joão parte 2

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Parte II

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Parte II

Evangelho de João

Parte 2

Silvio Dutra

DEZ/2015

3

A474 Alves, Silvio Dutra João./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2015. 333p.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Evangelho. 3. Comentário Bíblico. I. Título.

CDD 230.226

4

Sumário

João 11.......................................................... 5

João 12.......................................................... 23

João 13.......................................................... 43

João 14.......................................................... 59

João 15.......................................................... 89

João 16.......................................................... 102

João 17.......................................................... 113

João 18.......................................................... 125

João 19.......................................................... 141

João 20.......................................................... 161

João 21.......................................................... 176

5

João 11

O Amor de Jesus por Lázaro

“1 Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de

Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.

2 E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com unguento, e lhe tinha enxugado os pés com

os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava

enfermo.

3 Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor,

eis que está enfermo aquele que tu amas.

4 E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para

que o Filho de Deus seja glorificado por ela.

5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a

Lázaro.

6 Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda

dois dias no lugar onde estava.

7 Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judeia.

8 Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas

para lá?

9 Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se

alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a

luz deste mundo;

10 Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.

11 Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o

nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do

sono.

6

12 Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se

dorme, estará salvo.

13 Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém,

cuidavam que falava do repouso do sono.

14 Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro

está morto;

15 E folgo, por amor de vós, de que eu lá não

estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter

com ele.

16 Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos

condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.”

No capítulo anterior vemos que Jesus havia se

retirado de Jerusalém para o deserto, do outro

lado do Jordão, próximo do local onde João

batizara, porque estavam tentando matá-lo na região da Judeia.

Quando se encontrava neste refúgio Jesus foi procurado por mensageiros da parte da Maria e

Marta, irmãs de Lázaro, que lhe disseram que o

irmão delas estava enfermo.

Como eles residiam em Betânia, uma cidade

que ficava próxima de Jerusalém, na Judeia,

seria necessário, que Jesus retornasse à região da qual havia fugido, e estaria se expondo de

novo ao risco de ser morto.

Jesus amava aquela família e é possível que

tenha se hospedado com eles algumas vezes, de

maneira que não se negaria a ir ter com eles

7

ainda que se expondo a ser perseguido e

apedrejado.

O Senhor nunca se negou e jamais se negará a

socorrer àqueles aos quais Ele ama, quando eles O buscarem para obterem graça e alívio.

No entanto, Ele o fará dentro da vontade do Pai,

e de acordo com a sua soberania divina, de modo

que Deus possa ser glorificado em todos os livramentos e bênçãos que Ele nos der. Por isso

permaneceu ainda dois dias no lugar onde se

encontrava antes de se dirigir a Betânia.

Porque quando a nossa esperança está totalmente perdida, e parece que Cristo não

chegará à hora marcada, então nós o veremos

agindo com poder para nos arrancar, se

necessário for até mesmo da sepultura.

O fim da esperança para aquilo que os homens

podem fazer é o início da oportunidade que o

Senhor tem para agir e glorificar o seu grande

nome.

Esta Maria, irmã de Lázaro não é a mesma mulher que ungiu a Jesus na casa do fariseu

chamado Simão, apesar de ser dito também que

ela ungiu ao Senhor e enxugou os seus pés com os seus cabelos (v. 2), porque esta unção é citada

no capítulo seguinte (12.3) na casa de Lázaro,

depois que foi ressuscitado pelo Senhor.

Não podemos esquecer que João escreveu o seu

evangelho muitos anos depois de terem ocorrido os fatos que são por ele narrados.

Lázaro era alguém a quem Jesus muito

estimava, porque na mensagem que suas irmãs

8

Lhe enviaram, mandaram dizer que estava

enfermo aquele a quem Ele amava.

Isto nos dá um testemunho direto que

comprova o amor que Jesus tinha por aqueles que eram seus discípulos; especialmente

aqueles que andavam na verdade, como

certamente era o caso de Lázaro.

A enfermidade de Lázaro estava no cronograma de Deus para que Jesus fosse glorificado através

do que faria em relação a ela. Ele sabia que

Lázaro não deveria passar deste mundo para o

céu através daquela enfermidade, e por isso disse aos seus discípulos que a enfermidade de

Lázaro não era para morte. No entanto, Lázaro

morreu daquela enfermidade, e como Jesus

disse que ele não sairia deste mundo por causa da mesma, então era de se supor que ele deveria

ser ressuscitado.

João registrou que Jesus amava a Marta, a Maria

e a Lázaro.

Quando Ele disse aos seus discípulos

que deveriam retornar à Judeia, eles reagiram

lembrando-lhe que ainda recentemente os

judeus estavam procurando apedrejá-lo, e como poderia ter decidido então retornar para lá?

O Senhor lhes respondeu que quando se anda na

luz não se tropeça, referindo-se à luz natural, e

que se tropeça somente quando se anda à noite,

porque não há luz.

Jesus falou de coisas naturais para ilustrar

realidades espirituais, especialmente a de que

quando se está a serviço de Deus andando na sua

9

luz, dentro da sua vontade, e com os propósitos

certos e com o coração puro, não se tropeçará,

porque Deus nos guardará disto. Mas quando se

anda em trevas espirituais não se pode contar com tal proteção e favor de Deus. Tendo

encorajado os discípulos com tais palavras, Ele

lhes declarou então o motivo da ida para a Judeia dizendo que Lázaro, o amigo deles, estava

dormindo e que Ele iria despertá-lo do seu sono.

Como eles pensavam que estava falando do repouso do sono, Jesus lhes disse

expressamente que ele havia morrido, e que se

alegrava pelo fato de que não estivesse lá para

impedir a sua morte, curando a sua enfermidade, porque ele faria um sinal ainda

maior que daria a eles a oportunidade de terem

a fé deles nele, aumentada.

Tamanha era a intensidade da perseguição que

Jesus estava sofrendo, que Tomé se adiantou aos

demais discípulos e lhes encorajou para que fossem todos com Jesus para a Judeia para

morrerem com Ele.

A morte já não pode mais assombrar os cristãos verdadeiros pelo que podemos deduzir do modo

pelo qual Jesus se referiu à morte de Lázaro

como sendo um sono, e dizendo aos discípulos que o amigo deles estava dormindo.

A morte de um cristão é um sono, porque na

verdade, a morte já não tem mais poder sobre eles, porque ainda que morram, permanecem

vivos diante de Deus, pois a vida de Cristo está

neles, e assim como Ele vive para sempre,

10

também os cristãos vivem para sempre por

causa dele.

Simplesmente eles saem deste mundo, mas não

permanecem mortos. Quão grande vitória

Cristo nos dá sobre a morte, e Ele comprovaria

isto aos seus discípulos ao ressuscitar Lázaro, como também serviria para encorajá-los a

realizarem seus ministérios depois que Jesus

saísse deste mundo, sem nada temerem,

conforme o exemplo que lhes estava dando naquela hora, retornando à Judeia.

Eles já não tinham porque temer a morte porque

estavam a serviço dAquele que é a ressurreição e a vida.

O Consolo Especial Que Jesus Nos Dá - João 11

“17 Chegando Jesus, encontrou Lázaro já

sepultado, havia quatro dias.

18 (Ora Betânia distava de Jerusalém quase

quinze estádios.)

19 E muitos dos judeus tinham ido consolar a

Marta e a Maria, acerca de seu irmão.

20 Ouvindo, pois, Marta que Jesus vinha, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou assentada

em casa.

21 Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se tu

estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.

22 Mas também agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.

23 Disse-lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.

11

24 Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar

na ressurreição do último dia.

25 Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida;

quem crê em mim, ainda que esteja morto,

viverá;

26 E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca

morrerá. Crês tu isto?

27 Disse-lhe ela: Sim, Senhor, creio que tu és o

Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.

28 E, dito isto, partiu, e chamou em segredo a Maria, sua irmã, dizendo: O Mestre está cá, e

chama-te.

29 Ela, ouvindo isto, levantou-se logo, e foi ter

com ele.

30 (Ainda Jesus não tinha chegado à aldeia, mas

estava no lugar onde Marta o encontrara.)

31 Vendo, pois, os judeus, que estavam com ela

em casa e a consolavam, que Maria

apressadamente se levantara e saíra, seguiram-

na, dizendo: Vai ao sepulcro para chorar ali.

32 Tendo, pois, Maria chegado aonde Jesus estava, e vendo-o, lançou-se aos seus pés,

dizendo-lhe: Senhor, se tu estivesses aqui, meu

irmão não teria morrido.”

Quando Jesus chegou em Betânia, o corpo de

Lázaro se encontrava sepultado há quatro dias.

Sabendo que Ele havia chegado Marta se

apressou em se encontrar com Ele, antes

mesmo de entrar na aldeia onde ela morava.

12

Ali, ainda longe da sua casa onde as pessoas

estavam ainda enlutadas pela morte de seu

irmão, juntamente com sua irmã Maria, teve

uma breve entrevista com Jesus e lhe disse que caso Ele estivesse presente, Lázaro não teria

morrido; e que sabia que tudo que Jesus pedisse

a Deus Ele lhe concederia.

Diante desta afirmação de fé, que ela

certamente recebeu do alto, na convicção de

que Jesus faria algo extraordinário, mas não

cogitou tanto a ponto de que Ele iria ressuscitar seu irmão ainda naquele dia, porque quando

Jesus lhe disse que Lázaro haveria de

ressuscitar, ela afirmou que sabia que isto

aconteceria na ressurreição do último dia, conforme está prometido a todos os cristãos que

morrem no Senhor, de terem seus corpos

ressuscitados no dia do arrebatamento da

Igreja.

Ela havia dito uma verdade, e Jesus comprovaria

esta verdade ressuscitando Lázaro, para

mostrar que Ele tem de fato o poder de trazer os corpos que morreram de novo à vida.

Assim, disse a Marta que de fato, Ele é a

ressurreição e a vida, e que aquele que nele crê, ainda que esteja morto, viverá, e que todo aquele

que vive, e que creia nele, nunca morrerá.

Em seguida perguntou a Marta se ela cria nisto.

Ela respondeu sabiamente dizendo que cria que

Ele é o Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao

mundo.

13

Com esta sua declaração ela fez uma afirmação

de fé de que tudo é possível ao Senhor, porque

nada é impossível para o Messias, para o Filho

de Deus que deveria vir ao mundo para restaurar todas as coisas.

Jesus queria falar também separadamente com

Maria, e por isso permaneceu no lugar onde se

encontrava, fora da aldeia, e pediu a Marta que chamasse Maria em segredo para vir ter com

Ele.

Maria se apressou em ir ter com o Senhor, mas

muitos que estavam na casa pensando que ela iria para o local do túmulo de Lázaro para

chorar, saíram logo depois dela para confortá-la.

Quando Maria chegou ao lugar onde Jesus

estava lançou-se aos seus pés dizendo que caso ele estivesse com eles, Lázaro não teria morrido.

Ela conhecia a virtude sobrenatural que Jesus

possuía para curar toda sorte de enfermidades,

e fez esta límpida declaração de fé, da plena confiança que ela tinha no seu poder.

Não é de se estranhar porque é dito que Jesus

amava aquela família.

O Senhor ama de um modo especial a todos que

têm esta qualidade de fé na sua pessoa, como a que Marta e Maria haviam demonstrado, e que

certamente era o mesmo tipo de fé que habitava

em Lázaro.

Eles honravam a Jesus com a sua fé, e não foi por acaso que Deus escolheu aquela família para

também honrar a fé deles com o milagre da

ressurreição de Lázaro.

14

Nós vemos então o Senhor compartilhando

privadamente o que faria àquelas duas gigantes

da fé.

Uma grande fé será também grandemente

honrada pelo Senhor.

Ele nos fará saber disto de maneira íntima falando ao recôndito dos nossos corações.

O Senhor nos separará do meio da multidão e

nos consolará em particular.

Ainda que saiba que expulsará os nossos

problemas para bem longe de nós, Ele primeiro

nos fortalecerá e consolará, para que saibamos que tudo quanto necessitamos é da força da sua

graça.

Jesus Ressuscitou Lázaro Para Sabermos Que

Também nos Ressuscitará - João 11

“33 Jesus pois, quando a viu chorar, e também

chorando os judeus que com ela vinham, moveu-se muito em espírito, e perturbou-se.

34 E disse: Onde o pusestes? Disseram-lhe:

Senhor, vem, e vê.

35 Jesus chorou.

36 Disseram, pois, os judeus: Vede como o

amava.

37 E alguns deles disseram: Não podia ele, que

abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse?

38 Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em

si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna,

e tinha uma pedra posta sobre ela.

15

39 Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do

defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal,

porque é já de quatro dias.

40 Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres,

verás a glória de Deus?

41 Tiraram, pois, a pedra de onde o defunto jazia.

E Jesus, levantando os olhos para cima, disse:

Pai, graças te dou, por me haveres ouvido.

42 Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu

disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste.

43 E, tendo dito isto, clamou com grande voz:

Lázaro, sai para fora.

44 E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés

ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir.”

Jesus não somente se moveu de comoção por

duas vezes em seu interior por causa do quadro

de tristeza que encontrou por causa da morte do seu amigo Lázaro, como também Ele próprio

chorou, apesar de saber que iria ressuscitá-lo.

Quando Jesus chegou ao local do sepulcro, que

era uma caverna com uma grande pedra

fechando a sua entrada, Ele pediu que tirassem

a pedra, e Marta lhe disse que o defunto já estava cheirando mal, porque era de quatro dias.

Ela não estava tão preocupada com o cheiro, mas naquela hora a fé dela vacilou um pouco

porque não estava vendo sentido na ordem de

Jesus em mandar retirar a pedra do sepulcro.

16

O Senhor ajudou Marta fortalecendo a sua fé

com uma branda repreensão, lembrando que

lhe havia dito que caso ela cresse, ela veria a

glória de Deus.

O milagre não era dependente da fé de Marta,

mas não faria sentido fazer um milagre daquela

envergadura para honrar quem não tivesse fé.

Então importava que ela continuasse crendo

não somente para honrar o Senhor, para que a fé

dela também fosse honrada.

Assim, tiraram a pedra e Jesus elevando os olhos

para os céus, porque é sempre do alto que os

milagres são realizados, tendo orado

agradecendo ao Pai pela ressurreição de Lázaro, porque o Pai já lhe havia respondido que o

ressuscitaria.

Ele agradeceu ao Pai por tê-lo ouvido, como

sempre.

Ele não precisava ter dito aquelas palavras de

agradecimento de modo audível, mas havia feito

isto para que a multidão em redor cresse que Ele havia sido enviado pelo Pai, porque seria Ele que

realizaria o milagre para que soubessem que

Jesus havia sido enviado por Ele como Salvador

do mundo.

Uma vez tendo sido dada a devida glória ao Pai e

o testemunho de ser um enviado de Deus na

terra para dar vida aos mortos, Jesus clamou com grande voz: “Lázaro sai para fora!”.

Lázaro saiu da sepultura com as mãos e os pés

ligados com faixas e com o rosto envolto num

17

lenço, para que se comprovasse que estava de

fato morto e que havia sido ressuscitado.

A única coisa que foi feita pelos homens para

que Lázaro viesse para fora depois de

ressuscitado foi o ato de removerem a pedra do

sepulcro.

Jesus também poderia tê-la removido pelo seu

poder.

Mas Ele não estava ali fazendo um

exibicionismo dos seus poderes, como na

verdade, nunca o faz.

Aquilo que nós podemos fazer enquanto

aguardamos o milagre do Senhor, nós devemos

fazer, e O Senhor fará apenas aquilo que nós não podemos fazer.

As nossas providências preliminares, como

aquele ato de retirar a pedra, são uma prova visível de que estamos crendo naquilo que Ele

haverá de fazer.

Assim, se o Senhor disser que nos dará azeite em abundância, é nosso dever preparar as vasilhas.

Buscando Refúgio no Deserto - João 11

“45 Muitos, pois, dentre os judeus que tinham

vindo a Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.

46 Mas alguns deles foram ter com os fariseus,

e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.

47 Depois os principais dos sacerdotes e os

fariseus formaram conselho, e diziam: Que

18

faremos? porquanto este homem faz muitos

sinais.

48 Se o deixamos assim, todos crerão nele, e

virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e

a nação.

49 E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis,

50 Nem considerais que nos convém que um

homem morra pelo povo, e que não pereça toda

a nação.

51 Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que

Jesus devia morrer pela nação.

52 E não somente pela nação, mas também para

reunir em um corpo os filhos de Deus que

andavam dispersos.

53 Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.

54 Jesus, pois, já não andava manifestamente

entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra

junto do deserto, para uma cidade chamada

Efraim; e ali ficou com os seus discípulos.

55 E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém

antes da páscoa para se purificarem.

56 Buscavam, pois, a Jesus, e diziam uns aos

outros, estando no templo: Que vos parece? Não

virá à festa?

57 Ora, os principais dos sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem para que, se alguém

soubesse onde ele estava, o denunciasse, para o

prenderem.”

19

Todas as coisas relatadas por João no seu evangelho continuam ainda ocorrendo quando

o evangelho é pregado e o Senhor confirma a

Palavra pregada com sinais e prodígios.

A evidência do poder de Deus entre os homens

sempre os separará em dois grupos distintos: o

primeiro é o daqueles que crerão no Senhor e glorificarão o seu nome, porque terão olhos e

ouvidos espirituais para entenderem que Deus

esteve entre eles. Assim, para estes, o evangelho

é aroma de vida para a vida.

Mas, há o segundo grupo para os quais o

evangelho é cheiro de morte para a morte,

porque eles não crerão; antes se oporão e tentarão impedir o progresso do reino de Deus,

como fizeram alguns que haviam testemunhado

a ressurreição de Lázaro, e que em vez de

crerem no Senhor como sendo o Messias enviado ao mundo, apressaram-se em procurar

os fariseus para contar a eles o que Jesus havia

feito, não para dar honra ao Senhor, mas para

agradarem aos fariseus, sabendo que eles estavam perseguindo Jesus para matá-lO.

Quando os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho para decidirem o

que deveriam fazer para impedir que Jesus

continuasse operando os sinais que fazia,

porque temiam que toda a nação viesse a crer nele, e que fizessem um levante contra o

império romano e assim corriam o risco de

serem expulsos do seu território.

20

Mas como cristãos fariam um levante, quando

temem as autoridades de coração, e oram pela

paz mundial e buscam, conforme Deus lhes tem

ordenado?

Assim, o que os fariseus temiam acabou

ocorrendo em 70 d. C. como um juízo de Deus sobre a nação de Israel, justamente por terem

rejeitado e crucificado Jesus, porque o Senhor

havia falado desde Moisés que pediria contas a todo aquele que deixasse de ouvir o Profeta que

seria levantado por Ele (Dt 18.18).

Deus sempre apanha o sábio na sua sabedoria, e

assim a conclusão a que chegaram por conselho

de Caifás, que importava que Jesus morresse

para que não perecesse toda a nação, poderia parecer uma decisão política muito sábia, mas

era altamente covarde e injusta.

No entanto, o conselho ladino de Caifás foi

interpretado por João como um prenúncio do

significado espiritual da morte de Jesus, que de

fato morreria não somente pela nação de Israel, mas também para reunir em um corpo os filhos

de Deus que andavam dispersos em todas as

nações; de modo que um morreu por todos, para

que eles não vivam mais para si mesmos, senão para Aquele que por eles morreu e ressuscitou.

A ressurreição de Lázaro fez com que os sacerdotes e fariseus se reunissem

frequentemente para estudarem o modo como

matariam Jesus.

Sabendo das intenções deles Jesus já não se

expunha mais publicamente entre os judeus e

21

se retirou da região da Judeia para uma cidade

chamada Efraim, que ficava próxima do deserto,

tendo ali permanecido com os seus discípulos.

Se somos discípulos de Jesus, estando a seu

serviço, e se Ele é grandemente perseguido

como também o seu evangelho, onde Lhe

estivermos servindo, nós devemos seguir o mover do Espírito para o lugar para o qual Ele

nos conduzirá em segurança, e geralmente este

lugar será o deserto ou próximo do deserto,

porque os nossos inimigos não se animarão em nos perseguir no deserto.

Certamente não estamos falando de um deserto

literal, mas de situações e condições novas que nos manterão afastados do clamor das

multidões, e onde nossas almas estarão de certo

modo isoladas buscando estar em comunhão

com Deus.

Estas retiradas estratégicas são comuns na obra

do ministério, especialmente no trabalho

missionário, como aquele no qual o Senhor e seus discípulos estavam empenhados.

A data da última páscoa que Jesus celebraria

com seus discípulos na terra estava se

aproximando, e como muitos haviam subido a Jerusalém para se purificarem antes da páscoa,

buscavam a Jesus perguntando se por acaso ele

subiria para a festa.

Eles procuraram por Jesus no templo, mas Ele

não se dirigiu para lá, porque os sacerdotes e

fariseus tinham dado ordem para que se alguém

22

soubesse onde Ele se encontrasse, que o

denunciassem para que fosse preso.

23

João 12

Jesus Caminhou ao Encontro da sua Morte por Nós

“1 Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a

quem ressuscitara dentre os mortos.

2 Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com

ele.

3 Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de

Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos;

e encheu-se a casa do cheiro do unguento.

4 Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo,

disse:

5 Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?

6 Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que

tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.

7 Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha

sepultura guardou isto;

8 Porque os pobres sempre os tendes convosco,

mas a mim nem sempre me tendes.

9 E muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas

também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara

dentre os mortos.

24

10 E os principais dos sacerdotes tomaram

deliberação para matar também a Lázaro;

11 Porque muitos dos judeus, por causa dele, iam

e criam em Jesus.

12 No dia seguinte, ouvindo uma grande

multidão, que viera à festa, que Jesus vinha a

Jerusalém,

13 Tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe

ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em nome do Senhor.

14 E achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito:

15 Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta.

16 Os seus discípulos, porém, não entenderam isto no princípio; mas, quando Jesus foi

glorificado, então se lembraram de que isto

estava escrito dele, e que isto lhe fizeram.

17 A multidão, pois, que estava com ele quando

Lázaro foi chamado da sepultura, testificava que ele o ressuscitara dentre os mortos.

18 Por isso a multidão lhe saiu ao encontro, porque tinham ouvido que ele fizera este sinal.

19 Disseram, pois, os fariseus entre si: Vedes que nada aproveitais? Eis que toda a gente vai após

ele.”

Quanta infâmia e desonra Jesus suportou e tem

ainda suportado.

O relato dos evangelhos nos revela que de fato

há no Senhor uma longanimidade divina que

25

Lhe permitiu e que ainda permite suportar com

grande paciência toda a oposição que façam

contra a sua Pessoa.

Quando lemos, por exemplo, as recomendações

que Ele faz aos seus discípulos no Sermão do

Monte, especialmente quanto ao dever de amarem seus inimigos e abençoarem os que

lhes maldizem e perseguem, nós entendemos a

razão destas ordenanças porque em fazendo isto

eles estão simplesmente seguindo o seu próprio exemplo, e importa que sejamos seus

imitadores.

Ele nos daria agora o exemplo máximo da sua

mansidão e submissão à vontade do Pai,

entregando-se voluntariamente nas mãos dos

seus inimigos.

Por inúmeras vezes Ele havia escapado e fugido

das perseguições deles, mas importava que

fosse agora para a cruz para pagar o preço exigido para o perdão dos nossos pecados.

Ele estivera no templo no período da festa da dedicação que era celebrada no mês de quisleu

(dezembro), depois de ter curado o cego de

nascença, e havia se retirado para o deserto

junto ao local onde João batizara, mas retornou à Judeia para ressuscitar Lázaro, e como foi

expedida ordem pelos fariseus para que fosse

preso, e sabendo que aquela prisão culminaria

com a sua morte, e não era ainda a hora, porque importava que morresse na Páscoa, Ele se

retirou mais uma vez para o deserto, perto da

cidade de Efraim.

26

A festa da Páscoa foi instituída por Deus para

comemorar o livramento dos primogênitos

israelitas da morte no Egito, nos dias de Moisés,

por causa do sangue do cordeiro que foi colocado nas portas das suas casas, para que o

anjo da morte passasse por sobre elas ao ver o

sangue.

Jesus é o Cordeiro pascal, do qual, por causa da

cobertura do seu sangue sobre a casa espiritual

das nossas vidas, somos livrados da morte espiritual e eterna, para que as consagremos

Àquele que nos salvou da morte.

Ele teria que retornar à Judeia na época da

Páscoa, que era celebrada no mês de Abibe

(março/abril), e Ele o fez indo primeiro para a

cidade de Betânia, à residência de Lázaro, Maria e Marta onde se hospedou, porque além da

residência deles ficar apenas cerca de 3

quilômetros de Jerusalém, Jesus achou conforto

junto daqueles que O amavam, antes de se entregar voluntariamente nas mãos dos seus

inimigos, os quais lhe infligiriam terríveis

sofrimentos, conforme estava profetizado nas

Escrituras.

Mas, para que se cumprissem também as

Escrituras, importava que fosse aclamado antes como rei de Israel, montado em um

jumentinho, de maneira a demonstrar o caráter

pacífico e de humildade do seu reino.

No reino do Messias não há excluídos, por causa

da baixa condição social que se possa ter para

este mundo.

27

Tudo o que este mundo despreza pode ser

transformado e estar em honra no reino do

Senhor.

Mas muito do que o mundo considera elevado

poderá estar excluído do seu reino, por ser uma abominação perante Deus.

A mansidão do Cordeiro não será perdida,

quando Ele estabelecer seu reino eterno com

todos os seus súditos.

A regra do seu governo será o seu amor por eles.

E, a justiça de Deus será a base do seu trono.

Faltavam seis dias para a Páscoa quando Jesus se dirigiu à casa de Lázaro e ali lhe prepararam

uma ceia para Ele e seus discípulos; e Lázaro

estava à mesa enquanto Marta os servia.

Foi nesta ocasião que Maria ungiu os pés de

Jesus com nardo puro e enxugou os seus pés com os seus cabelos.

Judas Iscariotes protestou contra aquele ato de

Maria, porque o perfume era muito caro, e ele

considerou que ela havia feito um desperdício,

porque poderia vendê-lo por trezentos dinheiros, para serem distribuídos aos pobres.

No entanto, aquilo não era sequer zelo pelos

pobres, porque ele era o tesoureiro do grupo e

era seu costume furtar o que lhes era ofertado.

