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  • 7/25/2019 Janine - Eleies 2014 - A Quarta Agenda Da Democracia Brasileira (Ou_ o Que 2013 Trouxe) - Revista Interesse N

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    ARTIGO

    por Renato Janine Ribeiro

    Eleies 2014 A Quarta Agenda da Democracia Brasileira (Ou:

    o que 2013 Trouxe)

    Analistas polticos costumam ser convidados a exercer uma verso supostamente laica daprofecia. Pede-se que projetem cenrios futuros provveis ou, mesmo, certos. Um bomantdoto para esse convite, e para a tendncia hybris a que ele remete, chama-semaio/junho de 2013. Em 1 de maio de 2013, a reeleio da presidente Dilma pareciagarantida. Dois meses depois, aps as manifestaes que tomaram as ruas, numa verso novade ser contra tudo o que est a, sua popularidade tinha cado pela metade e nada maisestava seguro. No momento mesmo em que escrevo, maro de 2014, no se tem sequercerteza de quem sero os principais candidatos presidncia. De longe, o mais provvel

    termos uma disputa entre Dilma Rousseff, Acio Neves e Eduardo Campos, porm, no sepode descartar a hiptese de que seus respectivos partidos lancem Lula, algum no me aindaimprevisto pelo PSDB e Marina Silva. Mas, proponho delinear algumas linhas-mestras decomo a poltica brasileira deve se nortear nos prximos no digo meses anos. Meu pontode partida no sero os partidos, mas as exigncias populares. Penso que numa polticademocrtica, mesmo no acreditando nas virtudes do espontanesmo, o que vem de baixopode ser mais determinante, no longo prazo, do que as articulaes realizadas nas cpulaspolticas; ou, se quiserem, que as demandas populares acabam moldando as ofertasinstitucionais.1

    Desde as manifestaes, tenho sustentado que elas abriram uma quarta agenda democrtica

    para o Pas aquela que, ao se completar, consumar o longo processo de converso doBrasil numa democracia que funcione. A primeira agenda foi a derrubada da ditadura (1985), asegunda, a vitria sobre a inflao (1994) e a terceira, ainda em curso, a incluso social (desde2003). A quarta agenda, afirmo, a da qualidade dos servios pblicos transporte,educao, sade e segurana pblicos , o que diz respeito, portanto, qualidade do Estadobrasileiro. No fortuito que os movimentos de 2013 tenham comeado com a defesa dotransporte pblico bom e barato (em tese, gratuito) e que, dali, tenham-se estendido para aeducao e a sade.2

    Cada uma destas agendas, que se desenrolam num lento, porm talvez seguro, continuumdesde a dcada de 1980, se efetivou ao ser assumida como prioridade por um partido e,

    depois de muitos ensaios e erros, emplacar como projeto amplamente majoritrio dasociedade brasileira. A primeira pauta foi a derrubada da ditadura militar. Esse processodemorou 21 anos, foi conduzido o tempo todo por uma oposio moderada, que algunsridicularizavam chamando de consentida, mas que, na verdade, tinha a coragem de correros riscos de ser oposio numa era difcil, sob a clara liderana de um partido, o PMDB.Outros partidos, ainda jovens devido tardia supresso do bipartidarismo compulsrio,contriburam nesta direo o PT e o PDT , mas a conduo foi do PMDB. Essa agremiao,criada para combater a ditadura, assim, finalmente completava sua razo de ser; pena quedepois se tenha convertido numa federao de lideranas regionais j sem metas maioresalm da ocupao do poder. Mas, os bons resultados decorrentes da queda da ditadura se

    evidenciam, por exemplo, no IDH-M, ou ndice de Desenvolvimento Humano por Municpios,divulgado em 2013, pouco aps as manifestaes, mostrando que no final do regime deexceo eram 85% os municpios brasileiros com IDH muito ruim, e, hoje, estes nochegam a 1%. Sem a democracia poltica, no teria ocorrido esse avano social.

    http://interessenacional.com/http://interessenacional.com/
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    A segunda agenda foi a derrubada da inf lao. A democracia voltou, ou foi instaurada,carregando o pesado legado da ditadura, o qual inclua uma inflao fora de controle e que spiorou, medida que demandas represadas vieram tona. uma grande sorte para quemtem menos de 30 anos, hoje, no ter vivido o que foi a alta ou mesmo hipe rinflao. Ela traziauma insegurana permanente. E, quando se tentava controlar a carestia, os produtossumiam, de modo que ou faltava dinheiro, ou faltava o que comprar. inevitvel falar emcorroso dos valores, no apenas monetrios. A elevada inflao teve impacto negativo sobrea conduta tica dos agentes; a perda de confiana na moeda mina a confiana no futuro e emmuitos possveis parceiros, seja no afeto, seja nos negcios. A inflao torna precrios dois

    pilares sobre os quais se assenta a vida, pessoal ou coletiva: em primeiro lugar, semesperana no futuro, o presente se reduz imediatez. Alguns lugares do mundo onde maioro terrorismo so aqueles em que no se tem esperana em dias melhores, como a faixa deGaza. Em segundo lugar, sem nos associarmos a pessoas em quem confiamos, nossatrajetria demasiadamente solitria. Em um caso e no outro, no construmos. A inflaono devasta apenas a economia.

