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João Calvino 500 anos/Hermisten Maia Pereira da Costa – São Paulo: Cultura Cristã, 2009. A leitura do Livro de João Calvino 500 anos é fascinante e instigante, pois o contato mais aprofundado com o pensamento e Teologia de João Calvino traz luz e questionamentos sobre nossa prática pastoral e vida Cristã. Quero poder descrever aqui de forma mais detalhada sobre as diversas abordagens teológicas contidas no livro sobre assuntos variados. Contudo, em todas as abordagens em seus capítulos, alguns princípios estão sempre presentes, pois são fundamentos e norteadores da Teologia e vida de João Calvino. Ao ler esta obra, ficamos com a imagem do homem Reformado, vivido e proposto por Calvino. O Homem Reformado tem como centro as Sagradas Escrituras, pois elas são nossa autoridade máxima e única infalível, pois é Palavra do próprio Deus. Deus governa e é soberano e aquilo que revelou em sua Palavra é suficiente para conhecermos aquilo que é necessário sobre Deus, o mundo e o homem. Tudo que Deus fez e faz e tudo que envolve nossa vida deve ser tão somente para a Glória de Deus. O fim principal do homem é glorificar a Deus. Toda Teologia de Calvino está conectada nestes pressupostos, e sempre encontraremos estes referenciais no homem reformado. Também fica evidente que Calvino vivia de modo simples e sua Teologia era experimentada em sua vida. Calvino não argumentava de abstrações, porém, sua teologia era vivenciada, era praticada. Calvino refutava especulações a

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Joo Calvino 500 anos/Hermisten Maia Pereira da Costa So Paulo: Cultura Crist, 2009.

A leitura do Livro de Joo Calvino 500 anos fascinante e instigante, pois o contato mais aprofundado com o pensamento e Teologia de Joo Calvino traz luz e questionamentos sobre nossa prtica pastoral e vida Crist. Quero poder descrever aqui de forma mais detalhada sobre as diversas abordagens teolgicas contidas no livro sobre assuntos variados. Contudo, em todas as abordagens em seus captulos, alguns princpios esto sempre presentes, pois so fundamentos e norteadores da Teologia e vida de Joo Calvino. Ao ler esta obra, ficamos com a imagem do homem Reformado, vivido e proposto por Calvino. O Homem Reformado tem como centro as Sagradas Escrituras, pois elas so nossa autoridade mxima e nica infalvel, pois Palavra do prprio Deus. Deus governa e soberano e aquilo que revelou em sua Palavra suficiente para conhecermos aquilo que necessrio sobre Deus, o mundo e o homem. Tudo que Deus fez e faz e tudo que envolve nossa vida deve ser to somente para a Glria de Deus. O fim principal do homem glorificar a Deus. Toda Teologia de Calvino est conectada nestes pressupostos, e sempre encontraremos estes referenciais no homem reformado.Tambm fica evidente que Calvino vivia de modo simples e sua Teologia era experimentada em sua vida. Calvino no argumentava de abstraes, porm, sua teologia era vivenciada, era praticada. Calvino refutava especulaes a respeito daquilo que Deus no revelou claramente, e defendia com paixo aquilo que a Palavra de Deus deixa claro para nossa vida.

A Reforma ProtestanteA palavra protestar tinha o sentido de confessar. O sentido do protestantismo era confessar a supremacia das Sagradas Escrituras. A Reforma Protestante inicialmente um movimento religioso e Teolgico, favorecido pelo descontentamento dos fiis catlicos que no encontravam na Igreja Catlica Romana alimento espiritual para as suas necessidades. Era um movimento interno com o desejo de reforma. Aliado a estes fatores originais, encontramos a contribuio do humanismo e renascentismo para a Reforma, pois tinham alguns pontos em comum. evidente que a reforma no ficou apenas no religioso, mas atingiu todas as esferas da vida e se tornou revolucionria. Como j foi afirmado acima, a Reforma posicionamento de homens reclamando e exigindo a centralidade das Escrituras e nica autoridade infalvel para a Igreja, o mundo e a vida.

