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J.C. Ferreira de Almeida A emigração portuguesa para França: alguns aspectos quantitativos O interesse que se tem manifestado re- centemente pelo problema da emigração para França em especial, nos vários aspectos da emigração clandestina justifica uma tentativa para determinar a sua verdadeira dimensão, mediante o recurso a fontes esta- tísticas de Portugal e da França. 0 problema da emigração para França tem chamado ultima- mente a atenção, quer do público, quer das entidades oficiais. Mul- tiplicam-se na imprensa os comentários e artigos a seu respeito — e as notícias relativas à prisão em França de emigrantes clandesti- nos; sucedem-se exposições e notas da Junta da Emigração; e os Governos português e francês assinam, em 31 de Dezembro último, um acordo respeitante «à migração, ao recrutamento e à colocação de trabalhadores portugueses em França». Mais não é certamente necessário para tornar claro o interesse que apresenta o estudo deste fenómeno social. Ora, sendo ele inse- parável do seu suporte demográfico, os dados de carácter quanti- tativo constituem um elemento de base para qualquer análise que se pretenda efectuar 1 . Não parece, pois, descabido tentar de al- guma forma responder à pergunta elementar: quantos portugueses têm emigrado para França? quantos se encontram lá? 2 N. da R. — Este artigo foi escrito em Março-Abril de 1964, estando o Autor em França, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. 1 Não se espere encontrar neste artigo qualquer análise de causas, mecanismos, ou consequências da emigração. Não se ultrapassa nele o nível da descrição e, esse ainda, limitado aos aspectos quantitativos. 2 Tanto mais que, por exemplo, se verificam grandes disparidades nas estimativas — oscilando geralmente entre a centena de milhar e o seu triplo— referidas, quer em jornais portugueses, quer na imprensa francesa. 599

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Page 1: J.C. de A emigração portuguesa para França: alguns ......terciária (4 rubricas) — activos com ocupação e inválidos e inac-tivos. Pelo seu lado, as publicações francesas

J.C.Ferreira

deAlmeida

A emigração portuguesapara França:alguns aspectosquantitativos

O interesse que se tem manifestado re-centemente pelo problema da emigração paraFrança — em especial, nos vários aspectosda emigração clandestina — justifica umatentativa para determinar a sua verdadeiradimensão, mediante o recurso a fontes esta-tísticas de Portugal e da França.

0 problema da emigração para França tem chamado ultima-mente a atenção, quer do público, quer das entidades oficiais. Mul-tiplicam-se na imprensa os comentários e artigos a seu respeito —e as notícias relativas à prisão em França de emigrantes clandesti-nos; sucedem-se exposições e notas da Junta da Emigração; e osGovernos português e francês assinam, em 31 de Dezembro último,um acordo respeitante «à migração, ao recrutamento e à colocaçãode trabalhadores portugueses em França».

Mais não é certamente necessário para tornar claro o interesseque apresenta o estudo deste fenómeno social. Ora, sendo ele inse-parável do seu suporte demográfico, os dados de carácter quanti-tativo constituem um elemento de base para qualquer análise quese pretenda efectuar1. Não parece, pois, descabido tentar de al-guma forma responder à pergunta elementar: quantos portuguesestêm emigrado para França? quantos se encontram lá? 2

N. da R. — Este artigo foi escrito em Março-Abril de 1964, estando oAutor em França, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian.

1 Não se espere encontrar neste artigo qualquer análise de causas,mecanismos, ou consequências da emigração. Não se ultrapassa nele o nívelda descrição e, esse ainda, limitado aos aspectos quantitativos.

2 Tanto mais que, por exemplo, se verificam grandes disparidades nasestimativas — oscilando geralmente entre a centena de milhar e o seutriplo— referidas, quer em jornais portugueses, quer na imprensa francesa.

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A resposta no entanto não é simples e muito menos imediata.Importa sobretudo salientar que é impossível, não só garantir a suaexactidão, como determinar com rigor a margem de erro que aafecte. Com efeito — para além dos desvios que se produzem sem-pre que os conjuntos a recensear não são constituídos por uni-dades perfeitamente definidas e/ou susceptíveis de contagemexaustiva — a forma como se processa esta emigração, e nomea-damente a existência de um grande número de saídas clandesti-nas, assim como as características da instalação de uma parteda colónia portuguesa em França, impedem o estabelecimento deestatísticas que traduzam a realidade de forma precisa.

Resta a solução de confrontar os dados existentes, de dife-rentes proveniências, procurando compensar as suas insuficiên-cias — e deficiências — pela consideração, quer dos métodos uti-lizados para a sua obtenção e dos erros que deles podem derivarpara cada caso, quer dos condicionalismos de tipo particular ine-rentes ao actual movimento migratório. Na certeza, porém, de queos números assim obtidos não indicarão mais do que ordens degrandeza.

Tentou-se estudar o período que vai desde o fim da II GuerraMundial até 1963 (inclusive). Por um lado, são evidentes os mo-tivos pelos quais a guerra constitui um marco para a análise dasmigrações internacionais; além disso, nos anos que imediatamentese lhe seguiram não só foram definidas novas bases dos regimesde emigração em Portugal e de imigração em França, como foramcriados os organismos administrativos competentes na matéria:Junta da Emigração8 e Office National d'Immigration4, aindaexistentes. (Adiante se esclarecem, contudo, as limitações ligadasaos primeiros anos deste período e também os motivos que leva-ram a tratar em certos casos apenas os últimos dez anos). Poroutro lado, apesar do carácter incompleto dos dados obtidos refe-rentes a 1963, achou-se vantajoso incluí-los. Com efeito, é de pre-ver que as alterações introduzidas recentemente nos condiciona-lismos de ordem jurídica susceptíveis de afectarem as correntesemigratórias portuguesas5, a traduzirem-se por modificações do

3 Decreto-Lei n.° 36 558, de 2f8 de Outubro de 1947 (Diário do Governo,I série, n.° 250; de 28/10/1947) e Decreto-Lei n.° 37 037, de 1 de Setembrode 1948 (D. G., I s., n.° 204> de 1/9/1948, restificado no D. G., n.° 2(43, de18/10/48).

4 «Ordonnance», n.° 415-2668, de 2 de Novembro de 194Í5 e Decreton.° 46-550, de 26 de Março de 1946, modificado pelo Decreto n.° 48-1458, de20 de Setembro de 1948.

