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Universidade de Aveiro Departamento de Línguas e Culturas – DLC 2019 Jessica Franco Spilla Costa Bebês e livros: um estudo sobre edições para pré-leitores

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Universidade de Aveiro

Departamento de Línguas e Culturas – DLC

2019

Jessica Franco Spilla Costa

Bebês e livros: um estudo sobre edições para

pré-leitores

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Universidade de Aveiro

Departamento de Línguas e Culturas – DLC

2019

Jessica Franco Spilla Costa

Bebês e livros: um estudo sobre edições para

pré-leitores

Tese apresentada à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Estudos editoriais, realizada sob a orientação científica da Professora Doutora Ana Margarida Corujo Ferreira Lima Ramos, Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro.

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dedicatória

Dedico esse trabalho à minha mãe, In Memoriam.

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o júri

presidente Profa. Doutora Maria Cristina Matos Carrington da Costa Professora Associada do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro

arguente Prof. Dra. Maíra Gonçalves Lacerda Pesquisadora da Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro

orientador Profa. Doutora Ana Margarida Corujo Ferreira Lima Ramos Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro

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Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter me permitido

finalizar este trabalho e chegar até aqui.

Quero também agradecer imensamente à professora

Cristina Carrington, que me apoiou durante todo o curso,

e à professora Ana Margarida Ramos, minha orientadora

e igualmente apoiadora. Sem vocês, esse trabalho não

existiria.

Agradeço aos meus filhos Anna Lavínia, que desde o meu

ventre me inspirou a conhecer mais sobre os livros para

bebês, e Nicolas, que nasceu durante a realização do

mestrado e tem participado desse processo de escrita

desde sempre. Ao meu marido Marceni, que me

acompanhou nessa jornada e em muitas outras.

À minha madrinha Amélia e ao meu tio Ronaldo, que

tanto me auxiliaram no processo de mudança a Portugal,

o meu muito obrigada.

Ao meu pai Ricardo e irmão Rafael, que ficaram no Brasil

torcendo por mim enquanto me aventurava mundo

afora. Agradeço à minha tia Luciana, que esteve comigo

em seus pensamentos durante todo o tempo. Do mesmo

modo, agradeço a toda a minha família.

À minha amiga Dayane, que também tanto me apoiou e

me auxiliou quando eu mais precisei. À Deborah, ao

Helvio, à Helena e à Sonia, amigos que viraram a minha

família também. À Gabriela e ao Rafael, que também

foram amigos-irmãos durante a minha estadia em

Portugal e que permanceram assim depois que voltei ao

Brasil. À Talita e à Tainá, que se aventuraram no mesmo

curso e participaram dos momentos felizes e nem tão

felizes assim de toda a minha vida acadêmica em

Portugal. Que essas amizades sejam eternas.

Agradeço, também, à todas as empresas e pessoas que

contribuíram para as minhas pesquisas, responderam os

meus questionários e me ajudaram de alguma forma.

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palavras-chave

livro-objeto, literatura infantil, mercado editorial, pré-

leitores.

resumo

Este trabalho pretende apresentar as principais

tipologias de livros voltados para a primeiríssima

infância, ou para os chamados pré-leitores. Para tal,

será apresentado um estudo sobre a história das

principais tipologias de livros tradicionais e livros-

objeto produzidos especificamente para esses

consumidores. Também, pretende-se fazer uma

análise de como o mercado editorial infantil atual

oferece esses livros; por isso, serão analisados alguns

catálogos de editoras que possuem como trabalho

principal a edição de livros infantis.

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keywords

abstract

object-book, children's literature, publishing market,

pre-readers.

This paper aims to present the main typologies of

early childhood books, the called pre-readers. To

this end, a study will be presented about the history

of the main typologies of traditional books and

object-books produced specifically for these

consumers. Also, it is intended to make an analysis

of how the current children's publishing market

offers these books; therefore, will be analyzed some

catalogs of publishers whose main work is the

edition of children's books.

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Índice

Agradecimentos 9

Resumo 11

Abstract

Índice 13

12

Índice de imagens 14

Lista de siglas 17

1. Introdução 19

2. Edição para crianças 23

2.1 Literacia emergente e a literatura infantil 23

2.2 As publicações voltadas para os bebês no Brasil 32

2.3 Análise de catálogos 41

3. Tipologia de livros para bebês 47

3.1 Caracterização editorial e fases de produção 50

3.1.1 Livros cartonados 60

3.1.2 Livros de imagem 64

3.1.3 Livros de banho 69

3.1.4 Livros de pano 72

3.1.5 Livros com fantoches 76

3.1.6 Livros pop-up 79

3.1.7 Livros sonoros 82

3.1.8 Livros toque e sinta e com abas 86

3.1.9 Livros sanfonados 90

4. Os compradores intermediários e os consumidores finais: Livrarias, bibliotecas, mediadores e clubes de leitura

93

4.1 Bibliotecas 94

4.2 Clubes de leitura 98

4.3 Livrarias 101

4.4 Editais, prêmios e crítica – A visibilidade dos livros 105

4.4.1 Editais – O PNBE e o PNLD Literário 106

4..4.2 Prêmios 108

5. Conclusão 114

6. Bibliografia 116

7. Apêndices 120

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Índice de imagens

Imagem 1. Conceito outside-in and inside-out na literacia emergente 24

Imagem 2. Estrutura literacia emergente 26

Imagem 3. Contos da Carochinha, de 1894 28

Imagem 4. Poesias Infantis, de 1904 29

Imagem 5. A menina do narizinho arrebitado, de 1920 30

Imagem 6. Evolução da imagem da personagem Mônica 31

Imagem 7. Chronica Majora, século XIII 33

Imagem 8. Harlequinades, de 1776 e 1790 34

Imagem 9. The history of little Fanny, de 1810 34

Imagem 10. The Thames Tunnel Peep Show, de 1847 35

Imagem 11. Pinocchio, de 1932 36

Imagem 12. Tabela da produção de livros infantis no Brasil de 2010 a 016 37

Imagem 13. Representação da fruição narrativa 39

Imagem 14. Imagem do book trailer de Monstros no cinema 42

Imagem 15. Um conto para cada noite: 7 noites, 7 contos e É Hora de Descobrir: Princesinha Sofia - Bem-vinda a Encântia

44

Imagem 16. Andry Birds: Red ao resgate! e Bubble Guppies 44

Imagem 17. Dora, a Aventureira: vamos navegar e Bob Esponja: um dia na praia

45

Imagem 18. 100 primeiras palavras. 46

Imagem 19. Nonô no infantário 48

Imagem 20. Love you baby 48

Imagem 21. Este livro comeu o meu cão! 50

Imagem 22. Meus 5 sentidos: Toque, sinta, raspe, cheire! 53

Imagem 23. Meu livro fofo de atividades 54

Imagem 24. Meu primeiro livro toque e sinta e Abraços 54

Imagem 25 Mogli, o menino lobo: toque e sinta contos de fada 54

Imagem 26. Oi Bebê! Meu Primeiro Livrinho Em Preto e Branco 55

Imagem 27. Cores e Formas 55

Imagem 28. Jardim Agitado e A ovelhinha faz Bééé! 56

Imagem 29. Au! Au! 56

Imagem 30. Uma lagarta muito comilona 57

Imagem 31. Ursinho Bobby - Hora de comer! 57

Imagem 32. Téo no parque e Téo na praia 58

Imagem 33. Avó com cheiro de pão caseiro: uma história de sabores e lembranças

59

Imagem 34. Compras e Festa 59

Imagem 35. A peep at the circus, de 1886 61

Imagem 36. Adivinha os animais e onde eles vivem 62

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Imagem 37. Cores, Palavras e formas 62

Imagem 38. Vermelho, amarelo, arco-íris 63

Imagem 39. Artur 63

Imagem 40. Lagarta na primavera 64

Imagem 41. Der Struwwelpeter, de 1844 65

Imagem 42. Onde vivem os monstros, de 1963 65

Imagem 43. Nomenclaturas do livro de imagem 66

Imagem 44. Tem bicho que sabe 67

Imagem 45. Autour de moi 68

Imagem 46. O coelhinho branco 68

Imagem 47. Coleção de livros de imagem e É um ratinho? 69

Imagem 48. A Baleia – Livro flutuante 70

Imagem 49. Formas – Bi-bi-banho 70

Imagem 50. Livro de banho Turma da Mônica – Praticando Esportes 70

Imagem 51. Hora da papinha 72

Imagem 52. Alphabet book, de 1901 73

Imagem 53. Baby's diary, de 1912 73

Imagem 54. Iara 75

Imagem 55. No jardim e Na floresta 75

Imagem 56. Bebê Noel – Feliz Natal 76

Imagem 57. Bebês manuseando o livro Algazarra na Floresta 78

Imagem 58. Animais do Brasil 78

Imagem 59. João e o pé de feijão 78

Imagem 60. Festa do queijo da Ratinha 79

Imagem 61. Mon pop-up des couleurs 81

Imagem 62. O porquinho e o livro 82

Imagem 63. Bichinhos. 83

Imagem 64. A cabrita Cacá e O coelho Caco 84

Imagem 65. A pequena sereia 85

Imagem 66. Meu livro musical: xilofone e Meu livrinho musical 85

Imagem 67. Opostos 87

Imagem 68. Fazenda e Floresta 87

Imagem 69. Meus primeiros animais 88

Imagem 70. Com meus dedinhos – esconde-esconde 88

Imagem 71. 1, 2, 3 quem está na fazenda? 89

Imagem 72. Quem adora cenoura? e Quem está na lama? 89

Imagem 73. Dai hannya haramitsu takyou dai 578 90

Imagem 74. Memórias de uma girafa 91

Imagem 75. A bela adormecida 91

Imagem 76. Curious baby: My first book of color 92

Imagem 77. Etmologia bebeteca 94

Imagem 78. Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato 96

Imagem 79. Sala de Litura infantil 96

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Imagem 80. Exposição O mundo das maravilhas de Monteiro Lobato 97

Imagem 81. Livros O animal mais feroz, Um abraço passo a passo e Quero colo!

100

Imagem 82. O que tem dentro da sua fralda? 100

Imagem 83. Livraria PanaPaná 103

Imagem 84. Livraria NoveSete 104

Imagem 85. Tabela: Livros-brinquedo contemplados pelo prêmio FNLIJ 109

Imagem 86. Livro de pano do bebê Maluquinho 111

Imagem 87. Monstros no cinema 111

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Lista de Siglas

UNESP – Universidade do Estado de São Paulo

FNLIJ – Fundação Nacional

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

USP – Universidade de São Paulo

MEC – Ministério da Educação

CBL – Câmara Brasileira do Livro

ANL – Associação Nacional das Livrarias

SNEL – Sindicato Nacional dos Editores de Livro

UNESCO – United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization

ABRELIVROS – Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina

BATA – Baion Asociación Tratamiento del Autismo

PNBE – Programa Nacional Biblioteca na Escola

PNLD – Programa Nacional do Livro e Material Didático

IBBY - International Board on Books foi Young People

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1. Introdução

Este estudo foi realizado com a pretensão de analisar o atual cenário do mercado

editorial voltado para bebês, esse público que se enquadra na chamada primeiríssima infância,

considerada a fase entre zero e três anos de idade. Dessa forma, pareceu-nos fundamental

compreender, ainda na primeira parte do trabalho, a evolução histórica da literatura infantil no

Brasil até chegar aos livros produzidos especialmente para bebês, sobretudo os livros-

brinquedo, variações dos livros-objeto. Esse percurso começa ainda no final do século XVII e

segue em evolução até os dias atuais, visto que o mercado editorial para bebês, da forma que o

conhecemos hoje, foi consolidado nos últimos anos. Ao pesquisar trabalhos acadêmicos já

realizados acerca dos livros para esse público, que será aqui chamado de pré-leitor, foi

encontrada uma variedade de artigos, dissertações e teses que se atêm à literatura, à mediação

de leitura e aos benefícios do contato precoce do bebê com o livro. No entanto, pouco foi

encontrado sobre a relevância de se entender como o mercado para esse público chegou ao

atual patamar, com uma pesquisa de viés editorial e suas implicações, pelo que o tema se

tornou ainda mais interessante. Por isso, este estudo recorre à teoria canônica acerca da

literatura infantil, produção editorial e mercado, como nos apresentam Peter Hunt e Pierre

Bourdieu, mas também são necessárias pesquisas de cariz mais prático, como artigos

publicados por profissionais atuantes na área em jornais, revistas e sites. Outra implicação é

que o mercado editorial para bebês resulta de uma evolução do mercado da literatura infantil,

o qual foi efetivamente consolidado no século XXI, e, por ser tão recente, necessita ainda ser

pesquisado e compreendido em muitos aspectos, especialmente pela academia. Nesse

primeiro momento, também são levantadas questões como o porquê de ainda muitas editoras

optarem por adquirir os direitos de edição de obras internacionais e enviarem os seus livros

para serem impressos no estrangeiro, sobretudo na China, apesar da distância e tempo de

conclusão do processo de produção. Além disso, é ainda nessa parte que serão apresentadas as

editoras que foram tomadas por base para análise de catálogos, a Bamboozinho, Ciranda

Cultural, Girassol e Vale das Letras, para a obtenção de dados como a pluralidade de oferta

desses livros, comparação da produção entre as empresas e levantamento da média de valores

praticados pelas editoras no ano de 2018. Nesse sentido, o trabalho nessa primeira fase é de

reconhecimento do segmento de mercado que será analisado adiante.

Na segunda parte do trabalho, são trazidas para a pesquisa acadêmica as dez variações

tipológicas mais encontradas no mercado editorial para bebês. Para cada tipologia foi feito um

traçado histórico para se compreender quando tal tipo de livro foi criado e porque foi

considerado pertinente enquanto obra para esse público; em outras palavras, o objetivo é

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compreender qual o sentido da apresentação de tal formato para aqueles que até então tiveram

pouco ou nenhum contato com o objeto livro. Aqui, serão analisados os materiais utilizados

para o suporte gráfico e as escolhas editoriais para melhor elaboração dos recursos interativos

dos livros cartonados, de banho, de pano, com fantoches, toque e sinta, com abas, sonoros, de

imagem, pop-up e sanfonados. Além disso, serão identificados os principais temas, a

complexidade da produção das obras, a segurança do bebê durante o manuseio do livro e

outros pontos que achamos pertinentes cruzar para uma compreensão global do material

apresentado. Esse ponto é essencial para a compreensão da principal questão levantada por

esse trabalho, que é como o mercado editorial foi estruturado de modo a atualmente serem

encontradas tipologias características para bebês em todos os catálogos de editoras que

produzem para esse público, como uma aceitação universal de que aquele tipo de trabalho é o

ideal a ser direcionado para os bebês. É importante frisar que não foi encontrado nenhum

trabalho que abranja todas essas tipologias ou que faça uma relação entre tais obras com os

seus consumidores finais e, por isso, foram compilados diversos artigos que tratam em

separado não somente dos tipos de livro, mas também de como ocorre o desenvolvimento do

bebê no período da primeiríssima infância. Portanto, as pesquisas realizadas para a elaboração

deste estudo são híbridas e fragmentadas para, dessa forma, ser possível demonstrar como

esses livros estimulam os cinco sentidos dos bebês das mais variadas formas, contando com o

auxílio da ludicidade das obras.

Na sequência, é levantada a questão da responsabilidade que as editoras possuem

após a impressão dos livros, para que as suas obras sejam vistas e conhecidas pelos

consumidores. Essa fase é tão importante quanto a própria produção do livro, visto que,

atualmente, percebe-se uma concorrência cada vez maior no meio editorial, e conseguir

publicar um livro de destaque frente a tantas opções disponíveis no mercado torna-se uma

tarefa árdua, principalmente para pequenas editoras, que ainda precisam conquistar o seu

espaço e ganhar credibilidade como produtora de livros de qualidade. Nesse sentido, serão

analisados alguns provedores da visibilidade desses produtos. Dentre eles, estão os editais de

compra de livros e incentivo à leitura, no qual será especialmente referenciado o PNLD

Literário, vertente do Programa Nacional Biblioteca na Escola, do governo federal brasileiro,

o qual seleciona obras a serem encaminhadas para creches e escolas públicas de todo o Brasil.

A seguir, também será pontuada a relevância das bibliotecas públicas infantis,

estabelecimentos que oferecem de modo acessível e gratuito o acesso a livros infantis de

qualidade. Aqui, também é referida a falta de bebetecas, bibliotecas com acervo e estrutura

específica para o atendimento de leitores da primeira infância, no Brasil. Além disso, também

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consideramos fundamental referenciar as livrarias físicas, ao passo que decidimos não abordar

a venda on-line devido à importância de o consumidor, sobretudo o consumidor de livros

infantis, ver, manusear, sentir, tocar as obras e com isso se sentir estimulado a adquirir uma

obra que será entregue ao bebê, que é o consumidor final, mas que ainda não possui

independência para escolha das obras. As grandes redes de livrarias dominam o mercado

livreiro, mas praticam valores altos sobre o preço de capa para expor seus livros em

prateleiras, e mais ainda para lhes dar algum destaque em vitrines, o que impossibilita as

editoras independentes ou de pequeno porte de conseguir divulgar e vender as suas obras

nesses locais. Aqui, a intenção não é criticar a forma de trabalho desses estabelecimentos, mas

compreender o porquê de as grandes editoras dominarem os espaços infantis dessas lojas.

Como alternativa, decidimos enfatizar o trabalho das livrarias de rua, especialmente as

livrarias especializadas em livros infantis, que além de oferecerem livros dessas grandes

editoras, também trabalham com editoras independentes e de pequeno porte, oferecendo mais

opções de títulos aos seus clientes, além de se tornarem parceiras e divulgadoras de obras de

alta qualidade que não são encontradas fisicamente em outros pontos de venda. Não se atendo

somente ao simples comércio, esses estabelecimentos oferecem eventos, como lançamentos

de livros, oficinas criativas e contação de estórias para bebês, crianças e seus cuidadores, o

que aproxima os seus consumidores do espaço, da literatura e do objeto livro propriamente

dito. Para compreender o trabalho dessas livrarias, foram realizadas visitas técnicas nas

livrarias infantis PanaPaná e NoveSete, ambas em São Paulo, pelo que foi possível entender

as diferenças entre essas e as livrarias de departamento. A seguir, também consideramos

importante explanar sobre os clubes de leitura, que, em formato contemporâneo, enviam

livros para as casas de bebês e cuidadores periodicamente. Essas obras são selecionadas por

profissionais da área literária e editorial e categorizadas de acordo com a faixa etária de

destino, e assim atendem de modo personalizado os seus clientes de acordo com o perfil

informado no momento da contratação desse serviço. Como exemplo de um clube de leitura

infantil brasileiro, será apresentado o trabalho de curadoria dA Taba, que além do clube de

leitura possui uma página internet dedicada a disponibilizar resenhas de livros publicados no

Brasil, notícias acerca do mercado editorial infantil, entrevistas e bate papo com importantes

profissionais da área e demais assuntos pertinentes ao mercado editorial, educação e formação

de leitores. Como divulgadores dos livros infantis de modo mais informal, também decidimos

falar dos canais de comunicação especializados nessa temática, que são disponibilizados em

diversas mídias como redes sociais, blogs e vídeos no YouTube e que alcançam milhares de

pessoas, devido aos meios acessíveis que utilizam e pela qualidade das resenhas e sugestões

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que oferecem. Nesse filão, destacamos o blog A cigarra e a formiga, que disponibiliza

resenhas e vídeos com listas temáticas de livros para bebês e crianças. Por fim, trataremos

também da relevância dos prêmios e crítica brasileiros. Realizamos uma pesquisa acerca das

principais premiações que contemplam a categoria livro infantil, com especial atenção ao

prêmio FNLIJ, que possui a categoria livro-brinquedo, além de perceber o trabalho da crítica

brasileira da área, para a qual tomamos as matérias da revista Crescer como exemplo.

Finalmente, já com caráter de conclusão, tratamos de como o contato dos bebês com

os livros estimula o seu desenvolvimento, mas que um fator essencial para que isso ocorra é a

mediação de leitura e a interação do adulto que forma a tríade bebê-livro-mediador.

Temos a consciência de que são muitas perspectivas acerca do livro para bebê e que a

pretensão de se tratar do objeto livro desde a sua concepção até a chegar às mãos do bebê é

uma tarefa quase impossível de se registrar em uma centena de páginas, mas desejamos com

este estudo fomentar a pesquisa dessas obras e despertar o interesse da academia para esse

filão do mercado editorial, pelo que desejamos contribuir, se não com conclusões, com mais

informações sobre o tema. Este trabalho foi realizado em 2018, sabendo que, como o

mercado editorial é extremamente dinâmico, alterações e novidades acontecem a todo

instante. Por isso, a necessidade de pesquisas e atualizações sobre o tema é constante.

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2. Edição para crianças

2.1 Literacia emergente e literatura infantil

Na condição de bem cultural, o livro literário é resultado de criação artística e, como

tal, torna-se importante instrumento de formação intelectual e afetiva, sobretudo para

crianças em plena fase de aprendizagem. (CASTRO, 2002, p.4)

O termo literacia emergente, tradução do português de Portugal para emergent

literacy, não possui uma expressão equivalente no português brasileiro, ainda que o assunto já

seja discutido com certa amplitude na academia do Brasil. Também sem uma tradução exata

para a língua francesa, o termo é atribuído à estudiosa neozelandesa Marie Clay, que utilizou

a expressão pela primeira vez em 1966 (JOIGNEAUX, 2013). Como trata David Mallows em

seu artigo, “a palavra inglesa ‘literacy' tem uma definição simples – a capacidade de ler e

escrever – e, no entanto, o seu significado específico está sujeito a um debate sem fim” e que

“não existe uma tradução direta em muitos idiomas para o termo”1. A partir desta definição

surgiram outros termos compostos e com significados variáveis, como literacia funcional,

literacia digital e a que será exposta aqui, a literacia emergente, também conhecida pela sigla

EL (ROHDE, 2015). O conceito de literacia emergente foi amplamente estudado por

Whitehurst e Lonigan, que descrevem:

The term ‘emergent literacy' is used to denote the idea that the acquisition of literacy is

best conceptualized as a developmental continuum, with its origins early in the life of

a child, rather than as an all-or-none phenomenon that begins when children start

school (1998, p.848).

A literacia emergente define as competências adquiridas antes do letramento ou

alfabetização na língua escrita; trata sobre o aprendizado informal que a criança na primeira

infância constrói através do contato com a linguagem oral, já que essa possui uma relação

sistemática e fundamental com a linguagem escrita, ainda que, “apesar de ambas serem

formas de expressão linguística, a aquisição de uma não se traduz na aquisição da outra”

(LOPES, 2008). Assim, as competências exigidas para a aquisição da fala não são as mesmas

exigidas para a leitura e escrita, já que a primeira se dá de modo natural, através do contato

com a língua, com a sonoridade e o reconhecimento fonológico. No caso da escrita, no

entanto, o indivíduo deve somar ao conhecimento da fala o entendimento das partes que

1 As duas citações são fragmentos de uma publicação portuguesa sobre o artigo de David Mallows, disponível

no endereço https://www.direitodeaprender.com.pt/artigos/o-que-e-literacia. O artigo original ser lido na íntegra

em inglês no endereço https://ec.europa.eu/epale/node/39864. Acesso em 02/08/2018.

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compõem o texto e decodificar os signos, ao segmentar as frases, transformando-as em

palavras, depois em sílabas e, por fim, decodificando o som que cada parte compõe

(FREITAS, ALVES, & COSTA, 2007).

Whitehurst e Lonigan descrevem que a literacia emergente consiste em dois grupos de

processos e habilidades, o outside-in e o inside-out (1998). Para eles, a linguagem

(vocabulário, narrativa e semântica) são processos de aprendizado de fora para dentro,

enquanto o som, a consciência fonológica é um processo que ocorre de dentro para fora. Para

exemplificar os conceitos, Susan B. Neuman e David K. Dickinson, em seu livro Handbook of

early literacy ressearch (2007, p.13), demonstram a figura abaixo:

Imagem 1. Conceito outside-in and inside-out na literacia emergente

No caso do livro, a aproximação da criança à linguagem escrita se dá através da

oralidade em forma de narrativa, ou da audição desta, mas também por várias outras

linguagens. O assunto é tratado no Referencial curricular nacional para a educação infantil,

documento elaborado pelo Ministério da Educação e do Desporto (atual Ministério da

Educação – MEC), em 1998:

É de grande importância o acesso, por meio da leitura pelo professor, a diversos tipos

de materiais escritos, uma vez que isso possibilita às crianças o contato com práticas culturais

mediadas pela escrita. Comunicar práticas de leitura permite colocar as crianças no papel de

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“leitoras”, que podem relacionar a linguagem com os textos, os gêneros e os portadores sobre

os quais eles se apresentam: livros, bilhetes, revistas, cartas, jornais etc. As poesias, parlendas,

trava-línguas, os jogos de palavras, memorizados e repetidos, possibilitam às crianças

atentarem não só aos conteúdos, mas também à forma, aos aspectos sonoros da linguagem,

como ritmo e rimas, além das questões culturais e afetivas envolvidas” (BRASIL, 1998,

p.141).

