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IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL TÍTULO DO TRABALHO ECODESENVOLVIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECOURBANISMO: Uma reflexão sobre as questões sócio ambientais no município de Santa Cruz do Sul. TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 11 Meio ambiente, políticas públicas e gestão territorial. AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO Milton Roberto Keller UNISC CO-AUTORES INSTITUIÇÃO 1 Glória Silvina Fernández Molina UNISC RESUMO DO TRABALHO Neste artigo faze-se uma reflexão em relação às questões ambientais, principalmente no que se refere ao desenvolvimento sustentável e a nova reorganização territorial em função do planejamento urbano. Tendo em vista os problemas causados pela ocupação do solo por aglomerados urbanos, este trabalho visa investigar seus reflexos sobre a natureza e de que maneira este fato aconteceu. Assim, como os conceitos de ecodesenvolvimento e ecourbanismo vêm sendo utilizados como portadores de um novo projeto para a sociedade, capazes de garantir no presente e no futuro, a sobrevivência dos grupos sociais e da natureza. PALAVRAS- CHAVE Planejamento urbano, desenvolvimento sustentável, ecodesenvolvimento, ecourbanismo. ABSTRACT This paper aims to reflect about the environmental issues, mainly, what is concerned to the sustainable development and the new territorial reorganization according to urban planning. This work pretends to investigate the disorders caused by the occupation of land by urban areas and the reflections on the nature and in what way this fact happened. Thus, as the concepts of ecodesenvolvimento and ecourbanismo are being used as carriers of a new project for society, capable of guaranteeing in this and in the future, the survival of society and nature. KEYWORDS Urban planning, sustainable development, ecodesenvolvimento, ecourbanismo.

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IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

TÍTULO DO TRABALHOECODESENVOLVIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ECOURBANISMO:

Uma reflexão sobre as questões sócio ambientais no município de Santa Cruz do Sul.

TÓPICO TEMÁTICONúmero Descrição11 Meio ambiente, políticas públicas e gestão territorial.

AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO

Milton Roberto Keller UNISC

CO-AUTORES INSTITUIÇÃO

1 Glória Silvina Fernández Molina UNISC

RESUMO DO TRABALHONeste artigo faze-se uma reflexão em relação às questões ambientais,

principalmente no que se refere ao desenvolvimento sustentável e a nova reorganização

territorial em função do planejamento urbano. Tendo em vista os problemas causados

pela ocupação do solo por aglomerados urbanos, este trabalho visa investigar seus

reflexos sobre a natureza e de que maneira este fato aconteceu. Assim, como os

conceitos de ecodesenvolvimento e ecourbanismo vêm sendo utilizados como portadores

de um novo projeto para a sociedade, capazes de garantir no presente e no futuro, a

sobrevivência dos grupos sociais e da natureza.

PALAVRAS- CHAVE

Planejamento urbano, desenvolvimento sustentável, ecodesenvolvimento, ecourbanismo.

ABSTRACTThis paper aims to reflect about the environmental issues, mainly, what is

concerned to the sustainable development and the new territorial reorganization according

to urban planning. This work pretends to investigate the disorders caused by the

occupation of land by urban areas and the reflections on the nature and in what way this

fact happened. Thus, as the concepts of ecodesenvolvimento and ecourbanismo are

being used as carriers of a new project for society, capable of guaranteeing in this and in

the future, the survival of society and nature.

KEYWORDS

Urban planning, sustainable development, ecodesenvolvimento, ecourbanismo.

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ECODESENVOLVIMENTO,

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E

ECOURBANISMO:

Uma reflexão sobre as questões sócio ambientais no município de Santa Cruz do Sul.

Glória Silvina Lia Fernandez Molina

Milton Roberto Keller

INTRODUÇÃO

Na civilização ocidental a preocupação com o meio ambiente surge a partir de

documentos relacionando temas como ambiente natural e os artificiais desenvolvidos pelo

homem. Vitruvio, no século I A.C., já salientou a importância da orientação solar, a

iluminação e o entorno. Para este autor o planejamento estava centrado no homem e a

natureza e seus recursos estavam voltados a servir a humanidade.

Este conceito se manteve vigente por muito tempo e com a chegada do século XIX

uma nova tendência se apresenta para minimizar os efeitos das cidades industriais que

surgiam e consequentemente tornavam-se insalubres. Para tanto, segundo Ruano (1999,

p.7): “provocaron uma tendencia de verde para la salud, como la que se reflejó em las

ciudades jardín de Ebenexer Haward o en el plan de Reforma de Ensanche para la ciudad

de Barcelona, del ingeniero Ildefons Cerda”.

Inicia, portanto, um novo conceito de urbanização onde temos a ocupação territorial

considerando e preservando a natureza como aliada ao bem estar do homem, mas ainda

prevalecia a antiga conotação de que o ambiente natural era um bem susceptível e de

apropriação do ser humano. Entende-se a partir de então que os primeiros passos para

uma conscientização surgiam. Assim, Maria Assunção Ribeiro Franco (2001, p.19) salienta

que:

“O planejamento Ambiental teve precursores no início do século XIX compensadores como John Ruskin na Inglaterra, Viollet-le-duc na Franca e HenryDavid Thoureau, George Perkins Marsh, Frederick Law Olmsted e outros nos

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EUA. As idéias desses homens, consideradas por vezes muito utópicas eromânticas para a época, mostram hoje que aqueles pensadores tiveramuma incrível premonição do futuro e foram capazes de vislumbrar a escassezde recursos, num momento em que era implementada, a todo vapor, aprimeira revolução industrial, sob a égide do positivismo e do liberalismoeconômico e que, pelo visto, pressupunha a inesgotabilidade dos recursos daTerra. Portanto, o que aqueles homens falavam ia exatamente contra agrande onda que se formava então. Imagine o que representava, nummomento de expansão da indústria, das comunicações férreas, danavegação a vapor e da exploração colonialista, falar na proteção dos rios edas florestas, na preservação da pureza das águas, do ar e do solo.”

