jÁ bom fim-418-maio2012

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www.jornalja.com.br BOM FIM Circula nos bairros: Bom Fim, Moinhos de Vento, Farroupilha, Centro, Independência, Floresta, Rio Branco, Santana, Cidade Baixa e Santa Cecília. Porto Alegre, maio de 2012 - Ano 26 - Número 418 Dez anos sem Lutz E x-vendedor de produtos químicos, José Lutzen- berger passou os trinta anos finais de sua vida brigando e fazendo adeptos à causa am- biental. Foi rotulado de louco, retrógado, visionário e gênio. Nascido em 1926, na rua Jacinto Gomes, Lutzenberger foi engenheiro agrônomo for- mado pela Universidade Fe- deral do RS. Especializou-se em solos e agroquímica nos Estados Unidos. Além do por- tuguês, falava alemão, inglês, espanhol e francês. No início de 1971 voltou à cidade natal, onde ajudou a levantar a Associação Gaú- cha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), fundada por um grupo liderado por Au- gusto Cesar Ribeiro Carneiro. Mais convincente e mais sincero do que a maioria dos ecologistas brasileiros, Lu- tzenberger sensibilizou mi- lhares de pessoas. Seu último depoimento foi para o livro Pioneiros da Ecologia, da JÁ Editores, lan- çado no final de 2001. Foram quatro horas de conversa gra- vada e ele estava com os origi- nais para revisar quando se internou na Santa Casa para exames e acabou tendo uma parada cardíaca que o levou à morte, no dia 14 de maio. Reproduzimos aqui trechos destas entrevistas, reveladoras do modo de agir e pensar de Lutzenberger . (Cont. pág 4) Especial Lutzenberger dedicou seus últimos 30 anos de vida à luta pela conscientização ambiental. Bom Fim, Urgente BARES e restaurantes do Bom Fim e do bairro Santa- na estão sendo prejudicados com as ações de fiscaliza- ção e policiamento que se tornaram rotina na Cidade Baixa nos últimos seis me- ses. COMERCIANTES como Fabiano Fontoura – um dos sócios do Bar do Beto e do Cerilo, na Avenida Venâncio Aires, reclamam da situação. “Com os novos horários na Cidade Baixa, o movimento aqui na Venâncio – onde o horário é liberado – caiu sig- nificativamente e ainda tem mais esse monte de blitz. Ontem, saí à uma da manhã de carro, passei no Bom Fim e na Cidade Baixa, já não tinha ninguém. Fui então lá na Padre Chagas, no Moi- nhos, estava cheio – Ué, lá o barulho pode, por quê”? (Cont. pág.8) Bar do Beto amarga queda de 25% no faturamento. OBRAS do novo Baltimo- re, Osvaldo Aranha 1080, es- tão em ritmo ace-lerado. Ali serão erguidas, até 2014, duas torres envidraçadas, de 16 an- dares, sendo quatro pisos de garagem. O projeto é da Mel- nick Even. As 196 salas com- erciais do complexo já estão parcialmente vendidas. A ILUMINAÇÃO da rua Setembrina, na Redenção, está em obras. Serão trocadas as lu- minárias quebradas devido ao vandalismo.

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Jornal JÁ Bom Fim

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Page 1: JÁ Bom Fim-418-maio2012

w w w . j o r n a l j a . c o m . b r

BOM FIMCircula nos bairros: Bom Fim,Moinhos de Vento, Farroupilha,Centro, Independência, Floresta,Rio Branco, Santana, Cidade Baixae Santa Cecília.

Porto Alegre, maio de 2012 - Ano 26 - Número 418

Dez anos sem LutzEx-vendedor de produtos

químicos, José Lutzen-berger passou os trinta anos finais de sua vida brigando e fazendo adeptos à causa am-biental. Foi rotulado de louco, retrógado, visionário e gênio.

Nascido em 1926, na rua Jacinto Gomes, Lutzenberger foi engenheiro agrônomo for-mado pela Universidade Fe-deral do RS. Especializou-se em solos e agroquímica nos Estados Unidos. Além do por-tuguês, falava alemão, inglês, espanhol e francês.

No início de 1971 voltou à cidade natal, onde ajudou a levantar a Associação Gaú-cha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), fundada por um grupo liderado por Au-

gusto Cesar Ribeiro Carneiro. Mais convincente e mais

sincero do que a maioria dos ecologistas brasileiros, Lu-tzenberger sensibilizou mi-lhares de pessoas.

