joão parte 2
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A474 Alves, Silvio Dutra João./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 333p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Evangelho. 3. Comentário Bíblico. I. Título.
CDD 230.226
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Sumário
João 11.......................................................... 5
João 12.......................................................... 23
João 13.......................................................... 43
João 14.......................................................... 59
João 15.......................................................... 89
João 16.......................................................... 102
João 17.......................................................... 113
João 18.......................................................... 125
João 19.......................................................... 141
João 20.......................................................... 161
João 21.......................................................... 176
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João 11
O Amor de Jesus por Lázaro
“1 Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de
Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento, e lhe tinha enxugado os pés com
os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava
enfermo.
3 Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor,
eis que está enfermo aquele que tu amas.
4 E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para
que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a
Lázaro.
6 Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda
dois dias no lugar onde estava.
7 Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judeia.
8 Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas
para lá?
9 Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se
alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a
luz deste mundo;
10 Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
11 Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o
nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do
sono.
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12 Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se
dorme, estará salvo.
13 Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém,
cuidavam que falava do repouso do sono.
14 Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro
está morto;
15 E folgo, por amor de vós, de que eu lá não
estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter
com ele.
16 Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos
condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.”
No capítulo anterior vemos que Jesus havia se
retirado de Jerusalém para o deserto, do outro
lado do Jordão, próximo do local onde João
batizara, porque estavam tentando matá-lo na região da Judeia.
Quando se encontrava neste refúgio Jesus foi procurado por mensageiros da parte da Maria e
Marta, irmãs de Lázaro, que lhe disseram que o
irmão delas estava enfermo.
Como eles residiam em Betânia, uma cidade
que ficava próxima de Jerusalém, na Judeia,
seria necessário, que Jesus retornasse à região da qual havia fugido, e estaria se expondo de
novo ao risco de ser morto.
Jesus amava aquela família e é possível que
tenha se hospedado com eles algumas vezes, de
maneira que não se negaria a ir ter com eles
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ainda que se expondo a ser perseguido e
apedrejado.
O Senhor nunca se negou e jamais se negará a
socorrer àqueles aos quais Ele ama, quando eles O buscarem para obterem graça e alívio.
No entanto, Ele o fará dentro da vontade do Pai,
e de acordo com a sua soberania divina, de modo
que Deus possa ser glorificado em todos os livramentos e bênçãos que Ele nos der. Por isso
permaneceu ainda dois dias no lugar onde se
encontrava antes de se dirigir a Betânia.
Porque quando a nossa esperança está totalmente perdida, e parece que Cristo não
chegará à hora marcada, então nós o veremos
agindo com poder para nos arrancar, se
necessário for até mesmo da sepultura.
O fim da esperança para aquilo que os homens
podem fazer é o início da oportunidade que o
Senhor tem para agir e glorificar o seu grande
nome.
Esta Maria, irmã de Lázaro não é a mesma mulher que ungiu a Jesus na casa do fariseu
chamado Simão, apesar de ser dito também que
ela ungiu ao Senhor e enxugou os seus pés com os seus cabelos (v. 2), porque esta unção é citada
no capítulo seguinte (12.3) na casa de Lázaro,
depois que foi ressuscitado pelo Senhor.
Não podemos esquecer que João escreveu o seu
evangelho muitos anos depois de terem ocorrido os fatos que são por ele narrados.
Lázaro era alguém a quem Jesus muito
estimava, porque na mensagem que suas irmãs
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Lhe enviaram, mandaram dizer que estava
enfermo aquele a quem Ele amava.
Isto nos dá um testemunho direto que
comprova o amor que Jesus tinha por aqueles que eram seus discípulos; especialmente
aqueles que andavam na verdade, como
certamente era o caso de Lázaro.
A enfermidade de Lázaro estava no cronograma de Deus para que Jesus fosse glorificado através
do que faria em relação a ela. Ele sabia que
Lázaro não deveria passar deste mundo para o
céu através daquela enfermidade, e por isso disse aos seus discípulos que a enfermidade de
Lázaro não era para morte. No entanto, Lázaro
morreu daquela enfermidade, e como Jesus
disse que ele não sairia deste mundo por causa da mesma, então era de se supor que ele deveria
ser ressuscitado.
João registrou que Jesus amava a Marta, a Maria
e a Lázaro.
Quando Ele disse aos seus discípulos
que deveriam retornar à Judeia, eles reagiram
lembrando-lhe que ainda recentemente os
judeus estavam procurando apedrejá-lo, e como poderia ter decidido então retornar para lá?
O Senhor lhes respondeu que quando se anda na
luz não se tropeça, referindo-se à luz natural, e
que se tropeça somente quando se anda à noite,
porque não há luz.
Jesus falou de coisas naturais para ilustrar
realidades espirituais, especialmente a de que
quando se está a serviço de Deus andando na sua
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luz, dentro da sua vontade, e com os propósitos
certos e com o coração puro, não se tropeçará,
porque Deus nos guardará disto. Mas quando se
anda em trevas espirituais não se pode contar com tal proteção e favor de Deus. Tendo
encorajado os discípulos com tais palavras, Ele
lhes declarou então o motivo da ida para a Judeia dizendo que Lázaro, o amigo deles, estava
dormindo e que Ele iria despertá-lo do seu sono.
Como eles pensavam que estava falando do repouso do sono, Jesus lhes disse
expressamente que ele havia morrido, e que se
alegrava pelo fato de que não estivesse lá para
impedir a sua morte, curando a sua enfermidade, porque ele faria um sinal ainda
maior que daria a eles a oportunidade de terem
a fé deles nele, aumentada.
Tamanha era a intensidade da perseguição que
Jesus estava sofrendo, que Tomé se adiantou aos
demais discípulos e lhes encorajou para que fossem todos com Jesus para a Judeia para
morrerem com Ele.
A morte já não pode mais assombrar os cristãos verdadeiros pelo que podemos deduzir do modo
pelo qual Jesus se referiu à morte de Lázaro
como sendo um sono, e dizendo aos discípulos que o amigo deles estava dormindo.
A morte de um cristão é um sono, porque na
verdade, a morte já não tem mais poder sobre eles, porque ainda que morram, permanecem
vivos diante de Deus, pois a vida de Cristo está
neles, e assim como Ele vive para sempre,
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também os cristãos vivem para sempre por
causa dele.
Simplesmente eles saem deste mundo, mas não
permanecem mortos. Quão grande vitória
Cristo nos dá sobre a morte, e Ele comprovaria
isto aos seus discípulos ao ressuscitar Lázaro, como também serviria para encorajá-los a
realizarem seus ministérios depois que Jesus
saísse deste mundo, sem nada temerem,
conforme o exemplo que lhes estava dando naquela hora, retornando à Judeia.
Eles já não tinham porque temer a morte porque
estavam a serviço dAquele que é a ressurreição e a vida.
O Consolo Especial Que Jesus Nos Dá - João 11
“17 Chegando Jesus, encontrou Lázaro já
sepultado, havia quatro dias.
18 (Ora Betânia distava de Jerusalém quase
quinze estádios.)
19 E muitos dos judeus tinham ido consolar a
Marta e a Maria, acerca de seu irmão.
20 Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada
em casa.
21 Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu
estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.
22 Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.
23 Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.
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24 Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar
na ressurreição do último dia.
25 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida;
quem crê em mim, ainda que esteja morto,
viverá;
26 E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca
morrerá. Crês tu isto?
27 Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o
Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
28 E, dito isto, partiu, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e
chama-te.
29 Ela, ouvindo isto, levantou-se logo, e foi ter
com ele.
30 (Ainda Jesus não tinha chegado à aldeia, mas
estava no lugar onde Marta o encontrara.)
31 Vendo, pois, os judeus, que estavam com ela
em casa e a consolavam, que Maria
apressadamente se levantara e saíra, seguiram-
na, dizendo: Vai ao sepulcro para chorar ali.
32 Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés,
dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu
irmão não teria morrido.”
Quando Jesus chegou em Betânia, o corpo de
Lázaro se encontrava sepultado há quatro dias.
Sabendo que Ele havia chegado Marta se
apressou em se encontrar com Ele, antes
mesmo de entrar na aldeia onde ela morava.
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Ali, ainda longe da sua casa onde as pessoas
estavam ainda enlutadas pela morte de seu
irmão, juntamente com sua irmã Maria, teve
uma breve entrevista com Jesus e lhe disse que caso Ele estivesse presente, Lázaro não teria
morrido; e que sabia que tudo que Jesus pedisse
a Deus Ele lhe concederia.
Diante desta afirmação de fé, que ela
certamente recebeu do alto, na convicção de
que Jesus faria algo extraordinário, mas não
cogitou tanto a ponto de que Ele iria ressuscitar seu irmão ainda naquele dia, porque quando
Jesus lhe disse que Lázaro haveria de
ressuscitar, ela afirmou que sabia que isto
aconteceria na ressurreição do último dia, conforme está prometido a todos os cristãos que
morrem no Senhor, de terem seus corpos
ressuscitados no dia do arrebatamento da
Igreja.
Ela havia dito uma verdade, e Jesus comprovaria
esta verdade ressuscitando Lázaro, para
mostrar que Ele tem de fato o poder de trazer os corpos que morreram de novo à vida.
Assim, disse a Marta que de fato, Ele é a
ressurreição e a vida, e que aquele que nele crê, ainda que esteja morto, viverá, e que todo aquele
que vive, e que creia nele, nunca morrerá.
Em seguida perguntou a Marta se ela cria nisto.
Ela respondeu sabiamente dizendo que cria que
Ele é o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao
mundo.
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Com esta sua declaração ela fez uma afirmação
de fé de que tudo é possível ao Senhor, porque
nada é impossível para o Messias, para o Filho
de Deus que deveria vir ao mundo para restaurar todas as coisas.
Jesus queria falar também separadamente com
Maria, e por isso permaneceu no lugar onde se
encontrava, fora da aldeia, e pediu a Marta que chamasse Maria em segredo para vir ter com
Ele.
Maria se apressou em ir ter com o Senhor, mas
muitos que estavam na casa pensando que ela iria para o local do túmulo de Lázaro para
chorar, saíram logo depois dela para confortá-la.
Quando Maria chegou ao lugar onde Jesus
estava lançou-se aos seus pés dizendo que caso ele estivesse com eles, Lázaro não teria morrido.
Ela conhecia a virtude sobrenatural que Jesus
possuía para curar toda sorte de enfermidades,
e fez esta límpida declaração de fé, da plena confiança que ela tinha no seu poder.
Não é de se estranhar porque é dito que Jesus
amava aquela família.
O Senhor ama de um modo especial a todos que
têm esta qualidade de fé na sua pessoa, como a que Marta e Maria haviam demonstrado, e que
certamente era o mesmo tipo de fé que habitava
em Lázaro.
Eles honravam a Jesus com a sua fé, e não foi por acaso que Deus escolheu aquela família para
também honrar a fé deles com o milagre da
ressurreição de Lázaro.
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Nós vemos então o Senhor compartilhando
privadamente o que faria àquelas duas gigantes
da fé.
Uma grande fé será também grandemente
honrada pelo Senhor.
Ele nos fará saber disto de maneira íntima falando ao recôndito dos nossos corações.
O Senhor nos separará do meio da multidão e
nos consolará em particular.
Ainda que saiba que expulsará os nossos
problemas para bem longe de nós, Ele primeiro
nos fortalecerá e consolará, para que saibamos que tudo quanto necessitamos é da força da sua
graça.
Jesus Ressuscitou Lázaro Para Sabermos Que
Também nos Ressuscitará - João 11
“33 Jesus pois, quando a viu chorar, e também
chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se.
34 E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe:
Senhor, vem, e vê.
35 Jesus chorou.
36 Disseram, pois, os judeus: Vede como o
amava.
37 E alguns deles disseram: Não podia ele, que
abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?
38 Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em
si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna,
e tinha uma pedra posta sobre ela.
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39 Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do
defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal,
porque é já de quatro dias.
40 Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres,
verás a glória de Deus?
41 Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia.
E Jesus, levantando os olhos para cima, disse:
Pai, graças te dou, por me haveres ouvido.
42 Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu
disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.
43 E, tendo dito isto, clamou com grande voz:
Lázaro, sai para fora.
44 E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés
ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.”
Jesus não somente se moveu de comoção por
duas vezes em seu interior por causa do quadro
de tristeza que encontrou por causa da morte do seu amigo Lázaro, como também Ele próprio
chorou, apesar de saber que iria ressuscitá-lo.
Quando Jesus chegou ao local do sepulcro, que
era uma caverna com uma grande pedra
fechando a sua entrada, Ele pediu que tirassem
a pedra, e Marta lhe disse que o defunto já estava cheirando mal, porque era de quatro dias.
Ela não estava tão preocupada com o cheiro, mas naquela hora a fé dela vacilou um pouco
porque não estava vendo sentido na ordem de
Jesus em mandar retirar a pedra do sepulcro.
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O Senhor ajudou Marta fortalecendo a sua fé
com uma branda repreensão, lembrando que
lhe havia dito que caso ela cresse, ela veria a
glória de Deus.
O milagre não era dependente da fé de Marta,
mas não faria sentido fazer um milagre daquela
envergadura para honrar quem não tivesse fé.
Então importava que ela continuasse crendo
não somente para honrar o Senhor, para que a fé
dela também fosse honrada.
Assim, tiraram a pedra e Jesus elevando os olhos
para os céus, porque é sempre do alto que os
milagres são realizados, tendo orado
agradecendo ao Pai pela ressurreição de Lázaro, porque o Pai já lhe havia respondido que o
ressuscitaria.
Ele agradeceu ao Pai por tê-lo ouvido, como
sempre.
Ele não precisava ter dito aquelas palavras de
agradecimento de modo audível, mas havia feito
isto para que a multidão em redor cresse que Ele havia sido enviado pelo Pai, porque seria Ele que
realizaria o milagre para que soubessem que
Jesus havia sido enviado por Ele como Salvador
do mundo.
Uma vez tendo sido dada a devida glória ao Pai e
o testemunho de ser um enviado de Deus na
terra para dar vida aos mortos, Jesus clamou com grande voz: “Lázaro sai para fora!”.
Lázaro saiu da sepultura com as mãos e os pés
ligados com faixas e com o rosto envolto num
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lenço, para que se comprovasse que estava de
fato morto e que havia sido ressuscitado.
A única coisa que foi feita pelos homens para
que Lázaro viesse para fora depois de
ressuscitado foi o ato de removerem a pedra do
sepulcro.
Jesus também poderia tê-la removido pelo seu
poder.
Mas Ele não estava ali fazendo um
exibicionismo dos seus poderes, como na
verdade, nunca o faz.
Aquilo que nós podemos fazer enquanto
aguardamos o milagre do Senhor, nós devemos
fazer, e O Senhor fará apenas aquilo que nós não podemos fazer.
As nossas providências preliminares, como
aquele ato de retirar a pedra, são uma prova visível de que estamos crendo naquilo que Ele
haverá de fazer.
Assim, se o Senhor disser que nos dará azeite em abundância, é nosso dever preparar as vasilhas.
Buscando Refúgio no Deserto - João 11
“45 Muitos, pois, dentre os judeus que tinham
vindo a Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.
46 Mas alguns deles foram ter com os fariseus,
e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.
47 Depois os principais dos sacerdotes e os
fariseus formaram conselho, e diziam: Que
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faremos? porquanto este homem faz muitos
sinais.
48 Se o deixamos assim, todos crerão nele, e
virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e
a nação.
49 E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis,
50 Nem considerais que nos convém que um
homem morra pelo povo, e que não pereça toda
a nação.
51 Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que
Jesus devia morrer pela nação.
52 E não somente pela nação, mas também para
reunir em um corpo os filhos de Deus que
andavam dispersos.
53 Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.
54 Jesus, pois, já não andava manifestamente
entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra
junto do deserto, para uma cidade chamada
Efraim; e ali ficou com os seus discípulos.
55 E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém
antes da páscoa para se purificarem.
56 Buscavam, pois, a Jesus, e diziam uns aos
outros, estando no templo: Que vos parece? Não
virá à festa?
57 Ora, os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém
soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o
prenderem.”
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Todas as coisas relatadas por João no seu evangelho continuam ainda ocorrendo quando
o evangelho é pregado e o Senhor confirma a
Palavra pregada com sinais e prodígios.
A evidência do poder de Deus entre os homens
sempre os separará em dois grupos distintos: o
primeiro é o daqueles que crerão no Senhor e glorificarão o seu nome, porque terão olhos e
ouvidos espirituais para entenderem que Deus
esteve entre eles. Assim, para estes, o evangelho
é aroma de vida para a vida.
Mas, há o segundo grupo para os quais o
evangelho é cheiro de morte para a morte,
porque eles não crerão; antes se oporão e tentarão impedir o progresso do reino de Deus,
como fizeram alguns que haviam testemunhado
a ressurreição de Lázaro, e que em vez de
crerem no Senhor como sendo o Messias enviado ao mundo, apressaram-se em procurar
os fariseus para contar a eles o que Jesus havia
feito, não para dar honra ao Senhor, mas para
agradarem aos fariseus, sabendo que eles estavam perseguindo Jesus para matá-lO.
Quando os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho para decidirem o
que deveriam fazer para impedir que Jesus
continuasse operando os sinais que fazia,
porque temiam que toda a nação viesse a crer nele, e que fizessem um levante contra o
império romano e assim corriam o risco de
serem expulsos do seu território.
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Mas como cristãos fariam um levante, quando
temem as autoridades de coração, e oram pela
paz mundial e buscam, conforme Deus lhes tem
ordenado?
Assim, o que os fariseus temiam acabou
ocorrendo em 70 d. C. como um juízo de Deus sobre a nação de Israel, justamente por terem
rejeitado e crucificado Jesus, porque o Senhor
havia falado desde Moisés que pediria contas a todo aquele que deixasse de ouvir o Profeta que
seria levantado por Ele (Dt 18.18).
Deus sempre apanha o sábio na sua sabedoria, e
assim a conclusão a que chegaram por conselho
de Caifás, que importava que Jesus morresse
para que não perecesse toda a nação, poderia parecer uma decisão política muito sábia, mas
era altamente covarde e injusta.
No entanto, o conselho ladino de Caifás foi
interpretado por João como um prenúncio do
significado espiritual da morte de Jesus, que de
fato morreria não somente pela nação de Israel, mas também para reunir em um corpo os filhos
de Deus que andavam dispersos em todas as
nações; de modo que um morreu por todos, para
que eles não vivam mais para si mesmos, senão para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.
A ressurreição de Lázaro fez com que os sacerdotes e fariseus se reunissem
frequentemente para estudarem o modo como
matariam Jesus.
Sabendo das intenções deles Jesus já não se
expunha mais publicamente entre os judeus e
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se retirou da região da Judeia para uma cidade
chamada Efraim, que ficava próxima do deserto,
tendo ali permanecido com os seus discípulos.
Se somos discípulos de Jesus, estando a seu
serviço, e se Ele é grandemente perseguido
como também o seu evangelho, onde Lhe
estivermos servindo, nós devemos seguir o mover do Espírito para o lugar para o qual Ele
nos conduzirá em segurança, e geralmente este
lugar será o deserto ou próximo do deserto,
porque os nossos inimigos não se animarão em nos perseguir no deserto.
Certamente não estamos falando de um deserto
literal, mas de situações e condições novas que nos manterão afastados do clamor das
multidões, e onde nossas almas estarão de certo
modo isoladas buscando estar em comunhão
com Deus.
Estas retiradas estratégicas são comuns na obra
do ministério, especialmente no trabalho
missionário, como aquele no qual o Senhor e seus discípulos estavam empenhados.
A data da última páscoa que Jesus celebraria
com seus discípulos na terra estava se
aproximando, e como muitos haviam subido a Jerusalém para se purificarem antes da páscoa,
buscavam a Jesus perguntando se por acaso ele
subiria para a festa.
Eles procuraram por Jesus no templo, mas Ele
não se dirigiu para lá, porque os sacerdotes e
fariseus tinham dado ordem para que se alguém
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João 12
Jesus Caminhou ao Encontro da sua Morte por Nós
“1 Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a
quem ressuscitara dentre os mortos.
2 Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com
ele.
3 Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de
Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos;
e encheu-se a casa do cheiro do unguento.
4 Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo,
disse:
5 Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?
6 Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que
tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.
7 Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha
sepultura guardou isto;
8 Porque os pobres sempre os tendes convosco,
mas a mim nem sempre me tendes.
9 E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas
também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara
dentre os mortos.
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10 E os principais dos sacerdotes tomaram
deliberação para matar também a Lázaro;
11 Porque muitos dos judeus, por causa dele, iam
e criam em Jesus.
12 No dia seguinte, ouvindo uma grande
multidão, que viera à festa, que Jesus vinha a
Jerusalém,
13 Tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe
ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.
14 E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito:
15 Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta.
16 Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi
glorificado, então se lembraram de que isto
estava escrito dele, e que isto lhe fizeram.
17 A multidão, pois, que estava com ele quando
Lázaro foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dentre os mortos.
18 Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal.
19 Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após
ele.”
Quanta infâmia e desonra Jesus suportou e tem
ainda suportado.
O relato dos evangelhos nos revela que de fato
há no Senhor uma longanimidade divina que
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Lhe permitiu e que ainda permite suportar com
grande paciência toda a oposição que façam
contra a sua Pessoa.
Quando lemos, por exemplo, as recomendações
que Ele faz aos seus discípulos no Sermão do
Monte, especialmente quanto ao dever de amarem seus inimigos e abençoarem os que
lhes maldizem e perseguem, nós entendemos a
razão destas ordenanças porque em fazendo isto
eles estão simplesmente seguindo o seu próprio exemplo, e importa que sejamos seus
imitadores.
Ele nos daria agora o exemplo máximo da sua
mansidão e submissão à vontade do Pai,
entregando-se voluntariamente nas mãos dos
seus inimigos.
Por inúmeras vezes Ele havia escapado e fugido
das perseguições deles, mas importava que
fosse agora para a cruz para pagar o preço exigido para o perdão dos nossos pecados.
Ele estivera no templo no período da festa da dedicação que era celebrada no mês de quisleu
(dezembro), depois de ter curado o cego de
nascença, e havia se retirado para o deserto
junto ao local onde João batizara, mas retornou à Judeia para ressuscitar Lázaro, e como foi
expedida ordem pelos fariseus para que fosse
preso, e sabendo que aquela prisão culminaria
com a sua morte, e não era ainda a hora, porque importava que morresse na Páscoa, Ele se
retirou mais uma vez para o deserto, perto da
cidade de Efraim.
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A festa da Páscoa foi instituída por Deus para
comemorar o livramento dos primogênitos
israelitas da morte no Egito, nos dias de Moisés,
por causa do sangue do cordeiro que foi colocado nas portas das suas casas, para que o
anjo da morte passasse por sobre elas ao ver o
sangue.
Jesus é o Cordeiro pascal, do qual, por causa da
cobertura do seu sangue sobre a casa espiritual
das nossas vidas, somos livrados da morte espiritual e eterna, para que as consagremos
Àquele que nos salvou da morte.
Ele teria que retornar à Judeia na época da
Páscoa, que era celebrada no mês de Abibe
(março/abril), e Ele o fez indo primeiro para a
cidade de Betânia, à residência de Lázaro, Maria e Marta onde se hospedou, porque além da
residência deles ficar apenas cerca de 3
quilômetros de Jerusalém, Jesus achou conforto
junto daqueles que O amavam, antes de se entregar voluntariamente nas mãos dos seus
inimigos, os quais lhe infligiriam terríveis
sofrimentos, conforme estava profetizado nas
Escrituras.
Mas, para que se cumprissem também as
Escrituras, importava que fosse aclamado antes como rei de Israel, montado em um
jumentinho, de maneira a demonstrar o caráter
pacífico e de humildade do seu reino.
No reino do Messias não há excluídos, por causa
da baixa condição social que se possa ter para
este mundo.
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Tudo o que este mundo despreza pode ser
transformado e estar em honra no reino do
Senhor.
Mas muito do que o mundo considera elevado
poderá estar excluído do seu reino, por ser uma abominação perante Deus.
A mansidão do Cordeiro não será perdida,
quando Ele estabelecer seu reino eterno com
todos os seus súditos.
A regra do seu governo será o seu amor por eles.
E, a justiça de Deus será a base do seu trono.
Faltavam seis dias para a Páscoa quando Jesus se dirigiu à casa de Lázaro e ali lhe prepararam
uma ceia para Ele e seus discípulos; e Lázaro
estava à mesa enquanto Marta os servia.
Foi nesta ocasião que Maria ungiu os pés de
Jesus com nardo puro e enxugou os seus pés com os seus cabelos.
Judas Iscariotes protestou contra aquele ato de
Maria, porque o perfume era muito caro, e ele
considerou que ela havia feito um desperdício,
porque poderia vendê-lo por trezentos dinheiros, para serem distribuídos aos pobres.
