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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS Jessica Andreza Neves dos Santos A relação professor-aluno na construção do conhecimento: estudo de caso no Instituto Bom Pastor Belém-Pará 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Jessica Andreza Neves dos Santos

A relação professor-aluno na construção do conhecimento:

estudo de caso no Instituto Bom Pastor

Belém-Pará

2009

Universidade Federal do Pará

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Faculdade de Ciências Sociais

Jessica Andreza Neves dos Santos

A relação professor-aluno na construção do conhecimento:

estudo de caso no Instituto Bom Pastor

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito a obtenção do grau de Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará.

Orientadora: Profª Altair Jacinta da Silva

Belém

2009

Jessica Andreza Neves dos Santos

A relação professor-aluno na construção do conhecimento:

estudo de caso no Instituto Bom Pastor

BANCA EXAMINADORA

Data de Aprovação:____/____2010.

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________________

Profa Esp. Altair Jacinta da Silva – Orientadora- UFPA

__________________________________________________________

Profa Msc . Izabela Jatene de Souza Examinador a- UFPA

A Deus pela força.

Aos meus pais pela dedicação e ao meu irmão

pelo carinho.

AGRADECIMENTOS

Para a realização desta pesquisa pude contar com a colaboração de várias

pessoas que agradeço em poucas palavras:

À professora Altair Silva, orientadora deste trabalho, pela sua dedicação,

atenção e comprometimento;

À direção da escola pela oportunidade de realizar esta pesquisa;

Aos funcionários da escola, pela atenção;

Aos professores pela compreensão;

Aos alunos em se disporem a contribuir com a pesquisa, dando informações

valiosas para a efetivação da mesma.

Saber que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção”. Paulo Freire

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo identificar como se dão as relações professor-aluno na construção do conhecimento por parte dos alunos e professores da escola Instituto Bom Pastor. Para desenvolver a pesquisa a metodologia do trabalho foi desenvolvida através do uso de recursos bibliográficos e observação direta no local escolhido para se realizar a investigação, com alunos e professores da 2º série do Ensino Médio durante as aulas de Sociologia cedidas pela professora da turma. Dentre os procedimentos metodológicos foi feita coleta de dados com dois modelos de questionários, um para os professores, outro para os alunos com perguntas fechadas e abertas, e em seguida esses dados foram analisados com base nos referenciais teóricos desenvolvidos no decorrer do trabalho. O trabalho buscou refletir acerca dos dados obtidos, verificou-se que tanto os alunos quanto os professores, percebem a importância de se construir uma boa relação para um desenvolvimento positivo do processo de ensino-aprendizagem; entretanto os mesmos atores divergem na idéia de que se tenha na prática uma relação de diálogo e compreensão entre esses sujeitos. Do ponto de vista dos alunos essa relação ainda é conflituosa tornando-se um complicador a construção do conhecimento.

Palavras-chaves: educação, escola, professor, aluno

ABSTRACT

The present study it had as objective to identify as if they give to the relations professor-pupil in the construction of the knowledge on the part of the pupils and professors of the school Good Institute Shepherd. To develop the research the methodology of the work was developed through the use of bibliographical resources and direct comment in the chosen place to become fulfilled the inquiry, with pupils and professors of 2º series of Average Ensign during the lessons of Sociology yielded by the teacher of the group. Amongst the methodological procedures collection of data with two models of questionnaires was made, one for the professors, another one for the pupils with closed and opened questions, and after that these data had been analyzed on the basis of the developed theoretical referenciais in elapsing of the work. The work searched to reflect concerning the gotten data, was verified that as much the pupils how much the professors, perceive the importance of if constructing a good relation for a positive development of the teach-learning process; however the same actors diverged in the idea of that if he has in practical a relation of dialogue and understanding between these citizens. Of the point of view of the pupils this relation still is conflituosa becoming a complicate the construction of the knowledge.

Word-keys: education, school, professor, pupil

Sumário

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULOS

1 CONCEITUANDO EDUCAÇÃO 12

1.2 CONTEXTUALIZANDO EDUCAÇÃO 17

2 A ESCOLA NA REALIDADE SOCIAL 29

2.1 ESCOLA: FORMAÇÃO OU (DE)FORMAÇÃO? 29

2.2 A CONTRIBUIÇÃO DO EDUCADOR ACERCA DA CONSTRUÇÃO DO

CONHECIMENTO 38

3 AS RELAÇÕES DE ENSINO E APRENDIZAGEM E A PRODUÇÃO DO

CONHECIMENTO 45

3.1DIALOGANDO COM PROFESSORES E ALUNOS 45

3.2 HISTÓRICO DA ESCOLA 46

3.3 DESCRIÇÃO DO BAIRRO 47

4 ANÁLISE DOS DADOS 48

QUADRO 1: A PERCEPÇÃO DOS AUNOS ACERCA DA ESCOLA 48

QUADRO 2: COMPREENSÃO DOS ALUNOS SOBRE A RELAÇÃO PROFESSOR-

ALUNO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM 49

QUADRO 3: A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE A RELAÇÃO

PROFESSOR -ALUNO NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS 59

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 62

ANEXOS

Questionário para os alunos 63

Questionário para os professores 64

INTRODUÇÃO

A escola da sociedade capitalista tem sido um espaço de reprodução

desse sistema no que diz respeito à sua prática escolar, não cumprindo a função de

instituição democrática e socializadora do saber e de recursos para apreendê-lo e

transformá-lo.

Está na verdade, a serviço da classe dominante, veiculando a sua

ideologia, funcionando como um “aparelho” privilegiado para inculcação ideológica

em relação a valores, conteúdos, métodos, e principalmente na postura dos

educadores que nela desenvolvem sua prática. Isso acontece porque o trabalho na

sociedade capitalista é submetido à dimensão produtiva, voltando-se

primordialmente para obtenção de capital.

Pensando então sobre o quanto a escola tem sido ineficaz em uma

atuação humanista de fato, é necessário fazer uma reflexão acerca da relação

professor-aluno, no sentido de que, enquanto um dos elementos constituinte do

processo educativo, o educador pode desenvolver sua prática no espaço escolar e

contribuir através de um ensinamento comprometido para a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária.

Paulo Freire (1996) lembra que a formação docente deve ser baseada em

uma reflexão sobre a prática educativa, privilegiando a autonomia do aluno para que

esse possa se reconhecer como um sujeito constituinte da produção de

conhecimento.

Nesta perspectiva o professor atua mediando o conhecimento entre o

aluno e o mundo e não como o único detentor de conhecimento, ou seja, estimula o

processo de ensino e aprendizagem considerando a experiência dos alunos para

realizar a (re) construção de conhecimentos.

O desafio deste processo está em construir um ensino e uma educação

de caráter emancipatório. Para isso é necessário que atuação docente incorpore um

repertório rico e variado de metodologias que respondam à diversidade de

necessidades educativas colocadas pelos alunos, pois por meio de sua prática

pedagógica pode atender os anseios e necessidades destes, fazendo o aluno

compreender e compartilhar conhecimentos e experiências, ocorrendo uma

mediação entre professor e aluno.

Diante de uma realidade social complexa é fundamental que os

educadores estabeleçam uma relação de mediação e interatividade com seus

alunos para que estes sejam cidadãos críticos, comprometidos com seu contexto

social.

Os docentes devem focalizar um conjunto de objetivos a serem

desenvolvidos nos alunos que compõem a preparação para o mundo do trabalho, e

também uma formação para a cidadania crítica e ética.

Assim, este trabalho tem como proposta investigar questões importantes

sobre a relação professor-aluno para a construção do conhecimento, destacando a

prática do professor em sala de aula e o interesse dos alunos pelo saber.

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CAPÍTULO 01

CONCEITUANDO EDUCAÇÃO

De um modo geral a palavra educação envolve o ato de ensinar e

aprender, mas para defini-lá é necessário considerar os sistemas educativos nas

diferentes sociedades, visto que todos os povos em uma determinada sociedade em

um determinado tempo de sua evolução estabelecem um conjunto de práticas

educativas que vão reger o desenvolvimento da mesma. Mesmo nas sociedades

mais simples se instituíram práticas educativas para transmitir as crianças e aos

jovens seus conhecimentos acumulados, normas, costumes, valores, e histórias do

grupo.

Há inúmeras maneiras de educar e cada uma corresponde a um

determinado tipo de sociedade reproduzindo os saberes que compõem a sua

cultura, reforçando assim sua identidade.

A respeito disso, Brandão (1995) ressalta, que as sociedades tribais que

não utilizam escolas para educar seus membros, a educação é repassada

informalmente, cada grupo desenvolve a forma de transmitir os conhecimentos.

Essa educação os prepara para vida no seu grupo social, é um conhecimento

específico no seu modo de vida.

O autor ressalta ainda que na Antiguidade Clássica, mais especificamente

na Grécia Antiga a educação, denominada de Paidéia, era comunitária, mas com o

desenvolvimento da sociedade se tornou específica a certos membros da mesma.

Havia uma educação para nobres, outra para plebeus e nenhuma para os escravos,

até surgir a figura do pedagogo, um escravo doméstico que além de conduzir as

crianças nobres à escola também era responsável pela sua educação.

Entretanto em todas as educações gregas o indivíduo era educado para a

sociedade como um todo.

Em Roma assim como na Grécia, a educação também era comunitária,

mas se desenvolveu de forma diferente, havia a educação que formava os

trabalhadores nas oficinas de trabalho, e outra voltada aos cidadãos educados para

empregar seu saber na sociedade. Mais tarde, surge à escola primária, como a

escola de primeiras letras gregas, e a escola dos gramáticos.

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Mostra que a educação nesse período se preocupava em formar o

cidadão para que no futuro pudesse servir a comunidade, ou seja, a educação

principalmente dos jovens nobres estava voltada para desenvolver o físico e o

mental com o intuito de formar indivíduos que pudessem atuar na defesa assim

como na política da comunidade, o objetivo era, portanto, formar o homem político, o

homem educado para servir à coletividade.

Na Grécia, por exemplo, educação era voltada primeiramente para o bem

geral da comunidade sendo efetivada através dos exercícios coletivos da vida

cotidiana aliando às normas de trabalho e de vida, envolvendo o saber da

agricultura, do pastoreio, do artesanato, da arte junto com os princípios de honra,

solidariedade e fidelidade à comunidade, a fim de se ter um pleno desenvolvimento

do homem livre assim como uma atuação participativa na vida política da cidade

grega (polis).

A educação para os gregos fora do ambiente familiar significava que o

homem iria desenvolver de fato o seu corpo e sua consciência, completando-se de

forma harmoniosa em função da vida na polis. Portanto a educação grega estava

baseada em um ideal de homem livre, com o intuito de formar o cidadão político,

voltado para atender os interesses dessa sociedade, este ideal de educação era

uma imposição ao homem livre com a intenção de reproduzir uma ordem social

idealizada e considerada como perfeita e necessária por meio da transmissão entre

as gerações dos elementos que formavam a cultura grega.

Brandão (1995, p.9) afirma que, “Não há uma forma única nem um único

modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem

seja o melhor; o ensino escolar não é o seu único praticante”.

Segundo o autor, a educação é um dos meios que os homens lançam

mão para satisfazer suas necessidades, considerando que cada sociedade tem sua

forma de educação, variando conforme seu modo de vida, sendo que esta nem

sempre precisa de uma escola formal para ser exercida. Com isso se conclui que,

assim como na Idade Antiga e nas mais remotas e isoladas civilizações do planeta,

a educação é essencial e de grande importância para a formação, entrada e

permanência do sujeito na vida social.

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Dentro dessa perspectiva, as práticas educativas de uma determinada

sociedade devem ser entendidas como parte de um todo social com o qual

interagem em função de um bem comum.

Nesse sentido todo e qualquer sistema educativo é um produto histórico,

onde em cada sociedade há um tipo de educação que regula a mesma em forma de

padrões que se impõem aos indivíduos, coerentes com conjunto de idéias e

instituições de cada sociedade, ou seja, não há uma educação única e universal

apropriada a todos os indivíduos, mas varia conforme o tempo e o meio.

Isso é corroborado na obra de Émile Durkheim “Educação e Sociologia”,

na qual o autor realizou uma sistemática análise crítica das concepções acerca dos

sistemas de educação.

Durkheim (1978), nega o caráter individual da educação, e a suposta

natureza fixa e imutável do indivíduo, cita as teorias formuladas acerca da educação

pelos autores Stuart Mill, Kant e James Mill, de que existe uma única educação, sem

distinção. Sobre isso, destaca o processo histórico dos sistemas educacionais como

fator fundamental para se definir a educação, pois diz que “é essa educação

universal a única que o teorista se esforça por definir. Mas, se antes de o fazer, ele

considerasse a história, não encontraria nada em que apoiasse tal hipótese” (p. 35).

Para o autor, somente quando se estuda a maneira pela qual se

formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, é que se pode conhecer a

educação característica de cada sociedade, pois,

[...] Percebe-se que eles dependem da religião, da organização política, do grau do desenvolvimento das ciências, do estado das indústrias, etc. Separados dessas causas históricas, os sistemas de educação tornam-se incompreensíveis (DURKHEIM, 1978, p. 37).