O conhecimento é adquirido com a junção complexa de todos os fatores que o objeto

oferece além do simples ato de ler, já que o entendimento da narrativa não depende

exclusivamente da decodificação das letras, pois “não é preciso que a criança compreenda as

relações entre fonemas e grafemas para construir sentidos ao escutar a leitura de uma história”

(BAPTISTA, 2010, p.3). Assim, a relação da criança com o objeto-livro e a consciência do

propósito do suporte enquanto guardião da narrativa escrita transforma-se em um facilitador

para a prática da leitura posteriormente. Aqui, para a criança, o livro é um objeto de interesse

e mistério, que apresenta o mundo ainda desconhecido das letras, mas que também a atrai

pelas imagens e pela relação com a narrativa através da voz do mediador, ou ainda pela

imaginação de criar a estória própria e autoral através da “leitura” das ilustrações. Como cita

Martins,

Antes de se saber ler palavras ou descodificar o complexo sistema de signos verbais

que é a língua escrita, o livro começa por ser entendido como um brinquedo (já que o prazer

de ouvir e de jogar precede o de ler), cuja apreensão goza de uma maior liberdade e se

inscreve, essencialmente, no domínio do jogo, que suscita prazer. (MARTINS, 2017, p.26).

Diante dessas informações, pode-se perceber que a literacia emergente, ou o contato

com a linguagem escrita, é a soma das habilidades da fala, da interação com indivíduos

leitores que suscitem o interesse pela decodificação escrita através da leitura de estórias e o

contato com o livro de modo lúdico e interessante. Apesar de o conceito de literacia

emergente ser mais utilizado para a fase infantil dos três aos cinco anos, período que precede

o início do aprendizado formal, a aproximação da criança ao livro e suas prerrogativas pode

acontecer logo após o nascimento, respeitando a fase em que a criança se encontra para

estimular de modo coerente o interesse pelo livro e, consequentemente, pela leitura.

A UNESCO possui, desde 1961, um programa de pesquisas na área de educação que

conta com pesquisadores e estudantes da África, Ásia, Europa, Caribe e América Latina, o

Golda Meir Mount Carmel International Training Center (MCTC). A partir de 1963, o

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programa passou a ter também cursos sobre a educação na primeira infância, e durante anos a

quantidade de pesquisas e workshops na área foram aumentando consideravelmente, assim

como a multiplicidade de temas abrangidos por tais estudos. No que tange a literacia

emergente, o assunto foi especialmente abordado no início da década de 1990, e em 1992 o

MCTC ofereceu o curso Emergent Literacy in Early

Childhood Education, o qual teve como resultado um documento com o mesmo nome,

elaborado por onze estudiosos da área2.

Literacy in the written language doesn't mean only knowing to read and write. Rather,

first and foremost, it means understanding the uses of the written language. I may not

teach reading in kindergarten, but I do expose the children to the written language.

This is a process that beginseven before kindergarten. When a parent brings his child a

picture book, shows him a picture of a doll and says, "This is a doll", he is educating

for literacy (UNESCO, 1992, p.18-19).

A representação do conceito da literacia emergente e como ela se desenvolve foi

resumida por Maria Aldina Alves na figura abaixo3:

Imagem 2. Estrutura literacia emergente

2 O documento pode ser lido na íntegra no endereço http://www.unesco.org/education/pdf/21_33.pdf.

3 Figura retirada da apresentação “A Promoção da LIteracia Emergente – Sessão para Pais”, de Maria Aldina

Alves. Disponível no endereço https://pt.slideshare.net/MariaAldinaAlves/promoo-da-literacia-emergente/9.

Acesso em 02/08/2018.

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A literacia emergente traz uma relação entre linguagem oral e linguagem escrita e,

aqui, a literatura infantil possui um papel fundamental para a construção e desenvolvimento

do futuro leitor. Integrando diversas formatos e géneros devido à diversidade de livros

existentes no mercado editorial infantil, além, obviamente, da importância de sua contação de

forma oral, a literatura infantil torna-se uma aliada indispensável ao adulto-mediador para que

esse apresente o universo letrado às crianças, especialmente para os cuidadores responsáveis,

já que esses são os que primeiro expõem a criança ao contato com a leitura e escrita,

cumprindo um papel fundamental na educação do futuro leitor (McLANE e McNAMEE,

1991).

A literacia emergente deve ser estimulada de modo lúdico e gradativo, para que que a

criança sinta prazer com a atividade proposta. Esse contato pode ser feito através da leitura de

um livro, uma contação de estória ou brincadeiras de trava-línguas, canções de roda, etc., já

que em todas essas atividades a criança terá contato com a linguagem e mesmo com a

literatura na sua dimensão oral. O importante é que o adulto mediador ofereça obras e

atividades que sejam interessantes e chamativas aos olhos da criança, seduzindo-a pela

dimensão lúdica e afetiva da aprendizagem:.

A criança leitora, ao mesmo tempo em que decifra os códigos sociais, vai formando

sua própria concepção de literacidade que a levará a construções mentais mais complexas e

mais marcantes, do ponto de vista afetivo dos significados das regras sociais. Pode-se dizer

que o próprio livro joga e vence, ganhando mais leitores por meio do faz-de-conta do jogo

literário, simplesmente por meio de uma iniciação lúdica à convenções culturais e à

autonomia intelectual (PERROT, 2008, p.53).

Apesar de, atualmente, haver diversos formatos de livros para crianças, com uma

pluralidade de suportes, materiais e milhares de novos títulos surgindo a cada ano no

mercado, a história da literatura infantil mostra a criança como consumidora de cultura, aqui

especificamente a cultura literária, em tempos mais recentes.

As histórias voltadas ao público infantil surgem no fim do século XVII, com Os

Contos da Mamãe Ganso, de Charles Perrault e as Fábulas, de La Fontaine (LAJOLO;

ZILBERMAN, 2004). No Brasil, esses textos chegam no século XIX, como traduções feitas

do francês para o português de Portugal (LEÃO, 2003, p.2), que apesar de serem

inegavelmente o início da construção do acervo infantil brasileiro, não eram obras produzidas

especialmente para o público brasileiro, o que ainda distancia as poucas crianças leitoras da

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época. Com o início da imprensa régia, em 1808, começa-se também a atividade editorial

destinada às crianças, apesar de serem ainda em sua maior parte obras traduzidas de países

europeus e não textos de autores brasileiros. Apesar de o século XIX ser lembrado como a era

do início e desenvolvimento editorial infantil brasileiro pelos livros didáticos, filão do

mercado que trouxe grande lucro para editoras, especialmente nas últimas décadas, foi ainda

nesse período que foi lançado o primeiro livro literário nacional voltado ao público infantil.

Em 1886 ocorre o lançamento de Contos Infantis, de Julia Lopes de Almeida e

Adelina Lopes Vieira, que apesar de ter o seu lançamento em Lisboa, pode ser considerada a

primeira obra brasileira no segmento infantil, visto que as irmãs viveram em Portugal e no

Brasil e por isso a obra foi editada nos dois países. Como uma edição exclusivamente

brasileira, existe a edição de 1894 dos Contos da Carochinha (histórias de Charles Perrault,

Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen), publicada por Figueiredo Pimentel pela Livraria

Quaresma, como marco desse novo mercado editorial brasileiro (VIEIRA, 2016).

Imagem 3. Contos da Carochinha, de Figueiredo Pimentel

A partir de então, passou-se a considerar a importância de livros literários que

trouxessem questões nacionais (LEÃO, 2003). Uma obra de grande relevância que transmite

esse novo pensamento editorial é Poesias Infantis, de Olavo Bilac, publicada em 1904.

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Imagem 4. Poesias Infantis, de Olavo Bilac

Apesar de já serem livros pensados para os leitores brasileiros, as obras infantis ainda

trazem, assim como os livros infantis portugueses da época, temas que remetem para o

patriotismo, o moralismo e os bons costumes (ROCHA, 2001). No entanto, poucos anos

depois, surge o livro que é considerado o marco da literatura infantil brasileira: A Menina do

Narizinho Arrebitado, de Monteiro Lobato, é publicada em dezembro de 1920 e, com o

estrondoso sucesso de crítica e venda, faz de seu autor ser considerado até os dias atuais como

o patrono da literatura infantil brasileira (KOSHIYAMA, 2006), na medida em que a sua obra

atribui um protagonismo relevante à criança e dá destaque ao olhar infantil, através de enredos

que promovem a identificação dos leitores com o enredo e a trama.

A primeira edição de Narizinho arrebitado, cartonada, elegante, muito ilustrada por

Voltolino, nasce de uma imprudência editorial: nada menos que uma tiragem de

cinquenta mil exemplares é feita, coisa verdadeiramente absurda não só para aqueles

tempos, mas até mesmo para os nossos dias (CARVALHEIRO, 1962, p.146).

Ainda em 2018, a observação de Edgar Carvalheiro é pertinente, mas o fato é que a

obra foi vendida para escolas e fez com que Monteiro Lobato se tornasse um editor e

empresário influente da época, o que o fez publicar outros livros de própria autoria e de

terceiros, sempre voltados para o público infantil, mas já com o olhar de que as obras para

crianças não deviam ser educativas e moralizadoras, mas de encantamento.

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Imagem 5. A menina do narizinho arrebitado, de Monteiro Lobato

Com o passar dos anos, as obras infantis vão-se pluralizando em número e forma, e

novos nomes se consolidam na história brasileira de literatura infantil. Contudo, e à

semelhança do que acontece em outros países, durante as décadas de 1930 e 1940 ainda são

massivamente lançados os livros de cunho nacionalista e moralista, ou os chamados livros de

concepção utilitária, conforme o conceito de Edmir Perrotti (1986), como será analisado

adiante. Nos anos 50 do século XX, os já consolidados quadrinhos americanos chegam ao

Brasil e, nesse formato, o Brasil ganha a sua personagem mais conhecida e que ainda hoje é o

nome mais famoso quando se pensa em histórias em quadrinhos – A turma da Mônica, de

Maurício de Sousa. O traço dos personagens foi-se alterando com o passar o tempo e segue

uma grande quantidade de edições das histórias com a turma com seis para sete anos de idade,

além de, posteriormente, Maurício de Sousa ter desenvolvido a imagem da Mônica e

companhia como bebês, para produtos licenciados, e como adolescentes, para criação da

revista em formato mangá para atender ao público juvenil. Além dessas, desde 2012 são

lançadas edições de luxo de graphic novels produzidas por artistas convidados, que

emprestam os seus traços e narrativas para compor obras para Mônica e sua turma, que

atingem um público adulto que se identifica com os personagens e com o chamado universo

geek.

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Imagem 6. Evolução da imagem da personagem Mônica

Nomes de autores brasileiros vão ganhando fama internacional no cenário infantil e,

na década de 70, considerada como o boom da literatura infantil, surgem obras de artistas

como Ziraldo, Ana Maria Machado e Ruth Rocha, hoje todos autores canónicos brasileiros.

Na década de 80, vem o agraciamento da qualidade da produção editorial infantil brasileira

com a premiação de Lygia Bojunga Nunes com o Prêmio Hans Christian Andersen,

considerado o prêmio Nobel da literatura infantil, com o qual também foram premiados,

posteriormente, Ana Maria Machado e Roger Mello.

Essa brevíssima incursão pela história da literatura infantil brasileira serve para

contextualizar o percurso e desenvolvimento do livro para crianças e chegar nas últimas

décadas do século XX, momento em que o mercado editorial infantil, já consolidado, percebe

a faixa etária da primeiríssima infância, especialmente os bebês, como grande consumidor de

cultura literária em potencial. Para esse público, o tradicional objeto livro deixa de ser o limiar

do suporte-texto-ilustração e, por isso, novas obras, intituladas livro-objeto, livro-brinquedo e

outras nomenclaturas ganham espaço nos catálogos das editoras e vitrines de livrarias.

Livro-brinquedo forma também um nome agradável, em combinatória ao universo de

suportes que abarca. Livro enquanto expressão do pensamento humano é uma evolução

dirigida ao discurso e à permanência. A existência fundamental do livro na cultura lhe dota de

funções múltiplas: informar, entreter, documentar, registrar, repertoriar, reunir, contar,

registrar, mediar, autenticar, apresentar, ilustrar, resgatar, dentre outras. Mas, em consonância

com esta proximidade à palavra brinquedo, o que mais este suporte qualifica? A priori um

objeto tangível, que valida a relação com o prazer ou o lazer, pela ludicidade (PAIVA, 2013,

p.76).

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A preocupação entre a idade e o tipo de livro e literatura a ser ofertado ao bebê segue

rendendo estudos em várias vertentes. Eliane Debus, em seu livro Festaria de Brincança, faz

um panorama sobre a relação idade versus tipo de livro/literatura, com ênfase às crianças da

primeiríssima infância, e faz um comparativo com as pesquisas de outras estudiosas

brasileiras que discutem a divisão etária e literária das crianças nessa fase. Segundo Nelly

Novaes Coelho, escritora de diversos livros sobre literatura infantil, determina que o pré-leitor

é a criança entre 17 meses a três anos4 (DEBUS, 2006, p. 92). Já Glória Pondé5 considera a

adequação entre a obra e o leitor. Para o pré-leitor, o livro deve proporcionar o conhecimento

do mundo que o rodeia (Ibidem, p.93). Por fim, Therezinha Casasanta6 faz a conexão da idade

e adequação com o tipo de livro, ao referenciar que “a partir dos 10 meses aos dois anos os

livros devem ser à prova de brincadeiras (plástico, pano ou cartonado) e dos dois aos três

anos, a fase do aqui e agora, a criança é essencialmente egocêntrica, o que sugere histórias

que se relacionem com o seu mundo concreto” (Ibidem, p.94).

Mas como se chegou ao entendimento do que é o livro para bebês? O livros-objeto são

um recente resultado da tecnologia empregada no meio editorial? O Brasil possui esse tipo de

produção ou são obras importadas? Este estudo pretende responder tais questões nos capítulos

a seguir, para entender como o mercado editorial brasileiro chegou na situação de oferta atual,

assim como compreender como esses livros são produzidos.

2.2 As publicações voltadas para os bebês no Brasil

A partir do século XVIII aparecem os primeiros estudos de Johann Heinrich

Pestalozzi, que defende a utilização de livros e imagens para o desenvolvimento das crianças

desde os primeiros anos de vida. Nessa época também surgem os primeiros livros para

crianças no mercado livreiro (LAJOLO; ZILBERMAN, 1982), através do trabalho de John

Newbery, que inicia a edição de livros para criança, de forma que esses passam a integrar o

mercado editorial inglês (DARTON, 1982). No século XIX, Frederich Fröbel aprofunda a

pesquisa acerca da relação não só dos bebês com os livros, mas também a ligação desse com o

mediador de leitura (KUMBERLING-MEIBAUER, 2011).

Segundo os estudos de Piaget, durante o estágio sensório-motor, que ocorre por volta

dos dois primeiros anos de vida, os bebês se desenvolvem através dos sentidos e das

atividades motoras. Os recém-nascidos têm a sua atenção voltada para cores fortes e

4 A escritora Nelly Novaes Coelho trata do tema referenciado no livro Literatura Infantil. São Paulo, Ática,

1993, p.28.

5 Pondé, Glória. A Arte de Fazer Artes. Rio de Janeiro, Nórdica, 1985.

6 Casasanta, Therezinha. Livros Cedo ou Nunca. AMAE Educando, 1991, 222.9.

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contrastantes como o branco e o preto e padrões marcantes. A partir dos três meses, inicia-se a

fase oral e o desenvolvimento tátil, além da percepção do meio ambiente (MARTINS;

SILVA, 2016). Essas particularidades do desenvolvimento na fase inicial da vida do bebê

requerem especial atenção e, por isso, estímulos e objetos pensados exclusivamente para esse

público são exigidos. Apesar desse histórico, é apenas no século XX, já nas últimas décadas,

que o bebê é considerado pelo mercado editorial um consumidor de literatura em potencial,

ainda que esse necessite de um consumidor intermediário.

Considera-se que tal formação leitora se dá em meio à convivência em um mundo

visualmente complexo, marcado por uma oferta plural de imagens midiáticas e

artísticas e pela técnica como uma das possibilidades mais intensas de mediação

cultural. As crianças, mesmo as bem pequenas, ao recolherem amostras e fragmentos

de produtos inscritos na cultura visual de todos os lugares e contextos tendem a

colecioná-los e lê-los (GIROTTO; SILVA, 2007, p.13).

Para esse público, além dos livros tradicionais que trazem ilustrações e textos em um

suporte de papel, é oferecida uma gama de livros-objeto, como os livros-brinquedo (apesar de

nenhuma dessas nomenclaturas serem exatas em suas definições para os livros para bebês e,

por isso, esses objetos editoriais ainda não terem uma nomenclatura única, mas uma

adequação conforme a sua proposta). Esses variam em um sem número de formatos e recursos

que captam a atenção do bebê leitor e desperta a curiosidade e uso de múltiplos sentidos. Os

livros-objeto são conceituados por Ana Margarida Ramos como “experimentações de livros

móveis que solicitavam a interação do leitor para virar abas, destapar partes ocultas, puxar

tiras ou rodas círculos e que continham técnicas associadas à engenharia do papel” (RAMOS,

2017, p.13).

Ao fazer um panorama da história do livro-objeto, tem-se como primeiro exemplar a

obra Chronica Majora, de Matthew Paris, um monge beneditino de do século XIII. O livro

possuía um disco giratório, uma volvelle (MARTINS, 2017, p.27).

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Imagem 7. Chronica Majora, de Matthew Paris, século XIII

A partir do século XVI, são publicados livros que possuem abas coladas às folhas, que

ao serem levantadas, revelam ilustrações. Esse recurso era especialmente usado para ilustrar

livros de anatomia, e as abas eram utilizadas como um recurso para cobrir as partes íntimas.

Já no século XVIII, um novo livro-objeto ganha popularidade. São os livros turn-up, ou

metamorphoses books, que também são conhecidos por Harlequinades. Tal nome faz

referência ao personagem Arlequim, e a primeira versão impressa desse tipo de livro-objeto

data de 1765, obra que sai das mãos de Robert Sayer (MARTINS, 2017, p.27).

Imagem 8. Harlequinades de 1776 e 1790

No início do século XIX, são publicados na Inglaterra os chamados paper doll books,

livros com bonecas de papel para que essas possam receber diferentes trajes. A editora

londrina S. & J. Fuller criou, em 1810, um formato móvel e inovador de bonecas de papel,

The history of little Fanny. Com o sucesso da publicação, posteriormente foi lançada também

uma versão do livro-brinquedo para meninos, The history of little Henry. A partir de então,

outras editoras passaram a publicar edições com diferentes tipos de bonecas de papel.

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Imagem 9. The history of little Fanny, da editor S. & J. Fuller (imagens da Osborne

Collection)

É nessa mesma época que os livros-objeto passam a ser produzidos em maior

quantidade para o público infantil, através das obras da editora Dean & Son, que publica mais

de 70 livros que possuem diferentes recursos e mecanismos. Surge, assim, o termo toy book

(Ibidem, p.28). Nesse século, novas nomenclaturas e trabalhos arquitetônicos de papel surgem

pela Europa, principalmente na França, Alemanha e Inglaterra. O primeiro livro de banho

surge na França em 1821, chamado The Toilet, e era destinado às meninas. Com o sucesso da

obra, o autor, William Grimaldi, trabalha em uma obra similar para meninos, que é então

publicada em 1824 com o título A Suit of Armour for Youth (MARTINS; SILVA, 2016, p.68).

Na Checoslováquia, o austríaco Vojteck Kubasta foi um importante expoente desses trabalhos

com papel, como os livros peep-show7.

Imagem 10. O Thames Tunnel Peep Show, de 1847

Mas é no século XX que os livro-objeto ganham força no mercado editorial mundial,

especialmente as obras voltadas ao público infantil. Em 1929, dá-se início a uma nova série de

livros interativos. Os livros pop-up surgem como uma forte tendência do mercado editorial:

“Dentro dum livro comum, eram introduzidas folhas ocultamente estruturadas de tal modo

que, a dado momento do ato de folheá-lo, saltavam - precisamente, pop-up - figuras ilustradas

a cores do meio das páginas escritas em tipo, que se recolhiam ao virar de páginas seguinte”8.

7 Informações retiradas do artigo sobre a exposição de livros pop-up na Biblioteca Nacional portuguesa. O

artigo e imagens podem ser verificados no endereço https://observador.pt/2016/05/24/pop-up-ha-livros-de-saltos-

altos-na-biblioteca-nacional/. Acesso em 03/08/2018.

8 Excerto do artigo que referencia a exposição de livros pop-up na Biblioteca Nacional portuguesa, que pode ser

encontrado no endereço https://observador.pt/2016/05/24/pop-up-ha-livros-de-saltos-altos-na-biblioteca-

nacional/. Acesso em 03/08/2018.

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Imagem 11. Pinocchio, de Harold Lentz, foi lançado em Nova Iorque pela Blue

Ribbon Books (1932).

A pluralidade de linguagens aqui demonstradas e muitas outras que existem no

mercado, além da função estética, participam efetivamente da fruição da leitura e de uma

ressignificação do que é, efetivamente, o objeto livro infantil. Como cita Guto Lins, “essa

linguagem visual utilizada no livro infantil moderno, exercida de forma lúdica ou não, está se

estabelecendo como mais uma ferramenta a favor do livro, já que aumenta sua quantidade de

informação e possibilidades de leitura, aumentando o interesse e, consequentemente, o

consumo de livros de maneira geral” (2004, p.47).

Pelos seus recursos não-tradicionais e pela diversidade de sentidos que os livros-

objeto instigam, esse tipo de obra foi, com o passar do tempo, sendo, aos olhos das editoras, o

melhor tipo de livro destinado aos bebês, o que fez com que a oferta dessas publicações

aumentasse significativamente em termos de quantidade e qualidade.

Além do objetivo de contar histórias, os formatos inusitados dos livros induzem a

criança a manusear, sentir, ter um melhor contato com o objeto livro. Assim, a criança vai se

familiarizando com a leitura desde cedo. E esta leitura a que me refiro, não necessita ser uma

leitura de uma página escrita, afinal, as imagens também comunicam. (HOFFMANN, 2012, p.

56).

Elisabeth Romani aponta que “a expansão dessas publicações, em termos qualitativos

e quantitativos, deve-se aos investimentos associados às recentes tecnologias” (2011, p.13), e

que “o livro-objeto é importante para incentivar o contato físico com o livro” (2011, p.135).

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A caracterização do livro ideal destinado ao chamado pré-leitor (COELHO, 1995) e

sua forma gráfica é assunto polêmico frente aos profissionais da área editorial, que divergem

entre a aceitação da oferta comercial dos livros-brinquedo e o conservadorismo da preferência

pelo livro tradicional de literatura direcionado à faixa etária. Como um reflexo da demanda,

no entanto, cada vez mais editoras têm acrescentado ao seu catálogo livros destinados aos

bebês em seus formatos mais variados, visando atender essa procura e também fomentando

esse subgênero que está em crescente ascensão:

Decorrente dos desenvolvimentos tecnológicos recentes em termos editoriais e

gráficos e do contributo de um conjunto de novas vozes de visível qualidade artística,

que têm vindo a renovar o universo da edição literária preferencialmente dedicada aos

mais novos, bem como pelo nascimento de várias editoras exclusiva e/ou

preferencialmente dedicadas à publicação de obras destinadas a crianças, o livro

infantil aufere, atualmente, de uma dimensão de brinquedo e de obra de arte de grande

elaboração estilística, potenciando diversas e novas utilizações a que educadores e

mediadores de leitura – pais, professores, animadores, bibliotecários – terão de dar

cada vez mais atenção (RAMOS, 2007, p.257).

