jesus cristo e seu discurso acerca da incredulidade...

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Universidade Federal de Campina Grande Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1 ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765 JESUS CRISTO E SEU DISCURSO ACERCA DA INCREDULIDADE JUDAICA: UMA REPRESENTAÇÃO DIALÓGICO-DISCURSIVA A PARTIR DO RELATO DO EVANGELISTA JOÃO Wilder Kleber Fernandes de Santana 1 UFPB/Proling/Gplei Introdução Uma das premissas de base do pensamento bakhtiniano é o de que a linguagem é uma atividade que tem sua situação histórica e social concreta no momento da atualização dos enunciados, sendo essencialmente heterogênea. Além disso, essa concepção de linguagem é centrada nos interlocutores, apresentando, dessa forma, seu caráter ativo no ato verbal em que o discurso é produzido. Trazendo a afirmação de que “a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados” (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV 2012, p. 116), concordamos com o fato de que todo e qualquer texto, seja ele verbal ou não-verbal, tem uma natureza social interativa, pois quem o produz tem uma intenção comunicativa. Como afirma Bakhtin (2011, p. 282), “A vontade discursiva do falante realiza-se antes de tudo na escolha de um certo gênero de discurso.” (grifos do autor). Assim, é se inserindo e se aprofundando em um projeto de investigação a respeito dos discursos humanos e da interação entre esses seres no processo de comunicação que surge(m) o(s) conceito(s) de dialogismo, para Bakhtin. De acordo com este teórico, 1 Wilder Kleber F. Santana é Licenciado em Letras-Português (UFPB) e Bacharel em Teologia (Faculdade Nacional Teológica). Atualmente faz mestrado em Linguística e em Teologia. Participa do Gplei, grupo de Estudos da Interação que tem como base os estudos de Bakhtin.

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JESUS CRISTO E SEU DISCURSO ACERCA DA INCREDULIDADE JUDAICA: UMA REPRESENTAÇÃO DIALÓGICO-DISCURSIVA A

PARTIR DO RELATO DO EVANGELISTA JOÃO

Wilder Kleber Fernandes de Santana1 UFPB/Proling/Gplei

Introdução

Uma das premissas de base do pensamento bakhtiniano é o de que a

linguagem é uma atividade que tem sua situação histórica e social concreta no

momento da atualização dos enunciados, sendo essencialmente heterogênea. Além

disso, essa concepção de linguagem é centrada nos interlocutores, apresentando,

dessa forma, seu caráter ativo no ato verbal em que o discurso é produzido.

Trazendo a afirmação de que “a enunciação é o produto da interação de dois

indivíduos socialmente organizados” (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV 2012, p. 116),

concordamos com o fato de que todo e qualquer texto, seja ele verbal ou não-verbal,

tem uma natureza social interativa, pois quem o produz tem uma intenção

comunicativa. Como afirma Bakhtin (2011, p. 282), “A vontade discursiva do falante

realiza-se antes de tudo na escolha de um certo gênero de discurso.” (grifos do autor).

Assim, é se inserindo e se aprofundando em um projeto de investigação a

respeito dos discursos humanos e da interação entre esses seres no processo de

comunicação que surge(m) o(s) conceito(s) de dialogismo, para Bakhtin. De acordo

com este teórico,

1 Wilder Kleber F. Santana é Licenciado em Letras-Português (UFPB) e Bacharel em Teologia (Faculdade

Nacional Teológica). Atualmente faz mestrado em Linguística e em Teologia. Participa do Gplei, grupo de Estudos da Interação que tem como base os estudos de Bakhtin.

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A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo

o discurso. Trata-se da orientação natural a qualquer discurso vivo.

Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o

discurso se encontra com o discurso de outrem e não pode deixar de

participar, com ele, de uma interação viva e intensa. (BAKHTIN, 1988,

p. 88)

Analisando o texto acima, percebemos que a língua, em seu vivenciamento, e

em sua totalidade concreta, tem propriedade de ser dialógica. Dessa forma, quando

reportamos nossa centralidade para o(s) sujeito(s) dialógico(s), percebemos que seus

discursos só existem na forma de enunciações concretas, por serem constitutivamente

os sujeitos do discurso. Para Santana,

Os enunciados concretos, como unidade real da comunicação,

ocorrem a partir da alternância dos sujeitos dos discursos, isto

porque o sujeito termina seu enunciado para passar a palavra ao

outro, tornando-se um ser responsável e participativo pelo que

enuncia, um agente produtor de sentidos dos discursos produzidos

socialmente em situações concretas. (SANTANA, 2014, p. 2)

Dentro de uma perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem, esta análise

pretende investigar a representação do sujeito a partir do uso que faz do discurso de

outrem, analisado sob a forma de diferentes esquemas sintático-semânticos de sua

recepção/transmissão, e dos usos de enunciados em uma situação enunciativa

específica, como a do gênero discursivo exposição oral. Procuramos observar as

possibilidades de sentido presentes em seu discurso, na busca de averiguar como

ocorre a apreensão das vozes sociais pelo sujeito e observando os efeitos discursivos a

partir dos enunciados que se atualizam. Sob o viés do dialogismo, buscamos, assim,

discorrer sobre o discurso religioso.

Desse modo, buscamos compreender como se dá o processo de construção do

discurso do sujeito no desenvolvimento do evento enunciativo expositivo, procurando

traçar o percurso dialógico da produção de sentidos, que se traduz em uma sequência

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de sobreposição de vozes. Estas últimas, articuladas sob as mais variadas formas,

constituem o autor e seu discurso.

A pesquisa é de caráter bibliográfico e documental e o corpus constitui-se de 4

(quatro) versículos bíblicos relatados por João, em seu evangelho, acerca de palavras

de Jesus Cristo. A exposição oral geralmente se realiza numa situação de comunicação

específica em que o expositor une-se, pela interação verbal, ao(s) seu(s)

destinatário(s). Dessa forma, a exposição oral é caracterizada por conter diferentes

formas de presença do outro, ou seja, presença de diversas vozes sociais, estas

resultantes de relações interdiscursivas. Trata-se, portanto, de uma pesquisa de cunho

qualitativo-interpretativo.

A análise deste trabalho tem como base a Teoria da Enunciação de Bakhtin e o

Círculo (2011, 2012) e os postulados da Análise Dialógica do Discurso, representada

por trabalhos de alguns estudiosos em terreno brasileiro como Faraco (2003), Brait

(2005), Fiorin (2006) e Sobral (2009). A princípio, abordaremos acerca do conceito de

dialogismo bakhtiniano caracterizado como princípio constitutivo da linguagem. Em

seguida, discorreremos sobre o discurso do sujeito Jesus Cristo para, posteriormente,

analisar a sua representação no gênero em questão.

1. O dialogismo: princípio constitutivo da linguagem

A natureza dialógica da linguagem, como definição teórica, desempenha papel

de imenso valor nas obras de Bakhtin e do Círculo. Para Brait (2005, p. 87), “A busca da

compreensão das formas de produção do sentido, da significação e as diferentes

maneiras de surpreender o funcionamento discursivo impeliram Bakhtin na direção de

uma ética e de uma estética da linguagem”. No olhar desta autora, essas questões

surgem nas reflexões de Bakhtin, a partir de conceitos que comportam o que

definimos, atualmente, de dialogismo, interdiscurso, heterogeneidade e polifonia

(dentre outros), ainda que essas nem sempre correspondam a palavras estabelecidas

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pelo autor. Esses conceitos compõem, de certa forma, as sínteses das ideias que estão

presentes nos trabalhos do filósofo russo.

O dialogismo, no olhar dos integrantes do Círculo, é considerado o princípio

constitutivo da linguagem, em sua dimensão concreta, real, viva. Nesta perspectiva,

segundo Sobral (2009, p. 32),

essa concepção é chamada de dialógica porque propõe que a

linguagem (e os discursos) têm seus sentidos produzidos pela

presença constitutiva da intersubjetividade (a interação entre

subjetividade) no intercâmbio verbal, ou seja, as situações concretas

do exercício da linguagem. (SOBRAL, 2009, p. 32)

Assim, Bakhtin/Volochinov (2012), ao abordarem a língua em sua natureza

real/viva, consideram que esta não é um sistema abstrato de formas linguísticas

(fonéticas, gramaticais e lexicais), mas a entendem a partir desses elementos

linguísticos num contexto concreto preciso, numa enunciação particular.