No entanto, aquilo não era sequer zelo pelos
pobres, porque ele era o tesoureiro do grupo e
era seu costume furtar o que lhes era ofertado.
Jesus sabia que Judas era ladrão, e o poupou não
dizendo qual era a sua real intenção.
Mas para desfazer o desconforto que ele criou para Maria, e o falso preceito religioso de que o
evangelho consiste em distribuir dinheiro aos
pobres, o Senhor disse que Maria tinha feito um
28
bom serviço, porque O ungira para seu
sepultamento, e que importava antes, cuidar de
agradá-Lo do que aos pobres, porque
fisicamente teriam os pobres com eles durante muito tempo, mas apenas Maria, dentre eles,
tinha percebido que Ele estaria ainda por apenas
um breve tempo em sua companhia, menos do que uma semana.
Jesus tinha tudo em comum com os apóstolos, e
viviam dos recursos que lhes eram providos por
Deus através dos instrumentos que Ele
levantava para sustentá-los.
Isto deveria servir de exemplo para diminuir
nossa estima por riquezas mundanas, porque
definitivamente Jesus e os apóstolos não
andaram à busca das mesmas e nem sonhavam com elas.
A história tem testemunhado que os principais
ministros do reino de Cristo nunca estiveram
interessados em rendas terrenas, e por outro lado, aqueles que sequer foram chamados para
o ministério e que viveram na busca de riquezas
transitaram na Igreja como nuvens sem água,
seguindo o exemplo do mestre deles, a saber, Judas, que também por sua vez, seguiu os passos
de Balaão.
Ministros do evangelho não são mordomos de
bens que lhes pertencem, porque são mordomos dos bens de Cristo, e terão todos eles
que prestar contas da administração que
fizeram destes bens no tribunal de Cristo.
29
Quando os ministros fazem um mau uso dos
recursos de Deus eles são como Judas porque
furtam aquilo que não lhes pertence, mas ao
Senhor e a todo o povo que colocou debaixo do cuidado deles.
A estada de Jesus na casa de Lázaro não pôde ser
mantida em segredo, de maneira que muitos acorreram para lá para terem a oportunidade de
verem não somente a Ele, como também a
Lázaro, a quem Ele havia ressuscitado.
Estes judeus eram pessoas de boa vontade em
sua grande maioria, e isto despertou grande
preocupação nos sacerdotes porque muitos
estavam crendo em Jesus por verem que Lázaro havia de fato sido ressuscitado.
Eles tentariam também destruir a evidência viva
do milagre que Jesus havia feito, que era o próprio Lázaro, e assim também estavam
intentando matá-lo.
Não foram os judeus de Jerusalém que odiavam
Jesus e que estavam envenenados pelos sacerdotes e fariseus, que saíram ao seu
encontro com ramos de palmeiras clamando
“Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em
nome do Senhor (v. 13), quando souberam que Ele estava vindo para a cidade de Jerusalém
montado num jumentinho.
Eram judeus das áreas rurais e de outras cidades que vinham a Jerusalém anualmente para a
festa da Páscoa, e especialmente a multidão que
estivera com Jesus na casa de Lázaro e que
30
testificara que ele realmente lhe havia
ressuscitado (v. 17, 18).
Aquela grande manifestação foi a gota d’água
que levou os fariseus a se conluiarem para
prenderem Jesus.
Muitos pensam que a multidão que bradou
“Hosana” é a mesma que gritou “Crucifica-o”.
No entanto, os que eram de Jerusalém e que estavam buscando a crucificação de Jesus
certamente não se encontravam entre aqueles
que disseram “Hosana”.
Mais do Que Ensinamentos Jesus Veio Nos Dar sua Vida - João 12
“20 Ora, havia alguns gregos, entre os que
tinham subido a adorar no dia da festa.
21 Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de
Betsaida da Galileia, e rogaram-lhe, dizendo:
Senhor, queríamos ver a Jesus.
22 Filipe foi dizê-lo a André, e então André e
Filipe o disseram a Jesus.
23 E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser
glorificado.
24 Na verdade, na verdade vos digo que, se o
grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica
ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem
neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para
a vida eterna.
31
26 Se alguém me serve, siga-me, e onde eu
estiver, ali estará também o meu servo. E, se
alguém me servir, meu Pai o honrará.”
A fama de Jesus deve ter se espalhado pelo
mundo conhecido de então, e os gregos que
estavam sempre atrás de novos conhecimentos
filosóficos devem ter se interessado em conhecer o seu ensino, por pensarem que fosse
um mero filósofo.
Alguns dos gregos que haviam subido a
Jerusalém para a festa da Páscoa pediram a Filipe que lhes apresentasse a Jesus, e tendo
Filipe levado o assunto a André, ambos foram a
Jesus para informá-lo a respeito.
A resposta que o Senhor deu a ambos foi surpreendente porque Ele tinha diante dos seus
olhos somente o propósito de cumprir a missão
que o Pai lhe havia dado de ir para a cruz para
morrer no nosso lugar.
O grande objetivo da missão não era ensinar, mas resgatar.
Não era obter fama pessoal de um mestre de
filosofia, nem sequer de teologia, mas atrair
pecadores a Si para se converterem a Ele, e assim serem livrados da morte eterna, pela
destruição da morte espiritual, pela sua morte
na cruz.
Como aqueles gregos poderiam entender tais coisas com a intenção que tinham em seus
corações de satisfazerem à curiosidade deles
em verem alguém a quem eles queriam honrar
32
simplesmente como a um grande mestre de
filosofia?
Jesus deve ser procurado não pelo nosso próprio
interesse, mas por sermos conduzidos a Ele
impulsionados pelo Espírito Santo, para nos rendermos a seus pés e adorá-lo.
Não admira que o Senhor tivesse dito a André e
a Filipe que era chegada a hora em que Ele seria
glorificado, mas não pelos gregos e nem por
homem algum que pretendesse homenageá-lo, ou prestar-Lhe honrarias.
Porque aqueles que O honrassem da maneira
pela qual deve ser honrado são os que O seguem
e o servem aonde quer que Ele esteja.
Somente aqueles que O honram desta maneira
serão também honrados por Deus Pai, porque têm honrado a seu Filho (v. 26).
Jesus veio a este mundo para dar a sua vida em
resgate de muitos.
Os que são por Ele resgatados devem também
estar dispostos a darem a vida deles a seu
serviço.
Assim como um grão de trigo não pode gerar
fruto se não morrer na terra, para que germine uma nova vida, que gerará muitos outros grãos
de trigo, de igual maneira, se Jesus não
morresse na cruz, permaneceria Ele só como
Filho de Deus, mas pela sua morte, o Pai poderia se prover de muitos outros filhos, que seriam
tornados semelhantes ao seu Filho unigênito.
Desta forma, também os discípulos devem tal
como Cristo, perderem a vida por amor a Ele, e a
33
palavra “vida” no original grego é psiquê, assim
eles devem perder o viver pela energia da alma,
morrendo para o ego, de forma que, vivendo
pelo espírito, possam ser instrumentos nas mãos de Deus para serem canais do Espírito
Santo para a regeneração (novo nascimento) de
muitas outras vidas.
Por isso, quando não se perde este modo de
viver pela alma, em vez de se viver pelo espírito, perde-se também a possibilidade de se viver o
único modo que existe para se experimentar a
vida eterna, que é vivendo espiritualmente.
É preciso, pois aborrecer o nosso viver pela
alma, pela negação do nosso ego, cedendo lugar
a um viver dirigido pelo Espírito.
Assim, os gregos também se converteriam a Ele,
mas no tempo próprio.
Isto aconteceu especialmente através do ministério de Paulo.
Importava agora que o Senhor fosse para a cruz, que o evangelho fosse primeiro pregado, depois
do Pentecoste, em Jerusalém, Judeia, Samaria, e
depois até aos confins da terra.
O Empenho Amoroso de Jesus Para Que
Sejamos Salvos - João 12
“27 Agora a minha alma está perturbada; e que
direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto
vim a esta hora.
34
28 Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz
do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra
vez o glorificarei.
29 Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira,
dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou.
30 Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz
por amor de mim, mas por amor de vós.
31 Agora é o juízo deste mundo; agora será
expulso o príncipe deste mundo.
32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.
33 E dizia isto, significando de que morte havia
de morrer.
34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido
da lei, que o Cristo permanece para sempre; e
como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do
homem?
35 Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está
convosco por um pouco de tempo. Andai
enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe
para onde vai.
36 Enquanto tendes luz, crede na luz, para que
sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e,
retirando-se, escondeu-se deles.”
A expectativa das coisas que brevemente deveria sofrer, fez com que o Senhor não
somente tivesse proferido a André e a Filipe as
palavras que lhes havia dito, em razão de ter
35
sabido que alguns gregos estavam interessados
em falar com Ele, como também O levou a se
angustiar pelo fato de ter avaliado o grande
custo que seria para Ele ter que ir para a cruz, carregando os nossos pecados sobre Si.
Tão terrível seria o sofrimento que O aguardava que a sua alma se angustiou a ponto de estar
convicto de que não poderia se livrar daquela
angústia porque não poderia pedir para ser
livrado pelo Pai das coisas que Lhe aguardavam, porque foi para aquele propósito mesmo que Ele
havia vindo a este mundo.
Ele se submeteu mansamente à vontade do Pai dizendo que Ele glorificasse o seu nome através
do seu sacrifício.
Deus respondeu com uma voz audível que
pareceu à multidão como se tivesse sido um
trovão, ou anjo que tivesse falado; dizendo:
“Já o tenho glorificado, e outra vez o
glorificarei.”.
Deus Pai estava sendo glorificado pelo Filho
através das coisas que estava fazendo através
dele, como por exemplo através da ressurreição
de Lázaro.
E receberia muito maior glória com a libertação
dos milhões de pessoas que sairiam do cativeiro
das trevas e de Satanás para o reino da sua luz, depois que o Filho fosse para cruz, e por isso lhe
foi dito que outra vez glorificaria seu nome
através dele.
36
Por esta razão Jesus disse que aquela voz não foi
propriamente por amor a Ele, mas por amor dos
homens.
Porque foi por amor que o Pai Lhe havia enviado
ao mundo para morrer no lugar dos pecadores.
Deus Pai levaria seu Filho à cruz por amor aos
pecadores, para que pudessem ser resgatados da morte eterna e serem reconciliados com Ele
através da mediação do seu Filho.
Jesus disse expressamente que aquela voz tinha a ver com o fato do juízo que seria imposto sobre
Satanás na cruz, porque Ele seria tirado da sua
posição de poder sobre as almas que ele vinha
trazendo cativas até então.
O evangelho seria pregado no mundo, e o poder
de Deus traria a liberdade àqueles que o Pai deu
ao Filho e que até então estavam debaixo do jugo
do diabo.
Isto seria feito em todas as partes do mundo
porque Satanás seria despojado do seu poder
quando Jesus morresse na cruz.
O diabo não seria, portanto, expulso da terra,
mas da sua posição de autoridade sobre as almas
daqueles que pertencem a Deus.
O diabo os trazia sujeitos por causa de estarem
debaixo do pecado, mas em Cristo eles não estão
mais debaixo do pecado, mas da graça que os
resgatou do pecado e da morte, porque Cristo se fez maldição na cruz, no lugar deles, para
resgatá-los da maldição, e assim foi desfeito
todo o poder que o Inimigo detinha sobre eles.
37
Depois que Jesus fosse levantado da terra, sendo
elevado na cruz (v. 32, 33), a humanidade seria
atraída a Ele pelo Pai.
Qualquer um poderia vir agora livremente a Ele
pela simples fé, porque consumaria
completamente a obra de resgate em seu favor com sua morte na cruz, de maneira que desfaria
a barreira de inimizade que havia entre eles e
Deus, por causa da natureza terrena
pecaminosa que se opõe a Deus.
Mas, como o pecado recebeu a sua sentença de
morte na cruz, foi resolvido para sempre o
problema que nos separava de Deus, de maneira que deixamos de ser inimigos de Deus, para nos
tornarmos seus amigos, por meio da fé em
Jesus.
Os incrédulos da multidão que ouvia Jesus dizer
estas coisas rechaçaram o fato dele ter dito que
deveria morrer, porque segundo a teologia
deles o Messias jamais morreria.
É certo que o Messias é eterno, mas importava,
pelas Escrituras, que padecesse e morresse no lugar dos pecadores, para se regozijar depois
com o fruto do penoso trabalho da sua alma.
Eles queriam saber quem era o Filho do homem e por que convinha que o Filho do homem fosse
levantado?
Estas coisas somente podem ser entendidas por iluminação do Espírito Santo.
Jesus é a luz do mundo.
38
Ele trouxe o conhecimento da verdade relativa à
nossa condição espiritual e o que é necessário
fazer para sermos salvos.
Mas tudo isto somente pode ser entendido
espiritualmente debaixo da iluminação do
Espírito Santo.
Por isso, o Senhor disse que convinha ser
levantado, não somente para a nossa
justificação, como também para que fôssemos
regenerados e santificados pelo Espírito que seria derramado depois da sua morte,
ressurreição e ascensão.
Aquelas pessoas e quaisquer pessoas de todas as
épocas devem crer na luz para que sejam filhos da luz.
Se não crermos nas palavras de Jesus, o Espírito
Santo jamais poderá fazer o seu trabalho de nos transformar em filhos da luz.
Jesus fez a luz da verdade raiar sobre aquelas
pessoas e logo em seguida retirou-se delas, escondendo-se, porque ainda importava deixar
instruções para os seus discípulos; cear com
eles, orar por eles e fortalecer-lhes a fé.
A Rejeição de Jesus Deu Cumprimento à
Profecia de Isaías - João 12
“37 E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele;
38 Para que se cumprisse a palavra do profeta
Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa
39
pregação? E a quem foi revelado o braço do
Senhor?
39 Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez:
40 Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o
coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu
os cure.
41 Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou
dele.
42 Apesar de tudo, até muitos dos principais
creram nele; mas não o confessavam por causa
dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.
43 Porque amavam mais a glória dos homens do
que a glória de Deus.
44 E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim,
crê, não em mim, mas naquele que me enviou.
45 E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
46 Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo
aquele que crê em mim não permaneça nas
trevas.
47 E se alguém ouvir as minhas palavras, e não
crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para
julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
48 Quem me rejeitar a mim, e não receber as
minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra
que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.
49 Porque eu não tenho falado de mim mesmo;
mas o Pai, que me enviou, ele me deu
40
mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o
que hei de falar.
50 E sei que o seu mandamento é a vida eterna.
Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem
dito.”
João passou a expor a partir do verso 37 quais
foram os motivos que haviam levado os judeus a rejeitarem Jesus, conforme havia dito no início
deste seu evangelho que Jesus havia vindo para
o que era seu, mas os seus O haviam rejeitado.
Ele havia deixado de modo muito claro em toda
a sua narrativa, que fizera até esta altura, como os judeus haviam realmente amado as trevas e
assim, não tinham vindo para a luz para que as
suas más obras não fossem manifestas.
João mostrou também como alguns hipócritas
haviam professado crerem em Cristo, mas que
não praticavam a sua Palavra, e não se submeteram ao seu senhorio, porque amavam
mais a glória dos homens do que a glória de
Deus, como sucedera com muitos fariseus que
haviam confessado crer que Ele era o Messias mas que não deram um testemunho público da
fé deles, por temerem serem expulsos da
sinagoga (v. 42, 43).
Assim, ele conclui esta primeira parte do seu
evangelho mostrando como Jesus havia sido rejeitado, aceito, e até mesmo como fingiram
aceitá-lo, porque, do capítulo seguinte (13) até o
capítulo 17 João registrou quais foram as últimas
41
palavras e ações de Jesus junto aos seus
discípulos.
O Senhor já havia declarado expressamente aos judeus quanto à impossibilidade de muitos
deles aceitarem a sua Palavra.
Não seria pela realização de sinais, seja em
qualidade, seja em número, que tais pessoas se
converteriam ao Senhor.
Esta condição de endurecimento espiritual dos
judeus, foi profetizada por Isaías, em relação à
reação das pessoas ao evangelho, e que
resistiriam à mensagem da salvação:
“Senhor, quem creu na nossa pregação? E a
quem foi revelado o braço do Senhor?” (v. 38).
O motivo desta incredulidade foi declarado pelo
próprio Isaías:
“Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e
compreendam no coração, E se convertam, E eu
os cure.”.
O profeta Isaías fez esta afirmação quando viu a
glória de Jesus; quando estava à direita do Pai
nos céus, antes mesmo da sua encarnação quando veio a este mundo.
Os que resistem a Jesus são mantidos no seu
endurecimento porque Deus não pode lhes conceder graça para que vejam e entendam,
porque isto não pode ser feito com aqueles que
se recusam terminantemente a honrar o seu
Filho Unigênito, Jesus.
Por isso João fez um resumo da pregação que
Jesus fez continuamente em seu ministério
42
terreno nos versos 44 a 50, onde se destaca a
necessidade da fé nele para a salvação (v. 44),
porque crer nele é crer no Pai, porque foi
enviado pelo Pai sendo igual ao Pai, de maneira que aquele que o vê conforme convém ver (em
espírito), vê o Pai, porque Ele é a perfeita
imagem do Pai (v. 45).
Somente Jesus é a luz que veio ao mundo para
expulsar as trevas da vida daqueles que nele creem (v. 46).
Ele veio inaugurar uma nova dispensação, a da
graça, de maneira que neste período Ele não
está julgando o mundo para efeito de condenação, mas salvando aqueles que do
mundo se convertem a Ele (v. 47).
No entanto, rejeitá-lo e rejeitar suas palavras,
significa estar em posição de juízo para
condenação, o que há de se manifestar no dia do Juízo Final (v.48).
Ele foi enviado ao mundo pelo Pai para nos
revelar a vontade do Pai, expressada no
mandamento que dele recebeu de dar a vida
eterna a todo aquele que nele crer.” (v. 49, 50).
43
João 13
A Intimidade de Jesus é Para Aqueles que o Amam
“1 Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus
que já era chegada a sua hora de passar deste
mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no
coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que
o traísse,
3 Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas
suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,
4 Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e,
tomando uma toalha, cingiu-se.
5 Depois deitou água numa bacia, e começou a
lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com
a toalha com que estava cingido.
6 Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?
7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço
não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés.
Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.
9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os
meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não
necessita de lavar senão os pés, pois no mais
44
todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não
todos.
11 Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas
vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis
bem, porque eu o sou.
14 Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés,
vós deveis também lavar os pés uns aos outros.
15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como
eu vos fiz, façais vós também.
16 Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado
maior do que aquele que o enviou.
17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” (João 13.1-17)
João registrou as palavras e os atos de Jesus,
especialmente durante a última ceia de Páscoa
que celebrou juntamente com os seus discípulos, nos capítulos 13 a 17 do seu
evangelho.
Nós temos um primeiro registro das coisas que aconteceram naquela tarde e noite em que ele
seria traído por Judas, a começar deste décimo
terceiro capítulo.
Aqui é descrito por João como o amor de Jesus
foi demonstrado por seus discípulos até mesmo
naquela hora de tensão e crise em que Ele sabia
45
que seria traído, e que sofreria horrivelmente
nas mãos de homens ímpios (v. 1).
O Senhor manteve a mesma serenidade de
sempre e a paz imperturbada de seu espírito e mente, conforme se pode ver nas coisas que Ele
fez e falou e que estão registradas nestes cinco
capítulos do evangelho de João (13 ao 17).
O amor de Jesus por nós não é alterado conforme as circunstâncias.
Nós podemos contar sempre com a sua
fidelidade e constância porque Ele nunca
muda.
Jesus tirou o seu manto e se cingiu com uma
toalha, e pegando uma bacia encheu-a com água
e passou a lavar os pés dos discípulos e os
enxugava com a toalha com a qual havia se cingido.
João disse que Ele fez isto, porque sabia que o Pai
tinha depositado todas as coisas em suas mãos,
e que Ele havia saído de Deus e estaria voltando para Deus.
O gesto de Jesus comprova que apesar do grande
respeito e reverência que os discípulos tinham
por Ele, não havia nenhuma formalidade ou dissimulação no relacionamento deles.
Ao contrário, isto nos mostra a liberdade,
intimidade e familiaridade que havia entre eles.
Uma Igreja que cresce desta forma é também bem-aventurada, como eram os discípulos no
relacionamento deles uns com os outros e com
o Senhor, porque eles conviviam pelos laços de
46
amor e amizade que haviam recebido do Senhor
e aprendido com Ele.
Agora, sabendo que deixaria este mundo, Jesus
aproveitou a oportunidade para lhes dar uma grande lição da humildade, que deveria haver
entre eles, na disposição mesma de fazerem até
os serviços mais humildes para demonstrarem
o amor que tinham uns pelos outros.
Pedro havia sido tomado de uma falsa
humildade e respeito ao Senhor quando lhe
disse que de modo nenhum deixaria que Ele lhe
lavasse os pés.
Jesus disse que Ele não estava entendendo o que
Ele estava fazendo naquela hora, mas que depois
entenderia, porque sendo um dos líderes do seu
rebanho, viria a aprender depois, como de fato aprendeu que os pastores devem servir às suas
ovelhas, estando dispostos a fazerem as tarefas
mais humildes, se necessário, em prol da
santificação das vidas do rebanho colocado debaixo do cuidado deles.
O Senhor havia feito uma relação entre o ato de
lavar os pés com o fato da grande lavagem de
pecados que ocorreu na regeneração dos apóstolos pela fé e prática da sua Palavra.
Então, ainda que tenha havido uma grande
transformação no nosso novo nascimento do
Espírito, há esta necessidade de progredirmos
em santificação, conforme o Senhor estava representando por aquele gesto de lavar os pés
dos discípulos.
Sem santificação ninguém verá o Senhor.
47
Isto pode ser inferido das palavras que Jesus
disse a Pedro, quando este se recusou a deixar
que Ele lhe lavasse os seus pés, porque Jesus
disse que caso Pedro continuasse se recusando, não teria parte com Ele.
Ora, sabemos que é exigido perseverança até o
fim em santificação, para a confirmação da
nossa salvação, isto é, nós permanecemos em Cristo, e participamos da sua vida, caso
tenhamos realmente participação espiritual na
sua vida divina.
É pelo crescimento na graça e no conhecimento do Senhor, que comprovamos que de fato
pertencemos a Ele, e é também deste modo que
podemos permanecer nele e Ele em nós, porque
sem santificação apagamos o fogo do Espírito Santo; e é este fogo que nos santifica.
Havia muito a ser aprendido pelos apóstolos
daquele gesto humilde de Jesus de lavar os pés
deles.
Obviamente, aquele gesto não se aplicava a
Judas porque não tinha sido regenerado.
Ele continuava escravo do pecado porque não
havia sido limpo pela Palavra como os demais.
Como então poderia ser santificado?
O Espírito santifica somente quem foi
regenerado.
Este não era seguramente o caso de Judas; por isso o Senhor disse que todos os discípulos
haviam sido purificados dos seus pecados,
exceto um, que era Judas.
48
Depois de lavar os pés dos discípulos Jesus se
assentou outra vez à mesa e lhes explicou o que
havia feito apesar de ser o Mestre e o Senhor
deles.
Se Ele, como Mestre e Senhor havia feito tal
gesto, quanto mais eles deveriam fazê-lo,
lavando os pés uns dos outros, porque isto é um
dever para todos aqueles que Lhe pertencem.
Ele havia dado um exemplo daquilo que
devemos fazer na condição de seus discípulos.
Nenhum servo é maior do que Ele, portanto não
está excluído do dever de cumprir esta regra do reino dos céus.
Felizes são aqueles que seguem o exemplo do
seu Mestre quanto a praticarem isto que Ele nos
ensinou.
Em sua infinita sabedoria Jesus fixou este exemplo de humildade extrema bem próximo
da sua partida deste mundo, que muito ajudaria
os discípulos a se manterem humildes e não
mais disputarem entre si qual seria o maior deles tanto na Igreja aqui neste mundo, quanto
no reino de Deus na glória.
Os evangelhos sinópticos registram que houve
uma disputa entre os apóstolos neste sentido justamente quando Jesus estava passando pelo
momento de aflição, que antecedeu o seu
sofrimento.
O exemplo que Ele havia dado faria um grande eco nas consciências e corações dos discípulos
de maneira que entendessem definitivamente
qual é o caráter do reino do Messias, que dá
49
graça a quem se humilha, e abate a quem se
exalta.
Judas Era Usado por Satanás - João 13
“18 Não falo de todos vós; eu bem sei os que
tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou
contra mim o seu calcanhar.
19 Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça,
para que, quando acontecer, acrediteis que eu
sou.
20 Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém
receber o que eu enviar, me recebe a mim, e
quem me recebe a mim, recebe aquele que me
enviou.
21 Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e
afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair.
22 Então os discípulos olhavam uns para os
outros, duvidando de quem ele falava.