Este trabalho discute diversos aspectos do conceito de desenvolvimento sustentável,

as conseqüências da ocupação territorial e o novo planejamento urbano em função das

desordens provocadas pelo uso irracional dos recursos naturais. Na primeira parte, de

natureza histórica, apresentamos as características da urbanização a principio de século XX

e os problemas atuais. Numa segunda parte, analisamos algumas características do

conceito de ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável e o uso dessa expressão

em alguma das produções bibliográficas mais recentes e na mídia. Deve-se ressaltar que às

vezes a definição de sustentabilidade abrange muitos aspectos da realidade que nem

sempre podem ser articulados dentro de uma teoria.

Em um terceiro momento, faz-se uma reflexão sobre estes aspectos no caso de

Santa Cruz do Sul e, por último, indicamos algumas alternativas e estratégias de

desenvolvimento que tenha como alicerce o conceito de planejamento ambiental e o

ecourbanismo. Este artigo constitui parte dos resultados de uma pesquisa realizada em

forma interdisciplinar nas áreas de arquitetura, urbanismo e economia.

REFLEXOS DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL, PLANEJAMENTO E

SUSTENTABILIDADE

Tendo em vista os problemas causados pela ocupação do solo por aglomerados

urbanos e se investigarmos seus reflexos sobre a natureza e de que maneira este fato

aconteceu, nos resta estudarmos a história e as mudanças sócio-culturais pelo qual

passamos ao logo do tempo e se agravando ainda mais a cada período histórico. Para

Françoise Choay (1980, p.18).

“No entanto o urbanismo não escapa completamente à dimensão doimaginário. Os primeiros urbanistas têm um poder reduzido sobre o real; oratem de enfrentar condições econômicas desfavoráveis, ora se chocam com

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todo o poder de estruturas econômicas e administrativas herdadas do séculoXIX, as sociedades capitalistas liberalizam-se e suas classes dirigentesretomam, cotando-as de suas raízes, certas idéias e propostas dopensamento socialista do século XIX.”

No movimento arquitetônico moderno o urbanismo se apresenta de forma defensiva

no debate relacionado ao ambiente natural e segundo Ruano (1999, p.8): “el movimiento

moderno seguía considerando la naturaleza como um mero telón de fondo de la

urbanizacion, y las zonas verdes como una más de las funciones que debía proporcionar la

ciudad para el bien estar de sus habitantes”.

Na atualidade preocupações sobre o esgotamento dos recursos naturais estão

presentes já no planejamento e não somente fatores como o bem estar do ser humano

ocupam espaço nas discussões. Ao se tratar do espaço físico que habitamos, entende-se

como uma dimensão finita, necessita redefinir a forma como está sendo usado de modo a

minimizar atos irreversíveis além da tentativa de harmonizar seus usos. Para reforçar esta

afirmativa, Sachs (1986) ressalta que: “No exame dos problemas ambientais, constata-se

que o ambiente está intimamente ligado aos recursos naturais. Na verdade, esses

problemas compreendem dois aspectos diferentes: “o equilíbrio de recursos” e “oferta

limitada” na Terra”.

No início do século XX as áreas urbanas eram habitadas pelo equivalente a 10% da

população do planeta e atualmente este percentual gira em torno de 50%. Algumas

perspectivas indicam que até o final do primeiro quartel deste século poderá chegar a três

quartos o número de habitantes ocupando áreas urbanas ocasionando um colapso, já que

são justamente as cidades as principais responsáveis pelos problemas ambientais vigentes.

Sabe-se que hoje as cidades contribuem com a poluição em uma proporção de

aproximadamente 75%, consumindo cerca de 70% da energia produzida. Sirkis (2003)

salienta que: existem 19 mega cidades, das quais 15 localizadas nos países em

desenvolvimento, com população acima de 10 milhões de habitantes. Por sua vez, Ruano

(1999, p.7) acrescenta que:

Esta situación dará lugar a unas zonas urbanas extremadamente conflictivas,insalubres e inmanejables, habitadas por unas masas antisociales deindividuos desesperados y alienados, lo que resultará en un aumentodesproporcionado de la ya fuerte presión sobre el medio ambiente. Dado quelas ciudades son las principales causantes de la destrucción ecológica global,parece obvio que los problemas medioambientales deban abordarse yresolverse en primer lugar y principalmente en las ciudades. (Ruano, 1999,p.7)

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Como o homem se apropriou do espaço natural de forma agressiva, hoje o caminho

começa a mudar o enfoque para uma gestão dos solos, das águas e das florestas

diametralmente oposta às suas atitudes até então, pois sua maneira de agir se embasava

em aproveitar os recursos da natureza em nome da rentabilidade. Rentabilidade muda para

o conceito de sustentabilidade. O modelo de desenvolvimento vigente, que tem como meta

a competitividade, deve mudar seu rumo, para poder preservar os ecossistemas. Ele deve

ser substituído por um modelo econômico capaz de gerar riqueza e bem-estar enquanto ao

mesmo tempo promove a coesão social e impede a destruição da natureza. Esse novo

modelo procuraria a utilização dos recursos naturais sem comprometer a produção. Ele

tentaria aproveitar a natureza sem devastá-la e buscaria a melhoria da qualidade de vida.

Este novo modelo se contrapõe ao padrão ocidental de produção e consumo, que

ameaça o equilíbrio do planeta. O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes

desequilíbrios. Se por um lado nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro

lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia a dia.

Conforme Cavalcanti (2001), a busca de sustentabilidade resume-se à questão de

atingir harmonia entre seres humanos e a natureza. As dificuldades enfrentadas hoje pela

economia globalizada, têm relação com a questão ambiental em seu sentido mais amplo.

Em uma postura ecológica a perspectiva de sustentabilidade se assenta em três

princípios fundamentais citados por Franco (2001):

* Conservar os sistemas ecológicos sustentadores da vida e da biodiversidade;

* Garantir a sustentabilidade dos usos que utilizam recursos renováveis:

* Manter as ações humanas dentro da capacidade de carga dos ecossistemas

sustentadores.