O autor acredita que existe um tipo adequado de educação a ser

transmitida em cada momento histórico. Cada sociedade, considerando um

momento determinado de seu desenvolvimento, possui um sistema de educação

que se impõe aos indivíduos, havendo em cada sociedade um tipo regulador de

educação. Segundo ele, a educação adequada é aquela que cada um compartilha,

aprendendo a ser um membro de sua classe, de seu grupo, de sua casta, de sua

profissão, ou seja, de seu meio moral. É essencialmente o processo pelo qual

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aprendemos a ser membros da sociedade, observa-se que o autor do ponto de vista

sociológico atribui à educação, a função de regular a vida social.

[...] É uma ilusão acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. Há costumes com relação aos quais somos obrigados a nos conformar; se os desrespeitamos, muito gravemente, eles se vingarão em nossos filhos. Estes, uma vez adultos, não estarão em estado de viver no meio de seus contemporâneos, com os quais não encontrarão harmonia. [...] Há, pois, a cada momento, um tipo regulador de educação, do qual não podemos separar sem vivas resistências, e que restringem as veleidades dos dissidentes (DURKHEIM,1978, p. 36-37).

Considera ainda que os costumes e as idéias que determinam o tipo de

educação necessária à sociedade, não é criado individualmente, é em sua maior

parte obra das gerações passadas. Afirma que todo o passado da humanidade

contribuiu para estabelecer um conjunto de princípios que governam a educação do

homem no presente.

Dessa forma as consciências individuais são formadas pela sociedade, e

por meio da educação o indivíduo assimila uma série de normas e princípios, sejam

eles morais, religiosos, éticos ou de comportamento, que servem de base a conduta

num grupo social, como afirma Durkheim (1978, p.37), “Todo o passado da

humanidade contribuiu para estabelecer esse conjunto de princípios que dirigem a

educação de hoje; toda nossa história aí deixou traços, como também os deixou as

histórias dos povos que nos precederam”.

Cada sociedade constrói, para seu uso, certo ideal de homem, este

objetivo é que constitui o eixo educativo. Nas palavras de Durkheim,(1978, p. 40):

[...] No decurso da história, constitui-se todo um conjunto de idéias acerca da natureza humana, sobre a importância respectivas de nossas diversas faculdades, sobre o direito e sobre o dever, a sociedade, o indivíduo, o progresso, a ciência, a arte, etc., idéias essas que são a base mesma do espirito nacional; toda e qualquer educação, a do rico e a do pobre, a que conduz às carreiras liberais, como a que prepara para funções industriais tem por objeto fixar essas idéias na consciência dos educandos. Resulta desses fatos que cada sociedade faz do homem certo ideal, tanto do ponto de vista intelectual, quanto do físico e moral; que esse ideal é, até certo ponto, o mesmo para todos os cidadãos; que a partir desse ponto ele se diferencia, porém, segundo os meios particulares que toda sociedade encerra em sua complexidade

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Neste sentido, vê a educação como um processo de socialização, um

instrumento que a sociedade utiliza para preparar as crianças com o intuito de

servirem a mesma, baseando-se em um sistema de idéias, sentimentos e hábitos

que expressam os objetivos do grupo, como as crenças religiosas as práticas

morais, e opiniões coletivas de algum grupamento que vão formar o ser social.

Assim, o autor sintetiza o seu entendimento sobre educação como

sendo:

[...] A ação exercida pelas gerações adultas sobre as gerações que não se encontrem ainda preparadas para a vida social; têm por objeto suscitar, e desenvolver, na criança, certo número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança particularmente, se destine. (DURKHEIM, 1978,p.41)

A educação compreendida desta forma molda o homem em uma dada

sociedade para servir a mesma, e nesse sentido à unidade educacional não é o

indivíduo, mas o grupo que varia em objetivo e função, torna-se assim uma prática

social destinada a criação do tipo desejado de cidadão.

Os objetivos educacionais em seu contexto social são transmitidos as

novas gerações juntamente com as técnicas educacionais que estão em vigor,

estas, por sua vez se desenvolvem como parte do desenvolvimento de técnicas

sociais, assim sendo volta-se para o grupo, torna-se um meio pelo qual a sociedade

prepara os indivíduos para que aprendam a conviver socialmente, a interagir com o

grupo ao qual pertence, satisfazendo assim, as necessidades sociais exigidas por

cada sociedade em uma determinada época.

É então um processo histórico de criação do homem para fins coletivos e

ao mesmo tempo, de modificação da sociedade para atender as suas necessidades.

Torna-se responsável a manutenção e perpetuação da sociedade através da

transmissão, de conhecimento às gerações futuras, dos modos culturais de ser,

estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu

grupo ou sociedade. Enquanto processo de socialização, a educação é exercida nos

diversos espaços de convívio social, seja para a adequação do indivíduo à

sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade.

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A educação exercendo sobre os indivíduos uma força com o intuito de

desenvolver as qualidades comuns e as idéias coletivas de um determinado grupo

social pode ser considerada além de contínua também permanente, na medida em

que ao grupo dominante interessa transmitir as futuras gerações seu estilo de vida.

A educação é assim movida pelo interesse da sociedade em utilizar a

capacidade criadora dos indivíduos em função do bem coletivo, pois segundo

Brandão (1995, p.11), “a educação é um dos meios de que os homens lançam mão

para criar guerreiros ou burocratas. Ela ajuda a pensar tipos de homens. Mais do

que isso, ela ajuda a criá-los, através de passar de uns para os outros o saber que

os institui e legitima.”

Esse exercício de transmissão de cultura de uma geração a outra é

puramente social, porque busca responder aos anseios da sociedade de formar o

modelo de homem ideal. Sendo que por meio desse movimento a sociedade se

renova e ao mesmo tempo perpetua as condições necessárias a sua própria

existência, variando em tempo e lugar.

O processo de transmissão de conhecimentos pode ser entendido como

um processo de formação de indivíduos adequados que irão desempenhar um

determinado papel enquanto participantes ativos de uma coletividade. São

exigências sociais de formação de tipos concretos de pessoas na e para a

sociedade, portanto, modos de educar, por isso diferentes de uma cultura para

outra, necessários a vida e a reprodução da ordem de tipo de sociedade, em cada

momento da história. Ela é inevitavelmente uma prática social que por meio da

inserção de tipos de saber, reproduz tipos de sujeitos.

1.2 Contextualizando educação

A educação aparece no contexto histórico sempre que surgem novas

formas sociais de condicionamento da dinâmica de ensinar e aprender.

Nas sociedades mais simples, conforme vimos anteriormente, a aquisição

de conhecimentos não exigia estabelecimentos especialmente destinados às tarefas

educativas. A aprendizagem se realiza “naturalmente”, em que a criança participa,

18

de forma cada vez mais ativa, nos trabalhos comuns. Com a divisão de trabalho

característica de sociedades que atingiram um grau de desenvolvimento, observa-se

a especialização de função dos membros da comunidade na execução de cada

tarefa produtiva impõe aprendizados específicos, observam-se nessas sociedades a

diferenciação social e nelas já existem em embrião as instituições de transmissão de

saber, prefigurando o que viria a ser, na civilização moderna, a escola.

[...] Nas sociedades primitivas não há escolas, e a educação é exercida pelo conjunto dos membros que a constituem. Quando a produção dos bens ultrapassa o necessário para o consumo imediato, fazendo surgir os excedentes, a estrutura da sociedade também se altera, e as divisões de tarefas tendem a acentuar as diferenças sociais. O saber que na tribo era coletivo torna-se privilégio do segmento mais rico, constituindo uma forma de fortalecimento do poder. Surge então a necessidade da escola como instrumento de transmissão do saber acumulado, embora restrito a alguns (ARANHA, 1996, p.72)

A especialização de tarefas em determinadas sociedades, à medida que

se tornaram mais complexas, levou à criação de sistemas de aprendizagem

diferenciados. Este saber elaborado passa a ser transmitido desigualmente,

promovendo a diferença entre os grupos sociais, diferentemente da educação

comunitária que reproduzia a igualdade entre seus membros. Sobretudo a divisão

em classes sociais com interesses próprios e antagônicos que consagrou a

educação como um dos meios mais eficazes para perpetuar, ao longo das

gerações, a divisão interna da sociedade.

São, portanto, modos próprios de educar, por isso diferentes de uma

cultura para outra, necessários à vida e a reprodução da ordem de cada tipo de

sociedade, em cada momento da história, obedecendo a uma ordem social vigente,

ou melhor de uma minoria.

É neste sentido que vamos entender a educação, como um processo

formativo, que visa inculcar os valores, os ensinamentos e as normas da

sociedade, transmitindo os conhecimentos de uma geração a outra, de forma que

estes sejam assimilados de alguma maneira por todos os componentes de uma

dada sociedade. Brandão (1995, p.07) falando sobre a educação afirma que:

[... ]Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de muitos, todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender-e-ensinar. Para saber, para

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fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos a vida com educação.

Os ideais educativos de uma sociedade são determinados pelos fatores

históricos, políticos e sociais de seu tempo, ou seja, as mudanças que ocorrem nas

relações sociais ocasionadas por transformações demográficas, econômicas e

tecnológicas apontam para novas idéias que irão influenciar na evolução do

processo educacional. Isso acontece porque a educação como processo social está

intimamente relacionada com as concepções sociais e culturais de cada época

histórica.

Na Grécia Antiga a educação se baseava numa separação dos processos

educativos segundo as classes sociais, porém com um viés democrático. Para as

classes dominantes existia um processo de educação que visava a preparação para

a vida política, para as classes subalternas restava uma educação voltada ao

trabalho manual.

A esse respeito, Brandão (1995), enfatiza que a medida em que a polis foi

enriquecendo, criaram-se esferas de desigualdade e oposição entre os homens

livres e escravos, e também entre os nobres e plebeus, desde então a educação da

forma como foi pensada pelos gregos passou a ser direcionada aos

nobres,configurando-se aí o embrião da sociedade organizada em classe.

Neste momento, a educação começava no âmbito familiar, geralmente

com a mãe durando até os sete anos, depois passava a ser de responsabilidade de

um mestre-escola, no caso dos escravos e plebeus aprendiam com o trabalho nas

oficinas, nos campos de lavoura e pastoreio.

A cidade de Atenas tinha uma educação centrada na vida cultural e

democrática, apesar de serem excluídos da vida pública os estrangeiros, as

mulheres e os escravos. Nessa sociedade se desenvolveu o ideal de cidadão em

oposição ao de guerreiro se contrapondo à concepção aristocrática de poder.

Somente com o advento da democratização do saber em função da

democratização da cultura e da participação na vida pública é que surge a escola,

mas ainda não nos moldes da atual sociedade, dando o direito apenas aos meninos

livres de ingressar e partilhar deste ensino dentro do espaço da escola, para se

20

tornar um cidadão nobre que estivesse voltado para saber compreender, comandar

e servir a comunidade.

Mais tarde, com os sofistas ocorre a democratização do ensino superior,

proporcionando o acesso aos que poderiam pagar, e com o tempo a educação

clássica passou a ser de responsabilidade do Estado.

No entanto, em Esparta outra cidade-estado da Antiguidade Clássica a

finalidade da educação era formar guerreiros, surgindo assim as primeiras escolas

militares com o objetivo de moldar o cidadão para a vida militar. Com sete anos de

idade os meninos eram afastados das mães e ficavam até os 18 anos em escolas

onde aprendiam ginásticas, esportes, a ler, escrever e manejar armas.

Tudo isso, com o intuito de suportar o sofrimento físico e adquirir

disciplina e habilidade militar. A educação em Esparta consistia na preparação para

a guerra, baseada em uma vida militarizada. Eram guerreiros e não filósofos devido

à dedicação aos treinamentos militares, diferentemente do que aconteceu em

Atenas.

Em Roma, durante os primeiros séculos de sua história era comunitária e

se iniciava em casa, aprendendo com os mais velhos a conservar as crenças e

valores de sua cultura, com o objetivo de formar a consciência moral. Foi uma

educação durante vários séculos voltada para o trabalho e a vida, exercendo a

igualdade entre os cidadãos por meio do trabalho.

A educação familiar romana diferentemente da educação grega

prolongava-se após os sete anos de idade, os primeiros educadores dos romanos

independente de ser pobre ou nobre são o pai e a mãe, o objetivo era educar para

formar sua consciência de acordo com as crenças e valores da classe e da

sociedade.

Essa educação nos moldes da sociedade atual possui uma divisão e

passa a diferenciar em vários níveis e instituições quando a nobreza enriquece

passando a se interessar pela política, preparando o cidadão romano para ser um

guerreiro, um funcionário ou dirigente do Império. Desta forma a educação familiar

divide espaço a partir de então com outras formas de ensino sem a existência do

espaço escolar até este momento.