Neste viés interpretativo, diferentemente de Saussure (e dos que se vinculam à

perspectiva do objetivismo abstrato), que desconsidera a fala e apenas vê a língua

como um sistema fechado de formas normativas imutáveis, Bakhtin/Volochinov (2012)

prestam valor ao aspecto social da fala, estando esta última intimamente ligada à

enunciação, abordando a intersubjetividade e, consequentemente, a interação verbal.

Para os teóricos russos,

Qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerado,

ele será determinado pelas condições reais da enunciação em

questão, isto é, antes de tudo pela situação social mais imediata.

Com efeito, a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos

socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor

real, este pode ser substituído por um representante médio do grupo

social ao qual pertence o locutor. A palavra dirige-se a um

interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo

social ou não... (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2012, p. 116) (Grifos do

autor).

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Em outras palavras, são as situações concretas e reais na esfera comunicativa

de interação que determinarão o aspecto e o sentido de toda a palavra lançada,

direcionada, dirigida.

É nosso interesse específico compreender o processo de representação do

sujeito discursivo, fundado o fato de que existam divergentes maneiras de se

representar o discurso de outrem no plano enunciativo. Dessa forma, iremos adentrar

no entendimento de como se constitui e de como se re(a)presenta o sujeito discursivo

Jesus Cristo em seu discurso acerca da incredulidade judaica.

Nesse direcionamento, Sobral (2009, p. 54) afirma que, segundo o Círculo, “(...)

o sujeito é essencialmente um agente responsável pelo que faz, agente que, em suas

relações sociais e históricas com outros sujeitos igualmente responsáveis (inclusive

apesar de si mesmos), constitui a própria sociedade sem a qual ele mesmo não existe”.

“O sujeito, dessa forma, constitui um agente mediador entre os sentidos socialmente

possíveis e os discursos produzidos em situações concretas”. (SANTANA, 2015, p. 592).

Centrados na afirmativa de que um texto sempre dialoga com outro texto,

compreendemos a linguagem como o meio de interação comunicativa pela qual se

estabelece a produção de efeitos de sentidos entre interlocutores, em uma dada

situação comunicativa e em um contexto sócio-histórico e ideológico. Assim, podemos

conceituar os gêneros discursivos como fenômenos históricos, profundamente unidos

à vida cultural e social, que cooperam para que as atividades comunicativas sejam

concretizadas. (Grifos nossos).

Nessa perspectiva, elencamos a exposição oral como gênero discursivo a ser

estudado e analisado. Vejamos o que consta no trabalho de Teixeira, Blasque e Santos

sobre este gênero:

A exposição oral deve ser tratada como objeto de ensino de

expressão oral... Em alguns casos a exposição vem de uma longa

tradição e é constantemente praticada... Assim, a exposição

permanece como uma atividade tradicional... Ao citar as

características gerais do gênero pode-se dizer, segundo Dolz,

Schneuwly et alli (2004), que a exposição é um discurso que se realiza

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numa situação de comunicação especifica chamada de “bipolar”,

unindo o orador ou expositor e seu auditório, assim, a exposição

pode ser qualificada como um espaço-tempo de produção onde o

enunciador vai ao encontro do destinatário, através de uma ação de

linguagem que veicula um conteúdo referencial. Mas, se esses dois

atores encontram-se reunidos nessa troca comunicativa particular

que é a exposição, a assimetria de seus respectivos conhecimentos

sobre o tema da exposição os separam: um representa o

“especialista”, o outro, se caracteriza como alguém disposto a

aprender algo (TEIXEIRA et al. 2008, p. 1-2).

Refletindo sobre o exposto, selecionamos aqui o discurso de Jesus sobre a

incredulidade dos judeus.