Seu último depoimento foi para o livro Pioneiros da Ecologia, da JÁ Editores, lan-çado no final de 2001. Foram quatro horas de conversa gra-vada e ele estava com os origi-nais para revisar quando se internou na Santa Casa para exames e acabou tendo uma parada cardíaca que o levou à morte, no dia 14 de maio.

Reproduzimos aqui trechos destas entrevistas, reveladoras do modo de agir e pensar de Lutzenberger.

(Cont. pág 4)

Especial

Lutzenberger dedicou seus últimos 30 anos de vida à luta pela conscientização ambiental.

Bom Fim, UrgenteBARES e restaurantes do Bom Fim e do bairro Santa-na estão sendo prejudicados com as ações de fiscaliza-ção e policiamento que se tornaram rotina na Cidade Baixa nos últimos seis me-ses. COMERCIANTES como Fabiano Fontoura – um dos sócios do Bar do Beto e do Cerilo, na Avenida Venâncio Aires, reclamam da situação. “Com os novos horários na Cidade Baixa, o movimento

aqui na Venâncio – onde o horário é liberado – caiu sig-nificativamente e ainda tem mais esse monte de blitz. Ontem, saí à uma da manhã de carro, passei no Bom Fim

e na Cidade Baixa, já não tinha ninguém. Fui então lá na Padre Chagas, no Moi-nhos, estava cheio – Ué, lá o barulho pode, por quê”? (Cont. pág.8)

Bar do Beto amarga queda de 25% no faturamento.OBRAS do novo Baltimo-re, Osvaldo Aranha 1080, es-tão em ritmo ace-lerado. Ali serão erguidas, até 2014, duas torres envidraçadas, de 16 an-dares, sendo quatro pisos de garagem. O projeto é da Mel-

nick Even. As 196 salas com-erciais do complexo já estão parcialmente vendidas.

A ILUMINAÇÃO da rua Setembrina, na Redenção, está em obras. Serão trocadas as lu-minárias quebradas devido ao vandalismo.

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Reportagem:Elmar Bones, Francisco Ribeiro,

Patricia Marini e Tiago [email protected]

FotografiaTiago Baltz, Ramiro Furquim

e arquivo Jornal JÁComercial

Mário Lisboa(51) 3347 7595 / 9877 [email protected]

DiagramaçãoTiago Baltz Tiragem:

10 MIL EXEMPLARESDistribuição gratuita

Impressão:Gráfica CG - (51) 3043-2310

Diretor-Responsável: Elmar Bones

Redação: Av Borges de Medeiros, 915

Conj 203. Centro Histórico

CEP 90020-025 - Porto Alegre/RS

Fone: 3330-7272

Edições anteriores: R$ 3,00

Porto Alegre, maio de 20122

www. jo rna l ja .com.br

NOTA DO EDITOR Prefeitura vende terrenos no Bom Fim e Petrópolis

O terreno baldio na es-quina da Vasco da Gama com a Felipe Camarão vai virar um prédio comercial, com cerca de seis lojas. Uma rede de farmácias já está in-teressada num dos pontos.

No local havia apenas a carcaça de uma antiga casa (na verdade só permanecia de pé a fachada). O espaço é o último terreno existente no Bairro Bom Fim. No sábado, dia 7 de maio, foi derrubada a carcaça e o ter-reno foi cercado.

O terreno, que pertencia à prefeitura, estava muito sujo, e em alguns lugares já acumulava água. Os mo-radores da região já haviam

reclamado da situação, com receio de ali se formar um criadouro do mosquito da dengue. O imóvel, de for-mato retangular, ocupa uma área de 91,00m².

No passado, funcionou ali uma casa de artesões mantida pelo poder munici-pal. Há mais de 15 anos está abandonado. Em 2004, a prefeitura chegou a ceder o terreno a uma cooperativa de trabalhadores da Capital, mas a cooperativa Mãos U-nidas nunca chegou a ocupar a área, agora o terreno passa para a iniciativa privada.

Já os vereadores da Ca-pital aprovaram, no começo de maio, projeto que per-mite a venda de um terreno de 556,10m² na rua Felipe de Oliveira, nº 721, Bairro Petrópolis.

Com o dinheiro obtido, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) pretende investir em quatro vilas da cidade, para regu-larizar ligações de água clandestinas em áreas caren-tes. O objetivo e readequar

a infraestrutura de abaste-cimento nestes locais.

