joão grando: portfólio
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Portfólio de João Grando.TRANSCRIPT
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IMAGINADOR. Da soma de um anseio totalizador assuno da
dvida/indeciso como agente libertador tem-se um tecido expressivo no
qual se costuram retalhos de diferentes plataformas, ou um campo
criativo de formato e dimenso dinmicos, frtil e estril espera e em busca do poder tigrino e do tocante lamento da presa, no atelier ou com
o smartphone, do humor ao horror, habitando quaisquer desses hiatos entre
extremos, ou os descobrindo: a cabea ao vento; as mos, obra.
i. DESENHOS E PINTURAS
ii. NANONARRATIVAS IMPLOSIVAS
iii. ENSAIO MULTIPLATAFORMA
iv. VDEOS
v. TEXTOS
vi. FOTOGRAFIA
vii. AUTORRETRATO
viii. BUROCRACIA POTICA
ix. JG,PG,JPG
x. V
xi. SELFIES
xii. SKETCHES
APNCIDE 1: METONMIAS DA MULTIPLICIDADE
APNDICE 2: DETALHES
APNDICE 2: BULA
APNDICE 3: CV
NDICE
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i. DESENHOS E PINTURAS
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CONTATO
2013
123 x 222 cm
Acrlica e leo sobre
tela
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O AMOR UMA LGRIMA DE MANG
2009
30 x 40 cm
Grafite, carvo, nanquim, hidrocor e
caneta esferogrfica sobre papel.
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RONDON
2010
87 x 140 cm
Grafite, carvo, nanquim, hidrocor,
caneta esferogrfica e acrlica
sobre papel.
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I AM COMING
2011
87 x 140 cm
Grafite, carvo, nanquim,
caneta hidrocor, caneta
esferogrfica e tinta acrlica
sobre papel.
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RRRIDE
2010
70 x 50 cm
Grafite, nanquim, hidrocor,
esferogrfica e acrlica sobre
papel.
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PG,JG,JPG #3 (HOMEM-PRDIO)
2009
Grafite, nanquim, hidrocor,
caneta esferogrfica e pastel
oleoso sobre papel 30 x 40 cm
(abaixo) com manipulao
digital posterior ( direita).
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HORIZONS
2010
70 X 100 CM
Grafite, carvo, nanquim,
hidrocor, caneta
esferogrfica, pastel oleoso
e tinta acrlica sobre papel.
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sim e no ou no e sim
(in.form.ao)
[em andamento]
2013
133 x 188 cm
Acrlica e leo sobre tela
As variaes de cores, de tipos de pincelada, de
nveis de realismo trabalham na elaborao de camadas
acumuladas e na tenso entre elas. Uma figura tratada
tecnicamente de modo mais acadmico com seus tons
pastis dialoga com uma imagem de cores vibrantes e
contornos bem definidos por linhas fortes, chocando
tradio pictrica e grfica, volume/profundidade e plano
bidimensional, cores misturadas e diludas a cores
chapadas e puras.
Os elementos de estruturas retas do cenrio como
prdios, ruas e os postes em seqncia reforam a
perspectiva da cena, fazendo dela a origem no s dos
raios-guia de profundidade como de toda a imagem, como
se tudo que h ali erigisse dali, estendendo-se do fundo do
quadro e trocando influncias entre figuraes na extenso
do caminho (interessante salientar que a ordem de
pintura do quadro tambm, tendo sido iniciado pela
pintura do cu, justamente do cu, abrigo divino da
criao na maioria das mitologias e origem da vida em
muitas correntes cientficas).
A narrativa da cena de acontecimentos ilgicos sem
relaes aparentes: as personagens parecem ter sido
teletransportadas naquele instante de outro local ou
realidade, onde a ao acontecia e fora interrompida pelo
rapto do quadro. A existncia das coisas dali est ligada
condio que a imagem do quadro fornece, como se ela
tivesse comeado naquele exato momento, entrosada com
o tempo do trabalho, com a existncia da pintura em si, a
criao da forma como criao da forma representada, e
no como personagens que tivessem sua vida prpria
independente do registro ali feito; os objetos fsicos
passam a existir a partir da imaginao, como no clebre
conto Tln, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges.
Assim, as relaes puras de forma transpem a
realidade representada: uma linha inserida no espao de
perspectiva diagonal da calada transposta para o bloco de
texto deixa de ser profunda para virar uma forma
geomtrica abstrata: a mesma linha reaplicada, colada,
toma outro sentido.
O quadro o histrico dessas relaes formais que
se influenciaram dinamicamente at o momento de
ficarem congeladas na imagem finalizada.
Entre os dois personagens maiores (dois
autorretratos complementares), no primeiro plano do
quadro, h uma relao de dvida, ou ao menos
hesitao: aparentemente duelam, mas as feies no
esclarecem a fora imprimida, h certa ambigidade
entre a simulao e a efetividade do ato, se ele de fato
agressivo ou se seria at mesmo afetuoso, se h de fato
voluntariedade em seus atos ou se como se estivessem
ali por uma determinao, uma determinao visual por
assim dizer, como figurantes que cumprem seus papis
burocraticamente (ou talvez o espanto da recm-chegada
a um cenrio para o qual foram teletransportados).
No tratamento pictrico irregular do quadro a
textura que resolveria uma representao realista salta de
seu contexto e toma vida prpria no espao da tela, como
se a representao e o representado gerassem uma
terceira coisa, que ao mesmo tempo se materializa na
realidade representada diminuindo a distncia entre o
que representado (narrativa, contedo) de como se
representa (expresso, forma): tudo o que est na tela,
seja uma mancha ou um corpo nu, ganha vida tanto
como personagem quanto elemento abstrato, no h
excees ou divises: se dividem o mesmo plano
bidimensional, as regras so, ainda que generosas, as
mesmas para tudo. H nessa ao totalizadora e
permissiva algo de indeciso assumida que proporciona
essa liberdade a qualquer resposta, qualquer tentativa,
onde h espao para tudo; tela qualquer coisa pode ser
trazida indistintamente; ao meu tecido expressivo,
qualquer tipo de criao bem-vinda.
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XXI E O MAL DE ALZHEIMER DE
ZEUS
2009
70 X 100 CM
Grafite, carvo, nanquim,
hidrocor, caneta
esferogrfica e tinta
acrlica sobre papel.
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FEMME ET FAUNE
2008
70 X 100 CM
Grafite, carvo, nanquim,
canetas hidrocor e
esferogrfica sobre papel.
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Explorar nalgumas fotografias
a situao gerada pela captura da
cena, como o lanamento urgente
de algum sentido, servindo de
mote, incio ou concluso no
desenrolar de uma nanonarrativa
to fugaz quanto o instante captado
pela mquina fotogrfica. Esse
sentido breve e leve se d
implosivamente, como colocar um
verso na msica surgida da
imagem.
Os recursos tm de ser
exclusivamente da captura da
imagem, ou seja, no h qualquer
manipulao digital posterior, as
intervenes so feitas opticamente
no prprio ato da cena.
ii. NANONARRATIVAS IMPLOSIVAS
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EU-LRICO: EU-LUZ
2009
Fotografia
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JOO CRIANDO ADO
2009
Fotografia
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JOO CRIANDO ADO (VARIAES)
2009
Fotografia
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RAIO DE SOMBRA NO MUNDO SUBTERRNEO DGUA
2010
Fotografia
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iii.ENSAIO MULTIPLATAFORMA WWW.JOAOGRANDO.COM
Desde 2007
Site
Ensaio multiplataforma (sobre tudo sob um) agrupado numa organizao com
espacializao dinmica do tempo, tema, modalidade etc.
Unidos pelo autorretrato, que funciona como um vetor que se movimenta em
meios vrios de criao os interligando num mesmo espao potico dissipado
por eles, centro de gravidade da autoria radicante.
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Vejamos o caso da pintura, a qual, no caso da utilizao que
fao dela, comunica-se mais tradicionalmente com o pblico, pela
natureza do suporte: o quadro na parede para ser contemplado e
analisado in loco em todos os seus detalhes, a materialidade (relevos,
dimenso, camadas de tinta etc.) presente alm da imagem retiniana,
alm do que uma reproduo visual registra; porm a reproduo do
original pintado ressonar em outros meios, podendo ser reutilizada
por mim com manipulao digital e associada s outras formas de
criao, ou ainda por outrem, pela simples disseminao permitida
pelas tecnologias atuais. A imagem conceitual, a idia emanada da
materialidade se move livremente, acumulando significados e usos
adquiridos na sua trajetria.