Segundo Alisson G. Kaplan, que se interessa pela história dos livros-brinquedo para a

primeiríssima infância, “the period from about 1920 to about 1950 is a very exciting time. It

was then that publishing early literacy books for the very young child virtually exploded”

(2012, p.43). No entanto, foram as décadas finais do século XX que se mostraram de suma

importância para a evolução do mercado editorial infantil brasileiro. Conforme o estudo de

Lidiane Brito, “se a década de 1980 foi de descobertas e aumento de volume de títulos e

exemplares, a de 1990 pode ser considerada um período de depuração de qualidade e tentativa

de profissionalização do setor” (BRITO, 2007, p.36). O SNEL, Sindicato Nacional dos

Editores de Livros, possui números estatísticos acerca da produção de livros no Brasil. Ao

destacar a produção específica de livros de literatura infantil do século XXI, especialmente a

partir de 2010, tem-se os dados abaixo:

Produção de

livros de literatura

infantil no Brasil

Total de livros

infantis produzidos

Participação (%) Total de livros

produzidos no ano

2010 26.500.726 5,38 492.579.092

2011 17.431.415 3,49 499.796.288

2012 32.030.337 6,58 485.261.331

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2013 39.269.715 8,39 467.835.900

2014 37.259.612 7,43 501.371.513

2015 12.499.466 2,80 446.848.571

2016 16.621.398 3,89 427.188.093

Imagem 12. Fonte: SNEL9.

É importante destacar que os números acima são apenas de livros de literatura infantil,

sendo que livros de literatura juvenil e didáticos possuem dados próprios, portanto, as obras

voltadas aos bebês inserem-se nos dados acima apresentados. Apesar de oscilantes, os

números que exprimem a produção dos livros infantis no Brasil mostram que essa parcela do

mercado editorial tem grande relevância, sabendo-se que, de toda a produção editorial

brasileira, mais da metade seja voltada para os livros didáticos.

Ao falar especificamente dos livros para bebês, apesar de não haver estatísticas

exclusivas dos livros destinados à primeiríssima infância, é notável a partir da virada do

século o aumento do número de editoras que se começaram a se dedicar às publicações para

tal público e, com isso, também o número de títulos voltados aos bebês no mercado, afinal,

como cita Guto Lins, “O mundo muda, a moda muda, tudo muda. A criança de hoje pensa, lê

e vê o mundo de uma forma diferente. Da mesma maneira, o livro, enquanto produto

dinâmico, tem que se atualizar constantemente” (2004, p.36). Apesar do aumento das obras,

nem todas são consideradas de qualidade aos olhos da crítica. Para ser reconhecida como um

bom livro, a obra depende de algumas variáveis, algumas comuns aos livros para as demais

faixas etárias, outras específicas desse filão. Peter Hunt trata sobre esse assunto em seu livro

Crítica, teoria e literatura infantil e afirma que:

Dessa maneira, não pode haver uma definição única de “literatura infantil”. O que se

considera um “bom” livro pode sê-lo no sentido prescrito pela corrente literária/acadêmica

dominante; “bom” em termos de eficácia para educação, aquisição de linguagem,

socialização/aculturação ou para o entretenimento de uma determinada criança ou grupo de

crianças em circunstâncias específicas; ou “bom” em algum sentido moral, religioso ou

político; ou ainda em um sentido terapêutico. “Bom”, como uma aplicação abstrata, e “bom

para”, como uma aplicação prática, estão em constante conflito nas resenhas sobre a literatura

infantil (2010, p.54).

9 Os dados que compõem a tabela podem ser encontrados no site da SNEL, no endereço

https://www.snel.org.br/dados-do-setor/producao-e-vendas-do-setor-editorial-brasileiro/.

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Essas questões são levantadas devido as muitas perspectivas avaliadas em um livro

para crianças; especialmente em um livro para bebês. Segundo Van der Linden (2011, p.8), o

livro infantil evoca duas linguagens: texto e imagem. E a imagem, no livro para bebê, é mais

do que um desenho: é uma representação concreta de um objeto, uma paisagem ou um ser

representado em um suporte concreto que cabe nas mãos descobridoras. Além disso, nesse

tipo de obra, um terceiro item é evocado para chamar a atenção desse leitor especial: o próprio

suporte, já que o objeto em si desperta interesse e interatividade. Esse pensamento corrobora

com o que ressalta Eliane Debus em seu livro Festaria de Brincança: “a criança faz sua

primeira leitura pelo contato com os elementos físicos constitutivos do livro: o tipo de papel, a

textura, o volume, a extensão do número de páginas, o colorido das ilustrações etc. (...) a

criança tem a oportunidade de manter uma relação palpável com um objeto que se identifica

com a estrutura física do livro” (2006, p.36). Aqui, o texto pode ou não ter uma fruição, já que

a narrativa, dependendo do tempo de vida do bebê, pode ainda não ser compreendida. Como

disse Bartolomeu Campos de Queirós (2005), “Não existe texto literário sem qualidade.

Existem textos que não são literários.” Cássia Bittens, em sua dissertação sobre livros para

bebês (2018, p.55), ilustra a relação dos critérios norteadores à análise do livro endereçado à

primeiríssima infância, conforme a figura a seguir:

Imagem 13. Representação da fruição narrativa

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É a tríade que une todas as funções e que juntas correspondem a uma edição de

qualidade, no que tange à atenção sobre os sentidos do bebê e a sua percepção do livro como

um objeto completo que estimula a visão, a audição e o tato (sinestesia).

Sobre a produção de livros para bebês no Brasil, Dolores Prades, para o site

Publishnews10, disse que esses livros são “até certo ponto “novos” no nosso mercado, no que

se refere à diversidade da oferta, mas uma velha tradição em muitos países. Normalmente são

livros que exigem uma produção mais sofisticada, ou pelo papel cartão, ou pelas facas e

recortes, ou pelas texturas, ou pelo produto do qual é feito etc. Tudo isto tem um custo e exige

um parque gráfico que, para que muitos destes produtos sejam viáveis comercialmente,

devem ser fabricados em países como a China e Singapura”. Seguindo o pensamento de

Prades, os livros para bebês são cada vez mais editados no Brasil, mas impressos em países

asiáticos, especialmente na China. Isso se dá porque, apesar da distância física, a China

propõe valores muito tentadores às editoras brasileiras com relação às taxas e impostos.

Conforme levantamento do jornal o Globo11 em 2013, os livros eram impressos naquele país

oriental por um valor 50% menor do que no Brasil. Isso refletiu uma demanda de 13,5

toneladas de livros importados da China em 2013, duas mil toneladas a mais do que em 2011.

Para se ter um comparativo, o total supera em quatro vezes o total de livros que chegaram ao

Brasil importados de toda a Europa. Apesar da alta do dólar refletir diretamente nos valores e

nas transações de importação, o negócio continua sendo extremamente vantajoso para as

editoras brasileiras, sejam essas de pequeno, médio ou grande porte. Além do valor, a

qualidade do papel chinês e o ajuste de cores na impressão também são destacados pelos

editores brasileiros, que se mostram satisfeitos com os resultados dos livros recebidos. No que

toca aos livros-brinquedo, ainda que esses não usem papel em sua composição gráfica, o

plástico, o tecido ou qualquer que seja a escolha gráfica também é bem atendida pela China.

Ainda segundo a matéria do jornal O Globo, a desvantagem de se encaminhar as obras para

impressão em território chinês é, obviamente, a distância, que se reflete no tempo para

recebimento dos livros no Brasil. Como as obras vêm por via marítima, o prazo estimado de

entrega é de até 120 dias, o que exige um planejamento estratégico por parte das editoras com

relação ao lançamento dos livros e distribuição para venda. Até por essas facilidades

10 Texto disponível em http://www.publishnews.com.br/materias/2012/09/10/70146-uma-biblioteca-na-

primeira-infancia. Acesso em 02/07/2018.

11 A matéria pode ser conferida no endereço https://oglobo.globo.com/cultura/com-precos-ate-50-menores-do-

que-no-brasil-graficas-chinesas-seduzem-editoras-nacionais-8444947, e também foi discutida e disponibilizada

na íntegra pelo site da Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares) no endereço

http://www.abrelivros.org.br/home/index.php/noticias/4337-com-precos-ate-50-menores-do-que-no-brasil-

graficas-chinesas-seduzem-editoras-nacionais. Acesso em 30/08/2018.

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apresentadas, a quantidade de editoras que produzem esse tipo de livro vem aumentando

significativamente no Brasil. No entanto, é difícil precisar o número exato, já que, no Brasil,

há editoras que utilizam recursos extremamente artesanais para a edição dos livros e, por isso,

publicam obras com tiragens pequenas, que atendem a um público específico, muitas vezes já

fiel daquele tipo de trabalho. Apesar disso, ao comparar os catálogos de editoras de maior

visibilidade, pode-se verificar como essas empresas têm voltado o olhar para o filão de

consumidores de até três anos. Dentre as 28 editoras participantes do Salão Nacional do Livro

Infantil e Juvenil 2018, principal evento específico de literatura infantojuvenil do Brasil, 20

possuem livros para bebês em seus catálogos12.

Apesar de alguns estudiosos defenderem que a classificação dos livros por faixa etária

é inconsistente, visto que as diferenças entre atrasos ou avanços individuais devem ser

levados em conta, assim como o contexto social e de ambiente de aprendizado (SILVA;

BERTOLETTI, 2010), os catálogos das editoras utilizam a idade para classificar os títulos. Os

livros para bebês são indicados para crianças de 0 a 3 anos. Como exemplos de editoras que

produzem livros para bebês, para que se possa ser compreendido essa relação custo x

benefício, a busca por inovações do segmento e, assim, a conquista e reconhecimento da

crítica e público leitor, serão analisados as propostas e os catálogos da Bamboozinho

Editorial, Ciranda Cultural, Editora Girassol e Editora e Distribuidora Vale das Letras.

2.3 Análise dos catálogos

Um bom catálogo vai muito além de divulgar os títulos que elenca: além de envolver,

maquiar e marcar o produto que anuncia, o catálogo acaba construindo uma das imagens pela

qual seu produto fica conhecido. Ou seja, no caso dos livros, as informações que o catálogo

fornece a respeito das obras que constam transformam-se, quando o usuário do catálogo

transforma-se em leitor do livro, nas categorias que prioritariamente o leitor procurará e (com

grande chance) encontrará no livro (LAJOLO, 2002, p.29).

Com a ampla concorrência entre as editoras, cada vez mais essas empresas buscam

uma proximidade com o consumidor, para que esse, antes de chegar efetivamente a livraria ou

outro espaço de compra, já conheça o que a editora oferece e em quê esse produto se

diferencia. Para isso, alia-se a tecnologia para criar canais de comunicação e publicidade.

12 O evento aconteceu no Rio de Janeiro durante o mês de junho de 2018. A lista de editoras participantes pode

ser conferida no endereço https://salaofnlij2018.wordpress.com/2018/04/20/lista-das-editoras-participantes/, e os

catálogos no site oficial de cada editora.

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Páginas de redes sociais, como Facebook e Instagram, disponibilidade de partes do texto,

imagens e catálogos completos em plataformas como o Issuu, além da criação de blogs

paralelos aos sites oficiais para tratar de temas relacionados com os seus livros, fazem com

que o público leitor se aproxime não só do produto final, mas também da editora e de seu

catálogo de forma mais ampla. Essas práticas são cada vez mais comuns entre as editoras

brasileiras, principalmente as que voltam os seus trabalhos para a produção para bebês e

crianças, já que precisam se aproximar também dos cuidadores e responsáveis pelos pequenos

consumidores. Além disso, para uma aproximação visual de forma rápida e acessível, muitas

editoras também têm disponibilizado os chamados book trailers em canais de comunicação,

vídeos esses que fazem alusão aos trailers de filmes e que demonstram partes do livro através

de uma animação.

Imagem 14. Book trailer de Monstros do cinema13, da editora SESI14.

Para representar a produção editorial brasileira voltada para bebês, foi feita uma

análise de catálogos online de diversas editoras. Dentre essas, quatro foram selecionadas para

aqui representar esse filão do mercado, e a escolha foi feita com base na qualidade gráfica,

pelo reconhecimento dentro do setor ou pela quantidade de livros para bebês, visto que, das

quatro, nenhuma produz livros exclusivamente voltados para leitores da primeiríssima

infância. São elas: Bamboozinho, Ciranda Cultural, Girassol e Vale das Letras.

13 Essa obra foi a ganhadora do prêmio FNLIJ na categoria livro brinquedo e será referenciada adiante. 14 O vídeo pode ser conferido no endereço

https://www.youtube.com/watch?time_continue=62&v=MQ9pP7heauw. Acesso em 11/10/2018.

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Com exceção da Bamboozinho, as outras três editoras aqui referenciadas possuem em

seus catálogos livros licenciados, ou seja, obras que retratam enredos com personagens já

conhecidos pelas crianças através de outros canais de comunicação, como filmes, desenhos

animados ou vídeos musicais. Esse tipo de produto é um atrativo que capta a atenção dos pais,

que confiam nas publicações por acreditarem que, devido a representação de personagens

famosos, os livros sejam de qualidade. Além disso, os bebês maiores também já fazem um

reconhecimento da figura conhecida, o que faz com que esse receba o livro como um objeto

para o qual dará maior atenção.

A atribuição de valores a um produto pode significar uma fidelização de compra, uma

vez que a experiência de consumo seja satisfatória. Essa fidelização dá maior

segurança à empresa fabricante, já que se torna mais fácil presumir a demanda exigida

pelo mercado e dificulta-se o acesso de outras marcas no mercado em que ela se

encaixa. Além disso, consumidores fiéis se tornam mais dispostos a pagar um preço

mais alto pelo produto”(SALBEGO, 2015, p.36-37).

Kotler e Keller afirmam que esse valor mais alto varia entre 20% a 25% (2012, p.258),

o que certamente é um diferencial para que as editoras optem por ter essas obras em seus

catálogos. Além do valor monetário, a associação do nome da editora aquele personagem ou

marca também é uma interessante mais-valia, já que a editora também passa a ser vista como

sinônimo da mesma qualidade e prestígio dos seus produtos licenciados. Por fim, ter essas

obras em seus catálogos trazem mais visibilidade às outras obras editadas pelas editoras.

A seguir, serão apresentados os dados e catálogos das quatro editoras aqui

apresentadas como exemplos de empresas que publicam livros para bebês.

A Girassol Brasil é uma editora fundada em 2000. Com sede em São Paulo, tem como

objetivo “levar a crianças e jovens leitores livros com altíssima qualidade editorial e gráfica,

que pudessem despertar o interesse pela leitura, além de também proporcionar momentos de

diversão”15. Além disso, de acordo com o site da editora, a Girassol contabiliza mais de 3000

publicações entre obras educativas e interativas, como contos de fadas, fábulas, literatura

infantil e de estudo e pesquisa. A diversidade de acabamentos e recursos também está

presente no catálogo, que conta com livros pop-up, com abas, som e cheiro. No filtro pré-

leitor há 49 títulos disponíveis. Na aba “presenteie” do site, há a opção 0 a 2 anos, na qual

constam 73 resultados. Dentre esses, são sete de banho, um com cheiro, cinco sonoros e

alguns livros cartonados. Dentre os títulos, muitos são adaptações de clássicos de Perrault, dos

15 Excerto retirado do site da editora, que pode ser consultado no endereço

http://lojagirassolbrasil.com.br/girassol/info/Quem-Somos.aspx. Acesso em 31/07/2018.

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irmãos Grimm, de Andersen e de fábulas. Quanto a produtos licenciados, a editora é

responsável pelo lançamento dos livros da Turma da Mônica e da Disney.

Imagem 15. Um conto para cada noite: 7 noites, 7 contos e É Hora de

Descobrir: Princesinha Sofia - Bem-vinda a Encântia ( livros cartonados)

A Editora Vale das Letras é uma empresa de Blumenau, Santa Catarina, fundada em

2002. Também distribuidora, conta com mais de 1000 títulos em seu catálogo, que é

exclusivamente voltado ao público infantojuvenil. Segundo o site da editora, a Vale das Letras

possui o objetivo de “minimizar a elitização do livro infantil para que o máximo de famílias

possam ter contato com este vasto universo de alegria e conhecimento”, além de

“comercializar seus livros a preços acessíveis, sem abrir mão de um conteúdo rico e

consistente”16. Dentre as obras publicadas para crianças de 0 a 2 anos, a editora possui 21

títulos no filtro pano e banho, quatro sonoros, e obras cartonadas com diferentes formatos,

totalizando 49 títulos para esse público. A Vale das Letras edita livros de vários personagens

licenciados, como Bob Esponja, As Meninas Superpoderosas, Bubble Guppies, Snoopy e

Angry Birds.

16 Texto extraído do site da Editora Vale das Letras, que pode ser encontrado no endereço

http://www.valedasletras.com.br/index.php?route=information/information&information_id=4. Acesso em

31/07/2018.

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Imagem 16. Livro-fantoche Andry Birds: Red ao resgate! e livro quebra-cabeças

Bubble Guppies.

A Editora Ciranda Cultural foi fundada há mais de 15 anos e também possui sede em

São Paulo. Com um catálogo de mais de 4000 títulos, a editora “trabalha para ser a melhor

editora de livros infantojuvenis do Brasil, trazendo inovações ao público, atendendo a

diferentes mercados e levando seus produtos aos mais distantes pontos do mundo”17. Segundo

as informações do site, a Ciranda Cultural produz livros para crianças e jovens de todas as

idades, além de possuir publicações para professores, cuidadores e adultos em geral. Dentre a

faixa etária de interesse para este trabalho, a editora possui três filtros que se enquadram na

pesquisa: para bebês a partir de quatro meses, foram encontrados 69 títulos, 79 livros para

crianças a partir de 2 anos e 97 no filtro a partir de 3 anos. Dentre as obras, também são

encontradas publicações de pano, banho, cartonadas e sonoras. A Ciranda Cultural também

trabalha com edições de personagens de desenhos animados conhecidos. Dentre os seus

produtos licenciados, figuram livros da Patrulha Canina, O Show da Luna, Barbie, Patati

Patatá, Ben 10, Hot Wheels, Bob Esponja, As Meninas Super Poderosas, Snoopy e Dora, a

Aventureira.

Imagem 17. Dora, a Aventureira: vamos navegar e Bob Esponja: um dia na praia

(livros de banho).

A Bamboozinho Editorial é uma editora paulista que tem como proposta produzir

livros de qualidade para pequenos leitores e, dentro desse targeting, também livros

específicos para bebês. O objetivo da Bamboozinho, contudo, não é apenas criar livros-

brinquedo como os que se encontram nas grandes livrarias, mas obras que representem o

formato tradicional do livro impresso, com capa e páginas, e que esses sejam reconhecidos

17 Texto extraído do site da Editora Ciranda Cultural, que pode ser encontrado no endereço

https://www.cirandacultural.com.br/quem-somos. Acesso em 03/08/2018.

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pela sua qualidade de texto, ilustrações e edição. O esforço da editora para produzir um livro

em formato tradicional para bebês não é um conservadorismo, mas uma forma de o bebê ter a

consciência daquilo que tem nas mãos desde o primeiro contato com o objeto, reconhecer o

livro como suporte e não o confundir com outro brinquedo qualquer. Apesar de ser uma

empresa de pequeno porte e ter em seu catálogo apenas cinco livros destinados aos bebês, a

escolha pela editora deve-se por dois pontos de destaque com relação às demais editoras: os

livros são exclusivamente escritos e ilustrados por brasileiros, além de serem impressos no

Brasil, e por um recurso tecnológico que alia o livro em seu suporte físico com um aplicativo

que traz sons e informações adicionais às do livro, e que pode ser baixado em qualquer

aparelho móvel18.

Imagem 18. 100 primeiras palavras, livro com QR code para utilização aliada ao

aplicativo

A tipologia e as características dos livros para bebês publicados pelas editoras serão

analisadas no capítulo seguinte, visto que as empresas seguem as tendências do mercado

nacional e internacional em suas publicações. Além de um relato acerca da criação e conceito

de cada formato, serão apresentadas imagens de livros das quatro editoras que ilustrem o que

cada tipo de suporte oferece, bem como as suas particularidades de concepção e design.

18 As informações referentes à editora Bamboozinho foram obtidas através de uma entrevista feita com a

fundadora, escritora e editora Aloma Carvalho em 07/2018.

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3. Tipologia de livros para bebês

O mercado editorial voltado para a primeiríssima infância possui uma quantidade cada

vez mais expressiva de títulos, plurais em suas formas, tamanhos, materiais e recursos para

chamar a atenção dos bebês e também, obviamente, dos pais e compradores de tais obras: “O

mercado editorial, ao perceber que essa literatura é extremamente lucrativa, tenta adequar-se a

um novo perfil de leitor, seja na temática envolvida, seja no projeto gráfico, seja nos catálogos

extremamente sedutores, seja no agenciamento de instituições voltadas à literatura”

(GUERRA, 2015, p.110). Neste capítulo, serão analisadas as características que distinguem os

livros para bebês das obras destinadas às outras faixas etárias, com atenção especial aos

chamados livre jeu, quiet books ou livros sensoriais, que possuem a função de não somente de

aproximar o pré-leitor do objeto livro, mas também de estimular os sentidos. Para tal, serão

consideradas as tipologias de livros para bebês mais comuns no mercado atual, considerando

a sua relação com a faixa etária em questão e as suas especificidades. São elas: livros

cartonados, livros de banho, livros de pano, livros com fantoches (dedoches e similares),

livros pop-up, livros sonoros, livros toque e sinta, livros com abas, livros sanfonados e livros

de imagem. Muitos títulos podem trazer mais de uma característica tipológica aqui referida,

combinando aspectos de diferentes tipologias, no entanto, foi decidido separar cada

particularidade, de modo que possa ser percebida a função desse aspecto relativamente ao

desenvolvimento e entretenimento do bebê. Nesse ponto, também é importante ressaltar que o

design do livro deve ser totalmente pensado de acordo com a fase do desenvolvimento que o

bebê se encontra e como o livro pode interagir com a criança em todos os sentidos, visto que

bebês de quatro meses, por exemplo, devem ser encarados como um público-alvo, enquanto

uma criança de dois anos já pertence a outro targeting.

O processo editorial de um livro para bebê é um trabalho segmentado e diverge em

muitos aspectos da edição de um livro para adultos, e até mesmo de um livro infantil voltado

para crianças maiores. No que tange à editora, a empresa deve realizar um estudo e pensar

meticulosamente sobre pontos importantes como a quem o livro se destina efetivamente, se o

material é seguro e leve, se o projeto é viável pela relação custo versus benefício, onde o livro

será impresso (visto que não são muitas gráficas que possuem facas de cortes específicas,

além de ser um processo mais caro), tempo de produção, entre outros aspectos importantes.

Devido ao segmento editorial de livros para bebês estar se expandindo em tamanho e

pluralidade de obras, novas tecnologias e materiais também têm sido empregados para a

concepção das obras, para que a segurança do bebê e a resistência do livro sejam prioridades.

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Por isso, já é comum vermos livros que possuem um formato tradicional, para

reconhecimento do objeto e leitura mediada, mas que são produzidos em materiais

diferenciados. Um exemplo é a produção de livros com páginas feitas de plástico e material

similares, o que os torna mais resistentes à água (e saliva) e não rasgam. É o caso da coleção

Nonô, que possui livros com capa dura e cantos arredondados, páginas plastificadas,

ilustrações coloridas e texto curto, mas bem distribuído ao longo das páginas. Na capa dos

livros há um selo informativo de que as obras são “à prova de bebês”, e as obras foram

selecionadas para o Plano Nacional de Leitura de Portugal, o Ler+, na categoria zero a dois

anos.

Imagem 19. Nonô no infantário, da editora Booksmile

Os livros chamados Indestrutíveis, da editora Workman, são outros exemplos de livros

pensados para bebês e produzidos com um material diferenciado. A capa e o miolo são

impressos em um material sintético, feitos de fibra de polietileno de alta densidade, o que

deixa o livro maleável e com páginas finas, porém impermeáveis e resistentes19.

19

Informações no site da editora, disponíveis no endereço http://indestructiblesinc.com/faq/#made-of.

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Imagem 20. Love you baby, da editora Workman

O cuidado na concepção dos livros deve ser partilhado por todos os atores da produção

das obras. Ao autor cabe pensar no texto como uma narrativa simples, de fácil assimilação, e

que faça sentido ao universo do bebê. Pode parecer fácil, mas é comum livros para bebês que

possuem ilustrações de objetos que não fazem parte do cotidiano da criança e que lhe são

apresentadas de modo displicente e sem conexão, e esse problema é ainda mais comum no

caso de traduções.

O ilustrador tem liberdade de criação, mas estudos de cores e ilustrações que

conversem com o texto são essenciais não só para um efeito estético mais interessante, mas

também para o discernimento da criança com relação aquilo que as imagens representam e

têm a oferecer. Maria Carmem Batista Bahia, em sua dissertação de mestrado, analisa, através

de outros estudos, a função da imagem ilustrativa no livro infantil. Dentre os seus

argumentos, a função estética é a que mais se destaca quando a obra em consideração é um

livro para bebê:

Trabalha com os elementos puros da própria obra, buscando uma qualidade interna.