Jesus sabia que Judas era ladrão, e o poupou não

dizendo qual era a sua real intenção.

Mas para desfazer o desconforto que ele criou para Maria, e o falso preceito religioso de que o

evangelho consiste em distribuir dinheiro aos

pobres, o Senhor disse que Maria tinha feito um

28

bom serviço, porque O ungira para seu

sepultamento, e que importava antes, cuidar de

agradá-Lo do que aos pobres, porque

fisicamente teriam os pobres com eles durante muito tempo, mas apenas Maria, dentre eles,

tinha percebido que Ele estaria ainda por apenas

um breve tempo em sua companhia, menos do que uma semana.

Jesus tinha tudo em comum com os apóstolos, e

viviam dos recursos que lhes eram providos por

Deus através dos instrumentos que Ele

levantava para sustentá-los.

Isto deveria servir de exemplo para diminuir

nossa estima por riquezas mundanas, porque

definitivamente Jesus e os apóstolos não

andaram à busca das mesmas e nem sonhavam com elas.

A história tem testemunhado que os principais

ministros do reino de Cristo nunca estiveram

interessados em rendas terrenas, e por outro lado, aqueles que sequer foram chamados para

o ministério e que viveram na busca de riquezas

transitaram na Igreja como nuvens sem água,

seguindo o exemplo do mestre deles, a saber, Judas, que também por sua vez, seguiu os passos

de Balaão.

Ministros do evangelho não são mordomos de

bens que lhes pertencem, porque são mordomos dos bens de Cristo, e terão todos eles

que prestar contas da administração que

fizeram destes bens no tribunal de Cristo.

29

Quando os ministros fazem um mau uso dos

recursos de Deus eles são como Judas porque

furtam aquilo que não lhes pertence, mas ao

Senhor e a todo o povo que colocou debaixo do cuidado deles.

A estada de Jesus na casa de Lázaro não pôde ser

mantida em segredo, de maneira que muitos acorreram para lá para terem a oportunidade de

verem não somente a Ele, como também a

Lázaro, a quem Ele havia ressuscitado.

Estes judeus eram pessoas de boa vontade em

sua grande maioria, e isto despertou grande

preocupação nos sacerdotes porque muitos

estavam crendo em Jesus por verem que Lázaro havia de fato sido ressuscitado.

Eles tentariam também destruir a evidência viva

do milagre que Jesus havia feito, que era o próprio Lázaro, e assim também estavam

intentando matá-lo.

Não foram os judeus de Jerusalém que odiavam

Jesus e que estavam envenenados pelos sacerdotes e fariseus, que saíram ao seu

encontro com ramos de palmeiras clamando

“Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em

nome do Senhor (v. 13), quando souberam que Ele estava vindo para a cidade de Jerusalém

montado num jumentinho.

Eram judeus das áreas rurais e de outras cidades que vinham a Jerusalém anualmente para a

festa da Páscoa, e especialmente a multidão que

estivera com Jesus na casa de Lázaro e que

30

testificara que ele realmente lhe havia

ressuscitado (v. 17, 18).

Aquela grande manifestação foi a gota d’água

que levou os fariseus a se conluiarem para

prenderem Jesus.

Muitos pensam que a multidão que bradou

“Hosana” é a mesma que gritou “Crucifica-o”.

No entanto, os que eram de Jerusalém e que estavam buscando a crucificação de Jesus

certamente não se encontravam entre aqueles

que disseram “Hosana”.

Mais do Que Ensinamentos Jesus Veio Nos Dar sua Vida - João 12

“20 Ora, havia alguns gregos, entre os que

tinham subido a adorar no dia da festa.

21 Estes, pois, dirigiram-se a Filipe, que era de

Betsaida da Galileia, e rogaram-lhe, dizendo:

Senhor, queríamos ver a Jesus.

22 Filipe foi dizê-lo a André, e então André e

Filipe o disseram a Jesus.

23 E Jesus lhes respondeu, dizendo: É chegada a hora em que o Filho do homem há de ser

glorificado.

24 Na verdade, na verdade vos digo que, se o

grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica

ele só; mas se morrer, dá muito fruto.

25 Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem

neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para

a vida eterna.

31

26 Se alguém me serve, siga-me, e onde eu

estiver, ali estará também o meu servo. E, se

alguém me servir, meu Pai o honrará.”

A fama de Jesus deve ter se espalhado pelo

mundo conhecido de então, e os gregos que

estavam sempre atrás de novos conhecimentos

filosóficos devem ter se interessado em conhecer o seu ensino, por pensarem que fosse

um mero filósofo.

Alguns dos gregos que haviam subido a

Jerusalém para a festa da Páscoa pediram a Filipe que lhes apresentasse a Jesus, e tendo

Filipe levado o assunto a André, ambos foram a

Jesus para informá-lo a respeito.

A resposta que o Senhor deu a ambos foi surpreendente porque Ele tinha diante dos seus

olhos somente o propósito de cumprir a missão

que o Pai lhe havia dado de ir para a cruz para

morrer no nosso lugar.

O grande objetivo da missão não era ensinar, mas resgatar.

Não era obter fama pessoal de um mestre de

filosofia, nem sequer de teologia, mas atrair

pecadores a Si para se converterem a Ele, e assim serem livrados da morte eterna, pela

destruição da morte espiritual, pela sua morte

na cruz.

Como aqueles gregos poderiam entender tais coisas com a intenção que tinham em seus

corações de satisfazerem à curiosidade deles

em verem alguém a quem eles queriam honrar

32

simplesmente como a um grande mestre de

filosofia?

Jesus deve ser procurado não pelo nosso próprio

interesse, mas por sermos conduzidos a Ele

impulsionados pelo Espírito Santo, para nos rendermos a seus pés e adorá-lo.

Não admira que o Senhor tivesse dito a André e

a Filipe que era chegada a hora em que Ele seria

glorificado, mas não pelos gregos e nem por

homem algum que pretendesse homenageá-lo, ou prestar-Lhe honrarias.

Porque aqueles que O honrassem da maneira

pela qual deve ser honrado são os que O seguem

e o servem aonde quer que Ele esteja.

Somente aqueles que O honram desta maneira

serão também honrados por Deus Pai, porque têm honrado a seu Filho (v. 26).

Jesus veio a este mundo para dar a sua vida em

resgate de muitos.

Os que são por Ele resgatados devem também

estar dispostos a darem a vida deles a seu

serviço.

Assim como um grão de trigo não pode gerar

fruto se não morrer na terra, para que germine uma nova vida, que gerará muitos outros grãos

de trigo, de igual maneira, se Jesus não

morresse na cruz, permaneceria Ele só como

Filho de Deus, mas pela sua morte, o Pai poderia se prover de muitos outros filhos, que seriam

tornados semelhantes ao seu Filho unigênito.

Desta forma, também os discípulos devem tal

como Cristo, perderem a vida por amor a Ele, e a

33

palavra “vida” no original grego é psiquê, assim

eles devem perder o viver pela energia da alma,

morrendo para o ego, de forma que, vivendo

pelo espírito, possam ser instrumentos nas mãos de Deus para serem canais do Espírito

Santo para a regeneração (novo nascimento) de

muitas outras vidas.

Por isso, quando não se perde este modo de

viver pela alma, em vez de se viver pelo espírito, perde-se também a possibilidade de se viver o

único modo que existe para se experimentar a

vida eterna, que é vivendo espiritualmente.

É preciso, pois aborrecer o nosso viver pela

alma, pela negação do nosso ego, cedendo lugar

a um viver dirigido pelo Espírito.

Assim, os gregos também se converteriam a Ele,

mas no tempo próprio.

Isto aconteceu especialmente através do ministério de Paulo.

Importava agora que o Senhor fosse para a cruz, que o evangelho fosse primeiro pregado, depois

do Pentecoste, em Jerusalém, Judeia, Samaria, e

depois até aos confins da terra.

O Empenho Amoroso de Jesus Para Que

Sejamos Salvos - João 12

“27 Agora a minha alma está perturbada; e que

direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto

vim a esta hora.

34

28 Pai, glorifica o teu nome. Então veio uma voz

do céu que dizia: Já o tenho glorificado, e outra

vez o glorificarei.

29 Ora, a multidão que ali estava, e que a ouvira,

dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou.

30 Respondeu Jesus, e disse: Não veio esta voz

por amor de mim, mas por amor de vós.

31 Agora é o juízo deste mundo; agora será

expulso o príncipe deste mundo.

32 E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.

33 E dizia isto, significando de que morte havia

de morrer.

34 Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido

da lei, que o Cristo permanece para sempre; e

como dizes tu que convém que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do

homem?

35 Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está

convosco por um pouco de tempo. Andai

enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe

para onde vai.

36 Enquanto tendes luz, crede na luz, para que

sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e,

retirando-se, escondeu-se deles.”

A expectativa das coisas que brevemente deveria sofrer, fez com que o Senhor não

somente tivesse proferido a André e a Filipe as

palavras que lhes havia dito, em razão de ter

35

sabido que alguns gregos estavam interessados

em falar com Ele, como também O levou a se

angustiar pelo fato de ter avaliado o grande

custo que seria para Ele ter que ir para a cruz, carregando os nossos pecados sobre Si.

Tão terrível seria o sofrimento que O aguardava que a sua alma se angustiou a ponto de estar

convicto de que não poderia se livrar daquela

angústia porque não poderia pedir para ser

livrado pelo Pai das coisas que Lhe aguardavam, porque foi para aquele propósito mesmo que Ele

havia vindo a este mundo.

Ele se submeteu mansamente à vontade do Pai dizendo que Ele glorificasse o seu nome através

do seu sacrifício.

Deus respondeu com uma voz audível que

pareceu à multidão como se tivesse sido um

trovão, ou anjo que tivesse falado; dizendo:

“Já o tenho glorificado, e outra vez o

glorificarei.”.

Deus Pai estava sendo glorificado pelo Filho

através das coisas que estava fazendo através

dele, como por exemplo através da ressurreição

de Lázaro.

E receberia muito maior glória com a libertação

dos milhões de pessoas que sairiam do cativeiro

das trevas e de Satanás para o reino da sua luz, depois que o Filho fosse para cruz, e por isso lhe

foi dito que outra vez glorificaria seu nome

através dele.

36

Por esta razão Jesus disse que aquela voz não foi

propriamente por amor a Ele, mas por amor dos

homens.

Porque foi por amor que o Pai Lhe havia enviado

ao mundo para morrer no lugar dos pecadores.

Deus Pai levaria seu Filho à cruz por amor aos

pecadores, para que pudessem ser resgatados da morte eterna e serem reconciliados com Ele

através da mediação do seu Filho.

Jesus disse expressamente que aquela voz tinha a ver com o fato do juízo que seria imposto sobre

Satanás na cruz, porque Ele seria tirado da sua

posição de poder sobre as almas que ele vinha

trazendo cativas até então.

O evangelho seria pregado no mundo, e o poder

de Deus traria a liberdade àqueles que o Pai deu

ao Filho e que até então estavam debaixo do jugo

do diabo.

Isto seria feito em todas as partes do mundo

porque Satanás seria despojado do seu poder

quando Jesus morresse na cruz.

O diabo não seria, portanto, expulso da terra,

mas da sua posição de autoridade sobre as almas

daqueles que pertencem a Deus.

O diabo os trazia sujeitos por causa de estarem

debaixo do pecado, mas em Cristo eles não estão

mais debaixo do pecado, mas da graça que os

resgatou do pecado e da morte, porque Cristo se fez maldição na cruz, no lugar deles, para

resgatá-los da maldição, e assim foi desfeito

todo o poder que o Inimigo detinha sobre eles.

37

Depois que Jesus fosse levantado da terra, sendo

elevado na cruz (v. 32, 33), a humanidade seria

atraída a Ele pelo Pai.

Qualquer um poderia vir agora livremente a Ele

pela simples fé, porque consumaria

completamente a obra de resgate em seu favor com sua morte na cruz, de maneira que desfaria

a barreira de inimizade que havia entre eles e

Deus, por causa da natureza terrena

pecaminosa que se opõe a Deus.

Mas, como o pecado recebeu a sua sentença de

morte na cruz, foi resolvido para sempre o

problema que nos separava de Deus, de maneira que deixamos de ser inimigos de Deus, para nos

tornarmos seus amigos, por meio da fé em

Jesus.

Os incrédulos da multidão que ouvia Jesus dizer

estas coisas rechaçaram o fato dele ter dito que

deveria morrer, porque segundo a teologia

deles o Messias jamais morreria.

É certo que o Messias é eterno, mas importava,

pelas Escrituras, que padecesse e morresse no lugar dos pecadores, para se regozijar depois

com o fruto do penoso trabalho da sua alma.

Eles queriam saber quem era o Filho do homem e por que convinha que o Filho do homem fosse

levantado?

Estas coisas somente podem ser entendidas por iluminação do Espírito Santo.

Jesus é a luz do mundo.

38

Ele trouxe o conhecimento da verdade relativa à

nossa condição espiritual e o que é necessário

fazer para sermos salvos.

Mas tudo isto somente pode ser entendido

espiritualmente debaixo da iluminação do

Espírito Santo.

Por isso, o Senhor disse que convinha ser

levantado, não somente para a nossa

justificação, como também para que fôssemos

regenerados e santificados pelo Espírito que seria derramado depois da sua morte,

ressurreição e ascensão.

Aquelas pessoas e quaisquer pessoas de todas as

épocas devem crer na luz para que sejam filhos da luz.

Se não crermos nas palavras de Jesus, o Espírito

Santo jamais poderá fazer o seu trabalho de nos transformar em filhos da luz.

Jesus fez a luz da verdade raiar sobre aquelas

pessoas e logo em seguida retirou-se delas, escondendo-se, porque ainda importava deixar

instruções para os seus discípulos; cear com

eles, orar por eles e fortalecer-lhes a fé.

A Rejeição de Jesus Deu Cumprimento à

Profecia de Isaías - João 12

“37 E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele;

38 Para que se cumprisse a palavra do profeta

Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa

39

pregação? E a quem foi revelado o braço do

Senhor?

39 Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez:

40 Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o

coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu

os cure.

41 Isaías disse isto quando viu a sua glória e falou

dele.

42 Apesar de tudo, até muitos dos principais

creram nele; mas não o confessavam por causa

dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga.

43 Porque amavam mais a glória dos homens do

que a glória de Deus.

44 E Jesus clamou, e disse: Quem crê em mim,

crê, não em mim, mas naquele que me enviou.

45 E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.

46 Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo

aquele que crê em mim não permaneça nas

trevas.

47 E se alguém ouvir as minhas palavras, e não

crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para

julgar o mundo, mas para salvar o mundo.

48 Quem me rejeitar a mim, e não receber as

minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra

que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia.

49 Porque eu não tenho falado de mim mesmo;

mas o Pai, que me enviou, ele me deu

40

mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o

que hei de falar.

50 E sei que o seu mandamento é a vida eterna.

Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem

dito.”

João passou a expor a partir do verso 37 quais

foram os motivos que haviam levado os judeus a rejeitarem Jesus, conforme havia dito no início

deste seu evangelho que Jesus havia vindo para

o que era seu, mas os seus O haviam rejeitado.

Ele havia deixado de modo muito claro em toda

a sua narrativa, que fizera até esta altura, como os judeus haviam realmente amado as trevas e

assim, não tinham vindo para a luz para que as

suas más obras não fossem manifestas.

João mostrou também como alguns hipócritas

haviam professado crerem em Cristo, mas que

não praticavam a sua Palavra, e não se submeteram ao seu senhorio, porque amavam

mais a glória dos homens do que a glória de

Deus, como sucedera com muitos fariseus que

haviam confessado crer que Ele era o Messias mas que não deram um testemunho público da

fé deles, por temerem serem expulsos da

sinagoga (v. 42, 43).

Assim, ele conclui esta primeira parte do seu

evangelho mostrando como Jesus havia sido rejeitado, aceito, e até mesmo como fingiram

aceitá-lo, porque, do capítulo seguinte (13) até o

capítulo 17 João registrou quais foram as últimas

41

palavras e ações de Jesus junto aos seus

discípulos.

O Senhor já havia declarado expressamente aos judeus quanto à impossibilidade de muitos

deles aceitarem a sua Palavra.

Não seria pela realização de sinais, seja em

qualidade, seja em número, que tais pessoas se

converteriam ao Senhor.

Esta condição de endurecimento espiritual dos

judeus, foi profetizada por Isaías, em relação à

reação das pessoas ao evangelho, e que

resistiriam à mensagem da salvação:

“Senhor, quem creu na nossa pregação? E a

quem foi revelado o braço do Senhor?” (v. 38).

O motivo desta incredulidade foi declarado pelo

próprio Isaías:

“Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e

compreendam no coração, E se convertam, E eu

os cure.”.

O profeta Isaías fez esta afirmação quando viu a

glória de Jesus; quando estava à direita do Pai

nos céus, antes mesmo da sua encarnação quando veio a este mundo.

Os que resistem a Jesus são mantidos no seu

endurecimento porque Deus não pode lhes conceder graça para que vejam e entendam,

porque isto não pode ser feito com aqueles que

se recusam terminantemente a honrar o seu

Filho Unigênito, Jesus.

Por isso João fez um resumo da pregação que

Jesus fez continuamente em seu ministério

42

terreno nos versos 44 a 50, onde se destaca a

necessidade da fé nele para a salvação (v. 44),

porque crer nele é crer no Pai, porque foi

enviado pelo Pai sendo igual ao Pai, de maneira que aquele que o vê conforme convém ver (em

espírito), vê o Pai, porque Ele é a perfeita

imagem do Pai (v. 45).

Somente Jesus é a luz que veio ao mundo para

expulsar as trevas da vida daqueles que nele creem (v. 46).

Ele veio inaugurar uma nova dispensação, a da

graça, de maneira que neste período Ele não

está julgando o mundo para efeito de condenação, mas salvando aqueles que do

mundo se convertem a Ele (v. 47).

No entanto, rejeitá-lo e rejeitar suas palavras,

significa estar em posição de juízo para

condenação, o que há de se manifestar no dia do Juízo Final (v.48).

Ele foi enviado ao mundo pelo Pai para nos

revelar a vontade do Pai, expressada no

mandamento que dele recebeu de dar a vida

eterna a todo aquele que nele crer.” (v. 49, 50).

43

João 13

A Intimidade de Jesus é Para Aqueles que o Amam

“1 Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus

que já era chegada a sua hora de passar deste

mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.

2 E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no

coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que

o traísse,

3 Jesus, sabendo que o Pai tinha depositado nas

suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus,

4 Levantou-se da ceia, tirou as vestes, e,

tomando uma toalha, cingiu-se.

5 Depois deitou água numa bacia, e começou a

lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com

a toalha com que estava cingido.

6 Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, tu lavas-me os pés a mim?

7 Respondeu Jesus, e disse-lhe: O que eu faço

não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.

8 Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés.

Respondeu-lhe Jesus: Se eu te não lavar, não tens parte comigo.

9 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não só os

meus pés, mas também as mãos e a cabeça.

10 Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado não

necessita de lavar senão os pés, pois no mais

44

todo está limpo. Ora vós estais limpos, mas não

todos.

11 Porque bem sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos estais limpos.

12 Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas

vestes, e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?

13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis

bem, porque eu o sou.

14 Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés,

vós deveis também lavar os pés uns aos outros.

15 Porque eu vos dei o exemplo, para que, como

eu vos fiz, façais vós também.

16 Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado

maior do que aquele que o enviou.

17 Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” (João 13.1-17)

João registrou as palavras e os atos de Jesus,

especialmente durante a última ceia de Páscoa

que celebrou juntamente com os seus discípulos, nos capítulos 13 a 17 do seu

evangelho.

Nós temos um primeiro registro das coisas que aconteceram naquela tarde e noite em que ele

seria traído por Judas, a começar deste décimo

terceiro capítulo.

Aqui é descrito por João como o amor de Jesus

foi demonstrado por seus discípulos até mesmo

naquela hora de tensão e crise em que Ele sabia

45

que seria traído, e que sofreria horrivelmente

nas mãos de homens ímpios (v. 1).

O Senhor manteve a mesma serenidade de

sempre e a paz imperturbada de seu espírito e mente, conforme se pode ver nas coisas que Ele

fez e falou e que estão registradas nestes cinco

capítulos do evangelho de João (13 ao 17).

O amor de Jesus por nós não é alterado conforme as circunstâncias.

Nós podemos contar sempre com a sua

fidelidade e constância porque Ele nunca

muda.

Jesus tirou o seu manto e se cingiu com uma

toalha, e pegando uma bacia encheu-a com água

e passou a lavar os pés dos discípulos e os

enxugava com a toalha com a qual havia se cingido.

João disse que Ele fez isto, porque sabia que o Pai

tinha depositado todas as coisas em suas mãos,

e que Ele havia saído de Deus e estaria voltando para Deus.

O gesto de Jesus comprova que apesar do grande

respeito e reverência que os discípulos tinham

por Ele, não havia nenhuma formalidade ou dissimulação no relacionamento deles.

Ao contrário, isto nos mostra a liberdade,

intimidade e familiaridade que havia entre eles.

Uma Igreja que cresce desta forma é também bem-aventurada, como eram os discípulos no

relacionamento deles uns com os outros e com

o Senhor, porque eles conviviam pelos laços de

46

amor e amizade que haviam recebido do Senhor

e aprendido com Ele.

Agora, sabendo que deixaria este mundo, Jesus

aproveitou a oportunidade para lhes dar uma grande lição da humildade, que deveria haver

entre eles, na disposição mesma de fazerem até

os serviços mais humildes para demonstrarem

o amor que tinham uns pelos outros.

Pedro havia sido tomado de uma falsa

humildade e respeito ao Senhor quando lhe

disse que de modo nenhum deixaria que Ele lhe

lavasse os pés.

Jesus disse que Ele não estava entendendo o que

Ele estava fazendo naquela hora, mas que depois

entenderia, porque sendo um dos líderes do seu

rebanho, viria a aprender depois, como de fato aprendeu que os pastores devem servir às suas

ovelhas, estando dispostos a fazerem as tarefas

mais humildes, se necessário, em prol da

santificação das vidas do rebanho colocado debaixo do cuidado deles.

O Senhor havia feito uma relação entre o ato de

lavar os pés com o fato da grande lavagem de

pecados que ocorreu na regeneração dos apóstolos pela fé e prática da sua Palavra.

Então, ainda que tenha havido uma grande

transformação no nosso novo nascimento do

Espírito, há esta necessidade de progredirmos

em santificação, conforme o Senhor estava representando por aquele gesto de lavar os pés

dos discípulos.

Sem santificação ninguém verá o Senhor.

47

Isto pode ser inferido das palavras que Jesus

disse a Pedro, quando este se recusou a deixar

que Ele lhe lavasse os seus pés, porque Jesus

disse que caso Pedro continuasse se recusando, não teria parte com Ele.

Ora, sabemos que é exigido perseverança até o

fim em santificação, para a confirmação da

nossa salvação, isto é, nós permanecemos em Cristo, e participamos da sua vida, caso

tenhamos realmente participação espiritual na

sua vida divina.

É pelo crescimento na graça e no conhecimento do Senhor, que comprovamos que de fato

pertencemos a Ele, e é também deste modo que

podemos permanecer nele e Ele em nós, porque

sem santificação apagamos o fogo do Espírito Santo; e é este fogo que nos santifica.

Havia muito a ser aprendido pelos apóstolos

daquele gesto humilde de Jesus de lavar os pés

deles.

Obviamente, aquele gesto não se aplicava a

Judas porque não tinha sido regenerado.

Ele continuava escravo do pecado porque não

havia sido limpo pela Palavra como os demais.

Como então poderia ser santificado?

O Espírito santifica somente quem foi

regenerado.

Este não era seguramente o caso de Judas; por isso o Senhor disse que todos os discípulos

haviam sido purificados dos seus pecados,

exceto um, que era Judas.

48

Depois de lavar os pés dos discípulos Jesus se

assentou outra vez à mesa e lhes explicou o que

havia feito apesar de ser o Mestre e o Senhor

deles.

Se Ele, como Mestre e Senhor havia feito tal

gesto, quanto mais eles deveriam fazê-lo,

lavando os pés uns dos outros, porque isto é um

dever para todos aqueles que Lhe pertencem.

Ele havia dado um exemplo daquilo que

devemos fazer na condição de seus discípulos.

Nenhum servo é maior do que Ele, portanto não

está excluído do dever de cumprir esta regra do reino dos céus.

Felizes são aqueles que seguem o exemplo do

seu Mestre quanto a praticarem isto que Ele nos

ensinou.

Em sua infinita sabedoria Jesus fixou este exemplo de humildade extrema bem próximo

da sua partida deste mundo, que muito ajudaria

os discípulos a se manterem humildes e não

mais disputarem entre si qual seria o maior deles tanto na Igreja aqui neste mundo, quanto

no reino de Deus na glória.

Os evangelhos sinópticos registram que houve

uma disputa entre os apóstolos neste sentido justamente quando Jesus estava passando pelo

momento de aflição, que antecedeu o seu

sofrimento.

O exemplo que Ele havia dado faria um grande eco nas consciências e corações dos discípulos

de maneira que entendessem definitivamente

qual é o caráter do reino do Messias, que dá

49

graça a quem se humilha, e abate a quem se

exalta.

Judas Era Usado por Satanás - João 13

“18 Não falo de todos vós; eu bem sei os que

tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou

contra mim o seu calcanhar.

19 Desde agora vo-lo digo, antes que aconteça,

para que, quando acontecer, acrediteis que eu

sou.

20 Na verdade, na verdade vos digo: Se alguém

receber o que eu enviar, me recebe a mim, e

quem me recebe a mim, recebe aquele que me

enviou.

21 Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e

afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair.

22 Então os discípulos olhavam uns para os

outros, duvidando de quem ele falava.

23 Ora, um de seus discípulos, aquele a quem

Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus.

24 Então Simão Pedro fez sinal a este, para que

perguntasse quem era aquele de quem ele

falava.

25 E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus,

disse-lhe: Senhor, quem é?

26 Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o

bocado molhado. E, molhando o bocado, o deu a

Judas Iscariotes, filho de Simão.

50

27 E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse,

pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.

28 E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera

isto.

29 Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que

nos é necessário para a festa; ou que desse

alguma coisa aos pobres.