2 O sujeito Jesus Cristo e sua exposição oral sobre o a Incredulidade Judaica

Vejamos primeiramente o contexto em que se encontrava Jesus Cristo, no

momento em que começou a expor, oralmente, seu discurso acerca da incredulidade

judaica. Conta-nos a narrativa joanina que o sujeito, o qual chamavam Mestre, havia

ido próximo à porta das ovelhas, junto aos seus discípulos, quando subiu a Jerusalém,

lugar em que ocorrera a cura de um paralítico de Betesda (Jo 5). Pelo fato de Jesus

curar no dia de sábado, começou a ser perseguido pelos judeus (Jo 5,16), que

procuravam mata-lo (Jo 5,17). Em meio a um grande sermão que Jesus começou a

proferir para aqueles, acerca de dependência de Deus, respeito ao Pai, ressurreição e

glória humana, adentra a falar acerca da falta de crença no Divino:

V. 44_ Como podeis vós crer2, recebendo honra3 uns dos outros, e

não buscando a honra que vem só de Deus?

2 A partir de um amplo estudo realizado por Vine/ Unger/ White Jr. (2013, p. 518), “pisteuõ, “crer”,

também “ser persuadido de” e, por conseguinte, “por a confiança em, confiar”, significa, nesse sentido de palavra, confiança e não mera crença. É muito frequente nos escritos do apóstolo João sobretudo no Evangelho”. Então, acerca dessa passagem específica, F. F. Bruce (2011, p. 128) nos esclarece que “o

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Analisando o construto, enxergamos que o sujeito Jesus Cristo repreende os

judeus, apresentando razões para o fracasso destes últimos. Inicia Jesus o seu discurso

indagando aquele grupo judaico sobre a sua crença. Como poderiam crer no Pai, se

prestavam e recebiam honra uns dos outros? Os termos “como podem crer,

recebendo honra”, nesse sentido, provém do grego doxa, e ganha significação com

relação a aprovação. Em outras palavras, o enunciado de Jesus soaria como vocês

podem aprovar essa atitude de crer uns nos outros?

Na verdade, as próprias atitudes dos referentes revelavam que seria impossível

eles crerem em Deus, pois estavam todos os judeus confundidos4 em sua crença. De

acordo com o apóstolo Paulo, em sua epístola aos Romanos, “...todo aquele que nele

crer não será confundido” (Romanos 10,11). Por sua vez, os judeus “amavam mais a

glória dos homens que a glória de Deus” (João 12, 43), e isso acarretava más

consequências para eles, ao ponto de não serem considerados filhos do Pai. A partir do

relato de João, em seu Evangelho, ser filho de Deus é uma posteriori da crença: “a

todos quanto o receberam, aos que creem no seu nome, deu-lhes o poder de se

tornarem filhos de Deus” (João 1,12). [Grifos nossos]. Então o emissor continua:

V. 45_ Não cuideis que eu vos hei de acusar para com o Pai5. Há um

que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais.

tempo do verbo crer é aoristo (pisteusai, aoristo infinitivo); por isso pode ser que o ato inicial de crer esteja aqui: “Como vocês podem por sua fé (em mim)?” 3 Do grego time (τιμή), primariamente “avaliação, apreço, valorização”... nesse caso usado em

atribuições de valoração ou importância prestada aos homens, num ato de centralização humana, antropo. De acordo com Vine/ Unger/ White Jr. (2013, p. 695), nesse caso, o termo provém de “doxa (δόξα), “glória”, traduzido por “honra” em Jo 5, 44, assim como em II Coríntios 6, 8”. 44

Havia um grande motivo para que os Judeus estivessem confundidos: a desobediência. Desde o Antigo Testamento Deus falara muitas vezes acerca de obedecer, e estes procuravam outro caminho. Em um breve percurso Bíblico podemos enxergar que Deus enviou o seu terror confundindo a todo o povo (Êx. 23,27), e muitas vezes anunciava antecipadamente (Sl 2,5/ Sl 83,17). O salmista anuncia que seriam confundidos todos o que servissem a imagens (Sl 97,7). Porém, o apóstolo Paulo nos direcionará para o fato de que a Esperança em Deus não confunde (Rm 5,5), e todo aquele que crer na Pedra de Sião – representação do próprio Jesus – não será confundido (Rm 9,33). 5 Para Bruce (2011, p. 128), “... a descrença deles acarretaria juízo certeiro, mas o Filho do homem não

seria seu acusador, nem a testemunha principal. Se decidisse sê-lo, seria muito mal para eles; mas ele tinha vindo para salvar, e não para julgar”.