Talvez o caminho para atender isso seja a exposio fractal,
retalhada e costurada, superposta, misturada, tal como a virtualmente
pelo site onde mantenho e atualizo parte considervel de minha
produo: http://www.joaogrando.com. Nele o discurso fragmentado
em imagens (fotos, infogrficos, desenhos, pinturas, rascunhos etc.),
textos de diferentes estilos e tamanhos se organiza tal como num
jornal ou site de notcias: as partes tm interdependncia, a
aproximao se d pelo espao disponibilizado, passvel de
manipulao pelo visitante, que pode reorden-lo por alguns critrios
disponveis, como ordem temporal, por assuntos (amor, esporte, arte
etc.) atravs dos marcadores de postagens, por formato (texto,
imagem, foto etc.). Alm disso, h ainda uma pequena gama de
opes para a diagramao e dinmica geral do site (h um menu
suspenso no canto superior esquerdo que permite escolher dentre sete
formatos, que mudam consideravelmente o padro (padro, no
original) da exibio). Interessante notar que, embora o agregador de
contedos possa ser manipulado pelo leitor-espectador, eles se
mantm originais em todos os detalhes (o texto, alm de ser imutvel,
mantm a formatao definida por mim). O controle sobre o
contedo, o meio livre. Temos aqui a espacializao do tempo, a
espacializao do tema, disponveis em modulaes manipulveis pelo
espectador.
Repetir estas ferramentas permitidas pela tecnologia digital
analogicamente um desafio, mas pode no ser a nica sada. A
dificuldade em expor para visitao esta parte do trabalho projetar o
dinamismo destes elementos que se ligam por diferentes fatores, ora
narrativos, ora temporais, ora unicamente pela centralizao autoral;
costumeiramente eles no tm critrios especficos para exibio, ou
seja, so disponibilizados virtualmente, para leituras nos veculos que
convirem aos espectadores (computador pessoal, smartphone, tablet,
televiso etc.). Ento a sua exposio planejada num espao para ser
visitada presencialmente tende a uma atmosfera arquivista, de
compilao. Para evit-la, se for o caso ou inteno, preciso fazer
uma curadoria do prprio trabalho, estabelecendo recortes temticos,
temporais ou, mais profundamente, elaborar uma narrativa
multiplataforma, um processo de montagem que trabalhe novos
significados a partir do material existente embora esta prtica tambm possa ser realizada a priori deliberadamente. Isso entanto cria
um novo degrau, j que essas prticas resultantes em narrativas se
assentam mais adequadamente no formato livro ou vdeo, mais
propensos distribuio para o pblico do que para a visitao.
multiplicidade de estmulos da contemporaneidade
posiciono-me replicando mltiplas respostas formais eladas pela
autoria, freqentemente explcita atravs da utilizao de autorretratos,
impugnando a casualidade e anonimato que de praxe estes estmulos
carregam a prpria imagem funcionando como assinatura, at como certa absolvio, na medida em exponho somente a mim mesmo, e
certa autenticao, na medida que sou dono da minha verdade e o
detentor dos direito de imagem que reflito para a realidade.
Desta prtica que no restringe modalidades afluem
experincias e obras de desenho, pintura, escrita, fotografia, vdeo etc.
que se cruzam e afastam ao longo de seus cursos, operando ora
independentemente, ora relacionadas (pela sntese ou sobreposio),
mas sempre como rios diversos pertencentes a uma mesma bacia
hidrogrfica; seu registro e publicao tambm so variados,
complexando inda mais a contingncia para um espao de exibio
esttico por tempo determinado.
Ainda assim, ela rebentara-se de um mesmo contexto de
produo no qual a autoria, para alm do estabelecimento compulsrio
de uma trajetria, estilo, histrico etc., talvez seja a chave conceitual
que a retenha: os textos extensos ou pequenos, as fotos, os
infogrficos, as montagens, at mesmo as inseres em redes sociais,
so expresses cujo nico elo o emissor, fazendo do autor um lugar
dissipado pelas obras, um vetor que as relaciona. Este mtodo correria
o risco de ser vago, j que se vale das pertinncias da autoria, mas
como tenho trabalhado e a experincia me mostra que ele tem sido
eficaz ao conglomerar os diferentes tipos de manifestaes e mesmo
assim dar um mesmo tom a elas, dar-lhes algo perceptvel em comum.
(Nalguns casos o autorretrato torna forosa a autoria,
relacionando-se, por oposio ou adaptao, s tendncias de fim de
anonimato e criao coletiva, vistos em movimentos como o Copyleft,
quase como um levante.)
Talvez a principal caracterstica do ensaio, gnero literrio
cujas bases foram fundamentadas por Bacon e Montaigne, consista na
liberdade: ela est no mago das caractersticas atribudas a ele, como
a possibilidade de ser breve, como a possibilidade de transitar entre
estilos, sua informalidade, sua subjetividade, sua assuno da
liberdade para falar sobre qualquer tema. Sob essa tica, difcil no
associar o gnero aos cadernos de Leonardo da Vinci, uma verso
visual (e j h 5 sculos atrs complexando categorias) em que um
esboo artstico para um afresco divide espao com o projeto de uma
ponte ou estudo cientfico anatmico. No vejo melhor associao ao
meu trabalho do que esta, uma srie de ensaios ou um grande ensaio
que se rarefaz em parcelas variadas tanto no espao quanto no tempo.
No por acaso, logo que iniciei minhas publicaes na internet, em
2007, meu lema (talvez slogan tenha mais cabimento) era sobre tudo sob um.
Dado ento ser da minha atividade criativa operar em
plataformas vrias e de publicao gradual e dissipada, ela
problematiza a questo da exposio como fomentao de um lugar, j
que no se trataria de um espao pensado previamente para tanto, mas
um espao que deve abarcar o gnero desta produo, na falta da
identificao de um conceito estreito que a acompanhe.
www.joaogrando.com
Desde 2007
O mesmo site da pgina
anterior disposto numa outra
visualizao.
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IV.VIDEOS
(VIDE-OS) HTTP://YOUTUBE.COM/JOAOGRANDO
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Imagens documentais reeditadas + animao digital.
Vdeo feito em 2008 explorando os acontecimentos a partir do nmero 8 e relacionando o maio de 1968 com o movimento Diretas J de 1989.
926 (800 x 600) 2008
http://bit.ly/888video 888
Imagens documentais reeditadas + animao digital.
A vingana (onrica e, portanto, impossvel) da Faixa de Gaza contra o resto do mundo.
342 (1920 X 1080) 2011
(2011)
http://bit.ly/gazavideo METEORO DE GAZA
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No beijo, um suja o outro de si mesmo. As marcas jamais se vo. Animao stop-motion com desenhos a carvo.
127 (1920 X 1080) 2011
(2011)
http://bit.ly/beijoVIDEO BEIJO
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V.TEXTOS
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txt + http://www.joaogrando.com/p/texto.html
+ http://www.joaogrando.com/search/label/TXT
Nos precipcios, o silncio, o vazio e a amplitude da vista se sintetizam num grito de VEM.
No raro isso assusta e afasta, impe uma cautela que cobre qualquer ato. Mas, no caso de
realmente se considerar a proposta do chamado e se dispor muito prximo a ele, o precipcio, antes
de sugar num mar oco, usa seu poderoso som para falar e ali ele at ouve - para alm dos testes
acsticos de gritos bumerangues, naquele silncio em erupo o pensamento volta para si como se
fosse pensado por outro, donde, como no caso do eco ou de qualquer outro espelho, esclarece, at
revela.
No estou em depresso, talvez at o contrrio, mas devo dizer que cheguei beira do precipcio e
devo pular. Como se trata de uma metfora, h a opo de VOAR.
E neste caso o silncio traduzido por VEM virar V.
ESBOO SOBRE A CONCENTRAO ESPONTNEA: A delicadeza mais ou menos pica quando captada. Qualquer coisa o
: h nesta captao quase o contrrio de captura. Seja um cisco em zoom mximo colado ris, seja o detalhe que tudo na
contemplao. Percebe-se algo, que antes era e to somente, e sempre fora e to somente, mas agora (convm chamar agora a tal
instante) , mas no mais apenas , mas miraculosamente, miraculosamente . E no se sabe se mais vingana ou mais recompensa,
mas a coisa rebate o arrebatamento de sua privacidade invadida na proporo absurda de E = mc, do tomo que engole a metrpole ao
ter seu segredo descoberto. Encostar-se verdade. E por breves instantes falar sua lngua nica e bvia, como Dvok derrete o som de
uma porta fechando vagarosamente para fech-la de vez com seu violoncelo, ou como um tigre devora um boi e o transforma primeiro
em sono depois em salto. Em tal linguagem compulsria emprega-se muito mais esforo do que qualquer mestre pudesse esperar do
discpulo o mais dedicado: a demanda na nitidez com que de repente as coisas se apresentam. Ou melhor, parecem se apresentar, visto
que de fato quem pe o palco somos ns: elas estavam sempre ali; ns no estvamos. At agora.
d.vi.da_da_vi.da:_d.di.va?