5 Além do acordo, atrás citado, entre Portugal e a França, assinadoem 31/12/63, há a assinalar as negociações em curso neste momento entre

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comportamento efectivo das autoridades dos vários países, possamoriginar transformações de carácter estrutural no movimento mi-gratório já no decorrer <ie 1964. O fim do ano transacto constituiassim, em certa medida, uma data-chave, pelo que é oportunolevar até ela a análise que a seguir se apresenta.

Feitas estas considerações introdutórias, as que se seguemserão ordenadas em torno de três aspectos:

— evolução da emigração portuguesa para França;— sua importância relativa,— estimativa dos efectivos da colónia.

I — Evolução da emigração para França

Para analisar, de um ponto de vista diacrónico, a vinda deportugueses para França,, dispõe-se essencialmente dos dadosoriundos de duas fontes: as estatísticas de emigração do Insti-tuto Nacional de Estatística (I. N. E.) e as estatísticas francesasde imigração provenientes do Office National d'Immigration(O. N. L).

A.

A utilização destes dados obriga porém a um certo númerode comentários quanto às suas limitações em vários aspectos.

Uma primeira observação: as categorias sobre as quais sãoconstruídas as estatísticas dos dois países não coincidem. Os dadosfornecidos pelo O. N. I. referem separadamente, de forma siste-mática, os «trabalhadores permanentes» e as famílias destes(além dos «trabalhadores estacionais»), enquanto que os quadrosapresentados pelo I. N. E. dizem respeito à «emigração defini-tiva» no seu conjunto (a «emigração temporária» apenas vem re-ferida, pelo lado português, no Boletim da Junta da Emigração).

Agrupando, das rubricas adoptadas pelo I. N. E. em diversosquadros, as que mais interessam aqui, obtém-se o seguinte es-quema :

f [Com contrato de trabalhoI Isolados | Com carta de chamada

Emigrantes j l C o m o u t r a s garantias_, . ,.. fCom o chefe de famíliaEm família {sem o chefe de família

Portugal e a República Federal Alemã, e as novas disposições, restritivas,relativas à imigração, adoptadas pelas autoridades brasileiras (Março de1964).

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distinguindo-se em cada categoria o sexo, a origem por residên-cias6 e o país de destino. Os emigrantes maiores de 12 anos sãoainda referidos segundo as condições perante o trabalho: activoscom profissão — primária (3 rubricas), secundária (2 rubricas),terciária (4 rubricas) — activos com ocupação e inválidos e inac-tivos.

Pelo seu lado, as publicações francesas indicam, no que tocaaos trabalhadores «permanentes», além da nacionalidade, os ramosde actividade (7 a 10 rubricas, segundo as publicações) e os níveisprofissionais (geralmente 6 rubricas); em certas fontes é tambémfeita a distinção entre os trabalhadores «introduzidos» directa-mente pelo O. N. I. e aqueles cuja situação foi «regularizada» jáem França. Das famílias é citado o respectivo número e o daspessoas que as compõem, assim como as principais nacionalidades,sendo no entanto também mencionadas separadamente, por vezes,as famílias «introduzidas» pelo O. N. I. e as que apenas foram«controladas» por este organismo após a sua chegada.

Uma análise mais apurada poderia ter em conta todas estasvariáveis e levar bastante longe o confronto dos dados existentes,desde que tornasse viável a comparação dos vários conjuntos esta-tísticos através da definição das correspondências que existamentre as diversas categorias adoptadas pelos dois países. Mas oâmbito deste artigo não justifica um procedimento dessa ordem.Até porque uma diferença fundamental entre as estatísticas por-tuguesas e francesas torna extremamente trabalhosa qualquercomparação que se pretenda exaustiva: os dados portugueses refe-rem-se apenas aos emigrantes «oficiais» — como não podia deixarde ser; as estatísticas do O. N. I. dizem respeito aos imigradosquer a sua introdução em França tenha obedecido às formalidadesregulamentares quer não.

Vem, aliás, a propósito evidenciar mais nitidamente a signi-ficação real dos títulos, necessariamente simplificados, das sériesestatísticas consideradas.

Quando nas publicações do I. N. E. se lê «emigrantes», «emi-gração», deve entender-se: portugueses saídos do país na possede um passaporte de emigrante. E perante os dados do O. N. I.referentes à entrada de «trabalhadores estrangeiros permanentes»é conveniente não esquecer que assim se não traduz mais, de facto,do que o número de «cartes de travail» concedidasi 7

G A partir de 1961 (inclusive); até 1960 era indicada a origem por na-turalidades.

7 Segundo a legislação francesa nenhum estrangeiro pode exercer emFrança uma profissão remunerada sem uma autorização que é atestada pelaconcessão da «carte de travail».

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Uma última observação, relativa aos limites no tempo. Emprimeiro lugar, há a constatar que de 1945 a 1948 (inclusive) oL N. E. não discrimina o número de emigrantes cujo destino eraa França, ao passo que as estatísticas francesas englobam os imi-grantes portugueses na rubrica «Diversas nacionalidades» até 1949(inclusive). Nestas circunstâncias a comparação dos dados pro-venientes das duas fontes só é viável a partir .de 1950.

Acontece ainda que — sendo fracos os efectivos dos anos 1950a 1953, assim como as respectivas proporções em relação quer aoconjunto da emigração portuguesa quer aos totais anuais da imi-gração em França8 — em certos casos circunscreveu-se ao últimodecénio o tratamento dos dados estatísticos.

B.

Comparemos então alguns dos dados relativos à emigraçãode portugueses para França, que constam dos Anexos, através doquadro I. Para se obterem os montantes de portugueses cujaentrada em França foi registada em cada ano somaram-se (co-

QUADRO I

ANOS

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963

Totais

Trabalh.res

peirmanenteeimigrados(O.N.I.)

(A)

72260472438459949

143241605 0543 3394 0076 716

12 91624 781

65 055

Familiaresimigrados(O.N.I.)

(B)

242158178252288387419480

121014992 4273 7733 8825 062

20 257

Imigraçãototal

(C = A+B)

314418650690747

133618514 6406 2644 8386 434

10 48916 79829 843

85 312

Emigraçãooficial(I.N.E.)

(D)

31067

261414568985772

31024 6943 5423 5935 4468 245

(13 587)**

45 595

Emigraçãonão-oficial

(EF=C—D)

— 5 *351389276179351

10791538157012962 8415 0438 553

(16 256)**

39 717

(*) Vd. nota 9.(**) Não sendo ainda conhecidos os dados portugueses referentes/ a 1963, na» colu-

8 Vd. Anexos.

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GRÁFICO IMILHARES

30

25

20

15-

10-

J954 55 56 57 58 59 GO 61 63

luna G) linha a linha, as colunas A e B , obtidas directamente nasestatísticas do O. N. I.