O Surgimento de um ReformadorVejamos um pouco mais da vida de Calvino. Devido ao esforo paterno, j que logo cedo Calvino perdera sua me, Calvino teve a oportunidade de estudar entre os filhos de nobres e desde cedo recebeu excelente educao. Sua formao passou por alguns campos alm do Teolgico, o que trouxe para Calvino a possibilidade de transitar em outros ramos do saber.Ao que tudo indica, a converso de Calvino foi repentina e ocorreu possivelmente entre 1532 e 1534. Logo de incio Calvino j deu contribuies significativas para a F Reformada, auxiliando na Reviso da traduo do Novo Testamento para o Francs e tambm na Reviso de traduo do Antigo Testamento, alm de prefaci-los.Calvino identificado como um humanista. O Humanismo e o renascimento so dois momentos de um movimento apenas. O renascimento surge com a conotao de renovao do homem, apartando-se das tutelas da Igreja, da tradio e da escolstica. No renascimento o homem ganha autonomia. Vejamos algumas caractersticas da filosofia do renascimento: Restaurao da cultura clssica, que a busca e estudo da Antiguidade Clssica. Os renascentistas rejeitaram o filtro medieval e buscaram uma nova interpretao da Antiguidade, acreditando assim, que teriam algo mais profundo e de maior conhecimento. Seus paradigmas passaram a ser a cultura grega e a latina. Como auxlio para este perodo e esta busca, podemos citar a importncia da impressa, surgida recentemente, mas como instrumento para difundir e resgatar estes ideais, juntamente com os clssicos antigos. Outro elemento a busca do Novo, pois para os renascentistas a busca pelo Antigo traria o novo. H ainda a tentativa de sintetizar o cristianismo coma cultura clssica. Seria a tentativa de um sincretismo, porm, fracassado. E por ltimo encontramos a valorizao do homem. O homem passa a ser o centro das atenes, a medida de todas as coisas. Contudo, quando se esqueceu de Deus, esta antropologia se tornou desfigurada e trgica. Ressalto aqui que Calvino era sim um humanista, mas jamais comungou desta viso antropocntrica. Para Calvino deve sim haver o resgate da dignidade do ser humano e estud-lo a fundo, entretanto, isto somente se torna possvel a partir das Escrituras, isto , da viso de Deus a respeito do homem. Apenas o conhecimento de Deus torna possvel o conhecimento do prprio homem.Esta percepo de Calvino profundamente libertadora, pois no permite que nossa identidade seja perdida em meio as mudanas culturais. Se o ser humano se avalia a partir de seu tempo e de suas percepes, certamente teremos uma viso completamente disfuncional de ns mesmos, pois ela ser volvel e sem referenciais precisos. Mas ao resgatar a antropologia teolgica, Calvino coloca o homem novamente em seu devido lugar, dando a possibilidade de compreenso mais profunda e precisa de quem na verdade somos e de nossa dignidade obtida to somente em Deus.

