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lidar com crianças

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  • A meu querido e doce ric

    e tambm s nossas duas maravilhas, Salom e Juliette.

    Anouk

    A Margot, minha fi lha,

    a Adrien, meu fi lho,

    que iluminam a minha vida diariamente.

    Vocs me deram muito sobre o que me questionar e pensar.

    Vocs me ensinaram tanto!

    Gostaria de j saber, quando vocs eram pequenos,

    o que sei hoje para poder t-los acompanhado

    compreendendo ainda melhor as suas necessidades.

    Isabelle

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  • Todos os adultos j foram crianas um dia,

    embora poucos se lembrem disso.

    Antoine de Saint-Exupry

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  • Ele faz bobagens 63 Ele bate, morde, puxa os cabelos... 65

    4. De 2 anos a 2 anos e meio: ordem, em ordem, sem ordens! 67

    Ela coloca a cabea em ordem! 68 Cada coisa a seu tempo e na ordem! 70 Ela no quer ir embora da pracinha 71 Acolher as emoes e os sentimentos 72 Ela tem medo de coisas novas 74 Ela no quer dormir 75 Ele no atende quando eu chamo 76 Ela se recusa a comer e/ou brinca com a comida 77 Ele fala palavres 78

    5. De 2 anos e meio a 3 anos: eu quero... sozinha! 81

    Sozinha! 82 Eu quero! 83 Ele no sabe o que quer 86

    6. 3 anos: juntos 89

    No quero! 90 Ela conhece as regras, mas no as respeita 92

    7. De 3 anos e meio a 4 anos: nascimento do imaginrio maravilhas e pesadelos 95

    Ele tem pesadelos 96 Ela desenha, pinta, rasga e corta qualquer coisa a qualquer hora!

    E diz: No fui eu! 97

    8. 4 anos: poder, regras e imagem de si 99

    Ela fantasia e se gaba 101 Ele tmido 102 Ela no sabe conter a lngua 104

    9. De 4 anos e meio a 5 anos: conscincia de si e difi culdades de socializao 105

    Ela est com dor de barriga 106 Ele envergonhado 108 Ela demora horas para se vestir 109 Ele faz perguntas demais 110

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  • SUMRIO

    Prefcio 13Isabelle Filliozat 13Anouk Dubois 15

    Modo de usar 17

    1. Cuidar de um fi lho mais complicado do que cuidar de uma planta 23

    O que a pirraa? 24 O que est acontecendo? 25 O reservatrio de amor da criana est cheio? 26

    - Palavras de amor 27- O tempo compartilhado 28- Abraar, beijar, afagar, acariciar... O contato fsico 30

    Crises de raiva e outras tempestades emocionais 31 Ela no para quieta 34 A criana se balana na cadeira 35 O que cabe aos pais 37 da idade! 39

    2. De 1 ano a 1 ano e meio: a fase do no dos pais 41

    Dizer pare melhor do que dizer no 42 Intervir fi sicamente 43 Ela ignora as regras, no respeita limites nem proibies! 44 Ela faz exatamente o que acabei de proibir que fi zesse;

    e me olha nos olhos enquanto faz! 48 Ele quer tudo, imediatamente! 50 Ele aponta para as coisas e quer tudo sempre! 52 Ela cai e me olha antes de chorar 53 Ela fi ca em prantos quando me afasto 54 Ela acorda noite! 55

    3. De 1 ano e meio a 2 anos: a fase do no das crianas 57

    Ela se ope 58 A menor frustrao a faz gritar 61 Ela me irrita com tantas perguntas 62

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  • 10. Impor limites 111

    Recusar, mas acolher a emoo 112 Melhor dar instrues do que proibir 113 Uma nica palavra basta! 114

    - Melhor responsabilizar do que gerar culpa 116- Dar informaes 117

    O poder da descrio 118 Uma bobagem? 121

    - Punies 122- Gritos 124- Desvalorizaes, julgamentos, rtulos 125- Tapas, cascudos e palmadas 126- Isolamento, tempo para pensar, castigo 128- Rejeio 132- Envergonhar 132- Desculpar-se e consertar a situao no lugar da criana 133- Consequncias naturais ou lgicas, sanes reparadoras 134

    11. Brigas entre crianas 137

    Competio 140 Descarga de tenses 141 Ele no quer emprestar 142 Cada um na sua vez 143

    - Confl itos de territrio 144- Luta contra a regresso 145

    Ele me copia! 145 Ela no quer brincar com a amiga 146

    12. De acordo com a idade 149

    Ele mente 150 Um aprendizado progressivo: a arrumao do quarto 151 O que fazer? 154 Resolver um problema em 8 etapas 155 As crianas de hoje so piores do que as do passado? 161

    Concluso 163

    Agradecimentos 169

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  • 13

    PREFCIO

    Isabelle Filliozat

    Tenho dois fi lhos. Como me, vivi momentos de grande felicidade quando me sentia em sinto-nia comigo mesma e com eles; mas tambm vivi momentos de enorme angstia. Sentia-me impo-tente, cheia de dvidas, desafi ada. Teria sido bom encontrar um livro que me desse informaes so-bre o que os meus fi lhos poderiam estar vivendo em determinadas situaes e dicas para defi nir a minha prpria atitude. Sempre me recusei a aceitar aquele velho conselho: pirraa, ele quer manipular voc. preciso mostrar quem manda...

