jogos cooperativos: possibilidades e alternativas · problemas, harmonizar conflitos, superar...
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JOGOS COOPERATIVOS: POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS.
Autor: João Carlos Garcia1
Orientadora: Profª Ms Christine Vargas Lima2
Resumo
O presente projeto foi elaborado para alunos de 5ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual José Marcondes Sobrinho, da cidade de Laranjeiras do Sul, nas aulas de Educação Física, com intervenção do pesquisador sob forma de pesquisa bibliográfica para o desenvolvimento de possibilidades metodológicas através dos Jogos Cooperativos. Neste sentido esta pesquisa propôs-se a contribuir para o ensino aprendizagem por meio de práticas pedagógicas que possibilitem trabalhar aspectos cooperativos, os quais permitem valorizar o hábito do pensar, cooperar, refletir, comunicar, conscientizar e socializar. Durante as atividades foram analisados os diferentes pontos de vista apresentados pelos alunos. Observou-se a aceitabilidade dos Jogos Cooperativos, através das oportunidades que foram oferecidas a cada atividade, buscou-se resgatar a capacidade das pessoas em viver e conviver em harmonia, respeitando as diferenças, para que ninguém se sinta excluído, numa perspectiva de melhorar a participação e a aprendizagem de todos. Neste projeto optou-se pelos Jogos Cooperativos, por acreditar-se que o jogo é importante para o desenvolvimento humano, pois ao jogar se aprende a solucionar problemas, harmonizar conflitos, superar crises e alcançar objetivos. Com a implementação do projeto na escola pôde-se constatar o interesse e a participação expressiva dos alunos em todas as atividades. A cada novo jogo apresentado surgiam novas possibilidades de interação para solução de problemas de forma coletiva, logo, este projeto justifica-se pela relevância de buscar possibilidades metodológicas para o Ensino de uma Educação Física onde a inclusão, a Coletividade e a Igualdade de direitos e deveres sejam básicos, onde todos princípios busquem coletivamente caminhos para compartilhar, solidarizar, preservar frente as dificuldades, construindo assim um caminho para crescer e desenvolver.
Palavras-chave: Jogos Cooperativos; participação; cooperação; convivência.
1 Graduado em Educação Física, com especialização em Educação Especial/Surdez – Libras, atuando no Colégio Estadual José Marcondes Sobrinho - EFM.2 Graduada em Educação Física, Mestre em Educação – Unicamp/Unicentro – Professora do Departamento de Pedagogia/Unicentro.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho foi desenvolvido com o propósito de refletir sobre a importância
dos Jogos Cooperativos nas aulas de Educação Física, tendo como foco central o
resgate de valores humanísticos, fundamental e necessário para o relacionamento
harmonioso entre as pessoas.
Observa-se, nos dias de hoje, que a escola está fora desse contexto, pois o
que se percebe é a falta de possibilidades para que isso aconteça, ou um projeto
que discuta valores ou temas a eles relacionados, a fim de tornar o educando um
sujeito de uma sociedade mais humana.
A escola é um dos espaços onde pode acontecer uma tomada de consciência
em relação à importância da cooperação entre as pessoas, sendo a Educação
Física parte importante desse processo, ela mostra que existem outras formas de se
jogar e viver, buscando assim, a melhoria das relações intra e inter pessoais.
A Educação Física pode ser um meio importante para uma tomada de consciência, e que a mudança que tanto falamos aconteça, ou seja, que possamos diminuir o número de pessoas excluídas e marginalizadas dentro da escola. Pois a escola é especialista em reforçar a competição já que não estimula a criança a amar o aprendizado, mas sim, a tirar notas cada vez mais altas. E a Educação Física, por sua vez, não valoriza a pessoa que joga, e sim o jogo, fazendo com que o jogo seja sempre mais importante que a pessoa que joga, quando, na verdade, deveria ser justamente o contrário (Soler 2006 p 28).
Falando em Educação Física pode-se afirmar que essa tomada de
consciência é possível, por meio de Jogos Cooperativos e das inúmeras
possibilidades pedagógicas que oferecem. Essa vivência permite maior aproximação
entre os alunos, fazendo-os sentir-se mais seguros, e favorecendo as relações
interpessoais.
Para esse estudo optou-se pelos Jogos Cooperativos como possibilidade para
construção do sujeito/aluno de uma escola que queremos.
