joão grando: portfólio

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Portfólio de João Grando.

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  • IMAGINADOR. Da soma de um anseio totalizador assuno da

    dvida/indeciso como agente libertador tem-se um tecido expressivo no

    qual se costuram retalhos de diferentes plataformas, ou um campo

    criativo de formato e dimenso dinmicos, frtil e estril espera e em busca do poder tigrino e do tocante lamento da presa, no atelier ou com

    o smartphone, do humor ao horror, habitando quaisquer desses hiatos entre

    extremos, ou os descobrindo: a cabea ao vento; as mos, obra.

    i. DESENHOS E PINTURAS

    ii. NANONARRATIVAS IMPLOSIVAS

    iii. ENSAIO MULTIPLATAFORMA

    iv. VDEOS

    v. TEXTOS

    vi. FOTOGRAFIA

    vii. AUTORRETRATO

    viii. BUROCRACIA POTICA

    ix. JG,PG,JPG

    x. V

    xi. SELFIES

    xii. SKETCHES

    APNCIDE 1: METONMIAS DA MULTIPLICIDADE

    APNDICE 2: DETALHES

    APNDICE 2: BULA

    APNDICE 3: CV

    NDICE

  • i. DESENHOS E PINTURAS

  • CONTATO

    2013

    123 x 222 cm

    Acrlica e leo sobre

    tela

  • O AMOR UMA LGRIMA DE MANG

    2009

    30 x 40 cm

    Grafite, carvo, nanquim, hidrocor e

    caneta esferogrfica sobre papel.

  • RONDON

    2010

    87 x 140 cm

    Grafite, carvo, nanquim, hidrocor,

    caneta esferogrfica e acrlica

    sobre papel.

  • I AM COMING

    2011

    87 x 140 cm

    Grafite, carvo, nanquim,

    caneta hidrocor, caneta

    esferogrfica e tinta acrlica

    sobre papel.

  • RRRIDE

    2010

    70 x 50 cm

    Grafite, nanquim, hidrocor,

    esferogrfica e acrlica sobre

    papel.

  • PG,JG,JPG #3 (HOMEM-PRDIO)

    2009

    Grafite, nanquim, hidrocor,

    caneta esferogrfica e pastel

    oleoso sobre papel 30 x 40 cm

    (abaixo) com manipulao

    digital posterior ( direita).

  • HORIZONS

    2010

    70 X 100 CM

    Grafite, carvo, nanquim,

    hidrocor, caneta

    esferogrfica, pastel oleoso

    e tinta acrlica sobre papel.

  • sim e no ou no e sim

    (in.form.ao)

    [em andamento]

    2013

    133 x 188 cm

    Acrlica e leo sobre tela

    As variaes de cores, de tipos de pincelada, de

    nveis de realismo trabalham na elaborao de camadas

    acumuladas e na tenso entre elas. Uma figura tratada

    tecnicamente de modo mais acadmico com seus tons

    pastis dialoga com uma imagem de cores vibrantes e

    contornos bem definidos por linhas fortes, chocando

    tradio pictrica e grfica, volume/profundidade e plano

    bidimensional, cores misturadas e diludas a cores

    chapadas e puras.

    Os elementos de estruturas retas do cenrio como

    prdios, ruas e os postes em seqncia reforam a

    perspectiva da cena, fazendo dela a origem no s dos

    raios-guia de profundidade como de toda a imagem, como

    se tudo que h ali erigisse dali, estendendo-se do fundo do

    quadro e trocando influncias entre figuraes na extenso

    do caminho (interessante salientar que a ordem de

    pintura do quadro tambm, tendo sido iniciado pela

    pintura do cu, justamente do cu, abrigo divino da

    criao na maioria das mitologias e origem da vida em

    muitas correntes cientficas).

    A narrativa da cena de acontecimentos ilgicos sem

    relaes aparentes: as personagens parecem ter sido

    teletransportadas naquele instante de outro local ou

    realidade, onde a ao acontecia e fora interrompida pelo

    rapto do quadro. A existncia das coisas dali est ligada

    condio que a imagem do quadro fornece, como se ela

    tivesse comeado naquele exato momento, entrosada com

    o tempo do trabalho, com a existncia da pintura em si, a

    criao da forma como criao da forma representada, e

    no como personagens que tivessem sua vida prpria

    independente do registro ali feito; os objetos fsicos

    passam a existir a partir da imaginao, como no clebre

    conto Tln, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges.

    Assim, as relaes puras de forma transpem a

    realidade representada: uma linha inserida no espao de

    perspectiva diagonal da calada transposta para o bloco de

    texto deixa de ser profunda para virar uma forma

    geomtrica abstrata: a mesma linha reaplicada, colada,

    toma outro sentido.

    O quadro o histrico dessas relaes formais que

    se influenciaram dinamicamente at o momento de

    ficarem congeladas na imagem finalizada.

    Entre os dois personagens maiores (dois

    autorretratos complementares), no primeiro plano do

    quadro, h uma relao de dvida, ou ao menos

    hesitao: aparentemente duelam, mas as feies no

    esclarecem a fora imprimida, h certa ambigidade

    entre a simulao e a efetividade do ato, se ele de fato

    agressivo ou se seria at mesmo afetuoso, se h de fato

    voluntariedade em seus atos ou se como se estivessem

    ali por uma determinao, uma determinao visual por

    assim dizer, como figurantes que cumprem seus papis

    burocraticamente (ou talvez o espanto da recm-chegada

    a um cenrio para o qual foram teletransportados).

    No tratamento pictrico irregular do quadro a

    textura que resolveria uma representao realista salta de

    seu contexto e toma vida prpria no espao da tela, como

    se a representao e o representado gerassem uma

    terceira coisa, que ao mesmo tempo se materializa na

    realidade representada diminuindo a distncia entre o

    que representado (narrativa, contedo) de como se

    representa (expresso, forma): tudo o que est na tela,

    seja uma mancha ou um corpo nu, ganha vida tanto

    como personagem quanto elemento abstrato, no h

    excees ou divises: se dividem o mesmo plano

    bidimensional, as regras so, ainda que generosas, as

    mesmas para tudo. H nessa ao totalizadora e

    permissiva algo de indeciso assumida que proporciona

    essa liberdade a qualquer resposta, qualquer tentativa,

    onde h espao para tudo; tela qualquer coisa pode ser

    trazida indistintamente; ao meu tecido expressivo,

    qualquer tipo de criao bem-vinda.

  • XXI E O MAL DE ALZHEIMER DE

    ZEUS

    2009

    70 X 100 CM

    Grafite, carvo, nanquim,

    hidrocor, caneta

    esferogrfica e tinta

    acrlica sobre papel.

  • FEMME ET FAUNE

    2008

    70 X 100 CM

    Grafite, carvo, nanquim,

    canetas hidrocor e

    esferogrfica sobre papel.

  • Explorar nalgumas fotografias

    a situao gerada pela captura da

    cena, como o lanamento urgente

    de algum sentido, servindo de

    mote, incio ou concluso no

    desenrolar de uma nanonarrativa

    to fugaz quanto o instante captado

    pela mquina fotogrfica. Esse

    sentido breve e leve se d

    implosivamente, como colocar um

    verso na msica surgida da

    imagem.

    Os recursos tm de ser

    exclusivamente da captura da

    imagem, ou seja, no h qualquer

    manipulao digital posterior, as

    intervenes so feitas opticamente

    no prprio ato da cena.

    ii. NANONARRATIVAS IMPLOSIVAS

  • EU-LRICO: EU-LUZ

    2009

    Fotografia

  • JOO CRIANDO ADO

    2009

    Fotografia

  • JOO CRIANDO ADO (VARIAES)

    2009

    Fotografia

  • RAIO DE SOMBRA NO MUNDO SUBTERRNEO DGUA

    2010

    Fotografia

  • iii.ENSAIO MULTIPLATAFORMA WWW.JOAOGRANDO.COM

    Desde 2007

    Site

    Ensaio multiplataforma (sobre tudo sob um) agrupado numa organizao com

    espacializao dinmica do tempo, tema, modalidade etc.

    Unidos pelo autorretrato, que funciona como um vetor que se movimenta em

    meios vrios de criao os interligando num mesmo espao potico dissipado

    por eles, centro de gravidade da autoria radicante.

  • Vejamos o caso da pintura, a qual, no caso da utilizao que

    fao dela, comunica-se mais tradicionalmente com o pblico, pela

    natureza do suporte: o quadro na parede para ser contemplado e

    analisado in loco em todos os seus detalhes, a materialidade (relevos,

    dimenso, camadas de tinta etc.) presente alm da imagem retiniana,

    alm do que uma reproduo visual registra; porm a reproduo do

    original pintado ressonar em outros meios, podendo ser reutilizada

    por mim com manipulao digital e associada s outras formas de

    criao, ou ainda por outrem, pela simples disseminao permitida

    pelas tecnologias atuais. A imagem conceitual, a idia emanada da

    materialidade se move livremente, acumulando significados e usos

    adquiridos na sua trajetria.