    O Plano Real, embora institudo por Itamar Franco um presidente por acaso , acabouassociado imagem de Fernando Henrique Cardoso que, alis, se autodefiniu como opresidente acidental do Brasil. O plano foi assumido como bandeira do candidato FHC e doPSDB. Ao contrrio da derrubada da ditadura e da incluso social, no veio primeiro o partido

    e depois a mudana: o PSDB assumiu como sua uma causa previamente definida3, sem jamaisrefugar em seu apoio ao plano. A luta contra a inflao se distingue das batalhas contra aditadura, porque tem uma dimenso tcnica que difcil de converter em mobilizao polti-ca. No conheo exemplos de passeatas contra a inflao.

    *http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/52423_NOVA+(http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/52423_NOVA+CLASSE+C+TRANSFORMA+)

    CLASSE+C+TRANSFORMA+(http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/52423_NOVA+CLASSE+C+TRANSFORMA+)PIRAMIDE+SOCIAL+Eacessado em 4 de setembro de 2013.

    Pior, o que as ruas dizem ou deixam de dizer pode derrubar um ditador, mas dificilmentevencem a inflao. necessria uma expertise que vai alm da vontade poltica, embora estaseja crucial, e seja tolice ironiz-la. Em nossa sociedade democrtica, alm disso, as questesque concernem economia demandam um conhecimento especializado que a maioria notem, e, por isso, mais rduo discuti-las politicamente. A economia, assim, converte oespao da poltica, que deve ser o da divergncia entre pelo menos duas posies con-sistentes e respeitveis, em territrio no qual, a pretexto do saber, um lado desqualifica ooutro como incompetente, enquanto o pblico no tem grande ideia do que est sendodebatido. Mas, se no mobilizou passeatas, o partido que pretendia ser o mais povoado poracadmicos de qualidade aproveitou a experincia de sucessivos planos malogrados parafazer a sociedade compreender que eram ilusrios os ganhos nominais obtidos com ainflao. Embora tenha sido ironizado na poca, o discurso do ministro Bresser-Pereira,falando em Joo, Pedro e Maria, no lanamento do chamado Plano Bresser, em 1987,certamente foi um marco na construo da base poltica para combater a inflao. Passariamsete anos dele at o Plano Real, mas Bresser entendeu que era preciso montar um imaginrio

    http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/52423_NOVA+CLASSE+C+TRANSFORMA+http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/52423_NOVA+CLASSE+C+TRANSFORMA+
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    de apoio s medidas, sempre duras e geralmente impopulares, que planos de estabilizaomonetria implicam. Esse imaginrio acabou triunfando por exausto, mas graas a ele,finalmente, tivemos a convergncia de saber tcnico e o apoio poltico que permitiu vencer asegunda etapa.

    A terceira agenda a da macia incluso social promovida pelos governos do PT, em especialdesde 2005 (ver a Fig. 1). Em cinco anos, o governo Lula reduziu as classes D e E de 93milhes a 48 milhes de pessoas (nmeros arredondados para o milho mais prximo),enquanto a classe C crescia de 63 a 102 milhes de indivduos, ao mesmo tempo em que asclasses A e B tambm subiam, neste ltimo caso, de 26 para 42 milhes, no que deve ter sidoa maior ascenso social j ocorrida no mundo, dentro da democracia, em apenas umquinqunio4.

    Aqui, tambm temos quatro caractersticas principais: um partido que lidera, uma causa quedemora tempos a persuadir e a triunfar, uma sociedade que aos poucos a vai assumindo e,finalmente, um ponto de no retorno, quando at mesmo a oposio compra a agenda dogoverno. Quando venceu as eleies de 2002, o PT era hegemnico ideologicamente nasociedade brasileira. A nica restrio que muitos lhe faziam era o receio de sua polticaeconmica. Mas, sua viso de sociedade era reconhecida pela maioria, mesmo os que te miamsua atuao na economia como sendo a melhor. Sucintamente, era: uma sociedade justa, em

    que ningum passasse fome, e uma sociedade tica, que coibisse a corrupo5. A dvida eraquanto aos meios, isto , economia, ainda mais porque se vinha de um perodo de oito anosem que o Brasil foi praticamente governado por uma viso economicista alguns dizemneoliberal do mundo. A diferena foi manter vrias, ainda que no to das, polticaseconmicas (a privatizao praticamente parou embora fosse difcil privatizar mais do quej fora vendido pelo setor pblico), mas subordinando-as claramente f inalidade que era aluta contra a fome, a misria e a pobreza. Conhecemos o xito dessa poltica. O programaBolsa Famlia, to criticado pela oposio, acabou sendo assumido tambm por ela, com ocandidato tucano em 2010, Jos Serra, prometendo at mesmo ampli-lo. Hoje, seria suicdioum candidato ao poder executivo, em qualquer nvel da federao, defender o fim dosprogramas sociais. Tambm aqui, um projeto assumido por um partido, depois de 20 anos,

    tornou-se questo da sociedade.

