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j anelas abertas Simão Viana Martins

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Foi em 1963 que nos conhecemos. Aí se vão 44 anos de amizade. Na brevidade da vida humana é um tempão. Amizade que como todas as amizades nascem por acaso, fortuitamente, sem nada pensado ou planejado. A família do Simão acabara de chegar de Manaus e passaria os primeiros dias em São Paulo na casa do Sr. Onésimo, um paraense amigo da família, e que já estava aqui há algum tempo. Abraço, Mauro Dianes Moreira São Paulo, 13 agosto 2007

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Simão Viana Martins

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Foi em 1963 que nos conhecemos. Aí se vão 44 anos de amizade. Na brevidade da vida humana é um tempão. Amizade que como todas as amizades nascem por acaso, fortuitamente, sem nada pensado ou planejado. A família do Simão acabara de chegar de Manaus e passaria os primeiros dias em São Paulo na casa do Sr. Onésimo, um paraense amigo da família, e que já estava aqui há algum tempo.

Abraço,Mauro Dianes Moreira

São Paulo, 13 agosto 2007

Simão Viana Martins, 15 nov 1949, é licenciado em Letras *Português - Inglês e Literatura -1985 pela FFCL. São Marcos - São Paulo e Pós Graduado em Língua Portuguesa. - É Professor e Revisor de Texto. - É Servidor Público Estadual do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1994

Quem vem a minha casa vê um pé-de-abacateiro

Num pedacinho de terra dividida ao meio e fl ores

Separado por um muro contíguo à parede

D’outro lado um viveiro

Tem dez ou quinze aves

Uma ou duas galinhas poedeiras

Um galo novo e nove pintinhos

Que encantam meu pai

Ele os trata como bebês

Simão Viana Martins

Simão Viana Martins 15 nov

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SIMÃO VIANA MARTINS, 15 NOV

1949, É LICENCIADO EM LETRAS

*PORTUGUÊS - INGLÊS E LITERATURA

-1985 PELA FFCL. SÃO MARCOS - SÃO PAULO E PÓS GRADUADO

EM LÍNGUA PORTUGUESA.

- É PROFESSOR E REVISOR DE TEXTO.

- É SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DE SÃO PAULO, 1994

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

Projeto Gráfi coLivre [email protected]

CapaMauro Teles

RevisãoSimão Viana [email protected]

www.ferrariweb.comImpressão e acabamento

Copyright, © Simão Viana Martins, Todos os direitos desta edição reservados, proibida a reprodução total ou parcial.Os infratores serão punidos na forma da lei.

1ª ediçãoSão Paulo - 2007

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Poesia : Literatura brasileira 869.91

Martins, Simão Viana

Janelas abertas / Simão Viana Martins. --

São Paulo : Livre Editora, 2007.

1. Poesia brasileira I. Título.

07-8710 CDD-869.91

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

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LÚCIA

eNZO

À minha mulher Lúcia, a eterna gratidão por ter gerado do nosso amor o nosso maior bem.

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Simão

Ao meu fi lho Enzo, as minhas reminiscências de adolescente e de homem maduro que um dia decidiu ser pai do futuro.

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Agradecimentos

In Janelas Abertas

Aos meus pais – In Memoriam – eternas saudades.

Aos meus irmãos, família grande que ao tempo se ajustou à distância de cada um.

Ao meu fi lho Enzo, a inocência pura e a energia constante com que me fi zeram maduro.

À minha mulher Lúcia, a cumplicidade com que me ensinou ser mais humano e feliz.

E a honrosa gratidão por ter gerado do nosso amor o nosso maior bem.

Ao meu amigo-irmão Mauro Dianes Moreira pela paciência com que catalogou as reminiscências, juntou-as ao prefácio de Janelas Abertas e me dedicou.

A todas essas almas queridas, nada mais sincero do que o meu amor e o meu carinho.

Muito obrigado.São Paulo, agosto de 2007

Simão

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índice índice 11 11 prefácio

13 13 DEDICATÓRIA A UM AMIGO

14 14 PINTE MEUS LÁBIOS

15 15 AINDA TE DAREI O CÉU

16 16 HEI, MOÇO!

17 17 UM DIA ME SENTI POETA

18 18 EU ME LEMBRO

19 19 LUA CHEIA

20 20 DE TANTO ASSIM CULPADO

21 21 NÃO DEI à SORTE

22 22 HÁ DIAS QUE NÃO CHOVE

23 23 MANCHETE

25 25 AGORA

26 26 DE VEZ EM QUANDO

27 27 FAZER ARTE É MUITO FÁCIL

29 29 POR QUE

30 30 SOBRE O ESQUECIMENTO

31 31 NÃO ME FALE

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32 32 NÃO ME PRIVE

33 33 IGUAL TEMPO PASSADO

34 34 PAULICÉIA

35 35 CONTO DE NATAL

37 37 DIÁRIO DE UMA MANHÃ

39 39 AMANHECE

40 40 CAVALEIRO

42 42 QUANDO EU TE CONHECI

43 43 ESTOU VELHINHO

44 44 ISSO AÍ É GENTE

45 45 LEMBRANÇAS

46 46 “QUARENTANO”

48 48 DE VEZ EM QUANDO

49 49 RETRATO

50 50 DEVANEIO

52 52 UMA VIDA

54 54 O MEU DILEMA

56 56 FLOR CRIS

58 58 CRISÂNTEMO

59 59 VIM PARA LONGE DOS TEUS OLHOS

60 60 POESIA

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

62 62 CHOVEU NUM INSTANTE

64 64 QUANDO EU ANDAVA POR AQUI

65 65 DOMINGO

67 67 ESPANTO

69 69 POEMA MODERNO

70 70 “VINTE-E-DOIS”

71 71 “1991”“1991”

72 72 LÁ VAI A MOÇA

74 74 desejo

75 75 FASCÍNIO

76 76 MOTIVAÇÃO

77 77 PRESENTE

78 78 DESPROPÓSITO

79 79 UMA VEZ

80 80 POEMA DA ESPERANÇA

81 81 NOVEMBRO

83 83 GUARDIÃO do novo mundo

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prefácio

Foi em 1963 que nos conhecemos. Aí se vão 44 anos de amizade. Na brevidade da vida humana é um tempão. Amizade que como todas as amizades nascem por acaso, fortuitamente, sem nada pensado ou planejado. A família do Simão acabara de chegar de Manaus e passaria os primeiros dias em São Paulo na casa do Sr. Onésimo, um paraense amigo da família, e que já estava aqui há algum tempo.