    Talvez o caminho para atender isso seja a exposio fractal,

    retalhada e costurada, superposta, misturada, tal como a virtualmente

    pelo site onde mantenho e atualizo parte considervel de minha

    produo: http://www.joaogrando.com. Nele o discurso fragmentado

    em imagens (fotos, infogrficos, desenhos, pinturas, rascunhos etc.),

    textos de diferentes estilos e tamanhos se organiza tal como num

    jornal ou site de notcias: as partes tm interdependncia, a

    aproximao se d pelo espao disponibilizado, passvel de

    manipulao pelo visitante, que pode reorden-lo por alguns critrios

    disponveis, como ordem temporal, por assuntos (amor, esporte, arte

    etc.) atravs dos marcadores de postagens, por formato (texto,

    imagem, foto etc.). Alm disso, h ainda uma pequena gama de

    opes para a diagramao e dinmica geral do site (h um menu

    suspenso no canto superior esquerdo que permite escolher dentre sete

    formatos, que mudam consideravelmente o padro (padro, no

    original) da exibio). Interessante notar que, embora o agregador de

    contedos possa ser manipulado pelo leitor-espectador, eles se

    mantm originais em todos os detalhes (o texto, alm de ser imutvel,

    mantm a formatao definida por mim). O controle sobre o

    contedo, o meio livre. Temos aqui a espacializao do tempo, a

    espacializao do tema, disponveis em modulaes manipulveis pelo

    espectador.

    Repetir estas ferramentas permitidas pela tecnologia digital

    analogicamente um desafio, mas pode no ser a nica sada. A

    dificuldade em expor para visitao esta parte do trabalho projetar o

    dinamismo destes elementos que se ligam por diferentes fatores, ora

    narrativos, ora temporais, ora unicamente pela centralizao autoral;

    costumeiramente eles no tm critrios especficos para exibio, ou

    seja, so disponibilizados virtualmente, para leituras nos veculos que

    convirem aos espectadores (computador pessoal, smartphone, tablet,

    televiso etc.). Ento a sua exposio planejada num espao para ser

    visitada presencialmente tende a uma atmosfera arquivista, de

    compilao. Para evit-la, se for o caso ou inteno, preciso fazer

    uma curadoria do prprio trabalho, estabelecendo recortes temticos,

    temporais ou, mais profundamente, elaborar uma narrativa

    multiplataforma, um processo de montagem que trabalhe novos

    significados a partir do material existente embora esta prtica tambm possa ser realizada a priori deliberadamente. Isso entanto cria

    um novo degrau, j que essas prticas resultantes em narrativas se

    assentam mais adequadamente no formato livro ou vdeo, mais

    propensos distribuio para o pblico do que para a visitao.

    multiplicidade de estmulos da contemporaneidade

    posiciono-me replicando mltiplas respostas formais eladas pela

    autoria, freqentemente explcita atravs da utilizao de autorretratos,

    impugnando a casualidade e anonimato que de praxe estes estmulos

    carregam a prpria imagem funcionando como assinatura, at como certa absolvio, na medida em exponho somente a mim mesmo, e

    certa autenticao, na medida que sou dono da minha verdade e o

    detentor dos direito de imagem que reflito para a realidade.

    Desta prtica que no restringe modalidades afluem

    experincias e obras de desenho, pintura, escrita, fotografia, vdeo etc.

    que se cruzam e afastam ao longo de seus cursos, operando ora

    independentemente, ora relacionadas (pela sntese ou sobreposio),

    mas sempre como rios diversos pertencentes a uma mesma bacia

    hidrogrfica; seu registro e publicao tambm so variados,

    complexando inda mais a contingncia para um espao de exibio

    esttico por tempo determinado.

    Ainda assim, ela rebentara-se de um mesmo contexto de

    produo no qual a autoria, para alm do estabelecimento compulsrio

    de uma trajetria, estilo, histrico etc., talvez seja a chave conceitual

    que a retenha: os textos extensos ou pequenos, as fotos, os

    infogrficos, as montagens, at mesmo as inseres em redes sociais,

    so expresses cujo nico elo o emissor, fazendo do autor um lugar

    dissipado pelas obras, um vetor que as relaciona. Este mtodo correria

    o risco de ser vago, j que se vale das pertinncias da autoria, mas

    como tenho trabalhado e a experincia me mostra que ele tem sido

    eficaz ao conglomerar os diferentes tipos de manifestaes e mesmo

    assim dar um mesmo tom a elas, dar-lhes algo perceptvel em comum.

    (Nalguns casos o autorretrato torna forosa a autoria,

    relacionando-se, por oposio ou adaptao, s tendncias de fim de

    anonimato e criao coletiva, vistos em movimentos como o Copyleft,

    quase como um levante.)

    Talvez a principal caracterstica do ensaio, gnero literrio

    cujas bases foram fundamentadas por Bacon e Montaigne, consista na

    liberdade: ela est no mago das caractersticas atribudas a ele, como

    a possibilidade de ser breve, como a possibilidade de transitar entre

    estilos, sua informalidade, sua subjetividade, sua assuno da

    liberdade para falar sobre qualquer tema. Sob essa tica, difcil no

    associar o gnero aos cadernos de Leonardo da Vinci, uma verso

    visual (e j h 5 sculos atrs complexando categorias) em que um

    esboo artstico para um afresco divide espao com o projeto de uma

    ponte ou estudo cientfico anatmico. No vejo melhor associao ao

    meu trabalho do que esta, uma srie de ensaios ou um grande ensaio

    que se rarefaz em parcelas variadas tanto no espao quanto no tempo.

    No por acaso, logo que iniciei minhas publicaes na internet, em

    2007, meu lema (talvez slogan tenha mais cabimento) era sobre tudo sob um.

    Dado ento ser da minha atividade criativa operar em

    plataformas vrias e de publicao gradual e dissipada, ela

    problematiza a questo da exposio como fomentao de um lugar, j

    que no se trataria de um espao pensado previamente para tanto, mas

    um espao que deve abarcar o gnero desta produo, na falta da

    identificao de um conceito estreito que a acompanhe.

    www.joaogrando.com

    Desde 2007

    O mesmo site da pgina

    anterior disposto numa outra

    visualizao.

  • IV.VIDEOS

    (VIDE-OS) HTTP://YOUTUBE.COM/JOAOGRANDO

  • Imagens documentais reeditadas + animao digital.

    Vdeo feito em 2008 explorando os acontecimentos a partir do nmero 8 e relacionando o maio de 1968 com o movimento Diretas J de 1989.

    926 (800 x 600) 2008

    http://bit.ly/888video 888

    Imagens documentais reeditadas + animao digital.

    A vingana (onrica e, portanto, impossvel) da Faixa de Gaza contra o resto do mundo.

    342 (1920 X 1080) 2011

    (2011)

    http://bit.ly/gazavideo METEORO DE GAZA

  • No beijo, um suja o outro de si mesmo. As marcas jamais se vo. Animao stop-motion com desenhos a carvo.

    127 (1920 X 1080) 2011

    (2011)

    http://bit.ly/beijoVIDEO BEIJO

  • V.TEXTOS

  • txt + http://www.joaogrando.com/p/texto.html

    + http://www.joaogrando.com/search/label/TXT

    Nos precipcios, o silncio, o vazio e a amplitude da vista se sintetizam num grito de VEM.

    No raro isso assusta e afasta, impe uma cautela que cobre qualquer ato. Mas, no caso de

    realmente se considerar a proposta do chamado e se dispor muito prximo a ele, o precipcio, antes

    de sugar num mar oco, usa seu poderoso som para falar e ali ele at ouve - para alm dos testes

    acsticos de gritos bumerangues, naquele silncio em erupo o pensamento volta para si como se

    fosse pensado por outro, donde, como no caso do eco ou de qualquer outro espelho, esclarece, at

    revela.

    No estou em depresso, talvez at o contrrio, mas devo dizer que cheguei beira do precipcio e

    devo pular. Como se trata de uma metfora, h a opo de VOAR.

    E neste caso o silncio traduzido por VEM virar V.

    ESBOO SOBRE A CONCENTRAO ESPONTNEA: A delicadeza mais ou menos pica quando captada. Qualquer coisa o

    : h nesta captao quase o contrrio de captura. Seja um cisco em zoom mximo colado ris, seja o detalhe que tudo na

    contemplao. Percebe-se algo, que antes era e to somente, e sempre fora e to somente, mas agora (convm chamar agora a tal

    instante) , mas no mais apenas , mas miraculosamente, miraculosamente . E no se sabe se mais vingana ou mais recompensa,

    mas a coisa rebate o arrebatamento de sua privacidade invadida na proporo absurda de E = mc, do tomo que engole a metrpole ao

    ter seu segredo descoberto. Encostar-se verdade. E por breves instantes falar sua lngua nica e bvia, como Dvok derrete o som de

    uma porta fechando vagarosamente para fech-la de vez com seu violoncelo, ou como um tigre devora um boi e o transforma primeiro

    em sono depois em salto. Em tal linguagem compulsria emprega-se muito mais esforo do que qualquer mestre pudesse esperar do

    discpulo o mais dedicado: a demanda na nitidez com que de repente as coisas se apresentam. Ou melhor, parecem se apresentar, visto

    que de fato quem pe o palco somos ns: elas estavam sempre ali; ns no estvamos. At agora.

    d.vi.da_da_vi.da:_d.di.va?