21

A educação na Antiguidade Clássica tanto na Grécia quanto em Roma

não se faz somente no espaço escolar, mas também nas oficinas e na família, a

comunidade aprendia com o meio sociocultural as crenças, os valores de sua cultura

entre outras coisas para que pudesse transmitir as futuras gerações.

Na Idade Média, o ensino tem como força motriz a religião, pois a

instituição Igreja assume o papel de educadora e repassadora de regras, o

cristianismo como religião filosófica da doutrina cristã permeava a vida intelectual e

institucional, baseado em um ensino catequista dominava as idéias da educação do

homem medieval.

[...] Na Idade Média, com a queda do Império Romano e a formação dos reinos bárbaros, as escolas desaparecem. A Igreja Católica surge como poder aglutinador, unindo sob a fé os inúmeros reinos bárbaros em que se fragmentara o Antigo Império. Nesse período, apenas os monges se ocupavam com o saber, enquanto os nobres permanecem analfabetos uma vez que a nobreza dominante é guerreira e mais interessada na formação de cavaleiros. (ARANHA, 1996, p.79)

Nesse período, os parâmetros da educação se baseiam na concepção do

homem como criatura divina que deveria cuidar da salvação da alma e da vida

terrena. A visão teocêntrica é predominante, ou seja, Deus é o fundamento de toda a

ação pedagógica para a formação do cristão, obedecendo a uma maneira de pensar

rigorosa e formal.

Em todo esse período existiu um restrito número de escolas, e nelas se

educavam pouquíssimos alunos, dentro de um sistema de pensamento muito

fechado, estático e dominado pela religião.

Essa realidade deu origem a uma casta letrada, que transmitia o saber

restritamente. Raramente os alunos pertenciam à nobreza guerreira, para a qual as

artes e as letras constituíam, na verdade, um elemento inútil. Em contrapartida, as

escolas se destinavam a preparar sacerdotes para a igreja ou a instruir indivíduos

para o reduzido corpo de funcionários do império.

A igreja tinha autoridade para proclamar todas as verdades, a maioria dos

livros eram escritos e estudados pelo clero já que a nobreza se dedicava as guerras

e os servos não sabiam ler nem escrever, não havia escolas para as camadas

populares.

22

Detentora do poder espiritual, a Igreja influenciava o modo de pensar, e

as formas de comportamento na Idade Média. Também tinha grande poder

econômico, possuía terras em grande quantidade e servos trabalhando. A educação

era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam, marcada pela influência

da Igreja, grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso

aos livros.

Celebra-se desta maneira, a ascensão da Igreja Católica ao comando da

cultura e da educação, caracterizando o período medieval pela forte presença da

religião norteando os ideais da educação, neste período a vida se reduz no interior

de grandes castelos dos senhores feudais que tinha na terra sua principal fonte de

riqueza. A religião materializada na Igreja justificava os fenômenos da natureza e a

vida social, a sociedade se fundamentava em princípios religiosos e a educação

consequentemente reproduzia esses valores.

No Renascimento educar torna-se questão de moda e exigência, segundo

a nova concepção de homem. O aparecimento dos colégios, do século XVI até o

XVII, é fenômeno correlato ao surgimento de uma nova imagem da infância e da

família. A meta da escola não se restringe à transmissão de conhecimentos, mas a

formação moral, como enfatiza Aranha (1996, p.73) “a educação se esforçará por

disciplinar a criança e inculcar-lhes regras de conduta. Para melhor submetê-las aos

rigores da hierarquia e da aprendizagem da obediência, intensifica-se o uso de

castigos corporais”.

Essa sociedade, embora rejeite a autoridade dogmática da cultura

eclesiástica medieval, mantém-se ainda fortemente hierarquizada: exclui dos

propósitos educacionais a grande massa popular, com exceção dos reformadores

protestantes, que agiam por interesses religiosos.

Com o Renascimento período de transição da Idade Média para a

Moderna gerou um novo critério para validar as verdades do mundo por meio da

experimentação e observação racional. Surge outra maneira de compreender o

homem, sua relação com Deus e com o universo, o que proporcionou a introdução

de novos ideais sociais referentes principalmente à educação, pois rompeu com a

idéia de moral e religiosa desse período, havendo uma descentralização do poder da

23

Igreja destacando-se o racionalismo individualista, o indivíduo deveria ser livre para

formar suas próprias idéias e opiniões.

Era um ideal de educação que se interessava pelos valores do indivíduo,

entretanto essa educação até então atendia aos interesses da elite burguesa, pois

não atingiu as camadas populares, como diz Maria Lúcia Aranha (1996, p.80),

“persiste, contudo, a distinção tradicional: para os trabalhadores se destina um tipo

de educação primária e elementar e para as camadas privilegiadas, o ensino médio

e superior”.

Acerca do que Durkheim (1978, p.35) afirma na sua proposição de que a

educação varia conforme o tempo e o meio:

[...] A educação tem variado infinitivamente conforme o tempo e o meio. Nas cidades gregas e latinas, a educação conduzia o indivíduo a subordina-se cegamente à coletividade, a torna-se uma coisa da sociedade.[...] Em Atenas procurava-se formar espíritos delicados, prudentes, sutis, embebidos de graça e harmonia [...]; em Roma desejava-se especialmente que as crianças se tornassem homens de ação, apaixonados pela glória militar, indiferentes ao que tocasse às letras e às artes. Na Idade Média, a educação era cristã, antes de tudo; na Renascença, toma caráter mais leigo, mais literário; nos dias de hoje, a ciência tende a ocupar o lugar a arte outrora preenchia.

A partir do século XVI consolidou-se a idéia de que o conhecimento para

ser cientifico deveria utilizar um método para provar sua veracidade, ou seja, a

educação passou a ter um viés científico no sentido de que fazer ciência seria

explicar a realidade, desenvolve-se o conceito de educação como disciplina.

O século XVIII europeu, que foi chamado o século da educação,

caracterizou-se pelo surgimento de um novo espírito otimista, baseado na idéia de

progresso. Pela primeira vez na história se acreditava ser possível conseguir, graças

ao progresso da ciência e ao avanço da razão, o aperfeiçoamento do espírito

humano e a melhora das condições materiais, o que anularia para sempre as

promessas da religião.

[...] No Século das Luzes (século XVIII), torna-se premente alterar o sistema de ensino. Não faz mais sentido atrelar a educação à religião, como acontece nas escolas confessionais, nem aos interesses de uma classe, como quer a aristocracia. [...] Nesse sentido, a escola deveria ser leiga (não-religiosa), livre (independente de privilégios de classe) e universal (acessível a todos). (ARANHA, 1996, p.80)

24

Nessa realidade, a Revolução Industrial é um fato histórico que também

influencia nos rumos da educação porque transforma o modo de produção da

sociedade através da modificação dos processos de trabalho trazendo novas idéias

para mudar a vida dos indivíduos, pois “iniciada no século XVII, altera em alguns

aspectos as exigências da escola burguesa: à formação humanística se contrapõe a

necessidade de formação técnica especializada” (ARANHA, 1996, p.73).

Com o advento do capitalismo que deu origem a uma sociedade dividida

em classes há uma nova organização do trabalho que implica também em novo

modo de organização da sociedade e consequentemente de educação. Ocorre

desta forma uma significativa mudança na relação entre homem e trabalho, pois

junto com ela ocorre o processo e alienação do homem que se torna fragmentado,

produz mercadorias sem ter consciência do produto final, exercitando apenas o

trabalho físico deixando de lado o intelectual.

Como afirma Alberto Tosi (2000, p.46), “O trabalhador foi separado, pelo

capitalismo, do controle autônomo que exercia sobre seu trabalho e também do fruto

deste trabalho. O trabalho é então percebido pelo trabalhador como algo fora de si,

que pertence a outros”.

O trabalho nesta nova ordem social passa a ser submetido à dimensão

produtiva, onde o homem torna-se objeto, enquanto o sujeito passa a ser o capital.

Na visão marxiana, de acordo com Alberto Tosi (2000, p.38) o trabalho

constrói o homem “é através do trabalho que o homem muda a natureza, colocando-

a a seu serviço”, mas se este é um trabalho alienado que influenciará todo o

conjunto de atividades exercido em sociedade. As ideias de uma sociedade estão

relacionadas ao seu modo de produção, sendo que a classe dos meios de produção

domina também o conjunto de produção e difusão de idéias como a educação.

[...] O trabalhador foi separado, pelo capitalismo, do controle autônomo que exercia sobre seu trabalho e também do fruto deste trabalho [...]. Por causa do trabalho alienado a que estão submetidos, os homens adquirem uma consciência falsa do mundo em que vivem, vêem o trabalho alienado e a dominação de uma classe sobre outra como fatos naturais e passam portanto a compartilhar uma concepção de mundo dentro da qual só têm acesso às aparências, sem ser capazes de compreender o processo histórico real( TOSI, , p.46. )

25

Nessa ótica, a educação é utilizada como um instrumento de reprodução

do sistema de produção vigente que no caso da sociedade contemporânea reproduz

a ideologia do sistema capitalista, que utiliza a escola como um espaço apropriado

para transmitir não somente o saber historicamente acumulado, por meio da

formação dos indivíduos com intuito de capacitá-los para a construção da sociedade,

mas também inculcar e inserir aos sujeitos os valores e crenças da classe

dominante.

Nessa perspectiva, a sociedade capitalista se caracteriza por ter sua

organização sustentada numa contradição básica, entre capital e trabalho e que

provoca a divisão de seus membros em duas casses antagônicas: burguesia e a

classe trabalhadora, prevalecendo os valores e crenças da classe dominante,

permeando as relações de todas as instituições sociais.

Isso acontece porque em uma sociedade dividida em classes

caracterizada pela desigualdade social, competitividade e pelo trabalho a escola

funciona como um aparelho ideológico de inculcação puramente eficaz quando se

refere a ideologia da classe dominante, agindo de acordo com a reprodução do

capital, habilitando os indivíduos para determinadas ocupações.

Neste sentido, ocorre a mercantilização da educação que passa a ser

vista como um fator presente na história atual, porque sobrevaloriza o econômico em

detrimento do humano. O grande desafio nessa pesquisa é propor uma educação

que articule o técnico ao social, cultural e político, e ter uma sociedade onde o

vínculo com o trabalho se dê na perspectiva do trabalho educativo e não alienado.

Um dos pontos fundamentais defendidos na formação de um cidadão

reflexivo é a educação escolar, e educar num mundo globalizado e competitivo

significa apontar possibilidades, caminhos para a construção de um mundo melhor;

isso só pode ocorrer através de um projeto de educação emancipadora visando

inverter a lógica do capital através da formação para consciência crítica, fazendo da

educação um meio de formação crítica, e não apenas de mão-de-obra para o

mercado de trabalho.

Sobre isso Méstzaros (2005), afirma que, para romper com a ideia

mercadológica de educação é preciso ir além de mudanças políticas dos processos

educacionais, é necessário também romper com valores que internalizados no meio

26

social reproduzem a estrutura comandada pela classe dominante a qual contribui

para dar continuidade a concepção de mundo baseada nos princípios do mercado e

não do homem, que educa para o trabalho alienado.

Em relação a essa idéia Méstzaros (2005, p.17) enfatiza, “em uma

sociedade do capital, a educação e o trabalho se subordinam a essa dinâmica, da

mesma forma que em uma sociedade em se universalize o trabalho - uma sociedade

em que todos se tornem trabalhadores-, somente aí se universalizará a educação”.

Essa visão proposta de educação que o autor nos revela, coloca como

sujeito o ser humano, superando a lógica desumanizadora do capital que tem no

individualismo, no lucro e na competitividade seus princípios fundamentais.

Essa educação é caracterizada por vários teóricos como educação para a

vida e não para o mercado tem como objetivo transformar o homem em um agente

político que pensa, age e usa a palavra como instrumento de transformação do

mundo, e não somente num agente produtivo como quer o atual modelo econômico.

De acordo com o que afirma Méstzaros (2005) educar não é mera

transferência de conhecimentos, mas sim conscientização e testemunho de vida. É

construir, libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal,

reconhecendo que a história é um campo aberto de possibilidades.

Nessa mesma perspectiva, Paulo Freire (1981), ressalta, que educação é

libertação, reconhecendo que através dela, pode-se manter ou mudar a concepção

de mundo existente. Pois quando o homem descobre que sua prática supõe um

saber, conclui que reconhecer é interferir na realidade, perceber-se como sujeito da

história.

A proposta pedagógica de Freire é de nosso ponto de vista alternativa de

“humanização”, em contraposição ao processo de relações econômicas que se

definem em alienação do homem e expropriação do seu saber.

Neste sentido, devemos educar para fazer-se sujeito, liberta-se é o

sentido maior de compromisso histórico que se tem para com o homem, é participar

de uma prática humanizadora e a liberdade é uma conquista que exige uma

permanente busca para que se possa superar a situação opressora. A educação é

27

assim o meio que conduz o homem na conquista de sua objetividade para que

possa determinar o destino de suas ações.