Subtraindo deles os efectivos anuais de emigrantes apresen-tados pelo I. N. E. (coluna D), a diferença (coluna E) indica-noso número de portugueses que deram entrada em França como imi-

nas D © E os números relativos a este ano sãjo» os que resultam dos quadros, insertosem Statistique du Travail et de Ia Sécurité Sociale (Boljetim mensal do. Ministériodo Trababflio), em que é feita a distinção entre «introduções», e regularizações» (tra-bailiadores) ou «controle» (famílias). Corrigidos alguns eirros puraimente aritméticosque afectavam aqueles quadros, obteve-se:

1963

Introduzidos

Regularizados ou controlados...

Totais

Trabalhadores

10 257

14 524

24 781

Membrosdas famílias

3 330

1732

5 062

TOTAIS

13 587

16 256

29 843

60A

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grantes sem que tivessem saído de Portugal como tal9. Abrevia-damente, (e não esquecendo todas as reservas já apontadas) pas-saremos a designar os três conjuntos acima referidos respectiva-mente por imigração «total» e emigração «oficial» e «não-oficial».

O gráfico I apresenta, para o período 1954-1963, os valoresdas colunas C e D. Nele se põe em relevo um dos aspectos quesobressaiem do exame do quadro anterior: o incremento notávelmanifestado por este movimento migratório a partir de 1959.Veja-se o quadro II (construído a partir da coluna C do quadro I).Dele se conclui que dos 85 312 imigrantes portugueses cuja en-trada em França foi registada desde 1950, 4/5 fizeram-no nosúltimos cinco anos. O ano de 1963, por si só, representa mais de1/3 (35,0 %) daquele total, e se lhe somarmos 1962 obtemos maisde 1/2 (54,7 %).

Mas pode tirar-se do quadro I uma outra conclusão igual-mente importante: é que a progressão dos últimos anos resulta

QUADRO II

ANOS

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963

Total

Imigração total(C)

3144186506907*7

13S618514 6406 2644 838

6 43410 4891679829 843

85 312

2 t

85 312nnnnnnnn

68 40263 5645713046 64129 843

%

100,0nnnnnnnn80,274,567,054,735,0

(n=resultado n&o apurado)

9 Esta operação não é perfeitamente legítima visto que decorre umcerto período de tempo —variável, de resto— entre o momento em que éregistada a saída de Portugal dum emigrante e aquele em que o mesmo in-divíduo passa a figurar como imigrado em França. Daí deve resultar, por

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GRÁFICO II

MILHARES

15H

1954

Emigração oficial Emigração não-oficial

exemplo, o caso aberrante que se verifica, no quadro I, na linha correspon-dente a 19*50. Todavia, visto que o que interessa é a evolução ao longo deum certo número de anos e que certamente se dá uma compensação inter--anual dos erros assim introduzidos, pareceu preferível desprezá-los, até por-que o carácter grosseiro da presente análise não justificaria outro proce-dimento.

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de um aumento não só da emigração oficial como da emigraçãonão-oficiallf>. O gráfico II torna bem patente esse facto.

Pelo quadro III (baseado nas colunas D e E do quadro I) ve-rifica-se que, se a emigração não-oficíal representa 46,6 % do totaldos 14 anos (1950-1963), a sua percentagem anual aumenta regu-larmente após as variações — aliás pouco significativas dada aexiguidade dos efectivos sobre as quais se verificam — dos anosque vão de 1950 a 1958. Em 1962, dos imigrantes entrados são jáem maior número os não-oficiais que os oficiais, e a proporçãoagrava-se ainda em 1963 (54 % de não-oficiais na imigraçãototal) ". De resto, as colunas cumulativas mostram que nos qua-

QUADRO III

ANOS

19501951195219531954195519561957195819591960196119621963

Totais

Emigração oficial (D)

%

10216406076744267757356524946

(53,4)

N.os

319672614U568985772

3 1024 6943 5423 5935 4468 24513 587

45 595

2 t

45 595nnnnnnnn

34 41330 87127 2782183213 587

Emigração não-ofiicial (E)

%

—284604024265833252744485154

(46,6)

N.os

— 5351389276179351

10791538157012962 8415 0438 55316 256

39 717

2 t

39 717nnnnnnnn

33 98932 69329 85224 80916 256

= rcsuitado não apurado.)

10 É de fazer notar no entanto que, dados os instrumentos estatísticosde que se dispõe é impossível distinguir, no seio da emigração oficial, afracção que corresponde à saída com passaporte de turismo e a que resultada passagem clandestina das fronteiras. Pode-se quando muito supor, dadasas dificuldades que rodeiam em Portugal a concessão de passaportes deturismo aos indivíduos de baixo nível económico-social, que a grande maioriados emigrantes não-oficiais sejam propriamente «clandestinos».

11 De 1964 apenas foram ainda tornados públicos os dados de Janeiro;

BOI

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tro últimos anos tomados em conjunto a emigração não-oficialapresenta um maior montante (32 693) que a oficial (30 871).

II — Importância relativa desta corrente migratória

Analisada em si mesma a evolução da emigração portuguesapara França, convém dar uma ideia do lugar que ela ocupa, querna totalidade da imigração recebida neste país, quer no conjuntodas correntes migratórias que partem de Portugal.

A.

Comecemos por este último aspecto.Tendo-se acabado de pôr em destaque a importância atingida

pela emigração não-oficial, torna-se evidente que qualquer compa-ração feita apenas sobre os dados do I. N. E. ocasionará uma

QUADRO IV

ANOS

1953195419551956195719581959196019611962

Totais

Emigração global(I.N.B.)

39 6864101129 79627 01735 35634 03033 45832 31833 52633 539

339 737

Emigraçãonão-oficial

276179351

10791538157012902 8415 0438 533

22 700

Emigração globalcorrigida

39 962411903014728 09636 89435 60034 7483515938 56942 072

362 437

seguindo o processo referido na nota (**) do quadro I tem-se:

Janeiro de 1964

Introduzidos

Regularizados ou controlados ...

Totais

Trabalhadores

387

1611

1998

Membrosdas famílias

162

207

369

TOTAIS

549

1818

2 367

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visão distorcida do fenómeno global. É pois necessário introduzirneles previamente a correcção proveniente daquele factor.