Quando se pensa em estimular os alunos para práticas educativas que
favoreçam um relacionamento solidário, tão necessário nos dias de hoje, os Jogos
Cooperativos sugerem inúmeras possibilidades, criando um ambiente propício para
que o professor consiga desenvolver as atividades, permitem-lhe pontuar, de
maneira lúdica, valores a serem trabalhados durante o jogo.
Pensando no desenvolvimento dessas possibilidades pedagógicas, torna-se
necessário a consciência e autonomia da comunidade escolar para que as relações
sociais construídas sejam entendidas em seus diversos papeis e ou funções.
Assim, Medina (1990 p 25) coloca que as consciências precisam ser agitadas
e estimuladas no sentido de uma ampliação de suas possibilidades, pois somente
através da superação de uma consciência comum, convertendo-a em uma
consciência filosófica cada vez mais crítica e, portanto aptos a transformação,
implica necessariamente em se perceber, implícita ou explicitamente, que as
relações entre nossas ações e reflexões são fenômenos que se completam e que,
embora possam ser consideradas de maneira distintas, não se excluem. É no
equilíbrio desta unidade fundamental que o ser humano pode ascender a níveis
superiores de consciência, permitindo-lhe alimentar não apenas os seus poderes de
imitação. E é este poder de criação e a capacidade de questionar o seu valor que se
constitui na marca registrada da espécie humana.
Nesse sentido, a pesquisa tornou-se necessária, pois preocupou-se em
relacionar a consciência corporal com as relações sociais e humanas da
contemporaneidade.
A evolução de uma cultura do corpo que fundamente a Educação Física, deve ser trabalhado, no sentido de rever criticamente seus princípios e propostas enquanto atividade preocupada com o verdadeiro desenvolvimento humano integral e também no sentido de democratizá-la permitindo que todos (promotores e beneficiários) possam ter acesso mais fácil aos conhecimentos (Medina 1990 p 89).
Logo, as possibilidades que vislumbramos estão de acordo com um processo
Educativo onde as transformações devem ocorrer de forma globalizadas, não se
esquecendo, porém, que a disciplina, de Educação Física, tem como foco principal,
o movimento. Logo, essas transformações devem ocorrer por meio da consciência
corporal, provado, como relata Medina, através da reflexão crítica e da expressão.
A utilização do jogo e sua importância já foram analisados por importantes
estudiosos e continuam sendo até hoje. Neste momento se faz necessário uma
reflexão nesse sentido, a cooperação vem de encontro ao que se deseja nas
Escolas Públicas de Laranjeiras do Sul – PR.
Para iniciar o trabalho pedagógico, na Escola, com jogos, foi importante ter
claro o que se entende por ludicidade, pois por meio dela o jogo torna-se uma
atividade prazerosa e significativa. É o que Falcão remete-se sobre isto:
O lúdico não se situa numa determinada dimensão do nosso ser, mas constitui-se numa síntese integradora. Ele se materializa no todo, no integral e na existência humana. Da mesma forma que não existe uma essência humana divorciada da existência, também não existe um lúdico descolado das relações sociais. O lúdico permite a criança construir o mundo do jeito que gostaria que ele fosse, assim o lúdico se apresenta como parte do integrante do ser humano e se constitui nas interações sociais (ACORD, FALCÃO E SILVA, 2005 p 35).
Este estudo favoreceu a busca de possibilidades metodológicas para o
Ensino de uma Educação Física, na 5ª série do Ensino Fundamental, onde a
Inclusão, a Coletividade e a Igualdade de direitos e deveres fossem básicos, todos
esses princípios buscassem coletivamente caminhos para compartilhar, solidarizar,
perseverar frente às dificuldades, construindo assim, um caminho para o
crescimento e desenvolvimento do educando.
1.1 Justificativa
Os Jogos Cooperativos propõe novas formas pedagógicas que possibilitam o
exercício da convivência, a fim de que todos aprendam, através das interações
cooperativas, podendo se expressar espontaneamente. Promovem também ações e
relações educativas, favorecendo a liberdade, responsabilidade e a convivência.
Os Jogos Cooperativos contribuem de diversas formas para a aprendizagem
interdisciplinar, entre as quais: o desenvolvimento cognitivo, afetivo, físico-motor e
mental. Ao jogar cooperativamente, os alunos podem vivenciar inúmeras
possibilidades de participação e inclusão por meio da modificação gradativa das
regras e estruturas básicas do jogo, potencializando as habilidades de
relacionamento, compartilhando objetivos comuns, com respeito e confiança mútua
através do diálogo, espontaneidade, criatividade e co-responsabilidade.