    De um lado, o pouco que sabia sobre o crebro de uma criana me levava a duvidar da sua capacidade de possuir tais estratgias, de outro, me parecia estranho que as crianas de certa faixa etria tivessem comportamentos to pa-recidos. Isso deveria signifi car alguma coisa. Ser que esses comportamentos que tanto incomodam os pais a maioria das crianas de 2 anos tem crises de raiva; a criana de 1 ano e meio recebe a ordem de no fazer alguma coisa e vai fazer mesmo assim, e olhando nos olhos de quem ditou a ordem; um menino de 12 anos j no quer tomar banho; e as meninas de 15 empilham loua (su-ja) dentro do prprio quarto poderiam ser interpretados como uma luta por poder? Quando um comportamento parece ser to comum, posso continuar interpretando-o como uma manipulao dirigida contra mim? A minha hiptese que o comportamento das crianas, at mesmo o mais extremo, est a servio de suas prprias necessidades de crescimento. Entender melhor as motivaes delas pareceu-me fundamental, pois so as nossas interpretaes que guiam nossos comportamentos.

    Alm disso, os modelos tradicionais de educao tinham fracassado, e eu constatava isso diariamente no meu consultrio de psicoterapia e tambm, co-mo voc, no meu cotidiano. A autoconfi ana, a segurana interior e a harmonia relacional no so muito frequentes na populao adulta. Ora, era isso que eu buscava para os meus fi lhos, queria ajud-los a se tornarem adultos responsveis e independentes, desenvoltos socialmente, e no adultos com pnico de falar em pblico ou que s respeitam as regras de trnsito por medo do policial.

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  • 14

    Queria poder, diante das diversas situaes que com certeza se apresenta-riam a mim, adotar uma atitude que fosse de fato educativa. Iria, portanto, refl etir e no agir por impulso.

    o produto dessas refl exes que apresento neste livro. No so receitas; no existe nenhuma receita de educao que nos leve a acertar com uma criana sempre! Muitas vezes, durante uma conferncia ou um programa de rdio, os pais me pedem para dar A soluo quilo que eles defi nem como problema. Essa soluo no vem pronta para uso. Existem sempre vrias formas de analisar um problema e, portanto, vrias solues. Temos que desconfi ar daqueles que gostam de dar lies e que acreditam que h uma nica resposta para um con-fl ito de relacionamento.

    Uma me pergunta: Como reagir aos ataques de raiva de uma criana de 3 anos? Esse comportamento visto como um problema ao qual se deve rea-gir, como se as crises de raiva da criana fossem sempre iguais e no tivessem causas especfi cas. Vamos ver, na pgina 37, que a prpria me, por ignorar o que estava acontecendo com o seu fi lho, tinha gerado na criana aquela crise de raiva diante da qual ela me perguntava agora como reagir. Vocs vo descobrir com espanto como ns mesmos podemos estar na origem de comportamentos que reprovamos.

    A partir do momento em que passei a entender o que estava acontecendo entre mim e os meus fi lhos, tudo fi cou claro. Eu era responsvel por muitos de seus comportamentos de oposio. Eles reagiam como todos os seres humanos a uma imposio, a uma ordem; eles sentiam as mesmas emoes que os adul-tos, que eu prpria... Ao modifi car o meu comportamento em relao a eles, eu podia obter aquilo que, caso contrrio, teria escorregado da minha mo como um sabo molhado. O que vou oferecer a vocs neste livro uma espcie de revelao que tive.

    J tentei de tudo! Quantas vezes ouvi essa frase... Ela signifi ca: utilizei todas as armas que possuo para tentar reprimir um problema.

    Assim, me pareceu til escrever um livro que ajudasse a identifi car a fonte das difi culdades e que tambm apresentasse opes nas quais muitas vezes no pensamos no calor do momento.

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  • 15

    Anouk Dubois

    Nasci em 1970. A partir do momento em que consegui segurar um lpis na mo, passei boa parte do meu tempo desenhando. Foi assim que a faculdade de belas-artes me pareceu a escolha evi-dente. At que, um dia, tirei os olhos do papel para ver um pouco o que acontecia minha volta, quer dizer, um pouco abaixo... Eu ia ter um beb! E isso gerou uma exploso de dvidas na minha cabea. Como adoro papel, mergulhei nos livros para encontrar as respostas s minhas perguntas: O que um beb? Que lngua ele fala? Como devo segur-lo? Por que ele chora? Com que idade ele consegue comer sozinho? Ou seja, tudo o que os pais desejam saber para que o primeiro contato acontea da melhor maneira possvel.

    Como no encontrei todas as respostas, decidi retomar os estudos. Foi as-sim que me tornei instrutora de Comunicao Efi caz, segundo o mtodo do Dr. Thomas Gordon, e professora reconhecida pelo Aware Parenting Institute. Essa bagagem suplementar me ajudou a esclarecer inmeros pontos, e foi com grande alegria que minha nova famlia recebeu o nascimento de uma irmzinha para Salom, abrindo assim novos horizontes parentais. Mais tarde, me formei em psicomotricidade e comecei a ver minhas dvidas se dissipando. Os livros continuavam sendo os meus fi is companheiros, mas tinha s vezes vontade de ver uma ou outra ilustrao surgir nas pginas das obras de psicologia, para que dessem uma legibilidade maior escrita (meu lado artstico sempre alerta). Fi-nalmente pude ver meu desejo se realizar: as ilustraes que acompanham este livro so fruto de um feliz encontro entre mim e Isabelle, movidas pela paixo comum pela infncia e pelo desejo de v-la plenamente realizada em relaes mais harmoniosas no seio da famlia.