A Suficincia da Escritura em sua F e Prtica pastoral

Para Calvino este tema crucial, pois toda sua teologia est fundamentada nas Escrituras. Elas so a nica autoridade infalvel e contm tudo que suficiente para nosso conhecimento de Deus. A Escritura suficiente e por isso os mestres tem uma grande responsabilidade no seu ensino. Tudo que devemos saber de Deus para nossa orientao e direo revelado nas Escrituras. Por isso, no necessria nenhuma outra revelao especial de Deus. A partir da Reforma Protestante a Escritura se torna a nica autoridade infalvel. A tradio deve ser valorizada e respeitada, mas apenas as Escrituras tem autoridade infalvel. Os reformadores argumentam ainda que a tradio desempenha um papel importantssimo dentro da histria da Igreja crist, mas ela deve ser submetida s Escrituras. A Bblia um livro divino, pois sua origem est em Deus, mas tambm um livro humano, pois Deus preservou o estilo de cada autor. No h separao destes dois aspectos. O homem escreve inspirado pelo Esprito Santo. Tudo se origina em Deus. A Palavra de Deus antecede a Igreja e a partir dela que se estabelece a Igreja. Portanto, no a Igreja que autentica autoridade para as Escrituras, mas a autoridade das Escrituras que autentica a autoridade da Igreja.Deus se acomoda para se fazer entendido pelo ser humano. Esta uma acomodao graciosa de Deus, que se condescende para comunicar a palavra em nossa linguagem para que seja possvel a nossa compreenso. A Palavra pode somente ser revelada pelo Esprito. No h como separ-los. Sem o Esprito a Palavra permanece um mistrio, contudo, com a presena dele nossos olhos so desvendados para ver os mistrios de Deus.Calvino no entendia ser necessrio explicar todas as partes das Escrituras, at porque nem tudo claro, mas se via responsvel por ensinar tudo o que as Escrituras ensinavam. Neste sentido, Calvino era claro e objetivo e no apreciava especulaes de textos bblicos. No podemos esquecer que Calvino era uma grande exegeta e utilizou todas as ferramentas ento disponveis para uma compreenso mais profunda e exata do texto. Deve ser ressaltado que ele era o exegeta por excelncia da Reforma. Para Calvino o propsito de Deus a edificao da Igreja e no satisfazer suas curiosidades. Desta forma, Calvino defende que as Escrituras a escola do Esprito e que nada ensinado a no ser aquilo que convenha saber. Seu princpio hermenutico que a Escritura interpreta a prpria Escritura. Toda doutrina bblica deve ser analisada dentro da prpria bblia e avaliada por ela mesma.Seus comentrios era a exposio do texto bblico. Calvino defendia que os comentrios deveriam esclarecer o texto e no complicar ainda mais, assim como faziam outros comentaristas. Seu contedo era claro, objetivo e simples. Assim Calvino entendia a bblia. O seu conhecimento deve redundar em adorao e edificao.Afirmando ainda a importncia da palavra, Calvino aponta que Deus revela a vocao dada aos homens por meio da Palavra. Atravs dos ministros a igreja instruda e preservada. Por isso, os ministros tm grande responsabilidade e privilgio no ensino da palavra. A palavra deve ser o contedo da sua mensagem. Portanto, os pastores no esto ao seu prprio servio, mas de Cristo; no buscam discpulos para si mesmos, mas para Jesus.Calvino compreendia que a autoridade do ministro provm da palavra. A palavra necessita ser previamente gravada em nossos coraes, sendo necessrio examinar a ns mesmos. Precisamos viver de um modo digno. Pastores precisam ser capazes de aprender, para que tambm sejam capazes de ensinar. Somos chamados para responder fielmente Palavra. Deve-se ser destacado que toda produtividade exegtica de Calvino tinha uma preocupao pastoral. Por isso sua erudio demonstrada com simplicidade. O princpio orientador de sua teologia a glria de Deus. Precisamos nos submeter Escritura e buscar iluminao do Esprito para aprendermos dela. E os ministros necessitam de seus sustentos para se dedicarem ao estudo e ensino da Palavra. Todos ns somos incapazes de entender os mistrios de Deus at que ele mesmo, por sua graa, nos ilumine. Estas convices so norteadoras para nosso ministrio e nos desafia para estudarmos com seriedade a Bblia, nos submetendo aos seus ensinos e afirmando sua suficincia. Precisamos ser mais claros em nossas exposies bblicas. Simples, no simplistas. Precisamos ainda destacar que em meio a todo conhecimento que temos ao nosso dispor, a bblia continua sendo a nica autoridade infalvel e suficiente. No necessitamos de outras revelaes ou prticas originadas fora do entendimento bblico. Acredito que o maior apelo ao ler este captulo o estmulo para tratar de modo apaixonado com as Escrituras. Apaixonado no melhor sentido do termo.