Portanto, o conceito de desenvolvimento sustentável tem uma grande complexidade,

pois para ser implantado exige mudanças fundamentais na maneira de pensar, viver,

produzir e consumir entre outros. Assim os quatro fatores que são apontados como os de

maior influência na sustentabilidade ambiental são: a poluição, a pobreza, a tecnologia e o

estilo de vida.

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O desafio está em projetar novos estilos de desenvolvimento embasados na

harmonização entre o crescimento econômico e o social com uma gestão racional do

ambiente. Economistas clássicos usam o termo sustentabilidade com uma conotação de

equilíbrio, mas hoje este termo já se apresenta de forma muito mais dinâmica, refere-se a

um processo evolutivo sustentável de mudança contínua.

Sachs, já em 1986, apontava que uma das maneiras para harmonizar este processo

seria a escolha de tecnologias apropriadas e economicamente “sãs”, mas percebe que

ainda era precária a tecnologia apropriada para tal. Para cada contexto ecológico,

econômico e social, e para um dado período de tempo, há que se especificar critérios de

adequação e aplicar uma análise comparativa de possíveis opções tecnológicas que

possam ser utilizadas.

Tem-se claro que a estratégia de desenvolvimento deve empregar uma série de

tecnologias com o mínimo grau de desperdício. A substituição de recursos não renováveis

por recursos renováveis é o princípio no qual se fundamentam as opções energéticas.

Assim, o uso de recursos renováveis abundantes ao invés de recursos escassos não

renováveis é um princípio de orientação óbvio na estratégia de harmonização do

desenvolvimento com a gestão racional do ambiente e de recursos energéticos. Acrescentar

uma dimensão ambiental ao conceito de desenvolvimento e de planejamento do

desenvolvimento é fundamental nesta discussão. Franco (2001) salienta que:

“Os recursos ambientais (ecológicos e sociais) são, portanto, intimamenterelacionados e interdependentes. Tanto a pobreza quanto o crescimentoacelerado da população, a destruição dos recursos e a degradação do meioambiente estão sempre conectados. (Franco, 2001, p.43).”

A ecologia e a tecnologia apenas acabam de deixar um lado de seu enfrentamento

para superar os limites de sua confrontação ideológica. Hoje em dia as estratégias para se

conseguir um desenvolvimento sustentável integram necessariamente os dois campos

aliados a uma nova visão de futuro. A sustentabilidade está cada vez mais presente nos

debates e discussões e está se introduzindo nas atividades humanas, sobretudo no

desenho urbano. Para Miguel Ruano (1999, p.9), “sus nuevos objetivos son el diseño, el

desarrollo y la gestión de comunidades humanas sostenibles”.

Os estudos de Miguel Ruano (1999, p.7) apontam para uma incerteza sobre os

aspectos existentes em um assentamento humano sustentável e seu funcionamento. O

autor aborda a respeito das pequenas vilas européias da Idade Média e as aldeias

7

pré-históricas que se embasavam no paradigma da sustentabilidade (os recursos que

extraíam do entorno sem desperdícios adicionais). Provavelmente pelas dimensões e

proporções dos mesmos, aparentavam ser sustentáveis, sendo que os prejuízos causados

ao meio ambiente eram mínimos ou até mesmo absorvidos. Esta suposição é uma crítica ao

acelerado crescimento urbano atual.

Alguns projetos voltados à sustentabilidade urbana surgiram em meio à discussões

ecológicas em contraste com as meras tentativas apenas intuitivas. Os ecologistas

atualmente têm colaborado com os urbanistas nas questões científicas para o

embasamento de suas decisões. Visto que as cidades são consideradas como complexos

ecossistemas artificiais construídos para satisfazer as necessidades do homem, estes

aglomerados desprezam o ambiente natural e as outras espécies que o compõem, cujo

impacto sobre o entorno natural deve ser questionado.

Não pensar apenas o local, mas a micro-região, região ou país. Essa mesma postura

racional inspira um planejamento no qual, em vez de constituir um setor a mais, o ambiente

aparece como uma dimensão horizontal do desenvolvimento. Ao lado de suas dimensões

culturais, sociais e econômicas, o planejamento se transforma, assim, em um jogo de

harmonização destes, cujas variáveis se situam em dois níveis:

Demanda, condicionada pelos estilos de vida, pelos modelos culturais, dos tempos

sociais e pelas estruturas de consumo;

Oferta, onde intervêm as funções de produção (combinações de recursos, de

energia e de formas de utilização do espaço, interligado pelas técnicas e relacionado

ao contexto institucional).

O planejamento regional é uma forma muita citada por autores e através deste processo

ele poderá se tornar um dos meios para agregar a dimensão ambiental ao planejamento do

desenvolvimento. Salienta-se que a região tenha um amplo conhecimento de seu próprio

meio ambiente.

Quando houver a implantação de um projeto sobre o ambiente, este deverá sofrer uma

avaliação de impacto ambiental, sendo que muitas vezes não acontece este processo.

Segundo Almeida (2002), este procedimento é fundamental para servir de: “instrumentos de

planejamento e de gestão do território, em níveis nacional, regional e local. A discussão

8

sobre avaliação de impactos e os resultados decorrentes pode servir para melhorar a

racionalidade do possesso de planejamento territorial.”

Com a procura da maximização da eficácia e de minimização dos custos somente

levará a resultados positivos.

Se as relações entre os conteúdos e modos de avaliação de impacto e osconteúdos e modos de planejamento territorial, nos diversos níveis, foremconsiderados elementos de um mesmo problema e se ficarem claras asrelações e a divisão de tarefas entre o novo instrumental e os instrumentos jáem uso. Este último, de fato, continua a constituir, com todas as limitaçõesque lhes caso conhecidas, o quadro de referência da racionalidade dasintervenções públicas e privadas. (Almeida, 2002, p.250)

Para Sachs (1986), as estatísticas não registram a maior parte dos custos;

contabiliza-se de igual forma os fluxos de bens obtidos através da valorização de recursos

renováveis e as retiradas feitas sobre o estoque do capital da natureza. Na concepção de

sistemas de produção criados pelo homem, a ecologia intervém em dois níveis: os que irão

promover leis onde os ciclos da natureza deverão ser respeitados (impondo limites à

criatividade do homem e ao otimismo tecnológico); e a observação dos ecossistemas

naturais que oferecem um excelente paradigma aos sistemas concebidos pelo homem.

