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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS ENGENHARIA AMBIENTAL JOÃO GUILHERME NITSCH ESTUDO DE ALTERNATIVAS PARA REUSO, TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE CINZAS DE FUNDO GERADAS NO PROCESSO DE INCINERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS São Carlos/SP 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

ENGENHARIA AMBIENTAL

JOÃO GUILHERME NITSCH

ESTUDO DE ALTERNATIVAS PARA REUSO,

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE CINZAS DE

FUNDO GERADAS NO PROCESSO DE INCINERAÇÃO DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

São Carlos/SP

2014

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JOÃO GUILHERME NITSCH

ESTUDO DE ALTERNATIVAS PARA REUSO,

TRATAMENTO E DESTINAÇÃO FINAL DE CINZAS DE

FUNDO GERADAS NO PROCESSO DE INCINERAÇÃO DE

RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

Trabalho de Graduação apresentado a

Escola de Engenharia de São Carlos da

Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Engenheiro

Ambiental

Orientador:

Prof. Dr. Valdir Schalch

São Carlos/SP

2014

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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial

deste trabalho, por qualquer meio convencional ou

eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que

citada a fonte

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AGRADECIMENTOS

Antes de tudo, gostaria de agradecer à minha família por tudo que fizeram desde

minha existência. Gostaria de agradecer pelo amor deles, pela atenção deles, pela

motivação que sempre me passaram e por todos esforços que fazem pela minha

felicidade. Principalmente aos meus pais, meu irmão e minhas avós.

Gostaria de agradecer também à minha segunda família, que são todas minhas

amizades feitas durante a época que morei em Indaiatuba e, principalmente, as pessoas

tão especiais que encontrei em São Carlos. Em especial, gostaria de agradecer à todos

colegas de Engenharia Ambiental e outros cursos, por agregarem muito na minha

formação profissional e, principalmente, pessoal.

Gostaria de agradecer à todos moradores da República Chico Lopes e República

Teiquirizi. Desses dois lugares achei alguns dos meus melhores amigos e alguns dos

melhores motivos por gostar tanto de São Carlos e da minha vida universitária.

Dentro da Engenharia Ambiental gostaria de agradecer aos meus queridos

amigos da 08. Em especial gostaria de agradecer à Rapeize, que são queridos amigos

que dividiram diversas risadas, segundas feiras a noite, estudos em véspera de prova,

gordelices e muito outros momentos que se tornaram piadas internas.

Gostaria de agradecer à oportunidade que tive através do programa Ciência sem

Fronteiras de passar 16 inesquecíveis meses na França. Tive momentos difíceis e

momentos muito prazerosos que agregaram muito na minha vida e nos meus motivos de

querer viver. Além disso, foi num estágio na França que consolidei meu interesse na

área de Resíduos Sólidos e ao qual deu origem a esse trabalho.

Não menos importante, gostaria de agradecer à Universidade de São Paulo e à

Escola de Engenharia de São Carlos pela oportunidade de passar os melhores sete anos

da minha vida. Sou grato também à todos professores e funcionários envolvidos ao

curso de Engenharia Ambiental, em especial meu orientador Valdir Schalch, e

professores como Edson Wendland, Mindu, Osni Pejon e Marcelo Zaiat.

Por último, gostaria de agradecer os ambientes que me propuseram uma grande

experiência de extensão e prática da minha graduação. Gostaria de agradecer ao Grupo

de Som do CAASO, e às quatros empresas que fiz estágio durante minha graduação:

RM Meio Ambiente, SITA France, Raccoon Marketing Digital e Vetiver Consultoria

Ambiental.

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As ideias brotam da vida, mas são capazes de distanciarem-se

dela. Adquirem uma existência própria e autônoma. Elas se

desenvolvem a partir de si mesmas, se difundem às vezes com

grande velocidade, outras vezes muito lentamente. Dificilmente se

extinguem sem deixar vestígios. As ideias têm sua força: tornam-

se formas de pensamento e geram comportamentos.

Paolo Rossi

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RESUMO

NITSCH, J. Estudo de alternativas para reuso, tratamento e destinação final

de cinzas de fundo geradas no processo de incineração de resíduos sólidos urbanos.

2014, 60p. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Ambiental) – Escola de

Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2014.

Este estudo prevê uma revisão bibliográfica sistemática sobre a situação atual

das possíveis alternativas de tratamento, reutilização e disposição final das cinzas de

fundo provenientes do processo de incineração dos resíduos sólidos urbanos (RSU).

Atualmente o Brasil ainda aposta, em quase cem por cento dos casos, no uso de

aterros sanitários como disposição final, e direta, dos RSU. Entretanto, diversos países

do mundo, como o Japão, França, Estados Unidos e outros, vêm mostrando o potencial

do uso de incineração como uma etapa de valorização dos resíduos dentro da gestão dos

RSU.

A partir do processo da queima dos RSU é possível produzir energia, calor e

produtos que podem ser reutilizados em diversos setores, como o da construção civil.

Entretanto, pela alta concentração de substâncias tóxicas, principalmente metais

pesados, diversos cuidados devem ser tomados para ter um processo limpo e seguro.

Dentro das alternativas apresentadas, tentou-se apresentar opções sempre viáveis

e sustentáveis, visto que atualmente duas grandes preocupações presentes nos

empreendimentos são a questão econômica e a redução do uso dos recursos naturais

finitos.

Além disso, dentro das alternativas para as cinzas de fundo, o presente trabalho

hierarquiza as alternativas para as cinzas de fundo da seguinte maneira: reutilização,

tratamento seguido de reutilização e tratamento seguido de disposição final.

Palavras-chave: incineração resíduos, resíduos sólidos, cinzas de fundo, reuso

cinzas, tratamento cinzas.

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ABSTRACT

NITSCH, J. Study of alternatives for reuse, treatment and disposal of

bottom ash generated in the incineration of municipal solid waste process. 2014,

60p. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Ambiental) – Escola de

Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2014.

This study provides a systematic literature review on the current status of the

possible alternatives for treatment, reuse and disposal of bottom ash from the

incineration of municipal waste (MSW) process.

Currently Brazil still bet on almost one hundred percent of the cases the use of

landfills as direct disposal of the MSW. However, several countries, such as Japan,

France, United States and others, have shown the potential use of incineration as a

waste recovery step inside of MSW management.

From the process of burning of MSW is possible to produce energy, heat and

products that can be reused in various sectors, such as construction. However,

considering the high concentrations of toxic substances, mainly heavy metals, it is

necessary to take several precautions to have a clean and safe process.

Among the alternatives presented, this study always provide viable and

sustainable alternatives, since currently two major sectors that are present in the projects

are economic issues and the reduction of use of finite natural resources.

Moreover, among the alternatives for bottom ash, this work prioritizes

alternatives for bottom ash as follows: reuse, treatment followed by reuse and treatment

followed by disposal.

Keywords: waste incineration, solid waste, bottom ash, ash reuse, ashes

treatment.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Participação das regiões no total de RSU Coletado (ABRELPE, 2013).......... 13 Figura 2 Iniciativas de Coleta Seletiva nos Municípios em 2013 (ABRELPE, 2013) ... 14 Figura 3 Diagrama simplificado do processo de incineração de resíduos sólidos urbanos

(LAM et al., 2010) .......................................................................................................... 18 Figura 4 Número Total de Incineradores (Incluindo os com Recuperação de Energia)

(EUROSTAT, 2012) ....................................................................................................... 21 Figura 5 Quantidade de resíduos urbanos incinerados na Europa, em kg/capita/ano

EUROSTAT apud (SVDU, 2012) .................................................................................. 22

Figura 6 Peneira Rorativa Trommel (DELTA SERVICE, 2014) ................................... 26 Figura 7 Tamanho Médio das Partículas (CHIMENOS et al., 1999) ............................. 27 Figura 8 Distribuição das Partículas da Cinzas de Fundo por Tamanho (YAO et al.,

2014) ............................................................................................................................... 28 Figura 9 Densidade das cinzas de fundo por tamanho de partícula (YAO et al., 2014) 29

Figura 10 Porcentagem em peso de metais magnéticos em cinzas de fundo em função de

tamanho das partículas (CHIMENOS et al., 1999) ........................................................ 29

Figura 11 Concetração dos metais pesados por tamanho das partículas de cinzas de

fundo (CHIMENOS et al., 1999).................................................................................... 31 Figura 12 Típica estrutura de estradas (LAM et al., 2010)............................................. 37

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Quantidade de Municípios por tipo de Destinação Adotada – 2013

(ABRELPE, 2013) .......................................................................................................... 15 Tabela 2 Empregos Diretos Gerados pelo Setor de Limpeza Urbana (ABRELPE, 2013)

........................................................................................................................................ 15 Tabela 3 Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos coletados

no Brasil em 2008 (BRASIL, 2012) ............................................................................... 16 Tabela 4 Destino dos Resíduos em Alguns Países Europeus (FEAM, 2010) ................ 23 Tabela 5 Principais compostos presentes nas cinzas de fundo (fração mássica %) ....... 30

Tabela 6 Metais pesados presentes nas cinzas de fundo (mg/kg)................................... 31 Tabela 7 Relação entre o pH e a concentração de Mo e Zn no lixiviado (VAN DER

SLOOT, KOSSON, & HJELMAR, 2001) ..................................................................... 32

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DOU Diário Oficial da União

DQO Demanda Química de Oxigênio

EIA/RIMA Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto Ambiental

PERS Política Estadual de Resíduos Sólidos

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

SINIR Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos

SINISA Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico

SPAR Sistema de Processamento e Aproveitamento de Resíduos

UNE Unidades de Recuperação de Energia

WtE Waste-to-Energy

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1

2 OBJETIVOS.............................................................................................................. 3

2.1 Objetivos Secundários ....................................................................................... 3

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 4

3.1 Definições e Conceitos ...................................................................................... 4

3.2 Legislações ......................................................................................................... 6

3.2.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305 ......................................... 6

3.2.2 Decreto Nº 7.404/2010 .......................................................................................... 7

3.2.3 Política Estadual de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.300/2006 ................................ 8