[...] Uma das grandes, se não a maior tragédia do homem moderno, está em que hoje é dominado pelas forças dos mitos e comandado pela publicidade organizada ideológica ou não, e por isso vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua capacidade de decidir.Vem sendo expulso da órbita das decisões. As tarefas de seu tempo não são captadas pelo homem simples, mas a ele apresentadas por uma elite que as interpreta e lhas entrega em forma de receita, de prescrição a ser seguida. E quando julga que se salva segundo as prescrições, afoga-se no anonimato nivelador da massificação sem esperança e sem fé, domesticado e acomodado: já não é sujeito. Rebaixa-se a puro objeto. Coisifica-se (FREIRE, 1981, p.43).

De acordo com enfatizado acima, a liberdade é o ponto central dessa

concepção educativa, a finalidade da educação é liberta-se da realidade opressiva e

da injustiça. Ela visa à transformação da realidade, para torná-la mais humana, ou

seja, permitir que o homem seja reconhecido como sujeito de sua história e não

como objeto. Deve assim proporcionar uma leitura crítica do mundo, formando

sujeitos ativos, críticos e não domesticados, por meio principalmente do diálogo.

Esse diálogo, busca pensar na educação de maneira coerente, é aproximá-la dos

grupos sociais, sejam estes uma tribo, um sindicato, uma escola e até mesmo um

movimento social.

Porém a complexa rede de relações de produção, ainda que exigindo

melhorias quanto ao processo de aprendizagem, manteve (e essa é a sua essência)

ou até mesmo ampliou as desigualdades sociais; havendo assim dois modos bem

distintos de educação, seja em países ricos ou pobres, que são: um mais bem

equipado, com profissionais mais qualificados e direcionamento para os melhores

postos de trabalho; outro, com quase nenhuma estrutura, profissionais mal

remunerados, déficit de aprendizagem, desfavorecendo é claro, os mais pobres.

O pior de tudo é saber que o próprio Estado aquele que deveria buscar o

aperfeiçoamento da democracia, oferecendo condições de um nivelamento

educacional que comportasse a todos os cidadãos colabora para tal situação, não

cumprindo, portanto, com as suas funções básicas.

28

A educação deve ser levada para fora das escolas, aproximando as

famílias e os outros grupos, deve ser pensada como um bem da humanidade, não

como um negócio, não pode estar sob controle, e sim pautada pela liberdade,

igualdade, etc. Ela ainda representa a melhor forma de trazer o bem, a paz, a justiça

social, desde que não sirva para o domínio de classes sobre outras, e que haja uma

união de forças em prol de um crescimento coletivo, sem qualquer distinção.

Entretanto, o que se observa em relação à educação é que esta no

decorrer do tempo passa a ser uma forma de controle social, atendendo aos

interesses de um grupo dominante, de um poder político atuante, sendo utilizada a

partir de então também de maneira formal. Em consequência disso, a educação se

torna um instrumento de dominação.

Segundo Brandão (1995), é próprio das elites ou de intelectuais, que

pensam que o mundo e por elas e para elas, propor como a educação da à

formação da personalidade humana através do conselho sistemático e da direção

espiritual. Afinal quem poderia negar que a educação deve servir ao homem, deve

servir para educá-lo, torná-lo melhor, desenvolver nele tudo o que tem, e tudo que

tem direito.

Na verdade a finalidade da educação são os interesses da sociedade, ou

de grupos sociais determinados, através do saber que forma a consciência que

pensa o mundo e qualifica o trabalho do homem educado. Esta é a maneira natural

dos “povos primitivos” tratarem a educação de suas crianças, mesmo quando eles

não sabem explicar isto com teorias complicadas.

O autor em seu livro reforçando que a educação sendo uma prática social

tem como origem e destino a sociedade e a cultura, lembra Émile Durkheim (1978),

ressaltando, que é falso pretender que a educação trabalhe o corpo e a inteligência

de sujeitos soltos, desancorados de seu contexto social, e que os aperfeiçoe para “si

próprios”, desenvolvendo o saber de valores e qualidades humanas tão idealmente

universais que apenas existem como imaginação em toda parte e não existe na

realidade, vida concreta, trabalho produtivo, compromisso, relações sociais.

29

CAPÍTULO 02

A ESCOLA NA REALIDADE SOCIAL

2.1 Escola: formação ou (de) formação?

A escola, enquanto instituição social e humana possui longa história, que

tem seu inicio ainda na Idade Antiga e chega até aos dias atuais. E nestes vários

momentos a mesma assume funções diferenciadas, conforme o processo histórico

vivido, principalmente a partir da Idade Moderna, e das grandes transformações, que

vão ocorrer nas sociedades. No entanto, e necessário afirmar, que naquela época as

escolas não tinham o caráter de escolas públicas, destinadas a educar para a vida

em sociedade, mas para a vida em família.

Com a difusão dos ideais democráticos da Revolução Francesa em 1789,

que tem como principal marco a derrota do regime absolutista e o nascimento das

primeiras reivindicações de direitos os quais se referem à formação do cidadão

através da educação cívica e patriótica com caráter popular, é que a escola passa a

ser direito de “todos”,(grifo nosso), surgem as primeiras instituições de ensino formal

e público sob a responsabilidade do Estado.

A partir do final do século XVIII nasceram as primeiras escolas públicas

mantidas pelo Estado. No período de transição da Idade Média para Moderna se

passou a questionar a vinculação entre ciência e religião, principalmente no

Iluminismo, a ciência deu seu passo fundamental, deixando-se de considerar a

primeira como parte da segunda.

Desta forma, a instituição escolar que conhecemos hoje surge somente

entre os séculos XVII e XIX, quando surge a necessidade de uma educação pública

e obrigatória para todos, em que esta é transformada pela ordem social vigente em

instituição social, cujos princípios seriam difundir o “ideário revolucionário”, embora

autores como Althusser (1969), Bourdieu (1970), a coloquem como instituição

reprodutora das desigualdades sociais e/ ou aparelhos ideológicos do Estado.

Neste momento histórico o conhecimento acumulado atinge uma

dimensão que passa a exigir um grupo de indivíduos nele especializado, surgindo à

30

divisão entre trabalho manual e intelectual tendendo para uma educação sistemática

materializada na escola.

A educação escolarizada nas sociedades modernas vai se constituir como

elemento de amoldamento de comportamentos desejáveis, reproduzindo o que as

classes dominantes esperam das pessoas na vida em sociedade. Esse tipo de

educação vai assumindo um espaço cada vez maior, na medida em que a família

deixa de assumir certas tarefas no cuidado das crianças.

A escola, portanto, nasceu não como anseio popular, mas como estratégia de

manutenção da estrutura social em desenvolvimento. A escola nasceu para capacitar os

indivíduos que serão os burocratas ou os tecnocratas da sociedade estratificada. Nessa

ótica a prática escolar é assim uma atividade social, inserida numa determinada

organização de sociedade da qual absorve suas características, refletindo-as, ao

mesmo tempo, no seu cotidiano de organização e prática.

O modelo de educação que temos, foi pensado e construído no momento

histórico de passagem do modo de produção feudal para o capitalismo, como afirma

a autora Maria Lúcia Aranha (1996, p.80), “No século XVII, o desenvolvimento da

economia capitalista de produção gera a necessidade de mão-de-obra mais

qualificada. Advém daí os esforços para a institucionalização da escola”, colocando

desta maneira o foco na educação para o trabalho; não como princípio educativo,

mas para trabalho alienado, que forma o trabalhador para a fábrica, um operário do

capital.

A partir desse momento, a sociedade se torna cada vez mais complexa

vai aumentando a divisão do trabalho e se exige dos indivíduos a especialização de

função, processo no qual os indivíduos passam a não mais se realizar, se auto

construir no trabalho. Este, passa a ser lhes estranho, alienado, que se verifica tanto

mais forte, quanto mais distante estiver o trabalhador do produto do seu trabalho não

se reconhecendo na produção do mesmo, restando a ele vender sua força de

trabalho em troca de um salário ao capitalista. Isso significa que os trabalhadores

produzem bens, mas não controlam o que produzem, como se produz, nem o que é

feito como produto de seu trabalho, nas palavras de Tosi (2000, p.42):

[...] No capitalismo, diz Marx, existem os proprietários dos meios de produção (as fábricas, as máquinas e a própria força de trabalho do trabalhador). Estes são obviamente os burgueses. E existem aqueles a

31

quem não resta outra alternativa de vida, a não ser vender o único bem de que dispõem: sua força de trabalho em troca de um salário

A apropriação do objeto do trabalho pelo capitalista dono dos meios de

produção se realiza como alienação do trabalhador, que reflete na construção do

processo educativo do homem por que resulta em novos conflitos sociais,

transformações culturais e morais, e consequentemente também modifica os ideais

de educação que irão tentar responder aos anseios dessa nova sociedade.

Nesse novo contexto social, a escola assume de forma ainda mais

contundente o papel de capacitar as crianças a serem adultos bem inseridos na

sociedade, se exige da escola que discipline o indivíduo, ou seja, uma formação que

disciplina ao invés de ensinar, controla em vez de instigar o pensamento crítico e a

tomada de consciência para perceber a existência de vários fatores que configuram

a realidade social da maneira como de fato é.

[...] Quando o fruto do trabalho acumula bens que dividem o trabalho, a sociedade inventa a posse e o poder que separa os homens entre categorias de sujeitos socialmente desiguais. A posse e o poder dividem também o saber entre os que sabem e os que não sabem. Dividem o trabalho de ensinar tipos de saber a tipos de sujeitos e criam, para seu uso, categorias de trabalhadores do saber-e-do-ensino.

É a partir daí que a educação aparece como propriedade, como sistema e como escola. O controle sobre o saber se faz em boa medida através do controle sobre o quê se ensina e a quem se ensina; de modo que, através da educação erudita, da educação de elites ou da educação “oficial”, o saber oficialmente se transforma em instrumento político de poder. (BRANDÃO, 1995, p.102).

A idéia é formar apenas agentes produtivos direcionados a realizar tarefas

demandadas pelo capitalismo e de seu mercado de trabalho. Destarte, o sistema

capitalista exige uma organização escolar coerente com o seu desenvolvimento,

prioriza a formação de seres produtivos e funcionais a lógica do capital.

A educação desta maneira passa ser utilizada como um instrumento de

reprodução do sistema de produção vigente que no caso da sociedade

contemporânea reproduz a ideologia do sistema capitalista, pois definida como um

processo de transmissão de cultura utiliza a escola como um espaço para transmitir

o saber historicamente acumulado por meio da formação de indivíduos a fim de

capacitá-los para a construção da sociedade.

32

A escola se encontra na atual sociedade como produtora de

subjetividade, e ao mesmo tempo reproduzindo a ordem social vigente. Neste

sentido, tem enquanto instituição se configurado como um espaço de inserção dos

sujeitos nos valores e crenças da classe dominante tanto ideologicamente quanto

nos níveis técnico e produtivo, seguindo uma rotina de regras e avaliações, reproduz

a disciplina necessária a manutenção da sociedade de classe.

A ideologia da classe dominante permeia as relações em todas as

instituições na sociedade e encontra na escola um lugar privilegiado para se

disseminar e garantir a perpetuação do sistema capitalista, como afirma Maria Lúcia

Aranha (1996, p. 33), “A escola é política e, como tal, reflete inevitavelmente os

confrontos de força existentes na sociedade. Se esta se caracteriza por classes

antagônicas, a escola certamente refletirá os interesses do grupo dominante”.

O controle da escola por essa camada da sociedade, assegura a

transmissão ideológica, pois o caráter controlador da ação educativa possibilita a

inculcação de idéias e modos de agir e pensar da classe dominante legitimando a

ordem do sistema em vigor.

Nesta perspectiva, o sistema escolar que é o reflexo da sociedade da qual

está inserido prepara sujeitos alienados para reproduzir e perpetuar os esquemas e

estruturas sociais em questão, passando a concordar com objetivos da sociedade

capitalista como eficiência, progresso e produção.

Nesta função de capacitar o indivíduo a se inserir na sociedade,

cumprindo seu papel de “bom cidadão”, acaba disciplinando ao invés de ensinar,

controla, em vez de estimular o pensamento crítico e a tomada de consciência que

possibilite perceber a existência dos vários fatores, que configuram a nossa

realidade social da maneira como de fato ela é.

Em sua função de detentora do conhecimento e avaliadora de posturas e

idéias produz modos de subjetivação que funcionam como vinculadores da lógica de

produção de empresas, fábricas e das estruturas de controle social. Percebe-se

desta forma, que no processo histórico de institucionalização da escola pública, esta

foi sempre vista como instrumento de manutenção ideológica de uma classe

dominante em diferentes contextos históricos.

33

E atualmente com a hegemonia do sistema capitalista a educação formal

dificulta por meio da reprodução de uma ideologia dominante, o despertar da

consciência dos trabalhadores, pois para manter a acumulação de capital não é

interessante que o trabalhador se perceba como sujeito capaz de mudar sua

realidade.