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  • 17

    MODO DE USAR

    Comeamos os tpicos com um desenho que representa uma situao fami-liar. Uma reao dos pais desenhada em seguida. A experincia da criana. Menino e menina se alternaro, para respeitar a paridade. Essa paridade ser tambm respeitada na alternncia dos pronomes ele e ela. Essa escolha pode confundir o leitor, habituado predominncia do masculino. Mas a lngua no neutra, ela marca nosso inconsciente e refora esteretipos. Para ns importante que o masculino no se sobreponha sempre ao feminino. Optamos pela alternncia em vez de sobrecarregar a leitura pelo acrscimo sistemtico da notao do feminino (a). Mas claro que as mensa-gens transmitidas pelo menino tambm valem para as meninas e vice-versa.

    Uma lmpada LED esclarece a situao sob o ngulo das descobertas das neurocincias e da psicologia experimental.

    Uma opo de ao positiva por parte dos pais apresen-tada por Isabelle e desenhada por Anouk.

    Essa simplifi cao que oferece uma situao e uma opo tem um obje-tivo meramente pedaggico. evidente que diante de cada situao uma srie de opes pode ser considerada.

    Sobretudo, no acreditem cegamente em ns! Este livro no apresenta uma verdade. Cada um deve observar, sentir, experimentar. Algumas atitudes positivas propostas para os pais podero parecer simplistas, idealistas. Estamos to acostu-mados com os confl itos familiares que eles nos parecem naturais; to habituados ao fato de que nossos fi lhos no cooperam que hesitamos em acreditar que isso possa ser possvel, e ainda por cima to facilmente. Quando nos colocamos em posio de empurrar uma porta, pode parecer desconcertante descobrir que

    Vou lhe dizer o que acontece comigo.

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  • 18

    bastava pux-la para que ela se abrisse. Eis, de certo modo, a proposta deste livro: analisar o sentido da abertura, e no forar a passagem.

    Este livro aborda poucas vezes as emoes. Preferimos nos concentrar nos comportamentos que so especialmente irritantes para os pais. As pirraas so mesmo pirraas? O que est acontecendo com a crian-a? Essas questes sero abordadas logo no primeiro captulo. Educar um fi lho criar uma relao com ele, e ter uma boa relao deve ser nossa maior prioridade. Uma relao ruim gera diversos sintomas, que vo da agressividade aos maus resultados escolares. J uma boa relao possibilita enfrentar as difi culdades e su-perar juntos os obstculos. No entanto, esquecemos muito facilmente essa prioridade. Mas priorizar o re-lacionamento no signifi ca buscar o amor da criana dando-lhe tudo. A necessidade fundamental de toda criana se sentir amada. Mas isso evidente, diriam vocs. Sim, mas nem to evidente assim para ela, que v mil razes para no se sentir amada, mesmo quando . Veremos como preencher o reservatrio de amor dos nossos anjinhos e nutrir seu sentimento de segurana. Essa segurana ser a base sobre a qual poderemos construir sua educao.

    Interpretar tudo como falta de afeto uma forte tentao. Mas o mau com-portamento das crianas tem muitas outras causas. Tenses excessivas, sobre-carga de estmulo, tdio ou simples necessidade fi siolgica: todos esses fatores de crises sero aqui explorados.

    Diante de um mesmo barulho, um beb vai chorar enquanto o outro vai arregalar os olhos... Medo para um, objeto de curiosidade para o outro... Do mesmo modo, os pais nunca se parecem. Cada um tem a sua prpria histria, seus prprios objetivos e necessidades. Possuem diferenas em funo da ida-de, de seus hormnios, da sua posio social e econmica, o que resulta em disponibilidades distintas para a criana. E nenhuma relao entre pais e fi lhos igual a outra, porque ela se insere sempre entre duas pessoas diferentes e em um ambiente especfi co. Cabe, portanto, a cada pai a tarefa de criar a sua prpria relao com seu fi lho. No entanto, pertencemos todos espcie humana, e o crebro de uma criana de 2 anos parece mais com o de uma outra criana da mesma idade do que com o seu prprio crebro na idade adulta. Ns sabemos muito bem que a criana no um adulto em miniatura, mas temos que admitir que muitas vezes os repreendemos por no se comportarem como tal! Muitas das reaes incompreensveis dos nossos fi lhos esto na verdade ligadas a mal--entendidos. Como o seu crebro est em desenvolvimento, a criana no v e no compreende as coisas da mesma maneira que ns. Ignorar isso pode ser

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  • 19

    a fonte de inmeros confl itos, de punies inteis, de exasperao por parte dos pais. A guerra, no fi m das contas, s existe porque os pais esperam algo da criana. Ser que essas expectativas so realistas em relao idade da criana? Se um menininho mente, podemos repreend-lo da mesma maneira se ele tiver 2 ou 4 anos? Devemos refl etir juntos e adaptar nossas atitudes em prol de uma educao que responda s necessidades especfi cas de nossos fi lhos e no s necessidades de uma criana hipottica!