Creio que foi na manhã do dia seguinte à chegada em São Paulo que nos conhecemos. Lembro-me de estar sentado no chão do quintal da minha casa, que era contígua à casa do Sr. Onésimo, quando Simão se aproximou de mim e me perguntou uma coisa qualquer e daí para o jogo de bola foi mais um passo. Assim começou a nossa amizade. Brincamos muito, jogamos muita bola, fomos a muitos “bailinhos”, assim se dizia à época, e cinemas. Estudamos juntos, discutimos o Brasil, “ame-o ou deixe-o”, trabalhamos juntos. Quando éramos adolescentes trabalhamos por um bom período numa óptica localizada à Rua Major Quedinho, 85 onde, aliás, havia dois outros rapazes, amigos comuns e do mesmo bairro: Jorge Skoretzky e Vanderlei. Foi nesse período de adolescência, quando fazíamos o ginásio no Curso Santa Inês, ali na Praça Carlos Gomes, na Liberdade, e mais tarde o colegial na mesma escola, que Simão manifestou interesse pelas letras. Lembro-me vagamente de duas coisas das quais gostava especialmente: a canção Summer Rain, cantada pelo Johnny Rivers, e da qual lhe caiu às mãos uma tradução da letra que gostou muito e um poema do Fernando Pessoa que penso aguçou-lhe especialmente o gosto pela poesia. Volta e meia repetia “... come chocolates pequena suja / Come chocolates...” de algum poema que suponho ser de Pessoa. É nesse período que Simão se apaixona pela primeira vez e acho que desde então nunca mais deixou de se apaixonar. Nesta sua primeira paixão, por uma garota que morava na nossa rua, deu para perceber que Simão seria alguém de viver paixões intensas. Foi um período difícil para ele e para os amigos próximos. Quando as coisas do coração desandavam, passava o dia na “politriz”, máquina

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de polir, examinando com a lupa o polimento dos bloquinhos, para fazer lentes de contato, assoviando ensimesmado e nada disposto a trocar conversa com quem quer que fosse (a imagem me vem clara à mente). Passaram-se os anos, nossas vidas tomaram rumos diferentes e fi camos um bom tempo apenas com notícias esporádicas um do outro até que um outro amigo comum dos tempos do Curso Santa Inês, Rui, conseguiu localizar e juntar o nosso grupo e desde então temos mantido um contato mais freqüente ou pelo menos temos evitado fi car tanto tempo sem nos falar. Foi num desses contatos que me foi apresentado as provas gráfi cas de uns textos que resolvera imprimir; coisas antigas, disse-me ele, sem pretensão alguma, gostaria de deixar para meu fi lho. Li os textos, alguns mais de uma vez, buscando o rítimo e a ênfase certa. Confesso que gostei. Gostei, porque vi nesses textos sentimentos e emoções que pela forma, conteúdo, e nuances do seu estado de espírito, tornou-me bastante fácil identifi car alguém que se conhece há tanto tempo. Não sou homem afeito às letras, muito longe disso. Preciso ler um texto com muito mais atenção que alguém que já tenha pendor natural para a poesia, entretanto, conhecendo Simão como eu o conheço, digo que o que eu vi nos seus versos é pura sinceridade. Tenho certeza de que cada verso aqui impresso foi escrito no calor das emoções vividas e expressa um universo muito pessoal. Meu querido amigo, você tem algo para deixar para o seu Enzo!

Abraço,Mauro Dianes Moreira

São Paulo, 13 agosto 2007

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DEDICATÓRIA A UM AMIGOoutubro/2007

Certa vez, um amigo me confessou o desejo de compilar seus velhos textos, mas não tinha coragem de abrir o seu baú. Disse ele: são historinhas e narrativas de quando criança e de adolescente ou são versos incompletos tirados de paixões, de amores não correspondidos ou são grilos de rapazola rebelde-romântico de antigamente, por isso, não valeria a pena incomodá-los entre seus bolores e traças nem comentá-los, porque era alérgico a ácaros, assim como eu. —Talvez tivesse razão!

Um dia, desses preguiçosos, resolvi, então, abrir o meu baú, os cadernos e as anotações. Reli os que encontrei. Os menos duros e impiedosos e os mais humanos cataloguei-os neste breviário em homenagem a uma vida que a escolhesse. Mas não fosse necessariamente a do autor, porém, ainda que fosse uma vida paralela, dessas que fi zera sorrir ou entristecer olhos que buscaram encanto em cada brilho no infi nito da existência, ínterim facultativo para algumas almas desatentas.

Nos textos catalogados estão os meus retratos ora visões míticas da realidade, ora observações fi éis de personagens contundentes ora retratos queixosos e angustiados, obscura realidade, momento de quem passa pelo tempo, assiste a vida e deixa registrado um começo de um fi m.

A essas almas fi ca o meu agradecimento.

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PINTE MEUS LÁBIOS 15/04/1984

VermelhoMeus cílios realceAzulSobre meus olhos a sobrancelha afi leCintilante

Pinte a minha face pálidaRouge e blushE faça de contaQue eu vivi as ilusõesAs emoções no teu sonho

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AINDA TE DAREI O CÉU 21/05/1987

Não porque seja infi nitamente vazioE eterno e frio o céuÉ que teus olhos me pedem tantoQue só o céu e o solTão impossivelmenteDesejadosEu te daria

Ai que estou cheio de pensamentos bons!Idéias absurdasVícios e sentimentos simplesHumanoDiante dos teus olhos fulgura e queimaMinha hipocrisia

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HEI, MOÇO! 24/05/1987

Hei, timoneiro!Pare o mundo agoraEu quero descer!Por favor, moço, não dê nenhum giro a maisNesse absurdo mundo!Ou, então, mostre-me um outro piso inferiorMas que não seja assimAssim tão duro e sujoAssim, fi lósofo ignorante!

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UM DIA ME SENTI POETA 05/06/1987

SolitárioVirei a tua esquina eDisse aos meus ouvidosNunca mais teus olhos meVirão surpresoTão desalentadoNunca mais infelizNem saudadesEu terei de tiEnquanto eu durar ao sol

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EU ME LEMBRO19.06.1987

Desse tempo prósperoDe alegria e de prazerDesse remoto paraíso trópicoDesse longínquo céu de lazerOnde fora o vento um diaGracejar com o meu lamento

Cego eu estava e sem memóriaDe certo eu vivia embriagadoTonto e seduzidoEscravizado ao meu destinoTriste fadoEsse infortúnio ingrato

Ainda eu me lembro desse tempo fantásticoGlória onde sonhei um derradeiro olharManhãs sombrias e precesUm adeus tristonhoA lamentar

Nada disso eu seiNada disso eu sei– Foi o teu olhar

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LUA CHEIA 03/07/1987

Oh, lua cheia! Oh, metade de lua cheia!Invernal noite fria!Dez e meia se vãoHoras de infortúnios — ilusãoNem brisa sopra a esperançaNem vento mais forte balançaCoração distante perfeitoOh, meu amor!– Sonho desfeito

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DE TANTO ASSIM CULPADO 22/07/1987

De tanto amor julgadoMorre um homem alienadoNasce o solBrota a fl orO campo seco se transformaTudo é fl orCanto do céuOnde não chega a dorGira-gira passatempo giganteEntrete a criança desse espantoCanta, repete o encantoVoz é tantaDor!

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NÃO DEI à SORTE 10/08/1987

Por todo esse tempoNão dei sorteAmor é dar sorte

Mas na sorte labirintosTantos foram os desencantosQue vieram como um raioQue partiu o céu

E num espantoUm véu vazou a luzNão vi teus olhosNão dei à sorte

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HÁ DIAS QUE NÃO CHOVE 24/08/1987

Da última vezNão me lembro quandoTeus olhos transbordaram lágrimasFoi no verãoO sol passara altoDepois tudo invernalNem me lembro da primaveraOutrora outono renasceraNunca mais as estaçõesTeus olhos viram

Não deixa de ver o céuOlha as nuvens prenúnciosRaios gritamOlha as andorinhasCantamTriste

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MANCHETE31.08.1987

O mundo perdeu DrummondPerdeu Lee MarvinPerdeu “pixote”E tão longe ganhou nevePetrifi cou no sulSeca no norteMorte no sulRio transbordouNeve entristece o meu congeladorNem mamãe dá conta do resfriadoTosse... Tosse... Tosse e vai

Eta mundo danado!