Os locais a serem aten-didos são o Jardim do Verde (1.280 pessoas), Vila das Taquareiras (950 pessoas), Loteamento Jardim Marabá (3 mil pessoas) e Vila da Conquista (1.180 pessoas).

O terreno na Felipe de Oliveira foi avaliado por técnicos da prefeitura em R$ 866.000,00. Com um espaço de 12,4 metros de frente por 42 metros de fundo, a área fica no meio da quadra en-tre as ruas Coronel Lucas de Oliveira e Corte real. O ter-reno está fechado há mais de 20 anos. Ali funcionava uma bomba da água desativada no final dos anos 80.

O DMAE agora prepara uma licitação para concreti-zar a venda, que deve se dar por leilão do tipo maior ofer-ta. O edital deve ficar pronto no começo de junho. Ainda não há registros de interes-sados na compra. Certa-mente não haverá problema, já que se trata de uma área nobre.

À esquerda,i a Casa do Artesao, na esquina da Vasco com a Felipe Camarão, que foi demolida e o local cercado. Acima, o terreno do DMAE na Felipe de Oliveira.

A imprensa deu uma demonstração de força. Com alguns editoriais e artigos, reforçados por uma pressão direta junto aos parlamentares, con-seguiu tirar do horizonte da CPI do Cachoeira a ideia de levar a revista Veja a dar explicações sobre suas relações com o bicheiro, que coman-dava uma rede de cor-rupção com ramifica-ções no meio político e do governo.

A CPI ainda está no começo, mas é um mau começo, porque ao in-teresse da mídia de blin-dar a Veja, somou-se o interesse dos partidos em proteger os seus go-vernadores, e tudo indica que um grande acordão vai mesmo levar a CPI ao forno, na forma de uma grande pizza.

Mais lamentável de tudo é que a imprensa, para garantir sua condição de intocável, não hesitou em recorrer ao discurso falacioso, de que são os

inimigos da imprensa livre que querem colocar a grande mídia em de-bate, quando esta é uma necessidade essencial para a consolidação da democracia no país.

Esse debate, mais dia ou menos dia acontecerá, pois é tão importante quanto a recém insta-lada Comissão da Ver-dade, que vai levantar os crimes da ditadura.

A CPI ainda pode surpreender, mas se não for agora será mais adi-ante, porque é inevitável que a democracia um dia confronte a imprensa que se cevou na ditadura e ainda não perdeu os seus cacoetes, com as deman-das da democracia.

* * *Por mais três meses,

a vida noturna na Ci-dade Baixa será alvo de medidas repressivas, da fiscalização municipal e Brigada Militar.

Por que só a cidade Baixa?

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3Porto Alegre, maio de 2012

Entrou água na garagem subterrânea da Redenção

OO projeto de cons-truir uma garagem

subterrânea na Redenção (sob o parque Ramiro Souto) esbar-rou no primeiro estudo do solo, que constatou a e-xistência de um lençol freático muito maior e mais perto da superfície do que se supunha. O problema é contornável, mas pode dobrar o custo da obra.

“Ainda não temos posição final sobre a sustentabilidade técnica da garagem no Parque. Há um desnível muito grande entre a Av. Osvaldo Aranha e a rua José Bonifácio e mais um lençol freático que está a 80 cm de profundidade (nível do campo). Sabemos que existem soluções de engenharia para tudo, mas buscamos o equilí-brio financeiro entre o investi-mento, faturamento e prazo de concessão”, explica o coorde-nador do Gabinete de Assun-

tos Especiais (GAE), Edemar Tutikian.

O edital, que já estava pronto, foi cancelado. A pre-feitura trabalha agora para construir um novo estudo econômico, sem prazo para ser divulgado.

Tutikian informa ainda que o Departamento de Es-gotos Pluviais (DEP) fará um sistema de drenagem perto do auditório Araújo Vianna, o que deve diminuir a água ar-mazenada no lençol freático. A falta de drenagem é um dos grandes problemas do Parque. O projeto do DEP atenderá cerca de um quarto da área da Redenção, entre a rua Setemb-rina e o auditório Araujo Viana – ao custo de R$ 8 milhões.