Com as diferenças sociais sempre presentes na evolução da humanidade, este fato

implica que uma grande parcela da população viva à margem do sistema. Portanto esta

parcela sem acesso aos recursos financeiros promove, entre outras coisas, um importante

processo de deterioração do meio ambiente, utilizado como recurso final na resolução de

problemas urgentes de subsistência tais como despejo de dejetos sem tratamento.

Sendo então o meio ambiente violado em função das necessidades básicas dos

mais carentes. Almeida (2002) destaca que esse processo pode adquirir: proporções

gigantescas quando começam a produzir-se grandes concentrações de populações

marginais, decorrentes da migração campo-cidade, do desemprego, dos desastres naturais.

Infere-se, sem dúvida, que os impactos da poluição acabam por exigir uma tomada

de decisão muitas vezes duvidosa, uma vez que alguns efeitos cumulativos da poluição e do

esgotamento dos recursos naturais acabam sendo irreversíveis. Como meta se encontra a

proteção do meio ambiente, sendo, o combate à poluição um dos itens que exigem

adaptação e/ou transformações inovadoras para os processo e técnicas de produção

utilizada até então.

9

Com o avanço da biotecnologia está em andamento uma redução da poluição, na

reciclagem do lixo da agroindústria, na restauração do meio ambiente degradado, na

despoluição da água e no tratamento de rejeitos perigosos. Para Ruano (1999), fatores

relevantes em relação à tecnologia proporcionaram reflexões a respeito de energia e

reciclagem:

“La contribución de la tecnología a este audaz e innovador planteamientoresulta especialmente evidente en dos aspectos concretos. Por un lado, loque podría definirse como “ecotenologia” después de tres décadas de intensainvestigación teórica y aplicada, ya permite hoy en día hacer un uso másracional de las fuentes de energía renovables y no renovables. El reciclaje deresiduos sólidos y líquidos, el recusa a fuentes alternativas de energía o lacreación de microclimas ya no son meras utopías sino realidades efectivas ytangibles que están funcionando satisfactoriamente en muchos lugares delmundo, tanto a escala urbana como en edificios concretos.” (Miguel Ruano,1999, p.9)

Neste início de século a economia ainda está caracterizada por elevado desperdício

de recursos energéticos. O processo para geração de nova energia é muito mais caro do

que a sua conservação e economia. Este pensamento vale para o caso da água, o da

gestão dos recursos sólidos, a recuperação e reutilização de materiais. Neste sentido uma

manutenção adequada das infra-estruturas, dos equipamentos e bens de consumo, de

modo a prolongar sua vida útil, promove uma economia de capital necessário à sua

reposição.

ECODESENVOLVIMENTO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Para que se possa promover o ecodesenvolvimento algumas questões se tornam

fundamentais, como: ambiental, tecnológica e econômica. Ecodesenvolvimento, segundo

Sachs (1986) surgiu a partir de uma polêmica entre os partidários do crescimento selvagem

e os “zeristas”, vítimas do absolutismo do critério ecológico a ponto de perderem a visão

antropocêntrica do mundo. Este movimento aborda novas formas de desenvolvimento e de

crescimento, tanto no plano das finalidades como no dos instrumentais, sobre o uso do

meio ambiente. Proporciona uma visão ampla para o planejador contemplando a

antropologia cultural e a ecologia.

Sob o enfoque econômico, a questão atinge outros patamares, uma vez que a idéia

de proteção ambiental destrói os princípios de que a natureza é fonte inesgotável de

10

recursos. Nas últimas décadas estes estudos sofreram modificações a ponto de atualmente

já se usar o termo Economia Ecológica. Ecodesenvolvimento proporciona um caráter

dinâmico que se afasta muito da idéia de equilíbrio estático dos economistas clássicos,

refere-se a um processo evolutivo sustentável de mudança contínua.

“Ecodesenvolvimento postula uma visão solidária em longo prazo abrangendotoda a humanidade. Mas a ênfase deverá recair sobre os espaços daautonomia local que será preciso identificar, ampliar e consolidar, fornecendoa ajuda necessária a romper certos pontos de estrangulamento. São váriasas razões a favor dessa mudança de perspectiva, que faz do escalão local oponto de partida e não o resultado longínquo do desenvolvimento.” (Sachs,1986, p.115)

Entende-se por ecodesenvolvimento (local, rural ou urbano), um referencial por onde

circulam posicionamentos relativos a movimentos políticos e sociais que produzem

desenvolvimento. Estas propostas estão embasadas e direcionadas no sentido de se

pensar o desenvolvimento de maneira horizontal, pondo à prova a imaginação social

concreta e a ocasião de interligar conjuntos de interesses reais no âmbito de grupos

humanos.

Historicamente o termo Ecodesenvolvimento foi citado, segundo Franco (2001,

p.26), na Reunião do FOUNEX (Report on Development and Environment) em 1971 e o

conceito de Desenvolvimento Sustentável surgiu da Estratégia Mundial para a Conservação

(World Concervation Strategy) lançada pela União Mundial para a Conservação (IUCN) e

pelo Fundo Mundial para a Conservação (WWF), apoiados pelo Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Mas o conceito de desenvolvimento sustentável foi amplamente difundido e

popularizado em 1987, a partir de um informe realizado pelo presidente da Comissão

Mundial da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), a ex-ministra

norueguesa Gro Harlem Brundtland e o representante das Nações Unidas, Mansour Khalid.

Ali surge a seguinte definição:

“Desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que satisfaz asnecessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futurasgerações satisfazerem as suas próprias necessidades.”

Aquele informe, conhecido e publicado no Brasil no ano 1987 sob o título “Nosso

Futuro Comum” é apresentada uma lista de medidas a serem tomadas pelos estados

nacionais visando a proteção e preservação do meio ambiente.