A Eleio Divina

Nosso pensar teolgico dever estar sempre relacionado com a fidelidade Escritura e com o ensino da Palavra. Tambm devemos aprender a nos calar diante do silncio de Deus. Deus no precisa ser justificado, explicado ou racionalizado. Um deus que explicado seria um Deus humanizado e preso a cosmoviso contempornea. O finito no pode conter o infinito.A doutrina da eleio ensinada nas Escrituras e, portanto, no pode ser ignorada, pois desta forma cometeramos uma grande injustia para com Deus que nos revelou esta verdade. Qualquer dificuldade que a predestinao venha a levantar, j est presente em outras reas da existncia humana. Esta doutrina deve ser estudada em orao. Devemos ainda lembrar que A Escritura suficientemente clara, mas no absolutamente clara, em todas as coisas.A eleio apresentada no Antigo Testamento pelo verbo bhar, que significa uma escolha criteriosa, bem pensada. Deus o sujeito, ele quem elege.No Novo Testamento encontramos o verbo eklgomai. Deste modo, compreendemos eleio como um ato eterno e soberano de Deus, por meio do qual ele decretou salvar em Cristo Jesus um determinado nmero de homens, dentre toda raa humana voluntariamente cada.Joo Calvino entedia a eleio como um ato soberano, livre e gracioso de Deus em nosso favor, para a sua glria. O ser humano totalmente depravado e por isso completamente dominado pelo pecado. Portanto, somente pela ao graciosa e libertadora de Deus o homem pode ser salvo. A trindade o autor e o executor de nossa salvao, contudo a Bblia atribui mais especificamente ao Pai este ato soberano. Deus decide fazer sem a participao de terceiros. to somente um ato soberano e livre de Deus. No h causas externas. A graa antecede a f e o conhecimento. Como que este processo acontece? O Esprito aplica a redeno de Cristo em ns. A eleio eterna e imutvel e s possvel na pessoa de Cristo, fora dele no h salvao. Ela pessoal e irresistvel.Deus nos elegeu com um propsito especfico. Tem um plano e um objetivo para ser alcanado. A eleio tem propsito abenoador, tico, salvador e glorificador. Ela nos conduz a uma vida de servio, de f na verdade, santificao, amor a Deus, humildade, gratido.A eleio de Deus inclui os fins e os meios.Neste captulo defendida de modo to claro a maravilha desta doutrina. Faz-se mais que necessrio apontarmos esta doutrina em nossos dias, principalmente, porque nos coloca em nosso devido lugar e nos diz claramente que nossa salvao depende exclusivamente de Deus. O cenrio brasileiro est reproduzindo teologias confusas e antropocntricas, o que distancia do ensinamento bblico. A doutrina da Eleio nos traz tranquilidade, pois dependemos totalmente da ao graciosa de Deus e no de ns mesmos, e nos conduz ao servio, pois fomos eleitos para glorificar a Deus. Assim, somos chamados ao engajamento em nossa sociedade, pois somos o povo eleito de Deus para a glria de seu nome.