Chama-nos atenção nas ilustrações, a organização dos elementos da linguagem visual

como luz, cor, transparência, textura, massa, proporção, volume, dimensão entre

outras. Preocupa-se com a organização do espaço, tomando possível a seleção e

ordenação lógica dos elementos visuais. Busca a síntese e a temporalidade. (BAHIA,

1995, p.45).

A ilustração também pode ser um artifício de interatividade mesmo que esteja em um

livro de formato tradicional. O movimento que a imagem retrata, juntamente com a mediação

do adulto aliada à imaginação da criança, pode criar imagens móveis mesmo em uma página

de papel.

Imagem 21. Este livro comeu o meu cão!, da Panda Books

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O designer possui a função de harmonizar os trabalhos do autor e do ilustrador de

forma a que o texto possua fruição e representatividade juntamente com a ilustração. Além

disso, questões estéticas como a tipografia escolhida, para dar maior legibilidade e

leiturabilidade (LOURENÇO, 2011), devido a miscigenação das letras com as imagens, assim

como o espaço vazio esculpido entre elas (BRINGHURST, 2005), também é um ponto que

deve ser observado, pois o mediador deve se sentir confortável com a leitura para que possa

transmitir o texto com clareza. A paginação, a mancha gráfica e a escolha de imagens

sangradas (ou não) também contribuem significativamente para a ergonomia da leitura por

parte do mediador. Dessa forma, cada detalhe é importante para compor um livro de

qualidade pensado para o bebê, e essas características serão levadas em conta em cada

tipologia, conforme os tópicos a seguir.

3.1 Caracterização editorial e fases de produção

Os livros tradicionais, em geral, seguem uma estrutura parecida, que já se consolidou

como uso comum. As divisões que compõem uma produção editorial padronizada, de acordo

com Guto Lins (2004), são:

a) Capa: a primeira capa possui, geralmente, o nome da obra, do autor, a marca

da editora e pode conter uma ilustração. Já a quarta capa contém um pequeno resumo da obra,

da coleção em que se está inserida (se for o caso), o logo da editora e o código de barras. As

segunda e terceira capas podem ser totalmente brancas ou terem alguma padronagem.

b) Guarda: as guardas possuem a função de prender a encadernação dos livros em

formato de brochura à capa. Podem ser lisas ou conter alguma padronagem.

c) Folha de Rosto: possui poucas informações, geralmente, as mesmas da capa.

d) Dedicatória: composta por um texto curto e pessoal do autor, escrito em folha

separada.

e) Miolo: folhas de composição do livro, que contêm a narrativa.

f) Folha de créditos: pode vir no início ou no final do livro. Contém a ficha

catalográfica e dados bibliográficos.

g) Cólofon: Pequeno texto explicativo sobre a composição gráfica e onde o livro

foi impresso.

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No entanto, essa padronização não diz respeito aos livros destinados aos bebês,

especialmente aos livros-brinquedo. Como cita Cecília Meireles em seu livro Problemas da

literatura infantil, “mais do que uma ‘Literatura Infantil', existem ‘Livros para crianças'.

Classificá-los dentro da Literatura Geral é tarefa extremamente árdua, pois muitos deles não

possuem, na verdade, atributos literários, a não ser os de simplesmente estarem escritos. ”

(1964, p.20). É óbvio que, nessa época, a autora ainda não falava dos livros específicos para

bebês, mas tal informação cabe muito bem no tema aqui proposto. Apesar de um livro de

literatura poder ser lido a uma criança de qualquer idade, mesmo a um recém-nascido, o

interesse desse capítulo será explorar especialmente os livro-objeto, ou livros-brinquedo, os

quais são pensados e editados especialmente para esse público-alvo. Por esse motivo, serão

aqui destacados os 10 principais tipos de livros destinados aos bebês. Para corroborar com o

exposto, serão inseridas informações acerca de cada tipologia e do processo de produção

editorial de tais obras, as quais foram compiladas em um questionário, que se apresenta em

anexo, enviado para as editoras Bamboozinho, Ciranda Cultural, Girassol e Vale das Letras.

Cabe aos criadores (ilustração, texto e projeto gráfico) do livro estarem sempre

atualizados e bem informados. Cada livro “pede” uma solução específica, da mesma forma

que uma história nunca é igual à outra. O livro, como produto de comunicação de uma

sociedade plural, encontra diversas formas e suportes para se expressar. O tempo do livrinho

exclusivamente bonitinho, bem desenhadinho e bem escritinho, já era (LINS, 2004, p.36).

Os livros para bebês podem ser explorados, academicamente, em dois aspectos

distintos, mas que se complementam: a sua forma e função (LINS, 2004), ou a dualidade entre

concepção e estética (PERROTTI, 1986). No campo da literatura infantil, as obras são

classificadas em dois macro grupos: os livros de concepção utilitária e os de concepção

estética. Sendo os livros utilitários os que têm por finalidade instruir, como os didáticos e as

obras de boas maneiras e lições de moral, tão recorrentes até a primeira metade do século XX,

os livros de maior qualidade estética surgem apenas no fim da década de 1960.

Os livros para bebês figuram nessa categoria, já que o objeto livro por si só já é um

objeto de apreciação estética por parte de seu leitor, ainda que seja apenas um leitor olhante.

As imagens e o texto, ainda que fragmentado apenas em palavras de representação figura-

significado, também contribuem para a concepção desse tipo de obra específica, tornando o

chamado livro-objeto um objeto livro único. Acerca da concepção estética, Edmir Perrotti

trata do assunto em seu livro O texto sedutor na literatura infantil, quando fala que “em

contraponto ao discurso utilitário, que se orienta por razões externas ao discurso, o discurso

estético se orienta por critérios internos ao texto, tais como: “autonomia”, “autorregulação”,

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“coerência interna”, “organicidade” (PERROTTI, 1986, p.15). Ao transpor tal conceito para a

concepção de livros para bebês, a autonomia se dá pela liberdade de criação do objeto, ou,

ainda, pela recriação do livro, ao transformá-lo em um suporte portador de conhecimento e

descoberta coerente ao desenvolvimento dinâmico de seu leitor. Perrotti pondera que, ainda

que se trate de uma obra que não em um caráter utilitário em sua concepção, é difícil fugir de

tal condição, pois o leitor pode assim fazer uso dele. Desse modo, ainda que seja uma obra de

cariz estético, a interpretação do leitor acerca dela pode desvelar um aprendizado ou um uso

específico. Essa ideia condiz com o conceito de outro intelectual que se debruçou nos estudos

da literatura e dos textos literários. Em Obra Aberta, Umberto Eco (1962) deixa para o leitor a

função de compreender a obra, com base em seu conhecimento de mundo, experiências e

expectativas. Ao analisar a relação do bebê com o seu livro, é correto afirmar que essa fruição

se dá de acordo com a expectativa desse leitor e, quanto ao conhecimento de mundo, esse será

construído com base em trocas e acrescido por tudo aquilo que o livro em suas mãos pode

oferecer, como ressalta Eliane Debus: “o livro objeto, aquele que se constituí pelo seu aspecto

físico, confeccionado de material diverso (pano, cartonado, plástico, etc.) será de fundamental

importância para inserir a criança nos rituais de leitura: virar as páginas do livro, abri-lo e

fechá-lo, enfim gestos iniciantes que se constituem mais tarde em práticas permanentes”20.

A despeito da criação dos livros para bebês, não há um padrão, limite criativo ou de

intervenção. O que se faz necessária é a coerência aquilo que é proposto pelas imagens e texto

com o suporte. Ao analisar esses dois pontos, é possível perceber a melhor escolha para o

material gráfico a ser utilizado e o seu embasamento para publicar uma obra de qualidade, que

chame a atenção de todos os atores da cadeia do livro até chegar ao seu consumidor final. Ana

Paula Paiva, em sua tese de doutorado sobre livros-brinquedo, aponta dez questões que

fundamentam as escolhas de suporte, texto e imagem. Respondidas essas questões, tem-se a

justificativa completa e a formatação necessária para a criação do livro. São elas:

1. Quais elementos ganham a estrutura do livro-brinquedo?; 2. Qual a função essencial

da capa e do miolo?; 3. Onde os registros se destacam na composição?; 4. Onde eles

podem ocorrer como opcionais interativos?; 5. O que é dito e como será dito na

mancha gráfica?; 6. O livro consegue ser lúdico?; 7. A chamada “livro-brinquedo” se

adapta ao objeto?; 8. A arte é funcional ao manejo?; 9. A função interativa se adapta à

forma brincante? e 10. O conteúdo conceitual se harmoniza à forma? (PAIVA, 2013,

p.123).

20 Eliane Debus trata do tema no artigo A confecção de livro artesanal como recurso didático pedagógico na

educação infantil. O excerto foi retirado da página dois e o texto na íntegra está disponível no endereço

endipe.pro.br/anteriores/13/posteres/posteres_autor/T2125-1.doc.

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Uma justificativa importante para tais escolhas é a usabilidade do livro e qual sentido

ele pretende estimular no bebê. Ainda no século IV a.C., Aristóteles já realizava estudos sobre

os cinco sentidos, os quais ainda hoje são objeto de pesquisa devido à importância que

exercem para o desenvolvimento e conhecimento do indivíduo. São eles: visão, tato, audição,

paladar e olfato. Os bebês começam a ter essas percepções ainda na barriga da mãe e, desde o

nascimento, cada sentido torna-se ainda mais fundamental para a descoberta do mundo e das

pessoas que o cercam. Pensando nisso, o mercado editorial percebeu como os sentidos podem

ser explorados através dos livros destinados a esse público e, aqui, cada estímulo será

direcionado especificamente pelo material gráfico, narrativa e ilustração.

Imagem 22. Meus 5 sentidos: Toque, sinta, raspe, cheire! – Livro da Yoyo Books

Acerca do tato, é sabido que esse é o primeiro sentido a surgir, ainda durante as

primeiras semanas de gestação. Após o nascimento, o contato pele e pele com o bebê é um

incentivo para as sinapses, ou conexões do cérebro. Da mesma forma, proporcionar ao bebê o

contato com diversas texturas também é uma fonte de conhecimento e desenvolvimento motor

e cognitivo. Por isso, os livros plásticos (impermeáveis, de banho), as versões toque e sinta,

livros de tecido, de pelúcia e outros materiais diversos são aconselhados desde os primeiros

meses de vida, sendo que, a partir do terceiro mês de vida, ainda que o bebê ainda fique por

mais tempo com as mãos abertas, já começa a conseguir fechá-las ao segurar um objeto por

alguns segundos21.

21 Sobre o desenvolvimento do tato nos bebês:

https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Desenvolvimento/noticia/2015/07/o-desenvolvimento-do-tato-dos-

bebes.html e https://www.mustela.com.br/Conselhos/o-despertar-sensorial-dentro-do-utero/o-tato. Acesso em

21/08/2018.

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Imagem 23. Meu livro fofo de atividades, editora Ciranda Cultural

Imagem 24. Meu primeiro livro toque e sinta e Abraços, da Editora Ciranda Cultural

Imagem 25. Mogli, o menino lobo: toque e sinta contos de fada. Yoyo Books

A visão é um sentido que começa a ser desenvolvido na gestação e que vai se

aperfeiçoando após o nascimento. O recém-nascido consegue perceber movimentos muito

próximos de si, apenas cerca de 20cm ou 30cm de distância. Após os dois meses, já começa a

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perceber cores contrastantes, como preto e branco, ainda que possua dificuldade em distinguir

cores parecidas, como vermelho e laranja. Por isso, mostrar um livro de imagens de cores

vivas, contrastantes e grandes pode chamar a atenção do bebê. Já a partir dos oito meses, a

visão do bebê já se aproxima a de um adulto e, então, após essa fase o mediador pode

apresentar variados tipos de livros, sejam eles pequenos ou grandes, e das mais variadas

cores22.

Imagem 26. Oi Bebê! Meu Primeiro Livrinho Em Preto e Branco. Editora

Usborne

Imagem 27. Livros Cores e Formas, que compõem a coleção Pequeno Aprendiz da

editora Todolivro

A audição é um sentido que já está bem desenvolvido logo ao nascimento do bebê.

Apesar disso, a percepção do som e a distinção entre um barulho e outro vão se aperfeiçoando

com o tempo, por isso, além do ato de fala e conversa com o bebê, a leitura é um passatempo

prazeroso, além de um fator importante no desenvolvimento da criança. Aos cinco meses, o

22 Sobre o desenvolvimento da visão dos bebês:

https://brasil.babycenter.com/a1500073/marcos-do-desenvolvimento-vis%C3%A3o.

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bebê já é capaz de perceber a origem do som, além de distinguir o grave do agudo e, por isso,

além de livros sonoros musicais ou com diferentes tipos de sons (como livros que reproduzem

os sons dos animais), ler uma história com diálogos com diferentes entonações de voz

certamente chamarão a atenção da criança23.

Imagem 28. Livros sonoros Jardim Agitado e A ovelhinha diz Bééé!, da editora

Ciranda Cultural

Imagem 29. Au! Au! Livro sonoro. Editora Zastras

Apesar de o paladar não ser necessariamente um sentido que a produção editorial

trabalhe em seu significado lato, visto que os livros comestíveis, ainda que existam alguns

exemplares, sejam mais direcionados a indústria alimentícia, a questão é que um bebê

conhece o ambiente e objetos de todas as formas. Até os três anos de vida, o bebê passa pela

chamada fase oral, quando inevitavelmente leva praticamente tudo que chega às suas mãos à

boca. Isso ocorre porque a boca é ainda mais sensível do que as mãos, e por isso usam a

23 Sobre o desenvolvimento auditivo dos bebês:

https://brasil.babycenter.com/a1500067/marcos-do-desenvolvimento-audi%C3%A7%C3%A3o.

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língua para conhecer e sentir diferentes texturas24. Sabendo disso, um livro destinado à essa

faixa etária deve ter em seu suporte componentes que não sejam considerados arriscados,

como tintas tóxicas ou componentes do suporte que se soltem com facilidade, e que podem

ser engolidos pelo bebê. É por isso que os chamados livros-brinquedo passam por avaliação e

recebem o selo de segurança do INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e

Tecnologia)25, além de serem classificados de acordo com a faixa etária que o instituto

considera coerente ao livro proposto. Apesar disso, muitas obras brincam com o sentido do

paladar e constroem narrativas que tratam desse sentido de modo lúdico para as crianças.

Imagem 30. Uma lagarta muito comilona, de Eric Carle, editora Callis. O livro possui

muitas versões, inclusive babybook (com alça), pop-up e cartonado.

Imagem 31. Ursinho Bobby - Hora de comer! Editora Vale das Letras

24 Sobre o desenvolvimento do paladar do bebê e a fase oral:

https://brasil.babycenter.com/a25011351/marcos-do-desenvolvimento-paladar.

25 O INMETRO é uma autarquia federal que tem como missão é prover confiança à sociedade brasileira nas

medições e nos produtos, por meio da metrologia e da avaliação da conformidade, promovendo a harmonização

das relações de consumo, a inovação e a competitividade do País. Mais informações em

http://www.inmetro.gov.br/.

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O olfato começa a se desenvolver ainda durante a gestação, e a partir dos dez meses de

vida o bebê já possui o discernimento entre cheiros bem acentuado, ainda que o olfato só seja

completamente desenvolvido por volta dos oito anos de idade: “A capacidade de sentir

diferentes cheiros está diretamente relacionada com o paladar, assim como está conectada às

emoções e a criação de vínculos com pessoas e objetos, pois o bebê faz associações entre um

cheiro e uma experiência, já que o olfato é processado pela mesma parte do cérebro que

controla a memória”26. Por fim, também já existem, no mercado editorial, os livros infantis

com cheiro, assim como narrativas que remetem a esse último sentido. Muitos são

relacionados às memórias, que além de estimular o cérebro com referência ao olfato, são

obras excelentes para estreitar os laços entre o mediador e o bebê, pois são livros intimamente

ligados às emoções.

Imagem 32. Téo no parque e Téo na praia, da coleção Livros com cheiro, Editora

Girassol

26 Informações sobre o desenvolvimento olfativo no site a seguir, assim como o excerto utilizado para a

descrição desse sentido: https://brasil.babycenter.com/a25011355/marcos-do-desenvolvimento-olfato.

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Imagem 33. Avó com cheiro de pão caseiro: uma história de sabores e lembranças,

de Zé Zuca e Marília Pirilo, editora Zit

Imagem 34. Livros Compra e Festa, da coleção Esfregue e Cheire, editora

Salamandra

Essas percepções traduzem a complexidade da concepção de um livro que será

destinado a um leitor que ainda não conhece a função e o poder do objeto que lhe é oferecido,

já que ainda desconhece o sentido e significado da leitura. Assim, a brincadeira e a sinestesia

que o livro-brinquedo oferece são fundamentais para que o bebê seja cada vez mais

aproximado da relação leitor-livro e o faça de maneira prazerosa.

O livro-brinquedo parece duplo em sua vocação ainda experimental, além de ocupar

um lugar de transição que abarca o gosto pela leitura e a brincadeira com o objeto. Sua

plasticidade editorial e performance abrigam tecnologias e acabamentos gráficos,

contatos sensoriais e a impressão de escrituras que se movimentam dentro de um

espaço profícuo à ação de ler brincando (PAIVA, 213, p.128).

A partir daqui, serão apresentadas as dez tipologias mais encontradas no mercado

editorial atual, as quais são destinadas aos bebês de zero a três anos. Obviamente, muitas

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obras podem ser inseridas em mais de uma categoria, mas a intenção é tratar conceitualmente

cada característica apresentada e o porquê de tal escolha editorial figurar no cenário dos livros

para bebês.

Nos dias de hoje existe uma grande variedade de materiais e suportes possíveis, tanto

na execução das ilustrações, como na confecção do objeto livro. Ilustrações feitas com massa

de modelar e depois fotografadas, esculturas em papel, digitalização de imagem de vídeo,

papéis especiais para impressão, encartes em materiais diversos, recortes, livros musicais,

acolchoados, infláveis, etc., além do enriquecimento visual, incentivam o espírito criativo da

criança na busca de soluções alternativas e no relacionamento com a diversidade (Lins, 2004,

p.46-47).

3.1.1 Livros cartonados

Dentre todas as tipologias aqui descritas, os livros cartonados talvez possuam maior

relevância, já que são feitos com o suporte mais utilizado para os livros para bebês. Isso

porque as páginas são rígidas, o que os torna mais seguros para a criança manusear (não há o

risco de cortar a pele do bebê, como a folha de papel poderia fazer), e também pelo fato de a

criança pequena ter mais facilidade em segurá-los.

O surgimento dos livros cartonados remete ainda ao século XIX. Allison G. Kaplan,

pesquisadora americana de livros infantis e escolares, cita em sua pesquisa uma descoberta

acerca dos livros cartonados, dos quais ainda há poucos registros históricos:

In terms of examining the collection, there was nothing very methodical about my

approach. Mostly, I checked the catalog for any note referring to “pages on

cardboard,” “cardboard,” “board books,” or “boardbooks.” In the end, the book I

found most significant in my explorations was one I came across accidentally while

looking for books published by McLoughlin Bros. The statement on the catalog

record, “Pages pasted on cardboard,” was just the kind of catalog note I had been

looking for (KAPLAN, 2012, p. 41).

O livro referenciado por Kaplan é A peep at the circus, publicado na década de 1880.

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Imagem 35. A Peep at the Circus. New York: McLoughlin Bros., ca. 1880.

Kaplan pondera que o livro encontrado é maior do que os livros cartonados produzidos

atualmente para a primeiríssima infância, já que possui 30,48cm x 22,86cm27. No entanto,

ainda segundo a autora, os livros cartonados somente se tornarão uma tipologia de referência

ao mercado editorial infantil no final da década de 1920, quando os editores começam a

publicar livros em“substantial paper”e “extremely tough cardboard” (Ibidem, 43). A partir de

então, cada vez mais editoras, do mundo inteiro, começam a se interessar por esse tipo de

suporte. Mas, efetivamente, do que é composto um livro cartonado? Nesse suporte, as capas e

páginas são feitas de um cartão de material rígido ou mais flexível, de acordo com a

gramatura escolhida, e que são revestidos de outro material (tecido, papel couché, offset, etc.).

É nesse material de revestimento que serão impressas as informações do livro. Por vezes, a

capa é feita em um cartonado de gramatura mais alta e, para a fixação do miolo, capa e

construção da lombada, os componentes podem ser cosidos e colados.

Ao pensar no mercado atual dos dias atuais, os livros cartonados pertencem a uma

tipologia consolidada. A impressão dos exemplares é majoritariamente feita na China e

pequenos países asiáticos, porque o valor é menor e faz com que editoras aceitem demorar

mais tempo para receber os exemplares para vendê-los a ter que imprimir os livros com os

encargos de seus próprios países. Além disso, a facilidade e economia de se obter os direitos

autorais de uma obra, em detrimento de se pagar toda uma equipe de escritores, ilustradores e

designers, faz com que muitas obras comercializadas no país sejam traduções. Nesse caso, é

comum não haver nenhuma alteração nas ilustrações ou formato do livro original, as gráficas

27 Aqui, foi feita uma conversão para a unidade de medida usada no Brasil, o centímetro, enquanto no artigo a

autora cita a medida de 12x9 inches.

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orientais montam o suporte e imprimem as ilustrações em grandes quantidades, sendo que o

único ponto a ser alterado é a camada de impressão do texto.

Os livros cartonados são encontrados com os mais variados preços de venda. Ao fazer

um levantamento de valores nos catálogos das editoras de referência deste estudo

(Bamboozinho, Ciranda Cultural, Girassol e Vale das Letras), foram encontrados livros

cartonados entre R$9,90 até R$89,90, sendo que os livros mais caros também possuem outras

características tipológicas, como texturas, sons e abas28. Além dessas tipologias, que serão

explanadas nesse estudo em separado, os livros cartonados permitem um recurso interessante

que causa em efeito estético diferenciado e interativo, que conecta as ilustrações entre as

páginas: a perfuração dessas, ou os chamados livros com janelas. Esse recurso tem um efeito

visual mais acentuado nos livros cartonados devido à espessura das páginas, e, por isso,

chamam mais a atenção do que em livros com páginas de papel. Para esse resultado, no

entanto, são necessárias facas de corte específicas e, por isso, os livros com esse recurso

geralmente são mais caros.

Imagem 36. Adivinha os animais e onde eles vivem, de Liesbet Slegers, editora

Minutos de Leitura

28

Valores com referência à consulta dos catálogos em outubro de 2018.

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Imagem 37. Livros Cores, Palavras e Formas, da coleção Meu primeiro livro de

janelas, editora Ciranda Cultural

Imagem 38. Vermelho, amarelo, arco-íris, da editora Girassol

Por serem de cunho mais resistente, os livros cartonados pertencem à tipologia mais

escolhida pelos profissionais que atuam em creches, visto que nesses locais o manuseio do

livro é mais intenso e, portanto, inevitavelmente, as obras vão se deteriorando com o passar

do tempo. Por esse motivo, as editoras que trabalham com livros voltados a primeiríssima

infância geralmente possuem em seu catálogo mais livros cartonados do que qualquer outra

tipologia, o que proporciona um número maior de opções para os mediadores, que podem

escolher livros de qualidade e que trazem diversas temáticas que podem ser tratadas na creche

ou em casa. Afinal, nessa fase do desenvolvimento infantil, as crianças são descobridoras e

possuem um olhar atento ao que acontece no seu entorno, e os livros também podem auxiliá-

las a entendem todas essas novidades e, também, a vencerem o inevitável medo do

desconhecido.

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Imagem 39. Artur, livro cartonado da editora Kalandraka.

Como já tratado anteriormente, a rigidez dos livros cartonados também faz com que

esses sejam a escolha gráfica para serem o suporte de outros recursos do livro, permitindo,

assim, uma interatividade maior com o pré-leitor.

Imagem 40. Lagarta na primavera, da editora Caramelo29.

De acordo com o exposto, os livros cartonados e suas características serão a base e

escolha gráfica de outras tipologias, conforme será explanado adiante.

3.1.2 Livros de imagem

Atualmente, falar de livro infantil é um sinônimo de livro ilustrado, já que as imagens

tornaram-se uma característica corriqueira das obras que são destinadas às crianças. Nesse

tópico, será analisado o percurso histórico do livro de imagens, uma tipologia que tem nas

ilustrações, além da representação visual, a sua narrativa.

O livro ilustrado mais antigo de que se tem registro é um papiro egípcio de 1980 a.C.