Vento sopra a minha dorVento irriga a minha dorIrrita vento a minha dorVento do norte americanoVento do sul americanoVento Flórida FlorianópolisVento Curitiba — corre Paraná!Guaíba afoga os pampas eSão Chico aos gritos o nordeste farta!Amazonas Solimões Rio Negro TapajósAo mar além mar! Aonde é África ancestralFaz-de-bom purifi ca! Onde é negra a perda a dor petrifi ca!Ainda hoje — ontem esperança

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Eta mundo danado!

Ganhaste insumosVento asiático tufãoMina sul-africana explosãoRima mundo diversoOriente extremoCatástrofes universaisOnde mais não sei notícias toma mundo danado!Estremece engana chama vidas e contesta e castigaMortais!

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AGORA 19/09/1987

Que esperam a minha morteParece, ora!Que a vida é eternamenteComo um mago exuberanteDuro objeto erranteTransforma luz alucinante

Não me contaram nada da chegadaDa partida só assisti as notíciasIda sem retorno abandonadoSem espanto ou lágrimaCanto não persiste o desencanto

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DE VEZ EM QUANDO 25/09/1987

Tão longe a distância única enganaSombra vil perdida estrada fi nda anoitecidaPôr-do-sol noite esquecidaDe vez em quando aconteceSúbito mal entristece coração sem razão padeceDe vez em quando o céu escureceNuvens voando envaidecem a noiteVendaval chuva pranto e preceDe vez em quando esperança cresceGrito tapado se levantaTriste sono se espantaEscura noite é tardeLogo brilha ouro horizonteE sem prantos amanhece

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FAZER ARTE É MUITO FÁCIL27.9.1987

SimplesBasta pegar um lápis e riscar qualquer traçadoNão importa que seja ou não coloridoNão dê tal importância para o seu mau jeitoFaz sentido tudoRisque para todos os lados numa folha de papelOu numa tela de pano trabalhadaDe preferência, faça-se nervoso e habilíssimoMostre uma suposta desorganização doentia mentalE, se ainda alguém preferir rir sem notar o seu talentoRascunho e ou apontamentoFaça charme!

Mostre-se displicenteCrie um hábito incomumMasque tabaco de cordaOu alguma goma-borracha açucaradaE cuspa ao chão as amarguras docesPisque seguidamente aos maus-olhadosExponha-se ao cacoete mais conhecido genialOu então cite nomes de autores loucos universaisMostre-os como estes lhe são indiferentes a tudoViu bem como não é difícil!Fazer Arte é brincar de esconde-escondeEm tempo de crianças e na tenra idadeSão ingênuas as nossas dores!

Fazer ArteÉ tornar a mirar-se ao espelho-mágico

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Sem dor e sem medo e sem rugasÉ criar no presente desconhecidoO que não fomos ao passadoE talvez não seremos no futuroFazer Arte é muito mais que issoE sem talento ser mais políticoFazer Arte não cabe o meu conceitoÀs vezes me engana e tropeçoCaio e me levanto obesoVou assim redigindo e compreendendoVou assim indeferindo

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POR QUE 07/10/1987

Cômodo e solene Compreensivo sem nada entenderPor que comportado e incorruptivoFidalgo sem nada investir

Por que nada disso querer perquirirÓbvio bolo parte nenhuma ingerirPorque parte era doceNão degustouNunca tentou engolir

Por que homem pacato alguma vezNunca tentou se redimirÀ intriga de homensGato e rato e raposaMedo espelho de nós

Independe a vida e pereceA razão e a vontade é tardeE o relógio ponteiaO ponteiro ponteia e ponteiaE não pára... Não pára?

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SOBRE O ESQUECIMENTO 14/10/1987

Ato e fato vão-se esquecidosOntem aconteceuAnoiteceu não faz sentidoAntes, não faz um diaEra fria noite estarreciaFio-memória outonal arritmiaSusto colapsoSíncope dorOgra não mais nervosaParecia mistérioÓ noite dolorosa!Suposto grilo dorFalso extremo lapso

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NÃO ME FALE 17/10/1987

Dessa dor justo agora — eu não suporto!Não me conte nada desse amor sublimeOutrora posto à prova ao fogo ardorSuspeita esperança muito emboraSeja plácida a hora de um canto livreSem rancor — justo agoraEu não suporto!

Não me atenha a teus desejosIrresponsabilidades mais nobresDo tempo e das dores nos aresAs árvores secam no outonoTrazem pro chão áridoNinhos de aves doentisNão me queiram mais infeliz!

Pois nada eu nunca fi zLar doce reino infeliz!Não me conte da tua dorJusto agora — eu não suporto!Ver teus ais embalsamadosVer teu leito difamadoOdores horrendos exaladosMultidão à margem desgraçada

Então infâmia blasfêmia injustiçaMartírio... Ó nobre dor!De homens modernos e em vãoVença a minha angústiaEgoísta e sem propósitoEstou covarde — justo agoraEu não suporto!

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NÃO ME PRIVE27/10/1987

Desse espantoDessa dorDessa febre impetuosaDesse embalo serNão me poupe dessa desventuraDessa trilha desconexaNem desse túnel absurdoDesse sagrado mantoAnteolhos de Deus

De tudo eu já sabia!Faz um séculoMas nunca o tempo foi mistérioQuanto à dor este hemisférioNão me surpreende maisFaz um século e agoraVi nos teus olhos o futuroDesse adeus

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IGUAL TEMPO PASSADO05/11/1987

Era passado um anoUm século um erroIgual lembrança de teus olhosVida igual a forte luz escureceu

Hoje não há mais presenteHá vulto e futuro ausenteIlusão outrora feito insôniaDor e demência de quem sonha

Hoje é ontem tão presenteNão há passado nem futuroDescontente é tarde e à noite o solArdente caminha o tempo pro poente

Igual Era que se pôs silenteSob dura cruz de aço frioAmargo gosto que se diz átomo

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PAULICÉIA12/11/1987

Cidade grandeAqui vive mundo inteiroAqui passam pedestres e cafajestesLigeiro passa metrô, avião e tensãoAqui voam sonhos de riquezas fácilVoam pardais, andorinhas e gaviões eVoam pombos sujos e morcegos silvestresÀ noite, voam moças bonitasTravestis, gigolôs e camelôsPernoitam madrugadas meretrizesConfundem-se indigentesRondas taciturnas e vômitosEscarros e detritos fi siológicosGritos e gemidos e sussurrosAmanhece e manchetes nos jornaisE revistas universaisOlha o moleque-pivete!Lê manchetes promessas!Vê a Catedral celeste grita!Olha a Sé — Santo! Ouve o sino!Onde bate as esperançasSão Paulo não sonha e cresce

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CONTO DE NATAL 21/11/1987

Quem vem a minha casa vê um pé-de-abacateiroNum pedacinho de terra dividida ao meio e fl oresSeparado por um muro contíguo à paredeD’outro lado um viveiroTem dez ou quinze avesUma ou duas galinhas poedeirasUm galo novo e nove pintinhosQue encantam meu paiEle os trata como bebês De vez em quando me dou contaSentado à mesa de um franguinhoQue o vi crescerMamãe não gostaDe que eu diga nada assim