11

Em junho de 1992, reuniram-se no Rio de Janeiro, mais de 35 mil pessoas, entre

elas 108 chefes de Estados, para participar da conferência da ONU sobre Meio Ambiente.

Após negociações marcadas por diferenças de opinião entre o Primeiro e o Terceiro Mundo,

a reunião produziu a Agenda 21, documento com 2.500 recomendações para implantar a

sustentabilidade. Entre os resultados da Cúpula da Terra, como foi chamada também a

ECO 92, se visualizou uma preocupação pela exploração sustentável do patrimônio

genético. Apesar das pressões exercidas por Estados Unidos para eliminação de metas e

cronogramas para a eliminação de poluentes, a conferencia resultou numa tomada de

consciência sobre os perigos que o modelo atual de desenvolvimento econômico significa.

Na Eco-92 e na Rio + 10, reunião realizada em Johannesburgo, dez anos depois, o

desenvolvimento sustentável foi o centro das discussões.

O conceito de desenvolvimento sustentável propõe mudanças no sentido de que o

uso dos recursos, a direção dos investimentos, o desenvolvimento tecnológico e as

alterações institucionais devem concretizar a capacidade de atender às necessidades

humanas do presente e do futuro. Aqui conservação da natureza e crescimento econômico

são partes indivisíveis de uma mesma unidade. (Miotto, 1996, p.86).

Desde então, em um extremo se situam os ecologistas radicais, que defendem o

crescimento zero para por fim ao esgotamento dos recursos. Em outro lado, estão aqueles

que pensam que o progresso tecnológico permitirá resolver todos os problemas do

ambiente. Esta segunda visão é utilizada para explicar atitudes como a do Presidente

norte-americano, George Bush, que não ratificou o Protocolo de Kyoto (1997), sobre a

redução de gases que produzem o efeito estufa.

Assim, observam-se duas posturas divergentes priorizando objetivos diferentes. Por

um lado, os defensores do meio ambiente e das pessoas menos favorecidas e, do outro

lado, o neoliberalismo que não vê outro caminho, para o desenvolvimento, que a

maximização do lucro e a obtenção da máxima competitividade com o emprego do

conhecimento técnico e humano das regiões envolvidas.

O conceito de desenvolvimento sustentável está associado a uma enorme confusão

ideológica. Cabe questionar se ele é uma bandeira permanente dos ecologistas, e de um

grupo de políticos e economistas ou se, pelo contrário, representa uma preocupação

acadêmica que está na moda e tende a desaparecer como outras.

12

Nesse sentido, Guimarães (1995) alerta que o consenso existente em torno da idéia

de desenvolvimento sustentável é assustador. Se tivermos em conta que as idéias

neoliberais representam a ideologia que determina hoje os rumos da economia mundial,

existe uma contradição entre essa ideologia, que representa a lógica de mercado, e a noção

de sustentabilidade. No caminho da servidão, um dos livros básicos do pensamento liberal,

Hayek (1990) não manifesta nenhuma preocupação em relação à possibilidade dos

recursos da natureza virem a ser limitados.

Metodologicamente o Desenvolvimento Sustentável é a intenção desejada do

mercado mundial que deverá se moldar em uma ética ecológica nos padrões internacional

presentes nas ISOs. Assim, estará enquadrado em modelos e especificações, não restará

ambigüidade no que tange as questões ecológicas, até porque estas questões se

relacionam intensamente com a economia. Franco (2001) estabelece um paradigma para o

termo Desenvolvimento Sustentável, pois este: “pretende amalgamar em íntima simbiose a

gestão ambiental e o desenvolvimento econômico”.

Miotto (1996) destaca que, na verdade, necessitaríamos de um novo paradigma de

desenvolvimento, pois a crise mundial que estamos vivenciando é uma crise de idéias.

Nessa condição, Becker (2002, p.78) expressa que a “sustentabilidade é utilizado

como bandeira por ambientalistas e ecologistas numa tentativa de volta à natureza”, mas

afirma também que não podem ser descartados os avanços da modernidade já que esta

situação representaria um retrocesso na história da humanidade.

PLANEJAMENTO AMBIENTAL E ECOURBANISMO

Ao se tratar de Planejamento Ambiental entende-se o planejamento das ações

humanas sobre o território, inter-relacionando à capacidade de sustentação dos

ecossistemas no diversos níveis até se chegar a uma escala planetária. A preservação

encontra-se no foco da discussão sempre salientando a melhora da qualidade de vida

humana, dentro de uma ética ecológica. Franco (2001) destaca que o Planejamento

Ambiental é, portanto, também um Planejamento Territorial Estratégico, Econômico

ecológico, Sociocultural, Agrícola e Paisagístico. Suas ações transcendem as fronteiras dos

países já que estamos tratando de ecossistemas.

13

Segundo a Agenda 21, os países devem promover uma “cultura de segurança”

através da educação pública. Portanto, o Planejamento Ambiental poderá servir de base

referencial aos possíveis acidentes ambientais, irá contribuir nas suas pesquisas alertando

sobre os riscos de determinados tipos de assentamentos urbanos, setores industriais e as

questões relativas ao lixo entre outros assuntos.

O monitoramento poderá ser feito por especialistas em nível mundial para servir de

apoio à demanda relativa a este assunto. Este relatório entende que as atividades

sustentáveis são as melhores para o contexto geral e aponta o ramo da indústria da

construção como um bom negócio que pode ajudar a alcançar muitos objetivos na área da

habitação, incluindo abrigo, infra-estrutura e emprego, sendo preciso tomar cuidado para

não esgotar os recursos naturais, degradar o ecossistema e causar a poluição.

Ecourbanismo define o desenvolvimento das comunidades em suas dimensões

sustentáveis através de um planejamento construtivo preservando o entorno sempre em

harmonia. Este conceito está alcançando bom resultado junto aos planejadores, visto que é

essencial no que tange aos projetos urbanísticos que almejam uma consonância com o

ecossistema. Para Ruano (1999), “El Ecourbanismo es una nueva disciplina que articula las

múltiples y complejas variables que intervienen en una aproximación sistémica al diseño

urbano que supera la compartimentación clásica del urbanismo convencional.”