No entanto, é no século XV, juntamente com a impressão, que surgem as ilustrações nos

livros de modo mais profissional. Segundo Martin Salisbury e Morag Styles, “Urich Boners

Der Edelstein is often cited as the first example of a book with type and image printed

together” (2012, p.12). Os autores também relatam que até à década de 1830, as cores das

imagens eram adicionadas à mão, uma vez que só nesse período é desenvolvido um processo

de impressão em cores com blocos de madeira que adicionam cores de modo individual

(Ibidem, p.14).

29 Esse é um exemplo de livro cartonado que é usado como suporte de outros recursos interativos, como a

ligação do tecido para construir o corpo da lagarta e o pop-up (também construído em cartão) da borboleta.

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Apesar de o primeiro livro ilustrado infantil ser Orbis Sensualium Pictus, criado em

1658 por John Amos Cornelius (HUNT, 1996), é no século XIX que surgem os primeiros

livros de imagem para crianças, assim como grandes ilustradores profissionais de obras

infantis, como Randolph Caldecott (1846-1886), cuja obra foi reconhecida ao ponto de seu

nome se tornar uma premiação na área da ilustração infantil.

Imagem 41. Der Struwwelpeter, original de 1844

Mas é no início do século XX que surgem livros de imagem para crianças menores, e

muitos tornaram-se clássicos da literatura infantil, como A história de Pedro Coelho, lançado

em 1902 por Beatrix Potter. Já em 1963, é lançado um livro de imagem que se tornou

referência dessa tipologia: Onde vivem os monstros, de Maurice Sendak.

Imagem 42. Onde vivem os monstros, da editora Cosac Naify

No Brasil, a obra que inaugura essa tipologia é Ida e volta, de Juarez Machado, que foi

escrito em 1969 e publicado primeiramente na Holanda e Alemanha, recebendo uma edição

brasileira apenas em 1975 (CAMARGO, 1995; DEBUS, 2006; NUNES, 2012). A década de

1980 traz um significativo aumento de obras brasileiras de imagem para crianças, e, em 1981,

a Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) cria a categoria imagem,

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concedendo o primeiro prêmio, inclusive, a Juarez Machado (NUNES, 2012, p.2). A partir de

então, o mercado editorial brasileiro foi enriquecido com uma quantidade significativa de

livros de imagem, que recebem ainda outras nomenclaturas, de acordo com variados estudos.

Peter O'Saggae fez um levantamento dessas nomenclaturas, o qual foi disponibilizado

de modo sistemático no trabalho de Maria Spengler (2010, p.3):

Imagem 43. Nomenclaturas utilizadas para denominação do livro de imagem, por

Peter O'Saggae

A ilustração é a protagonista e a referência da narrativa que compõe esse tipo de livro,

já que, apesar de não haver texto ou existir um texto curto, essas obras possuem uma história

linear com introdução, desenvolvimento e conclusão. Para elaborar imagens criativas e que

sejam o objeto de imaginação que dão voz à história, os autores se valem dos mais variados

tipos de materiais e recursos para a elaboração das ilustrações: imagens criadas com técnicas

de pintura, utilização de aquarela, nanquim, crayon, massa de modelar, bordado, mistura de

imagens fotográficas reais com ilustrações criadas em softwares, etc. Acerca do suporte,

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também pode ser de modo plural: um livro de imagens pode ser caracterizado em qualquer

uma das tipologias aqui apresentadas, e ir além:

When people think of children's literature, Picture books often come to mind. These

are the books Mom and Dad read to you at bedtime or the teacher read to you at story

time. In a picture book, a line or two of text typically accompanies a page of

illustration, although the amount of text can range from none to a paragraph or two.

Most picture books are pretty short, and not just because their audience – younger

children – have pretty short attention spans. Most picture books are printed in full

color, and that's expansive”(Underdown, 2008, p.65).

Imagem 44. Tem bicho que sabe..., da Bamboozinho Editorial

Por ser uma obra que pode ter mais de uma interpretação narrativa e por requerer a

imaginação do seu leitor, assim como para a leitura dos livros pop-up, a participação do

mediador durante a interação bebê-livro é fundamental. Aqui, cabe a ele mais do que ser

apenas a voz da história, já que se torna o narrador participante. Quando um livro de imagens

é apresentado a um bebê maior, os recursos visuais chamam amplamente a atenção e a

curiosidade acerca da obra é grande, pois ele já consegue sentir a falta das palavras, ainda que

não consiga decodificá-las, e com isso a expectativa e concentração a história é maior. Já para

os bebês menores, a visão é estimulada em grande potencial, mas o mediador também tem a

possibilidade de mostrar o livro mais de uma vez e contar a história de diferentes formas,

mostrando assim toda a potencialidade da obra.

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Imagem 45. Autour de moi, mon premier imagier photo, do selo Petit Nathan da

editora Nathan

Os livros de imagem, por seus recursos visuais e imagéticos, também podem ser

utilizados em programas para desenvolvimento de crianças com necessidades especiais. É o

caso do livro O coelhinho Branco, da editora Kalandraka, que foi utilizado em um programa

elaborado em conjunto com o BATA (Asociación Baión de Tratamiento del Autismo) da

Galícia, organização dedicada ao apoio das crianças portadoras de autismo e respectivos

familiares, conforme o estudo de Fernandes (2013, p.43). Segundo ela, a utilização desses

livros é bastante clara: abrir as portas do mundo de fantasia da literatura a este público com

necessidades de ensino especiais.

Imagem 46. O coelhinho branco, da editora Kalandraka

Um exemplo de interação lúdica causada pela imagem é a coleção de livros de Guido

Van Genechten, da editora Gaudí.

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Imagem 47. Coleção de livros de imagem de Guido Van Genechten, da editora Gaudí.

As fotos acima são do livro É um ratinho?

Nos quatro livros, o suporte é dobrado de modo a permitir à narrativa começar com a

imagem de um bicho, que vai se revelando parte de outro, e outro, até se transformar em uma

imagem aberta de 70cm. Cada obra pode trazer em si uma variedade de histórias, criadas pelo

mediador, além dos livros chamarem a atenção de bebês pequenos, devido à riqueza de cores

e ao formato original. Essa interatividade criada pela imagem, aqui demonstrada em poucos

exemplos, revela a importância da ilustração no livro para bebês e para crianças no geral,

importância essa que já se tornou um subgênero em que deixa de ser uma característica dos

livros para se tornar a protagonista. Assim como o suporte cartonado, os livros de imagem

podem ser enquadrados em todas as tipologias a serem explanadas adiante.

3.1.3 Livros de banho

Esse tipo de livro é confeccionado com o propósito de ser lido/manuseado durante o

banho ou em brincadeiras na piscina ou praia. Possui particularidades inerentes à sua

concepção, que serão exemplificadas a seguir.

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Imagem 48. A Baleia – Livro flutuante, da editora Vale das Letras

Imagem 49. Livros Formas e Cores – Bi-bi-banho, da editora Girassol

Imagem 50. Livros de banho Turma da Mônica Praticando esportes e Dia de praia,

da editora Ciranda Cultural

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Como pode ser conferido nas imagens, o livro de banho não segue nenhum formato

específico, ainda que, na média, tenha por volta de 15cm de tamanho, para que caiba dentro

da banheira e que seja de fácil manuseio para crianças bem pequenas. O que realmente

importa, nesse tipo de obra, é o material gráfico, que deve ser impermeável e a tinta de

impressão ser atóxica e de boa qualidade, de modo que não borre o texto e imagens quando o

livro entrar em contato com a água. Geralmente, são livros feitos de espuma revestida por

EVA ou vinil e suas variáveis, como o vinil camurça, e muitas editoras tem o cuidado de

apontar detalhes importantes acerca do material, como se o plástico utilizado no livro é BPA-

free30 e outros fatores que são pertinentes à preocupação com a saúde e segurança do bebê.

São livros que possuem o acabamento e vedação com solda eletrônica a base de calor, para

não conter colas que possam perder o efeito ao contato com a água ou grampos, que podem

soltar-se e serem ingeridos pelo bebê.

Sobre o conceito dos livros para bebês, Sara Reis da Silva e Diana Martins expõem:

Em termos gerais, o livro de banho, termo obviamente criado a partir do próprio

contexto ou da situação espácio-temporal do seu uso ou manuseio, distingue-se como

uma publicação onde a imagem tem um lugar central, bem como pelo formato

reduzido, por uma economia lexical e pelas estratégias discursivas adaptadas a uma

menor capacidade de atenção. Em termos ideotemáticos, este objeto varia entre

aqueles que remetem diretamente para a esfera do Eu, propondo a descoberta das

rotinas do dia-a-dia, nomeadamente do banho (MARTINS; SILVA, 2016, p.70).

São livros maleáveis, extremamente flexíveis, leves e que não afundam. Como citam

Martins e Silva, os livros de banho possuem temáticas inerentes ao dia-a-dia da criança, como

a hora do banho, ou estórias de animais que vivem em meio aquático, fazendo uma clara

ligação ao ambiente e, assim, conduzindo a criança a gostar de realizar a sua higiene pessoal.

Há no mercado livros que seguem os mesmos padrões do livro de banho, mas para serem

oferecidos em outro momento do dia: o da alimentação. Isso porque é comum que os bebês e

crianças pequenas ainda se sujem e aos utensílios próximos durante a refeição, e pela sua

caracterização impermeável, um livro com essa tipologia é de fácil limpeza.

30 BPA-free, ou livre de Bisfenol A. O Bisfenol é um composto usado para fabricar o policarbonato, material

utilizado para a confecção de artigos como mamadeiras e outros utensílios domésticos, especialmente utilizados

para envazar produtos alimentícios. O Bisfenol é liberado quando o plástico entra em contato com temperaturas

mais elevadas (a água do banho e o aquecer do leite da mamadeira, por exemplo), o que traz malefícios para a

saúde, especialmente aos bebês, que ainda possuem o organismo em formação e têm mais dificuldade em liberar

a substância. Desde 2011, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a venda de mamadeiras

que contenham o Bisfenol em sua composição, e alerta sobre A ANVISA trata sobre os riscos que a substância

traz à saúde em sua página oficial, no endereço eletrônico

http://portal.anvisa.gov.br/alimentos/embalagens/bisfenol-a. Acesso em 30/08/2018.

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Imagem 51. Livro Hora da papinha, da editora Girassol, que traz em seu kit um

babador e uma colher

Sobre o seu consumidor final, o livro de banho é um produto que pode ser oferecido a

bebês bem pequenos, a partir dos quatro meses de idade, quando esse já começa a segurar

objetos com as próprias mãos, ainda que por poucos segundos. Pelo fato desse tipo de livro ter

uma textura macia e não ter as pontas cortantes ou perfurantes, pode ser considerado um

objeto seguro para que o bebê o explore sozinho com as mãos e ao levá-lo à boca.

Foram realizadas entrevistas com as editoras Vale das Letras, Girassol, Ciranda

Cultural e Bamboozinho. As três primeiras possuem livros de banho, e a Ciranda Cultural

afirmou que produzir tais obras demanda um trabalho e tempo extra se comparados com os

livros de formato tradicional, pois é necessária a verificação de amostras do material gráfico

antes do processo de edição, além, após a impressão de exemplares de prova, depender da

aprovação nos testes de segurança para efetivamente finalizar o processo. A editora Vale das

Letras citou os livros de banho como uma tipologia de sucesso de seu catálogo, pois muitas

vezes recebe feedback dos pais com fotos de crianças com os livros. No que tange aos valores

dos livros, foram encontradas nos catálogos dessas editoras obras que custam entre R$9,95 e

R$29,9031.

3.1.4 Livros de pano

Uma das tipologias mais associadas aos bebês é a dos livros de tecido. Maleáveis, sem

pontas e costurados (sem grampos), estes livros são um formato seguro e de fácil manuseio

para as crianças menores.

31

Catálogos consultados em outubro de 2018.

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Os livros de tecido, ou livros de pano, foram publicados para o público infantil ainda

no século XIX, pela editora americana McLoughlin Bros. Os irmãos John e Edmund

McLoughlin foram pioneiros no uso de tecnologias para impressões coloridas, além de terem

em seu catálogo livros de imagem, jogos e os chamados linen books (ou livros de linho, em

tradução literal)32. Na Inglaterra, os livros de tecido foram produzidos em grandes

quantidades e com vasto catálogo pela Deans Rag Book Company, editora especializada nessa

tipologia fundada em 1901. Conforme citação do site do museu do brinquedo de Brighton,

“The "Rag Books" made by Deans were simple printed cloth books with edges cut with a zig-

zag "clothmaking shears" pattern”33.

Imagem 52. Alphabet book, primeira publicação da Deans Rag Book Company, de

1901.

Imagem 53. Baby's diary, publicado pela Dean's Rag Book em 1912

32 Informações retiradas do artigo Brief History of the McLoughlin Bros., que pode ser encontrado no endereço

https://www.americanantiquarian.org/mcloughlin-bros-collection. Acesso em 01/10/2018. 33 As informações podem ser consultadas no endereço

https://www.brightontoymuseum.co.uk/index/Category:Dean%27s_Rag_Book_Company. Acesso em

01/10/2018.

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No Brasil, os livros de pano mais antigos dos quais há registros oficiais são

exemplares importados da editora portuguesa Majora, os quais ainda pertencem ao acervo de

obras raras da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, que será citada adiante34. Na

década de 1970, começam a ser produzidos livros de pano brasileiros de modo artesanal,

como o trabalho de Ísis Valéria Gomes, que se destaca na criação de livros de pano e lança os

títulos Noquinha, Neneca Peteca e Auau Lambão (DEBUS, 2006, p.39). A autora

especializou-se nessa tipologia e, desde então, passou a ministrar cursos e oficinas, como o

curso Dinamização das bibliotecas, promovido pela FNLIJ, sobre o tema O livro de pano e

seu manuseio pela criança pequena (PONDÉ, 1985). Atualmente, além de ser uma

tipologia comum aos bebês, por ser produzida por diversas editoras, também é comum que

profissionais da área da educação, especialmente pedagogas, produzam esse tipo de obra

artesanalmente para entreter os bebês que já frequentam creches e escolas infantis. Nesse

sentido, Eliane Debus relata uma experiência com as alunas do curso de pedagogia da

Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL – em que as estudantes são orientadas a

produzirem um livro artesanal como recurso didático e pedagógico35, o que enriquece o

conhecimento não somente pela questão do objeto em si, mas também para o despertar

criativo e lúdico das profissionais, que poderão elaborar novas obras, brincadeiras e estórias

em sala após ter essa experiência já na universidade.

Por ser um livro que pode ser produzido de modo artesanal, existem diversos cursos e

oficinas, além de tutoriais na internet que ensinam a produção desses quiet books. Feitos

principalmente de tecidos de algodão, TNT (tecido não-tecido), etamine e feltro e costurados

com linha de algodão, o material é de fácil acesso e de valor também acessível, o que

contribui para que artesãos ou mesmo editoras pequenas e independentes elaborem livros que

possam ser comprados por encomenda. No entanto, deve ter-se atenção com relação à tinta

escolhida para pintura, quando se escolhe pintar ilustrações no tecido, já que essa deve ser

atóxica. Além disso, não é aconselhável a fixação de botões, canutilhos ou materiais que

possam soltar-se com facilidade, visto que o objeto inevitavelmente é levado à boca pelo

bebê, que pode engolir as partes pequenas ou machucar-se.

34 Dados obtidos através de entrevista e visita técnica à biblioteca. 35 Relato da experiência disponível no endereço

http://endipe.pro.br/anteriores/13/posteres/posteres_autor/T2125-1.doc. Acesso em 02/10/2018.

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Imagem 54. Livro de tecido Iara, de Irles Carvalho, da Maco Edições

No que diz respeito às editoras, os livros de tecido geralmente figuram nos catálogos

nas seções de zero a três anos, já que tal tipologia é geralmente indicada para bebês devido à

maleabilidade e segurança. Muitos títulos não possuem narrativas, apenas palavras soltas para

desenvolver o vocabulário da criança, além de possuírem alças, tiras e outros componentes

também de tecido, que estimulam a coordenação motora ao serem percebidos como elementos

diferenciados para serem puxados, levantados e sacodidos. As ilustrações podem ser

bordadas, estampadas, costuradas ou coladas, geralmente em cores contrastantes.

Imagem 55. Livros No jardim e Na floresta, da editora Ciranda Cultural

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Imagem 56. Livro de pano Bebê Noel – Feliz Natal, da editora Vale das Letras

Também surgem no mercado livros de pano que são vertidos em outros objetos, como

travesseiros, almofadas e bichos de pelúcia e que trazem em suas ilustrações poemas,

narrativas e cantigas, para que o mediador leia enquanto o bebê descobre as características do

objeto com o toque. Essas obras, mesmo que não tenham a característica tradicional de um

livro, cumprem a função de estimular o tato, a percepção de novas texturas e curiosidade ao

pegar, amassar, apertar e compreender a superfície que está em suas mãos, afinal, o livro de

pano produzido para bebês é uma tipologia sinestésica e de descoberta.

Acerca dos valores, foram encontrados nos catálogos das editoras de referência desse

estudo (Bamboozinho, Ciranda Cultural, Girassol e Vale das Letras, sendo que apenas a

Ciranda Cultural e a Vale das Letras produzem livros dessa tipologia) obras que custam entre

R$23,92 a R$71,9236.

3.1.5 Livros com fantoches

Os livros com fantoches são uma junção de duas artes: a literatura e o teatro. Juntas,

essas duas artes enveredam-se em outro campo, o da comunicação, ou, transformando o

conceito em ação, os livros trazem um objeto prático para ato de se comunicar.

A palavra fantoche significa “boneco calçado com a mão de pessoa oculta que o faz

representar algum papel teatral”37. Logo, esses bonecos deixam de ser objetos inanimados e

tornam-se atores nas mãos dos bebês e de seus mediadores, que retratam a estória presente no

36 Valores consultados no catálogos on-line das editoras em outubro de 2018. 37 Transcrição do significado da palavra fantoche, constante no dicionário on-line do Google. Acesso em

02/10/2018.

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livro acoplado e dão-lhe corpo, movimento e vida. Acerca da história dos fantoches, também

chamados títeres, Hermínio Borba Filho comenta que:

Os títeres, como os homens, têm uma história. Sempre viveram juntos. É possível que

o homem das cavernas, à luz das fogueiras, tenha feito movimentos com as mãos,

formando bichos com as muralhas... A origem dos fantoches, no entanto, perde-se na

noite dos tempos e a sombra das mãos é apenas uma suposição (BORBA FILHO,

1987, p.10).

O ato de brincar com os bonecos e reconhecer esses atuantes na história do livro

estimula a criança a perceber não só o contexto da estória, mas também a trazer à tona ao

olhar a representação física e móvel dos personagens. É o ato de inventar e imaginar que

aquele boneco é de fato o indivíduo que tem voz e personalidade na narrativa, e socializar

com ele. Como cita Bruno Munari, “(...) inventar é descobrir, e, descobrir é encontrar

qualquer coisa que anteriormente não se conhecia, mas que já existia, a invenção e pensada,

mas exclusivamente prática”. (MUNARI, 1981, p.24). Não obstante, é um tipo de leitura para

se fazer em voz alta, com diferentes entonações de fala, e em grupo (no mínimo duas

pessoas). Logo, esse tipo de obra estimula a relação e o fortalecimento do vínculo entre o

bebê e o seu mediador. Os benefícios desse tipo de contação de estória são percebidos no que

tange à concentração do bebê para com os movimentos dos bonecos, da audição e da

imitação, pois a criança, ao ver o adulto manusear os fantoches, também se interessa em fazê-

lo. Nas creches e escolas infantis, os livros também são usados para leituras coletivas e

considerados, de entre os recursos didáticos lúdicos, o mais facilmente assimilável por

crianças da educação infantil (DANTAS; SANTANA; NAKAYAMA, 2012, p.723).

Umas das versões mais comuns de bonecos acoplados em livros para bebês são os

dedoches. Como o próprio nome sugere, são pequenos bonecos (ou partes deles) que se

encaixam nos dedos, portanto são pequenos, o que chama a atenção dos bebês menores por

conseguirem segurá-los, enquanto os bebês maiores se propõem ao desafio de já vestir o

brinquedo para realizar movimentos por si só.

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Imagem 57. Nicolas, de sete meses, e Anna, de três anos, manuseando o livro com

dedoches Algazarra na floresta, da editora Brinque-Book

Com relação à parte gráfica dos livros, os fantoches são feitos de tecido, muito

comumente de feltro, que é um material maleável, mas que possui uma espessura

suficientemente larga para que os bonecos tomem forma. Os fantoches podem ser costurados

diretamente no livro, como nos exemplos a seguir.

Imagem 58. Luvinha com dedoches e livro de histórias acoplado Animais do Brasil –

editora Vale das Letras

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Imagem 59. Livro João e o pé de feijão – livro de pano com fantoche – editora

Ciranda Cultural

Como um recurso interativo, o dedoche pode também fazer parte da própria ilustração.

Imagem 60. Livro cartonado da coleção Animais Dedoche II: Festa do queijo da Ratinha,

da editora Todolivro.

Na segunda figura, uma imagem do miolo com a marcação do corte para dar a forma

diferenciada ao livro e os espaços para os “braços” da ratinha. Conforme a imagem acima,

enquanto os fantoches são feitos de tecido, o material para a parte escrita é mais comumente

cartonado, para que esse seja o suporte dos bonecos, além de criar um contraste de textura

entre as duas partes do livro. É importante que o texto esteja bem posicionado com relação ao

fantoche, para que esse não prejudique a leitura no momento do manuseio do boneco. Essa

tipologia, de modo geral, faz com que o bebê se concentre mais na estória, pois a reconhece

também no fantoche-personagem, além de estimular a interatividade, o tato, a visão e a

sociabilidade.

Foram consultados os catálogos das editoras de referência desse estudo

(Bamboozinho, Ciranda Cultural, Girassol e Vale das Letras) e os valores das obras que

possuem esse recurso variam entre R$29,90 e R$79,9038.

3.1.6 Livros pop-up

Conforme já explanado anteriormente, os livros pop-up surgiram no fim da década de

1920, com um conceito diferenciado de mobilidade e dobradura do papel, a qual permite

literalmente que a ilustração salte da página. Desde então, os livros pop-up, também

38

Valores conferidos em outubro de 2018.

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chamados de movable books ou livros-vivos (PERROT, 2002), foram tornando-se cada vez

mais complexos em suas montagens. Para que os efeitos das dobraduras sejam mais

perceptíveis e permaneçam na posição correta, os livros pop-up geralmente são produzidos

em papel cartão ou outros materiais de gramatura alta. Ana Paula Paiva conceitua essa

tipologia:

Este esquema de produção inclui obras com estruturas que “saltam para fora” aos

olhos do leitor. Perspectivas inesperadas e surpreendentes tomam conta da mancha

gráfica, expandindo os acessos de percepção visual do objeto livro (...). As estruturas

podem ser abertas em 90, 180 e 360 graus, o que encanta e diverte os pequenos,

projetando uma nova forma de relação com o suporte de leitura – que sai do

unidimensional para o tridimensional. Os profissionais capacitados para a idealização

destes projetos são chamados engenheiros do papel ou projetistas gráficos (PAIVA,

2013, p.136-137).

Logo, é um tipo de livro que requer um profissional a mais em sua concepção, o

engenheiro de papel, que pode ou não acumular a função de escritor, ilustrador ou designer.

Por esse motivo, quando mais complexa a execução, mais caro o livro se torna, o que também

é um fator que influencia a tiragem de exemplares e a meticulosidade de gestão orçamentária

da obra.

Devido à fragilidade das dobraduras, os mediadores de leitura, especialmente os

profissionais de creches e escolas infantis, tendem a não oferecer tais livros aos pré-leitores.

No entanto, ao analisar os catálogos das editoras, é perceptível que há muitos títulos no

mercado indicados para crianças de três a cinco anos, o que englobaria a idade limite da

primeiríssima infância e, também, deste estudo. Isso porque uma criança de três anos,

especialmente uma criança que já teve contato com diferentes tipologias de livros

anteriormente, já tem idade suficiente para discernir as partes do livro e também para entender

a fragilidade dessas obras. Além disso, é extremamente indicado que, ao conhecer livros com

essas características pela primeira vez, um adulto mediador acompanhe, mostre e descubra

juntamente com o pré-leitor os componentes que formam o livro, para que essa perceba as

particularidades da obra e aprenda a manusear o livro sem rasgá-lo.

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Imagem 61. Mon pop-up des couleurs, do selo Petit Nathan da editora Nathan39.

