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8/11/2019 Joo Batista - Profeta do amor esponsal.pdf

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JOO BATISTAPROFETA DO AMOR ESPONSAL

DANIEL RAMOS DE CASTRO


PREFCIO DE EMMIR NOGUEIRA


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DANIEL RAMOS DE CASTRO



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COORDENAO GERAL

Filipe CabralCOORDENAO EDITORIALCarolina Fernandes

ASSISTENTE DE EDIOAmanda Cividini

CAPA E DIAGRAMAOKelly Cristina

REVISOEunice dos Santos Sousa Silvestre

Olga Mohana

EDIES SHALOM

Estrada de Aquiraz Lagoa do Junco

CEP: 61.700-000 Aquiraz/CE

Tel.: (85) 3308.7415

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ISBN: 978-85-7784-077-9 Edies Shalom, Aquiraz, Brasil, 2013 (1 edio)


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SUMRIO

1Deus suscita Joo ................................................................15

2A Esposa do Esprito e Joo Batista .................................29

3E Joo esteve no deserto at o dia da sua manifestao .....37

4Profeta da alegria espiritual ..............................................49

5A Misso ................................................................................ 57

6O Batismo de Jesus e a contemplao da Trindade ......77

7Profeta do Amor Esponsal .................................................87

8A Noite da F e a alegria do martrio .............................113


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PREFCIO

Como eu gostaria de conseguir tempo para escrever so-bre Joo Batista!, suspirei, na eterna ttica de considerar ruo tempo inocente.

No me diga, eu tambm gostaria muito de escrever!, ex-clamou o Daniel, entusiasmado.

S falta voc achar, como eu, que existe muita coisa seme-lhante entre nossa vocao e a dele, respondi, comeando afazer planos.

Nossa! Ento voc tambm acha!?!

A partir desse momento, no final de 2011, a inspirao do

livro comeou a ser o assunto mais frequente em nossas con-versas. Ele escrevia e ns dois discutamos o que havia escrito,e-mail para l e para c, mas nada do livro ficar no ponto. Otempo passava, impvido. Indiferente nossa ansiedade de vero livro pronto.

que nosso Senhor havia decidido dar ao Daniel durasprovas, uma verdadeira morada no deserto. Habitar no de-serto do Corao do Senhor entender que dor e alegria so,


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nesse Santssimo Refgio, sinnimos perfeitos. Logo compre-enderamos o que se passava: quem nunca habitou no deser-

to no capaz de entender o Precursor. Fazia parte dos pla-nos de Deus preparar o autor pela vivncia da dor de amor, dasolido com o Amado e do feliz, fecundo e paciente silncio.

Daniel, preparado por Deus, teve como unir-se a Joo nomistrio da alegria da dor. Passou a conhecer o deserto e viver la belle toile1 no deserto da Palestina. Estava preparadopara escrever sobre o Precursor. Habitava, agora, no deserto.

No livro voc no encontrar pintura definida, bem de-lineada do Batista. Daniel no pintou um quadro racional,muito menos acionou uma cmera digital modernssima.Voc encontrar pinceladas curtas, carregadas de tinta sem-

pre fresca, como em Van Gogh. Entre as pinceladas e atravsdelas, cabe ao Esprito Santo ajudar voc a completar pesso-almente a obra, definir ao seu modo os detalhes do rosto, dosolhos, das lgrimas e risos do ltimo dos profetas e o maiordentre os filhos dos homens.

Joo acreditou! Sem ver, esperou. Sem vacilar, entregou a

vida. Sem resistir, abraou a misso de ser a voz. No deserto,clamava que a Palavra Viva, o Verbo, estava s portas. Seu dedoo indicou, seus olhos cruzaram com os dele e ele entendeu. Eraagora preciso diminuir, fazer-se nada para dar lugar ao Esposo.

Ns, Igreja de Cristo hoje, tampouco o vimos. Cremos e

esperamos sem ver. Amamos o Senhor e no nos negamos 1 Expresso francesa muito usada em Toulon, regio da Frana em que Daniel missionrio. Significa a cu aberto.