Nos estudos urbanísticos desenvolvidos a partir da visão do ecourbanismo

percebe-se uma dimensão que vai além dos critérios estabelecidos pelas linhas de

pensamento formais. O trabalho apresenta uma visão mais unificada e integrada ao

conjunto dos aspectos gerais de todo o sistema.

QUESTÕES SÓCIO AMBENTAIS NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ DO SUL

A povoação de Santa Cruz foi, no ano de 1859, elevada à freguesia pela Lei n° 432.

Em 1872, e passa a ser Distrito de Rio Pardo. No ano de 1878 foi emancipado e houve

instalação da Câmara Municipal. Já em 1877, transforma-se em vila pela Lei n° 1079. Estes

foram os episódios sob o aspecto legal, mas, praticamente, a vida autônoma do município

somente iniciou com o Ato de sua Instalação, em 28 de setembro de 1878.

14

Sua urbanização inicial foi um traçado de ruas ortogonais demarcadas em quadras,

tendo estes 132m de face (Figura 1). Cada quadra tinha 22 lotes a serem vendidos, sendo

essas quadras designadas pelas letras “A” até “U”. Souza (1991) salienta que o traçado

xadrez acontece todas as vezes em que haja urgência na implantação dos núcleos, seja por

razões militares, seja por razões de colonização, ocupação de territórios ou até mesmo por

especulação imobiliária.

Portanto, Santa Cruz, utilizando-se de um traçado xadrez (Figura 2) para sua

urbanização, passou, a partir de 1855, a dar concessões de seus lotes, e muitos foram seus

requerentes nas quadras já demarcadas. Com o passar dos anos, a Povoação de Santa

Cruz foi tomando forma, concentrando população e dando início à instalação de atividades

não rurais.

15

FIGURA 1 –Planta daPovoação deSanta Cruz de1855.Fonte: AHRP.

No início do século

X X inicia-se a fase

arquitetônica em

estilo eclético da

cidade. Neste

período sugiram

p r é d i o s

importantes que

ainda hoje fazem

parte do cenário

urbano, dentre

eles, a Prefeitura

Municipal, a Loja

Maçônica, a

Catedral, a Igreja

Evangélica, além

d e inúmeros prédios

bancários, colégios

e residências. A

cidade se consolida e a industrialização do tabaco impulsiona a economia da região.

16

FIGURA 2 – Plantada cidade de SantaCruz em 1822constava além dotraçado inicial oentorno com aschácaras.Fonte: AHCM

Wink (2002) salienta

que a partir da década

de 1950, a

internacionalização do

setor fumageiro

c o n t r i b u i u ,

consideravelmente,

para a aceleração do

processo de

urbanização da cidade

(Figura 3). Novos

p a r â m e t r o s

econômicos foram

implantados, originado

reflexos sobre a

estruturação do

mercado imobiliário

local. Neste período acentuou-se a segregação social através da valorização da área central

da cidade, em contrapartida ao surgimento de um número cada vez maior de vilas

operárias, carentes de infra-estrutura na periferia urbana.

17

FIGURA 3 – Mapa dacidade de Santa Cruzem 1940.Fonte: AHCM

Nas duas décadas

seguintes, a expansão

urbana se deu junto às

vias radiais que davam

acesso ao centro da

cidade. No sentido sul

em direção a cidade de

Rio Pardo, junto a

Avenida Euclides

Kliemann, surge além

de residências o início

de um pólo comercial e

industrial o qual hoje é

chamado de bairro

Arroio Grande. Neste

trajeto, naquela época,

já estavam implantados

o Quartel e o Hospital

Ana Nery.

18

FIGURA 4 - Planta de Santa Cruz de 1956.Fonte – AHCM.

Percebe-se que a região oeste foi ampliada e povoada durante a década de 1970

(Figura 4), ultrapassando os limites até então urbanizados. Foi a ocupação da área da

várzea do Rio Pardinho, que se localiza nesta direção, onde surgem os primeiros sinais de

um problema ambiental que poderia ter sido evitado. Nesta zona, de baixa cota de nível, é

que periodicamente ocorrem enchentes. Entende-se que a BR471 deveria ter sido o limite

da expansão neste sentido.

19

A Avenida radial Gaspar Bartholomay, que integra a zona, agrega um grande

número de bairros, alguns, populares junto a BR471. Nesta localidade, no ano de 1982, foi

construída a nova Estação Rodoviária, às margens da BR471, que levou a instalação em

suas imediações, de diversas empresas comerciais e de serviço.

FIGURA 5 –Vista aérea deSanta Cruz doSul na décadade 1930.Fonte: CRW.

Para o norte

a radial de

maior fluxo e

c o m

condições de

a b s o r v e r

loteamentos

é a Avenida Independência (Figura 5). Mais precisamente em direção noroeste, firmou-se

como principal eixo de crescimento devido à topografia amena que a região oferece. Ao

norte encontra-se o início da encosta que envolve a cidade em direção ao leste.

Em direção leste, o desenvolvimento se deu por dois bairros, o primeiro data de

1949 que é o Higienópolis, sendo o outro lançado apenas na década de 70 e é o loteamento

Chácara das Freiras, estes ocupam um local privilegiado em relação aos visuais e em

relação a natureza, pois define-se como uma região de pré-encosta. Surgiram, no local,

inúmeras residências e edifícios de alto padrão.

Até o início dos anos 70, predominavam, na paisagem urbana, prédios baixos e a

partir de então se inicia o processo de verticalização da zona central. Diante da necessidade

de controle da expansão urbana, foi aprovado, em 1977, o primeiro Plano Diretor de

Desenvolvimento Urbano de Santa Cruz do Sul. Sendo os usos já existentes em cada área,

maneira geral, foram respeitados e garantidos através do zoneamento da cidade.