30 E, tendo Judas tomado o bocado, saiu logo. E era já noite.” (João 13.18-30)

Aqueles que Satanás planta como joio na Igreja para traírem a causa de Cristo, raramente

sabem que estão a serviço do Inimigo,

porque ele lhes ilude fazendo pensar que são

verdadeiros servos de Cristo.

Isto explica muito sobre o motivo que levou

Judas a se suicidar logo depois de ter traído

Jesus.

Satanás o abandonou e lhe acusou depois de ter

feito o uso que pretendia fazer dele, atacando-

lhe duramente a consciência e mostrando-lhe que não passava de uma fraude, e que nunca

tinha sido um verdadeiro apóstolo de Jesus.

Judas era uma árvore plantada pelo diabo na

Igreja.

Não era uma árvore que tivesse sido plantada

por Deus.

Assim, jamais poderia dar bons frutos.

Jesus nunca esperou qualquer bom fruto dele

porque sabia a árvore má que ele era.

51

Não se pode colher figos dos abrolhos.

A árvore é conhecida pelo seu fruto, e o de Judas

acabou se manifestando completamente no momento da traição de Jesus.

Jesus sabia que Satanás entraria em Judas e faria

por meio dele toda a sua vontade, para que o traísse.

Ele viu em Espírito aquilo que os demais apóstolos não puderam perceber.

Judas traiu Jesus com um beijo para dissimular

seu ato de traição.

Os traidores sempre usam esta estratégia de

chorar, de beijar, de abraçar aqueles que eles

estão traindo e aos quais trairão de forma ainda mais intensa quando Satanás se levantar para

usá-los de tal forma.

Aitofel também era amigo de Davi e compartilhava da sua intimidade, mas era

invejoso do rei, e quando se lhe deparou a

oportunidade de agir contra ele, logo se

apresentou a Absalão com o propósito de destruir Davi e arrancá-lo do trono no qual foi

colocado pelo Senhor.

Assim, como Judas, Aitofel também se suicidou depois de ter traído Davi, e nós sabemos agora

qual era a mão que estava por detrás de tudo

aquilo, a mão de Satanás.

Nossa luta não é contra os Aitoféis e Judas, mas

contra o diabo. Nossa luta não é contra a carne e

o sangue, ou seja, contra as pessoas.

52

É das ações do diabo através dos seus

instrumentos que devemos nos prevenir

através da oração e da fé no Senhor.

Judas poderia ao menos ter deixado a companhia de Jesus e dos apóstolos sem nada

fazer contra eles, e especialmente contra o

Senhor.

Afinal ele privava da intimidade deles, e comia à mesma mesa com Jesus.

É digno de destaque que o diabo entrou nele

justamente quando Jesus lhe deu o bocado de

pão para comer.

O bem que Jesus fez a Judas não lhe tornou melhor, mas pior, e assim ele odiou a quem

nunca lhe fez qualquer mal, senão somente o

bem.

E o Senhor dá grande honra àqueles que são por Ele enviados com a missão de pregarem o

evangelho ao mundo.

Aqueles que são enviados por Ele, quando são

recebidos pelas pessoas, é como se elas estivessem recebendo ao próprio Cristo, e a

Deus Pai que foi quem enviou seu Filho a este

mundo com a missão que seria agora realizada

pela Igreja.

Foi justamente quando estava proferindo estas

palavras de grande honra para os apóstolos, que

Jesus se turbou em espírito (v. 21), porque aquilo

não se aplicava a Judas, que apesar de ter sido escolhido pelo Senhor para estar entre os

apóstolos, não seria enviado por Ele como os

demais para cumprir a sua grande comissão de

53

irem por todo o mundo pregando o evangelho a

todas as pessoas.

Judas não somente não seria enviado, como

também seria aquele que haveria de traí-lo para

que se cumprissem as Escrituras.

Qual é o Tipo de Amor do Novo Mandamento?

João 13

“31 Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é

glorificado o Filho do homem, e Deus é

glorificado nele.

32 Se Deus é glorificado nele, também Deus o

glorificará em si mesmo, e logo o há de

glorificar.

33 Filhinhos, ainda por um pouco estou

convosco. Vós me buscareis, mas, como tenho

dito aos judeus: Para onde eu vou não podeis vós ir; eu vo-lo digo também agora.

34 Um novo mandamento vos dou: Que vos

ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.

35 Nisto todos conhecerão que sois meus

discípulos, se vos amardes uns aos outros.

36 Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde

vais? Jesus lhe respondeu: Para onde eu vou não podes agora seguir-me, mas depois me seguirás.

37 Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te

agora? Por ti darei a minha vida.

38 Respondeu-lhe Jesus: Tu darás a tua vida por

mim? Na verdade, na verdade te digo que não

54

cantará o galo enquanto não me tiveres negado

três vezes.” (João 13.31-38)

Tão logo Judas se retirou do meio dos apóstolos,

durante a ceia da Páscoa, Jesus disse

imediatamente que Ele estava sendo glorificado

e que o Pai também estava sendo glorificado nele.

Ora! Se Ele sabia que Judas saiu para traí-lO, qual

glória poderia ser resultante de um ato de

traição?

O Pai seria glorificado na morte do Filho, e seria

justamente a traição de Judas que precipitaria todas as ocorrências que culminariam na morte

do Senhor.

Como o Pai seria glorificado por causa do Filho

com a conversão de milhões de pessoas em todo

o mundo, então era de se esperar que o Pai

também glorificasse o Filho, e isto começaria logo depois da sua ressurreição, quando Ele

entrasse no céu com grande triunfo e glória pela

obra que havia consumado na terra, sendo

celebrado, honrado e adorado pelas potestades celestiais e pelos espíritos desencarnados dos

santos que haviam morrido antes da sua

ascensão, que aguardavam com grande expectativa por esta vitória sobre a morte,

porque disto dependeria a ressurreição futura

dos corpos deles.

Este foi um dos motivos de Jesus ter dito que

Abraão havia visto o seu dia de glória e se

55

alegrado, por causa da expectativa de tais coisas

que seriam cumpridas pelo seu Senhor e nosso.

Esta glória seria recebida por Jesus no céu, onde

os seus apóstolos não poderiam estar com Ele, pelo menos por algum tempo.

Mas, eles, de fato não poderiam testemunhar

todo o cortejo triunfal com que Jesus entrou nos

céus depois da sua morte.

Os seus mais diletos amigos não poderiam ver

isto, mas como era amigo deles e os amava Ele

lhes falou de todas estas coisas antes de partir

para a glória que O aguardava, para que também exultassem com Ele, e soubessem que as coisas

que Ele ainda teria que padecer, até à sua morte

na cruz, não significavam de modo algum, o

fracasso da sua missão, que era a mesma missão dos discípulos.

Foi nesta ocasião, em face da glória que haveria

de se seguir aos seus sofrimentos, e pelo

derramar do Espírito Santo sobre os discípulos como comprovação daquela glorificação que Ele

receberia no céu, que o Senhor lhes deu o novo

mandamento de se amarem uns aos outros,

assim como Ele lhes havia amado; isto é, eles deveriam se amar com o mesmo amor de

comunhão espiritual que sempre existiu entre

Ele e o Pai.

Seria por este amor divino, celestial, que o mundo saberia que eles eram de fato seus

discípulos.

Eles sairiam com uma missão ao mundo.

Eles teriam uma mensagem para pregar.

56

Eles receberiam poder do Espírito para

testemunhar dele e da sua morte e ressurreição.

Mas, caso faltasse este amor entre eles, faltaria

tudo o mais, e Ele não seria glorificado.

Deus não pode ser glorificado quando falta a

unidade e a comunhão espiritual, no Espírito.

Os apóstolos haviam aprendido do Senhor o modo como deveriam viver neste amor, mas

deveriam crescer nisto.

Deveriam avançar para o alvo da maturidade em

Cristo, que é, sobretudo amadurecimento no

seu amor divino.

Isto não se aprende nos livros, mas na prática da

vida. Na submissão à vontade do Senhor e à sua Palavra, num espírito quieto e manso que é

agradável a Deus.

O brilho da face de Cristo deve ser visto também

nos rostos dos cristãos, porque sem isto, não é

possível cumprir o novo mandamento que Ele nos deixou.

É importante lembrar que Ele falou deste novo

mandamento do amor no contexto das palavras

que havia proferido acerca da sua glorificação

nos céus, e no ajuntamento futuro de todos os seus discípulos no céu para participarem da sua

glória.

Pedro não entendeu a que tipo de amor Jesus

estava se referindo, e tentou demonstrar que o

seu amor por Ele era maior do que os de todos os demais discípulos. Já que Jesus havia falado de

amor, então Pedro na sua sinceridade quis lhe

demonstrar até que ponto ia o seu amor por Ele.

57

Ele insistiu em dizer que seguiria Jesus mesmo

depois dele ter-lhe falado que não poderia segui-

lo para onde Ele iria naquela ocasião, a saber,

para o céu, mas como não disse a Pedro para onde iria, Pedro disse que iria segui-lo até

mesmo dando a própria vida por ele.

Mas Jesus lhe respondeu que o galo não cantaria

naquela noite antes que Pedro lhe tivesse

negado três vezes.

O amor natural de Pedro não seria suficiente para mantê-lo firme na fé e perseverante em

confessar o Senhor mesmo diante do perigo de

perder a sua própria vida.

Mas Pedro não havia aprendido esta lição, e

teria que passar por ela de uma maneira muito dolorosa, para que jamais confiasse na carne.

Afetos, sentimentos, emoções, vontade, tudo

isto faz parte da alma e não do espírito.

Portanto, nada tem a ver com o amor

sobrenatural de Deus que é fruto do Espírito e

que é gerado no nosso espírito.

Pedro deveria aprender a andar no Espírito, e a

não confiar na carne, isto é, pelo seu ego (alma).

É somente estando fortalecido no Espírito, pela graça do Senhor que podemos cumprir o novo

mandamento que ele nos deixou.

Por isso quando o Senhor restaurou Pedro

depois de tê-lo negado, perguntando-lhe

também por três vezes se ele o amava, no grego, ele usou a palavra ágape (amor divino) nas duas

primeiras vezes, e como Pedro respondeu com a

palavra filéo (amor de amizade natural), Jesus

58

usou esta palavra “filéo” na última pergunta que

fez, e Pedro tornou a responder em sua

insegurança também com “filéo”, porque não

estava certo ainda de possuir o amor divino.

Jesus queria demonstrar a Pedro, que importa

ser amado com o amor espiritual, celestial e

divino, e não com o amor natural que é resultante de nossos afetos naturais, porque não

o conhecemos mais segundo a carne, mas

segundo o espírito.

59

João 14

As Moradas Eternas Celestiais

“1 Não se turbe o vosso coração; credes em Deus,

crede também em mim.

2 Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos

lugar.

3 E quando eu for, e vos preparar lugar, virei

outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para

que onde eu estiver estejais vós também.”. (João 14.1-3)

Com o passar do tempo, no conhecimento de

Cristo, descobrimos que a nossa alegria se

fundamenta nem tanto por sermos livrados de

nossas tribulações, mas por continuarmos a ter

a aprovação e a companhia do nosso único e melhor amigo, a saber, o próprio Senhor.

Por isso a expectativa de serem separados de

Cristo fez com que a tristeza penetrasse o

coração dos seus discípulos.

Mas, como nada escapa do conhecimento de Jesus, ele percebeu o quanto estavam tristes, e

lhes dirigiu palavras para reanimá-los, de

maneira que entendessem que não havia

motivo para se entristecerem com a sua partida, senão de alegria, porque afinal não os

abandonaria, e além disso, lhes enviaria o

Espírito Santo como cumprimento da promessa

60

feita por Deus a todos aqueles que se unissem ao

seu Filho.

Muitas coisas concorreram para a tristeza que

os discípulos estavam sentindo:

(1) Jesus lhes havia contado há pouco o

abandono que ele deveria receber de alguns

deles, e isto entristeceu a todos.

Pedro, sem nenhuma dúvida, deveria estar muito triste com o que Cristo lhe disse, e todos

os demais sentiram muito por ele e por eles

também.

Mas o Senhor os confortou acerca disso.

(2) Jesus tinha lhes contado há pouco sobre a sua

própria partida, e que isto ocorreria debaixo de

uma densa nuvem de sofrimentos.

Eles O veriam brevemente debaixo de sofrimentos que O conduziriam até a morte; e

esta espada atravessaria a própria alma deles,

porque muito o amavam e haviam deixado tudo

para segui-Lo.

Quando contemplarmos Cristo traspassado

pelos nossos pecados, nós não podemos deixar

de lamentar com tristeza, entretanto nós vemos

o fruto glorioso que decorre destes sofrimentos de Jesus por nós.

Mas eles não podiam ainda compreender isto o

tanto quanto nós o compreendemos, e como

viriam a compreender depois, conforme as próprias palavras que o Senhor lhes dirigiu

quanto à instrução que receberiam do Espírito

Santo.

61

Eles não compreendiam ainda a natureza do

reino do Messias, e pensavam que o Senhor logo

livraria a nação do domínio dos romanos e

restauraria o reino de Israel com a mesma glória, e ainda maior do que a que possuía nos

dias de Davi e Salomão.

Todavia, agora, Ele deixaria o mundo nas

mesmas circunstâncias de maldade e pobreza

nas quais eles tinham vivido, e pior, eles se

sentem totalmente derrotados.

Assim, se sentiam tristemente abandonados,

frustrados e expostos.

Eles souberam por experiência que nada

podiam fazer sem o Mestre deles.

Mas não sabiam ainda que nosso triunfo deve ser neste mundo, mas não para este mundo.

Deste modo, não há realmente motivo para

tristeza se somos fracassados nas coisas que dizem respeito a esta vida.

Contudo, Jesus lhes disse que não deixassem apesar de todos estes pensamentos e

sentimentos, que o coração deles ficasse

turbado.

O verbo usado no grego para turbar é “tarasso”,

que significa ficar inquietado, ansioso,

angustiado, perturbado, por temores e dúvidas.

Em outras palavras, Ele estava lhes dizendo que

não deixassem seus corações ficarem tristes por

causa das aflições.

Conforme diziam os puritanos: Embora a nação

e a cidade estejam turbadas, ou sua igreja, ou

sua família, contudo não deixe seu coração ficar

62

turbado. Mantenha a posse e controle de sua

própria alma, quando você não puder ter a posse

e o controle de nada mais.

O coração é a principal fonte de tudo o que você faz; por isso você deve mantê-lo firme com toda

diligência em toda e qualquer dificuldade.

É o espírito que tem que sustentar a fraqueza,

portanto, não permita que ele seja ferido.

Somos discípulos de Cristo, fomos escolhidos,

resgatados e santificados por Ele, e embora

outros possam ser vencidos com tristezas deste

tempo presente, não permitamos que se dê o mesmo conosco, porque aqueles que têm a

promessa de habitarem para sempre em Sião

com o seu Rei, não têm motivo para se deixarem

vencer pela tristeza, seja ela de qual ordem for.

Até mesmo a tristeza pelo pecado pode ser

resolvida pelo arrependimento e confissão, de

maneira que se viva debaixo do mandamento de

se estar sempre alegre em Cristo.

O remédio que Jesus prescreveu aos discípulos

para vencerem o tremor de seus corações, é o

mesmo que temos que tomar, a saber, a fé em

Deus.

Ele lhes disse que cressem no pai e que cressem

também nele.

Creia na providência de Deus e creia na

mediação de Cristo.

Construa sua confiança nos grandes princípios

revelados na Palavra, especialmente nas

promessas que Deus nos deu pelo Filho.

63

Deus é santo, sábio, poderoso e bom, e governa

todas as coisas, e não há nenhum evento fora do

seu controle.

É do agrado de Deus que aprendamos a descansar nele em meio às nossas dificuldades

em plena confiança, com fé inabalável na sua

providência e cuidado.

Isto lhe traz grande honra e glória, e este é um dos motivos pelos quais permite que passemos

por aflições neste mundo.

Se fôssemos deixados aos nossos próprios

recursos, teríamos então motivo para ficar abatidos e entristecidos, mas tendo a promessa

de que nunca seríamos abandonados por Deus,

por sermos seus filhos, a recusa de lhe dar

louvor e glória mesmo nas aflições, é uma grande ingratidão e prova de incredulidade, que

muito o desonra.

Crer no Pai e no Filho é o melhor remédio para

curar o coração aflito. Ficar firme na fé em nada duvidando de que o Senhor está ao nosso lado

controlando a medida da nossa aflição, e fará

com que permaneçamos na esperança e no

amor de Deus e este é o único e o melhor remédio na hora da tribulação.

A promessa para o justo é que viverá pela fé.

A vida eterna de Cristo saltará em toda e

qualquer circunstância, a vida abundante que

Ele nos dá, quando nos mantemos firmes na fé na providência do Pai e na sua mediação como

nosso Sumo Sacerdote e Advogado à direita do

Pai.

64

A fé é direcionada para o céu, para as moradas

celestiais que o Senhor foi preparar para nós.

Ela não está ancorada em nada deste mundo que passará, mas no céu e nas coisas que não podem

ser abaladas ou removidas.

A nossa fé em Cristo não é somente para esta

vida. É muito mais para a vida ainda por se

revelar em nós no por vir.

“Se é só para esta vida que esperamos em Cristo,

somos de todos os homens os mais dignos de

lástima.” (I Cor 15.19).

É com a promessa da vida eterna da qual

estamos tomando posse pela fé que devemos

nos encorajar mutuamente em todas as nossas

aflições.

Há muitas mansões celestiais preparadas pelo

próprio Cristo para receber os que são seus,

depois de terem triunfado pela fé sobre todas as tribulações deste mundo (v. 2).

A felicidade eterna do céu é representada por muitas mansões na casa do Pai.

O céu é uma casa, não uma tenda, é uma casa

não feita por mãos humanas.

Era para a casa do Pai que Cristo estaria subindo

agora, como o irmão primogênito de todos os

verdadeiros cristãos, os quais serão bem-vindos na mesma morada, depois de terem deixado

este mundo: a casa do Rei dos reis e Senhor dos

senhores, que habita na luz inacessível, que

habita na eternidade.

Há habitações distintas reservadas para cada

um dos filhos de Deus.

65

Jesus poderia ter omitido a existência das

mansões do céu, mas para confortar os

discípulos lhes fez esta revelação agora,

dizendo-lhes que caso não fosse assim Ele lhes teria dito, entretanto, como tudo o que lhes

havia dito até então era verdadeiro, seria

impossível que lhes estivesse mentindo agora, porque Ele mesmo é a Verdade.

Com este “se não fosse assim” o Senhor quis

deixar bem claro para eles e para todos nós, seus

discípulos, que não estava falando de alegorias

ou figuras, mas de realidades que desfrutaremos no tempo apropriado.

Com esta promessa Jesus estava mostrando aos

discípulos que não foi em vão que eles haviam

abandonado tudo para segui-lo. A esperança deles não seria frustrada, e a recompensa da

fidelidade seria dada com certeza absoluta.

Ele tinha que deixar este mundo e subir ao céu

para afiançar o direito que havia conquistado para nós como nosso Advogado.

Ele entraria como nosso precursor na posse da

nossa herança comum.

O homem não foi criado para pertencer ao mundo, mas ao céu.

Estamos aqui de passagem, como peregrinos e

forasteiros.

A promessa feita por Jesus no verso 3: “virei

outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”, é uma

referência ao arrebatamento da Igreja, quando

se completará plenamente a promessa de estar

66

toda a família reunida no céu, e quando os que

morreram em Cristo terão seus corpos

ressuscitados, transformados em corpos

glorificados, para o encontro com Ele entre nuvens, dando-se cumprimento à promessa

feita aos que Lhe pertencem.

Muitas Escrituras falam do retorno de Cristo para o estabelecimento do reino de Deus em sua

forma final (Fp 1.23; 4.5; Tg 5.8; I Tes 4.17; II Tes

2.1; João 17.24; etc).

Jesus É o Caminho para a Verdade e a Vida

Eterna - João 14

“4 Mesmo vós sabeis para onde vou, e conheceis

o caminho.

5 Disse-lhe Tomé: Senhor, nós não sabemos

para onde vais; e como podemos saber o

caminho?

6 Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade

e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.

7 Se vós me conhecêsseis a mim, também

conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.

8 Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai, o

que nos basta.

9 Disse-lhe Jesus: Estou há tanto tempo

convosco, e não me tendes conhecido, Filipe?

Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai?

10 Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai

está em mim? As palavras que eu vos digo não as

67

digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em

mim, é quem faz as obras.

11 Crede-me que estou no Pai, e o Pai em mim; crede-me, ao menos, por causa das mesmas

obras.” (João 14.4-11)

As declarações feitas por Jesus nos versos 1 a 3,

seguidas da afirmação feita no verso 4 de que os

discípulos sabiam para onde Ele iria e que

conheciam o caminho para lá, deram ocasião a que dois dos seus discípulos lhe abordassem

com indagações e dúvidas.

O primeiro foi Tomé que afirmou não conhecer

nem sequer o lugar para onde Ele ia, e muito menos poderia conhecer o caminho, numa

contradição direta ao que Jesus havia afirmado

de que eles conheciam tanto o lugar quanto o

caminho.

Como eles estavam sonhando com um reino

terreno a ser estabelecido pelo Senhor, não

seria de se estranhar que não soubessem para onde Ele iria.

Apesar de lhes ter falado várias vezes sobre o

céu, e o reino comum que teriam com Ele na presença do Pai, estavam endurecidos e não

podiam entender as realidades espirituais que

podem ser discernidas somente

espiritualmente.

Não se trata de se ter uma ideia sobre o céu, mas

de experimentar as realidades celestiais em

espírito.

68

A proposta de Deus para a Igreja através de

Cristo é vida eterna, e esta vida está no próprio

Cristo, e é somente por se estar nele que

podemos ser achados no caminho para o céu, porque Ele próprio é também o caminho, e não

há nenhuma incerteza quanto a isto, porque

tudo o que Ele diz e promete é verdadeiro, porque Ele próprio é também a verdade.

Todas estas coisas são testificadas pelo Espírito

Santo que habita nos cristãos.

É somente por meio da testificação do Espírito

Santo que podemos discernir estas realidades

celestiais, como também ter a plena certeza da esperança da participação delas, pelo antegozo

do céu, que o Espírito nos propicia ainda neste

mundo.

Por isso Jesus disse a Tomé, apesar dele tê-Lo

contraditado, que Ele é o caminho, e a verdade e a vida.

A afirmação de Jesus está cheia de significado,

porque sendo o caminho, Ele é o princípio;

sendo a verdade, Ele é o meio; e sendo a vida, Ele é o fim.

Em outras palavras: só podemos estar

caminhando na direção do céu se nos unirmos a

Ele, e esta união tem o seu meio e o modo, a

saber, estarmos na verdade, assim como Ele é a verdade, e finalmente, o objetivo desta união

com Cristo e deste viver na verdade atinge a sua

meta que é a vida eterna com Deus.

69

Somente a doutrina de Cristo é a única

verdadeira em relação ao significado da nossa

vida e do seu destino eterno.

Somente o seu ensino sobre o modo de se agradar a Deus e do modo de ser livrado da

condenação eterna é verdadeiro.

Por isso todo ensino que não se conforma à

doutrina de Cristo, é erro, engano, falsidade e desviará a qualquer que se deixe guiar por tais

doutrinas à perdição eterna, ou então fará que

tal pessoa caminhe longe do caminho do céu.

Sendo o próprio Cristo o caminho, e a verdade e a vida, é a presença dele em nós que faz toda a

diferença.

Não importa tanto, o que eu creia, porque se

Cristo não permanece em mim e eu nele, terei errado o alvo proposto por Deus para mim.

É a própria participação da sua vida que nos

santifica, e isto é verdadeiro nas palavras

proferidas pelo apóstolo Paulo de que não vivia mais ele, mas Cristo era a sua vida.

Daí a necessidade da autonegação determinada

por Jesus a todos os que desejarem ser

verdadeiramente seus discípulos.

Eles terão que abandonar o governo de suas

vidas para que Cristo assuma o comando.

Onde e em quem isto não estiver ocorrendo,

terá sido perdido o caminho, e se entrado por um atalho de perdição. Por isso precisamos

aprender a verdade como está em Jesus (II Cor

1.20).

70

Por isso Jesus disse que ninguém pode ir ao Pai

senão por Ele.

É somente Ele, pelo seu sacrifício, que pode nos

aproximar do trono da graça, ao qual nos é ordenado que nos aproximemos

continuamente.

Afinal, fomos criados para estar

permanentemente na presença de Deus.

Quando Caim saiu da presença de Deus, saiu

para a morte espiritual eterna, e para viver no

pecado.

Afastar-se do Caminho que é Cristo, sem estar

nele em todo o tempo, sem permanecer nele, conforme é da vontade do Pai, significa morte

espiritual e viver no pecado.

Por isso nos é ordenado na Palavra que nos

aproximemos do Santo dos Santos, onde está o trono da graça, com um coração puro e sincero,

mas não por outro, mas pelo único e vivo

caminho que Jesus abriu para nós pela sua

própria carne (Hb 10.19-22).

Não há outro Mediador entre Deus e os homens,

e nem mesmo poderia haver, por tudo que se

exige do Mediador, quanto ao trabalho de unir a

parte ofendida (Deus) à parte ofensora (o pecador), de maneira que a parte ofendida

pudesse ficar plenamente satisfeita, pelo

trabalho tanto de expiação da culpa quanto da

transformação dos ofensores na essência mesma da natureza deles, de maneira que não

sejam mais achados como transgressores da lei

e da vontade de Deus.

71

Jesus fala do Pai como o fim tanto da nossa vida

quanto do seu trabalho (v. 7).

Todo nosso relacionamento com Ele tem por fim último a glória do Pai, e o seu inteiro agrado.

Ele afirmou que caso os discípulos Lhe tivessem

conhecido corretamente, e a sua missão, eles

também teriam conhecido ao Pai, porque afinal, tudo o que Ele fez não foi por sua própria e

exclusiva conta, mas para cumprir o mandado

do Pai de dar vida eterna aos que nele cressem.

Assim a sua doutrina que lhes havia ensinado

não era propriamente dele, mas do Pai que Lhe

havia enviado ao mundo para salvar os

pecadores.

Por isso podia afirmar que os discípulos desde

que estiveram com Ele, tiveram a oportunidade

de conhecer o Pai, porque quem via a Ele, Jesus,

via o Pai.