3.2.4 Decreto Estadual nº. 54.645 .................................................................................. 9

3.2.5 CONAMA 316/2002 ........................................................................................... 10

3.3 Cenário Atual da Situação dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil .............. 12

3.4 Incineração ....................................................................................................... 16

3.4.1 Contextualização sobre o Processo de Incineração de RSU................................ 16

3.4.2 Descrição do Processo de Incineração de RSU ................................................... 17

3.4.3 Principais poluentes presentes no processo de incineração de RSU ................... 19

3.4.3.1 Dioxinas .................................................................................................. 19

3.4.3.2 Metais pesados ........................................................................................ 20

3.5 Cenários atuais no Brasil e no mundo sobre usinas incineradoras de RSU ..... 20

3.5.1 Incineração de RSU no Brasil ............................................................................. 20

3.5.2 Incineração de RSU no Mundo ........................................................................... 21

4 METODOLOGIA ................................................................................................... 24

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 25

5.1 Características Físicas ...................................................................................... 25

5.1.1 Distribuição das Cinzas de Fundos por Tamanho de Partícula ........................... 26

5.1.2 Densidade das Cinzas de Fundo .......................................................................... 28

5.2 Características Químicas .................................................................................. 29

5.2.1 Principais Compostos .......................................................................................... 30

5.2.2 Metais Pesados .................................................................................................... 30

5.2.3 Lixiviação ............................................................................................................ 32

5.3 Tipos de tratamento para as cinzas de fundo ................................................... 33

5.3.1 Processos de Separação ....................................................................................... 33

5.3.1.1 Separação Magnética .............................................................................. 33

5.3.1.2 Peneira Rotativa Tommel ....................................................................... 33

5.3.1.3 Processo de Lixiviação ........................................................................... 33

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5.3.1.4. Extração ou Mobilização Química ........................................................ 33

5.3.1.5 Trituração de Partículas .......................................................................... 34

5.3.2 Processos de Solidificação e Estabilização ......................................................... 34

5.3.2.1 Estabilização Química ............................................................................ 34

5.3.2.2 Tratamento com Ligantes Hidráulicos ou Químicos .............................. 34

5.3.2.3 Condicionamento por Longo Prazo ........................................................ 34

5.3.3 Tratamento Térmico ............................................................................................ 35

5.3.3.1 Sinterização ............................................................................................ 35

5.3.3.2 Vitrificação ............................................................................................. 35

5.3.3.3 Fusão ....................................................................................................... 35

5.4 Alternativas de reuso das cinzas de fundo ....................................................... 35

5.4.1 Produção de Cimento e Concreto ........................................................................ 36

5.4.2 Uso em pavimentação de estradas ....................................................................... 36

5.4.3 Adsorventes ......................................................................................................... 37

5.4.4 Vidros, Vidro-Cerâmicos e Cerâmicas ................................................................ 38

5.4.5 Barreiras Sonoras e de Vento .............................................................................. 38

5.5 Disposição Final .............................................................................................. 38

5.5.1 Aterros Sanitários ................................................................................................ 38

6 CONCLUSÕES ....................................................................................................... 39

7 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 41

8 ANEXOS ................................................................................................................. 45

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1

1 INTRODUÇÃO

A questão dos resíduos sólidos tem sido pauta recorrente na sociedade durante

os últimos séculos, desde por questões sanitárias até mesmo como forma de gerar

energia, waste-to-energy (WtE).

Hoje em dia em um planeta cada vez mais saturado pelas atividades humanas,

pode-se dizer que entramos num momento de grandes mudanças. Cada vez mais somos

pressionados e estimulados a consumir materiais que não nos são úteis, ou que muitas

vezes tem um obsolência breve. Até a Revolução Industrial, a grande maioria das

mulheres tinham apenas um vestido e que duravam mais de uma década. Hoje em dia, é

comum uma mulher ter vários vestidos, e ser obrigada a adquirir outros em curtos

períodos. (HESSEN, 2013)

Nessas circunstâncias, a sociedade tem duas alternativas claras: se obrigar a

mudar o modo de utilizar e preservar os recursos naturais, ou logo entrar num colapso

por falta de matéria prima e alimentos.

Dentro dessa necessidade de mudança, a sociedade tende cada vez mais a

pesquisar e procurar formas de aproveitar melhor os recursos e a produzir menos

materiais de baixa qualidade ou sem utilidade.

Um ponto que tem se discutido muito dentro desse assunto é a questão dos

resíduos sólidos. O que antes era considerado totalmente sem valor e um problema

ambiental, agora tem sido visto de uma forma diferente. Hoje em dia moradores de rua

já conseguem melhorar sua qualidade de vida através da venda do lixo, roupas estão

sendo feitas com materiais recicláveis, e muitas outas atividades estão sendo feitas com

esse tipo de material que já ocupou por muitos anos o lugar de um grande passivo no

meio ambiente.

No Brasil não é diferente, somos os recordistas em reciclagem de alumínio e

temos grandes exemplos de cooperativas que têm reciclado consideráveis volumes de

materiais que antes iam para os lixões e aterros sanitários. Um prova que essa evolução

está acontecendo, e ainda tem muito para melhorar, é a Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS) que foi promulgada em 2010.

Com a PNRS o Brasil entra no grupo dos países que tentam fazer o máximo para

que antes de dar um destino final para os resíduos, estes sejam de alguma forma

aproveitados pela sociedade.

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Dentre as formas aceitas pelo governo brasileiro, existe uma que tem ganhado

muito força nos países mais desenvolvidos, que é a recuperação energética. Hoje em

dia, residências já são aquecidas através da queima do lixo e a produção de energia

elétrica tem aumentado cada vez mais.

Esse tipo de tecnologia já foi muito mal visto pelos passivos ambientais que

traziam. Antigamente, as usinas incineradoras de lixo eram consideradas altamente

poluentes pelos gases perigosos que eram liberados na atmosfera e pelas cinzas e

escórias com grandes quantidades de metais pesados. Além disso, as usinas eram

normalmente construídas longe das comunidades, o que dificultava e encarecia a

logística da coleta de lixo.

Entretanto, com o desenvolvimento de tecnologias e de legislações mais rígidas,

atualmente pode-se encontrar uma usina de incineração de resíduos sólidos urbanos

(RSU) dentro de grandes centros urbanos, como por exemplo, na grande região de Paris

à beira do rio Sena.

Alcançado um nível aceitável de qualidade dos gases emitidos pelas usinas

incineradoras, essa alternativa de disposição final dos RSU entrou num outro patamar

de pesquisa. Atualmente muito tem sido feito para encontrar soluções de reuso e

tratamento das cinzas de fundo, cinzas volantes e efluentes gerados durante o processo

de incineração.

Até o presente momento, a maior parte dos materiais provenientes da

incineração de resíduos é disposta em aterros sanitários, pois são considerados não

inertes. Entretanto, países como o Japão, Estados Unidos da América e outros, já

reutilizam esses materiais para a pavimentação de estradas, produção de vidros e

cerâmicas, na agricultura etc. Com isso, pode-se chegar num processo cada vez mais

fechado, onde os rejeitos serão muito poucos em relação à quantidade de resíduos

reciclados.

O presente trabalho, portanto, tem como objetivo fazer uma breve introdução

sobre a incineração de resíduos sólidos urbanos (RSU), e mostrar possíveis alternativas

para a reutilização e tratamento das cinzas de fundo produzidas no processo de

incineração de RSU.

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3

2 OBJETIVOS

Por meio de uma revisão bibliográfica, o presente trabalho tem como objetivo

apresentar alternativas para a reutilização e tratamento das cinzas de fundo produzidas

no processo de incineração de RSU.

2.1 Objetivos Secundários

Análise da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 02 de agosto

de 2010, na questão de tratamento de resíduos sólidos urbanos e recuperação energética;

Introdução sobre o processo de incineração de RSU e um panorama sobre o uso

dessa alternativa no mundo;

Caracterização física e química das cinzas de fundo provenientes do processo de

incineração de RSU;

Identificação das alternativas de reutilização e tratamento das cinzas de fundos.

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3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O capítulo de revisão bibliográfica tem como objetivo apresentar conceitos e

estudos que são pertinentes ao presente trabalho. Para facilitar a compreensão, foi

escolhido apresentar esse material de forma evolutiva. Assim, os tópicos dentro desse

capítulo serão: Definições e Conceitos; Legislação; Cenário Atual dos Resíduos Sólidos

Urbanos no Brasil; Incineração; Panorama Mundial e Nacional sobre incineração de

RSU.

3.1 Definições e Conceitos

Quando se fala em resíduos sólidos existe um consenso em pensar em lixo,

restos de comida e materiais sem mais nenhuma utilidade. Entretanto o significado pode

ser bem diferente dependendo da fonte em que se pesquisa ou da pessoa em que se

pergunta. Para facilitar essa questão, serão utilizadas as definições legais de resíduos

sólidos estabelecidas pela PNRS e ABNT.

Segundo a Lei nº 12.305, que constitui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,

em seu inciso XVI do artigo 3º, resíduos sólidos são:

Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades

humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe

proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou

semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas

particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de

esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou

economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível.

(BRASIL, 2010b)

Já para a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), na NBR 10.004,

resíduos sólidos são:

“Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades

de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de

serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos

provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em

equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como

determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu

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5

lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam

para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à

melhor tecnologia disponível.” (ABNT, 2004)

Dentro do contexto dos resíduos sólidos, é importante também apresentar a definição do

que é material reciclável e rejeitos.

Segundo o Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, materiais

recicláveis:

“são aqueles que após sofrerem uma transformação física ou química

podem ser reutilizados no mercado, seja sob a forma original ou como

matéria-prima de outros materiais para finalidades diversas.”

(INSTITUTO BIOCIENCIA, 2014.)

O rejeito é um tipo específico de resíduo sólido - quando todas as possibilidades de

reaproveitamento ou reciclagem já tiverem sido esgotadas e não houver solução final para o

item ou parte dele, trata-se de um rejeito, sendo a única alternativa a destinação final.

