riscos se preparando para o amanhã no mercado europeu”

O 7º Fórum da Federação de Associações Europeias de Gerentes de Riscos foi realizado em Estocolmo (Suécia) nos dias 3, 4 e 5 de outubro de 2011, reunindo mais de 1.500

profissionais, um recorde de presença - 436 deles Gerentes de Riscos de 27 países -, sendo que a participação espanhola esteve próxima de trinta pessoas, 49 estandes e 9 áreas reservadas.

Pela primeira vez neste foro, a MAPFRE colocou à disposição, junto com os responsáveis dos Serviços Centrais, um estande atendido pelos Diretores dos Escritórios de Representação da MAPFRE GLOBAL RISKS na Alemanha, França e Reino Unido.

A organização do Fórum se caracterizou por uma apertada agenda durante os três dias, com sessão dupla (manhã e tarde). Nas sessões se debateram diferentes aspectos vinculados com estratégias de negócio e reflexões acerca do futuro da Gerência de Riscos em um panorama de incerteza e mudanças permanentes.

Com o encerramento do Fórum feito pelo Presidente da FERMA e a convocação da próxima edição, a ser realizada em Maastricht (Países Baixos) no ano de 2013, se deu por concluído o encontro.

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Inauguração do curso acadêmico 2011/2012 da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa

No dia 14 de outubro foi celebrada no Salão de Atos da FUNDACIÓN MAPFRE a cerimônia de graduação e o ato de abertura do curso acadêmico 2011/2012 da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa da Universidade Pontifícia de Salamanca, gerenciada pela FUNDACIÓN MAPFRE.

O ato foi presidido por Ángel Garrido, Reitor da Universidade Pontifícia de Salamanca; Filomeno Mira, Presidente do Instituto de Ciências do Seguro da FUNDACIÓN MAPFRE; María José Albert, Decana da Faculdade de Ciências do Seguro, Jurídicas e da Empresa, e Antonio Sánchez, Vice-reitor de Pesquisa, Inovação e Novas Tecnologias da Universidade Pontifícia de Salamanca, entre outras personalidades.

A palestra inaugural do ato, “A idade biológica, medida real do risco do seguro de vida”, ficou a cargo de José Miguel Rodríguez-Pardo, Doutor em Ciências Econômicas e Biomedicina, que, de um ponto de vista teleológico, dissertou sobre os elementos ontológicos do preço do seguro, como a idade e o tempo, e expôs como os conceitos de

saúde e doença se encontram num processo de reformulação contínua; por isso, o seguro de vida também será reformulado.

O Doutor Rodríguez-Pardo indicou que parece claro que a personalização do tratamento, consubstancial com a medicina preventiva, nos conduz à hiper-segmentação da tarifa do seguro. Também constatou que lhe parece difícil constituir a homogeneização do risco, elemento necessário e essencial do negócio segurador. (...) A novidade é a incerteza de realizar a análise atuarial de riscos heterogêneos no processo de admissão que se verão necessariamente homogeneizados nas idades de falecimento. O desafio para a indústria do seguro é identificar os biomarcadores individualmente ou correlacionados entre si, que

permitam construir modelos atuariais que meçam com precisão a idade biológica de um indivíduo e, consequentemente, o risco de falecimento.

Durante o ato foi feita a entrega dos títulos aos alunos que finalizaram seus estudos no curso acadêmico 2010/2011: Graduado Superior Universitário em Ciências do Seguro, Bacharel em Ciências Empresariais, Licenciatura em Ciências Atuariais e Financeiras, Doutorado em Ciências do Seguro, Mestrado Universitário em Seguros e Gerência de Riscos e Mestrado Universitário em Gestão e Técnica de Seguros.

Além disso, se procedeu à entrega do Prêmio ao Melhor Trabalho de Fim de Carreira à aluna Ana Belén Herrero por seu trabalho Riesgo operacional en el marco de Solvencia II.

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Metodologias de gestão de risco para o desenvolvimento de projetos de energias renováveis

O Grupo Altran elaborou o relatório “Quantificação do risco e gerenciamento do risco em projetos de energia renovável”, cujo objetivo é garantir que os projetos de energias renováveis alcancem, de uma maneira mais fácil e eficiente, o financiamento necessário para o seu desenvolvimento.

O projeto, desenvolvido pela Agência Internacional da Energia, pretende facilitar a interlocução entre as partes envolvidas nos processos de financiamento.

O estudo define uma metodologia, estruturada e rigorosa, de identificação, quantificação e gestão dos riscos associados às energias renováveis.

As energias renováveis são percebidas como tecnologias com importantes riscos, o que limita decisivamente seu acesso a fontes de financiamento e coloca obstáculos ao desenvolvimento dessas energias a nível mundial.

Para a realização do estudo, participaram e colaboraram mais de

20 profissionais de empresas líderes do setor das energias renováveis. Sua experiência e conhecimento foram usados mediante técnicas baseadas na metodologia Delphi, que permite obter conclusões relevantes, a partir da experiência e conhecimento procedentes das diferentes partes envolvidas.

Diferentes categorias de riscos

Os riscos que podem impactar os grandes projetos de energias renováveis devem ser analisados tendo-se em conta os âmbitos mais diversos. Alguns desses riscos podem ser: sociais, mostrados, por exemplo, através de repentinas correntes de opinião com relação a determinadas tecnologias;

econômicos, derivados, por exemplo, de imprevistos com relação aos abastecimentos necessários, ou de caráter técnico, que podem fazer com que a planta não opere da maneira prevista, comprometendo as atuações dela.

Também existem riscos políticos quando, depois das eleições, mudam os responsáveis pela tomada de decisões ou se produzem modificações significativas nos ambientes regulatórios ou existem incertezas sobre eles.

Por isso os riscos são diferenciados e classificados em função da tipologia de projeto que se aborda.

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Fontes energéticas renováveis como as energias eólicas, a energia solar, a geotérmica ou a energia maremotriz estão submetidas a riscos muito importantes, que podem atrasar o projeto ou fazer com que ele fracasse.

Konstantin Graf, responsável pelo estudo do Grupo Altran, assinala: “Alguns projetos nos quais existem lacunas técnicas importantes derivadas da falta de experiência, como podem ser os de energia maremotriz ou geotérmica, apresentam alguns riscos muito elevados nas fases de construção e operação, que podem ser impedidos de uma forma mais fácil se forem devidamente planejados e gerenciados desde as etapas iniciais de definição técnica.“

Jornadas de proteção de infraestruturas técnicas

Com a convocação do Centro Nacional de Proteção de Infraestruturas Críticas, a organização das revistas Red Seguridad e Segurtecnia e a colaboração da Direção Geral da Guardia Civil, realizou-se em Madri, nos dias 28 e 29 de setembro, a Iª Jornada sobre Proteção de Infraestruturas Críticas, que contou com uma farta assistência de órgãos,

instituições e companhias envolvidas nesta questão.A proteção de infraestruturas críticas é regulada na Espanha pela Lei 8/2011, que transpõe a Diretriz 2008/114/EC da União Europeia e é desenvolvida pelo Real Decreto 704/2011. A definição de infraestruturas críticas alcança os doze setores a seguir: energia, indústria nuclear, tecnologias da comunicação, transporte, água, alimentação, saúde, espaço, química, instituições de pesquisa, administrações e esgotos.Os planos de proteção estão dirigidos para fazer frente às ameaças de caráter antissocial deliberado, que podem causar danos tanto a pessoas quanto a ativos físicos e cibernéticos. As entidades públicas e privadas, gestoras ou proprietárias deste tipo de infraestruturas, uma vez designadas, deveriam elaborar os planos correspondentes de segurança do operador e de proteção específica para sua aprovação pelo Centro Nacional de Proteção de Infraestruturas Críticas.

Terremoto na TurquiaNo dia 23 de outubro, na

província turca de Van, ocorreu um terremoto de 7,2 graus na escala Richter. O tremor se deu muito perto da superfície, a uns 5 quilômetros de profundidade, com o epicentro localizado no município de Tabani, onde se sentiu como se fosse um sismo de 8 a 9 graus. Um perito do Observatório de Kamdilli afirmou que depois do tremor inicial foram

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registradas vinte réplicas de 3,5 a 5,5 graus e advertiu que poderiam ocorrer mais abalos de uma intensidade de até 5,7 graus, estimando que entre 1.000 a 4.000 edifícios poderiam ter sofrido danos irreversíveis.

Luiz Suárez, presidente do Ilustre Colegio Oficial de Geólogos de España, explicou que este terremoto liberou uma energia equivalente a uma explosão de 300.000 toneladas de dinamite, assemelhando-se aos de Lorca ou do Haiti, porque, como estes, ocorreu a pouca profundidade e próximo de núcleos de população. O tremor se deu numa zona de

alto risco sísmico, dado que para lá convergem a placa euroasiática e a placa árabe, sendo que esta desloca a primeira à razão de 24 milímetros anuais.

Ele também avaliou que a zona onde ele ocorreu, no leste da Turquia, tem edificações muito pobres, que não cumprem as normas para resistência a terremotos, o que gera grande destruição. Os terremotos são habituais na Turquia. O último de consequências tão destruidoras no país se deu em 1999, na região de Mármara, com uma magnitude de 7,6 graus na escala Richter.

Segundo Luis Suárez, outro

fator que influi decisivamente nos danos é o terreno, de tipo fraco, não de pedra, o que, junto com a proximidade da população e a profundidade do epicentro, proporcionou uma destruição tão devastadora.

O terremoto, com epicentro situado na zona fronteiriça com o Irã, se fez sentir em todas as províncias adjacentes, inclusive em Dohuk, ao norte do Iraque, e na capital da Armênia, Ereván, com uma magnitude de 3,5 graus na escala Richter. O abalo mais potente aconteceu em Giumri, cidade situada ao norte de Ereván, junto à fronteira turca, ocasionando danos e registrando réplicas de tremores.

Na Espanha, um país de risco sísmico moderado, o terremoto mais potente da história sucedeu em Málaga no ano de 1680 e teve uma magnitude parecida ao da Turquia, mas, enquanto neste país ocorreram dois ou três terremotos desta magnitude nos últimos 20 anos, na Espanha houve apenas um de consequências tão destruidoras.

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II Congresso de novas tecnologias e suas repercussões no Seguro (Internet, biotecnologia e nanotecnologia)

A SEAIDA (Seção Espanhola da Associação Internacional de Direitos de Seguros), com a colaboração da FUNDACIÓN MAPFRE e o suporte técnico da Universidade Autônoma de Barcelona, realizou durante os dias 17 e 18 de novembro o II Congresso de novas tecnologias, com o objetivo de se aprofundar nos temas abordados no primeiro congresso e para reunir as contribuições das novidades no trinômio riscos, responsabilidade e seguro.

Participaram do congresso juízes e magistrados, especialistas universitários, advogados, Gerentes de Riscos, peritos,

seguradores, resseguradores, mediadores e corretores.

A primeira mesa redonda foi dedicada à Internet e se centrou no ciberjornalismo, no jornalismo 3.0, no pseudojornalismo e no tráfego de informações na Web 2.1. Também foram abordadas a segurança em rede e a proteção criptográfica da informação, bem como as vulnerabilidades do sistema operacional e software malicioso.

Neste sentido se destacou que no campo do seguro estamos diante da disciplina e do asseguramento das novas responsabilidades eletrônicas legais, do efeito da Internet na subscrição do seguro de automóveis e da incidência especial na análise do risco e na tramitação dos sinistros.

A segunda mesa redonda, dedicada à biotecnologia e à engenharia genética, ofereceu um quadro expositivo digno de se ter em conta por suas repercussões no seguro, bem como os novos paradigmas na medicina centrados na medicina regenerativa e na medicina personalizada, que nos proporcionam uma visão completa dos riscos associados a diversos cenários.

A terceira mesa redonda versou sobre aspectos relacionados com a nanotecnologia e o seguro. Nesta mesa, cientistas, juristas e especialistas em seguros nos expuseram suas ideias sobre o que é a nanotecnologia, como pode nos afetar, o perigo da nanotecnologia e da exposição

a ela, bem como as mudanças legislativas relacionadas à segurança da nanotecnologia.

Esta mesa redonda encerrou o congresso com algumas reflexões a respeito do asseguramento dos produtos nanotecnológicos e da Gerência de Riscos na nanotecnologia.

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15G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

Age

nda

AGENDA 2012

CONGRESSOS E JORNADASJORNADA DATAS LOCAL CONVOCANTE

Encontros 2011 8-10 de fevereiro Deauville (França) AMRAE

Gerência de Riscos no Setor Público

13-14 de fevereiro Berlim (Alemanha)European Academy

for Taxes, Economics & Law

Gerência de Riscos Empresariais África 2012

20-23 de fevereiro Sandton (África do Sul)Enterprise Risk Management

XIII Congresso Anual 28-29 de fevereiro Nova Iorque, NY (EUA) GARP

Riscos da Mídia Social 22 de março Bruxelas (Bélgica) BELRIM

XXVIII Seminário sobre Normativa e Supervisão em Seguros

22 de março Genebra (Suíça) Associação de Genebra

Fórum 2012 24 de março Estocolmo (Suécia) SWERMAs

Congresso Anual 15-18 de abril Filadélfi a (EUA) RIMS

Congresso 2012 18-19 de abril Londres (Reino Unido) PÀLISANDE

Fórum de Desenvolvimento Profi ssional

23-25 de abrilManchester (Reino

Unido)IRM

XIV Congresso Anual 27-29 de abril Assunção (Paraguai) AIDA

IV Conferência Internacional de Seguros

1 de junhoAmsterdã (Países

Baixos)CEA

XXXIII Conferência Anual

3-6 de junho Nashville, TN (EUA) PRIMA

Congresso Anual 11-13 de junho Liverpool (Reino Unido) AIRMIC

Congresso Anual: Risco e Desenvolvimento em um Mundo Mutante

18-20 de julho Sidney (Austrália) SRA

XIII Congresso de Gerência de Risco

24-25 de janeiro Londres (Reino Unido) IIR

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na opinião de...

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

LuzziLuzziJORGE

GERENTE DE RISCOS DO GRUPO PIRELLI E NOVO PRESIDENTE DA FERMA

“A Gerência de Riscos é, atualmente, uma “A Gerência de Riscos é, atualmente, uma FOTOS: ALBERTO CARRASCO

“A Pirelli presta muita atenção à Ge-

rência de Riscos há muito tempo”,disse

Jorge Luzzi. No grupo italiano dedicam

grandes esforços à análise das ameaças e

sua prevenção, e chegam ao mercado segu-

rador com um risco tratado, “isso é muito

importante”. Agora, além disso, como pre-

sidente da FERMA, ele tem novos desa-

fios: conseguir que esta organização seja

ainda mais participativa e acompanhar a

evolução dos gerentes de riscos.

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necessidade absoluta para as empresas”necessidade absoluta para as empresas”

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“NA PIRELLI

MEDIMOS OS

RISCOS E DEPOIS

DECIDIMOS

QUANTO

PODEMOS

ASSUMIR OU

TRANSFERIR”

Em primeiro lugar, o senhor poderia descrever as funções do Departamento de Gerência de Riscos da Pirelli?São bastante variadas. Começam com

a etapa de identificação e a análise dos ris-cos para estabelecer políticas de prevenção. Nossos próprios engenheiros realizam as inspeções na fábrica e fazem as recomen-dações internas, pensando em melhorar o risco da empresa.

Também desenvolvemos políticas de prevenção em outras áreas, como Saúde, para analisar e reduzir os riscos neste âm-bito; ou em Transportes, onde os riscos são também muito importantes. A Pirelli tra-balha em países onde os roubos são muito frequentes. Por isso desenvolvemos uma central própria com a qual todos os nossos caminhões estão conectados via satélite. Fazemos, portanto, prevenção de perdas de engenharia, de tipo médico, de transportes, etc. como atividade dentro da empresa.

Quando o risco é analisado, estabele-cemos se é possível reduzi-lo através de novas instalações ou meios, por exemplo, com extintores de fumaça, compartimen-tando entre produtos diferentes, mudando as rotas de transporte, com programas de saúde a nível interno..., e apresentamos os projetos de redução de riscos ao Comitê de Investimentos do grupo. Podemos tomar, então, duas decisões: assumir o risco, já que todas as medidas de segurança adotadas possibilitaram que ele fosse assumido; ou transferi-lo e ir para o mercado segurador, mas, quando chegamos nesse mercado, já levamos o risco tratado; isso é muito im-portante.

E, se apesar de tudo ocorrer o sinistro, nos ocupamos com a continuidade do ne-gócio, que também é uma tarefa funda-mental do nosso Departamento.

Fundada em 1872, a Pirelli é a quinta operadora a nível mundial no segmento de pneus, com 19 plantas industriais em quatro continentes e uma rede comercial em 160 países. Além disso, o grupo está presente em outros setores (tecnológico, energias renováveis e design) por meio da Pirelli Eco Technology, Pirelli Ambiente e PZero. Como é possível administrar com êxito os riscos de atividades tão diferentes?Na verdade, não é fácil. Em primei-

ro lugar, há que eliminar a fotocopiadora, porque nem todos os riscos destes negócios são iguais ou têm os mesmos efeitos. Uma coisa é trabalhar com moda, onde a reputa-ção é um elemento do negócio que pode até ser positivo e, em compensação, em pneus, cuidar da reputação é uma questão de so-brevivência, porque, se as pessoas acredita-rem que os pneus não funcionam ou têm algum perigo, elas não compram. Por um lado, portanto, é um elemento comercial e, por outro, um elemento de subsistência básico para a empresa. São operações dife-renciadas. Mas também há riscos que são comuns para toda a empresa. Por isso tra-balhamos em compartimentos-estanque, mas com uma política de Gerência de Ris-cos comum a todos os problemas gerais que possam afetar a empresa.

Um alto valor

Que valor se outorga às estratégias de Gerência de Riscos na Pirelli?Para o nosso grupo, estas estratégias têm

um valor muito importante. E mais: a Pi-relli é uma escola nesse sentido, onde eu me formei, tal como muitos outros, por-que, se repassarmos todas as pessoas que passaram pelo Departamento de Gerência

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“A GERÊNCIA DE

RISCOS TEM QUE TER

UMA ESTRUTURA

DE COMUNICAÇÃO,

E ISSO NA PIRELLI

NÓS FAZEMOS

CONSTANTEMENTE”

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“A FÓRMULA 1

NECESSITA DE

UM GRANDE

PLANO DE

CONTINGÊNCIAS”

UMA CARREIRA EXTENSA E EM DIVERSOS IDIOMAS

Como profissional da Gerência de Riscos, Jorge Luzzi conta com uma extensa carreira em diferentes países e idiomas. Há mais de 25 anos trabalha para o Grupo Pirelli, onde ocupou a função de Gerente de Riscos em diversas partes do mundo, como América Latina, particularmente no Brasil, mas também na Argentina. Também foi responsável pela América do Norte e Ásia-Pacífico para o grupo e esteve em outros países como Turquia e Itália. Antes de ingressar na Pirelli, trabalhou para a corretora Marsh e o grupo suíço Ciba Geigy - hoje Novartis - na área de Seguros. Recentemente, Luzzi foi nomeado presidente da FERMA (Federação de Associações Europeias de Gerência de Riscos)

Como avalia sua nomeação? Que objetivos traçou para si em seu novo cargo?Desde o princípio foi uma surpresa para mim, porque eu sou o repre-sentante da associação italiana e existem associações muito maiores que a minha, como a alemã, a inglesa e a francesa. Além disso, estou há pouco tempo de volta à Europa. Mas é uma honra que meus colegas europeus tenham me reconhecido desta maneira, estou muito contente e creio que também será um grande trabalho.A primeira coisa que me propus é que a FERMA seja um pouco mais democrática e participativa. Com isso não quero dizer que ela não seja, mas tem que ser mais, de forma que os membros do Conse-

lho das associações nacionais, que são as que compõem a FERMA, integrem equipes de trabalho, para conseguir que a federação seja algo mais compartilhado.Não temos que deixar de pen-sar que o nosso grande suporte econômico vem das seguradoras, dos corretores, etc., que encontram na FERMA um lugar neutro onde podem se reunir; e não podemos deixar de pensar nisso, porque é o que tem ajudado organizações como a FERMA a seguir em frente. Por outro lado, temos que pensar na evolução do Gerente de Riscos, que numa época era um comprador de seguros, depois passou a fazer outras coisas e agora está inte-grando as equipes de Gerência de Riscos Empresariais (Enterprise Risk Management - ERM)

de Riscos da Pirelli ao longo da sua história, po-deremos verificar que a metade dos Gerentes de Riscos atuais na Itália tiveram alguma experiência em nosso grupo. A Pirelli presta muita atenção à Gerência de Riscos há muito tempo.

Ausente desde 1991, a Pirelli volta a ser fornecedora da Fórmula 1 para três temporadas. Admitindo que os novos pneus estão tornando as corridas ainda mais espetaculares, em que medida este retorno à F1 se torna uma ferramenta estratégica para a expansão da marca?