23 Ora, um de seus discípulos, aquele a quem
Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.
24 Então Simão Pedro fez sinal a este, para que
perguntasse quem era aquele de quem ele
falava.
25 E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus,
disse-lhe: Senhor, quem é?
26 Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o
bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a
Judas Iscariotes, filho de Simão.
50
27 E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse,
pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.
28 E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera
isto.
29 Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que
nos é necessário para a festa; ou que desse
alguma coisa aos pobres.
30 E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite.” (João 13.18-30)
Aqueles que Satanás planta como joio na Igreja para traírem a causa de Cristo, raramente
sabem que estão a serviço do Inimigo,
porque ele lhes ilude fazendo pensar que são
verdadeiros servos de Cristo.
Isto explica muito sobre o motivo que levou
Judas a se suicidar logo depois de ter traído
Jesus.
Satanás o abandonou e lhe acusou depois de ter
feito o uso que pretendia fazer dele, atacando-
lhe duramente a consciência e mostrando-lhe que não passava de uma fraude, e que nunca
tinha sido um verdadeiro apóstolo de Jesus.
Judas era uma árvore plantada pelo diabo na
Igreja.
Não era uma árvore que tivesse sido plantada
por Deus.
Assim, jamais poderia dar bons frutos.
Jesus nunca esperou qualquer bom fruto dele
porque sabia a árvore má que ele era.
51
Não se pode colher figos dos abrolhos.
A árvore é conhecida pelo seu fruto, e o de Judas
acabou se manifestando completamente no momento da traição de Jesus.
Jesus sabia que Satanás entraria em Judas e faria
por meio dele toda a sua vontade, para que o traísse.
Ele viu em Espírito aquilo que os demais apóstolos não puderam perceber.
Judas traiu Jesus com um beijo para dissimular
seu ato de traição.
Os traidores sempre usam esta estratégia de
chorar, de beijar, de abraçar aqueles que eles
estão traindo e aos quais trairão de forma ainda mais intensa quando Satanás se levantar para
usá-los de tal forma.
Aitofel também era amigo de Davi e compartilhava da sua intimidade, mas era
invejoso do rei, e quando se lhe deparou a
oportunidade de agir contra ele, logo se
apresentou a Absalão com o propósito de destruir Davi e arrancá-lo do trono no qual foi
colocado pelo Senhor.
Assim, como Judas, Aitofel também se suicidou depois de ter traído Davi, e nós sabemos agora
qual era a mão que estava por detrás de tudo
aquilo, a mão de Satanás.
Nossa luta não é contra os Aitoféis e Judas, mas
contra o diabo. Nossa luta não é contra a carne e
o sangue, ou seja, contra as pessoas.
52
É das ações do diabo através dos seus
instrumentos que devemos nos prevenir
através da oração e da fé no Senhor.
Judas poderia ao menos ter deixado a companhia de Jesus e dos apóstolos sem nada
fazer contra eles, e especialmente contra o
Senhor.
Afinal ele privava da intimidade deles, e comia à mesma mesa com Jesus.
É digno de destaque que o diabo entrou nele
justamente quando Jesus lhe deu o bocado de
pão para comer.
O bem que Jesus fez a Judas não lhe tornou melhor, mas pior, e assim ele odiou a quem
nunca lhe fez qualquer mal, senão somente o
bem.
E o Senhor dá grande honra àqueles que são por Ele enviados com a missão de pregarem o
evangelho ao mundo.
Aqueles que são enviados por Ele, quando são
recebidos pelas pessoas, é como se elas estivessem recebendo ao próprio Cristo, e a
Deus Pai que foi quem enviou seu Filho a este
mundo com a missão que seria agora realizada
pela Igreja.
Foi justamente quando estava proferindo estas
palavras de grande honra para os apóstolos, que
Jesus se turbou em espírito (v. 21), porque aquilo
não se aplicava a Judas, que apesar de ter sido escolhido pelo Senhor para estar entre os
apóstolos, não seria enviado por Ele como os
demais para cumprir a sua grande comissão de
53
irem por todo o mundo pregando o evangelho a
todas as pessoas.
Judas não somente não seria enviado, como
também seria aquele que haveria de traí-lo para
que se cumprissem as Escrituras.
Qual é o Tipo de Amor do Novo Mandamento?
João 13
“31 Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é
glorificado o Filho do homem, e Deus é
glorificado nele.
32 Se Deus é glorificado nele, também Deus o
glorificará em si mesmo, e logo o há de
glorificar.
33 Filhinhos, ainda por um pouco estou
convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho
dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora.
34 Um novo mandamento vos dou: Que vos
ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
35 Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros.
36 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde
vais? Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás.
37 Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te
agora? Por ti darei a minha vida.
38 Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por
mim? Na verdade, na verdade te digo que não
54
cantará o galo enquanto não me tiveres negado
três vezes.” (João 13.31-38)
Tão logo Judas se retirou do meio dos apóstolos,
durante a ceia da Páscoa, Jesus disse
imediatamente que Ele estava sendo glorificado
e que o Pai também estava sendo glorificado nele.
Ora! Se Ele sabia que Judas saiu para traí-lO, qual
glória poderia ser resultante de um ato de
traição?
O Pai seria glorificado na morte do Filho, e seria
justamente a traição de Judas que precipitaria todas as ocorrências que culminariam na morte
do Senhor.
Como o Pai seria glorificado por causa do Filho
com a conversão de milhões de pessoas em todo
o mundo, então era de se esperar que o Pai
também glorificasse o Filho, e isto começaria logo depois da sua ressurreição, quando Ele
entrasse no céu com grande triunfo e glória pela
obra que havia consumado na terra, sendo
celebrado, honrado e adorado pelas potestades celestiais e pelos espíritos desencarnados dos
santos que haviam morrido antes da sua
ascensão, que aguardavam com grande expectativa por esta vitória sobre a morte,
porque disto dependeria a ressurreição futura
dos corpos deles.
Este foi um dos motivos de Jesus ter dito que
Abraão havia visto o seu dia de glória e se
55
alegrado, por causa da expectativa de tais coisas
que seriam cumpridas pelo seu Senhor e nosso.
Esta glória seria recebida por Jesus no céu, onde
os seus apóstolos não poderiam estar com Ele, pelo menos por algum tempo.
Mas, eles, de fato não poderiam testemunhar
todo o cortejo triunfal com que Jesus entrou nos
céus depois da sua morte.
Os seus mais diletos amigos não poderiam ver
isto, mas como era amigo deles e os amava Ele
lhes falou de todas estas coisas antes de partir
para a glória que O aguardava, para que também exultassem com Ele, e soubessem que as coisas
que Ele ainda teria que padecer, até à sua morte
na cruz, não significavam de modo algum, o
fracasso da sua missão, que era a mesma missão dos discípulos.
Foi nesta ocasião, em face da glória que haveria
de se seguir aos seus sofrimentos, e pelo
derramar do Espírito Santo sobre os discípulos como comprovação daquela glorificação que Ele
receberia no céu, que o Senhor lhes deu o novo
mandamento de se amarem uns aos outros,
assim como Ele lhes havia amado; isto é, eles deveriam se amar com o mesmo amor de
comunhão espiritual que sempre existiu entre
Ele e o Pai.
Seria por este amor divino, celestial, que o mundo saberia que eles eram de fato seus
discípulos.
Eles sairiam com uma missão ao mundo.
Eles teriam uma mensagem para pregar.
56
Eles receberiam poder do Espírito para
testemunhar dele e da sua morte e ressurreição.
Mas, caso faltasse este amor entre eles, faltaria
tudo o mais, e Ele não seria glorificado.
Deus não pode ser glorificado quando falta a
unidade e a comunhão espiritual, no Espírito.
Os apóstolos haviam aprendido do Senhor o modo como deveriam viver neste amor, mas
deveriam crescer nisto.
Deveriam avançar para o alvo da maturidade em
Cristo, que é, sobretudo amadurecimento no
seu amor divino.
Isto não se aprende nos livros, mas na prática da
vida. Na submissão à vontade do Senhor e à sua Palavra, num espírito quieto e manso que é
agradável a Deus.
O brilho da face de Cristo deve ser visto também
nos rostos dos cristãos, porque sem isto, não é
possível cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.
É importante lembrar que Ele falou deste novo
mandamento do amor no contexto das palavras
que havia proferido acerca da sua glorificação
nos céus, e no ajuntamento futuro de todos os seus discípulos no céu para participarem da sua
glória.
Pedro não entendeu a que tipo de amor Jesus
estava se referindo, e tentou demonstrar que o
seu amor por Ele era maior do que os de todos os demais discípulos. Já que Jesus havia falado de
amor, então Pedro na sua sinceridade quis lhe
demonstrar até que ponto ia o seu amor por Ele.
57
Ele insistiu em dizer que seguiria Jesus mesmo
depois dele ter-lhe falado que não poderia segui-
lo para onde Ele iria naquela ocasião, a saber,
para o céu, mas como não disse a Pedro para onde iria, Pedro disse que iria segui-lo até
mesmo dando a própria vida por ele.
Mas Jesus lhe respondeu que o galo não cantaria
naquela noite antes que Pedro lhe tivesse
negado três vezes.
O amor natural de Pedro não seria suficiente para mantê-lo firme na fé e perseverante em
confessar o Senhor mesmo diante do perigo de
perder a sua própria vida.
Mas Pedro não havia aprendido esta lição, e
teria que passar por ela de uma maneira muito dolorosa, para que jamais confiasse na carne.
Afetos, sentimentos, emoções, vontade, tudo
isto faz parte da alma e não do espírito.
Portanto, nada tem a ver com o amor
sobrenatural de Deus que é fruto do Espírito e
que é gerado no nosso espírito.
Pedro deveria aprender a andar no Espírito, e a
não confiar na carne, isto é, pelo seu ego (alma).
É somente estando fortalecido no Espírito, pela graça do Senhor que podemos cumprir o novo
mandamento que ele nos deixou.
Por isso quando o Senhor restaurou Pedro
depois de tê-lo negado, perguntando-lhe
também por três vezes se ele o amava, no grego, ele usou a palavra ágape (amor divino) nas duas
primeiras vezes, e como Pedro respondeu com a
palavra filéo (amor de amizade natural), Jesus
58
usou esta palavra “filéo” na última pergunta que
fez, e Pedro tornou a responder em sua
insegurança também com “filéo”, porque não
estava certo ainda de possuir o amor divino.
Jesus queria demonstrar a Pedro, que importa
ser amado com o amor espiritual, celestial e
divino, e não com o amor natural que é resultante de nossos afetos naturais, porque não
o conhecemos mais segundo a carne, mas
segundo o espírito.
59
João 14
As Moradas Eternas Celestiais
“1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus,
crede também em mim.
2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos
lugar.
3 E quando eu for, e vos preparar lugar, virei
outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para
que onde eu estiver estejais vós também.”. (João 14.1-3)
Com o passar do tempo, no conhecimento de
Cristo, descobrimos que a nossa alegria se
fundamenta nem tanto por sermos livrados de
nossas tribulações, mas por continuarmos a ter
a aprovação e a companhia do nosso único e melhor amigo, a saber, o próprio Senhor.
Por isso a expectativa de serem separados de
Cristo fez com que a tristeza penetrasse o
coração dos seus discípulos.
Mas, como nada escapa do conhecimento de Jesus, ele percebeu o quanto estavam tristes, e
lhes dirigiu palavras para reanimá-los, de
maneira que entendessem que não havia
motivo para se entristecerem com a sua partida, senão de alegria, porque afinal não os
abandonaria, e além disso, lhes enviaria o
Espírito Santo como cumprimento da promessa
60
feita por Deus a todos aqueles que se unissem ao
seu Filho.
Muitas coisas concorreram para a tristeza que
os discípulos estavam sentindo:
(1) Jesus lhes havia contado há pouco o
abandono que ele deveria receber de alguns
deles, e isto entristeceu a todos.
Pedro, sem nenhuma dúvida, deveria estar muito triste com o que Cristo lhe disse, e todos
os demais sentiram muito por ele e por eles
também.
Mas o Senhor os confortou acerca disso.
(2) Jesus tinha lhes contado há pouco sobre a sua
própria partida, e que isto ocorreria debaixo de
uma densa nuvem de sofrimentos.
Eles O veriam brevemente debaixo de sofrimentos que O conduziriam até a morte; e
esta espada atravessaria a própria alma deles,
porque muito o amavam e haviam deixado tudo
para segui-Lo.
Quando contemplarmos Cristo traspassado
pelos nossos pecados, nós não podemos deixar
de lamentar com tristeza, entretanto nós vemos
o fruto glorioso que decorre destes sofrimentos de Jesus por nós.
Mas eles não podiam ainda compreender isto o
tanto quanto nós o compreendemos, e como
viriam a compreender depois, conforme as próprias palavras que o Senhor lhes dirigiu
quanto à instrução que receberiam do Espírito
Santo.
61
Eles não compreendiam ainda a natureza do
reino do Messias, e pensavam que o Senhor logo
livraria a nação do domínio dos romanos e
restauraria o reino de Israel com a mesma glória, e ainda maior do que a que possuía nos
dias de Davi e Salomão.
Todavia, agora, Ele deixaria o mundo nas
mesmas circunstâncias de maldade e pobreza
nas quais eles tinham vivido, e pior, eles se
sentem totalmente derrotados.
Assim, se sentiam tristemente abandonados,
frustrados e expostos.
Eles souberam por experiência que nada
podiam fazer sem o Mestre deles.
Mas não sabiam ainda que nosso triunfo deve ser neste mundo, mas não para este mundo.
Deste modo, não há realmente motivo para
tristeza se somos fracassados nas coisas que dizem respeito a esta vida.
Contudo, Jesus lhes disse que não deixassem apesar de todos estes pensamentos e
sentimentos, que o coração deles ficasse
turbado.
O verbo usado no grego para turbar é “tarasso”,
que significa ficar inquietado, ansioso,
angustiado, perturbado, por temores e dúvidas.
Em outras palavras, Ele estava lhes dizendo que
não deixassem seus corações ficarem tristes por
causa das aflições.
Conforme diziam os puritanos: Embora a nação
e a cidade estejam turbadas, ou sua igreja, ou
sua família, contudo não deixe seu coração ficar
62
turbado. Mantenha a posse e controle de sua
própria alma, quando você não puder ter a posse
e o controle de nada mais.
O coração é a principal fonte de tudo o que você faz; por isso você deve mantê-lo firme com toda
diligência em toda e qualquer dificuldade.
É o espírito que tem que sustentar a fraqueza,
portanto, não permita que ele seja ferido.
Somos discípulos de Cristo, fomos escolhidos,
resgatados e santificados por Ele, e embora
outros possam ser vencidos com tristezas deste
tempo presente, não permitamos que se dê o mesmo conosco, porque aqueles que têm a
promessa de habitarem para sempre em Sião
com o seu Rei, não têm motivo para se deixarem
vencer pela tristeza, seja ela de qual ordem for.
Até mesmo a tristeza pelo pecado pode ser
resolvida pelo arrependimento e confissão, de
maneira que se viva debaixo do mandamento de
se estar sempre alegre em Cristo.
O remédio que Jesus prescreveu aos discípulos
para vencerem o tremor de seus corações, é o
mesmo que temos que tomar, a saber, a fé em
Deus.
Ele lhes disse que cressem no pai e que cressem
também nele.
Creia na providência de Deus e creia na
mediação de Cristo.
Construa sua confiança nos grandes princípios
revelados na Palavra, especialmente nas
promessas que Deus nos deu pelo Filho.
63
Deus é santo, sábio, poderoso e bom, e governa
todas as coisas, e não há nenhum evento fora do
seu controle.
É do agrado de Deus que aprendamos a descansar nele em meio às nossas dificuldades
em plena confiança, com fé inabalável na sua
providência e cuidado.
Isto lhe traz grande honra e glória, e este é um dos motivos pelos quais permite que passemos
por aflições neste mundo.
Se fôssemos deixados aos nossos próprios
recursos, teríamos então motivo para ficar abatidos e entristecidos, mas tendo a promessa
de que nunca seríamos abandonados por Deus,
por sermos seus filhos, a recusa de lhe dar
louvor e glória mesmo nas aflições, é uma grande ingratidão e prova de incredulidade, que
muito o desonra.
Crer no Pai e no Filho é o melhor remédio para
curar o coração aflito. Ficar firme na fé em nada duvidando de que o Senhor está ao nosso lado
controlando a medida da nossa aflição, e fará
com que permaneçamos na esperança e no
amor de Deus e este é o único e o melhor remédio na hora da tribulação.
A promessa para o justo é que viverá pela fé.
A vida eterna de Cristo saltará em toda e
qualquer circunstância, a vida abundante que
Ele nos dá, quando nos mantemos firmes na fé na providência do Pai e na sua mediação como
nosso Sumo Sacerdote e Advogado à direita do
Pai.
64
A fé é direcionada para o céu, para as moradas
celestiais que o Senhor foi preparar para nós.
Ela não está ancorada em nada deste mundo que passará, mas no céu e nas coisas que não podem
ser abaladas ou removidas.
A nossa fé em Cristo não é somente para esta
vida. É muito mais para a vida ainda por se
revelar em nós no por vir.
“Se é só para esta vida que esperamos em Cristo,
somos de todos os homens os mais dignos de
lástima.” (I Cor 15.19).
É com a promessa da vida eterna da qual
estamos tomando posse pela fé que devemos
nos encorajar mutuamente em todas as nossas
aflições.
Há muitas mansões celestiais preparadas pelo
próprio Cristo para receber os que são seus,
depois de terem triunfado pela fé sobre todas as tribulações deste mundo (v. 2).
A felicidade eterna do céu é representada por muitas mansões na casa do Pai.
O céu é uma casa, não uma tenda, é uma casa
não feita por mãos humanas.
Era para a casa do Pai que Cristo estaria subindo
agora, como o irmão primogênito de todos os
verdadeiros cristãos, os quais serão bem-vindos na mesma morada, depois de terem deixado
este mundo: a casa do Rei dos reis e Senhor dos
senhores, que habita na luz inacessível, que
habita na eternidade.
Há habitações distintas reservadas para cada
um dos filhos de Deus.
65
Jesus poderia ter omitido a existência das
mansões do céu, mas para confortar os
discípulos lhes fez esta revelação agora,
dizendo-lhes que caso não fosse assim Ele lhes teria dito, entretanto, como tudo o que lhes
havia dito até então era verdadeiro, seria
impossível que lhes estivesse mentindo agora, porque Ele mesmo é a Verdade.
Com este “se não fosse assim” o Senhor quis
deixar bem claro para eles e para todos nós, seus
discípulos, que não estava falando de alegorias
ou figuras, mas de realidades que desfrutaremos no tempo apropriado.
Com esta promessa Jesus estava mostrando aos
discípulos que não foi em vão que eles haviam
abandonado tudo para segui-lo. A esperança deles não seria frustrada, e a recompensa da
fidelidade seria dada com certeza absoluta.
Ele tinha que deixar este mundo e subir ao céu
para afiançar o direito que havia conquistado para nós como nosso Advogado.
Ele entraria como nosso precursor na posse da
nossa herança comum.
O homem não foi criado para pertencer ao mundo, mas ao céu.
Estamos aqui de passagem, como peregrinos e
forasteiros.
A promessa feita por Jesus no verso 3: “virei
outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”, é uma
referência ao arrebatamento da Igreja, quando
se completará plenamente a promessa de estar
66
toda a família reunida no céu, e quando os que
morreram em Cristo terão seus corpos
ressuscitados, transformados em corpos
glorificados, para o encontro com Ele entre nuvens, dando-se cumprimento à promessa
feita aos que Lhe pertencem.
Muitas Escrituras falam do retorno de Cristo para o estabelecimento do reino de Deus em sua
forma final (Fp 1.23; 4.5; Tg 5.8; I Tes 4.17; II Tes
2.1; João 17.24; etc).
Jesus É o Caminho para a Verdade e a Vida
Eterna - João 14
“4 Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis
o caminho.
5 Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos
para onde vais; e como podemos saber o
caminho?
6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade
e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
7 Se vós me conhecêsseis a mim, também
conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o
que nos basta.
9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo
convosco, e não me tendes conhecido, Filipe?
Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai
está em mim? As palavras que eu vos digo não as
67
digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em
mim, é quem faz as obras.
11 Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas
obras.” (João 14.4-11)
As declarações feitas por Jesus nos versos 1 a 3,
seguidas da afirmação feita no verso 4 de que os
discípulos sabiam para onde Ele iria e que
conheciam o caminho para lá, deram ocasião a que dois dos seus discípulos lhe abordassem
com indagações e dúvidas.
O primeiro foi Tomé que afirmou não conhecer
nem sequer o lugar para onde Ele ia, e muito menos poderia conhecer o caminho, numa
contradição direta ao que Jesus havia afirmado
de que eles conheciam tanto o lugar quanto o
caminho.
Como eles estavam sonhando com um reino
terreno a ser estabelecido pelo Senhor, não
seria de se estranhar que não soubessem para onde Ele iria.
Apesar de lhes ter falado várias vezes sobre o
céu, e o reino comum que teriam com Ele na presença do Pai, estavam endurecidos e não
podiam entender as realidades espirituais que
podem ser discernidas somente
espiritualmente.
Não se trata de se ter uma ideia sobre o céu, mas
de experimentar as realidades celestiais em
espírito.
68
A proposta de Deus para a Igreja através de
Cristo é vida eterna, e esta vida está no próprio
Cristo, e é somente por se estar nele que
podemos ser achados no caminho para o céu, porque Ele próprio é também o caminho, e não
há nenhuma incerteza quanto a isto, porque
tudo o que Ele diz e promete é verdadeiro, porque Ele próprio é também a verdade.
Todas estas coisas são testificadas pelo Espírito
Santo que habita nos cristãos.
É somente por meio da testificação do Espírito
Santo que podemos discernir estas realidades
celestiais, como também ter a plena certeza da esperança da participação delas, pelo antegozo
do céu, que o Espírito nos propicia ainda neste
mundo.
Por isso Jesus disse a Tomé, apesar dele tê-Lo
contraditado, que Ele é o caminho, e a verdade e a vida.
A afirmação de Jesus está cheia de significado,
porque sendo o caminho, Ele é o princípio;
sendo a verdade, Ele é o meio; e sendo a vida, Ele é o fim.
Em outras palavras: só podemos estar
caminhando na direção do céu se nos unirmos a
Ele, e esta união tem o seu meio e o modo, a
saber, estarmos na verdade, assim como Ele é a verdade, e finalmente, o objetivo desta união
com Cristo e deste viver na verdade atinge a sua
meta que é a vida eterna com Deus.
69
Somente a doutrina de Cristo é a única
verdadeira em relação ao significado da nossa
vida e do seu destino eterno.
Somente o seu ensino sobre o modo de se agradar a Deus e do modo de ser livrado da
condenação eterna é verdadeiro.
Por isso todo ensino que não se conforma à
doutrina de Cristo, é erro, engano, falsidade e desviará a qualquer que se deixe guiar por tais
doutrinas à perdição eterna, ou então fará que
tal pessoa caminhe longe do caminho do céu.
Sendo o próprio Cristo o caminho, e a verdade e a vida, é a presença dele em nós que faz toda a
diferença.
Não importa tanto, o que eu creia, porque se
Cristo não permanece em mim e eu nele, terei errado o alvo proposto por Deus para mim.
É a própria participação da sua vida que nos
santifica, e isto é verdadeiro nas palavras
proferidas pelo apóstolo Paulo de que não vivia mais ele, mas Cristo era a sua vida.
Daí a necessidade da autonegação determinada
por Jesus a todos os que desejarem ser
verdadeiramente seus discípulos.
Eles terão que abandonar o governo de suas
vidas para que Cristo assuma o comando.
Onde e em quem isto não estiver ocorrendo,
terá sido perdido o caminho, e se entrado por um atalho de perdição. Por isso precisamos
aprender a verdade como está em Jesus (II Cor
1.20).
70
Por isso Jesus disse que ninguém pode ir ao Pai
senão por Ele.
É somente Ele, pelo seu sacrifício, que pode nos
aproximar do trono da graça, ao qual nos é ordenado que nos aproximemos
continuamente.
Afinal, fomos criados para estar
permanentemente na presença de Deus.
Quando Caim saiu da presença de Deus, saiu
para a morte espiritual eterna, e para viver no
pecado.
Afastar-se do Caminho que é Cristo, sem estar
nele em todo o tempo, sem permanecer nele, conforme é da vontade do Pai, significa morte
espiritual e viver no pecado.
Por isso nos é ordenado na Palavra que nos
aproximemos do Santo dos Santos, onde está o trono da graça, com um coração puro e sincero,
mas não por outro, mas pelo único e vivo
caminho que Jesus abriu para nós pela sua
própria carne (Hb 10.19-22).