À parede uma gaiola penduradaUm pássaro verde-amarelo e estranhoLembra-me uma arapongaQuando canta que por acasoA vi noutra gaiola pendurada

Papai diz que é um fi lhote de papagaioVindo da Amazônia do meu irmãoNão se sabe quando se têm notíciasEle ainda vai falarEle ainda vai voltar

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

Quem passa juntinho ao portão da minha casaÉ chamado à atenção aos latidos de dois cãesVira-latas dóceis e agora também se pode verUm jabuti de casco sujoVelho e se arrastando e solitárioTento apreciar a sua idadeDeve ter mais de trinta e oito

À sombra da laje novaVai papai se embalandoHá vida numa rede azulVindo da Amazônia e daSaudade no peito

Num canto do céu nem sei se é o horizonteEscondem-se ogivas de prédios em mata verdeAntes da fumaça das fábricas progressistasLonge... Lá vem na rota um avião!E as nuvens se mancham de vermelho-ocre

Ao pôr-do-sol alguns pardais vêm buscar o abacateiro fl oridoQue não cresce mais por convicções políticas presidenciaisMamãe nem liga para o horário-de-verãoVem jantar meu fi lho!“Vem comer desta ilusão”

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DIÁRIO DE UMA MANHÃ13/01/1988

São mais de três horas da manhã. Hoje é 13 de janeiro de 1988. Minha mãe se sentiu indisposta com fortes dores nas costas. Tive que interná-la às presas.

Estou à vigília da lua (somente da lua), comprometido com o mundo. Faz silêncio. O galo canta distante. Ainda insiste num canto triste, madrugando. Talvez, desafi ando o mundo também. Meu pai diria que o canto é novo e de esperança. Cá estou com meus anseios, nem triste, nem alegre, apenas costurando enquanto tricotando, especulo os pensamentos. Cada um é uma esquina infi nita e tem o tempo incerto que eu terei de passar a noite escura. Vou caminhando, mesmo assim, sem ter lugar nenhum p’ra chegar. O marasmo é a consciência que purga e purga e tem esperança da salvação. A insônia é a senha para me regenerar dos atos que não os cometi, porque dos assumidos nem ao demônio mais escapo. Mesmo sendo cristão, ateu ou outra coisa qualquer. Mas tenho um álibe: toda madrugada gero infortúnios gratuitos. Estou tranqüilo e caminho. Quanto às lágrimas, navego a mar aberto e sem destino. “Todo cais é uma saudade de pedras”. Logo viro o horizonte, o arco da lua (da metade da lua) que me acompanha adentro, às vezes, some entre nuvens de verão. Penso no amanhã. É hoje. Tenho a sensação da eterna morada e da subjetividade que me arrasta p’ra janeiros vindouros sem saber porquê?

E agora de onde vem o choro de criança? — Vem do vizinho d’outro lado da rua! As crianças choram quando desconfortadas. Os homens, o homem, eu choro quando confortado e alimentado, mas perdido entre vãs maneiras de me sentir adulto. Absurdo! Tudo é normal e absurdo! Tudo isso é absurdo.

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

Cessou de chorar a criança. Só ouço grilos. Meus ouvidos são grilos, gatos abandonados e impiedosamente miando, miando, miando. Mas pode ser um-outro triste e também solitário-noturno chorando e miando e mal-nutrido. Estranho animal que ronda e pernoita madrugadas.

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AMANHECE fevereiro/1988

São Paulo nem dormiuHá vida no verão-outonoFaz hoje frioRonco de motores a dieselE gasolina-álcool se dispersaColoridos transeuntes e modasDe diferentes cruzadas santasAqui do centro alto PiratiningaBem de cima do Viaduto do CháVale o céu cimo babilônicoVale os sonhos das fortunasDas sete e trinta da manhãDos mendigos sem pátrias e dos mestiçosE dos mulatos debruçados no parapeito do valeVale britadeiras e unhas de ferroTernos e bravata e muitos sorrisos e pressaVale das morenas — Olha a loira cobiçada!Os passos apressados do boy-cityVale da ruiva co-cidadeSão Paulo vale outra missaNem Paris a mereceuCorro os olhos atrás da loira Cidade — morena negra ruiva loira sumiu

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

CAVALEIRO12/02/1988

Continua o clima do universo tempestivamente fi elRigorosamente absoluto como a eternidade mais nadaVaga noite sem hora certa avulsa e pulsa indiferentementeDescabida ao compasso dos meus pés descalços e sujos eCansados e mutilados das desilusões

Irmão dos meus encantos ocularesFicaram meus sonhos retidos ao mitoPerdidos na nitidez patética da emoçãoHoje regresso como o inverno regressa daEstação sem ritimo certo e mais frio

Ainda assim, recorro a tua magiaCorro invencivelmente à beira marÀ beira luz, à beira areia brancaEspumas fl utuantes do mar sem-fi m

Nada disso me devolve a tempestadeIdolatrada de viver — nada disso me recuaMas a amargura empurra a consciência dolorosaInsólito ser

Ficamos assim... E entre quatro paredes transparentesVisto como um outro ente inferior das horas mortasVisto como um suposto argonauta desse idôneo abissalVisto como um astronauta desse tempo perene

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Perfeito paladino Dom QuixoteEstúpido e leve e incessanteAinda assim não serei o últimoNem o primeiro cavaleiro a bradarArriba! Arriba!Todos nós Cervantes!

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

QUANDO EU TE CONHECI25/02/1988

Vibravas entre deleites desastrososEra uma pequena nuvem de fumaçaQual espalhava teimosia, chuvasQue de sóis ardia

Um pequeno vulcão dividido entre amoresSôfregos e dores que de solidãoÀs vezes se embebeciaQue de sonhos se dormia

Outras manhãsVia-te sorrirTantas vezes horas do diaÀ noite, momento oportuno d’agoniaUma luz, uma lua misteriosa de néon

Um torpor de alma doceSeguia-te entre linhas sinuosas do céuVibrante melodia o teu clamor

Deu-se a madrugada — eu não dormiaMurmúrios, queixumes, rara melodiaPerfumes de rosas tristes eu bebia

E foram assim outros diasAgora, ‘inda é verão, mas esfriaTanto a distância que coração nenhum

Permite ou denunciaRazões que ora me venciamSe a chuva é fertilidade

Ora! Está chovendo...E o meu canto é um rio complacenteCorre rio — o mar é a tua nascente!