Durante muitíssimo tempo estivemos presentes na Fórmula 1, na época do Fangio e de outros

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21G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

O senhor também ocupa altos cargos em outras federações e asso-ciações importantes do setor, como a IFRIMA, a ALARYS e a ANRA. Na sua opinião, que papel cumprem estas instituições? Elas estão contri-buindo para reforçar a cultura das empresas diante do risco?Creio que sim. De alguma forma, as associações marcaram o início do diálogo entre os colegas para tratar de entender uma problemáti-ca parecida. Na Gerência de Riscos, umas empresas vão mais rápido e outras, mais devagar, e um fator ca-talisador são as organizações, que compartilham experiências para que as empresas que andam a um ritmo menor possam aprender com as que mais evoluíram neste âmbito.

grandes corredores internacionais. Quando a Pirelli decidiu sair deste negócio, dentro da F1 havia uma situação um pouco compli-cada. A pressão sobre os pneus era enorme: pressionava a escuderia, o piloto, a impren-sa... E por isso decidimos parar. Havia-se en-trado numa espiral que poderia ser negativa para o negócio e nos causar problemas.

Agora a visão da FIA (Federação Interna-cional do Automóvel) é diferente. O pneu é igual em quantidade e qualidade para todos. É um elemento necessário, mas a diferença fica a cargo da capacidade do piloto ou do ve-ículo. O pneu para a F1 requer investimen-tos elevados. São pneus especiais, que não

“A ÁREA DE

GERÊNCIA DE

RISCOS INCLUI

TUDO E TEM

A VER COM

TODOS OS

DEPARTAMENTOS

DA EMPRESA”

podem ser feitos em qualquer lugar. Na Pirelli construímos uma fábrica nova que só faz pneus para a Fórmula 1; e no nos-so Departamento tivemos que trabalhar muito e fazer planos de contingência bas-tante específicos para este negócio, onde há poucas alternativa de seguros. Contamos com um Seguro de Transportes, sim, mas o que acontece se os caminhões saem com os pneus para uma corrida do seu ponto de origem a 500 quilômetros de distância em outro país e os funcionários da fronteira es-tiverem de greve ou houver algum conflito e não der para passar? O que fizemos para combater esses riscos? Então contamos com reservas. Para calculá-las, analisamos nosso pior sinistro: um terremoto. Nesse caso, não pudemos voltar a trabalhar na fábrica, parcialmente destruída até dois meses e meio depois da catástrofe; e superamos esse período, calculando, então, uma reserva de quatro meses. Por isso, se ocorrer um ter-remoto ou um incêndio ou algo parecido, podemos, inclusive, construir uma ‘minifá-brica’ para continuarmos produzindo. E se o problema fosse de distribuição, podemos enviar pneus de diversos lugares do mundo: Londres, São Paulo, Istambul..., reduzindo, assim, muitíssimo a possibilidade de que ocorra algo em todos os lugares ao mesmo tempo... Ou seja, a Fórmula 1 necessita de um grande plano de contingências.

Quais departamentos ou áreas do grupo intervieram na elaboração do sistema de Gerência de Riscos implantado em seu grupo? A quem corresponde sua execução?

A área de Gerência de Riscos, e esta é uma das razões pela quais eu gosto da profissão, trabalha com todas as áreas da empresa. Por exemplo, quando se vai elaborar um con-trato com uma nova operadora, vários de-

Page 22: Jorge Luzzi

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na opinião de...

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

“SEMPRE

TRABALHAMOS

PENSANDO QUE

EM ALGUM

MOMENTO

OS SINISTROS

PODEM

ACONTECER”

partamentos intervêm: o de Logística, que trata de melhorar custos; o Jurídico, que analisa os termos legais, e nós, da Gerência de Riscos, para ver que riscos podem exis-tir neste contrato. Para isso, temos que tra-balhar com ambos os departamentos. Por exemplo, com a Logística, além do caso an-terior, trabalhamos em temas de segurança no transporte, se há mais risco de roubo, catástrofes... Também trabalhamos com Recursos Humanos em todos os temas que têm a ver com saúde, vida, acidentes... Com a área Legal e Jurídica, em contratos, como disse antes, mas também com sinistros, em temas de Responsabilidade Civil... Na parte de danos à propriedade e perdas de benefícios, trabalhamos com a área indus-trial ou com o gerente de fábrica, em todos os seus planos de investimento... A área de Gerência de Riscos atinge tudo e tem a ver com todos os departamentos. A única coisa que um Gerente de Riscos não pode fazer é ficar isolado.

Plano estratégico

A Pirelli colocou em andamento um plano estratégico para o período 2011-2015, com o qual pretende crescer e melhorar seus resultados. De que forma a Gerência de Riscos pode contribuir para que estas metas sejam alcançadas?

Em muitas coisas. Uma parte do plano da Pirelli é a aquisição de novas empresas. Uma dessas aquisições que já está praticamente feita, por isso posso mencioná-la, é na Rússia, onde o grupo se propôs crescer muito. A Pirelli está comprando fábricas existentes, e no Departamento de Gerência de Riscos vamos trabalhar na identificação de todos os riscos, desde os industriais - porque a fábrica, em geral, tem um nível de segurança inferior ao padrão europeu - até os pessoais, de RC...

Nosso Departamento realizou uma análi-se profunda, estabelecendo o custo do que poderia implicar colocar a fábrica no nosso nível.

Ou seja, na parte de aquisições a Gerên-cia de Riscos pode contribuir muito, mas também nas fábricas que estamos termi-nando de construir, como a do México, um projeto que começamos do zero; ou em ou-tros planos, como o crescimento da venda de produtos pela Internet, etc.

O grupo italiano está presente em 160 países. Qual é a estrutura da Gerência de Riscos no exterior? Globalmente temos uma estrutura de

coordenadores de risco que não são neces-sariamente empregados do Departamento de Gerência de Riscos, mas em cada país onde estamos presentes, os 160, existe um coordenador de risco. Em cada lugar vemos quem pode ser a pessoa mais adequada para este cargo, que pode ser da área Legal, Jurí-dica, de Recursos Humanos, etc., e ela fica encarregada de repassar para a central todos os dados relacionados a riscos, prevenção, etc. Também contamos com uma pequena estrutura regional no Brasil que se repor-ta a mim diretamente, porque a atividade é central.

Uma gestão adequada do risco tem de ter um enfoque preventivo. Como se consegue envolver toda a organização neste objetivo?Esta é uma das funções da Gerência de

Riscos. Eu já disse que os Gerentes de Ris-cos não devem nem podem ficar isolados. Dentro da organização, os Gerentes de Ris-cos devem tornar público e notório o im-pacto que os riscos podem ter. Devem tra-tar com os executivos da empresa do mais alto nível, mas também devem se relacionar com os de baixo. Os engenheiros que estão

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23G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

em nossa estrutura e que vão visitar as fá-bricas coletam opiniões de operários sobre como tratar de algum problema específico, porque, no fim das contas, são eles que es-tão lá.

A Gerência de Riscos tem que ter uma estrutura de comunicação, e isso na Pirelli nós fazemos constantemente com cursos e manuais de prevenção, que são traduzidos para todas as línguas dos países onde temos uma fábrica: inglês, espanhol, português, turco, chinês, alemão... Tratamos de man-ter um sistema de comunicação com toda a empresa. Muitas vezes é difícil, eu sei, mas é muito importante.

“NÓS, GERENTES

DE RISCOS,

DEVEMOS

CONTINUAR

DIFUNDINDO

ESTA PROFISSÃO

ATRAVÉS DE

ORGANIZAÇÕES

COMO A FERMA”

Como são tratados os riscos considerados estratégicos para a empresa?Os riscos estratégicos do grupo são tra-

tados de forma diferente e específica. Eles são analisados no seio do comitê de riscos do grupo e são sempre coordenados cen-tralmente. Depois há os riscos internacio-nais que poderiam afetar a muitas empresas e que cobrimos com programas mundiais na parte de seguros ou com políticas e pla-nos de contingência na parte de não segu-ros. Também podemos citar os riscos locais - como a legislação específica de um país -, que podem chegar a ser riscos estratégicos em algum momento, ou internacionais.

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na opinião de...

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Por exemplo, se um risco no Brasil, na Rús-sia ou na China pode afetar 15 ou 20% de nossas vendas a nível mundial, ele passa a ser um risco internacional, ainda que tenha origem local.

E o que a Pirelli faz se os mecanismos de prevenção falharem e os riscos se materializarem em sinistros?Nós sempre trabalhamos pensando que

em algum momento os sinistros podem acontecer, pois a única forma de não ocor-rerem é não realizando atividade nenhuma. Uma empresa é um movimento de riscos: se inicia com o investimento de capital, crescendo em um projeto, fazendo cálcu-los, análises... Em qualquer momento estão se assumindo riscos; o que nós fazemos é com que todas essas ameaças sejam riscos, e não incertezas, porque o risco de algum modo se pode calcular, mas a incerteza é fazer como o avestruz: esconder a cabeça num buraco e achar não está acontecendo nada. Na Pirelli nós medimos os riscos e depois decidimos quanto podemos assu-mir ou se vamos transferi-los. Trabalhamos muito calculando os riscos, o que pode acontecer e a forma de enfrentá-los.

Política de retenção

Que riscos decidiram segurar e em quais optaram pelo autosseguro?Há um pouco de tudo. Por exem-

plo, hoje em dia existem coberturas para a perda de reputação, mas decidimos re-ter esse risco, porque não é um risco que se possa transmitir em grande parte, já que não poderia ser coberto nem em 5%

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25G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

do que nos poderia afetar. Em geral, auxi-liamos o mercado segurador para os riscos normais: Incêndio, Transporte, Constru-ção, RC..., e agora também estamos traba-lhando em Crédito. Nesses casos estamos fazendo programas mundiais de riscos. Mas sempre assumimos uma participação: é o que nós denominamos ‘princípio de risco’, que pode ser de vários milhões, otimizando o papel da cativa.

Qual é o papel das suas cativas?A Pirelli tem duas cativas: uma em Du-

blin (Irlanda) e outra em Lugano (Suíça). A cativa não tem o objetivo de ser rentável por si mesma, mas sim de enfrentar os ris-cos que assume. Além disso, permite esta-belecer franquias mais altas ou a ceder aos seguradores riscos melhores.

O que a Pirelli busca em suas seguradoras?Queremos estar seguros de que tenham

capacidade para pagar e fazer o que prome-tem. A segurança econômica da segurado-ra vale muito, mas a sua inovação também tem grande valia, ou seja, que ela tenha a capacidade de nos entender quando nossa empresa mudar, de modificar as cobertu-ras adaptando-se às novas necessidades; também queremos que conte com flexibi-lidade, capacidade administrativa e técnica, porque, estando presente em tantos países, algumas vezes organizamos programas com dinheiro que flui de uma forma para outra, de um lugar para outro, e em uns mercados é mais fácil que em outros... E, por fim, va-lorizamos a presença mundial. A MAPFRE, por exemplo, se destaca porque tem uma grande presença na América Latina, o que para nossos negócios é muito interessante.

UMA NECESSIDADE

Hoje é impossível conceber o desenvolvimento sustentável das empresas sem contar com uma política adequada de Gerência de Riscos. O que falta, então, para que a Gerência de Riscos alcance a velocidade da Fórmula 1 no mundo empresarial?A Gerência de Riscos é, hoje em dia,

uma necessidade absoluta para as empresas, mas às vezes há pessoas ou instituições que têm necessidades que não sabem que têm, e lamentavelmente as descobrem quanto têm um problema.

Nós, gerentes de riscos, devemos conti-nuar com organizadores como a FERMA, mas também com associações nacionais, difundindo esta profissão, mostrando o va-lor agregado que a Gerência de Riscos traz, porque, quanto mais se falar disso, melhor será. Atualmente a Gerência de Riscos é uma questão de sobrevivência.

O que é que mais o atrai em sua profissão?Sempre disse que a Gerência de Riscos é

para pessoas que não são despreocupadas. O gerente de riscos é uma pessoa que se preo-cupa, que sempre está preocupada em evi-tar os riscos da empresa onde ela estiver, em como reduzi-los, e isso vai desde cuidar da fábrica ou da saúde de seus colegas até pro-teger os investimentos de suas empresas... O tempo todo ele está pensando na maneira de evitar riscos, problemas, como reduzir seu impacto. E isso uma pessoa que seja despre-ocupada não consegue fazer, ou alguém que não goste de falar com os outros, porque esta é outra parte muito interessante da profis-são: estar em contato com toda a empresa.

“O GERENTE DE

RISCOS DEVE

ESTAR SEMPRE

PREOCUPADO

EM COMO

EVITAR RISCOS;

PARA ISSO, ELE

DEVE ESTAR

EM CONTATO

COM TODA A

EMPRESA”

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26 G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

estudosestudos

NAS PESSOASCENTENÁRIASNAS PESSOASCENTENÁRIAS

JOSÉ MIGUEL RODRÍGUEZ-PARDO DEL CASTILLOUniversidade Carlos III de Madri

O risco de

longevidadelongevidade

O presente estudo analisa, à luz de estatísticas e

projeções, se nos encontramos diante de um aumento

na longevidade das pessoas centenárias e qual pode

ser seu impacto nas carteiras de rendas vitalícias.

A evolução da expectativa de vida que se verifica desde o princípio do século XX permitiu que as pessoas que che-

gam a ser centenárias cresçam a taxas muito significativas. Para confirmar este feito, um relatório recente do departamento britânico de Trabalho e Pensões nos indica a probabi-lidade de alcançarmos os 100 anos de idade.

ANO MULHERES HOMENS

1931196119912011

5.1%16.0%26.5%33.7%

2.5%10%

19.2%26%

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27G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

ILLU

STRA

TION

STOC

K

Page 28: Jorge Luzzi

28

estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

A FRONTEIRA DOS 115 ANOS CONSTITUI UMA AUTÊNTICA BARREIRA NA BIOLOGIA DO SER HUMANO. DE FATO, NO JAPÃO, QUE É O PAÍS MAIS LONGEVO DO PLANETA, ENTRE 1992 E 2009 A PESSOA DE MAIS IDADE TINHA 114 ANOS

Vemos que um menino nascido hoje tem uma probabilidade de ser centenário oito vezes maior que oitenta anos atrás. As estimativas das autoridades britânicas predizem que em 2066 a população centenária no Reino Unido alcançará os 500.000 habitantes.

Estes números são ainda maiores se tomar-mos como referência o estudo dirigido pelo professor Kaare Christensen, do Centro Danés de Pesquisa do Envelhecimento, publicado na revista The Lancet. No estudo, que analisa o que aconteceu no passado e quais foram as ten-dências, “observou-se um padrão extraordinário e constante, que mostra que nos últimos 150 anos tem havido um aumento muito estável nas perspectivas de vida nos países ricos”. O estudo conclui que, “se projetarmos as tendências atuais para o futuro, podemos dizer que os bebês que nascem hoje viverão 100 anos numa proporção superior a 50% nos países desenvolvidos”.

Se prestarmos atenção à estimativa do médi-co e biofísico francês Roland Moreau, autor do livro La imortalidad para mañana,“no ano de 2027 praticamente a totalidade dos nascidos nesse ano alcançará os 100 anos; e, sendo assim, alguns chegarão aos 130 anos, ultrapassando, portanto, o limite biológico de 120 anos alcançável por um ser humano”. Ele também afirma que, “se as terapias bioenergéticas chegarem a se mate-rializar, alterando as causas do envelhecimento, o limite de vida máxima provável poderia ser ul-trapassado”. Esta opinião está conforme o que defende o cientista Ray Kurzweil, para quem, graças à nanotecnologia e a uma maior com-preensão de como funciona o corpo, se poderão substituir órgãos vitais e, dessa maneira, viver para sempre.

O propósito deste trabalho é conhecer as ta-xas de sobrevivência nas pessoas que se torna-ram centenárias segundo as aproximações dis-

tintas de diferentes modelos que tratam de ava-liar a longevidade prestando atenção à biologia da pessoa, associada aos estilos de vida. Esses modelos podem ser denominados bioatuariais.

Também analisaremos os últimos avanços em biomedicina relacionados com as causas que explicam a longevidade e que nos permitirão entender se estamos diante da possibilidade pró-xima no tempo de aumentar o limite máximo de vida provável, comumente estabelecido em 120 anos.

O objetivo final do trabalho não é outro a não ser o de tratar de visualizar se há, ou se é possível chegar-se a produzir, déficit nas provisões técni-cas das carteiras de rendas vitalícias nas idades centenárias, justificando, assim, o aforismo “não se sinta seguro de nada”, de Bertrand Russell.

Pessoas centenárias e supercentenáriasOS CENTENÁRIOS

O número de pessoas centenárias cresceu consideravelmente desde a segunda metade do século XX, ainda que este fenômeno seja uma singularidade do século atual. De acordo com o estudo da “Estimativa média de centenários nos Estados Unidos”(Agência de Recenseamento dos Estados Unidos), relativo à população cen-tenária nos Estados Unidos, se no ano de 2000 a população centenária era de 72.000 pessoas, no ano de 2010 este número se eleva para

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29G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

131.000, com uma projeção para 2050 de 834.000 cidadãos norte-americanos que ultrapassaram os 100 anos de idade.

Para o conjunto da população mundial, no período 2005-2050 estima-se um crescimen-to de 35% da população; então, para a faixa de 100 anos ou mais, o crescimento será de 746%, sendo a maior de todas as faixas etárias, seguida da faixa de 85 a 99 anos, que crescerá 301%, se-gundo dados da Agência de Recenseamento dos Estados Unidos.

OS SUPERCENTENÁRIAS

Considera-se supercentenária a pessoa que completou 110 anos de idade. Do registro das pessoas que alcançaram esta elevada idade, pa-rece deduzir-se que este teto está reservado ex-clusivamente para o gênero feminino, uma vez que 90% das pessoas que completaram 110 anos eram mulheres, chegando a 92% as que atingi-ram a idade de 112 anos e a 95% as que chega-ram a ser supersupercentenárias, denominação

que se atribui a pessoas que atingiram os 115 anos de idade. Segundo o livro Supercentena-rios, coordenado pelo Instituto Max Planck de Rostock (Alemanha), apenas dezenove pesso-as alcançaram esta idade desde 1900, das quais unicamente duas eram homens. Esses registros lembram as palavras de Leonard Hayflick, um dos pioneiros da pesquisa moderna sobre o en-velhecimento: “Não há provas de que a dura-ção máxima da vida humana seja diferente do que uns 100.000 atrás. Ela continua rondando os 115”.

Quem continua ostentando o recorde de longevidade é a francesa Jeanne Calment, consi-derada a pessoa com a vida mais longa: morreu no dia 4 de agosto de 1997, quando se encon-trava com 122 anos, cinco meses e catorze dias de vida. Seu caso superou o registro anterior de longevidade conhecido, correspondente a Marta Graham, que faleceu em 1958, depois de viver 114 anos e 180 dias.

Desde que se iniciou o registro de supercen-tenários, a referência mais antiga correspondia a Thomas Peter, falecido em 1857 à idade de 111 anos e 354 dias.

Portanto, observa-se que, se é verídico que em 150 anos os registros oficiais de pessoas mais longevas do planeta vêm sendo ultrapassa-dos, também é certo que se confirma um limite biológico na vida máxima provável de um ser humano, que tradicionalmente se fixou em 120 anos. Na realidade, se o número de seres hu-manos que viveram ao longo da história está na marca de 110 bilhões de pessoas, é significativo que irrefutavelmente tão somente uma pessoa tenha chegado aos 120 anos de idade.

Algumas características comuns a todas estas pessoas é que não eram obesas e não fumavam, ou fumaram muito pouco.

Portanto, a fronteira dos 115 anos constitui uma verdadeira barreira na biologia do ser hu-mano. De fato, no Japão, que é o país mais lon-gevo do planeta, ainda que o número de cente-nários tenha aumentado desde 1992,

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estudos

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Suécia

França

Grã BetanhaEspanha

Itália

122 anos115 anos

114 anos

114 anos113 anos

O gráfico seguinte apresenta a Tabela Mun-dial Validada de Supercentenários em Vida do Grupo de Pesquisa de Gerontologia (GRG) de Los Angeles (EUA). Nela podemos observar o número crescente de pessoas que atingiram a idade de 110 anos.

NÚMERO MÁXIMO DE SUPERCENTENÁRIOS VIVOS

(DADOS FORNECIDOS POR LOUIS EPSTEIN)

Os relatórios do GRG de Los Angeles nos servi-rão para avaliar a probabilidade de falecimento das pessoas centenárias.

Estilo de vida vs. genética dos centenários

As causas que determinam a longevidade costumam ser atribuídas em 25% a fatores ge-néticos e em 75% a fatores relacionados com o estilo de vida, entre os quais se destacam hábitos saudáveis de nutrição e dieta, exercício físico, as relações sociais e uma atitude vital positiva.

Atualmente existe na comunidade científica especialista em biogerontologia um debate aber-to entre os que consideram que alcançar 100 anos de idade é questão de genes e os que, ao contrário, opinam que os estilos de vida são a causa principal para se atingir estas idades ex-tremas.

Um artigo recente publicado no Journal of the American Geriatrics Society conclui que a genética é o fator principal para se chegar a ser centenário. O estudo, dirigido por Nir Barzilai, diretor do Instituto de Pesquisa do Envelheci-mento da Faculdade de Medicina Albert Eins-tein, da Universidade de Yeshiva (Nova Iorque, EUA), foi realizado analisando-se o estilo de vida de 477 judeus asquenazes e de pessoas com idwades compreendidas entre os 95 e os 106 anos que viviam de forma independente.

O estudo tem caráter retrospectivo, ou seja, perguntou-se aos participantes sobre quais eram seus hábitos há 30 anos, quando tinham 70. Para avaliar os resultados, os dados foram compara-dos com os de um grupo de pessoas que haviam nascido na mesma época e que, quando beira-vam os 70, participaram do estudo epidemioló-gico NHANCES (National Health and Nutri-tion Examination Survey ou “Pesquisa Nacional de Exame da Saúde e da Nutrição”).