O Homem como Imagem e Semelhana de DeusO homem foi criado imagem e semelhana de Deus. Esta doutrina nos coloca diante de nossa real condio e de nossa dignidade em Deus. Na compreenso desta doutrina, lidamos com a influncia do iluminismo nas concepes que temos ao nosso dispor. O iluminismo coloca o homem como centro de todas as coisas e deixa Deus de lado. O que vale a razo humana e suas potencialidades. O homem se coloca num lugar de dominao confiante em suas possibilidades. Com isto, h um abandono da tradio e de seus valores. Cr-se que tradio e erro se coincidem. Assim, o homem se tornou prisioneiro de sua prpria concepo da realidade. Este caminho descarta a nica possibilidade do ser humano de um caminho real do significado da vida e do saber. Este caminho descarta o Deus transcendente e pessoal.Calvino era um humanista, contudo sua percepo do homem no partia da viso do prprio homem. Seu entendimento da dignidade do homem nasce da sua antropologia teolgica, ou seja, do homem entendido luz da revelao de Deus. Calvino era um humanista sim, estudando o homem, mas nunca o colocando no centro. Deus continuava sendo o centro e somente o conhecimento de Deus nos d condio de conhecermos a ns mesmos, pois fomos criados a sua imagem e semelhana. preciso reconhecer a grandeza do homem como criatura de Deus, a quem deve adorar e glorificar. Desta forma, podemos afirmar que o humanismo de Calvino era Cristocntrico. No existe no pensamento de Calvino um dilema entre antropocentrismo e o teocentrismo.Algumas consideraes da criao do homem a imagem e semelhana de Deus: O mundo foi criado para o bem estar do homem. A criao foi direcionada para dar satisfao s necessidades do homem e para a sua felicidade. No prprio relato da criao podemos perceber a importncia do ser humano. Em toda a criao Deus pronuncia sua Palavra e algo acontece, mas na criao do homem Deus entra em consulta. A criao reflete a Glria de Deus.Para Calvino no havia diferenciao dos termos imagem e semelhana. Eles queriam dizer de modo enftico que o ser humano uma verdadeira imagem. Isto no significa imagem fsica ou consistente apenas de domnio. Seu significado que recebemos atributos de Deus como retido, santidade, imortalidade, inteligncia, razo e encontramos seu fundamento principal no corao e na mente.Aps a queda, podemos afirmar biblicamente que o homem no regenerado continua sendo imagem e semelhana de Deus. Contudo, esta imagem foi corrompida, deformada. O pecado trouxe consequncias terrveis como morte e escravido. O pecado atingiu todos os homens. Esta imagem de Deus no homem s pode ser restaurada na pessoa de Jesus Cristo. Jesus nos salvou para sermos sua imagem e semelhana. Mesmo aps nosso novo nascimento, ns continuamos a pecar, mas o propsito de Deus a restaurao da imagem de Deus em ns, e isto se d progressivamente por meio do evangelho. Cristo a perfeita imagem de Deus e o objetivo de Deus nossa conformao imagem de Cristo. Na volta de Cristo seremos completamente transformados.A partir destas compreenses mudaremos nosso foco no tratamento com o ser humano. Devemos am-los e respeita-los, no por que possuem valor em si mesmo, mas por causa da dignidade trazida a eles pela imagem de Deus. Por ser a humanidade portadora da imagem de Deus, devemos honr-la e am-la, para assim glorificar o nome de Deus. Qualquer ofensa ao homem antes de tudo uma ofensa a Deus, de quem o homem portador da imagem.Aqui fica muito claro que o homem no tem valor intrnseco, mas to somente, extrnseco. Seu valor vem de fora e a Bblia afirma claramente que vem de Deus. Nossa dignidade est em Deus. Somente na pessoa de Jesus Cristo poderemos ser transformados imagem de Deus. Aqui tambm fica claro que o objetivo de Deus para ns que sejamos conformados semelhana de Jesus.