Tome-se a emigração para todos os destinos (última colunado Anexo I) e adicione-se-lhe a emigração não-oficial paraFrança (coluna E do quadro I) 12. A resultante obtida —vd. qua-dro IV— poderá designar-se por «emigração global corrigida».

No gráfico III apresentam-se os valores das primeira e ter-ceira colunas deste quadro, Dele sobressai que, se até 1959 o númerode emigrantes que não passam pela Junta de Emigração poucopesa relativamente à emigração global oficial, a partir de 1960deixa de ser assim: os montantes corrigidos diferem crescente-

GRÁFICO IIIMILHARES

50

40 -

30

20

10

1954 55 56 57 58 59 60 61 62 63

mente das cifras oficiais e torna-se impossível negligenciar essefacto 13. Exprimindo a emigração não-oficial em percentagem daemigração global oficial, encontra-se 8,8 % para 1960, já 15,0 %

12 Não havendo ainda dados portugueses referentes a 1963, fez-se estacorrecção para o decénio 1953-196,2.

13 Note-se que tendo a emigração não-oficial alcançado em 1963 cercado dobro da de 1962 —vd. quadro I— a inclusão deste último ano dariaainda maior relevo a este fenómeno.

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no ano seguinte e 25,4% em 1962, quando essa relação era de2,6 % no conjunto dos sete primeiros anos do decénio (e de 6,7 %para a totalidade deste) 14.

Utilizemos então os dados corrigidos para situar quantitati-vamente a corrente migratória de Portugal para França no con-junto das que têm por origem o nosso país, aproveitando a oca-sião para apreciar as alterações produzidas pela correcção acimaefectuada.

No quadro V indicam-se as percentagens da emigraçãopara França, Brasil e Venezuela, em duas hipóteses: com basenos dados do I. N. E. e nos dados corrigidos 15. Verifica-se que,para o decénio 1953-62, na primeira hipótese a França apareceriaem último lugar com 9,2 % enquanto a Venezuela a precederiacom 12,1 %; mas a partir dos dados corrigidos essas posiçõesinvertem-se e a França (com 14,9%) suplanta a Venezuela

QUADRO V

DESTINO

França

Brasil

Venezuela

Emigração global

Estatística

I.N.E.Corrig.

I.N.E.Corrig.

I.N.E.Corrig.

I.N.E.Corrig.

19*53-62

N.os

3136151} 061

195 641id.

40 970id.

339 737362 Jf37

%

9,2U,9

57,6

12,111,3

100,0100,0

1962

N > o s

8 24516 798

13 555id.

3 522id.

33 539Jt2 072

%

24,639,9

40,532,2

10,5

100,0100,0

14 Nestas circunstâncias torna-se claro que os dados (I.N.E.) existentessobre a emigração portuguesa dos últimos anos (idade, sexo, origem terri-torial, repartição profissional, etc, etc.) perdem uma boa parte do seu valorcomo elementos de análise, visto cobrirem apenas uma fracção da emigraçãoreal e não ser metodologicamente aceitável, como é evidente, generalizar parao todo as características da parte.

15 Quanto aos países, escolheram-se os que ocupam os três primeiroslugares como destinos da nossa emigração. Quanto aos períodos, para nãosobrecarregar a exposição tomou-se apenas, por um lado, o decénio de 19613-62e, por outro lado, o ano de 1962.

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(11,3%). Quanto ao Brasil, se no conjunto do período ele con-serva, em qualquer caso, a primazia — que veio mantendo aolongo de todo este século (com excepção de 1916, ano em que foimais volumosa a emigração para os Estados Unidos) — em 1962a França ultrapassa-o desde que se considere a correcção pelaemigração não-oficial: em vez de 24,6 % para a França e 40,5 %para o Brasil (dados I. N. E.) encontra-se respectivamente 39,9 %e 32,2 %.

B.

Preponderante no seu país de origem, o que representa estacorrente no país de destino? Para o avaliar, consideremos a evo-lução da imigração em França ao longo do período 1954-63.

Até aqui teve-se em conta o conjunto da imigração (traba-lhadores e famílias) para utilizar os dados portugueses ou permi-tir a comparação com eles. Parece preferível agora (em que, comoé óbvio, somente se recorrerá aos dados provenientes de fontesfrancesas) citar apenas os trabalhadores. Por um lado, porque éem termos de mão-de-obra que a imigração é fundamentalmenteencarada em França. Por outro lado, porque os dados que existemsobre a entrada de familiares apresentam um certo número dedeficiências 16.

Compara-se a corrente imigratória portuguesa com as quesão provenientes da Espanha e da Itália, uma vez que os três paísestêm fornecido o grosso dos contingentes anuais (90,4 % para odecénio escolhido).

Estes contingentes (em números absolutos) têm sofrido gran-des modificações de ano para ano, traduzindo quer as variaçõesresultantes da interpretação da conjuntura económica pelas enti-dades competentes, quer até as alterações de ordem política (aevolução da guerra na Argélia e a mobilização duma fracção im-portante da população activa francesa, a independência argelina,os repatriamentos subsequentes, etc.) 17. Uma vez que não são pro-priamente tais modificações que aqui interessam mas sim o lugarque os portugueses ocupam na mão-de-obra imigrada, optou-se poruma comparação de percentagens anuais.

36 Um erro por defeito afecta esses dados até 1960. Vd. Anexo III,obs. 6).

17 Vem a propósito lembrar que no quantitativo de trabalhadores imi-grados não figura a mão-de-obra argelina embora ela devesse ser sociologi-camente considerada como «estrangeira». Este facto é tanto mais de subli-nhar quanto esta mão-de-obra atingiu efectivos muito importantes que em-bora dificilmente avaliáveis, chegaram em certas épocas a ser estimados emcerca de 400 000 presenças em França.

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O quadro VI indica as percentagens de portugueses, espa-nhóis e italianos — e da soma destas três nacionalidades — noseio da imigração de trabalhadores «permanentes» 18. Os valoresnele registados são apresentados no gráfico IV.

Verifica-se assim que a proporção de portugueses entre ostrabalhadores estrangeiros entrados em França não tem cessadode aumentar desde 1956: de 2,2 % nesse ano, atinge 21,5 % em1963.