As conclusões do relatório foram que o ín-dice de massa corporal e o consumo de álcool eram equivalentes entre ambos os grupos. As conclusões foram semelhantes ao se analisar o exercício físico e a dieta.

Portanto, o estudo revela que é a genética que propicia a longevidade extrema.

Parece razoável concluir que os genes, o

quando se registraram 3.000 casos, chegando aos 40.000 em 2009, nesse período a pessoa de mais idade tinha 114 anos.

Esta situação se repete periodicamente em diferentes países. A seguir se observa o maior registro de idade alcançado em países diversos:

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aisais

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A COMUNIDADE CIENTÍFICA ESPECIALISTA EM BIOGERONTOLOGIA ESTÁ DIVIDIDA ENTRE AQUELES QUE PENSAM QUE CHEGAR AOS 100 ANOS É QUESTÃO DE GENES E OS QUE CONSIDERAM QUE OS ESTILOS DE VIDA SÃO A CAUSA PRINCIPAL PARA SE ALCANÇAR ESTAS IDADES EXTREMAS

ambiente, os hábitos de saúde e o sistema sanitário de atenção médica são os quatro fatores que favorecem a longevidade centenária.

Um estudo realizado na Espanha sobre a saúde dos centenários (nesse país existem 10.000 centenários, dois terços deles mulheres) descreve algumas caracte-rísticas do perfil não genético do centenário:

A metade são independentes: não necessitam de ajuda para comer e realizar suas atividades diárias.

Vivem em um meio ambiente saudável.

Residem em uma zona com bom sistema sanitário de atenção médica.

Apresentam um nível de colesterol baixo.

O debate continua aberto, e, à medida que se avança no conhecimento da biologia dos cen-tenários, poderão ser ponderados os efeitos na idade de fatores como a genética e os estilos de vida saudáveis

As taxas de sobrevivência dos centenários e supercentenários

Uma vez conhecida a magnitude previsível nas próximas décadas do advento de uma popu-lação centenária, devemos refletir sobre como modelizar o risco de sobrevivência desta legião populacional, que até agora não tinha muita re-levância nas carteiras de rendas vitalícias das en-tidades de seguro de vida por dois motivos.

O primeiro motivo é que as carteiras segu-radas do negócio de renda vitalícias no mercado espanhol apresentam uma concentração muito marcada em torno de uma idade modal de 70 anos e, portanto, em termos genéticos, somente 5% dos riscos expostos hoje alcançarão os 100 anos de idade.

O segundo motivo está relacionado com o primeiro. Porque a carteira segurada está mui-to distanciada do risco de exposição centenária, não existe praticamente experiência para avaliar potenciais insuficiências das provisões técnicas e, se houvesse, os fluxos probabilizados dessas potenciais idades descontados na data de cálculo da provisão matemática hoje poderiam não ser significativos.

Esses argumentos não devem impedir em absoluto que o segurador trate de modelizar o risco da sobrevivência da população centenária à luz do conhecimento que o comportamento desse grupo propicia em registros como o do Grupo de Pesquisa de Gerontologia (GRG) de Los Angeles (EUA), e que nos permitirá cons-truir tendências de mortalidade que diferem significativamente daquelas incorporadas nas

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estudos

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O registro da evolução dos centenários se extraiu do quadro a seguir:

Estimativa de centenários na Europa, 1° de janeiro de 2008, N.J. Ruisdael

Idade Centenários Diferença com o grupo seguinte

de idade

100

101

102

103

104

105

106

107

108

109

28.679

16.212

9.555

5.397

2.984

1.443

656

361

177

66

12.467

6.657

4.158

2.413

1.541

787

295

184

111

?

tabelas de sobre-vivência utilizadas na maioria dos países que têm como base uma tendência de mortalidade que segue o modelo de Gompertz, ou seja, a mortalidade cresce exponencialmente com a idade.

O modelo de sobrevivência construído a par-tir dos dados observados pelo GRG, que corres-pondem aos dados de registros oficiais de recen-seamento de cada país que participa deste grupo de trabalho, retrata a evolução da sobrevivência da população supercentenária, sabendo, como se diz no próprio grupo, que a existência de poucos dados pode não ter significação estatística.

Como se pergunta o professor Steve Cole, di-retor da Fundação de Pesquisa de Supercentená-rios do Instituto de Biologia Molecular da UCLA (EUA): “A verdadeira pergunta é: esses casos re-presentam uma aberração estatística ou há uma base biológica no genoma humano para esses va-lores atípicos? Se existe uma base biológica para este patamar, o fenótipo do envelhecimento pode ser conquistado pelas pessoas comuns? Poderia haver uma predisposição genética peculiar para acabar sendo supercentenários a partir dos 114 e terminar em 117 anos, de tal modo que devemos buscar em sua sequência de DNA? Os genes que determinam a longevidade podem ser examina-dos e manipulados por engenharia genética?”.

Antecipando-nos às conclusões, o modelo de longevidade proposto significa, nas palavras do doutor Gregory M. Fahy, diretor do Laboratório de Criopreservação de Órgãos do Laboratório Je-rome Holland para Ciências Biomédicas da Cruz Vermelha Norte-americana, em Rockville (Ma-ryland, EUA), que “a existência de um patamar na mortalidade tardia da vida para os seres huma-nos e outras espécies sugere que o envelhecimen-to se detém acima de uma certa idade”.

Por conseguinte, reproduzem-se os principais quadros elaborados a partir dos dados disponí-veis, todos eles tirados do endereço de Internet www.grg.org.

A análise começa com as observações dos su-percentenários incorporadas à tabela de morta-lidade norte-americana da Seguridade Social de 2007, e vemos como segue um comportamento completamente diferente do proposto pela tabela.

Seguridade social, 9 de julho de 2007

N.J. Ruisdael, Europa, 1 de janeiro de 2008

Robert Young, 18 de maio de 2007

Steve Coles (RR), vivo 3 de janeiro de 2008

Taxa

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ano

)

Idade

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O SEGURADOR DEVE MODELIZAR O RISCO DE SOBREVIVÊNCIA DA POPULAÇÃO CENTENÁRIA À LUZ DO CONHECIMENTO QUE O COMPORTAMENTO DESTE GRUPO PROPICIA NOS PRINCIPAIS REGISTROS MUNDIAIS

E no que se refere aos supercentenários, a evolu-ção se tirou de:

Falecimentos de supercentenários,3 de janeiro de 2010, Louis Epstein

Idade Nº com estaidade ou mais velhos

Número defalecimentos

110

111

112

113

114

115

116

117

118

119

679

491

226

137

63

22

7

4

2

2

427

225

129

74

41

15

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2

0

1

120

121

122

123

1

1

1

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1

0

Pode-se observar que a taxa anual de faleci-mento se mantém constante e em torno de 50% em cada ano.

Posteriormente, se modeliza o comportamen-to desta população, o que vemos nos gráficos a seguir:

Número de falecimentos por idade (dados de Robert Young), 14 de março de 2008

Robert Young, 10 de maio de 2007

491.2 exp. (Idade-110)/1,4569)

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Idade

Anos de sobrevivência para maiores de 114 anos

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estudos

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“A EXISTÊNCIA DE UM PATAMAR NA MORTALIDADE TARDIA DA VIDA PARA OS SERES HUMANOS E OUTRAS ESPÉCIES SUGERE QUE O ENVELHECIMENTO SE DETÉM ACIMA DE UMA CERTA IDADE”, SEGUNDO O DOUTOR GREGORY FAHY, DO LABORATÓRIO DE CRIOPRESERVAÇÃO DE ÓRGÃOS

Esta modelização é proposta para as idades extremas e tomando-se como base a tabela da Seguridade Social mencionada anteriormente, em que se utilizam seus dados

até os 90 anos de idade (segundo Robert Young, membro fundador da Fundação de Pesquisa de Supercentenários). Os dados da Seguridade Social dos Estados Unidos pro-vavelmente não são confiáveis acima dos 95 anos, e a partir dessa idade se realiza um ajuste manual que combina a tabela e o modelo do resultado proposto por Donald B. Gennery no estudo Mortality rate as a function of age (“Taxa de mortalidade em função da idade”) (2010).

Para o ajuste das idades de 90 anos, utili-zam-se os dados de acompanhamento de um total de 290 pessoas que haviam atingido a idade de 90 anos em 1920-1922, e registrou-se a idade em que morreram, a última delas aos 102 anos.

Figura A. Resultados da Seguridade Social e ajuste manual à idade de 90 anos (com limites de confi ança aproximados de ± 1σ)

Figura B. Probabilidade de sobrevivência por idade derivada da curva na fi gura A

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Idade

Idade

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Esta proposta de modelo de comportamen-to da longevidade da população geral baseada na experiência dos supercentenários permite extrair algumas conclusões adicionais à mais relevante, que é a existência de um patamar de mortalidade ao se atingir os 110 anos. Estas conclusões são do próprio Donald B. Gennery: “De acordo com a tabela anterior, a probabilidade de alcançar esta idade é 2,11 x 10-9. Mediante a projeção de 300 milhões de nascimentos, o número esperado de nascidos hoje que chegarão à idade de 122 anos seria de 0,6333 pessoas, e aplicando-se o fator corretor de diferenças de mortalidade atual e passada de 5,41, tem-se 0,117 como o número aproximado esperado hoje de pessoas que deve-riam ter 122 anos de idade, levando-se em conta as taxas de mortalidade mais altas no passado”.

A modelização das idades centenárias toman-do forma de patamar é uma proposta que pode-mos encontrar na literatura atuarial mais recente através dos modelos bioatuariais e os modelos de heterogeneidade não observável.

Com relação ao primeiro, citaremos os es-tudos de Gavrilov & Gavrilova em Handbook of the Biology of Aging (“Manual da Biologia do Envelhecimento”) (Academic Press, 2006). Nesta obra, partindo da teoria da confiabili-dade dos sistemas, conclui-se que o risco de

Vemos como a partir dos 90 anos a curva de sobrevivência é maior segundo a experiên-cia sueca do que a proposta pelos modelos de Gompertz.

erro não está necessariamente relacionado com a idade e que inclusive chega a ser irrelevan-te. E, ao observar o comportamento biológico de determinados seres vivos mediante estudos longitudinais, eles afirmam que a mortalidade na última parte da máxima vida provável pro-duz uma desaceleração do aumento das taxas de mortalidade, chegando-se a um patamar a uma determinada idade; ou seja, a taxa de mortali-dade se mantém constante. Gavrilov chama este processo de “mortalidade cinética”, pois não há desgaste biológico do ser vivo.

Por este comportamento singular das idades extremas, como já comentamos anteriormen-te, os modelos atuariais de Gompertz ou até o de Weibull não reproduzem adequadamente os modelos de confiabilidade dos seres vivos, que, no caso dos seres humanos, se pode comprovar com o comportamento da evolução da popula-ção da Suécia, em Mortality of Swedish women for the period of 1990-2000 from the Kannisto-Thatcher Database on Old Age Mortality e na fonte Gavri-lov-Gavrilova Why we fall apart. Engineering’s re-liability theory explains human aging (IEEE Spec-trum, 2004).

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estudos

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A PARTIR DE TRÊS APROXIMAÇÕES DIFERENTES - REGISTRO DE SUPERCENTENÁRIOS, MODELOS BIOATUARIAIS E MODELOS DE HETEROGENEIDADE NÃO OBSERVÁVEIS -, A CIÊNCIA ATUARIAL É CAPAZ DE REPRODUZIR O COMPORTAMENTO DA LONGEVIDADE DOS CENTENÁRIOS

Esta hipótese nos propõe um desafio à teoria de que o ser humano tem aos 120 anos o limite de seus recursos biológicos, uma vez que a mo-delização nos leva a propor o contrário; ou seja, a taxa de mortalidade em idades extremas, ao ser constante, supõe que a sobrevivência não tem li-mite em nenhuma idade concreta. Esta propos-ta tem muitas semelhanças com a conclusão do modelo descrito e elaborado sobre a experiência dos supercentenários.

A linha de trabalho baseada nos modelos de heterogeneidade não observável, apresenta-da, entre outros pesquisadores atuariais de des-taque, por Olivieri e Pittaco, propõe incorporar a variável fragilidade ao modelo tradicional de mortalidade. Isto é, a sobrevivência de um in-divíduo é afetada pela sua propensão à longevi-dade, que é uma variável relacionada à fortaleza fenotípica individual, que faz com

que os indivíduos que sobrevivem a idades mui-to avançadas tenham taxas de sobrevivência que tendem a tomar a forma de um patamar.

Encontramos a origem de todos esses mo-delos em observações de mortalidade de idades elevadas em países desenvolvidos, onde se cons-tata uma desaceleração nas taxas de crescimento da mortalidade em ditas idades (Horiuchi e Wil-moth, 1998, Zen Yi e Vaupel, 2003).

No trabalho Graduação da mortalidade em Andaluzia com modelos de mortalidade com heterogeneidade inobservável, de Antonio Fer-nández Morales, publicado em 2009 nos Anais do IAE, que trata da modelização da variável de fragilidade (Zx), os indivíduos com maior probabilidade de falecimento apresentam taxas menores de fragilidade. Ela é modelizada com as distribuições Gamma ou a Inversa Gaussia-na, criando uma função mistura de mortalidade (Gompertz, Makeham)-fragilidade (Gamma ou a Inversa Gaussiana).

Observamos que, a partir de três aproxima-ções diferentes, a saber, registro de supercente-nários, modelos bioatuariais e modelos de hete-rogeneidade não observáveis, a ciência atuarial é capaz de reproduzir o comportamento da longe-vidade dos centenários.

Sabemos, então, que para estas idades há um patamar nas taxas de mortalidade. Portanto, os modelos atuariais devem ser corrigidos e ajus-tados a esta tendência, que começa a ser quanti-ficável na medida em que os registros de longe-vidade dessas idades começam a oferecer dados consistentes e podem substituir meras estimati-vas de projeção geradas sobre taxas de mortali-dade de idades inferiores.

Por conseguinte, de acordo com este conhe-cimento adquirido e modelizado, sim, é conve-niente que as entidades revisem o valor de seus passivos. Tal como afirma Olivieri (2006), “(...) a não consideração da heterogeneidade

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devida a fatores não observáveis em uma carteira de vida resulta numa subestimação dos passivos tanto em valor esperado quanto na extremidade direita, já que a distribuição da mortalidade em uma população heterogênea é diferente daquela que corresponde a um grupo homogêneo, espe-cialmente nas idades mais avançadas”.

Sabendo que nos encontramos diante de um novo modelo atuarial que modifica a hipóte-se central da biometria baseada no modelo de Gompertz (1820), a ciência atuarial tem que ser capaz de propor a idade a partir da qual a morta-lidade começa a desacelerar. Todas as pesquisas nos levam a propor a faixa 90-95 e a avaliar, por outro lado, a intensidade do patamar.

Perante esta situação, talvez a melhor solução seja assumir que existe este novo fenômeno, re-visando a subestimação de passivos da extremi-dade direita de segurados e ajustando a reserva à medida que os modelos se ajustarem a reali-dades estatísticas conhecidas, que nos casos da população centenária deve se servir de fontes de registros populacionais internacionais.

Modelos de longevidade fenotípicos

Uma vez analisada a resposta da ciência atua-rial para o fenômeno da longevidade nas pessoas de idade avançada, e especialmente os centená-rios, faremos referência ao estudo da longevidade a partir da visão que oferece a biodemografia evo-lutiva, que trata de reunir as teorias do envelhe-cimento dos radicais livres e do corpo perecedor. Ele considera, portanto, que o processo de longe-vidade é o resultado do impulso de aquisição de energia e sua localização.

O estudo Evaluation of mortality: Trajecto-ries in evolutionary biodemography (“Avaliação da mortalidade: Trajetórias em biodemografia evolucionária”), de Stephan B. Munch e Marc Mangel (PNAS, publicado online em 23 de ou-tubro de 2006), oferece uma ótica diferente para entender a longevidade e sua repercussão em ida-des extremas.

O modelo fenotípico nos revela que as trajetó-rias de mortalidade são compostas por duas variá-veis que dependem do fenótipo: uma dependen-te do tamanho e outra que depende do dano. Para sua avaliação se usam determinados parâmetros como múltiplos do metabolismo basal consumi-do na alimentação variável na qual os indivíduos regulam o crescimento, a acumulação do dano e a depredação do risco. A todos os parâmetros é atribuída uma interpretação mecanicista.

Vejamos graficamente as duas trajetórias da mortalidade do modelo fenotípico:

Decomposição da mortalidade por idades.

Mo

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idad

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Idade

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estudos

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As duas teorias bioenergéticas que se rela-cionam com o envelhecimento são a teoria dos radicais livres e a teoria do encurtamento dos telômeros.

Existem inúmeros estudos que demonstram que existe uma relação entre a produção de radi-cais livres e a longevidade máxima.

A análise de José Gómez Sánchez em sua tese de doutorado (2010, UCM - Faculdade de Biologia) nos ajuda a entender este processo. Ele afirma que a taxa de produção de radicais livres se correlaciona de forma inversa com a longe-vidade máxima das espécies, de modo que esta taxa é maior em espécies de vida curta do que em espécies longevas (Barja et al., 1994b; Lam-bert et al., 2007; Robert et al., 2007).

É neste ponto que podemos introduzir aspec-tos de estilos de vida como a restrição dietética, que se relaciona com a longevidade. Diversas pesquisas demonstraram que a restrição dieté-tica é capaz de reduzir a produção mitocondrial de radicais livres (Sohal et al., 1994; Sohal & Weindruch, 1996; Gredilla et al., 2001a,b; Barja, 2002a; Drew et al., 2003; Bevilacqua et al., 2004; Judge et al., 2004; Gredilla & Barja, 2005).

A teoria do encurtamento dos telômeros

Todas as provas de envelhecimento nascem da ciência dos telômeros e da telomerase, enzi-ma que controla o relógio biológico da célula. Na verdade, Jerry Shay, do Southwestern Medi-cal Center de Dallas (Texas, EUA), num artigo publicado recentemente na Science, afirma que “é o melhor biomarcador de envelhecimento disponível hoje”. Tal qual na teoria dos radicais livres, com um estilo de vida saudável é possível voltar a dispor de telômeros mais longos.

Na medida em que se avance no conheci-mento fenotípico aprofundando-se nos bio-marcadores, este modelo nos oferecerá a métri-ca necessária para entendermos o fenômeno da longevidade extrema.

Continuando com esta argumentação bio-médica, aprofundamo-nos um passo a mais no conhecimento da longevidade máxima (MLSP, Maximum Life Span Potential ou “Potencial Máximo de Tempo de Vida”), que representa o número máximo de anos que um indivíduo pode viver por pertencer a uma determinada es-pécie.

A longevidade máxima vem determinada pelo genoma, que é constante e característico de cada espécie. A longevidade máxima se correla-ciona com a resistência aos processos gerais de envelhecimento e é inversamente proporcional à velocidade máxima de envelhecimento das es-pécies (Cutler, 1984).

AINDA NÃO É POSSÍVEL MEDIR A EXPECTATIVA DE VIDA COM O TAMANHO DO TELÔMERO, MAS SE PODE, SIM, CONHECER A IDADE BIOLÓGICA DE UMA PESSOA EM RELAÇÃO À SUA IDADE CRONOLÓGICA. COM MAIS ANÁLISES TELOMÉRICAS PODERÃO SER ESTABELECIDAS RELAÇÕES ENTRE O ESTILO DE VIDA E O RELÓGIO BIOLÓGICO

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Ainda não é possível medir a expectativa de vida com o tamanho do telômero, mas se pode, sim, conhecer a idade biológica de uma pessoa em relação à sua idade cronológica. À medida que se aumente o número de análises telomé-ricas, poderão ser estabelecidas relações entre o estilo de vida e o relógio biológico. Demons-trou-se, de fato, que a obesidade e o fumo levam a uma perda acelerada de telômeros.

Estas duas teorias biomédicas que tratam de explicar a longevidade tradicionalmente não en-contravam relação entre si, embora Ronald A. DePinho, do M.D.Dana-Farber Cancer Institu-te, afiliado à Harvard, sugira na Nature (julho de 2011) que o encurtamento dos telômeros é a causa da disfunção mitocondrial e da diminui-ção das defesas antioxidantes. De modo conjun-to, elas reduzem a energia corporal e diminuem o funcionamento dos órgãos, duas característi-cas do envelhecimento. E acrescenta: “O que descobrimos é o caminho principal do envelhe-cimento, que conecta diversos processos bioló-gicos relacionados com a

idade que anteriormente eram considerados in-dependentes uns dos outros”.

A relação entre ambas as teorias trará avanços significativos para o conhecimento e as métricas da longevidade dos centenários, especialmente sabendo-se que, como dizia Heráclito, “a natu-reza adora se esconder”.

Portanto, nos anos vindouros a ciência bio-médica estará em condições de avaliar, a partir da genética e do estilo de vida, a probabilidade de se alcançar idades centenárias e possivelmen-te supercentenárias.

A ciência atuarial, embora esteja começan-do a incorporar o conhecimento revelado pela biomedicina, deverá se aprofundar nesta linha para poder modelar o risco de longevidade e, por sua vez, avaliar a possibilidade da extensão da máxima vida provável em um cenário onde a expectativa de vida se aproxime deste indicador. Como disse um pensador, “o envelhecer é algo inevitável; a luta contra a tendência biológica de nossos genes para envelhecer passou de impos-sível a infinitamente pouco possível”.