    ========================

    Tudo passvel de debate, ponto de vista; e nem preciso acreditar neste mistrio evidente elucidado nos grandes ensinamentos esotricos: as coisas em seu

    funcionamento mesmo se reservam verses, impossibilitam uma no rarefeita verdade; como dispensar a maravilha potencial em cada possibilidade que h em tudo, em

    qualquer infinitesimal vibrao?

    H uma sintonia precisa entre quaisquer coisas que se preferem ou em qualquer coisa preferida. E talvez aquilo que parece uma sensao evoca uma dimenso inteira,

    que transborda da sua camada e emerge delicadamente do ciclo padro, na forma de sutilezas que nos pe em pequenos xeques eventuais, e nos inquirem justamente a

    certeza: ser que eu tenho certeza? Ser que eu tenho, ento, certeza? Ser que abro mo da languidez da verdade para criar (crer na, fechar-me na) minha prpria?

    Tudo possvel certeza.

  • Joo corre, a uns treze por hora. Era de fato bom que ele corresse e chegasse de peito ofegante l. O vestido que ela

    est deixa a parte mais tenaz da coxa mostra, o p e a panturrilha conseqente esto moldurados na forma mais

    reveladora dos msculos por estarem no alto de um salto. A parte menos levada a pblico, a continuao da coxa

    que se ligar bunda, estava sob o vestido, para acentuar a curiosidade, mas revelando apenas o volume que ele

    encobria, dando assim uma das duas sugestes a outra vinha da parte antes dita, pela qualidade da pele que continha os msculos mostra. Enfim, era bom que seu peito estivesse preparado para um encurtamento brusco

    entre distole e sstole. O p num salto alto desafiando o destino plantgrado, quase para se tornar felino , atravs especialmente do metatarso, um n: uma ponta, a de cima, segue para uma parte predominada por msculos, que se avoluma deles, com conseqente potncia, alm de ser quente e prtica quando se dirige aos instintos biolgicos de reproduo; a outra, a de baixo, dilui-se para a delicadeza em dedos e depois unhas,

    para o adorno, e como tal pode no ser lembrado, embora no seja tampouco despercebido. A parte que aponta para cima sugere um cavalo. A de baixo, uma menina com tranas nos cabelos. Na dvida entre as duas, rendemo-nos.

    A continuao das panturrilhas sempre um mistrio: seja para cima (tapada pela saia), ou para baixo (tapado pelo sapato). As falanges separadas das coxas nem parecem poder dividir o mesmo corpo, menos ainda o mesmo membro. como os lingeries: aquele lacinho parecendo reter dois peitos com centenas de vezes seu volume e peso: o cio e o abrao concomitantes.

    E, como naqueles desenhos em que a velha e a moa aparecem ao mesmo tempo (mas uma de cada vez a todo o momento), ou Freud e uma mulher pelada, no h como resolver o embate. Apesar de toda a vontade j num nvel de angstia (num dos pouqussimos casos em que a angstia no grito, mas canto) ante tanta biologia, haver sempre o ursinho de pelcia, o choro no final do filme: o fato de bochechas e bundas estarem num mesmo corpo um

    indicativo de que estas coisas devem coexistir. Empate. E sem contar que ainda h um crebro, que no se importa com nada disso.

  • VI.FOTOGRAFIA

  • FOTOG RAFIA http://bit.ly/grandofoto

  • 24/07/2011 15H07

    (2011)

  • 11-FEV-10 11:15

    (2011)

  • 7 AUTOR-

    RETRATO

  • A CRIAO DE JOO (em andamento)

    2012-

    90 x 120 cm

    leo sobre tela

    Uma questo perene espontnea e compulsoriamente em minha produo a utilizao de minha prpria

    imagem. Ela se d em autorretratos (fotogrficos, desenhados ou pintados), na explorao de novas figuras

    derivadas desses autorretratos, na coisificao da minha prpria imagem, transmutando-me, por exemplo,

    num logotipo, usando-me de personagem dos prprios desenhos e pinturas, e se estende, metaforicamente, na

    utilizao de meu universo cotidiano, que se nivela s demais temticas universais, bem como na produo de

    textos autobiogrficos, nos quais a minha expresso pessoal explicitada no mesmo espao de impresses

    intelectuais gerais, igualando ponto de vista e conhecimento, imaginao e fato.

    Minha prpria imagem funciona como referencial inequvoco pessoal da raa humana, da existncia e do

    universo, garantindo uma veracidade da potica sob uma hiptese solipsista, como no mapa em que, a partir

    da ampliao repetida de um autorretrato a grafite, eu justifico o universo como sendo nada mais do que uma

    questo de escala de um todo composto ou extensivo a esse ser que sou.

  • A CRIAO DE JOO

    2009

    Marcador permanente sobre fotografia

    impressa em papel fotogrfico

    GRANDING

    2013

    Imagem digital

  • 4 PM

    2011

    70 x 100 cm

    Carvo sobre papel.

  • JOO DIREITO, JOO ESQUERDO

    2007

    Fotografia manipulada

    digitalmente.

  • MAPA SOLIPSISTA

    2012

    Montagem digital utilizando cpias

    reprogrficas de cpias

    reprogrficas de autorretrato

    feito a lpis e papel vegetal

    contornando o mesmo desenho

    original.

    AUTORRETRATO CONSTELAO

    2011

    Imagem digital.

  • 2012

    2009

    70 X 100 CM

    Grafite, carvo,

    nanquim, hidrocor,

    caneta esferogrfica,

    SOLIPSISMO

    Fotografia

    manipulada

    digitalmente.

    GENEALOGIA: JOO & MARIA

    :(:

  • . BUROCRACIA POTICA

  • DILOGOS i E ii

    2008

    Imagem digital.

  • Du mut dein Leben ndern

    2009

    Gif animado

    (http://www.joaogrando.com/2009/09/leiturarilke.html)

  • VINCIUS DE MORAES MIRCIUS DE VONAES

    2008

    Impresso jato de tinta em papel

    sulfite.

  • 11/set

    2008

    Poema

    (Foi objeto de estudo no livro

    Portugus: linguagens: 6 edio, de

    William Roberto Cereja e Thereza Cochar

    Magalhes.)

  • TWITTER

    2008

    ( direita, detalhes)

  • COMO ALTERAR

    INTERPRETATIVAMENTE O

    SENTIDO DE UMA SETA

    2012

  • FAST-REBELDIA PARA LEVAR

    2009

    Montagem a partir do logo do McDonalds

    em baixa resoluo manipulada no

    programa Paintbrush.

    HOW2 ADULAR

    2009

    (Componente da VA #-1 (adiante))

  • PALAVRES

    Imagem digital.

    130 YOTTAMETROS

    Imagem digital.

    EH_

    Imagem digital.

    HALO/HOLE

    Caneta esferogrfica sobre papel.

  • Dilogos experimentais

    HE, SHE, SILENCE / SHE HE(RI)

    2009

  • VOGAIS

    Manipulao digital de texto.

    VOC MEANS YOU

    Hidrocor sobre papel.

    ME CHAMA DE ARIAL

    Interveno digital sobre imagem digital

    retirada de tumblr.

    ENGLISH X PORTUGUS_BR

    5W1H

    Impresso em papel sulfite 21 x 30 cm

  • Canoas-POA > Everest-Marianas

    2012

    21 x 30 cm

    Papel vegetal datilografado sobre impresso

    em papel sulfite.

  • CREPSCULO

    2009

    Montagem com fotos do cu ordenada por

    horrios (12h at 22h) na estrutura da

    proporo urea.

    CAMINHO DA LUZ

    2010

    Fotografia

  • 9.JG,PG,JPG

  • MARY POPPINS RULES

    Pginas de papel alheias

    cujos originais, geralmente

    de 30 x 40 cm, so

    trabalhados com grafite,

    carvo, caneta

    esferogrfica, nanquim,

    marcadores, pastel, hidrocor

    etc. Algumas tem uma leve

    manipulao digital

    posterior.

  • SRIE ALT+3

  • THE AMAZING SPIDERMAN

    !

  • SRIE ALT+3

  • MATADOR

    DELICADEZAS QUE

    NINGUM V E OUTRAS

    RECLAMAES

  • S/ TTULO

    POW

  • V: O X DA QUESTO

    Desde 2009

    N -1: 332 pginas http://bit.ly/va-1

    N 0, 1, 2, 3 etc.: sequncia do projeto.

    Arte sequencial em PDF.

  • XI.SELFIES

  • i__j_g

    http://bit.ly/grandoself

  • Contrapondo aquelas experincias

    com a prpria imagem em que,

    ainda que se conte com o acaso,

    h a inteno de elaborar alguma

    expresso, h tambm uma srie

    de registros cujo nico pretexto

    seja eu aparecer na foto (na sua

    imensa maioria fotografada por

    mim mesmo). Na rede social

    virtual Flickr mantenho e

    atualizo desde 2007 um lbum

    chamado SELF i__j_g autorretrato, que agrupa um

    histrico desses registros

    hoje h cerca de mil fotos.