Dessa forma, um livro pop-up pode (e deve) ser mostrado às crianças mais pequenas,

que se familiarizarão com o objeto de forma natural e, obviamente, a aproveitará mais. É

relevante assinalar que existem livros pop-up com diferentes graus de sofisticação e

fragilidade, pelo que alguns, sobretudo os mais simples e cartonados, poderão ser amplamente

manipulados. Aliás, o mediador de leitura é extremamente importante para o descobrimento e

manuseio de todos os tipos de livros, sejam eles livros-brinquedo ou não. Isso porque a

criança tende a se concentrar mais na narrativa que é contada pelo adulto, é guiada através do

virar das páginas e convidada a perceber todo e cada componente que forma o livro como

obra completa.

O recurso pop-up é uma topografia de narrativas a partir de efeitos de profundidade e

de proximidade física, gerando uma tridimensionalidade no olhar do sujeito leitor. Nesse

espaço, o sujeito leitor é interpelado a montar, jogar, organizar as arquiteturas frágeis do livro

que transbordam os limites das páginas (LUTERMAN, FIGUEIRA-BORGES, SOUZA,

2018, p.7).

No que concerne ao mercado editorial para pré-leitores, existem livros pop-up

pequenos e simples em sua construção, mas que possuem o recurso suficiente para chamar a

atenção do bebê devido a essa particularidade visual. Essas edições geralmente possuem

poucas páginas, são menores e produzidas em um papel de alta gramatura (mas não

cartonadas) o que as torna mais baratas.

39 Segundo a editora, esse é le premier livre animé de bébé, indicado a partir de seis meses.

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Imagem 62. O porquinho e o livro, da editora Vale das Letras

Como já descrito anteriormente, o valor dos livros pop-up varia de acordo com a

complexidade das dobraduras, além de outros fatores como o papel, o prestígio da editora e

dos colaboradores que participam da elaboração do livro, etc. Assim, ao fazer uma análise dos

catálogos das editoras usadas como referências para este estudo, os livros pop-up indicados

para crianças a partir de três anos variam entre R$11,92 e R$71,9040.

3.1.7 Livros sonoros

Atualmente, as crianças possuem acesso a recursos tecnológicos cada vez mais cedo,

algo que as empresas perceberam, pelo que esse filão de mercado e a indústria tecnológica

cultural para crianças cresceu consideravelmente a partir dos anos 1990. Desenhos animados

para crianças menores, vídeos educativos que são disponibilizados em massa em canais

gratuitos de comunicação, aplicativos de jogos para bebês e crianças disponíveis em

plataformas de compra ou mesmo gratuitos, para baixar em celulares e tablets, entre outras

novidades, recebem milhões de visualizações e downloads todos os anos, e os números só

tendem a aumentar. Da mesma forma, a indústria editorial infantil também tem acompanhado

essa procura cada vez mais precoce por recursos interativos que despertem a atenção dos

bebês, e um exemplo de tipologia que alia o livro e a tecnologia são os livros sonoros.

Apesar de os primeiros livros de histórias sonoros serem na verdade os audiolivros, os

quais eram disponibilizados para venda ainda em CD-ROM nos anos 1990 (BUS; TACAKS;

40

Valores consultados nos catálogos on-line das editoras em outubro de 2018.

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KEGEL, 2014), este estudo se aterá aos livros de suporte impresso e que carregam algum tipo

de recurso tecnológico sonoro e interativo, conforme serão exemplificados adiante. Cláudia

Coelho pondera que as tecnologias são cada vez mais multimídia e multissensoriais: “as

gerações atuais precisam mais do que antes do toque, da muleta audiovisual, do andaime

sensorial. É um ponto de partida, uma condição de identificação, de sintonização para evoluir,

aprofundar” (COELHO, 2008, p.4). Esses livros interativos atuam no desenvolvimento

cognitivo e motor dos bebês, além da concentração, capacidade visual e auditiva e assimilação

de novos sons ao aliá-los com a ilustração.

Books with built-in multimedia features that match the story text may thus offer a

better starting point for the development of language and literacy skills (…)The special effects

generated by technology-enhanced storybooks can reinforce multimedia learning and promote

comprehension. The new formats allow simultaneous presentation of images and text in ways

that are not possible in print books (BUS; TACAKS; KEGEL, 2014, p.5).

No que tange ao formato dos livros sonoros, já existem os chamados livros híbridos

(PINTO; FIGUEIREDO; BRANCO; ZAGALO; COQUET, 2013), os quais são obras que

combinam o suporte impresso e um aparelho eletrônico, como tablet ou smartphone, os quais

apresentam em conjunto recursos e experiências diferenciadas de leitura. No Brasil, temos

exemplos de livros nesse formato com a coleção de livros para bebês da Bamboozinho

Editorial, que possui livros impressos em formato tradicional, com capa dura e páginas em

papel couché de alta gramatura, mas que possuem um QR code para serem reconhecidos em

um aplicativo, com o qual o bebê pode ouvir o som dos bichinhos ou o nome do objeto

representado na imagem, entre outras informações. O livro Bichinhos foi a única obra para

bebês de zero a dezoito meses selecionada pelo edital do Plano Nacional do Livro Didático e

Literário de 2018 (PNLD), edital do governo federal brasileiro que seleciona obras a serem

enviadas para creches e escolas públicas, o qual será referenciado em capítulo posterior.

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Imagem 63. O primeiro livro da trilogia Bichinhos

A maior variedade de livros sonoros, no entanto, é sinestésica e depende da ação do

toque para que o som se faça. Esses livros geralmente possuem o suporte cartonado, para que

os botões de som a serem acionados sejam acoplados. Os preços e modelos também são

variados. Existem modelos que oferecem apenas um som e, portanto, possuem apenas um

botão, reproduzindo um som que faça sentido durante toda a leitura. É o caso de livros de

estórias em que a personagem principal é um animal ou em que a narrativa gira em torno de

objeto sonoro em específico, como exemplo, um trem.

Imagem 64. A cabrita Cacá e o Coelho Caco, da coleção Livro do Barulho, editora

Ciranda Cultural.

Uma opção mais elaborada são os livros que possuem diversos botões e que retratam

diversas cenas e personagens que aparecem na narrativa. Geralmente, cada botão representa a

passagem de uma dupla de páginas, o que gera uma expectativa maior para a próxima página

pela continuação da estória ao som da voz do mediador, pelas ilustrações que estão por vir e,

obviamente, pelo novo recurso sonoro. Como esses livros necessitam de baterias (que às

vezes podem ser trocadas) esses livros devem passar pelo crivo de qualidade do Inmetro, para

testificar a segurança da criança durante o manuseio.

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Imagem 65. A pequena sereia, que faz parte da coleção de livros sonoros Contos

Clássicos.

No título acima, no verso do livro, há a caixa de proteção da bateria, devidamente

parafusada para a segurança do bebê, bem como o selo do Inmetro.

Como não poderia deixar de ser, há exemplares que se valem dos recursos sonoros

para estimular a musicalidade das crianças, aliando, mais uma vez, duas artes. Esses livros

podem trazer dispositivos que reproduzem músicas já gravadas, que possuem relação com o

texto e ilustrações representadas no suporte, ou fazer com que a criança se interesse por tocar

e criar um novo som. Dessa forma, os botões metamorfoseiam-se em instrumentos musicais

propriamente ditos. As edições Usborne possuem livros com essa temática para crianças

maiores, como o livrinho que possui um xilofone acoplado no suporte cartonado, e o livrinho

musical com teclado, que possui teclas macias e pequenas, que estimulam o tato, a audição e a

visão das crianças, ao diferenciar os sons pela legenda de cores.

Imagem 66. Meu livrinho musical: xilofone e teclado. Livros-brinquedo com

instrumentos acoplados, da editora Usborne.

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Os valores dos livros sonoros também divergem muito, conforme análise dos

catálogos das editoras de referência deste estudo. Variando em tamanho e recursos, foram

encontrados, em outubro de 2018, livros que custavam entre R$10,00 e R$79,00. Sendo livros

multissensoriais, os livros sonoros pertencem a uma tipologia que estimula diversos sentidos

dos bebês, que interagem com o livro (e seu mediador) não apenas como expectador, mas

como agente de execução das obras.

3.1.8 Livros toque e sinta e livros com abas

Os bebês exploram o mundo ao redor através do olhar, mas principalmente pelo tato.

Esse sentido proporciona a sinestesia necessária para conhecer novas cores, formas, objetos e,

obviamente, texturas. Apesar de o contato com diferentes superfícies ser explorado com todo

o corpo, os bebês têm especial atenção por aquilo que lhes chega à mão, que inevitavelmente

é direcionado à boca. Isso porque, até por volta dos dezoito meses, o bebê tem como parte

mais sensível a boca, por onde eles descobrem, além dos sabores, as texturas. Pensando

nessas características e fase de descobertas dos bebês menores, o mercado editorial infantil

apresenta um número cada vez maior dos chamados livros sensoriais, especialmente os livros

toque e sinta e os livros com abas ou janelas. Essas produções, segundo Ana Paula Paiva, são

“subprodutos do livro interativo produzido com a tecnologia de acabamento editorial do

século XXI. Janelas, portas, esconderijos, aspectos táteis, visuais e olfativos instigam a

curiosidade infantil e apresentam conhecimentos lúdicos” (2013, p.147).

De entre as tipologias aqui apresentadas, os livros com textura, ou os chamados toque

e sinta, são os que mais estimulam o tato. Isso porque nas obras podem ser exploradas

diversas superfícies, que não se atêm apenas na diferença do suporte, mas também da

percepção de materiais e de seus tamanhos. Paiva acrescenta: liso, rugoso, macio, duro,

pegajoso, áspero, fundo, raso, cheio, vazio, brilhoso, opaco, espelhado, escamado etc. são

algumas das sensações que estes livros-brinquedo incitam. A proposta principal inclui“sentir

para descobrir”e a partir do toque criar memória vivencial (2013, p.134).

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Imagem 67. Opostos, da Ciranda Cultural

O livro acima, Opostos, da Ciranda Cultural, integra ilustrações sem imagens de

fundo, apenas desenhos minimalistas de cores contrastantes. Aqui, o que mais chama a

atenção é o efeito causado pelos pequenos cortes feitos no cartonado, como círculos e traços.

Por conta desse efeito de corte nas impressões, a maior parte dos livros toque e sinta de

editoras brasileiras são originais estrangeiros, dos quais são adquiridos os direitos de edição, e

também impressos em gráficas estrangeiras, sobretudo as chinesas, pela necessidade de

maquinário específico, o qual é dificilmente encontrado no Brasil.

Imagem 68. Fazenda e Floresta, da coleção Toque e Sinta com janelas, da editora

Ciranda Cultural

Dentre os catálogos pesquisados, a temática mais encontrada é a animal, sejam eles

domésticos ou selvagens. Nesses livros, surgem efeitos sintéticos para escamas de peixes,

penas de aves, pelos de mamíferos, entre outras sensações. Para os bebês maiores, os livros

também trazem recursos sensoriais de espaço, como caminhos, que estimulam a coordenação

motora.

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Imagem 69. Meus primeiros animais, da editora Girassol41.

Os chamados livros com abas ou livros com janelas, do inglês lift and flap, possuem o

recurso da curiosidade e descoberta.

Imagem 70. Com meus dedinhos - esconde-esconde, da editora Usborne

Esses livros, adaptações dos já referenciados turn-up books que remetem ao século

XVI, aliam os recursos das ilustrações impressas no suporte com a utilização de outras folhas

que tapam e destapam ilustrações e novidades, que surgem aos olhos dos bebês como uma

surpresa e descoberta. No entanto, essas produções contemporâneas não se limitam a revelar

um novo desenho: elas possuem também recursos sensoriais, buracos, alças, novos objetos,

tudo para enriquecer ainda mais a narrativa de um jeito lúdico e interativo.

41 Essa obra sugere que o bebê realize os caminhos dos animais nas paisagens do livro com os dedinhos,

descobrindo texturas e surpresas nas abas que revelam novidades.

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Imagem 71. 1, 2, 3 Quem está na fazenda?, da Brinque-Book

Conforme o livro acima, essas abas também podem revelar não apenas novidades que

surgem no meio do cenário e da narrativa, mas podem ser o desfecho e o encontro da

personagem principal em uma brincadeira de descobrir.

Imagem 72. Quem adora cenoura? e Quem adora lama?, da editora Vale das Letras

Os recursos para a construção das abas, dos corpos dos personagens e para a

construção dos cenários são muitos, no entanto, essas duas tipologias possuem em suma

maioria os suportes cartonados, que dão maior sustentabilidade para as janelas, mas também

há no mercado livros com essas temáticas feitos em alguns tipos de tecido. No que tange a

valores, foram encontrados nos catálogos de referência deste estudo, em outubro de 2018,

livros que custam entre R$24,90 e R$74,90. Indicados para bebês maiores, que já conseguem

interagir com as abas e ter a noção de descoberta, esses livros, com o auxílio do mediador de

leitura, podem ser apresentados para crianças de todas as idades, pois a interatividade que eles

oferecem permite que sejam, às vezes, percebidos aos poucos, com a repetição da leitura, o

que pode trazer uma novidade diferente a cada nova interação.

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3.1.9 Livros sanfonados

A história dos livros sanfonados, também chamados de livro-acordeão, remete à Ásia.

Criado por tibetanos, os livros consistiam em longas folhas dobradas e coladas entre placas de

madeira (LIEBERMAN, 2001, p.13). Esses livros eram produzidos especialmente para a

escritura de textos religiosos, e o material utilizado consistia em folhas de palmeira e outros

materiais tingidos de preto e escritos com ouro e prata. Além dos manuscritos asiáticos,

também existem livros raros nesse formato e que são registros de civilizações da América,

como maias e astecas. Esses livros foram evoluindo até o Orihon, que é uma tipologia chinesa

do século VII, e que foi amplamente utilizada no Japão a partir do século VIII (KORNICKI,

1998, p.43). A palavra japonesa orihon explica etmologicamente o que consiste esse tipo de

obra, sendo ori=dobra e hon=livro, ou seja, um livro dobrado.

Imagem 73. Dai hannya haramitsu takyou dai 578, ano desconhecido

Os livros sanfonados (em inglês chamados de accordion books ou concertina books),

também foram produzidos na Europa medieval, e a maioria dessas obras eram de cunho

histórico ou religioso, sendo bastante utilizados até o século XIX. No que tange aos livros

infantis, esse formato ganhou popularidade no século XX, pelo seu formato diferenciado,

econômico e interessante aos olhos das crianças menores, que ainda possuem dificuldade em

manusear e virar as páginas de um livro tradicional. Essa tipologia denota uma liberdade na

disposição das imagens, que podem ser impressas em um único espaço ou ir formando uma

grande ilustração, e narrativa, que pode ou não ser linear. Essa ludicidade na confecção

proporciona livros contemporâneos e diferentes para crianças menores e bebês, já que um

livro sanfonado é “an old idea reinvented for digital printing” (BREEDE; LISI, 2007, p.75).

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Imagem 74. Memórias de uma girafa, da editora Barbatana

Os livros sanfonados são uma tipologia popular e que figura em muitos catálogos de

editoras infantis. Seja em obras originais, seja em adaptação de clássicos, essas obras, quando

são direcionadas para crianças a partir de três anos, geralmente são produzidas em papel

cartão de alta gramatura, e dependendo da quantidade de páginas podem impressas em uma

única folha dobrada ou em várias folhas dobradas e coladas.

Imagem 75. A bela adormecida, da coleção Contos de Bolso. Livro sanfonado

com pop-up, da editora Girassol

Já os livros sanfonados para bebês possuem maior variedade no suporte. Podem ser

encontrados em versões cartonadas, de feltro e outros tecidos e mesmo em plástico como

livros de banho.

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Imagem 76. Curious Baby My First Book of Color, da HMH Books for Young

Readers. De um lado, o livro é impresso em preto e branco e do outro em cores.

Por ser uma tipologia de fácil execução, assim como os livros de pano, é fácil

encontrar na internet tutoriais de produção artesanais desses livros, assim como muitas

imagens de livros confeccionados e vendidos por artesãos e feitos por crianças em atividades

escolares. Por sua estrutura lúdica e imagética, os livros sanfonados exploram a visão e o tato,

tornando-se um objeto sinestésico que desperta o interesse e curiosidade e bebês e crianças.

Após apresentar essa multiplicidade de tipologias existentes no mercado editorial e

que podem ser direcionadas aos bebês, ainda com a consciência de que outras tipologias

foram deixadas de lado para estudos posteriores, tenciona-se agora saber acerca dos

compradores intermediários de tais obras, aqueles que fazem com que esses livros sejam

entregues aos seus consumidores finais que ainda não possuem independência para escolhê-

los. A seguir, será analisado como esses livros são selecionados para figurar nas prateleiras de

livrarias, bibliotecas e comércio até chegar à casa dos compradores finais, além de se estudar

a importância da visibilidade de tais obras para que essas se destaquem em um mercado cada

vez mais competitivo.

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4. Os compradores intermediários e os consumidores finais: Livrarias,

bibliotecas, mediadores e clubes de leitura

Apesar de serem os protagonistas e consumidores finais, os bebês dependem de

muitas pessoas para que os livros cheguem em suas mãos. Isso porque, além da dependência

natural, após saírem das editoras, as obras são distribuídas por livrarias, bibliotecas, lojas

online e, algumas vezes, lojas de brinquedos e artigos para crianças. Nesses lugares, para não

se tornarem apenas mais uma obra na prateleira sem qualquer destaque, muitas editoras optam

por pagar às livrarias pelo chamado retail design42, uma taxa para que a livraria exponha suas

obras em um lugar diferenciado, como as pontas de gôndolas e nichos, além de se valerem de

banners publicitários e outros materiais impressos que chamem a atenção para os livros. Tudo

isso para que os consumidores efetivos, os pais e mediadores, tenham interesse em optar pela

compra de tal obra em detrimento de tantas outras disponíveis.

Além de conseguir espaço nas livrarias, as bibliotecas também são outras

consumidoras fundamentais de livros, sejam como compradoras em um formato B2B43, sejam

pelo alcance da visibilidade que os livros terão ao ocuparem lugares nas estantes para serem

livremente folheados e emprestados. Além da simples oferta das obras como função

tradicional, as bibliotecas também fazem o papel de agentes de promoção de cultura e

fomento da literatura e usabilidade dos livros através de cursos, workshops e eventos.

Os clubes de leitura também retornaram à cena mercadológica com uma roupagem

contemporânea e conectada e despontam como curadores literários que divulgam, resenham e,

obviamente, vendem. Essas empresas facilitam a aproximação de cuidadores que desejem

sugestões de profissionais, que não tenham tempo de ir às bibliotecas e livrarias ou que se

julguem inexperientes para fazer escolhas de livros de qualidade e pertinentes à idade da

criança.

Por fim, os mediadores de leitura também são pessoas importantes na divulgação da

obra. Há especialistas na área de literatura infantil que possuem blogs e canais de renome nas

mídias sociais que conseguem alavancar as vendas dos livros ao escolherem tais obras para

divulgar, seja por uma escolha pessoal, seja por serem contratados para tal. Da mesma forma,

contadores de história também aproximam as narrativas das crianças, sendo responsáveis, ao

42 Retail design (design de varejo) é a prática projetual criativa responsável por pensar

a organização espacial, comunicativa e experiencial de um espaço interno e/ou externo, com o objetivo de facilitar e incitar a venda de bens e serviços ao consumidor final. Vide:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Retail_design 43 B2B, sigla para Business-to-Business (empresa para empresa, em tradução literal), é a relação de comércio

entre empresas. Na venda B2B, o cliente é uma outra empresa, que adquire o material para

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gostarem do enredo, pela promoção dos livros para poderem ler as estórias em seu suporte

tradicional e com a sua própria interpretação.

A partir desse ponto, serão avaliadas mais profundamente as contribuições que cada

um desses agentes da cadeia do livro dá para que as obras cheguem finalmente aos seus

consumidores finais.

4.1 Bibliotecas

A história das bibliotecas funde-se com a história da evolução da humanidade e

construção das sociedades ao redor do mundo. A primeira biblioteca da qual se tem

informações foi fundada no século 7 a.C. em Nínive, principal cidade Assíria, atual Iraque

(CASSON, 2018). O Mosteiro de São Bento, na Bahia, possui a primeira biblioteca do Brasil,

que foi fundada 1582 pelos Jesuítas. A primeira biblioteca infantil, no entanto, só foi fundada

em 1934 pela poetisa Cecília Meireles, localizada no Pavilhão ou Espaço Mourisco, no Rio de

Janeiro (BOLITE, 2007).

A partir do final da década de 1980, surge um novo conceito e formato de bibliotecas

pensado para atender aos usuários da primeiríssima infância: as bebetecas. O termo foi

utilizado pela primeira vez em Salamanca, Espanha, 1987, quando Georges Curie, em uma

conferência sobre leitura, citou a palavra bébéthèque (SENHORINI; BORTOLIN, 2008,

p.123). Na tradução espanhola, a qual foi agregada também para o vocabulário português, a

bebeteca possui significado na raiz da palavra e em sua aglutinação, conforme explicação de

Luciana Facchini (2010, p.4):

Imagem 77. Etimologia bebeteca

Em 1991, foi inaugurada a primeira bebeteca na Espanha, sob o projeto de Mercè

Escardó, que pontua:

Servicio de atención especial para la pequeña infancia (de 0 a 6 años) que incluye,

además de un espacio y un fondo de libros escogidos para satisfacer las necesidades de

los más pequeños y de sus padres, el préstamo de estos libros, charlas periódicas sobre

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su uso y sobre los cuentos, asesoramiento y una atención constante por parte de los

profesionales de la biblioteca hacia los usuarios (1990, p.20).

A partir de então, as bebetecas começam a multiplicar-se na Europa, especialmente na

Espanha e França (FACCHINI, 2010). Em Portugal, percebe-se a valorização desse tipo de

biblioteca e a atenção em números de espaços, que vêm aumentando consideravelmente, mas

também para o acervo e atividades oferecidas para a interação dos bebês e cuidadores. Ana

Margarida Ramos destaca:

As a general rule, the libraries have created sections for babies and toddlers which are

not limited to general use by the library goers but have also organized activities, thus

creating routines and habits in both children and parents. These activities vary in terms

of frequency, but are generally monthly gatherings which share the desire to promote

regular contact with books, associating that contact with well-being and pleasure and

demystifying many preconceived ideas about the relationship between the child on the

one hand and books and reading on the other (2012, p.81-83).

No Brasil, no entanto, as bebetecas ainda são raras. O primeiro espaço só foi

inaugurado em 2005 na cidade de Castro, Paraná. Já em 2007, é criada a bebeteca da UNESP,

campus Marília (FACCHINI, 2010, p.7). Onze anos depois, o país ainda não tem uma rede de

bebetecas efetivamente implantada, apesar de haver alguns esforços de universidades,

bibliotecas públicas e escolas infantis de, se não ter um espaço exclusivo para bebês, ao

menos uma sala que os atenda e que possua um acervo pertinente à faixa etária. É o que

acontece em São Paulo, na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, que possui um espaço

denominado Sala da primeira infância. A ainda chamada Biblioteca Infantil Municipal foi

fundada em 1936, sendo um resultado de um projeto cultural liderado por Mário de Andrade,

diretor Municipal de Cultura da época. É a biblioteca infantil em funcionamento mais antiga

do país e atualmente ocupa a sua terceira sede, um prédio construído especialmente para

abrigar o acervo. A partir de 1955, a biblioteca passou a chamar-se Monteiro Lobato44.

Para entender a importância de tal espaço, foi realizada uma pesquisa acerca das

atividades do local. Tal estudo englobou uma entrevista com uma funcionária aposentada da

biblioteca, uma visita técnica e a elaboração de um questionário, respondido pela responsável

pela programação da biblioteca. A priori, a intenção foi compreender em qual medida o

espaço trabalha com livros e eventos destinados à primeiríssima infância.

44 Informações constantes no site oficial da biblioteca, que podem ser consultadas no endereço

https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/monteiro_lobato/index.php?p=3821.

Acesso em 23/09/2018.

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Imagem 78. Biblioteca Monteiro Lobato

O acervo da Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato conta com, aproximadamente,

49.000 títulos, entre livros, revistas, livros didáticos e obras raras. Desses, 15% são livros de

literatura destinados às crianças de zero a seis anos. Essas obras são reunidas em um espaço

chamado Sala da primeira infância, o qual encontra-se em modernização e tem previsão de

reabertura para novembro desse ano. Além do espaço dedicado às crianças e seus respectivos

cuidadores, na sala acontecem contações de estórias e outros eventos dedicados aos bebês e

crianças. O local é pensado para a independência da criança ao se apropriar do lugar, com

estantes mais baixas, mesas e cadeiras infantis e conta com uma decoração colorida. Dentre os

livros que compõem a tal sala, há a oferta de livros-brinquedo, em sua maioria, livros

cartonados, toque e sinta e pop-up.