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Tudo passvel de debate, ponto de vista; e nem preciso acreditar neste mistrio evidente elucidado nos grandes ensinamentos esotricos: as coisas em seu
funcionamento mesmo se reservam verses, impossibilitam uma no rarefeita verdade; como dispensar a maravilha potencial em cada possibilidade que h em tudo, em
qualquer infinitesimal vibrao?
H uma sintonia precisa entre quaisquer coisas que se preferem ou em qualquer coisa preferida. E talvez aquilo que parece uma sensao evoca uma dimenso inteira,
que transborda da sua camada e emerge delicadamente do ciclo padro, na forma de sutilezas que nos pe em pequenos xeques eventuais, e nos inquirem justamente a
certeza: ser que eu tenho certeza? Ser que eu tenho, ento, certeza? Ser que abro mo da languidez da verdade para criar (crer na, fechar-me na) minha prpria?
Tudo possvel certeza.
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Joo corre, a uns treze por hora. Era de fato bom que ele corresse e chegasse de peito ofegante l. O vestido que ela
est deixa a parte mais tenaz da coxa mostra, o p e a panturrilha conseqente esto moldurados na forma mais
reveladora dos msculos por estarem no alto de um salto. A parte menos levada a pblico, a continuao da coxa
que se ligar bunda, estava sob o vestido, para acentuar a curiosidade, mas revelando apenas o volume que ele
encobria, dando assim uma das duas sugestes a outra vinha da parte antes dita, pela qualidade da pele que continha os msculos mostra. Enfim, era bom que seu peito estivesse preparado para um encurtamento brusco
entre distole e sstole. O p num salto alto desafiando o destino plantgrado, quase para se tornar felino , atravs especialmente do metatarso, um n: uma ponta, a de cima, segue para uma parte predominada por msculos, que se avoluma deles, com conseqente potncia, alm de ser quente e prtica quando se dirige aos instintos biolgicos de reproduo; a outra, a de baixo, dilui-se para a delicadeza em dedos e depois unhas,
para o adorno, e como tal pode no ser lembrado, embora no seja tampouco despercebido. A parte que aponta para cima sugere um cavalo. A de baixo, uma menina com tranas nos cabelos. Na dvida entre as duas, rendemo-nos.
A continuao das panturrilhas sempre um mistrio: seja para cima (tapada pela saia), ou para baixo (tapado pelo sapato). As falanges separadas das coxas nem parecem poder dividir o mesmo corpo, menos ainda o mesmo membro. como os lingeries: aquele lacinho parecendo reter dois peitos com centenas de vezes seu volume e peso: o cio e o abrao concomitantes.
E, como naqueles desenhos em que a velha e a moa aparecem ao mesmo tempo (mas uma de cada vez a todo o momento), ou Freud e uma mulher pelada, no h como resolver o embate. Apesar de toda a vontade j num nvel de angstia (num dos pouqussimos casos em que a angstia no grito, mas canto) ante tanta biologia, haver sempre o ursinho de pelcia, o choro no final do filme: o fato de bochechas e bundas estarem num mesmo corpo um
indicativo de que estas coisas devem coexistir. Empate. E sem contar que ainda h um crebro, que no se importa com nada disso.
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VI.FOTOGRAFIA
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FOTOG RAFIA http://bit.ly/grandofoto
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24/07/2011 15H07
(2011)
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11-FEV-10 11:15
(2011)
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7 AUTOR-
RETRATO
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A CRIAO DE JOO (em andamento)
2012-
90 x 120 cm
leo sobre tela
Uma questo perene espontnea e compulsoriamente em minha produo a utilizao de minha prpria
imagem. Ela se d em autorretratos (fotogrficos, desenhados ou pintados), na explorao de novas figuras
derivadas desses autorretratos, na coisificao da minha prpria imagem, transmutando-me, por exemplo,
num logotipo, usando-me de personagem dos prprios desenhos e pinturas, e se estende, metaforicamente, na
utilizao de meu universo cotidiano, que se nivela s demais temticas universais, bem como na produo de
textos autobiogrficos, nos quais a minha expresso pessoal explicitada no mesmo espao de impresses
intelectuais gerais, igualando ponto de vista e conhecimento, imaginao e fato.
Minha prpria imagem funciona como referencial inequvoco pessoal da raa humana, da existncia e do
universo, garantindo uma veracidade da potica sob uma hiptese solipsista, como no mapa em que, a partir
da ampliao repetida de um autorretrato a grafite, eu justifico o universo como sendo nada mais do que uma
questo de escala de um todo composto ou extensivo a esse ser que sou.
-
A CRIAO DE JOO
2009
Marcador permanente sobre fotografia
impressa em papel fotogrfico
GRANDING
2013
Imagem digital
-
4 PM
2011
70 x 100 cm
Carvo sobre papel.
-
JOO DIREITO, JOO ESQUERDO
2007
Fotografia manipulada
digitalmente.
-
MAPA SOLIPSISTA
2012
Montagem digital utilizando cpias
reprogrficas de cpias
reprogrficas de autorretrato
feito a lpis e papel vegetal
contornando o mesmo desenho
original.
AUTORRETRATO CONSTELAO
2011
Imagem digital.
-
2012
2009
70 X 100 CM
Grafite, carvo,
nanquim, hidrocor,
caneta esferogrfica,
SOLIPSISMO
Fotografia
manipulada
digitalmente.
GENEALOGIA: JOO & MARIA
:(:
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. BUROCRACIA POTICA
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DILOGOS i E ii
2008
Imagem digital.
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Du mut dein Leben ndern
2009
Gif animado
(http://www.joaogrando.com/2009/09/leiturarilke.html)
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VINCIUS DE MORAES MIRCIUS DE VONAES
2008
Impresso jato de tinta em papel
sulfite.
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11/set
2008
Poema
(Foi objeto de estudo no livro
Portugus: linguagens: 6 edio, de
William Roberto Cereja e Thereza Cochar
Magalhes.)
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TWITTER
2008
( direita, detalhes)
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COMO ALTERAR
INTERPRETATIVAMENTE O
SENTIDO DE UMA SETA
2012
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FAST-REBELDIA PARA LEVAR
2009
Montagem a partir do logo do McDonalds
em baixa resoluo manipulada no
programa Paintbrush.
HOW2 ADULAR
2009
(Componente da VA #-1 (adiante))
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PALAVRES
Imagem digital.
130 YOTTAMETROS
Imagem digital.
EH_
Imagem digital.
HALO/HOLE
Caneta esferogrfica sobre papel.
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Dilogos experimentais
HE, SHE, SILENCE / SHE HE(RI)
2009
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VOGAIS
Manipulao digital de texto.
VOC MEANS YOU
Hidrocor sobre papel.
ME CHAMA DE ARIAL
Interveno digital sobre imagem digital
retirada de tumblr.
ENGLISH X PORTUGUS_BR
5W1H
Impresso em papel sulfite 21 x 30 cm
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Canoas-POA > Everest-Marianas
2012
21 x 30 cm
Papel vegetal datilografado sobre impresso
em papel sulfite.
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CREPSCULO
2009
Montagem com fotos do cu ordenada por
horrios (12h at 22h) na estrutura da
proporo urea.
CAMINHO DA LUZ
2010
Fotografia
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9.JG,PG,JPG
-
MARY POPPINS RULES
Pginas de papel alheias
cujos originais, geralmente
de 30 x 40 cm, so
trabalhados com grafite,
carvo, caneta
esferogrfica, nanquim,
marcadores, pastel, hidrocor
etc. Algumas tem uma leve
manipulao digital
posterior.
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SRIE ALT+3
-
THE AMAZING SPIDERMAN
!
-
SRIE ALT+3
-
MATADOR
DELICADEZAS QUE
NINGUM V E OUTRAS
RECLAMAES
-
S/ TTULO
POW
-
V: O X DA QUESTO
Desde 2009
N -1: 332 pginas http://bit.ly/va-1
N 0, 1, 2, 3 etc.: sequncia do projeto.
Arte sequencial em PDF.
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XI.SELFIES
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i__j_g
http://bit.ly/grandoself
-
Contrapondo aquelas experincias
com a prpria imagem em que,
ainda que se conte com o acaso,
h a inteno de elaborar alguma
expresso, h tambm uma srie
de registros cujo nico pretexto
seja eu aparecer na foto (na sua
imensa maioria fotografada por
mim mesmo). Na rede social
virtual Flickr mantenho e
atualizo desde 2007 um lbum
chamado SELF i__j_g autorretrato, que agrupa um
histrico desses registros
hoje h cerca de mil fotos.