Filipe esteve tanto tempo com Jesus e não havia

feito grande progresso no conhecimento

adequado que deveria ter feito dele.

Não que Jesus não soubesse da dificuldade deles

para conhecê-lo, e não somente Filipe, mas a

repreensão passada em Filipe serve para nos advertir que é possível ser cristão, ter a

habitação do Espírito, e fazer muito pouco

progresso na fé, no conhecimento de Jesus pelo

crescimento na graça.

É preciso diligência, aplicação nos deveres

ordenados na Palavra, meditação na Palavra de

Deus, de maneira que possamos ter uma

72

compreensão cada vez maior das realidades

celestiais, espirituais e divinas.

Obras Maiores do Que as do Ministério Terreno de Jesus - João 14

“12 Na verdade, na verdade vos digo que aquele

que crê em mim também fará as obras que eu

faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai.

13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.

14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei.” (João 14.12-14)

Nosso Senhor não somente continuou

confortando os discípulos, como também lhes

revelou que para que tivessem poder suficiente para dar prosseguimento à obra para a qual

haviam sido designados, era necessário que Ele

morresse na cruz, ressuscitasse e partisse para

a presença do Pai, de maneira que pela inteira aceitação da sua obra feita em favor dos

pecadores, a promessa do derramamento do

Espírito Santo sobre todas as nações, conforme

prometido desde Abraão, pudesse ser cumprida por Deus.

Os seus discípulos seriam revestidos com poderes e dons espirituais suficientes para

ampliarem a obra de evangelização, que havia

sido iniciada pelo Mestre deles.

73

Assim, obteriam maiores vitórias pelo

evangelho do que as que tinham sido obtidas por

Cristo, enquanto Ele estava na terra.

Agora, nenhuma destas obras seria feita sem

que fossem humildes suplicantes a Deus em

nome de Cristo.

Não seria por causa deles, mas por causa da obra

e dos méritos de Jesus.

Não seria pelo próprio poder deles, mas pelo

poder do Espírito Santo, como resposta às suas súplicas humildes a Deus.

Deve ser assim, porque tudo que a Igreja fizer

deve ser para a glória de Deus e não para a glória dos homens, então todo o trabalho deve ter a

marca da realização do próprio Deus.

Daí a razão de Jesus ter instruído os seus

discípulos dizendo-lhes:

“13 E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o

farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.

14 Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o

farei.”

Este “eu o farei” não significa que qualquer

coisa que seja pedida será atendida, mas que tudo o que for efetivamente feito na Igreja como

resposta de oração em nome de Cristo, terá sido

feito de fato por Ele, e não pelos próprios

cristãos, de maneira que, como dissemos antes, o propósito do Pai ser glorificado no Filho, possa

ser cumprido.

74

Quem Ama a Cristo Guarda os seus

Mandamentos - João 14

“15 Se me amais, guardai os meus

mandamentos.

16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro

Consolador, para que fique convosco para sempre;

17 O Espírito de verdade, que o mundo não pode

receber, porque não o vê nem o conhece; mas

vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.” (João 14.15-17)

Aqui nestes versículos, Jesus revelou quem

seria o agente de todo o poder que seria

derramado sobre os cristãos: o Espírito Santo.

Ele não seria um mero poder ou influência, mas

um companheiro, um advogado, um “paracleto”, um consolador, que estaria unido

aos discípulos habitando neles, e não estando

apenas com eles.

Ele diz outro Consolador que seria dado pelo Pai,

porque Ele, o próprio Jesus foi o primeiro Consolador enviado ao mundo pelo Pai.

Seria um Consolador conforme Ele foi com eles,

porque é a terceira pessoa da Trindade, o

mesmo Deus, único e verdadeiro, que existe em

três pessoas, a saber, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

A promessa do envio do Espírito Santo, como

Consolador, foi vinculada por Jesus ao ato de os

discípulos comprovarem seu amor por Ele,

75

guardando os seus mandamentos (v. 15), isto é,

pela santificação de suas vidas pela Palavra que

lhes havia ensinado e pregado.

O Espírito Santo seria derramado sobre os que

haviam crido nele no dia de Pentecostes, depois

deles terem permanecido em oração unânime

durante 40 dias.

Na verdade, o Espírito, no seu trabalho de

Consolador, não pode consolar em comunhão

espiritual, os espíritos daqueles que não foram

por Ele regenerados (nascidos de novo do alto).

Primeiro Ele regenera e santifica e depois

consola, porque não pode fortalecer a quem vive

deliberadamente na prática do pecado.

Ele é um Consolador, bondoso, amigo, fiel,

incansável, perdoador, mas somente daqueles

que se aproximam de Deus com um coração

sincero, reconhecendo-se pecadores e necessitados de serem lavados de seus pecados.

Isto pode ser depreendido das palavras de Jesus

no verso 17 de que o mundo não pode receber o Espírito Santo.

Isto não quer significar que pessoas que estão no

mundo não possam chegar ao arrependimento e ao recebimento do Espírito como um dom de

Deus, mas que aqueles que continuam amando

o mundo de pecado estão impossibilitados de

receberem o Espírito Santo, porque Ele é dado somente àqueles que se arrependem do pecado.

Jesus não queria que os discípulos

demonstrassem o amor deles por Ele

76

entristecendo-se com o fato da sua partida, mas

guardando os seus mandamentos.

Não é com manifestações sentimentais e emocionais que demonstramos o quanto

amamos a Jesus, mas com demonstrações

vigorosas de obediência aos seus mandamentos.

Antes de encerrarmos esta seção devemos

registrar, que o Espírito Santo é derramado

como dom pelo Pai, mediante intercessão de

Jesus, porque Ele disse claramente que o Espírito Santo seria enviado pelo Pai por causa

da sua intercessão.

Amamos o Jesus Invisível - João 14

“18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.

19 Ainda um pouco, e o mundo não me verá

mais, mas vós me vereis; porque eu vivo, e vós

vivereis.

20 Naquele dia conhecereis que estou em meu

Pai, e vós em mim, e eu em vós.

21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me

ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me

manifestarei a ele.

22 Disse-lhe Judas (não o Iscariotes): Senhor, de onde vem que te hás de manifestar a nós, e não

ao mundo?

23 Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o

amará, e viremos para ele, e faremos nele

morada.

77

24 Quem não me ama não guarda as minhas

palavras; ora, a palavra que ouvistes não é

minha, mas do Pai que me enviou.” (João 14.18-

24)

Jesus amava seus discípulos e eles O amavam

em genuína amizade.

A presença dele entre eles era toda a alegria de suas vidas.

Então, assim como quando amigos de verdade

se separam por um período em razão de um

afastamento que lhes é imposto, sempre há a preocupação de que continuem se

comunicando, dando notícias um ao outro de

como têm passado.

Por isso, apesar da promessa de lhes enviar outro Consolador, Jesus lhes prometeu que Ele

voltaria a ter com eles, e começa a lhes mostrar

agora qual seria o tipo de relacionamento que

teriam com Ele.

Não seria mais um relacionamento segundo a

carne, mas segundo o espírito.

Isto é, Ele permaneceria invisível a eles, mas

seria a pessoa mais real na existência deles, porque se lhes manifestaria permanentemente,

e por seu turno, se ocupariam em todo o tempo

com a sua presença e vontade em seus

pensamentos.

Eles tinham a sua Palavra, os seus

mandamentos para guardarem e pregarem e

ensinarem ao mundo.

78

O Senhor continuaria operando entre eles, só

que dali por diante em espírito, e não mais

estando presente num corpo de carne e osso

como o deles.

Por isso o apóstolo Paulo diz o que lemos em II

Cor 5.16.

“Assim que daqui por diante a ninguém

conhecemos segundo a carne, e, ainda que

também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos

deste modo.” (II Cor 5.16).

Pedro fala do que Cristo que não vemos, mas que nós amamos:

“Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual,

não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso;” (I Pe 1.8).

Ele é invisível, mas é real. É pessoal. É amado. É

companheiro. É amigo sempre presente, que se manifesta a nós em espírito.

Assim, é também em espírito que devemos ter comunhão com Ele, com o Pai, com o Espírito

Santo, e uns com os outros.

Este conhecimento espiritual é invisível, mas é mais fundamentado, estruturado, duradouro do

que o conhecimento do que se vê com os olhos,

porque além da ilusão de ótica, há a ilusão de

julgamento.

Mas o conhecimento que é pelo Espírito e no

espírito, é verdadeiro e permanente, e não há

nele, nenhum engano.

Daí, o motivo de Deus, sendo a verdade e

verdadeiro, relacionar-se sempre conosco em

79

espírito, e por isso se diz que Ele busca

adoradores que o adorem em espírito e em

verdade.

Para ser em verdade deve ser em espírito.

Para ser em espírito, deve ser em verdade,

porque o Espírito Santo é Espírito de verdade, e

não opera e jamais operará mediante o que é

falso ou que não se conforme à verdade revelada por Deus.

Ele nunca colocará a sua chancela divina no que

for falso, mas somente no que for verdadeiro.

Por isso se exige um coração, reto, puro,

sincero, verdadeiro, na adoração a Deus, porque Ele rejeitará todo espírito que não apresentar

tais atributos, porque Deus é perfeitamente

santo e justo, e não pode compactuar com a falta de retidão.

Não é nada surpreendente que Jesus tenha dito

que os que têm corações puros são bem-

aventurados, porque é por esta condição de

pureza de coração que poderão ver a Deus.

Nenhum cristão é órfão porque tem ao próprio

Deus por Pai (v. 18) e Jesus tem feito a promessa

de manter esta paternidade por causa da obra

que fez em nosso favor de maneira que pudéssemos ser adotados como filhos de Deus

para sempre.

E, se ser órfão é perder a paternidade para

sempre, ficando sem pai no mundo, no caso do cristão, Jesus garantiu que isto jamais ocorreria,

porque por meio dele, Deus será para sempre o

nosso Pai.

80

É por isso que ainda que um cristão possa estar

triste por um breve tempo, contristado pelas

tribulações que forem necessárias ao seu

aperfeiçoamento, no entanto ele nunca está sem conforto, porque nunca estará órfão,

porque tem a Deus por Pai perpetuamente.

O próprio Jesus seria retirado dos discípulos em seu ministério terreno, por causa da sua breve

ausência entre o período da sua morte e

ressurreição, mas depois disto, estaria para

sempre com eles e com todos os que viessem a crer depois deles até a consumação dos séculos.

Isto significa, que jamais seremos

desamparados por Ele em nossa jornada terrena. Ele prometeu estar sempre ao nosso

lado assistindo-nos em nossas aflições neste

mundo.

O modo de garantirmos sua presença conosco,

do Pai e do Espírito Santo, é guardando a sua

Palavra, conforme Ele declarou aos discípulos

nesta seção do capítulo que estamos comentando (v. 21 a 23).

Esta é também a única maneira segura de

garantirmos a manifestação da sua presença em

nós e entre nós, a saber, guardando os seus mandamentos.

Aqueles cristãos que não honram a Palavra do

Senhor e que não se esforçam em diligência para conhecê-la e cumpri-la, não deveriam ficar

surpreendidos com o fato de o Senhor deles se

manifestar em suas vidas, não em confortos e

81

consolações, mas em correções disciplinadoras

da desobediência deles.

Como podem aqueles que conhecem a Cristo agirem como aqueles que não O conhecem e

não O Amam?

Qual foi a característica destacada por Jesus quanto àqueles que não O conhecem e que não

O amam? Não é exatamente por não guardarem

a sua Palavra? (v.24)

Como ousariam os verdadeiros cristãos desprezarem a Palavra do Senhor, sabendo o

quanto Ele a preza, e o quanto ela é fundamental

para a santificação deles? (João 17.17).

A Paz Eterna - João 14

“25 Tenho-vos dito isto, estando convosco.

26 Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que

o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo

quanto vos tenho dito.

27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso

coração, nem se atemorize.” (João 14.25-27)

Os discípulos seriam confrontados pelo vento

forte da tribulação ao verem não muito depois

de estarem ouvindo este discurso de Jesus, o

Mestre deles sendo duramente escarnecido e maltratado pelos homens até a morte de cruz,

então, com o intuito de fortalecê-los para aquela

hora, Jesus prosseguiu lhes confortando com

82

estas palavras, e aqui Ele destaca o fato de que o

Espírito Santo que lhes seria enviado pelo Pai,

em seu nome, lhes ensinaria todas as coisas e

lhes faria recordar tudo quanto havia dito.

Além disso, lhes deixou como promessa o

recebimento da sua paz em meio a todas as

aflições que sofreriam neste mundo, e por isso

não deveriam ficar com seus corações turbados, nem atemorizados.

O legado que Jesus deixou para os seus

discípulos quando saísse deste mundo não seria

ouro e prata, mas a sua paz.

Sobretudo a paz da reconciliação com Deus que

alcançamos por meio da justificação que é pela

fé no nome de Jesus (Rom 5.1).

Mas daí também decorre uma tranquilidade de mente pela certeza da nossa justificação diante

de Deus. Foi Jesus que adquiriu esta paz para nós.

Assim, o próprio Jesus se tornou da parte de

Deus para nós a nossa paz (Ef 2.14). Aqui Ele

justificou o título que lhe foi dado pelo profeta Isaías de Príncipe da Paz (Is 9.6).

Esta paz de Cristo é um legado que somente

podem receber aqueles que são filhos da paz,

porque demanda a reconciliação do pecador com Deus, de maneira a ser livrado da sua ira

que repousa sobre todo aquele que não foi

justificado do pecado.

É possível que até aquele momento, os discípulos não estivessem devidamente seguros

da profundidade da bênção que seria

conquistada por Cristo para eles com a sua

83

morte que ocorreria não muito depois de ter

lhes falado tais coisas.

Para lhes ajudar no entendimento desta

preciosa bênção da paz espiritual e eterna, pelo

livramento absoluto do juízo de condenação

divino, Jesus disse que esta paz que estava dando como legado não era como a paz do mundo, que

significa ausência de problemas e tribulações.

Há uma falsa paz passageira que até mesmo o

dinheiro pode comprar. Mas uma vez que a

pessoa sair deste mundo, se não tiver a Cristo

como seu Salvador, terá que enfrentar a ira de Deus no Juízo.

Deste modo, o coração do cristão não deve ficar turbado nem atemorizado por qualquer mal que

lhe possa ameaçar, porque todo cristão

verdadeiro já foi livrado do poder do mal por

Cristo, bem como da condenação eterna, por causa dos seus pecados.

O Caráter da Submissão Cristã - João 14

“28 Ouvistes que eu vos disse: Vou, e venho para vós. Se me amásseis, certamente exultaríeis

porque eu disse: Vou para o Pai; porque meu Pai

é maior do que eu.

29 Eu vo-lo disse agora antes que aconteça, para

que, quando acontecer, vós acrediteis.

30 Já não falarei muito convosco, porque se

aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem

em mim;

84

31 Mas é para que o mundo saiba que eu amo o

Pai, e que faço como o Pai me mandou. Levantai-

vos, vamo-nos daqui.” (João 14.28-31)

Jesus iria para o Pai. Ele retomaria a glória que

tinha com Ele desde antes da fundação do mundo.

Os discípulos deveriam exultar com isto em vez

de se entristecerem, sobretudo porque Jesus

lhes prometeu que voltaria a estar com eles

novamente, como vimos antes, em espírito.

É certo que Ele esteve com eles pelo espaço de quarenta dias depois da sua ressurreição, mas

lhes aparecia ocasionalmente, e certamente a

referência de que voltaria a estar com os

discípulos aponta para a sua manifestação espiritual àqueles que obedecem aos seus

mandamentos.

Jesus estava lhes passando todas estas

informações antecipadamente para que

pudessem reforçar a sua fé nele.

Afinal tudo o que havia predito quanto à forma

como sairia deste mundo de fato aconteceu, tal como havia falado aos seus discípulos.

O propósito disto, como afirmou, não foi

somente para consolá-los na tristeza, mas para

confirmá-los na fé.

Ao afirmar no final do verso 28 que o motivo da

alegria dos discípulos com a sua ida para o Pai consistia no fato de ser o Pai maior do que Ele,

significa que apesar da sua própria divindade

em semelhança em essência em tudo com o Pai,

85

na Trindade, tanto o Filho quanto o Espírito

Santo são submissos voluntariamente à vontade

do Pai.

Jesus declarou várias vezes que todo o seu

prazer era fazer a vontade do Pai.

Há na própria Trindade um belo exemplo da

submissão que é exigida dos cristãos.

O princípio do verdadeiro amor é submissão.

Onde há o desejo de prevalecer sobre o outro já não pode mais existir o amor.

A natureza do amor mesma chama por esta submissão implícita, este desejo de ouvir,

atender e servir ao outro.

Nisto Jesus nos deixou um exemplo perfeito do

caráter desta obediência em amor.

Estamos muito acostumados a ver submissão pelo modelo autoritário que há no mundo, mas

a submissão em amor nada tem a ver com isto, e

a este respeito Jesus havia alertado os discípulos

que aquele que quisesse ser o maior entre eles, deveria ser o servo de todos.

A grandeza do reino dos céus está em se fazer pequeno diante de seus próprios olhos, perante

aqueles que devemos nos colocar numa posição

de serviço.

O argumento de Jesus aos discípulos, de que

deveriam exultar com o fato de estar indo para o

Pai, que era maior do que Ele, baseava-se na afirmação de que havia uma relação

verdadeiramente filial de amor familiar entre

Ele e o Pai.

86

A sua ida para o Pai nesta condição tinha a ver

com os próprios interesses dos discípulos, pela

condição de serem também participantes da

família de Deus.

Note as palavras de Jesus no verso 31:

“Mas é para que o mundo saiba que eu amo o

Pai, e que faço como o Pai me mandou”.

Tamanha era a submissão de Jesus ao Pai, que foi revelado ao profeta Isaías que Ele se

deleitaria no temor do Pai:

“E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem

repreenderá segundo o ouvir dos seus

ouvidos.” (Is 11.3).

É de tal ordem o prazer que o Pai sente em

relação ao Filho por causa desta perfeita

submissão em amor, que nós o vimos

declarando isto toda vez que se referia a Ele, como por exemplo quando foi batizado por João

Batista:

“E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu

Filho amado, em quem me comprazo.” (Mt 3.17)

Em outra ocasião, quando se dirigiu aos apóstolos quando estavam com Jesus no monte

da transfiguração:

“E desceu uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e saiu da nuvem uma voz que dizia: Este

é o meu filho amado; a ele ouvi.” (Mc 9.7).

No verso 30, Jesus fez uma parada abrupta no seu discurso dizendo que já não falaria muito

com os discípulos porque o príncipe deste

mundo estava se aproximando, não para que ele

87

tivesse a precedência em ser ouvido, ao

contrário, porque ele não tinha nenhuma parte

a ver com ele.

Aquela era a hora que foi concedida ao diabo

para atuar não somente inspirando Judas a trair

a Jesus, como fazendo todo o levante de injustiças que culminariam com a sua morte na

cruz.

O Espírito Santo, conforme Jesus havia

prometido, conduziria os discípulos a toda a

verdade e lhes lembraria tudo o que Ele lhes

havia falado, razão porque não seria necessário tentar esgotar tudo o que eles precisavam ainda

aprender sobre o seu reino espiritual, e que

melhor aprenderiam quando o Espírito fosse

derramado no Pentecostes, passando a agir como um professor dentro deles.

A urgência daquela hora demandava a tomada

de providências para que tudo acontecesse conforme havia sido planejado pelo Pai. Jesus

estava agindo estritamente debaixo deste

planejamento e das ordens que recebia

diretamente do Alto. Bem fariam especialmente todos os seus ministros de não darem um só

passo que não tenha sido determinado por Ele,

seguindo o próprio exemplo que Ele nos deixou em seu ministério terreno.

Jesus provou o seu amor pelo Pai fazendo

somente aquilo que Ele lhe ordenava, e nós, pecadores, não raras vezes agimos

presunçosamente, pensando que nos é dada a

liberdade em nosso ministério de traçarmos os

88

planos gerais de ação de tudo o que

pretendemos fazer por nossa própria

deliberação e conta.

Quão distantes ficamos do exemplo que Cristo nos deu quanto ao modo correto de se servir a

Deus.

Todo ministério, toda obra que seja

verdadeiramente de Deus, já está traçada por Ele, e a nós cabe tão somente fazer tudo de

acordo com o que Ele tem determinado para

nós.

Paulo aprendeu esta lição de andar segundo o passo de Deus nas experiências que ele teve em

seu apostolado, como por exemplo quando

intentou evangelizar a Bitínia, mas foi impedido

de fazê-lo pelo Espírito Santo (At 16.7,8), e quando tentou evangelizar Jerusalém no início

da sua conversão e foi repreendido por Jesus,

porque não era ali a área que Deus havia

demarcado para ele para realizar o seu ministério (At 22.18).

89

João 15

A União Vital com Cristo

“1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o

lavrador.

2 Toda a vara em mim, que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais

fruto.

3 Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho

falado.

4 Estai em mim, e eu em vós; como a vara de si

mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em

mim.

5 Eu sou a videira, vós as varas; quem está em

mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem

mim nada podeis fazer.

6 Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam

no fogo, e ardem.

7 Se vós estiverdes em mim, e as minhas

palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que

quiserdes, e vos será feito.

8 Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.” (João 15.1-

8)

Nosso Senhor discursa relativamente ao fruto

que os seus discípulos deveriam produzir,

usando a ilustração de uma videira.

Jesus Cristo é a videira, a verdadeira videira.

90

A igreja que é o corpo de Cristo é uma videira.

Cristo é a videira plantada no vinhedo, e não

uma planta que nasce espontaneamente da

terra; ao contrário, Ele foi plantado na terra, porque o Verbo se fez carne.

A videira é uma planta que é cultivada por propagação, e por isso Cristo será conhecido

como salvação até aos confins da terra.

O fruto da videira honra a Deus e dá alegria aos homens, assim o fruto da mediação de Cristo é

melhor que o ouro (Prov 8.19).

Ele é a verdadeira videira, porque o oposto à verdade é a falsificação; e é somente nele que

podemos achar o fruto da verdade.

A fonte de vida, designada como videira, que é Cristo, produz a verdade que salva, e somente

nele podemos encontrar esta salvação

verdadeira, pelo conhecimento da verdade que

está nele.

Os cristãos são os ramos desta videira da qual

Cristo é a raiz.

A raiz é visível, e nossa vida está escondida com

Cristo; a raiz desta árvore de vida eterna (Rom

9.18), que difunde seiva a todos os ramos da videira e que os tornam férteis e frutíferos.

Todos os ramos, embora muitos se encontrem

todos eles ligados à raiz. Assim Cristo é o centro da unidade de todos os cristãos.

O Pai é o agricultor.

Embora a terra seja do Senhor, ela não

produziria nenhum fruto a menos que Deus a

trabalhe.

91

É Deus quem cuida de todos os ramos da videira.

Ele os limpa por poda, e provê todos os meios

necessários para que sejam frutíferos (I Cor 3.9; Is 5.1,2; 27.2,3).

Por isso devemos ser frutíferos, porque os

ramos estéreis (v 2) são lançados fora.

Há muitos que passam por ramos em Cristo,

contudo não dão frutos; porque estão ligados a

Ele apenas por uma profissão externa, e embora

eles pareçam ser ramos, eles logo secarão porque a seiva da videira não penetra no coração

deles.

Estes ramos não honram a Deus porque não podem dar fruto, ao contrário trazem

desonra ao seu nome.

Por isso serão cortados como Judas.

Mas Deus limpará os ramos frutíferos pela poda

para que produzam ainda mais fruto.

Note que a fertilidade adicional é a recompensa abençoada de uma vida fértil.

A quem tem mais se dará.

O que for fiel no pouco, sobre o muito será colocado.

A primeira bênção era ser frutífero; e ainda será

uma bênção ainda maior, porque está

determinada uma fertilidade ainda maior para os que estão dando frutos, e para tanto será

necessário que sejam podados, por

se lançar fora aquilo que for supérfluo neles e que esteja atrapalhando a sua frutificação.

Pela poda serão renovados, de maneira a terem

maior vigor e força para a frutificação.

92

Assim, na época apropriada o Pai tirará pela

mortificação do Espírito e pela Palavra, tudo

aquilo que necessita ser limpo na vida destes

cristãos frutíferos.

O Pai fará este trabalho como agricultor para a

sua própria glória.

Os benefícios que os cristãos têm através da

doutrina de Cristo, o poder pelo qual eles serão

trabalhados para terem um bom testemunho numa vida frutífera será a própria Palavra de

Cristo, que os limpou (v. 3).

A Palavra de Cristo é uma palavra distintiva que separa o precioso do vil, e foi por esta Palavra

que Judas ficou separado dos demais apóstolos,

porque não se firmou nela.

É por esta Palavra que os cristãos são

santificados (João 17.17). Esta Palavra é

quem purifica os nossos corações (At 15.9).

É pela Palavra que o Espírito refina os cristãos de

toda escória do mundo e da carne, e remove

deles todo fermento dos escribas e fariseus.

Quando a Palavra de Cristo habita ricamente no

coração do cristão ele fica santificado por esta

Palavra.

Seus pensamentos são direcionados para Deus,

seus objetivos de vida são centrados em Cristo,

a carnalidade e todo comportamento mundano são despojados, e o lugar deles é ocupado pelo

revestimento das virtudes de Cristo, em

pensamentos espirituais, celestiais e divinos.

93

O Espírito Santo se move num coração que está

assim tomado pelo amor de Deus, e por

sentimentos puros e elevados.

O contrário disto produz uma porta aberta para

as operações do Inimigo, porque ele acha um repouso seguro num coração impuro que seja

dominado pelo ódio, pela inveja, ciúme,

sensualidade e toda forma de obra da carne.

Nós comprovamos que somos limpos pela

Palavra, quando nós produzirmos fruto de

santidade.

Nisto nosso Pai será glorificado.

Para sermos frutíferos nós temos que

permanecer em Cristo.

Isto é um dever ordenado por Ele(v. 4).

Devemos permanecer (estar) em Cristo, em

comunhão espiritual, para que Ele permaneça

(esteja) em nós.

Veja que esta palavra foi dirigida aos que já eram

cristãos.

Exige-se constância nesta permanência no

Senhor para a frutificação.

Aqueles que são de Cristo têm que permanecer

nele. Ele nos convoca a estarmos nele por fé, e Ele estará em nós pelo Espírito.