Não há outro Mediador entre Deus e os homens,
e nem mesmo poderia haver, por tudo que se
exige do Mediador, quanto ao trabalho de unir a
parte ofendida (Deus) à parte ofensora (o pecador), de maneira que a parte ofendida
pudesse ficar plenamente satisfeita, pelo
trabalho tanto de expiação da culpa quanto da
transformação dos ofensores na essência mesma da natureza deles, de maneira que não
sejam mais achados como transgressores da lei
e da vontade de Deus.
71
Jesus fala do Pai como o fim tanto da nossa vida
quanto do seu trabalho (v. 7).
Todo nosso relacionamento com Ele tem por fim último a glória do Pai, e o seu inteiro agrado.
Ele afirmou que caso os discípulos Lhe tivessem
conhecido corretamente, e a sua missão, eles
também teriam conhecido ao Pai, porque afinal, tudo o que Ele fez não foi por sua própria e
exclusiva conta, mas para cumprir o mandado
do Pai de dar vida eterna aos que nele cressem.
Assim a sua doutrina que lhes havia ensinado
não era propriamente dele, mas do Pai que Lhe
havia enviado ao mundo para salvar os
pecadores.
Por isso podia afirmar que os discípulos desde
que estiveram com Ele, tiveram a oportunidade
de conhecer o Pai, porque quem via a Ele, Jesus,
via o Pai.
Filipe esteve tanto tempo com Jesus e não havia
feito grande progresso no conhecimento
adequado que deveria ter feito dele.
Não que Jesus não soubesse da dificuldade deles
para conhecê-lo, e não somente Filipe, mas a
repreensão passada em Filipe serve para nos advertir que é possível ser cristão, ter a
habitação do Espírito, e fazer muito pouco
progresso na fé, no conhecimento de Jesus pelo
crescimento na graça.
É preciso diligência, aplicação nos deveres
ordenados na Palavra, meditação na Palavra de
Deus, de maneira que possamos ter uma
72
compreensão cada vez maior das realidades
celestiais, espirituais e divinas.
Obras Maiores do Que as do Ministério Terreno de Jesus - João 14
“12 Na verdade, na verdade vos digo que aquele
que crê em mim também fará as obras que eu
faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.
13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (João 14.12-14)
Nosso Senhor não somente continuou
confortando os discípulos, como também lhes
revelou que para que tivessem poder suficiente para dar prosseguimento à obra para a qual
haviam sido designados, era necessário que Ele
morresse na cruz, ressuscitasse e partisse para
a presença do Pai, de maneira que pela inteira aceitação da sua obra feita em favor dos
pecadores, a promessa do derramamento do
Espírito Santo sobre todas as nações, conforme
prometido desde Abraão, pudesse ser cumprida por Deus.
Os seus discípulos seriam revestidos com poderes e dons espirituais suficientes para
ampliarem a obra de evangelização, que havia
sido iniciada pelo Mestre deles.
73
Assim, obteriam maiores vitórias pelo
evangelho do que as que tinham sido obtidas por
Cristo, enquanto Ele estava na terra.
Agora, nenhuma destas obras seria feita sem
que fossem humildes suplicantes a Deus em
nome de Cristo.
Não seria por causa deles, mas por causa da obra
e dos méritos de Jesus.
Não seria pelo próprio poder deles, mas pelo
poder do Espírito Santo, como resposta às suas súplicas humildes a Deus.
Deve ser assim, porque tudo que a Igreja fizer
deve ser para a glória de Deus e não para a glória dos homens, então todo o trabalho deve ter a
marca da realização do próprio Deus.
Daí a razão de Jesus ter instruído os seus
discípulos dizendo-lhes:
“13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o
farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o
farei.”
Este “eu o farei” não significa que qualquer
coisa que seja pedida será atendida, mas que tudo o que for efetivamente feito na Igreja como
resposta de oração em nome de Cristo, terá sido
feito de fato por Ele, e não pelos próprios
cristãos, de maneira que, como dissemos antes, o propósito do Pai ser glorificado no Filho, possa
ser cumprido.
74
Quem Ama a Cristo Guarda os seus
Mandamentos - João 14
“15 Se me amais, guardai os meus
mandamentos.
16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre;
17 O Espírito de verdade, que o mundo não pode
receber, porque não o vê nem o conhece; mas
vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.” (João 14.15-17)
Aqui nestes versículos, Jesus revelou quem
seria o agente de todo o poder que seria
derramado sobre os cristãos: o Espírito Santo.
Ele não seria um mero poder ou influência, mas
um companheiro, um advogado, um “paracleto”, um consolador, que estaria unido
aos discípulos habitando neles, e não estando
apenas com eles.
Ele diz outro Consolador que seria dado pelo Pai,
porque Ele, o próprio Jesus foi o primeiro Consolador enviado ao mundo pelo Pai.
Seria um Consolador conforme Ele foi com eles,
porque é a terceira pessoa da Trindade, o
mesmo Deus, único e verdadeiro, que existe em
três pessoas, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A promessa do envio do Espírito Santo, como
Consolador, foi vinculada por Jesus ao ato de os
discípulos comprovarem seu amor por Ele,
75
guardando os seus mandamentos (v. 15), isto é,
pela santificação de suas vidas pela Palavra que
lhes havia ensinado e pregado.
O Espírito Santo seria derramado sobre os que
haviam crido nele no dia de Pentecostes, depois
deles terem permanecido em oração unânime
durante 40 dias.
Na verdade, o Espírito, no seu trabalho de
Consolador, não pode consolar em comunhão
espiritual, os espíritos daqueles que não foram
por Ele regenerados (nascidos de novo do alto).
Primeiro Ele regenera e santifica e depois
consola, porque não pode fortalecer a quem vive
deliberadamente na prática do pecado.
Ele é um Consolador, bondoso, amigo, fiel,
incansável, perdoador, mas somente daqueles
que se aproximam de Deus com um coração
sincero, reconhecendo-se pecadores e necessitados de serem lavados de seus pecados.
Isto pode ser depreendido das palavras de Jesus
no verso 17 de que o mundo não pode receber o Espírito Santo.
Isto não quer significar que pessoas que estão no
mundo não possam chegar ao arrependimento e ao recebimento do Espírito como um dom de
Deus, mas que aqueles que continuam amando
o mundo de pecado estão impossibilitados de
receberem o Espírito Santo, porque Ele é dado somente àqueles que se arrependem do pecado.
Jesus não queria que os discípulos
demonstrassem o amor deles por Ele
76
entristecendo-se com o fato da sua partida, mas
guardando os seus mandamentos.
Não é com manifestações sentimentais e emocionais que demonstramos o quanto
amamos a Jesus, mas com demonstrações
vigorosas de obediência aos seus mandamentos.
Antes de encerrarmos esta seção devemos
registrar, que o Espírito Santo é derramado
como dom pelo Pai, mediante intercessão de
Jesus, porque Ele disse claramente que o Espírito Santo seria enviado pelo Pai por causa
da sua intercessão.
Amamos o Jesus Invisível - João 14
“18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.
19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá
mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós
vivereis.
20 Naquele dia conhecereis que estou em meu
Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me
ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me
manifestarei a ele.
22 Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não
ao mundo?
23 Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o
amará, e viremos para ele, e faremos nele
morada.
77
24 Quem não me ama não guarda as minhas
palavras; ora, a palavra que ouvistes não é
minha, mas do Pai que me enviou.” (João 14.18-
24)
Jesus amava seus discípulos e eles O amavam
em genuína amizade.
A presença dele entre eles era toda a alegria de suas vidas.
Então, assim como quando amigos de verdade
se separam por um período em razão de um
afastamento que lhes é imposto, sempre há a preocupação de que continuem se
comunicando, dando notícias um ao outro de
como têm passado.
Por isso, apesar da promessa de lhes enviar outro Consolador, Jesus lhes prometeu que Ele
voltaria a ter com eles, e começa a lhes mostrar
agora qual seria o tipo de relacionamento que
teriam com Ele.
Não seria mais um relacionamento segundo a
carne, mas segundo o espírito.
Isto é, Ele permaneceria invisível a eles, mas
seria a pessoa mais real na existência deles, porque se lhes manifestaria permanentemente,
e por seu turno, se ocupariam em todo o tempo
com a sua presença e vontade em seus
pensamentos.
Eles tinham a sua Palavra, os seus
mandamentos para guardarem e pregarem e
ensinarem ao mundo.
78
O Senhor continuaria operando entre eles, só
que dali por diante em espírito, e não mais
estando presente num corpo de carne e osso
como o deles.
Por isso o apóstolo Paulo diz o que lemos em II
Cor 5.16.
“Assim que daqui por diante a ninguém
conhecemos segundo a carne, e, ainda que
também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos
deste modo.” (II Cor 5.16).
Pedro fala do que Cristo que não vemos, mas que nós amamos:
“Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual,
não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso;” (I Pe 1.8).
Ele é invisível, mas é real. É pessoal. É amado. É
companheiro. É amigo sempre presente, que se manifesta a nós em espírito.
Assim, é também em espírito que devemos ter comunhão com Ele, com o Pai, com o Espírito
Santo, e uns com os outros.
Este conhecimento espiritual é invisível, mas é mais fundamentado, estruturado, duradouro do
que o conhecimento do que se vê com os olhos,
porque além da ilusão de ótica, há a ilusão de
julgamento.
Mas o conhecimento que é pelo Espírito e no
espírito, é verdadeiro e permanente, e não há
nele, nenhum engano.
Daí, o motivo de Deus, sendo a verdade e
verdadeiro, relacionar-se sempre conosco em
79
espírito, e por isso se diz que Ele busca
adoradores que o adorem em espírito e em
verdade.
Para ser em verdade deve ser em espírito.
Para ser em espírito, deve ser em verdade,
porque o Espírito Santo é Espírito de verdade, e
não opera e jamais operará mediante o que é
falso ou que não se conforme à verdade revelada por Deus.
Ele nunca colocará a sua chancela divina no que
for falso, mas somente no que for verdadeiro.
Por isso se exige um coração, reto, puro,
sincero, verdadeiro, na adoração a Deus, porque Ele rejeitará todo espírito que não apresentar
tais atributos, porque Deus é perfeitamente
santo e justo, e não pode compactuar com a falta de retidão.
Não é nada surpreendente que Jesus tenha dito
que os que têm corações puros são bem-
aventurados, porque é por esta condição de
pureza de coração que poderão ver a Deus.
Nenhum cristão é órfão porque tem ao próprio
Deus por Pai (v. 18) e Jesus tem feito a promessa
de manter esta paternidade por causa da obra
que fez em nosso favor de maneira que pudéssemos ser adotados como filhos de Deus
para sempre.
E, se ser órfão é perder a paternidade para
sempre, ficando sem pai no mundo, no caso do cristão, Jesus garantiu que isto jamais ocorreria,
porque por meio dele, Deus será para sempre o
nosso Pai.
80
É por isso que ainda que um cristão possa estar
triste por um breve tempo, contristado pelas
tribulações que forem necessárias ao seu
aperfeiçoamento, no entanto ele nunca está sem conforto, porque nunca estará órfão,
porque tem a Deus por Pai perpetuamente.
O próprio Jesus seria retirado dos discípulos em seu ministério terreno, por causa da sua breve
ausência entre o período da sua morte e
ressurreição, mas depois disto, estaria para
sempre com eles e com todos os que viessem a crer depois deles até a consumação dos séculos.
Isto significa, que jamais seremos
desamparados por Ele em nossa jornada terrena. Ele prometeu estar sempre ao nosso
lado assistindo-nos em nossas aflições neste
mundo.
O modo de garantirmos sua presença conosco,
do Pai e do Espírito Santo, é guardando a sua
Palavra, conforme Ele declarou aos discípulos
nesta seção do capítulo que estamos comentando (v. 21 a 23).
Esta é também a única maneira segura de
garantirmos a manifestação da sua presença em
nós e entre nós, a saber, guardando os seus mandamentos.
Aqueles cristãos que não honram a Palavra do
Senhor e que não se esforçam em diligência para conhecê-la e cumpri-la, não deveriam ficar
surpreendidos com o fato de o Senhor deles se
manifestar em suas vidas, não em confortos e
81
consolações, mas em correções disciplinadoras
da desobediência deles.
Como podem aqueles que conhecem a Cristo agirem como aqueles que não O conhecem e
não O Amam?
Qual foi a característica destacada por Jesus quanto àqueles que não O conhecem e que não
O amam? Não é exatamente por não guardarem
a sua Palavra? (v.24)
Como ousariam os verdadeiros cristãos desprezarem a Palavra do Senhor, sabendo o
quanto Ele a preza, e o quanto ela é fundamental
para a santificação deles? (João 17.17).
A Paz Eterna - João 14
“25 Tenho-vos dito isto, estando convosco.
26 Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que
o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo
quanto vos tenho dito.
27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize.” (João 14.25-27)
Os discípulos seriam confrontados pelo vento
forte da tribulação ao verem não muito depois
de estarem ouvindo este discurso de Jesus, o
Mestre deles sendo duramente escarnecido e maltratado pelos homens até a morte de cruz,
então, com o intuito de fortalecê-los para aquela
hora, Jesus prosseguiu lhes confortando com
82
estas palavras, e aqui Ele destaca o fato de que o
Espírito Santo que lhes seria enviado pelo Pai,
em seu nome, lhes ensinaria todas as coisas e
lhes faria recordar tudo quanto havia dito.
Além disso, lhes deixou como promessa o
recebimento da sua paz em meio a todas as
aflições que sofreriam neste mundo, e por isso
não deveriam ficar com seus corações turbados, nem atemorizados.
O legado que Jesus deixou para os seus
discípulos quando saísse deste mundo não seria
ouro e prata, mas a sua paz.
Sobretudo a paz da reconciliação com Deus que
alcançamos por meio da justificação que é pela
fé no nome de Jesus (Rom 5.1).
Mas daí também decorre uma tranquilidade de mente pela certeza da nossa justificação diante
de Deus. Foi Jesus que adquiriu esta paz para nós.
Assim, o próprio Jesus se tornou da parte de
Deus para nós a nossa paz (Ef 2.14). Aqui Ele
justificou o título que lhe foi dado pelo profeta Isaías de Príncipe da Paz (Is 9.6).
Esta paz de Cristo é um legado que somente
podem receber aqueles que são filhos da paz,
porque demanda a reconciliação do pecador com Deus, de maneira a ser livrado da sua ira
que repousa sobre todo aquele que não foi
justificado do pecado.
É possível que até aquele momento, os discípulos não estivessem devidamente seguros
da profundidade da bênção que seria
conquistada por Cristo para eles com a sua
83
morte que ocorreria não muito depois de ter
lhes falado tais coisas.
Para lhes ajudar no entendimento desta
preciosa bênção da paz espiritual e eterna, pelo
livramento absoluto do juízo de condenação
divino, Jesus disse que esta paz que estava dando como legado não era como a paz do mundo, que
significa ausência de problemas e tribulações.
Há uma falsa paz passageira que até mesmo o
dinheiro pode comprar. Mas uma vez que a
pessoa sair deste mundo, se não tiver a Cristo
como seu Salvador, terá que enfrentar a ira de Deus no Juízo.
Deste modo, o coração do cristão não deve ficar turbado nem atemorizado por qualquer mal que
lhe possa ameaçar, porque todo cristão
verdadeiro já foi livrado do poder do mal por
Cristo, bem como da condenação eterna, por causa dos seus pecados.
O Caráter da Submissão Cristã - João 14
“28 Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis
porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai
é maior do que eu.
29 Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para
que, quando acontecer, vós acrediteis.
30 Já não falarei muito convosco, porque se
aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem
em mim;
84
31 Mas é para que o mundo saiba que eu amo o
Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-
vos, vamo-nos daqui.” (João 14.28-31)
Jesus iria para o Pai. Ele retomaria a glória que
tinha com Ele desde antes da fundação do mundo.
Os discípulos deveriam exultar com isto em vez
de se entristecerem, sobretudo porque Jesus
lhes prometeu que voltaria a estar com eles
novamente, como vimos antes, em espírito.
É certo que Ele esteve com eles pelo espaço de quarenta dias depois da sua ressurreição, mas
lhes aparecia ocasionalmente, e certamente a
referência de que voltaria a estar com os
discípulos aponta para a sua manifestação espiritual àqueles que obedecem aos seus
mandamentos.
Jesus estava lhes passando todas estas
informações antecipadamente para que
pudessem reforçar a sua fé nele.
Afinal tudo o que havia predito quanto à forma
como sairia deste mundo de fato aconteceu, tal como havia falado aos seus discípulos.
O propósito disto, como afirmou, não foi
somente para consolá-los na tristeza, mas para
confirmá-los na fé.
Ao afirmar no final do verso 28 que o motivo da
alegria dos discípulos com a sua ida para o Pai consistia no fato de ser o Pai maior do que Ele,
significa que apesar da sua própria divindade
em semelhança em essência em tudo com o Pai,
85
na Trindade, tanto o Filho quanto o Espírito
Santo são submissos voluntariamente à vontade
do Pai.
Jesus declarou várias vezes que todo o seu
prazer era fazer a vontade do Pai.
Há na própria Trindade um belo exemplo da
submissão que é exigida dos cristãos.
O princípio do verdadeiro amor é submissão.
Onde há o desejo de prevalecer sobre o outro já não pode mais existir o amor.
A natureza do amor mesma chama por esta submissão implícita, este desejo de ouvir,
atender e servir ao outro.
Nisto Jesus nos deixou um exemplo perfeito do
caráter desta obediência em amor.
Estamos muito acostumados a ver submissão pelo modelo autoritário que há no mundo, mas
a submissão em amor nada tem a ver com isto, e
a este respeito Jesus havia alertado os discípulos
que aquele que quisesse ser o maior entre eles, deveria ser o servo de todos.
A grandeza do reino dos céus está em se fazer pequeno diante de seus próprios olhos, perante
aqueles que devemos nos colocar numa posição
de serviço.
O argumento de Jesus aos discípulos, de que
deveriam exultar com o fato de estar indo para o
Pai, que era maior do que Ele, baseava-se na afirmação de que havia uma relação
verdadeiramente filial de amor familiar entre
Ele e o Pai.
86
A sua ida para o Pai nesta condição tinha a ver
com os próprios interesses dos discípulos, pela
condição de serem também participantes da
família de Deus.
Note as palavras de Jesus no verso 31:
“Mas é para que o mundo saiba que eu amo o
Pai, e que faço como o Pai me mandou”.
Tamanha era a submissão de Jesus ao Pai, que foi revelado ao profeta Isaías que Ele se
deleitaria no temor do Pai:
“E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem
repreenderá segundo o ouvir dos seus
ouvidos.” (Is 11.3).
É de tal ordem o prazer que o Pai sente em
relação ao Filho por causa desta perfeita
submissão em amor, que nós o vimos
declarando isto toda vez que se referia a Ele, como por exemplo quando foi batizado por João
Batista:
“E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo.” (Mt 3.17)
Em outra ocasião, quando se dirigiu aos apóstolos quando estavam com Jesus no monte
da transfiguração:
“E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este
é o meu filho amado; a ele ouvi.” (Mc 9.7).
No verso 30, Jesus fez uma parada abrupta no seu discurso dizendo que já não falaria muito
com os discípulos porque o príncipe deste
mundo estava se aproximando, não para que ele
87
tivesse a precedência em ser ouvido, ao
contrário, porque ele não tinha nenhuma parte
a ver com ele.
Aquela era a hora que foi concedida ao diabo
para atuar não somente inspirando Judas a trair
a Jesus, como fazendo todo o levante de injustiças que culminariam com a sua morte na
cruz.
O Espírito Santo, conforme Jesus havia
prometido, conduziria os discípulos a toda a
verdade e lhes lembraria tudo o que Ele lhes
havia falado, razão porque não seria necessário tentar esgotar tudo o que eles precisavam ainda
aprender sobre o seu reino espiritual, e que
melhor aprenderiam quando o Espírito fosse
derramado no Pentecostes, passando a agir como um professor dentro deles.
A urgência daquela hora demandava a tomada
de providências para que tudo acontecesse conforme havia sido planejado pelo Pai. Jesus
estava agindo estritamente debaixo deste
planejamento e das ordens que recebia
diretamente do Alto. Bem fariam especialmente todos os seus ministros de não darem um só
passo que não tenha sido determinado por Ele,
seguindo o próprio exemplo que Ele nos deixou em seu ministério terreno.
Jesus provou o seu amor pelo Pai fazendo
somente aquilo que Ele lhe ordenava, e nós, pecadores, não raras vezes agimos
presunçosamente, pensando que nos é dada a
liberdade em nosso ministério de traçarmos os
88
planos gerais de ação de tudo o que
pretendemos fazer por nossa própria
deliberação e conta.
Quão distantes ficamos do exemplo que Cristo nos deu quanto ao modo correto de se servir a
Deus.
Todo ministério, toda obra que seja
verdadeiramente de Deus, já está traçada por Ele, e a nós cabe tão somente fazer tudo de
acordo com o que Ele tem determinado para
nós.
Paulo aprendeu esta lição de andar segundo o passo de Deus nas experiências que ele teve em
seu apostolado, como por exemplo quando
intentou evangelizar a Bitínia, mas foi impedido
de fazê-lo pelo Espírito Santo (At 16.7,8), e quando tentou evangelizar Jerusalém no início
da sua conversão e foi repreendido por Jesus,
porque não era ali a área que Deus havia
demarcado para ele para realizar o seu ministério (At 22.18).
89
João 15
A União Vital com Cristo
“1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o
lavrador.
2 Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais
fruto.
3 Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho
falado.
4 Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si
mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em
mim.
5 Eu sou a videira, vós as varas; quem está em
mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem
mim nada podeis fazer.
6 Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam
no fogo, e ardem.
7 Se vós estiverdes em mim, e as minhas
palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que
quiserdes, e vos será feito.
8 Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15.1-
8)
Nosso Senhor discursa relativamente ao fruto
que os seus discípulos deveriam produzir,
usando a ilustração de uma videira.
Jesus Cristo é a videira, a verdadeira videira.
90
A igreja que é o corpo de Cristo é uma videira.
Cristo é a videira plantada no vinhedo, e não
uma planta que nasce espontaneamente da
terra; ao contrário, Ele foi plantado na terra, porque o Verbo se fez carne.
A videira é uma planta que é cultivada por propagação, e por isso Cristo será conhecido
como salvação até aos confins da terra.
O fruto da videira honra a Deus e dá alegria aos homens, assim o fruto da mediação de Cristo é
melhor que o ouro (Prov 8.19).
Ele é a verdadeira videira, porque o oposto à verdade é a falsificação; e é somente nele que
podemos achar o fruto da verdade.
A fonte de vida, designada como videira, que é Cristo, produz a verdade que salva, e somente
nele podemos encontrar esta salvação
verdadeira, pelo conhecimento da verdade que
está nele.
Os cristãos são os ramos desta videira da qual
Cristo é a raiz.
A raiz é visível, e nossa vida está escondida com
Cristo; a raiz desta árvore de vida eterna (Rom
9.18), que difunde seiva a todos os ramos da videira e que os tornam férteis e frutíferos.
Todos os ramos, embora muitos se encontrem
todos eles ligados à raiz. Assim Cristo é o centro da unidade de todos os cristãos.
O Pai é o agricultor.
Embora a terra seja do Senhor, ela não
produziria nenhum fruto a menos que Deus a
trabalhe.
91
É Deus quem cuida de todos os ramos da videira.
Ele os limpa por poda, e provê todos os meios
necessários para que sejam frutíferos (I Cor 3.9; Is 5.1,2; 27.2,3).
Por isso devemos ser frutíferos, porque os
ramos estéreis (v 2) são lançados fora.
Há muitos que passam por ramos em Cristo,
contudo não dão frutos; porque estão ligados a
Ele apenas por uma profissão externa, e embora
eles pareçam ser ramos, eles logo secarão porque a seiva da videira não penetra no coração
deles.
Estes ramos não honram a Deus porque não podem dar fruto, ao contrário trazem
desonra ao seu nome.
Por isso serão cortados como Judas.
Mas Deus limpará os ramos frutíferos pela poda
para que produzam ainda mais fruto.
Note que a fertilidade adicional é a recompensa abençoada de uma vida fértil.
A quem tem mais se dará.
O que for fiel no pouco, sobre o muito será colocado.
A primeira bênção era ser frutífero; e ainda será
uma bênção ainda maior, porque está
determinada uma fertilidade ainda maior para os que estão dando frutos, e para tanto será
necessário que sejam podados, por
se lançar fora aquilo que for supérfluo neles e que esteja atrapalhando a sua frutificação.
Pela poda serão renovados, de maneira a terem
maior vigor e força para a frutificação.
92
Assim, na época apropriada o Pai tirará pela
mortificação do Espírito e pela Palavra, tudo
aquilo que necessita ser limpo na vida destes
cristãos frutíferos.
O Pai fará este trabalho como agricultor para a
sua própria glória.