    O captulo 2 cobrir a aventura de 1 ano a 1 ano e meio. O captulo 3 ser dedicado s pirraas, oposio, s crises de raiva da criana de 1 ano e meio a 2 anos. O captulo 4 vai explorar o mundo da criana de 2 anos a 2 anos e meio. No captulo 5, vamos descobrir o universo egosta da criana de 2 anos e meio a 3 anos. No captulo 6, veremos como reagir s transgresses da criana de 3 anos a 3 anos e meio. Entre 3 e meio e 4 anos, a criana enfrenta novos medos, e esse ser o assunto do captulo 7. A criana de 4 anos tambm dife-rente: insolncia, mentiras, medos e pesadelos o captulo 8 lhe ser dedicado. O captulo 9 aborda o perodo dos 4 e meio aos 5 anos, e assim as etapas mais desafi adoras para os pais sero tratadas.

    Algumas crianas andam com 9 meses e outras, com 18. Algumas utilizam uma linguagem muito elaborada antes dos 2 anos e outras s comeam a cons-truir frases com 3 anos. Em todas as reas do desenvolvimento, as variaes individuais so naturais e no patolgicas.

    Escrever um livro supe generalizar, mas as ge-neralizaes so sempre falsas, pois no levam em conta a especifi cidade dos indivduos. No entanto, generalizaes me pareceram teis para que ns, os pais, deixemos de esperar de nossos fi lhos comporta-mentos que no correspondam s suas idades e para que entendamos melhor as suas reaes. Para no sobrecarregar o texto, no vamos inserir a cada frase expresses como s vezes ou pode acontecer que

    e contamos que o prprio leitor as inclua. Da mesma forma, evitamos ao mximo nos repetir; mas muitas reaes infantis podem se apresentar em diferentes idades. Convidamos os leitores, portanto, a percorrer o livro todo para nele encontrar o seu fi lho, mesmo quando ele j tiver ultrapas-sado certa faixa etria.

    Da mesma forma que somos da noite ou do dia, e mais sensveis ou menos a odores ou rudos, cada criana possui seu prprio ritmo, sua prpria sensibilidade, seu prprio desenvolvimento. No h nada de anormal com o seu fi lho se ele no tem medo de estranhos aos 15 meses ou se nunca deu um ataque! O fato de esses comportamentos serem naturais no signifi ca que

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  • 20

    estejam obrigatoriamente presentes, apenas que eles so passveis de se ma-nifestar. Alm disso, se o crebro no muda de maneira espetacular no dia do aniversrio da criana, ele tambm no se desenvolve de forma contnua, o que signifi ca que o que parece ter aprendido aos 14 meses, por exemplo, pode ne-cessitar ser reaprendido aos 17 meses. O crebro de uma criana est sempre se refazendo. Cada grande perodo de reorganizao traz tambm regresses, desorganizao e angstia.

    A leitura deste livro poderia dar a impresso de que as crianas s trazem preocupaes. E isso est longe de ser o caso. A vida com uma criana , ou pode se tornar, um prazer cotidiano. Se aqui foca-mos as situaes problemticas porque elas da-nifi cam a relao, deterioram a vida da criana, dos pais... e do casal!

    Muitos pais tm a profunda convico de que as punies so necessrias e justas. Para alguns, as palmadas proibidas por lei no Brasil fazem parte do arsenal educativo natural. Apesar da inefi ccia da abordagem, essas crenas no so facilmente aban-donadas, por um lado porque so partilhadas pela maioria dos pais h sculos e por outro porque imaginar novas opes requer tempo e serenidade. Como nossos ancestrais e nossos pais tinham muito pouco conhecimento sobre o funcionamento do crebro, eles acreditavam que a educao pelo medo no era prejudicial. As imagens do crebro, nossos conhecimentos sobre os neurnios, sobre os hormnios do estresse, sobre a inteligncia e a memria no deixam dvidas sobre a urgncia de escolher uma educao no violenta. Alm das sequelas afetivas, as consequncias fi siolgicas so hoje em dia inquestionveis. Pesquisadores mostraram que as atitudes educativas parecem no ser infl uencia-das pela razo. Ns esbarramos nos ecos da nossa prpria histria. A intensidade de nossas reaes emocionais no permite que sejamos os pais que gostara-mos de ser e nos impede at mesmo de pensar com objetividade sufi ciente. No meu livro Il ny a pas de parent parfait (No h pais perfeitos), abordei o impacto da infncia dos pais na educao de seus fi lhos e como se libertar disso. Aqui, ns exploramos um outro ngulo da questo: o da compreenso dos comporta-mentos da criana a partir do desenvolvimento de seu crebro.

    Impor limites uma questo amplamente debatida por especialistas e dian-te da qual vrios pais se sentem desarmados. Colocar limites, sim; mas como, concretamente? No captulo 10, apresentaremos dicas para que os limites sejam uma forma de canalizao e proteo, e no de limitao. E sobretudo oferece-mos dicas para que esses limites sejam respeitados!

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  • 21

    Meus fi lhos brigam sem parar! O que fazer diante de confl itos incessan-tes? Podemos atribuir toda a culpa ao cime? Devemos deixar de nos sentir culpados por no dar tanto amor a um quanto ao outro, pois h outras razes por trs desse comportamento e nossos fi lhos precisam de uma ajuda concreta e prtica e no do nosso sentimento de culpa nem de lio de moral. Esse ser o tema do captulo 11.

    O captulo 12 apresentar as oito etapas da resoluo de um problema, antes de fazer a per-gunta da concluso: Ser que assim to grave? O exagero das difi culdades, nosso descontrole to comum ao dizermos se no arrumar a mochila, no vai entrar para a faculdade, presta um desser-vio no apenas nossa autoridade mas tambm altera, no dia a dia, nossa relao com a criana que, apesar de todas as difi culdades, aquilo que mais amamos no mundo!