    Ainda que no sejam todas as

    fotos do perodo, est mais para

    um dirio do que para uma

    seleo; h desde fotos vestindo

    apenas uma toalha sem preparao

    alguma at disparos acidentais

    em que apareci a centmetros da

    cmera. Essa coleo cujo nico

    critrio minha apario ganha

    sentido no conjunto, em como a

    [...] aglomerao de objetos

    contribui para o surgimento do

    sentido de diferena, produzindo

    essa diferena enquanto valor.

    Toda srie, toda gradao, toda

    comparao, gera variedade e

    diversidade (SEGALEN, 1999 apud

    BOURRIAUD, 2011, p. 69).

  • XII.SKETCHES

  • 2012

    2009

    70 x 100 cm

    Grafite, carvo, nanquim, hidrocor,

    caneta esferogrfica, pastel oleoso e

    tinta acrlica sobre papel.

  • TODAS AS FACEZINHAS BONITAS PARA

    SUBSTITUIR UMA FACE TRISTE

    2008

    30 x 40 cm

    Grafite e carvo sobre papel.

  • E SE AS COISAS RESOLVESSEM?

    2010

    40 x 40 cm

    Grafite, carvo, caneta

    esferogrfica, aquarela e pastel

    oleoso sobre papel.

  • PRINCPIO

    2009

    Colagem digital sobre desenho

    originalmente nanquim, carvo e

    grafite sobre papel 30 x 40 cm.

  • FOTOSSNTESE

    2009

    21 x 30 cm

    Hidrocor sobre papel.

  • 2008 30 X 40 cm

    (2011)

    AO REAO

    2008 70 X 100 cm

    (2011)

    AO REAO II

    2009 70 X 100 cm

    TRAZ AS PARADINHA

    Grafite e carvo sobre papel.

    2009 70 X 100 cm

    S/ TTULO

    Grafite e carvo sobre papel.

    TORMENTA

    Foto de desenho feito a hidrocor e grafite.

  • 2007 60 X 90 cm

    S/ TITULO

    Grafite sobre papel.

    2007 60 X 90 cm

    S/ TITULO

    Grafite sobre papel.

    2009 30 X 40 cm

    EVERYTHING IS

    BEAUTIFUL

    Hidrocor sobre papel.

    S/ TTULO

    Esferogrfica sobre papel.

    S/ TITULO

    Grafite sobre papel.

    HORIZONTE

    Tira digital.

  • 2007 70 X 100 cm

    S/ TITULO

    Carvo e pastel seco sobre papel.

    2007 60 X 90 cm

    S/ TITULO

    Grafite sobre papel.

    2007 60 X 90 cm

    S/ TITULO

    Grafite sobre papel.

    Alguns exerccios de pintura e

    desenho.

  • Alguns exerccios de pintura e

    desenho.

  • 2009 70 X 100 cm

    ANJO

    Carvo sobre papel.

    2010 30 X 40 cm

    S/ TTULO

    Grafite, carvo e acrlica sobre papel.

    2010 50 X 70 cm

    CAPA DE

    DIRIO

    Grafite, carvo, nanquim, hidrocor, caneta

    esferogrfica, pastel oleoso e tinta acrlica

    sobre papel.

  • Apndice I

    Metonmias da multiplicidade Ao analisar algumas obras verifica-se que esse mtodo operacional de abarcar as

    linguagens livremente vista no conjunto do meu trabalho se repete nalgumas

    experincias de suas unidades, refiro-me especialmente quelas que demandam mais

    dedicao nas suas elaboraes e execues: as pinturas e desenhos grandes refletem

    metonimicamente este mesmo sistema totalizador e permissivo, ora sobrepe ora

    sintetizam estilos, tcnicas, figuraes, elementos de comunicao etc. sob uma estrutura

    que os cinja.

    O universo da imagem funciona como um agrupador para diferentes experincias e

    tratamentos grficos e pictricos. Veja-se o exemplo da obra Rondon: seu cenrio compreende uma rua simples rodeada de alguns prdios e rvores; habitam o cenrio

    pessoas, animais e mquinas; trata-se, ento, quase da manifestao conceitual da idia

    de cenrio urbano, no qual basicamente so esses os elementos que se misturam: mineral,

    vegetal, animal, humano e mquina. Na cena do desenho todas as imagens geradas,

    independentemente de funo, estilo, cor etc. compartilham um ambiente comum

    imposto pelo cenrio que ocupa todo o quadro: o macaco feito a grafite com traos

    marcados, o homem e seus filhos feitos a grafite com traos leves, os grafismos feitos

    com caneta hidrocor e qualquer outro elemento transitam no mesmo ambiente

    imaginrio.

    A figura principal que ocupa a parte direita do centro do quadro alegoricamente sintetiza

    todos os elementos tratados no seu entorno, atraindo para si magneticamente todas as

    manifestaes formais e representativas sem qualquer seleo: a operao totalizadora e

    permissiva transnominada mais uma vez dentro de si mesma, uma sindoque dentro de

    outra sindoque: o que une to diferentes tratamentos grficos e pictricos, cores, nveis

    de realismo a estrutura da figura, seu contorno: sua idia de corpo, neste caso, abarca

    qualquer coisa dentro dos limites de seu contorno, de sua imagem. Como o DNA, a

    estrutura pode ser encontrado em qualquer mnima amostra.

    Associada a outra obra, feita no ano seguinte (Im coming) vemos isso nas representaes do cu: eles aparecem na parte superior (como conceitualmente no

    poderia deixar de ser), so cus simblicos, cuja Lua tambm simblica (o destaque s

    crateras caractersticas), assim como o Sol (a sntese do Sol-corpo-celeste com sua idia

    de estrela: as chamas e exploses da transformao de Hidrognio em Hlio contidas no

    formato de pentagrama regular).

    A sobreposio e sntese do-se complexamente em todos os nveis do trabalho, como

    nos materiais (partes do desenho a grafite, outras partes com tinta acrlica, tinta leo,

    colagens, canetas hidrogrficas), nos estilos (tratamento ora realista, ora expressivo, ora

    esquemtico), nos mtodos de comunicao (texto, imagem, estrutura espacial guiada ora

    pela cena da imagem ora pela plataforma abstrata da superfcie). Esse processo

    construtivo vem evoluindo at hoje, como veremos nas obras a seguir, as mais recentes,

    terminadas no final deste ano de 2013.

    Embora a pintura Contato, leo e acrlica sobre tela de 123 x 222 cm finalizada em dezembro de 2013, trata-se de uma representao fantstica e com ambientao inspita,

    nalguns pontos ela recebe um tratamento realista; e embora ela tenha um aspecto geral

    figurativo, nalguns pontos ela tem um tratamento pictrico abstrato.

    Isso cria certa tenso entre realidade e fantasia,

    novamente cria camadas de representao sobrepostas, acumuladas.

    s vezes as figuras tm seus laos entre umas e outras representados (a representao de

    uma conexo fsica, como os tentculos da figura verde ou a continuidade do corpo em

    uma estrutura brilhante de metal), noutras vezes parecem estar apenas coladas, sem nada

    que as justifique ali.

    O cenrio onde a ao ocorre de uma simplicidade

    conceitual: o cu acima e o cho abaixo criando uma linha horizontal que os separa

    exatamente na metade do plano pictrico. Suas cores reforam o contraste entre os seus

    conceitos: a soma das cores do cu (bases azuis e negras) com a das cores do cho (bases

    amarelas e brancas) gera uma terceira cor (bases verdes e cinzas) que surge e se

    desenvolve no sentido de leitura ocidental, da esquerda para direita, fomentando uma

    figura que se justifica tanto no plano abstrato pictrico, quanto no espao cnico

    representado, quanto na significao metafrica de origem, surgimento, formao (cu

    com estrelas associado ao cho e suas pedras e minerais resultando numa forma orgnica

    viva, numa forma que carrega a escrita).

    A sombra arbitrria; ainda que quando incida, ela incida sob as regras do realismo,

    baseando-se nas formas e ngulos que a formam. Mas arbitrria, como as demais

    representaes realistas do quadro, que no constituem a sua regra: o realismo sempre

    uma alternativa a ser solicitada, uma alternativa para ancorar alguns trechos da imagem

    num imaginrio referenciado no concreto, como se a cena ali erigida atravs de diversos

    recursos pictricos e grficos tivesse algo de acontecido, algo de registro.

    O compromisso com a realidade firmado e abandonado ordem da execuo ou da

    organizao pictrica.

    Camadas de texto ordinariamente se posicionam num

    espao visual abstrato, numa camada alm-imagem, suspensa do espao cnico em que

    os demais elementos visuais se relacionam; o que ocorre com os blocos de textos que

    sobrepe fotos em materiais jornalsticos e peas publicitrias, com as legendas de filmes

    etc. Entanto nessa obra o texto se movimenta entre camadas de maior ou menor

    profundidade, a ponto de se fixar na mesma camada do espao imagtico, recuar da

    condio de informao independente para fazer parte do cenrio; aqui novamente h

    uma escala em que ele vai e volta nveis de realismo, entre o texto como integrante da

    ao cnica e o texto como informao diagramado independentemente da imagem.