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Sua cruz nesses dias em que Ele est porta. Nossos olhos seencontram com os do Senhor a cada adorao, a cada Euca-

ristia. Entendemos. Como Joo, apontamos o Esposo. Agora preciso diminuir, esvaziar-se, dar-se em amor. Fazer-se pe-queno, nfimo, para dar todo espao ao Esposo.

Maria Emmir O. Nogueira

Cofundadora da Comunidade Catlica Shalom


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INTRODUO

Joo Batista era profeta. O profeta o homem

escolhido por Deus para contemplar de ma-

neira profunda e privilegiada o Mistrio que

lhe confiado. Com a autoridade de quem se

uniu ao Mistrio, ele conduz os eleitos para que, estes

tambm, possam ser introduzidos nos desgnios mis-

teriosos do Altssimo.

O Mistrio que Joo vem revelar o das Bodas do Cor-deiro de Deus com a esposa amada e eleita, o povo da Alianae todo aquele que o Senhor chamar. Joo vem conduzir pela

mo a esposa ao Esposo, e a voz deste o enche de alegria. Ami-go do Esposo, ele se torna profeta do Amor Esponsal e, porisso, grande mestre de vida espiritual, pois o objetivo da vidano Esprito que cada alma chegue unio mstica com seudivino Esposo. Contemplar a vida de Joo Batista escolh-locomo um mestre, que, tambm a ns, conduzir altssima

santidade. Nossa vocao a santidade!

Todo profeta, ao ter cumprido sua misso, desaparece nooceano do amor divino, dando total espao ao Esposo. Tam-


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14 JOO BATISTA, PROFETA DO AMOR ESPONSAL

bm neste livro isso acontece: partiremos da vida de Joo Ba-

tista e, pouco a pouco, mergulharemos em aspectos importan-tes da vida espiritual, a fim de que Jesus seja tudo em ns. Onosso trabalho ser o de ler em orao, o do Esprito, o de nosdesposar a Jesus: A esposa se une ao Esposo, se une porque vive aSua vida, se une porque participa de Sua misso. Unida respondeatravs do dom desinteressado de si mesma ao dom inevel do

Amor do Amado. chamada ao dom da vida ao seu Esposo!2. Eisso para que nossa alegria seja perfeita.

A misso de Joo era revelar Jesus para seu povo. Nossamisso, como Vocao Shalom, ser a voz do Cristo que res-suscitado est. Por isso, tanto Joo Batista, como cada missio-nrio Shalom, so profetas para o terceiro milnio!

2 JOO PAULO II. Beato.Mulieris Dignitatem,n. 27.


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1DEUS SUSCITA JOO

Opovo de Israel ansiava pela manifestao

da promessa de Deus, que cada vez mais

era expressa por um desejo messinico:

o Ungido, Filho de Davi, h de vir, e Ele

vai restaurar a sorte do seu povo, como canta o salmo3.

Muitos esperavam e rezavam, principalmente o restode Israel, aqueles pobres que rezavam e suplicavam

a Deus que no abandonasse Seu povo. Esse resto

tema de muitas profecias da ao messinica de Deus

no Antigo Testamento, como est no livro de Isaas:

3 Cf. Sl 126


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O Senhor enviar gente para longe e haver grande desolao

no meio da terra. E se subsistir ainda um dcimo, tambm ele serentregue ao ogo, como o carvalho e o terebinto abatidos, dos quaissobra somente a cepa e essa cepa santa.4