Ainda que no sejam todas as
fotos do perodo, est mais para
um dirio do que para uma
seleo; h desde fotos vestindo
apenas uma toalha sem preparao
alguma at disparos acidentais
em que apareci a centmetros da
cmera. Essa coleo cujo nico
critrio minha apario ganha
sentido no conjunto, em como a
[...] aglomerao de objetos
contribui para o surgimento do
sentido de diferena, produzindo
essa diferena enquanto valor.
Toda srie, toda gradao, toda
comparao, gera variedade e
diversidade (SEGALEN, 1999 apud
BOURRIAUD, 2011, p. 69).
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XII.SKETCHES
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2012
2009
70 x 100 cm
Grafite, carvo, nanquim, hidrocor,
caneta esferogrfica, pastel oleoso e
tinta acrlica sobre papel.
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TODAS AS FACEZINHAS BONITAS PARA
SUBSTITUIR UMA FACE TRISTE
2008
30 x 40 cm
Grafite e carvo sobre papel.
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E SE AS COISAS RESOLVESSEM?
2010
40 x 40 cm
Grafite, carvo, caneta
esferogrfica, aquarela e pastel
oleoso sobre papel.
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PRINCPIO
2009
Colagem digital sobre desenho
originalmente nanquim, carvo e
grafite sobre papel 30 x 40 cm.
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FOTOSSNTESE
2009
21 x 30 cm
Hidrocor sobre papel.
-
2008 30 X 40 cm
(2011)
AO REAO
2008 70 X 100 cm
(2011)
AO REAO II
2009 70 X 100 cm
TRAZ AS PARADINHA
Grafite e carvo sobre papel.
2009 70 X 100 cm
S/ TTULO
Grafite e carvo sobre papel.
TORMENTA
Foto de desenho feito a hidrocor e grafite.
-
2007 60 X 90 cm
S/ TITULO
Grafite sobre papel.
2007 60 X 90 cm
S/ TITULO
Grafite sobre papel.
2009 30 X 40 cm
EVERYTHING IS
BEAUTIFUL
Hidrocor sobre papel.
S/ TTULO
Esferogrfica sobre papel.
S/ TITULO
Grafite sobre papel.
HORIZONTE
Tira digital.
-
2007 70 X 100 cm
S/ TITULO
Carvo e pastel seco sobre papel.
2007 60 X 90 cm
S/ TITULO
Grafite sobre papel.
2007 60 X 90 cm
S/ TITULO
Grafite sobre papel.
Alguns exerccios de pintura e
desenho.
-
Alguns exerccios de pintura e
desenho.
-
2009 70 X 100 cm
ANJO
Carvo sobre papel.
2010 30 X 40 cm
S/ TTULO
Grafite, carvo e acrlica sobre papel.
2010 50 X 70 cm
CAPA DE
DIRIO
Grafite, carvo, nanquim, hidrocor, caneta
esferogrfica, pastel oleoso e tinta acrlica
sobre papel.
-
Apndice I
Metonmias da multiplicidade Ao analisar algumas obras verifica-se que esse mtodo operacional de abarcar as
linguagens livremente vista no conjunto do meu trabalho se repete nalgumas
experincias de suas unidades, refiro-me especialmente quelas que demandam mais
dedicao nas suas elaboraes e execues: as pinturas e desenhos grandes refletem
metonimicamente este mesmo sistema totalizador e permissivo, ora sobrepe ora
sintetizam estilos, tcnicas, figuraes, elementos de comunicao etc. sob uma estrutura
que os cinja.
O universo da imagem funciona como um agrupador para diferentes experincias e
tratamentos grficos e pictricos. Veja-se o exemplo da obra Rondon: seu cenrio compreende uma rua simples rodeada de alguns prdios e rvores; habitam o cenrio
pessoas, animais e mquinas; trata-se, ento, quase da manifestao conceitual da idia
de cenrio urbano, no qual basicamente so esses os elementos que se misturam: mineral,
vegetal, animal, humano e mquina. Na cena do desenho todas as imagens geradas,
independentemente de funo, estilo, cor etc. compartilham um ambiente comum
imposto pelo cenrio que ocupa todo o quadro: o macaco feito a grafite com traos
marcados, o homem e seus filhos feitos a grafite com traos leves, os grafismos feitos
com caneta hidrocor e qualquer outro elemento transitam no mesmo ambiente
imaginrio.
A figura principal que ocupa a parte direita do centro do quadro alegoricamente sintetiza
todos os elementos tratados no seu entorno, atraindo para si magneticamente todas as
manifestaes formais e representativas sem qualquer seleo: a operao totalizadora e
permissiva transnominada mais uma vez dentro de si mesma, uma sindoque dentro de
outra sindoque: o que une to diferentes tratamentos grficos e pictricos, cores, nveis
de realismo a estrutura da figura, seu contorno: sua idia de corpo, neste caso, abarca
qualquer coisa dentro dos limites de seu contorno, de sua imagem. Como o DNA, a
estrutura pode ser encontrado em qualquer mnima amostra.
Associada a outra obra, feita no ano seguinte (Im coming) vemos isso nas representaes do cu: eles aparecem na parte superior (como conceitualmente no
poderia deixar de ser), so cus simblicos, cuja Lua tambm simblica (o destaque s
crateras caractersticas), assim como o Sol (a sntese do Sol-corpo-celeste com sua idia
de estrela: as chamas e exploses da transformao de Hidrognio em Hlio contidas no
formato de pentagrama regular).
A sobreposio e sntese do-se complexamente em todos os nveis do trabalho, como
nos materiais (partes do desenho a grafite, outras partes com tinta acrlica, tinta leo,
colagens, canetas hidrogrficas), nos estilos (tratamento ora realista, ora expressivo, ora
esquemtico), nos mtodos de comunicao (texto, imagem, estrutura espacial guiada ora
pela cena da imagem ora pela plataforma abstrata da superfcie). Esse processo
construtivo vem evoluindo at hoje, como veremos nas obras a seguir, as mais recentes,
terminadas no final deste ano de 2013.
Embora a pintura Contato, leo e acrlica sobre tela de 123 x 222 cm finalizada em dezembro de 2013, trata-se de uma representao fantstica e com ambientao inspita,
nalguns pontos ela recebe um tratamento realista; e embora ela tenha um aspecto geral
figurativo, nalguns pontos ela tem um tratamento pictrico abstrato.
Isso cria certa tenso entre realidade e fantasia,
novamente cria camadas de representao sobrepostas, acumuladas.
s vezes as figuras tm seus laos entre umas e outras representados (a representao de
uma conexo fsica, como os tentculos da figura verde ou a continuidade do corpo em
uma estrutura brilhante de metal), noutras vezes parecem estar apenas coladas, sem nada
que as justifique ali.
O cenrio onde a ao ocorre de uma simplicidade
conceitual: o cu acima e o cho abaixo criando uma linha horizontal que os separa
exatamente na metade do plano pictrico. Suas cores reforam o contraste entre os seus
conceitos: a soma das cores do cu (bases azuis e negras) com a das cores do cho (bases
amarelas e brancas) gera uma terceira cor (bases verdes e cinzas) que surge e se
desenvolve no sentido de leitura ocidental, da esquerda para direita, fomentando uma
figura que se justifica tanto no plano abstrato pictrico, quanto no espao cnico
representado, quanto na significao metafrica de origem, surgimento, formao (cu
com estrelas associado ao cho e suas pedras e minerais resultando numa forma orgnica
viva, numa forma que carrega a escrita).
A sombra arbitrria; ainda que quando incida, ela incida sob as regras do realismo,
baseando-se nas formas e ngulos que a formam. Mas arbitrria, como as demais
representaes realistas do quadro, que no constituem a sua regra: o realismo sempre
uma alternativa a ser solicitada, uma alternativa para ancorar alguns trechos da imagem
num imaginrio referenciado no concreto, como se a cena ali erigida atravs de diversos
recursos pictricos e grficos tivesse algo de acontecido, algo de registro.
O compromisso com a realidade firmado e abandonado ordem da execuo ou da
organizao pictrica.
Camadas de texto ordinariamente se posicionam num
espao visual abstrato, numa camada alm-imagem, suspensa do espao cnico em que
os demais elementos visuais se relacionam; o que ocorre com os blocos de textos que
sobrepe fotos em materiais jornalsticos e peas publicitrias, com as legendas de filmes
etc. Entanto nessa obra o texto se movimenta entre camadas de maior ou menor
profundidade, a ponto de se fixar na mesma camada do espao imagtico, recuar da
condio de informao independente para fazer parte do cenrio; aqui novamente h
uma escala em que ele vai e volta nveis de realismo, entre o texto como integrante da
ao cnica e o texto como informao diagramado independentemente da imagem.