Os benefícios que os cristãos têm através da
doutrina de Cristo, o poder pelo qual eles serão
trabalhados para terem um bom testemunho numa vida frutífera será a própria Palavra de
Cristo, que os limpou (v. 3).
A Palavra de Cristo é uma palavra distintiva que separa o precioso do vil, e foi por esta Palavra
que Judas ficou separado dos demais apóstolos,
porque não se firmou nela.
É por esta Palavra que os cristãos são
santificados (João 17.17). Esta Palavra é
quem purifica os nossos corações (At 15.9).
É pela Palavra que o Espírito refina os cristãos de
toda escória do mundo e da carne, e remove
deles todo fermento dos escribas e fariseus.
Quando a Palavra de Cristo habita ricamente no
coração do cristão ele fica santificado por esta
Palavra.
Seus pensamentos são direcionados para Deus,
seus objetivos de vida são centrados em Cristo,
a carnalidade e todo comportamento mundano são despojados, e o lugar deles é ocupado pelo
revestimento das virtudes de Cristo, em
pensamentos espirituais, celestiais e divinos.
93
O Espírito Santo se move num coração que está
assim tomado pelo amor de Deus, e por
sentimentos puros e elevados.
O contrário disto produz uma porta aberta para
as operações do Inimigo, porque ele acha um repouso seguro num coração impuro que seja
dominado pelo ódio, pela inveja, ciúme,
sensualidade e toda forma de obra da carne.
Nós comprovamos que somos limpos pela
Palavra, quando nós produzirmos fruto de
santidade.
Nisto nosso Pai será glorificado.
Para sermos frutíferos nós temos que
permanecer em Cristo.
Isto é um dever ordenado por Ele(v. 4).
Devemos permanecer (estar) em Cristo, em
comunhão espiritual, para que Ele permaneça
(esteja) em nós.
Veja que esta palavra foi dirigida aos que já eram
cristãos.
Exige-se constância nesta permanência no
Senhor para a frutificação.
Aqueles que são de Cristo têm que permanecer
nele. Ele nos convoca a estarmos nele por fé, e Ele estará em nós pelo Espírito.
Ele promete que da parte dele nunca falhará nesta união, pois tem dito que permanecerá em
nós caso permaneçamos nele.
Esta permanência será real na medida que tiver
a evidência de estarmos cumprindo os
mandamentos de Cristo, permanecendo na
94
sua Palavra que será luz para os nossos pés em
nossa caminhada neste mundo.
O ramo não pode ter vida separado da videira; de
igual modo a vida espiritual que está em Cristo
só pode ser experimentada se estivermos unidos a Ele permanentemente.
A necessidade de estar em Cristo tem a ver com
a nossa fertilidade (v. 4, 5). Ele diz que sem Ele
nada podemos fazer, mas se estivermos nele e suas Palavras em nós, daremos muito fruto.
Aquele que é constante no exercício da fé e
amor a Cristo, aquele que vive nas suas
promessas e é dirigido pelo seu Espírito, dará
muito fruto, e será muito útil à glória de Deus.
Há consequências fatais em abandonar a Cristo (v. 6):
"Se alguém não estiver em mim, será lançado
fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam
no fogo, e ardem."
Aqueles que pensam erroneamente que não
têm nenhuma necessidade de Cristo serão por fim também rejeitados por Ele.
Mas há um privilégio abençoado para aqueles
que frutificam em Cristo (v. 7):
"Se vós estiverdes em mim, e as minhas
palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que
quiserdes, e vos será feito."
Como nossa união com Cristo é mantida pela Palavra, onde estiver a Palavra de Cristo ali Ele
habitará.
Como nossa comunhão com Cristo é mantida
através da oração: Você pedirá o que quiser e lhe
95
será feito. Não há risco de pedirmos o que não
seja segundo a vontade de Deus quando se está
numa comunhão real e verdadeira com o
Senhor porque tudo o que sair da nossa boca estará debaixo da instrução e direção do Espírito
Santo, que na verdade é quem intercede por
nós, pois não há verdadeira oração que não seja no poder do Espírito (Ef 6.18).
Se o Senhor é o nosso deleite, a nossa alegria, o nosso agrado, todo desejo carnal dará lugar a
desejos santos e aprovados por Deus.
Se nós estivermos em Cristo, numa verdadeira e
íntima comunhão com Ele, guardando a sua
Palavra, nada lhe pediremos, que seja fruto de desejos interesseiros, egoístas, carnais, senão o
que é bom para edificação.
Buscaremos como Ele nos tem ordenado o
reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais nos
será acrescentado. Estas coisas acrescentadas não precisam ser buscadas porque Ele tem
prometido que as acrescentará se buscarmos
diligentemente os interesses de Deus e do seu
reino.
Amados e Amigos - João 15
“9 Como o Pai me amou, também eu vos amei a
vós; permanecei no meu amor.
10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo
que eu tenho guardado os mandamentos de
meu Pai, e permaneço no seu amor.
96
11 Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria
permaneça em vós, e a vossa alegria seja
completa.
12 O meu mandamento é este: Que vos ameis
uns aos outros, assim como eu vos amei.
13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
14 Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu
vos mando.
15 Já vos não chamarei servos, porque o servo
não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de
meu Pai vos tenho feito conhecer.
16 Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos
escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis
fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele
vo-lo conceda.
17 Isto vos mando: Que vos ameis uns aos
outros.” (João 15.9-17)
O Senhor revelou aos apóstolos, com estas
palavras, qual é a maneira de permanecer no amor de Deus.
Ele mostrou que isto é possível somente quando
se faz a vontade de Deus, por se honrar e guardar
seus mandamentos.
Muitos têm falhado na comunhão que deveriam
ter com Deus e com seus irmãos, porque não consagram suas vidas ao Senhor, e assim não
são despertados pelo Espírito Santo, para que
possam conhecer ao Senhor e à sua vontade.
97
Por isso é que se nos ordena que cresçamos na
graça e no conhecimento de Jesus (II Pe 3.18),
porque esta é a única maneira de sermos
tomados de toda a plenitude do amor divino.
Sem esta capacitação espiritual que é recebida do Espírito Santo, quando nos consagramos nas
mãos de Deus, para fazer a sua vontade, é
impossível viver e permanecer no Senhor e no
seu amor.
Assim, Ele foi muito claro em nos dizer que é necessário guardar os mandamentos de Deus
para que se possa experimentar o seu amor;
porque o Senhor não manifestará a beleza da
sua intimidade e santidade àqueles que não Lhe honrarem, ainda que tenham nascido de novo
do Espírito.
Jesus havia dado seu próprio exemplo aos
apóstolos, em plena submissão à vontade do Pai,
e era esta a razão dele ser amado pelo Pai e de
sempre exultar e se alegrar em espírito em seu relacionamento com Ele.
É somente quando se vive neste amor e alegria
espiritual, que somos capacitados pelo Espírito a
darmos frutos espirituais para Deus, de maneira
que Ele seja glorificado através das nossas vidas.
O caráter deste amor divino é de amizade paternal, dele em relação a nós, e amizade
fraternal, de nós em relação a nossos irmãos, e
de amizade filial, de nós em relação a Deus.
Jesus demonstrou até que ponto esta amizade
espiritual pode nos levar, a saber, a dar a nossa
98
vida pelos irmãos, assim como Ele entregou a
sua vida por nós.
Ele não deu sua vida por nós somente na cruz,
mas no serviço amoroso e cuidadoso que tem
por cada um dos seus discípulos e que é demonstrado em manifestações reais das
operações das suas graças e bênçãos em nossas
vidas.
O Senhor não nos trata como escravos, mas
como amigos.
Ele nos revelou toda a verdade que está no seio do Pai.
Ele não age de maneira reservada com nenhum
daqueles que guardam os seus mandamentos.
Ao contrário, faz com que privem da sua
intimidade.
É pela nossa obediência ao Senhor que
provamos a nossa amizade a Ele.
Na verdade é impossível estar em relação de amizade com Ele sem esta obediência que Lhe é
devida em tudo.
Mal Rejeita o Bem - João 15
“18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do
que a vós, me odiou a mim.
19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o
que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o
mundo vos odeia.
20 Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o
servo maior do que o seu Senhor. Se a mim me
99
perseguiram, também vos perseguirão a vós; se
guardaram a minha palavra, também guardarão
a vossa.
21 Mas tudo isto vos farão por causa do meu
nome, porque não conhecem aquele que me enviou.
22 Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do
seu pecado.
23 Aquele que me odeia, odeia também a meu
Pai.
24 Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais
nenhum outro tem feito, não teriam pecado;
mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a
meu Pai.
25 Mas é para que se cumpra a palavra que está
escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.” (João 15.18-25)
Jesus alertou seus discípulos, que não deveriam
se iludir esperando ser amados por aqueles que não amam a Deus e os seus mandamentos.
Ao contrário, eles seriam odiados.
Mas aqueles que guardassem seus mandamentos viveriam no seu amor.
Assim, eles deveriam estar preparados em seu espírito, para sofrerem perseguições no mundo,
assim como haviam Lhe perseguido antes deles.
O motivo desta perseguição seria exatamente a
semelhança com Ele, por causa da pregação fiel
da Palavra, que afirma a necessidade de
100
arrependimento do pecado e fê nele para a
salvação.
A arrogância, o orgulho, a prepotência farisaicos, não somente recusam reconhecer
esta verdade, como também, em muitos casos
se opõem a ela, na vã tentativa de fazer calar a
Palavra de Deus, a qual nunca foi, e jamais poderá ser detida, por qualquer poder, seja
deste mundo, ou das potestades espirituais da
maldade.
Satanás sempre se levantará em oposição a uma
obra verdadeira de Deus, porque não lhe agrada
nem um pouco perder pessoas, pela libertação
de Cristo.
O Espírito Santo É Invencível João 15
“26 Mas, quando vier o Consolador, que eu da
parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de
verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.
27 E vós também testificareis, pois estivestes
comigo desde o princípio.”. (João 15.26,27)
Os discípulos não deveriam ficar intimidados
pelo ódio que receberiam do mundo, porque o Espírito Santo seria enviado para fortalecê-los e
dar testemunho através deles.
Não seriam propriamente eles que pregariam, mas o Espírito que falaria por eles.
O Espírito capacitaria os discípulos a cumprirem
a missão de darem testemunho de Cristo; e por
101
isso deveriam aguardar na cidade orando,
diariamente, até que fossem revestidos do
poder do Espírito, o qual desceu sobre eles no
dia de Pentecostes; e somente a partir de então saíram pregando o evangelho por toda a parte,
começando de Jerusalém.
Assim é o Espírito Santo que manterá a causa de
Cristo no mundo, apesar de toda oposição que
possa ser feita ao evangelho.
A promessa do Senhor Jesus tem sido
literalmente cumprida nestes dois mil anos de história da Igreja, porque o Espírito Santo tem
sustentando o testemunho do evangelho em
todo o mundo, a par de todas as perseguições e
oposições que os cristãos têm sofrido, inclusive até o ponto de muitos deles terem sido, e ainda
estarem sendo martirizados.
102
João 16
Jesus Animando e Encorajando os Discípulos –
Parte 1
“1 Tenho vos dito estas coisas para que vos não
escandalizeis.
2 Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a
hora em que qualquer que vos matar cuidará
fazer um serviço a Deus.
3 E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai
nem a mim.
4 Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando
chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo
tinha dito. E eu não vos disse isto desde o
princípio, porque estava convosco.
5 E agora vou para aquele que me enviou; e
nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?
6 Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso
coração se encheu de tristeza.
7 Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador
não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo
enviarei.
8 E, quando ele vier, convencerá o mundo do
pecado, e da justiça e do juízo.
9 Do pecado, porque não creem em mim;
10 Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me
vereis mais;
11 E do juízo, porque já o príncipe deste mundo
está julgado.
103
12 Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não
o podeis suportar agora.
13 Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o
que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.
14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.
15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos
disse que há de receber do que é meu e vo-lo há
de anunciar.” (João 16.1-15)
Antes de fazer a oração intercessória do
capítulo seguinte (cap 17), depois da qual se
dirigiu para o jardim do Getsemâni, Jesus fez
estas advertências finais aos discípulos, para
que entendessem que as perseguições contra o evangelho não cessariam, ao contrário, elas se
intensificariam muito, e eles deveriam ser
pacientes e perseverantes debaixo das aflições
que sofreriam.
A história dos mártires, especialmente da Igreja
Primitiva, nos primeiros trezentos anos da
história da Igreja bem comprova a exatidão desta profecia de Jesus.
Muitos cristãos foram mortos pelos judeus,
especialmente nos primeiros anos de existência
da Igreja, e eles pensavam que estavam de fato fazendo um serviço para Deus, uma vez que
consideravam o cristianismo como sendo uma
perigosa heresia que visava destruir o judaísmo.
104
O Senhor alertou os discípulos; e o alerta que
lhes foi dirigido se aplica aos cristãos de todas as
épocas, para que não fiquem escandalizados
com o fato de receberem por vezes o mal, como paga de todo o bem que fizerem às pessoas.
Apesar de o evangelho ter sido pregado no
princípio nas sinagogas espalhadas por todo o mundo conhecido de então, assim que era
detectado pelos judeus que era o nome de Jesus
que estava sendo pregado; eles se levantavam
em dura oposição e perseguição aos cristãos, a ponto de o apóstolo Paulo ter decidido pregar
somente aos gentios, em face das duras
perseguições que estava sofrendo da parte dos
judeus.
Assim, todos os judeus que se convertiam ao
cristianismo eram expulsos das sinagogas, e isto
foi mais agravado na região da Judeia, especialmente em Jerusalém, por causa da
influência dos sacerdotes, fariseus e escribas
que se concentravam naquela região.
Jesus havia alertado os discípulos quanto a tudo
isto, para que, quando acontecesse, eles não
desistissem de pregar o evangelho em razão das
perseguições que eles sofreriam (v. 4).
Os discípulos de Jesus não devem ficar
ofendidos com a cruz.
A ofensa da cruz é uma tentação perigosa até mesmo para cristãos espirituais, porque
poderão ser tentados a recuar na fé ou na obra
de evangelização quando perceberem as fortes
105
oposições que recebem da parte do mundo
espiritual, capitaneadas pelo diabo.
Tempos de sofrimento são tempos de tentação.
O sofrimento é uma constante na vida daqueles
que estão empenhados numa obra que seja
verdadeiramente de Deus.
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão,
para que sejais provados; e tereis uma tribulação
de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa
da vida.” (Apo 2.10).
O Senhor percebeu que em vez de ficarem estimulados, os discípulos se encheram de
tristeza ao ouvirem as suas palavras,
especialmente o fato de lhes ter dito que se
retiraria deles para ir para junto do Pai.
Em vez de tristeza, isto deveria ser um motivo de grande alegria, porque se Ele não fosse para o
Pai, o Espírito Santo não poderia ser derramado.
Se o Espírito não fosse derramado eles não
teriam o poder espiritual necessário para
cumprirem o ministério que havia sido
designado a eles por Deus.
Eles deveriam ver o céu azul do outro lado da nuvem escura que sempre os acompanharia.
Jesus disse que iria voltar para o seio do Pai, e
eles não manifestaram interesse em perguntar-
lhe o motivo desta ida, e as coisas maravilhosas
que diziam respeito a eles e que lhes seriam concedidas com a sua partida para ser
glorificado no céu, sendo a principal delas, o
envio do Espírito Santo para ser um Consolador,
106
amoroso, paciente e persistente em ajudá-los
em suas fraquezas, bem como no
aperfeiçoamento espiritual para estarem
também habilitados para habitarem no mesmo céu para o qual Jesus estaria indo, depois de
morrer na cruz e ressuscitar.
Seria o Espírito Santo, e não propriamente eles
quem convenceria o mundo do pecado, da
justiça e do juízo.
O convencimento do pecado não consiste tanto
na convicção das pessoas quanto às coisas erradas que elas pensam, falam e praticam, mas
que o pecado prevalece onde não há a fé
justificadora de Jesus.
A condição de incredulidade, de não se crer no
Senhor para a salvação, é o problema básico do
pecado, porque Deus está se revelando na dispensação do Espírito Santo, que é a da graça,
longânimo para com todos os pecadores,
estando disposto a perdoar-lhes todas as suas
iniquidades e transgressões (Jer 31.31-35), tão somente por se unirem a Cristo pela fé.
A vida do próprio Cristo os purificará e santificará completamente, de maneira que
sejam achados na glória, santos, perfeitos e
inculpáveis.
O Espírito não somente convence o mundo
revelando aos homens que eles são pecadores,
como também convence o mundo de que Cristo é justo, e que somente Ele pode ser a nossa
justiça diante de Deus, o que se comprova no
fato dele ter voltado para o seio do Pai em glória.
107
É o Espírito que nos dá este testemunho da
justiça que há em Cristo; justiça esta que Ele
tornou disponível para nós justificando-nos dos
nossos pecados, quando nos arrependemos e cremos nele.
A presença do Espírito no mundo tem desfeito
as obras do diabo, por causa da sentença de
despojamento que Ele recebeu da parte de Deus quando Cristo morreu na cruz.
As muitas coisas que Jesus tinha a dizer aos
discípulos, especialmente aquelas relativas às
particularidades deste trabalho do Espírito de convencimento do pecado, da justiça e do juízo,
foram deixadas por Ele para serem ensinadas
pelo próprio Espírito aos discípulos; porque,
afinal o Espírito não falaria de si mesmo, e nem traria uma nova doutrina, senão para dar
seguimento à missão de Cristo através dos
cristãos.
Jesus Animando e Encorajando os Discípulos –
Parte 2 - João 16
“16 Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai.
17 Então alguns dos seus discípulos disseram
uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um
pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?
18 Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco?
Não sabemos o que diz.
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19 Conheceu, pois, Jesus que o queriam
interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós
acerca disto que disse: Um pouco, e não me
vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
20 Na verdade, na verdade vos digo que vós
chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa
tristeza se converterá em alegria.
21 A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas,
depois de ter dado à luz a criança, já não se
lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido
um homem no mundo.
22 Assim também vós agora, na verdade, tendes
tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso
coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
23 E naquele dia nada me perguntareis. Na
verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há
de dar.
24 Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra.
25 Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas,
mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
26 Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
27 Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me
amastes, e crestes que saí de Deus.
28 Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o
mundo, e vou para o Pai.
109
29 Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que
agora falas abertamente, e não dizes parábola
alguma.
30 Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso
cremos que saíste de Deus.
31 Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?
32 Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que
vós sereis dispersos cada um para sua parte, e
me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
33 Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais
paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo.” (João 16.16-33)
O que Jesus estava sentindo naquela última ceia
com seus discípulos era como as dores de parto
de uma mulher que está prestes a trazer um
filho ao mundo; que é uma hora de aflições, tristezas e dores, mas que logo se transforma em
grande alegria, uma vez tendo dado à luz um
novo ser.
De igual modo a grande aflição que Jesus estava sentindo e que se intensificaria ainda mais até
morrer na cruz, daria à luz uma nova
dispensação, na qual seriam gerados muitos
filhos para Deus.
Assim tudo o que Ele lhes estava dizendo e que estava gerando tristeza no coração deles não era
motivo para ficarem desanimados, ao contrário,
em todas as suas aflições deveriam ter o bom
110
ânimo da fé de que o fruto que é gerado por elas
e através delas é um fruto precioso gerado pelo
próprio Deus.
Estes que nascem de novo, estes muitos filhos espirituais de Deus já não morrem, e viverão
eternamente com o Senhor deles, onde não
haverá mais luto, tristeza e dor.
Daí Jesus ter concluído este capítulo com as palavras do verso 33:
“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais
paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom
ânimo, eu venci o mundo.” (v. 33).
Eles seriam dispersos por um tempo, quando Jesus estivesse padecendo diante dos
sacerdotes no sinédrio, e de Pôncio Pilatos, e do
escárnio e do açoite dos seus soldados, na
humilhação do carregar da cruz, e por fim na crucificação, mas deviam entender que aquilo
não significava uma derrota, mas uma vitória
sobre este mundo de aflições, de maneira que tivessem bom ânimo e se mantivessem em paz
nele, em comunhão com os seus sofrimentos.
Sofrimentos estes que completariam também
nas suas próprias aflições por amor ao
evangelho, mas como o seu Senhor deveriam ter paz e bom ânimo em tudo o que teriam que
passar neste mundo por causa do evangelho.
O fato de que não veriam mais o Senhor por um
pouco de tempo, porque Ele seria arrebatado da companhia deles por aqueles que o prenderiam,
açoitariam e crucificariam, não significava que
não o veriam mais, porque o veriam de novo,
111
porque ressuscitaria, e mesmo depois que
subisse aos céus poderiam vê-Lo, não mais
segundo a carne, mas em espírito, através da
presença do Espírito Santo.
O Senhor incentivou os discípulos a começarem
a se exercitar em orações dirigidas ao Pai,
fazendo petições em seu nome, porque eles se
alegrariam ao verem suas orações sendo respondidas por Deus.
Até pouco antes de sair para o Getsemâni, Jesus
vinha falando muitas coisas aos discípulos por
meio de parábolas, especialmente quanto à sua procedência do céu, e do seu retorno para lá,
uma vez que geralmente dizia simplesmente
que não sabiam para onde Ele iria, e que eles não
poderiam segui-lo naquela hora, mas agora Ele lhes fala claramente acerca do céu e do Pai (v. 27,
28).
Ele queria lhes mostrar que daquele momento
em diante o Espírito Santo lhes ensinaria de maneira direta tudo o que se referisse às coisas
celestiais, espirituais e divinas, porque Ele teria
a honra de remover inteiramente o véu que
permanecia sobre o mistério de Deus, que era o próprio Cristo, véu este que vinha sendo
mantido durante todo o período de vigência da
Antiga Aliança.
Então importava que muitas coisas fossem ensinadas por Jesus por meio de parábolas,
porque o véu seria inteiramente removido
somente a partir da inauguração da Nova
112
Aliança, a qual entraria em vigência somente
depois da sua morte na cruz.
Por isso Ele havia chamado o cálice de vinho
nesta última ceia de Páscoa que celebrara com
os discípulos de cálice da Nova Aliança feita no
seu sangue.
Ela seria selada com o sangue que Ele
derramaria na cruz, assim como a Antiga Aliança foi selada com o sangue de animais, por
Moisés.
Foi pelo mesmo motivo que o véu do templo,
que separava o Lugar Santo, do Santo dos
Santos, foi também rasgado de cima abaixo, para indicar que o véu da Antiga Aliança, que
impedia o conhecimento completo e direto da
verdade seria removido em Cristo, e este
trabalho seria feito pelo Espírito que seria derramado em todas as nações da terra.
Os apóstolos se alegraram de Jesus ter falado com eles daquela maneira direta e clara, e por
lhes ter dito que aquele seria o modo que Ele
trataria com eles dali por diante através do
Espírito Santo.
Ele lhes encorajou a começarem a orar pedindo
ao Pai em seu nome, de maneira que Eles poderiam falar diretamente com o Pai, e não
necessitavam mais pedir a Ele que rogasse, Ele
mesmo, por eles ao Pai, porque o caminho para
a presença do Pai seria aberto por Ele na cruz, de maneira que poderiam ser admitidos em
espírito no Santo dos Santos celestial, pelo novo
e vivo caminho que seria aberto.
113
João 17
A Oração Sacerdotal de Jesus – Parte 1
“1 Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu
Filho, para que também o teu Filho te glorifique
a ti;
2 Assim como lhe deste poder sobre toda a
carne, para que dê a vida eterna a todos quantos
lhe deste.
3 E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só,
por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a
quem enviaste.
4 Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a
obra que me deste a fazer.
5 E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo
antes que o mundo existisse.” (João 16.1-5)
Todo este capítulo é uma oração.
A oração que Jesus fez quando estava prestes a
ser traído por Judas.
É dito no início do capítulo seguinte a este, que
depois de Jesus ter feito esta oração. ele saiu
com os seus discípulos para o jardim do
Getsemâni, no qual seria traído por Judas, que conduziu guardas da parte dos principais
sacerdotes e fariseus até o local onde Jesus se
encontrava.
114
Com esta oração Jesus fechou a última ceia de
páscoa que havia celebrado com seus
discípulos, porque João diz que depois de ter
pronunciado estas palavras ele saiu para o outro lado do ribeiro de Cedrom, onde ficava o Jardim
do Getsemâni (Jo 18.1).
Jesus orou pelos discípulos e com eles.
Como esta foi a última oração que fizera por eles pouco antes da sua crucificação, os pedidos do
Senhor que estão nela contidos são
absolutamente essenciais.
Jesus pediu proteção ao Pai para os discípulos, de maneira que fossem guardados de se
desviarem da verdade.
Para isto seria necessário que fossem
santificados na verdade, de maneira que
pudessem ser mantidos em unidade, permanecendo na comunhão com Deus Pai,
com o Filho, e uns com os outros.