(ECYCLE, 2014)

Outro ponto importante que deve ser discutido dentro da questão de resíduos sólidos é a

diferença entre gestão e gerenciamento. Muitas vezes esses termos são empregados de forma

errônea, e podem causar certas dificuldades.

No Capítulo 2 da Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei nº12.305/2010, que

remete às definições dos termos importantes encontrados posteriormente na lei, tem-se que

(BRASIL, 2010b):

X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de ações exercidas,

direta ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo,

tratamento e destinação final ambientalmente adequada dos resíduos

sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, de

acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou

com plano de gerenciamento de resíduos sólidos, exigidos na forma

desta Lei;

XI - gestão integrada de resíduos sólidos: conjunto de ações voltadas

para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar

as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com

controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável.

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3.2 Legislações

3.2.1 Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305

A Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei nº 12.305, foi promulgada em 02

de Agosto de 2010 após passar quase 20 anos em tramitação no Congresso Nacional. O projeto

de lei inicial 203 que dispunha sobre condicionamento, coleta, tratamento, transporte e

destinação dos resíduos de serviços de saúde, foi apresentado no ano de 1991.

Esse nova política é bastante atual e contém instrumentos importantes para permitir o

avanço necessário ao País no enfrentamento dos principais problemas ambientais, sociais e

econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. (MINISTÉRIO DO MEIO

AMBIENTE, 2014)

Como apresentado no artigo 1°, a lei trata sobre seus princípios, objetivos e

instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de

resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público

e aos instrumentos econômicos aplicáveis. (BRASIL, 2010b)

Para melhor entender esse objetivos, o artigo 6° da PNRS, apresenta seus princípios

como: prevenção e precaução; a consideração de todas variáveis ambientais dentro da gestão

dos resíduos sólidos; desenvolvimento sustentável, ecoeficiência, a responsabilidade

compartilhada, ciclo de vida dos produtos; direito da sociedade à informação e ao controle

social; o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e

de valor social; a cooperação entre as diferentes esferas do poder público. (BRASIL, 2010b)

Dentre os objetivos da PNRS citados no artigo 7°, podem-se ressaltar os seguintes: não

geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos; redução do volume

e da periculosidade dos resíduos perigosos; gestão integrada de resíduos sólidos; estímulo à

adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços; reaproveitamento

dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético. (BRASIL, 2010b)

Dentre os instrumentos apresentados no artigo 8° da PNRS, podemos ressaltar o

primeiro, e mais importante, que são os planos de resíduos sólidos, que é melhor detalhado no

artigo 14°. Além desse instrumento, existem outros como: a pesquisa científica e tecnológica; a

coleta seletiva, os sistemas de logística reversa; o incentivo à criação e ao desenvolvimento de

cooperativas de catadores; os incentivos fiscais, financeiros e creditícios. (BRASIL, 2010b)

Sobre a questão dos planos de resíduos sólidos, é importante ressaltar que é a partir

desses planos se tem a condição necessária para o Distrito Federal e os municípios terem acesso

aos recursos da União, destinados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos

(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014). Para a realização desse plano, a PNRS

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apresenta no artigo 19° o conteúdo mínimo que deve ser apresentado dentro do projeto, como:

diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território; identificação de

áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada; programas e ações de

educação ambiental; periodicidade de sua revisão; entre outros. (BRASIL, 2010b)

Ainda parte dos artigos 8°, a PNRS apresenta os agentes responsáveis pela questão dos

resíduos sólidos, como: o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos

(SINIR); o Fundo Nacional do Meio Ambiente e o Fundo Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico; o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA)

e o Cadastro Nacional de Operadores de Resíduos Perigosos. (BRASIL, 2010b)

No artigo 9° da PNRS, a questão a prioridade na gestão e gerenciamento dos resíduos

sólidos é novamente apresentada, mostrando a grande importância que deve ser dada para essa

série de ações. Sendo ela: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos

resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos. (BRASIL, 2010b)

Dentro do artigo 9°, tem-se também um inciso muito importante para o trabalho aqui

apresentado, que é relação ao uso de tecnologias de recuperação energética dos resíduos sólidos.

“Poderão ser utilizadas tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos

urbanos, desde que tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a

implantação de programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão

ambiental.” A partir desse inciso, pode-se considerar que tecnologias como incineração, pirólise

e gaseificação, são legais considerando os devidos cuidados com os poluentes produzidos dentro

do processo. (BRASIL, 2010b)

Em nenhuma passagem da PNRS são apresentadas as tecnologias aceitas como forma

de recuperação energética. Entretanto, além do artigo 9°, no artigo 3° é citado que dentre os

modos de destinação final ambientalmente adequada, tem-se a recuperação e o aproveitamento

energético, observando-se as normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou riscos

à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos. (BRASIL, 2010b)

3.2.2 Decreto Nº 7.404/2010

O Decreto Nº 7.404 promulgado no dia 23 de Dezembro de 2010, Regulamenta a Lei n°

12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, cria o

Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a

Implantação dos Sistemas de Logística Reversa. (BRASIL, 2010a)

Neste decreto, fica instituído que o Comitê Interministerial da Política Nacional de

Resíduos Sólidos tem a finalidade de apoiar e possibilitar o cumprimento das determinações e

das metas previstas na Lei nº 12.305, de 2010. Como órgão coordenador tem-se o Ministério do

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Meio Ambiente, e têm-se mais 11 órgãos apoiadores, como o Ministério das Cidades,

Ministério da Fazenda, Ministério da Ciência e Tecnologia etc. (BRASIL, 2010a)

No artigo 4º, fica previsto que o Comitê Interministerial deve instituir os procedimentos

para elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, além de elaborá-los e avalia-los. Junto

a essas ações, o Comitê Interministerial deve incentivar a pesquisa e o desenvolvimento nas

atividades de reciclagem, reaproveitamento e tratamento dos resíduos sólidos; bem como

formular estratégias para a promoção e difusão de tecnologias limpas. (BRASIL, 2010a)

Considerando que o presente trabalho é relacionado a processos de recuperação

energética, é importante ressaltar que o artigo 11º do Decreto Nº 7.404 prioriza o sistema de

coleta seletiva de resíduos sólidos com a participação de cooperativas ou de outras formas de

associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis constituídas por pessoas físicas

de baixa renda. (BRASIL, 2010a)

No artigo 36º do Decreto Nº 7.404, tem-se como uma das diretrizes aplicáveis à gestão e

gerenciamento dos resíduos sólidos a utilização de resíduos sólidos nos processos de

recuperação energética, incluindo o co-processamento, que obedecerá às normas estabelecidas

pelos órgãos competentes. (BRASIL, 2010a)

3.2.3 Política Estadual de Resíduos Sólidos – Lei nº 12.300/2006

A Política Estadual de Resíduos Sólidos (PERS) do Estado de São Paulo, que foi

promulgada no dia 16 de março de 2006, foi uma das leis que mais deu apoio para a criação da

Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. Esta lei, no artigo 1º, define princípios e

diretrizes, objetivos, instrumentos para a gestão integrada e compartilhada de resíduos sólidos,

com vistas à prevenção e ao controle da poluição, à proteção e à recuperação da qualidade do

meio ambiente. (SÃO PAULO, 2006)

No artigo 2°, a lei n° 12.300, define quais são os princípios da Política Estadual de

Resíduos Sólidos. Dentre os doze apresentados, podem-se ressaltar os seguintes: a promoção de

padrões sustentáveis de produção e consumo; a adoção do princípio do poluidor-pagador; o

reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico, gerador de

trabalho e renda; a gestão integrada e compartilhada dos resíduos sólidos por meio da

articulação entre Poder Público, iniciativa privada e demais segmentos da sociedade civil. (SÃO

PAULO, 2006)

Como citado no tópico sobre a PNRS, a PERS também apresenta instrumentos para

contemplar os requisitos da mesma. Dentre os instrumentos apresentados, vale ressaltar os

seguintes: os Planos Estaduais e Regionais de Gerenciamento de Resíduos Sólidos; os Planos

dos Geradores; os incentivos fiscais, tributários e creditícios; os incentivos à gestão

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regionalizada dos resíduos sólidos; o incentivo ao uso de resíduos e materiais reciclados como

matéria-prima. (SÃO PAULO, 2006)

No artigo 6°, a PERS, apresenta a distinção dos tipos de resíduos sólidos produzidos

pela sociedade como um todo. Para o presente trabalho, a definição de resíduo sólido urbano é a

seguinte:

“os provenientes de residências, estabelecimentos comerciais e

prestadores de serviços, da varrição, de podas e da limpeza de vias,

logradouros públicos e sistemas de drenagem urbana passíveis de

contratação ou delegação a particular, nos termos de lei municipal.”

(SÃO PAULO, 2006)

Sobre a questão de aproveitamento energético e em especial a incineração, a PERS não

apresenta nenhuma conduta a ser tomada. Assim pode-se concluir que esse tipo de atividade fica

sob a total responsabilidade a alguma possível legislação municipal, e se caso não existir, deve-

se seguir a PNRS.

3.2.4 Decreto Estadual nº. 54.645

O Decreto Estadual nº 54.645, promulgado em 5 de agosto de 2009 em São Paulo,

institui e regulamente dispositivos da Lei nº 12.300, da Política Estadual de Resíduos Sólidos do

Estado de São Paulo.