    Se tivermos razo, isso significa que cada etapa de crescimento da democracia demoroubastante tempo, entre 15 anos, no caso da inflao, e 21 anos, no caso da restaurao dademocracia ou do intervalo de tempo entre a fundao do PT e a elei o de Lula. provvelque a quarta fase tambm demore a se realizar. Alm disso, em todos os casos, a mudana foicapitaneada por um partido, ou seja: no era consensual na sociedade, havendo interessespela manuteno do statu quo (ditadura, especulao inflacionria, desigualdade social); e foina arena poltica que se construiu uma vontade, tambm poltica, de mudar. Reitero que,embora nos trs casos a poltica fosse o fator decisivo para a modificao, no combate inflao, os instrumentos eram tcnicos. Isso no quer dizer que fossem neutros do ponto de

    vista poltico, mas sim que a vontade poltica no bastava. Essa caracterstica est de novopresente na quarta agenda. Se quisermos ter educao, sade, transporte e seguranadecentes, no bastar querer; ser preciso dispor dos elementos tcnicos para tanto, osquais no so fceis de elaborar.

    Apenas em defesa do querer e da vontade poltica, por vezes ironizados por no seremsuficientes para gerar riquezas, observo que a vontade no a simples enunciao de umdesejo ou um capricho. Ao contrrio, vontade no desejo. Desejos geralmente so maisespontneos, quase naturais, prximos do corpo (comida, bebida, sexo e prazeres em geral).A vontade sempre fora de vontade. Ela supe uma escolha, geralmente difcil, em que sesacrificam desejos em nome de um objetivo maior. Vontade poltica significa, assim, a opo

    por uma prioridade, em nome da qual as metas se definem. Se quisermos uma boa educaopblica, isso significar o investimento de dinheiro, de expertise e a mobilizao dosinteressados. O exerccio da vontade tudo, menos o pedido ao gnio da lmpada para queatenda a trs desejos.

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    Mas, aqui se iniciam os problemas. A ditadura e a inflao duraram muito tempo, mas avitria sobre elas foi relativamente rpida: em trs anos tnhamos uma nova Constituio, emmeses, uma nova moeda. J a incluso social um processo de mais longo curso. Suprimir amisria fica gradualmente mais difcil, medida que baixa o nmero de miserveis. Porexemplo, quem remanesce nas classes D e E tem mais dificuldade para obter em prego ouoferecer sade e educao aos filhos. O importante aqui que a quarta agenda comea semestar conclusa a terceira. Pior, a agenda da incluso est se tornando mais difcil, e, aomesmo tempo em que isso sucede, soma-se a ela uma nova pauta. O Pas precisa terminarum trabalho complexo de incluso de milhes de discriminados historicamente, e, ao mesmo

    tempo, melhorar sensivelmente os principais servios que o Estado deve prestar. Tem umaagenda no concluda, embora bem ini ciada, de incluso dos mais pobres, e uma agendacada vez mais premente de atendimento aos que j adquiriram, no apenas a linha branca deconsumo, mas direitos. uma tarefa dupla e rdua. Perto de qualquer uma delas, as etapasanteriores parecem menos complexas.

    Outro problema que nenhum partido assume esta causa. O PMDB tinha sua razo de ser nocombate ditadura; o PT, na luta por uma sociedade justa e sem corrupo. O PSDB tinhasua razo de ser em outro lugar a defesa, entre outros, do par lamentarismo, hojepraticamente esquecido ou substitudo como prioridade pelo voto distrital , mas soubeassumir rapidamente a agenda do combate inflao, a tal ponto que sua razo de ser hoje

    est mais na economia do que nas instituies polticas, como ele inicialmente pretendia.Alis, isso fez com que todos esses partidos f icassem com um samba de uma nota s. OPMDB, a dizer a verdade, perdeu suas metas. J o chamei de maior dos nossos minipartidos,porque o partido grande que funciona em busca de interesses dos seus lderes, no se lheconhecendo mais um projeto para o Pas. O PSDB reduziu-se economia, vendo na privatiza-o e no ambiente concorrencial que deveriam ser meios para fins determinados praticamente fins em si. O PT perdeu a chama tica; embora eu no concorde com suacaracterizao como partido mais corrupto do que outros, o fato que no conta mais com odiferencial que fazia dele um partido mpar, nico, que unia o sonho da sociedade justa semmisria ao sonho da sociedade justa e honesta. Mesmo assim, dos trs maiores partidos,somente o PT mantm uma mensagem viva para o Pas, que a da incluso social que,