O Senhor pediu também que fossem feitos
perseverantes até à glória final, de maneira que pudessem também participar da sua própria
glória.
Todas estas coisas dependeriam da obra que
seria feita a partir da cruz, com a ressurreição, ascensão e glorificação de Jesus nos céus,
porque importava que o seu trabalho de
redenção fosse aceito pelo Pai, de maneira que
pudesse cumprir a promessa que fizera e que estava associada à sua glorificação, a saber, o
derramamento do Espírito Santo em todas as
nações.
115
Assim, não somente o Pai glorificaria o Filho,
com a glória que Ele tivera nos céus, antes
mesmo de ser formado o mundo, comprovando
que o seu retorno aos céus foi em vitória e em glória quanto à obra que lhe fora designada pelo
Pai para consumar na terra; como também o Pai
seria glorificado pelo Filho, pela muita honra e glória que receberia da parte daqueles que
começariam a ser salvos na terra, por causa da
obra realizada pelo Filho.
Esta obra que o Pai designou ao Filho é a de dar
a vida eterna àqueles que se encontram mortos
espiritualmente, e que sem a luz de Cristo, que
lhes dá a vida, seriam fatalmente condenados à morte eterna.
Mas o Senhor disse que apesar de Lhe ter sido dado poder sobre toda a carne, no entanto a vida
eterna seria concedida apenas a todos aqueles
que lhes foram dados pelo Pai.
Nenhum deles virá a se perder eternamente,
porque Jesus recebeu autoridade e poder do Pai
para que não perca a nenhum destes aos quais
foi dado pelo Pai, crerem nele.
Nenhuma ovelha será perdida, e o Senhor veio
buscar cada uma delas, porque a salvação ainda que individual tem um propósito coletivo, e isto
está demonstrado claramente no teor desta
oração que o Senhor fez no final da sua última
ceia com os discípulos, porque ela não foi feita para atender necessidades particulares e
individuais, mas para a consolidação de um
corpo espiritual, do qual Jesus é a cabeça.
116
Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 2 - João 17
“6 Manifestei o teu nome aos homens que do
mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.
7 Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti;
8 Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente
conhecido que saí de ti, e creram que me
enviaste.
9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas
por aqueles que me deste, porque são teus.
10 E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas
coisas são minhas; e nisso sou glorificado.” (João
17.6-10)
Jesus orou de maneira muito clara quando disse
que não estava pedindo pela unidade do mundo
de pecado.
Caso o fizesse, o que é impossível, o mundo se
tornaria muito pior, pela união daqueles que
buscam praticar o mal e não o bem.
Então, Ele orou para que fossem santificados em
unidade espiritual, aqueles que servem à causa do bem, aos que Lhe amam e observam com
temor e reverência os mandamentos de Deus.
O Senhor Jesus afirmou em sua oração que tudo
o que Ele possui é do Pai, assim como tudo o que
é do Pai é dele, e nisto está a sua glória.
Isto significa que ninguém pode ser de Deus Pai
se não for de Cristo.
117
Aquele que rejeitar o Filho terá também
rejeitado o Pai, porque não é possível pertencer
a um deles sem pertencer ao outro.
A Oração Sacerdotal de Jesus – Parte 3 - João 17
“11 E eu já não estou mais no mundo, mas eles
estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para
que sejam um, assim como nós.
12 Estando eu com eles no mundo, guardava-os
em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu
me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o
filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.
13 Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em
si mesmos.
14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou,
porque não são do mundo, assim como eu não
sou do mundo.
15 Não peço que os tires do mundo, mas que os
livres do mal.
16 Não são do mundo, como eu do mundo não
sou.” (João 17.11-16)
Dos apóstolos de Jesus apenas Judas abandonou a comunhão em unidade espiritual que havia
entre os apóstolos.
Na verdade ele nunca havia chegado a participar
da mesma, porque não era um filho da salvação,
um filho da promessa, mas um filho da perdição,
118
um vaso para desonra, um vaso de ira, conforme
as Escrituras do Velho Testamento haviam
predito acerca dele.
Quando orou para que o Pai guardasse os discípulos para que fossem um, assim como Ele
era com o Pai, e para que continuassem unidos
em espírito como haviam vivido com Ele
durante seu ministério terreno, por causa das suas intercessões em favor deles, e pela
aplicação da Palavra da verdade em suas vidas,
Jesus não estava pedindo que fossem guardados
de se perderem definitivamente tal como Judas, porque isto seria impossível, mas para que não
viessem a esfriar e a apostatar da fé, ainda que
temporariamente, porque seria por meio deles
que as primeiras congregações cristãs seriam fundadas; e importava que fossem achados
firmes e crescendo na fé.
Quando o Senhor começou a fazer esta oração
de João 17, Judas tinha acabado de sair para traí-lo, e assim havia abandonado definitivamente a
companhia do Senhor e dos demais apóstolos,
retornando para o seu próprio lugar, a saber, o
mundo, porque ele nunca chegou a pertencer ao reino de Deus.
O Novo Testamento chama de mundo, em
sentido negativo, a todo o sistema pecaminoso
que se opõe à Deus e à sua vontade.
119
A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 4 - João 17
“17 Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a
verdade.
18 Assim como tu me enviaste ao mundo,
também eu os enviei ao mundo.
19 E por eles me santifico a mim mesmo, para
que também eles sejam santificados na verdade.”
A missão dos cristãos é a mesma de Cristo, na
verdade, é a continuidade da sua missão porque
Ele continua operando através deles.
Para cumprir a mesma missão que Cristo havia cumprido no mundo, necessitam de
santificação, e por isto o Senhor intercedeu
neste sentido nos versos 17 e 19.
Sem santificação é absolutamente impossível
ver uma obra de Deus entre nós que seja consistente, regular e permanente.
Na condição de Sumo Sacerdote da nossa fé
Cristo santificou a Si mesmo para oficiar no
tabernáculo celestial, assim como os sacerdotes
de Israel deviam se consagrar a Deus antes de serem admitidos no seu serviço.
O Pai chamou o Filho para ser Sumo Sacerdote
para sempre segundo a ordem de
Melquisedeque, e Ele se consagrou
completamente a este serviço, de maneira que tudo o que fez e que tem feito foi por um
completo e permanente compromisso com o
Pai e com os seus discípulos.
120
A santificação dos cristãos está garantida
porque há este compromisso da parte do Senhor
em realizar tal trabalho em nós para que
possamos cumprir a missão que Ele nos designou para levarmos a efeito neste mundo.
A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 5 - João 17
“20 E não rogo somente por estes, mas também
por aqueles que pela sua palavra hão de crer em
mim;
21 Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és
em mim, e eu em ti; que também eles sejam um
em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.
22 E eu dei-lhes a glória que a mim me deste,
para que sejam um, como nós somos um.
23 Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam
perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens
amado a eles como me tens amado a mim.” (João
17.20-23)
Jesus não orou somente pelos discípulos que se
encontravam com Ele no momento da sua oração, mas por todos os cristãos que viessem a
se converter pelo testemunho daqueles
primeiros discípulos, especialmente pela
pregação da palavra dos apóstolos, conforme a encontramos no Novo Testamento, que não é
propriamente a palavra deles, mas a palavra de
Deus.
121
Mais uma vez o Senhor orou pela unidade dos
cristãos, revelando o quanto ela é essencial para
o testemunho deles, de maneira que seja
produzido o convencimento do Espírito no mundo, quanto à unidade e amor espirituais que
há entre os cristãos, e assim as pessoas possam
ser despertados e convertidos através deste testemunho daqueles que já estão em Cristo.
Se Cristo orou pela unidade dos cristãos desta
forma, é nosso dever nos esforçar para preservar esta unidade do Espírito no vínculo da
paz.
É do Senhor que procede esta unidade, deste modo só será encontrada nas congregações nas
quais os cristãos estiverem andando no Espírito,
de maneira que toda a glória pela existência de
tal unidade seja reconhecida como sendo do Senhor (v. 22).
O caráter desta unidade é espiritual, porque é o mesmo tipo de unidade que há na trindade
divina.
O Pai e o Filho são de um mesmo sentir e pensar, e assim devem ser também os cristãos em suas
congregações.
Deste modo isto somente será possível se eles
andarem no Espírito e não segundo a carne.
Por isso o Senhor não orou por uma unidade social, parcial, acadêmica, ou seja, de qual
natureza for, senão unidade de fé, amor e
espiritual realizada pelo Espírito.
122
Uma unidade perfeita, isto é amadurecida, que
revele especialmente ao mundo o amor que há
entre Deus e os cristãos (v. 23).
É desta forma que o mundo é convencido que
Cristo está entronizado no meio do seu povo, e que de fato veio a este mundo para resgatar um
povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.
A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 6 - João 17
“24 Pai, aqueles que me deste quero que, onde
eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque
tu me amaste antes da fundação do mundo.
25 Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu
te conheci, e estes conheceram que tu me
enviaste a mim.
26 E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei
conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.”
Com estas palavras Jesus encerrou a oração que fez no final da ceia de páscoa, que celebrara com
seus discípulos, antes de sair em direção ao
jardim do Getsemâni.
O seu pedido final ao Pai em favor dos cristãos
foi que estivessem com Ele no céu para que
pudessem ver a glória que Ele havia recebido do Pai, por causa da grande obra de salvação que
fizera por eles; glória que sempre tivera junto ao
Pai, antes mesmo da fundação do mundo.
123
Desde toda a eternidade, o Pai amou ao Filho e
eles decidiram expandir e compartilhar este
amor com muitos filhos semelhantes a Cristo.
Foi por eles e para tal propósito que o Senhor intercedeu pedindo ao Pai que estejam todos
reunidos na glória compartilhando dAquele
amor divino que sempre existiu entre o Pai e o
Filho.
O mundo de pecado nada sabia e sabe acerca
disto, e desta maneira não poderia dar qualquer
testemunho sobre a verdade pela qual o Senhor
estava orando; mas os cristãos têm experimentado este amor, pelo Espírito, como
os primeiros discípulos, e assim têm conhecido
que Jesus foi realmente enviado pelo Pai.
Somente o Filho e o Espírito Santo conhecem o Pai, e assim são os únicos que podem fazer com
que Ele seja conhecido.
Como este conhecimento é por uma
experiência real de comunhão espiritual e pessoal com Ele em amor, pelo Espírito Santo,
somente os que forem salvos por Cristo poderão
obter tal conhecimento que conduz à glória
eterna do céu.
A nossa fé e santificação têm grande recompensa.
O Senhor não confessará a ninguém diante do
seu pai e dos santos anjos na glória, que tenha se
envergonhado dele e de suas palavras neste mundo, ou que tenha negado o seu santo nome
por um viver segundo a carne, e não segundo o
Espírito.
124
O tempo se abrevia e o céu está mais perto de
nós do que antes, e é importante que vigiemos e
nos apeguemos às verdades que temos ouvido e
lido, de maneira que jamais nos desviemos delas e tenhamos completa recompensa na glória.
125
João 18
A Prisão de Jesus
“1 Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus
discípulos para além do ribeiro de Cedrom,
onde havia um horto, no qual ele entrou e seus
discípulos.
2 E Judas, que o traía, também conhecia aquele
lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.
3 Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para
ali com lanternas, e archotes e armas.
4 Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre
ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A
quem buscais?
5 Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-
lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava
com eles.
6 Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e
caíram por terra.
7 Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.
8 Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes;
9 Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.
10 Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo
sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o
nome do servo era Malco.
126
11 Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na
bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me
deu?
12 Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.”
(João 18.1-12)
Nós vimos que João registrou as palavras e atos
de Jesus durante sua última ceia de Páscoa, que
havia celebrado com seus discípulos, nos
capítulos 13 a 17 do seu evangelho.
João relatou os eventos relativos à prisão,
sofrimentos e morte de Jesus, nos capítulos 18 e 19; e os relativos à sua ressurreição nos capítulos
20 e 21.
Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12)
são descritas as circunstâncias da prisão de
Jesus no jardim do Getsêmani.
Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar
voluntariamente como oferta de sacrifício
cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Ele poderia ter procurado as autoridades de
Israel e se entregado a eles, porque, afinal,
estavam procurando prendê-lo pela falsa
acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em
dia de sábado.
No entanto, importava, segundo as Escrituras
que lhes fosse entregue por um ato de traição, e
127
que o prendessem por uma ação insidiosa e
injusta, de maneira que ficasse configurada a
corrupção deles.
Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das
autoridades religiosas de Israel, e passadas para
aqueles que têm fé em Cristo, e também pela
instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual
aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.
O ato de entrega das chaves do reino dos céus
por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.
Elas haviam sido tiradas das mãos dos
sacerdotes, escribas e fariseus, e foram
entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele
gesto de Jesus.
Os principais sacerdotes e fariseus haviam
ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo a eles na parábola dos lavradores na
vinha:
“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino
de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).
Eles não deixavam as pessoas entrarem no
reino, assim como eles não entravam, com as
suas práticas corrompidas e legalistas.
Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se
retirado há muito tempo do culto corrompido
que Lhe prestavam.
128
Para demonstrar que estava realmente se
entregando voluntariamente, Jesus fez com que
os soldados que vieram prendê-lo recuassem e
caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.
Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o
desejasse, mas importava que fosse preso, para
que fosse conduzido à morte de cruz.
Aquela demonstração de poder sobrenatural
tinha também por alvo gerar temor nos
soldados de maneira que atendessem ao pedido
de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se
encontravam com Ele.
Até o seu momento final o Senhor demonstrou
o seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.
Pedro tentou ainda reagir para impedir que
Jesus fosse preso tendo arremetido contra o
servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
João não registra o fato, mas sim os evangelhos
sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que
havia sido cortada.
O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou
que Pedro embainhasse a sua espada.
Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo
poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver
completamente para vencer a morte, o pecado e
o diabo, quando morresse por nós na cruz.
129
A Negação de Pedro - João 18
“13 E conduziram-no primeiramente a Anás, por
ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote
daquele ano.
14 Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos
judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.
15 E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a
Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo
sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote.
16 E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu
então o outro discípulo que era conhecido do
sumo sacerdote, e falou à porteira, levando
Pedro para dentro.
17 Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele:
Não sou.
18 Ora, estavam ali os servos e os servidores, que
tinham feito brasas, e se aquentavam, porque
fazia frio; e com eles estava Pedro, aquentando-se também.
19 E o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca
dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao
mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no
templo, onde os judeus sempre se ajuntam, e nada disse em oculto.
21 Para que me perguntas a mim? Pergunta aos
que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que
eles sabem o que eu lhes tenho dito.
130
22 E, tendo dito isto, um dos servidores que ali
estavam, deu uma bofetada em Jesus, dizendo:
Assim respondes ao sumo sacerdote?
23 Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá
testemunho do mal; e, se bem, por que me
feres?
24 E Anás mandou-o, maniatado, ao sumo
sacerdote Caifás.
25 E Simão Pedro estava ali, e aquentava-se.
Disseram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
26 E um dos servos do sumo sacerdote, parente
daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no horto com ele?
27 E Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.” (João 18.13-27)
Jesus foi preso como se fosse um malfeitor,
porque teve suas mãos amarradas.
Ele que não havia oferecido qualquer
resistência ao ser preso, e que não havia feito
nenhum mal a qualquer pessoa, e muito menos qualquer ato de violência, estava sofrendo agora
violência por parte daqueles que deviam
debelar a violência e promover a justiça.
Eles queriam passar uma impressão de uma
suposta periculosidade de Jesus ao terem-no
tratado daquela maneira, ao mesmo tempo em que procurariam agradar às autoridades que
lhes haviam enviado, porque bem conheciam o
ódio que elas sentiam por Jesus.
131
Eles exibiram Jesus como um troféu do triunfo
deles, levando-o à residência de Anás, porque
era sogro de Caifás, o sumo sacerdote indicado
para aquele ano.
Eles estavam em conselho há muito tempo para
verem como prenderiam Jesus e agora estavam
se deleitando com o triunfo deles.
No entanto, quando injustiças devem ocorrer, a providência divina se encarregará de conduzir
ao poder homens maus como Anás, Caifás e
Pilatos, para a própria ruína deles, de maneira
que nenhum justo tenha que deliberar contra a justiça.
Importava que Jesus fosse injustiçado, mas Deus
providenciou que isto fosse feito pelas mãos de
injustos, previamente preparados para aquela hora.
O triunfo daqueles homens foi a pior das ruínas
que poderia ocorrer a qualquer mortal, a saber,
a de condenarem o próprio Filho de Deus como um malfeitor digno de morte, por motivo de
inveja e ódio, e se baseando em acusações falsas
e injustas.
O sumo sacerdote era conhecido por um discípulo de Jesus, do qual João não citou o
nome, e nem com isto ele se desviou da maldade
que praticaria contra o Senhor.
Nós vemos nisto que Jesus terá discípulos até
mesmo na casa dos seus piores inimigos.
Ele sempre terá testemunhas em todas as partes
para que todos os que Lhe resistem sejam
indesculpáveis perante Ele no dia do juízo
132
quanto à sua incredulidade e maldade; assim
como lhes dá também a oportunidade de se
arrependerem pelo que virem no bom
testemunho dos seus servos.
Este discípulo de Jesus que era conhecido do
sumo sacerdote acompanhou o Senhor até a sua
sala, e sabendo que Pedro estava junto à porta,
do lado de fora, levou Pedro para dentro.
Jesus havia dito a Pedro que o galo não cantaria
naquela noite até que ele Lhe tivesse negado por
três vezes.
Pedro estava seguindo o Senhor porque disse que não o abandonaria de maneira nenhuma.
Nós temos nesta passagem a oportunidade de
ver que para o serviço de Deus, e para os laços de
comunhão eterna que devem existir entre os cristãos, o afeto natural é de pouco ou nenhum
proveito, porque não persistirá e não resistirá às
provas a que for submetido, assim como
ocorreu com Pedro, que negou veementemente que conhecia a Jesus, quando foi confrontado na
casa do sumo sacerdote.
Ele começou negando que conhecia Jesus logo à
entrada quando a porteira lhe perguntou se não era um dos seus discípulos (v. 17).
Quando o sumo sacerdote perguntou ao Senhor
acerca dos seus discípulos e da sua doutrina,
Jesus lhe respondeu que aqueles aos quais havia
ensinado poderiam responder por Ele.
Pedro certamente seria um destes, mas ele
estava atemorizado demais para fazê-lo, e
preferiu ficar se aquentando juntamente com os
133
servidores que haviam acendido um braseiro,
porque fazia muito frio naquela noite.
Jesus foi esbofeteado por um dos servidores por
ter respondido ao sumo sacerdote daquela maneira.
Mas o Senhor lhe perguntou por que lhe havia
esbofeteado uma vez que se tivesse falado mal, o
servidor deveria dar testemunho do mal que ele havia falado.
Na verdade Jesus não estava na obrigação de dar
qualquer resposta a Anás, porque ele não era o
sumo sacerdote principal naquele ano, mas Caifás seu genro, assim ele estava abusando de
sua autoridade ao interrogar Jesus, porque
deveria fazê-lo com um tribunal regularmente
instituído para tal, e ao ver que não conseguiu obter nenhuma informação privilegiada da
parte do Senhor, ele o enviou a Caifás, ainda
manietado, para demonstrar que Jesus não
havia obtido nenhum ato de misericórdia da sua parte.
Enquanto isto Pedro negaria ao Senhor mais
uma vez quando aqueles com os quais se
aquentava lhe perguntaram se ele não era um dos discípulos de Jesus (v. 25).
E, logo o negaria pela terceira vez quando foi
indagado por um dos parentes de Malco,
também servo do sumo sacerdote, se não o tinha
visto no jardim do Getsêmani juntamente com Jesus.
Assim que Pedro negou o Senhor pela terceira
vez, o galo cantou.
134
Jesus Entregue a Pilatos - João 18
“28 Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não
entraram na audiência, para não se
contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
29 Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que
acusação trazeis contra este homem?
30 Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o
segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os
judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.
32 (Para que se cumprisse a palavra que Jesus
tinha dito, significando de que morte havia de morrer).
33 Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e
chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus?
34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti
mesmo, ou outros te disseram isto de mim?
35 Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu?
A tua nação e os principais dos sacerdotes
entregaram-te a mim. Que fizeste?
36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo,
pelejariam os meus servos, para que eu não
fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.
37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus
respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso
135
nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar
testemunho da verdade. Todo aquele que é da
verdade ouve a minha voz.
38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo
isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
39 Mas vós tendes por costume que eu vos solte
alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte
o Rei dos Judeus?
40 Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este
não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.” (João 18.28-40)
Aqueles líderes hipócritas de Israel não matariam Jesus por apedrejamento tal como
fariam depois com Estevão, e com muitos outros
cristãos, porque no caso de Jesus eles queriam dar uma satisfação aos romanos e lhes
agradarem pelo temor de serem acusados de
estarem tolerando insurreições em seu
território.
Nós lembramos que Caifás havia dado a “grande
ideia” de que importava que alguém morresse por toda a nação, em vez da nação ser destruída
por causa de uma só pessoa.
Eles conduziriam Jesus aos romanos, ao
representante deles (procônsul), responsável
pela região da Judeia, que naquela ocasião era Pôncio Pilatos.
Como era dia da Páscoa, os judeus não queriam
se contaminar entrando na casa de gentios,
ainda que fosse o pretório deles (audiência), de
136
maneira que não poderiam participar da ceia
pascal.
Eles tinham escrúpulos religiosos suficientes
para não se contaminarem cerimonialmente,
mas não o suficiente para não se contaminarem
com injustiças e assassinatos, agravado pelo fato de estarem conduzindo a uma sentença de
morte Alguém que sequer tinha qualquer
pecado. Eles sentenciariam à morte o próprio Deus.
Mas importava que tudo aquilo ocorresse, porque Jesus teria que morrer ao modo da
condenação dos romanos, que era naquele
tempo por crucificação.
A morte de cruz era o tipo de morte mais infame,
e assim os judeus desejavam marcar o Senhor
com a morte mais infame possível, para dissuadir pela intimidação a todos que
tentassem segui-lo, confessando-o como
Messias.
Eles não somente excluiriam tais pessoas das
sinagogas como também poderiam recorrer aos
romanos para que fossem crucificados debaixo da falsa acusação de que estavam se insurgindo
contra o imperador romano, afirmando que
serviam somente a outro rei chamado Cristo.
Jesus havia ensinado o respeito e submissão às
autoridades constituídas, e que se deveria dar a
César o que é de César, mas também a Deus o que é de Deus; de maneira que o culto de
verdadeira adoração a Deus não pode ser
impedido por César, porque isto não está na
137
esfera de deliberação de nenhum poder
constituído terreno, porque, na verdade
deveriam promover e defender a verdadeira
devoção ao Senhor, porque afinal as autoridades foram instituídas por Ele para garantir a ordem
civil.
Jesus nunca foi amaldiçoado pelo Pai, mas todos
os demais homens estão debaixo de maldição por causa do pecado original.
Ao ser elevado no madeiro Jesus seria feito
maldição de Deus, conforme está escrito na Lei.
Ele não tinha pecado, e assim a maldição que foi colocada sobre Ele foi a nossa própria maldição,
para que fosse removida na sua morte, de
maneira que estando identificados na sua
morte, morremos para a maldição que foi proferida sobre nós desde o Éden.
Pilatos interrogou Jesus lhe perguntando se Ele
era o Rei dos judeus.
E nosso Senhor deu a Pilatos a oportunidade de
ponderar a procedência daquela pergunta que lhe fizera quanto à legalidade de estar sendo
julgado por ele, porque os romanos não se
intrometiam nas questões religiosas das nações
dominadas por eles, desde que estas religiões fossem consideradas lícitas, como era o caso do
judaísmo, baseado na Lei de Moisés, Lei esta da
qual Jesus era o autor e a qual cumpriu
integralmente, e sobre a qual afirmou que não veio revogá-la.
Então, não seria da esfera da competência de
Pilatos julgar um caso religioso, porque o
138
Sinédrio tinha autoridade inclusive para
prender e matar judeus que agissem contra a
religião de Israel, conforme prescrito na Lei de
Moisés, até mesmo fora dos termos da nação deles, o que se comprova pelo fato de Paulo ter
saído em perseguição aos cristãos fora dos
termos de Israel, antes da sua conversão, com autorização do Sinédrio.
Jesus lhe perguntou se afirmara que Ele era o
Rei dos judeus, de si mesmo ou por ter sido
insuflado por outros.
Ele sabia que Pilatos afirmaria que não era judeu e que não foram os soldados romanos que lhe
haviam prendido.
Então ele estava respondendo indiretamente
que não lhe cabia de fato julgar um assunto de interesse exclusivo dos judeus, conforme ele
próprio havia afirmado em princípio, quando o
trouxeram à sua presença (v. 31).
A culpa de Pilatos foi mais agravada ainda, quando Jesus lhe disse que era de fato rei, e que
para estabelecer o seu reinado havia vindo a
este mundo.