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ESTOU VELHINHOmarço/1988

Capengando... CapengandoMeu coração contorcendo-seQualquer dia desses páraEsfria-se e apodreceMinhas mãos tremulandoEstranha criatura que perduraResto imortalIdéia d’aventura

No céu a lua eterna brilhaTrilhos tortos da infeliz idade!Estou capengando e tropeço Na tola e onisciente criaturaCriancinha doce ato de morrerDe nascer e de te quererEterna passageiraIlustre Ser

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

ISSO AÍ É GENTE11/03/1988

Uma espécie não mais muito raraDurante o dia é lua crescenteÀ noite, bem durante a noiteÉ sol cadente ‘inda iluminadoOlhos de corujas-nós

Eu já ouvi quem dissesse ser um eloLimiar entre o céu e a terra Quem contasse e acreditasse ser a crençaDesacreditada de nossos aisQuem ouvisse e visse e não percebesseFio nenhum em nossos males desiguaisE fosse apenas um desigual-igual inacabadoPara quem quisesse ver uma amostraUm show relevanteUm tributo erranteDe quanto fomosDe quanto somosE ainda sermos nós

Isto aí é genteNós uma noção teimosa que brota do ermo da biologiaEste acaso intencionalmente acasoUm vestígio, uma praga, uma apoteose do que fomosTambém por acaso somos nós Isso aí é gente-riso

Tudo aqui é gente é luzTeus olhos um palco ondeEncenas uma dança folclóricaDistante e nos tripés os desencantos As lantejoulas brilhamQue balançam

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LEMBRANÇAS 13/05/1988

Eu não sei do tempo que perdiQuanto de tiSobram-me carinhosNaquele instante e tão vibrante momentoQuase morri e prazeres calaram minha bocaDe contentamento fali de alma e de energiaLatente fi cou no meu peito honrosa fortuna do amor

De certo, não o terei maisQue fazer d’um homem esquecidoAmofi nado dentre tantas lembranças vesperaisNoturnas e matinais?Que fazer da competência enrouquecida?Sei lá! Teus olhos negrosNunca mais

O tempo incompreensivoDo amor eterno que virou poesiaNunca mais, ainda é rima clamorosaEstúpida, mistério desigualE, assim se foramOntem e hoje

Nada mudaNada altera rotinasNada muda tão igualTão assim, somos suspeitos cegos da ironiaDa harmonia que não há: entre mentesHaverá passageiros todo dia

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

“QUARENTANO”dezembro/1988

Os anos cinqüentaOs anos sessentaOs anos setentaOs anos oitentaMeu Deus!Os anos noventa!Quantos anos!Os anos quarenta estão chegandoEstão chegando os quarentanosEstão chegando e passandoMeus quarentanos estão fi candoNão há verdade absolutaNem mentira absolutaHá vida sim absolutaExtremos absolutosVida e morte absolutamenteEstão chegando os carneirinhosOs cordeirinhos de Natal chegandoO pastor do rebanho vem sorrindoVêm contentes os cordeirinhosMorrer p’ra Ceia do NatalAqui não há estrelas-guiaAqui não se conduz ninguémAqui não se rezaNão se diz amém!Aqui não há cânticos religiososNem humanísticosTudo aqui é brincadeira e ninguémAqui é disfarce perfeitoQue pareça brincadeiraAté a tua face é brincadeiraNem marcas-rugas dói à lisa tezO teu retrato na parede é um tempo

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Brincadeira de criança tristeFiel tempo de tenra brincadeira de papelLucidez pueril que parece brincadeiraSéria espontaneamente sériaBrincadeira eterna de papelE, se ainda faltar adeus para esses anos mortosUse um lenço branco-amarelado — ao tempoAcene lacrimejando e depois com um lençoVermelho as lágrimas sequeOs anos noventa!Meu Deus!Os quarentanos!

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Simão Viana MartinsSimão Viana Martins

DE VEZ EM QUANDO janeiro/1990

Noto uma esperança perdida nos teus olhos de MariaOutras vezes de vez em quando percebo outra esperançaViva nos teus olhos de Maria

Os teus olhos são dois faróis no céu iluminando os antrosEscuros da vida, de vez em quando, preocupados

Com notícias que vêm e separam teus olhos de Maria das incertezas, dentre tantos algures, confundem-se a distância às palavras de Maria

De vez em quando fl oresce a rotina e cresceA monotonia e se faz ausente aos séculos amémD’outro modo vêem os olhos de Maria relâmpagosNo céu e renasce da luz mais outra alegria O que se faz quando se perde uma aventuraÉ procurar sem demora nova amargura Triz azul deve existir nos olhos de Maria!A presença faz a vida renascer e brilhar

Se se reclama à impaciênciaÉ porque se perdeu a magia lucidezDesse espanto o encanto se quebrou

E desse nascer-morrer biológicoA esperança é viver MariaDivina expectativa deste quê

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RETRATO23/01/1990

Quando me dei conta já havia passado pelo teu rosto inerteA tua face branca era um templo em gesso suspenso e quieto Carismática era uma fl or emudecidaA minha dor foi se acostumando a tua dorO teu abrigo agora era o meu abrigoEu sem ter te vividoPus-me a pensar

Esse tempo que persegue impiedosoTão capaz e mais infalível do que nuncaAlgumas vezes as árvores são centenáriasOutras vezes orquídeas morrem sem a luzMas fi ca a história a dever ao tempo explicaçãoCaçamos a memória estampada no teu rostoDa lógica decadente que restou do teu retrato frio

Volto a ti e és uma criança mudaOutrora nascente rumo ao mar sem doresOntem corrias entre as fl ores no jardim da vidaEras sã e a tua carne uma alegria da terraHoje é o amanhã que não te esperaE este mormaço estúpido que te aquece a almaExala um odor de cera triste

Assim caminhando sem me dar contaPercebo a candura nas parábolasQue contavam das tuas aventuras ricas Outras eram tristes e sem nexo Se não toda tua existência fora um tédioPerfeito o teu retrato sem lembrançasUm brilho fosco

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DEVANEIO10/03/1990

Quando você vinha aquiEu me lembroQuase eu via amanhecerVocê vinha sempre à noiteMorna e não chovia

Você vinha aquiEu me lembro do banquinho da ruaSentados como uns anjos cúmplicesEu e tu víamos a lua

Ah! Como eu me lembro do barquinhoDoido não tinha leme nem razãoSumia em correntezas sinuosas Era um vulto branco e agitado

Entre dunas num alazãoTu vinhas e sentavas e vias a luaMeu coração!Meu santo alheio

Quem diria corpus nãoVenha ilusãoMas o tempo passouOntem deu eclipse

EscureceuDepois veio a crescente tímidaE a nova não nasceuHoje por que não sei chove

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E se não for por tais motivosQual seja ingrata, prove! Se for cansaço a minha infâmiaAinda assim venha

A vida é uma sementeMelhor dizendo um passarinho alegreE o vento esse agente do futuroUma criança brincaSem saudades

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UMA VIDA21/04/1990

Um dia eu passei por aqui sorrindoMeus dentes eram brancos e grandesMas havia quatro espaços vaziosQue não me lembro tê-los perdidosSem protestar

Não me demorei muito por aquiFiquei pouco mais de algumas décadas do que Cristo Havia quem dissesse que eu seria eterno que nem EleVejam o absurdo! Morri

Hoje ainda recente o meu corpo esfriaVejo quem tem saudades eternasOutras são fi ngidas e fugidiasDeixam marcas duras

Mas eu dizia da minha passagem por aquiDizia até da vaidade e do bom gosto das borboletasDa fi na fl or do néctar ao amanhecerDizia dos meus dentes menos cariados e ouAté doídos por maus tratos de incompetentes caros

Eu não voltarei mais por aquiPois, cara é a vidaMas a saudade era novaQuando eu passei por aqui– Sorrias

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Era a vida e a saudade carasSó um adeus do menino bomFicaram os anéisNeste chão inconcebívelTenho dúvidas!