Nesse sentido os Jogos Cooperativos podem contribuir também como instrumentos pedagógicos, pois auxiliam para o ensino aprendizagem, exercitando a reflexão criativa, a comunicação sincera, a tomada de decisão por consenso e a abertura para experimentar o novo, todos podem descobrir que são capazes de intervir positivamente na construção, transformação e emancipação de si mesmos, do grupo e da comunidade onde convivem (Broto, 2001 p 63).
Em um primeiro momento se faz necessário falar do jogo enquanto via de
comunicação entre as pessoas, como expressão simbólica de uma sociedade. Para
isso, Broto coloca que o Jogo é muito importante para o desenvolvimento humano
em todas as idades. Ao jogar, não apenas representamos simbolicamente a vida,
vamos além. Quando jogamos estamos praticando, direta e profundamente um
Exercício de Co-existência e de Re-conexão com a essência da Vida.
Segundo Barreto (2000), Jogos Cooperativos são dinâmicas de grupo que
têm por objetivo, em primeiro lugar, despertar a consciência de cooperação, isto é,
mostrar que a cooperação é uma alternativa possível e saudável no campo das
relações sociais, em segundo lugar, promove efetivamente a cooperação entre as
pessoas, na exata medida em que os jogos são eles próprios, experiências
cooperativas.
Para esse projeto optou-se pelos Jogos Cooperativos, pois acredita-se que
esse jogo tem o poder de despertar, nas pessoas, o gosto pela cooperação,
favorecendo assim, a integração de todos, promovendo a auto-estima e a
convivência harmoniosa.
Segundo Soler. “Muitos valores surgem em situações de cooperação, assim
como a amizade, a sensibilidade, a ajuda mutua, a intercomunicação de idéias e o
orgulho de pertencer ao grupo”.
Logo, este projeto justifica-se pela relevância de buscar possibilidades
metodológicas para o Ensino de uma Educação Física onde a Inclusão, a
Coletividade e a Igualdade de direitos e deveres sejam básicas, todos busquem,
coletivamente, caminhos para compartilhar, solidarizar, preservar-se frente às
dificuldades, construindo assim, um caminho para crescer e desenvolver.
1.2 Problematização
Os Jogos Cooperativos contribuem para a formação integral, na escola?
1.3 Objetivo Geral
Desenvolver possibilidades metodológicas através dos Jogos Cooperativos,
para alunos de 5ª série do ensino fundamental do Colégio Estadual José Marcondes
Sobrinho da cidade de Laranjeiras do Sul – Paraná, para a formação integral do
aluno.
1.4 Objetivos Específicos
- Propor os Jogos Cooperativos como uma nova possibilidade para as aulas de
Educação Física;
- Analisar os diferentes pontos de vista dos alunos, apresentados durante as
atividades;
- Observar, por meio das práticas pedagógicas das aulas de Educação Física, a
aceitabilidade dos Jogos Cooperativos por parte dos alunos de 5ª série do ensino
fundamental;
- Oportunizar o trabalho em grupos, incentivando a integração;
- Verificar a aceitação dos Jogos Cooperativos e a participação do educando no
decorrer das atividades;
- Desenvolver práticas pedagógicas que possibilitem trabalhar aspectos
cooperativos, que permitam valorizar o hábito do pensar, cooperar, refletir,
comunicar, conscientizar, socializar por meio dos Jogos Cooperativos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Segundo Elenor Kunz (p 11, 2006), a Educação Física brasileira,
especialmente dos últimos dez anos, encaminha-se para um desenvolvimento cada
vez mais diferenciado em relação a sua prática. De um lado, persiste o modelo
tradicional que pretende preservar os objetivos básicos da disciplina conforme
previstos nas próprias legislações oficiais, os quais se configuram, basicamente, no
desenvolvimento das modalidades esportivas e por intermédio deste a consecução
de metas sócio educacionais como fomento à saúde e a formação da personalidade.
Por outro lado, ocorre cada vez mais intensamente o desenvolvimento de projetos
para uma Educação Física Escolar comprometida com finalidades mais amplas; ou
seja, além da sua especificidade, deve ainda se inserir nas propostas político
educacionais de tendência crítica da educação brasileira. Em termos de produção
teórica esta última tendência vem se desenvolvendo rapidamente.