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A partir desta enunciação do sujeito, compreendemos que não há uma

obrigatoriedade, nem muito menos uma preocupação/predisposição por parte de

Jesus em denunciar os judeus. Cristo, como sujeito falante, não precisaria acusar

aquela massa judaica, apontando os seus erros (pela lei da graça), pois a própria

doutrina Mosaica, que eles carregavam em suas pregações, trataria de acusá-los.

No primeiro instante do período, quando é anunciado Não cuideis que eu vos

hei de acusar para com o Pai, esse termo “Pai” traz consigo toda uma carga de

autoridade, revestimento de “poder”, liberdade na (re)ação. Ou seja, Jesus – na

posição de homem/filho em que se encontrava – não precisaria invocar/convocar

nenhum tipo de autoridade, porque a própria doutrina de seguimento dos judeus iria

denunciá-los. “A principal testemunha de acusação seria alguém que eles veneravam

profundamente. Moisés, através de quem Deus lhes tinha dado a lei na qual se

baseavam... é quem testemunharia contra eles” (BRUCE, 2011, p. 128). Paulo,

mediante sua carta aos Romanos, nos conferirá que “Todos os que sob a lei pecaram,

sob a lei serão julgados” (Rm 2,12).

Também acerca de julgar, o próprio Jesus nos declara, a partir da escritura de

João, que quem haveria de julgar seria a Palavra (Jo 12, 47-48) e não ele mesmo (na

posição de Pai), porque ao Filho fora dado todo o juízo (Jo 5, 22) – através do ato de

enunciar e proclamar as escrituras sagradas (a Lei).

É então que se coloca a segunda parte da enunciação: Há um que vos acusa,

Moisés, em quem vós esperais. A partir dessa linha expositiva, compreendemos que, o

fato de os judeus gloriarem uns aos outros, ao invés de prestarem honra a Deus, fazia

com que eles estivessem transgredindo a própria lei através da qual se pronunciavam,

da qual erguiam a bandeira. O termo Moisés, nesse caso, por representar e significar a

Lei dada ao povo de Israel, trata-se de uma metonímia, pois para Rocha Lima (1996, p.

506), “metonímia consiste em considerarmos o efeito pela causa; o autor pela obra”.

Bechara (2009, p. 397) nos dirá, acerca dessa figura de linguagem, que “ocorre uma

translação de significado pela proximidade de ideias” entre as palavras, “não porque

são sinônimas, mas porque uma evoca a outra” (SEGALLA, 2008).

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O enunciador, ao colocar Moisés como figura central diante da falsa crença

judaica, recupera toda a lei a qual este último havia escrito, na maior parte do

pentateuco, e lança para os judeus: a própria lei que pregavam os condenaria. Ao fazer

isso Jesus reconstrói uma perspectiva judaico-cristã retomando e reconfigurando

aspectos existentes no Antigo Testamento.

...Moisés, em quem vós esperais. Quanto ao uso dessa palavra

esperais, ao elenca-la, Jesus embebe todo um discurso provindo de

Deus (cf. Fiorin6), para construir o seu. Em grande parte do Antigo

Testamento, e também do Novo, percebemos que a ordem de Deus,

e seus conselhos, seriam para que todo o povo de Israel esperasse

nele, ou seja, descansasse em suas Palavras, cresse/confiasse em

suas promessas. Podemos recuperar isso em exemplos notórios nos

salmos e em algumas epístolas neotestamentárias: Esforçai-vos, e ele

fortalecerá vosso coração, vós todos que esperais no Senhor (Sl

31,24)/ Descansa no Senhor, espera nele... (Sl 37,6)/ ...Espera em

Deus... (Sl 42,5/ 43,5)./ Esperai inteiramente na graça que se vos

ofereceu na revelação de Jesus Cristo (I Pe 1, 13).

Portanto, o fato de os judeus esperarem apenas em Moisés entra em

contraponto com a crença em Deus, e a partir disso se enraíza se propaga a

enunciação proferida pelo sujeito agente.

V. Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de

mim escreveu ele.

V. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas

palavras? (João 5: 46-47)

De acordo com as palavras do Cristo, se verdadeiramente os judeus seguissem

e vivessem a lei Mosaica (instituída por Deus), creriam também nele, emblema do

Deus na terra (cf. João 1,1). Entre todas as escrituras antigas que os judeus

6 dirá Fiorin (2006, p. 19): “...o enunciador, para constituir um discurso, leva em conta o discurso de

outrem, que está presente no seu. Por isso, todo o discurso é inevitavelmente ocupado, atravessado, pelo discurso alheio. O dialogismo são as relações de sentido que se estabelecem entre dois enunciados.” (FIORIN: 2006, p. 19)

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examinavam, na crença em que encontrariam a Vida Eterna, as que mais davam

atenção eram ao conjunto do Pentateuco, conteúdo pleno da Lei Mosaica. Porém, se

buscassem praticar o conteúdo existente nos papiros referidos – instituídos por Moisés

–, aceitariam o testemunho de Cristo, que vinha cumprindo toda a Lei. Conforme se

nos evidencia no interdiscurso bíblico, como os judeus rejeitavam a prática de Cristo,

estavam também mostrando repudia pelas práticas de Moisés e dos profetas, os quais

o haviam prenunciado. Nisto reside a sua própria condenação: em pregar e não

cumprir o que se pregou.

Porque de mim escreveu ele. Acerca de Jesus, Moisés havia falado

muitas vezes, prenunciando a sua vinda à terra, em enunciados que

elencam inimizade (Gn. 3,15), bênção familiar em Jesus (12,3), poder

eterno conferido ao Cristo (49,10) e o levante de um grande profeta

(Dt 18, 15-18).

V. Mas, se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas

palavras? (João 5: 46-47) Como poderiam crer no libertador do povo

de Israel do Egito, e não crer naquele que o fez libertar? Por esse

motivo eram incrédulos.

Nessa linha interpretativa, os testemunhos de Moisés e de Jesus estão tão

inter-relacionados (cf. Bruce) que a crença em um acarreta na fé no outro. A rejeição a

um significa estar se opondo ao outro. Jesus Cristo, como símbolo da Aliança

sempiterna, não veio para anular as leis (neste caso, instituídas por Moisés) e os

profetas, mas para cumpri-las (Mt 5,17). As promessas que Deus fizera através de

Moisés cumprira em Jesus. Ao abnegarem as palavras proferidas pelo sujeito

enunciador Jesus, automaticamente os judeus excluíram os ditos outrora outorgados

pela legislação mosaica, pois aquelas palavras consistem nesses ditos (ressignificados).

Acerca disso, podemos nos transpor para o último enunciado proferido por Abraão ao

homem rico, de acordo com o relato de Lucas (16,31): “Se não ouvem a Moisés nem

aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”. Ou seja,

se a massa judaico-farisaica nem a sua própria lei de segmento (mosaica) cumpre,

muito menos prestaria ouvidos aos milagres realizados por Cristo.

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3. Uma breve concepção dialógica do sujeito Jesus Cristo

Jesus, como enunciador, para constituir seu discurso, leva em conta o discurso

de outrem, utilizando-o no seu. Essa nova enunciação confere caráter de valoração

para a vivência da lei da Graça, em que Cristo reage responsiva e responsavelmente a

outros discursos fortes e hegemônicos que reinavam naquele contexto sócio-histórico.

Jesus não estava apenas querendo ser claro e ser entendido, mas ‘desfazer’ mesmo

um outro discurso que estava em ‘alta’ ali. Isso é arena, lugar de conflito dialógico-

ideológico.

Para Sobral (2009, p. 51), o sujeito, dentre outras características que o

constituem, é aquele que

Age sempre (o que inclui todos os seus atos: cognitivos, verbais etc.)

segundo uma avaliação/ valoração daquilo que faz ao agir/falar, e

pela qual se responsabiliza, e o faz a partir tanto da identidade que

forma e vê reconhecida como das coerções que suas relações sociais

lhe impõem ao longo da vida e que vão alterando essa identidade

que ele veio a formar. (SOBRAL, 2009, p. 51).