Onde está o eterno imaterial dos olhosNão tenho a quem indagarPercebo mentirasTodas as histórias que me contaramEram mentiras

Ainda bem que eu não acrediteiMeus dedos nunca deram aos anéisDaqui deste hipotético teto tudo é mentiraAdultas mentiras tão clarasUm dia eu passei por aqui– Estavas sorrindo

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O MEU DILEMA23/04/1990

As minhas histórias têm sido curtas, mas prolixasMeus assuntos preferidos têm acabado sozinhosIsso porque não tenho tido paciência paraChegar ao fi m de qualquer conversaQue me proponha a tê-la com amigosTodos os meus enredos têm o espaço do sufi teE se insisto me empolgo e sou demais repetitivoTorno-me ridículo e cansativo e insuportávelÉ assim o meu dilemaFico rondando e embalando as mesmas idéias e me cansoNote o meu tema pobreTenha pena da minha pouca inteligênciaTalvez seja atávica

Ainda assim, todos os homens ditos grandiosos nas idéiasSão para mim homens com as suas histórias mal contadasPois, não absolvo sequer uma linha simples de um raciocínioÀ evidência quando muito consigo perceber uma frasePoética sem ser criativa e ainda que me custe a noite mal dormida Sem contar a falta da gramática que disfarço a vocábulos mais simplesPuxa! Veja só! Lamentar não é difícil!

A compreensão do mundo fi ca até mais simples a uma inteligência medíocreVeja o absurdo da minha arrogância tingida de humildade neofascistaNote o que eu não sou nem poderia ser n’algum dia coisa nenhuma Lendo e ou tentando ler ou criando versos ou sem mesmo perceber tais coisasPerceba! Encerrei a minha história logo no começoEstou ainda no início da folha

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A concentração me foge e sinto pena de mimProcuro ser eu mesmoContudo a difi culdade de sê-loDerrama de um pote cheio d’águaPorque não ter servido à sedeAs minhas insinuações não saíram deste quartelDe recrutas tontos e visionários e estratégicosVanguardistas mudos que não lutaram

O que tenho agora para dizer não é mais históriaÉ apenas um preenchimento de linhas mais inúteisComo quem cata aqui e ali e tira dos intervalos do tempoResto de palavras que sobraram entre bocas cansadas

Não sou mesmo um idiota?Qual outro adjetivo me daria? — não me diga! – Tolo!Tanto que eu o guardei para os outros distintosParo com essa besteira, já!Nada de mim interessa a ninguém e versosAlém do mais, olha o tempo lá fora! É madrugada!

O silêncio é um segredo só dos mortos sem adjetivosNão é mais domingo na terra. Já passaram das duas da manhãHoje é dia útil. Novos planos para a semana são recomendáveisO governo anda bandido e continua fanfarrãoQuem sabe, eu ainda o perdoe pelo que me fezA minha poupança me custou meses e perdas

Quanto à dívida, eu não sei esperar,Mas a minha saúde dóiOs médicos (dizem-se doutores) são brasis

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FLOR CRIS17/05/1990

Pronto! Aqui é São Paulo, Bela fl or!Dá-me a tua mão meninaSeguro-a e do teu beijoA saudade não contaCoração

Aqui é o marco da civilizaçãoPartiremos então para o mundoSeguiremos nas asas d’avezita brancaVamos para o Oriente longínquo das dançasMiragens dos oásis e das múmias inesquecíveis

Então nos mandamos para o OcidentePara os acidentes dos nossos pés descalçosOs nossos beijos úmidos e condecoradosD’emoções! Vamos meu bem!P’ra nossas vidas não marcadas

Ainda, tudo é novo!E o teu beijo — meu sono despertou

Vamos menina pisar São PauloEste é santo é indolorDá-me a tua mãoTeu doce beijo!Vamos por aí, meu coração!

Olha! Vê a Santa-SéNão há missa. Há cânticos!Corramos! O metrô p’ra norteVamos p’ra leste — oesteVamos, menina, p’ra sul!

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Eu te dou meu beijo-ardenteE os teus olhos minha luzEu te dou meu sangue-fogoE teu modo-menina é meu abrigoVamos pisar-sair-correr!Vamos, menina, passearVê São PauloFlor Cris Flor– Somos nós!

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CRISÂNTEMO06/06/1990

Feliz aniversário!Sete de junho de tantos vindourosBela fl or encantadaEstrela candenteSol que nasce e desce todo diaFeliz aniversárioMeu amor!Parabéns!Manhãs tantas virão inesquecidasPrimaveris tardes fi carão agradecidas amanhãQuando o sol não tiver mais os teus olhosDezoito anos vencidos fi carão eternosOlho pro céu e vejo a lua à magia das cores!É alta é cheia e brilha os olhos claros querida!E as estrelinhas ‘inda enciumadasCantam o hino a toda horaParabéns p’ra você!

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VIM PARA LONGE DOS TEUS OLHOS B H, 30/06/1990

Aqui d’outro lado do infernoHá o mesmo vento que balança os teus cabelos loirosHá o mesmo sol que arde de Guarulhos à cidade grandeÀ noite tem a lua já quase cheiaE as estrelinhas são as mesmas invejosas

Mas para compensar tudoÀ tardinha, têm os passarinhos coloridosTêm as brincadeiras de meninas, as amarelinhasTem o teu sorriso nos dentes brancosDas meninas livres bem loirinhas

Às vezes, este inferno-céuÉ o mesmo daí indiferenteO calor é igualzinho as sensaçõesAs brisas eu sinto aquiO coração acelerado

Quando te tenho em lembranças lindasOh, menina, este invernoNão faz a distância que nos separa tantoÉ frio e me recolhe cedo a esperança

Este inverno — terno invernoÉ um céu de anjosQue me conduzem à luzQue me alimenta a calmaP’ra quando te verBendita alma!

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POESIAB H, 30/06/1990

Tu que dizesSaber fazer poesiaComo é então o teu verso?É livre é branco ou amarelo?É romântico e tem as cores do arco-íris?É claro como as cores dos teus olhos, menina?Como é o teu verso?

O teu canto, como é?Ah, já sei... O teu verso é livre!Porque a liberdade é uma menina travessa e bonitaÉ um balão-de-junho verde-amarelo e São JoãoNão é assim o teu verso?

Se ainda não acerteiNão tem importância nenhumaOs versos não têm importância nenhumaAlgumas pessoas dão importância para os versosSão almas doentes e tristesE os versos são placebos tardiosQue mentem e não curam um câncerQuando muito, agrupados em coletâneas antigasTrazem traças e bolores para alérgicos. Eu!

O teu verso não é isso! É?Acertei... Não acertei?Diga-me então meninaComo é o teu versoQue cores vêem os teus olhosAs tuas dores as tuas esperançaE o teu sonhoQuem são os teus amores?

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Uma vez quis saber de tiPerguntei p’ro solÀ noite p’ra luaE me disseram que tu erasAssim bonita e tanta esperançaUm porvir sorrindo– Uma criança

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CHOVEU NUM INSTANTEB H, 06/07/1990

De onde vêm estas águas tantasEstas nuvens tão carregadasEscuras e aborrecidasPorque não há mares por aqui tão pertoNem os rios grandes da minha infância

LembrançasPor aqui há rios pequeninosE maiores são mais distantesOu são rotas estreitas ondeNavegam restos orgânicos de vidasRotas e esgoto poluídoRestos de gente Assim tão triste e de repente Por aqui não haveria de chover tantoAh, Belo Horizonte!