Sendo assim, não se abre espaço para o desenvolvimento de indivíduos

atentos e criadores de novas possibilidades de relações políticas, econômicas ou

sociais, mas, sim, pessoas que possuem um conhecimento restrito e direcionado

para a realização de tarefas demandadas por nossa sociedade capitalista e seu

grande mercado de trabalho.

A economia capitalista demanda uma organização escolar eficiente para a

formação de sujeitos solidários, ao seu processo de desenvolvimento, isto é, sujeitos

situados em determinado viés sociopolítico e cultural. Isto significa que os sujeitos

que o sistema prioriza formar devem ser antes, produtivos e funcionais à sua lógica,

e não criativos.

Isso reflete como a educação pensada pela burguesia, dentro do sistema

capitalista e neoliberal, não visa formar pessoas questionadoras, uma vez que, para

manutenção da ordem e do sistema é necessário que as pessoas não questionem.

A escola neste sentido é vista como um espaço formador de mão-de-obra para o

mercado de trabalho e como “possibilidade de ascensão social”, o que é reforçado

pela visão produtivista de educação, reforçando a lógica de expropriação do

capitalismo.

No entanto, nem sempre através da escola o trabalhador é formado para

ser crítico e questionador, que busca entender os processos de produção e

superação do sistema. Mas, sim, forma-se um trabalhador mecanicista, que

reproduza a sociedade existente a partir de seu trabalho.

Com o objetivo de formar um trabalhador alienado e executor de tarefas,

onde lhe é expropriado do produto de seu trabalho. Nesta perspectiva, o trabalho

não é algo que faça a pessoa crescer enquanto ser humano, mas acaba por retirar-

lhe a dignidade já que o mesmo não consegue minimamente suprir suas

necessidades com o salário indigno que muitas vezes recebe.

34

A escola, neste modo de funcionamento, acaba por formatar os indivíduos

para que estes se adéqüem e, futuramente, contribuam para a perpetuação e

reprodução do sistema de funcionamento da sociedade, não cumprindo com a

verdadeira finalidade da educação, que é de caráter democrático, socializando o

saber e os recursos para apreendê-lo e transformá-lo.

Como diz Saviani apud Rios (2004, p.42):

[...] Do ponto de vista técnico, costuma-se dizer, isto implica a criação de conteúdos e técnicas que possam garantir a apreensão do saber pelos sujeitos e a atuação no sentido da descoberta e da invenção. Entretanto, os conteúdos e técnicas não são absolutamente elementos neutros. Eles são selecionados, transmitidos e transformados em função de determinados interesses existentes na sociedade

A preocupação com a educação é sempre na perspectiva de reprodução

e alimentação do sistema, nunca de contestação do status quo. A escola assim

torna-se um artefato que está sempre a serviço do capital, ou melhor, do processo

de acumulação do capital, contribuindo para propagar uma conformidade que torna

aceitável a tentativa de perpetuação da perversidade da divisão das classes sociais.

Desta forma como diz Méstzaros (2005), a educação que poderia

contribuir de forma significativa para um processo lento, mas possível, de

transformação, acaba ficando, tristemente, como responsável para abastecer de

conhecimentos técnicos o capital humano imperioso para o sistema produtivo, sendo

desta forma cooptada pelos interesses das classes privilegiadas empresários e

capitalistas.

Entretanto, mesmo diante deste cenário tão preocupante precisamos

empreender esforços para pensarmos a educação tendo em vista a formação

humana plena, superando assim o nexo instrumental do sistema capitalista, que

propaga a competitividade, e o lucro exacerbado.

A esse respeito, de acordo com as idéias de Paulo Freire seria uma

escola que ensina para e pela cidadania, de caráter democrático e autônomo

baseada em valores humanos, que valoriza uma educação participativa e

transformadora, disposta a considerar o ser humano como sujeito de sua própria

aprendizagem e não mero objeto tido somente como agente produtivo. A teoria

freiriana recusa a tese de que o conhecimento e a escola são neutros, pois a escola

35

torna-se um processo político porque é produzida e situada em um conjunto de

relações políticas e sociais das quais não pode ser abstraída.

A escola por meio de uma educação humanística deve levar o homem a

se comunicar com a realidade, tomando consciência sobre a mesma para então

transformá-la. É a valorização de uma educação libertadora, acima de tudo

conscientizadora, na medida em que incita a consciência crítica e transformadora

frente à realidade.

Segundo Freire (1981) é por meio da educação que o sujeito consegue

compreender o mundo, tornando-se um sujeito crítico e histórico, passando por um

processo de conscientização, iniciando pela consciência ingênua a qual não faz

nenhuma relação dos fatos sociais com as condições da existência humana, até se

chegar a uma consciência crítica, ou seja, conseguir perceber a realidade, os

problemas sociais, as desigualdades, assim como a política, a religião, a economia

que atingem diretamente o nosso cotidiano.

Essa educação para assumir a responsabilidade social e política na visão

freiriana deve realizar-se como “prática da liberdade”, preocupada com a formação

do indivíduo crítico, criativo e participante da sociedade, intervindo para melhorar

suas condições de cidadão ao mesmo tempo deve buscar a construção de uma

cidadania justa e igualitária.

Acerca da questão, Gramsci (1989), entendia que a educação não

poderia servir como forma de adaptação dos homens frente a realidade vivenciada,

mas sim possibilitar a compreensão para transformação da mesma, posta em prática

por uma escola que chamou de unitária ou criadora a qual em sua teoria integraria

educação politécnica e educação humanística, resultando em uma instituição com

caráter emancipatório. É uma escola criadora, porque em sua concepção associa

habilidades técnicas e intelectuais, tendo por objetivo desenvolver nos indivíduos

competências intelectuais para que sejam capazes de transformar sua condição

social enquanto classe explorada, ou seja, partir do princípio educativo do ponto de

vista do trabalhador e não do capital.

[...] A escola criadora é o coroamento da escola ativa: na primeira fase, tende-se a disciplinar, portanto também a nivelar, a obter certa espécie de “conformismo” que pode ser chamado de “dinâmico”; na fase criadora, sobre a base já atingida de “coletivização” do tipo social, tende-se a

36

expandir a personalidade, tornada autônoma e responsável, mas com uma consciência moral e social sólida e homogênea. (GRAMSCI, 1989, p.124).

Neste sentido, Gramsci ressalta que a educação deve levar o homem do

senso comum para o bom senso, isto é deve ser capaz de fazer o homem entender

a própria realidade, partindo da consciência humana para a filosófica que

consequentemente o levará ao exercício da reflexão crítica. É por isso que ao

conceber a escola como unitária está se referindo a uma educação única mediada

pela instituição escolar e direcionada a todos os integrantes da sociedade.

[...] O advento da escola unitária significa o início de novas relações entre trabalho intelectual e trabalho industrial não apenas na escola, mas em toda a vida social. O principio unitário, por isso, refletir-se-á em todos os organismos de cultura, transformando-os e emprestando-lhes um novo conteúdo. (GRAMSCI, 1989, p. 125).

A escola em sua concepção deve explicitar, elaborar e trabalhar o

conjunto de valores, representações de uma determinada sociedade histórica, e ao

mesmo tempo fazer críticas necessárias as ideologias existentes, criticar conceitos

que estiverem sendo prejudiciais a ação histórica do homem, tornando assim

emancipadora a prática de cada indivíduo com intuito de melhorar as condições

reais de existência da humanidade.

Gramsci (1989), ainda enfatiza que a educação não deve ser institucional,

mas de vivência, de reflexão e de conhecimento que leve o indivíduo fazer uma

avaliação crítica de todo acervo que dispõe e propor novos significados.

Tendo por base a análise de autores como Paulo Freire e Gramsci vale

ressaltar que a educação atual configurada na instituição escola é muito mais uma

educação voltada para o consumo do conhecimento, do que propriamente para a

autonomia do indivíduo como ser pensante, ativo, e reflexivo pois o que se evidencia

em termos educacionais é uma formação escolar não para a vida, mas para o

mercado.

É importante refletir sobre a construção de uma escola que contribua ao

desenvolvimento de uma sociedade mais humana, já que essa instituição é

essencial na formação de um cidadão reflexivo, apontando possibilidades de uma

vida melhor aos menos favorecidos no contexto da globalização em que se acirra a

competitividade.

37

A escola deve incentivar às novas gerações a importância de cada

indivíduo e seu papel na sociedade, enquanto cidadãos conscientes de seus direitos

e deveres. É preciso compreender que uma de suas principais funções é dar ao

aluno condições para se inserir no meio social, deve assegurar ao educando uma

formação crítica, capaz de levá-lo a refletir sobre temáticas cotidianas e interferir

positivamente em seu meio e, sobretudo, em sua vida para transformá-la.

O papel da escola passa a ser mais significativo ainda, uma vez que lida

com um saber que muitas vezes precisa ser repensado, reavaliado e reestruturado.

Infelizmente, nem sempre ou quase sempre a escola “não tem cumprido a finalidade

da educação que desejamos, de caráter democrático, socializando o saber e os

recursos para aprendê-lo e transformá-lo” (RIOS, 2004, p.43).

A escola como instituição social, tem por função formar cidadãos através

de atividades que envolvam a criticidade e o exercício da cidadania, é mostrar aos

alunos seu papel na sociedade, dando-lhes condições para trabalhar, viver, se

inserir no meio social, compreendendo seus direitos e deveres como cidadão ativo.

Acerca da afirmação, Libâneo (2007, p.) enfatiza que,

[...] A escola precisa oferecer serviços de qualidade e um produto de qualidade, de modo que os alunos que passam por ela ganhem melhores e mais efetivas condições do exercício da liberdade política e intelectual.É este desafio que se põe à educação neste fim de século”.

O que o autor ressalta acima se percebe que ensino para a formação de

cidadãos capazes de interferir criticamente na realidade para transformá-la deve,

também, contemplar o desenvolvimento de capacidades que possibilitem

adaptações às complexas condições e alternativas de trabalho que temos hoje e a

lidar com a rapidez na produção e circulação de novos conhecimentos e

informações que têm sido crescentes.

Nessa perspectiva a formação escolar deve possibilitar aos alunos

condições para o desenvolvimento de competências e consciência profissional, mas

não restringir-se ao ensino de habilidades imediatamente demandadas pelo

mercado de trabalho. A escola enquanto instituição detentora do saber precisa

compreender sua importância na formação de um sujeito que atua em uma

sociedade e deve contribuir positivamente para que esse saber seja trabalhado de

forma democrática, independentemente de qual grupo social ele pertença.

38

O conhecimento é quem assegura, ao indivíduo, o respeito a sua maneira

de pensar e agir, haja vista ser, o que consideramos de maior importância na

elevação social, no atual momento de grandes e significativas mudanças globais.

Não um conhecimento compartilhado, mas um saber amplo, duradouro, crítico e

emancipatório. E isso só é possível, se a escola abrir as portas para uma educação

cidadã, que respeite as experiências vividas por seus alunos.

Através dessa afirmação é preciso repensar o papel da escola e do

professor na construção do saber crítico do aluno. Somente através de uma

educação que valorize o saber crítico é que teremos mais cidadãos preparados para

a vida, para enfrentar os desafios que são impostos cotidianamente por uma

sociedade globalizada e excludente. A escola não pode perpetuar a exclusão social

que tanto tem contribuído para as injustiças sociais, pois o seu papel pode contribuir

significativamente para que tenhamos uma sociedade mais justa e um mundo mais

humano.

A educação é, sobretudo, troca, debates, construção de idéias e formação

de hábitos que precisam ter como ponto de partida a formação ética e a proposta de

construção de novas visões de mundo e a busca pela justiça social na certeza de

luta pela igualdade.

Diante disso a escola precisa se posicionar e oferecer ensino para tais

questões, fazendo com que com os alunos socializem conhecimentos e possam

refletir, questionar e criticar sobre diversos assuntos que permeiam a sociedade,

propiciando no seu espaço de formação e informação a inserção dos indivíduos no

contexto de várias questões sociais.

2.2 A contribuição do educador acerca da construção do conhecimento

Vivemos em um mundo globalizado dominado pelo progresso técnico,

onde se atende primordialmente às necessidades de reprodução do capital, se

objetiva formar em primeiro lugar mão-de-obra para o mercado de trabalho, com isso

as relações sociais sofrem alterações, valores como o individualismo e a competição

passam a ser valorizados.

39

Neste contexto o educador é fundamental para entendimento do mundo e

para geração de idéias de valorização dos seres humanos, respeito à diversidade,

análise das possíveis transformações e de busca plena por um mundo onde reinem

idéias éticas e cidadãs para todos os indivíduos.

Em respeito a essa dimensão da prática docente para a dimensão

humana Paulo Freire (1996, p.11), alerta para a necessidade dos educadores

assumirem no contexto neoliberal uma postura vigilante contra as práticas de

desumanização,

[...] o saber- fazer da auto-reflexão crítica e o saber-ser da sabedoria dos exercitados, permanentemente, podem nos ajudar a fazer a necessária leitura crítica das verdadeiras causas da degradação humana e da razão de ser do discurso fatalista da globalização.