20

Implantou-se, também, a área destinada ao distrito industrial junto a BR471, próximo a

divisa com o Município de Rio Pardo.

Para Wink (2002) foi um dos maiores investimentos realizados, nas últimas décadas,

em termos infra-estrutura urbana, contando com a participação do governo e da iniciativa

privada, atraindo, no decorrer de quase 30 anos, a quase totalidade das empresas do setor

fumageiro, além de outras com produção variada.

O distrito Industrial está situado nas margens da BR 471, zona sul da cidade e

concentrou, à sua volta, uma série de bairros. Estes loteamentos foram ocupados, em sua

maioria, com população formada por migrantes vindos da zona rural, de diversos municípios

da região e por famílias reassentadas no local, transferidas pela Prefeitura, de áreas verdes,

particulares e de risco, como no caso do surgimento dos bairros Santuário, Faxinal,

Harmonia, Cristal, Glória e Imigrante.

Como parte das diretrizes estabelecidas no Plano Diretor, daquela época, foi

hierarquizado o sistema viário e definidas as áreas de expansão urbana. Como melhorias

urbanas o tráfego pesado foi retirado das vias centrais da cidade e transferidos para um

novo trecho da BR471. Vale lembrar que até 1970 a população rural era superior á

população urbana. No período compreendido entre os anos de 1960 e 2000, Santa Cruz do

Sul vivencia uma expansão de 40%. Verificar a evolução da população na Tabela 1.

Quanto a expansão urbana, pode-se afirmar que, ao longo das últimas três décadas,

ocorreram períodos pontuais de grande crescimento, manifestados através da proliferação

do número de loteamentos voltados à diversas camadas sociais, e diretamente associadas

a economia. A área urbana, a partir de 1977 expandiu-se em todas as direções,

crescimento este geralmente ancorado pela instalação de algum equipamento importante.

TABELA 1.

Evolução da população do município de Santa Cruz do Sul do ano de 1920 até o de 2000.

Anos Urbana Rural Total da população

1900 ------ ------- 23.158

1920 4.000 33.500 37.500

1940 11.444 43.597 55.041

21

1950 15.712 53.893 69.605

1960 22.026 54.828 76.854

1970 33.045 53.742 86.787

1980 55.095 44.541 99.636

1990 78.955 38.818 117.773

2000 93.786 13.846 107.632

Fonte: De Província de São Pedro a Estado do Rio Grande do Sul:Censos de RS:1803-1950: p.109-175. Censos de RS: 1960-1980: p. 19-95.

Dois assentamentos residenciais financiados pelo Estado foram implantados no

Município. Na década de 1980 foi destinada uma ampla área de terras, as margens da

Avenida Independência, para se instalar o Campus das Faculdades Integradas de Santa

Cruz do Sul, UNISC.

Na década de 1990, institui-se um novo Plano Diretor de Desenvolvimento Social e

Urbano do Município de Santa Cruz do Sul, este foi elaborado por uma equipe formada por

diversos profissionais, além de políticos e a participação de vários segmentos da sociedade.

Discussões em torno de assuntos atuais e perspectivas para o futuro foram lançadas e

posteriormente aceitas pela Câmara de Vereadores e por fim implementadas.

A situação da cidade, em 1995, se encontrava espremida ao norte e ao leste pelas

encostas do cinturão verde e, a oeste, pela divisa com o município de Vera Cruz. Neste

sentido, além da revisão do zoneamento e no sistema viário, o perímetro urbano foi

largamente ampliado, passando a contar com um total de 75 km², incluindo grandes áreas

de expansão urbana e preservação ambiental, tanto acima quanto abaixo da encosta.

22

FIGURA 6 –Vista parcialdo DistritoI n d u s t r i a ldécada de1990.FonteSecretariaMunicipal doTurismo.

Entre as

áreas de

preservação

f o r a m

incluídas a

várzea do

Rio Pardinho, situada a oeste, e a zona de floresta da encosta, denominada cinturão verde,

nos contornos norte e leste da área urbana central. Para Wink (2002) em relação ao

desenvolvimento de Santa Crua do Sul (Figura 6),

As principais tendências quanto a expansão da cidade, coincidentes com asdiretrizes estabelecidas pelo Plano Diretor de 1998, apontam para adensificação dos bairros tradicionais e da área centra, que deverá comportaro processo de verticalização já em estágio avançado de implantação, graçasa boa infra-estrutura existente. O deslocamento industrial em direção sul dacidade continuará atraindo, intensamente, a população aos bairros operários,tendo, como epicentro, o distrito industrial. Já as classes de maior podereconômico seguirão a tendência de ocupação das zonas altas nos setoresleste e norte, próximas ao centro, passando a se instalar, também, nosespaços acima da encosta nessas mesmas direções. Já, para a área oeste,com expansão restrita por lei, para garantir a preservação do Rio Pardinho,estão previstas ocupações por equipamentos de lazer, por reflorestamento,por piscicultura, entre outras atividades de caráter ecológico, visando aoequilíbrio do meio ambiente e a qualidade de vida urbana de Santa Cruz doSul. (Wink, 2002 p.154)

No ano de 2007 uma revisão do Plano Diretor foi implementada, na verdade uma

adequação de algumas diretrizes anteriormente propostas. Não houve uma nova

formatação do antigo texto e sim uma revisão complementar, necessária para mantê-lo

atualizado. No mais, continuaram valendo as diretrizes propostas no século passado.

Vale ressaltar que quatro mapas contemplam as diretrizes urbanas (Figura 7), que

são: o mapa de Perímetro Urbano e Macro Zoneamento, o mapa de Zoneamento de

Desenvolvimento, o mapa de Zoneamento de Índices e o mapa do Sistema Viário. Todos

23

em sintonia com as questões ambientais e propostas de compatibilizar o crescimento à

infra-estrutura existente.

FIGURA 7 – PlanoDiretor deDesenvolvimento Urbanode Santa Cruz de 1998Limites de Bairros.Fonte SecretariaMunicipal doPlanejamento.