    O ttulo emerge das relaes tratadas na cena, na

    medida em que se vale das aberturas que a palavra contato em si carrega, de suas

    possibilidades de uso a partir de seu estado isolado, como uma entrada de dicionrio

    (contato no sentido de contatos com seres extraterrestres, contato no sentido de contatar

    atravs da linguagem, mensagens, contato no sentido de tato, contato no sentido de

    resultado), como um ndice visual de conotaes.

  • APENDICE n 2

    Detalhes:

  • (...) vemos isso nas representaes do cu: eles aparecem na parte superior do quadro (como conceitualmente no poderia deixar de ser); so cus simblicos, cuja Lua tambm simblica (o destaque s crateras caractersticas), assim como o Sol (a sntese do Sol-corpo-celeste com sua idia de estrela: as chamas e exploses da transformao de Hidrognio em Hlio contidas no formato de pentagrama regular). [Leia mais nas pginas 102 a 104 deste porflio]

  • APNDICE 3

    Bula O autorretrato

    expandido num ensaio

    multiplataforma.

    1 LINGUAGEM HETEROGNEA

    1.1 CONTEMPORANEIDADE HETEROGNEA

    As profundas mudanas nos indivduos,

    na sociedade, na comunicao etc. desde o

    ps-guerra demandaram a necessidade de

    novas conceituaes compatveis com a

    contemporaneidade. Uma srie de conceitos

    em crise foi remodelada a partir de reflexes

    oriundas de todos os campos do saber

    (filosofia, antropologia, economia etc.) e que se

    relacionam mutuamente, logicamente a arte e

    seus rebentos a includos. Essas

    conceituaes, mais do que apenas teorias,

    elucidam uma situao j instaurada, no interior

    da qual todas as propriedades humanas esto

    irremediavelmente inseridas. Desde seu

    rompimento com a agenda moderna, a arte tem

    articulado diversas modalidades antes alheias a

    ela e se abriu em todos os seus aspectos,

    abrangendo totalmente os nichos sociais,

    culturais, miditicos, polticos etc. A aurora dos

    anos 90, com o fim da dualidade URSS-EUA e o

    avano da tecnologia da rede mundial de

    computadores, vem [...] datar a entrada (...) da arte nesse mundo globalizado e destitudo de

    grandes relatos que agora o nosso (BOURRIAUD, 2011). As caractersticas de

    subverso histrica do ps-moderno s se

    expandiram mais e mais com a democratizao

    do acesso e disseminao da informao

    proporcionados pelas novas tecnologias.

    Embora as obras de arte sempre foram

    complementadas por uma poro variante

    oriunda de sua inerente polissemia, como

    prprio tambm de qualquer comunicao,

    talvez nunca o interior de uma obra foi to frgil

    ante o seu exterior, cada vez mais amplo e

    influente, quanto nos dias de hoje. cada vez

    menos possvel determinar ou mesmo controlar

    a escala (pblico, significado, exibio) de um

    trabalho, que se vulgariza, supervaloriza,

    subverte-se revelia do artista. Por analogia

    reflexo de Anthony Giddens acerca do

    esvaziamento do espao, o lugar

    contemporneo cada vez mais

    fantasmagrico, na medida em que sofre

    influncias de tal modo diversas e numerosas

    que se torna difcil limit-lo definido por agentes mltiplos e complexos, de origens

    distintas, numa teia de determinantes.

    Seguramente essa rarefao dos limites pode

    ser estendida a qualquer conceito em nossa

    poca. Relativamente a isso, mas numa viso

    mais ampla sobre os tempos atuais, Nicolas

    Bourriaud metaforiza a contemporaneidade

    atravs de um arquiplago interconectado, em

    oposio ao continente do modernismo; aliados

    conceituao de Marc Aug sobre os lugares

    antropolgicos e no-lugares, nos quais enfatiza

    a incontornvel relao de influncia de um

    lugar no sentido clssico com seu exterior,

    pode-se vislumbrar uma atmosfera artstica

    onde o territrio, a origem, o limite e mesmo o

    individualismo, enquanto suspenso do

    pertencimento a um conjunto totalizador,

    perdem fora. Da tem-se uma rede complexa e

    nica que abrange e relaciona todas as

    heterogeneidades, acabando com qualquer

    resqucio de isolamento. A comunicao desta

    massa tambm assim, heterognea e at

    onipresente pelo volume concomitante e

    ininterrupto com que ocorre, um excesso de

    informaes e em meios de veiculao de fcil

    acesso e disseminao.

    Essa situao gera um cenrio artstico

    sem uma corrente crtica principal, sem um

    mainstream lgico: no h uma justificativa

    formal, social, poltica, potica ou esttica

    balizadora, no h regras para que a obra

    adentre o terreno da arte contempornea o novo, que era o ingresso histrico exigido pelo

    moderninsmo, j no se estabelece numa

    cadeia evolutiva, como diz Luiz Camillo Osrio:

    [...] a diferena do novo no est ligada a um suporte ou meio expressivo, no tem nada a ver

    com evoluo tecnolgica (nem contra ela),

    mas se apresenta como uma surpresa esttica:

    algo que nos tira das frmulas constitudas e

    nos faz poder perceber as coisas de um modo

    singular.

    Partindo dos desbravamentos da arte,

    esse cenrio abrangedor estende-se tambm

    gradualmente para os demais campos criativos,

    como destaca Helosa Buarque de Hollanda ao

    comentar que os novssimos escritores

    brasileiros (segundo ela basicamente os

    nascidos de 1980 em diante) so de [...] uma gerao que tem uma formao literria com

    forte input de imagens, msica, quadrinhos,

    clipes etc. Ento voc v uma literatura quase

    multiplataforma [...]. J h tempo, mas cada vez mais, as categorias tm perdido importncia

    no processo de criao em si.

    Nesse sentido, se como artista minha

    arte mover-se- compulsoriamente nesse

    cenrio, preciso pens-la nesse cenrio, sob o

    risco de intenes ultrapassadas se perderem

    quando expressadas, ou seja, a produo se

    voltar para um fim que rapidamente ser

    subvertido pelo uso dos receptores (espectadores, colaboradores, leitores, crticos

    etc.).

    1.2 PRODUO ARTSTICA INDIVIDUAL

    HETEROGNEA

    Minha produo artstica desde sempre

    tramitou por variadas plataformas de criao.

    Sob um mesmo guarda-chuva chamado arte j nem mais uso o termo artes visuais, e tendo

    cada vez mais a usar apenas o termo criao , ela como um tecido expressivo no qual se

    costuram retalhos distintos, que acabam por se

    relacionar casualmente, ou no qual se

    desenvolve, de modo ento interagido a priori,

    um plano de sntese dessas modalidades

    diversas, sendo esta interao tambm a

    conseqente construo de uma terceira parte

    congruente; em termos prticos, desmembra-se

    uma produo que relaciona desenho, pintura e

    foto combinados, por confronto ou

    complementao, ao texto, e manipulados num

    espao comum, geralmente ordenada

    seqencialmente para leitura, que pode ser

    esttico, e assim organizado atravs do design

    grfico, ou cintico, organizado pelo vdeo, j

    naturalmente uma plataforma de convergncia.

    Ou ainda uma srie de registros em diferentes

    meios arquivados num local comum para

    manipulao do espectador-leitor, ficando sua

    leitura a ordenao que ser utilizada.

    Essa espontnea e quase compulsria

    construo criativa hbrida e abrangente

    demanda-se de uma por assim dizer

    incapacidade de concentrao, de uma

    incapacidade de abrir mo de modalidades para

    se isolar nalguma delas e desenvolver uma

    pesquisa especfica; isso se asila numa vontade

    de franquear as habilidades criativas exercidas,

    acumulando os ofcios pretendidos e at ento

    entremeados de escritor, ilustrador, quadrinista,

    realizador audiovisual, designer, pintor e at

    mesmo, j sem tanta pretenso quanto os

    anteriores, ator, sob a liberdade criativa da arte

    contempornea, nico terreno permissivo para

    dispensa de classificaes.

    As minhas experincias anteriores, inda

    que se tenham desenvolvido frutiferamente,

    sempre me foram insuficientes quando no

    mltiplas em seu processo criativo.

    Se h a necessidade de estabelecer uma

    coerncia em minha produo, para que ela no

    seja fomentada e para que no atrofie o

    desenvolvimento mais do que germin-lo, ela

    tem de se apresentar pela instaurao de

    liberdade: formal, temtica e potica, porque a

    sua base ideal, sendo a prioridade, portanto.

    Trata-se da soma de um anseio

    totalizador assuno da dvida/indeciso

    como agente libertador.

    2 AUTORRETRATO

    Outra questo perene espontnea e

    compulsoriamente desde sempre em minha

    produo a utilizao de minha prpria

    imagem. Ela se d em autorretratos

    (fotogrficos, desenhados ou pintados), na

    explorao de novas figuras derivadas desses

    autorretratos, na insero de minha imagem

    como personagem em desenhos e pinturas, e

    se estende, metaforicamente, na utilizao de

    meu universo cotidiano, que se nivela s demais

    temticas universais, bem como na produo

    de textos autobiogrficos, nos quais a minha

    expresso pessoal explicitada no mesmo

    espao de impresses intelectuais gerais,

    igualando ponto de vista e conhecimento,

    imaginao e fato.