Em uma estrutura de dinâmica demográfica onde os centenários serão os verdadeiros novos protagonistas, as carteiras de rendas vitalícias se aproximarão de idades extremas, territórios inexplorados pelo setor segurador. A grande vantagem é que se podem ir preparando estraté-gias de ajustes periódicos do passivo contingente comprometido no balanço.

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O risco de tipo de juro:Neste artigo se analisam as metodologias de cobertura de risco de tipo de juro postas

em prática na Espanha e se descrevem quais metodologias são consideradas no

projeto de Solvência II para o controle e a medição dos requerimentos de capital por

risco de tipo de juro na fórmula padrão.

FRANCISCO CUESTA AGUIARInspetor de Seguros do Estado Espanhol Alguns seguros de vida são operações

com garantia de tipo de juro a muito longo prazo. O surgimento de cená-

rios de juros em baixa pode gerar situações comprometedoras para a entidade seguradora. Daí ser muito necessária a adoção de estraté-gias de cobertura do risco de tipo de juro.

O risco de tipo de juro é, sem dúvida, um dos riscos financeiros com os quais a doutrina científica mais tem se ocupado. No âmbito do seguro de vida, já faz mais de uma década que foram incorporados à normativa espanhola os sistemas de imunização financeira como me-todologias de cobertura do risco de tipo de juro. A experiência avalia

Experiência espanhola

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e Solvência II

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O RISCO DO TIPO DE JURO É UM DOS RISCOS FINANCEIROS COM OS QUAIS A DOUTRINA CIENTÍFICA MAIS SE TEM OCUPADO

o excelente papel que eles têm exercido no controle do risco de tipo de juro por parte das entidades seguradoras que ope-ram no segmento de Vida.

O presente trabalho aborda o estudo de ambos os sistemas (casamento de flu-xos [cash flow matching] e imunização por durações) a partir de uma perspecti-va eminentemente prática, introduzindo previamente alguns conceitos financei-ros básicos necessários para sua adequada compreensão.

O estudo termina com uma descrição básica das metodologias que atualmente estão sendo consideradas no projeto de Solvência II para o controle e a medição dos requerimentos de capital por risco de tipo de juro na fórmula padrão. O capítu-lo se completa com a análise dos diferen-tes métodos de cálculo do Valor em Risco (VaR) como medida base de calibração utilizada para estimar as perdas por risco de tipo de juro.

.

SISTEMAS DE IMUNIZAÇÃO FINANCEIRA: A EXPERIÊNCIA ESPANHOLA

Com a aplicação desses sistemas, a normativa espanhola permite calcular a provisão matemática a um tipo de juro obtido a partir da rentabilidade dos ativos alocados, sempre que se cumpram deter-minados requisitos que minimizem o ris-co de tipo de juro.

No sistema de casamento de fluxos se exige uma coincidência adequada, em tempo e quantia, de cobranças e paga-mentos. Se, cada vez que a entidade se-guradora tiver que enfrentar o pagamen-to de um determinado compromisso, ela dispuser do saldo financeiro necessário, o risco de juro é mínimo.As normas espanholas exigem basica-mente os seguintes requisitos:

Que os fluxos de cobrança estejam indubitavelmente à margem do risco de crédito. Desta forma se excluem determinados ativos como as ações.

Que o risco de crédito não ultrapasse um determinado limiar. Mais espeficamente, o ativo deverá dispor de uma classificação mínima BBB

Que se trate de ativos aptos para a cobertura das provisões técnicas. Aparece com destaque o requisito da liquidez.

Que se adotem medidas a partir de uma análise prospectiva do direito de resgate para evitar que o valor de mercado dos investimentos possa cair abaixo do valor de resgate garantido.

Que sejam computados os fluxos de pagamento por prestações, gastos e, conforme o caso, participação em benefícios.

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A ADMISSÃO DA UTILIZAÇÃO

DE ATIVOS DE RENDA

VARIÁVEL É UMA CARACTERÍSTICA DETERMINANTE DO SISTEMA DE

IMUNIZAÇÃO POR DURAÇÕES

Que o saldo financeiro final da operação seja positivo ou nulo.

Que os saldos financeiros mensais sejam positivos ou, caso sejam negativos, que não ultrapassem determinados limites.O sistema de imunização por

durações busca uma compensação entre as variações dos ativos e passivos geradas diante de qualquer variação da curva de juro de mercado.A duração corrigida é uma medida de sensibilidade do valor atual de uma cor-rente de fluxos diante de uma variação do juro de mercado. Se a estrutura de co-branças e pagamentos for tal que as dura-ções corrigidas de ativos e passivos sejam equivalentes, ante uma variação do juro de mercado a variação do valor dos ativos se verá compensada com a variação (de sinal contrário) dos passivos.Além dos requisitos mencionados no sis-tema anterior para os fluxos de cobran-ça e pagamento, a normativa espanhola acrescenta novos requisitos no sistema de imunização por durações:

Que o valor dos ativos seja superior ao dos passivos.

Que exista uma equivalência das durações corrigidas dos ativos e passivos. Tecnicamente, esta exigência garante a compensação das variações apenas quando a curva de juro for plana e variar de uma forma paralela e infinitesimal.

Que as variações dos valores atuais de ativos e passivos se compensem entre si diante de cenários de variação parcial e não infinitesimal da curva de juro de mercado. É um requisito cuja incorporação é necessária para controlar os riscos omitidos no requisito anterior. Como particularidade relevante do

sistema de imunização por durações, deve se destacar a admissão da utilização de ativos de renda variável. Como premissa básica se considera a maior rentabilidade que esses ativos, num horizonte temporal de longo prazo, deveriam proporcionar com relação aos ativos de renda fixa. Seu regime se completa com a exigência de re-quisitos de liquidez, diversificação e risco, entre outros.

Segundo foi exposto, ambos os siste-mas de imunização financeira admitem a utilização de ativos financeiros com risco de crédito. Não obstante, se algum ativo passar por default, a entidade segu-radora não poderá deixar de pagar suas obrigações. Dito de outra forma, o prin-cípio do risco de crédito dos ativos não é transferível aos segurados. De acordo com a premissa mencionada, interessa calcular qual seria o valor de investimen-tos (sem risco de crédito) que pudesse gerar fluxos de cobrança semelhantes aos que geram os investimentos da entidade (com risco de crédito). O primeiro valor é superior ao segundo, e a diferença en-tre ambos mede o preço que a entidade seguradora deveria pagar para eliminar

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NO ATUAL ESTADO DE SOLVÊNCIA II, A PROVISÃO DO SEGURO DE VIDA É CALCULADA DESCONTANDO-SE OS FLUXOS DE PAGAMENTOS A UMA TAXA LIVRE DE RISCO AJUSTADA COM O PRÊMIO DE ILIQUIDEZ

o risco de crédito de sua carteira de inves-timentos. Faz-se com que a provisão ma-temática coincida exatamente com esse valor (valor dos investimentos ajustado para incorporar o risco de crédito).

SOLVÊNCIA II

No atual estado do projeto de Sol-vência II, a provisão do seguro de vida é determinada descontando-se os fluxos de pagamento a uma taxa livre de risco ajus-tada com o prêmio de iliquidez.

Para suportar o risco de juro, como qualquer outro risco, a entidade deverá dispor de determinados níveis de capital.

Ao longo dos diferentes estudos de impacto (QIS), variou a metodologia utilizada para a quantificação do requeri-mento de capital por risco de tipo de juro segundo a fórmula padrão, assim como os parâmetros resultantes da calibração. As duas metodologias utilizada têm sido a análise por cenários e a análise por dura-ções corrigidas, sistemas semelhantes aos descritos no sistema espanhol de imuni-zação por durações.

O requerimento de capital padrão (SCR) também pode ser determinado com modelos internos autorizados. Uma vez que o valor em risco foi a medida de calibração eleita para a determinação das perdas, é conveniente analisar suas carac-terísticas principais:

Hipótese de cálculo. É incompleta toda medida de projeção das perdas se não for mencionado o período de tempo e o nível de confiança para os quais é calculada.

Método de variâncias-covariâncias. Considera que a distribuição das perdas é normal, o que requer ajustes corretores para apresentar caudas grossas.

Método de simulação histórica. Supõe que o comportamento passado replica adequadamente o comportamento futuro.

Método de simulação Montecarlo. Estima a distribuição de probabilidade das perdas mediante a geração de números aleatórios e amostragens estatísticas.

Volatilidade. É sem dúvida a variável principal e que mais influi na estimativa das perdas.

Stress testing. A estimativa inicial deve ser complementada com a análise de perdas por acontecimentos extraordinários.

Back testing. Qualquer método utilizado não será adequado se não replicar adequadamente as perdas reais.

TailVaR. É uma medida que analisa a distribuição das perdas uma vez alcançado o nível do VaR.

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estudosIL

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Gerência de Riscos

Resiliência,cada vez mais...

Até muito pouco tempo atrás, ninguém tinha se atrevido a

incorporar ao enfoque da gerência de riscos este conceito um tanto

curioso e mais para inesperado neste campo. De fato, refere-se a

uma realidade geralmente ausente em todos os manuais, que se

limitam a colocar em ação o processo de gestão de riscos mediante

uma identificação obrigatória. O resto do conteúdo dos manuais

em questão se dedica a determinar o que se vai fazer com os riscos

assim identificados, ou seja, assumi-los, suprimi-los se for possível,

ou ao menos reduzi-los, ou inclusive tratar de transferi-los. Se

podemos nos beneficiar de modelos, tanto melhor, uma vez que a

gestão do risco se converte numa realidade científica cuja validez

deve ser reconhecida pelo mundo todo... Mas se nos aprofundarmos

neste assunto, vejamos o que acontece.

FRANÇOIS SETTEMBRINOGerente de Riscos FERMA

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SE NOS BASEARMOS APENAS NO PASSADO E NUMA IDENTIFICAÇÃO PERFEITA DOS RISCOS, DEIXAREMOS A GERÊNCIA DE RISCOS NO AR COM RELAÇÃO AOS RISCOS QUE NÃO FORAM DETECTADOS OU QUE SIMPLESMENTE FORAM DEZPREZADOS PORQUE AINDA NÃO SÃO IDENTIFICÁVEIS.

Tratemos de definir o que o vocábulo “re-siliência” esconde. A vida das empresas e também a vida diária, observadas com

humildade, demonstram que o futuro nunca pode ser compreendido em sua essência. Por mais que queiramos ou façamos, o futuro é uma incerteza absoluta. Portanto, é presunçoso crer que a gestão do risco, na medida em que se di-rige ao futuro, vai permitir que nos transporte-mos a ele com toda a tranquilidade. Quaisquer que sejam os meios utilizados, a realidade pode diferir muito do que o procedimento de gerên-cia de risco utilizado tenha permitido prever.

Isto não quer dizer que o procedimento não tenha um valor intrínseco; longe disso. Seu maior êxito procede do bom uso do acúmulo de experiências, pois nunca se aprende tanto como observando e tratando de entender o que não funcionou bem para corrigi-lo no futuro. O problema é que o passado continua sendo o passado, que nunca oferecerá todas as chaves do futuro. Se nos basearmos apenas no passado e numa identificação perfeita dos riscos, deixa-remos todo o procedimento no ar com relação aos riscos que não foram detectados ou que simplesmente foram desprezados porque ainda não são identificáveis. Não nos esqueçamos do exemplo desta terrível doença que é a AIDS, que os atuários de seguros de vida nunca haviam in-cluído em seus cálculos, simplesmente porque ninguém sabia da sua existência.

Voltemos agora ao que quer dizer “resiliên-cia”. É simplesmente a capacidade de se dar bem em caso de imprevisto; no âmbito empresarial, trata-se de como fazer frente a um dano impre-visto. O mesmo nos acontece como indivíduos, pois é necessário ter praticado uma ginástica do espírito para abordar a incerteza que o porvir nos reserva e se sobrepor a ela na medida do possível.

O exemplo de resiliência que se cita com frequência está ao alcance do entendimento de qualquer um. Um homem preocupado com a sua forma física escolhe a corrida a pé como dis-ciplina. Ele treina todos os dias e está muito feliz com isso... Mas um dia enfrenta uma situação que poderia acabar em drama: um grave incên-dio irrompe perto dele, e nosso desportista, para evitar sofrer suas consequências, dá no pé e se afasta a toda velocidade. De todas as pessoas pre-sentes, ele é o único que sai incólume. Sua sal-vação se deve à sua forma física, mas ele nunca havia previsto o uso que pôde fazer dela. Isso é resiliência.

Um apóstolo da resiliência, Boris Cyrulnik, se aprofundou no tema dos meninos maltrata-dos pelas guerras, inclusive os que tiveram a sor-te de sobreviver aos campos da morte. A maioria

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deu, mais tarde, mostras de extraordinárias qua-lidades de resiliência para superar, e inclusive utilizar, os sofrimentos que tinham padecido. O título do livro que B. Cyrulnik escolheu para descrever suas descobertas, Un merveilleux malheur (Uma desgraça maravilhosa) (Poche, 2002), é por si só toda uma revelação. A resili-ência humana, sobretudo a infantil, é estudada e pesquisada por um cientista, médico, psicólogo e psiquiatra.

Um dos profissionais da gerência de riscos, o gerente de continuidade do negócio poderá me-lhor que ninguém descrever quão difícil é a sua tarefa. Como o seu futuro não é mais que incer-teza, somente pode funcionar com suposições, que são outras tantas hipóteses de grandes difi-culdades que se poderiam produzir e bloquear as atividades da empresa. Para que as atividades continuem custe o que custar, conta-se muito com ele. Na falta de uma bola de cristal, sua ta-refa já é extremamente difícil, mas se vocês sou-bessem como são poucas as Direções que dão importância a isso... Eis aqui dois exemplos:

Uma empresa americana fabrica excelen-tes calçados esportivos, com uma reputação bem merecida; os modelos são excelentes, e a fôrma, impecável. Um dia a Direção decide deslocar a fabricação para um país emergente da Ásia. Os preços de venda no mercado não se modificam, mas a operação quase triplicou os benefícios, nada menos que isso. E os acio-nistas estão muito satisfeitos. Mas eis que um dia um desportista de alto nível, fiel à marca, entra com uma demanda judicial pelos danos físicos que o calçado lhe havia causado, apre-sentando provas médicas disso. Como ocorre com muita frequência nos Estados Unidos, as quantidades reclamadas são colossais, mas a firma paga para não dar o que falar e manter sua boa imagem. Pouco tempo depois, outro famoso desportista apresenta o mesmo tipo de demanda e pede compensações ainda mais astronômicas, que obtém sem grandes dificul-dades. Como desgraça pouca é bobagem, ela voltou a acontecer, de novo com as mesmas consequências. Havia, portanto, um grave problema de fabricação e, consequentemen-te, um controle de qualidade que não estava à sua altura. Vários conselheiros expressaram, então, seu desejo de repatriar a fabricação para terem uma supervisão melhor. A solução pa-recia lógica, mas a resposta foi demolidora: as fábricas tinham sido vendidas, assim como o maquinário, e o pessoal qualificado não estava localizável. Voltar a começar do zero era quase impossível, e o custo disso teria sido assom-broso. Tiveram que se decidir por enviar ao estrangeiro, com um custo elevado, uma equi-pe que se responsabilizasse pela qualidade, deslocá-la com indenizações por expatriação, gastos de alojamento, escolarização dos filhos e visitas regulares ao país de origem.

O outro exemplo é atual. Algumas fábricas Peugeot estão paralisadas por falta de várias peças fabricadas no Japão. Deverão enfren-tar o problema com paciência, já que relançar uma fabricação na Europa seria uma utopia e vender os veículos afetados é totalmente im-pensável. E a Peugeot não é a única que sofre...

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tsunamis. As teorias de gerência de riscos já de-ram respostas mais ou menos válidas, tais como a compartimentação das instalações, a manuten-ção das relações com diferentes provedores, me-lhor que com apenas um, o procurar dispor de um pessoal o mais flexível possível... As fontes da resiliência são inúmeras, mas nunca se sabe nem onde, nem quando, nem como serão ne-cessárias. De qualquer jeito, estudar caminhos de solução antes que deles se necessite é o meio mais seguro de se dotar de uma resiliência cer-teira, simplesmente fazendo uso de treinamento permanente. Aqui também um pequeno exem-plo permitirá compreender melhor as expectati-vas. Um banco instalado em um grande edifício de quinze andares, equipado com uma unida-de de gerência de riscos. Esta unidade começa a se interessar pelos riscos mais conhecidos e, no caso em questão, o risco de incêndio se en-contra em primeiro lugar. Como não se faz nada pela metade, as companhias seguradoras e os bombeiros são convidados a avaliar a situação. Seus engenheiros encontram um edifício bem projetado, bem construído e equipado com um sistema de aspersores, com uma reserva de água no telhado. A opinião deles é que um sinistro danificaria no máximo duas plantas: uma pelos meios de extinção utilizados e a outra, ou, me-lhor dizendo, duas metades de plantas ficariam danificadas pela água e pela fumaça. Para não deixar nada pela metade, uma equipe se encar-rega de estimar as necessidades em caso de in-

Em ambos os casos, qualquer resiliência teria sido impossível. Quaisquer que sejam as vanta-gens (financeiras ou de outro tipo) do desloca-mento, elas não devem nos impedir de pensar no futuro com um pouco mais de realismo. Na falta dessa reflexão, a resiliência se converteu em algo totalmente impossível de organizar, e nin-guém mais sabe onde está a verdadeira relação custo-benefício dos pontos fracos registrados. Apesar disso, é responsabilidade dos diretores perante os funcionários, os clientes e a cidada-nia responder às ações que poderiam se interpor. Esses exemplos vão mudar a mentalidade dos diretores? Provavelmente não se observarmos seu comportamento, obscurecido unicamente pelo curto prazo em que o futuro nem sequer é considerado.

Se voltarmos ao gerente de continuidade do negócio, seu papel é manter a empresa ativa, mas isso se converte muito rápido em um pe-sadelo. Sempre se analisou o incêndio, o roubo, a agitação social e, para o deslocado, as possibi-lidades de mudança dos poderes, democráticos, ditatoriais, ou com armas na mão... tudo tinha de ser pesado e contrapesado. Mas faz pouco tempo que nosso homem também deve somar a tudo isso questões de saúde pública, novas do-enças aleatórias ou causadas pelo homem, fura-cões, nuvens vulcânicas, tremores de terra cada vez mais devastadores, inundações e inclusive

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ESTUDAR CAMINHOS DE SOLUÇÃO ANTES QUE DELES SE NECESSITE É O MEIO MAIS SEGURO DE SE DOTAR DE UMA RESILIÊNCIA CERTEIRA, SIMPLESMENTE FAZENDO USO DE TREINAMENTO PERMANENTE

gerência financeira de riscos tão bem desenhada que nada poderia lhes acontecer; viu-se qual foi o resultado. Mas assim que assumem a catástro-fe, repetem os mesmos erros. Talvez se esconda nisso uma forma de cinismo: para que se equi-par de resiliência, uma vez que, quando as coisas vão mal, os Estados vão, apesar de tudo, ajudar os bancos. Consequentemente, são os contri-buintes que vão amortizar as perdas. E como muitos também são clientes, passarão pelo caixa duas vezes.

A moral desta história é que a certeza não existe em absoluto e não existirá nunca; os fa-talistas dirão que o risco zero não existe, e os realistas dirão que, inclusive quando se fez tudo para evitar o risco, não se está nunca seguro de que nada vai acontecer. Observem o drama do Japão: as únicas construções que resistiram ao sismo são os edifícios mais caros, construídos segundo as normas. Os prédios modestos de-sapareceram. Se a isso se somarem os estragos causados pelo tsunami, isso se converte num desastre total. Já não se pode continuar falando das angústias da central nuclear, se não for para dizer que foi construída para resistir aos efeitos de um terremoto de menor intensidade que o

cêndio das dimensões previstas pelos “especia-listas”. Essas necessidades vão desde os contatos com as autoridades que têm de ser previstos e a instalação de um perímetro de segurança ao redor do lugar até um inventário dos materiais que têm de ser adquiridos. O contato com os provedores é feito meticulosamente para lhes expor a situação provável. Não se compram 200 mesas de escritório, cadeiras, telefones e com-putadores tão facilmente como se acredita; ini-ciam-se relações, organizam-se contatos regula-res, e todo mundo acredita que fez o máximo. Infelizmente, um dia, para se distrair, uns meni-nos colocam umas salsichas para cozinhar numa fogueira feita com papelão de embalar num ter-reno que alojava um supermercado pegado ao banco e que acabara de ser demolido. Brincando num vão aberto, os meninos descobriram al-gumas latas de salsicha esquecidas. Pedaços de papelão queimado voam por cima da coluna de ar quente criada pelo fogo, e num instante são aspirados pelas entradas de ar condicionado em todas as plantas, introduzindo o fogo em todo o imóvel ao mesmo tempo. Felizmente, era um dia festivo e, portanto, não houve vítimas. Mas que papel exerceu a resiliência neste caso? Sim-plesmente no fato de que uma equipe já tinha interlocutores em quase todos os lados e eles puderam ser ativados imediatamente. Isso não foi fácil, pois conseguir 2.000 mesas, cadeiras, etc. é um pouco mais complicado que 200, mas os prazos se reduziram muito. Para as suas ope-rações, o banco havia se equipado com uma ex-celente capacidade de resiliência, pois os siste-mas de informática já estavam interconectados com as diferentes sedes, e, por este lado, o pior tinha sido evitado.