No entanto, o seu reino não era deste mundo, o que se comprovava porque nenhum dos seus
seguidores estava lutando naquela hora para
fazer valer o seu direito de reinar.
Ele era rei de um reino espiritual nos corações,
e não terreno, e que não tinha qualquer influência nos interesses do Império Romano.
Jesus havia dito também a Pilatos que os súditos
do seu reino são aqueles que são da verdade, os
139
quais ouvem a sua voz, porque Ele veio a este
mundo para dar testemunho da verdade. Deste
modo, nem Ele, nem os seus súditos são
empecilho para qualquer governo deste mundo, senão bênção.
Pilatos perguntou ao Senhor ironicamente o
que era a verdade, mas Jesus nada lhe
respondeu, porque lhe havia dito que somente
os que são da verdade ouvem a sua voz, o que certamente não era o caso de Pilatos.
Assim o veredito de Pilatos não poderia ser
outro senão reconhecer que não havia
nenhuma culpa em Jesus que o tornasse digno
de morte.
Mas ele não queria contrariar as autoridades
judaicas, porque é comum que autoridades injustas troquem favores mutuamente ainda
que à custa da vida de inocentes.
Ele também temia que os judeus lhe acusassem
diante de César de que não estava sendo zeloso
dos interesses do Império, por tolerar que alguém afirmasse ser rei em competição com o
imperador romano.
Quando se tenta ajustar interesse político
incorreto com a verdade, dificilmente será
possível conciliar a ambos, e geralmente, a verdade padecerá, conforme ocorreria com
Jesus.
Tudo o que se relacionasse à sua morte seguiria
a trilha da injustiça para que Ele pudesse ser
feito justiça por nós.
140
Sendo inocente seria condenado injustamente,
de maneira que pudesse remover a culpa
daqueles que deveriam ser condenados
justamente por Deus.
Assim a substituição foi feita deste modo: Ele
era justo e foi condenado injustamente.
Nós éramos injustos e fomos livrados da
condenação justamente.
De maneira que a condenação que estava
reservada para nós foi colocada sobre Ele para que houvesse um motivo justo para a sua
condenação, uma vez que Ele não tinha
qualquer pecado.
A prova desta troca foi declarada de maneira
inequívoca na troca também injusta que os
judeus também fizeram optando por Barrabás, que era salteador, em vez do Senhor, que é
perfeitamente santo e justo.
Ele tomou o lugar que seria justo ser ocupado
por Barrabás e não por Ele.
Assim, é deste modo que todos os pecadores são
salvos, a saber, tomando Jesus o lugar deles,
para que eles possam estar no lugar de Cristo.
Se eles eram culpados, então Cristo se fez
culpado no lugar deles.
Se Cristo está em glória diante de Deus, então
eles também estarão em glória diante de
Deus.
141
João 19
Jesus Condenado por Pilatos
“1 Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.
2 E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos,
lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram
roupa de púrpura.
3 E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe
bofetadas.
4 Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que
não acho nele crime algum.
5 Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de
espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes
Pilatos: Eis aqui o homem.
6 Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o,
crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e
crucificai-o; porque eu nenhum crime acho
nele.
7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma
lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque
se fez Filho de Deus.
8 E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais
atemorizado ficou.
9 E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim?
Não sabes tu que tenho poder para te crucificar
e tenho poder para te soltar?
142
11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias sobre
mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele
que me entregou a ti maior pecado tem.
12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os
judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és
amigo de César; qualquer que se faz rei é contra
César.
13 Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus
para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar
chamado Pavimento, e em hebraico Gábata.
14 E era a preparação da páscoa, e quase à hora
sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei.
15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o.
Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei?
Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.”. (João 19.1-15)
Que tipo de juiz é aquele que manda açoitar
alguém de quem disse repetidas vezes que não
achou nenhum crime nele?
Pilatos era desta classe de juiz, quando
abusando da sua autoridade mandou que
açoitassem Jesus, e permitiu ainda que os seus soldados o ridicularizassem colocando sobre a
sua cabeça uma coroa de espinhos, e que o
vestissem com um manto de púrpura para que
fosse exposto à ignomínia pública por ter se declarado rei, e davam-lhe bofetadas enquanto
diziam debochadamente: “Salve, Rei dos
Judeus”.
143
Importava que Jesus fosse morto tanto pelas
mãos dos judeus, quanto dos gentios,
representados nos romanos, porque na verdade
ambos os povos foram culpados da sua morte.
Foi por causa da culpa do pecado de todos os
homens, tanto judeus, quanto gentios, que Jesus
teve que morrer na cruz.
Cada um de nós teve culpa pela sua morte, em razão de todos sermos pecadores.
Se não houvesse pecado no mundo, se todos os
homens fossem santos, justos e perfeitos, Jesus
não necessitaria ser elevado na cruz para pagar o preço da redenção dos nossos pecados.
Entretanto, a cruz sempre esteve no coração de
Deus, porque não é apenas o instrumento de
resgate de todos os seus filhos, que se
encontravam debaixo do pecado, mas também o instrumento de crucificação de todos os egos
daqueles que hão de ser achados no céu.
É somente pela mortificação do pecado pela
nossa cruz que podemos renunciar à nossa própria vontade, para escolhermos sempre a
vontade de Deus.
Assim, até mesmo o próprio Jesus sempre
carregou a sua cruz, antes mesmo de morrer numa cruz de madeira no Calvário, porque por
esta cruz Ele sempre se submeteu
voluntariamente à vontade do Pai, e nos
convida, a cada um de nós, a seguirmos o seu exemplo, tomando também a nossa própria
cruz, para que sejamos sempre achados fazendo
não a nossa vontade, mas a vontade de Deus.
144
O Calvário, além de ser um lugar de redenção, é
um lugar de instrução quanto ao modo que se
deve viver para Deus; porque é sempre pelo
princípio morte/vida que se encontra a verdadeira vida, que é a vida ressurreta que se
acha do outro lado da morte do nosso ego na
cruz.
Jesus suportou todas aquelas injustiças porque
importava passar por tudo aquilo, conforme era da vontade do Pai, para que pudéssemos ser
livrados do pecado e da morte.
Ele deu o exemplo supremo até que ponto
devemos estar prontos para fazer a vontade de
Deus, isto é, até à renúncia da nossa própria honra e vida.
Quando morremos para nós mesmos, para os nossos direitos, para que possamos fazer a
vontade de Deus, então podemos contar que
teremos o seu governo real sobre os nossos
espíritos, e é nisto que consiste a verdadeira vida, porque fomos criados para ter tal governo
do Senhor no nosso coração.
Era por causa desta obediência e submissão
perfeitas de Jesus à vontade do Pai que este
declarou que Ele era o seu Filho amado que Lhe dá muita alegria.
De igual modo Deus testificará a nosso respeito
quando andarmos no mesmo exemplo de
obediência e submissão à sua vontade.
Os líderes da religião de Israel, que deveriam
dar o exemplo de obediência e submissão a
145
Cristo, em vez disso clamaram juntamente com
os seus servos: “crucifica-o, crucifica-o”.
Em vez de tomarem as suas próprias cruzes, eles
mandaram Jesus para a cruz.
Toda vez que alguém se recusa a se arrepender
dos seus pecados e entregar-se a Cristo para
receber os benefícios da sua morte, esta pessoa está de novo clamando como aqueles judeus
que Ele deve voltar para a cruz, porque o desejo
deles é que Deus morresse para sempre, para que jamais tivessem que Lhe prestar contas dos
seus pecados.
Mas tendo Jesus morrido uma vez, já não morre
mais, e se encontra à direita do Pai, em glória, no
céu, de onde voltará para julgar a cada um dos
homens segundo as suas próprias obras.
A autoridade civil é ministro de Deus e por isso traz a espada para fazer a justiça, para castigo
dos malfeitores.
Entretanto, Pilatos excedeu-se na autoridade
que é conferida por Deus aos magistrados
quando disse a Jesus que tinha poder para livrar
da morte a quem quisesse, assim como para crucificar a quem ele também desejasse que
morresse. Ora, de quem ele havia recebido
poder para crucificar inocentes?
O poder que lhe foi dado por Deus certamente
não lhe foi conferido para este propósito, e assim teria que dar contas a Ele no dia do Juízo,
do mau uso que fizera do poder que havia
recebido.
146
Mas, a gravidade do pecado de Pilatos era menor
do que a dos principais sacerdotes de Israel que
haviam conduzido Jesus à sua presença lhe
pedindo que fosse crucificado, porque estes estavam fazendo isto em nome de Deus, e
violando as suas leis para fazê-lo.
Pilatos estava abusando da sua autoridade, e
eles estavam deturpando a autoridade do próprio Deus, distorcendo e deturpando a sua
Palavra para praticarem um crime horrível
contra a Pessoa do próprio Filho de Deus que
havia sido enviado a eles para que tivessem o privilégio de pregarem o evangelho em todo o
mundo, privilégio este que eles haviam
desprezado e rejeitado, de maneira que seria
dado aos gentios.
O esforço de Pilatos para tentar livrar Jesus da
morte não passou de uma encenação para que
não fosse constrangido junto ao Imperador para
responder pela morte de um inocente.
Ele estava agindo para estar em posição
confortável tanto junto ao Imperador romano,
quanto junto das autoridades judaicas.
Os judeus estavam dizendo que ele não seria amigo de César caso libertasse Jesus, porque
este afirmava ser também rei.
Ele não se exporia a ter que responder perante
César que havia libertado alguém que poderia se
tornar perigoso para Roma realizando um levante com seus seguidores.
Assim, ele entregou Jesus para que fosse
crucificado, ainda na parte da manhã daquela
147
sexta-feira, quando o sol havia se levantado
(hora sexta).
A Crucificação de Jesus - João 19
“16 Então, consequentemente entregou-lho,
para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e
o levaram.
17 E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o
lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
18 Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
19 E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS
NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
20 E muitos dos judeus leram este título; porque o lugar onde Jesus estava crucificado era
próximo da cidade; e estava escrito em hebraico,
grego e latim.
21 Diziam, pois, os principais sacerdotes dos
judeus a Pilatos: Não escrevas, O Rei dos Judeus,
mas que ele disse: Sou o Rei dos Judeus.
22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.
23 Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus,
tomaram as suas vestes, e fizeram quatro partes,
para cada soldado uma parte; e também a túnica. A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não
tinha costura.
24 Disseram, pois, uns aos outros: Não a
rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para
ver de quem será. Para que se cumprisse a
148
Escritura que diz: Repartiram entre si as minhas
vestes, E sobre a minha vestidura lançaram
sortes. Os soldados, pois, fizeram estas coisas.
25 E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a
irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e
Maria Madalena.
26 Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo
a quem ele amava estava presente, disse a sua
mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
27 Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E
desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua
casa.
28 Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas
estavam terminadas, para que a Escritura se
cumprisse, disse: Tenho sede.
29 Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E
encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a
num hissope, lha chegaram à boca.
30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está
consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o
espírito.”
A inscrição que Pilatos colocou sobre a cruz de Jesus: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS,
era correta, apesar de ter mandado escrever
aquelas palavras com ironia, e também como
uma forma de lavar suas mãos por uma segunda vez, para tentar acalmar a sua consciência
culpada, porque teria sido aquele o motivo
suposto de ter condenado Jesus à morte de cruz.
149
Para mostrar para César que estava sendo zeloso
em preservar a sua coroa, livrando-o de
possíveis competidores.
Ele procurou diminuir a extensão do reinado de Jesus, limitando-o somente aos judeus,
conforme a inscrição que mandou fixar na cruz.
Só que ele não sabia que Jesus é efetivamente rei
somente sobre os que são verdadeiramente judeus, que não são necessariamente aqueles
que eram nascidos por condição natural da
descendência de Judá, um dos filhos de Jacó,
porque, por exemplo, os principais sacerdotes que haviam protestado contra aquele título que
havia sido colocado por Pilatos, não eram de fato
súditos do reino de Jesus, que será somente com
aqueles que são circuncisos de coração, e que compõem o verdadeiro Israel de Deus.
Jesus era da tribo de Judá, portanto também
judeu.
Assim, todos os que estão unidos à sua vida pela fé, são também judeus, porque a Cabeça deles, o
Rei deles, é judeu, e desde o Antigo Testamento
Deus havia prometido a Judá, através da bênção
profética que lhe foi dada por seu pai Jacó, que o cetro do reinado jamais se afastaria de Judá.
Então são estes judeus espirituais, que são
nascidos do Espírito, e não propriamente da
carne, que haverão de reinar para sempre com Cristo.
Assim, Ele é de fato o Rei dos judeus.
Os súditos deste reino não são admitidos por
condição de nobreza ou de qualquer
150
qualificação que tenham neste mundo, porque
apesar de João ter omitido este fato, houve a
conversão de um dos ladrões que foram
crucificados com Jesus, conforme vemos nos evangelhos sinópticos.
Ele havia libertado em seu ministério terreno, endemoninhados que haviam se convertido;
havia salvo uma prostituta na casa de um
fariseu, e continuaria admitindo através do ministério da Igreja outros súditos que são
considerados indignos pelo mundo, mas aos
quais Ele transformou em pessoas dignas pela
mudança operada em suas mentes e corações, pelo trabalho de regeneração do Espírito.
Bendito e maravilhoso Rei dos judeus que conquistou um reino para Si ao morrer naquela
rude cruz.
Um reino que Ele não conquistou pela força da
espada, mas pela força do seu grande amor e
misericórdia, que manifestou por nós, pobres
pecadores.
Digno de honra e de glória para todo o sempre é
Aquele que foi desonrado e escarnecido pelos homens e que suportou tamanha afronta para
poder reconciliar consigo mesmo aqueles que
eram seus inimigos, ao abrir os seus braços na
cruz, num convite a que se identifiquem com Ele na sua morte, para que possam ter vida, e vida
em abundância.
Para que se desse cumprimento às Escrituras, os
soldados romanos fizeram exatamente, ainda
que não o soubessem, o que está escrito no
151
Salmo 22.18: “Repartem entre si as minhas
vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes.”
João viu o que eles haviam feito com as vestes e
a túnica de Jesus e viu ali bem diante dos seus
olhos mais uma evidência de que Ele era de fato o Messias.
João foi testemunha ocular da crucificação
juntamente com Maria, mãe de Jesus, e da irmã
dela que também se chamava Maria; e de Maria
Madalena.
Ao contemplá-los juntos compartilhando do seu sofrimento na cruz, Jesus consolou Maria lhe
dizendo que João era seu filho, e a João, que
Maria era sua mãe, e desde então João passou a
cuidar dela em sua casa.
Para que se cumprisse a Escritura Jesus disse que tinha sede, e por bebida, lhe deram vinagre
em vez de água, para que ficasse demonstrada a
crueldade com que havia sido tratado, porque
até mesmo no momento final de sua vida os seus algozes não lhe mostraram a mínima
compaixão.
“Deram-me fel por mantimento, e na minha
sede me deram a beber vinagre.” (Sl 69.21).
O autor da vida e de toda a verdadeira alegria
teve que beber o intragável vinagre para que pudéssemos beber do vinho da sua alegria.
Aquele vinagre representava todo o cálice amargo de sofrimentos que Ele teve que
suportar por causa dos nossos pecados.
Ele não se negou nem por um só momento, em
beber uma só gota de todo aquele amargor que
152
lhe deram para beber, apesar de não ser digno
de nada daquilo que Lhe fizeram.
Tal ódio que havia sido despejado sobre o santo,
imaculado e maravilhoso Cordeiro de Deus, só poderia ser compensado por um grande ato de
misericórdia, no sentido inverso, que seria
demonstrado por Ele aos pecadores.
Deus não se vingaria deles pelo que fizeram ao seu Filho, sujeitando a todos eles a uma terrível
destruição, mas, ao contrário, faria com eles
exatamente o contrário de tudo aquilo que
fizeram injustamente com o seu Filho.
O consolo de Deus seria ver aquela morte
terrível sendo compensada pelos frutos de
justiça que seriam gerados por ela.
Deus faria que aquela morte produzisse vida.
A fúria dos inimigos impenitentes de Jesus seria vingada com o fato de terem que suportar por
toda a eternidade, que a grande maldade deles
foi transformada em belos frutos de justiça
gerados por Deus nas vidas que Ele perdoaria por causa daquela morte.
Caifás, Anás e todos os seus seguidores que não
se converteram terão que suportar por toda a
eternidade em suas aflições no inferno, a grande aflição de saberem que graças aos atos
de maldade deles muitos alcançaram o perdão
eterno dos seus pecados, coisa da qual eles
próprios se excluíram por causa da dureza dos seus corações impenitentes.
Que grande Deus, maravilhoso e sábio nós
temos.
153
Não podemos entender os seus planos e
pensamentos elevados demais para a nossa
compreensão finita, e que somente podemos
conhecer se Ele no-los revelar pelo Espírito.
Exaltado seja para sempre, por manter em
mistério coisas tão grandiosas e revelá-las
apenas aos pequeninos, que são contritos e humildes de coração.
Sábios e entendidos segundo o mundo nunca
compreenderão tais coisas, como não as
compreenderam os grandes de Israel, aos quais Deus tornou muitos pequenos sujeitando-os ao
castigo eterno do fogo do inferno.
Bem aventurado é todo aquele que pode entender o significado da palavra “está
consumado”, isto é, realizado, completado,
quando Jesus entregou o espírito ao Pai e
morreu na cruz.
Aquele consumado, não apenas se referiu ao
último sofrimento que teve que experimentar
para cumprir as Escrituras, quando lhe deram vinagre para beber.
Ainda perfurariam o seu lado com uma lança,
mas Ele já estava morto quando o soldado lhe
traspassou.
Tudo o que está registrado nas Escrituras em
relação ao Messias se cumpriu completamente
nele.
Ninguém mais neste mundo poderia atender ao
cumprimento de todas aquelas profecias que
foram dadas para atestar que Jesus é o Messias,
154
o Filho de Deus que deveria vir ao mundo para
nos libertar da morte e dos nossos pecados.
A obra que o Pai lhe dera para fazer estava perfeitamente consumada, sem necessidade de
que lhe fosse acrescentada qualquer coisa.
Tudo o que é necessário para libertar alguém
das trevas, do diabo, do pecado, da morte e para dar-lhe vida eterna, reconciliação e paz com
Deus, aceitação e filiação a Ele, e uma herança
eterna no céu foi feita somente por Cristo em
tudo o que suportou, até sua morte na cruz.
De maneira que todo aquele que se ligar a Ele
achará toda a provisão necessária para a
salvação da sua alma, sem que necessite acrescentar algo ao trabalho que Ele realizou,
pelo qual nos tem concedido a sua graça, pela
qual somos regenerados e santificados.
A Lei cerimonial e civil do Velho Testamento foi abolida naquele “está consumado”.
Todas as sombras e figuras do Velho
Testamento foram fechadas porque haviam sido cumpridas literalmente em Cristo.
O véu do templo foi rasgado porque a obra de
Jesus havia sido consumada no momento em que Ele morreu na cruz.
A Velha Aliança foi revogada e passou a vigorar
uma Nova Aliança, conforme havia sido
prometida por Deus a Abraão, e que havia sido planejada por Ele desde antes da fundação do
mundo, para que por meio dela se provesse de
filhos em todas as nações.
155
Assim como Cristo pôde dizer está consumado
em relação aos seus sofrimentos; assim como a
tempestade havia terminado para Ele e o pior já
havia passado, por terem chegado ao fim todas as suas dores e agonias, de igual modo os que
são de Cristo poderão também dizer um dia que
está consumado, de maneira que deixarão seus sofrimentos neste mundo para trás, quando
forem admitidos para sempre na alegria
inefável do céu.
Estes sofrimentos que aqui passamos não são para sempre, e Deus porá um fim neles no dia
em que nos chamar para estar para sempre em
sua presença, e assim, em vez de nos
entristecer, a morte agora é para nós um conforto e consolo, como foi para Cristo.
Jesus o Cordeiro Pascal - João 19
“31 Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a
preparação (pois era grande o dia de sábado),
rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as
pernas, e fossem tirados.
32 Foram, pois, os soldados, e, na verdade,
quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro
que como ele foram crucificados;
33 Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas.
34 Contudo um dos soldados lhe furou o lado
com uma lança, e logo saiu sangue e água.
156
35 E aquele que o viu testificou, e o seu
testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade
o que diz, para que também vós o creiais.
36 Porque isto aconteceu para que se cumprisse
a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será
quebrado.
37 E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que
traspassaram.”. (João 19.31-37)
João se lembrou do Salmo 22.17 quando os ossos
de Jesus foram preservados sem serem quebrados pelos soldados, conforme fizeram
com os dois outros ladrões, porque Jesus havia
morrido antes deles, e os soldados usaram
aquele expediente para apressar a morte de ambos, porque era dia de Páscoa e eles teriam
que comer da ceia e não queriam fazê-lo com
corpos de judeus morrendo na cruz; porque
afinal a Páscoa celebrava a vida e não a morte, porque foi por causa daquela ceia no Egito, que
Deus havia livrado os primogênitos de Israel da
morte.
O verdadeiro Cordeiro pascal que nos livra da
morte estava bem ali diante deles, e eles,
contrariando as prescrições das Escrituras para o preparo do cordeiro da ceia, que não podia ter
nenhum dos seus ossos quebrado, para ser uma
figura do sacrifício de Jesus, pelo qual na
verdade os israelitas foram poupados, e não propriamente por causa do sangue de animais,
eles pediram aos soldados que quebrassem as
pernas tanto dos dois ladrões quanto de Jesus.
157
Eles tiveram misericórdia dos cordeiros que
eles sacrificaram para a ceia pascal não
quebrando os ossos de nenhum deles, mas não
tiveram misericórdia daqueles homens que estavam sofrendo na cruz, a pretexto de não se
contaminarem cerimonialmente.
Eles estavam como era sempre o costume deles,
coando um mosquito e engolindo um camelo.
A pretexto de cumprirem a Lei eles estavam agindo de maneira cruel com o seu próximo.
A reverência deles pelo sábado era maior do que
a compaixão pelo próximo.
Segundo eles era melhor quebrar pernas do que
ter malfeitores na cruz num dia de sábado.
Até que ponto pode chegar o endurecimento do
coração humano, e é até bem provável que
aqueles homens tenham se abençoado no seu
íntimo pensando estarem fazendo um grande favor para Deus.
Os ossos de Jesus não poderiam ser quebrados, mas como a justificação e redenção dos
pecadores são feitas com base no sangue que Ele
derramou na cruz, houve um maior
derramamento de sangue quando foi perfurado pela lança do soldado.
João viu sair água junto com o sangue.
A água que nos limpa dos nossos pecados estava
saindo do lado de Jesus.
Assim como o sangue é a base da nossa purificação, porque o sangue representa a vida,
e o preço que foi ajustado para a nossa redenção
foi a própria vida de Jesus, que foi oferecida de
158
maneira visível pelo derramar do seu precioso
sangue; tudo o que é concedido por Deus aos
pecadores, sempre é com base neste sangue que
foi derramado na cruz.
Ele pode estabelecer condições para as suas
bênçãos, como a nossa obediência e perdão dos nossos devedores, por exemplo, mas nada disto
teria eficácia se Jesus não tivesse derramado seu
sangue na cruz para que tivéssemos o direito de
sermos abençoados pelo Pai.
O Sepultamento de Jesus - João 19
“38 Depois disto, José de Arimateia (o que era discípulo de Jesus, mas secretamente, por medo
dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse
tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu.
Então foi e tirou o corpo de Jesus.
39 E foi também Nicodemos (aquele que
anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de
mirra e aloés.
40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias,
como os judeus costumam fazer, na preparação
para o sepulcro.
41 E havia um jardim naquele lugar onde fora
crucificado, e no jardim um sepulcro novo, em
que ainda ninguém havia sido posto.
42 Ali, pois (por causa da preparação dos judeus,
e por estar perto aquele sepulcro), puseram a
Jesus.” (João 19.38-42)
159
José de Arimateia era um discípulo de Jesus em
segredo, porque temia os judeus, o qual era,
segundo o registro em Lc 23.50,51, senador,
homem de bem e justo que não tinha consentido no conselho e nos atos das demais
autoridades.
Sendo de alta posição na sociedade judaica,
pediu pessoalmente a Pilatos que lhe desse autorização para sepultar o corpo de Jesus, o que
lhe foi concedido sem resistências.
José de Arimateia foi preparado por Deus para
aquele momento, porque apesar de ter crido em Jesus e ter mantido isto em segredo, nós o
vemos tomando a atitude corajosa de
providenciar o sepultamento do Senhor, e fez
isto, conforme registram os evangelho sinópticos usando a sepultura que ele havia
reservado para si mesmo, para o dia da sua
morte (Mt 27.60).
O texto de Mateus 27.57 cita que José de Arimateia era um homem rico.