O plano para o estaciona-mento é que seja construído abaixo do estádio Ramiro Souto, onde deverão ser cria-

das em torno de 700 vagas. Será uma garagem que não terá a rotatividade normal, mas picos de utilização nos dias de espetáculos e outros. O formato do projeto é de uma parceria pública privada PPP, e o vencedor teria direito a con-cessão por 30 anos. O local servirá de apoio para o público do auditório Araújo Vianna. O auditório terá sua reinaugu-ração em 90 dias. Estima-se que em noite de espetáculo, o Araújo Vianna, atraía cerca de 800 carros ao local.

Um segundo estudo, que analisa a possibilidade de um estacionamento subterrâneo na praça Parobé, no Centro, ao lado do mercado público, apontou que há uma grande concentração de redes subter-râneas no local. Assim, a obra deve ficar adiada para um se-gundo momento.

A Câmara municipal ain-da não decidiu se irá revogar a lei que estabelece o ‘cachor-ródromo’ da Redenção, no-meado como Recanto do Amigo Fiel, no espaço entre o chafariz da fonte luminosa e o lago dos pedalinhos.

A Secretaria Especial dos Direitos dos Animais (SEDA) pediu a anulação da lei, enten-dendo que ali não é o espaço mais adequado, já que para a segurança dos animais e das pessoas seria necessário cons-truir um cercado. Como o lo-cal é tombado, a SEDA alega que não há como fazer modi-ficações para adequar a área aos cães.

A proposta tinha sido apresentada pelo vereador

Elias Vidal (sem partido). Já a defensora dos bichos e vol-untária da Secretaria Especial do Direitos dos Animais, Re-gina Becker, primeira-dama de Porto Alegre, defende o terreno do minizoo, desocu-pado desde dezembro, como o melhor lugar para a construção de um espaço para os usuários soltarem seus cachorros.

No momento, o próprio vereador Elias já admite que se for consenso da casa optar por esse espaço, um novo decreto sugerindo a área do minizzo poderá ser encaminhado. Vale lembrar que há uma lei que proíbe um cão da andar sem coleira e guia de condução – há multa prevista entre valores que variam de 50 a 300 reais.

Lei que cria “Cachorródromo” espera decisão de veradores

Um lençol dágua a 80 centímetro da superfície fez adiar o projeto

Prefeitura quer área para cães no terreno do minizoo.

Cachorros sem guia pode gerar multa de R$ 300.

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Porto Alegre, maio de 20126

A casa da família Lutzen-berger está em processo

final de recuperação, a con-clusão da obra não deve pas-sar de julho. Agora reformada, servirá de sede da empresa Vida. Mas preservará aspectos da vida dos Lutzenbergers.

Ano passado a casa foi tombada como patrimônio do município. É um dos últimos exemplares de residência do início do século passado que ainda existem, foi planejada e construída pelo pai do ambi-entalista, o arquiteto e artista plástico Joseph Lutzenberger.

Flávio Kiefer, responsável pelo projeto, diz que o desafio é adaptar a casa para uma em-presa contemporânea, conse-guindo preservar a história.

Entre outras benfeito-rias, o prédio irá receber um elevador, climatização em todos os ambientes da casa e a construção de uma sala adi-cional por pavimento. No an-dar térreo, será montado um pequeno auditório onde ficarão os memoriais do pai e do avô, com a exposição de peças da família - como a máquina de escrever do ambientalista.

Casa terá memorial

Vitral com o brasão da família Lutzenberger. No alto, desenho origi-nal da casa, de 1923.

Objetos da família serão expostos num memorial, como a bicicleta e o boné de Lutz (esquerda abaixo). O jardim do ambientalista também será preservado (direita abaixo).

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Porto Alegre, maio de 2012 7

A cara do Bom Fim Um dos lugares mais que-

ridos do Bom Fim fez aniversário. Há exatos 30 anos – em 9 de maio de 1982 –, a Lancheria do Parque abria suas portas no número 1.086 da avenida Osvaldo Aranha, em frente à Redenção.

Em três décadas, o am-biente da “lanchera” pratica-mente manteve-se como o original – sem nunca deixar de atrair o público. A história começou quando seu Ivo Salton e dona Inês resolveram abrir o restaurante. O local transformou-se rapidamente em ponto de encontro das tri-bos mais ecléticas da Capital: os yuppies da década de 1980, os alternativos, os punks, etc.

O ambiente democrático é até hoje a grande marca da lanchera. Das primeiras horas, com o balcão concorrido por vigias, brigadianos, enfermei-ras e médicos do plantão do HPS; a turma saudável que vai lá durante o dia tomar um sucão após a corrida no parque, até os pinguços que entram noite a-dentro bebendo cerveja.