Neste instante, o sujeito falante teve o intuito de enunciar através de

repreensão porque era necessário, alguns daqueles interlocutores precisavam escutar

para que compreendessem, pois estavam sob descrença e desobediência. Isso é ser

responsável pelo seu falar enunciar responsavelmente, existindo um querer-dizer por

parte do enunciador, e ao mesmo tempo um querer-ocultar através de seu dizer. Vale

ainda dizer que, neste momento em que Jesus enunciou seu sermão, vários

enunciados ficaram permeáveis à sua expressividade, ou seja, seu discurso poderia ter,

para os judeus, mais de um sentido ou significado.

Acerca deste aspecto, afirmará Bakhtin (1997):

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Enquanto falo, sempre levo em conta o plano aperceptivo sobre o

qual a minha fala será recebida pelo destinatário; o grau de

informação que ele tem da situação, seus conhecimentos

especializados na área de determinada comunicação cultural, suas

opiniões e suas convicções... pois é isso que condicionará sua

compreensão responsiva do meu enunciado (BAKHTIN 1997, p. 321).

Por fim, podemos afirmar que a individualidade de Jesus, como sujeito

dialógico, é marcada na expressão de seu querer-dizer, de sua projeção discursivo-

ideológica, ressignificando seu discurso sob embasamento histórico-social e jurídico

(no que concerne à Lei Mosaica), assim materializando sua potencialidade para o

diálogo.

4. Considerações finais

Vez que a fala do emissor é externada e saturada de enunciação, o discurso

sobre a incredulidade Judaica é refabricado por Jesus Cristo no contato que estabelece

com a realidade sócio-histórico-ideológica dos interlocutores que o recebem. Assim,

entendemos como Jesus se projeta responsável e responsivamente (sob aspectos

linguístico-enunciativos) pelo seu discurso, configurando-se e constituindo-se

dialogicamente.

Conforme se demonstra, compreendemos como se manifesta a dialogicidade

do discurso de Jesus a partir do instante em inicia-se o conflito (arena) entre a doutrina

da graça e o sistema religioso predominante em Jerusalém. Após dizer-se Filho de

Deus, e embasar seu imenso discurso, Jesus adentra a falar acerca da incredulidade

dos Judeus. Para Bakhtin/Volochinov (1997), por parte do sujeito, são deixados rastros

e pistas padronizados e variáveis. Percebemos isso principalmente na identificação da

representação de Jesus Cristo, que se caracteriza pela forte tensão entre suas palavras

e o dizer (o silêncio é uma forma de dizer algo) do outro.

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5. Referências

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BRAIT, Beth. Bakhtin e a Natureza Constitutivamente dialógica da Linguagem. In: BRAIT, Beth. Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. 2 ed. rev. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2005. BRUCE, F.F. João – Introdução e comentário. Série Cultura Bíblica; Tradução de Hans Udo Fuchs. Editora Vida Nova; São Paulo, 2011. BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª edição revisada, ampliada e atualizada conforme novo acordo ortográfico. Ed. Nova Fronteira; Rio de Janeiro, 2009. FARACO, Carlos Alberto. Linguagem e diálogo: as ideias linguísticas do Círculo de Bakhtin. Curitiba: Criar Edições, 2003.

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____________. A representação do sujeito Simão Pedro no primeiro momento de seu discurso sobre a descida do Espírito Santo nos Atos dos Apóstolos: uma análise discursiva In: II Congresso Nacional de Literatura (CONALI) – Anais. Organização: ARAGÃO, Maira do Socorro Silva de. et al. Universidade Federal da Paraíba. – João Pessoa, 2015. p. 601 – 609. SEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 48ª edição revisada. Cia Editora Nacional; São Paulo, 2008. SOBRAL, Adail. Do dialogismo ao gênero: as bases do pensamento do círculo de Bakhtin. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2009. TEXEIRA, Ana Paula Tosta; BLASQUE, et al. A exposição oral na sala de aula. In: VII SEMINÁRIO DE PESQUISA EM CIÊNCIAS HUMANAS. 2008. Anais. UEL. organização de Mirian Donat e Rogério Ivano – Londrina: Eduel. dez. 2008. p. 1-9. VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; WHITE JR, William. Dicionário Vine – o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. Tradução de Luís Aron de Macedo. CPAD; Rio de Janeiro, 2013.