    porm, vai ficando cada vez mais complexa. Pois essa mensagem est se tornando umproblema, no mais uma soluo; continua tendo apelo eleitoral, mas aumenta emcomplexidade. O governo, buscando a incluso social dos ainda muito pobres o que ademanda prioritria do ponto de vista tico, tem tambm que atender s exigncias dasclasses mdias, a antiga, que no quer perder espao, e a nova, que deseja adquiri-lo. Ficadifcil caber tudo isso no oramento, bem como na gesto.

    Neste contexto, o problema maior para o PT no o de ganhar a reeleio, mas o degovernar depois. Um quarto mandato presidencial petista pode soar o fim da hegemonia dopartido. E uma lio que a poltica brasileira tem indicado nas ltimas dcadas que, quandoum partido perde a hegemonia federal, difcil recuper-la. No temos tido alternncia nopoder, mas sucesses. Ao PMDB sucedeu o PSDB, por sua vez sucedido pelo PT, e se estaanlise estiver correta o retorno do PMDB chefia do executivo federal quase im possvel eo do PSDB, improvvel. O mesmo destino poder acolher o PT se ele no se renovar, aindamais que, na presidncia e depois dela, seu principal lder, Lula, tem indicado nomes para aseleies mais decisivas a prpria presidncia, o governo paulista, a prefeitura paulistana ,passando por cima de todas as instncias partidrias e, portanto, desinstitucionalizando opartido, que se tornou uma agremiao praticamente sob sua tutela. Deste ponto de vista,pouco importa se este ano se candidatar Dilma ou, como pedem segmentos que vo dosempresrios a alguns petistas, mais uma vez Lula: o PT parece no ter, hoje, prognsticos devida para alm de seu grande lder.

    Trs questes em choque

    Mas, no terminamos de falar em agendas. Mencionei a inconclusa, da incluso social, marcapetista, agora mais difcil do que antes, e a nova pauta poltica, a de servios pblicosessenciais que tenham qualidade. (Por sinal, eu estranho que este ponto no seja central nodebate sobre as aposentadorias. Hoje, o aposentado gasta muito com sade. Se a sade

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    pblica for boa, ele no precisar mais acumular um colcho de reservas para eventualidadesgraves). Existe, porm, outra agenda presente no debate brasileiro, a empresarial. Desdecerto momento do mandato de Dilma Rousseff escolhida por Lula como candidata, emparte pelo menos, por ser dos presidenciveis petistas quem tinha maior proximidade dopatronato e de suas preocupaes com a produo , os empresrios passaram a reclamar doque chamam o vis ideolgico da presidente, a quem faltaria o celebrado pragmatismo doantecessor. O grande ponto deles que, sem produo, sem produtividade, no h comosustentar polticas de incluso social. Tm razo, claro. Contudo, vrias das medidas quedefendem, como a flexibilizao do mercado de trabalho, colidem diretamente com os

    trabalhadores e, salvo uma grave crise, que a ningum interessa, fica difcil implant-las.Aqui, o ponto a salientar que, por decisiva que seja a economia, medidas econmicas someios, no so fins em si prprias. Uma srie de polticas sociais ga rantiu aumentos reais aosmais pobres, mesmo sem incremento em sua produtividade, o que no converge com osinteresses imediatamente econmicos do empresariado. Mas, possvel um encontro feliz dademanda por melhores salrios, se ela vier junto com o requisito patronal de maiorprodutividade, e o acordo ser perfeito se esse avano no acarretar desemprego. Oaumento na produtividade, por sua vez, depende estritamente de progressos na educao,nos seus vrios sentidos, que vo desde a pesquisa de ponta at o treinamento para asfunes no cho de fbrica. A incluso, no dilogo poltico, dos setores universitrios e deinstituies prximas academia, como fundaes de estudos voltadas s empresas e ao

    trabalho, poder constituir a ponte necessria que leve os desencontros a se tornaremencontros.

