issqn na construção civil
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O ISSQN NA CONSTRUÇÃO CIVIL E O MATERIAL APLICADO NA REALIZAÇÃO
DOS SERVIÇOS
Natércia Gorete Saraiva Lins1
Resumo:
O ISSQN – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza é um tributo que deverá ser
cobrado sobre a realização dos serviços. No entanto, muitas prefeituras exigem a cobrança do
referido tributo municipal na prestação de serviços de construção civil inclusive quando o
preço contém o emprego de materiais. Além disso, existe significativa divergência
jurisprudencial entre o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal sobre o
tema. A presente pesquisa aborda os aspectos relacionados a tributação dos materiais
aplicados nos serviços de construção civil e suas repercursões.
Palavras-Chave: ISSQN, construção civil, materiais.
1 Graduada na SOPECE- Sociedade de Cultura em Ensino, FCHPE- Faculdade de Ciências Humanas de
Pernambuco, Cursando Pós-Graduação em Direito Público e Demais Carreiras Jurídicas pela Escola Magistratura de Pernambuco- (ESMAPE), Advogada, Chefe do Núcleo de Instrução e Julgamento da Secretaria de finanças da Prefeitura Municipal de Jaboatão dos Guararapes, e-mail [email protected].
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1. Introdução:
Os serviços prestados são tipos de atividades econômicas onde, segundo Leandro
Palsen, significa:
Prestação de uma utilidade ou comodidade a terceiro, de modo personalizado e incindível,
configurando-se de modo negativo à obrigação "de dar" (entrega de coisas móveis ou
imóveis a terceiros).
Dessa forma, os serviços como toda atividade econômica sofrem tributações de
natureza federal, estadual ou municipal.
A Constituição Federal estabelece os diversos tributos que compõe o sistema tributário
nacional, dentro os quais destaca-se o Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, objeto
deste estudo, conhecido como ISSQN.
Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:
...
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei
complementar. (...).
§ 3o Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo, cabe à lei
complementar:
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior.
III - regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios fiscais serão
concedidos e revogados.
No bojo do artigo 156 está, portanto, estabelecido que o tributo carece de
regulamentação através de lei complementar, papel que foi exercido pelo decreto-lei 406/68
com o status de lei complementar e posteriormente foi substituído pela lei complementar
116/2003. No inciso III do mesmo artigo, dispõe a lei maior que estão fora da sua base de
tributação os bens e produtos que são sujeitos ao ICMS conforme disposição no artigo 155, II.
Dessa forma estabeleceu a Constituição os preceitos de diversos tributos, inclusive do
ISSQN, e quanto a este último dispôs que é função da lei complementar federal determinar as
premissas que irão servir de base para a instituição do tributo em cada município. No seu
artigo 7º a lei complementar dispõe:
§ 2o Não se incluem na base de cálculo do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza:
I - o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços previstos nos itens 7.02 e
7.05 da lista de serviços anexa a esta Lei Complementar;
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Ainda para efetuar uma adequada compreensão deste aspecto introdutório, dispõe os
itens 7.02 e 7.05 da lista de serviços o seguinte:
7.02 – Execução, por administração, empreitada ou subempreitada, de obras de construção
civil, hidráulica ou elétrica e de outras obras semelhantes, inclusive sondagem, perfuração
de poços, escavação, drenagem e irrigação, terraplanagem, pavimentação, concretagem e a
instalação e montagem de produtos, peças e equipamentos (exceto o fornecimento de
mercadorias produzidas pelo prestador de serviços fora do local da prestação dos serviços,
que fica sujeito ao ICMS). ... 7.05 – Reparação, conservação e reforma de edifícios, estradas, pontes, portos e congêneres
(exceto o fornecimento de mercadorias produzidas pelo prestador dos serviços, fora do
local da prestação dos serviços, que fica sujeito ao ICMS).
Dessa forma, pretende o legislador federal que definiu os aspectos do tributo através
da Lei Complementar 116/2003 que exista a incidência do ISSQN sobre a prestação de
serviços, onde nas atividades pertinentes à construção civil citadas nos itens 7.02 e 7.05
estarão excluídas dessa incidência as mercadorias aplicadas na execução dos serviços, uma
vez que as mesmas são sujeitas ao ICMS.