Imagem 79. Uma das salas dedicadas às crianças

Além de famílias, o local também recebe visitas monitoradas de creches e escolas

infantis, para que as crianças possam conhecer o espaço, o acervo e visitar as exposições

permanentes e temporárias que compõem a programação.

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Imagem 80. Exposição O mundo das maravilhas de Monteiro Lobato, que conta com

três ambientes e um grande “livro pop-up”, para que as crianças adentrem literalmente nos

livros do autor.

A biblioteca Monteiro Lobato também possui uma função fundamental ante as outras

bibliotecas infantis: ela é depositária de toda a produção nacional da área da literatura

infantojuvenil e, por esse motivo, recebe um exemplar de todos os livros lançados. Há um

grupo de colaboradores que fazem a seleção dos títulos para compor o acervo de todas as

bibliotecas públicas.

No que tange ao perfil dos frequentadores do local, há um levantamento de que a

biblioteca seja utilizada majoritariamente por mulheres, em sua maioria mães, avós e babás.

No entanto, em dias de evento, é comum a biblioteca receber famílias inteiras. Esses eventos

são compostos por shows de artistas conhecidos, como exemplo o Palavra Cantada, e também

atividades sugeridas pela própria comunidade, como apresentações de grupo de mães que

cantam cantigas de roda ou se propõem a fazer leituras das obras do acervo.

Quanto aos livros mais emprestados para a faixa etária da primeiríssima infância, são

mais requisitados os livros pop-up, mas todos os livros-brinquedo são bem aceitos45.

Após essa análise, percebeu-se a relevância da biblioteca perante à comunidade e

mesmo para as editoras, visto que a Monteiro Lobato é a responsável por indicar as obras para

todas as bibliotecas públicas. Somente em São Paulo, há 53 bibliotecas com espaços

dedicados ao público infantil. Também foi visível a dedicação dos funcionários nos cuidados

com os livros e o respeito à literatura infantil como um todo, já que, no dia da visita técnica,

duas funcionárias afirmaram ser já aposentadas, mas que vão ao espaço periodicamente para

45

As informações sobre a biblioteca foram obtidas na entrevista e com o retorno do questionário enviado.

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auxiliar e instruir os colaboradores mais novos acerca do trabalho e multiplicar o

conhecimento adquirido durante os anos de trabalho.

4.2 Clubes de Leitura

Os clubes de leitura surgiram ainda no século XVIII. Nos Estados Unidos, os

puritanos reuniam-se para estudar a bíblia, enquanto na Europa os aristocratas e burgueses

faziam reuniões para falar de leituras e novidades intelectuais. Essas reuniões foram ganhando

novos formatos e reunindo perfis específicos de participantes, como o caso do Ladies'

Literary Club of Ypsilanti, do Michigan, um clube de leitura exclusivo de mulheres que existe

desde 1878 (LONG, 2003). A partir de 1920, são originados os clubes de leitura com

curadoria e envio de livros pelo correio, com a proposta de enviar uma mesma obra para que

várias pessoas, de vários lugares, possam conhecer os títulos de destaque nos clubes de leitura

tradicionais. Nesse formato, o pioneiro foi o americano Book of the Month, criado em 1926

(RADWAY, 1997). No Brasil, o primeiro clube de leitura foi criado em 1946 por Mário

Graciotti, quando fundou O Clube do Livro, uma editora que publicava e distribuía obras

mensalmente, em sua maioria clássicos. O sucesso foi tanto que algumas obras tiveram

tiragens 50.000 exemplares (MILTON, 1996).

Os clubes de leitura dedicados à curadoria de livros infantis estão cada vez mais em

voga no Brasil. São empresas que selecionam os livros pertinentes a cada faixa etária, de olho

no mercado editorial infantil recente, resenham e enviam para a casa do cliente, de acordo

com o plano contratado. O sucesso desse formato de curadoria é tanto que algumas editoras

com catálogos maiores já estão investindo em clubes de leitura para divulgar e enviar as suas

obras para os clientes, como exemplo o Expresso Letrinhas, do selo Companhia das Letrinhas,

da editora Companhia das Letras.

Dentre as empresas que oferecem o serviço, A Taba se destaca pela quantidade de

serviços oferecidos, pois além do clube de leitores para pessoa física e também para escolas (e

creches), os especialistas resenham os livros e disponibilizam conteúdos acerca da literatura

infantil no site, os quais podem ser acessados por qualquer pessoa, independente de

assinatura.

A Taba foi idealizada por Denise Guilherme, que é mestre em educação, formadora de

professores e consultora de projetos de leitura. Os dados aqui inseridos foram obtidos através

de uma entrevista com ela realizada em setembro, além da compilação de informações

constantes no site da empresa, e foi tencionado perceber qual é a visão de uma empresa de

curadoria e qual o papel dos clubes de leitura na divulgação das obras. Segundo Denise, A

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Taba surgiu em 2013, ainda com o nome Leitura em Rede. O projeto, no entanto, é de 2011, e

partiu da experiência de viajar por todo o país com trabalhos acerca da formação de leitores,

quando percebeu a realidade brasileira sobre o acesso aos livros. A partir de então, ela sentiu a

necessidade de divulgar bons livros e falar de literatura infantil, pois na época ainda eram

poucos os canais na internet que dedicavam a falar do tema de modo acessível e no formato

proposto. A Taba considera fundamental o contato dos bebês com os livros desde muito cedo,

tanto que possui um plano de leitores para essa faixa etária, que pode contratado para apenas

um mês, por tempo indeterminado ou anual. Também possui um plano para berçários e

creches que, assim como para pessoas físicas, além do livro também envia um mapa de

exploração, elaborado pelos especialistas para potencializar a leitura, um passaporte do leitor

para registrar as “viagens literárias” e brindes.

Todos os livros são selecionados pelos colaboradores da empresa de acordo com o que

consideram de qualidade, pois não possuem nenhum tipo de vínculo com editoras e nem

aceitam parcerias para divulgação de obras que não considerem enquadradas no perfil estético

e literário traçado por eles. Nesse sentido, ter uma obra escolhida pela Taba para o clube de

leitura também é um sinônimo de reconhecimento da obra, que pode ter a sua resenha

publicada no site. Apesar de reconhecer que um livro-brinquedo pode ajudar o bebê a

entender o manuseio do livro, A Taba tem a visão de que mesmo as crianças menores podem

e devem ter a experiência que um bom livro tradicional pode oferecer, com uma boa narrativa,

atenção à sonoridade e imagens. Além do formato do livro em si, outro ponto fundamental

para que a criança aprecie essa experiência com a obra é a questão da mediação da leitura, ou

a interação do cuidador com o livro e o bebê. Os livros selecionados para a categoria bebê

possuem um tempo de narrativa pertinente ao curto período de atenção que os bebês menores

se prendem a uma atividade, logo, muitos pontos são levados em conta para as escolhas das

obras. Dessa forma, A Taba torna-se um serviço de curadoria com um diferencial frente a

alguns outros clubes de leitura, que preferem livros com tipologias diretamente elaboradas

para bebês. Essa diferença é refletida nos feedbacks recebidos dos clientes, pois muitos

apontam que assinam mais de um clube de leitura e que A Taba se destaca nesse sentido.

Acerca desse público, há um levantamento de que as assinaturas são realizadas em sua

maioria por mulheres, com idade entre 25 e 55 anos, que possuem ensino superior e que

geralmente assinam o clube para seus filhos ou devido a função de educadora. A interação

que os assinantes têm com a empresa propicia esses levantamentos acerca do perfil do

público, assim como as suas preferências literárias. De acordo com as escolhas dos assinantes

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100

sobre os livros enviados, é possível saber quais são os títulos que mais agradam os clientes,

como foi demonstrado na pesquisa sobre os livros favoritos do ano de 2017.

Imagem 81. O animal mais feroz, de Dipacho, editora V&R; Um abraço passo a

passo, de Tino Freitas e Jana Glatt, da Panda Books, e Quero Colo!, de Stella Barbieri e

Fernando Vilela, da Edições SM.

Nenhum dos livros escolhidos pelos assinantes é enquadrado na categoria livro-

brinquedo. Por fim, o site possui uma grande quantidade de listas, como das obras enviadas

mensalmente seguindo o critério etário e também as temáticas, como seleções de obras que

tratam da relação mãe e filhos, livros sobre deixar a fralda e chupeta, entre outros.

Imagem 82. O que tem dentro da sua fralda? De Guido Van Genechten, editora

Brinque-Book. Este livro-brinquedo faz parte da curadoria de livros para bebês

Além disso, também há os bate-papos feitos com especialistas em diversas áreas da

literatura infantil, mercado editorial, design, ilustração, entre outros. Os temas são escolhidos

de acordo com a experiência da Denise e dos colaboradores, da necessidade de se tratar do

tema e mesmo da sugestão de pessoas que acompanham a página. Geralmente, esses vídeos

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são transmitidos em tempo real, para a possibilidade de interação do público com o envio de

dúvidas, e após as conversas são disponibilizadas na íntegra como arquivo no site. Dentre os

temas dos vídeos, muitos são de relevância para interessados na primeiríssima infância, como

uma conversa com uma pesquisadora portuguesa acerca da materialidade gráfica dos livros, a

importância da leitura para bebês e como ler para essa faixa etária.

4.3 Livrarias

A indústria cultural já é tema recorrente de estudos críticos e analíticos acerca da

evolução tão rápida das produções voltadas para o consumo da cultura. O termo foi usado

pela primeira vez em 1944 por Adorno e Horkheimer, ainda com foco na televisão e cinema, e

desde então o conceito vem sendo utilizado para outras artes, sejam essas culturas de massa,

com cobertura e abrangência de um grande número de pessoas, como a indústria televisiva,

sejam mais elitizadas46. O fato é que essas produções captam e movimentam a economia do

mundo inteiro, o que as liga diretamente com o mercado consumidor desses produtos, e a

indústria editorial é enquadrada nesse filão. Ainda que livro seja visto por muitos como um

objeto de arte, lazer e conhecimento, o fato é que ele não deixa de ser um produto e, como tal,

pode gerar lucros ou prejuízos. Por conta disso, o estudo da cadeia do livro, sobretudo do

comércio livreiro, é de suma importância para aqueles que desejam entender o caminho que

abrange desde a concepção e produção dessas obras até que ela chegue às mãos do

consumidor final, que, no caso deste estudo, é o bebê.

Apesar dos avanços das vendas on-line e do fato de os livros infantis, sobretudo os

livros-brinquedo, poderem ser comercializados em outros estabelecimentos comerciais, as

livrarias físicas ainda detêm o maior número de clientes consumidores de livros. Os números

mostram que o Brasil ainda não possui uma quantidade de livrarias suficiente para atender

confortavelmente a população. Segundo a Associação Brasileira de Livrarias (ANL), em

201447 existiam 3.095 livrarias no Brasil, o que representa uma média de uma loja para cada

64.954 pessoas. O número é abaixo do recomendado pela UNESCO, que é de uma livraria

para cada dez mil pessoas. As estatísticas também apresentam um agravante: as livrarias são

distribuídas de modo desigual pelo país, com a massiva presença nas regiões sul e sudeste,

sendo que a região norte possui o menor número de lojas do setor.

46 O termo indústria cultural foi utilizado pela primeira vez no livro Dialética do Esclarecimento, de Theodor

Adorno e Max Horkheimer, publicado no Brasil pela editora Zahar em 1985. 47 Pesquisa mais recente do setor. Os dados podem ser conferidos em sua totalidade no endereço

http://www.innovarepesquisa.com.br/blog/livrarias-brasileiras/. Acesso em 10/10/2018.

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No Brasil, existem redes de livrarias que possuem renome e prestígio dentro do

comércio livreiro, muitas com lojas dentro de shoppings e grandes centros comerciais. Em

todas essas lojas existem departamentos de livros infantis, em maior ou menor tamanho

dependendo da proposta da rede e da localização. No entanto, mesmo esses grandes nomes do

mercado livreiro têm enfrentado problemas no atual cenário econômico do país, o que tem

culminado no fechamento de livrarias pelo Brasil afora. Apesar desse desaceleramento

econômico do setor, os estabelecimentos de rua e independentes chamam a atenção do

consumidor não somente como mais um ponto comercial, mas de resistência e paixão pelos

livros. No entanto, como cita Mariana Guerra, ainda que haja ideologias diferentes no que

tange à motivação da venda do livro, no comércio, o lucro será o objetivo central (GUERRA,

2015, p.28). Ainda assim, as livrarias temáticas proporcionam experiências que vão além do

simples ato de comprar o livro, pois surgem como redutos de conhecimento e proporcionam

eventos na área de trabalho para aproximar seus clientes não somente do os produtos, mas do

próprio espaço. Além disso, as livrarias especializadas oferecem um número muito maior de

opções acerca dos livros, talvez não pela quantidade, mas pela oportunidade enriquecedora de

se trabalhar com editoras independentes, que não conseguem espaço ou não possuem recursos

para figurar nas prateleiras de grandes redes livreiras, mas que produzem obras de alta

qualidade gráfica e literária. Durante as pesquisas de campo feitas para a realização deste

trabalho isso pôde ser observado de modo muito claro. As grandes livrarias que foram

visitadas e que possuíam um departamento de livros infantis comercializavam sobretudo

livros de poucas e grandes editoras, e no que tange à primeiríssima infância, massivamente

livros brinquedo. As obras de formato tradicional eram direcionadas às crianças maiores, e

ainda assim também frutos dos catálogos dessas mesmas editoras. Aqui, a intenção não é

questionar a qualidade desses livros oferecidos, mas sim a falta de diversidade e oferecimento

de variedades a um público que, muitas vezes, não tem acesso aos trabalhos independentes e

diferenciados de editoras menores.

Nesse ponto, serão analisados os trabalhos e a oferta de duas livrarias especializadas

em livros infantis, localizadas em São Paulo: a PanaPaná e a NoveSete. Os dados a seguir

foram compilados através de visitas técnicas e questionários enviados às proprietárias dos

estabelecimentos48.

A livraria PanaPaná, localizada na Vila Clementino, existe desde 2008. É uma loja de

pequeno porte, mas que possui 2.500 títulos de cerca de 20 editoras para venda: um terço

48 As visitas foram realizadas em julho de 2018. O questionário enviado pode ser conferido no apêndice deste

estudo.

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103

desse montante são livros-brinquedo, além de possuir também grande variedade em títulos

voltados à primeiríssima infância em formato tradicional. Os livros-brinquedo são os produtos

mais procurados pelos clientes que buscam presentes para bebês, mas os colaboradores, assim

como a proprietária, possuem um vasto conhecimento acerca da literatura infantil e, caso o

cliente deseje, também mostram e comentam sobre livros tradicionais de qualidade, além de

sugerir e explicar sobre a mediação de leitura feita pelo adulto e a relação deste com o bebê

leitor. No entanto, apesar de haver alguma procura, a livraria não oferece livros licenciados

que, segundo os colaboradores, fogem à proposta da loja em oferecer produtos originais e

novas experiências. A proprietária Celina Bodenmüller seleciona os livros para venda

pessoalmente, e possui uma prática diferente se comparada às demais livrarias: não trabalha

com consignação, todos os livros à venda são comprados, o que é uma vantagem para as

editoras que possuem títulos escolhidos pela livraria.

Segundo a análise da própria proprietária, a livraria destaca-se frente ao mercado

competitivo pelo atendimento. O estabelecimento possui contas em mídias sociais e site

próprio, e os colaboradores respondem as mensagens dos clientes com brevidade. Inclusive,

muitas pessoas fazem pesquisas sobre títulos através desses canais, e quando a loja não os

tem, procura sempre encontrá-los juntos as editoras para atender aos pedidos. No que tange

aos livros mais vendidos, os livros-brinquedo no geral sempre possuem mais saída, assim

como os livros de dinossauro (muitos livros são de autoria da proprietária, que é uma

estudiosa do assunto e que possui vários títulos sobre o tema e que são dedicados às crianças).

Imagem 83. Livraria PanaPaná – fachada e oferta dos livros-brinquedo

O espaço é acolhedor para adultos e crianças. Os livros são acessíveis e a criança pode

manusear os livros livremente, além de haver mesas e cadeiras menores para que as crianças

possam ver os livros mais confortavelmente. Além disso, no espaço também são realizados

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eventos de lançamento de livros, oficinas e contação de estórias, e algumas dessas atividades

são voltadas especialmente para o público de zero a três anos.

A aproximadamente a 2km de distância da PanaPaná fica a livraria NoveSete.

Também inaugurada em 2008, a loja conta com um espaço físico amplo e conta com cerca de

5000 títulos de um grande número de editoras, que expõe as suas obras para venda em caráter

de consignação. Apesar de ter mais variedade de livros para crianças de quatro a oito anos e,

por isso, essa ser a sua faixa etária de maior comercialização, a loja também possui uma parte

dedicada a livros-brinquedo e obras tradicionais voltadas para a primeiríssima infância,

algumas licenciadas de personagens como Peppa Pig e Bita. Além da comercialização de

livros infantis, a livraria também possui obras para o público juvenil e para adultos, mas esses

são sempre livros teóricos com temáticas voltadas para o universo infantil, como puericultura.

O estabelecimento possui no andar superior um espaço dedicado a exposições, e no

fundo da loja há um espaço amplo para eventos como contação de estórias, oficinas criativas e

cursos. Também há mesas e cadeiras para que os clientes possam folhear os livros mais

confortavelmente, além de uma lanchonete que funciona em dias de evento. A livraria

também possui contas em mídias sociais e site próprio, no entanto, a venda de livros é feita

exclusivamente de modo presencial.

Imagem 84. Livraria NoveSete – fachada e setor de livros-brinquedo

A existência de espaços como a PanaPaná e a NoveSete fomentam o interesse das

crianças, assim como de seus cuidadores, pelos livros. Isso porque nesses estabelecimentos os

clientes possuem a liberdade de acesso fácil a uma grande quantidade de títulos, que podem

ser folheados e discutidos com os profissionais que trabalham nas lojas, assim como receber

orientações mais direcionadas de curadoria das obras. Os eventos como contação de estórias e

oficinas estimulam o contato dos bebês e crianças com o universo literário em com o objeto

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livro de maneira lúdica e natural, o que também contribui, obviamente, para a promoção dos

espaços e aumento nas vendas dos títulos.

4.4 Editais, prêmios e crítica – A visibilidade dos livros

Uma editora, para publicar um livro, deve fazer uma série estudos acerca da análise

de originais, contratações, gestão orçamentária, elaboração, produção e impressão da obra. No

entanto, após ter os livros disponíveis em estoque, ainda há que se preparar para um outro

processo tão importante quanto a própria produção: a venda. Para isso, pode recorrer às

livrarias, lojas, atuantes no comércio livreiro e à venda on-line, seja essa por lojas virtuais,

sites próprios, blogs ou até mesmo mensagens através das mídias sociais. Apesar disso, fazer

com que a sua obra seja destacada frente a um mercado saturado de títulos não é uma tarefa

fácil para uma editora, sobretudo quando essa é de pequeno porte ou nova no mercado.

Para obter reconhecimento como um livro de qualidade e, com isso, aumentar o seu

poder de venda, a obra precisa, antes de chegar às mãos do bebê, agradar aos adultos que

intermediarão o acesso entre a editora e o consumidor final. Peter Hunt pondera sobre o

assunto:

Lemos a literatura de uma maneira diferente da não literatura: extraímos do texto

sensações ou reações. No entanto, no caso dos livros para criança, não podemos fugir

ao fato de que são escritos por adultos, de que haverá controle e estarão envolvidas

decisões morais. Da mesma forma, o livro será usado não para acolher ou modificar

nossas opiniões, mas para formar as opiniões da criança. Assim, os tipos de leitura que

os textos para crianças recebem delas envolvem aquisição da cultura e da língua. Isso

significa que a definição “não funcional” de “literatura” exclui toda literatura infantil

ou não se aplica a ela (HUNT, 2010, p.61).

Conforme o texto de Hunt, ao analisar um texto voltado para o universo infantil, deve-

se ter em conta que a obra foi escrita por adultos, com a sua bagagem, visão de mundo e

inevitavelmente as suas próprias opiniões. Da mesma forma, ao vender um livro infantil, a

editora deverá primeiramente agradar aqueles que comprarão a obra que finalmente chegará à

criança, e para que isso ocorra a publicidade dos livros é de suma importância. Nesse capítulo,

de entre as possibilidades de propaganda e reconhecimento que um livro pode ter, serão

analisados os editais em que tais obras podem ser inscritas e assim ganhar mais visibilidade,

as premiações brasileiras que abarcam o universo infantil e a crítica especializada, que pode

ser de cânones da literatura que escrevem em veículos consolidados sobre o assunto, ou as

novas mídias que vem despontando nos últimos anos e que alcançam um grande número de

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pessoas, como os casos de blogs e canais que tratam sobre o mercado editorial infantil,

conforme já tratado no capítulo anterior.

4.4.1 Editais – O PNBE e o PNLD Literário

No Brasil, existem uma variedade de programas de incentivo à leitura e que

contemplam creches, escolas e bibliotecas. Esses projetos são elaborados e conduzidos pelos

governos dos estados, pelo governo federal, por organizações não governamentais e por

instituições privadas, e a participação de editoras geralmente é regida por editais. Dentre

tantas opções possíveis de análise, este estudo se aterá às características específicas do PNLD

Literário, Programa Nacional do Livro e Material Didático, que faz parte do PNBE (Programa

Nacional Biblioteca na Escola), devido à abrangência de tal projeto, que é realizado em

âmbito nacional e que passou a contemplar creches públicas e conveniadas com o governo,

garantindo assim o acesso de bebês frequentadores aos livros. Essa escolha também é de

cunho social, visto que muitos bebês que frequentam esses estabelecimentos não teriam

contato com os livros e com a literatura em outros lugares, seja por falta de recursos

financeiros, seja por inacessibilidade dos livros pela distância. Aqui, tenciona-se explanar a

origem de tal programa, sua abrangência e características, assim como a sua relevância. Para

exemplificação, serão utilizadas as regras do último edital, lançado em 2018, além dos dados

estatísticos do edital anterior, de 2014.

Dentre os editais brasileiros que contemplam livros infantis, o maior e mais

difundido é o PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escola. Desenvolvido em 1997, tem

o objetivo de promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nos alunos e professores por

meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência49. O

programa, que está sob a responsabilidade do Ministério da Educação (MEC), é o responsável

por mais da metade do total de compras de livros do Brasil:

Em 2008, o programa teve sua abrangência ampliada. Além das escolas de ensino

fundamental, as de educação infantil e do ensino médio passaram a receber obras de literatura.

Os acervos foram compostos por textos em verso (poemas, quadras, parlendas, cantigas,

travalínguas, adivinhas), em prosa (pequenas histórias, novelas, contos, crônicas, textos de

dramaturgia, memórias, biografias), livros de imagens e de histórias em quadrinhos e, ainda,

obras clássicas da literatura universal.50

49 Fonte: http://portal.mec.gov.br/programa-nacional-biblioteca-da-escola. 50

Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/biblioteca-na-escola/historico.

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Com a ampliação do programa, as escolas infantis foram subdividas em duas

categorias – creche I, sendo essa para a compra de obras literárias voltadas para crianças de

zero a um ano e seis meses, e creche II, em que se enquadram os livros para crianças de um

ano e sete meses a três anos e onze meses. Como essas duas faixas etárias correspondem ao

período da primeiríssima infância, tratado neste estudo, a análise feita a seguir se aterá

somente nessas primeiras categorias.

A quantidade de livros comprados pelo PNBE é extremamente expressiva e, por isso,

uma obra contemplada pelo edital pode representar uma venda significativa para a editora. De

acordo com os dados do PNBE 2014, tem-se os seguintes dados51:

Tais livros foram reunidos em dois acervos com 25 obras cada, sendo que escolas de

até 40 alunos receberam apenas um acervo.

Em 2018, o edital de escolha dos livros teve algumas mudanças. Selecionados através

do PNLD Literário – Programa Nacional do Livro e do Material Didático, que contou com a

inscrição de 1034 obras. No edital, são observados diversos pontos que são avaliados pelos

selecionadores, dentre eles o tema, sendo que são citados no documento os assuntos casa,

família, escola e amigos, descoberta de si, mundo natural e social, além da categoria outros

temas52. Também são destacados pontos como a composição gráfica dos livros: Para a

educação infantil, as obras deverão ser confeccionadas em material atóxico (por exemplo:

papel, cartonado, tecido, EVA, plástico) de forma a possibilitar o manuseio por crianças de 0

a 5 anos e 11 meses, podendo ser apresentados em diferentes tamanhos. As obras que

possuem brinquedos deverão, obrigatoriamente, conter o selo do Inmetro53.