    Aqui, na verdade, parece haver desencontros, tanto ideolgicos quanto de interesses. Noplano dos interesses, protestam os empresrios contra sucessivas medidas que, aumentandocontroles estatais sobre o setor produtivo, inibem seu crescimento. No plano ideolgico, ospatres opem o pragmatismo de Lula, que o faz consider-lo quase como um dos seus, viseira ideolgica que seria a de sua sucessora, que, presa de concepes estatistas quehoje estariam superadas controla demasiado os processos e perde de vista os resultados.Mas, essa queixa empresarial no est inteiramente justificada. Ela ignora o quanto osempresrios so, eles mesmos, ideolgicos. Nem sempre adotam a poltica mais aplicvel ao

    longo prazo. Veja-se a audincia de uns poucos publicistas que, na melhor das hipteses,procuram demonizar as polticas sociais do governo, justamente as mais populares junto aoeleitorado, conseguindo, com isso, apenas, fazer os polticos de oposio perderem votos; ede outros, em menor nmero ainda, que atacam os fundamentos mesmos da democracia,sugerindo o banimento do partido que desde 2002 o mais votado no Pas. So posiesideolgicas, que em sua dimenso significativa se manifestam quando valores determinadospela classe social a que se pertence bloqueiam sua capacidade de agir decisivamente e demudar a configurao das coisas. Faria bem ao empresariado se tentasse, permitam apalavra, uma psicanlise de sua ideologia, vendo o que em seus prprios valo res os fazavanar e o que os inibe.

    De qualquer modo, coloca-se para os empresrios pelo menos parte da conta decorrente dasagendas 3 e 4: a desigualdade social s diminuir com a ajuda do empresariado, e este serchamado a contribuir para melhorar a qualidade dos servios pblicos mencionados. Noprecisa ser sempre em dinheiro. Empresas podem aumentar a eficincia do transportecoletivo; podem conjugar seus horrios de trabalho para evitar concentrao excessiva dedemanda sobre os nibus; podem realocar seus funcionrios para mais perto do local detrabalho; podem estimular a carona. No plano da sade, podem promover a reduo de pesodos funcionrios, substituir refeies mais pesadas no almoo e no jantar por lanches maissaudveis a cada trs horas e estimular a ginstica laboral. Na educao, podem oferecer umportflio de aulas, presenciais, mas talvez em parte a distncia, que cubram desde

    necessidades bsicas da empresa at outras menos bsicas, mas que, melhorando a vida dosfuncionrios, aumentem a qualidade de vida no ambiente e, finalmente, a produtividade. Demodo geral, hoje, todo conhecimento que emancipe, que liberte, que torne a pessoa maisautnoma em qualquer escaninho de sua vida pessoal, deve tambm ser til para umaempresa, se ela preferir empregados com iniciativa, capazes de resolver problemas e semreceio de discutir com os superiores sobre as melhores polticas a tomar.

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    Isso, sem falar em produzirem melhores veculos para o transporte pblico, melhores equi-pamentos para a sade e a educao, e colaborar para uma gesto mais eficiente. Na alianaque ser necessria para a quarta agenda, a empresa ter de pagar impostos (ela ou,preferivelmente, o empresrio), mas sempre ser melhor quando, alm disso, ela ingressarativamente na promoo de mudanas.

    Finalmente, o timing de cada uma destas questes diferente. A misria e a excluso so cialexistem h 500 anos e no se resolvero depressa. Mas, no pode mais ser postergada inde-finidamente sua soluo. preciso, a cada ano, que haja avanos claros. A qualidade dosservios pblicos uma questo antiga, tambm, e que igualmente demandar anos. Mas, asociedade h de querer indicadores precisos de que est melhorando, e por indicadores nofalo apenas em nmeros, como tambm em uma percepo do cliente de que, por exemplo,ser atendido no hospital no curto prazo. J a pauta empresarial imediata. A arte doestadista consistiria em colocar a pauta dos negcios a servio das pautas sociais. Muito, nasociedade brasileira, depender, nos prximos anos, da capacidade dos governos do federalao municipal de fazer esses casamentos de interesse, em que a expanso econmica venhasempre com ganhos sociais. No fcil, mas possvel, e h iniciativas bem-sucedidas nestecampo.

    A crise das lideranas

    Estaremos, talvez, passando, este ano, por eleies de curto prazo, aquelas que mais de -monstram uma crise de lideranas do que a resolvem. Do lado petista, Dilma candidata dotudo ou nada. Se ela vencer, completa os oito anos que, na tradio de uma reeleio, comonos Estados Unidos, constituem, no final das contas, um nico mandato contnuo com recallno meio. Se perder, seu tempo ter terminado e dificilmente concorrer ao mesmo cargo em2018. Ou seja, em qualquer caso, o PT precisa pensar j em um nome para 2018, sucedendo Dilma na presidncia ou substituindo-a na candidatura, e, atualmente, no conta comnenhum lder consolidado para tanto.