A Espiritualidade de Joo Calvino

Para Calvino a teologia est intimamente ligada vida prtica. Calvino nunca foi favorvel a especulaes, que apenas fruto de nossa imaginao. Para Calvino a preocupao teolgica deve ater-se edificao da igreja. Sua Teologia era um esforo por comentar a bblia, sendo por isso chamado de teologia bblica. Em todo seu sistema e labor encontramos como fundamento a orao. Calvino entendia que a doutrina era para ser crida, vivida e ensinada. Ele expunha e aplicava o texto. Calvino entendia que os Salmos era expresso muito apropriada a f reformada. Dele vem a famosa frase dizendo que os Salmos so como uma anatomia de todas as partes da alma.Para o homem obter a felicidade, h uma condio: necessrio um genuno conhecimento de Deus. O homem busca desesperadamente pelo sentido da vida e poder encontr-lo somente quando conseguir compreender que o fim principal de todas as coisas a glria de Deus. Nossa felicidade s possvel depois de nos reconciliarmos com Deus. Neste sentido, somente unidos em Cristo temos a beno da vida Crist, pois fora de Cristo temos inimizade contra Deus. Somente em Cristo somos humanizados, pois ele o verdadeiro homem. As nossas oraes esto associadas nossa reconciliao com Deus. Por isso, a legtima orao requer arrependimento. Nossa orao dever ser sempre teocntrica, mesmo se for splica por nossa vida. Assim, para que o ser humano se aproxime de Deus, necessitar elevar-se acima de si prprio e do mundo. Apenas podemos orar com o auxlio do Esprito. Deus dirige todas as coisas de forma pessoal, sbia e amorosa. Logo, o conhecimento prvio de Deus um estmulo orao. Na orao demonstramos f na providncia divina e submetemos nossa vontade a vontade de Deus.Portanto, devemos orar para que o nosso corao se inflame de intenso desejo de buscar, amar e honrar a Deus. Precisamos estabelecer horas definidas para orar para que no negligenciemos esta prtica. Nosso guia nestas oraes ser a Palavra, pois ela nosso manual de orao. Na Palavra somos estimulados a orar confiantes nas promessas de Deus para ns. A Orao de Jesus se constitui num modelo de orao para a Igreja em todos os tempos. O que est ali registrado suficiente, agradvel e necessrio para nossa vida. Da orao de Jesus entendemos tudo quanto dele lcito buscar. A orao um mandamento e envolve promessas de Deus pra ns. Calvino entendia que pedir algo pra Deus duvidando tentar a Deus. Na orao devemos ter acima de tudo o desejo de que o nome de Deus seja Glorificado. Jesus intercede por ns to somente por seus prprios mritos. Cristo o nico Sacerdote qualificado. Nossas intercesses esto subordinadas dele. Nossa orao deve ser em favor de nossos irmos tambm, sendo, portanto, orao de intercesso. A orao exige persistncia e objetividade.Neste captulo temos uma viso da espiritualidade de Calvino. Fica evidente que a Teologia no deve ser apenas uma abstrao, mas profundamente prtica. H uma relao muito ntima entre Teologia e devoo. A partir da orao ns somos transformados e glorificamos a Deus. A orao nos d percepo de quem Deus e do que ele est fazendo na histria.

O Culto Cristo

Fomos eleitos na eternidade para que o adoremos.O homem foi criado para se relacionar com o criador. Este um relacionamento pessoal, voluntrio e consciente com Deus. O homem tem a impresso de Deus e necessita voltar-se para Ele. Todas as coisas que o ser humano busca para sua felicidade, no fundo no fundo, a busca por Deus. Pensamos que estas buscas nos faro felizes e satisfeitos, contudo, acontece o inverso. Desejamos e precisamos voltar para Deus. Calvino no foi dogmtico no estabelecimento da ordem do culto, entendendo que muitos detalhes poderiam ser modificados a critrio da congregao. Contudo, no seriam permitidos abusos. A palavra de Deus ser sempre o critrio para nossa liberdade.Na adorao bblica declaramos que fomos criados para glria de Deus. Podemos perceber no Antigo e Novo Testamento diferenas no aspecto ritual e externo. Contudo, a integridade exigida por Deus a mesma. Portanto, a adorao deve ser sempre regulamentada pela Bblia, porm, permitindo a adaptao cultural.Para Calvino os elementos essncias ao culto so: a Palavra, a oferta, a Ceia e Orao. Sua proposta de um culto simples. Em relao Santa Ceia Calvino entendia que ela no tinha eficcia em si mesma, e nem era comunicada pelo celebrante essa eficcia. A participao da Ceia, de forma digna e com discernimento, faz-nos participantes do corpo e sangue de Cristo. Como definiu Agostinho, um sinal visvel de uma graa invisvel. Calvino compreendia que os sacramentos oferecem e apresentam Cristo, bem como neles os tesouros da graa celeste. Eles devem ser ministrados juntamente com a Palavra.Os cnticos tinham uma funo didtica para os reformadores, tendo como objetivo a fixao da Escritura. Calvino optou por cantar os Salmos por entender que somente a Palavra de Deus era digna de ser cantada. Calvino foi um incentivador do cntico congregacional. Todas as partes do culto devem ser a expresso daquilo que cremos, conforme -nos ensinado na Escritura. Logo, necessrio que tenhamos conscincia daquilo que falamos, cantamos e ouvimos. No culto somos aperfeioados. Na Reforma Protestante a igreja foi compreendida como povo de Deus que se rene para ador-lo. Por isso Calvino defende que as marcas da igreja so a verdadeira pregao da palavra de Deus e correta administrao dos sacramentos. Calvino compreendeu que a palavra de Deus deve ser o elemento central do culto. O Culto deve ser agradvel a Deus conforme prescrita em sua palavra. O culto a Deus caracterizado pela submisso as Escrituras. Uma teologia bblica e genuna s possvel aliada adorao bblica.Neste captulo Calvino resgata a centralidade da Palavra e o fim principal do homem que glorificar a Deus. Tudo deve redundar nesta direo e foco: a glria de Deus. O culto a expresso daquilo que cremos, sendo portanto, adorao a Deus. Ele acontece muito alm das fronteiras da Igreja. Nossa vido por inteira deve ser adorao a Deus. Calvino ainda nos lembra de que a despeito de tantas propostas de vida e de felicidade, nossas buscas e desejos, so na verdade a busca por Deus. Precisamos nos voltar para Deus.