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  • 1Cuidar de um fi lho mais complicado

    do que cuidar de uma planta

    DEPOIS DE TUDO O QUE FIZ POR VOC, ASSIM QUE ME AGRADECE? PERDE AS FOLHAS, CRESCE

    TORTA! VOC VAI VER, VOU PRIV-LA DE ADUBO E DE SOL. VAI FICAR DE CASTIGO EMBAIXO DA

    ESCADA. E A, VAMOS VER QUEM QUE MANDA!

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  • 24

    O que a pirraa?Do ponto de vista da maioria dos pais, os fi lhos fazem pirraa. Tho se recusa a beber no copo azul, Jlia no quer se vestir para sair, Antnio s quer tomar banho se for com a me... Eles nos tiram do srio!

    Mas ser que mesmo teatro? Essas atitudes to tpicas so pirraas ou seriam comportamentos compreensveis, se levarmos em considerao a evolu-o do crebro das crianas?

    O fato de as manhas da pequena La de 3 anos nos exasperarem talvez seja apenas uma consequncia, e no a verdadeira inteno da menina.

    Acreditamos que nossos fi lhos esto conscientes das suas tentativas de as-sumir o controle sobre ns: Veja como ele me olha nos olhos quando faz uma bobagem! Exaustos diante da situao, o que tomamos como comprovao poderia perfeitamente ter uma origem bem diferente.

    Voc quer fi lhos calmos, tranquilos, comportados, que no gritem nem cho-rem? Isso impossvel. Voc quer erradicar a pirraa? Isso possvel.

    Quando as folhas da sua samambaia secam e caem, voc no supe

    que a planta fez de propsito para lhe dar trabalho ou para que suspeitem

    de que voc no uma boa jardineira. Voc interpreta a atitude da planta

    como uma mensagem: gua de mais ou de menos, menos luz, mais adu-

    bo... Carncia ou excesso, voc tenta entender o que est acontecendo.

    Uma criana (claramente) mais complexa do que uma planta, mas

    no mais complicada. As supostas pirraas manifestam necessidades, ca-

    rncia ou excesso. E se a atitude da criana no fosse uma provocao, e

    sim uma consequncia, uma resposta, uma reao? Algumas vezes tam-

    bm podemos interpretar como problema algo que apenas natural. Intil

    seria entrar em pnico a cada outono porque as rvores do jardim perdem

    as folhas... ou porque o seu fi lho de 4 anos no gosta de perder.

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  • 25

    pirraa?Um teste para ver com mais clareza

    Para verifi car se o seu fi lho o est manipulando, basta um pequeno e simples teste: seu fi lho possui provavelmente entre os seus brinquedos um cubo ou uma placa com aberturas pelas quais podem ser passados objetos de formas correspondentes. Mostre a ele duas aberturas: por exemplo, um tringulo e uma circunferncia. Em seguida, apresente uma forma: por exemplo, o tringulo.

    Pergunte ento em que abertura se encaixa aquela forma. A maioria das crianas de 1 ano e 8 meses faz uma escolha aleatria. Com 3 anos e 4 meses, elas inserem o tringulo na abertura correspondente em 85% dos casos. E, mesmo nessa idade, no sempre que respondem da for-ma correta. Somente depois dos 4 anos, na imensa maioria dos casos, elas acertaro todas as vezes, pois essa ao exige que a criana conser-ve em mente trs itens ao mesmo tempo.

    Enquanto a criana tiver que testar, tentando inserir a forma na abertura correta, e no for capaz de lhe dizer verbalmente a forma que corresponde abertura, ela no ser capaz de fazer qualquer tipo de manipulao.

    O que est acontecendo?Sim, alguma coisa est acontecendo. A criana no reage desse modo nem por acaso nem por vontade de incomodar. Portanto, antes de nos irritarmos, faamos a ela e a ns mesmos a seguinte pergunta: O que est acontecendo? Pronun-ciar a pergunta em voz alta nos ajudar a inibir nossos impulsos habituais.

    H uma nica certeza: ela no monta uma armadilha nem um teste para os pais. Ela simplesmente no possui as capacidades intelectuais para isso.

    As pirraas, como iremos constatar ao longo deste livro, so na verdade res-postas do crebro da criana a situaes complexas demais para elas.

    Vamos, portanto, olhar mais de perto o que pode estar se passando na ca-bea do seu fi lho.

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  • 26

    O reservatrio de amor da criana est cheio?

    ME, VOC ME AMA?

    CLARO QUE AMO, QUE IDEIA!

    O TELEFONE MAIS IMPORTANTE

    DO QUE EU.

    MAS VOC NO LIGA PARA MIM. VOC NO PARA DE LAVAR A LOUA

    PARA FALAR COMIGO, MAS PARA POR CAUSA DO TELEFONE.

    TR M

    !

    TR M

    !

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  • 27

    Palavras de amor

    ESSA UMA PERGUNTA IMPORTANTE! DEIXE EU TERMINAR DE LAVAR A LOUA

    E J RESPONDO.

    Um simples olhar faz com que a criana espere se voc no estiver disponvel imediatamente.

    EU AMO VIVER COM VOC. SEMPRE QUE A VEJO, SINTO O MEU CORAO REPLETO DE FELICIDADE. CLARO

    QUE AMO VOC.

    Responder importante.

    S VEZES VOC PENSA QUE EU NO TE AMO? DIZ PARA MIM O QUE FAZ VOC PENSAR ASSIM S VEZES.

    Mas tambm essencial escutar: de onde vem a dvida?