Grosso modo, a partir daquele ano processa-se uma evoluçãoem que a diminuição relativa da imigração de origem italiana éacompanhada pelo aumento da de origem espanhola e portuguesa.Se em 1956 a percentagem de entradas de trabalhadores italianos(80,7 %) primava nitidamente a dos espanhóis (13,5 %) e a deportugueses (2,2%), em 1960 ela passa para segundo lugar(43,8 % de espanhóis; 39,9 % de italianos; 8,2 % de portugueses)vindo a ocupar o terceiro lugar em 1963 com efectivos que poucoexcedem a metade dos de portugueses (espanhóis: 50,0 %; por-tugueses: 21,5%; italianos: 11,2%).

Note-se — embora com esta observação se não pretenda indi-car uma tendência, visto que os dados de um ano não chegam para

QUADRO VI

ANOS

1954195519561957195819591960196119621963

Portugueses

3,75,02,23,76,17,58,28,5

11,421,5

Principais nacionalidades

Espanhóis

12,511,613,520,727,433,343,850,256,250,0

Italianos

69,374,980,772,061,848,139,930,219,011,2

Totalparcial

(*)85,591,596,496,495,389,091,988,986,682,7

Total geral(todas as na-cionalidades)

100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0100,0

(*) As percentagens insertas nesta coluna for^m determinadas por simples scmadas 3 colunas precedentes e não calculadas a partir dos efectivos.

18 Percentagens calculadas a partir dos efectivos que constam doAnexo II.

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100 -

90-

80-

70-

60'

50-

40-

30 •

20-

10-

0

, yif

GRÁFICO IV

TOTAL

'" ' * •.P^E.^I. •-... •

' * • • • ' • " ' ' ' ' • ' • • . .

\

v\ #

\

\ s ^ X v.

X/ \• " " " * J t r ~

1954 55 56 57 58 59 60 61 62 63

tal19 — que a percentagem de portugueses aumentou ainda de1962 para 1963 (de 11,4 % para 21,5 %) enquanto que a de espa-nhóis diminuiu (de 56,2 % para 50,0 %, voltando portanto a umnível próximo do de 1961: 50,2%).

Observe-se enfim — mas acessoriamente — que a importân-cia das três nacionalidades tomadas em conjunto, que conheceuum máximo em 1956-57 (96,4%), vem diminuindo regularmentedesde 1960 (91,9 % nesse ano; 82,7 % em 1963). Este facto é de-vido ao aumento da imigração de trabalhadores provenientes so-bretudo de Marrocos, da Grécia e da Jugoslávia20.

19 E de 1964 apenas se conhecem os dados de Janeiro: espanhóis: 4716(510,3%); portugueses: 19&8 (21,3%); italianos: 747 08,0%); as três nacio-nalidades: 7i461 (79,6%); total geral: 9372 (110%).

20 Já anteriormente se disse — vd. nota 17 — que os trabalhadoresargelinos não são submetidos às formalidades pelas quais devem passar osestrangeiros. Interessa aqui realçar que beneficiam da mesma regalia osoriginários dos países da África Negra antigos membros da Comunidadefrancesa, pelo que o incremento recente da imigração proveniente destespaíses não transparece nas estatísticas relativas aos trabalhadores estran-geiros.

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III — Estimativa dos efectivos cia colónia

Nos pontos anteriores esteve em causa, quer em termos abso-lutos quer em termos relativos, a corrente migratória de Portugalpara França. tÊ a altura de encarar como imigrados aqueles queaté aqui foram vistos como migrantes, e de tentar responder àpergunta: quantos portugueses residem em França?

Antes, porém, de propor uma estimativa dos efectivos dacolónia no fim de 1963y convém comentar as bases de que se dispõe.

A,

Já no inicio deste artigo foram referidas, de forma genérica,as deficiências de carácter estatístico que afectam o estudo destefenómeno social. No decorrer do ponto I puseram-se em relevo asdificuldades mais directamente ligadas a uma análise de tipo dia-crónico. !É oportuno realçar agora as limitações encontradas paraa obtenção de dados que permitam apreciar devidamente o estadoda colónia num momento determinado.

Sendo, por definição, através dos censos que melhor se conheceo estado de uma população, pareceria imediata a obtenção da res-posta para a pergunta acima feita. Uma vez que o último recen-seamento realizado em França data de 1962, através dos seus re-sultados dever-se-ia poder saber quantos portugueses tinham entãodomicílio em França. Surgem, porém, duas dificuldades. Por umlado, os (únicos elementos — sumários, aliás — já publicadosacerca dos residentes de nacionalidade estrangeira21 provêm deuma sondagem feita sobre 1/20 dos boletins de recenseamento:«os efectivos pouco numerosos podem portanto estar afectadospor um erro relativo bastante forte» 22. Por outro lado, as condi-ções de alojamento, sobretudo da parte mais recente da colónia— instalações provisórias junto dos locais de trabalho, «bairrosde lata» em zonas periféricas, etc. — e também o ambiente dedesconfiança perante toda a espécie de contactos com as «autori-dades» que não sejam absolutamente imprescindíveis, levam a suporque uma fracção dos imigrados, mesmo já oficialmente residentesem França no momento, não figure sequer naqueles boletins.Assim, parece legítimo admitir que ao erro eventual resultantedo método empregado — e que tanto pode ser por excesso comopor defeito — se sobrepõe um outro erro do qual é difícil avaliaro montante mas de que se conhece o sentido. Adiante se verá que

21 Bulletin Hebdomadaire de Statistique (I. N. S. E. E. — La Documen-tation Française), n.° 802, 91/11/63, pp. 1 e 4.

22 Loc. cit, p. 4.

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o resultado do censo de 1962 é nitidamente inferior às estimativasprováveis feitas para a mesma data.

O recenseamento anterior (1954) fornece informações emprincípio mais válidas, até porque os imigrados portugueses pre-sentes em França nessa época já ali se encontravam, na sua grandemaioria, há longos anos 23. Em todo o caso parece vantajoso veri-ficar em que medida os efectivos que ele indica diferem daquelesa que por outros meios se pode chegar.

No censo de 1946 — geralmente considerado como reflectindode forma bastante exacta o estado da população presente emFrança no imediato após-guerra — encontram-se dados muito com-pletos. Deles se partirá para as estimativas a fazer.

Para, com base no estado da colónia em 1946, se determinaremos seus efectivos em diversas épocas, torna-se necessário conhecero respectivo movimento, ou os saldos que deste resultam. Tentar--se-á comentar brevemente cada uma das componentes que osafectam.