O resto a parte do povo que se deixou converter, puri-ficar, que no caiu na idolatria diante das dificuldades e deso-laes, mas que sabia que Santo e Justo era o Senhor em tudo

o que Ele faz e que, por isso mesmo, era melhor cair nas Suasmos do que nas dos homens. A postura interior era : Peca-mos, te ofendemos, mas sabemos que Tu s o Deus de nos-sos pais. O povo hebreu o povo da memria, da lembranabblica, o povo que fazia memria dos feitos de Deus, quetrazia no corao a fidelidade do Altssimo. Deus no pode

deixar de ser fiel, So Paulo mais tarde gritar cheio de parre-sia: Se somos infiis, Deus permanece fiel porque no pode negara Si mesmo.5Ainda jovem Davi fez memria: O mesmo Deusque me livrou da boca do urso e do leo me livrar das mos desse

gigante. E ao trazer no corao os feitos de Deus em sua vidapessoal, encheu-se de f no poder atual de Deus, este que

sempre hoje. Assim Davi derrotou o gigante Golias, assim opovo, mesmo com inmeras fraquezas, pecados e infidelida-des, nunca chegou a ser destrudo, pois fazia continuamentememria da fidelidade de Deus, que hoje quer se manifestar.

Todos esses personagens so os chamados justos do An-tigo Testamento. Bento XVI nos diz que os justos so pessoas

que vivem verdadeiramente do interior as prescries da Lei so

4 Is 6,12-13

5 Tm 2,13


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pessoas que, pelo ato de serem justas segundo a vontade revelada

de Deus, avanam em seus caminhos criando um espao para onovo agir do Senhor.6

Assim, Zacarias (Zekariyah: o Senhor se lembrou)entra noTemplo para ofertar o sacrifcio que lhe cabia naquele ano. OTemplo era o lugar da presena de Deus, por isso era bom eagradvel estar l. Permanecer nos trios do Senhor era o an-

seio de todo israelita justo. Uma coisa pedi ao Senhor, a nicaque desejo: habitar na casa do Senhor todos os dias de minha vida,

para contemplar a beleza do Seu rosto e zelar pelo Seu Templo7.Zacarias, que ansiava pela manifestao do Messias, tinha nasua vida outro anseio at ento frustrado: uma posteridade. Eleentra para oferecer, no Santo dos Santos, o sacrifcio ao Deus

Vivo. Zacarias amava a Deus e, por isso, a sua desgraa pessoal(a esterilidade em uma famlia era sinal da ausncia da bnode Deus) no o impedia de louvar, de ofertar a Deus o sacrifciodevido. Na nossa Vocao, sabemos que o Senhor merece todoo amor do mundo e que, por isso mesmo, nada neste mundodeve nos impedir de louv-lo, custe o que custar. Dizia nos-

so fundador, em um momento de insuportvel dor, ao perderum filho espiritual carssimo, o Ronaldo: Senhor, no permi-tas que o louvor saia dos meus lbios. fortssimo, tambm,o testemunho escrito deixado por um judeu que, ao escutar ospassos dos soldados alemes que subiam as escadas na direode seu apartamento, disse a Deus: Adonai, mesmo que tu memates, continuarei a te amar!

6 BENTO XV I, Papa.A Inncia de Jesus.Ed. Principia, 2012, p. 36.

7 Sl 26,4


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Quando Zacarias entra no Hkal, o Santo, um anjo do

Senhor lhe aparece direita do altar do incenso.8

Zacarias noesperava mais que Deus lhe desse um filho e tinha se acos-tumado a servir o Senhor com a vergonha de no ter umadescendncia. , Zacarias, como muitos de ns, tu tinhas seresignado tua fraqueza e no esperavas mais que nela Deusintervisse! Mas Aquele que teu filho vai anunciar o cumpri-mento vivo das promessas do Altssimo. Nele, tudo se cumpre.Nele, o velho cede lugar ao novo e, antecipadamente, graas aEle, Deus quer te dar um filho. Aprouve a Deus azer habitar

Nele toda a plenitude de graas.9 Sim, Deus quer intervir nanossa histria! O anncio do anjo a Zacarias lembra-nos ou-tro anncio, muito presente na vida de todo Shalom: Eis querealizo uma Obra Nova, a qual j surge, no a vedes?10E muitas

vezes respondemos como Zacarias: Como posso saber que issome acontecer? Eu j sou velho e minha mulher tambm11(Isa-bel,Elishva: a casta).