Vocês acreditam que todas estas lições vão servir para alguma coisa? Se nos referirmos ao mundo das finanças e ao sistema bancário em particular, a resposta só pode ser negativa. Ti-nham arriscado a sorte se munindo de uma

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estudos

AS EXPERIÊNCIAS COMPLEMENTARES INÉDITAS ADQUIRIDAS POR CAUSA DE UM DRAMA COMO O DO JAPÃO SÃO MUITO IMPORTANTES PARA A GERÊNCIA DE RISCOS, MAS ELAS CONTINUARÃO NÃO TENDO VALOR SE OS DIRETORES DAS COMPANHIAS OU OS POLÍTICOS NÃO AS UTILIZAREM COMO DEVERIAM

ocorrido e que praticamente tanto o edifício como os equipamentos sofreram enormemen-te. Se um novo Chernobil for evitado, assegu-rar o lugar não será fácil e durará muito tempo. O tsunami, por sua vez, levou casas, barcos e habitantes com uma violência incrível, e as fo-tos e os vídeos impactaram fortemente os es-pectadores. O que muitos esquecem é o signi-ficado da escala Richter; recordando o que foi aprendido no primário, muitos entendem que um valor 9 é quase o dobro de 5. Na realidade, todo incremento de intensidade 1 corresponde a uma multiplicação por 30 da energia e por 10 da intensidade do movimento, o que é verda-deiramente espantoso.

Quanto à resiliência demonstrada pelas autoridades japonesas, ela parece basicamen-te fraca. Em Kobe foram necessários três dias para que os serviços de socorro fossem acio-

nados... e agora foi um pouco mais rápido. Enviaram-se rapidamente 80.000 soldados para ver se havia sobreviventes e retirar os cadáveres dos escombros. Por outro lado, para os sobre-viventes, a resiliência foi quase nula. Em uma época em que se utilizam aviões e helicópteros para qualquer coisa, eles poderiam ter deposi-tado ou lançado equipamentos e alimentos para os mais necessitados, inacessíveis por estrada, mas, pelo que parece, não foi assim. Há que dizer que a comunicação não tem sido o forte das autoridades.

Tudo isso vai construir um acúmulo de ex-periências complementares inéditas e muito importantes para os praticantes da gerência de riscos, mas elas continuarão não tendo valor se os diretores das companhias ou os políticos não as utilizarem como deveriam. Só o futuro nos dirá o que eles fizeram com estas experiências.

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informe

2010RANKINGde grupos seguradoresna América Latina

A FUNDACIÓN MAPFRE apresenta, pelo

nono ano consecutivo, o ranking por volume de

prêmios dos 25 maiores grupos seguradores na

América Latina, desta vez relativo a 2010. Foram

elaborados três rankings - Total, Vida e Não Vida -,

e as informações relativas aos seguradores locais e

às multinacionais foram incluídas separadamente.

FUNDACIÓN MAPFRECENTRO DE ESTUDOS

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informe

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RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMÉRICA LATINA 2010 TOTAL

Nº GRUPO PAÍSPrêmio Bilhões

de € %Participação de Mercado RANK

20092010%2009 2010

1 BRADESCO SEGUROS BRASIL 5.834 8.014 37,3 8,9 1

2 MAPFRE¹ ESPANHA 4.284 6.705 56,5 7,4 3

3 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING BRASIL 4.741 5.351 12,9 5,9 2

4 METLIFE² EUA 2.527 3.575 41,5 4,0 4

5 BRASILPREV³ BRASIL 1.528 3.258 113,1 3,6 -

6 SANTADER ESPANHA 2.311 3.239 40,2 3,6 7

7 PORTO SEGURO BRASIL 1.858 3.090 66,3 3,4 8

8 LIBERTY MUTUAL EUA 2.317 2.351 1,4 2,6 6

9 CNP FRANÇA 1.527 2.085 36,5 2,3 9

10 ALLIANZ ALEMANHA 1.267 1.712 35,1 1,9 16

11 G. NACIONAL PROVINCIAL MÉXICO 1.417 1.657 17,0 1,8 11

12 AXA FRANÇA 1.393 1.589 14,1 1,8 13

13 MCS EUA 1.112 1.541 38,6 1,7 21

14 TRIPLE-S PORTO RICO 1.411 1.513 7,2 1,7 12

15 HSBC REINO UNIDO 1.216 1.504 23,7 1,7 17

16 ZURICH SUIÇA 1.328 1.500 23,7 1,7 14

17 SULAMÉRICA BRASIL 14.489 1.338 -10,1 1.5 10

18 GENERALI ITÁLIA 1.146 1.309 14.3 1,4 19

19 BBVA ESPANHA 1.278 1.188 -7,0 1,3 15

20 SURAMERICANA COLOMBIA 805 1.16 38,6 1,2 24

21 MMM HEALTHCARE EUA 947 1.007 6,3 1,1 22

22 AIG EUA 1.213 994 -18,1 1,1 18

23 ACE EUA 656 882 34,4 1,0 26

24 RSA REINO UNIDO 629 830 31,9 0,9 28

25 INBURSA MÉXICO 1.143 781 -31,6 0,9 24

Ranking Total

Total 10 primeiros 28.196 39.380 39,7 43,6

Total 25 primeiros 45.379 58.131 28,1 64,4

Total setor 75.769 90.316 19,2 100,0¹ Inclui BasilVeiculos e Aliança Brasil² Inclui as companhias da ALICO³ Integrada pelo Banco do Brasil e Principal; em rankings anteriores, seus prêmios eram incluidos no Banco do Brasil.

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informe

¹ Inclui a Chartis

Ranking No Vida

Total 10 primeiros 15.893 19.625 23,5 41,4

Total 25 primeiros 23.973 28.859 20,4 60,8

Total setor 42.889 47.460 10,7 100,0

RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMÉRICA LATINA 2010 NÃO VIDA

Nº GRUPO PAÍSPrêmio Bilhões

de € %Participação de Mercado RANK

20092010%2009 2010

1 MAPFRE ESPANHA 3.371 4.969 47,4 10,5 1

2 PORTO SEGURO BRASIL 1.752 2.944 68,0 6,2 3

3 LIBERTY MUNDIAL EUA 2,238 2.252 0,6 4,7 2

4 BRADESCO SEGUROS BRASIL 1.435 1.972 37,4 4,2 5

5 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING

BRASIL 1.728 1.611 -6,8 3,4 4

6 ALLIANZ ALEMANHA 1.101 1.454 32,1 3,1 7

7 AXA FRANÇA 1.062 1.215 14,4 2,6 8

8 SULAMÉRICA BRASIL 1.338 1.127 -15,8 2,4 6

9 G.NACIONAL PROVINCIAL

MÉXICO 912 1.050 15,2 2,2 11

10 ZURICH SUIÇA 56 1.031 7,9 2,2 9

11 GENERALI ITÁLIA 846 979 15,7 2,1 13

12 AIG¹ EUA 809 942 16,5 2,0 14

13 ACE EUA 553 746 34,9 1,6 18

14 TALANX ALEMANHA 526 740 40,7 1,6 19

15 RSA REINO UNIDO 609 705 15,7 1,5 10

16 MERCANTIL VENEZUELA 912 692 -24,2 1,5 10

17 QUÁLITAS MÉXICO 467 589 26,0 1,2 20

18 CNP ASSURANCES FRANÇA 405 563 38,9 1,2 22

19 INBURSA MÉXICO 864 534 -38,2 1,1 12

20 SANTANDER ESPANHA 337 523 55,0 1,1 28

21 SANCOR ARGENTINA 415 495 19,1 1,0 21

22 BBVA ESPANHA 389 450 15,7 0,9 23

23 METLIFE EUA 293 428 46,4 0,9 31

24 CHUBB EUA 337 428 27,0 0,9 27

25 SURAMERICANA COLÔMBIA 317 423 33,2 0,9 29

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¹ Integrada pelo Banco do Brasil e Principal; em rankings anteriores, seus prêmios eram incluídos no Banco do Brasil.

Ranking Vida

Total 10 primeiros 18,418 26,179 42,1 61,1

Total 25 primeiros 25,154 33,856 34,6 79,0

Total setor 32,880 42,856 30,3 100,0

RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMÉRICA LATINA 2010 VIDA

Nº GRUPO PAÍSPrêmio Bilhões

de € %Participação de Mercado RANK

20092010%2009 2010

1 BRADESCO SEGUROS BRASIL 4,399 6,042 37,3 14,1 1

2ITAÚ/UNIBANCO

HOLDINGBRASIL 3,013 3,741 24,2 8,7 2

3 BRASILPREV1 BRASIL 1,528 3,258 113,1 76,6 -

4 METLIFE EUA 2,235 3,147 40,8 7,3 3

5 SANTANDER ESPANHA 1,974 2,717 37,6 6,3 5

6 MAPFRE ESPANHA 913 1,736 90,2 4,1 10

7 MCS EUA 1,112 1,541 38,6 3,6 8

8 CNP FRANÇA 1,122 1,523 35,7 3,6 7

9 TRIPLE-S PORTO RICO 1,294 1,392 7,6 3,2 6

10 HSBC REINO UNIDO 829 1,083 30,7 2,5 12

11 MMM HEALTHCARE EUA 947 1,007 6,3 2,4 9

12 BBVA ESPANHA 889 738 -17,0 1,7 11

13 SURAMERICANA COLÔMBIA 488 693 42,2 1,6 14

14G. NACIONAL PROVINCIAL

MÉXICO 505 607 20,2 1,4 13

15 HUMANA EUA 483 591 22,3 1,4 15

16 NEW YORK LIFE EUA 473 549 16,0 1,3 16

17 BANAMEX MÉXICO 375 531 41,6 1,2 19

18 ZURICH SUÍÇA 372 469 25,9 1,1 21

19FIRST MEDICAL HEALTH PLAN

EUA 373 427 14,5 1,0 20

20PMC MEDICARE

CHOICEPORTO RICO 386 387 0,1 0,9 18

21 AXA FRANÇA 331 374 13,0 0,9 22

22 CONSORCIO CHILE 242 340 40,7 0,8 28

23 GENERALI ITÁLIA 300 330 10,3 0,8 23

24 CARDIF FRANÇA 285 318 11,6 0,7 26

25 ING HOLANDA 286 315 10,1 0,7 25

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informeRANKING DE GRUPOS LOCAIS E DE MULTINACIONAIS

Total 10 primeiros 21,502 26,827 24,8 29,7

Total setor 75,769 90,316 19,2 100,0

Total 10 primeiros 19,316 25,569 32,4 28,3

Total setor 75,769 90,316 19,2 100,0

RANKING DE GRUPOS SEGURADORES NA AMÉRICA LATINA 2010 TOTAL

Nº GRUPO PAÍSPrêmio Bilhões

de € %Participação de Mercado RANK

20092010%2009 20101 BRADESCO BRASIL 5,834 8,014 37,3 8,9 1

2 ITAÚ/UNIBANCO HOLDING BRASIL 4,741 5,351 12,9 5,9 2

3 BRASILPREV BRASIL 1,528 3,258 113,1 3,6 -

4 PORTO SEGURO BRASIL 1,858 3,090 66,3 3,4 4

5 G. NACIONAL PROVINCIAL MÉXICO 1,417 1,657 17,0 1,8 6

6 TRIPLE-S PORTO RICO 1,411 1,513 7,2 1,7 7

7 SULAMÉRICA BRASIL 1,489 1,338 -10,1 1,5 5

8 SURAMERICANA COLÔMBIA 1,143 1,116 -2,4 1,2 8

9 INBURSA MÉXICO 1,143 781 -31,6 0,9 9

10 MERCANTIL VENEZUELA 936 708 -24,4 0,8 10

RANKING DE MULTINACIONAIS SEGURADORAS NA AMÉRICA LATINA 2010TOTAL

Nº GRUPO PAÍSPrêmio Bilhões

de € %Participação de Mercado RANK

20092010%2009 20101 MAPFRE ESPANHA 4,284 6,705 56,5 7,4 1

2 METLIFE ESTADOS UNIDOS 2,527 3,575 41,5 4,0 2

3 SANTANDER ESPANHA 2,311 3,239 40,2 3,6 4

4LIBERTY MUTUAL

ESTADOS UNIDOS 2,317 2,351 1,4 2,6 3

5 CNP FRANÇA 1,527 2,085 36,5 2,3 5

6 ALLIANZ ALEMANHA 1,267 1,712 35,1 1,9 9

7 AXA FRANÇA 1,393 1,589 14,1 1,8 6

8 HSBC REINO UNIDO 1,216 1,504 23,7 1,7 10

9 ZURICH SUÍÇA 1,328 1,500 12,9 1,7 7

10 GENERALI ITÁLIA 1,146 1,309 14,3 1,4 12

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OS 25 MAIORES GRUPOS SEGURADORES DA AMÉRICA LATINA FATURARAM EM 2010, 58,131 BILHÕES DE EUROS, O QUE REPRESENTA 28,1% MAIS QUE NO EXERCÍCIO ANTERIOR

COMENTÁRIOS SOBRE O RANKING

A consolidação da recuperação econômica na maioria dos países da América Latina em 2010 teve seu reflexo no comportamento do setor se-gurador, que obteve crescimentos em todos os mercados, em moeda local e a preços corren-tes. O valor dos prêmios expressado em euros aumentou em 19,2% com relação ao exercício anterior, alcançando um volume de 90,316 bi-lhões1. Este crescimento se viu favorecido pela valorização da maioria das moedas locais frente ao euro, principalmente do real brasileiro e do peso colombiano. Ao contrário, a desvalorização do bolívar em janeiro de 2010 deu lugar a um decréscimo de 35% no volume de prêmios em euros do mercado segurador venezuelano, que contrasta com um crescimento de 23% em mo-eda local.

O Brasil, o maior mercado segurador da Amé-rica Latina, cresceu 17% em moeda local e 39% em euros, impulsionado mais um ano pelo segu-ro de Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL), produto que tem sua distribuição concentrada no canal bancário e que conta com incentivos fiscais. No México, o segundo maior mercado, o incremento do setor (sem incluir Pensões) foi de 1% em moeda local e 14% em euros. A evolu-ção dos segmentos Não Vida foi negativa, devi-do ao fato de que a renovação da apólice integral multianual de seguros da Petróleos Mexicanos (PEMEX) se deu em 2009, e em 2010 não houve emissão.

O declínio dos prêmios na Venezuela coloca Porto Rico de novo como o terceiro maior mer-cado segurador da região, com um volume de prêmios de de 7,943 bilhões de euros. Tais

faturamentos representam uma subida de 6% com relação ao exercício anterior, graças ao crescimento do segmento de Saúde (10%). Os outros três maiores mercados, Chile, Argenti-na e Colômbia, registraram aumentos em eu-ros de 37%, 10% e 29%, respectivamente.

RANKING TOTAL

Em 2010, os 25 maiores grupos seguradores da América Latina faturaram 58,131 bilhões de euros, 28,1% a mais que em 2009, e acumulam 64,4% dos prêmios da região, quase três pontos mais que no ano anterior.

Nos dez primeiros grupos a concentração aumentou cinco pontos, chegando a 43,6%, algo muito relacionado com a evolução do mercado segurador brasileiro, já que quatro dos dez maiores grupos são brasileiros e os seis restantes têm uma filial nesse país. O cresci-mento de prêmios do mercado brasileiro au-mentou significativamente pela valorização

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informe

do real brasileiro frente ao euro. Além disso, en-tre os fatores que influenciaram na maior con-centração, destacam-se os movimentos empre-sariais que aconteceram em 2010, entre eles o acordo firmado entre a MAPFRE e o Banco do Brasil, e a compra da filial de seguros de Vida da AIG, American Life Insurance Company (ALI-CO), pela MetLife.

O ranking está mais uma vez encabeçado pelo brasileiro Bradesco, com um volume de prêmios de 8,014 bilhões de euros. Em 2010 este grupo aumentou seu faturamento em 37,3% e sua par-ticipação de mercado em algo mais que um pon-to, chegando a 8,9% (7,7% em 2009). Em seguida vem o grupo MAPFRE, que sobe uma posição na classificação e aumenta sua participação em 1,7 ponto, graças ao acordo firmado com o Banco do Brasil. O acordo se materializou com a criação de duas holdings (BB-MAPFRE, para o negó-cio de Vida e Agrário, e MAPFRE-BB, para os negócios de Autos e Seguros Gerais), nas quais foram integradas as entidades filiais seguradoras de ambos os grupo no Brasil.

O Itaú/Unibanco passa do segundo para o terceiro lugar2, e a MetLife mantém a quarta po-sição, aumentando sua participação de mercado em sete décimos. A companhia Brasilprev3, in-tegrada pelo Banco do Brasil e pelo grupo Prin-cipal, ocupa o posto número cinco graças ao ex-traordinário crescimento de seus prêmios pela venda do produto VGBL.

Em geral, à margem das fusões e aquisições realizadas no exercício, as principais causas que influenciaram as mudanças de posição na clas-sificação do exercício 2010 são as que foram co-mentadas na primeira parte do estudo:

a forte valorização das moedas locais frente ao euro, especialmente o real brasileiro e o peso colombiano, que favoreceu o crescimento dos grupos com filiais de tais países. A influência da valorização do peso mexicano também foi po-sitiva, se considerarmos que é o segundo maior mercado da região. No entanto, apesar de o mer-cado venezuelano continuar crescendo em mo-eda local, a desvalorização do bolívar no início do ano produziu um efeito contrário ao descrito anteriormente.

As elevações mais importantes foram as da MCS - companhia especializada em Vida e Saú-de de Porto Rico, que sobe oito posições depois de integrar a carteira de Saúde de Cooperativa de Seguros - e a Allianz -, que passa da décima sexta para a décima posição graças a crescimen-tos em todos os mercados da região onde opera, principalmente no Brasil, Colômbia e México. No sentido oposto, a SulAmérica desce da déci-ma para a décima sexta posição após a venda de sua participação de 60% na Brasilveículos para o Banco do Brasil. O espanhol BBVA baixa quatro postos em consequência da queda nos prêmios de suas filiais no México e na Colômbia.

Finalmente, há que mencionar a saída dos grupos venezuelanos Mercantil e La Previsora, que tinham entrado no ranking em 2009. Subs-tituindo-os estão o ACE, dos Estados Unidos, e o britânico RSA. O grupo norte-americano volta a fazer parte do ranking após sua saída no ano anterior.

RANKING NÃO VIDA

Os 25 maiores grupos seguradores do seg-mento Não Vida alcançaram uma participação de mercado de 60,8% em comparação aos 58% de 2009. A concentração aumentou mais nos dez primeiros grupos, cuja participação cresceu qua-tro pontos, chegando a 41,4%.

OS DEZ PRIMEIROS GRUPOS SEGURADORES DO SEGMENTO NÃO VIDA NA AMÉRICA LATINA AUMENTAM SUA PARTICIPAÇÃO DE MERCADO EM QUATRO PONTOS, CHEGANDO A 41%

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O motivo principal desta subida é novamente a influência do mercado segurador brasileiro e o acordo da MAPFRE com o Banco do Brasil. Por um lado, e ao contrário do que ocorreu em 2009, a contribuição das companhias mexicanas tam-bém foi positiva, fato favorecido pela valorização do peso mexicano frente ao euro.

Com um crescimento de 47,4%, a MAPFRE continua como líder do ranking Não Vida e acu-mula 10,5% dos prêmios deste segmento, 4,969 bilhões de euros, 2,6 pontos a mais que no exer-cício anterior. Os motivos que propiciaram este crescimento são o bom comportamento de todas as suas filiais na região e o fato de haver incluí-do o faturamento da Brasilveículos e Aliança do Brasil em virtude da aliança firmada em 2010 com o Banco do Brasil.

O acordo firmado entre o Itaú/Unibanco e a Porto Seguro em 2009 continua impulsionando o crescimento da Porto Seguro, que supera a Li-berty e se situa no segundo lugar da classifica-ção. O Bradesco, com um volume de prêmios de 1,972 bilhões de euros, se coloca na quarta posição e desloca o Itaú/Unibanco para o quinto posto.

Sobre o restante das mudanças de posição no ranking, deve-se mencionar os declínios do gru-po venezuelano Mercantil, por efeito da desvalo-rização do bolívar (seus prêmios cresceram 11% em moeda local), e do Inbursa, por este grupo ser o favorecido da apólice multianual da PE-MEX. Também devem ser destacadas as inclu-sões do Santander, da MetLife, da Chubb e da Suramericana colombiana (Grupo Sura).

RANKING VIDA

Os 25 grupos seguradores que compõem o ranking de Vida auferiram 33,856 bilhões de eu-ros em prêmios, 34,6% a mais que no exercício anterior. A concentração aumentou ligeiramente (seis décimos) nos 25 maiores grupos e pouco mais de três pontos nos dez primeiros.

Os três primeiros postos da classificação es-tão ocupados por grupos brasileiros, liderados mais um ano pelo Bradesco, que em 2010 aufe-riu 6,042 bilhões de euros em prêmios. Bastan-te atrás dele está o Itaú/Unibanco, com fatura-mento de 3,741 bilhões de euros. A companhia Brasilprev4 teve um crescimento extraordinário, 113,1% (79% em moeda local), graças à venda do produto VGBL, o que a coloca no terceiro lugar, à frente da MetLife, que também obteve uma elevação importante de sua receita graças à compra do negócio de Vida da AIG.