Nessa perspectiva, entende-se que o homem de posse desse saber mais

elaborado poderá vir a ter condições de se proteger contra a exploração das classes

dominantes se organizando para a construção de uma sociedade melhor, menos

excludente, e realmente democrática. Por meio da educação se pode caminhar para

a construção desta sociedade, mas especificamente é o profissional da educação

que assume aqui um papel, sobretudo político, pois educadores precisam engajar-se

social e politicamente, percebendo as possibilidades da ação social e cultural na luta

pela transformação das estruturas opressivas da sociedade classista.

Esse é o papel do exercício da docência se refere ao desenvolvimento de

certas qualidades que o professor precisa ter para se tornar um verdadeiro

educador, pois o ato de ensinar vai além de uma profissão, é um processo que

promove a autonomia do educando, no sentido de que “formar é muito mais do que

puramente treinar o educando no desempenho de destrezas”. (FREIRE, 1996, p.14)

Dentro dessa perspectiva, devemos ressaltar que um educador é antes

de tudo um agente transformador, e para tanto é impelido pela sua vocação, é a arte

do ensinar e aprender. Já o professor é profissão, é agente formador de mão-de-

obra e de força de trabalho para o capital e para a produção, a sua atividade se

identifica gradativamente com o treinamento de uma empresa.

O papel dos educadores nesta escola, é intrínseco ao ato de ensinar, ao

mesmo tempo em que é científico, pois lida com a formação de mentes é ético

porque se busca formar o aluno para estar apto a atuar na vida individual e coletiva.

40

Ensinar e aprender constitui-se de processo e relação de trocas para que haja

função e avanço no campo do saber.

Os professores precisam entender que não há conhecimento absoluto,

tudo está em constante transformação, os educadores não podem se colocar na

posição de seres superiores, que apenas estão depositando conteúdos, mas sim na

posição daqueles que comunicam um saber relativo a outros que possuem outro

saber, pois “assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença

definitivamente que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as

possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. (FREIRE, 1996, p.22).

Nesta perspectiva, o professor deve ser o mediador da ação educativa,

agindo para garantir a percepção, interpretação por parte dos educandos das

informações e conhecimentos do mundo em que vivemos, pois “ensinar não é

transferir conhecimentos, nem formar é a ação pela qual o sujeito criador dá forma,

estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. “Quem ensina aprende ao ensinar

e quem aprende ensina ao aprender”. (FREIRE, 1996, p.23).

Através dessa idéia de educação mediadora é que se podem realizar as

mudanças que se fizerem necessárias na realidade social.

[...] Assim, professor e aluno são sujeitos conhecedores, e a tarefa do professor é estabelecer o diálogo do aluno com o real, não com ele, professor especificamente. Porque é por meio da relação professor-aluno que o objeto que é o mundo é apreendido, compreendido é alterado, numa relação que é fundamental – a relação aluno-mundo – propiciada pela relação professor-mundo (RIOS, 2004, p.70).

A interação entre educador e educando deve ser mútua, pois, ambos fazem

parte da história da aprendizagem, não como meros objetos, entretanto, como

sujeitos que buscam, participam e aprendem juntos, porque ensinar é um eterno

aprender. Dessa maneira, a aprendizagem é infinita e a educação se realiza

permenentemente.

É necessário que o professor nesta nova perspectiva, seja parceiro de

seus alunos, deve estar preparado e disposto, estimulando os mesmos, a serem

autônomos, com consciências críticas e participativas, pois é essencial esta troca e

a busca de novos conhecimentos. Enquanto intelectuais, precisam ser fomentadores

41

de mudanças, incentivando seus alunos na luta contra as injustiças sociais,

econômicas e políticas para assim buscar soluções aos problemas da atualidade.

As mudanças do mundo devem ser percebidas e questionadas pelos

alunos que precisam estar atentos a cada mudança compreendendo os fatores

motivadores das transformações sociais, políticas e econômicas do mundo moderno.

Assim, uma educação baseada no exercício da cidadania envolve a

prática pedagógica, ou seja, o professor enquanto educador, é uma peça-chave no

processo de ensino aprendizagem na medida em que como um mediador do

conhecimento pode estimular nas novas gerações o pensamento crítico, o gosto

pelo saber e a cidadania.

Por meio do seu cotidiano de suas práticas no espaço escolar é que os

professores podem influenciar diretamente na comunicação do educando com o

mundo, criando-se como diz Paulo Freire (1981) um diálogo que leva o homem a se

comunicar com a realidade, até que este perceba que pode ser um agente de

transformação da mesma.

O conhecimento é dialógico, no diálogo os indivíduos podem construir e

transformar o mundo, pois quando existe diálogo se gera conflito, debate.

Nesta perspectiva a pedagogia libertadora cujo referencial maior é Paulo

Freire, propõe-se a realizar uma análise crítica da educação tradicional e da

realidade, visando à formação de uma consciência crítica durante a prática

educativa. Concebe professores e alunos como sujeitos do ato educativo dando

ênfase ao diálogo como forma de aprender. Não se trata de conceber a educação

apenas como transmissão de conteúdos por parte do educador. Pelo contrário, trata-

se de estabelecer um diálogo, permanente entre educador e educando.

[...] O educador estabeleceu a partir de sua convivência com o povo, as bases de uma pedagogia onde tanto o educador como o educando, homens igualmente livres e críticos, aprendem no trabalho comum de uma tomada de consciência da situação em que vivem. Uma pedagogia que elimina pela raiz as relações autoritárias, onde não há “escola” nem “professor”, mas círculos de cultura e um coordenador cuja tarefa essencial é o diálogo (FREIRE, 1981, p.25-26).

Freire entende que é possível engajar a educação num processo de

conscientização, desenvolve o conceito de "consciência transitiva crítica",

42

entendendo-a como a consciência articulada com a práxis. Segundo ele, para se

chegar a essa consciência, que é ao mesmo tempo desafiadora e transformadora,

são imprescindíveis o diálogo crítico, a fala e a convivência.

[...] Esta transitividade da consciência permeabiliza o homem. Leva-o a vencer o seu incompromisso com a existência, característico da consciência intransitiva e o compromete quase totalmente. Por isso mesmo que, existir, é um conceito dinâmico.Implica numa dialogação do homem com o mundo. Do homem com o mundo.Do homem com o seu Criador. É essa dialogação do homem sobre o mundo e com o mundo mesmo, sobre os desafios e problemas, que o faz histórico (FREIRE, 1981, p.60).

Para o autor, a verdadeira educação deve ser problematizadora ou

conscientizadora com o objetivo de desenvolver uma consciência crítica. Nesse

sentido, o professor deverá assumir papel também de educando e este de educador.

Como também estimular os alunos a perceberem as contradições existentes na

sociedade, preocupando com cada aluno em si, criando o processo de

aprendizagem juntamente com seus alunos, a fim de estimular a cooperação e

solução comum dos problemas;

[...] O professor precisa juntar a cultura geral, a especialização disciplinar e a busca de conhecimentos conexos com sua matéria, porque que formar o cidadão hoje, também, ajudá-lo a se capacitar para lidar praticamente com noções e problemas surgidos nas mais variadas situações, tanto do trabalho quanto sociais, culturais, éticas. (LIBÂNEO, 2007, p.43)

O autor enfatiza que a transformação social, que muitos almejam para

uma sociedade mais justa, com menos desigualdades, onde todos tenham voz e

vez, só será possível a partir do momento que se evidenciem os conflitos, não

tentando escondê-los ou minimizá-los, mas que os tragam à tona, para que assim a

educação não contribua como mecanismo de opressão.

[...] É preciso pensar que o educador competente é um educador comprometido com a construção de uma sociedade mais justa, democrática no qual saber e poder tenham equivalência enquanto elementos de interferência no real e organização de relações de solidariedade entre os homens. (RIOS, 2004, p.65)

O educador do nosso tempo deve ter compromisso com a construção das

competências sociais, pessoais e tecnológicas dos seus alunos. Precisa criar

condições de conhecimento, consciência e capacidade de pensar que os coloquem

frente aos desafios da vida, prontos para decidir de modo complexo, ou seja,

43

pensando em seus interesses imediatos, futuros e também nos interesses coletivos

e comunitários.

Apresenta as possibilidades de o aluno ter a capacidade de adquirir

autonomia intelectual para se comunicar com o mundo. É aquele que se inquieta em

ensinar a aprender, faz o aluno questionar, argumentar, formular hipóteses e

opiniões, discordar, deseja que seus alunos se aventurem no prazer de pesquisar,

de ler, alunos curiosos e conscientes de seus direitos e deveres, que instiga a

aprendizagem com significado, em que o aluno participa como sujeito de sua própria

história.

[...] O fundamental é que o professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que o professor e alunos se epistemologicamente curiosos. (FREIRE, 1996,p.86)

O novo sujeito educativo é o educador capaz de entender a

heterogeneidade da turma, adequando-se e integrando-se a ela, tendo domínio do

conteúdo que o torne capaz de promover o intercâmbio entre os alunos e o

conhecimento.

[...] O bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.( FREIRE, 1996,p. )

O educador é o profissional responsável por atender às exigências

impostas pela necessidade social de aperfeiçoar cidadãos conscientes e aptos,

prontos a enfrentar os obstáculos do seu cotidiano. É o profissional que desenvolve

o currículo escolar, responsável por conduzir saberes científicos, conteúdos formais,

com base nos conhecimentos prévios destes alunos, além de receber dos

educandos novas informações que vão modificando e enriquecendo gradativamente

a sua visão de sociedade, civilização e de mundo.

É preciso conduzir a aprendizagem dos alunos numa relação de respeito,

reforçando uma postura humana integrada à postura do educador, com a

responsabilidade de avaliar as peculiaridades de cada aluno.

[...] O professor transformador parte do princípio de que ele domina parte do conteúdo de sua disciplina e admite que o aluno é um ser humano que desenvolve uma série de experiências no lar, no trabalho, no clube etc. e

44

que essas experiências ajudam enriquecer o conteúdo. [...] É um professor que valoriza o debate e o diálogo com o aluno. Aceita o aluno mesmo que discorde de suas idéias ( MECKESENAS, 1994, p.101.)

Diante disso, o professor precisa compreender sua importância na

formação de um sujeito que atua em sociedade, respeitando as experiências vividas

por esses para assim contribuir de forma positiva na construção de um

conhecimento crítico e emancipatório, pois por meio da valorização de um saber

crítico do aluno é possível formar cidadãos preparados para agir de forma ativa em

seu meio social percebendo os desafios que lhes são postos diariamente por essa

nova sociedade. Cabe aos profissionais conscientes e engajados na transformação

da sociedade, a tarefa de possibilitar aos alunos a compreensão da fase histórica

que estamos vivendo, por meio de uma visão crítica para a superação da sociedade

atual.

Para isso, é necessário apresentar um ensino voltado para humanidade

que proporcione o acesso ao saber e não a alienação, deve dar conta da

universalidade, pluralidade das dimensões humanas a que todos os homens têm

direito contrapondo-se a política vigente que prega a preparação para o mercado de

trabalho, do aprender para competir, vencer. Isto significa que a educação deve

preparar o indivíduo para o exercício da cidadania na modernidade, possibilitando a

ele condições para se formar e construir, pois não preparando o homem para a sua

época, ela estará contribuindo para a exclusão do mesmo no processo histórico.

A educação comprometida com uma sociedade que esteja além da

formação social capitalista das relações humanas que supere a sociedade regida

pelo capital, precisa de um educador comprometido com o ato educativo, que deve

se preocupar diariamente com a ampliação e atualização do conhecimento.

45

CAPÍTULO 03

AS RELAÇÕES DE ENSINO E APRENDIZAGEM

E A PRODUÇAO DE CONHECIMENTO

3.1 Dialogando com professores e alunos

Este capítulo tem por finalidade apresentar os resultados do estudo empírico

realizado com base nos objetivos propostos em relação à problemática e a percepção da

violência na escola. Inicialmente apresentamos o método seguido para a coleta de dados,

com descrição dos sujeitos, dos instrumentos utilizados e os procedimentos de coleta e

análise de dados. Posteriormente apresentamos os resultados obtidos.

Este estudo teve como objetivo geral verificar se há a percepção dos atores

escolares (professores, alunos) da escola de ensino fundamental e médio localizada na

cidade de Belém, município de Ananindeua sobre a importância da relação professor-aluno

na construção do conhecimento.

A escolha da escola citada se deveu ao fato de já se desenvolver o

estudo em questão em função da disciplina em prática de ensino em Ciências

Sociais, onde se mantinha contato com os sujeitos pesquisados, desta forma além

da pesquisa bibliográfica foi utilizado como metodologia da pesquisa de campo uma

abordagem quantitativa de caráter exploratório.

Para o desenvolvimento da pesquisa foram aplicados dois modelos de

questionários, que foram respondidos por professores e alunos, buscando coletar

elementos para a compreensão das relações que podem ser estabelecidas entre

estes sujeitos e como o professor pode contribuir para o bom relacionamento entre

ambos.