Nas disposições preliminares, o artigo 3° apresenta instrumentos de planejamento e

gestão de resíduos sólidos, que são eles: os Planos de Resíduos Sólidos; o Sistema Declaratório

Anual de Resíduos Sólidos; o Inventário Estadual de Resíduos Sólido e o monitoramento dos

indicadores da qualidade ambiental. (SÃO PAULO, 2009)

O Sistema Declaratório Anual de Resíduos Sólidos, formulário eletrônico padronizado

para declaração formal a ser prestada pelos geradores, transportadores e unidades receptoras de

resíduos sólidos. (SÃO PAULO, 2009)

O citado Inventário Estadual de Resíduos Sólidos, é o conjunto de informações oficiais

sobre os resíduos sólidos gerados no Estado de São Paulo, devendo ser apresentado pela

Secretaria do Meio Ambiente anualmente. Nele, devem ser apresentadas informações como:

compilação das informações oriundas do Sistema Declaratório Anual de Resíduos Sólidos;

cadastro de fontes prioritárias, efetiva ou potencialmente poluidoras e a avaliação da gestão

municipal dos resíduos sólidos urbanos. (SÃO PAULO, 2009)

E fica instituído que o agente responsável pelo Monitoramento dos Indicadores da

Qualidade Ambiental será a Secretaria do Meio Ambiente por meio de indicadores que provêm

das informações do Inventário Estadual de Resíduos Sólidos. (SÃO PAULO, 2009)

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Considerando que o decreto nº 54.645 foi elaborado a partir da PERS, este também não

apresenta nenhuma informação sobre a recuperação de energia como alternativa para o

tratamento dos resíduos sólidos do Estado de São Paulo.

3.2.5 CONAMA 316/2002

A resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n°316 publicada no

Diário Oficial da União (DOU) no dia de 20 de novembro de 2002 dispõe sobre procedimentos

e critérios para o funcionamento de sistemas de tratamento térmico de resíduos.

No artigo 2° são apresentados os objetivos desta resolução. Dentre a elas a que se

adequa nos objetivos do presente trabalho é a seguinte:

“Tratamento Térmico: para os fins desta regulamentação é todo e

qualquer processo cuja operação seja realizada acima da temperatura

mínima de oitocentos graus Celsius.” (BRASIL, 2002)

No artigo 4° são apresentadas as exigências que devem ser cumpridas para o uso de

tratamento térmico de resíduos:

“deverão atender aos critérios técnicos fixados nesta Resolução,

complementados, sempre que julgado necessário, pelos órgãos

ambientais competentes, de modo a atender às peculiaridades regionais

e locais” (BRASIL, 2002)

Sobre a questão da implantação de um sistema de tratamento térmico de resíduos de

origem urbana, o artigo 24° deve ser:

“precedida da implementação de um programa de segregação de

resíduos, em ação integrada com os responsáveis pelo sistema de coleta

e de tratamento térmico, para fins de reciclagem ou reaproveitamento,

de acordo com os planos municipais de gerenciamento de resíduos”

(BRASIL, 2002)

Além disso, o artigo 24° apresenta um cronograma mínimo de metas a partir da licença

de operação de um sistema de tratamento térmico:

“I - no primeiro biênio, deverá ser segregado o percentual

correspondente a seis por cento do resíduo gerado na área de

abrangência do sistema;

II - no segundo biênio, deverá ser segregado o percentual

correspondente a doze por cento do resíduo gerado na área de

abrangência do sistema;

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III - no terceiro biênio, deverá ser segregado o percentual

correspondente a dezoito por cento do resíduo gerado na área de

abrangência do sistema;

IV - no quarto biênio, deverá ser segregado o percentual correspondente

a vinte e quatro por cento do resíduo gerado na área de abrangência do

sistema; e

V - a partir do quinto biênio, deverá ser segregado o percentual

correspondente a trinta por cento do resíduo gerado na área de

abrangência do sistema.” (BRASIL, 2002)

Para o processo de licenciamento das unidades de tratamento térmico de resíduos será

tecnicamente fundamentado com base nos estudos, a seguir relacionados, que serão

apresentados pelo interessado:

“I - Projeto Básico e de Detalhamento;

II - Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) ou outro

estudo, definido pelo órgão ambiental competente;

III - Análise de Risco;

IV - Plano do Teste de Queima (apresentado no anexo II da resolução);

V - Plano de Contingência (apresentado no anexo III da resolução);

VI - Plano de Emergência (apresentado no anexo IV da resolução).

§ 1° O prazo máximo de vigência da licença de operação será de cinco

anos.” (BRASIL, 2002)

Além da estrutura da usina de tratamento térmico, o sistema deve possuir, também,

unidades de recepção, armazenamento, alimentação, tratamento das emissões de gases e

partículas, tratamento de efluentes líquidos, tratamento das cinzas e escórias. (BRASIL, 2002)

Um dos grandes problemas na incineração de resíduos é a produção de gases poluentes.

Para essa questão a resolução CONAMA 316 apresenta nos artigos 37° e 38° algumas

exigências sobre o monitoramento e controle dos efluentes gasosos.

No artigo 37° monitoramento e o controle dos efluentes gasosos deve incluir, no

mínimo:

“I - equipamentos que reduzam a emissão de poluentes, de modo a

garantir o atendimento aos Limites de Emissão fixados nesta Resolução;

II - disponibilidade de acesso ao ponto de descarga, que permita a

verificação periódica dos limites de emissão fixados nesta Resolução;

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III - sistema de monitoramento contínuo com registro para teores de

oxigênio (O2) e de nóxido de carbono (CO), no mínimo, além de outros

parâmetros definidos pelo órgão ambiental competente;

IV - análise bianual das emissões dos poluentes orgânicos persistentes e

de funcionamento dos sistemas de intertravamento.” (BRASIL, 2002)

No artigo 38°, são apresentados os limites máximos de emissão de poluentes

atmosféricos para qualquer sistema de tratamento térmico. E no anexo I da resolução CONAMA

n°316, são apresentados os fatores de equivalência de toxicidade-FTEQ ou fatores tóxicos

equivalentes para dioxinas e furanos.

No anexo V, é apresentado como deve ser feito o plano de desativação de um sistema de

tratamento térmico. Dentro desse plano, cinco tópicos devem ser cumpridos para uma

desativação correta:

“I - descrição de como e quando a unidade será parcialmente ou

completamente descontinuada;

II - diagnóstico ambiental da área;

III - inventário dos resíduos estocados;

IV - descrição dos procedimentos de descontaminação das instalações;

V - destinação dos resíduos estocados e dos materiais e equipamentos

contaminados;

VI - cronograma de desativação.” (BRASIL, 2002)

Após a execução do plano de desativação o proprietário do sistema de tratamento

térmico, seja privado ou estatal, deverá ser apresentado para o Órgão Ambiental responsável, e

pós-aprovação apresentar o relatório final ao mesmo órgão. (BRASIL, 2002)

3.3 Cenário Atual da Situação dos Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil

O Brasil é considerado por muitos como um país continental pelo seu tamanho, mas

pode-se também considerar isso por ser um país que apresenta diferentes realidades e culturas

em cada região.

Hoje em dia, fica claro que existe uma relação muito íntima entre o volume de produção

de resíduos per capita e os costumes e o nível financeiro da maior parte das pessoas. Assim, é

possível perceber que comunidades e famílias mais ricas produzem mais resíduos que pessoas

com menor poder econômico. Outro fator que influência muito é o costume alimentar das

pessoas. Os Estados Unidos, por exemplo, hoje em dia é o país que tem maior produção de

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resíduos sólidos per capita e isso é muito ligado aos costumes de consumir alimentos

processados que normalmente vêm embalados ou protegidos para serem melhor conservados.

Mesmo com esses diversos fatores que influenciam na produção de resíduos sólidos,

será apresentado a seguir um cenário global da situação dos resíduos sólidos urbanos no Brasil.

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, no ano de 2013 foram

geradas cerca de 76.387.200 toneladas de resíduos sólidos no país, o que representa um aumento

de 4,1% em relação ao ano de 2013. Isso acarretou um aumento de 0,39% na geração de RSU

per capita, passando de 1,037 kg/hab./dia para 1,041 kg/hab./dia. (ABRELPE, 2013)

Em relação ao volume de RSU coletados, teve-se um aumento de 4,4% do ano de 2013

em relação a 2012. No ano de 2013 foram coletadas 189.219 toneladas por dia, o que representa

cerca de 0,941 kg/hab./dia. (ABRELPE, 2013).

Na figura abaixo, tem-se a participação das regiões no total de RSU Coletados. Pode-se

perceber a grande diferença da massa de resíduos coletados que existe entre as regiões mais

ricas e as mais pobres do Brasil, mostrando assim que as regiões mais pobres ainda têm muitos

fatores a evoluir o que diminui a atenção destes para questões ligadas à gestão de resíduos

sólidos.

Figura 1 Participação das regiões no total de RSU Coletado (ABRELPE, 2013)

Outro ponto importante que se deve ressaltar em relação ao atual cenário dos RSU no

Brasil são as iniciativas públicas e privadas de coleta seletiva. A cada ano o número de cidades

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contempladas com qualquer tipo de serviço relacionado a esse tema vem aumentando e trazendo

benefícios para a sociedade. Na figura abaixo, são apresentadas em porcentagem a quantidade

de cidades que já registram alguma iniciativa de coleta seletiva:

Figura 2 Iniciativas de Coleta Seletiva nos Municípios em 2013 (ABRELPE, 2013)

É importante ressaltar que no Brasil a coleta seletiva tem ajudado muitas famílias e

moradores de rua a conseguirem aumentar seu poder de compra através da venda de materiais

recicláveis sejam por conta própria ou através de cooperativas de catadores.

Dentre os diversos tipos de destinação final para o RSU, pode-se considerar que o Brasil

tem três tipos que atinge quase todos os munícipios do país, que são eles: lixão, aterro

controlado e aterro sanitário. Atualmente os aterros sanitários, considerados os com menor

potencial de poluição ambiental, já são predominantes no país como forma de tratar o lixo.

Para melhor compreender a diferença entre esses três tipos de destinação final serão

explicados a seguir em breves palavras as principais características de cada um.