O ttulo emerge das relaes tratadas na cena, na
medida em que se vale das aberturas que a palavra contato em si carrega, de suas
possibilidades de uso a partir de seu estado isolado, como uma entrada de dicionrio
(contato no sentido de contatos com seres extraterrestres, contato no sentido de contatar
atravs da linguagem, mensagens, contato no sentido de tato, contato no sentido de
resultado), como um ndice visual de conotaes.
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APENDICE n 2
Detalhes:
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(...) vemos isso nas representaes do cu: eles aparecem na parte superior do quadro (como conceitualmente no poderia deixar de ser); so cus simblicos, cuja Lua tambm simblica (o destaque s crateras caractersticas), assim como o Sol (a sntese do Sol-corpo-celeste com sua idia de estrela: as chamas e exploses da transformao de Hidrognio em Hlio contidas no formato de pentagrama regular). [Leia mais nas pginas 102 a 104 deste porflio]
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APNDICE 3
Bula O autorretrato
expandido num ensaio
multiplataforma.
1 LINGUAGEM HETEROGNEA
1.1 CONTEMPORANEIDADE HETEROGNEA
As profundas mudanas nos indivduos,
na sociedade, na comunicao etc. desde o
ps-guerra demandaram a necessidade de
novas conceituaes compatveis com a
contemporaneidade. Uma srie de conceitos
em crise foi remodelada a partir de reflexes
oriundas de todos os campos do saber
(filosofia, antropologia, economia etc.) e que se
relacionam mutuamente, logicamente a arte e
seus rebentos a includos. Essas
conceituaes, mais do que apenas teorias,
elucidam uma situao j instaurada, no interior
da qual todas as propriedades humanas esto
irremediavelmente inseridas. Desde seu
rompimento com a agenda moderna, a arte tem
articulado diversas modalidades antes alheias a
ela e se abriu em todos os seus aspectos,
abrangendo totalmente os nichos sociais,
culturais, miditicos, polticos etc. A aurora dos
anos 90, com o fim da dualidade URSS-EUA e o
avano da tecnologia da rede mundial de
computadores, vem [...] datar a entrada (...) da arte nesse mundo globalizado e destitudo de
grandes relatos que agora o nosso (BOURRIAUD, 2011). As caractersticas de
subverso histrica do ps-moderno s se
expandiram mais e mais com a democratizao
do acesso e disseminao da informao
proporcionados pelas novas tecnologias.
Embora as obras de arte sempre foram
complementadas por uma poro variante
oriunda de sua inerente polissemia, como
prprio tambm de qualquer comunicao,
talvez nunca o interior de uma obra foi to frgil
ante o seu exterior, cada vez mais amplo e
influente, quanto nos dias de hoje. cada vez
menos possvel determinar ou mesmo controlar
a escala (pblico, significado, exibio) de um
trabalho, que se vulgariza, supervaloriza,
subverte-se revelia do artista. Por analogia
reflexo de Anthony Giddens acerca do
esvaziamento do espao, o lugar
contemporneo cada vez mais
fantasmagrico, na medida em que sofre
influncias de tal modo diversas e numerosas
que se torna difcil limit-lo definido por agentes mltiplos e complexos, de origens
distintas, numa teia de determinantes.
Seguramente essa rarefao dos limites pode
ser estendida a qualquer conceito em nossa
poca. Relativamente a isso, mas numa viso
mais ampla sobre os tempos atuais, Nicolas
Bourriaud metaforiza a contemporaneidade
atravs de um arquiplago interconectado, em
oposio ao continente do modernismo; aliados
conceituao de Marc Aug sobre os lugares
antropolgicos e no-lugares, nos quais enfatiza
a incontornvel relao de influncia de um
lugar no sentido clssico com seu exterior,
pode-se vislumbrar uma atmosfera artstica
onde o territrio, a origem, o limite e mesmo o
individualismo, enquanto suspenso do
pertencimento a um conjunto totalizador,
perdem fora. Da tem-se uma rede complexa e
nica que abrange e relaciona todas as
heterogeneidades, acabando com qualquer
resqucio de isolamento. A comunicao desta
massa tambm assim, heterognea e at
onipresente pelo volume concomitante e
ininterrupto com que ocorre, um excesso de
informaes e em meios de veiculao de fcil
acesso e disseminao.
Essa situao gera um cenrio artstico
sem uma corrente crtica principal, sem um
mainstream lgico: no h uma justificativa
formal, social, poltica, potica ou esttica
balizadora, no h regras para que a obra
adentre o terreno da arte contempornea o novo, que era o ingresso histrico exigido pelo
moderninsmo, j no se estabelece numa
cadeia evolutiva, como diz Luiz Camillo Osrio:
[...] a diferena do novo no est ligada a um suporte ou meio expressivo, no tem nada a ver
com evoluo tecnolgica (nem contra ela),
mas se apresenta como uma surpresa esttica:
algo que nos tira das frmulas constitudas e
nos faz poder perceber as coisas de um modo
singular.
Partindo dos desbravamentos da arte,
esse cenrio abrangedor estende-se tambm
gradualmente para os demais campos criativos,
como destaca Helosa Buarque de Hollanda ao
comentar que os novssimos escritores
brasileiros (segundo ela basicamente os
nascidos de 1980 em diante) so de [...] uma gerao que tem uma formao literria com
forte input de imagens, msica, quadrinhos,
clipes etc. Ento voc v uma literatura quase
multiplataforma [...]. J h tempo, mas cada vez mais, as categorias tm perdido importncia
no processo de criao em si.
Nesse sentido, se como artista minha
arte mover-se- compulsoriamente nesse
cenrio, preciso pens-la nesse cenrio, sob o
risco de intenes ultrapassadas se perderem
quando expressadas, ou seja, a produo se
voltar para um fim que rapidamente ser
subvertido pelo uso dos receptores (espectadores, colaboradores, leitores, crticos
etc.).
1.2 PRODUO ARTSTICA INDIVIDUAL
HETEROGNEA
Minha produo artstica desde sempre
tramitou por variadas plataformas de criao.
Sob um mesmo guarda-chuva chamado arte j nem mais uso o termo artes visuais, e tendo
cada vez mais a usar apenas o termo criao , ela como um tecido expressivo no qual se
costuram retalhos distintos, que acabam por se
relacionar casualmente, ou no qual se
desenvolve, de modo ento interagido a priori,
um plano de sntese dessas modalidades
diversas, sendo esta interao tambm a
conseqente construo de uma terceira parte
congruente; em termos prticos, desmembra-se
uma produo que relaciona desenho, pintura e
foto combinados, por confronto ou
complementao, ao texto, e manipulados num
espao comum, geralmente ordenada
seqencialmente para leitura, que pode ser
esttico, e assim organizado atravs do design
grfico, ou cintico, organizado pelo vdeo, j
naturalmente uma plataforma de convergncia.
Ou ainda uma srie de registros em diferentes
meios arquivados num local comum para
manipulao do espectador-leitor, ficando sua
leitura a ordenao que ser utilizada.
Essa espontnea e quase compulsria
construo criativa hbrida e abrangente
demanda-se de uma por assim dizer
incapacidade de concentrao, de uma
incapacidade de abrir mo de modalidades para
se isolar nalguma delas e desenvolver uma
pesquisa especfica; isso se asila numa vontade
de franquear as habilidades criativas exercidas,
acumulando os ofcios pretendidos e at ento
entremeados de escritor, ilustrador, quadrinista,
realizador audiovisual, designer, pintor e at
mesmo, j sem tanta pretenso quanto os
anteriores, ator, sob a liberdade criativa da arte
contempornea, nico terreno permissivo para
dispensa de classificaes.
As minhas experincias anteriores, inda
que se tenham desenvolvido frutiferamente,
sempre me foram insuficientes quando no
mltiplas em seu processo criativo.
Se h a necessidade de estabelecer uma
coerncia em minha produo, para que ela no
seja fomentada e para que no atrofie o
desenvolvimento mais do que germin-lo, ela
tem de se apresentar pela instaurao de
liberdade: formal, temtica e potica, porque a
sua base ideal, sendo a prioridade, portanto.
Trata-se da soma de um anseio
totalizador assuno da dvida/indeciso
como agente libertador.
2 AUTORRETRATO
Outra questo perene espontnea e
compulsoriamente desde sempre em minha
produo a utilizao de minha prpria
imagem. Ela se d em autorretratos
(fotogrficos, desenhados ou pintados), na
explorao de novas figuras derivadas desses
autorretratos, na insero de minha imagem
como personagem em desenhos e pinturas, e
se estende, metaforicamente, na utilizao de
meu universo cotidiano, que se nivela s demais
temticas universais, bem como na produo
de textos autobiogrficos, nos quais a minha
expresso pessoal explicitada no mesmo
espao de impresses intelectuais gerais,
igualando ponto de vista e conhecimento,
imaginao e fato.