Como posso saber que isso me acontecer?. No mundosecularizado em que vivemos, muitos homens que provm de

uma tradio crist no esperam mais em Deus. verdade queZacarias era um homem que vivia da religio, diferente do mun-do ocidentalizado no qual vivemos, mas esse mundo cr que co-nhece a religio e que pode viver sem ela. H uma ligeira seme-lhana entre o nosso personagem e o mundo contemporneo:em Zacarias, no havia mais esperana que Deus pudesse in-

8 Lc 1,119 Cl 1,19

10 Is 43

11 Lc 1,18


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tervir na sua desgraa pessoal. No mundo de hoje, no h mais

esperana em Deus, este se tornou uma realidade a ser vividade maneira puramente privada, fora da esfera pblica. Pensa-seconhecer o cristianismo, por exemplo, e no pouqussimo que seconhece, deseja-se viver sem ele. O Papa Joo Paulo II ilustramuito bem essa realidade no documento sobre a Igreja na Eu-ropa: Por toda a parte h necessidade de um renovado anncio,mesmo para quem j est batizado. Muitos europeus contempor-neos pensam que sabem o que o cristianismo, mas realmente noo conhecem. Frequentemente, ignoram os prprios rudimentos da

. Muitos batizados vivem como se Cristo no existisse: repetem-segestos e sinais da sobretudo por ocasio das prticas de culto, massem a correlativa e eetiva aceitao do contedo da e adeso

Pessoa de Jesus. Em muita gente, as grandes certezas da oram

substitudas por um sentimento religioso vago e pouco empenhativo;diundem-se vrias ormas de agnosticismo e de atesmo prtico queconcorrem para agravar a divergncia entre a e a vida; muitos hque se deixaram contagiar pelo esprito de um humanismo imanen-tista que enfaqueceu a sua , levando-os com fequncia, ineliz-mente, a abandon-la completamente; assiste-se a uma espcie de

interpretao secularista da crist, que a corri, suscitando umaprounda crise da conscincia e da prtica moral crist. Os grandesvalores, que inspiraram amplamente a cultura europeia, oram se-

parados do Evangelho, perdendo assim a sua alma mais prounda edando lugar a vrios desvios.12

A dificuldade de Zacarias de acreditar na promessa do anjocontrasta com a f de Nossa Senhora no episdio da Anun-

12 JOO PAULO II. Exortao ApostlicaEcclesia in Europa,n. 47(2003)


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ciao. Zacarias sacerdote do Templo. Maria, uma jovem de

uma aldeia desconhecida das Sagradas Escrituras. Zacarias re-cebe a mensagem no Templo, durante a liturgia, e Maria na suacasinha simples. Esconde-te na humildade e tu vers a glria de

Deus, dizia Santo Isaac, o Srio. Parece que a simplicidade ea pobreza nas quais vivem Maria a preparam para Deus, poisDeus simples. So Francisco de Assis j dizia que a pobrezanos abre s outras realidades, pois sentimos na nossa carne ofato de no nos bastarmos. Mas o papa emrito Bento XVI vaimais longe. Esse contraste entre as duas anunciaes revelamque o sinal da Nova Aliana a humildade, o ato de ser escondi-do: o sinal do gro de mostarda. O Filho de Deus vem na humilda-de. As duas coisas vo juntas: a prounda continuidade na histriada ao de Deus e a novidade do gro de mostarda escondido.13

Diante da dificuldade de Zacarias em crer, o anjo lhe or-dena o silncio, como que indicando o caminho de cura paraa sua incredulidade. Silncio, Zacarias, deixa a fora da Pala-vra expulsar todo o medo e a incredulidade do seu corao!Silncio, para que a Palavra ressoe e o cure da esterilidade da

alma, que a falta de esperana! Silncio, para que a Verdadetriunfe em voc ! Zacarias se cala e permanecer mudo at que,ao nascer, Joo lhe abra a boca. O que significa esse silncio deZacarias, seno o vu que se estendia sobre as proecias e que asselava e escondia antes do Evangelho de Cristo? Zacarias abre aboca graas ao nascimento de Joo: esse acontecimento possui omesmo sentido que o vu do Templo que se rasgou, no momentoda morte de Cristo na cruz. De ato, a lngua de Zacarias se solta