    2.1 ATOR NA NANONARRATIVA

    FOTOGRFICA

    Nalgumas fotografias trabalho extraindo

    algum sentido de uma situao inusitada

    presente na cena, como o lanamento urgente

    de uma narrativa que lhe d algum sentido,

    servindo de mote, incio ou concluso no

    desenrolar de uma nanonarrativa to fugaz

    quanto o instante captado pela mquina. Esse

    sentido breve e leve se d implosivamente,

    como colocar um verso na msica surgida da

    imagem.

    2.2 DESDOBRAMENTOS DA PRPRIA

    IMAGEM

    Trabalho tambm na coisificao da

    minha prpria imagem, transmutando-me, por

    exemplo, num logotipo, usando-me de

    personagem dos prprios desenhos e pinturas;

    minha prpria imagem funciona como

    referencial inequvoco pessoal da raa humana,

    da existncia e do universo, garantindo uma

    veracidade da potica sob uma hiptese

    solipsista, como no mapa em que, a partir da

    ampliao repetida de um autorretrato a grafite,

    eu justifico o universo como sendo nada mais

    do que uma questo de escala de um todo

    composto ou extensivo a esse ser que sou.

    2.3 ARQUIVO DE AUTORRETRATOS

    Contrapondo essas experincias com a

    imagem, em que, ainda que se conte com o

    acaso, h a inteno de elaborar-se alguma

    expresso, h tambm uma srie de registros

    cujo nico pretexto seja eu aparecer na foto (na

    sua imensa maioria fotografada por mim

    mesmo). Na rede social virtual Flickr mantenho

    e atualizo desde 2007 um lbum chamado SELF

    i__j_g autorretrato, que agrupa um histrico desses registros hoje h cerca de mil fotos. Ainda que no sejam todas as fotos do perodo,

    est mais para um dirio do que para uma

    seleo; h desde fotos com toalha sem

    preparao alguma at disparos acidentais em

    que apareci a centmetros da cmera. Essa

    coleo cujo nico critrio minha apario

    ganha sentido no conjunto, em como a [...] aglomerao de objetos contribui para o

    surgimento do sentido de diferena, produzindo

    essa diferena enquanto valor. Toda srie, toda

    gradao, toda comparao, gera variedade e

    diversidade (SEGALEN, 1999 apud BOURRIAUD, 2011, p. 69).

    3 ENSAIO MULTIPLATAFORMA

    3.1 AUTORIA COMO CENTRO DE GRAVIDADE

    multiplicidade de estmulos da

    contemporaneidade posiciono-me replicando

    mltiplas respostas formais eladas pela autoria,

    freqentemente explcita atravs da utilizao

    de autorretratos, impugnando a casualidade e

    anonimato que de praxe estes estmulos

    carregam a prpria imagem funcionando como assinatura, at como certa absolvio, na

    medida em exponho somente a mim mesmo, e

    certa autenticao, na medida que sou dono da

    minha verdade e o detentor dos direito de

    imagem que reflito para a realidade.

    Desta prtica que no restringe

    modalidades afluem experincias e obras de

    desenho, pintura, escrita, fotografia, vdeo etc.

  • que se cruzam e afastam ao longo de seus

    cursos, operando ora independentemente, ora

    relacionadas (pela sntese ou sobreposio),

    mas sempre como rios diversos pertencentes a

    uma mesma bacia hidrogrfica; seu registro e

    publicao tambm so variados, complexando

    inda mais a contingncia para um espao de

    exibio esttico por tempo determinado.

    Ainda assim, ela rebentara-se de um

    mesmo contexto de produo no qual a autoria,

    para alm do estabelecimento compulsrio de

    uma trajetria, estilo, histrico etc., talvez seja a

    chave conceitual que a retenha: os textos

    extensos ou pequenos, as fotos, os infogrficos,

    as montagens, at mesmo as inseres em

    redes sociais, so expresses cujo nico elo o

    emissor, fazendo do autor um lugar dissipado

    pelas obras, um vetor que as relaciona. Este

    mtodo correria o risco de ser vago, j que se

    vale das pertinncias da autoria, mas como

    tenho trabalhado e a experincia me mostra que

    ele tem sido eficaz ao conglomerar os diferentes

    tipos de manifestaes e mesmo assim dar um

    mesmo tom a elas, dar-lhes algo perceptvel em

    comum.

    (Nalguns casos o autorretrato torna

    forosa a autoria, relacionando-se, por oposio

    ou adaptao, s tendncias de fim de

    anonimato e criao coletiva, vistos em

    movimentos como o Copyleft, quase como um

    levante.)

    3.2 ENSAIO DISSIPADO

    Talvez a principal caracterstica do

    ensaio, gnero literrio cujas bases foram

    fundamentadas por Bacon e Montaigne,

    consista na liberdade: ela est no mago das

    caractersticas atribudas a ele, como a

    possibilidade de ser breve, como a

    possibilidade de transitar entre estilos, sua

    informalidade, sua subjetividade, sua assuno

    da liberdade para falar sobre qualquer tema.

    Sob essa tica, difcil no associar o gnero

    aos cadernos de Leonardo da Vinci, uma verso

    visual (e j h 5 sculos atrs complexando

    categorias) em que um esboo artstico para um

    afresco divide espao com o projeto de uma

    ponte ou estudo cientfico anatmico. No vejo

    melhor associao ao meu trabalho do que

    esta, uma srie de ensaios ou um grande ensaio

    que se rarefaz em parcelas variadas tanto no

    espao quanto no tempo. No por acaso, logo

    que iniciei minhas publicaes na internet, em

    2007, meu lema (talvez slogan tenha mais

    cabimento) era sobre tudo sob um.

    3.3 MEIOS DE EXIBIO

    Dado ento ser da minha atividade

    criativa operar em plataformas vrias e de

    publicao gradual e dissipada, ela

    problematiza a questo da exposio como

    fomentao de um lugar, j que no se trataria

    de um espao pensado previamente para tanto,

    mas um espao que deve abarcar o gnero

    desta produo, na falta da identificao de um

    conceito estreito que a acompanhe.

    Vejamos o caso da pintura, a qual, no

    caso da utilizao que fao dela, comunica-se

    mais tradicionalmente com o pblico, pela

    natureza do suporte: o quadro na parede para

    ser contemplado e analisado in loco em todos

    os seus detalhes, a materialidade (relevos,

    dimenso, camadas de tinta etc.) presente alm

    da imagem retiniana, alm do que uma

    reproduo visual registra; porm a reproduo

    do original pintado ressonar em outros meios,

    podendo ser reutilizada por mim com

    manipulao digital e associada s outras

    formas de criao, ou ainda por outrem, pela

    simples disseminao permitida pelas

    tecnologias atuais. A imagem conceitual, a idia

    emanada da materialidade se move livremente,

    acumulando significados e usos adquiridos na

    sua trajetria.

    Talvez o caminho para atender isso seja a

    exposio fractal, retalhada e costurada,

    superposta, misturada, tal como a

    virtualmente pelo site onde mantenho e atualizo

    parte considervel de minha produo:

    http://www.joaogrando.com. Nele o discurso

    fragmentado em imagens (fotos, infogrficos,

    desenhos, pinturas, rascunhos etc.), textos de

    diferentes estilos e tamanhos se organiza tal

    como num jornal ou site de notcias: as partes

    tm interdependncia, a aproximao se d

    pelo espao disponibilizado, passvel de

    manipulao pelo visitante, que pode reorden-

    lo por alguns critrios disponveis, como ordem

    temporal, por assuntos (amor, esporte, arte etc.)

    atravs dos marcadores de postagens, por

    formato (texto, imagem, foto etc.). Alm disso,

    h ainda uma pequena gama de opes para a

    diagramao e dinmica geral do site (h um

    menu suspenso no canto superior esquerdo que

    permite escolher dentre sete formatos, que

    mudam consideravelmente o padro (padro,

    no original) da exibio). Interessante notar

    que, embora o agregador de contedos possa

    ser manipulado pelo leitor-espectador, eles se

    mantm originais em todos os detalhes (o texto,

    alm de ser imutvel, mantm a formatao

    definida por mim). O controle sobre o

    contedo, o meio livre. Temos aqui a

    espacializao do tempo, a espacializao do

    tema, disponveis em modulaes manipulveis

    pelo espectador.

    Repetir estas ferramentas permitidas pela

    tecnologia digital analogicamente um desafio,

    mas pode no ser a nica sada. A dificuldade

    em expor para visitao esta parte do trabalho

    projetar o dinamismo destes elementos que se

    ligam por diferentes fatores, ora narrativos, ora

    temporais, ora unicamente pela centralizao

    autoral; costumeiramente eles no tm critrios

    especficos para exibio, ou seja, so

    disponibilizados virtualmente, para leituras nos

    veculos que convirem aos espectadores

    (computador pessoal, smartphone, tablet,

    televiso etc.). Ento a sua exposio planejada

    num espao para ser visitada presencialmente

    tende a uma atmosfera arquivista, de

    compilao. Para evit-la, se for o caso ou

    inteno, preciso fazer uma curadoria do

    prprio trabalho, estabelecendo recortes

    temticos, temporais ou, mais profundamente,

    elaborar uma narrativa multiplataforma, um

    processo de montagem que trabalhe novos

    significados a partir do material existente embora esta prtica tambm possa ser

    realizada a priori deliberadamente. Isso entanto

    cria um novo degrau, j que essas prticas

    resultantes em narrativas se assentam mais

    adequadamente no formato livro ou vdeo, mais

    propensos distribuio para o pblico do que

    para a visitao.