Ele promete que da parte dele nunca falhará nesta união, pois tem dito que permanecerá em

nós caso permaneçamos nele.

Esta permanência será real na medida que tiver

a evidência de estarmos cumprindo os

mandamentos de Cristo, permanecendo na

94

sua Palavra que será luz para os nossos pés em

nossa caminhada neste mundo.

O ramo não pode ter vida separado da videira; de

igual modo a vida espiritual que está em Cristo

só pode ser experimentada se estivermos unidos a Ele permanentemente.

A necessidade de estar em Cristo tem a ver com

a nossa fertilidade (v. 4, 5). Ele diz que sem Ele

nada podemos fazer, mas se estivermos nele e suas Palavras em nós, daremos muito fruto.

Aquele que é constante no exercício da fé e

amor a Cristo, aquele que vive nas suas

promessas e é dirigido pelo seu Espírito, dará

muito fruto, e será muito útil à glória de Deus.

Há consequências fatais em abandonar a Cristo (v. 6):

"Se alguém não estiver em mim, será lançado

fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam

no fogo, e ardem."

Aqueles que pensam erroneamente que não

têm nenhuma necessidade de Cristo serão por fim também rejeitados por Ele.

Mas há um privilégio abençoado para aqueles

que frutificam em Cristo (v. 7):

"Se vós estiverdes em mim, e as minhas

palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que

quiserdes, e vos será feito."

Como nossa união com Cristo é mantida pela Palavra, onde estiver a Palavra de Cristo ali Ele

habitará.

Como nossa comunhão com Cristo é mantida

através da oração: Você pedirá o que quiser e lhe

95

será feito. Não há risco de pedirmos o que não

seja segundo a vontade de Deus quando se está

numa comunhão real e verdadeira com o

Senhor porque tudo o que sair da nossa boca estará debaixo da instrução e direção do Espírito

Santo, que na verdade é quem intercede por

nós, pois não há verdadeira oração que não seja no poder do Espírito (Ef 6.18).

Se o Senhor é o nosso deleite, a nossa alegria, o nosso agrado, todo desejo carnal dará lugar a

desejos santos e aprovados por Deus.

Se nós estivermos em Cristo, numa verdadeira e

íntima comunhão com Ele, guardando a sua

Palavra, nada lhe pediremos, que seja fruto de desejos interesseiros, egoístas, carnais, senão o

que é bom para edificação.

Buscaremos como Ele nos tem ordenado o

reino de Deus e a sua justiça e tudo o mais nos

será acrescentado. Estas coisas acrescentadas não precisam ser buscadas porque Ele tem

prometido que as acrescentará se buscarmos

diligentemente os interesses de Deus e do seu

reino.

Amados e Amigos - João 15

“9 Como o Pai me amou, também eu vos amei a

vós; permanecei no meu amor.

10 Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo

que eu tenho guardado os mandamentos de

meu Pai, e permaneço no seu amor.

96

11 Tenho-vos dito isto, para que a minha alegria

permaneça em vós, e a vossa alegria seja

completa.

12 O meu mandamento é este: Que vos ameis

uns aos outros, assim como eu vos amei.

13 Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.

14 Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu

vos mando.

15 Já vos não chamarei servos, porque o servo

não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de

meu Pai vos tenho feito conhecer.

16 Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos

escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis

fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele

vo-lo conceda.

17 Isto vos mando: Que vos ameis uns aos

outros.” (João 15.9-17)

O Senhor revelou aos apóstolos, com estas

palavras, qual é a maneira de permanecer no amor de Deus.

Ele mostrou que isto é possível somente quando

se faz a vontade de Deus, por se honrar e guardar

seus mandamentos.

Muitos têm falhado na comunhão que deveriam

ter com Deus e com seus irmãos, porque não consagram suas vidas ao Senhor, e assim não

são despertados pelo Espírito Santo, para que

possam conhecer ao Senhor e à sua vontade.

97

Por isso é que se nos ordena que cresçamos na

graça e no conhecimento de Jesus (II Pe 3.18),

porque esta é a única maneira de sermos

tomados de toda a plenitude do amor divino.

Sem esta capacitação espiritual que é recebida do Espírito Santo, quando nos consagramos nas

mãos de Deus, para fazer a sua vontade, é

impossível viver e permanecer no Senhor e no

seu amor.

Assim, Ele foi muito claro em nos dizer que é necessário guardar os mandamentos de Deus

para que se possa experimentar o seu amor;

porque o Senhor não manifestará a beleza da

sua intimidade e santidade àqueles que não Lhe honrarem, ainda que tenham nascido de novo

do Espírito.

Jesus havia dado seu próprio exemplo aos

apóstolos, em plena submissão à vontade do Pai,

e era esta a razão dele ser amado pelo Pai e de

sempre exultar e se alegrar em espírito em seu relacionamento com Ele.

É somente quando se vive neste amor e alegria

espiritual, que somos capacitados pelo Espírito a

darmos frutos espirituais para Deus, de maneira

que Ele seja glorificado através das nossas vidas.

O caráter deste amor divino é de amizade paternal, dele em relação a nós, e amizade

fraternal, de nós em relação a nossos irmãos, e

de amizade filial, de nós em relação a Deus.

Jesus demonstrou até que ponto esta amizade

espiritual pode nos levar, a saber, a dar a nossa

98

vida pelos irmãos, assim como Ele entregou a

sua vida por nós.

Ele não deu sua vida por nós somente na cruz,

mas no serviço amoroso e cuidadoso que tem

por cada um dos seus discípulos e que é demonstrado em manifestações reais das

operações das suas graças e bênçãos em nossas

vidas.

O Senhor não nos trata como escravos, mas

como amigos.

Ele nos revelou toda a verdade que está no seio do Pai.

Ele não age de maneira reservada com nenhum

daqueles que guardam os seus mandamentos.

Ao contrário, faz com que privem da sua

intimidade.

É pela nossa obediência ao Senhor que

provamos a nossa amizade a Ele.

Na verdade é impossível estar em relação de amizade com Ele sem esta obediência que Lhe é

devida em tudo.

Mal Rejeita o Bem - João 15

“18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do

que a vós, me odiou a mim.

19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o

que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o

mundo vos odeia.

20 Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o

servo maior do que o seu Senhor. Se a mim me

99

perseguiram, também vos perseguirão a vós; se

guardaram a minha palavra, também guardarão

a vossa.

21 Mas tudo isto vos farão por causa do meu

nome, porque não conhecem aquele que me enviou.

22 Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do

seu pecado.

23 Aquele que me odeia, odeia também a meu

Pai.

24 Se eu entre eles não fizesse tais obras, quais

nenhum outro tem feito, não teriam pecado;

mas agora, viram-nas e me odiaram a mim e a

meu Pai.

25 Mas é para que se cumpra a palavra que está

escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.” (João 15.18-25)

Jesus alertou seus discípulos, que não deveriam

se iludir esperando ser amados por aqueles que não amam a Deus e os seus mandamentos.

Ao contrário, eles seriam odiados.

Mas aqueles que guardassem seus mandamentos viveriam no seu amor.

Assim, eles deveriam estar preparados em seu espírito, para sofrerem perseguições no mundo,

assim como haviam Lhe perseguido antes deles.

O motivo desta perseguição seria exatamente a

semelhança com Ele, por causa da pregação fiel

da Palavra, que afirma a necessidade de

100

arrependimento do pecado e fê nele para a

salvação.

A arrogância, o orgulho, a prepotência farisaicos, não somente recusam reconhecer

esta verdade, como também, em muitos casos

se opõem a ela, na vã tentativa de fazer calar a

Palavra de Deus, a qual nunca foi, e jamais poderá ser detida, por qualquer poder, seja

deste mundo, ou das potestades espirituais da

maldade.

Satanás sempre se levantará em oposição a uma

obra verdadeira de Deus, porque não lhe agrada

nem um pouco perder pessoas, pela libertação

de Cristo.

O Espírito Santo É Invencível João 15

“26 Mas, quando vier o Consolador, que eu da

parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de

verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim.

27 E vós também testificareis, pois estivestes

comigo desde o princípio.”. (João 15.26,27)

Os discípulos não deveriam ficar intimidados

pelo ódio que receberiam do mundo, porque o Espírito Santo seria enviado para fortalecê-los e

dar testemunho através deles.

Não seriam propriamente eles que pregariam, mas o Espírito que falaria por eles.

O Espírito capacitaria os discípulos a cumprirem

a missão de darem testemunho de Cristo; e por

101

isso deveriam aguardar na cidade orando,

diariamente, até que fossem revestidos do

poder do Espírito, o qual desceu sobre eles no

dia de Pentecostes; e somente a partir de então saíram pregando o evangelho por toda a parte,

começando de Jerusalém.

Assim é o Espírito Santo que manterá a causa de

Cristo no mundo, apesar de toda oposição que

possa ser feita ao evangelho.

A promessa do Senhor Jesus tem sido

literalmente cumprida nestes dois mil anos de história da Igreja, porque o Espírito Santo tem

sustentando o testemunho do evangelho em

todo o mundo, a par de todas as perseguições e

oposições que os cristãos têm sofrido, inclusive até o ponto de muitos deles terem sido, e ainda

estarem sendo martirizados.

102

João 16

Jesus Animando e Encorajando os Discípulos –

Parte 1

“1 Tenho vos dito estas coisas para que vos não

escandalizeis.

2 Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a

hora em que qualquer que vos matar cuidará

fazer um serviço a Deus.

3 E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai

nem a mim.

4 Mas tenho-vos dito isto, a fim de que, quando

chegar aquela hora, vos lembreis de que já vo-lo

tinha dito. E eu não vos disse isto desde o

princípio, porque estava convosco.

5 E agora vou para aquele que me enviou; e

nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?

6 Antes, porque isto vos tenho dito, o vosso

coração se encheu de tristeza.

7 Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador

não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo

enviarei.

8 E, quando ele vier, convencerá o mundo do

pecado, e da justiça e do juízo.

9 Do pecado, porque não creem em mim;

10 Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me

vereis mais;

11 E do juízo, porque já o príncipe deste mundo

está julgado.

103

12 Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não

o podeis suportar agora.

13 Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade;

porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o

que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir.

14 Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.

15 Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos

disse que há de receber do que é meu e vo-lo há

de anunciar.” (João 16.1-15)

Antes de fazer a oração intercessória do

capítulo seguinte (cap 17), depois da qual se

dirigiu para o jardim do Getsemâni, Jesus fez

estas advertências finais aos discípulos, para

que entendessem que as perseguições contra o evangelho não cessariam, ao contrário, elas se

intensificariam muito, e eles deveriam ser

pacientes e perseverantes debaixo das aflições

que sofreriam.

A história dos mártires, especialmente da Igreja

Primitiva, nos primeiros trezentos anos da

história da Igreja bem comprova a exatidão desta profecia de Jesus.

Muitos cristãos foram mortos pelos judeus,

especialmente nos primeiros anos de existência

da Igreja, e eles pensavam que estavam de fato fazendo um serviço para Deus, uma vez que

consideravam o cristianismo como sendo uma

perigosa heresia que visava destruir o judaísmo.

104

O Senhor alertou os discípulos; e o alerta que

lhes foi dirigido se aplica aos cristãos de todas as

épocas, para que não fiquem escandalizados

com o fato de receberem por vezes o mal, como paga de todo o bem que fizerem às pessoas.

Apesar de o evangelho ter sido pregado no

princípio nas sinagogas espalhadas por todo o mundo conhecido de então, assim que era

detectado pelos judeus que era o nome de Jesus

que estava sendo pregado; eles se levantavam

em dura oposição e perseguição aos cristãos, a ponto de o apóstolo Paulo ter decidido pregar

somente aos gentios, em face das duras

perseguições que estava sofrendo da parte dos

judeus.

Assim, todos os judeus que se convertiam ao

cristianismo eram expulsos das sinagogas, e isto

foi mais agravado na região da Judeia, especialmente em Jerusalém, por causa da

influência dos sacerdotes, fariseus e escribas

que se concentravam naquela região.

Jesus havia alertado os discípulos quanto a tudo

isto, para que, quando acontecesse, eles não

desistissem de pregar o evangelho em razão das

perseguições que eles sofreriam (v. 4).

Os discípulos de Jesus não devem ficar

ofendidos com a cruz.

A ofensa da cruz é uma tentação perigosa até mesmo para cristãos espirituais, porque

poderão ser tentados a recuar na fé ou na obra

de evangelização quando perceberem as fortes

105

oposições que recebem da parte do mundo

espiritual, capitaneadas pelo diabo.

Tempos de sofrimento são tempos de tentação.

O sofrimento é uma constante na vida daqueles

que estão empenhados numa obra que seja

verdadeiramente de Deus.

“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão,

para que sejais provados; e tereis uma tribulação

de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa

da vida.” (Apo 2.10).

O Senhor percebeu que em vez de ficarem estimulados, os discípulos se encheram de

tristeza ao ouvirem as suas palavras,

especialmente o fato de lhes ter dito que se

retiraria deles para ir para junto do Pai.

Em vez de tristeza, isto deveria ser um motivo de grande alegria, porque se Ele não fosse para o

Pai, o Espírito Santo não poderia ser derramado.

Se o Espírito não fosse derramado eles não

teriam o poder espiritual necessário para

cumprirem o ministério que havia sido

designado a eles por Deus.

Eles deveriam ver o céu azul do outro lado da nuvem escura que sempre os acompanharia.

Jesus disse que iria voltar para o seio do Pai, e

eles não manifestaram interesse em perguntar-

lhe o motivo desta ida, e as coisas maravilhosas

que diziam respeito a eles e que lhes seriam concedidas com a sua partida para ser

glorificado no céu, sendo a principal delas, o

envio do Espírito Santo para ser um Consolador,

106

amoroso, paciente e persistente em ajudá-los

em suas fraquezas, bem como no

aperfeiçoamento espiritual para estarem

também habilitados para habitarem no mesmo céu para o qual Jesus estaria indo, depois de

morrer na cruz e ressuscitar.

Seria o Espírito Santo, e não propriamente eles

quem convenceria o mundo do pecado, da

justiça e do juízo.

O convencimento do pecado não consiste tanto

na convicção das pessoas quanto às coisas erradas que elas pensam, falam e praticam, mas

que o pecado prevalece onde não há a fé

justificadora de Jesus.

A condição de incredulidade, de não se crer no

Senhor para a salvação, é o problema básico do

pecado, porque Deus está se revelando na dispensação do Espírito Santo, que é a da graça,

longânimo para com todos os pecadores,

estando disposto a perdoar-lhes todas as suas

iniquidades e transgressões (Jer 31.31-35), tão somente por se unirem a Cristo pela fé.

A vida do próprio Cristo os purificará e santificará completamente, de maneira que

sejam achados na glória, santos, perfeitos e

inculpáveis.

O Espírito não somente convence o mundo

revelando aos homens que eles são pecadores,

como também convence o mundo de que Cristo é justo, e que somente Ele pode ser a nossa

justiça diante de Deus, o que se comprova no

fato dele ter voltado para o seio do Pai em glória.

107

É o Espírito que nos dá este testemunho da

justiça que há em Cristo; justiça esta que Ele

tornou disponível para nós justificando-nos dos

nossos pecados, quando nos arrependemos e cremos nele.

A presença do Espírito no mundo tem desfeito

as obras do diabo, por causa da sentença de

despojamento que Ele recebeu da parte de Deus quando Cristo morreu na cruz.

As muitas coisas que Jesus tinha a dizer aos

discípulos, especialmente aquelas relativas às

particularidades deste trabalho do Espírito de convencimento do pecado, da justiça e do juízo,

foram deixadas por Ele para serem ensinadas

pelo próprio Espírito aos discípulos; porque,

afinal o Espírito não falaria de si mesmo, e nem traria uma nova doutrina, senão para dar

seguimento à missão de Cristo através dos

cristãos.

Jesus Animando e Encorajando os Discípulos –

Parte 2 - João 16

“16 Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para o Pai.

17 Então alguns dos seus discípulos disseram

uns aos outros: Que é isto que nos diz? Um

pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?

18 Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco?

Não sabemos o que diz.

108

19 Conheceu, pois, Jesus que o queriam

interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós

acerca disto que disse: Um pouco, e não me

vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis?

20 Na verdade, na verdade vos digo que vós

chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes, mas a vossa

tristeza se converterá em alegria.

21 A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas,

depois de ter dado à luz a criança, já não se

lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido

um homem no mundo.

22 Assim também vós agora, na verdade, tendes

tristeza; mas outra vez vos verei, e o vosso

coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.

23 E naquele dia nada me perguntareis. Na

verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, ele vo-lo há

de dar.

24 Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que a vossa alegria se cumpra.

25 Disse-vos isto por parábolas; chega, porém, a hora em que não vos falarei mais por parábolas,

mas abertamente vos falarei acerca do Pai.

26 Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;

27 Pois o mesmo Pai vos ama, visto como vós me

amastes, e crestes que saí de Deus.

28 Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o

mundo, e vou para o Pai.

109

29 Disseram-lhe os seus discípulos: Eis que

agora falas abertamente, e não dizes parábola

alguma.

30 Agora conhecemos que sabes tudo, e não precisas de que alguém te interrogue. Por isso

cremos que saíste de Deus.

31 Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?

32 Eis que chega a hora, e já se aproxima, em que

vós sereis dispersos cada um para sua parte, e

me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.

33 Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais

paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom

ânimo, eu venci o mundo.” (João 16.16-33)

O que Jesus estava sentindo naquela última ceia

com seus discípulos era como as dores de parto

de uma mulher que está prestes a trazer um

filho ao mundo; que é uma hora de aflições, tristezas e dores, mas que logo se transforma em

grande alegria, uma vez tendo dado à luz um

novo ser.

De igual modo a grande aflição que Jesus estava sentindo e que se intensificaria ainda mais até

morrer na cruz, daria à luz uma nova

dispensação, na qual seriam gerados muitos

filhos para Deus.

Assim tudo o que Ele lhes estava dizendo e que estava gerando tristeza no coração deles não era

motivo para ficarem desanimados, ao contrário,

em todas as suas aflições deveriam ter o bom

110

ânimo da fé de que o fruto que é gerado por elas

e através delas é um fruto precioso gerado pelo

próprio Deus.

Estes que nascem de novo, estes muitos filhos espirituais de Deus já não morrem, e viverão

eternamente com o Senhor deles, onde não

haverá mais luto, tristeza e dor.

Daí Jesus ter concluído este capítulo com as palavras do verso 33:

“Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais

paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom

ânimo, eu venci o mundo.” (v. 33).

Eles seriam dispersos por um tempo, quando Jesus estivesse padecendo diante dos

sacerdotes no sinédrio, e de Pôncio Pilatos, e do

escárnio e do açoite dos seus soldados, na

humilhação do carregar da cruz, e por fim na crucificação, mas deviam entender que aquilo

não significava uma derrota, mas uma vitória

sobre este mundo de aflições, de maneira que tivessem bom ânimo e se mantivessem em paz

nele, em comunhão com os seus sofrimentos.

Sofrimentos estes que completariam também

nas suas próprias aflições por amor ao

evangelho, mas como o seu Senhor deveriam ter paz e bom ânimo em tudo o que teriam que

passar neste mundo por causa do evangelho.

O fato de que não veriam mais o Senhor por um

pouco de tempo, porque Ele seria arrebatado da companhia deles por aqueles que o prenderiam,

açoitariam e crucificariam, não significava que

não o veriam mais, porque o veriam de novo,

111

porque ressuscitaria, e mesmo depois que

subisse aos céus poderiam vê-Lo, não mais

segundo a carne, mas em espírito, através da

presença do Espírito Santo.

O Senhor incentivou os discípulos a começarem

a se exercitar em orações dirigidas ao Pai,

fazendo petições em seu nome, porque eles se

alegrariam ao verem suas orações sendo respondidas por Deus.

Até pouco antes de sair para o Getsemâni, Jesus

vinha falando muitas coisas aos discípulos por

meio de parábolas, especialmente quanto à sua procedência do céu, e do seu retorno para lá,

uma vez que geralmente dizia simplesmente

que não sabiam para onde Ele iria, e que eles não

poderiam segui-lo naquela hora, mas agora Ele lhes fala claramente acerca do céu e do Pai (v. 27,

28).

Ele queria lhes mostrar que daquele momento

em diante o Espírito Santo lhes ensinaria de maneira direta tudo o que se referisse às coisas

celestiais, espirituais e divinas, porque Ele teria

a honra de remover inteiramente o véu que

permanecia sobre o mistério de Deus, que era o próprio Cristo, véu este que vinha sendo

mantido durante todo o período de vigência da

Antiga Aliança.

Então importava que muitas coisas fossem ensinadas por Jesus por meio de parábolas,

porque o véu seria inteiramente removido

somente a partir da inauguração da Nova

112

Aliança, a qual entraria em vigência somente

depois da sua morte na cruz.

Por isso Ele havia chamado o cálice de vinho

nesta última ceia de Páscoa que celebrara com

os discípulos de cálice da Nova Aliança feita no

seu sangue.

Ela seria selada com o sangue que Ele

derramaria na cruz, assim como a Antiga Aliança foi selada com o sangue de animais, por

Moisés.

Foi pelo mesmo motivo que o véu do templo,

que separava o Lugar Santo, do Santo dos

Santos, foi também rasgado de cima abaixo, para indicar que o véu da Antiga Aliança, que

impedia o conhecimento completo e direto da

verdade seria removido em Cristo, e este

trabalho seria feito pelo Espírito que seria derramado em todas as nações da terra.

Os apóstolos se alegraram de Jesus ter falado com eles daquela maneira direta e clara, e por

lhes ter dito que aquele seria o modo que Ele

trataria com eles dali por diante através do

Espírito Santo.

Ele lhes encorajou a começarem a orar pedindo

ao Pai em seu nome, de maneira que Eles poderiam falar diretamente com o Pai, e não

necessitavam mais pedir a Ele que rogasse, Ele

mesmo, por eles ao Pai, porque o caminho para

a presença do Pai seria aberto por Ele na cruz, de maneira que poderiam ser admitidos em

espírito no Santo dos Santos celestial, pelo novo

e vivo caminho que seria aberto.

113

João 17

A Oração Sacerdotal de Jesus – Parte 1

“1 Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu

Filho, para que também o teu Filho te glorifique

a ti;

2 Assim como lhe deste poder sobre toda a

carne, para que dê a vida eterna a todos quantos

lhe deste.

3 E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só,

por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a

quem enviaste.

4 Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a

obra que me deste a fazer.

5 E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo

antes que o mundo existisse.” (João 16.1-5)

Todo este capítulo é uma oração.

A oração que Jesus fez quando estava prestes a

ser traído por Judas.

É dito no início do capítulo seguinte a este, que

depois de Jesus ter feito esta oração. ele saiu

com os seus discípulos para o jardim do

Getsemâni, no qual seria traído por Judas, que conduziu guardas da parte dos principais

sacerdotes e fariseus até o local onde Jesus se

encontrava.

114

Com esta oração Jesus fechou a última ceia de

páscoa que havia celebrado com seus

discípulos, porque João diz que depois de ter

pronunciado estas palavras ele saiu para o outro lado do ribeiro de Cedrom, onde ficava o Jardim

do Getsemâni (Jo 18.1).

Jesus orou pelos discípulos e com eles.

Como esta foi a última oração que fizera por eles pouco antes da sua crucificação, os pedidos do

Senhor que estão nela contidos são

absolutamente essenciais.

Jesus pediu proteção ao Pai para os discípulos, de maneira que fossem guardados de se

desviarem da verdade.

Para isto seria necessário que fossem

santificados na verdade, de maneira que

pudessem ser mantidos em unidade, permanecendo na comunhão com Deus Pai,

com o Filho, e uns com os outros.

O Senhor pediu também que fossem feitos

perseverantes até à glória final, de maneira que pudessem também participar da sua própria

glória.

Todas estas coisas dependeriam da obra que

seria feita a partir da cruz, com a ressurreição, ascensão e glorificação de Jesus nos céus,

porque importava que o seu trabalho de

redenção fosse aceito pelo Pai, de maneira que

pudesse cumprir a promessa que fizera e que estava associada à sua glorificação, a saber, o

derramamento do Espírito Santo em todas as

nações.

115

Assim, não somente o Pai glorificaria o Filho,

com a glória que Ele tivera nos céus, antes

mesmo de ser formado o mundo, comprovando

que o seu retorno aos céus foi em vitória e em glória quanto à obra que lhe fora designada pelo

Pai para consumar na terra; como também o Pai

seria glorificado pelo Filho, pela muita honra e glória que receberia da parte daqueles que

começariam a ser salvos na terra, por causa da

obra realizada pelo Filho.

Esta obra que o Pai designou ao Filho é a de dar

a vida eterna àqueles que se encontram mortos

espiritualmente, e que sem a luz de Cristo, que

lhes dá a vida, seriam fatalmente condenados à morte eterna.

Mas o Senhor disse que apesar de Lhe ter sido dado poder sobre toda a carne, no entanto a vida

eterna seria concedida apenas a todos aqueles

que lhes foram dados pelo Pai.

Nenhum deles virá a se perder eternamente,

porque Jesus recebeu autoridade e poder do Pai

para que não perca a nenhum destes aos quais

foi dado pelo Pai, crerem nele.

Nenhuma ovelha será perdida, e o Senhor veio

buscar cada uma delas, porque a salvação ainda que individual tem um propósito coletivo, e isto

está demonstrado claramente no teor desta

oração que o Senhor fez no final da sua última

ceia com os discípulos, porque ela não foi feita para atender necessidades particulares e

individuais, mas para a consolidação de um

corpo espiritual, do qual Jesus é a cabeça.

116

Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 2 - João 17

“6 Manifestei o teu nome aos homens que do

mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra.

7 Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti;

8 Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente

conhecido que saí de ti, e creram que me

enviaste.

9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas

por aqueles que me deste, porque são teus.

10 E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas

coisas são minhas; e nisso sou glorificado.” (João

17.6-10)

Jesus orou de maneira muito clara quando disse

que não estava pedindo pela unidade do mundo

de pecado.

Caso o fizesse, o que é impossível, o mundo se

tornaria muito pior, pela união daqueles que

buscam praticar o mal e não o bem.

Então, Ele orou para que fossem santificados em

unidade espiritual, aqueles que servem à causa do bem, aos que Lhe amam e observam com

temor e reverência os mandamentos de Deus.