    J o PSDB se defronta com uma crise mais imediata. Por alguma razo que tange a desrazo,ainda h quem afirme que, para a presidncia, Acio Neves jovem e Jos Serra, velho. Naverdade, o ex-governador de Minas Gerais tem 54 anos e o de So Paulo, 72. Parece quetemos um estranho senso comum segundo o qual o presidente deve ser eleito em torno dos60 anos de idade (FHC: 63 anos em 1994; Lula: 57 em 2002; Dilma: 62 em 2010). Obviamente,essa convico uma bobagem. Hoje, o brasileiro tem uma expectativa de vida de 74 anos, e amaior parte dos grandes polticos a supera at de longe; mas, na Repblica Velha, quando aexpectativa mdia era cerca de metade da atual, todos os presidentes foram eleitos jquando, estatisticamente, deveriam estar mortos. Mas, de todo modo, os dois ex-governadores paulistas que perderam a presidncia para o PT, Serra e Alckmin, so conside-rados pela maior parte como estando fora da disputa, e Acio, como no tendo conseguidoemplacar. H razes para o desgaste dos nomes paulistas. Eles se chocaram por demais

    frontalmente com as polticas sociais dos governos petistas, seu carro-chefe eleitoral. Naimprensa, tm forte apoio de nomes que atacam o PT no s pela poltica econmica, maspelos programas mais populares.

    Acio tem a vantagem de no ter entrado nessa m jogada, ao contrrio: defende osprogramas de incluso. Usou o plano B do PSDB, presente desde o comeo, mas que erafacilmente sacrificado, que consistia em reclamar para Ruth Cardoso e o prefeito deCampinas, Magalhes Teixeira, a paternidade dos programas sociais (quando o papel do PTno foi o de cri-los do nada, mas dar-lhes escala, modificar suas concepes e torn-losirreversveis)6. Acio o primeiro candidato tucano a efetivamente apostar no ps, e no nopr, Lula. Certamente quem melhor entendeu o artigo de FHC publicado nesta revista, em

    2011, sobre o papel da oposio, que reconhece o maior apelo do PT aos mais pobres,admitindo, implicitamente, que ele ter sido capaz de conduzir bem a incluso social, eprope que o PSDB se assuma como partido para a classe mdia. Muda, assim, por completoo projeto tucano, que passa a apostar no sucesso, e no mais no fracasso, dos programaspetistas de incluso social. O PSDB passa a ser o possvel grande ganhador desses projetos,que ao levarem pobres e miserveis para o patamar da classe mdia aumentam o pblico

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    e o possvel eleitorado da agremiao tucana. A estratgia tima e de longo prazo.Enquanto Serra concorria em 2010 como uma espcie de ltima chance, perdida a qual eledeveria passar o lugar a Acio, este agora disputa o poder com a expectativa de s au mentarseu cacife gradualmente. Se perder a primeira eleio, tem idade para concorrer de novo e,mais que isso, com o gradual aumento das classes mdias, ter mais pblico. Sua naturalsimpatia converge com seu interesse poltico, que o faz torcer pelo Bolsa Famlia, e nocontra ele. Seu casamento com os programas sociais tem afeto, no apenas interesse.Contudo, essa estratgia no parece estar dando certo. O candidato no emplaca. Por queser? Esta quase a primeira grande pergunta a colocar nas anlises sobre estas eleies,

    mas, como estamos a um bom meio ano delas, tambm possvel uma reviravolta na sorte.

    A segunda pergunta diz respeito a um casamento que parece ser mais de interesse do que deamor, unindo Marina Silva, depois de perder no TSE a chance de registrar a Rede, a EduardoCampos, candidato inconteste do PSB. A unio dos terceiro e quarto nomes nas intenes devoto vitaminou a candidatura, agora nica, que o condomnio PSB+Rede lanar. Ele passa adisputar o segundo lugar com o PSDB. Marina Silva tem os ideais, Eduardo Campos, asalianas. Podem somar uma recepo favorvel em setores empresariais e polticos que estoabandonando o PSDB, assim como no eleitorado remanescente da impressionante votaoque Marina teve em 2010. Na verdade, a sangria tucana vem j de algum tempo e, at hpouco tempo, beneficiava Marina mais que Eduardo. Uma converso de economistas de

    persuaso liberal em defensores da sustentabilidade, juntamente substituio dos temasambientais tambm pela difcil palavra sustentabilidade, tornaram a Rede a destinatria demuitos simpatizantes do PSDB em busca de ideais. Juntamente a essa caminhada para ocentro de um movimento que teve na esquerda seus primeiros lderes, como Chico Mendes eJorge Viana, houve tambm um descontentamento de muitos tucanos com a estagnao deseu partido no iriam para o PT, mas poderiam seguir a liderana tica de Marina.

    Este ponto merece destaque. Temos no Brasil, hoje, duas lideranas polticas especiais. Uma a de Lula, que nasce do clamor tico pela justia social e pela moralidade e, depois, desdo -bra-se no dirigente poltico que mudou o Brasil. Outra a de Marina, j por sua histria desuperao das dificuldades que viveu em criana e em jovem e que d a seus interlocutores

    a percepo de que no fala s em PIB, mas em vida. Lideranas assim atraem, at porquefazem parte desse pequeno grupo que lidera, no porque diga aos liderados o que estesquerem ouvir, e sim porque lhes dizem o que eles no sabem. Sua habilidade est em que sairda diviso dizer o que querem e dizer o que no querem ouvir, e entrar num terceiro termo,o da novidade trazida, de conhecimento novo e perspectivas novas, inclusive de ao e denegcios.