Pode ser que esta chuvaSejam lágrimas saudosas(dos teus olhos, menina!)Que mandaste daíPrêmio oportuno a minha angústia

Pode ser o teu castigo a minha desventuraPode ser o fado-consciênciaO teu olhar cismadoO vento que sopraFrio!

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As luzes mercúrio ou néonOs hotéis têm mais estrelaA lua grita em mares negros!É cheia quando apareceÉ negro o céu que me envaidece

Sinto frio e saudadesNão há preces por aquiCânticos são trovões distantesE este hino a todo instanteQue não cansa!

Não páraÉ muito o desencantoO teu calor — Belo HorizonteO meu engano!

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QUANDO EU ANDAVA POR AQUI11/07/1990

Nem sempre eu te viaEras ausente– Eu descontenteNão fazia muito solEra invernoVento triste

Ares densosUm inferno, alma viviaRuídos de motores e dieselGritos de dores sem ecos

Lágrimas de olhos inocentesE caduquice precoceHomens sem velhiceNas fachadas gritos

Muito gritoE apeloMuito apeloUm outdoor vistoso

Um corpo de mulher bonitoUm rosto de mulher bonito(A tua face linda)Olhos e sedução

Homens sorrindoQuerendo... SorrindoNascendo e querendo...Homens vivendo de ilusão

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DOMINGO 15/07/1990

Dia de igrejaJá houve reuniões familiares e brigas costumeirasGrupos de amigos já se encontraram em torno da carneE disseram de futebol e das moças andantesE disseram de olhares quentes e ternos da sexta-feiraE do sábado disseram de suas conquistas amorosasE das futuras vantagens e prevaricaçõesPorque a derrota não cabe aos faladoresDizem sempre que nada perderam

Eu conheço uma família exemplarO marido cedo se levantaBeija a esposa e depois os fi lhos saudáveisToma o café da manhã junto à famíliaLustra que lustra o automóvelPede o sol ao invernoTeria ido ao trabalho ao parque de diversão?Teria ido ao zoológico ao litoral mais distante?

Não sei para onde teria ido o meu amigoSe não houver a voltaAlgum jornal dará notícias amanhãMas só amanhã os jornais darão detalhes do domingoHoje neste instante não é mais domingo de CristoA religião sabe dissoPorque houvesse Deus desconteQuem sabe, não recomeçaria tudo de novoAs ladainhas seriam inéditasAfi nal seriam inéditas?

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Então quando chegar o domingo próximoEstaremos outros novos reunidos e ninguémMarcará, quem sabe, as nossas queixas eNão seremos suspeitos ou desacreditadosNem mal ouvidosSeremos felizes e tudoAfi nal

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ESPANTO28/08/1990

Eu estava diante do espelhoBonita e bem humoradaMeus lábios vermelhosBonitos e ardentesMeu sorriso malicioso(Meus dentes)

Eu havia renovado meu guarda-roupaPus-lhe roupas novasTroquei-o de lugarFi-lo estratégicoFi-lo ousado

Passou por mim um anjo tortoQue parou frente ao espelhoMirou-se e piscou-seViu-se encantado eQuebrou-se

Apagaram-se as luzesCaíram meus cílios longosMeu ruge se derreteu eManchou o meu rosto pálidoFui estúpida e chorei sem pudor

Bateram-me à portaTantas vezes insistiram-meTive pena — nua de mimMeus sapatos viradosRiram-me e riram-me — bonita!

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Quando me tornou a luzMinhas peças eram novasMeus olhos azuis — felinaMeus dentes — marfi nsMeu ruge e baton por fi m

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POEMA MODERNOdezembro/1990

Quando eu entrei no teu quartoSó havia um rádio falanteAs cortinas das janelas solitárias balançavamNão havia vento lá foraA televisão esquecera ligadaDo espelho da estante a tua emoção ecoavaGritava o silêncio dos teus retratos coloridosDos teus ídolos a tua moda do teu medo

Junto à parede um sofá de-três-almasUma menina muda e assustadaUm copo vazio e pontas de cigarrosExprimidos num cinzeiro para-alérgicos

Havia outras marcas em copos sujosSobre o vidro da tua mesa palitos imundosSentei-me no sofá sem-almasPassei os olhos ao teto escuro do céu

Cerquei-me do teu corpo-frio e inerteManchado de sangueAinda choravas e choravasO teu silêncio choravaPatético teus olhos brilhavam

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“VINTE-E-DOIS”22/12/1990

Já faz algum tempo que eu não faço músicaQue eu não tiro nenhum tom mais alegreOu menos triste e angustianteTambém não é p’ra menos!Eu nunca compus músicaEu nunca fi z versosEu nunca cantei modinhasNada mais ou menos doce n’algum dia canteiSequer faz tempo que eu não li uma história de fi cçãoRomance nem um conto banal ou novela em vídeoAssisti sequer ou atentei à poesiaTambém não é p’ra menos!Eu nunca fui leitor de nadaEscritor ou poeta sensitivoDoido

Veja só!Lembro-me já ter sido medíocreUma vez fui analfabeto e fi queiAndei nu e virei adulto e mentiVagando dei fé da minha ignorânciaHavia outros tantos também ignorantesSemi-analfabetos adultosIguaizinhos a mim

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“1991”“1991”31/12/1990

Abri minha janela — lá estava a meia-luaUm pouco mais outro diria verãoA lua estava metade se via da minha janela— Outro diria emoção!Meus planos para amanhã são mais de noventa-e-umMeus sonhos para amanhã são mais de noventa-e-umMinhas realizações para amanhã são mais de noventa-e-um

(...)Portanto, não me indague nadaHoje, eu não prometo nadaNão me cobre nadaO meu destino, se existir destino, é estar livreO meu destino é viverAbrir a janela do meu quartoE ver a lua, o brilho da lua!

Hoje é lua cheia e fogos de artifíciosAbrir a janela e ver as luas pipocando e cheias!A lua é fogo de lágrimas douradasHá cores no céu e luzes caindo em prantosArrependidas... BrilhandoTeus olhos meu destino e artifíciosSuspiros e murmúrios e beijo de cores

Os teus olhos... A lua cheiaA esperança sorrindoO teu sorriso e o meu sorrisoA lua e os teus olhosUma certezaTudo brilha entãoFeliz-1991!

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LÁ, VAI A MOÇA09/10/1991

Lá, vai a moça das luasDos sóisDos cabelos pretosPresos em rabo-de-cavaloDo batom vermelhoDo ruge corado

Lá, vai a moça do conjuntinho inusitadoDa blusa branca ou bege decotadaDos seios desenhadosDa saia colada imaginado Vermelho e vou-me embora

Lá, vai a moçaDas pernas medianasDe vinco músculos brilhantesDos sapatos pretos à Luis XVDe vernis copalSão dez e quinzePassam as luasPassam os sóisPassam as estrelinhasPassam as entrelinhasDesfi lam os automóveis pelo céu

Passa a menina do colégioPassa o moço do colégioPassa todo mundo do colégioPassa a moça no automóvelDisse qualquer coisa à janelaEla sorria...!

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Passam os meus olhosPassa ninguémPassa a vida todaPassa a vida além em LiberdadeMuita gente brinca de se querer

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desejo julho/1992 (S.E.H.)

Eu te desejoTe queroTe amoTe adoro

Vinte quatro horasÉ um tempo escassoPara sonhar contigoE chamar-te de querida

Meu DeusDas dores contíguasDo amorDo ardorDa dor!