O lixão, ou vazadouro a céu aberto, é uma forma inadequada de disposição final de

resíduos sólidos, que se caracteriza pela simples descarga do lixo sobre o solo, sem nenhuma

preparação anterior do solo. Com isso, todo lixiviado e chorume penetram diretamente no solo

trazendo grandes passivos ambientais. (LIXO, 2014)

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O aterro controlado é considerado uma categoria intermediária entre o lixão e o aterro

sanitário. Ele tem características parecidas com a dos lixões, mas nesse caso recebe uma

cobertura de grama e argila. Com isso, o mau cheiro o impacto visual e proliferação de insetos e

animais são diminuídos. Entretanto, não existe impermeabilização da base nem tratamento do

chorume. (INSTITUTO BROOKFIELD, 2012)

Já o aterro sanitário, considerado o melhor alternativa para o cenário atual do Brasil, é

uma obra de engenharia que leva em consideração todos os fatores para que o impacto

ambiental seja mínimo. Nele, o chorume recebe é coletado e recebe o tratamento adequado, o

lixo é coberto todos os dias, em alguns existe a captação do gás metano e o solo no fundo é

totalmente impermeabilizado. (INSTITUTO BROOKFIELD, 2012)

Tabela 1 Quantidade de Municípios por tipo de Destinação Adotada – 2013 (ABRELPE, 2013)

Destinação Final

2013 – Regiões e Brasil

Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul BRASIL

Aterro Sanitário 92 453 161 817 703 2.226

Aterro Controlado 111 504 148 645 367 1.775

Lixão 247 837 158 206 121 1.569

Brasil 450 1.794 467 1.668 1.191 5.570

Novamente, é possível concluir através dos números apresentados na Tabela 1 que as

regiões mais ricas dispõem de um melhor gerenciamento dos RSU.

Outro dado interessante de ser abordado para este trabalho é o número de empregos

diretos que são gerados no setor de Limpeza Urbana. Como apresentado a seguir, o número

absoluto de pessoas ligadas ao setor de Limpeza Urbana parece grande. Mas se observarmos o

valor em relação à população do Brasil, pode-se dizer que o esse número é baixo, cerca de 1,7

pessoa para cada 1000 habitantes.

Tabela 2 Empregos Diretos Gerados pelo Setor de Limpeza Urbana (ABRELPE, 2013)

Regiões Empregos Públicos Empregos Privados Total de Empregos

Norte 10.381 13.018 23.399

Nordeste 34.290 52.024 86.314

Centro-Oeste 16.794 14.196 30.990

Sudeste 67.212 85.779 152.991

Sul 16.049 23.034 39.083

Brasil 144.726 188.051 332.777

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Dentro do Plano Nacional de Resíduos Sólidos realizado pelo Ministério do Meio

Ambiente, foram apresentados dados sobre a composição gravimétrica dos RSU no Brasil

(Tabela 3).

Tabela 3 Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil em 2008

(BRASIL, 2012)

Resíduos Participação (%) Quantidade (t/dia)

Material Reciclável 31,9 58.527,40

Metais 2,9 5.293,50

Aço 2,3 4.213,70

Alumínio 0,6 1.079,90

Papel, papelão e tetrapak 13,1 23.997,40

Plástico Total 13,5 24.847,90

Plástico Filme 8,9 16.399,60

Plástico Rígido 4,6 8.448,30

Vidro 2,4 4.388,60

Matéria Orgânica 51,4 94.335,10

Outros 16,7 30.618,90

Total 100 183.481,50

Assim, pode-se observar que a predominância dos RSU do povo brasileiro é de matéria

orgânica seguida por materiais recicláveis.

3.4 Incineração

3.4.1 Contextualização sobre o Processo de Incineração de RSU

Considerando que o objetivo principal do presente trabalho é a apresentação de

alternativas para a reutilização ou disposição final das cinzas de fundo do processo de

incineração de RSU, este tópico apresentará de forma breve as etapas do processo de

incineração de resíduos.

Como já dito, o processo de incineração causa muita polêmica em relação à sua

sustentabilidade. Muitas vezes essa polêmica é gerada pelo desconhecimento das partes

envolvidas sobre a tecnologia atual de despoluição dos rejeitos produzidos no processo de

incineração, principalmente dos gases emitidos.

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Outro ponto que se discute muito é o desprezo dos responsáveis pela incineração dos

RSU em questão à reciclagem, catadores de lixo e compostagem. Este trabalho considera que o

processo de incineração só é adequado após a triagem dos resíduos sólidos recicláveis feitos por

catadores, cooperativas, entidades públicas ou privadas. Além disso, deve-se sempre dar

preferência à compostagem dos resíduos orgânicos do que à incineração.

Assim, deve-se ressaltar que dentro da gestão dos RSU a separação dos resíduos por

tipo, a coleta seletiva, a reciclagem e a compostagem devem estar serem presentes ou almejadas

pelos órgãos responsáveis. O processo de incineração não substitui nenhuma etapa citada

anteriormente.

O objetivo principal da incineração é a diminuição do volume e do peso dos rejeitos

provenientes dos RSU, fazendo com que o custo do condicionamento desses rejeitos fique

muito inferior em relação ao simples processo de dispor todos os rejeitos diretamente ao aterro

sanitário.

Além da diminuição do volume e do peso, o benefício de se incinerar os RSU é a

produção de calor e energia, ajudando a prevenir o uso de recursos naturais; ajuda na destruição

de contaminantes orgânicos; e concentração de contaminantes inorgânicos. (SABBAS et al.,

2003)

3.4.2 Descrição do Processo de Incineração de RSU

A incineração é uma forma de destruir resíduos, a qual tem a vantagem de reduzir o

volume e peso dos resíduos e destruir microrganismos patogénicos, e pode ser uma importante

fonte de energia. (SANTOS, 2013)

De maneira geral, pode-se considerar que após o processo de incineração o resíduo fica

em média com 30% do peso inicial e 10% do volume inicial.(LAM et al., 2010) Com isso,

existe uma grande redução na quantidade de rejeito que será depositado em um aterro sanitário

ou será reutilizado para diversos fins que serão apresentados nos resultados do presente

trabalho.

Assim, não se pode considerar que a incineração seja a última etapa do ciclo de gestão

de resíduos sólidos. Após a queima dos resíduos, é necessário ter formas seguras de destinar os

materiais que sobram deste processo.

De acordo com LAM et al. (2010), para se ter um processo de qualidade de incineração

dos RSU, deve-se garantir um processo contínuo que respeita a exigência dos três Ts deste

processo:

Temperaturas altas entre 850°C a 1000°C devem ser mantidas sempre;

Processo Turbulento com um número de Reynolds superior a 50000;

Tempo de residência dos resíduos devem ser de no mínimo 2 segundos.

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A seguir é apresentado um esquema simplificado sobre o processo de incineração:

Figura 3 Diagrama simplificado do processo de incineração de resíduos sólidos urbanos (LAM et al., 2010)

Como apresentado na figura 3, em plantas de tratamento térmico os resíduos são

descarregados no silo da usina onde são coletados por agarradores mecânicos e jogados em

moegas e deslizarão para o interior dos incineradores (FEAM, 2010). Dentro do incinerador, o

tempo de residência dos resíduos deve ser de no mínimo 2 segundos para se alcançar a

combustão completa da matéria, considerando que a temperatura deve ser de 850°C a 1000°.

Outro ponto importante é manter uma turbulência alta dentro do forno para se aumentar a

exposição dos resíduos à incineração (Rey>50000). Durante esse processo, a presença de

oxigênio deve ser suficiente para garantir a combustão, além de prevenir a formação de dioxinas

e monóxido de carbono. (LAM et al., 2010)

Para a recuperação de energia, o calor produzido na combustão dos resíduos é

conduzido por tubulações para a produção de vapor nas caldeiras onde serão acionadas turbinas

para a geração de energia. O calor excedente desse processo pode ser utilizado para outros fins,

como por exemplo, o aquecimento de casas ou piscinas. (LAM et al., 2010; FEAM, 2010)

Após os gases produzidos pela combustão passarem pelas caldeiras, estes irão passar

pelo sistema de tratamento para serem liberados para atmosfera. Esses gases serão lavados, para

o tratamento e remoção de poluentes ácidos, como o SO2, e também dioxinas. Após a lavagem,

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os gases passarão por filtros que irão reter as partículas finas, como poeiras, e com isso poderá

ser lançado na atmosfera com os padrões de qualidade exigidos. (FEAM, 2010)

É possível observar no desenho, que sob o incinerador existe a coleta das cinzas de

fundos, bottom ash, que são produzidas durante a queima dos resíduos. Além das cinzas de

fundo, também são produzidas cinzas volantes, fly ash, que são coletadas durante o processo de

limpeza dos gases. Outro rejeito que muitas vezes é formado é um efluente tóxico proveniente

do tratamento dos gases que deve ser tratado também.

3.4.3 Principais poluentes presentes no processo de incineração de RSU

Como já citado nos tópicos anteriores, o processo de incineração também agrega

produtos perigosos para a saúde e para o meio ambiente. Dentre os poluentes, será feita uma

pequena revisão sobre os dois principais: dioxinas e metais pesados.

3.4.3.1 Dioxinas

As dioxinas estão em sua grande parte presente nos gases produzidos pela queima dos

resíduos durante a incineração. São substâncias referentes a um grupo de compostos químicos

que compartilham determinadas estruturas químicas e características biológicas. (CETESB,

2014)

Existem vários compostos que se enquadram como dioxina, mas é possível separá-los

em três famílias diferentes (CETESB, 2014):

dibenzo-p-dioxinas cloradas (CDD, dioxinas) ;

dibenzofuranos clorados (CDF, furanos);

e determinadas bifenilas policloradas (PCB).

As dioxinas estão presentes em grande parte do meio ambiente; são compostos muito

persistentes que permanecem adsorvidos fortemente a partículas do ar, solo e sedimento. Por ter

baixa mobilidade nos solos e sedimentos, a distribuição desses compostos no ambiente ocorre

principalmente pelo ar e a remoção inclue degradação química e fotoquímica. (CETESB, 2014)

Como efeitos para a saúde, foram observados: endometriose, perda de audição, efeitos

reprodutivos e outros. (CETESB, 2014)

No processo de incineração, as dioxinas são tratadas dentro do processo de tratamento

dos gases produzidos.

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20

3.4.3.2 Metais pesados

Como já é conhecido, os RSU possuem altas concentrações de metais pesados. Assim,

no processo de condicionamento dos resíduos por aterro e em incineração, é necessário tomar

grandes cuidados com esse tipo de material.