O primeiro questionário foi aplicado aos alunos do 2º ano do Ensino

Médio em que participaram 45 alunos de faixa etária de quatorze aos dezoito anos

que concordaram em responder e contribuir com a pesquisa. A aplicação ocorreu no

final do segundo semestre de 2009, no horário da aula de Sociologia, cedido pela

professora das turmas.

Em relação à pesquisa realizada com os docentes, foram entrevistados

cinco professores de trinta e quatro aos sessenta anos, que trabalham com o Ensino

médio das seguintes disciplinas: Literatura, Sociologia, Português, Educação

46

Artística e Matemática, os quais tiveram a oportunidade de expor o pensamento e a

percepção acerca da problemática em questão, durante o intervalo das aulas.

A coleta de dados foi obtida através de entrevistas fechadas e abertas

com os professores e alunos objetivando identificar de que maneira estes percebem

como as relações entre estes atores podem contribuir para o aprendizado do aluno,

visto que dependo da forma como o professor se comporta em sala de aula pode

despertar o interesse ou desinteresse do educando.

Este capítulo trata da análise dos conteúdos obtidos através da entrevista

com os diversos atores escolares envolvidos na pesquisa em uma escola de ensino

fundamental e médio em Belém.

Para a referida análise, nos baseamos em estudos como o do autor José

Carlos Libâneo (2007) acerca da atuação docente, quando diz “o que se afirma é

que o professor medeia a relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os

conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, a

experiência e os significados que os alunos trazem à sala de aula, seu potencial

cognitivo... ” (p.29).

Para a análise dos dados, para tanto, apresentamos as perguntas

realizadas com os diversos atores escolares, organizadas em blocos temáticos quais

sejam: percepção acerca da escola e relação professor x aluno. Em seguida,

faremos a analise dos mesmos, à luz do referencial teórico, considerando para tal as

respostas recorrentes e as que consideramos mais significativas para os objetivos

do estudo.

3.2 Histórico da Escola

A escola de Ensino Fundamental e Médio Instituto Bom Pastor foi fundada no

século XIX, pela Congregação Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. Está situada no

município de Ananindeua na rodovia BR-316, no bairro da Guanabara. A escola foi criada

para ser um espaço de educação formal para alunos com faixa etária de 10 a 18 anos e

funciona nos turnos manhã e tarde no horário das 7:15:h às 18:15h.

A escola é mantida sob regime de convênio com o governo do Estado,

apresenta uma infra-estrutura constituída por um quadro de diversos profissionais como

47

porteiro, faxineiros, merendeiras, secretárias, coordenadora, diretora, e professores de

Educação Física, Arte, Matemática, Física, Química, Sociologia, e outras. Possui ainda,

quadra de esporte, cantina, auditório, e biblioteca.

3.3 DESCRIÇAO DO BAIRRO

A ocupação urbana da cidade se fez ao longo do rio Guamá e da baía do

Guajará, penetrando para o interior com ocupação progressiva dos espigões

divisores de águas. A expansão se deu com o uso de áreas de terras altas dentro de

uma légua, contada a partir do Forte do Presépio. As áreas baixas foram

inicialmente ocupadas para atividade pastoril e, na década de 40, invadidas por

famílias de baixa renda, que não tiveram condições de adquirir terrenos nas partes

altas. Esse tipo de ocupação trouxe várias conseqüências como a expansão da

população para áreas que iam além dos limites estabelecidos pelo cinturão de áreas

institucionais, ultrapassando os municípios de Belém e Ananindeua, dando origem

ao bairro da Guanabara.

Este fato acarretou sérios problemas ambientais, já que nesta área

encontram-se as nascentes do Utinga, dos lagos Bolonha e Água Preta, principais

fontes de abastecimento de água de Belém. Veja a localização do bairro no mapa:

Fonte: www.citybrazil.com.br/pa/ananindeua.mapas

Na atualidade o bairro é caracterizado por condomínios, faculdades,

escolas, residências, bancos, grandes supermercados, etc.

48

4 Análise dos dados

Serão apresentados os resultados da coleta/análise de dados colhidas na

pesquisa de campo. Inicialmente, serão abordados os dados de identificação das

amostras entrevistadas, seguida da análise de questões específicas relativas ao

tema. As informações apresentadas dizem respeito a dados coletados.

Inicialmente apresentaremos os resultados dos alunos; depois

passaremos aos resultados dos professores, para efetuarmos a análise.

Quadro 01: A percepção dos alunos acerca da Escola

Perguntas Respostas frequentes Nº de alunos (%)

Como você vê sua

escola?

É o local onde aprendo coisas para relacionar com o meu cotidiano

25

55,60

Como você se sente

na sua escola?

Satisfeito, pois não gosto como as aulas são ministradas, mas preciso estudar

22

71,1

Partindo das afirmações acima, a escola é vista teoricamente pelos alunos como

um local que proporciona uma educação mediadora do cotidiano, por meio da qual,

adquirem conhecimentos que podem aplicar na prática social, contudo, afirmam apenas se

sentirem satisfeitos em sua escola por não gostarem da forma como as aulas são

ministradas, mas por precisarem estudar frequentam a escola.

49

Como se encontra em alguns depoimentos no verso do questionário

sobre essa questão: “apesar de sentir-me satisfeito, conta também a motivação da

classe em relação à aula e a dinâmica do professor”;(...) “a maioria dos professores

tornam a aula entediante, mais tem alguns que se salvam”.( Aluno Ensino Medio).

Sobre a questão Libâneo, (2007, p.26), assinala que “a escola precisa

deixar de ser meramente uma agência transmissora de informação e transforma-se

num lugar de análises críticas e produção da informação, onde o conhecimento

possibilita a atribuição de significado à informação”.

De acordo com a afirmação, significa que a escola não está orientando

os educandos para a vida, mas somente para o mundo do trabalho, ao passo que

esta deve valorizar conteúdos, considerados importantes para a formação de

cidadãos participativos e atuantes em seu meio social, e para isso, o professor deve

ter em mente que é um formador de opiniões, e têm no espaço da sala de aula a

oportunidade de trocar conhecimentos para o sucesso do aluno fora da escola, ao

invés disso, ministrar aulas monótonas principalmente no Ensino Médio quando se

lida com um público adolescente, estará contribuindo para a escola se tornar uma

mera agência transmissora de informação.

QUADRO 02: Compreensão dos alunos sobre a relação p rofessor-aluno no

processo de ensino-aprendizagem

Perguntas Respostas mais frequentes Nº de alunos

(%)

A forma como seu professor se relaciona com a turma interfere no seu aprendizado?

Sim, influencia muito

22

48,9

Como você analisa sua relação com seus professores?

Poderia ser melhor se houvesse disposição dos docentes em ministrar aulas mais dinâmicas

22

48,9

Como caracterizaria seus professores?

Amigos

28

62,2

50

Acerca das questões acima, percebe-se que a relação professor-aluno

na ótica dos alunos, interfere diretamente no processo de ensino-aprendizagem. O

que revela a postura do professor em sala de aula como um fator fundamental para

um bom rendimento do aprendizado. Os alunos afirmam que apesar de

considerarem seus professores amigos, a relação com os mesmos poderia ser

melhor se houvesse disposição destes, em ministrar aulas mais dinâmicas, ou seja,

os alunos atribuem a forma como a aula é ministrada como um complicador nesta

relação.

Desta forma, destaca-se o interesse do professor em se aproximar da

realidade do seu aluno por meio de ações cotidianas, na sala de aula onde o

professor possui autonomia para desenvolver um bom trabalho, aprender junto com

seus alunos, desenvolver neles a percepção sobre a realidade, discutindo temas

como ética, cidadania, sustentabilidade, diversidade cultural, entre outros,

Durante as aulas você é incentivado a ser participativo, expressar suas idéias?

Raramente isso acontece

25

55,6

Em sua opinião o que torna uma aula interessante?

A vontade de ensinar em conjunto com a criatividade do educador mesmo sem recursos

24

53,3

51

incentivando os mesmos a fazerem um exercício de reflexão, questionando assim a

realidade social.

75,50%

8,90%

15,60%

A forma como o professor se relaciona com a turma

interfere no seu aprendizado?

sim

não

pouco

A cerca da questão Libâneo (2007,p.28), ressalta “O valor da

aprendizagem escolar está justamente na sua capacidade de introduzir os alunos

nos significados da cultura e da ciência por meio de mediações cognitivas e

interacionais providas pelo professor.”

Cabe ao professor refletir sobre sua competência diante de seus alunos e

exercer com responsabilidade o compromisso que tem diante da sociedade, pois

compete a este educador além dos ensinamentos dos conteúdos, usar de

criatividade para estimular os educandos a serem capazes de refletir criticamente

sobre temas sociais.

Os alunos ainda destacam que, quase não há espaço para o diálogo em

sala de aula, pois em raros momentos se permite essa atividade, e atribuem o

interesse pelas aulas à vontade de ensinar em conjunto com a criatividade do

educador mesmo sem muitos recursos.

52

Destaca-se a respeito disso a atribuição que os alunos fazem em relação

à aula se tornar mais prazerosa e interessante despertando no discente o interesse

pela aprendizagem ao uso de metodologias, juntamente com a disposição dos

professores em ministrar aulas dinâmicas mesmo não tendo recursos suficientes

para isso. Como podemos observar em alguns depoimentos colocados pelos alunos

no verso do questionário: “se a metodologia tivesse mais atrativo e nos induzisse a

sair da rotina, desse rótulo do aluno ficar escutando enquanto o professor fala, fala,

e fala;(...) “ o primeiro passo é incentivar, e depois mesmo sem muitos recursos usar

do que tem para formar melhor os alunos”.

Acerca do que afirmou Freire (1996, p.60),

[...] O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua paródia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que “ele se ponha em seu lugar” ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência

Nesse sentido o educador é um mediador do conhecimento, que deve ser

curioso e despertar ao mesmo tempo a curiosidade e o interesse no educando,

transformando a informação em conhecimento, consciência crítica e formando

pessoas a partir de um espaço interativo que é a sala de aula. Quando isto não

acontece o aluno tende a se desmotivar, se desinteressar pelo conhecimento, como

53

pode se confirmar em uma das respostas de um dos entrevistados: “Bom, aqui na

escola a relação aluno-professor não é muito boa, pois, os professores não

interagem com os alunos na hora de suas aulas havendo o desinteresse dos

estudantes” (Aluno do Ensino Médio, 15 anos.)

Na última pergunta aberta para alguma opinião a mais sobre a relação

professor-aluno, destacam que essa relação envolve muitos sentimentos, pois

apesar de haver amizade por parte de alguns professores, e respeito há também

indiferença, desrespeito, impaciência, autoritarismo. Apontam a questão da

interação, diálogo e novas metodologias para tornar as aulas mais dinâmicas e

interessantes.

Portanto, cabe aos profissionais conscientes e engajados transformar a

sociedade, e proporcionar aos seus alunos a compreensão da realidade social,

fornecendo a todos a possibilidade de uma visão crítica e um comprometimento

ético com sua sociedade. Estes educadores devem reconhecer que não detém o

conhecimento de forma absoluta, e sim respeitar o potencial de seu aluno.

QUADRO 3: A percepção dos professores sobre a relaç ão-professor aluno no

processo ensino- aprendizagem

Perguntas Respostas frequentes Nº de professores (%)

Em sua opinião enquanto educador como os alunos vêem a escola?

É onde tem a oportunidade de iniciar uma formação para conseguir um emprego

4

90

Como se sente na escola em que trabalha?

Motivado, porque gosto do que faço

3

60

A maneira como se estabelece a relação professor-aluno influencia no processo de ensino-aprendizagem?

Totalmente, pois é a base do processo

5

100

Como caracteriza a relação professor-aluno no ensino médio da escola que trabalha?

Boa, porque se estabelece um canal de diálogo entre educador e educando

4

90

Como caracterizaria seus alunos?

Amigos

4

90

O que torna uma aula interessante?

O interesse e disposição do aluno em aprender

5

100

Como deve se comportar um educador que lida com um público adolescente?

Ser flexivo e conseguir manter uma relação aberta, harmoniosa e com respeito sem perder autoridade.

5

100

54

Com relação às respostas dos cinco professores pesquisados, é possível

verificar que na opinião destes os alunos vêem a escola como um lugar onde têm a

oportunidade de iniciar uma formação para conseguir um emprego.

Percebe-se então apesar de afirmarem se sentirem motivados pelo

exercício de sua função atribuem à educação escolar apenas uma preparação para

o mercado de trabalho, e nisso há uma incoerência, pois se atuassem com

motivação não ministrariam aulas apenas conteudistas que esquecem de uma

formação também humana, como afirma Freire (1996, p.14), “formar é muito mais

do que puramente treinar o educando no desenvolvimento de destrezas”.

55

Todos os professores entrevistados, afirmaram que a maneira como se

estabelece a relação professor aluno influencia totalmente no processo de ensino-

aprendizagem. A maioria considera a relação com seus alunos boa, porque se

estabelece um canal de diálogo entre educador e educando, sendo que todos os

professores caracterizaram seus alunos como amigos.