2.1 ATOR NA NANONARRATIVA
FOTOGRFICA
Nalgumas fotografias trabalho extraindo
algum sentido de uma situao inusitada
presente na cena, como o lanamento urgente
de uma narrativa que lhe d algum sentido,
servindo de mote, incio ou concluso no
desenrolar de uma nanonarrativa to fugaz
quanto o instante captado pela mquina. Esse
sentido breve e leve se d implosivamente,
como colocar um verso na msica surgida da
imagem.
2.2 DESDOBRAMENTOS DA PRPRIA
IMAGEM
Trabalho tambm na coisificao da
minha prpria imagem, transmutando-me, por
exemplo, num logotipo, usando-me de
personagem dos prprios desenhos e pinturas;
minha prpria imagem funciona como
referencial inequvoco pessoal da raa humana,
da existncia e do universo, garantindo uma
veracidade da potica sob uma hiptese
solipsista, como no mapa em que, a partir da
ampliao repetida de um autorretrato a grafite,
eu justifico o universo como sendo nada mais
do que uma questo de escala de um todo
composto ou extensivo a esse ser que sou.
2.3 ARQUIVO DE AUTORRETRATOS
Contrapondo essas experincias com a
imagem, em que, ainda que se conte com o
acaso, h a inteno de elaborar-se alguma
expresso, h tambm uma srie de registros
cujo nico pretexto seja eu aparecer na foto (na
sua imensa maioria fotografada por mim
mesmo). Na rede social virtual Flickr mantenho
e atualizo desde 2007 um lbum chamado SELF
i__j_g autorretrato, que agrupa um histrico desses registros hoje h cerca de mil fotos. Ainda que no sejam todas as fotos do perodo,
est mais para um dirio do que para uma
seleo; h desde fotos com toalha sem
preparao alguma at disparos acidentais em
que apareci a centmetros da cmera. Essa
coleo cujo nico critrio minha apario
ganha sentido no conjunto, em como a [...] aglomerao de objetos contribui para o
surgimento do sentido de diferena, produzindo
essa diferena enquanto valor. Toda srie, toda
gradao, toda comparao, gera variedade e
diversidade (SEGALEN, 1999 apud BOURRIAUD, 2011, p. 69).
3 ENSAIO MULTIPLATAFORMA
3.1 AUTORIA COMO CENTRO DE GRAVIDADE
multiplicidade de estmulos da
contemporaneidade posiciono-me replicando
mltiplas respostas formais eladas pela autoria,
freqentemente explcita atravs da utilizao
de autorretratos, impugnando a casualidade e
anonimato que de praxe estes estmulos
carregam a prpria imagem funcionando como assinatura, at como certa absolvio, na
medida em exponho somente a mim mesmo, e
certa autenticao, na medida que sou dono da
minha verdade e o detentor dos direito de
imagem que reflito para a realidade.
Desta prtica que no restringe
modalidades afluem experincias e obras de
desenho, pintura, escrita, fotografia, vdeo etc.
-
que se cruzam e afastam ao longo de seus
cursos, operando ora independentemente, ora
relacionadas (pela sntese ou sobreposio),
mas sempre como rios diversos pertencentes a
uma mesma bacia hidrogrfica; seu registro e
publicao tambm so variados, complexando
inda mais a contingncia para um espao de
exibio esttico por tempo determinado.
Ainda assim, ela rebentara-se de um
mesmo contexto de produo no qual a autoria,
para alm do estabelecimento compulsrio de
uma trajetria, estilo, histrico etc., talvez seja a
chave conceitual que a retenha: os textos
extensos ou pequenos, as fotos, os infogrficos,
as montagens, at mesmo as inseres em
redes sociais, so expresses cujo nico elo o
emissor, fazendo do autor um lugar dissipado
pelas obras, um vetor que as relaciona. Este
mtodo correria o risco de ser vago, j que se
vale das pertinncias da autoria, mas como
tenho trabalhado e a experincia me mostra que
ele tem sido eficaz ao conglomerar os diferentes
tipos de manifestaes e mesmo assim dar um
mesmo tom a elas, dar-lhes algo perceptvel em
comum.
(Nalguns casos o autorretrato torna
forosa a autoria, relacionando-se, por oposio
ou adaptao, s tendncias de fim de
anonimato e criao coletiva, vistos em
movimentos como o Copyleft, quase como um
levante.)
3.2 ENSAIO DISSIPADO
Talvez a principal caracterstica do
ensaio, gnero literrio cujas bases foram
fundamentadas por Bacon e Montaigne,
consista na liberdade: ela est no mago das
caractersticas atribudas a ele, como a
possibilidade de ser breve, como a
possibilidade de transitar entre estilos, sua
informalidade, sua subjetividade, sua assuno
da liberdade para falar sobre qualquer tema.
Sob essa tica, difcil no associar o gnero
aos cadernos de Leonardo da Vinci, uma verso
visual (e j h 5 sculos atrs complexando
categorias) em que um esboo artstico para um
afresco divide espao com o projeto de uma
ponte ou estudo cientfico anatmico. No vejo
melhor associao ao meu trabalho do que
esta, uma srie de ensaios ou um grande ensaio
que se rarefaz em parcelas variadas tanto no
espao quanto no tempo. No por acaso, logo
que iniciei minhas publicaes na internet, em
2007, meu lema (talvez slogan tenha mais
cabimento) era sobre tudo sob um.
3.3 MEIOS DE EXIBIO
Dado ento ser da minha atividade
criativa operar em plataformas vrias e de
publicao gradual e dissipada, ela
problematiza a questo da exposio como
fomentao de um lugar, j que no se trataria
de um espao pensado previamente para tanto,
mas um espao que deve abarcar o gnero
desta produo, na falta da identificao de um
conceito estreito que a acompanhe.
Vejamos o caso da pintura, a qual, no
caso da utilizao que fao dela, comunica-se
mais tradicionalmente com o pblico, pela
natureza do suporte: o quadro na parede para
ser contemplado e analisado in loco em todos
os seus detalhes, a materialidade (relevos,
dimenso, camadas de tinta etc.) presente alm
da imagem retiniana, alm do que uma
reproduo visual registra; porm a reproduo
do original pintado ressonar em outros meios,
podendo ser reutilizada por mim com
manipulao digital e associada s outras
formas de criao, ou ainda por outrem, pela
simples disseminao permitida pelas
tecnologias atuais. A imagem conceitual, a idia
emanada da materialidade se move livremente,
acumulando significados e usos adquiridos na
sua trajetria.
Talvez o caminho para atender isso seja a
exposio fractal, retalhada e costurada,
superposta, misturada, tal como a
virtualmente pelo site onde mantenho e atualizo
parte considervel de minha produo:
http://www.joaogrando.com. Nele o discurso
fragmentado em imagens (fotos, infogrficos,
desenhos, pinturas, rascunhos etc.), textos de
diferentes estilos e tamanhos se organiza tal
como num jornal ou site de notcias: as partes
tm interdependncia, a aproximao se d
pelo espao disponibilizado, passvel de
manipulao pelo visitante, que pode reorden-
lo por alguns critrios disponveis, como ordem
temporal, por assuntos (amor, esporte, arte etc.)
atravs dos marcadores de postagens, por
formato (texto, imagem, foto etc.). Alm disso,
h ainda uma pequena gama de opes para a
diagramao e dinmica geral do site (h um
menu suspenso no canto superior esquerdo que
permite escolher dentre sete formatos, que
mudam consideravelmente o padro (padro,
no original) da exibio). Interessante notar
que, embora o agregador de contedos possa
ser manipulado pelo leitor-espectador, eles se
mantm originais em todos os detalhes (o texto,
alm de ser imutvel, mantm a formatao
definida por mim). O controle sobre o
contedo, o meio livre. Temos aqui a
espacializao do tempo, a espacializao do
tema, disponveis em modulaes manipulveis
pelo espectador.
Repetir estas ferramentas permitidas pela
tecnologia digital analogicamente um desafio,
mas pode no ser a nica sada. A dificuldade
em expor para visitao esta parte do trabalho
projetar o dinamismo destes elementos que se
ligam por diferentes fatores, ora narrativos, ora
temporais, ora unicamente pela centralizao
autoral; costumeiramente eles no tm critrios
especficos para exibio, ou seja, so
disponibilizados virtualmente, para leituras nos
veculos que convirem aos espectadores
(computador pessoal, smartphone, tablet,
televiso etc.). Ento a sua exposio planejada
num espao para ser visitada presencialmente
tende a uma atmosfera arquivista, de
compilao. Para evit-la, se for o caso ou
inteno, preciso fazer uma curadoria do
prprio trabalho, estabelecendo recortes
temticos, temporais ou, mais profundamente,
elaborar uma narrativa multiplataforma, um
processo de montagem que trabalhe novos
significados a partir do material existente embora esta prtica tambm possa ser
realizada a priori deliberadamente. Isso entanto
cria um novo degrau, j que essas prticas
resultantes em narrativas se assentam mais
adequadamente no formato livro ou vdeo, mais
propensos distribuio para o pblico do que
para a visitao.