Os metais pesados podem ser definidos como os compostos com elementos situados

entre o cobre e o chumbo na tabela periódica. É frequentemente usado para nomear os metais

e semimetais (metalóides) que têm sido associados com a contaminação e toxicidade potencial

ou ecotoxicidade. (DUFFUS, 2002)

3.5 Cenários atuais no Brasil e no mundo sobre usinas incineradoras de RSU

3.5.1 Incineração de RSU no Brasil

O primeiro incinerador municipal no Brasil foi instalado em 1896 em Manaus para

processar 60 t por dia de lixo doméstico, tendo sido desativado somente em 1958 por problemas

de manutenção. (LIMA, 1991) Em Belém, existia um equipamento similar, mas que foi

desativado pelos mesmos motivos em 1978. (MENEZES, GERLACH, & MENEZES, 2000)

De acordo com DEMAJOROVIC apud MENEZES et al. (2000), em 1994 foi lançado

um mega-projeto, também em São Paulo, para a construção de dois novos incineradores de

grande capacidade, cada um com 2.500 t/dia. Entretanto, esse projeto nunca foi realizado.

Esses primeiros incineradores se enquadravam dentro da primeira geração que, como já

foi apresentada, tinham somente a função de reduzir o volume do resíduo, sendo que os gases

gerados eram lançados diretamente na atmosfera, sem tratamento. (FEAM, 2010)

Atualmente no Brasil, a incineração somente existe em hospitais, casas de saúde, etc.

espalhados pelo Brasil. São equipamentos muito simples, com capacidades inferiores a 100

kg/hora. (MENEZES et al., 2000)

Para a incineração de RSU, existem projetos em andamento como, por exemplo, a obra

de implantação do sistema de processamento e aproveitamento de resíduos e unidades de

recuperação de energia (SPAR – URE) de São Bernardo do Campo (Processo 230/2010).

Porém, muito tem se discutido sobre a forma da implantação.

O processo está atualmente em audiências públicas sobre o Estudo de Impacto

Ambiental e o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente do empreendimento. Muito tem se

discutido sobre esse projeto, pois de acordo com a população, com a presença do SPAR – URE

na região todo o trabalho dos catadores e reciclagem serão suprimidos.

Como já apresentado anteriormente, o processo de incineração de energia não deve ser

encarado como uma alternativa para excluir as etapas de reutilização e reciclagem dos resíduos.

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21

3.5.2 Incineração de RSU no Mundo

Em vários países do mundo o tratamento térmico de RSU está ganhando cada vez mais

força. Além do processo de incineração, é importante ressaltar que processos como

gaseificação, pirólise e plasma térmico também estão presentes como alternativas para os

resíduos.

Os países que têm maior tendência a adotar a incineração são os países que possuem

menores territórios, como países Europeus e Japão. Entretanto, países como os EUA e China

estão adotando cada vez mais a incineração para os RSU.

Figura 4 Número Total de Incineradores (Incluindo os com Recuperação de Energia) (EUROSTAT, 2012)

Além do número de incineradoras por país, outro dado que pode nos trazer melhor

entendimento sobre a importância da incineração nesses países é a quantidade de resíduos

urbanos incinerados por pessoa por ano.

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Figura 5 Quantidade de resíduos urbanos incinerados na Europa, em kg/capita/ano EUROSTAT apud

(SVDU, 2012)

Entretanto, sabe-se que não é somente o tratamento térmico que é usado pelos

países europeus como forma de tratamento para os RSU. O uso de aterros sanitários

ainda permanece muito presente nesses países. Além disso, as usinas de triagem e

compostagem vêm ganhando força com o passar dos anos. A seguir, é apresentada uma

tabela com as porcentagens de cada alternativa para alguns países da Europa:

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Tabela 4 Destino dos Resíduos em Alguns Países Europeus (FEAM, 2010)

País Aterros

Sanitários (%)

Usinas de Triagem e

Compostagem (%) Incineradores (%)

Alemanha 72 3 25

Bélgica 62 9 29

Dinamarca 37 7 56

Espanha 76 16 8

França 50 20 30

Holanda 50 20 30

Inglaterra 90 1 9

Itália 56 10 34

Japão 24 4 72

Suécia 35 10 55

Suíça 6 6 88

A presença de usinas de tratamento térmico para os RSU nesses países também

se dá pela questão de fonte de energia. Diferente do Brasil, os países europeus não

possuem muito rios com potencial hidrelétrico. Alguns, como a França e Alemanha,

acabam sendo obrigados a achar alternativas para suas demandas, como as usinas

nucleares, eólicas e, também, a incineração de resíduos.

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4 METODOLOGIA

A partir de uma revisão bibliográfica trabalhando desde as questões legislativas até o

cenário atual da questão de resíduos sólidos e incineração dos mesmos, foi feita uma análise de

alternativas a serem aplicadas para se diminuir o volume e a periculosidade dos produtos

provenientes do processo de incineração de RSU.

Para o presente trabalho, a metodologia que foi identificada como a mais viável é a

revisão bibliográfica sistemática. As revisões sistemáticas são particularmente úteis para

integrar as informações de um conjunto de estudos realizados separadamente, que podem

apresentar resultados, bem como identificar temas que necessitam de investigações futuras.

(SAMPAIO & MANCINI, 2006)

Dentro de descrição geral sobre a revisão bibliográfica sistemática, quase todos os

passos foram utilizados para o presente trabalho.

A pergunta científica abordada para o trabalho foi sobre as alternativas que se pode

tomar para as cinzas de fundos. A estratégia de busca foi o usa de palavras-chave como: cinza

de fundo, incineração resíduos, bottom ash, msw incineration etc.

Sobre o processo de critério, comparação e análise dos artigos, tentou-se usar artigos

mais recentes para o trabalho. Além disso, a comparação entre os artigos usados foi importante,

visto que a questão dos resíduos sólidos varia muita de região para região por questões culturais,

de alimentação e poder aquisitivo.

Como produção do trabalho, foi apresentado um resumo que contempla uma visão geral

do trabalho, e uma conclusão realizada a partir da discussão das informações apresentadas pelos

artigos abordados.

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5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesse tópico serão apresentadas as características físicas e químicas das cinzas de

fundos produzidas no processo de incineração de RSU. Além disso, como proposto,

serão apresentadas diferentes alternativas de reuso/reciclagem e destinação final desse

material, considerando a viabilidade ambiental e econômica.

5.1 Características Físicas

Como já discutido anteriormente, a composição das cinzas produzidas no

processo de incineração de RSU varia para cada região do mundo, ou até mesmo país,

por questões de costumes, alimentação e desenvolvimento.

Entretanto, de maneira geral, pode-se dizer que as cinzas de fundos são

compostas por uma mistura heterogênea de rejeitos, metais ferrosos e não ferrosos,

cerâmicas, vidros, outros materiais não combustíveis e matéria orgânica não incinerada.

(WILES, 1995)

Além disso, pode-se considerar dentro no processo de incineração de RSU que

cerca 80% dos resíduos produzidos são cinzas de fundo. Essa porcentagem é

estabelecida em massa. (CHIMENOS, SEGARRA, FERNANDEZ, & ESPIELL, 1999;

SABBAS et al., 2003)

Para a reutilização ou destinação final das cinzas de fundo, existe um processo

padrão para o preparo desse material. Após a combustão dos resíduos, as cinzas de

fundos passam por um processo de lavagem e resfriamento com o uso de água (water-

quench tank). (CHIMENOS et al., 1999)

No processo de lavagem é importante observar que quase toda matéria

hidrossolúvel e a maioria das partículas finas são levadas pela água. Os componentes

solúveis removidos em consequência da lavagem são representados principalmente por

cloreto e íons alcalinos. (CHIMENOS et al., 1999; SABBAS et al., 2003)

Após esse resfriamento, existe a etapa da separação magnética de ferro e dos

materiais ferrosos contidos nas cinzas de fundos. A maioria dos materiais com mais de

250 mm, que são separados por peneiras rotativas Trommel, são normalmente artigos

metálicos domésticos ou de construção. A massa total desses resíduos é de cerca de 3%

do total das cinzas de fundo (CHIMENOS et al., 1999)

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Assim, os resíduos maiores que 250 mm normalmente são separados ou

triturados para serem misturados com os resíduos de menores tamanhos que serão

estocados.

As partículas das cinzas de fundo como um todo são compostas por cerca de

15% de materiais não incinerados e a porção remanescente das partículas (85%) são

compostos fundidos, como vidros, minerais do grupo espinélio etc. (EIGHMY et al.,

1994)

Um estudo mineralógico revelou que o vidro e minerais não-silicato (espinélios

e inclusões metálicas) foram os constituintes mais importantes em cinzas. (WEI et al.,

2011)

Figura 6 Peneira Rorativa Trommel (DELTA SERVICE, 2014)

5.1.1 Distribuição das Cinzas de Fundos por Tamanho de Partícula

A grande parte das partículas das cinzas de fundo têm de 2 à 8 mm. As frações

de até 3 mm são normalmente usadas em materiais para construção ou são levadas para

aterros sanitários, como será apresentado depois. A porcentagem para cada faixa de

diâmetro das partículas é apresentada na figura a seguir.

As partículas com menos de 1 mm chegam a contar entre 15% e 20% do peso

total das cinzas de fundo. Muitas vezes essas partículas estão grudadas em outras

maiores. (CHIMENOS et al., 1999)

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Figura 7 Tamanho Médio das Partículas (CHIMENOS et al., 1999)

É possível encontrar algumas partículas acima de 25 mm reunidas em conjunto,

cuja matriz, principalmente silicatos, fundiu a temperatura de combustão dentro da

fornalha. (CHIMENOS et al., 1999)

No trabalho de CHIMENOS et al. (1999), eles trabalharam com duas usinas de

incineração de RSU na cidade de Barcelona, Espanha. Como mostrado na figura

anterior, os nomes dados para as usinas foram A e B.

Além de apresentar o tamanho médio das partículas contidas nas cinzas de

fundo, eles apresentaram também a composição física dessas cinzas pelos principais

tipos de materiais presentes: vidro, metais ferromagnéticos, cerâmicas, minerais e

matéria orgânica não combustada. Essa tabela é apresentada no Anexo 1 deste trabalho.