13 BENTO XVI, Papa.A Inncia de Jesus. Ed. Principia, 2012, p.39


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porque o nascimento de seu filho o nascimento da voz. Joo no

dir mais tarde ser a voz que grita no deserto?.14

E qual promessa veio anunciar o anjo? O nome Joo, Yo-hann, d a significao dos tempos que so inaugurados:Deus faz Graa. Deus intervm, Deus enfim comea a rasgaros cus, como suspirava Isaas, e prepara um caminho para queEle mesmo desa. Lembra-nos So Clemente de Alexandria:

A vinda do Senhor entre os homens e sua inteno de nos en-sinar possui mltiplos anunciadores, mensageiros, precursores,enviados do Alto, desde o incio do mundo: eles pregaram por atose palavras; eles proetizaram que Ele haveria de vir. Foi como quede longe que a Lei e os proetas lhe prepararam a vinda; em segui-da oi o precursor que o mostrou presente, e a partir dele os arau-tos o revelam mostrando o poder da Sua epiania.15

Sim, Joo seria mais do que um profeta, porque em vez deanunciar de longe uma promessa ainda distante da sua reali-zao, Joo Batista aponta a presena mesma dessa promessa:Eis o Cordeiro de Deus!No precisa mais esperar, no h mais

necessidade de chorar, o Cordeiro de Deus, o prometido das Es-crituras, Aquele que intervm no hoje das nossas vidas, ei-lo!Joo Batista inaugura a teologia do hoje, to cara nossa Voca-o. Hoje o dia favorvel, agora o momento da salvao.

Na Vocao Shalom, somos chamados a mostrar o rostodo Ressuscitado, a levar os Toms de hoje, os homens que

14 Santo Agostinho (Sermo 293,1-2. PL 38,1327 SS)

15 Clemente de Alexandria, In.: Daniel-Ange emJean Baptiste,pour le nouveaumillnaire le prophte de la lumire.Editions des Batitudes, 2000, p. 43


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precisam ver para crer, a terem uma experincia com Jesus

Vivo e Ressuscitado que passou pela cruz. Como Joo, deve-mos apontar no deserto deste mundo, deserto que na Bblia ,ao mesmo tempo, lugar de morte e de experincia com Deus,que o Cordeiro de Deus, o Esposo, est no meio de ns! So-mos este povo de profetas que no anuncia algo distante, masvisvel, que podemos tocar por uma experincia de Efuso doEsprito Santo. Como Joo, amigo do Esposo, nossa alegria ade levar a esposa ao Esposo, e essa a alegria completa, nossaalegria no est mais naquilo que o mundo pode oferecer. Te-remos a ocasio de desenvolver esse tema mais frente.

Voltemos ao anncio do anjo. Neste anncio esto conti-das muitas revelaes acerca da misso de Joo Batista: Mui-

tos homens se alegraro pelo seu nascimento, pois ele ser grandediante do Senhor. Ele no beber nem vinho nem bebida ermen-tada, e ser cheio do Esprito Santo desde antes de seu nascimen-to. Ele ar com que muitos filhos de Israel voltem ao Senhor seu

Deus, e ir fente do Senhor, com o esprito e o poder de Elias,o proeta, para azer retornar o corao dos pais para seus filhos,

converter os rebeldes para a sabedoria dos homens retos, e prepa-rar para o Senhor um povo capaz de acolh-lo.16

Ele ser grande diante do Senhor, e Jesus confirmar maistarde, dizendo que Joo foi o maior dos filhos nascidos de mu-lher, mas o menor no Reino de Deus maior do que ele. Deque grandeza e de que pequenez se fala nessas passagens? A

exegese tradicional v aqui a superioridade da Nova Alianasobre a antiga: mesmo o mais fraco dos homens, que nascer