A Reforma e a Educao

A partir da Reforma entende-se que a educao visa preparar o ser humano para melhor servir a Deus na sociedade a fim de que Deus seja glorificado.Calvino defende que nossa f deve ser explcita, e isto se d pela igreja por intermdio do ensino da Palavra.Lutero lanou as bases da moderna escola pblica e do ensino obrigatrio. Isto favoreceu a educao secular e eclesistica. Esta nfase de Lutero proveniente de sua viso teolgica. Calvino tinha uma viso ampla da cultura, crendo que toda verdade verdade de Deus. Deus Senhor de todas as coisas e sua graa comum est sobre todos os homens.Calvino criou uma academia em Genebra. base da educao em Genebra era bblica. A formao dada em Genebra era intelectual e espiritual. Calvino no concebia a academia longe da igreja. Genebra se tornou um grande centro missionrio. A proclamao do evangelho tem por objetivo glorificar a Deus. Devemos ressaltar Joo Ams Comnio que foi o educador mais importante do sculo XVII um dos incentivadores da escola pblica.O Cristianismo deu grandes contribuies para o desenvolvimento da educao e ensino. O Homem Reformado era um homem que tinha uma mentalidade voltada para a educao e compreenso mais profunda de nossa sociedade. A noo de que toda verdade verdade de Deus impulsionou o homem reformado e cristo para o dilogo com cincias e outras formas de ensino. A partir da Reforma, tem-se outra compreenso da Educao. No podemos perde-la de vista. Nosso conhecimento mais abrangente, pois temos uma nova mentalidade em Cristo.

A tica Social de Calvino

Trabalho pode ser definido como esforo fsico ou intelectual, com vistas de um determinado fim. Na idade mdia a tradio greco-romana desprestigiava o trabalho e a tradio crist o valorizava. Na idade mdia os eclesisticos tinham prioridade e ocupavam lugar proeminente. J o trabalho manual era designado como castigo e penitncia. H duas palavras distintas para definir trabalho neste perodo: Opus e Labor. Opus o trabalho criador e Labor refere-se ao trabalho laborioso relacionado ao lado do erro e da penitncia.A reforma resgatou o conceito Cristo de trabalho. Atravs de Calvino e Lutero trazida a noo de que trabalho uma vocao divina, e que, portanto, responsabilidade do homem cumprir sua vocao. Todo progresso da raa humana est relacionado ao trabalho. O trabalho deve honrar Deus. Calvino defendeu trs princpios ticos fundamentais: trabalho, poupana e frugalidade.Vejamos alguns princpios estabelecidos em As Institutas: Em tudo devemos contemplar o Criador e dar-lhe graas. Devemos ser gratos a Deus por sua generosa bondade. Usemo-nos deste mundo como se no usssemos dele. Devemos usar nossos bens com moderao. Suportemos a pobreza, usemos moderadamente a abundncia. Calvino insiste que quem no aprende a viver na pobreza, revelar na riqueza a sua arrogncia e orgulho. Somos mordomos de tudo que temos. Nossa riqueza est em Deus, e em nossa mordomia devemos socorrer aos necessitados. Mesmo que os homens sejam ingratos, devemos perseverar em fazer o bem. O trabalho deve ser acima de tudo para a glria de Deus. Na concepo Crist o trabalho dignifica o homem, visto que realizamos para o Senhor. No trabalho, expressamos e aperfeioamos nossa humanidade.Vivemos um perodo em que trabalho visto como uma forma de ganhar dinheiro. Perdeu-se de modo geral o seu sentido de vocao. A partir da abordagem de Calvino somos chamados a restaurar esta concepo de trabalho. Trabalho vocao e por isso deve honrar a Deus. O nosso trabalho deve glorificar a Deus. Alm destes conceitos importantssimos, Calvino faz uso do conceito de Mordomia. Somos apenas mordomos daquilo que de Deus e para a sua prpria Glria.