A lenda é que houve um tempo em que o bar não fecha-va nunca. Sobreviveu ao auge da esquina maldita, às drogas, às frequentes brigas nos anos 90. Com o fim da boêmia na Osvaldo Aranha, a Lancheria perdeu parte do seu público noturno. Mas ainda fica aberta das seis da manhã até por volta da meia noite.

A casa ainda conta com o que deve ser o mais longo buf-fet da região. Entre as 10h e as 22h, é possível comer um prato de comida caseira pelo preço mais acessível da Osvaldo. O bufê livre custa R$ 8,00 e os alimentos são repostos quase

até a hora de fechar o bar. “En-quanto tem gente comendo, mantemos os pratos quentes”, observa seu Salton.

O ambiente não tem nada de especial: mesas de már-more, cadeiras de madeira e o tradicional balcão de metal com bancos altos, de onde se pode escolher os salgados pelo aspecto.

Há todo o universo dentro da lancheria. A cada horário, um público. A cada dia da se-mana, um frequentador. E, em alguns instantes, uma parcela expressiva de todas as facções num convívio barulhento, apa-

rentemente desarmônico. Já sobre o negócio, seu

Salton não revela muito. Com muito custo, conta que em média são vendidos mil pães por dia. “Suco não tem como contar”, desvia. Sempre dis-creto, tenta explicar o sucesso e a longevidade da Lanche-ria - “resumir é sempre difícil. Acho que ter clientes que nos apreciam e nos ajudam a man-ter o padrão, trabalhar com uma equipe sintonizada, com entusiasmo, e saber improvisar quando acontecem os impre-vistos, sempre tentando mel-horar”, diz.

Gerenciado pelo publici-tário Alexandre Barboza, o Cumbuca Bistrô é um novo e agradável recanto culinário no bairro.

Localizado na Felipe Camarão, 594, a casa ofe-rece um serviço composto de entrada mais prato principal, e tudo é servido em cum-bucas. O bistrô conta com um cardápio fixo, onde dia-riamente o cliente encontra uma novidade, através das sugestões do dia. O mesmo acontece com as sobremesas.

Há ainda algumas op-ções de cervejas artesanais, vinhos e espumantes.

Alexandre conta que a partir de maio o bistrô abrirá de terça até domingo, com almoço todos os dias. Já nas sextas e sábados o bistrô pas-sa a atender o público até as

dez da noite. Com uma decoração que

deixa o ambiente agradável, o Cumbuca e ótima opção para o almoço ou, agora, para o jantar. Confira.

Lanchera: público eclético, ambiente simples, atendimento rápido e suco natural na jarra do liquidificador.

Almoço servido na cumbuca

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Porto Alegre, maio de 20128

O cerco da fiscalização ao bairro Cidade Baixa, principal reduto boêmio de Porto Alegre, já completou seis meses e vai se prolongar por mais três, se-gundo a prefeitura.

Nove órgãos municipais* integram a força tarefa que fará operações nos fins de semana até agosto.

A repressão começou em novembro do ano passado a partir de reclamações de mo-radores incomodados com o barulho e as manifestações de violência nas madrugadas.

Na região, funcionam 262 estabelecimentos, entre bares, restaurantes e casas noturnas. Os proprietários formaram uma associação para defender os seus direitos. Eles estimam que houve até agora uma queda de 40% no faturamento.

O maior problema estaria na rua João Alfredo, onde al-guns botecos começaram a vender cerveja mais barata, em copo de plástico, atraindo muita gente, principalmente jovens. Lugares onde cabem 40 pessoas, recebiam até 300, provocando aglomerações nas calçadas e no meio da rua.

No primeiro momento foram fechados 22 bares que não tinham alvará para funcio-nar além da meia noite.

A Secretaria de Indústria e Comércio (SMIC) alega que desde janeiro de 2011 vinha notificando os bares que fun-cionavam de forma irregular.

O chefe de fiscalização, Rogério Teixeira, lembra que só em novembro foi tomada a decisão de fechar estes locais. E que além de moradores, ha-via queixas de empresários que agem de forma legalizada, portanto com custos maiores, e que se sentem prejudicados.

Um Grupo de Trabalho foi formado com a participação de moradores e comerciantes.