Questões

relevantes de

ocupação merecem

ser identificadas,

sendo as que mais

chamam a atenção é a

da redução

considerável de mata

na pré-encosta, que

acompanha a

demarcação do

cinturão verde, assim

como a área superior

da mesma.

Observa-se que estes

locais são explorados

de forma agressiva

pela especulação

imobiliária em razão da

beleza dos visuais e

proximidade as zonas mais valorizadas.

Outro ponto a ser considerado é a crescente oferta de lotes em áreas insalubres,

sujeitas a inundações, localizadas ao oeste da cidade. Esse local já anteriormente fora

considerado inadequado para a ocupação, mas a clandestinidade fez render, aos menos

24

informados, a aquisição de terrenos nesta área. O poder público acaba se

responsabilizando em coordenar ações para minimizar a situação.

Pode-se verificar que nas proximidades dos riachos canalizados dentro do perímetro

urbano, mais densamente ocupado, situações de alagamento têm ocorrido com freqüência.

Devido a alta velocidade das águas e o acúmulo de lixo nas tubulações.

Não só de boa vontade dos técnicos e administradores se faz um ambiente favorável

a convivência, ao bem estar e harmonia ambiental, mas a conscientização ecológica da

população e dos políticos é necessária para se modificar a atual agressividade com que se

manipula o meio ambiente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preciso encontrar uma compatibilidade entre economia e meio ambiente. Devem

ser escutadas propostas que viabilizem e conciliem estas duas realidades. Para viabilizar

esta estratégia, é necessário defender o papel do Estado, para que ele implemente políticas

públicas que harmonizem crescimento econômico com sustentabilidade. O objetivo do

desenvolvimento sustentável é melhorar a qualidade de vida do ser humano, mas em

primeiro lugar as necessidades básicas dos homens devem ser satisfeitas. O

desenvolvimento sustentável busca a proteção do meio ambiente para que, num futuro não

muito distante, as gerações possam ter uma vida digna e saudável.

Não é possível conceber a natureza como uma fonte inesgotável de riquezas. Tem

que existir uma relação entre competitividade e sustentabilidade. Competitividade é a luta

do mercado para obter mais bens de melhor qualidade ao menor custo. Sustentabilidade é

aproveitar os recursos sem causar danos ao meio ambiente. É necessário que a

comunidade tome consciência da importância deste novo modelo de desenvolvimento e

reconhecer que cada ação que se realiza num lugar pode ter conseqüência em qualquer

canto do planeta.

Com a crescente deterioração do ambiente natural pela ação do homem, certas

diretrizes estão sendo tomadas para conter e reverter esta situação. Discussões em torno

do esgotamento dos recursos naturais, urbanização, consumo energético, economia,

resíduos, diferentes classes sociais; enfim, uma série de fatores formula o novo pensar do

25

planejamento. Estamos falando então de uma nova forma de pensar, agir, produzir,

consumir e planejar que estruturam o conceito de desenvolvimento sustentável. Sua

estratégia insere e estimula tecnologias que proporcionam o mínimo grau de desperdício

com a substituição dos usos de matéria prima reciclável. Somente assim pode-se pensar

nas questões relativas a uma harmonização dos ecossistemas com uma utilização racional

dos recursos naturais.

Planejar se constitui em criar uma maneira de projetar as necessidades materiais e

imateriais assim como os meios para atender às modificações necessárias para se manter

estável o ambiente, sem que prejudique de forma excessiva a sociedade e o meio

ambiente. Novas formas de organização territorial devem criar condições favoráveis a uma

política de conservação dos recursos naturais. O planejamento urbano consciente também

inclui em seu processo as novas tecnologias prestando serviço para fornecer facilidades,

conforto e mobilidade em detrimento de economia. As inovações tecnológicas produzem um

novo modo de articulação entre o espaço e o tempo, isto é, a possibilidade de que ocorram

em diferentes pontos do planeta fenômenos interligados. Ela nos permitirá buscar as

complementaridades e encadear os ciclos a fim de minimizar os impactos negativos no

ambiente.

A sustentabilidade associa-se às condições de reprodução da legitimidade das

políticas e das condições de construção da base material das cidades, que é uma produção

contínua e cada vez mais acelerada. O planejamento sustentável é a forma de adaptar as

necessidades do homem em uma natureza que em certas localidades já apresenta alto grau

de deterioração ou estão ameaçadas pelo tipo de uso. No caso de reverter esta degradação

ou melhorar sua condição, a região pode tirar vantagens competitivas. Com a racionalidade

dos usos territoriais se configura um cenário onde de maneira equilibrada dividem-se as

tarefas entre as regiões que apresentam, ou que oportunizam sua exploração. Este plano

de ação estará vinculado e monitorado constantemente através da análise dos impactos

ambientais; sendo o bom senso e a consciente avaliação dos efeitos o caminho para se

tentar uma melhor eficácia do planejamento territorial.

LISTA DE FIGURAS:

1- FIGURA 1 – Planta da Povoação de Santa Cruz de 1855.

Fonte: Arquivo Histórico de Rio Pardo.

26

2- FIGURA 2 – Planta da cidade de Santa Cruz em 1822 constava além do

traçado inicial o entorno com as chácaras.

Fonte: Arquivo Histórico Colégio Mauá.

3- FIGURA 3 – Mapa da cidade de Santa Cruz em 1940.

Fonte: Arquivo Histórico Colégio Mauá.

4- FIGURA 4 - Planta de Santa Cruz de 1956.

Fonte – Arquivo Histórico Colégio Mauá.

5- FIGURA 5 – Vista aérea de Santa Cruz do Sul na década de 1930.

Fonte: Coleção Ronaldo Wink.

6- FIGURA 6 – Vista parcial do Distrito Industrial década de 1990.

Fonte: Secretaria Municipal do Turismo.

7- FIGURA 7 – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Santa Cruz de 1998 –

Limites de Bairros.

Fonte Secretaria Municipal do Planejamento.

LISTA DE TABELAS:

TABELA 1 - Evolução da população do município de Santa Cruz do Sul do ano de

1920 até o de 2000.

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