A Educação Física é parte da Educação Geral, sendo sua tarefa educativa
desenvolvida com a compreensão do sujeito que se pretende construir. O pensar, as
emoções, os gestos são humanos, não ora físicas ou psíquicas. Ela deve ocupar-se
do corpo e seus movimentos voltados para a ampliação constante das
possibilidades concretas dos seres humanos, ajudando-os assim, na sua realização
mais plena e autêntica (Santin, 2003).
A Educação Física, como atividade educativa, será tanto mais consequente
em relação aos objetivos políticos pedagógicos, quanto mais forem desenvolvidas
práticas de vida e de trabalho que estimulem as relações sociais, com dimensão
política, comprometida com uma nova postura do profissional de Educação Física
Escolar. Este deve estar sempre atento ao seu papel de agente renovador e
transformador da comunidade onde vive.
Para Medina (1990): as consciências precisam ser agitadas e estimuladas no
sentido de uma ampliação de suas possibilidades, pois somente através da
superação de uma consciência comum, convertendo-a em uma consciência
filosófica cada vez mais crítica e, portanto aptos a transformação. Implica
necessariamente, em se perceber, implícita ou explicitamente, que as relações entre
nossas ações e reflexões são fenômenos que se completam e que embora possam
ser consideradas de maneira distintas, não se excluem. É no equilíbrio desta
unidade fundamental que o ser humano pode ascender a níveis superiores de
consciência, permitindo alimentar não apenas os seus poderes de imitação, estes
característicos também aos animais em graus diferentes, mas essencialmente
tornando-o um ser capaz de fazer cultura, ou seja, capaz de criar, objetos, situações,
valores. E é este poder de criação e a capacidade de questionar o seu valor que se
constitui na marca registrada da espécie humana.
Tratando-se de Cultura Corporal Medina (1990) argumenta ainda que, a
evolução de uma cultura do corpo que fundamente a Educação Física, deve ser
trabalhados no sentido de rever criticamente seus princípios e propostas, enquanto
atividade preocupada com o verdadeiro desenvolvimento humano integral e ainda no
sentido de democratizá-la permitindo que todos (promotores e beneficiários) possam
ter acesso mais fácil aos conhecimentos necessários e condizentes com o
desenvolvimento integral da mulher e do homem brasileiro, por meio do movimento.
Entende-se por formação integral do aluno, não só o estudo dos conteúdos
propostos, mas a socialização, as relações interpessoais, que acontecem dentro da
escola, por meio dos momentos de aprendizagens individuais e coletivas, de
socialização de decisões. Essa possibilidade no ensino da Educação Física é
possível de ser alcançada através da complementação e enriquecimento do trabalho
pedagógico, possibilitando a construção de conhecimentos significativos que
despertem para uma tomada de consciência em relação aos valores humanísticos
fundamentais para o relacionamento harmonioso entre as pessoas.
Essa proposta pedagógica visa contribuir para o ser co-responsável no
processo educativo, tendo como princípio, despertar a consciência do movimento,
enquanto comunicação, interação nas relações sociais e suas transformações.
Espera-se assim, através de movimentos corporais conscientes, provocar a reflexão
crítica e a expressão.
As verdadeiras propostas (práticas) de trabalho em Educação Física, e em outros tantos ramos, são um projeto a ser construído em cada situação concreta, onde elas pretendem se realizar por intermédio dos valores que conscientemente aceitam todos os participantes do processo. E para ser legítimo, tem que ser necessariamente um projeto coletivo (Medina, p. 15, 1983).
A utilização do jogo e sua importância já foram estudados por importantes
estudiosos e continuam sendo até hoje, ele é historicamente construído, sendo
porém sujeito à mudanças.
Se antes no mundo do jogo havia uma dinâmica fundada num associativismo espontâneo, a partir de uma construção lúdica comum ao grupo de amigos, agora o sentimento de domínio pela força prevalece, aniquilando o esquema anterior, fazendo com que os mais fortes sejam imbuídos de um sentimento de propriedade (em relação ao próprio corpo) e de poder (em relação ao domínio pela força) comparado ao espaço lúdico (BRUHNS, p. 89, 2003).
Huizinga (p 32, 2007) vê o jogo como elemento da cultura humana. Ele
propõe que o jogo é anterior à cultura visto que esta pressupõe a existência da
sociedade humana. Acrescenta ainda que “a existência do jogo não está ligada a
qualquer grau determinado de civilização ou qualquer concepção de universo”.