    Nos ltimos meses, o condomnio PSB+Rede tem buscado mais conquistar apoiosempresariais do que junto ao eleitorado. Na poltica brasileira, definiu-se um momentoanterior ao primeiro turno, que poderamos chamar de turno zero, no qual os candidatos mesmo tendo o aval de seus partidos, como tem sido o caso de Acio e Eduardo procuram

    se viabilizar, sobretudo junto ao empresariado. quando apresentam suas propostas eco-nmicas e, obviamente, buscam apoio financeiro para as campanhas. Embora sejainteiramente legtimo os empresrios se manifestarem nas eleies, no se pode dizer queessa semitriagem de candidatos operada pelo capital contribua para a maior correo dopleito. Alm disso, provvel que o Supremo Tribunal Federal proba a doao de empresas acandidatos e a partidos, sustentando, com razo, que pessoas jurdicas no so eleitoras e,portanto, seu dinheiro constitui uma intromisso externa no pleito. Isso no impedir, certa-mente, que empresrios, pessoas fsicas, contribuam, mas com base em seus rendimentos, eno mais afetando o capital da empresa. Mesmo assim, a bno empresarial tem sidobuscada pelos candidatos da oposio de centro-direita, Acio, Eduardo e, ainda, Marina.

    Que lideranas pode o PT oferecer? Por um lado, tem um lder de referncia com um papelcomparvel ao que FHC desempenha no PSDB. Mas, a diferena que Lula nunca foidescartado pelos candidatos de seu partido Serra, em especial, tentou afastar-se daimagem de FHC. Ao contrrio, constitui o maior cabo eleitoral petista. Tanto assim que secogita seu nome como coringa. Tem uma lder que j ocupa a presidncia, o que favorece suareeleio. Mas, no se descortina renovao a partir de 2018. Por enquanto, somente o

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    prefeito de So Paulo, Fernando Haddad, parece ter essa perspectiva, mas carrega o peso detodos os problemas de sua cidade. Em suma, enquanto a coligao do PSB e Rede tem doisnomes a escolher para 2018, o PSDB e o PT podem ficar sem candidato natural ou fcil deemplacar, o que mais uma vez os levaria a procedimentos no democrticos de escolha nocaso dos tucanos, ficou clebre o jantar a quatro em Nova York, que lanou um candidatopresidencial, enquanto entre os petistas se consagrou o dedazo de Lula, fazendo escolhassozinho.

    Mas, sobre todas estas consideraes de curto prazo ou mesmo de mdio prazo 2014 ou2018 paira um inominado. A sociedade brasileira, em que pese viver ainda enormescarncias, saiu do imaginrio da carncia para o da dignidade. Est-se no imaginrio dacarncia quando se pede o socorro, o emergencial no limite, a esmola, a cesta bsica, acaridade. Sai-se desse imaginrio quando se tem um carto, que no passa por prefeito oudeputado, e que inclui obrigaes para com a sade e a educao. Entra-se no imaginrio dadignidade quando se deixa de implorar e se passa a exigir, quando se desvestem os andrajosda mendicncia e se envergam os trajes da cidadania. Exigir servios pblicos bons anovidade. No escutar essa demanda ou trat-la como antes se tratava a misria, como algoque necessrio, sim, mas um dia, e cuja soluo pode sempre ser postergada, divorciar acategoria poltica da sociedade que ela representa. Ento, de duas uma: um ou mais partidosdespertam para esta questo e procuram construir o apoio poltico e os meios tcnicos e de

    gesto que deem um salto na qualidade da sade, educao, segurana e transporte pblicos;ou vai crescer a cunha entre os representantes e representados, com os Anonymous nomemais significativo impossvel ter e os Black Blocs ocupando o vazio e se legitimando pelaao. A escolha entre um itinerrio e outro est nas mos, antes de mais nada, dos polticos ede seus partidos.

    1 Tratei das manifestaes numa srie de artigos no jornal Valor Econmico, publicados s segundas-feiras, entre

    17 de junho e 23 de setembro de 2013, e, mais tarde, no artigo Brazil and the democracy of protest, publicado nos

    anais da 27 Conferncia Internacional da Academia da Latinidade, sobre o tema Post-Regionalism in the Global

    Age: Multiculturalism and Cultural Circulation in Asia and Latin America, realizada em Kuala Lumpur, entre 8 e 10 de

    janeiro de 2014, disponvel em http://alati.com.br/pdf/2014/malaysia/parte-6_-_Renato-Janine-Ribeiro.pdf(http://alati.com.br/pdf/2014/malaysia/parte-6_-_Renato-Janine-Ribeiro.pdf).