    3.4 CONVERGNCIA

    Uma tendncia natural dessas prticas

    que passem da simples sobreposio para um

    cruzamento, j a no apenas unidas por um

    conjunto artstico, mas unidas no interior de

    uma pea isolada.

    Da nivelam-se as potencialidades

    poticas desenvolvidas nas diferentes

    linguagens, de tal modo que, uma vez

    aplanadas, permutem suas propriedades

    tpicas: o ritmo do texto pode se transferir para

    a imagem; a imagem pode se valer de um

    contexto estabelecido anteriormente pelo texto

    num processo de estmulo mtuo. As

    linguagens trabalharo tambm nas elipses

    deixadas por outras linguagens, atuando como

    chaves de interpretao. O cuidado

    fundamental no mascarar reinvenes de roda na simples mistura de modelos j resolvidos; para tanto, as formataes devem,

    como j disse, trabalhar a favor da narrativa ou

    puno potica que as agrupa: tm funo, mas

    funo no implica vontade esta da potica,

    e ela que determina o que ser usado, ela o

    fio condutor.

    3.4.1 MMA e iPhone

    O MMA (mixed martial arts, traduzido da

    lngua inglesa significa literalmente artes marciais misturadas) um conceito que vem se desenvolvendo desde os anos 60, crescendo

    em popularidade nos anos 90 e gozando de

    grande prestgio nos dias atuais. Inicialmente

    consistia numa competio intermodalidades (a

    sobreposio do boxe, jiu jitsu, carat etc.) que

    evoluiu rapidamente, graas s regras nicas

    que atendiam todos os estilos, abrigando-os

    num lugar comum, para a competio de um

    novo estilo surgido, onde os lutadores usaram o

    que lhes interessava em cada modalidade: a

    sntese do boxe, jiu jitsu, carat etc.

    Todas as artes marciais tm suas regras

    prprias, suas tradies, suas especialidades; o

    MMA despreza essas especificidades e recruta

    o que prtico para um fim. O smartphone (um

    aparelho telefnico mvel com funes

    estendidas, quase um mini computador porttil)

    ecoa esse mesmo conceito do nosso tempo:

    embora no seja uma mquina fotogrfica,

    usado para tirar fotos; embora no seja um

    computador, usado para processar programas

    vrios. Analogamente, para alm da linguagem

    comum binria que processa todos os tipos de

    arquivo (imagem, vdeo, som, texto), a

    comunicao e expresso so para mim a

    prioridade nesses casos da convergncia, e

    assim sendo podem convocar o meio que for

    necessrio para seus objetivos, reforando que

    o pblico j se relaciona naturalmente com

    esses cruzamentos.

    3.4.2 V #-1

    O trabalho V #-1, de 2009, um arquivo PDF de 332 pginas disponvel para leitura e

    download na internet4, transita entre um

    peridico (#-1 sugere a seqncia do programa nos nmeros 0, 1, 2 etc.), livro de

    artista, romance grfico, catlogo, portflio etc.

    Ao decorrer de suas pginas, textos de todos

    os tipos e imagens de todos os tipos se

    relacionam atravs da organizao potica do

    design. H textos inditos e manipulaes de

    trabalhos anteriores, que se combinam (um

    poema de 2006 aglutinado a um esboo at

    ento esquecido de 2004) e atuam

    combinadamente num lbum de idias grfico-

    textuais.

    3.5 METONMIAS DA MULTIPLICIDADE

    Ao analisar algumas obras verifica-se que

    esse mtodo operacional de abarcar as

    linguagens livremente vista no conjunto do meu

    trabalho se repete nalgumas experincias de

    suas unidades, refiro-me especialmente quelas

    que demandam mais dedicao nas suas

    elaboraes e execues: as pinturas e

    desenhos grandes refletem metonimicamente

    este mesmo sistema totalizador e permissivo,

    ora sobrepe ora sintetizam estilos, tcnicas,

    figuraes, elementos de comunicao etc. sob

    uma estrutura que os cinja.

    O universo da imagem funciona como um

    agrupador para diferentes experincias e

    tratamentos grficos e pictricos. Veja-se o

    exemplo da obra Rondon: seu cenrio compreende uma rua simples rodeada de

    alguns prdios e rvores; habitam o cenrio

    pessoas, animais e mquinas; trata-se, ento,

    quase da manifestao conceitual da idia de

    cenrio urbano, no qual basicamente so esses

    os elementos que se misturam: mineral, vegetal,

    animal, humano e mquina. Na cena do

    desenho todas as imagens geradas,

    independentemente de funo, estilo, cor etc.

    compartilham um ambiente comum imposto

    pelo cenrio que ocupa todo o quadro: o

    macaco feito a grafite com traos marcados, o

    homem e seus filhos feitos a grafite com traos

    leves, os grafismos feitos com caneta hidrocor e

    qualquer outro elemento transitam no mesmo

    ambiente imaginrio. A figura principal que

    ocupa a parte direita do centro do quadro

    alegoricamente sintetiza todos os elementos

    tratados no seu entorno, atraindo para si

    magneticamente todas as manifestaes

    formais e representativas sem qualquer seleo:

    a operao totalizadora e permissiva

    transnominada mais uma vez dentro de si

    mesma, uma sindoque dentro de outra

    sindoque: o que une to diferentes

    tratamentos grficos e pictricos, cores, nveis

    de realismo a estrutura da figura, seu

    contorno: sua idia de corpo, neste caso,

    abarca qualquer coisa dentro dos limites de seu

    contorno, de sua imagem. Como o DNA, a

    estrutura pode ser encontrado em qualquer

    mnima amostra.

    Associada a outra obra, feita no ano

    seguinte (Im coming) vemos isso nas representaes do cu: eles aparecem na parte

    superior (como conceitualmente no poderia

    deixar de ser), so cus simblicos, cuja Lua

  • tambm simblica (o destaque s crateras

    caractersticas), assim como o Sol (a sntese do

    Sol-corpo-celeste com sua idia de estrela: as

    chamas e exploses da transformao de

    Hidrognio em Hlio contidas no formato de

    pentagrama regular).

    A sobreposio e sntese do-se

    complexamente em todos os nveis do trabalho,

    como nos materiais (partes do desenho a

    grafite, outras partes com tinta acrlica, tinta

    leo, colagens, canetas hidrogrficas), nos

    estilos (tratamento ora realista, ora expressivo,

    ora esquemtico), nos mtodos de

    comunicao (texto, imagem, estrutura espacial

    guiada ora pela cena da imagem ora pela

    plataforma abstrata da superfcie). Esse

    processo construtivo vem evoluindo at hoje,

    como veremos nas obras a seguir, as mais

    recentes, terminadas no final deste ano de

    2013.

    3.5.1 Anlise da obra sim e no ou no e sim: in.form.ao

    Como nos trabalhos analisados

    anteriormente e na produo de forma geral,

    temos aqui um ecletismo que permeia todos os

    fatores da obra.

    As variaes de cores, de tipos de

    pincelada, de nveis de realismo trabalham na

    elaborao de camadas acumuladas e na

    tenso entre elas. Uma figura tratada

    tecnicamente de modo mais acadmico com

    seus tons pastis dialoga com uma imagem de

    cores vibrantes e contornos bem definidos por

    linhas fortes, chocando tradio pictrica e

    grfica, volume/profundidade e plano

    bidimensional, cores misturadas e diludas a

    cores chapadas e puras.

    Os elementos de estruturas retas do

    cenrio como prdios, ruas e os postes em

    seqncia reforam a perspectiva da cena,

    fazendo dela a origem no s dos raios-guia de

    profundidade como de toda a imagem, como se

    tudo que h ali erigisse dali estendendo-se do

    fundo do quadro e trocando influncias entre

    figuraes na extenso do caminho

    (interessante salientar que a ordem de pintura

    do quadro tambm, tendo sido iniciado pela

    pintura do cu, justamente do cu, abrigo divino

    da criao na maioria das mitologias e origem

    da vida em muitas correntes cientficas).

    A narrativa da cena de acontecimentos

    ilgicos sem relaes aparentes: as

    personagens parecem ter sido

    teletransportadas naquele instante de outro

    local ou realidade, onde a ao acontecia e fora

    interrompida pelo rapto do quadro. A existncia

    das coisas dali est ligada condio que a

    imagem do quadro fornece, como se ela tivesse

    comeado naquele exato momento, entrosada

    com o tempo do trabalho, com a existncia da

    pintura em si, a criao da forma como criao

    da forma representada, e no como

    personagens que tivessem sua vida prpria

    independente do registro ali feito; os objetos

    fsicos passam a existir a partir da imaginao,

    como no clebre conto Tln, Uqbar, Orbis Tertius, de Jorge Luis Borges.