O Senhor Jesus afirmou em sua oração que tudo

o que Ele possui é do Pai, assim como tudo o que

é do Pai é dele, e nisto está a sua glória.

Isto significa que ninguém pode ser de Deus Pai

se não for de Cristo.

117

Aquele que rejeitar o Filho terá também

rejeitado o Pai, porque não é possível pertencer

a um deles sem pertencer ao outro.

A Oração Sacerdotal de Jesus – Parte 3 - João 17

“11 E eu já não estou mais no mundo, mas eles

estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para

que sejam um, assim como nós.

12 Estando eu com eles no mundo, guardava-os

em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu

me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o

filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse.

13 Mas agora vou para ti, e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em

si mesmos.

14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou,

porque não são do mundo, assim como eu não

sou do mundo.

15 Não peço que os tires do mundo, mas que os

livres do mal.

16 Não são do mundo, como eu do mundo não

sou.” (João 17.11-16)

Dos apóstolos de Jesus apenas Judas abandonou a comunhão em unidade espiritual que havia

entre os apóstolos.

Na verdade ele nunca havia chegado a participar

da mesma, porque não era um filho da salvação,

um filho da promessa, mas um filho da perdição,

118

um vaso para desonra, um vaso de ira, conforme

as Escrituras do Velho Testamento haviam

predito acerca dele.

Quando orou para que o Pai guardasse os discípulos para que fossem um, assim como Ele

era com o Pai, e para que continuassem unidos

em espírito como haviam vivido com Ele

durante seu ministério terreno, por causa das suas intercessões em favor deles, e pela

aplicação da Palavra da verdade em suas vidas,

Jesus não estava pedindo que fossem guardados

de se perderem definitivamente tal como Judas, porque isto seria impossível, mas para que não

viessem a esfriar e a apostatar da fé, ainda que

temporariamente, porque seria por meio deles

que as primeiras congregações cristãs seriam fundadas; e importava que fossem achados

firmes e crescendo na fé.

Quando o Senhor começou a fazer esta oração

de João 17, Judas tinha acabado de sair para traí-lo, e assim havia abandonado definitivamente a

companhia do Senhor e dos demais apóstolos,

retornando para o seu próprio lugar, a saber, o

mundo, porque ele nunca chegou a pertencer ao reino de Deus.

O Novo Testamento chama de mundo, em

sentido negativo, a todo o sistema pecaminoso

que se opõe à Deus e à sua vontade.

119

A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 4 - João 17

“17 Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a

verdade.

18 Assim como tu me enviaste ao mundo,

também eu os enviei ao mundo.

19 E por eles me santifico a mim mesmo, para

que também eles sejam santificados na verdade.”

A missão dos cristãos é a mesma de Cristo, na

verdade, é a continuidade da sua missão porque

Ele continua operando através deles.

Para cumprir a mesma missão que Cristo havia cumprido no mundo, necessitam de

santificação, e por isto o Senhor intercedeu

neste sentido nos versos 17 e 19.

Sem santificação é absolutamente impossível

ver uma obra de Deus entre nós que seja consistente, regular e permanente.

Na condição de Sumo Sacerdote da nossa fé

Cristo santificou a Si mesmo para oficiar no

tabernáculo celestial, assim como os sacerdotes

de Israel deviam se consagrar a Deus antes de serem admitidos no seu serviço.

O Pai chamou o Filho para ser Sumo Sacerdote

para sempre segundo a ordem de

Melquisedeque, e Ele se consagrou

completamente a este serviço, de maneira que tudo o que fez e que tem feito foi por um

completo e permanente compromisso com o

Pai e com os seus discípulos.

120

A santificação dos cristãos está garantida

porque há este compromisso da parte do Senhor

em realizar tal trabalho em nós para que

possamos cumprir a missão que Ele nos designou para levarmos a efeito neste mundo.

A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 5 - João 17

“20 E não rogo somente por estes, mas também

por aqueles que pela sua palavra hão de crer em

mim;

21 Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és

em mim, e eu em ti; que também eles sejam um

em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.

22 E eu dei-lhes a glória que a mim me deste,

para que sejam um, como nós somos um.

23 Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam

perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens

amado a eles como me tens amado a mim.” (João

17.20-23)

Jesus não orou somente pelos discípulos que se

encontravam com Ele no momento da sua oração, mas por todos os cristãos que viessem a

se converter pelo testemunho daqueles

primeiros discípulos, especialmente pela

pregação da palavra dos apóstolos, conforme a encontramos no Novo Testamento, que não é

propriamente a palavra deles, mas a palavra de

Deus.

121

Mais uma vez o Senhor orou pela unidade dos

cristãos, revelando o quanto ela é essencial para

o testemunho deles, de maneira que seja

produzido o convencimento do Espírito no mundo, quanto à unidade e amor espirituais que

há entre os cristãos, e assim as pessoas possam

ser despertados e convertidos através deste testemunho daqueles que já estão em Cristo.

Se Cristo orou pela unidade dos cristãos desta

forma, é nosso dever nos esforçar para preservar esta unidade do Espírito no vínculo da

paz.

É do Senhor que procede esta unidade, deste modo só será encontrada nas congregações nas

quais os cristãos estiverem andando no Espírito,

de maneira que toda a glória pela existência de

tal unidade seja reconhecida como sendo do Senhor (v. 22).

O caráter desta unidade é espiritual, porque é o mesmo tipo de unidade que há na trindade

divina.

O Pai e o Filho são de um mesmo sentir e pensar, e assim devem ser também os cristãos em suas

congregações.

Deste modo isto somente será possível se eles

andarem no Espírito e não segundo a carne.

Por isso o Senhor não orou por uma unidade social, parcial, acadêmica, ou seja, de qual

natureza for, senão unidade de fé, amor e

espiritual realizada pelo Espírito.

122

Uma unidade perfeita, isto é amadurecida, que

revele especialmente ao mundo o amor que há

entre Deus e os cristãos (v. 23).

É desta forma que o mundo é convencido que

Cristo está entronizado no meio do seu povo, e que de fato veio a este mundo para resgatar um

povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras.

A Oração Sacerdotal de Jesus - Parte 6 - João 17

“24 Pai, aqueles que me deste quero que, onde

eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque

tu me amaste antes da fundação do mundo.

25 Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu

te conheci, e estes conheceram que tu me

enviaste a mim.

26 E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei

conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.”

Com estas palavras Jesus encerrou a oração que fez no final da ceia de páscoa, que celebrara com

seus discípulos, antes de sair em direção ao

jardim do Getsemâni.

O seu pedido final ao Pai em favor dos cristãos

foi que estivessem com Ele no céu para que

pudessem ver a glória que Ele havia recebido do Pai, por causa da grande obra de salvação que

fizera por eles; glória que sempre tivera junto ao

Pai, antes mesmo da fundação do mundo.

123

Desde toda a eternidade, o Pai amou ao Filho e

eles decidiram expandir e compartilhar este

amor com muitos filhos semelhantes a Cristo.

Foi por eles e para tal propósito que o Senhor intercedeu pedindo ao Pai que estejam todos

reunidos na glória compartilhando dAquele

amor divino que sempre existiu entre o Pai e o

Filho.

O mundo de pecado nada sabia e sabe acerca

disto, e desta maneira não poderia dar qualquer

testemunho sobre a verdade pela qual o Senhor

estava orando; mas os cristãos têm experimentado este amor, pelo Espírito, como

os primeiros discípulos, e assim têm conhecido

que Jesus foi realmente enviado pelo Pai.

Somente o Filho e o Espírito Santo conhecem o Pai, e assim são os únicos que podem fazer com

que Ele seja conhecido.

Como este conhecimento é por uma

experiência real de comunhão espiritual e pessoal com Ele em amor, pelo Espírito Santo,

somente os que forem salvos por Cristo poderão

obter tal conhecimento que conduz à glória

eterna do céu.

A nossa fé e santificação têm grande recompensa.

O Senhor não confessará a ninguém diante do

seu pai e dos santos anjos na glória, que tenha se

envergonhado dele e de suas palavras neste mundo, ou que tenha negado o seu santo nome

por um viver segundo a carne, e não segundo o

Espírito.

124

O tempo se abrevia e o céu está mais perto de

nós do que antes, e é importante que vigiemos e

nos apeguemos às verdades que temos ouvido e

lido, de maneira que jamais nos desviemos delas e tenhamos completa recompensa na glória.

125

João 18

A Prisão de Jesus

“1 Tendo Jesus dito isto, saiu com os seus

discípulos para além do ribeiro de Cedrom,

onde havia um horto, no qual ele entrou e seus

discípulos.

2 E Judas, que o traía, também conhecia aquele

lugar, porque Jesus muitas vezes se ajuntava ali com os seus discípulos.

3 Tendo, pois, Judas recebido a coorte e oficiais dos principais sacerdotes e fariseus, veio para

ali com lanternas, e archotes e armas.

4 Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre

ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A

quem buscais?

5 Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-

lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava

com eles.

6 Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e

caíram por terra.

7 Tornou-lhes, pois, a perguntar: A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno.

8 Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixai ir estes;

9 Para que se cumprisse a palavra que tinha dito: Dos que me deste nenhum deles perdi.

10 Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo

sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o

nome do servo era Malco.

126

11 Mas Jesus disse a Pedro: Põe a tua espada na

bainha; não beberei eu o cálice que o Pai me

deu?

12 Então a coorte, e o tribuno, e os servos dos judeus prenderam a Jesus e o maniataram.”

(João 18.1-12)

Nós vimos que João registrou as palavras e atos

de Jesus durante sua última ceia de Páscoa, que

havia celebrado com seus discípulos, nos

capítulos 13 a 17 do seu evangelho.

João relatou os eventos relativos à prisão,

sofrimentos e morte de Jesus, nos capítulos 18 e 19; e os relativos à sua ressurreição nos capítulos

20 e 21.

Nos primeiros versos deste 18º capítulo (1 a 12)

são descritas as circunstâncias da prisão de

Jesus no jardim do Getsêmani.

Jesus havia voltado a Jerusalém na ocasião da Páscoa com o firme propósito de se entregar

voluntariamente como oferta de sacrifício

cruento pelos nossos pecados, porque Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Ele poderia ter procurado as autoridades de

Israel e se entregado a eles, porque, afinal,

estavam procurando prendê-lo pela falsa

acusação de ter cometido o crime de blasfêmia e quebra da Lei de Moisés, por estar curando em

dia de sábado.

No entanto, importava, segundo as Escrituras

que lhes fosse entregue por um ato de traição, e

127

que o prendessem por uma ação insidiosa e

injusta, de maneira que ficasse configurada a

corrupção deles.

Assim, as chaves do reino dos céus seriam tiradas definitivamente das mãos das

autoridades religiosas de Israel, e passadas para

aqueles que têm fé em Cristo, e também pela

instituição de uma nova aliança, cuja vigência revogaria automaticamente a antiga, sob a qual

aqueles líderes corrompidos de Israel regiam.

O ato de entrega das chaves do reino dos céus

por Jesus a Pedro, bem demonstra o que temos afirmado.

Elas haviam sido tiradas das mãos dos

sacerdotes, escribas e fariseus, e foram

entregues aos apóstolos do Senhor, representados na pessoa de Pedro, naquele

gesto de Jesus.

Os principais sacerdotes e fariseus haviam

ouvido a seguinte sentença que Jesus havia dado se referindo a eles na parábola dos lavradores na

vinha:

“Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino

de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” (Mt 21.43).

Eles não deixavam as pessoas entrarem no

reino, assim como eles não entravam, com as

suas práticas corrompidas e legalistas.

Eles continuariam com suas atividades religiosas, mas a glória de Deus já havia se

retirado há muito tempo do culto corrompido

que Lhe prestavam.

128

Para demonstrar que estava realmente se

entregando voluntariamente, Jesus fez com que

os soldados que vieram prendê-lo recuassem e

caíssem por terra, quando se identificou como sendo aquele a quem eles buscavam.

Ninguém poderia tocar-Lhe caso assim o

desejasse, mas importava que fosse preso, para

que fosse conduzido à morte de cruz.

Aquela demonstração de poder sobrenatural

tinha também por alvo gerar temor nos

soldados de maneira que atendessem ao pedido

de Jesus que se deixaria prender por eles caso deixassem livres os apóstolos, que se

encontravam com Ele.

Até o seu momento final o Senhor demonstrou

o seu grande cuidado e proteção para com aqueles que o amam.

Pedro tentou ainda reagir para impedir que

Jesus fosse preso tendo arremetido contra o

servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.

João não registra o fato, mas sim os evangelhos

sinópticos, que Jesus lhe restaurou a orelha que

havia sido cortada.

O reino de Deus não deve ser conquistado nem defendido pela espada, e por isso Jesus ordenou

que Pedro embainhasse a sua espada.

Nem ele, nem todos os exércitos deste mundo

poderiam ter impedido que Ele bebesse o cálice de sofrimentos que deveria sorver

completamente para vencer a morte, o pecado e

o diabo, quando morresse por nós na cruz.

129

A Negação de Pedro - João 18

“13 E conduziram-no primeiramente a Anás, por

ser sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote

daquele ano.

14 Ora, Caifás era quem tinha aconselhado aos

judeus que convinha que um homem morresse pelo povo.

15 E Simão Pedro e outro discípulo seguiam a

Jesus. E este discípulo era conhecido do sumo

sacerdote, e entrou com Jesus na sala do sumo sacerdote.

16 E Pedro estava da parte de fora, à porta. Saiu

então o outro discípulo que era conhecido do

sumo sacerdote, e falou à porteira, levando

Pedro para dentro.

17 Então a porteira disse a Pedro: Não és tu também dos discípulos deste homem? Disse ele:

Não sou.

18 Ora, estavam ali os servos e os servidores, que

tinham feito brasas, e se aquentavam, porque

fazia frio; e com eles estava Pedro, aquentando-se também.

19 E o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca

dos seus discípulos e da sua doutrina.

20 Jesus lhe respondeu: Eu falei abertamente ao

mundo; eu sempre ensinei na sinagoga e no

templo, onde os judeus sempre se ajuntam, e nada disse em oculto.

21 Para que me perguntas a mim? Pergunta aos

que ouviram o que é que lhes ensinei; eis que

eles sabem o que eu lhes tenho dito.

130

22 E, tendo dito isto, um dos servidores que ali

estavam, deu uma bofetada em Jesus, dizendo:

Assim respondes ao sumo sacerdote?

23 Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá

testemunho do mal; e, se bem, por que me

feres?

24 E Anás mandou-o, maniatado, ao sumo

sacerdote Caifás.

25 E Simão Pedro estava ali, e aquentava-se.

Disseram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.

26 E um dos servos do sumo sacerdote, parente

daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no horto com ele?

27 E Pedro negou outra vez, e logo o galo cantou.” (João 18.13-27)

Jesus foi preso como se fosse um malfeitor,

porque teve suas mãos amarradas.

Ele que não havia oferecido qualquer

resistência ao ser preso, e que não havia feito

nenhum mal a qualquer pessoa, e muito menos qualquer ato de violência, estava sofrendo agora

violência por parte daqueles que deviam

debelar a violência e promover a justiça.

Eles queriam passar uma impressão de uma

suposta periculosidade de Jesus ao terem-no

tratado daquela maneira, ao mesmo tempo em que procurariam agradar às autoridades que

lhes haviam enviado, porque bem conheciam o

ódio que elas sentiam por Jesus.

131

Eles exibiram Jesus como um troféu do triunfo

deles, levando-o à residência de Anás, porque

era sogro de Caifás, o sumo sacerdote indicado

para aquele ano.

Eles estavam em conselho há muito tempo para

verem como prenderiam Jesus e agora estavam

se deleitando com o triunfo deles.

No entanto, quando injustiças devem ocorrer, a providência divina se encarregará de conduzir

ao poder homens maus como Anás, Caifás e

Pilatos, para a própria ruína deles, de maneira

que nenhum justo tenha que deliberar contra a justiça.

Importava que Jesus fosse injustiçado, mas Deus

providenciou que isto fosse feito pelas mãos de

injustos, previamente preparados para aquela hora.

O triunfo daqueles homens foi a pior das ruínas

que poderia ocorrer a qualquer mortal, a saber,

a de condenarem o próprio Filho de Deus como um malfeitor digno de morte, por motivo de

inveja e ódio, e se baseando em acusações falsas

e injustas.

O sumo sacerdote era conhecido por um discípulo de Jesus, do qual João não citou o

nome, e nem com isto ele se desviou da maldade

que praticaria contra o Senhor.

Nós vemos nisto que Jesus terá discípulos até

mesmo na casa dos seus piores inimigos.

Ele sempre terá testemunhas em todas as partes

para que todos os que Lhe resistem sejam

indesculpáveis perante Ele no dia do juízo

132

quanto à sua incredulidade e maldade; assim

como lhes dá também a oportunidade de se

arrependerem pelo que virem no bom

testemunho dos seus servos.

Este discípulo de Jesus que era conhecido do

sumo sacerdote acompanhou o Senhor até a sua

sala, e sabendo que Pedro estava junto à porta,

do lado de fora, levou Pedro para dentro.

Jesus havia dito a Pedro que o galo não cantaria

naquela noite até que ele Lhe tivesse negado por

três vezes.

Pedro estava seguindo o Senhor porque disse que não o abandonaria de maneira nenhuma.

Nós temos nesta passagem a oportunidade de

ver que para o serviço de Deus, e para os laços de

comunhão eterna que devem existir entre os cristãos, o afeto natural é de pouco ou nenhum

proveito, porque não persistirá e não resistirá às

provas a que for submetido, assim como

ocorreu com Pedro, que negou veementemente que conhecia a Jesus, quando foi confrontado na

casa do sumo sacerdote.

Ele começou negando que conhecia Jesus logo à

entrada quando a porteira lhe perguntou se não era um dos seus discípulos (v. 17).

Quando o sumo sacerdote perguntou ao Senhor

acerca dos seus discípulos e da sua doutrina,

Jesus lhe respondeu que aqueles aos quais havia

ensinado poderiam responder por Ele.

Pedro certamente seria um destes, mas ele

estava atemorizado demais para fazê-lo, e

preferiu ficar se aquentando juntamente com os

133

servidores que haviam acendido um braseiro,

porque fazia muito frio naquela noite.

Jesus foi esbofeteado por um dos servidores por

ter respondido ao sumo sacerdote daquela maneira.

Mas o Senhor lhe perguntou por que lhe havia

esbofeteado uma vez que se tivesse falado mal, o

servidor deveria dar testemunho do mal que ele havia falado.

Na verdade Jesus não estava na obrigação de dar

qualquer resposta a Anás, porque ele não era o

sumo sacerdote principal naquele ano, mas Caifás seu genro, assim ele estava abusando de

sua autoridade ao interrogar Jesus, porque

deveria fazê-lo com um tribunal regularmente

instituído para tal, e ao ver que não conseguiu obter nenhuma informação privilegiada da

parte do Senhor, ele o enviou a Caifás, ainda

manietado, para demonstrar que Jesus não

havia obtido nenhum ato de misericórdia da sua parte.

Enquanto isto Pedro negaria ao Senhor mais

uma vez quando aqueles com os quais se

aquentava lhe perguntaram se ele não era um dos discípulos de Jesus (v. 25).

E, logo o negaria pela terceira vez quando foi

indagado por um dos parentes de Malco,

também servo do sumo sacerdote, se não o tinha

visto no jardim do Getsêmani juntamente com Jesus.

Assim que Pedro negou o Senhor pela terceira

vez, o galo cantou.

134

Jesus Entregue a Pilatos - João 18

“28 Depois levaram Jesus da casa de Caifás para a audiência. E era pela manhã cedo. E não

entraram na audiência, para não se

contaminarem, mas poderem comer a páscoa.

29 Então Pilatos saiu fora e disse-lhes: Que

acusação trazeis contra este homem?

30 Responderam, e disseram-lhe: Se este não fosse malfeitor, não to entregaríamos.

31 Disse-lhes, pois, Pilatos: Levai-o vós, e julgai-o

segundo a vossa lei. Disseram-lhe então os

judeus: A nós não nos é lícito matar pessoa alguma.

32 (Para que se cumprisse a palavra que Jesus

tinha dito, significando de que morte havia de morrer).

33 Tornou, pois, a entrar Pilatos na audiência, e

chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o Rei dos Judeus?

34 Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti

mesmo, ou outros te disseram isto de mim?

35 Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu?

A tua nação e os principais dos sacerdotes

entregaram-te a mim. Que fizeste?

36 Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo,

pelejariam os meus servos, para que eu não

fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.

37 Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus

respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso

135

nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar

testemunho da verdade. Todo aquele que é da

verdade ouve a minha voz.

38 Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo

isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.

39 Mas vós tendes por costume que eu vos solte

alguém pela páscoa. Quereis, pois, que vos solte

o Rei dos Judeus?

40 Então todos tornaram a clamar, dizendo: Este

não, mas Barrabás. E Barrabás era um salteador.” (João 18.28-40)

Aqueles líderes hipócritas de Israel não matariam Jesus por apedrejamento tal como

fariam depois com Estevão, e com muitos outros

cristãos, porque no caso de Jesus eles queriam dar uma satisfação aos romanos e lhes

agradarem pelo temor de serem acusados de

estarem tolerando insurreições em seu

território.

Nós lembramos que Caifás havia dado a “grande

ideia” de que importava que alguém morresse por toda a nação, em vez da nação ser destruída

por causa de uma só pessoa.

Eles conduziriam Jesus aos romanos, ao

representante deles (procônsul), responsável

pela região da Judeia, que naquela ocasião era Pôncio Pilatos.

Como era dia da Páscoa, os judeus não queriam

se contaminar entrando na casa de gentios,

ainda que fosse o pretório deles (audiência), de

136

maneira que não poderiam participar da ceia

pascal.

Eles tinham escrúpulos religiosos suficientes

para não se contaminarem cerimonialmente,

mas não o suficiente para não se contaminarem

com injustiças e assassinatos, agravado pelo fato de estarem conduzindo a uma sentença de

morte Alguém que sequer tinha qualquer

pecado. Eles sentenciariam à morte o próprio Deus.

Mas importava que tudo aquilo ocorresse, porque Jesus teria que morrer ao modo da

condenação dos romanos, que era naquele

tempo por crucificação.

A morte de cruz era o tipo de morte mais infame,

e assim os judeus desejavam marcar o Senhor

com a morte mais infame possível, para dissuadir pela intimidação a todos que

tentassem segui-lo, confessando-o como

Messias.

Eles não somente excluiriam tais pessoas das

sinagogas como também poderiam recorrer aos

romanos para que fossem crucificados debaixo da falsa acusação de que estavam se insurgindo

contra o imperador romano, afirmando que

serviam somente a outro rei chamado Cristo.

Jesus havia ensinado o respeito e submissão às

autoridades constituídas, e que se deveria dar a

César o que é de César, mas também a Deus o que é de Deus; de maneira que o culto de

verdadeira adoração a Deus não pode ser

impedido por César, porque isto não está na

137

esfera de deliberação de nenhum poder

constituído terreno, porque, na verdade

deveriam promover e defender a verdadeira

devoção ao Senhor, porque afinal as autoridades foram instituídas por Ele para garantir a ordem

civil.

Jesus nunca foi amaldiçoado pelo Pai, mas todos

os demais homens estão debaixo de maldição por causa do pecado original.

Ao ser elevado no madeiro Jesus seria feito

maldição de Deus, conforme está escrito na Lei.

Ele não tinha pecado, e assim a maldição que foi colocada sobre Ele foi a nossa própria maldição,

para que fosse removida na sua morte, de

maneira que estando identificados na sua

morte, morremos para a maldição que foi proferida sobre nós desde o Éden.

Pilatos interrogou Jesus lhe perguntando se Ele

era o Rei dos judeus.

E nosso Senhor deu a Pilatos a oportunidade de

ponderar a procedência daquela pergunta que lhe fizera quanto à legalidade de estar sendo

julgado por ele, porque os romanos não se

intrometiam nas questões religiosas das nações

dominadas por eles, desde que estas religiões fossem consideradas lícitas, como era o caso do

judaísmo, baseado na Lei de Moisés, Lei esta da

qual Jesus era o autor e a qual cumpriu

integralmente, e sobre a qual afirmou que não veio revogá-la.

Então, não seria da esfera da competência de

Pilatos julgar um caso religioso, porque o

138

Sinédrio tinha autoridade inclusive para

prender e matar judeus que agissem contra a

religião de Israel, conforme prescrito na Lei de

Moisés, até mesmo fora dos termos da nação deles, o que se comprova pelo fato de Paulo ter

saído em perseguição aos cristãos fora dos

termos de Israel, antes da sua conversão, com autorização do Sinédrio.

Jesus lhe perguntou se afirmara que Ele era o

Rei dos judeus, de si mesmo ou por ter sido

insuflado por outros.

Ele sabia que Pilatos afirmaria que não era judeu e que não foram os soldados romanos que lhe

haviam prendido.

Então ele estava respondendo indiretamente

que não lhe cabia de fato julgar um assunto de interesse exclusivo dos judeus, conforme ele

próprio havia afirmado em princípio, quando o

trouxeram à sua presença (v. 31).

A culpa de Pilatos foi mais agravada ainda, quando Jesus lhe disse que era de fato rei, e que

para estabelecer o seu reinado havia vindo a

este mundo.

No entanto, o seu reino não era deste mundo, o que se comprovava porque nenhum dos seus

seguidores estava lutando naquela hora para

fazer valer o seu direito de reinar.

Ele era rei de um reino espiritual nos corações,

e não terreno, e que não tinha qualquer influência nos interesses do Império Romano.

Jesus havia dito também a Pilatos que os súditos

do seu reino são aqueles que são da verdade, os

139

quais ouvem a sua voz, porque Ele veio a este

mundo para dar testemunho da verdade. Deste

modo, nem Ele, nem os seus súditos são

empecilho para qualquer governo deste mundo, senão bênção.

Pilatos perguntou ao Senhor ironicamente o

que era a verdade, mas Jesus nada lhe

respondeu, porque lhe havia dito que somente

os que são da verdade ouvem a sua voz, o que certamente não era o caso de Pilatos.

Assim o veredito de Pilatos não poderia ser

outro senão reconhecer que não havia

nenhuma culpa em Jesus que o tornasse digno

de morte.