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FASCÍNIO13/08/1992 (SFA)

VocêPassou a ser-magiaQue reluz néonQue me deixouEncantadoDaíEstou assimPerdidoNoite-é-diaVocê - poesia!

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MOTIVAÇÃO29/10/1992

Não sou homem a andar sorrindoSou homem a pensar sozinhoA passar sorrindoHipócritaApesar de

De vez em quandoEu me esqueçoAdormeçoFeito anjoEstúpidoSorrindo HipócritaSorrindoSorrindo ou nãoFaz parte de tiFaz parte mim?

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PRESENTE05/11/1992

Eu conheço muita gente felizQue diz ser de alguma coisaAlguns são socialistas e ou comunistasEfêmeros capitalistas católicosMaometistas ou judeus irritadosBudistas ou xintoístas serenos à vidaEvangelistas ou sabichões velhacosMuita gente se diz peefelista ou ainda arenistaPedetista e ou udenista oportunistaPetista e ou muristas das fábricas do abcdOutros são dentistas e ou doutoristas do acasoEu conheço muita gente faveladaQue tem muita fé e muita crençaDesgraça! Infelizes rotos se depurando

Eu não sou nadaNem sequer sei do mundoSou do planeta oriundoDo mundo de DeusAssim, sou dos teus olhosSonho, boca e lábios Do teu desejoSexo!Da tua fomeCarne e águaDo teu deleite risos e prantosSou dos teus ais do teu amor!

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DESPROPÓSITO25/06/1993 (G.B.F.)

Nunca quis de forma algumaSubestimar a tua sensibilidadeAprendi a liçãoAliás ando assimilando liçõesPor mais essa te agradeçoE me desculpoA noite da sexta-feira é bonitaExceção quando a lua não brilhaE uma dor efêmera encobreLá no céu a minha estrela

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UMA VEZ30/06/1993 (G.B.F.)

No início do ano letivoPegaste a minha canetaNunca mais me devolvesteTudo bem! Era feia e pesadaMas era minhaDei por perdidaComprei outra coloridaBonita e tem as nuances da tua peleNem consigo descrevê-laTem um quê natural é delgadaTem a tua silhueta

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POEMA DA ESPERANÇA 29/12/1993

Amanhã será o dia da esperançaTodas as culpas serão vinculadasÀs energias do bom sensoMas só amanhã acabará o infortúnioA vida renascerá a cada gesto naturalA cada instante à luz do solA cada piscar d’olhos teu

Amanhã já começouO bom senso a tua palavraQue se renova a todo amanhecerA vida essa que nasce sem nos verBrota o teu sorriso rumo às coisas do universoAmanhã é hoje que reluz nos cantos da terra escuraQue defi ne a forma mais constante

Somos testemunhas oculares dos nossos desejosTestemunhas cúmplices da nossa completudeNesta história somos fi lhos amigosÀ virtualidade de DeusSomos a esperança eterna em JesusE sobre nossa culpaAmém!

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NOVEMBRO29/11/1993 (Altamira)

Duas e meia da manhãAlguém está sonhandoAlguém está sorrindoOs cães latindoOs grilos zunindoLá dentro da biologiaO sangueA pressão arterialCoração!

Duas e trinta e cinco da manhãAlguém está amandoAos gritos aos gemidosO perfume da mulherO cheiro da mulherSexo!

Duas e quarenta da manhãAlguém está chorando A manhã vai alta sem lemeHomens se despemMulheres se despemA vida se despe assimOriginal!

Duas e quarenta e trêsLá dentro o músculo cansa

Duas e quarenta e seisAlguém está assustadoOs cães intimam uma pequenaA vida e a nossa vida passam

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Duas e cinqüenta da manhãSugere a biologia noturna das horasO perfume dos teus cabelos negrosO vermelho da tua boca manchadaO sorriso

O movimento quente e cansadoDos teus lábios mornosO desejo e o gozo da vidaO cheiro no teu corpo cala!

Três horas e sóis da manhãTeus olhos cansadosCumpra-se o sonoVão-se as horasDormimos aos suspirosÀ ressonância eternaDos que se dão

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GUARDIÃO do novo mundo 12/04/1995

Lá no cimo do edifício no topo do arranha-céuTem um corvo se espreguiçando e ariscoOutros o sobrevoam é riscoQuem sabe estejam observando carniçaCarniça humana?Porque daqui do 19° andarFórum das coisas dos animaisNão vejo outra coisa passarSenão miragem de carniça humanaAlguns homens vestidos de ternos escurosEu noto e arde o sol de verão em amareloOutros rotos às sombras de concretos e sujosMulheres vêm e vão à salto altoNotoOutras rotas meninas e meninosFogem do agouro dos abutresO corvo espera só da morte secoO sol não espera e secaO tempo desses meses secos ardeTantos ares a metros do chãoTeus olhos não percebem a fomeTeus ouvidos são horas ao sino da SéTeus gemidos são ais mudosTudo está mudoGritam o corvo do céuAtento grasnaA paciência divinaAté secar

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Este livro foi impresso, em novembro de 2007, pela Ferrari Editora e Artes Gráfi cas, sobre papel off-set 75g/m2.Livro composto em Formata, BlueCake e Viner Hand ITC.

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FOI EM 1963 QUE NOS CONHECEMOS. AÍ SE

VÃO 44 ANOS DE AMIZADE. NA BREVIDADE DA

VIDA HUMANA É UM TEMPÃO. AMIZADE QUE

COMO TODAS AS AMIZADES NASCEM POR ACA-

SO, FORTUITAMENTE, SEM NADA PENSADO OU

PLANEJADO. A FAMÍLIA DO SIMÃO ACABARA

DE CHEGAR DE MANAUS E PASSARIA OS PRI-

MEIROS DIAS EM SÃO PAULO NA CASA DO

SR. ONÉSIMO, UM PARAENSE AMIGO DA FAMÍ-

LIA, E QUE JÁ ESTAVA AQUI HÁ ALGUM TEMPO.

Abraço, Mauro Dianes MoreiraSão Paulo, 13 agosto 2007

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janelasabertas

Simão Viana Martins

Simão Viana Martinsja

nela

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Foi em 1963 que nos conhecemos. Aí se vão 44 anos de amizade. Na brevidade da vida humana é um tempão. Amizade que como todas as amizades nascem por acaso, fortuitamente, sem nada pensado ou planejado. A família do Simão acabara de chegar de Manaus e passaria os primeiros dias em São Paulo na casa do Sr. Onésimo, um paraense amigo da família, e que já estava aqui há algum tempo.

Abraço,Mauro Dianes Moreira

São Paulo, 13 agosto 2007

Simão Viana Martins, 15 nov 1949, é licenciado em Letras *Português - Inglês e Literatura -1985 pela FFCL. São Marcos - São Paulo e Pós Graduado em Língua Portuguesa. - É Professor e Revisor de Texto. - É Servidor Público Estadual do Tribunal de Justiça de São Paulo, 1994

Quem vem a minha casa vê um pé-de-abacateiro

Num pedacinho de terra dividida ao meio e fl ores

Separado por um muro contíguo à parede

D’outro lado um viveiro

Tem dez ou quinze aves

Uma ou duas galinhas poedeiras

Um galo novo e nove pintinhos

Que encantam meu pai

Ele os trata como bebês

Simão Viana Martins

Simão Viana Martins 15 nov