16 Lc 1,14b-17.


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sob o regime da Graa, maior do que o mais santo da antiga,

porque na Nova Aliana Deus quem justifica o homem, ohomem no a fonte de sua prpria justia. No entanto, umaleitura espiritual proposta pelo padre Daniel-Ange, a partir dealguns monges do Oriente, enxerga o menor da Nova Alian-a na Pessoa de Jesus, que se fez o menor e o servo de todos.Esse menor, Jesus, maior do que Joo! E, assim, se inauguraem Jesus a mudana radical de parmetros: quem quiser sero maior, faa-se o menor. Na nossa Vocao, somos os meno-res porque somos os mais fracos, pecadores e miserveis, mascom Joo (convm que eu diminua e que Ele cresa) e Jesus,aprendemos qual a verdadeira grandeza: a da minoridade.Joo nos ensina a minoridade que tambm deixar que Je-sus cresa e tome todos os espaos, todas as reas do nosso

ser, toda a nossa vida. Somos pequenos e devemos permane-cer assim, primeiro porque somos radicalmente pobres, mastambm porque queremos permanecer no nosso lugar: o dasalmas esposas17, permitindo que Jesus seja tudo. Nossa Voca-o a Vocao do tudo para Deus. Vemos essa realidade demaneira palpvel na vida de muitas almas esposas de Jesus. O

diretor espiritual de Madre Teresa de Calcut, o padre jesutaCeleste Vam Exem, disse um dia sobre ela: O sentido de toda asua vida era uma pessoa: Jesus.Um dia, um jornalista pergun-tou a Madre Teresa: Madre, que espao a senhora d a Jesus nasua vida?.Ela respondeu imediatamente: Eu dou a Ele todo oespao. Jesus, eu o amo de todo o meu corao, com todo o meu ser.

Eu dou tudo a Ele, at mesmo meus pecados, e Ele me desposou

17 AZEVEDO FILHO, Moyss Louro de. Escritos: Amor Esponsal. EdiesShalom, 2012.


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na ternura e no amor. Agora e para sempre eu sou a esposa de Je-

sus Crucificado.Eis uma alma apaixonada por Jesus, que faziatudo por amor a Ele, porque era toda dele! Eis a grandeza deMadre Teresa, de Joo Batista, de Santa Teresinha, de SantaTeresa Dvila... que Jesus seja tudo!

Continuemos com Joo. Falaremos nos prximos cap-tulos sobre a Pessoa do Esprito Santo na vida de Joo, bem

como o esprito de penitncia, o apelo converso, a alegriaespiritual. Aqui gostaria de falar um pouco sobre o que o anjoquer dizer com o esprito e o poder de Elias. Gostaria de pas-sar a palavra ao Cardeal Jean Danilou, que escreveu uma obramemorvel sobre So Joo Batista. A ele recorreremos outrasvezes tambm. Falando desse versculo do anncio do anjo, o

cardeal escreve: Elias era para a tradio judaica como o proe-ta por excelncia, aquele que havia pregado a converso a Israelinfiel para prepar-lo ao julgamento de Deus, sempre iminente.

Mas era ele mesmo a prefigurao do ltimo dos proetas, aquelecuja vinda precederia imediatamente o julgamento. Assim, Joo

Batista suscitado por Deus como o novo e o ltimo Elias, aquele

no qual se conclui e se esgota a longa linhagem do proetismo. Eleera apenas a preparao da Visita de Deus. Deus vai agora visitarseu povo. Ele caminhar diante da ace do Senhor, isto , precede-r a maniestao de Deus para preparar os caminhos dessa ma-niestao pela remisso dos pecados. Assim, a vocao de Joo sedefine em primeiro lugar em relao com o desgnio de Deus.18Avocao de Joo Batista uma resposta para o tempo no qualIsrael iria penetrar: a plenitude dos tempos. O tempo em que