Mas ele não queria contrariar as autoridades

judaicas, porque é comum que autoridades injustas troquem favores mutuamente ainda

que à custa da vida de inocentes.

Ele também temia que os judeus lhe acusassem

diante de César de que não estava sendo zeloso

dos interesses do Império, por tolerar que alguém afirmasse ser rei em competição com o

imperador romano.

Quando se tenta ajustar interesse político

incorreto com a verdade, dificilmente será

possível conciliar a ambos, e geralmente, a verdade padecerá, conforme ocorreria com

Jesus.

Tudo o que se relacionasse à sua morte seguiria

a trilha da injustiça para que Ele pudesse ser

feito justiça por nós.

140

Sendo inocente seria condenado injustamente,

de maneira que pudesse remover a culpa

daqueles que deveriam ser condenados

justamente por Deus.

Assim a substituição foi feita deste modo: Ele

era justo e foi condenado injustamente.

Nós éramos injustos e fomos livrados da

condenação justamente.

De maneira que a condenação que estava

reservada para nós foi colocada sobre Ele para que houvesse um motivo justo para a sua

condenação, uma vez que Ele não tinha

qualquer pecado.

A prova desta troca foi declarada de maneira

inequívoca na troca também injusta que os

judeus também fizeram optando por Barrabás, que era salteador, em vez do Senhor, que é

perfeitamente santo e justo.

Ele tomou o lugar que seria justo ser ocupado

por Barrabás e não por Ele.

Assim, é deste modo que todos os pecadores são

salvos, a saber, tomando Jesus o lugar deles,

para que eles possam estar no lugar de Cristo.

Se eles eram culpados, então Cristo se fez

culpado no lugar deles.

Se Cristo está em glória diante de Deus, então

eles também estarão em glória diante de

Deus.

141

João 19

Jesus Condenado por Pilatos

“1 Pilatos, pois, tomou então a Jesus, e o açoitou.

2 E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos,

lha puseram sobre a cabeça, e lhe vestiram

roupa de púrpura.

3 E diziam: Salve, Rei dos Judeus. E davam-lhe

bofetadas.

4 Então Pilatos saiu outra vez fora, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que

não acho nele crime algum.

5 Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de

espinhos e roupa de púrpura. E disse-lhes

Pilatos: Eis aqui o homem.

6 Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o,

crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e

crucificai-o; porque eu nenhum crime acho

nele.

7 Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma

lei e, segundo a nossa lei, deve morrer, porque

se fez Filho de Deus.

8 E Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais

atemorizado ficou.

9 E entrou outra vez na audiência, e disse a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.

10 Disse-lhe, pois, Pilatos: Não me falas a mim?

Não sabes tu que tenho poder para te crucificar

e tenho poder para te soltar?

142

11 Respondeu Jesus: Nenhum poder terias sobre

mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele

que me entregou a ti maior pecado tem.

12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo; mas os

judeus clamavam, dizendo: Se soltas este, não és

amigo de César; qualquer que se faz rei é contra

César.

13 Ouvindo, pois, Pilatos este dito, levou Jesus

para fora, e assentou-se no tribunal, no lugar

chamado Pavimento, e em hebraico Gábata.

14 E era a preparação da páscoa, e quase à hora

sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei.

15 Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o.

Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei?

Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César.”. (João 19.1-15)

Que tipo de juiz é aquele que manda açoitar

alguém de quem disse repetidas vezes que não

achou nenhum crime nele?

Pilatos era desta classe de juiz, quando

abusando da sua autoridade mandou que

açoitassem Jesus, e permitiu ainda que os seus soldados o ridicularizassem colocando sobre a

sua cabeça uma coroa de espinhos, e que o

vestissem com um manto de púrpura para que

fosse exposto à ignomínia pública por ter se declarado rei, e davam-lhe bofetadas enquanto

diziam debochadamente: “Salve, Rei dos

Judeus”.

143

Importava que Jesus fosse morto tanto pelas

mãos dos judeus, quanto dos gentios,

representados nos romanos, porque na verdade

ambos os povos foram culpados da sua morte.

Foi por causa da culpa do pecado de todos os

homens, tanto judeus, quanto gentios, que Jesus

teve que morrer na cruz.

Cada um de nós teve culpa pela sua morte, em razão de todos sermos pecadores.

Se não houvesse pecado no mundo, se todos os

homens fossem santos, justos e perfeitos, Jesus

não necessitaria ser elevado na cruz para pagar o preço da redenção dos nossos pecados.

Entretanto, a cruz sempre esteve no coração de

Deus, porque não é apenas o instrumento de

resgate de todos os seus filhos, que se

encontravam debaixo do pecado, mas também o instrumento de crucificação de todos os egos

daqueles que hão de ser achados no céu.

É somente pela mortificação do pecado pela

nossa cruz que podemos renunciar à nossa própria vontade, para escolhermos sempre a

vontade de Deus.

Assim, até mesmo o próprio Jesus sempre

carregou a sua cruz, antes mesmo de morrer numa cruz de madeira no Calvário, porque por

esta cruz Ele sempre se submeteu

voluntariamente à vontade do Pai, e nos

convida, a cada um de nós, a seguirmos o seu exemplo, tomando também a nossa própria

cruz, para que sejamos sempre achados fazendo

não a nossa vontade, mas a vontade de Deus.

144

O Calvário, além de ser um lugar de redenção, é

um lugar de instrução quanto ao modo que se

deve viver para Deus; porque é sempre pelo

princípio morte/vida que se encontra a verdadeira vida, que é a vida ressurreta que se

acha do outro lado da morte do nosso ego na

cruz.

Jesus suportou todas aquelas injustiças porque

importava passar por tudo aquilo, conforme era da vontade do Pai, para que pudéssemos ser

livrados do pecado e da morte.

Ele deu o exemplo supremo até que ponto

devemos estar prontos para fazer a vontade de

Deus, isto é, até à renúncia da nossa própria honra e vida.

Quando morremos para nós mesmos, para os nossos direitos, para que possamos fazer a

vontade de Deus, então podemos contar que

teremos o seu governo real sobre os nossos

espíritos, e é nisto que consiste a verdadeira vida, porque fomos criados para ter tal governo

do Senhor no nosso coração.

Era por causa desta obediência e submissão

perfeitas de Jesus à vontade do Pai que este

declarou que Ele era o seu Filho amado que Lhe dá muita alegria.

De igual modo Deus testificará a nosso respeito

quando andarmos no mesmo exemplo de

obediência e submissão à sua vontade.

Os líderes da religião de Israel, que deveriam

dar o exemplo de obediência e submissão a

145

Cristo, em vez disso clamaram juntamente com

os seus servos: “crucifica-o, crucifica-o”.

Em vez de tomarem as suas próprias cruzes, eles

mandaram Jesus para a cruz.

Toda vez que alguém se recusa a se arrepender

dos seus pecados e entregar-se a Cristo para

receber os benefícios da sua morte, esta pessoa está de novo clamando como aqueles judeus

que Ele deve voltar para a cruz, porque o desejo

deles é que Deus morresse para sempre, para que jamais tivessem que Lhe prestar contas dos

seus pecados.

Mas tendo Jesus morrido uma vez, já não morre

mais, e se encontra à direita do Pai, em glória, no

céu, de onde voltará para julgar a cada um dos

homens segundo as suas próprias obras.

A autoridade civil é ministro de Deus e por isso traz a espada para fazer a justiça, para castigo

dos malfeitores.

Entretanto, Pilatos excedeu-se na autoridade

que é conferida por Deus aos magistrados

quando disse a Jesus que tinha poder para livrar

da morte a quem quisesse, assim como para crucificar a quem ele também desejasse que

morresse. Ora, de quem ele havia recebido

poder para crucificar inocentes?

O poder que lhe foi dado por Deus certamente

não lhe foi conferido para este propósito, e assim teria que dar contas a Ele no dia do Juízo,

do mau uso que fizera do poder que havia

recebido.

146

Mas, a gravidade do pecado de Pilatos era menor

do que a dos principais sacerdotes de Israel que

haviam conduzido Jesus à sua presença lhe

pedindo que fosse crucificado, porque estes estavam fazendo isto em nome de Deus, e

violando as suas leis para fazê-lo.

Pilatos estava abusando da sua autoridade, e

eles estavam deturpando a autoridade do próprio Deus, distorcendo e deturpando a sua

Palavra para praticarem um crime horrível

contra a Pessoa do próprio Filho de Deus que

havia sido enviado a eles para que tivessem o privilégio de pregarem o evangelho em todo o

mundo, privilégio este que eles haviam

desprezado e rejeitado, de maneira que seria

dado aos gentios.

O esforço de Pilatos para tentar livrar Jesus da

morte não passou de uma encenação para que

não fosse constrangido junto ao Imperador para

responder pela morte de um inocente.

Ele estava agindo para estar em posição

confortável tanto junto ao Imperador romano,

quanto junto das autoridades judaicas.

Os judeus estavam dizendo que ele não seria amigo de César caso libertasse Jesus, porque

este afirmava ser também rei.

Ele não se exporia a ter que responder perante

César que havia libertado alguém que poderia se

tornar perigoso para Roma realizando um levante com seus seguidores.

Assim, ele entregou Jesus para que fosse

crucificado, ainda na parte da manhã daquela

147

sexta-feira, quando o sol havia se levantado

(hora sexta).

A Crucificação de Jesus - João 19

“16 Então, consequentemente entregou-lho,

para que fosse crucificado. E tomaram a Jesus, e

o levaram.

17 E, levando ele às costas a sua cruz, saiu para o

lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,

18 Onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.

19 E Pilatos escreveu também um título, e pô-lo em cima da cruz; e nele estava escrito: JESUS

NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.

20 E muitos dos judeus leram este título; porque o lugar onde Jesus estava crucificado era

próximo da cidade; e estava escrito em hebraico,

grego e latim.

21 Diziam, pois, os principais sacerdotes dos

judeus a Pilatos: Não escrevas, O Rei dos Judeus,

mas que ele disse: Sou o Rei dos Judeus.

22 Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.

23 Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus,

tomaram as suas vestes, e fizeram quatro partes,

para cada soldado uma parte; e também a túnica. A túnica, porém, tecida toda de alto a baixo, não

tinha costura.

24 Disseram, pois, uns aos outros: Não a

rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para

ver de quem será. Para que se cumprisse a

148

Escritura que diz: Repartiram entre si as minhas

vestes, E sobre a minha vestidura lançaram

sortes. Os soldados, pois, fizeram estas coisas.

25 E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a

irmã de sua mãe, Maria mulher de Clopas, e

Maria Madalena.

26 Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo

a quem ele amava estava presente, disse a sua

mãe: Mulher, eis aí o teu filho.

27 Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E

desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua

casa.

28 Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas

estavam terminadas, para que a Escritura se

cumprisse, disse: Tenho sede.

29 Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E

encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a

num hissope, lha chegaram à boca.

30 E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está

consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o

espírito.”

A inscrição que Pilatos colocou sobre a cruz de Jesus: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS,

era correta, apesar de ter mandado escrever

aquelas palavras com ironia, e também como

uma forma de lavar suas mãos por uma segunda vez, para tentar acalmar a sua consciência

culpada, porque teria sido aquele o motivo

suposto de ter condenado Jesus à morte de cruz.

149

Para mostrar para César que estava sendo zeloso

em preservar a sua coroa, livrando-o de

possíveis competidores.

Ele procurou diminuir a extensão do reinado de Jesus, limitando-o somente aos judeus,

conforme a inscrição que mandou fixar na cruz.

Só que ele não sabia que Jesus é efetivamente rei

somente sobre os que são verdadeiramente judeus, que não são necessariamente aqueles

que eram nascidos por condição natural da

descendência de Judá, um dos filhos de Jacó,

porque, por exemplo, os principais sacerdotes que haviam protestado contra aquele título que

havia sido colocado por Pilatos, não eram de fato

súditos do reino de Jesus, que será somente com

aqueles que são circuncisos de coração, e que compõem o verdadeiro Israel de Deus.

Jesus era da tribo de Judá, portanto também

judeu.

Assim, todos os que estão unidos à sua vida pela fé, são também judeus, porque a Cabeça deles, o

Rei deles, é judeu, e desde o Antigo Testamento

Deus havia prometido a Judá, através da bênção

profética que lhe foi dada por seu pai Jacó, que o cetro do reinado jamais se afastaria de Judá.

Então são estes judeus espirituais, que são

nascidos do Espírito, e não propriamente da

carne, que haverão de reinar para sempre com Cristo.

Assim, Ele é de fato o Rei dos judeus.

Os súditos deste reino não são admitidos por

condição de nobreza ou de qualquer

150

qualificação que tenham neste mundo, porque

apesar de João ter omitido este fato, houve a

conversão de um dos ladrões que foram

crucificados com Jesus, conforme vemos nos evangelhos sinópticos.

Ele havia libertado em seu ministério terreno, endemoninhados que haviam se convertido;

havia salvo uma prostituta na casa de um

fariseu, e continuaria admitindo através do ministério da Igreja outros súditos que são

considerados indignos pelo mundo, mas aos

quais Ele transformou em pessoas dignas pela

mudança operada em suas mentes e corações, pelo trabalho de regeneração do Espírito.

Bendito e maravilhoso Rei dos judeus que conquistou um reino para Si ao morrer naquela

rude cruz.

Um reino que Ele não conquistou pela força da

espada, mas pela força do seu grande amor e

misericórdia, que manifestou por nós, pobres

pecadores.

Digno de honra e de glória para todo o sempre é

Aquele que foi desonrado e escarnecido pelos homens e que suportou tamanha afronta para

poder reconciliar consigo mesmo aqueles que

eram seus inimigos, ao abrir os seus braços na

cruz, num convite a que se identifiquem com Ele na sua morte, para que possam ter vida, e vida

em abundância.

Para que se desse cumprimento às Escrituras, os

soldados romanos fizeram exatamente, ainda

que não o soubessem, o que está escrito no

151

Salmo 22.18: “Repartem entre si as minhas

vestes, e sobre a minha túnica lançam sortes.”

João viu o que eles haviam feito com as vestes e

a túnica de Jesus e viu ali bem diante dos seus

olhos mais uma evidência de que Ele era de fato o Messias.

João foi testemunha ocular da crucificação

juntamente com Maria, mãe de Jesus, e da irmã

dela que também se chamava Maria; e de Maria

Madalena.

Ao contemplá-los juntos compartilhando do seu sofrimento na cruz, Jesus consolou Maria lhe

dizendo que João era seu filho, e a João, que

Maria era sua mãe, e desde então João passou a

cuidar dela em sua casa.

Para que se cumprisse a Escritura Jesus disse que tinha sede, e por bebida, lhe deram vinagre

em vez de água, para que ficasse demonstrada a

crueldade com que havia sido tratado, porque

até mesmo no momento final de sua vida os seus algozes não lhe mostraram a mínima

compaixão.

“Deram-me fel por mantimento, e na minha

sede me deram a beber vinagre.” (Sl 69.21).

O autor da vida e de toda a verdadeira alegria

teve que beber o intragável vinagre para que pudéssemos beber do vinho da sua alegria.

Aquele vinagre representava todo o cálice amargo de sofrimentos que Ele teve que

suportar por causa dos nossos pecados.

Ele não se negou nem por um só momento, em

beber uma só gota de todo aquele amargor que

152

lhe deram para beber, apesar de não ser digno

de nada daquilo que Lhe fizeram.

Tal ódio que havia sido despejado sobre o santo,

imaculado e maravilhoso Cordeiro de Deus, só poderia ser compensado por um grande ato de

misericórdia, no sentido inverso, que seria

demonstrado por Ele aos pecadores.

Deus não se vingaria deles pelo que fizeram ao seu Filho, sujeitando a todos eles a uma terrível

destruição, mas, ao contrário, faria com eles

exatamente o contrário de tudo aquilo que

fizeram injustamente com o seu Filho.

O consolo de Deus seria ver aquela morte

terrível sendo compensada pelos frutos de

justiça que seriam gerados por ela.

Deus faria que aquela morte produzisse vida.

A fúria dos inimigos impenitentes de Jesus seria vingada com o fato de terem que suportar por

toda a eternidade, que a grande maldade deles

foi transformada em belos frutos de justiça

gerados por Deus nas vidas que Ele perdoaria por causa daquela morte.

Caifás, Anás e todos os seus seguidores que não

se converteram terão que suportar por toda a

eternidade em suas aflições no inferno, a grande aflição de saberem que graças aos atos

de maldade deles muitos alcançaram o perdão

eterno dos seus pecados, coisa da qual eles

próprios se excluíram por causa da dureza dos seus corações impenitentes.

Que grande Deus, maravilhoso e sábio nós

temos.

153

Não podemos entender os seus planos e

pensamentos elevados demais para a nossa

compreensão finita, e que somente podemos

conhecer se Ele no-los revelar pelo Espírito.

Exaltado seja para sempre, por manter em

mistério coisas tão grandiosas e revelá-las

apenas aos pequeninos, que são contritos e humildes de coração.

Sábios e entendidos segundo o mundo nunca

compreenderão tais coisas, como não as

compreenderam os grandes de Israel, aos quais Deus tornou muitos pequenos sujeitando-os ao

castigo eterno do fogo do inferno.

Bem aventurado é todo aquele que pode entender o significado da palavra “está

consumado”, isto é, realizado, completado,

quando Jesus entregou o espírito ao Pai e

morreu na cruz.

Aquele consumado, não apenas se referiu ao

último sofrimento que teve que experimentar

para cumprir as Escrituras, quando lhe deram vinagre para beber.

Ainda perfurariam o seu lado com uma lança,

mas Ele já estava morto quando o soldado lhe

traspassou.

Tudo o que está registrado nas Escrituras em

relação ao Messias se cumpriu completamente

nele.

Ninguém mais neste mundo poderia atender ao

cumprimento de todas aquelas profecias que

foram dadas para atestar que Jesus é o Messias,

154

o Filho de Deus que deveria vir ao mundo para

nos libertar da morte e dos nossos pecados.

A obra que o Pai lhe dera para fazer estava perfeitamente consumada, sem necessidade de

que lhe fosse acrescentada qualquer coisa.

Tudo o que é necessário para libertar alguém

das trevas, do diabo, do pecado, da morte e para dar-lhe vida eterna, reconciliação e paz com

Deus, aceitação e filiação a Ele, e uma herança

eterna no céu foi feita somente por Cristo em

tudo o que suportou, até sua morte na cruz.

De maneira que todo aquele que se ligar a Ele

achará toda a provisão necessária para a

salvação da sua alma, sem que necessite acrescentar algo ao trabalho que Ele realizou,

pelo qual nos tem concedido a sua graça, pela

qual somos regenerados e santificados.

A Lei cerimonial e civil do Velho Testamento foi abolida naquele “está consumado”.

Todas as sombras e figuras do Velho

Testamento foram fechadas porque haviam sido cumpridas literalmente em Cristo.

O véu do templo foi rasgado porque a obra de

Jesus havia sido consumada no momento em que Ele morreu na cruz.

A Velha Aliança foi revogada e passou a vigorar

uma Nova Aliança, conforme havia sido

prometida por Deus a Abraão, e que havia sido planejada por Ele desde antes da fundação do

mundo, para que por meio dela se provesse de

filhos em todas as nações.

155

Assim como Cristo pôde dizer está consumado

em relação aos seus sofrimentos; assim como a

tempestade havia terminado para Ele e o pior já

havia passado, por terem chegado ao fim todas as suas dores e agonias, de igual modo os que

são de Cristo poderão também dizer um dia que

está consumado, de maneira que deixarão seus sofrimentos neste mundo para trás, quando

forem admitidos para sempre na alegria

inefável do céu.

Estes sofrimentos que aqui passamos não são para sempre, e Deus porá um fim neles no dia

em que nos chamar para estar para sempre em

sua presença, e assim, em vez de nos

entristecer, a morte agora é para nós um conforto e consolo, como foi para Cristo.

Jesus o Cordeiro Pascal - João 19

“31 Os judeus, pois, para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a

preparação (pois era grande o dia de sábado),

rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as

pernas, e fossem tirados.

32 Foram, pois, os soldados, e, na verdade,

quebraram as pernas ao primeiro, e ao outro

que como ele foram crucificados;

33 Mas, vindo a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas.

34 Contudo um dos soldados lhe furou o lado

com uma lança, e logo saiu sangue e água.

156

35 E aquele que o viu testificou, e o seu

testemunho é verdadeiro; e sabe que é verdade

o que diz, para que também vós o creiais.

36 Porque isto aconteceu para que se cumprisse

a Escritura, que diz: Nenhum dos seus ossos será

quebrado.

37 E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que

traspassaram.”. (João 19.31-37)

João se lembrou do Salmo 22.17 quando os ossos

de Jesus foram preservados sem serem quebrados pelos soldados, conforme fizeram

com os dois outros ladrões, porque Jesus havia

morrido antes deles, e os soldados usaram

aquele expediente para apressar a morte de ambos, porque era dia de Páscoa e eles teriam

que comer da ceia e não queriam fazê-lo com

corpos de judeus morrendo na cruz; porque

afinal a Páscoa celebrava a vida e não a morte, porque foi por causa daquela ceia no Egito, que

Deus havia livrado os primogênitos de Israel da

morte.

O verdadeiro Cordeiro pascal que nos livra da

morte estava bem ali diante deles, e eles,

contrariando as prescrições das Escrituras para o preparo do cordeiro da ceia, que não podia ter

nenhum dos seus ossos quebrado, para ser uma

figura do sacrifício de Jesus, pelo qual na

verdade os israelitas foram poupados, e não propriamente por causa do sangue de animais,

eles pediram aos soldados que quebrassem as

pernas tanto dos dois ladrões quanto de Jesus.

157

Eles tiveram misericórdia dos cordeiros que

eles sacrificaram para a ceia pascal não

quebrando os ossos de nenhum deles, mas não

tiveram misericórdia daqueles homens que estavam sofrendo na cruz, a pretexto de não se

contaminarem cerimonialmente.

Eles estavam como era sempre o costume deles,

coando um mosquito e engolindo um camelo.

A pretexto de cumprirem a Lei eles estavam agindo de maneira cruel com o seu próximo.

A reverência deles pelo sábado era maior do que

a compaixão pelo próximo.

Segundo eles era melhor quebrar pernas do que

ter malfeitores na cruz num dia de sábado.

Até que ponto pode chegar o endurecimento do

coração humano, e é até bem provável que

aqueles homens tenham se abençoado no seu

íntimo pensando estarem fazendo um grande favor para Deus.

Os ossos de Jesus não poderiam ser quebrados, mas como a justificação e redenção dos

pecadores são feitas com base no sangue que Ele

derramou na cruz, houve um maior

derramamento de sangue quando foi perfurado pela lança do soldado.

João viu sair água junto com o sangue.

A água que nos limpa dos nossos pecados estava

saindo do lado de Jesus.

Assim como o sangue é a base da nossa purificação, porque o sangue representa a vida,

e o preço que foi ajustado para a nossa redenção

foi a própria vida de Jesus, que foi oferecida de

158

maneira visível pelo derramar do seu precioso

sangue; tudo o que é concedido por Deus aos

pecadores, sempre é com base neste sangue que

foi derramado na cruz.

Ele pode estabelecer condições para as suas

bênçãos, como a nossa obediência e perdão dos nossos devedores, por exemplo, mas nada disto

teria eficácia se Jesus não tivesse derramado seu

sangue na cruz para que tivéssemos o direito de

sermos abençoados pelo Pai.

O Sepultamento de Jesus - João 19

“38 Depois disto, José de Arimateia (o que era discípulo de Jesus, mas secretamente, por medo

dos judeus) rogou a Pilatos que lhe permitisse

tirar o corpo de Jesus. E Pilatos lho permitiu.

Então foi e tirou o corpo de Jesus.

39 E foi também Nicodemos (aquele que

anteriormente se dirigira de noite a Jesus), levando quase cem arráteis de um composto de

mirra e aloés.

40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com as especiarias,

como os judeus costumam fazer, na preparação

para o sepulcro.

41 E havia um jardim naquele lugar onde fora

crucificado, e no jardim um sepulcro novo, em

que ainda ninguém havia sido posto.

42 Ali, pois (por causa da preparação dos judeus,

e por estar perto aquele sepulcro), puseram a

Jesus.” (João 19.38-42)

159

José de Arimateia era um discípulo de Jesus em

segredo, porque temia os judeus, o qual era,

segundo o registro em Lc 23.50,51, senador,

homem de bem e justo que não tinha consentido no conselho e nos atos das demais

autoridades.

Sendo de alta posição na sociedade judaica,

pediu pessoalmente a Pilatos que lhe desse autorização para sepultar o corpo de Jesus, o que

lhe foi concedido sem resistências.

José de Arimateia foi preparado por Deus para

aquele momento, porque apesar de ter crido em Jesus e ter mantido isto em segredo, nós o

vemos tomando a atitude corajosa de

providenciar o sepultamento do Senhor, e fez

isto, conforme registram os evangelho sinópticos usando a sepultura que ele havia

reservado para si mesmo, para o dia da sua

morte (Mt 27.60).

O texto de Mateus 27.57 cita que José de Arimateia era um homem rico.

Então, se cumpriu com isto a profecia de Isaías

53.9 que diz que Ele estaria com os ímpios na sua

morte (os dois ladrões na cruz) e com o rico (José de Arimateia).

Assim, apesar de ser morto como um malfeitor,

Deus prepararia um rico para se encarregar do

sepultamento de Jesus.

Tal como José de Arimateia, Nicodemos que também era um amigo secreto de Jesus, teve a

coragem de dar um testemunho público do seu

amor pelo Senhor, preparando o seu corpo com

160

mirra e aloés e envolvendo-o em lençóis para o

sepultamento.

O sepulcro de José de Arimateia ficava num

jardim próximo do lugar onde Jesus foi crucificado.

Assim, Ele não foi sepultado na cidade, mas num

jardim perto do monte Calvário.

Foi sem pompa ou solenidade que o corpo de

Jesus desceu à sepultura fria e silenciosa.

Era um sepulcro novo onde nenhum outro

morto havia sido colocado, porque Aquele que

vive para sempre não teria o seu corpo contado

entre os mortos, pois não poderia ser retido pela morte por muito tempo, porque em três dias Ele

ressuscitaria, conforme veremos nos capítulos

seguintes.

161

João 20

A Ressurreição de Jesus

“1 E no primeiro dia da semana, Maria Madalena

foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda

escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.