    2 Se a segurana pblica no constituiu tema durante as manifestaes, a razo deve estar simplesmente no fato

    de que as polcias estaduais as reprimiram, espancando manifestantes e, depois, toleraram a depredao de

    prprios pblicos, como a sede da prefeitura de So Paulo. No mnimo, isso provou sua diculdade de lidar com

    protestos polticos. No mnimo.

    3 Isso explica a mgoa de Itamar Franco ao ver o plano que ele decretou ser atribudo a FHC, o ministro que o

    implantou. Na verdade, os dois ex-senadores, que viriam a ser, ambos, presidentes da Repblica, no eram

    conhecedores profundos de economia, mas construram o crucial apoio poltico para que os economistas do plano,

    que depois cariam conhecidos como tucanos, o concebessem e implantassem. Somente perto de sua morte,

    quando era novamente senador e se reaproximara do PSDB, Itamar viu reconhecida sua paternidade do plano.

    4 A China, maior pas do mundo, pode ter conseguido dados comparveis, mas fora do regime democrtico.

    5 Sem querer entrar na polmica sobre a suposta corrupo do PT, assunto que hoje racha a sociedade brasileira, o

    fato que, no imaginrio nada armo sobre a realidade , o partido deu maior relevo a sua agenda social e

    menor, tica. O crculo virtuoso, que da tica remetia justia social e inversamente, rompeu-se. Este um tema

    que desenvolverei em outra ocasio.

    6 O plano A consistiu e ainda consiste em criticar os programas de incluso social, no s por defeitos superveis de

    concepo, entre os quais a porta de sada, mas tambm por uma srie de acusaes imaginrias, entre elas a de

    que conformaria os mais pobres com a sua pobreza e teria efeitos socialmente negativos. O livro de Walquiria Leo

    Rego e Alessandro Pinzani, Vozes do Bolsa Famlia Autonomia, Dinheiro e Cidadania, refuta essas teses, que,

    porm, persistem, e mais retiram votos da oposio do que lhe do. Quando o senador Acio prope incluir o Bolsa

    Famlia como programa permanente, ele rompe com esse que chamei o plano mais frequente de oposio do PSDB iniciativa governamental.

    2 comentrios para Eleies 2014 A Quarta Agenda da Democracia Brasileira (Ou: o que

    2013 Trouxe)

    http://alati.com.br/pdf/2014/malaysia/parte-6_-_Renato-Janine-Ribeiro.pdf
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    Tree (http://treedigital.com.br/)+ WM ( http://waltermattos.com)

    1/11/2014 (http://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/eleicoes-2014-a-quarta-agenda-da-democracia-brasileira-ou-o-que-2013-trouxe/#comment-16951)

    Cecilia Cortez

    uma anlise brilhante que empresta perspectiva histrica s diferentes fases deampliao de nossa democracia. O nico ponto de questionamento que tenho emrelao possibilidade de realizao da ltima agenda a de ligar o interesseempresarial de aumento da produtividade melhoria de servios pblicos, comosade, educao, transporte e segurana. Foi com essas bandeiras a de umEstado mnimo dedicado educao, sade que se justificou as privatizaes da

    poca de FHC. O que se passou, no entanto, nessa poca, e que o PT no soubereverter, que se consolidou a privatizao da educao fundamental e superior,que vinha sendo construda desde a poca da ditadura, acentuada nos governosSarney e Collor, do desmantelamento do pouco que havia de qualidade naeducao e sade pblicas. Deixou-se intocada a militarizao da polcia vistacomo essencialmente repressiva e discriminatria. Desde ento, tanto a educaoquanto a sade pblica se despojaram de seu carter de direito, para ser merafilantropia que estigmatiza quem delas se serve. Empresrios encarregados deplanos de sade e do ensino privado encastelaram nas agncias que visavamregulament-los. contraditrio com seus interesses que haja educao e sade

    pblica de qualidade. No mesmo sentido, uma segurana pblica a servio de umaparte e no de toda a sociedade alimenta a indstria armamentista e a indstria daviolncia social. No visualizo como se pode concretizar tal agenda proposta, comesses agentes privados, embora concorde que ela seja a prxima e talvez a maisdifcil fronteira .

    1/11/2014 (http://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/eleicoes-2014-a-quarta-agenda-da-democracia-brasileira-ou-o-que-2013-trouxe/#comment-16952)

    Cecilia Cortez

    No comentei esse artigo antes, no repetirei o erro de comentar.

    http://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/eleicoes-2014-a-quarta-agenda-da-democracia-brasileira-ou-o-que-2013-trouxe/?replytocom=16952#respondhttp://interessenacional.com/index.php/edicoes-revista/eleicoes-2014-a-quarta-agenda-da-democracia-brasileira-ou-o-que-2013-trouxe/?replytocom=16951#respondhttp://waltermattos.com/http://treedigital.com.br/