No entanto, apesar de parecer inicialmente óbvia a análise apontada, diversas
prefeituras no país tem exigido o tributo das mais diversas maneiras possíveis, quer seja na
integralidade sobre a prestação de serviços, quer por disposições que diminuem a efetividade
de sua aplicação.
2. Divergência Jurisprudencial e a Sintaxe da Divergência
As atividades da construção civil normalmente estão divididas em atividade de
produção e/ou incorporação de imóveis, e prestação de serviços para terceiros, com ou sem
sub-empreitada. Com relação à produção e/ou incorporação de imóveis, não há que se falar da
incidência do ISSQN quando este mesmo processo for realizado pelo próprio empreendedor.
O problema começa a surgir quando o serviço é subcontratado, no caso de construções e
incorporações, ou quando existe uma prestação de serviços contratualmente estabelecida para
realização dos mais diversos tipos de serviço, normalmente efetuadas para órgãos públicos
como por exemplo na realização de obras de saneamento, construção de casas populares,
barragens, banheiros públicos, escolas, etc.
Nesses casos encontra-se uma grande discussão doutrinária que levaram a
divergências de interpretação entre Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal.
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A Segunda Turma do STJ tem se manifestado claramente no sentido de que os
materiais aplicados na construção civil não podem ser deduzidos da base de cálculo do
ISSQN, conforme pode-se verificar abaixo:
Processo AgRg no REsp 1002693 / RS
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
2007/0258832-0
Relator(a) Ministro CASTRO MEIRA (1125)
Órgão Julgador T2 - SEGUNDA TURMA
Data do Julgamento 25/03/2008
Data da Publicação/Fonte DJe 07/04/2008
Ementa
TRIBUTÁRIO. ISS. CONSTRUÇÃO CIVIL. MATERIAIS UTILIZADOS.
SUBEMPREITADAS. BASE DE CÁLCULO. ABATIMENTO. IMPOSSIBILIDADE.
1. "A jurisprudência uniforme desta Corte é no sentido de que a base de cálculo do ISS é o
custo integral do serviço, não sendo admitida a subtração dos valores correspondentes aos
materiais utilizados e às subempreitadas" (REsp 926.339/SP, Rel. Min. Eliana Calmon,
Segunda Turma, DJU de 11.05.07).
2. Tanto o DL 406/68 como as Leis Complementares 56/87 e 102/03 fixaram que o ISS
incide sobre a totalidade dos serviços de construção civil, exceto sobre o fornecimento de
mercadorias produzidas pelo próprio prestador dos serviços fora do local da prestação, que
fica sujeito ao ICMS.
3. A tese de que não apenas os materiais produzidos pelo próprio prestador, mas também os
adquiridos de terceiros, devem ser excluídos da base de cálculo do ISS não encontra
respaldo no ordenamento jurídico, pois a regra legal que trata da incidência do ISS sobre
serviços de construção civil é clara ao excluir apenas os materiais produzidos pelo próprio
prestador fora do local onde prestados os serviços.
4. A situação do prestador que fabrica seus produtos fora do canteiro de obras não pode ser
equiparada à daquele que adquire materiais de terceiros para uso nas obras de construção
civil. Os produtos fabricados pelo prestador estão sujeitos ao ICMS, razão por que não
devem se sujeitar a uma nova incidência de ISS. Já os produtos adquiridos de terceiros, se
não incluídos na base de cálculo do ISS pelo serviço de construção civil, ficariam imunes à
tributação, somente sendo tributados na operação anterior, que não tem o construtor como
contribuinte ou responsável tributário.
5. Assim, quando os materiais são produzidos pelo próprio prestador fora do local onde
prestados os serviços, incide ICMS; quando os materiais são produzidos pelo prestador no
canteiro de obras ou quando são adquiridos de terceiros, como não há possibilidade de
incidência de ICMS, devem ter seus valores mantidos na base de cálculo do ISS.