No que respeita ao saldo migratório, um dos elementos quepara ele contribuem — a emigração — foi já suficientemente fo-cado. Interessa apenas referir ainda um aspecto: caso existam emFrança portugueses a trabalhar sem a respectiva autorização, nãoaparecerá traço deles nas estatísticas compulsadas. Tudo leva acrer, no entanto, que o facto a dar-se será excepcional e não po-derá, em qualquer caso, afectar uma fracção importante da co-lónia 24.

Outro factor é o movimento de retorno. As estatísticas fran-cesas não registam o número de imigrados que regressam aos paí-ses de origem, visto não haver «controle» das saídas. Nos anuáriosdo I. N. E. encontra-se o número de «emigrantes retornados» (de-finitivamente); ora de 1951 a 1962 (inclusive), provenientes deFrança apenas são mencionados 15 25. Este facto vem em reforço

23 Vd. coluna C do quadro I : no período 1950-1963 (inclusive) a p e n a saparecem reg is tados 2072 imigran tes . Ora, segundo os resu l tados do recen-seamento de 1945, res id iam nesse momento em F r a n ç a 20,1 mi lha res de por-tugueses .

24 Um operário estrangeiro que não possua a autorização de trabalhonão pode também receber a autorização de residência (por sua vez, umaguia provisória atestando a entrega do pedido de «carte de séjour» é exigidapara a concessão da «carte de travail»). Expõe-se assim a ser preso, julgadoe expulso. Por outro lado não poderá beneficiar de nenhum seguro socialnem dispõe de nenhuma garantia profissional. E, mesmo se da parte do traba-lhador existir a suficiente ignorância —uma boa parte dos «clandestinos»é analfabeta ou semi-analfabeta— para aceitar esse estado de coisas comtodos os riscos que comporta, será o próprio patrão que recusará, na quasetotalidade dos casos, uma tal situação, para não incorrer nas sanções queela implicaria.

^5 3 em 1951, 6 em 1952, 2 em 1957, 1 em 1961 e & em 1962.

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da hipótese segundo a qual a actual fase do movimento migratórioentre os dois países é fundamentalmente caracterizado pela expa-triação, sem que se verifique ainda uma corrente de sentido inverso,análoga à que existe do continente americano para o nosso país 2tí.

Há a considerar um último termo para a determinação da-quele saldo: o número de portugueses que abandonam a Françasem voltar a Portugal, indo instalar-se noutros Estados, Existem,de facto, emigrantes que, depois de trabalharem em França duranteum certo tempo, passam para outro país europeu (nomeadamentepara a Alemanha, a Holanda ou a Bélgica). No entanto é impos-sível conhecer o seu número.

Contribui também para o movimento da colónia o saldo fisio-lógico; contudo não é possível calculá-lo, visto não se conhecer onúmero de nascimentos nem o de óbitos. Se atendermos, porém,a que a grande vaga actual de emigração é composta essencial-mente por homens jovens e em grande parte solteiros, ou quedeixaram a família em Portugal, é-se levado a supor que o movi-mento natural atingirá quantitativos pouco elevados relativamenteao movimento migratório e, sobretudo, que o respectivo saldo nãopoderá afectar grandemente as estimativas que a seguir se apre-sentam.

Depois dos saldos migratórios e fisiológicos é necessário refe-rir um último factor: as naturalizações. Embora se possa discutirse um naturalizado faz ainda parte ou não, sociologicamente, dascomunidades portuguesas fixadas no estrangeiro, o simples factode um naturalizado deixar de figurar como imigrado nas esta-tísticas obriga-nos a ter em conta este elemento. De resto os res-pectivos dados são conhecidos (fornecidos pelo Ministério francêsda Saúde Pública e da População e publicados pelo I.N.S.E.E.) 27.

Assim, e em resumo, temos que o movimento geral da colónia,num período de tempo determinado, é constituído por:

26 Quanto à parte da colónia portuguesa em França que se manteveneste país durante o período da guerra, é de admitir que, em fase adiantadado processo de assimilação e beneficiando da expansão económica francesa,assim como do desenvolvimento de Segurança Social que a acompanhou, nãoâê origem a uma corrente migratória de retorno, limitando-se a aproveitara proximidade geográfica para vir em férias a Portugal (o que! aliás acon-tece também com os emigrados recentes).

27 Procurou-se isolar as mudanças de nacionalidade que afectam pro-priamente os imigrados. Assim, deixam-se de parte as que resultam de casa-mento, opção e simples declaração, considerando-se apenas as naturalizações«por decreto», e estas ainda só no território da França metropolitana.

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Factoresconhecidos

Factoresdesconhecidos

A somai

— Entradas registadas peloO.N.I.

— Entradas não «controladas»(parte das famílias até 1960+ trabalhadores sem «cartade trabalho)

— Nascimentos

A subtrair

— Naturalizações (I.N.S.E.E.)— Retornos (I.N.E.)

— Retornos (não assinaladospelo I.N.E.)

— Transferências da Françapara outros países

— óbitos

Em última análise, parece ser de admitir que as compensa-ções que se verificarão entre os factores desconhecidos de sinalcontrário, diminuirão notavelmente a sua importância (relativa)global. A seguir se verá o que resulta na prática do confrontodos dados conhecidos e o que daí se pode eventualmente concluirquanto àqueles que se ignoram.

B.

Segundo o Recenseamento de 7 de Março de 1946 haverianessa data em França 22 261 portugueses. O de 1954 (10 de Maio)refere 20,1 milhares. Qual foi entretanto o movimento da colónia?

Ignoram-se os quantitativos da imigração até 1950. Mas noperíodo 1950-53 (inclusive) o total respectivo é de 2,1 milhares.Admitindo para os anos que se seguiram imediatamente à guerracontingentes inferiores aos deste período (e fazendo uma inter-polação para os quatro primeiros meses de 1954) pode atribuir-seà emigração portuguesa para França, entre estes dois censos, acifra global de 3,4 milhares.

As naturalizações — das quais existem dados de todos osanos — atingiram no mesmo período 4,6 milhares. Assim, o saldoentre a emigração e as naturalizações é negativo: — 1,2 milhares.

Subtraindo este valor do número de portugueses presentes em1946 obtém-se 21,1 milhares. Há portanto uma diferença de ummilhar entre este montante e aquele que é apresentado pelo recen-seamento de 1954 (20,1 milhares). Deste facto podem tirar-sevariadas conclusões: ou a de que os métodos de levantamento pro-vocaram em 1954 uma subestimação da colónia, ou que ele resultadas variações na definição da população a recensear 29, ou que a

•28 Vd. Quadro I.29 Em 1946 foi recenseada a «população presente» enquanto que o censo

de 1954 diz respeito à «população legal» (residente).