    Eu te amo.Gosto de te ver crescer.Gosto de viver com voc.Fico feliz por voc ser meu fi lho...

    So palavras que fazem bem.

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  • 28

    O tempo compartilhado

    OI, JLIO. CLARO; VOU BRINCAR COM VOC. ESPERA S UM POUQUINHO PORQUE EU TENHO UMAS COISINHAS PARA FAZER. DAQUI A POUCO

    FICO LIVRE PARA VOC. PAI, VEM BRINCAR COMIGO?

    PAI...

    PAI!HUM...

    ESPERA A.PAI, A GENTE PODE BRINCAR AGORA?

    DAQUI A POUCO.

    POR QUE VOC NO PERGUNTA A SUA ME

    SE ELA NO QUER BRINCAR COM VOC?

    TALVEZ ELE VENHA DAQUI

    A POUCO.

    NO CONSIGO DORMIR.

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  • 29

    Quando as necessidades de contato da criana no so sufi cientemen-te correspondidas, seus circuitos cerebrais fi cam em carncia. Crises

    de raiva, choros sem razo e comportamentos extremos so algumas das ma-nifestaes de perturbao do sistema nervoso. Dizer eu te amo, fazer um carinho e brincar junto liberam no organismo a oxitocina, o hormnio da felici-dade. A criana e os pais se sentem felizes, realizados, em plenitude.

    PAI, VEM BRINCAR COMIGO?

    OI, JLIO, 10 MINUTINHOS,

    EST BEM?

    UAU! A GENTE EST FAZENDO UM CASTELO INCRVEL!

    FORMAMOS UMA BELA

    EQUIPE.

    Dedicar 10 minutos que sejam, por dia, de total disponibilidade ao seu fi lho, para lhe dar afeto e carinho, a garantia de noites mais tranquilas!

    L

    TAPL

    TAP

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  • 30

    Abraar, beijar, afagar, acariciar... O contato fsicoSeu fi lho no gosta muito de bei-jo? Talvez seja apenas uma respos-ta dele s tenses, um refl exo das carncias da infncia dos pais.

    Voc tem o direito de amar, de dar e receber carinho.

    A criana, tal como voc e to-dos os seres humanos, precisa de oxitocina, esse maravilhoso hor-m nio que liberado no contato fsico, que acalma e traz uma sen-sao de segurana e de felicidade.

    Quando voc sente na pele o amor que tem por seu fi lho, po-de deixar essa sensao que est no peito se expandir pelo resto do corpo. Em seguida, coloque a sua mo sobre a dele. Escute, sinta, re-ceba, acolha a vida de seu fi lho na sua palma.

    Respire na sua mo, depois imagine que voc est deixando a respirao dele entrar no seu cor-po at o corao.

    Mas nem tudo falta de amor... As crises das

    crianas de 1 a 3 anos podem es-tar diretamente ligadas ao estado psicolgico delas.

    De uns anos para c, existe a tendncia a psicologizar tudo, interpretando o mnimo comporta-mento desviante como um pedido de ateno, uma batalha, uma to-mada de poder; mas a realidade muitas vezes mais simples.

    A fome modifi ca a glicemia no crebro; a sede infl uencia a falta de sono; estar agasalhado demais, a vontade de fazer xixi ou coc; o excesso de estmulo ou a falta de movimento inundam o crebro e o corpo de hormnios de estresse.

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  • 31

    EU

    MEU PLANETA

    Crises de raiva e outras tempestades emocionais

    Mame, tem uma tempestade na minha cabea e no meu corpo. Eu nem consigo ouvir o que voc est dizendo. Se me der uma palmada, vou berrar ainda mais ou vou me calar de susto. Nesse caso, voc at pode pensar que a palmada foi efi caz, quando na verdade foi o estresse que me bloqueou. No preciso de mais medo nem de mais estresse.

    Por que voc est to zangada? Por que est chateada comigo? Eu preciso de voc, mame, para pr fi m a essa tempestade. Eu grito cada vez mais alto para que voc me ajude... No me deixe sozinho com a minha raiva... Quando tenho muitas coisas para ver, sentir, ouvir... minha cabea no sabe o que fazer... Ah, balas! Comer balas voltar a ser ativo, saber o que fazer.

    Quando voc tira as balas de mim, minha cabea fi ca perdida. No fao de propsito, os hormnios do estresse inundam o meu corpo, meus neur-nios motores descarregam tenses e eu grito, choro, rolo no tapete, bato com a cabea no cho... s vezes, consigo me aguentar at chegar em casa e ento explodo quando estou sozinho com voc. Mas s vezes no consigo.

    VOC SEMPRE QUER TUDO! PARE COM ESSA PALHAADA OU VAI

    LEVAR UMA PALMADA!

    EEU qUERO!U qUERO!

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  • 32

    EU SEI QUE VOC NO QUER MAIS FAZER ISSO.

    NO VOU DEIXAR QUE VOC SOFRA NEM QUE

    ME FAA SOFRER.

    NO!

    Me, quando eu tenho uma crise de raiva, s preciso ser contido, tranquilizado e protegi-do da tempestade nervosa que me invade e me amedronta. Se voc me pegar terna e fi rmemente em seus braos enquanto eu grito, me ajudar muito. Mesmo que eu me debata demais, me segure fi rme. Por favor, mame, no me compre balas, mas me ensine a conduzir a minha cabea.