Entretanto, um estudo mais recente realizado em Cingapura mostra que

atualmente a predominante porcentagem das partículas, após separação das partículas

grande e uma secagem à 90°C durante 24 horas, está entre 0,212 mm e 1,4 mm. (YAO

et al., 2014)

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Figura 8 Distribuição das Partículas da Cinzas de Fundo por Tamanho (YAO et al., 2014)

No artigo de YAO et al. (2014), não é mencionado o tipo de tecnologia de

incineração utilizada. Já no trabalho de CHIMENOS et al. (1999), a tecnologia de

incineração é a de câmaras paralelas.

5.1.2 Densidade das Cinzas de Fundo

Segundo YAO et al. (2014), a densidade média das partículas das cinzas de

fundo é de 2847±159 kg/m³ e como mostrado na Figura 9, as partículas de tamanho

entre 1,4 e 1,7 mm apresentam uma densidade maior, devendo ser pelo maior presença

de metais.

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Figura 9 Densidade das cinzas de fundo por tamanho de partícula (YAO et al., 2014)

Com o trabalho de CHIMENOS et al. (1999) pode-se comprovar que a

presença de metais se concentra em partículas de tamanhos entre 1 e 2 mm.

Figura 10 Porcentagem em peso de metais magnéticos em cinzas de fundo em função de tamanho das

partículas (CHIMENOS et al., 1999)

5.2 Características Químicas

Dentro das características químicas, foi escolhido discutir três pontos principais

sobre as cinzas de fundo do processo de incineração de RSU: principais compostos,

metais pesados e lixiviação.

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5.2.1 Principais Compostos

Durante o processo de pesquisa foram encontrados 6 trabalhos que apresentavam

a composição química das cinzas de fundos. Abaixo é apresentada uma tabela com a

síntese desses valores de forma a se comparar os valores. Pode-se dizer que comparando

os valores, a composição dos resíduos mostram um semelhança entre os trabalhos que

foram realizados em diferentes países.

Tabela 5 Principais compostos presentes nas cinzas de fundo (fração mássica %)

Óxido

(YAO et

al., 2014)

(ALBA et

al., 1997)

(WEI et

al., 2011)

(PAN et

al., 2008)

(ANDREOLA

et al., 2008)

(GINÉS et

al., 2009)

Al2O3 9.23 17.0 14.48 1.26 6.86 6.58

CaO 26.41 14.8 28.5 50.39 26.3 14.68

Fe2O3 11.55 10.4 7.89 8.84 4.69 8.38

K2O 1.15 1.57 0.99 1.78 0.888 1.41

MgO 1.76 1.91 2.71 2.26 2.22 2.32

Na2O 3.27 3.46 2.53 12.66 4.62 7.78

P2O5 5.3 2.02 0.01 N/A 0.855 N/A

SiO2 35.37 39.2 36.49 13.44 46.7 49.38

SO3 3.25 1.81 0.8 0.5 2.18 0.57

TiO2 1.15 0.77 1.63 2.36 0.77 N/A

Dentro dos compostos, pode-se dizer que a alta presença de Ca se deve a

materiais de construção que muitas vezes estão contidos nos RSU. (YAO et al., 2014)

A presença de SiO2, também conhecido como sílica, é muito grande por ser um

material essencial para a produção de vidro, além de ser muito usado em materiais de

construção, como o cimento de Portland e cerâmicas tradicionais em geral.

5.2.2 Metais Pesados

Mais de 80% dos metais pesados como Fe, Cu, Cr, Pb, Zn, As, Ni, Ti, etc.,

presentes no RSU são encontrados na cinzas de fundos após o processo de incineração.

(YAO et al., 2014)

Pode-se considerar que a grande parcela de metais pesados estão presentes em

partículas menores que 5 mm. (YAO et al., 2014)

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Figura 11 Concetração dos metais pesados por tamanho das partículas de cinzas de fundo (CHIMENOS et al.,

1999)

Normalmente, os metais pesados mais presentes nas cinzas de fundo são o Zn e

o Pb, como apresentado na figura acima e na tabela a seguir. O Zn é muitas vezes usado

na produção de ligas e galvanização, além de ser um aditivo em tintas para cerâmicas.

Já o Pb tem muitas aplicações em elementos da construção civil, pigmentos, forros de

cabos e soldas.

Tabela 6 Metais pesados presentes nas cinzas de fundo (mg/kg)

Tipos (HJELMAR,

1996)

(National Research

Council – USA apud LAM et al.,

2010)

(Taiwan Environmental

Protection Agency apud LAM et al.,

2010)

(YAO et al., 2014)

Ag 4.1–14 2–38 8.5–10.7 N/A As 19–80 1.3–45 209–227 N/A Ba 900–2,700 47–2,000 1,104–1,166 N/A Cd 1.4–40 0.3–61 6.8–7.8 8.07±1.06 Co <10–40 22–706 49.6–53.1 17.8±7.1 Cr 230–600 13–1,400 323–439 617±225.3 Cu 900–4,800 80–10,700 4,139–4,474 1509±448.7 Hg <0.01–3 0.003–2 N/A N/A Mn <0.7–1.7 50–3,100 869–894 N/A Ni 60–190 9–430 216–242 355±43.9 Pb 1,300–5,400 98–6,500 2,474–2,807 581±374.7 Se 0.6–8 ND–3.4 230–265 N/A Zn 1,800–6,200 200–12,400 4,261–4,535 3149±341.4 Sn <100–1,300 N/A N/A N/A Sr 170–350 N/A N/A N/A V 36–90 N/A N/A N/A

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5.2.3 Lixiviação

O maior perigo dos metais pesados é trazer problemas de poluição do solo ou

corpos d’água, o que afeta todo ecossistema local e a saúde humana. Esse processo de

poluição se dá na maior parte através da lixiviação desses metais pesados.

A lixiviação é a dissolução do mineral do metal pela água ou por uma solução

aquosa do agente lixiviante. (HECK, 2014)

Normalmente esse processo acontece quando as cinzas de fundo já foram

dispostas no seu destino final e conforme as água das chuvas penetram nas camadas de

rejeitos, os metais pesado são carregados pela água para os lençóis freáticos. Por isso, se

dá grande importância na qualidade da impermeabilização dos aterros sanitários.

No tópico sobre as alternativas de reuso das cinzas de fundo, será apresentando

as considerações que se deve ter em relação à lixiviação dos metais pesados.

Um importante fator para a lixiviação de metais pesados é o pH. Para cada metal

pesado, a variação do pH influencia diretamente na concentração no lixiviado.

Tabela 7 Relação entre o pH e a concentração de Mo e Zn no lixiviado (VAN DER SLOOT, KOSSON, &

HJELMAR, 2001)

Como se pode observar na figura acima, o Mo e o Zn tem comportamentos

totalmente diferentes em relação ao pH do lixiviado. Entretanto, pode-se dizer que de

uma maneira geral, a maior parte dos compostos tem um comportamento melhor com

pH mais alto, como o Zn.

Atualmente, pode-se considerar que o pH das chuvas é de cerca de 5,6, e das

chuvas ácidas abaixo de 5. (WIKIPEDIA, 2014)

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Assim, pode-se dizer que o estudo da composição das cinzas de fundo do

processo de incineração dos RSU pode ajudar diretamente na destinação final dos

rejeitos produzidos.

5.3 Tipos de tratamento para as cinzas de fundo

Dentro desse tópico serão apresentadas formas de tratamento das cinzas de

fundo tanto para o reuso, quanto para a destinação final. No tópico seguinte, 5.4, serão

apresentadas as possibilidades de reuso das cinzas de fundo.

5.3.1 Processos de Separação

5.3.1.1 Separação Magnética

A separação magnética é a mais comum e, normalmente, usada em todas

usinas de incineração de RSU. Seu processo consiste no uso de imãs para a triagem de

metais por magnetismo.

5.3.1.2 Peneira Rotativa Tommel

Como já apresentada anteriormente, a peneira rotativa Tommel é um processo

que separa as cinzas de fundos através do diâmetro das partículas. Existem peneiras

rotativas que separam as partículas em somente um tipo de diâmetro, e outras que

separam as partículas com diferentes faixas de diâmetros desejados.

5.3.1.3 Processo de Lixiviação

Este processo tem maior foco na extração dos metais pesados presentes nas

cinzas de fundo. Dentro desse processo, o lixiviamento dos metais pesados depende do

lixiviador, pH, como apresentado anteriormente, e da proporção de líquidos e sólidos.

(LAM et al., 2010)

5.3.1.4. Extração ou Mobilização Química

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O processo de extração química ou mobilização química pode ser usado tanto

para as cinzas de fundos como as cinzas volantes. Esse processo consiste no uso de

carbonato de sódio ou bicarbonato de sódio podem trazer benefícios. Este tratamento

tem o efeito de mobilizar sulfatos para a formação de Na2SO4 solúvel e a precipitação

de CaCO3. (SABBAS et al., 2003)

5.3.1.6 Trituração de Partículas

Esse processo consiste na trituração das partículas das cinzas de fundos para se

obter um material homogêneo, diminuindo o volume das cinzas e ajudando no processo

de separação magnéticas. (KARAGIANNIDIS et al., 2013)

5.3.2 Processos de Solidificação e Estabilização

5.3.2.1 Estabilização Química

Esse método é proposto envolve precipitação química de metais pesados

incorporando compostos insolúveis e, ou, substituição/adsorção em várias espécies

minerais. (SABBAS et al., 2003) As principais formas de agentes químicos são sulfetos

(IAWG, 1997 apud SABBAS et al., 2003), sulfato de ferro (LUNDTORP et al., 1999

apud SABBAS et al.,2003) e outros.