3.4 CONVERGNCIA
Uma tendncia natural dessas prticas
que passem da simples sobreposio para um
cruzamento, j a no apenas unidas por um
conjunto artstico, mas unidas no interior de
uma pea isolada.
Da nivelam-se as potencialidades
poticas desenvolvidas nas diferentes
linguagens, de tal modo que, uma vez
aplanadas, permutem suas propriedades
tpicas: o ritmo do texto pode se transferir para
a imagem; a imagem pode se valer de um
contexto estabelecido anteriormente pelo texto
num processo de estmulo mtuo. As
linguagens trabalharo tambm nas elipses
deixadas por outras linguagens, atuando como
chaves de interpretao. O cuidado
fundamental no mascarar reinvenes de roda na simples mistura de modelos j resolvidos; para tanto, as formataes devem,
como j disse, trabalhar a favor da narrativa ou
puno potica que as agrupa: tm funo, mas
funo no implica vontade esta da potica,
e ela que determina o que ser usado, ela o
fio condutor.
3.4.1 MMA e iPhone
O MMA (mixed martial arts, traduzido da
lngua inglesa significa literalmente artes marciais misturadas) um conceito que vem se desenvolvendo desde os anos 60, crescendo
em popularidade nos anos 90 e gozando de
grande prestgio nos dias atuais. Inicialmente
consistia numa competio intermodalidades (a
sobreposio do boxe, jiu jitsu, carat etc.) que
evoluiu rapidamente, graas s regras nicas
que atendiam todos os estilos, abrigando-os
num lugar comum, para a competio de um
novo estilo surgido, onde os lutadores usaram o
que lhes interessava em cada modalidade: a
sntese do boxe, jiu jitsu, carat etc.
Todas as artes marciais tm suas regras
prprias, suas tradies, suas especialidades; o
MMA despreza essas especificidades e recruta
o que prtico para um fim. O smartphone (um
aparelho telefnico mvel com funes
estendidas, quase um mini computador porttil)
ecoa esse mesmo conceito do nosso tempo:
embora no seja uma mquina fotogrfica,
usado para tirar fotos; embora no seja um
computador, usado para processar programas
vrios. Analogamente, para alm da linguagem
comum binria que processa todos os tipos de
arquivo (imagem, vdeo, som, texto), a
comunicao e expresso so para mim a
prioridade nesses casos da convergncia, e
assim sendo podem convocar o meio que for
necessrio para seus objetivos, reforando que
o pblico j se relaciona naturalmente com
esses cruzamentos.
3.4.2 V #-1
O trabalho V #-1, de 2009, um arquivo PDF de 332 pginas disponvel para leitura e
download na internet4, transita entre um
peridico (#-1 sugere a seqncia do programa nos nmeros 0, 1, 2 etc.), livro de
artista, romance grfico, catlogo, portflio etc.
Ao decorrer de suas pginas, textos de todos
os tipos e imagens de todos os tipos se
relacionam atravs da organizao potica do
design. H textos inditos e manipulaes de
trabalhos anteriores, que se combinam (um
poema de 2006 aglutinado a um esboo at
ento esquecido de 2004) e atuam
combinadamente num lbum de idias grfico-
textuais.
3.5 METONMIAS DA MULTIPLICIDADE
Ao analisar algumas obras verifica-se que
esse mtodo operacional de abarcar as
linguagens livremente vista no conjunto do meu
trabalho se repete nalgumas experincias de
suas unidades, refiro-me especialmente quelas
que demandam mais dedicao nas suas
elaboraes e execues: as pinturas e
desenhos grandes refletem metonimicamente
este mesmo sistema totalizador e permissivo,
ora sobrepe ora sintetizam estilos, tcnicas,
figuraes, elementos de comunicao etc. sob
uma estrutura que os cinja.
O universo da imagem funciona como um
agrupador para diferentes experincias e
tratamentos grficos e pictricos. Veja-se o
exemplo da obra Rondon: seu cenrio compreende uma rua simples rodeada de
alguns prdios e rvores; habitam o cenrio
pessoas, animais e mquinas; trata-se, ento,
quase da manifestao conceitual da idia de
cenrio urbano, no qual basicamente so esses
os elementos que se misturam: mineral, vegetal,
animal, humano e mquina. Na cena do
desenho todas as imagens geradas,
independentemente de funo, estilo, cor etc.
compartilham um ambiente comum imposto
pelo cenrio que ocupa todo o quadro: o
macaco feito a grafite com traos marcados, o
homem e seus filhos feitos a grafite com traos
leves, os grafismos feitos com caneta hidrocor e
qualquer outro elemento transitam no mesmo
ambiente imaginrio. A figura principal que
ocupa a parte direita do centro do quadro
alegoricamente sintetiza todos os elementos
tratados no seu entorno, atraindo para si
magneticamente todas as manifestaes
formais e representativas sem qualquer seleo:
a operao totalizadora e permissiva
transnominada mais uma vez dentro de si
mesma, uma sindoque dentro de outra
sindoque: o que une to diferentes
tratamentos grficos e pictricos, cores, nveis
de realismo a estrutura da figura, seu
contorno: sua idia de corpo, neste caso,
abarca qualquer coisa dentro dos limites de seu
contorno, de sua imagem. Como o DNA, a
estrutura pode ser encontrado em qualquer
mnima amostra.
Associada a outra obra, feita no ano
seguinte (Im coming) vemos isso nas representaes do cu: eles aparecem na parte
superior (como conceitualmente no poderia
deixar de ser), so cus simblicos, cuja Lua
-
tambm simblica (o destaque s crateras
caractersticas), assim como o Sol (a sntese do
Sol-corpo-celeste com sua idia de estrela: as
chamas e exploses da transformao de
Hidrognio em Hlio contidas no formato de
pentagrama regular).
A sobreposio e sntese do-se
complexamente em todos os nveis do trabalho,
como nos materiais (partes do desenho a
grafite, outras partes com tinta acrlica, tinta
leo, colagens, canetas hidrogrficas), nos
estilos (tratamento ora realista, ora expressivo,
ora esquemtico), nos mtodos de
comunicao (texto, imagem, estrutura espacial
guiada ora pela cena da imagem ora pela
plataforma abstrata da superfcie). Esse
processo construtivo vem evoluindo at hoje,
como veremos nas obras a seguir, as mais
recentes, terminadas no final deste ano de
2013.
3.5.1 Anlise da obra sim e no ou no e sim: in.form.ao
Como nos trabalhos analisados
anteriormente e na produo de forma geral,
temos aqui um ecletismo que permeia todos os
fatores da obra.
As variaes de cores, de tipos de
pincelada, de nveis de realismo trabalham na
elaborao de camadas acumuladas e na
tenso entre elas. Uma figura tratada
tecnicamente de modo mais acadmico com
seus tons pastis dialoga com uma imagem de
cores vibrantes e contornos bem definidos por
linhas fortes, chocando tradio pictrica e
grfica, volume/profundidade e plano
bidimensional, cores misturadas e diludas a
cores chapadas e puras.
Os elementos de estruturas retas do
cenrio como prdios, ruas e os postes em
seqncia reforam a perspectiva da cena,
fazendo dela a origem no s dos raios-guia de
profundidade como de toda a imagem, como se
tudo que h ali erigisse dali estendendo-se do
fundo do quadro e trocando influncias entre
figuraes na extenso do caminho
(interessante salientar que a ordem de pintura
do quadro tambm, tendo sido iniciado pela
pintura do cu, justamente do cu, abrigo divino
da criao na maioria das mitologias e origem
da vida em muitas correntes cientficas).
A narrativa da cena de acontecimentos
ilgicos sem relaes aparentes: as
personagens parecem ter sido
teletransportadas naquele instante de outro
local ou realidade, onde a ao acontecia e fora
interrompida pelo rapto do quadro. A existncia
das coisas dali est ligada condio que a
imagem do quadro fornece, como se ela tivesse
comeado naquele exato momento, entrosada
com o tempo do trabalho, com a existncia da
pintura em si, a criao da forma como criao
da forma representada, e no como
personagens que tivessem sua vida prpria
independente do registro ali feito; os objetos
fsicos passam a existir a partir da imaginao,
como no clebre conto Tln, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges.