Os maiores movimentos da classificação de 2010 foram a subida da MAPFRE, que pas-sa da décima para a sexta posição pela operação do Banco do Brasil, e o da Zurich, que sobe três postos graças aos crescimentos de todas as suas filiais, especialmente da sua companhia chilena. Como novidade, cabe citar as inclusões do chi-leno Consorcio e da francesa Cardif e a saída da AIG - após a venda da ALICO para a MetLife - e do grupo colombiano Bolívar.

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informe

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RANKING DE GRUPOS LOCAIS E RANKING

DE MULTINACIONAIS

Não há nenhuma variação na composição do ranking de grupos locais. O Bradesco continua sendo o líder, aumentando a distância de seu se-guidor imediato, o também brasileiro Itaú/Uni-banco.

A MAPFRE continua liderando a classifica-ção de multinacionais na América Latina, segui-da da MetLife e do Santander. Com um cresci-mento de 40,2%, o grupo espanhol ultrapassou o volume de prêmios da Liberty Mutual e está posicionada em terceiro lugar. A saída do grupo BBVA desta classificação, como consequência da diminuição de seus prêmios na Colômbia e no México, permite a inclusão da Generali, graças ao crescimento generalizado das companhias do grupo na região, especialmente na Argentina e no México.

METODOLOGIAPara elaborar estas informações, seguiu-se a

mesma metodologia que a dos anos anteriores. Os dados foram obtidos das informações publi-cadas pelos órgãos de controle de seguros dos diversos países, e o volume de prêmios de cada grupo é a soma dos prêmios emitidos em cada país. Para calcular os dados, foram consideradas as fusões e aquisições anunciadas no exercício.

É importante destacar que, na hora de elabo-rar este tipo de estudo, existe uma complicação,

¹ Não inclui o seguro de Saúde no Brasil, as Rendas Vitalícias e os seguros de Aposentadoria na Argentina e as Pensões no México.

² Em 2009, o Itaú/Unibanco e a Porto Seguro selaram um acordo para unificar seus negócios de seguros de Automóveis e de Residência, criando uma nova empresa, a Itaú Seguros de Auto e Residência, controlada pela Porto Seguro.

³ Em edições anteriores deste ranking, os prêmios desta companhia estavam incluídos no Banco do Brasil.

4 Em edições anteriores deste ranking, os prêmios desta companhia estavam incluídos no Banco do Brasil.

5 Por este motivo e pelas diferenças na composição dos segmentos Vida e Não Vida, o dado sobre o volume total de prêmios Vida e Não Vida deste estudo é diferente do publicado pela FUNDACIÓN MAPFRE no relatório El mercado assegurador iberoamericano.

que se deve à composição diversa dos segmen-tos Vida e Não Vida em cada um dos países. De modo geral e sempre foi possível, os segmentos de Saúde e Acidentes foram incluídos nos seg-mentos Não Vida, mas não se pôde aplicar este critério, por exemplo, em Porto Rico, onde o segmento de Incapacidade (Saúde) é considera-do um segmento de Vida. De fato, os maiores seguradores de Vida e Saúde de Porto Rico são principalmente seguradores de Saúde, sendo que alguns deles estão entre os 25 maiores grupos de Vida da América Latina.

Por outro lado, no Brasil não foram consi-deradas as contribuições de Previdência Privada nem os prêmios do seguro de Saúde - sob o con-trole da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) -, na Argentina não se incluem as Rendas Vitalícias e os seguros de Aposentadoria, e no México se excluem as Pensões5.

Para a conversão em euros dos dados expres-sos em outras moedas, utilizou-se o tipo de câm-bio médio de cada ano. As taxas de crescimento são calculadas sobre os faturamentos em euros.

Os rankings podem ser obtidos na seção de publicações eletrônicas do ‘Instituto de Ciencias del Seguro’ da FUNDACIÓN MAPFRE, no endereço de Internet:www.fundacionmapfre.com/cienciasdelseguro.

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

Lorca:Lorca:terremotos

ALICIA OLIVAS

A CIDADE MURCIANA ENFRENTA SUA RECUPERAÇÃO APÓS OS TREMORES DE 11 DE MAIO

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na Cidade do SolA ciência atual ainda não permite predizer desastres como os que viveu Lorca (região de Múrcia) durante o último mês de maio, mas o acionamento rápido e eficaz de planos de emergência é fundamental para superar crises desta natureza.

No dia 11 de maio último, às cinco e cinco da tarde, um terremoto de magnitude

4,5 graus na escala Richter sacudiu a cidade murciana de Lorca, o ter-ceiro município mais importante da comunidade autônoma, instauran-do o pânico na população lorquia-na. Mas o pior estava por vir, já que uma hora e 40 minutos mais tarde a terra voltou a tremer, desta vez com mais força, com um novo sismo de magnitude 5,1, que provocou oito mortos - aos quais se somaria mais um no dia seguinte -, centenas de feridos e enormes destroços mate-riais em edifícios e no patrimônio artístico.

E este terremoto não foi mais um numa zona acostumada a este tipo de movimentos. Trata-se de um dos sinistros mais graves acontecidos na Região de Múrcia, segundo a Rede Sísmica do Instituto Geográfico Nacional. Além disso, na Espanha

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

O TERREMOTO DE 11 DE MAIO FOI UM DOS SINISTROS MAIS GRAVES OCORRIDOS NA REGIÃO DE MÚRCIA, SEGUNDO A REDE SÍSMICA DO INSTITUTO GEOGRÁFICO NACIONAL

não havia vítimas mortais cau-sadas por terremoto desde 28 de fevereiro de 1969, quando um terremoto de 7,8 graus le-vou a vida de sete pessoas na costa de Huelva.

O epicentro dos tremores se situou a sete quilômetros da zona urbana, na serra de Tercia. Os efeitos dos sismos foram sentidos em outras po-pulações murcianas, como a capital, Mazarrón, Cartagena e Águilas, e também mais lon-ge, em Almería, Jaén, Málaga, Granada, Sevilha..., e em algu-mas zonas de Madri, como a praça de Castilla ou o povoado de Vallecas, que estão assenta-dos sobre rochas de calcário, terrenos que amplificam o tre-mor.

Milhares de pessoas dormi-ram a céu aberto nesse dia por medo de possíveis réplicas, e durante a noite aconteceram cerca de 30 tremores.

INTERVENÇÃO RÁPIDA E EFICAZ

O conselheiro da Presidência da Comunidade Murciana, Ma-nuel Campos, em seu compare-cimento no dia 14 de setembro último para informar sobre as atuações e os agentes operacio-nais aplicados em Lorca após os terremotos, disse que “este tris-te acontecimento pôs à prova a ação e a coordenação de todos os efetivos que participaram do dis-positivo, que com seu extraordi-nário esforço e dedicação mini-mizaram os efeitos do terremoto, um dos mais graves acontecidos na Espanha”.

As primeiras chamadas ao 112, após o primeiro sismo, aler-taram imediatamente sobre a gravidade dos fatos, o que deter-minou que, do Centro de Coor-denação, se ativassem os bombei ros do ‘Consorcio de Extinción y

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OS PLANOS EMERGENCIAIS DA COMUNIDADE E DA PREFEITURA MOBILIZARAM EM POUCO TEMPO MILHARES DE EFETIVOS DE SETE GRUPOS DE AÇÃO

Salvamento’ da Região de Múr-cia e as ambulâncias do 061, que de imediato acudiram as diferen-tes zonas de Lorca onde seus ser-viços haviam sido solicitados.

A Prefeitura de Lorca ativou seu Plano Municipal de Emer-gências, e o governo autônomo fez o mesmo com o Plano Espe-cial de Proteção Civil ante o Ris-co Sísmico na Região de Múrcia (SISMIMUR), primeiro em ní-vel 1 e depois em nível 2, confor-me o desastre crescia. Do Posto de Mando Avançado, situado no Huerto de la Rueda, se coorde-naram as atuações dos sete gru-pos de ação:

O Grupo de Intervenção - do qual participaram quase 1.350 bombeiros e 600 efetivos da Unidade Militar de Emergências - se encarregou de reduzir e controlar os efeitos dos terremotos.

O Grupo de Avaliação Sísmica - em que trabalharam mais de 200 voluntários, entre arquitetos, construtores e engenheiros civis - realizou trabalhos de estabilização de estruturas nas moradias, para que ficassem seguras.

O Grupo de Restabelecimento de Serviços Essenciais supervisionou os danos produzidos nas infraestruturas principais, procurando a rápida recuperação dos serviços básicos

O Grupo Sanitário se encarregou de que 1.100 pessoas fossem atendidas; 153, transferidas de ambulância, e 392, evacuadas dos hospitais Rafael Méndez e Virgen del Alcázar para outros centros da região.

O Grupo de Ordem se ocupou da segurança dos cidadãos e da ordem pública na zona afetada, assim como de regular o tráfego, o controle de acessos e a identificação das vítimas, com a colaboração da Polícia Local, 445 efetivos do Corpo Nacional de Polícia e outros 500 da Guardia Civil.

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O TERREMOTO RESULTOU EM DANOS MATERIAIS NO VALOR DE 1,2 BILHÕES DE EUROS, E TAMBÉM AFETOU UMA RODOVIA ESTATAL

O Grupo de Apoio Logístico forneceu todos os equipamentos necessários para o desenvolvimento das atividades de todos os grupos.

E, por fim, o Grupo de Ação Social organizou a infraestrutura necessária para atender os danificados em todos os aspectos sociais derivados da emergência.

“Em suma, milhares de pro-fissionais trabalharam sem des-canso durante dias para garantir a segurança dos cidadãos e a or-dem pública nas zonas afetadas, atender pedidos de ajuda, dar assistência sanitária, restabelecer no menor tempo possível os ser-viços essenciais, supervisionar os danos produzidos nas moradias e sua habitabilidade, fornecer o abastecimento necessário e aten-der a todos os aspectos sociais derivados da emergência”, apon-tou Campos.

INÚMEROS DANOS

Após o desastre, Lorca apre-sentava um panorama desolador: edifícios destruídos, fachadas se-veramente danificadas, pisos ra-chados... Os danos diretos e indi-retos do sinistro sobem, segundo fontes seguradoras, a cerca de 1,2 bilhão de euros.

Mais de uma centena de téc-nicos examinaram os edifícios afetados pelo terremoto, classi-ficando-os em “verdes” (quan-do não havia problemas para sua ocupação e acesso), “amarelos” (aos que se poderia acessar com precaução para retirar utensílios, por exemplo) e “vermelhos” (nos que era proibida a entrada), co-meçando as tarefas de limpeza e remoção de escombros.

Um dos feridos graves faleceu após o sismo, elevando para nove o número de vítimas do terre-moto.

A Comunidade Autônoma decidiu suspender as aulas nas escolas, institutos e Universida-de, não autorizando sua abertura até avaliar os danos nas instala-ções. Além disso, foi necessário evacuar os doentes do hospital da localidade e transferi-los para municípios vizinhos. O mesmo ocorreu com algumas residências e centros de idosos.

O Ministério de Fomento in-formou em um comunicado que as infraestruturas da Rede do Estado em Múrcia não haviam sofrido danos importantes que tanto os portos da comunidade quanto o aeroporto de

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A FALHA DE ALHAMA DE MÚRCIA, QUE PASSA UNS 2 QUILÔMETROS A NORDESTE DE LORCA, É CONSIDERADA PELO RELATÓRIO PRELIMINAR COMO A RESPONSÁVEL PELO TERREMOTO

de Múrcia, San Javier, não ha-viam sido afetados pelo terre-moto. A A-7 foi a única rodo-via estatal que ficou danificada, e em alguns túneis e viadutos dela houve alguns danos me-nores. Quanto ao tráfego fer-roviário, houve problemas no serviço de Cercanías (trens de subúrbio) e na linha de percur-so longo Barcelona-Lorca, mas, segundo destacaram as fontes de Renfe, apenas 70 pessoas fo-ram afetadas.

CAUSAS DO SINISTRO

Poucas horas depois do even-to, deslocou-se para a área um grupo de especialistas em geolo-gia de terremotos de várias ins-tituições: Instituto Geológico e Mineiro (IGME); Grupo de Tec-tônica Ativa, Paleosismicidade e Riscos; Associações da Univer-sidade Complutense de Madri; Universidade Autônoma de Ma-dri (UAM) e Universidade Rei Juan Carlos de Madri (URJC), com o propósito de coletar todos os dados do sinistro.

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O Consórcio de Seguros já pagou 181 milhões aos afetados

se evidenciam seu caráter ativo e seu alto potencial sismogenético, segundo o relatório. Ela se esten-de ao longo da borda noroeste da depressão do Guadalentín, desde as proximidades de Alcantarilla até os arredores de Góñar, na Almería, alcançando uma longitude total de pelo menos 85 quilômetros. A es-trutura da falha em sua passagem por Lorca é bastante complexa: ela sofre uma ligeira mudança de direção e podem existir várias ra-mificações ativas da falha no subs-trato da zona urbana.

Os especialistas também con-cluem que os enormes danos cau-sados pelo terremoto de 5,1 se de-vem à sua pouca profundidade e à sua localização, muito próxima à cidade, o que explica a aceleração que se produziu, muito alta para um terremoto dessa magnitude. E, em comparação com outros terremotos que afetaram o plane-ta nestes anos, o de Lorca foi de

O relatório preliminar aponta em suas conclusões que a Falha de Alhama de Múrcia é pro-vavelmente a responsável pelo sismo. A posição dos epicen-tros, tanto do terremoto prin-cipal de magnitude 5,1 quanto do terremoto de magnitude 4,5 ocorrido duas horas antes

coincidem espacialmente com a localização do desenho da Falha de Alhama de Múrcia (FAM), situada a uns 2 quilômetros a nordeste da cidade de Lorca.

A FAM tem sido objeto de diversos trabalhos de caráter estrutural, neotectônico, sismo-tectônico e paleosísmico em que

Papel do setor segurador

O Consórcio de Compensação de Seguros (CCS) já pagou aos cidadãos de Lorca prejudicados pelos terremotos de 11 de maio indenizações que somam 181,7 milhões de euros, segundo informou este organismo dependente do Ministério da Economia no dia 21 de setembro. Até essa data haviam sido registrados 28.510 pedidos de indenização, dos quais 25.283 correspondem a moradias e 2.538 a comércios e escritórios que sofreram danos em consequência dos sismos ocorridos há cinco meses.

Assim, do total de pedidos recebidos, o órgão público pagou, de forma definitiva ou mediante abono de adiantamentos como sinal da indenização final, o correspondente a 22.924 processos. Essa quantidade representa 84,8 por cento do total de pedidos de indenização recebidos pelo Consórcio de Seguros até o dia 15 de agosto passado.

O Consórcio estimou a princípio que este terremoto lhe implicaria um custo aproximado de 70 milhões de euros e a tramitação de mais de 30.000 processos. Em meados

de setembro, e ainda sem encerrar definitivamente o sinistro, o CCS havia recebido mais de 28.500 reclamações, pelas quais já pagou quase 182 milhões de euros.

Após o desastre, a maioria das seguradoras montaram mecanismos especiais para informar seus segurados sobre os passos necessários para solicitar a indenização ao CCS, como a MAPFRE, que no dia seguinte ao do sinistro abriu um escritório móvel para atender seus clientes, escritório que, ainda por cima, substituía temporariamente as três delegações que a seguradora tinha na localidade, já que também foram afetadas pelo terremoto. De sua parte, a FUNDACIÓN MAPFRE entregou um donativo de 250.000 euros para impulsionar a atividade comercial do município. Esta ação se somou a outras realizadas pelo Instituto de Ação Social da FUNDACIÓN MAPFRE em Lorca, entre elas o plano de ajuda humanitária realizado para os prejudicados pelo terremoto dias depois da tragédia.

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71G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

A PROXIMIDADE DO EPICENTRO DO TERREMOTO À ZONA URBANA E À SUPERFÍCIE MULTIPLICARAM OS EFEITOS DESTRUTIVOS DO SISMO

de escombros e assegurar corni-jas, entre outras reformas, para permitir a entrada dos lorquia-nos aos edifícios que não haviam sofrido danos estruturais. No dia 16 de maio, o Consistório anun-ciou que naquele momento 75% dos 4.100 edifícios examinados eram habitáveis.

Escolas, institutos e a Univer-sidade de Múrcia no campus de Lorca reiniciaram as aulas após comprovarem que as instalações não apresentavam danos estrutu-rais e depois de consertarem os estragos observados.

No dia 25 de maio foi consti-tuída em Lorca a Comissão Mis-ta criada pelo Real Decreto-Lei 6/2011, pelo qual se adotavam medidas urgentes para reparar os danos causados pelos movimen-tos sísmicos do mês de maio na cidade. O objetivo desta comis-são é avaliar e quantificar as aju-das concedidas a

uma magnitude importante, mas moderada.

Portanto, a proximidade do epicentro ao centro urbano e à superfície (menos de 5 quilô-metros) multiplicaram os efeitos destrutivos do sismo, ocasio-nando inúmeros danos às cons-truções. Além disso, as normas de edificação em Lorca previam um coeficiente de amplificação máximo de 0,12 g. No entanto, os sismos registrados no dia 11 de maio chegaram a um nível de 0,36 g, ou seja, o triplo do previs-to para este terreno pela Norma Sismo-resistente de 2002.

RESTABELECER A ORDEM

Pouco a pouco se conseguiu restabelecer a ordem. O traba-lho de reabilitação se centrou em realizar obras de escoramento de acessos, remoção

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particulares, em virtude dos pe-didos apresentados, para arren-damento, reconstrução, reabi-litação ou conserto de moradias que constituam o domicílio ha-bitual, assim como para a repo-sição de utensílios de primeira necessidade. No dia 18 de julho esta comissão aprovou as primei-ras 217 ajudas a pessoas prejudi-cadas pelos terremotos, por um valor de cerca de um milhão de euros; posteriormente se soma-

A Comunidade de Múrcia pertence à zona com mais atividade sísmica da Espanha, junto à Andaluzia e à Catalunha. Historicamente, a região sofreu uma boa quantidade de eventos danosos. Os catálogos de sismicidade histórica indicam que nos últimos 500 anos foram registrados mais de dez sismos de intensidade (MSK) maior ou igual a VIII, que causaram inúmeros danos humanos e materiais. Muitos desses tremores foram associados à Falha de Alhama de Múrcia, a causadora dos terremotos registrados em 11 de maio passado. Estima-se que esta falha seja capaz de produzir sismos de magnitude entre 6,5-7,0 graus a cada 2.000 anos.

Entre os movimentos mais importantes dos últimos anos destaca-se a série sísmica de La Paca-Aviles-Zarcilla de Ramos, ocorrida dia 29 de janeiro de 2005, com uma intensidade de 4,7 graus de magnitude, que causou destroços em cerca de mil edifícios, ainda que dessa vez não tenha havido vítimas mortais . Mas estes não são os únicos tremores

Periculosidade sísmica de Múrciadesastrosos ocorridos na região. Em fevereiro de 1999 a região perto de Mula foi sacudida por vários terremotos com magnitudes próximas a 5 graus, ocasionando graves danos e um grande alerta social. E em agosto de 2002, a localidade de Bullas se viu afetada por movimentos telúricos moderados, com magnitudes inferiores a 5 graus, mas que também causaram prejuízos importantes.

Mais recentemente, no dia 11 de setembro último, um sismo de 3,1 graus sacudiu Aledo e várias aldeias lorquianas, semeando o alarme entre os vizinhos, quando se completavam quatro meses da catástrofe. Felizmente, o terremoto não deixou danos significativos. Dias mais tarde, o Instituto Geográfico Nacional detectou três novos terremotos com magnitudes entre os 2,2 e 1,5 graus, mas em nenhum deles consta que tenha havido danos ou alarme entre os vizinhos.

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73G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 1 - 2 0 1 1

ALÉM DOS DANOS NAS MORADIAS, O TERREMOTO CAUSOU UMA CATÁSTROFE PATRIMONIAL DE ENORME MAGNITUDE

ram outras 462, pelo valor de 2.205.427,80 euros, dia 24 de agosto; e outras 1.763 ajudas adi-cionais, no valor de 8.812.603,99 euros, dia 3 de outubro.

Mas em alguns casos a recu-peração não foi possível. O vere-ador de Urbanismo da Prefeitura de Lorca, José Joaquín Peñar-rubia, informou no dia 6 de se-tembro que um total de 1.164 moradias e 45 galpões, armazéns e outros tipos de construção ti-veram de ser derrubados em consequência dos danos causa-dos pelos tremores, o que signifi-cava uma superfície total demo-lida de 164.458 m2. A zona mais afetada foi o bairro de La Viña, considerado como a zona zero da tragédia, onde três quarteirões inteiros desapareceram.

DANOS AO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO

Independentemente das vítimas mortais, outra das consequências mais graves desses terremotos foi a perda de uma parte impor-tante do patrimônio histórico da cidade. O conselheiro de Cul-tura e Turismo, Pedro Alber-to Cruz, qualificou o desastre como “a maior catástrofe patri-monial ocorrida na Europa nos últimos anos”.

Os bens materiais que se en-contram nos edifícios catalogados como Bem de Interesse Cultural sofreram apenas estragos - exceto algumas peças do Museu Arque-ológico -, mas os observados nos edifícios são “catastróficos”. Na Colegiada de São Patrício, do sé-culo XVIII, alguns de seus piná-

culos e capitéis de pedra calcária vieram abaixo com o tremor de terra. Outra das construções mais emblemáticas da cidade, o castelo de Lorca, também foi fortemente danificada. Do mesmo modo, há destroços significativos na ermida de São Clemente e no convento da Virgen de las Huertas, dois dos elementos arquitetônicos de mais destaque do patrimônio lorquia-no. Além disso, há danos estrutu-rais em quase todas as paróquias, e algumas delas estão quase em ruínas.