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estimativa da emigração do período 1946-49 foi exagerada, ou queos factores desconhecidos dão origem a um saldo negativo30, etc.;ou tudo isto ao mesmo tempo... Mas finalmente o que interessaé que uma tal diferença não representa mais do que um desviode cerca de 5 %, perfeitamente aceitável dado o baixo grau deprecisão de todos estes cálculos. Resolva-se o problema admitindocomo base para a fase seguinte a média aritmética daquelas duascifras: 20,6 milhares.

Entre o censo de 1954 e o de 1962 (7 de Março) instalaram--se em França, segundo o O. N. I. (e feitas as interpolações ne-cessárias para os anos de recensamento), 39 149 imigrantes vin-dos de Portugal; as naturalizações atingiram 2059 membros danossa colónia. O saldo resultante é de 37,1 milhares. Assim, à datado Recenseamento de 1962, deveriam estar domiciliados em Françacerca de 57,7 milhares de portugueses.

Ora os seus resultados apenas referem 49,7 milhares; o des-vio é portanto neste caso de 8 milhares, o que é apreciável (16 %do dado fornecido pelo censo). Perante um desvio desta ordem edeste sentido, parece preferível não se ter sequer em conta ospossíveis erros resultantes dos «factores desconhecidos» e, combase nas observações feitas atrás a propósito das limitações querodeiam este recenseamento, pôr de parte os seus resultados eprosseguir o cálculo a partir da cifra a que este conduziu: 57,7 mi-lhares. Aliás, dispõe-se de um elemento de comparação para o fimde 1962: a contagem dos estrangeiros, efectuada pelo Ministériodo Interior francês, com base nas estatísticas das Prefeituras dePolícia relativas ao número de «cartes de séjour» concedidas31.

Na parte de 1962 posterior à data do censo, o saldo imigra-ção-naturalizações é de 13 856. Deveria pois haver em França, noúltimo dia de 1962: 57,7 + 13,9 = 71,6 milhares de residentes denacionalidade portuguesa. Aquelas estatísticas indicam um mon-tante de 70,9 milhares. Encontramo-nos perante uma diferençabastante pequena (0,7 milhares, ou seja cerca de 1 %) e que pode,eventualmente, ter uma explicação relativamente simples: sendoas «cartas de séjour» concedidas só após a obtenção das «cartesde travail» (e no fim do período de validade — 3 meses — daguia que atesta o pedido de autorização de residência) e basean-do-se as estatísticas da imigração (O. N. I.), que utilizámos paraconhecer o número de «entradas» no número de «cartes de tra-vail» concedidas, enquanto que as estatísticas agora citadas resul-tam da contagem das «cartes de séjour», o simples desfazamento

so Retornos a Portugal? Óbitos entre os membros mais idosos dumacolónia envelhecida que se não renova?

31 Os seus resultados, no que respeita aos portugueses, podem ser con-sultados no Boletim da Junta da Emigração de 1962, p. 106.

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entre as duas operações é susceptível de provocar o aparecimentode resultados distintos (tendo a sua diferença o sentido da queaqui se encontrou) quando se efectua o balanço para uma datadeterminada. Parece, pois, poder considerar-se que qualquer dasduas cifras (71,6 e 70,9 milhares) indica adequadamente a ordemde grandeza da colónia portuguesa em França em 31-12-1962.

Prolongue-sei o cálculo até ao fim de 1968. (Visto que secontinua a contabilizar as entradas tal como são apresentadaspelas estatísticas do O. N. L, parte-se daquele dos dois montantesque a elas está ligado: 71,6). Sendo de 29,7 milhares o saldo desteúltimo ano32, obtém-se um resultado de 101,3 milhares.

Resta comentá-lo. Este número pode estar afectado dum erropor excesso, sobretudo se tiver havido muitos retornos definitivospara Portugal ou se muitos trabalhadores tiverem trocado aFrança por outros países estrangeiros. Mas pode também com-portar um erro por defeito tanto mais considerável quanto maiorfor o número de portugueses que se encontrem instalados emFrança sem terem sido objecto de qualquer «controle».

Tendo em conta as possibilidades 4e compensação, pelo menosparcial, entre os desvios nos dois sentidos, e todas as considera-ções feitas no decorrer deste artigo sobre os factores que intervêmno movimento demográfico da colónia, julga-se poder atribuir-seàquele resultado um erro relativo provável da ordem de ± 5• %.Nessa medida deverá dizer-se que a colónia portuguesa em França,em 31-12-1963, era composta por um número de indivíduos com-preendido entre 96 e 106 milhares. E se se quiser admitir que osnaturalizados 33 continuam a fazer parte da colónia embora tendoadquirido a nacionalidade francesa, bastará adicionar àqueles li-mites uma dezena de milhar34.

Salientou-se o incremento recente do movimento migratórioportuguês para França e da sua componente não-oficial, assim como

-2 A média anual de naturalização foi de (n.os arredondados) 750 parao quinquénio 1946-50, 300 para 1951-55 e 250 para 1956-60; houve 166 em1961 e 170 em 1962; parece legítimo admitir (tendo em conta as caracterís-ticas da colónia, sobretudo no aspecto de antiguidade, e também as condi-ções exigidas para a mudança de nacionalidade) que em 196>3> o seu númeroesteja compreendido entre 150 e 200. De qualquer modo, este factor poucoconta em face dos 29 843 novos imigrantes. Admite-se assim um saldo de29,7 milhares.

33 Segundo o recenseamento de 1946 encontravam-se em França nessadata &315 naturalizados ide origem portuguesa. De 1946 a 1962 deram-se6788 novas naturalizações.

34 Não é possível alongar mais o texto com a análise da repartição da

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o lugar cada vez mais importante que ele ocupa, quer como emi-gração, quer como imigração; e tentou-se apresentar uma esti-mativa crítica do número de portugueses instalados em Françano fim do ano transacto. Simultaneamente procurou-se discutir autilidade e os limites das fontes estatísticas de que se dispõe,introduzindo-se nelas, eventualmente, algumas correcções possíveise necessárias.