Assim, as relaes puras de forma
transpem a realidade representada: uma linha
inserida no espao de perspectiva diagonal da
calada transposta para o bloco de texto deixa
de ser profunda para virar uma forma
geomtrica abstrata: a mesma linha reaplicada,
colada, toma outra sentido. O quadro o
histrico dessas relaes formais que se
influenciaram dinamicamente at o momento de
ficarem congeladas na imagem finalizada.
Entre os dois personagens maiores (dois
autorretratos complementares), no primeiro
plano do quadro, h uma relao de dvida, ou
ao menos hesitao: aparentemente duelam,
mas as feies no esclarecem a fora
imprimida, h certa ambigidade entre a
simulao e a efetividade do ato, se ele de
fato agressivo ou se seria at mesmo afetuoso,
se h de fato voluntariedade em seus atos ou se
como se estivessem ali por uma
determinao, uma determinao visual por
assim dizer, como figurantes que cumprem seus
papis burocraticamente (ou talvez o espanto
da recm-chegada a um cenrio para o qual
foram teletransportados).
No tratamento pictrico irregular do
quadro a textura que resolveria uma
representao realista salta de seu contexto e
toma vida prpria no espao da tela, como se a
representao e o representado gerassem uma
terceira coisa, que ao mesmo tempo se
materializa na realidade representada
diminuindo a distncia entre o que
representado (narrativa, contedo) de como se
representa (expresso, forma): tudo o que est
na tela, seja uma mancha ou um corpo nu,
ganha vida tanto como personagem quanto
elemento abstrato, no h excees ou
divises: se dividem o mesmo plano
bidimensional, as regras so, ainda que
generosas, as mesmas para tudo. H nessa
ao totalizadora e permissiva algo de
indeciso assumida que proporciona essa
liberdade a qualquer resposta, qualquer
tentativa, onde h espao para tudo; tela
qualquer coisa pode ser trazida indistintamente;
ao meu tecido expressivo, qualquer tipo de
criao bem-vinda.
3.5.2 Anlise da obra Contato
Embora a pintura Contato, leo e acrlica sobre tela de 123 x 222 cm finalizada
em dezembro de 2013, trata-se de uma
representao fantstica e com ambientao
inspita, nalguns pontos ela recebe um
tratamento realista; e embora ela tenha um
aspecto geral figurativo, nalguns pontos ela tem
um tratamento pictrico abstrato.
Isso cria certa tenso entre realidade e
fantasia, novamente cria camadas de
representao sobrepostas, acumuladas.
s vezes as figuras tm seus laos entre
umas e outras representados (a representao
de uma conexo fsica, como os tentculos da
figura verde ou a continuidade do corpo em
uma estrutura brilhante de metal), noutras vezes
parecem estar apenas coladas, sem nada que
as justifique ali.
O cenrio onde a ao ocorre de uma
simplicidade conceitual: o cu acima e o cho
abaixo criando uma linha horizontal que os
separa exatamente na metade do plano
pictrico. Suas cores reforam o contraste entre
os seus conceitos: a soma das cores do cu
(bases azuis e negras) com a das cores do cho
(bases amarelas e brancas) gera uma terceira
cor (bases verdes e cinzas) que surge e se
desenvolve no sentido de leitura ocidental, da
esquerda para direita, fomentando uma figura
que se justifica tanto no plano abstrato
pictrico, quanto no espao cnico
representado, quanto na significao metafrica
de origem, surgimento, formao (cu com
estrelas associado ao cho e suas pedras e
minerais resultando numa forma orgnica viva,
numa forma que carrega a escrita).
A sombra arbitrria; ainda que quando
incida, ela incida sob as regras do realismo,
baseando-se nas formas e ngulos que a
formam. Mas arbitrria, como as demais
representaes realistas do quadro, que no
constituem a sua regra: o realismo sempre
uma alternativa a ser solicitada, uma alternativa
para ancorar alguns trechos da imagem num
imaginrio referenciado no concreto, como se a
cena ali erigida atravs de diversos recursos
pictricos e grficos tivesse algo de acontecido,
algo de registro.
O compromisso com a realidade firmado e
abandonado ordem da execuo ou da
organizao pictrica.
Camadas de texto ordinariamente se
posicionam num espao visual abstrato, numa
camada alm-imagem, suspensa do espao
cnico em que os demais elementos visuais se
relacionam; o que ocorre com os blocos de
textos que sobrepe fotos em materiais
jornalsticos e peas publicitrias, com as
legendas de filmes etc. Entanto nessa obra o
texto se movimenta entre camadas de maior ou
menor profundidade, a ponto de se fixar na
mesma camada do espao imagtico, recuar da
condio de informao independente para
fazer parte do cenrio; aqui novamente h uma
escala em que ele vai e volta nveis de realismo,
entre o texto como integrante da ao cnica e
o texto como informao diagramado
independentemente da imagem.
O ttulo emerge das relaes tratadas na
cena, na medida em que se vale das aberturas
que a palavra contato em si carrega, de suas
possibilidades de uso a partir de seu estado
isolado, como uma entrada de dicionrio
(contato no sentido de contatos com seres
extraterrestres, contato no sentido de contatar
atravs da linguagem, mensagens, contato no
sentido de tato, contato no sentido de
resultado), como um ndice visual de
conotaes.
4 PROCESSO
Se a produo em si carrega essa
caracterstica mltipla, o processo criativo no
teria como ser diferente. Nele experincias se
cruzam, rotas so desviadas e novos caminhos
so abertos inesperadamente, filigranas de
movimento intenso e multilateral.
Principia-se a despeito do processo ser contnuo pode-se usar esse termo de um movimento aleatrio de diversos esboos,
aes, idias, intenes etc. at que se alinhem
numa situao favorvel criao mais
pensada, orientada e planejada, da se
rebentando dessa tempestade de estmulos
para um caminho s, qual a formao de um
planeta surgido de poeira csmica. Um
processo de evoluo como o elucidado pela
Teoria da Inflao da fsica, onde pequenas
irregularidades e acidentes iniciais acumulam-se
em progresso geomtrica e geram resultados
no previstos inicialmente, como uma bola de
neve cujo formato esfrico seja substitudo pela
novidade na dinmica de sua evoluo.
Do recorte de uma cena de um vdeo em
que eu me movimentava para a filmadora
estacionada sobre uma cadeira surgiu um
esboo sem fim definido; tempos depois, esse
esboo completou outro esboo que havia sido
criado alheiamente a esse processo.
Indubitavelmente o caminho do frame do vdeo
pintura Contato no foi planejado, mas surgiu devido frtil permissividade instaurada
no ambiente de atelier.
No deixa de ser, claro, o processo
mental criativo ordinrio, em que inteno e
acaso (e at mesmo interveno divina para os
mais crentes, como eu) se confundem no
turbilho de estmulos que se cruzam a todo o
momento na imaginao de um criador de
imagens. Tento somente perder o mnimo
possvel (o que ser sempre muitssimo) desse
processo registrando-o para que sejam acordes
passveis de composio ou ao menos uma
coleo de obedientes impresses, tradues
da introspeco, mapas dos circuitos internos todos solveis entre si.
1 Luiz Camillo Osorio in revista Filme Cultura n 54, 2011, pg. 56, CTAv (Centro Tcnico Audivisual
CTAv) maio/2011.)
2 Helosa Buarque de Hollanda (idem)
-
Apncide 4: CV
JOO GRANDO (Joo Ricardo Lopes Grando). Torres, 1982. FORMAO Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, 2013 Projeto de Graduao: O autorretrato expandido num ensaio multiplataforma. PUBLICAES - Zupi #23 (5 pginas inteiras, das quais 2 imagens em folhas duplas (seo start/stop)); - ffw>>Mag! #32 (1 pgina inteira (pg. 188)); - Livro Portugus Linguagens 7 ano, de William Roberto Cereja e Thereza Magalhes (Editora Atual) um poema foi objeto de estudo; - Livro selecionados 1 Concurso Nacional de Poesia Colatina 2005. EXPOSIES COLETIVAS - 15x15 Pinacoteca Baro de Santo ngelo, Porto Alegre RS, 2014 (abertura agendada para maio) - Festival Hotspot, selecionados nacionais, curadoria de Speto e Graziela Peres exposio itinerria: So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Braslia, Vitria, Porto Alegre, Salvador, Recife, Natal, Belm, So Lus; 2013 - Urussai, 27 Casa dos Criadores, shopping Frei Caneca, So Paulo SP, 2010 - Vaga-lume, mostra de vdeo experimental Pinacoteca do Instituto de Artes UFRGS, Porto Alegre RS, 2008 - Bienal B Casa dos Bancrios, Porto Alegre RS, 2007 OUTROS - cofundador da marca Camelbird (http://www.camelbird.com.br) - Tcnico em Administrao no praticante; - Tcnico em Contabilidade no praticante;
www.joaogrando.com
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