Segundo Bruhns (1996), o modelo do esporte atual não deve fazer com que o
jogo seja confundido ou mesmo se transforme em esporte. Para a autora, não se
pode estabelecer semelhança entre jogo e esporte, mas sim algumas relações que
fazem com que, se o primeiro pode se transformar no segundo, o esporte também
pode vir a ser um jogo, sob determinadas condições, tais como relaxamento das
regras, uma menor organização, a ausência da busca incessante da vitória, entre
outras.
Embora sejam atividades distintas, pode-se afirmar que o esporte é apenas
uma das manifestações de jogo dentro de um contexto bastante socializado e
universal.
Por outro lado, Amorim deixa claro que quando não existe o medo de errar, e
a criança se sente pertencente ao grupo, ela desenvolve uma alta autoestima o que
possibilita um bom e adequado ajuste psicológico apresentando, por isso, condutas
de cooperação.
Brotto (1999), afirma que Cooperação é um processo de interação social, em
que os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são
distribuídos para todos. Ao contrário, a competição é um processo de interação
social, em que os objetivos são mutuamente exclusivos, as ações são isoladas ou
em oposição umas às outras, e os benefícios são destinados somente para alguns.
Os Jogos Cooperativos são flexíveis, e podemos jogar livremente, sem medo de sermos arrancados do jogo. E aí, quando sentimos que fazemos parte de uma grande e verdadeira equipe, deixamos fluir nosso poder de criação, liberdade e cooperação (Soler, p 76, 2006).
Competir e cooperar são possibilidades de ser e agir no mundo. Dentro
dessas duas possibilidades, deve-se buscar aquela que tem o poder de transformar,
e ensine a compartilhar, contribuindo assim para uma mudança de cultura, incluindo
a todos, e com participação coletiva.
“O jogo é um espectro de atividades interdependentes, que envolvem a
brincadeira, a ginástica, a dança, as lutas, o esporte e o próprio jogo” (Brotto, p 13,
2001).
O jogo oferece às pessoas muitas oportunidades, permitindo o
aperfeiçoamento da convivência de uns com os outros, e também consigo mesmo.
Brotto destaca que o jogo pode ser visto e praticado não somente como
atividade lúdica característica da Educação Física e das Ciências do Esporte, mas
principalmente, como uma das expressões da Consciência Humana no dia-a-dia.
Salienta ainda, que o jogo e a vida são próximos, pois refletem entre si
características semelhantes.
Em todas as idades o jogo é importante para o desenvolvimento humano. Ao
jogar, as pessoas estão praticando direta e profundamente, um exercício de co-
existência e de Re-conexão com a essência da Vida.
O jogo tem o poder de contribuir para a solução de problemas, harmonizar
conflitos, superar crises e alcançar objetivos.
Funções essenciais do jogo merecem destaque, como a de desenvolver o
relacionamento humano; equilibrar o corpo e a alma; transmitir valores; fugir da
realidade; expressão corporal; experimentar e se sentir livre.
A Educação Física conta com um espaço privilegiado para trabalhar com os
educandos, pois os jogos são de relevância para o desenvolvimento do ser humano,
atuando como representação do real, através de situações imaginárias, criando,
assim um conjunto de possibilidades que favorecem a prática pedagógica.
Através do lúdico a criança pode construir o mundo do jeito que gostaria que
ele fosse, assim o lúdico se apresenta como parte integrante do ser humano e se
constitui nas interações sociais.
Os Jogos Cooperativos começaram a ser difundidos no Brasil, na década de
80, em Brasília, a Escola das Nações. Nela, os embaixadores de outros países
matriculavam seus filhos. A filosofia desta escola baseava-se na solidariedade,
respeito mútuo e cooperação.
Nos anos seguintes, várias instituições começaram a trabalhar com esta
concepção de jogo. Em 2001, aconteceu o 2º Festival de Jogos Cooperativos cujo
tema foi “Construindo um Mundo Onde Todos Podem VenSer”, sendo que o primeiro
contato ocorreu em 1999, no SESC Taubaté, com participantes do Brasil e da
América do Sul.
Os Jogos Cooperativos apresentam, como característica principal, a sua
forma de participação. O principal objetivo em cada atividade realizada é
proporcionar aos participantes o máximo de diversão sem se preocupar com a
competição.