Todas as respostas em relação ao que torna uma aula interessante,

apesar de serem apontadas outras questões como a metodologia utilizada pelo

professor, à estrutura física da escola, e a vontade de ensinar em conjunto com a

criatividade do educador, atribuem o interesse e a disposição do aluno em aprender

como ponto fundamental.

56

Destaca-se nesta questão que o interesse do aluno contribui também

para o processo de ensino aprendizagem, entretanto compete ao educador se

comprometer e assumir sua especificidade neste processo, este não pode se

colocar numa posição de neutralidade. Como afirma Libâneo (1985, apud Rios 2004,

p.56):

[...] A prática educativa emancipatória requer, efetivamente, do educador,

uma tomada de posição pela missão histórica consciente e consequente da

humanidade, de destruir as relações de classe que sustentam alienação e

privam o homem de seu pleno desenvolvimento humano.

Na pergunta sobre o comportamento de um educador que lida com um

público adolescente, todos afirmaram que o educador neste contexto deve ser

flexível, assim como manter um relação aberta, harmoniosa e com respeito sem

perder a autoridade.

Na única pergunta subjetiva sobre a relação professor-aluno, onde

poderiam falar mais livremente sobre a questão, consideram que a relação no

ambiente de trabalho como uma relação boa e amigável, flexível, que preza o

57

respeito, a compreensão, o diálogo, lembrando também o interesse do aluno em

aprender como ponto fundamental. Ressaltam que a relação professor-aluno deve

ser aberta, com respeito, mas se perder a autoridade, e que estes devem também

está dispostos a aprender como se observa neste depoimento:

[...] A relação tem que ser aberta ao diálogo, e temos que estar atentos a detalhes pessoais de cada aluno que podem facilitar ou dificultar o ensino-aprendizagem (processo). Tem que ser leve, mas com autoridade” (Fátima, 40 anos, professora de matemática).

Sobre a questão Libâneo (2007, p.29) assinala que:

[...] O que se afirma é que o professor medeia a relação ativa do aluno com a matéria, com os conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando os conhecimentos, a experiência e os significados que os alunos trazem à sala de aula, seu potencial cognitivo, suas capacidades e interesses, seus procedimentos de pensar, seu modo de trabalhar

Percebe-se através da afirmação acima a relação professor-aluno é de

fundamental importância no processo de aquisição dos conhecimentos, onde o

professor faz o papel de mediador, orientador. Na percepção dos professores isso é

detectado, quando destacam a questão do respeito e do diálogo na relação

professor-aluno. Entretanto ao se comparar com o olhar crítico dos alunos isso não

está posto em prática, o que resulta em aulas monótonas e desinteressantes para os

mesmos.

Os alunos, de acordo com suas respostas, querem que na relação

professor-aluno haja respeito, paciência e compreensão; destacam a questão de se

ter aulas mais dinâmicas, com uso de recursos ou métodos atrativos para eles,

tornando as aulas mais interessantes.

Esse desinteresse, pode ser explicado pela postura da maioria dos

professores em sala de aula que não utilizam métodos que motivem seus alunos a

serem críticos e participativos, as aulas se reduzem a utilização do texto de apoio e

uso da oratória, a maior parte dos alunos ficam dispersos envolvidos em conversas

que não estavam relacionadas ao conteúdo da disciplina.

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Considerações finais

Este trabalho propiciou algumas reflexões através dos resultados obtidos,

tais como: há uma tendência em se considerar que a relação professor-aluno e de

fundamental importância no processo de aquisição e produção do conhecimento,

onde o professor deve fazer o papel de mediador.

Entretanto, em observação se percebe que os professores ainda

trabalham a teoria desvinculada da prática, gerando conteúdos sem sentido e

significado para os alunos; a motivação do aluno para com a disciplina facilita seu

interesse no conteúdo e, conseqüentemente, o seu aprendizado; o uso de

metodologias desafiadoras pelo professor gera entusiasmo no aluno, que sente a

necessidade de ir à busca de conhecimentos; a relação professor-aluno não é

definidora do aprendizado do aluno, mas auxilia no processo de aprendizagem,

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cabendo ao professor estar disposto em atuar como educador e possibilitar

situações de diálogo com o seu aluno.

De acordo com as respostas foi detectada, a falta de disposição em

compreender e se aproximar dos alunos de mediar essa compreensão da realidade,

o que se expressa no uso de mecanismos em sala de aula, em conjunto com o

papel exercido pelos professores, em sua maioria como meros reprodutores de

conteúdo, contribuindo para o desinteresse dos alunos pelo conhecimento.

Há sem dúvida dificuldades ao desenvolvimento do trabalho do educador,

pois, na maioria das vezes, está diante de uma realidade que apresenta inúmeros

limites, como a questão da estrutura física da escola que está bastante

comprometida, assim como, as escassezes de recursos se tornam entraves a

realização de um trabalho comprometido com a educação humanista.

Entretanto, a constatação disso não deve ser tornar um motivo para gerar

comodidade, é necessário pensar o que será possível fazer no espaço da escola

para romper as barreiras.

De acordo com o referencial teórico e as respostas dos principais atores

do processo, é no cotidiano das práticas pedagógicas que se constrói a educação, o

professor não pode se deixar desanimar pelas dificuldades encontradas no espaço

escolar, ou então, será mero reprodutor de conteúdo, como pude confirmar durante

as observações e com análise dos dados, o que deixa as aulas cansativas e os

alunos desinteressados, estará contribuindo para a perpetuação da ideologia

capitalista.

Desta forma, a educação tem em nosso tempo o desafio de recuperar o

fundamento emancipatório da educação, educando para se ter uma visão analítica e

crítica da realidade, valorizando o diálogo, estimulando as interações comunicativas

e a pluralidade de vozes. Sendo o professor neste contexto quem pode favorecer

aos estudantes essa realização, contribuindo para formar sujeitos críticos e

democráticos.

Nesse sentido, precisamos pensar em uma educação que venha

contribuir para a emancipação, significa dizer que enquanto instituição social a

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escola precisa nutrir o alunado de conhecimentos diversos, que os façam perceber

as injustiças do sistema para que possam trabalhar para superação das mesmas

que assolam os dias atuais. Assim, estará trabalhando em prol da formação plena

dos sujeitos que a compõem e na formação de pessoas melhores, auxiliando no

processo de humanização.

Para garantir os direitos de acesso aos conhecimentos socialmente

construídos é necessário que a escola priorize o humanismo associado à tecnologia,

ou seja, assumir o trabalho como princípio educativo na perspectiva do trabalhador e

não do capital, tendo por base que o trabalho é o meio pelo qual o homem utiliza

para transformar a natureza e se relacionar com outros homens para a produção de

sua própria existência.

Resta a necessidade de se refletir sobre a prática exercida por estes

profissionais no sentido de buscar um redirecionamento desta visando torná-la mais

adequada a realidade de seu alunado.

Um bom professor torna suas aulas atraentes e estimula a participação

do aluno; explica o conteúdo de forma clara, utilizando técnicas e assuntos

relacionados à vida do aluno. Esta interação deveria ser a mais importante de todas

as interações sociais que ocorrem no ambiente escolar, pois é o meio pelo qual se

realiza o processo de ensino-aprendizagem. .

Devem-se frisar também as conseqüências de uma interação negativa,

pois afeta muito o desenvolvimento do aluno, como por exemplo, alguns professores

demonstram estar muito desanimados em relação ao salário e a conduta dos alunos

em classe.

Essa reação afeta diretamente aos alunos, uma vez que trabalhando

estressados, descontentes, transmitindo uma imagem negativa, o professor se

esquece da responsabilidade que tem nas mãos, e compromete o aprendizado do

aluno.

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Referências Bibliográficas

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GRAMSCI, Antônio. A organização da escola e da cultura. In: Os intelectuais e a Organização da Cultura. 7º ed. Rio de Janeiro: civilização Brasileira, 1989. P. 117 – 139. LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? : novas exigências educacionais e profissão docente, 10 ed. São Paulo, Cortez, 2007. MECKESENAS, Paulo. Aprendendo Sociologia: a paixão de conhecer. Loyola: São Paulo. 1994. MÉSTZAROS, István. A educação para além do capital /. São Paulo: Boi Tempo, 2005. PEREIRA, Luiz. FORACCHI, Marialice M. A educação como técnica social. In: Educação e Sociedade. 3º ed. São Paulo: Nacional, P.89 – 90. RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e Competência. 14 ed. São Paulo: Cortez, 2004. TOSI, Alberto.Sociologia da Educação.Rio de Janeiro.DP&A.2000. MAPAS. Disponível em www.citybrazil.com.br/pa/ananindeua.mapas. Acesso em: 24/01/2010.. Ocupação Urbana desordenada. Disponível em http://www.oparanasondasdoradio.ufpa.br. Acesso em: 24/01/2010.

ANEXOS

1.Questionário para os alunos

1. O que você acha de sua escola?

( ) É o local onde aprendo coisas que posso aplicar em meu cotidiano. ( ) É um lugar somente para se fazer amizades. ( ) É onde tenho oportunidade de iniciar uma formação para conseguir um emprego. ( ) É somente um passatempo, espaço de bate-papo.

2. Como você se sente na sua escola? ( ) Motivado ( ) Desanimado ( ) Desinteressado ( ) Satisfeito

3. Em sua opinião a forma como seu professor se relaciona com a turma interfere no seu aprendizado?

( ) Muito ( ) Totalmente ( ) Pouco

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( ) Em nada 4. Como você analisa sua relação com seus professores?

( ) Boa, porque se escabele um canal diálogo entre educador e educado ( ) Ruim, pela maneira que o educador se dirige aos alunos ( ) Regular, por que os professores só se preocupam em transmitir conteúdos ( ) Poderia ser melhor se houvesse disposição dos docentes em ministrar aulas mais dinâmicas

5. Como caracteriza seus professores? ( ) Amigos ( ) Rigorosos e autoritários ( ) Indiferentes e desinteressados ( ) Impacientes.

6. Durante as aulas você é incentivado a ser participativo, expressar suas idéias? ( ) Sim ( ) Não ( ) Raramente isso acontece ( ) Nunca ocorreu este fato

7. Em sua opinião o que torna uma aula interessante?

( ) A metodologia utilizada pelo professor para ministrar suas aulas ( ) O interesse e disposição do aluno em aprender ( ) A estrutura física da sala de aula é fundamental ( ) A vontade de ensinar em conjunto com a criatividade do educador mesmo sem recursos.

8. De sua opinião sobre a relação aluno-professor no processo de ensino –aprendizagem, comente

um pouco sobre a relação estabelecida com seus professores.

2.Questionário para os professores

1 Em sua opinião enquanto educador como os alunos vêem a escola? ( ) É o local onde aprendem coisas que podem relacionar com o cotidiano. ( ) É um lugar somente para que possam fazer amizades. ( ) É onde eles têm a oportunidade de iniciar uma formação para conseguir um emprego. ( ) É somente um passatempo, espaço de bate-papo.

2 No papel de professor como você se sente na escola em que trabalha?

( ) Motivado, porque gosto do que faço ( ) Desanimado, porque não gosto do que faço ( ) Desinteressado, pois a rotina me deixa estressado ( ) Satisfeito, pois não tive opção mas não reclamo

3 Em sua opinião a maneira como se estabelece a relação professor –aluno influencia no processo de ensino-

aprendizagem?

( ) Sim, influencia muito ( ) Não, em nada

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( ) Influencia pouco ( ) Totalmente, pois é a base desse processo 4 Como você caracteriza a relação professor-aluno no ensino médio na escola em que trabalha?

( ) Boa, porque se escabele um canal diálogo entre educador e educado ( ) Ruim, pois há muitos conflitos principalmente em relação ao desinteresse do aluno ( ) Regular, por que os professores só se preocupam com as notas e a freqüência ( ) Poderia ser melhor se houvesse disposição dos discentes em aprender

5 Como caracteriza seus alunos?

( ) Amigos ( ) bagunceiros ( ) Indiferentes e desinteressados ( ) Interessados

6 Em sua opinião o que torna uma aula interessante?

( ) A metodologia utilizada pelo professor para ministrar suas aulas ( ) O interesse e disposição do aluno em aprender ( ) A estrutura física da sala de aula é fundamental ( )A vontade de ensinar em conjunto com a criatividade do educador mesmo sem recursos.

7 Como deve se comportar um educador que lida com um público adolescente?

( ) De forma autoritária e rigorosa devido a indisciplina dos alunos ( ) Ser flexivo e conseguir manter uma relação aberta, harmoniosa e com respeito sem perder a autoridade ( )Ser compreensivo e paciente, já que os alunos estão em uma fase de descobertas ( ) Transmitir conteúdos para que os alunos para que os alunos possam obter notas necessárias à aprovação final

8 De sua opinião sobre a relação aluno-professor no processo de ensino-aprendizagem, comente um pouco sobre a relação estabelecida com seus alunos.