Então, se cumpriu com isto a profecia de Isaías
53.9 que diz que Ele estaria com os ímpios na sua
morte (os dois ladrões na cruz) e com o rico (José de Arimateia).
Assim, apesar de ser morto como um malfeitor,
Deus prepararia um rico para se encarregar do
sepultamento de Jesus.
Tal como José de Arimateia, Nicodemos que também era um amigo secreto de Jesus, teve a
coragem de dar um testemunho público do seu
amor pelo Senhor, preparando o seu corpo com
160
mirra e aloés e envolvendo-o em lençóis para o
sepultamento.
O sepulcro de José de Arimateia ficava num
jardim próximo do lugar onde Jesus foi crucificado.
Assim, Ele não foi sepultado na cidade, mas num
jardim perto do monte Calvário.
Foi sem pompa ou solenidade que o corpo de
Jesus desceu à sepultura fria e silenciosa.
Era um sepulcro novo onde nenhum outro
morto havia sido colocado, porque Aquele que
vive para sempre não teria o seu corpo contado
entre os mortos, pois não poderia ser retido pela morte por muito tempo, porque em três dias Ele
ressuscitaria, conforme veremos nos capítulos
seguintes.
161
João 20
A Ressurreição de Jesus
“1 E no primeiro dia da semana, Maria Madalena
foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda
escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.
2 Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro
discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes:
Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos
onde o puseram.
3 Então Pedro saiu com o outro discípulo, e
foram ao sepulcro.
4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo
correu mais apressadamente do que Pedro, e
chegou primeiro ao sepulcro.
5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia
não entrou.
6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e
entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis,
7 E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado
num lugar à parte.
8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.
9 Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos.
10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.
11 E Maria estava chorando fora, junto ao
sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-
se para o sepulcro.
162
12 E viu dois anjos vestidos de branco,
assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à
cabeceira e outro aos pés.
13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras?
Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14 E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.
15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o
jardineiro, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste,
dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se,
disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).
17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque
ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus
irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.”
(João 20.1-18)
Muitas coisas ocorreram naquele domingo
em que Jesus ressuscitou, tanto na terra quanto
nos céus.
Primeiro de tudo, houve a ida de Maria
Madalena ao sepulcro de Jesus, ainda de madrugada naquele primeiro dia da semana
(domingo), imediato à sexta-feira em que Jesus
foi crucificado.
163
Ela foi a primeira a perceber que a pedra que
fechava a entrada do sepulcro havia sido
retirada, e foi correndo contar o fato a Pedro e a
João, e disse-lhes que haviam roubado o corpo do Senhor.
Pedro e João correram em direção ao sepulcro,
sendo que João foi o primeiro a chegar e viu que
os lençóis que envolviam o corpo de Jesus estavam no chão, mas não entrou no sepulcro.
Pedro que chegou depois dele deparou com a
mesma cena, e também que o lenço que estava
sobre a cabeça de Jesus não estava junto aos lençóis, mas enrolado num lugar à parte.
Depois disto, João entrou no sepulcro e viu e
creu naquela hora que Ele havia de fato
ressuscitado porque não conheciam a Escritura que fala sobre a ressurreição do Messias (Sl
16.10).
“Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem
permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Sl 16.10).
O corpo de Jesus não conheceu a corrupção da
morte porque segundo as Escrituras não seria
deteriorado, não somente porque foi muito
pequeno o espaço entre a sua morte numa noite de sexta-feira, e a ressurreição na madrugada de
domingo, quando ainda estava escuro.
Independentemente disto, o Pai não permitiria
que o corpo do Filho visse corrupção pela ação do seu poder sobrenatural porque segundo as
Escrituras o corpo de Jesus seria mantido
intacto durante o sono da morte.
164
Ele não tinha nenhuma corrupção e não
experimentaria qualquer corrupção, ainda que
fosse no seu corpo que foi moído na cruz não por
causa de algum pecado que Ele tivesse, mas por causa dos nossos próprios pecados.
Por isso a morte de Jesus foi pública para que
todos vissem a vergonha e infâmia a que Ele foi
exposto por causa de todos os pecadores.
Mas a sua ressurreição foi em privado, sendo
testemunhada apenas pelos seus amigos,
porque não fomos nós que demos ocasião
àquela ressurreição, porque a morte não poderia jamais deter Aquele que é a fonte e o
autor da própria vida.
Ainda hoje o poder maravilhoso da vida
ressurreta de Jesus é manifestado somente àqueles que têm intimidade com Ele.
Não é possível participar da plenitude da sua
ressurreição sem que sejamos
verdadeiramente seus amigos, pela consagração de nossas vidas a Ele, em
obediência aos seus mandamentos e vontade.
O Senhor havia deixado os lençóis e lenço que
estava em sua cabeça no sepulcro para ser uma
evidência aos discípulos de que seu corpo não havia sido roubado, uma vez que os ladrões
certamente não teriam arrancado os lençóis e o
turbante, e também não os deixariam no
sepulcro, caso o corpo de Jesus tivesse sido roubado.
Jesus havia testificado diante de Simão, o
fariseu, que o amor de Maria Madalena por Ele
165
era muito grande, e que por isso os muitos
pecados dela eram perdoados.
Ela deu provas deste grande amor pelo seu
Senhor estando com Ele na sua crucificação,
como sendo também a primeira que foi visitar
seu corpo no sepulcro, na madrugada de domingo, quando ainda estava escuro.
Ela foi a primeira a procurar o Senhor e assim foi
também a primeira pessoa a quem Ele apareceu depois da sua ressurreição.
Jesus faria uma visita aos seus discípulos na
tarde daquele domingo da sua ressurreição.
Esta seria, na verdade, a primeira reunião dos
cristãos num dia de domingo, que passaria a ser
agora o dia da semana do descanso, para a adoração de Deus, porque não seria mais apenas
celebrado como criador do mundo, como era no
dia de Sábado na Antiga Aliança, mas também
como o Redentor, o Salvador do seu povo, porque Jesus havia ressuscitado num domingo
para tornar todos os filhos de Deus também
participantes da sua ressurreição.
Pedro apesar de ter negado ao Senhor por três
vezes, há apenas dois dias atrás, foi o primeiro a
entrar no sepulcro vazio, apesar de João ter chegado lá na sua frente.
João se sentiu encorajado a entrar somente
depois que viu Pedro dentro do sepulcro.
João não teve a honra de entrar porque não
recebeu graça, coragem e ousadia para fazê-lo.
166
Honra que o Senhor concedeu a Pedro, para
principalmente começar a restaurá-lo e curá-lo
da dor em sua consciência, por tê-lo negado.
Pedro começaria a aprender a grande lição que
não devemos fazer a obra de Deus na nossa
própria força e capacidade, porque sempre O
negaremos, mas na força e na graça do Senhor que nos capacita em nossa fraqueza, tal como
Pedro fora capacitado para correr ao sepulcro, e
também para entrar nele e ser o primeiro a constatar com certeza que o corpo do Senhor
não se encontrava de fato no seu interior.
Jesus havia falado várias vezes aos seus discípulos que Ele ressuscitaria, mas eles não se
aplicaram a dispor seus corações a crer nisto,
nem a confirmarem a promessa da Escritura a
este respeito; por isso tiveram dificuldades, em princípio, para entender que Jesus havia
ressuscitado.
De igual maneira, ainda hoje, quando não nos aplicamos a meditar e a crer em nosso coração
sobre todas as promessas e verdades que
existem na Palavra de Deus, e quando não
conferimos em nossos corações as coisas que o Senhor nos tem falado, nós teremos
dificuldades em reconhecer a obra que Ele está
realizando em nosso meio, porque as coisas que
Ele nos prometeu fazer foram às vezes proferidas num passado distante, e não tivemos
zelo suficiente para reter suas promessas em
nossas mentes e corações.
167
Quando Pedro e João foram embora, Maria
Madalena ainda permaneceu no jardim onde
estava o sepulcro, e chorava
desconsoladamente, e inclinando-se para ver o interior do sepulcro viu dois anjos vestidos de
branco assentados onde estivera deitado o
corpo de Jesus, provavelmente os mesmos anjos que haviam retirado a pedra que fechava o
sepulcro, estando um à cabeceira, e outro aos
pés, e eles lhes perguntaram por que estava
chorando. Ela respondeu, porque haviam levado o corpo do Senhor e não sabia onde o haviam
colocado.
Mas logo que ela olhou para trás viu alguém,
mas não sabia que era Jesus e Ele lhe fez a
mesma pergunta que os anjos haviam feito, e acrescentou a pergunta sobre quem ela estava
buscando.
Ela pensou que Jesus fosse o jardineiro e lhe
pediu que lhe dissesse onde havia colocado o corpo que ela o levaria consigo.
Então, o Senhor se revelou a ela chamando-a
pelo seu nome.
Ele poderia ter se revelado primeiro a Pedro e a João que eram seus apóstolos, mas o Senhor não
trabalha no seu reino amarrado a hierarquias.
Foi a ela que Jesus disse que estaria subindo
naquela hora à presença do Pai e Deus, tanto
dele quanto deles, e que dissesse isto aos demais discípulos.
Tanto os anjos quanto Jesus perguntaram a
Maria Madalena, por que ela estava chorando.
168
Afinal não havia motivo para ela chorar, mas
para se alegrar.
Não há mais motivo para qualquer cristão
chorar sem consolo e esperança, porque Jesus
ressuscitou.
Se Maria soubesse disto, ela não estaria chorando.
A realidade não dava realmente motivo para
choro, mas para alegria. Mas o
desconhecimento da realidade fez com que ela estivesse chorando por ter perdido a sua
esperança.
Os cristãos devem estar bem seguros da vitória
do Senhor deles sobre o pecado, a morte e o
mundo, para que tenham sempre bom ânimo em suas aflições.
Mas mesmo quando nossa fé é pequena, quando
nos sentimos fracos e desconsolados como
Maria, o Senhor nunca rejeitará um coração
quebrantado, tal como Jesus demonstrou na maneira como procedeu em relação a ela.
Se o motivo do nosso choro for porque temos
buscado a Cristo e não O temos achado, é certo
que O acharemos, porque Ele se manifestará a
nós, como fizera com Maria.
Primeira Aparição de Jesus aos Discípulos Depois da Ressurreição - João 20
“19 Chegada, pois, a tarde daquele dia, o
primeiro da semana, e cerradas as portas onde
os discípulos, com medo dos judeus, se tinham
169
ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e
disse-lhes: Paz seja convosco.
20 E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram,
vendo o Senhor.
21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja
convosco; assim como o Pai me enviou, também
eu vos envio a vós.
22 E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e
disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
23 Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes
lhes são retidos.
24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25 Disseram-lhe, pois, os outros discípulos:
Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser
o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha
mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.”
Os apóstolos estavam aterrorizados pelas coisas
que haviam sucedido em relação a Jesus e
quanto às ameaças que estavam fazendo aos
seus seguidores, de maneira que estavam escondidos a portas fechadas.
No entanto, a mensagem que Maria Madalena
levaria a eles da parte do Senhor serviria para tranquilizá-los, porque Ele disse que estaria
ainda com eles na tarde daquele domingo da sua
ressurreição.
170
O fato de não ter enviado tal mensagem por
Pedro ou por João a todos eles, mas por Maria,
tinha também o propósito de evitar que pudesse
ser suscitado entre eles que Ele havia escolhido a Pedro e a João como os chefes dos demais
apóstolos, pela informação privilegiada que
tinha dado a eles.
Mas exatamente para evitar este perigo de
se levantar um líder supremo no meio deles,
uma vez que todos estavam investidos igualmente da mesma autoridade apostólica,
apareceu primeiro a uma mulher e fez dela uma
apóstola naquela hora, para os seus apóstolos,
de maneira que se mantivessem humildes, considerando os outros superiores a si mesmos,
para serem curados deste mal que é o desejo de
se estabelecer como chefe sobre o rebanho do
Senhor, que deveria ser apascentado, e não dominado por eles.
Tomé foi o primeiro cristão a faltar à primeira
reunião da igreja num domingo, quando o Senhor apareceu no meio dos discípulos no
lugar em que eles se encontravam para lhes
confortar dizendo que a paz fosse com eles, por
duas vezes, e também lhes dando uma primeira unção especial do Espírito, para terem forças
para aguentar a pressão da perseguição até o dia
do seu derramamento no dia de Pentecostes.
Do sábado da páscoa até o dia de Pentecostes,
eram contados 50 dias corridos, daí o nome
Pentecostes.
171
Como os discípulos teriam que retornar da
Galileia para Jerusalém para permanecerem em
oração unânime até serem revestidos do alto
com o poder do Espírito, e como Jesus lhes apareceu ainda por um espaço de 40 dias depois
da sua ressurreição (At 1.3). Então, desde que Ele
subiu aos céus, até o Pentecostes decorreriam ainda cerca de 10 dias.
Eles precisariam ter um primeiro revestimento
de poder do Espírito para permanecerem
perseverantes suportando aqueles dias de
perseguição e grande tensão.
Assim Jesus soprou o Espírito sobre eles, ainda
naquele primeiro domingo, no qual havia
ressuscitado, para que eles fossem revestidos de
poder.
De igual maneira nós necessitamos ser
revestidos do poder do Espírito para
continuarmos fazendo a obra do evangelho no
meio das perseguições e oposições que sofremos do reino das trevas.
Isto era necessário para os discípulos porque
Jesus havia confirmado mais uma vez, naquele
domingo da ressurreição, que a missão deles era a mesma que o Pai lhe havia dado.
Eles haviam recebido as chaves do reino dos
céus. Deus falaria agora, dali por diante somente
através daqueles que têm fé em Jesus.
Aqueles que cressem na pregação do evangelho através daqueles que têm sido enviados por
Cristo, desde os apóstolos, teriam os seus
pecados perdoados, assim como aqueles que se
172
recusassem a crer na pregação deles, teriam os
seus pecados retidos, isto é, não perdoados por
Deus.
Quando Tomé chegou, Jesus já havia se retirado,
e tendo os demais discípulos dito a ele que haviam visto o Senhor, Tomé não creu na
palavra deles, e disse que creria somente caso
visse o sinal dos cravos nas suas mãos e o seu
lado que havia sido perfurado pela lança do soldado romano.
Jesus havia mostrado tanto as suas mãos
perfuradas, quanto o seu lado, aos discípulos,
quando esteve com eles naquela tarde de
domingo, mas não foi por tais evidências que eles creram nele, senão por suas palavras.
De igual maneira nós devemos crer agora, porque não vemos o Jesus no qual nós cremos,
mas vivemos pela fé nas suas Palavras.
Afinal a fé não é a convicção e certeza do que
vemos e que temos ao alcance do toque das
nossas mãos, mas do que não vemos e esperamos, porque confiamos nas promessas
do Senhor.
No plano de Deus Jesus deveria ressuscitar num
domingo e não em um sábado, para colocar uma
grande distinção entre a Antiga e a Nova Aliança, e para demonstrar que havia realmente
revogado a Antiga, porque dali em diante, o dia
de reunião da Igreja para a adoração pública não
seria mais no sábado, mas no domingo.
173
Segunda Aparição de Jesus aos Discípulos
depois da Ressurreição - João 20
“26 E oito dias depois estavam outra vez os seus
discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou
Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco.
27 Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê
as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no
meu lado; e não sejas incrédulo, mas cristão.
28 E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu,
e Deus meu!
29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e
creram.
30 Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não
estão escritos neste livro.
31 Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,
crendo, tenhais vida em seu nome.” (João 20.26-
31)
A segunda vez que Jesus apareceu aos discípulos
reunidos, depois da sua ressurreição foi
também num domingo.
A Igreja reunida no domingo terá a visita do
Senhor, ainda que isto não signifique que Ele
estará ausente caso eles também se reúnam nos demais dias da semana.
Mas, a mensagem que Jesus estava passando aos
discípulos era bastante clara, porque ainda que
174
se reunissem em outros dias, Ele queria vê-los
reunidos regularmente aos domingos para
adorá-lO.
Tomé teve que aguardar o próximo domingo para ter suas dúvidas dissipadas pelo Senhor.
Enquanto os demais discípulos estavam
consolados e alegres por terem visto Jesus,
Tomé deveria estar entregue às suas tristezas porque sete dias eram passados, e Jesus não
havia reaparecido.
Certamente para ensinar a todos eles e a nós a
não negligenciarmos a adoração do dia do domingo, Ele voltou a aparecer a eles somente
oito dias depois, isto é, no primeiro domingo
seguinte àquele no qual havia ressuscitado.
Ninguém precisou contar a Jesus qual tinha sido
a reação de Tomé no domingo anterior quando os demais discípulos lhe disseram que Jesus
aparecera a eles e que lhes havia revestido com
o poder do Espírito e lhes dado a comissão de pregarem o evangelho tanto para o perdão
quanto para a retenção de pecados.
Em sua onisciência o Senhor viu e ouviu não
apenas aquilo que Tomé falou, mas a
incredulidade e dureza do seu coração.
Por isso, ao estar com eles outra vez naquele
segundo domingo, em que todos estavam
reunidos, depois de ter impetrado a sua paz
sobre eles, dirigiu-se imediatamente a Tomé lhe pedindo para tocar com seu dedo as suas mãos,
e com a sua mão o seu lado; dizendo-lhe que não
fosse incrédulo, mas crente.
175
Mesmo depois de Tomé ter dito “Senhor meu, e
Deus meu!”, Jesus continuou lhe repreendendo
dizendo que ele havia crido somente porque
havia Lhe visto, mas bem-aventurados eram os que não viram e creram; porque a substância da
fé não é vista, mas confiança naquilo que não se
vê.
Jesus não apagou o pavio fumegante de Tomé,
mas acendeu o mesmo com uma repreensão
para que ele não voltasse a agir da mesma maneira dali em diante.
Ele não estaria mais presente em carne com
eles.
O Espírito Santo também não agiria com eles
visivelmente, de maneira que aprendessem a
viver por fé e a discernir o mundo espiritual em espírito e não pelos sentidos naturais da visão,
audição, olfato, tato ou qualquer outro.
Deus é espírito e importa ser conhecido em espírito e não pelo que vemos ou ouvimos.
João encerrou este capítulo afirmando qual foi o
propósito para o qual escreveu o seu evangelho, dizendo que não havia registrado todos os sinais
que Jesus havia operado na presença dos seus
discípulos, mas que havia escrito alguns deles para que os leitores creiam que Jesus é o
Messias, o Filho de Deus, e para que crendo,
possam ter vida eterna em seu nome.
176
João 21
A Restauração de Pedro depois da Negação
“1 Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e
manifestou-se assim:
2 Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé,
chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná
da Galileia, os filhos de Zebedeu, e outros dois
dos seus discípulos.
3 Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-
lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram, e
subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam.
4 E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não conheceram que
era Jesus.
5 Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma
coisa de comer? Responderam-lhe: Não.
6 E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado
direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois,
e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.
7 Então aquele discípulo, a quem Jesus amava,
disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão
Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.
8 E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão
quase duzentos côvados), levando a rede cheia
de peixes.
177
9 Logo que desceram para terra, viram ali
brasas, e um peixe posto em cima, e pão.
10 Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora apanhastes.
11 Simão Pedro subiu e puxou a rede para a terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes
e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
12 Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu?
sabendo que era o Senhor.
13 Chegou, pois, Jesus, e tomou o pão, e deu-lhes e, semelhantemente o peixe.
14 E já era a terceira vez que Jesus se manifestava
aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dentre os mortos.
15 E, depois de terem jantado, disse Jesus a
Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim,
Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe:
Apascenta os meus cordeiros.
16 Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho
de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu
sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
17 Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas,
amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu
sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-
lhe: Apascenta as minhas ovelhas.
18 Na verdade, na verdade te digo que, quando
eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas
por onde querias; mas, quando já fores velho,
178
estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te
levará para onde tu não queiras.
19 E disse isto, significando com que morte
havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-
lhe: Segue-me.
20 E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele
discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que
dissera: Senhor, quem é que te há de trair?
21 Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e
deste que será?
22 Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até
que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.
23 Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito,
que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus,
porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se
eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?
24 Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é
verdadeiro.
25 Há, porém, ainda muitas outras coisas que
Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita,
cuido que nem ainda o mundo todo poderia
conter os livros que se escrevessem. Amém.”
Pelo que lemos no final do capítulo anterior
parece que João já havia encerrado a escrita do
seu evangelho, quando o Espírito lhe lembrou
de deixar registrado o modo pelo qual Pedro
179
havia sido restaurado pelo Senhor, quanto à
negação do seu nome.
Isto ocorreu na terceira vez que o Senhor
apareceu aos discípulos depois da sua
ressurreição. Não a todos eles, porque o grande
alvo daquela terceira aparição era Pedro, pois o Senhor trataria com Ele em particular.
O próprio João, que já estava avançado em dias de vida, quando escreveu seu evangelho, deve
ter lembrado que o fato de ter sido mantido em
vida por tanto tempo, depois que todos os apóstolos já haviam morrido, foi devido a uma
Palavra específica de Jesus em relação a ele,
enquanto revelou a Pedro, na mesma ocasião,
que seria martirizado quando fosse velho, mas João seria mantido em vida depois que Pedro
morresse, porque Jesus disse que queria que
João permanecesse depois que Pedro fosse
martirizado.
Eles haviam saído de Jerusalém para a Galileia,
mas deveriam voltar a Jerusalém para permanecerem em oração na cidade até que o
Espírito Santo fosse derramado sobre eles, e
para que o mesmo Espírito testificasse de Cristo
através deles.
Mas, Pedro foi ao mar de Tiberíades que ficava
na parte ocidental do mar da Galileia, próximo à cidade de Cafarnaum onde residia.
Jesus não lhes repreendeu por terem ido pescar. Ao contrário, ainda lhes ajudou, por um
milagre, a pescarem 153 peixes grandes, e não
permitiu que as redes fossem rompidas. Logo
180
eles estariam pescando muitos homens com as
redes do evangelho, as quais o Senhor não
permitirá, pelo seu poder, que jamais sejam
rompidas.
Além disso, o Senhor mesmo havia preparado
na praia um braseiro onde já estava assando um
peixe e pão, os quais não seriam suficientes para
alimentá-los a todos, e por isso o Senhor pediu que lhe trouxessem dos peixes que haviam
acabado de pescar.
Para se alimentar eles tiveram que pescar,
apesar de o Senhor ter sido quem preparou o alimento.
De igual maneira nós temos que sair para pescar
os homens apesar de sabermos que é Jesus que
os prepara para o céu, pelo trabalho da sua graça.
Nos dois domingos em que aparecera aos
discípulos, antes da sua terceira aparição no
mar de Tiberíades, Jesus nada havia falado com Pedro acerca do assunto da sua negação.
Mas aquilo precisaria ser tratado, não para a
satisfação de Jesus que conhecia o amor de
Pedro por Ele, e que sabia, conforme lhe havia dito com antecedência, que ele não poderia
sustentar o testemunho de fé nele no meio de
grande perseguição, sem que estivesse ainda
revestido do poder do Espírito.
Por isso tratou de curá-lo fazendo-lhe entender que O amava apesar de ter-lhe negado.
Jesus não citou por um só momento que Pedro
tinha sido um traidor, ou que lhe havia
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decepcionado, ou que não deveria tê-lo negado
ou disse qualquer outra palavra que lhe fizesse
se sentir culpado e acusado da negação
sucessiva por três vezes.
Uma negação de três vezes seria curada com uma afirmação de amor também por três vezes.
O Senhor perguntou a Pedro se ele Lhe amava
mais do que todos os demais, e Pedro respondeu
afirmativamente.
A palavra no original grego para “amor”, que Jesus usou naquela primeira pergunta é “filéo”,
que significa o amor de “amizade.”
Foi também esta mesma palavra que Jesus usou
quando perguntou novamente se Pedro o
amava.
Mas na terceira pergunta, a palavra usada foi “ágape”, que significa o “amor espiritual,
divino”.
A ambas Pedro respondeu também
afirmativamente.
Entretanto, ele se entristeceu porque percebeu
que Jesus queria lhe dar oportunidade para se arrepender da sua negação, e reatar sua
amizade com Ele sem a sombra daquela negação
que deveria ficar para trás, enterrada no
passado.
O Senhor conhecia Pedro e sabia que se voltaria para Ele plenamente restaurado.
E, uma vez que havia sido curado, Jesus lhe
pediu que apascentasse as suas ovelhas.
Ninguém que não ame ao Senhor como um
amigo, de todo o seu coração, e com um amor
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espiritual e divino, não pode apascentar o seu
rebanho, porque este deve ser apascentado com
o mesmo amor que temos por Cristo, pois
quando amamos os irmãos, nós temos também Lhe amado.
Quando fazemos o bem ao menor dos seus
discípulos, é a Ele mesmo que estamos fazendo.
O Senhor queria que todos os apóstolos aprendessem esta lição para pô-la em prática,
quando as igrejas começassem a serem
fundadas por eles.