6. "(...) subempreitada é denominação que se oferece à empreitada menor, isto é, à
empreitada secundária. Por meio de subempreitadas são executados trabalhos parcelados,
contratados pelo empreiteiro construtor (...). Em referência ao ISS, é irrelevante saber se o
empreiteiro maior executa pessoalmente a obra pactuada ou se incumbe a terceiros para
realizá-la. Ambas as formas de serviços (empreitada maior ou empreitada menor) são
alcançadas pelo ISS" (Bernardo Ribeiro de Moraes in "Doutrina e Prática do Imposto sobre
Serviços", Revista dos Tribunais, São Paulo, 1975).
7. Agravo regimental não provido.
Outro julgamento no âmbito do Superior Tribunal de Justiça corrobora esse
entendimento:
Acórdão nº 2008/0181338-7 de Superior Tribunal de Justiça, 2ª Turma, 21 de Setembro de
2010
1. Quanto à alegação no sentido de que o recurso especial não podia ser conhecido,
verifica-se que tal alegação é inconsistente, pois o acórdão recorrido está amparado no art.
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7º, § 2º, da LC 116/2003, ou seja, o acórdão não julgou válida lei local contestada em face
de lei federal (na forma do art. 102, III, "d", da CF/88), como afirma a agravante.
2. A orientação das Turmas que integram a Primeira Seção desta Corte firmou-se no sentido
de que a base de cálculo do ISS é o custo integral do serviço, de modo que não é admitida a
dedução dos valores correspondentes aos materiais utilizados e às subempreitadas. Desse
modo, "a tese de que não apenas os materiais produzidos pelo próprio prestador, mas
também os adquiridos de terceiros, devem ser excluídos da base de cálculo do ISS não
encontra respaldo no ordenamento jurídico, pois a regra legal que trata da incidência do ISS
sobre serviços de construção civil é clara ao excluir apenas os materiais produzidos pelo
próprio prestador fora do local onde prestados os serviços", de modo que "quando os
materiais são produzidos pelo prestador no canteiro de obras ou quando são adquiridos de
terceiros, como não há possibilidade de incidência de ICMS, devem ter seus valores
mantidos na base de cálculo do ISS" (AgRg no REsp 1.002.693/RS, 2ª Turma, Rel. Min.
Castro Meira, DJe de 7.4.2008).
3. Agravo regimental não provido.
O ponto de vista do Superior Tribunal de Justiça, se inicia historicamente com a sumula
167 que prevê a incidência integral dos ISSQN no caso de concretagem, que dispõe o
seguinte, tudo advindo ainda da interpretação do antigo decreto-lei 406/68:
O fornecimento de concreto, por empreitada, para construção civil, preparado no trajeto até
a obra em betoneiras acopladas a caminhões, é prestação de serviço, sujeitando-se à
incidência do ISS.
Com o advento da Lei Complementar 116/2003 o Superior Tribunal de Justiça
entendeu que o legislador determinou que os já citados itens 7.02 e 7.05 que são serviços
relacionados com a atividade de construção civil deveriam considerar, na mesma linha da
sumula 167, que somente estariam excluídos da incidência do ISSQN os materiais que fossem
produzidos fora do canteiro de obra pelo próprio prestador.
No entanto, analisando novamente a sintaxe do artigo 7° da Lei Complementar
116/2003 surge o primeiro dos problemas. Este dispositivo prevê o seguinte:
Art. 7
o A base de cálculo do imposto é o preço do serviço.
...
§ 2o Não se incluem na base de cálculo do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza:
I - o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços previstos nos itens 7.02 e
7.05 da lista de serviços anexa a esta Lei Complementar;
Ao dizer, em artigo autônomo e independente que a base de cálculo do imposto é o
preço do serviço, e que não se incluem na base de cálculo os materiais fornecidos pelo
prestador dos serviços previstos nos itens 7.02 e 7.05 da lista anexa à lei complementar, e não
fazendo nesse momento qualquer referência a condição de produtor fora do canteiro de obra,
surge margem interpretativa de que os materiais aplicados poderão ser deduzidos, sem
qualquer restrição.