Duas audiências públi-cas já foram feitas para dis-cutir propostas a questão dos horários de funcioamento e a regularização de bares e casas noturnas.

A medida mais polêmica foi a que restringiu a música ao vivo a apenas lugares fechados. Os músicos, que trabalham na região, organizaram um inédito protesto - uma passeata musi-cal pelo bairro, em “defesa do direito ao trabalho”.

No inicio de maio, o pre-feito José Fortunati assinou um decreto que estabelece novos horários para o comércio no-turno e outro que visa facilitar a obtenção de alvarás para os estabelecimentos do bairro.

Os bares poderão ficar a-bertos até às 1h de domingo a quinta-feira. Nas sextas, sába-dos e vésperas de feriados, o funcionamento poderá ir até às 2h, com as mesas do lado de fora – sempre com tolerância de meia hora.

Cláudio Freitas, propri-etário do Bar Parangolé, está satisfeito com o acordo “O meu bar não teria condições de sobreviver. É um bar pequeno, com música ao vivo. As pes-soas começam a chegar quase às 22h. Fechar a meia-noite era suicídio. Entendo os mo-radores, que querem silêncio, mas temos que ter espaço para desopilar”, coloca.

No segundo decreto está prevista a distinção dos estabe-lecimentos (bares, restaurantes e casas noturnas) para obten-ção do alvará. Bares com músi-ca ao vivo, por e xemplo, tem que ter alvará específico.

A intenção é facilitar a regularização, mas há recla-mações. Luiz Alberto Jeziorny, um dos sócios do Mr. Dam, diz: “Espero o alvará especí-fico há seis anos, desde que abrimos a casa”. Também há queixas contra as constantes blitz, que afugentam os fre-quentadores. “Tínhamos uma média de 700 pessoas por fim de semana. Hoje não chega a 250 pessoas”. diz Alberto.

Cidade Baixa segue sob pressão

Os decretos do prefeito valem por 90 dias. Nesse período, a força-tarefa estará nas ruas de quinta-feira a do-mingo. “Vamos manter inten-sas as fiscalizações”, disse em nota o secretário Omar Ferri Jr, da SMIC.

A nova varredura começou nos dias 11 e 12 de maio. Só a secretaria da Saúde fez 19 vistorias no bairro. Re-sultado: 16 notificações e sus-pensão das atividades de um bar. A ação contou com dois médicos veterinários e seis fis-cais da Equipe de Vigilância de Alimentos da Coordenadoria-Geral de Vigilância em Saúde. A maior parte das notificações foi referente “à regulariza-ção para alvará sanitário, falta de higiene e limpeza, ovos e produtos sem indicação de procedência e fora do prazo de validade”. Já foram vistoriados 86 estabelecimentos no bairro.

Segundo Adilar Biasibetti, sócio do Via Imperatore e do Boteco do Joaquim “o que não se quer é criar uma atmosfera que afaste o público da Cidade Baixa. Se essa sensação per-manecer a noite sofrerá muito”, diz ele.

A futura Associação dos Comerciantes da Cidade Baixa já conta com apoio de mais de 40 donos de bares e restauran-tes. Eles querem definir ações e buscar uma representação jun-to aos órgãos públicos para que haja um diálogo permanente.

A primeira ação do grupo é uma campanha com dicas de boa convivência na noite. A iniciativa, assinada por Ci-

Comerciantes lançam campanha

dade Baixa em Alta, já ganhou repercussão nas redes sociais. Há folhetos sendo distribuídos nos bares e um site na internet - cidadebaixaemalta.com.br. “O objetivo é mostrar que o bairro é seguro e cheio de oportuni-dades aos frequentadores, res-gatar a imagem de uma noite pacifica e divertida”, explica o proprietário do Zelig Bar, Pau-lo Pio. O segundo passo da as-sociação será formalizar a equi-pe que irá dialogar diretamente com a SMIC e a Brigada Mili-tar para amenizar o problema do excesso de blitz na região. Pequenos bares na João Alfredo são os principais alvos.

Força tarefa têm integrantes de nove órgãos municipais.

Operações semanais continuarão nos próximos três meses.

Passeata de músicos contra horário reduzido. * Secretarias da Indústria

e Comércio, Saúde, Meio Ambi-ente, Obras, Guarda Municipal, EPTC, Departamento de Limpeza Urbana e FASC, além da Brigada Militar.

Movimento teve ações culturais no fim de semana.