    O sistema nervoso da criana, sobrecarregado,

    desencadeia essa reao de des-carga das tenses acumuladas, que em ingls recebe o nome ex-pressivo de tantrum. Voc pede que ela se acalme, mas a crise a sua maneira de se acalmar. Logo depois, a criana j est sorridente, tranquila, muitas vezes para a sur-presa dos pais, que interpretam a crise como um simples teatro.

    A alternativa ceder/no ce-der uma armadilha. Nos dois casos, a necessidade da criana negada. Um supermercado satura rapidamente as capacidades de uma criana. Muitas cores, diver-sos obje tos, sons, sem contar as tenses no ambiente, a irritao dos adultos, e quem sabe at... a inatividade, quando a criana obrigada, alm de tudo, a fi car sentada no carrinho.

    O crebro da criana recebe milhares de estmulos sensoriais e ela nada pode fazer, pois no possui orientao sobre como se-lecionar e organizar os estmulos que excitam os seus neurnios. Ela busca se acalmar, encontrar uma base de apoio, uma possibilidade de focar num ponto. Querer balas uma tentativa de retomar o controle diante do excesso de estmulos.

    paradoxal irritar-se e ao mesmo tempo pedir a uma criana que se acalme. mais efi caz cont-la com carinho e serenidade. Isso desencadear a liberao de oxitocina, hormnio que a ajudar a se acalmar e a desenvolver as vias de comunicao neuronais que a auxiliaro a gerir as suas emoes durante toda a sua vida.

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  • 33

    Eu me sinto uma moa quando escolho as laranjas e as cenouras, e a mi-nha cabea est ocupada com uma tarefa... Voc fi ca contente, e eu no sou obrigada a ter uma crise, algo que me d medo e me faz mal.

    EU VOU BUSCAR OS TOMATES, ENQUANTO

    ISSO VOC ESCOLHE AS CENOURAS E COLOCA

    NESTE SACO DE PAPEL.

    Para evitar ter que com-prar balas demais, me-

    lhor prevenir: em todo espao novo ou rico em apelos (supermercados, shopping centers, feiras, festas fa-miliares...), dar criana uma tarefa dentro da sua capacidade, claro a ajudar a concentrar a ateno. O seu crebro vai secretar dopami-na, o hormnio da motivao, da ao voluntria, que diminui o es-tresse e inibe os sistemas de medo e de raiva.

    Aos 4 anos, mas no antes, ela poder conservar na memria um mesmo objetivo durante cerca de 10 minutos. por isso que, antes dessa idade, til relembrar sempre a tarefa criana. Comentar suas aes (positiva-mente, claro) tambm uma boa ideia: Que timo, voc escolheu essa laranja. Coloque agora na sacola e escolha mais uma...

    Dedicar esse tempo e essa ateno ao seu fi lho vai, no fi m das contas, fazer com que voc ganhe um tempo enorme! E, como bnus, no ter mais crises e dramas a resolver na frente de todo mundo...

    CENOURAS!

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  • 34

    Ela no para quieta

    Muitos adultos interpretam a necessidade de movimentao constante da criana como um pedido de ateno ou um sinal de desobedincia.

    Se pode ser verdade que uma criana busca chamar a ateno, na maior parte das vezes ela simplesmente tem necessi dade de... SE MEXER!

    Ficar quieta numa fi la de espera, em engarrafamentos, no restaurante, ou, pior ainda, numa viagem de trs horas de carro est acima das capacidades neuronais de uma criana entre 2 e 6 anos.

    Uma criana que se mexe muito no precisa necessariamente se acalmar, mas sim dirigir sua energia para outra coisa. intil e nocivo para o crebro e para o equilbrio psquico da criana puni-la porque ela no fi ca sossegada. Dar--lhe um objetivo, uma ocupao, alimentar as necessidades do seu crebro de modo mais efi caz.

    Um crebro desocupado encontra logo uma ocupao que tal-vez no agrade a voc... Confi ar a ele uma misso que esteja sua altura o ajudar a conectar as zonas frontais e associativas.

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  • 35

    Uma criana que se balana na cadeira no est necessaria-

    mente procurando ateno ou querendo provocar os pais.

    Ao se balanar, ela estimula o seu ou-vido interno, centro do equilbrio. s vezes faz isso para brincar, ou seja, se autoesti-mula quando est entediada, mas tam-bm porque o seu crebro pode estar precisando disso para estabelecer as co-nexes do sistema de equilbrio. Pedir que fi que parada vai provocar tenses que po-dem desencadear comportamentos no controlveis.

    A criana se balana na cadeira

    Propor que se movimente de outra forma a ajudar (num balano, rodando de olhos fechados numa cadeira de escrit-rio...). Se esse comportamento se mantiver, vale mais a pena consultar um mdico do que repreend-la.

    Do mesmo modo, algumas crianas chupam o seu bichi-nho de pelcia, o paninho ou o dedo, durante mais tempo do que outras da mesma idade, no por necessidade emocional ou afetiva mas porque precisam exercer seu refl exo de suco e estimular o palato.

    Uma consulta a um ortodontista competente poder so-lucionar o problema de modo bem mais efi caz do que uma punio.

    OPA!

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  • 36

    ResumindoA criana chora, tem uma crise ou um comportamento inapropriado?

    Trata-se de:

    y uma busca de estmulo: oriente suas atividades de maneira que ela encontre os estmulos de que necessita atravs de um comportamento apropriado.

    y um comportamento de apelo: identifi que a necessidade e a satisfaa, ou nomeie-a se no for possvel satisfaz-la imediatamente.

    y uma descarga de tenses: acolha o choro e os gritos, contenha os movimentos desorganizados que podem lev-la a se machucar, acalme o estresse e restitua-lhe a calma interior.