Proporcionar a melhoria das relações humanas é também um dos propósitos
do uso dos Jogos Cooperativos em escolas, pois entendemos que o comportamento
das pessoas tem mudado muito nos últimos anos. Vive-se em uma época onde o
individualismo e a disputa têm dominado o dia a dia da sociedade. Isso contribui
para uma desumanização onde a preocupação de um com o outro desaparecem.
Os Jogos Cooperativos apresentam, como dinâmica, aproximar mais as
pessoas, favorecendo assim, a comunicação criativa, sinceridade e reflexão, o que
contribui positivamente na construção e emancipação do grupo envolvido,
potencializando as habilidades humanas básicas como o amor, a alegria, a
criatividade, a confiança, o respeito, a responsabilidade, a liberdade, a autonomia, a
paciência, a humildade, a solidariedade, etc.
Os Jogos Cooperativos propõe a busca de novas formas de jogos, com o
intuito, de promover atitudes de sensibilidade, cooperação, comunicação, alegria e
solidariedade. A esperança, a confiança e a comunicação são as principais
características dos Jogos Cooperativos, além de buscar a integração de todos, bem
como, a alegria e a valorização do indivíduo na construção do processo de
participação e aprendizagem. Por isso, os Jogos Cooperativos buscam incluir.
(DENICOL, 2004).
O Jogo é uma manifestação cultural muito significativa. Surgiu com a
humanidade e até hoje tem um papel fundamental no desenvolvimento de todos os
povos da raça humana. Pode-se dizer que o Jogo é como um grande espelho que
reflete a forma como determinada sociedade vive as relações entre as pessoas e
aquilo que, teoricamente, aquela comunidade acredita, seus valores e sua moral.
(BROTTO, 2000).
Por que não usar a força transformadora dos jogos para ajudar a nos
tornarmos o tipo de pessoa que realmente gostaríamos de ser? (ORLICK, 1989).
Observando-se a sociedade, pode-se perceber o quanto a competição
prevalece. O condicionamento enraizado em competir só é superado ao buscar-se
novas práticas que contribuam para a superação deste problema.
Brotto (p 20, 1999), considera que a pedagogia dos Jogos Cooperativos é
apoiada em três dimensões de ensino aprendizagem: Vivência, Reflexão e
Transformação. Pela Vivência busca-se incentivar e valorizar a inclusão de todos,
respeitando as diferentes possibilidades de participação. Através da Reflexão, cria-
se um clima de cumplicidade entre os participantes, incentivando-os à refletirem
sobre as possibilidades de modificar o jogo, na perspectiva de melhorar a
participação, o prazer e a aprendizagem de todos. E por fim, a Transformação, que
se propõe a ajudar a sustentar a disposição para dialogar, decidir em consenso,
experimentar as mudanças propostas e integrar, no jogo, as transformações
desejadas.
A cooperação é um exercício, e sendo um exercício, deve ser praticada,
considerando o processo do Jogo Cooperativo dividido em ação – reflexão – ação
melhorada.
As crianças de 5ª série tem idade entre 10 e 11 anos, são ainda crianças
entrando na pré adolescência, por isso os cuidados em se tratando de aula de
Educação Física devem ser redobrados. O objeto da pedagogia da Educação Física,
estende-se ao movimentar-se da criança que tem história, vida, classe social,
desejos e sentimentos.
Elenor Kunz (2006), apresentando o interesse na Análise do Movimento na
Aprendizagem Motora, coloca que “O homem é visto como uma máquina, um motor
do qual, depende dos ajustes funcionais e do combustível, podendo-se prever a
possibilidade do rendimento. O ser humano funciona dentro de leis e princípios
mecânicos. Já, na aprendizagem motora o ser humano se apresenta numa visão
mais ampla e complexa. Estas complexidade e amplitude se manifestam nas
dimensões perceptivo-cognitivas, emocional-afetivas, sociais e motoras do ser
humano”.
Portanto o estímulo à participação de experiências significativas, como os
Jogos Cooperativos, contribuem para o desenvolvimento de capacidades positivas
de interação social, de unidade, de confiança mútua, e a elevar os sentimentos de
autoestima.