Não se ultrapassou, no entanto, o mero nível da descriçãoquantitativa — e, esse ainda, tratado de forma bem sumária. Se,apesar disso, este artigo puder contribuir para tornar mais aces-síveis alguns dados e, de algum modo, facilitar a realização deestudos de maior envergadura — que o problema bem merece —ter-se-á com ela atingido o objectivo desejado.

colónia por categorias, segundo vários critérios, porque a escassez e o carác-ter inseguro dos dados obrigariam a uma série demasiado; longa de comen-tários. Apresentam-se pois, em nota, apenas 3 aspectos fundamentais:

— Em 1946 a percentagem da população activa na população total dacolónia portuguesa era de 74,5 %. Se se tiver em conta que, no período 1950--1963, os trabalhadores representam 76,2 % da imigração total (trabalhado-res -f famílias) é de supor que a proporção activos/total tenda a aumentar.

— O sector «construção e trabalhos públicos» absorve a maioria dostrabalhadores portugueses imigrados: 52,9 % dos que entraram em Françacm 1960; 53,2% dos do ano seguinte; 63,8% dos de 1962.

— No que toca,à repartição regional verifica-se a tendência para aconcentração na região de Paris (departamentos de Seine, Seine-et-Oise eSeine-et-Marne): a percentagem do total de imigrados portugueses que nelaresidem passou de 20,3 % em 1946 (dados de recenseamento) para 44,3 %em 31/12/62 (estatísticas do Ministério do Interior francês).

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Emigração oficial portuguesa

ANEXO I

ANOS

1950

19511952

1953

1954

1955

1956

1957

1958

1959

1960

19611962

1950-62

segundo

França

319

67

261

4U568

985

772

3 102

4 694

3 542

3 593

5 4468 245

32 008

os países

Brasil

14 143

28104

41518

32 159

29 943

18 486

16 814

19 931

19 829

16 400

12 451

16 073

13 555

j 279 406

de destino:

Venezuela

3 077

1416

16683 504

5 508

5 718

3 773

4 324

4 073

3175

4 026

3 3473 522

47131

1950-1962

PaísesOutros

4 353

4 0773 571

3 609

4 992

4 607

5 658

7 999

5 434

10 341

12 248

8 660

8 217

83 766

TOTAL.

21892

33 664

47 018

39 686

41011

29 796

27 017

35 $56

34 030

33 458

32 318

33 526

33 539

442 311

Nota: Para maior pormenor consultar as colecções do I.N.E.: Anuário Estatísticoo Anuário Demográficos e do Boletim da Junta da Emigração (Ministério do Interior).

Fonte: I. N. E.

Imigração de «trabalhadores pei manentes» em Françasegundo as principais nacionalidades: 1950-1963

ANEXO II

ANOS

1950

1951

1952

1953

1954

19551956

1957

1958

1959

1960

19611962

1963

1950-63

Portugueses

72

260

472438459949

1 432

4 160

5 054

3 339

4 007

6 716

12 916

24 781

65 055

Espanhóis

650804

1 646

1681

15412 204

8 823

23 096

22 698

14 716

21413

39 623

63 535

57 768

260 198

Italianos

6 083

15 919

27 895

11166

8 52314 246

52 782

80 385

5114621262

19 515

23 808

21516

12 963

367 209

Outrasnacionalidades

3 7204 013

2 737

2 076

1769

1630

2 3914 052

39204 862

3 979

8 780

15 102

20 011

79 042

TOTAL.

10 525

20 996

32 750

15 361

12 29219 029

65 428

111 693

82 818

44179

48 914

78 927

113 069

115 523

771 504

Obs.: OÓ da,dos até 1962 (inclusive) são os que constam dos relatórios do O.N.I.(dados corrigidos). Para 1963 recorreu-se às estatísticas mensais publicadas em Statis-tiques du Travail et de Ia Sécuritê 8ociale.

Fonte: O. N. I.

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Page 24: J.C. de A emigração portuguesa para França: alguns ......terciária (4 rubricas) — activos com ocupação e inválidos e inac-tivos. Pelo seu lado, as publicações francesas

ANEXO III

Imigração familiar (n.° de pessoas) em França

segundo as principais nacionalidades: 195'0-l%8

ANOS

1950

1951

1952

1953

1954

1955

1956

1957

1958

19591960

1961

1962

Total 1950-62

1963

Total 1950-63

Portugueses

242158178252288887419480

1210

Uf99

2 427

3 773

3 882

15195

5 062

20 257

Espanhóis

1592

1240

1113

872579418592

1370

1942

1861

9 080

20 882

26 048

67 589

n

n

Italiano 3

5 326

3 344

4 708

3 383

2 834

3 598

4 695

6 735

7 949

518310 822

16107

13 905

88 589

n

n

Outrasnacionalidades

1622

541617375400244245266409289

1364

2 692

3193

12 257

n

n

TOTAL

8 782

5 283

6 616

4 882

41014 6475 951

8 851

11 510

8 83223 693

43 45447 028

183 630

43 580

227 210

Obs.: a) Quanto às fontes vd/. ob». do Anexo III. b) Anteis de 1961 somente eratida em conta uma parjte da$ famílias. Os dado© de 1960 foram corrigidos «a voste-nort», mas os anteriores mantêm-sei inferiores ao número real de imigrados familiares.c) Havendo erros manifestos nos dados relativos a 1963; apenas se apuraram et corri-giram os que diziam nespeito aos portugueses e o total anual.

Fonte: O. N. I.

Principais fontes estatísticas francesas sobre imigração

ANEXO IV

a) As estatísticas de imigração fornecidas pelo Office National d'Immi-gration (O. N. I.) aparecem regularmente, embora com certo atraso, nosAnnuaires Statistiques publicados pelo Institut National de Ia Statistique etdes Études Economiques (I. N. S. E. E.)> Vd. nomeadamente: Annuaire Statis-tique— 66.° volume: Eetrospectif — Paris, 1961.

b) Do O. N. I. existem relatórios anuais mimeografados: Rapport pré-senté au Conseil d'Administration de VO.N.I. par Ia 'Directio?i de VOffice;Os dados que neles são apresentados diferem por vezes um tanto dos queconstam dos Anuários estatísticos por incluírem um certo número de correc-ções.

c) Uma publicação recente cita os dados corrigidos de 1946 a 1962 (in-clusive: «Les travailleurs étrangers en Franco», Notes et Études Documentai-res, n.° 3057, de 23 de Janeiro de 1964 (La Documentation Française — $,é-crétariat General du Gouvernement, Direction de Ia Documentation).

d) Os dados ainda não referidos nas publicações anuais podem ser en-contrados em: Bulletin Mensuel de Statistique, Paris, I. N. S. E. E.; Statis-tique du Travail et de Ia Sécurité Sociale, Paris, Ministère du Travail(mensal).

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