2 Correu, pois, e foi a Simão Pedro, e ao outro

discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes:

Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos

onde o puseram.

3 Então Pedro saiu com o outro discípulo, e

foram ao sepulcro.

4 E os dois corriam juntos, mas o outro discípulo

correu mais apressadamente do que Pedro, e

chegou primeiro ao sepulcro.

5 E, abaixando-se, viu no chão os lençóis; todavia

não entrou.

6 Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e

entrou no sepulcro, e viu no chão os lençóis,

7 E que o lenço, que tinha estado sobre a sua cabeça, não estava com os lençóis, mas enrolado

num lugar à parte.

8 Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu.

9 Porque ainda não sabiam a Escritura, que era necessário que ressuscitasse dentre os mortos.

10 Tornaram, pois, os discípulos para casa.

11 E Maria estava chorando fora, junto ao

sepulcro. Estando ela, pois, chorando, abaixou-

se para o sepulcro.

162

12 E viu dois anjos vestidos de branco,

assentados onde jazera o corpo de Jesus, um à

cabeceira e outro aos pés.

13 E disseram-lhe eles: Mulher, por que choras?

Ela lhes disse: Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.

14 E, tendo dito isto, voltou-se para trás, e viu Jesus em pé, mas não sabia que era Jesus.

15 Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela, cuidando que era o

jardineiro, disse-lhe: Senhor, se tu o levaste,

dize-me onde o puseste, e eu o levarei.

16 Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se,

disse-lhe: Raboni (que quer dizer, Mestre).

17 Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque

ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus

irmãos, e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.

18 Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira o Senhor, e que ele lhe dissera isto.”

(João 20.1-18)

Muitas coisas ocorreram naquele domingo

em que Jesus ressuscitou, tanto na terra quanto

nos céus.

Primeiro de tudo, houve a ida de Maria

Madalena ao sepulcro de Jesus, ainda de madrugada naquele primeiro dia da semana

(domingo), imediato à sexta-feira em que Jesus

foi crucificado.

163

Ela foi a primeira a perceber que a pedra que

fechava a entrada do sepulcro havia sido

retirada, e foi correndo contar o fato a Pedro e a

João, e disse-lhes que haviam roubado o corpo do Senhor.

Pedro e João correram em direção ao sepulcro,

sendo que João foi o primeiro a chegar e viu que

os lençóis que envolviam o corpo de Jesus estavam no chão, mas não entrou no sepulcro.

Pedro que chegou depois dele deparou com a

mesma cena, e também que o lenço que estava

sobre a cabeça de Jesus não estava junto aos lençóis, mas enrolado num lugar à parte.

Depois disto, João entrou no sepulcro e viu e

creu naquela hora que Ele havia de fato

ressuscitado porque não conheciam a Escritura que fala sobre a ressurreição do Messias (Sl

16.10).

“Pois não deixarás a minha alma no Seol, nem

permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Sl 16.10).

O corpo de Jesus não conheceu a corrupção da

morte porque segundo as Escrituras não seria

deteriorado, não somente porque foi muito

pequeno o espaço entre a sua morte numa noite de sexta-feira, e a ressurreição na madrugada de

domingo, quando ainda estava escuro.

Independentemente disto, o Pai não permitiria

que o corpo do Filho visse corrupção pela ação do seu poder sobrenatural porque segundo as

Escrituras o corpo de Jesus seria mantido

intacto durante o sono da morte.

164

Ele não tinha nenhuma corrupção e não

experimentaria qualquer corrupção, ainda que

fosse no seu corpo que foi moído na cruz não por

causa de algum pecado que Ele tivesse, mas por causa dos nossos próprios pecados.

Por isso a morte de Jesus foi pública para que

todos vissem a vergonha e infâmia a que Ele foi

exposto por causa de todos os pecadores.

Mas a sua ressurreição foi em privado, sendo

testemunhada apenas pelos seus amigos,

porque não fomos nós que demos ocasião

àquela ressurreição, porque a morte não poderia jamais deter Aquele que é a fonte e o

autor da própria vida.

Ainda hoje o poder maravilhoso da vida

ressurreta de Jesus é manifestado somente àqueles que têm intimidade com Ele.

Não é possível participar da plenitude da sua

ressurreição sem que sejamos

verdadeiramente seus amigos, pela consagração de nossas vidas a Ele, em

obediência aos seus mandamentos e vontade.

O Senhor havia deixado os lençóis e lenço que

estava em sua cabeça no sepulcro para ser uma

evidência aos discípulos de que seu corpo não havia sido roubado, uma vez que os ladrões

certamente não teriam arrancado os lençóis e o

turbante, e também não os deixariam no

sepulcro, caso o corpo de Jesus tivesse sido roubado.

Jesus havia testificado diante de Simão, o

fariseu, que o amor de Maria Madalena por Ele

165

era muito grande, e que por isso os muitos

pecados dela eram perdoados.

Ela deu provas deste grande amor pelo seu

Senhor estando com Ele na sua crucificação,

como sendo também a primeira que foi visitar

seu corpo no sepulcro, na madrugada de domingo, quando ainda estava escuro.

Ela foi a primeira a procurar o Senhor e assim foi

também a primeira pessoa a quem Ele apareceu depois da sua ressurreição.

Jesus faria uma visita aos seus discípulos na

tarde daquele domingo da sua ressurreição.

Esta seria, na verdade, a primeira reunião dos

cristãos num dia de domingo, que passaria a ser

agora o dia da semana do descanso, para a adoração de Deus, porque não seria mais apenas

celebrado como criador do mundo, como era no

dia de Sábado na Antiga Aliança, mas também

como o Redentor, o Salvador do seu povo, porque Jesus havia ressuscitado num domingo

para tornar todos os filhos de Deus também

participantes da sua ressurreição.

Pedro apesar de ter negado ao Senhor por três

vezes, há apenas dois dias atrás, foi o primeiro a

entrar no sepulcro vazio, apesar de João ter chegado lá na sua frente.

João se sentiu encorajado a entrar somente

depois que viu Pedro dentro do sepulcro.

João não teve a honra de entrar porque não

recebeu graça, coragem e ousadia para fazê-lo.

166

Honra que o Senhor concedeu a Pedro, para

principalmente começar a restaurá-lo e curá-lo

da dor em sua consciência, por tê-lo negado.

Pedro começaria a aprender a grande lição que

não devemos fazer a obra de Deus na nossa

própria força e capacidade, porque sempre O

negaremos, mas na força e na graça do Senhor que nos capacita em nossa fraqueza, tal como

Pedro fora capacitado para correr ao sepulcro, e

também para entrar nele e ser o primeiro a constatar com certeza que o corpo do Senhor

não se encontrava de fato no seu interior.

Jesus havia falado várias vezes aos seus discípulos que Ele ressuscitaria, mas eles não se

aplicaram a dispor seus corações a crer nisto,

nem a confirmarem a promessa da Escritura a

este respeito; por isso tiveram dificuldades, em princípio, para entender que Jesus havia

ressuscitado.

De igual maneira, ainda hoje, quando não nos aplicamos a meditar e a crer em nosso coração

sobre todas as promessas e verdades que

existem na Palavra de Deus, e quando não

conferimos em nossos corações as coisas que o Senhor nos tem falado, nós teremos

dificuldades em reconhecer a obra que Ele está

realizando em nosso meio, porque as coisas que

Ele nos prometeu fazer foram às vezes proferidas num passado distante, e não tivemos

zelo suficiente para reter suas promessas em

nossas mentes e corações.

167

Quando Pedro e João foram embora, Maria

Madalena ainda permaneceu no jardim onde

estava o sepulcro, e chorava

desconsoladamente, e inclinando-se para ver o interior do sepulcro viu dois anjos vestidos de

branco assentados onde estivera deitado o

corpo de Jesus, provavelmente os mesmos anjos que haviam retirado a pedra que fechava o

sepulcro, estando um à cabeceira, e outro aos

pés, e eles lhes perguntaram por que estava

chorando. Ela respondeu, porque haviam levado o corpo do Senhor e não sabia onde o haviam

colocado.

Mas logo que ela olhou para trás viu alguém,

mas não sabia que era Jesus e Ele lhe fez a

mesma pergunta que os anjos haviam feito, e acrescentou a pergunta sobre quem ela estava

buscando.

Ela pensou que Jesus fosse o jardineiro e lhe

pediu que lhe dissesse onde havia colocado o corpo que ela o levaria consigo.

Então, o Senhor se revelou a ela chamando-a

pelo seu nome.

Ele poderia ter se revelado primeiro a Pedro e a João que eram seus apóstolos, mas o Senhor não

trabalha no seu reino amarrado a hierarquias.

Foi a ela que Jesus disse que estaria subindo

naquela hora à presença do Pai e Deus, tanto

dele quanto deles, e que dissesse isto aos demais discípulos.

Tanto os anjos quanto Jesus perguntaram a

Maria Madalena, por que ela estava chorando.

168

Afinal não havia motivo para ela chorar, mas

para se alegrar.

Não há mais motivo para qualquer cristão

chorar sem consolo e esperança, porque Jesus

ressuscitou.

Se Maria soubesse disto, ela não estaria chorando.

A realidade não dava realmente motivo para

choro, mas para alegria. Mas o

desconhecimento da realidade fez com que ela estivesse chorando por ter perdido a sua

esperança.

Os cristãos devem estar bem seguros da vitória

do Senhor deles sobre o pecado, a morte e o

mundo, para que tenham sempre bom ânimo em suas aflições.

Mas mesmo quando nossa fé é pequena, quando

nos sentimos fracos e desconsolados como

Maria, o Senhor nunca rejeitará um coração

quebrantado, tal como Jesus demonstrou na maneira como procedeu em relação a ela.

Se o motivo do nosso choro for porque temos

buscado a Cristo e não O temos achado, é certo

que O acharemos, porque Ele se manifestará a

nós, como fizera com Maria.

Primeira Aparição de Jesus aos Discípulos Depois da Ressurreição - João 20

“19 Chegada, pois, a tarde daquele dia, o

primeiro da semana, e cerradas as portas onde

os discípulos, com medo dos judeus, se tinham

169

ajuntado, chegou Jesus, e pôs-se no meio, e

disse-lhes: Paz seja convosco.

20 E, dizendo isto, mostrou-lhes as suas mãos e o lado. De sorte que os discípulos se alegraram,

vendo o Senhor.

21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja

convosco; assim como o Pai me enviou, também

eu vos envio a vós.

22 E, havendo dito isto, assoprou sobre eles e

disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.

23 Àqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem os retiverdes

lhes são retidos.

24 Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.

25 Disseram-lhe, pois, os outros discípulos:

Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser

o dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha

mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei.”

Os apóstolos estavam aterrorizados pelas coisas

que haviam sucedido em relação a Jesus e

quanto às ameaças que estavam fazendo aos

seus seguidores, de maneira que estavam escondidos a portas fechadas.

No entanto, a mensagem que Maria Madalena

levaria a eles da parte do Senhor serviria para tranquilizá-los, porque Ele disse que estaria

ainda com eles na tarde daquele domingo da sua

ressurreição.

170

O fato de não ter enviado tal mensagem por

Pedro ou por João a todos eles, mas por Maria,

tinha também o propósito de evitar que pudesse

ser suscitado entre eles que Ele havia escolhido a Pedro e a João como os chefes dos demais

apóstolos, pela informação privilegiada que

tinha dado a eles.

Mas exatamente para evitar este perigo de

se levantar um líder supremo no meio deles,

uma vez que todos estavam investidos igualmente da mesma autoridade apostólica,

apareceu primeiro a uma mulher e fez dela uma

apóstola naquela hora, para os seus apóstolos,

de maneira que se mantivessem humildes, considerando os outros superiores a si mesmos,

para serem curados deste mal que é o desejo de

se estabelecer como chefe sobre o rebanho do

Senhor, que deveria ser apascentado, e não dominado por eles.

Tomé foi o primeiro cristão a faltar à primeira

reunião da igreja num domingo, quando o Senhor apareceu no meio dos discípulos no

lugar em que eles se encontravam para lhes

confortar dizendo que a paz fosse com eles, por

duas vezes, e também lhes dando uma primeira unção especial do Espírito, para terem forças

para aguentar a pressão da perseguição até o dia

do seu derramamento no dia de Pentecostes.

Do sábado da páscoa até o dia de Pentecostes,

eram contados 50 dias corridos, daí o nome

Pentecostes.

171

Como os discípulos teriam que retornar da

Galileia para Jerusalém para permanecerem em

oração unânime até serem revestidos do alto

com o poder do Espírito, e como Jesus lhes apareceu ainda por um espaço de 40 dias depois

da sua ressurreição (At 1.3). Então, desde que Ele

subiu aos céus, até o Pentecostes decorreriam ainda cerca de 10 dias.

Eles precisariam ter um primeiro revestimento

de poder do Espírito para permanecerem

perseverantes suportando aqueles dias de

perseguição e grande tensão.

Assim Jesus soprou o Espírito sobre eles, ainda

naquele primeiro domingo, no qual havia

ressuscitado, para que eles fossem revestidos de

poder.

De igual maneira nós necessitamos ser

revestidos do poder do Espírito para

continuarmos fazendo a obra do evangelho no

meio das perseguições e oposições que sofremos do reino das trevas.

Isto era necessário para os discípulos porque

Jesus havia confirmado mais uma vez, naquele

domingo da ressurreição, que a missão deles era a mesma que o Pai lhe havia dado.

Eles haviam recebido as chaves do reino dos

céus. Deus falaria agora, dali por diante somente

através daqueles que têm fé em Jesus.

Aqueles que cressem na pregação do evangelho através daqueles que têm sido enviados por

Cristo, desde os apóstolos, teriam os seus

pecados perdoados, assim como aqueles que se

172

recusassem a crer na pregação deles, teriam os

seus pecados retidos, isto é, não perdoados por

Deus.

Quando Tomé chegou, Jesus já havia se retirado,

e tendo os demais discípulos dito a ele que haviam visto o Senhor, Tomé não creu na

palavra deles, e disse que creria somente caso

visse o sinal dos cravos nas suas mãos e o seu

lado que havia sido perfurado pela lança do soldado romano.

Jesus havia mostrado tanto as suas mãos

perfuradas, quanto o seu lado, aos discípulos,

quando esteve com eles naquela tarde de

domingo, mas não foi por tais evidências que eles creram nele, senão por suas palavras.

De igual maneira nós devemos crer agora, porque não vemos o Jesus no qual nós cremos,

mas vivemos pela fé nas suas Palavras.

Afinal a fé não é a convicção e certeza do que

vemos e que temos ao alcance do toque das

nossas mãos, mas do que não vemos e esperamos, porque confiamos nas promessas

do Senhor.

No plano de Deus Jesus deveria ressuscitar num

domingo e não em um sábado, para colocar uma

grande distinção entre a Antiga e a Nova Aliança, e para demonstrar que havia realmente

revogado a Antiga, porque dali em diante, o dia

de reunião da Igreja para a adoração pública não

seria mais no sábado, mas no domingo.

173

Segunda Aparição de Jesus aos Discípulos

depois da Ressurreição - João 20

“26 E oito dias depois estavam outra vez os seus

discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou

Jesus, estando as portas fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco.

27 Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê

as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no

meu lado; e não sejas incrédulo, mas cristão.

28 E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu,

e Deus meu!

29 Disse-lhe Jesus: Porque me viste, Tomé, creste; bem-aventurados os que não viram e

creram.

30 Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não

estão escritos neste livro.

31 Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,

crendo, tenhais vida em seu nome.” (João 20.26-

31)

A segunda vez que Jesus apareceu aos discípulos

reunidos, depois da sua ressurreição foi

também num domingo.

A Igreja reunida no domingo terá a visita do

Senhor, ainda que isto não signifique que Ele

estará ausente caso eles também se reúnam nos demais dias da semana.

Mas, a mensagem que Jesus estava passando aos

discípulos era bastante clara, porque ainda que

174

se reunissem em outros dias, Ele queria vê-los

reunidos regularmente aos domingos para

adorá-lO.

Tomé teve que aguardar o próximo domingo para ter suas dúvidas dissipadas pelo Senhor.

Enquanto os demais discípulos estavam

consolados e alegres por terem visto Jesus,

Tomé deveria estar entregue às suas tristezas porque sete dias eram passados, e Jesus não

havia reaparecido.

Certamente para ensinar a todos eles e a nós a

não negligenciarmos a adoração do dia do domingo, Ele voltou a aparecer a eles somente

oito dias depois, isto é, no primeiro domingo

seguinte àquele no qual havia ressuscitado.

Ninguém precisou contar a Jesus qual tinha sido

a reação de Tomé no domingo anterior quando os demais discípulos lhe disseram que Jesus

aparecera a eles e que lhes havia revestido com

o poder do Espírito e lhes dado a comissão de pregarem o evangelho tanto para o perdão

quanto para a retenção de pecados.

Em sua onisciência o Senhor viu e ouviu não

apenas aquilo que Tomé falou, mas a

incredulidade e dureza do seu coração.

Por isso, ao estar com eles outra vez naquele

segundo domingo, em que todos estavam

reunidos, depois de ter impetrado a sua paz

sobre eles, dirigiu-se imediatamente a Tomé lhe pedindo para tocar com seu dedo as suas mãos,

e com a sua mão o seu lado; dizendo-lhe que não

fosse incrédulo, mas crente.

175

Mesmo depois de Tomé ter dito “Senhor meu, e

Deus meu!”, Jesus continuou lhe repreendendo

dizendo que ele havia crido somente porque

havia Lhe visto, mas bem-aventurados eram os que não viram e creram; porque a substância da

fé não é vista, mas confiança naquilo que não se

vê.

Jesus não apagou o pavio fumegante de Tomé,

mas acendeu o mesmo com uma repreensão

para que ele não voltasse a agir da mesma maneira dali em diante.

Ele não estaria mais presente em carne com

eles.

O Espírito Santo também não agiria com eles

visivelmente, de maneira que aprendessem a

viver por fé e a discernir o mundo espiritual em espírito e não pelos sentidos naturais da visão,

audição, olfato, tato ou qualquer outro.

Deus é espírito e importa ser conhecido em espírito e não pelo que vemos ou ouvimos.

João encerrou este capítulo afirmando qual foi o

propósito para o qual escreveu o seu evangelho, dizendo que não havia registrado todos os sinais

que Jesus havia operado na presença dos seus

discípulos, mas que havia escrito alguns deles para que os leitores creiam que Jesus é o

Messias, o Filho de Deus, e para que crendo,

possam ter vida eterna em seu nome.

176

João 21

A Restauração de Pedro depois da Negação

“1 Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e

manifestou-se assim:

2 Estavam juntos Simão Pedro, e Tomé,

chamado Dídimo, e Natanael, que era de Caná

da Galileia, os filhos de Zebedeu, e outros dois

dos seus discípulos.

3 Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Dizem-

lhe eles: Também nós vamos contigo. Foram, e

subiram logo para o barco, e naquela noite nada apanharam.

4 E, sendo já manhã, Jesus se apresentou na praia, mas os discípulos não conheceram que

era Jesus.

5 Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, tendes alguma

coisa de comer? Responderam-lhe: Não.

6 E ele lhes disse: Lançai a rede para o lado

direito do barco, e achareis. Lançaram-na, pois,

e já não a podiam tirar, pela multidão dos peixes.

7 Então aquele discípulo, a quem Jesus amava,

disse a Pedro: É o Senhor. E, quando Simão

Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica (porque estava nu) e lançou-se ao mar.

8 E os outros discípulos foram com o barco (porque não estavam distantes da terra senão

quase duzentos côvados), levando a rede cheia

de peixes.

177

9 Logo que desceram para terra, viram ali

brasas, e um peixe posto em cima, e pão.

10 Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que agora apanhastes.

11 Simão Pedro subiu e puxou a rede para a terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes

e, sendo tantos, não se rompeu a rede.

12 Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. E nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu?

sabendo que era o Senhor.

13 Chegou, pois, Jesus, e tomou o pão, e deu-lhes e, semelhantemente o peixe.

14 E já era a terceira vez que Jesus se manifestava

aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dentre os mortos.

15 E, depois de terem jantado, disse Jesus a

Simão Pedro: Simão, filho de Jonas, amas-me mais do que estes? E ele respondeu: Sim,

Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe:

Apascenta os meus cordeiros.

16 Tornou a dizer-lhe segunda vez: Simão, filho

de Jonas, amas-me? Disse-lhe: Sim, Senhor, tu

sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas.

17 Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas,

amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu

sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-

lhe: Apascenta as minhas ovelhas.

18 Na verdade, na verdade te digo que, quando

eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas

por onde querias; mas, quando já fores velho,

178

estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá, e te

levará para onde tu não queiras.

19 E disse isto, significando com que morte

havia ele de glorificar a Deus. E, dito isto, disse-

lhe: Segue-me.

20 E Pedro, voltando-se, viu que o seguia aquele

discípulo a quem Jesus amava, e que na ceia se recostara também sobre o seu peito, e que

dissera: Senhor, quem é que te há de trair?

21 Vendo Pedro a este, disse a Jesus: Senhor, e

deste que será?

22 Disse-lhe Jesus: Se eu quero que ele fique até

que eu venha, que te importa a ti? Segue-me tu.

23 Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito,

que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus,

porém, não lhe disse que não morreria, mas: Se

eu quero que ele fique até que eu venha, que te importa a ti?

24 Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é

verdadeiro.

25 Há, porém, ainda muitas outras coisas que

Jesus fez; e se cada uma das quais fosse escrita,

cuido que nem ainda o mundo todo poderia

conter os livros que se escrevessem. Amém.”

Pelo que lemos no final do capítulo anterior

parece que João já havia encerrado a escrita do

seu evangelho, quando o Espírito lhe lembrou

de deixar registrado o modo pelo qual Pedro

179

havia sido restaurado pelo Senhor, quanto à

negação do seu nome.

Isto ocorreu na terceira vez que o Senhor

apareceu aos discípulos depois da sua

ressurreição. Não a todos eles, porque o grande

alvo daquela terceira aparição era Pedro, pois o Senhor trataria com Ele em particular.

O próprio João, que já estava avançado em dias de vida, quando escreveu seu evangelho, deve

ter lembrado que o fato de ter sido mantido em

vida por tanto tempo, depois que todos os apóstolos já haviam morrido, foi devido a uma

Palavra específica de Jesus em relação a ele,

enquanto revelou a Pedro, na mesma ocasião,

que seria martirizado quando fosse velho, mas João seria mantido em vida depois que Pedro

morresse, porque Jesus disse que queria que

João permanecesse depois que Pedro fosse

martirizado.

Eles haviam saído de Jerusalém para a Galileia,

mas deveriam voltar a Jerusalém para permanecerem em oração na cidade até que o

Espírito Santo fosse derramado sobre eles, e

para que o mesmo Espírito testificasse de Cristo

através deles.

Mas, Pedro foi ao mar de Tiberíades que ficava

na parte ocidental do mar da Galileia, próximo à cidade de Cafarnaum onde residia.

Jesus não lhes repreendeu por terem ido pescar. Ao contrário, ainda lhes ajudou, por um

milagre, a pescarem 153 peixes grandes, e não

permitiu que as redes fossem rompidas. Logo

180

eles estariam pescando muitos homens com as

redes do evangelho, as quais o Senhor não

permitirá, pelo seu poder, que jamais sejam

rompidas.

Além disso, o Senhor mesmo havia preparado

na praia um braseiro onde já estava assando um

peixe e pão, os quais não seriam suficientes para

alimentá-los a todos, e por isso o Senhor pediu que lhe trouxessem dos peixes que haviam

acabado de pescar.

Para se alimentar eles tiveram que pescar,

apesar de o Senhor ter sido quem preparou o alimento.

De igual maneira nós temos que sair para pescar

os homens apesar de sabermos que é Jesus que

os prepara para o céu, pelo trabalho da sua graça.

Nos dois domingos em que aparecera aos

discípulos, antes da sua terceira aparição no

mar de Tiberíades, Jesus nada havia falado com Pedro acerca do assunto da sua negação.

Mas aquilo precisaria ser tratado, não para a

satisfação de Jesus que conhecia o amor de

Pedro por Ele, e que sabia, conforme lhe havia dito com antecedência, que ele não poderia

sustentar o testemunho de fé nele no meio de

grande perseguição, sem que estivesse ainda

revestido do poder do Espírito.

Por isso tratou de curá-lo fazendo-lhe entender que O amava apesar de ter-lhe negado.

Jesus não citou por um só momento que Pedro

tinha sido um traidor, ou que lhe havia

181

decepcionado, ou que não deveria tê-lo negado

ou disse qualquer outra palavra que lhe fizesse

se sentir culpado e acusado da negação

sucessiva por três vezes.

Uma negação de três vezes seria curada com uma afirmação de amor também por três vezes.

O Senhor perguntou a Pedro se ele Lhe amava

mais do que todos os demais, e Pedro respondeu

afirmativamente.

A palavra no original grego para “amor”, que Jesus usou naquela primeira pergunta é “filéo”,

que significa o amor de “amizade.”

Foi também esta mesma palavra que Jesus usou

quando perguntou novamente se Pedro o

amava.

Mas na terceira pergunta, a palavra usada foi “ágape”, que significa o “amor espiritual,

divino”.

A ambas Pedro respondeu também

afirmativamente.

Entretanto, ele se entristeceu porque percebeu

que Jesus queria lhe dar oportunidade para se arrepender da sua negação, e reatar sua

amizade com Ele sem a sombra daquela negação

que deveria ficar para trás, enterrada no

passado.

O Senhor conhecia Pedro e sabia que se voltaria para Ele plenamente restaurado.

E, uma vez que havia sido curado, Jesus lhe

pediu que apascentasse as suas ovelhas.

Ninguém que não ame ao Senhor como um

amigo, de todo o seu coração, e com um amor

182

espiritual e divino, não pode apascentar o seu

rebanho, porque este deve ser apascentado com

o mesmo amor que temos por Cristo, pois

quando amamos os irmãos, nós temos também Lhe amado.

Quando fazemos o bem ao menor dos seus

discípulos, é a Ele mesmo que estamos fazendo.

O Senhor queria que todos os apóstolos aprendessem esta lição para pô-la em prática,

quando as igrejas começassem a serem

fundadas por eles.

O Evangelho, a graça, a ninguém

condena – a condenação é consequência

da rejeição da oferta de justificação

graciosa que é mediante a fé em Jesus.