Reinaldo Soler (2006) descreve algumas características dos Jogos
Cooperativos:
• Os participantes jogam uns com os outros e não uns contra os outros;
• Joga-se para superar desafios e não para derrotar alguém;
• Busca-se atingir um objetivo comum e não, fins mutuamente
exclusivos;
• Aprende-se a considerar o outro que joga como um parceiro, um
solidário, em vez de tê-lo como temível adversário;
• A pessoa que joga passa a ter consciência dos próprios sentimentos;
• Colocam-se uns no lugar dos outros, priorizando o trabalho em equipe;
• Joga-se para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar com os outros;
• Reconhece-se que todos os jogadores são importantes para se
alcançar o objetivo final;
• Não há comparação de habilidades, muito menos, de performances
anteriores.
Freire (2005) afirma que uma aula, embora eficaz, não se basta e não se
esgota no momento de sua realização, pois a missão de cada disciplina é mais que
ensinar conteúdos específicos, ensinar para a vida.
A Educação Física é parte importante desse processo, pois pode aproveitar
as características infantis, e contribuir para mudar todo um comportamento através
dos Jogos Cooperativos que oferecem dinâmicas de grupo que têm por objetivo
principal despertar a consciência de cooperação.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica apresentam, em seu caderno,
a dimensão histórica da disciplina de Educação Física. Em seu último parágrafo
afirma que:
Dentro de um projeto mais amplo de educação no Estado do Paraná,
entende-se a escola como um espaço que, dentre outras funções, deve garantir o
acesso dos alunos ao conhecimento produzido historicamente pela humanidade.
Nesse sentido, partindo de seu objeto de estudo e de ensino, Cultura
Corporal, a Educação Física se insere neste projeto, ao garantir o acesso do
educando ao conhecimento e à reflexão crítica das inúmeras manifestações ou
práticas corporais historicamente produzidas pela humanidade, na busca de
contribuir com um ideal mais amplo de formação de um ser humano crítico e
reflexivo, reconhecendo-se como sujeito, que é produto, mas também agente
histórico, político, social e cultural.
Os Jogos Cooperativos vêm de encontro a essa perspectiva de tomada de
atitude que emana de uma vivência de sentimentos e sensações que fazem
desvendar significados e tomar decisões coletivas, contribuindo para o
desenvolvimento de habilidades intelectuais, interpessoais, físicas, pessoais e em
relação aos outros.
3. METODOLOGIA E ESTRATÉGIA DE AÇÃO
A estratégia de ação parte inicialmente das pesquisas bibliográficas sobre
Jogos Cooperativos, mais especificamente no uso desses jogos como uma
possibilidade para a vivência escolar.
Entende-se por pesquisa bibliográfica: a leitura, análise e interpretação de
livros, periódicos e documentos que auxiliam na construção efetiva de uma
investigação.
O material didático foi elaborado no ano de 2011, fez parte da produção
didático pedagógica, possibilitando a implementação do projeto na escola.
Este estudo justifica-se pela relevância em buscar possibilidades
metodológicas para o ensino de uma Educação Física na 5ª série do ensino
fundamental, onde a inclusão, a coletividade e a igualdade de direitos e deveres
sejam básicos, onde todos esses princípios busquem coletivamente caminhos para
compartilhar, solidarizar, perseverar frente às dificuldades, construindo assim, um
caminho para crescer e desenvolver.
Foram desenvolvidas práticas pedagógicas que possibilitaram trabalhar
aspectos cooperativos, permitindo valorizar o hábito de pensar, cooperar, refletir,
comunicar, conscientizar, socializar por meio dos Jogos Cooperativos.
A pesquisa foi baseada na aplicação dos Jogos Cooperativos nas aulas de
Educação Física e avaliada por um questionário informal, aplicado aos alunos da
turma a fim de levantar dados para serem analisados e discutidos.
Este projeto foi realizado no Colégio Estadual José Marcondes Sobrinho da
cidade de Laranjeiras do Sul, no segundo semestre de 2011, envolvendo uma turma
de 5ª série do ensino fundamental, com faixa etária compreendida entre 10 e 12
anos, regularmente matriculados no período matutino da escola.
O projeto antes de ser desenvolvido na escola foi apresentado ao diretor,
pedagoga e professores, na semana pedagógica, após as férias de julho.
Antes da aplicação dos Jogos Cooperativos foram explicadas suas regras e a
finalidade de cada jogo, deixando os educandos livres, na perspectiva de atingir o
objetivo em comum.
As atividades cooperativas foram desenvolvidas três vezes por semana, com
aulas de cinquenta minutos.