5.3.2.2 Tratamento com Ligantes Hidráulicos ou Químicos

“Tratamentos com ligantes hidráulicos ou químicos geralmente trazem boas

propriedades de lixiviação a custos relativamente baixos. No entanto, a solidificação e

estabilização com ligantes hidráulicos resultam no aumento de volume a serem

depositados em aterro”. (KARAGIANNIDIS et al., 2013)

5.3.2.3 Condicionamento por Longo Prazo

Ao se condicionar as cinzas de fundo livremente, o intemperismo interferirá nas

características mineralógicas. Essas mudanças podem trazer significantes reduções de

elementos como Cd, Cu, Zn, Pb, e Mo. Além disso, pode ocorrer a formação de

minerais mais estáveis e fixação de contaminantes. (SABBAS et al., 2003)

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5.3.3 Tratamento Térmico

5.3.3.1 Sinterização

Esse processo transforma as cinzas de fundo em um material mais resistente e

menos poroso. Normalmente esse processo já ocorre de forma incompleta durante a

incineração dos RSU, pois o processo se dá a uma temperatura de 900°C. (SABBAS et

al., 2003)

5.3.3.2 Vitrificação

A vitrificação é um processo onde as cinzas são misturadas com vidro e

submetidas a altas temperaturas, 1000°C-1500°C, formando um material homogêneo.

Os mecanismos de retenção são ligações químicas de espécies inorgânicas na mistura

das cinzas com vidro, formando materiais, como silicatos, e assim envolvendo as cinzas

por uma camada de material vitroso. (SABBAS et al., 2003)

Assim, as cinzas de fundo vitrificadas tem um menor potencial de lixiviação que

as cinzas de fundo originais. (LAM et al., 2010)

5.3.3.3 Fusão Parcial

A fusão parcial é um processo parecido com a vitrificação, em questões de

produto final e temperaturas, entretanto não se mistura vidro com as cinzas de fundo. Na

maior parte das vezes, várias fases de metais fundidos são produzidas, facilitando a

separação desses metais para futuro reuso. (SABBAS et al., 2003)

5.4 Alternativas de reuso/reciclagem das cinzas de fundo

Nesse tópico serão apresentadas algumas alternativas para o reuso das cinzas de

fundos. É importante ressaltar, como apresentado na PNRS, que dentro do processo de

gestão de resíduos sólidos o reuso é uma etapa anterior à destinação final.

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5.4.1 Produção de Cimento e Concreto

Considerando que as cinzas de fundo contêm consideráveis concentrações de

CaO, FeO2, Al2O3, e SiO2, e suas propriedades físicas, as cinzas do processo de

incineração pode ser reutilizadas para o processo de produção de cimento. (LAM et al.,

2010)

A quantidade de cinzas residuais que podem ser adicionados nas matérias-

primas de cimento é limitada pelos seus sais, especialmente os cloretos. Entretanto,

esses cloretos podem ser removidos com facilidade com o uso de água e, ou, ácidos.

(PAN et al., 2008)

O processo de produção de cimento é um processo que consome grande

quantidade de matéria-prima e de energia, o que acaba causando grandes volumes de

emissões de carbono, o principal gás do efeito estufa. Sendo assim, uma das vantagens

de se usar as cinzas de processo de incineração de RSU é a economia dos recursos

naturais além de diminuir a emissão de gases do efeito estufa. (LAM et al., 2010)

O uso das cinzas de fundos se dá principalmente como um material agregado do

concreto. Alguns resultados mostram que as cinzas de fundo podem substituir em até

50% de materiais para a produção de concreto sem perder sua qualidade. (LAM et al.,

2010)

Com o uso das cinzas de fundo para a produção de cimento e concreto, o único

agravante que se deve levar em consideração é a lixiviação de metais pesados e,

principalmente, de sais. Esse processo pode levar vários anos e é normalmente causado

pelas chuvas.

5.4.2 Uso em pavimentação de estradas

Normalmente, as estradas possuem quatro camadas de materiais para a sua

formação. Como apresentado no desenho a seguir, as camadas são as seguintes:

desgaste (wearing course), camada de base (base course), sub-base (sub-base), subleito

(subgrade).

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Figura 12 Típica estrutura de estradas (LAM et al., 2010)

Uma maneira possível de reutilizar as cinzas MSWI é substituir os materiais na

camada de base e sub-base. (LAM et al., 2010)

Estudos na França apresentaram importantes resultado provando que a

concentração de metais pesados, fluoretos e pH no lixiviado foram abaixo das exigidas

para o limite de potabilidade d’água. (BRUDER-HUBSCHER et al., 2001)

Ainda de acordo com BRUDER-HUBSCHER et al. (2001), as concentrações de

cloretos, sulfatos, demanda bioquímica de oxigênio (DQO) e a demanda biológica de

oxigênio (DBO) desse produtos se apresentaram altas no começo, mas que com o passar

do tempo decresceram a valores aceitáveis pelas legislações. A presença de cloretos que

se tem no lixiviado pode ser comparada com a mesma que se tem após o uso de sais

para derreter neve.

5.4.3 Adsorventes

O uso de técnicas de adsorção é muito comum para se remover poluentes de

águas contaminadas. Porém, um problema que se tem nesse setor é o custo de carvão

ativado como agente adsorvente.

Observou-se que é possível utilizar as cinzas de fundo do processo de

incineração de RSU como um agente adsorvente para a descontaminação de águas. O

uso das cinzas pode ser perigoso pelas altas quantidades de metais pesados, entretanto

as cinzas de fundo apresentam ótima capacidade de troca catiônica. (LAM et al., 2010)

Além dessa utilidade, as cinzas de fundo podem ser utilizadas como adsorventes

para corantes em água e purificação de gases. (LAM et al., 2010)

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5.4.4 Vidros, Vidro-Cerâmicos e Cerâmicas

Como já apresentado no tópico de tratamentos de cinzas de fundo, é possível a

partir do processo de vitrificação produzir materiais com características próximas das

matérias-primas para a produção de vidros e cerâmicas. Pela alta concentração de CaO,

Al2O3, e SiO2, isso se torna possível. (LAM et al., 2010)

Na produção de vidro, chegou-se a valores de até 20% de cinzas de fundo como

matéria-prima sem se perder as características mineralógicas necessárias. (ANDREOLA

et al., 2008)

Já para a produção de materiais cerâmicos, se chegou a valores de até 50% de

cinzas de fundo como matéria-prima. (LAM et al., 2010)

5.4.5 Barreiras Sonoras e de Vento

Uma alternativa menos discutida, mas possível, para reutilização das cinzas de

fundo é o uso como barreiras sonoras e, ou, de vento. Esse tipo de barreira costuma ser

utilizada em estrada e vias de grande circulação. (KARAGIANNIDIS et al., 2013)

5.5 Disposição Final

5.5.1 Aterros Sanitários

Atualmente, a única forma realmente viável e amplamente estudada para a

disposição final das cinzas de fundo é a destinação em aterro sanitário.

Como feito com os RSU atualmente no Brasil, para se ter um aterro sanitário de

cinzas de incineração é necessário a realização de todo um projeto considerando um

estudo de impacto ambiental e um relatório de impacto ambiental (EIA/RIMA).

Além desses estudos é necessário aplicar todos os conhecimentos de engenharia

para se assegurar total impermeabilidade do solo, boas taxas de compactação dos

rejeitos, coleta contínua do lixiviado etc.

Após a saturação do aterro sanitário, normalmente 30 anos, mas podendo ser

maior para rejeitos de incineração, deve-se manter um monitoramento constante da área.

Com a desativação do aterro, a partir de estudos, pode-se considerar em se aproveitar a

área para construção de parques, áreas de recreação etc.

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6 CONCLUSÕES

Como discutido no trabalho, ainda existe um grande preconceito, e falta de

conhecimento, acerca do processo de incineração de RSU. Hoje em dia, o Brasil encara

esse processo como um atalho para a gestão de resíduos sólidos, de forma que se ignora

a reutilização e reciclagem como etapas da gestão. Entretanto, países desenvolvidos têm

mostrado que a incineração é só uma etapa de todo o processo de ciclo de vida dos

resíduos.

Com diversos tipos de tratamento, reuso e destinação final para um produto

proveniente da incineração de RSU, pode-se comprovar que a incineração não é o ponto

final para a gestão de resíduos sólidos, mas sim, uma tecnologia que pode trazer muitos

benefícios para a valorização dos resíduos.

A partir das datas das referências citadas no trabalho, pode-se observar que a

incineração de RSU é um processo que começou a ganhar força a partir da década de

90. Sendo assim, pode-se dizer que ainda há muito que pesquisar e desenvolver dentro

dessa tecnologia.

Atualmente, com a preocupação sobre a limitada quantidade de recursos naturais

e a busca de uma sociedade cada vez mais sustentável, as pesquisas sobre a incineração

têm sido cada vez mais voltadas para a eficiência do processo e buscas de como se

reutilizar os resíduos produzidos durante o processo.

Como objetivo implícito do trabalho, a partir das referências bibliográficas, fica

evidente que o Brasil ainda se ausenta quase totalmente desse campo de pesquisa que

tem se mostrado uma alternativa totalmente viável para a valorização dos resíduos

sólidos urbanos e de serviços de saúde.

Por uma questão de possuir um vasto território e de exigir altos investimentos

iniciais, o Brasil parece ainda não mostrar muito interesse sobre a incineração de

resíduos. Mas considerando as grandes metrópoles e principalmente, cidades costeiras

que já não tem mais para onde expandir, como as da região da Serra do Mar no estado

de São Paulo, o uso da incineração pode ser uma alternativa a ser considerada para os

RSU.

Com a PNRS ainda recente para a população e para a academia, podem-se

considerar possíveis chances de nos obrigarmos a procurar novas formas de encarar a

questão da sustentabilidade junto à gestão de resíduos sólidos. Tanto a partir de pressões

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do Estado, como a partir de iniciativas privadas que podem enxergar um novo nicho de

mercado a ser explorado.

Para estudos futuros, pode-se ressaltar a necessidade de buscar formas de deixar

a tecnologia mais acessível e barata. Além disso, seria interessante uma pesquisa mais

aprofundada para os tipos de processos de tratamento e reciclagem das cinzas de fundo

e cinzas volantes produzidas no processo de incineração de RSU.

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8 ANEXOS

Anexo 1

Anexo 1 Distribuição dos Materiais das Cinzas de Fundo do processo de incineração dos RSU (CHIMENOS et al., 1999)