A administração autônoma, em colaboração com a Prefeitura e o Ministério da Cultura, em-preendeu uma série de medidas urgentes. A primeira foi a evacu-ação dos bens materiais que guar-dam os edifícios históricos que, de modo geral, se encontram em bom estado. Também está sendo feito, em colaboração com em-presas privadas, um escoramento das construções. Por último, está se completando uma “exaustiva” documentação gráfica de todos os lugares visitados pelos técni-cos, caso seja necessário reintegrar seus elementos arquitetônicos ou pictóricos.

APRENDER COM O DESASTRE

“Temos que extrair todas as lições possíveis do terre-moto de Lorca.” Assim se ex-pressou o presidente da Ilustre Ordem de Geólogos (ICOG), Luis Suárez, durante um de-bate organizado por essa Or-dem, em meados de junho, para analisar as consequências e a repercussão do terremoto

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Decálogo da Ilustre Ordem de Geólogos

para minimizaro risco sísmico

na Espanha

que a localidade murciana sofreu em 11 de maio. Na opinião do presidente do ICOG, o terremo-to de Lorca “deve estabelecer um antes e um depois” na prevenção de riscos naturais na Espanha. “Seria inaceitável que, em dez ou quinze anos, se voltar a acontecer um sismo semelhante, ele tivesse as mesmas consequências catas-tróficas”, acrescentou Suárez.

A Ordem de Geólogos apre-sentou às administrações pú-blicas, meios de comunicação e diferentes partidos políticos um decálogo de medidas para evitar que catástrofes naturais futuras, não apenas terremotos produ-zam grandes danos materiais e pessoais.

Entre suas propostas, preten-dem abordar a reforma da Nor-ma de Construção Sismo-re-sistente (do ano 2002) no prazo “mais breve possível”, de forma que ela pegue as experiências de Lorca e estabeleça com “maior rigor” a necessidade de cumprir os requisitos antissísmicos e in-corpore contribuições de paleo-sismicidade e falhas ativas.

Além disso, a Ordem insta a “potenciar” a realização de estu-dos de periculosidade e vulne-rabilidade sísmica, assim como reformar a Inspeção Técnica de Edifícios, para que se exija nas zonas de periculosidade a adap-tação dos edifícios à norma sis-

Medidas a serem implementadas pela Administração Geral do Estado

1. Abordar a reforma da Norma de Cons-trução Sismo-resistente: parte geral e edificação (NCSR-02), aprovada pelo RD 997/2002, para que, no prazo mais breve possível, colete as experiências do terre-moto de Lorca, estabeleça com maior rigor a necessidade de cumprimento dos requi-sitos anti-sísmicos e incorpore as contri-buições da paleosismicidade e das falhas ativas. O ICOG se oferece para participar da Comissão Permanente das Normas Sismo-resistentes, junto a outras ordens profissionais competentes na matéria.

2. Potenciar a realização dos estudos de periculosidade e vulnerabilidade sísmi-ca pelo Instituto Geológico e Mineiro da Espanha (IGME), tomando como modelo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), o melhor serviço geológico e sis-mológico do mundo.

3. Reformar a Inspeção Técnica de Edifícios (ITE), para que se exija nas zonas de periculosidade sísmica a adaptação dos edifícios à Norma Sismo-resistente em cinco anos.

4. Abordar a obrigatoriedade da validação dos estudos geotécnicos na edificação, com o propósito de reforçar os controles de segurança no que concerne às condi-ções geotécnicas do solo, especialmente do risco sísmico.

Em nível autônomo e local

5. Impulsionar os órgãos legislativos de to-das as autonomias para que desenvolvam o vigente Texto Refundido da Lei do Solo, na verdade seu artigo 15, onde se estabe-lece a obrigatoriedade de elaborar mapas de riscos naturais nos relatórios de susten-tabilidade dos Planos Gerais de Ordenação Urbana, harmonizando esses instrumentos com as normas de edificação.

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O TERREMOTO DE LORCA DEVE ESTABELECER “UM ANTES E UM DEPOIS” NA PREVENÇÃO DE RISCOS NATURAIS NA ESPANHA, SEGUNDO A ORDEM DE GEÓLOGOS

6. Gerir, por par te das assessorias com-petentes na ordenação do território das comunidades autônomas situadas em zonas de periculosidade sísmica, a ela-boração de estudos de periculosidade e vulnerabilidade sísmica, a fim de que se adotem medidas de prevenção na tipolo-gia das construções, nos usos do solo, nas restrições urbanísticas e nas vias de comunicação. Para esses efeitos, o ICOG se coloca à disposição das comunidades autônomas que solicitarem seus conhe-cimentos.

7. Realizar cursos de sensibilização e de formação para o pessoal técnico dos municípios por meio da FEMP, tomando como referência o “Guia metodológico para a elaboração de car tografias de riscos naturais na Espanha”, elabora-

do pelo ICOG em colaboração com o extinto

Ministério da Moradia como referência o “Guia metodológico para a elaboração

de car tografias de riscos naturais na Espanha”, elaborado pelo ICOG em co-laboração com o extinto Ministério da Moradia.

8. Informar aos cidadãos residentes em zo-nas de risco sísmico sobre as condutas de autoproteção adequadas durante e imediatamente após a ocorrência de um terremoto. Com isso, se evitariam mui-tas vítimas mor tais em plena rua, devido fundamentalmente ao desprendimento de cornijas, tapumes, sacadas ou ao co-lapso de prédios. Também se deveriam elaborar manuais de prevenção de riscos sísmicos que possam ser distribuídos no ambiente escolar.

9. Aprovação de um plano de reabilitação dos edifícios construídos antes da pro-mulgação das normas sismo-resistentes, especialmente as infraestruturas críticas e aqueles a que se referiu como de espe-cial impor tância na Norma de Construção

Sismo-resistente, par te geral e edifica-ção (NCSR-02), tais como hospitais, edi-fícios de comunicações, de bombeiros, depósitos de água e gás, centrais elé-tricas, etc.

10. Melhorar os mecanismos de controle do cumprimento da Norma Sismo-resistente nos projetos de edifícios, mediante a validação de projetos e cer tificados de cumprimento da Norma Sismo-resistente pelas ordens profissionais. Atualmente existem duas modalidades de controle: por par te do projetista, através das pre-feituras e ordens de arquitetos, e uma segunda, através dos órgãos de controle técnico (OCT). Seria necessário introdu-zir um terceiro mecanismo de verifica-ção, através de amostras por par te das administrações, mediante o recrutamen-to de técnicos competentes nas atuações sobre o terreno.

mo-resistente “em cinco anos”. Igualmente, ela pede que se aborde a obrigatoriedade da va-lidação dos estudos geotécnicos na edificação, para reforçar os controles de segurança, no que concerne às condições geotécni-cas, e que a responsabilidade civil recaia sobre a ordem profissional e o signatário da validação.

Em nível autônomo e local, a Ordem de Geólogos pede que se impulsione o desenvolvimen-to do Texto Refundido da Lei do Solo Estatal e sobretudo seu

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SISMIMUR, um plano necessárioA alta sismicidade da região justifi-

ca a necessidade de se dispor na co-

munidade autônoma do Plano Especial

de Proteção Civil ante o Risco Sísmico

na Região de Múrcia (SISMIMUR), que

assegura a intervenção eficaz e coor-

denada dos recursos e meios dispo-

níveis, com o propósito de limitar as

consequências dos possíveis terremo-

tos que se possam produzir sobre as

pessoas, os bens e o meio ambiente,

como ocorreu no último 11 de maio.

Neste documento se detalham a

periculosidade sísmica, a estimativa da

vulnerabilidade e o risco sísmico em ter-

mos de danos. Também se elabora um

catálogo de elementos de risco para as

construções de especial impor tância,

que estão localizadas em zonas onde

a intensidade possa ser igual ou supe-

artigo 15, onde se estabelece a obrigatoriedade da elaboração de mapas de riscos naturais nos relatórios de sustentabilidade dos Planos Gerais de Ordenação Urbana.

Igualmente, a ordem profis-sional propõe também elaborar estudos de periculosidade e vul-nerabilidade sísmica e se coloca à disposição das comunidades autônomas que solicitarem sua colaboração.

Por outro lado, ela considera que é necessário implantar me-didas e meios para a sensibiliza-ção e formação do pessoal téc-nico, assim como dos cidadãos,

O CONGRESSO DOS DEPUTADOS APROVOU EM SETEMBRO UM PLANO DE RECONSTRUÇÃO COM NOVAS MEDIDAS PARA CONSEGUIR QUE A CIDADE VOLTE A SER A “CABEÇA ECONÔMICA” DA COMARCA

rior a VII, para um período de retorno

de 475 anos, expõem-se as fases de

emergência que podem ser elaboradas,

se detalham a estrutura e a organização

do plano, os procedimentos de informa-

ção à população, acompanhamento e

notificação, assim como a operaciona-

lidade dos diversos grupos, os proce-

dimentos de coordenação com o plano

estatal, os conteúdos dos planos de

atuação de âmbito local para todas as

prefeituras da região, os passos para a

sua aprovação, etc.

O Plano SISMIMUR, elaborado em

2006, se submete a uma revisão ordi-

nária completa a cada cinco anos para

que se adapte à situação atual da co-

munidade, considerando experiências e

exercícios de treinamento e simulações,

entre outros aspectos.

especialmente os que vivem em zonas de risco sísmico, sobre as condutas de proteção adequadas.

“PLANO LORCA”

Mas levar a cidade de Lorca de volta à situação anterior ao desastre não é tarefa fácil. A Pre-feitura e a Comunidade de Múr-cia criaram o “Plano Lorca”, para que o governo invista no muni-cípio 1,65 bilhões de euros, que permitam não só reconstruir fisi-camente a cidade após os sismos de 11 de maio como também re-ativar a economia e que, uma vez finalizada sua execução, a cidade murciana esteja onde teria estado nessa data se a catástrofe não ti-vesse acontecido.

Em meados de setembro, o Congresso dos Deputados apro-vou por unanimidade o aciona-mento do plano para reconstruir a cidade, que deverá reunir me-didas complementares às já apro-vadas e, em todo caso, as neces-sidades de financiamento para os próximos três anos e os cus-tos diretos e indiretos de ajudas para as moradias; a reparação dos recursos escolares e sanitários e das instalações públicos; apoio ao conjunto produtivo com me-didas financeiras e fiscais para as empresas e o comércio; um pla-no de emprego para os anos 2012 e 2013, e investimentos comple-mentares para se conseguir que Lorca volte a ser a cabeça econô-mica da comarca.

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livro

sEL CINE COMO PROSPECTIVA EM LA SOCIEDAD DEL RIESGOJUAN DE DIOS RUANO GÓMEZ(ED.)Cursos Congressos 118Universidade da CoruñaISBN: 978-84-9749-448-9241 páginasPreço: 18 €

A IV Jornada sobre Gestão de Crise, realizadas na

Universidade da Coruña, se dedicaram à análise do cinema de catástrofe, uma especialidade cinematográfica de grande valor sociológico e semiológico na hora de aprofundar as representações sociais com as quais nossas sociedades avançadas transferem ao grande público situações de risco, ameaça ou perturbação da ordem social e política a partir das mais variadas encenações de algumas situações reais de crise e catástrofes.

O livro é uma coletânea que integra doze estudos sobre o cinema de catástrofe como cons-trução teórica cultural em que se projetam inquietudes, valores e ideologias sociais em torno das situações coletivas de risco e emergência, assim como sua gestão por parte das autoridades.

As complexas relações entre cinema e catástrofes podem ser abordadas a partir das perspec-tivas mais diversas e dispersas, que vão desde o ponto de vista econômico até a perspectiva cultural, os temas de terror, as frases históricas..., ficando de fora os aspectos técnicos, psico-lógicos, históricos e econômicos. Tendo por base os dados socio-lógicos sobre filmes de catás-trofe, a obra apresenta, entre outras questões, como se reflete o contexto social em que ocor-rem as catástrofes e se os filmes lançam luz sobre os problemas humanos e sociais.

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livros

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O cinema de catástrofe tem como temas as ameaças e os ris-cos derivados da energia nuclear, a mudança climática, o discurso do milênio apocalíptico, a se-gurança marítima, a escassez de alimentos e os riscos próprios da modernidade industrial.

Uma das formas em que se expressam esses riscos são os relatos pós-catastróficos, ao nar-rar aos sobreviventes o que lhes acontece “no dia seguinte” ao da catástrofe.

As catástrofes sempre nos acompanham. Sua presença viva é indicada pelo fato de que Hollywood continua disposto a saciar o apetite do mundo por catástrofes; contra todo prognós-tico, os filmes sobre desastres de todo tipo continuam geran-do recordes de espectadores e bilheteria.

EL DERECHO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTO DE GESTIÓN DEL RIESGO TECNOLÓGICOPAULA CERSKI LAVRATTICadernos de Direito Ambiental, 4Publicações URVISBN: 978-84-8424-176-8118 páginasPreço: 12,5 €

Os riscos tecnológicos, traço característico

da sociedade de risco contemporânea e produto do maciço desenvolvimento tecnológico-industrial originado no paradigma do domínio da natureza, têm consequências além dos planos econômico, social e cultural e impactam os âmbitos jurídico e político. A presente publicação analisa suas origens e principais características, assim como o papel do Direito Ambiental em sua gestão no contexto do Estado social e democrático de direito.

O trabalho se reveste de pesquisa de ponta e contém uma aproveitável revisão bibliográfica, além de um excelente conteúdo e fundamento em um tema alta-mente relevante.

A autora faz considerações sobre as principais característi-cas dos riscos, como a ruptura das barreiras de espaço e tempo, exemplificando as alterações sofridas por causa da mudança climática, a dificuldade na identi-ficação do nexo de causalidade e a própria proliferação de defi-nições de risco, mascarando sua percepção social.

Paula Cerski Lavratti conse-gue associar um tema inovador, como o risco tecnológico, com o papel do Direito e, a partir da busca do desenvolvimento sustentável, consegue defender o aperfeiçoamento da sua apli-cação; situação que somente se pode alcançar por meio da informação e da participação popular adequadas, assim como de decisões com as quais se concordou a partir da aplicação dos princípios de colaboração e responsabilidade.

A obra, que se encerra com a certeza de contribuir para uma visão avançada do Direito Ambiental, tem um significado especial para os operadores jurí-dicos que procuram uma maior efetividade do Direito para a geração atual e as futuras.

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MICROSEGUROS: ANÁLISIS DE EXPERIENCIAS DESTACABLES EM LATINOAMÉRICA Y EL CARIBELUZ ANDREA CAMARGO E LUISA FERNANDA MONTOYAMéxico: FIDES, 2011Na capa: Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Fundo Multilateral de Investimento do BID (FOMIN), Federação Interamericana de Companhias de Seguros (FIDES) e FUNDACIÓN MAPFRE224 páginas

O mercado de microsseguros da América Latina e

do Caribe está em expansão atualmente, e é importante, precisamente neste momento, estabelecer um filtro para evitar a multiplicação de experiências que não trazem nenhum valor ao consumidor e que não são viáveis financeiramente. É importante integrar ao setor privado segurador apenas os produtos que cumprem estas duas condições de forma simultânea, para que sejam implementados e aprofundados.

Pois bem, a avaliação dos pro-dutos de microsseguros não de-veria ser realizada apenas por cada entidade isoladamente, mas sim de forma conjunta e transparente, e para isso é essencial a consolida-ção das informações separadas de

microsseguros e sua divulgação. No entanto, constatou-se que o setor privado segurador dos países em estudo não é a favor de compartilhar informações. Por isso, é imperativo que a associação e os agentes de super-visão promovam a transparência neste aspecto; do contrário, será impossível diagnosticar de forma real um produto ou o mercado de microsseguros de um país.

Há também que destacar a importância do cenário regula-tório aplicável aos microsseguros em cada país para promovê-los e facilitá-los, assim como para proteger o consumidor de tais produtos. Isso não quer dizer que se necessite de uma regu-lamentação especial de micros-seguros em cada país, dado que, tal como se viu, isso não garante que o cenário regulatório seja adequado para os microsseguros.

É importante analisar de forma transversal todo o cenário regula-tório aplicável aos microsseguros para se ter a capacidade de emitir diagnósticos exatos, estabelecen-do os passos a seguir para que seja cada vez mais adequado o contexto em que se oferecem produtos de microsseguros, o qual deve se caracterizar por seu equilíbrio entre dois elementos: a promoção de microsseguros e a proteção do consumidor.

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LA SALUD Y SU ASEGURAMIENTO EN ARGENTINA, CHILE, COLOMBIA Y ESPAÑAJUAN CARLOS GALINDO VÁCHAFUNDACIÓN MAPFRE,

Madri, 2011

ISBN: 978-84-9844-194-9

318 páginas

Caderno 169

Preço: 20 €

A FUNDACIÓN MAPFRE acaba de publicar este

trabalho do advogado e professor colombiano Juan Carlos Galindo Vácha, por ocasião da ajuda à pesquisa Risco e Seguro solicitada pela Fundação mencionada.

Trata-se de uma pesquisa comparativa em que se examinam três temas fundamentais à luz dos desenvolvimentos históricos e da normativa atual: o direito à saúde, os sistemas de seguridade social em saúde e os seguros privados e medicina pré-paga na Argentina, Chile, Colômbia e Espanha.

FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

DIFERENCIAS DE SEXO EM CONDUCTAS DE RIESGO Y TASAS DE MORTALIDAD DIFERENCIAL ENTRE HOMBRES Y MUJERESLUIS GÓMEZ JACINTOFUNDACIÓN MAPFRE,Madri, 2011ISBN: 978-84-9844-262-5146 páginasCaderno 168Preço: 20 €

O trabalho se aprofunda nas raízes das diferenças

de mortalidade entre homens e mulheres. Embora há mais de dois séculos existam dados demográficos sobre a maior

A publicação contém um trabalho de grande utilidade, que permite observar a realidade sobre o asseguramento da saúde nesses países, particularmente no Chile e na Colômbia, com sistemas de vanguarda na seguridade social em saúde, que desenvolveram alguns esquemas interessantes com participação do setor privado.

Da pesquisa de Galindo Vácha se deduz que os seguros privados e os contratos de medicina pré-paga constituem um mecanismo adicional para a proteção do direito à saúde, financiado pelos interessados e, de forma externa, aos mecanismos de solidariedade.

Esses contratos privados são uma alternativa de garantia da saúde com muito futuro nos países ibero-americanos.

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MOVILIZACIÓN Y RESCATE DE LOS COMPROMISOS POR PENSIONES GARANTIZADOS MEDIANTE CONTRATO DE SEGUROROBERTO FERNÁNDEZFERNÁNDEZ / DIEGO MEGINOFERNÁNDEZFUNDACIÓN MAPFRE,Madri, 2011ISBN: 978-84-9844-261-8162 páginasCaderno 167Preço: 20 €

E m seu trabalho de promoção da pesquisa nos

campos do seguro e da Gerência de Riscos, a FUNDACIÓN MAPFRE publicou recentemente o trabalho dos professores universitários Roberto Fernández Fernández, da Universidade de León, e Diego Megino Fernández, da

mortalidade dos homens e se proponham diversas explicações causais próximas de tipo biológico e comportamental (Ruzicka, Wunsch e Kane, 1989), apenas apresentaram hipóteses evolucionistas para essas diferenças (Kruger, 2008).

A conduta de assumir riscos e a conduta anti-social sugerem condutas impulsivas, teme-rárias, egoístas e reforçadoras de forma imediata. Ainda que nem todas as condutas de risco sejam anti-sociais, elas estão, sim, relacionadas com ativida-des típicas da vida moderna, como a direção imprudente de automóveis. Isto levou a se falar de tendências pessoais como “o gosto pelo risco”, “a síndrome da conduta proble-mática” e “baixo autocontrole”, que deixam implícito o nexo de união entre a tomada de riscos e a anti-sociabilidade (Mishra & Lalumière, 2008).

Embora a conduta arrisca-da possa produzir resultados muito caros (como a redução da expectativa de vida, por exem-plo), ela também pode ter bene-fícios (como o aumento das oportunidades de casamento). Daí o comportamento arriscado ser o produto de outro grande processo seletivo da evolução: a seleção sexual.

Contudo, as taxas de mor-talidade masculina e feminina não são determinadas genetica-mente. Todas as características fenotípicas, inclusive a tendên-

cia ao risco, são influenciadas por fatores ambientais que variam ao longo do tempo e da cultura. De maneira mui-to especial, existe uma forte interação entre essa tendência ao risco e as mudanças políticas e econômicas, que introduzem elementos de estresse na vida social diária (Kruger & Nesse, 2007).

A partir destas premissas teóricas, o trabalho analisa o padrão de mortalidade diferen-cial na Espanha nos últimos 30 anos. O ambiente evolucionista que o sustenta pressupõe que este terá muitos elementos

comuns com o padrão univer-sal que tem sido revelado em diversos trabalhos em outros países, embora se observarão variações devidas aos fatores históricos, culturais e econômi-cos que configuraram o panora-ma social espanhol nos últimos tempos.

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Universidade a Distância de Madri, sob o título Movilización y rescate de los compromisos por pensiones garantizados mediante contrato de seguro.