A produção didática pedagógica foi elaborada com o objetivo de oferecer
oportunidade a todos para conhecer e participar de atividades que envolvessem
Jogos Cooperativos, promovendo a integração, estimulando assim, o resgate dos
valores humanos como o respeito, a solidariedade, a cooperação e a união do
grupo.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na realização do trabalho de implementação do projeto na escola, pôde-se
constatar o interesse e a participação expressiva dos alunos em todas as atividades
desenvolvidas. A cada novo jogo apresentado, surgiam novas possibilidades de
interação para se solucionar os problemas de forma coletiva. Percebi também que
esse jogo gera atitudes solidárias, promove a necessidade de compartilhar ideias,
fazendo com que um necessite do outro para que o jogo aconteça de fato. A
intervenção acontecia conforme a necessidade apresentada pelo grupo.
4.1 Discussões Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) contou com a participação de
professores da Rede Pública Estadual, para o estudo do tema proposto: Jogos
Cooperativos: uma possibilidade para a vivência na escola.
O trabalho em rede aconteceu no segundo semestre do ano de 2011, com a
participação de quinze professores/cursistas, os quais realizaram as atividades,
participando ativamente das discussões, demonstrando através de seus
apontamentos e interações, compreensão pela intencionalidade da proposta
apresentada.
A ativa participação dos professores/cursistas demonstrou que o tema
estudado é de fundamental importância para o enriquecimento pedagógico dos
profissionais da área de Educação Física.
4.2 Atividades desenvolvidas
O trabalho consiste em desenvolver práticas pedagógicas que possibilitem
trabalhar aspectos cooperativos, que permitam valorizar o hábito do pensar,
cooperar, refletir, comunicar, conscientizar e socializar por meio dos Jogos
Cooperativos.
Foram desenvolvidas atividades envolvendo Jogos Cooperativos, indicados
por alguns autores pesquisados, como Reinaldo Soler (2006), Elenor Kunz (2006),
Fábio Otuzi Brotto (2001), Guillermo Brown (1994).
5. CONCLUSÃO
Ao final do trabalho foi perceptível a significância em vivenciar os Jogos
Cooperativos nas aulas de Educação Física, pois, foi possível desenvolver as
atividades previstas, observar a participação e interesse dos alunos, constatar
também as inúmeras possibilidades que o jogo propicia ao favorecer o resgate de
valores humanísticos, fundamentais que promovem o relacionamento amigável entre
as pessoas.
As atividades desenvolvidas foram aceitas com entusiasmo e participação
ativa dos alunos, pois todos tiveram a oportunidade de vivenciar o Jogo Cooperativo,
dando opiniões, participando da criação, apresentando seu ponto de vista,
compartilhando sentimentos e ideias.
Acredito que esse trabalho mostrou a todos que o Jogo Cooperativo favorece
a comunicação entre todos os participantes e essa vivência nova apontou para
outras possibilidades nas aulas de Educação Física. Um clima de cumplicidade foi
criado através deste jogo, pois todos puderam refletir, participar e cooperar na
construção e realização.
Sabemos que isso foi possível acontecer devido ao Jogo Cooperativo
apresentar as características de criação, liberdade e cooperação.
Neste sentido, a pesquisa tornou-se possível devido a disciplina de Educação
Física ter como foco principal o movimento. Este vem de encontro às características
de criação, liberdade e cooperação que os Jogos Cooperativos apresentam fazendo
uma combinação perfeita para o desenvolvimento da consciência corporal com as
relações sociais e humanas da contemporaneidade. Sabemos que a cooperação é
necessária para a nossa sociedade, caso contrário, a escolha de outro caminho que
não seja o de cooperar uns com os outros, será danoso para todos.
Devido às inúmeras possibilidades pedagógicas que o jogo apresenta creio
que os Jogos Cooperativos devem fazer parte da Proposta Política Pedagógica.
Considero importante a realização de projetos interativos que envolvam a
comunidade escolar.
Pensando nisso, acredito na frase de Fábio Brotto (2001), que diz:
“Necessitamos aperfeiçoar nossas habilidades de relacionamento e aprender a viver
uns com os outros, ao invés de uns contra os outros”.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COSTA, Ivanete Maria da & PIMENTEL, Giuliano Gomes de Assis. REFLEXÕES CRITICAS SOBRE O USO DE JOGOS COOPERATIVOS EM ESCOLAS COM VIOLÊNCIA DISCENTE. SEED – UEM
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SOLER, Reinaldo. JOGOS COOPERATIVOS: para Educação Infantil. Rio de Janeiro: 2ª edição: Sprint, 2006.