    No nada disso? Ento pode ser:

    y uma reao a uma atitude inapta por parte dos paisou y um comportamento natural da idade dela!

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  • 37

    O que cabe aos pais

    No carro, a me promete fi lha de 2 anos e meio, que no lhe tinha pe-dido nada: Quando a gente voltar eu vou comprar um po de queijo para voc. Evidentemente, alguns minutos mais tarde, a menininha pergunta: Cad o po de queijo?

    A me despertou o seu desejo toa, numa idade em que a criana no possui ainda a capacidade de prever, ou seja, de se projetar no futuro e conceber mentalmente a padaria no caminho de volta.

    Quando as oposies furiosas e as crises de choro no so simples descargas ou buscas de estmulo, elas podem ser reaes s nossas

    tentativas de controle. Nossos fi lhos esto apenas tentando crescer. Vamos ver mais tarde o impacto

    das nossas ordens, proibies malformuladas e outros comandos inapropriados idade da criana.

    Vejamos a pergunta dessa me durante uma conferncia: Como enfrentar os ataques de raiva de uma criana de 3 anos?

    Sem poder, claro, responder a tal generalizao, pergunto: Um ataque de raiva desencadeado pelo qu? A me teve difi culdade em explicar preci-samente:

    Ataques de raiva, de forma geral... O ataque de raiva lhe parece ser o problema, mas trata-se de uma reao:

    alguma coisa o provocou. bem verdade que no agradvel perceber que fomos ns a provoc-lo. Peo ento que ela relembre o ltimo episdio de raiva do seu fi lho.

    Eu no quis dar uma bala para ele, responde ela.De novo, peo mais detalhes: Em que situao especfi ca? E ento ela fi nal-

    mente comea a contar:Ele subiu numa cadeira, depois numa bancada, para alcanar o pote de balas

    que estava em cima do armrio.A situao de repente fi cou clara. Vejam como todos ns tendemos (no

    somente esta me) a nos concentrar em o que fazer diante das consequncias (nesse caso, o ataque de raiva), sem ver que poderamos ter reagido de forma diferente antes.

    Ser que a crise de raiva foi causada realmente pelo fato de a me ter re-cusado a bala criana?

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  • 38

    Analisemos a situao: a criana tem 3 anos. H um pote de balas visvel no alto do armrio, uma bancada e uma cadeira perto do armrio.

    Pergunto ao pblico qual a principal necessidade de uma criana de 3 anos. Em coro e com sorrisos no rosto (eles tinham entendido), todos respondem:

    Testar suas capacidades.

    claro que a criana estava querendo alcanar as balas; e nossos crebros adul-tos, centrados no contedo, nos objetivos, s so capazes de ver esse fato. J a criana est interessada sobretudo na acrobacia.

    A me no viu que o pote de balas era apenas o objetivo que ele se propu-sera para justifi car a sua empreitada, mas que o exerccio do seu corpo era bem mais importante.

    Entendendo a empreitada da criana, uma resposta possvel teria sido:Uau! Voc conseguiu subir at a, quase chegou ao pote de balas! Estou

    impressionada! Parabns! Voc fez por merecer a sua bala. Pegue o pote; eu seguro para voc escolher a bala que vai chupar depois do jantar. Onde voc vai guard-la at a hora de poder chup-la? Na mesa da cozinha ou na sua malinha? Ou voc prefere que eu a guarde para voc at de noite?

    Assim no teramos que responder crise de raiva, pois ela no existiria.Foi ento que a me comentou:Mas tambm no quero que ele coma a bala depois do jantar!Ento por que razo colocar um pote de balas em evidncia, no alto do arm-

    rio, se ela no quer que seu fi lho se sinta atrado por ele? Eis a uma verdadeira incitao ao crebro de uma criana de 3 anos. E ainda dizemos que so as crianas que provocam os pais!

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  • 39

    da idade!

    Os pais autoritrios tm tendncia a interpretar os comportamentos ex-cessivos ou irritantes das crianas como manifestaes de m vontade,

    insolncia ou mesmo como uma falha moral.J os pais permissivos imaginam logo um trauma e se culpam de terem sido

    pssimos pais. E se houvesse outras causas? Desobedecer me olhando-a nos olhos aos 15 meses, ter medo do escuro

    aos 3 anos e mentir aos 4 no so comportamentos fceis de se lidar, verdade, mas so NATURAIS e NORMAIS!

    Uma criana de 1 ano entra no mar nos braos do pai sem problemas. Aos 3 anos, ela morre de medo... O crebro no se desenvolve de maneira linear, mas atravs de reorganizaes sucessivas. Isso signifi ca que o que parece de-fi nido numa idade pode ser alvo de questionamento numa outra, porque os caminhos dos neurnios foram reconstrudos.

    Quando voc estiver prestes a se irritar com o seu fi lho de 1 ano, lembre--se de que no crebro dele cerca de um milho de sinapses (conexes de neurnios) so criadas por segundo! Um trabalho que impe respeito. Visua-lizar o crebro do seu fi lho em construo ajudar voc a no sucumbir. Respire...

    ATENO, ESTAMOS EM OBRAS!

    Ja tentei de tudo_176p.indd 39 8/22/14 12:01 PM

    J tentei de tudo_Capa WEBJa tentei de tudoBX_MKT_40p.pdf