A lista com o resultado das avaliações das obras foi divulgada em agosto de 2018 e,

das 43 obras consideradas como livros direcionados às categorias creche I e II, apenas 24

51 Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/biblioteca-na-escola/dados-estatisticos. Os

dados de 2014 são os mais recentes, já que o edital do PNLD Literário de 2018 teve o seu resultado em agosto e,

durante a finalização deste estudo, as creches e escolas ainda estavam em processo de conhecimento e escolha

das obras. 52 Tais informações constam nas páginas três e quatro do edital, que pode ser lido na íntegra no endereço

http://www.fnde.gov.br/programas/programas-do-livro/consultas/editais-programas-livro/item/11568-edital-

pnld-liter%C3%A1rio. Acesso em 09/10/2018. 53

Ibidem.

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foram aprovadas54. Apesar de serem referenciados no edital, não há livro-brinquedo de entre as

obras selecionadas, com exceção de Bichinhos, da editora Bamboozinho, que é um livro em

formato tradicional, mas que possui um aplicativo que pode ser baixado no smartphone ou

tablet, reconhecido por QR Code, que reproduz a narração do texto e o som original dos bichos

ilustrados.

Ter uma obra selecionada em editais como o PNLD Literário é uma excelente vitrine,

principalmente para novas editoras, pois muitos livros que são selecionados não são

facilmente encontrados em grandes redes livreiras, e o motivo é pelo alto custo cobrado pelas

distribuidoras e valor cobrado para que as livrarias exponham as obras. Atualmente, esses

estabelecimentos cobram entre 40% a 60% do valor de capa, custo impraticável para

pequenas editoras, sobretudo de obras com tiragens iniciais pequenas. No entanto, ao ter o seu

título divulgado e reconhecido como obra de qualidade, além da venda substancial e a

possibilidade de realizar novas impressões do livro, a própria editora ganha mais prestígio

dentro do mercado, o que alcança também os outros títulos de seu catálogo.

4.4.2 Prêmios

Outra forma importante de se ganhar notoriedade frente ao mercado editorial é

participar de premiações, sobretudo quando são concursos reconhecidos e de ampla

concorrência. No Brasil, os principais prêmios que contemplam obras de literatura infantil são

o Prêmio Jabuti, que é de responsabilidade da Câmara Brasileira do Livro (CBL), e o Prêmio

da FNLIJ - Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

O Jabuti é o mais antigo e tradicional prêmio do livro no Brasil, com primeira edição

em 1959, sendo entregue anualmente. O nome do prêmio provém da obra Reinações de

Narizinho, de Monteiro Lobato, em que havia como personagem um jabuti vagaroso, mas

muito esperto e disposto a vencer obstáculos (GUERRA, 2015, p.23). Até 2017, o prêmio

possuía 27 categorias, as quais foram unificadas e reestruturadas e, a partir de 2018, reduzidas

a 19, nas quais podem concorrer os livros para a primeiríssima infância: livro infantil e

juvenil, capa, ilustração, impressão, projeto gráfico, formação de novos leitores, livro

brasileiro publicado no exterior e livro do ano. Além do reconhecimento como ganhador e a

estatueta cobiçada por seu prestígio e tradição, os primeiros colocados de cada categoria

54 A lista geral pode ser verificada em https://www.publishnews.com.br/materias/2018/08/30/sai-o-resultado-

do-pnld-literario. Acesso em 03/09/2018.

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recebem um prêmio de R$5.000,00, com exceção do vencedor do livro do ano, que recebe o

montante de R$100.000,0055.

A Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil criou o Prêmio FNLIJ em 1975.

Prêmio específico de literatura infantil e juvenil, possui, dentre as suas categorias de

premiação livros para criança, jovem, livro informativo, poesia, ilustração, projeto editorial e

livro-brinquedo. Essa última, devido as suas particularidades inerentes a este estudo em

detrimento de outros prêmios, será especialmente analisada a seguir.

Ano Título Escritor(a) Ilustrador(a) Tradutor(a) Editora

1998 Drácula:

um livro abra a aba

de arrepiar

Keith

Faulkner

Jonathan

Lambert

José Amaro Companhia das

Letrinhas

1999 Coleção

Livro de pano do

bebê Maluquinho

Ziraldo Ziraldo - Melhoramentos

2000

Coleção

Esfregue e cheire

(Jardim; Comida)

Vários Vários Salamandra

2001 Feliz Natal

Ninoca!

Lucy

Cousins

Lucy

Cousins

Maria Elza

M. Teixeira

Ática

2002 A girafa

que cocoricava

Keith

Faulkner

Jonathan

Lambert

Iran de

Souza

Companhia das

Letrinhas

2003 Não houve

premiação para essa

categoria

2004 Não houve

premiação para essa

categoria

2005 Coleção

Ache o bicho

Svjetlan

Junakovic

Svjetlan

Junakovic

Roberta

Saraiva

Cosac Naify

2006 A casa dos

ratinhos

Maria-José

Sacré

Maria-

José Sacré

Salamandra

2007 Os três

porquinhos

Cyril Hahn Cyril

Hahn

Eduardo

Brandão

Companhia das

Letrinhas

55 Fonte: https://www.publishnews.com.br/materias/2018/05/15/premio-jabuti-diminui-categorias-e-aumenta-

valor-dos-premios. Acesso em 10/10/2018.

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2008 De um a

dez... Volta outra

vez

Betty Ann

Schwartz

Renata

Siqueira Tufano

Ho

Susie Shakir Melhoramentos

2009 A história

de tudo: do Big

Bang até hoje em

divertidas

dobraduras.

Neal

Layton

Engª de

papel de

Eduardo

Brandão

Companhia das

Letrinhas

2010 Girafas

não sabem dançar

Giles

Andrade

Guy

Parker-Ress

(engenharia de

papel Corina

Fletcher)

Eduardo

Brandão

Companhia das

Letrinhas

2011 Quimonos/

Yumi

Annelore

Parot.

Annelore

Parot.

Eduardo

Brandão

Companhia das

Letrinhas

2012 Na floresta

do bicho-preguiça

Anouck

Boisrobert e Sophie

Strady

Louis

Rigaud

Cássia

Silveira

Cosac Naify

2013 Kokeshis Corinne

Demuynck.

Corinne

Demuynck

- Salamandra

2014 Casa de

bonecas: desvende

os segredos de um

lar vitoriano

Jemima

Pipe

Maria

Taylor

Rafael

Mantovani

Salamandra

2015 O livro

com um buraco

Hervé

Tullet

Hervé

Tullet

Emilio Fraia Cosac Naify

2016 Era uma

vez ...

Benjamin

Lacombe

Benjami

n Lacombe

(arquitetura de

papel José Pons)

Lavínia

Fávero

Positivo

2017 Monstros

do cinema

Augusto

Massi

Daniel

Kondo

- SESI-SP

2018 Não houve

premiação para essa

categoria

Imagem 85. Fonte: FNLIJ56.

56

Informações disponíveis no endereço http://www.fnlij.org.br/site/premio-fnlij.html.

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111

Conforme a tabela acima, a categoria livro-brinquedo teve a sua primeira premiação

em 1998, referente a produção de 1997, ano em que a obra Drácula: um livro abra a aba de

arrepiar, de Keith Faulkner, foi a contemplada. Entre 1997 a 2018, apenas os anos de 2002,

2003 e 2018 não tiveram ganhadores na categoria. Das obras agraciadas até o momento,

apenas duas são de autoria de artistas brasileiros, o que reflete a ainda pequena produção de

livros-brinquedo original do país. Além disso, apenas os livros desses autores brasileiros

podem ser direcionados à primeiríssima infância, já que os demais são indicados para crianças

maiores. Por fim, há um reflexo da supremacia das grandes editoras brasileiras, já que, até o

último concurso, nenhuma editora independente foi galardoada com o prêmio.

Imagem 86. Imagens da coleção Livro de pano do bebê maluquinho, da editora

Melhoramentos

Imagem 87. Monstros do cinema, da editora SESI

A FNLIJ também possui o selo de distinção altamente recomendável, que é mais um

reconhecimento oferecido pela instituição pela qualidade literária e estética das obras

selecionadas e que também as coloca em destaque no mercado.

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Em sua dissertação de mestrado, Mariana Guerra faz um levantamento das editoras

contempladas pelos prêmios Jabuti e FNLIJ entre os anos 2004 a 2013. O resultado foi que,

das 35 editoras premiadas, 21 estão localizadas no estado de São Paulo, o que corresponde a

60% do total (GUERRA, 2015, p.63-64), o que corrobora com a pesquisa encomendada pela

ANL referenciada no capítulo acerca das livrarias, as quais também são encontradas em maior

quantidade em São Paulo, assim como as editoras que tiveram livros selecionados nos editais

do PNBE, o que denota a hegemonia da região sudeste do país, sobretudo de São Paulo,

quando se trata de editoras de livros infantis. Ela também ressalta o quanto investir em

premiações pode ser rentável pela editora:

Sabendo que os Prêmios Jabuti e FNLIJ recebem investimentos editoriais, não há

como os consumidores se esquivarem. Em outras palavras, agenciar prêmios é um

negócio lucrativo, tanto pela visibilidade, tanto pela venda e a consequente

permanência no mercado e nas estantes das bibliotecas escolares. Mesmo com uma

variedade imensa de editoras que dão um considerável suporte financeiro aos prêmios,

essa multiplicidade serve apenas para perpetuar a ilusão da concorrência e

possibilidade de escolha (GUERRA, 2015, p. 27).

O Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, com primeira edição em 1994, também é

entregue anualmente. Possui nove categorias para premiar profissionais da área de tradução,

designers gráficos e autores, de entre elas, a categoria literatura infantil e projeto gráfico.

A revista Crescer, da editora Abril, criou o Prêmio Monteiro Lobato em 2006. O

prêmio é entregue anualmente para o autor vencedor e, além disso, a revista faz uma lista dos

melhores livros infantis lançados no Brasil no ano anterior, a qual é publicada sempre na

edição do mês de junho. Tal lista é considerada um dos maiores termômetros das publicações

editoriais voltadas para crianças no Brasil, e as críticas de cada obra são elaboradas por

profissionais de renome do mercado editorial brasileiro e estudiosos das áreas de literatura,

design e editoração, conforme será analisado no próximo tópico.

O Brasil também possui artistas ganhadores de importantes prêmios internacionais. A

maior premiação em âmbito mundial é o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da

literatura infantil. Criado em 1956, recebe o nome de um dos mais importantes autores de

contos de fadas e é entregue a cada dois anos. O prêmio é de responsabilidade do

International Board on Books foi Young People (IBBY), e possui duas categorias: escritor e

ilustrador. A primeira escritora brasileira condecorada com o Hans Christian Andersen é

Lygia Bojunga, que recebeu o prêmio em 1982, seguida por Ana Maria Machado,

condecorada em 2000. Na categoria ilustração, o único brasileiro premiado é Roger Mello,

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que recebeu o prêmio em 2014 e é, até o momento, o único latino-americano a receber tal

honraria.

Com a menção das premiações que condecoram os livros infantis, também é

importante frisar os colaboradores que possuem suma importância para a realização

desses eventos, que são os críticos e componentes do júri. Com base nas informações

aqui compiladas, percebemos a complexidade do mercado editorial infantil, sobretudo

o mercado voltado para bebês, que ainda que seja encarado como um produto lúdico,

pedagógico de entretenimento, tem se tornado cada vez mais um objeto mercadológico

rentável e acessível.

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5. Conclusão

Ao analisarmos o mercado editorial infantil em 2018, percebemos o quão expressiva

foi a evolução dos livros voltados aos bebês nos últimos anos, sobretudo os livros-brinquedo,

após a virada do século. Esse crescimento, que é enxergado em termos quantitativos e

qualitativos, deve-se em grande parte pelos avanços tecnológicos do setor editorial, que com

mais recursos, também tem mais capacidade de criação e inovação. O resultado são livros

altamente interativos, que promovem, além do entretenimento, o desenvolvimento cognitivo e

motor dos bebês de maneira lúdica, natural e gradual.

No que tange especificamente ao mercado editorial do Brasil, percebemos, com esse

estudo, que os livros voltados para bebês ainda necessitam ser explorados sob muitos

aspectos, já que pouco foram analisados pela academia e mesmo pelo próprio mercado e

organizações relacionadas ao objeto livro, visto que os números estatísticos para esse filão

editorial em específico ainda são inexistentes, o que deixa uma margem ampla para estudos

posteriores. Entretanto, achamos pertinente concentrar informações acerca do percurso

histórico e características das tipologias mais comuns dos livros para bebês em um único

estudo, que pode ser considerado como uma fonte primária de pesquisa, mas que ainda pode,

e deve, ser ampliada e aprofundada. Sobre essas características, ao analisar quando e como se

chegou à conclusão de que os livros-brinquedo aqui citados são obras pertinentes aos bebês,

percebemos o quanto elas estão intimamente ligadas ao desenvolvimento dos cinco sentidos

das crianças menores, mas que também a preferência a esses livros antes às obras tradicionais

se dá, muitas vezes, pelo fato de que esses livros são pensados com exclusivamente para os

bebês e, com isso, aspectos importantes com relação à segurança são meticulosamente

estudados e refletidos nas edições. Para perceber essas características que diferenciam a

edição dos livros para bebês em detrimento de obras para outros públicos, a análise dos

catálogos de editoras que produzem para essa faixa etária e o contato direto com essas

empresas, que se deu via questionário e entrevistas, foi fundamental. Verificamos de modo

qualitativo informações sobre escolha de materiais para a composição gráfica, sobre o

trabalho de cada um dos atores para a concepção e produção dos livros até a impressão e os

processos pelos quais os livros devem passar até serem impressos. Nesse sentido, também foi

importante compreender o porquê de muitas editoras preferirem comprar os direitos autorais

de obras estrangeiras, assim como imprimi-los no exterior. Aqui, acreditamos que haja uma

lacuna na indústria editorial brasileira que, com estudos de mercado e boa gestão, pode ser

preenchida com novas empresas que se prontifiquem a investir em novas máquinas de

impressão, com recursos para produção desses livros-brinquedos que em sua massiva maioria

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ainda necessitam ter os seus projetos enviados até o oriente para serem impressos, o que,

apesar de representar uma economia significativa, onera o lançamento das obras pela

distância, o que implica também na distribuição das obras e das vendas propriamente ditas.

Também percebemos que, além da questão de maquinário, muitas editoras preferem a

facilidade de obter os direitos autorais de livros de grandes editoras internacionais a ter que

custear o trabalho de escritores, ilustradores e designers. Nesse sentido, se por um lado a

economia do processo pode ser refletida também no preço de capa e chegar ao consumidor,

perde-se a oportunidade de valorização do trabalho dos profissionais qualificados do país,

além de chegarem aos bebês obras que tratam de assuntos que talvez, num primeiro momento,

pareçam desconexos à sua rotina e desenvolvimento, devido a tradução de estórias que não

refletem a nossa cultura.

Em conclusão e com base em todas as pesquisas, entrevistas e visitas, o que

percebemos é que há um campo vasto para exploração de estudiosos e profissionais atuantes

desse mercado, pois o livro infantil voltado para a primeiríssima infância pode ser tão ou mais

complexa do que uma obra voltada para outras faixas etárias e pode conter igual qualidade

literária e estética. Por isso, finalizamos este estudo classificando os livros para bebês como

uma fonte rica de pesquisa para futuros estudos, pois essas obras contém uma infinidade de

vertentes que podem e devem ser exploradas, para que possamos entendê-los cada vez mais

como literatura e como um produto cultural que participa do fenômeno mercadológico

editorial do século XXI.

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7. Apêndices - questionários

Livrarias infantis

1. No que a PanaPaná se diferencia de outras livrarias?

2. Quantos títulos, aproximadamente, a livraria possui?

3. Quantos títulos de livros-brinquedo, aproximadamente, a livraria possui?

4. Quais são os livros mais vendidos para as crianças que estão na primeiríssima

infância? Pode citar títulos?

5. Sobre os livros-brinquedo, quais são as tipologias mais vendidas (pop-up,

livros sonoros, cartonados, etc)? Pode citar títulos?

6. Ainda sobre os livros-brinquedo, a PanaPaná trabalha mais com edições

brasileiras ou importadas? Recebem muita oferta, por parte de editoras brasileiras, desse tipo

de livro?

7. A livraria não trabalha com livros licenciados. Por quê?

8. Algumas livrarias alugam espaços privilegiados e vitrines da loja para expor

títulos dos quais as editoras desejam chamar especial atenção. A PanaPaná tem essa prática?

Se sim, pode explicar como funciona essa locação?

Questionário biblioteca infantil Monteiro Lobato

1. Na biblioteca há um setor específico para bebês (nomeadamente uma bebeteca

ou uma parte reservada para esse público)? Se houver, o espaço existe desde quando?

Na biblioteca, temos uma sala destinada especificamente para a primeira infância (0 a

6 anos). Chama-se “sala da primeira infância”.

2. Recebem muitas visitas de famílias que visitam a biblioteca com bebês ou

geralmente apenas os pais vão ao espaço para pegar os livros?

Recebemos as visitas de pais, avós e babás para usufruto da sala mais do que para

pegar livros no acervo para empréstimo. Pegam vários livros para serem lidos na sala.

3. Qual é a visão da biblioteca enquanto instituição sobre a importância do

contato com os livros desde a primeiríssima infância?

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Achamos ser de fundamental importância o contato com os livros já desde a gestação.

4. Como e dá a escolha dos livros para a composição do acervo, principalmente

para a faixa etária de zero a três anos? Na biblioteca também há livros-brinquedo?

São analisados catálogos, e como somos depositárias de toda a produção nacional na

área da literatura infantojuvenil no Brasil, então recebemos um exemplar de todos os livros

lançados. Após análise, fazemos a seleção de títulos indicados para compor os acervos das

bibliotecas públicas.

5. A biblioteca tem ou já teve programação de eventos (espetáculos, mediação de

leitura, cursos, etc) para bebês? Há bastante participação e comparecimento da comunidade?

Pode dar exemplos?

Como temos a sala da primeira infância, temos mediação de leitura, contação de

histórias e programação cultural especificamente voltada tanto para as crianças como para os

pais e geralmente, para que ambos os públicos possam desfrutar juntos. Ex.: show do Palavra

Cantada, apresentação de grupos de mães que cantam cantigas para bebês, etc.

6. Acerca do acervo, há dados estatísticos sobre a quantidade de livros que a

biblioteca possui e quantos são voltados para o público de zero a três anos? Podem responder

quais são os livros mais emprestados para essa faixa etária?

Os livros são voltados para a primeira infância no geral e não para a primeiríssima

infância, que vai de 0 a 3 anos. Em média, cerca de 10 a 15% do acervo é destinado para essa

faixa etária. Os livros mais emprestados variam, porém, de forma geral, os livros-brinquedo e

pop-ups são os mais emprestados.

7. Ainda sobre dados estatísticos, podem responder-me se há um levantamento

sobre a quantidade de empréstimos de tais obras? Pode ser anual, mensal ou da forma que

tiverem.

Temos um total de livros emprestados mês a mês, porém, teríamos que elaborar uma

pesquisa mais detalhada e que demandaria mais tempo para ser prontamente respondida.

Caso seja fundamental, podemos fazer esse levantamento. Em nossos relatórios, o total de

empréstimos é informado sem detalharmos a faixa etária ou classificação por área.

8. E sobre os frequentadores, há algum tipo de detalhamento do perfil (maioria

homens ou mulheres, idade, etc)?

Há uma predominância do púbico adulto feminino, composto em sua maioria por

mães, avós e babás. Porém, nas programações observamos uma presença de famílias.

9. Recebem feedback da comunidade sobre sugestões ou elogios de obras

voltadas para bebês? Como é a comunicação da biblioteca com o público frequentador?

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Nessa sala em especial, as sugestões são muito raras. O relacionamento é muito bom e

a divulgação é feita da mesma forma que para os outros públicos. Impressa, via redes sociais

e através de contato pessoal.

Questionário – editoras

Respostas da editora Ciranda Cultural

1- O que fez a editora Ciranda Cultural optar por ter em seu catálogo uma seção

específica para a faixa etária de 0 a 3 anos (ou para pré-leitores)?

Optamos por ter livros para bebês pois acreditamos que desde cedo a criança pode ser

estimulada, desde ver as ilustrações, as cores, sentir o livro, até ter um momento de

interatividade entre ela, um adulto e o livro.

2- É sabido que a maioria das obras para esse público são estrangeiras. A Ciranda

Cultural tem em seu catálogo obras nacionais para bebês? Como recebem os originais e

escolhem as obras?

Sim, temos em nosso catálogo livros para bebês criados aqui no Brasil. Geralmente,

não recebemos muitos originais destinados aos bebês.

3- Devido às particularidades que os livros para bebês possuem, como material

diferente e interatividade, esse tipo de obra demora mais para ser finalizado? Pode descrever,

de modo geral, quais são as fases de produção de um livro voltado para bebês?

Sim, o tempo de produção geralmente é maior. Se o livro for de tecido, demora mais

para ser produzido. Quando decidimos fazer algum livro com texturas e materiais diferentes,

precisamos pesquisar os materiais, planejar o projeto com cuidado, pensar em cada parte, em

cada item que o livro terá. Quando o livro tem componentes, temos de receber amostras,

verificar se estão de acordo, se passam em testes de segurança, etc. Depois dessas etapas

definidas, partimos para o conteúdo e edição.

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4- Para a equipe editorial da Ciranda Cultural, qual é a importância e função das

ilustrações dos livros destinados aos bebês? E os textos, são relevantes ou são um conteúdo

secundário para essa faixa etária? Possuem ilustradores para originais de interesse ou só

publicam obras que já sejam apresentadas com texto e ilustração?

As ilustrações possuem um papel fundamental nos livros para bebês. Chamam a

atenção deles, os fazem interagir mais com o livro. A visão do bebê é estimulada com cores,

contrastes, desenhos grandes. Os textos são relevantes, mas não primordiais. O conteúdo

precisa ser coerente com a proposta do livro e pode ser lido com o intermédio de um leitor.

5- Os originais já vêm em formato definido ou é a equipe editorial da Ciranda

Cultural que escolhe e desenvolve os conceitos de design e material a ser utilizado (pano,

EVA, etc.)?

Algumas vezes, os originais são apresentados com uma ideia inicial do projeto, que

pode ter ou não sugestões do autor sobre os materiais. Toda a parte de design e decisões do

livro são feitas em conjunto com o autor e a editora.

6- Qual é o tipo de material gráfico mais aceito pelos clientes? Qual é a

preferência (livros de banho, cartonados, etc.)?

Os clientes preferem ter variedade para atender diferentes canais de venda, sejam eles

escolas, livrarias, lojas de bebês.

7- A tiragem e comercialização dos livros para bebês seguem os mesmos padrões

dos livros para outras faixas etárias? São vendidos nos mesmos lugares?

Sim, segue a mesma tiragem. Os livros para bebês podem ser vendidos em lojas que

comercializem artigos para bebês, não precisam ser necessariamente um lugar que venda

apenas livros.

8- Há convênios ou parcerias da Ciranda Cultural com instituições como

bebetecas, bibliotecas, escolas e creches que optam pelas obras da editora?

Page 124: Jessica Franco Bebês e livros: um estudo sobre edições ... · Este livro comeu o meu cão! 50 Imagem 22. Meus 5 sentidos: Toque, sinta, raspe, cheire! 53 Imagem 23. Meu livro fofo

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Não temos parcerias, mas temos clientes que atendem bebetecas.

9- Qual é o targeting (público-alvo) que consome livros para bebês? A editora

possui estudos nesse sentido? Se sim, pode responder se os compradores são em suma

homens ou mulheres, idade, grau de escolaridade e profissão?

Fazemos livros indicados para bebês desde 4 meses de idade. Não temos estudos que

indiquem quem são os maiores compradores.

10- De modo geral, a porcentagem de venda de livros para bebês é maior, menor

ou igual às obras destinadas às outras faixas etárias?

Considero similar às outras obras.

11- Qual é o feedback geralmente recebido por parte desse público-alvo? Os pais

contam as suas experiências com a interação dos bebês com os livros? Podem dar exemplos?

Alguns pais compartilham vídeos dos bebês com os livros em mídias sociais.

12- A Ciranda Cultural percebe ou sabe se há muita concorrência de outras

editoras que publicam livros destinados à essa faixa etária? Como a editora Ciranda Cultural

se destaca frente a esse mercado?

Acreditamos que ao estimular a leitura em nosso país, contribuímos para um país

melhor. Dessa forma, quanto mais diversidade de publicações tivermos, mais as crianças

ganham.

13- A editora possui obras para essa faixa etária que foram premiadas e/ou

selecionadas para compras de editais como o PNLD? Quais?

Não possuímos ainda.