Calvinismo e CinciaA teologia no exclui as cincias empricas e nem vice-versa. No pode se fazer cincia sem que haja f. A f no responsvel por mudar a realidade, mas sim a percepo. Com isso afirmamos que o que cremos no capaz de mudar a realidade, mas a partir de nossa crena levada a seus termos, a realidade poder ser mudada. claramente compreensvel que a cincia relevante, mas tambm que seu conhecimento extremamente limitado. O que difundido como verdadeiro hoje pode se tornar o mito de amanh. Vale ainda ressaltar que a cincia no o nico meio para se chegar ao conhecimento, pois ela no pode esgotar a realidade. Como ter a pretenso de esgotar o que nem conseguimos dimensionar? O conhecimento cientfico deve ser passvel de compreenso, demonstrao e comprovao. O compromisso da cincia com a apreenso do real. A cincia deve ser avaliada, pois a f que no suspeita de suas convices, tornou-se uma suposta cincia absoluta. Somente Deus absoluto. Como definido pelo autor, cincia em grande parte filha da necessidade e do trabalho. Como observou Agostinho, Aquilo que no temos desejo no pode ser objeto de nossa esperana nem de nosso desespero. Desta forma, cincia resultado da necessidade do homem, que se mostra disposto a suprimi-la. A cincia originada dentro de uma mentalidade bblica. No meio dos puritanos, o estudo cientfico, era fortemente estimulado. Falando ainda desta proximidade, deve ser notado que a Cincia moderna no estava em princpio dissociada da f. Alguns cientistas como Coprnico, Galileu, Newton e Leibniz no encontraram nenhuma contradio entre f em Deus e suas pesquisas cientficas. A cincia pretendia sim a autonomia, mas isso no era sinnimo de abandono da f. Contudo, a descoberta atribuda a Coprnico causou no apenas uma revoluo cientfica, mas tambm uma mudana de perspectiva do homem no universo. Deve ser ainda lembrado que suas teorias no causaram apenas incmodos religio, mas tambm entre os astrnomos. Calvino defendia que o mundo foi criado por Deus e que fomos colocados nele para glorificar a Deus. Calvino era um humanista e era profundamente interessado pelo ser humano.Todo nosso conhecimento originado em Deus. Quando a f e a cincia so contraditrias por que uma delas est compreendendo a questo de forma errada. Calvino entendia que a cincia dirigida pela f nos aproximaria de Deus.Este captulo torna claro que no h como perpetuar aquela disputa que fazemos de F versus cincia. Todo conhecimento provm de Deus e por isso podemos fazer uso de todo meio disponvel de conhecimento para desta forma glorificar a Deus e compreender ainda mais nosso mundo. Este captulo ainda nos coloca diante da questo de que a cincia est sempre mudando, pois no consegue apreender toda a realidade. Isto preciso ser dito, pois muitos tm abandonado o ensino bblico para acatar to somente os ensinos cientficos.