Com esta obra, os autores pretenderam analisar de maneira detalhada uma das questões que carecem de resposta satisfatória no ambiente da previsão social complementar na Espanha: o destino dos compromissos com pensões pactuados pelo empresário quando o trabalhador perde seu posto de trabalho antes de haver originado as prestações comprometidas.

Os autores dividem seu trabalho em cinco capítulos, concluídos com um sexto, nos quais transmitem ao leitor as principais conclusões da pesquisa, tentando não apenas identificar os problemas de maior teor jurídico que a prática apresenta no dia a dia, mas também oferecendo, quando possível, soluções hipotéticas aos mesmos.

Assim, o primeiro capítulo ressalta a magnitude que os mecanismos complementares de pensões alcançaram na Espanha nos últimos anos, podendo arriscar sem medo de errar que sua importância aumentará se o sistema público continuar pelo caminho dos cortes. O segundo capítulo centra sua tarefa no estudo das diferentes alternativas ao alcance do empresário em favor da externalização de seus compromissos com pensões e, em especial, quando ele faz isso por meio de um contrato de seguro. Esta última figura jurídica é o foco da atenção do terceiro capítulo e, mesmo quando breve, se faz uma revisão esclarecedora dos aspectos subjetivos e objetivos dessa modalidade contratual. O quarto capítulo reúne os aspectos fundamentais da

pesquisa, abordando com exaustividade o regime jurídico da mobilização e do resgate dos compromissos com pensões e analisando de forma detalhada a normativa aplicável na matéria e na interpretação judicial que se fez sobre ela. Por fim, o quinto capítulo faz uma pequena digressão pelo tratamento fiscal que a mobilização ou o resgate destas melhoras voluntárias recebe no ordenamento espanhol.

Com esta obra, os autores e a FUNDACIÓN MAPFRE, reiterando seu compromisso constante com a divulgação e promoção da pesquisa, pretenderam ressaltar os problemas significativos que a mobilização e o resgate antecipado de compromissos com pensões apresentam no panorama espanhol, assim como a resposta ineficiente que o legislativo e a jurisprudência têm oferecido para solucioná-los.

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‘EMBEDDED VALUE’ APLICADO AL RAMO NO VIDAPAULA OCÓN GÓNZALEZFUNDACIÓN MAPFRE,Madri, 2011ISBN: 978-84-9844-194-9318 páginasCaderno 166Preço: 20 €

Hoje em dia o mercado segurador se caracteriza

por uma grande competência devido à desregulamentação, à liberalização, ao desenvolvimento tecnológico e às mudanças constantes das circunstâncias. Neste contexto, uma das principais preocupações das seguradoras, tanto de Vida como de Não Vida, é fazer uma estimativa do valor conjunto dos negócios em curso e do rendimento da carteira para eliminar os produtos menos rentáveis ou os de maior risco de flutuação, com o objetivo de garantir uma margem de solvência ou fundos mínimos que protejam os segurados.

Para isso, as seguradoras devem dispor de métodos de avaliação do rendimento de seus produtos. Neste trabalho, a autora tentou explicar para o segmento de Não Vida, passo a passo e por meio de um exemplo de análise da demonstração de resultados, como se aplica a técnica de avaliação Embedded Value, assim como os princípios

European Embedded Value e Market Consistent Value, com o objetivo de determinar se um produto é suficientemente rentável e cria valor para a companhia. Este método normalmente é utilizado nos seguros de Vida, ainda que sua aplicação nos seguros Não Vida também seja útil para superar as diferenças existentes entre ambos os negócios quanto à sua estrutura de fluxo de caixa e à duração de ativos e passivos.

As ferramentas de avaliação desembocaram no que se

conhece como Valor Intrínseco ou Valor Atual Líquido, que permite medir o comportamento da empresa baseando-se na carteira de negócios em curso, tomando como input o fluxo de caixa disponível e como taxa de desconto a rentabilidade exigida pelo acionista. O fluxo de caixa considerará as receitas financeiras, assim como os prêmios do exercício, dos quais se deduzem os gastos com sinistros, resgates e vencimentos.

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NOTÍCIAS

Assistência maciça e grande êxito da XVII Jornada de Expectativas de Renovação dos Programas de Seguros para 2012, organizada pela AGERS

N o decorrer do último trimestre de 2011, a

AGERS realizou as seguintes jornadas e cursos:

No dia 20 de outubro, em colaboração com a Associação de Empresários de Alcobendas (AICA), realizou-se uma jor-nada sobre “Novidades na res-ponsabilidade ambiental”, onde se ampliaram as informações referentes à Ordem Ministerial ARM/1783/2011, de 22 de junho, considerada uma das disposições mais importantes aprovadas na Espanha nos últimos anos. O Pool de Riscos ao Meio Ambien-te apresentou informações sobre o Modelo de Oferta de Respon-sabilidade com o Meio Ambiente (MORA) e abordou a análise de riscos, assim como as soluções de asseguramento.

Nos dias 26 e 27 de outubro foi dado o curso “A transferên-cia alternativa de riscos: cativas, cat bonds, swaps e outros meca-nismos”, em que se analisou de forma realista e prática a situação atual do mercado de seguros e resseguros a partir da perspecti-va do cliente, e neste ambiente foram oferecidas novas possibili-dades para transferir os riscos aos mercados financeiros.

No dia 16 de novembro, no Auditório Rafael del Pino, de Madri, se desenvolveu a XVII Jornada de Expectativas de Reno-vação dos Programas de Seguros para 2012. À situação econômica e política do momento, marca-da pela persistência da crise da dívida em nível europeu e pelas eleições gerais realizadas no dia 20 passado, se uniu um excelente painel de oradores, que corres-ponderam com suas reflexões ao interesse dos 300 participantes do ato.

A Jornada teve início com a conferência inaugural, proferi-

A SUBDIRETORA DE ORDENAÇÃO DO MERCADO

DE SEGUROS ANUNCIOU A PROVÁVEL DEMORA DA ENTRADA EM VIGOR DA

SOLVÊNCIA II ATÉ JANEIRO DE 2014

da pelo Presidente do Conse-lho Assessor da Expansión e da Actualidad Económica, Manuel Conthe. Em seguida, se realizou a mesa de abertura, em que inter-veio a Subdiretora de Ordenação do Mercado de Seguros da DGS-FP, Laura Pilar Duque, a quem acompanharam o Presidente da

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MANUEL CONTHE, PRESIDENTE DO CONSELHO ASSESSOR DE ‘EXPANSÃO’ E ‘ACTUALIDAD ECONÔMICA’, PROFERIU UMA BRILHANTE

PALESTRA INAUGURAL, EM QUE CRITICOU O

PROGRESSISMO POPULISTA E AFIRMOU QUE “UM PAÍS QUE ASPIRA A TER UMA

SOBERANIA INCÓLUME DEVE TER SUPERÁVIT”

AGERS, Ignacio Martínez de Baroja, e o Secretário Geral da associação, Gonzalo Iturmendi.

Posteriormente se desen-volveram três paineis temáticos sobre Responsabilidade Civil, Danos Materiais e Seguros Fi-nanceiros. A Jornada se comple-tou com monografias tanto sobre o mercado de transportes quanto sobre o impacto da reforma labo-ral e das pensões nos planos de pré-aposentadoria.

As conclusões da Jornada so-bre Expectativas de Renovação dos Programas de Seguros ad-quiriram neste momento um va-lor especial como indicadores da situação econômica vindoura no ano de 2012 e como apresenta-ção das estratégias que o setor de seguros proporá para enfrentar a realidade nos próximos meses.

Também nesse dia foi realiza-do o III Encontro para Gerentes de Riscos e Seguros: Renovações

2012, em que se abordaram desde a perspectiva dos clientes, as ne-cessidades que o gerente de riscos encontra para o enfoque da ges-tão e posterior transferência dos riscos mais novos e relacionados com as novas regulações, a pro-teção da marca, os intangíveis e o risco de reputação, assim como os ciber-riscos, a exposição das redes

sociais e o impacto da interrup-ção do negócio por eventos sem dano material direto. Em todos os casos foram consideradas as expe-riências e inquietudes dos parti-cipantes quanto à própria gestão dos riscos.

Também foi dado o curso “A crise do estado de bem-estar e uma possível solução por meio de fórmulas particulares” (30 de novembro e 1º de dezembro).

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EIMA 8: EIMA 8: a caminho da Rio+20a caminho da Rio+20TEXTO: SUCENA SHKRADA RESK

O Encontro Ibero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8) foi realizado na cidade de São Paulo,

entre 17 e 20 de outubro de 2011, e teve como destaque as reflexões sobre o processo de construção da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será realizada em junho deste ano, no Brasil. O evento terá como temas a economia verde no contexto da erradicação da pobreza e a governança da sustentabilidade. Ao mesmo tempo, refletirá um balanço da ECO 92, maior encontro da área ambiental realizado até hoje, que estabeleceu os principais documentos estruturantes do setor.

Para a realização da edição 2011, a FUNDACIÓN CONAMA teve como parceiros a FUNDACIÓN MAPFRE, a Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FVG), a Itaipu Binacional, a Ecodes, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social e a Rede Nossa São Paulo.

Wilson Toneto, presidente do Conselho Administrativo do Grupo MAPFRE no Brasil, reforçou que a organização ampliou os esforços em desenvolver, nos últimos quatro anos, fóruns voltados ao desenvolvimento sustentável e essa é uma ação já incorporada na estrutura da responsabilidade social corporativa da empresa.

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Ao término do encontro, Gonzalo Echagüe, presidente da FUNDACIÓN CONAMA, expôs a importância da participação da sociedade, das organizações e do poder público nas discussões sobre a Rio+20, o que prioriza o documento oficial produzido como conclusão do EIMA 8.

CAMINHOS POSSÍVEISDurante os painéis de debates, Luis

Jiménez Herrero, diretor executivo do Observatório de Sustentabilidade na Espanha (OSE), e Paulo Itacarambi, do Instituto Ethos, apresentaram a taxa Tobin (sobre operações financeiras internacionais), como proposta de incremento para a implementação do desenvolvimento sustentável mundial. Esse mecanismo foi proposto inicialmente pelo economista James Tobin, nos anos 70, e até hoje não foi implementado, como instrumento de combate à extrema pobreza.

Itacarambi e o representante da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), Percy Soares Neto, relataram que as organizações entregaram à Comissão Nacional da Rio+20 propostas para o documento oficial que o Governo brasileiro apresentou em novembro de 2011, ao Secretariado da Rio+20, na Organização das Nações Unidas (ONU).

A base conceitual brasileira baseia-se no multilateralismo. Os eixos principais discorrem sobre temas consolidados, como erradicação da pobreza, trabalho decente, emprego e responsabilidade social das empresas, produção e consumo sustentáveis, energia e inovação e acesso à tecnologia.

O documento teve contribuições

Gonzalo Echague, Presidente Fundación Conama

Wilson Toneto, presidente do Conselho Administrativo do Grupo MAPFRE no Brasil

de propostas de 75 organizações da sociedade civil, por meio do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, além de uma consulta pública via internet, por meio de questionário, que obteve o retorno de 139 participantes (103 da sociedade civil, 16 empresas, com forte participação no setor de energia, 9 da comunidade acadêmica e 11 de governos locais).

Sheila Guebara, assessora da presidência do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), também expôs que a instituição brasileira defenderá, na Rio+20, as diretrizes do documento Visão 2050, criado pelo World Business Council for Sustainable Development. As propostas foram estruturadas por 29 empresas globais para o horizonte de 2050 e têm os seguintes princípios:• Incorporar os custos de

externalidades, a começar pelo carbono, os serviços dos ecossistemas e a água;

• Dobrar a produção agrícola sem aumentar a extensão das terras agricultáveis e o consumo de água;

• Acabar com o desmatamento e potencializar o rendimento das florestas plantadas;

• Reduzir à metade as emissões de carbono no planeta, tomando como base os níveis de 2005, entre outros. Victor Viñuales, diretor da

Fundación ECODES, reforçou que, nesse contexto, o exercício da cidadania tem posição estratégica para conquistar as transformações almejadas. Segundo ele, as manifestações mundiais que pedem reformas, no contexto da

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crise econômica, são representativas e não podem ser ignoradas. “Os tempos políticos da governança global são lentos. Mas a sociedade aprendeu a se mover rapidamente e é preciso gerar esperança para essa cidadania global. As pessoas estão saindo às ruas, porque consideram que a mudança é possível”.

No eixo da economia verde, Gonzalo Echagüe, presidente da FUNDACIÓN CONAMA, reforçou que é fundamental que, no processo rumo à Rio+20, os cidadãos sejam impulsores e protagonistas na governança da sustentabilidade.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) criou um guia a respeito da economia verde como base para a discussão sobre o conceito, que ainda está em amadurecimento. “Economia verde é aquela que resulta na melhoria do bem-estar da humanidade e na igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e a escassez ecológica”, disse Denise Hamu, representante do Pnuma no Brasil.

Na avaliação de Ana Leiva, diretora da Fundación Biodiversidad da Espanha, a economia verde inclusiva faz parte da agenda de todos os países hoje. “É mais competitiva e inovadora. Integra o capital natural e humano. É capaz de renovar a economia tradicional”.

Nelton Friederich, diretor brasileiro da Itaipu Binacional, considera importante que não seja esquecida a importância da ecopedagogia, do exercício da responsabilidade

compartilhada e das ações transversais durante a implementação.

O princípio de precaução e seguridade precisa estar presente, segundo Luis Herrero, diretor executivo do Observatório de Sustentabilidade da Espanha (OSE). Ele considera que o termo “economia da sustentabilidade” é mais indicado porque trabalha o conceito de rede como um subsistema do ecossistema global, no qual há capital natural, manufaturado, social e humano.

“Os desafios são as mudanças climáticas e a promoção do trabalho decente para a maioria da população. Recuperar os princípios ecológicos é necessário para esse processo de implementação da sustentabilidade”, disse.

Segundo Jaime Manteca, diretor de internacional da Fundación COPADE, a economia verde tem de incentivar o consumo responsável por meio de produtos responsáveis e informações mais transparentes.

“Agora é a vez dos países emergentes, como o Brasil, comandarem o processo de crescimento mundial no contexto da crise econômica, que atingiu principalmente os países desenvolvidos”, afirmou Yoshaki Nakano, diretor da Escola de Economia da FGV.

Como exemplo de projetos em curso de propostas de políticas internas para o desenvolvimento sustentável no Brasil, André Urani ( in memoriam, faleceu em 14 dezembro de 2011), presidente do Instituto de Estudos do

“OS DESAFIOS SÃO AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E A PROMOÇÃO DO TRABALHO DECENTE PARA A MAIORIA DA POPULAÇÃO. RECUPERAR OS PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS É NECESSÁRIO PARA ESSE PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE”

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Trabalho e Sociedade (IETS), resumiu a iniciativa do projeto Megalópole Brasileira. A iniciativa envolve a parceria com outras organizações e pretende atingir 232 municípios brasileiros nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, onde residem 22% da população e se concentra 35% do Produto Interno Bruto (PIB).

“O documento está sendo formulado há cinco anos e possibilita a exploração da capacidade de pesquisa e a presença de empresas nacionais e estrangeiras nessa região, como também, pensar em técnicas inovadoras na base da pirâmide, no combate às desigualdades e à pobreza”.

Como case internacional de gestão pública, foi apresentado o histórico das ações na cidade basca de Vitoria-Gasteiz, capital da Província de Álava, na Espanha. O município, com cerca de 250 mil habitantes, foi eleito a Capital Verde Europeia de 2012. Nos anos anteriores, as cidades eleitas foram respectivamente Estocolmo (Suécia) e Hamburgo (Alemanha).

“O Parlamento Europeu está convencido de que o futuro das cidades passa pelo desenvolvimento sustentável. Isso envolve políticas de transporte público, mobilidade, redução de uso de água, coleta seletiva, adoção de ciclovias, de paineis solares, entre outras iniciativas”, explicou o prefeito Javier Maroto.

Entre as ações socioambientais desenvolvidas pela cidade está a de prevenção das mudanças climáticas (2006-2012), que tem o objetivo de reduzir em 300.000 toneladas anuais as emissões de CO2 e, no longo prazo, chegar ao patamar de carbono neutro.

DESAFIO ENERGÉTICOTendo como pano de fundo

justamente as mudanças climáticas, mais um tema que norteou o EIMA – 8 foi o de energia, trazendo informações sobre o setor no Brasil e na Espanha, demonstrando a necessidade de ampliação de investimentos em energia renovável.

Isabel Del Omo, chefe do Departamento de Coordenação Geral do Instituto para la Diversificación y Ahorro de Energia (IDAE), do Ministério de Industria, Turismo y Comercio de España, disse que, em 2020, o país pretende alcançar 20% de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs) com o incremento em energias renováveis e melhora da eficiência energética na mesma proporção no período.

“A Espanha depende 75% de recursos fósseis e 80% das emissões de CO2 provenientes de usos energéticos”, disse. Segundo ela, o Governo aposta em veículos elétricos. “Há a proposta de produção de 2,5 mil veículos elétricos por ano e o estabelecimento do marco regulatório para isso”.

No Brasil, também já existem projetos em curso e protótipos são utilizados na Itaipu Binacional. “Existe um projeto de pesquisa de ônibus híbridos (elétrico e álcool), que deverão ser usados pelas delegações na Copa do Mundo, em 2014, desenvolvidos pela empresa em parceria com a Eletrobras”, disse Jorge Samek, diretor geral brasileiro da Itaipu Binacional.

Entre as novidades no campo da inovação, Altino Ventura, secretário de Planificação Energética do Ministério de Minas e Energias (MME), informou que há um projeto de pesquisa no

AGORA É A VEZ DOS PAÍSES EMERGENTES, COMO O BRASIL, COMANDAREM O PROCESSO DE CRESCIMENTO MUNDIAL NO CONTEXTO DA CRISE ECONÔMICA, QUE ATINGIU PRINCIPALMENTE OS PAÍSES DESENVOLVIDOSYoshiaki Nakano

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Nordeste de um protótipo termosolar, entre o MME e o Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovação (MCT). “Deverá ser competitivo no Brasil no horizonte de 20 anos, porque o país tem outras fontes renováveis (eólica, solar fotovoltaica)”

Mais um assunto que prendeu a atenção dos participantes do evento foi a água. Victor Pochat, coordenador do Programa Hidrológico Internacional da UNESCO para a América Latina e Caribe, lembrou que o problema hidrológico é preocupante por causa dos impactos das mudanças globais e das ações humanas. “Nesse contexto, a intensa utilização dos recursos naturais, dos solos e das áreas florestais, para extração de madeira e fabricação de papel, produção hidrelétrica e produção de biocombustíveis deve ser reavaliada”, alertou.

Benedito Braga, presidente do Sexto Fórum Mundial da Água, que será realizado de 12 a 17 de março deste ano, em Marselha, citou a importância da participação pública e privada na gestão mundial das águas e explicou que o evento terá caráter propositivo de soluções.

“Um dia antes do término de evento haverá o chamado ‘Dia do Compromisso’, que deverá reunir cerca de 120 ministros e representantes governamentais”. Segundo ele, nos meses que antecedem ao evento, a sociedade pode contribuir com sugestões no site http://www.worldwaterforum6.org. Durante o evento, serão tratados assuntos relacionados aos Direitos Humanos e gestão transfronteiriça, entre outros.

A colocação do eixo ‘água’ na Rio+20 é uma proposta que está sendo viabilizada pela Agência Nacional de Águas (ANA) para compor a agenda da Rio+20, de acordo com Vicente Andreu Guillo, diretor-presidente do órgão regulador brasileiro dos recursos hídricos.

DESAFIO EIMA - 8O Desafio EIMA – 8 foi uma das

novidades desta edição, coordenado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com um total de 102 estudantes universitários inscritos e 19 cases desenvolvidos. A vencedora do concurso foi Mariana Calabrez, aluna de Economia da FGV, que apresentou um projeto de desenvolvimento econômico baseado nas liberdades individuais, no contexto da economia verde. Ela recebeu um pacote de viagem de cinco dias à Espanha como prêmio, além da possibilidade de participar de reuniões e eventos de sustentabilidade com especialistas espanhóis.

“Meu objetivo é questionar o modelo tradicional, e me inspirei nos princípios desenvolvidos pelo economista indiano Amartya Sen, de que o desenvolvimento só é possível quando os indivíduos possuem liberdade”, disse, no último dia 20, durante o encerramento do evento.

Os outros finalistas foram respectivamente:

- Natalia Jung, aluna de Administração da FGV: iniciativa de união do Governo, empresas brasileiras e ibero-americanas para levar água e esgoto para as favelas com o princípio da ecoeficiência;- Patrícia Santos, aluna de Gestão Pública da Universidade de São Paulo (USP): projeto de cooperação internacional técnico-privada de tecnologias sociais;- Ricardo Miguel Weber Ara, aluno de Economia da FGV: proposta de flexibilização de patentes num formato de gestão binacional.

A íntegra dos documentos produzidos no EIMA - 8 pode ser consultada no site http://www.eima8.org/web/index.php.

O PARLAMENTO EUROPEU ESTÁ CONVENCIDO DE QUE O FUTURO DAS CIDADES PASSA PELO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. ISSO ENVOLVE POLÍTICAS DE TRANSPORTE PÚBLICO, MOBILIDADE, REDUÇÃO DE USO DE ÁGUA, COLETA SELETIVA, ADOÇÃO DE CICLOVIAS, DE PAINEIS SOLARES, ENTRE OUTRAS INICIATIVAS”Javier Maroto

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