18 DANIELOU, Jean.Jean-Baptiste, tmoin de l Agneau.Ed. Francesa: Desclede Brouwer, 1967, p. 11


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a salvao estaria completamente disponvel para todo aquele

que invocasse o nome do Senhor.19

Joo vem dessa interveno de Deus que inaugura um tem-po novo. E j que ele provm de Deus de uma maneira particular,ele pertence totalmente a Deus e, por isso, est totalmente dispo-sio dos homens para conduzi-los a Deus20.Joo um consagra-do a Deus, pertence totalmente ao Altssimo, e sua realizao

no est no que o mundo pode oferecer, mas no que Deus tempara oferecer ao homem: a contemplao do Seu rosto, a salva-o, o Cu. Deus pode fazer dele o que quiser, e sua alegria saber-se pertencente a Deus. Ser de Deus! No mais se perten-cer! Esta a alegria perfeita que Joo testemunhar em vriosmomentos do seu ministrio proftico.

Ensina-nos o papa emrito Bento XVI: A histria de Joo enraizada de maneira particularmente prounda no Antigo Tes-tamento. Zacarias sacerdote da classe de Abia. Isabel, sua espo-sa, tambm de origem sacerdotal: uma descendente de Aaro(c. Lc 1,5). Segundo o direito veterotestamentrio, o ministriodos sacerdotes est ligado pertena tribo dos filhos de Aaro e

de Levi. Portanto, Joo Batista sacerdote. Nele, o sacerdcio daAntiga Aliana se dirige para Jesus; Joo se torna uma seta paraJesus, um anncio de Sua misso.21

A plenitude dos tempos despontava, e com ela a plenitu-de dos bens messinicos, o Shalom do Pai, Jesus. Cristo a

19 Jl 3,5

20 BENTO XVI, Papa.A Inncia de Jesus.Ed. Principia, 2012, p.40

21 BENTO XVI, Papa.A Inncia de Jesus.Ed. Principia, 2012, p.35


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nossa Paz22, como nos lembrar So Paulo, e se Joo Batista

vem preparar esses tempos e, ao mesmo tempo, introduzir opovo nesse novo, ao apontar Jesus como Aquele que deveriavir, tambm Joo, como Jesus o far perfeitamente na Sua vidae na Sua carne, veio anunciar a paz vs que estveis longes,e a paz queles que estavam perto.23Anunciando Jesus, Jooanuncia a paz, estando assim bastante prximo da nossa Voca-o. Resposta providencial de Deus para o seu tempo, Joo nosajuda e inspira; ns que somos eleitos por Deus como Vocaopara sermos uma resposta do Esprito ao tempo que se chamahoje, aos tempos de Nova Evangelizao. Assim como Joo,nossa Vocao se define tambm em relao ao desgnio deDeus para os tempos de primavera da Igreja, anunciados porJoo Paulo II e Bento XVI. Por sinal, o padre Marie-Domini-

que Philippe disse em uma de suas intervenes sobre JooBatista: Joo Batista uma onte. Ele a primavera de Deus nodeserto, a primavera que anuncia o fim da grande espera24. Essabela expresso no nos lembra Joo Paulo II, no Pentecostesde 1998, na Praa de So Pedro, falando dos movimentos e co-munidades novas como uma nova primavera para a Igreja? A

vocao de Joo Batista uma resposta providencial de Deusque inaugura um tempo, a plenitude dos tempos. Nossa Voca-o, e tantos novos carismas que despontam hoje no jardim daIgreja, tambm so resposta de Deus.

22 Ef 2,14

23 Ef 2,17

24 Marie-Dominique Philippe, In.: Daniel Ange. Jean Baptiste, pour le nouveaumillnaire, le prophte de la lumire.Editions des Batitudes, 2000, p. 290


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Termino esse captulo com um belo hino da Liturgia Sira-

ca, composto para a solenidade do nascimento de Joo Batista:Toda a humanidade se encontrava antigamente mergulhada

na cegueira do erro, mas tu apareceste, mensageiro, para gri-tar: bendito sejas Tu, Senhor Todo Poderoso, Deus de nossos pais!

No nascimento do arauto da verdade, a Igreja Santa se rejubila ecanta a glria e o louvor do Senhor juntamente com todos os Seus

filhos no universo inteiro!25

25 Id 291

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