    Assim, as relaes puras de forma

    transpem a realidade representada: uma linha

    inserida no espao de perspectiva diagonal da

    calada transposta para o bloco de texto deixa

    de ser profunda para virar uma forma

    geomtrica abstrata: a mesma linha reaplicada,

    colada, toma outra sentido. O quadro o

    histrico dessas relaes formais que se

    influenciaram dinamicamente at o momento de

    ficarem congeladas na imagem finalizada.

    Entre os dois personagens maiores (dois

    autorretratos complementares), no primeiro

    plano do quadro, h uma relao de dvida, ou

    ao menos hesitao: aparentemente duelam,

    mas as feies no esclarecem a fora

    imprimida, h certa ambigidade entre a

    simulao e a efetividade do ato, se ele de

    fato agressivo ou se seria at mesmo afetuoso,

    se h de fato voluntariedade em seus atos ou se

    como se estivessem ali por uma

    determinao, uma determinao visual por

    assim dizer, como figurantes que cumprem seus

    papis burocraticamente (ou talvez o espanto

    da recm-chegada a um cenrio para o qual

    foram teletransportados).

    No tratamento pictrico irregular do

    quadro a textura que resolveria uma

    representao realista salta de seu contexto e

    toma vida prpria no espao da tela, como se a

    representao e o representado gerassem uma

    terceira coisa, que ao mesmo tempo se

    materializa na realidade representada

    diminuindo a distncia entre o que

    representado (narrativa, contedo) de como se

    representa (expresso, forma): tudo o que est

    na tela, seja uma mancha ou um corpo nu,

    ganha vida tanto como personagem quanto

    elemento abstrato, no h excees ou

    divises: se dividem o mesmo plano

    bidimensional, as regras so, ainda que

    generosas, as mesmas para tudo. H nessa

    ao totalizadora e permissiva algo de

    indeciso assumida que proporciona essa

    liberdade a qualquer resposta, qualquer

    tentativa, onde h espao para tudo; tela

    qualquer coisa pode ser trazida indistintamente;

    ao meu tecido expressivo, qualquer tipo de

    criao bem-vinda.

    3.5.2 Anlise da obra Contato

    Embora a pintura Contato, leo e acrlica sobre tela de 123 x 222 cm finalizada

    em dezembro de 2013, trata-se de uma

    representao fantstica e com ambientao

    inspita, nalguns pontos ela recebe um

    tratamento realista; e embora ela tenha um

    aspecto geral figurativo, nalguns pontos ela tem

    um tratamento pictrico abstrato.

    Isso cria certa tenso entre realidade e

    fantasia, novamente cria camadas de

    representao sobrepostas, acumuladas.

    s vezes as figuras tm seus laos entre

    umas e outras representados (a representao

    de uma conexo fsica, como os tentculos da

    figura verde ou a continuidade do corpo em

    uma estrutura brilhante de metal), noutras vezes

    parecem estar apenas coladas, sem nada que

    as justifique ali.

    O cenrio onde a ao ocorre de uma

    simplicidade conceitual: o cu acima e o cho

    abaixo criando uma linha horizontal que os

    separa exatamente na metade do plano

    pictrico. Suas cores reforam o contraste entre

    os seus conceitos: a soma das cores do cu

    (bases azuis e negras) com a das cores do cho

    (bases amarelas e brancas) gera uma terceira

    cor (bases verdes e cinzas) que surge e se

    desenvolve no sentido de leitura ocidental, da

    esquerda para direita, fomentando uma figura

    que se justifica tanto no plano abstrato

    pictrico, quanto no espao cnico

    representado, quanto na significao metafrica

    de origem, surgimento, formao (cu com

    estrelas associado ao cho e suas pedras e

    minerais resultando numa forma orgnica viva,

    numa forma que carrega a escrita).

    A sombra arbitrria; ainda que quando

    incida, ela incida sob as regras do realismo,

    baseando-se nas formas e ngulos que a

    formam. Mas arbitrria, como as demais

    representaes realistas do quadro, que no

    constituem a sua regra: o realismo sempre

    uma alternativa a ser solicitada, uma alternativa

    para ancorar alguns trechos da imagem num

    imaginrio referenciado no concreto, como se a

    cena ali erigida atravs de diversos recursos

    pictricos e grficos tivesse algo de acontecido,

    algo de registro.

    O compromisso com a realidade firmado e

    abandonado ordem da execuo ou da

    organizao pictrica.

    Camadas de texto ordinariamente se

    posicionam num espao visual abstrato, numa

    camada alm-imagem, suspensa do espao

    cnico em que os demais elementos visuais se

    relacionam; o que ocorre com os blocos de

    textos que sobrepe fotos em materiais

    jornalsticos e peas publicitrias, com as

    legendas de filmes etc. Entanto nessa obra o

    texto se movimenta entre camadas de maior ou

    menor profundidade, a ponto de se fixar na

    mesma camada do espao imagtico, recuar da

    condio de informao independente para

    fazer parte do cenrio; aqui novamente h uma

    escala em que ele vai e volta nveis de realismo,

    entre o texto como integrante da ao cnica e

    o texto como informao diagramado

    independentemente da imagem.

    O ttulo emerge das relaes tratadas na

    cena, na medida em que se vale das aberturas

    que a palavra contato em si carrega, de suas

    possibilidades de uso a partir de seu estado

    isolado, como uma entrada de dicionrio

    (contato no sentido de contatos com seres

    extraterrestres, contato no sentido de contatar

    atravs da linguagem, mensagens, contato no

    sentido de tato, contato no sentido de

    resultado), como um ndice visual de

    conotaes.

    4 PROCESSO

    Se a produo em si carrega essa

    caracterstica mltipla, o processo criativo no

    teria como ser diferente. Nele experincias se

    cruzam, rotas so desviadas e novos caminhos

    so abertos inesperadamente, filigranas de

    movimento intenso e multilateral.

    Principia-se a despeito do processo ser contnuo pode-se usar esse termo de um movimento aleatrio de diversos esboos,

    aes, idias, intenes etc. at que se alinhem

    numa situao favorvel criao mais

    pensada, orientada e planejada, da se

    rebentando dessa tempestade de estmulos

    para um caminho s, qual a formao de um

    planeta surgido de poeira csmica. Um

    processo de evoluo como o elucidado pela

    Teoria da Inflao da fsica, onde pequenas

    irregularidades e acidentes iniciais acumulam-se

    em progresso geomtrica e geram resultados

    no previstos inicialmente, como uma bola de

    neve cujo formato esfrico seja substitudo pela

    novidade na dinmica de sua evoluo.

    Do recorte de uma cena de um vdeo em

    que eu me movimentava para a filmadora

    estacionada sobre uma cadeira surgiu um

    esboo sem fim definido; tempos depois, esse

    esboo completou outro esboo que havia sido

    criado alheiamente a esse processo.

    Indubitavelmente o caminho do frame do vdeo

    pintura Contato no foi planejado, mas surgiu devido frtil permissividade instaurada

    no ambiente de atelier.

    No deixa de ser, claro, o processo

    mental criativo ordinrio, em que inteno e

    acaso (e at mesmo interveno divina para os

    mais crentes, como eu) se confundem no

    turbilho de estmulos que se cruzam a todo o

    momento na imaginao de um criador de

    imagens. Tento somente perder o mnimo

    possvel (o que ser sempre muitssimo) desse

    processo registrando-o para que sejam acordes

    passveis de composio ou ao menos uma

    coleo de obedientes impresses, tradues

    da introspeco, mapas dos circuitos internos todos solveis entre si.

    1 Luiz Camillo Osorio in revista Filme Cultura n 54, 2011, pg. 56, CTAv (Centro Tcnico Audivisual

    CTAv) maio/2011.)

    2 Helosa Buarque de Hollanda (idem)

  • Apncide 4: CV

    JOO GRANDO (Joo Ricardo Lopes Grando). Torres, 1982. FORMAO Bacharel em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, 2013 Projeto de Graduao: O autorretrato expandido num ensaio multiplataforma. PUBLICAES - Zupi #23 (5 pginas inteiras, das quais 2 imagens em folhas duplas (seo start/stop)); - ffw>>Mag! #32 (1 pgina inteira (pg. 188)); - Livro Portugus Linguagens 7 ano, de William Roberto Cereja e Thereza Magalhes (Editora Atual) um poema foi objeto de estudo; - Livro selecionados 1 Concurso Nacional de Poesia Colatina 2005. EXPOSIES COLETIVAS - 15x15 Pinacoteca Baro de Santo ngelo, Porto Alegre RS, 2014 (abertura agendada para maio) - Festival Hotspot, selecionados nacionais, curadoria de Speto e Graziela Peres exposio itinerria: So Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Braslia, Vitria, Porto Alegre, Salvador, Recife, Natal, Belm, So Lus; 2013 - Urussai, 27 Casa dos Criadores, shopping Frei Caneca, So Paulo SP, 2010 - Vaga-lume, mostra de vdeo experimental Pinacoteca do Instituto de Artes UFRGS, Porto Alegre RS, 2008 - Bienal B Casa dos Bancrios, Porto Alegre RS, 2007 OUTROS - cofundador da marca Camelbird (http://www.camelbird.com.br) - Tcnico em Administrao no praticante; - Tcnico em Contabilidade no praticante;

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