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Outro aspecto é o já citado texto constitucional no seu artigo 156, III, que explicita que
estarão de fora da tributação do ISSQN os produtos que são tributados pelo ICMS.
Dessa forma, todos os materiais aplicados no processo de execução de serviços tem
base própria de tributação, o ICMS, e a princípio, estariam fora da base de tributação do
ISSQN. Por sua vez o Supremo Tribunal Federal decide reiteradamente pela possibilidade de
dedução dos materiais, conforme observado no RE 60.2658, Relatora: Min. CÁRMEN
LÚCIA, julgado em 29/10/2009, publicado em DJe-222 publicado em 26/11/2009.
DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE
SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA. EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL.
ART. 9º, § 2º, ALÍNEA B, DO DECRETO-LEI N. 406/68: RECEPÇÃO PELA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRECEDENTES. REPERCUSSÃO GERAL DA
QUESTÃO CONSTITUCIONAL. DESNECESSIDADE DE EXAME. ART. 323, § 1º, DO
REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ACÓRDÃO
RECORRIDO DIVERGENTE DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. PRESUNÇÃO DE EXISTÊNCIA DA REPERCUSSÃO GERAL. RECURSO
PROVIDO. Relatório 1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III,
alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado do Superior Tribunal de
Justiça: "ISS. BASE DE CÁLCULO. VALORES REFERENTES AOS MATERIAIS
UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL. IMPOSSIBILIDADE DE SUBTRAÇÃO.
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. ANÁLISE PELO STF. I - Consoante jurisprudência
desta Corte, as empresas do ramo da construção civil são contribuintes do ISS, pelo que não
se admite subtrair da base de cálculo do tributo o montante referente às subempreitadas e
aos materiais utilizados pela construtora. Precedentes: REsp nº 911.158/MG, Rel. Min.
ELIANA CALMON, DJe de 27/11/08; REsp nº 828.879/SP, Rel. Min. TEORI ALBINO
ZAVASCKI, DJ de 31/08/06; REsp nº 779.515/MG, Rel. Min. ELIANA CALMON, DJ de
03/08/06 e REsp nº 577.356/MG, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 30/05/04. II - A
verificação da existência de suposta violação a preceitos constitucionais não pode ser
realizada por esta Corte, competindo essa análise exclusivamente ao Pretório Excelso,
sendo vedado ao STJ fazê-la, mesmo para fins de prequestionamento. Precedente: EAREsp
nº 464.559/SP, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJ de 02/08/04. III - Agravo regimental
improvido" (fl. 267). 2. A Recorrente alega que o Tribunal a quo teria contrariados os arts.
59, 146, inc. III e alínea a, e 156, inc. IV, da Constituição da República. Argumenta que o
Supremo Tribunal Federal "reconheceu o direito do setor de construção civil nacional em
deduzir, na Base de Cálculo do imposto, os materiais fornecidos com os serviços prestados,
na exata aplicação do autorizado, expressa e literalmente, pelas disposições do art. 7º, § 2º,
inciso I, da Lei Complementar n. 116, de 31 de julho de 2003" (fl. 294). Apreciada a
matéria trazida na espécie, DECIDO. 3. Em preliminar, é de se ressaltar que, apesar de ter
sido a parte recorrente intimada depois de 3.5.2007 e constar no recurso extraordinário
capítulo destacado para a defesa da repercussão geral da questão constitucional, não é o
caso de se iniciar o procedimento para a aferição da sua existência, pois, nos termos do art.
323, § 1º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal – com a redação
determinada pela Emenda Regimental n. 21/2007 -, esta se presume "quando o recurso (...)
impugnar decisão contrária a súmula ou a jurisprudência dominante". 4. A jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que é possível as empresas de
construção civil deduzir o valor dos materiais e subempreitadas no cálculo do preço do
serviço. O Supremo Tribunal Federal firmou, ainda, o entendimento no sentido de que o art.
9º, § 2º, alíneas a e b, do Decreto-Lei n. 406/68 é compatível com a Constituição da
República de 1988. Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados: "EMENTA:
TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS - ISS. EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO
CIVIL. DEDUÇÃO DO VALOR DE SUBEMPREITADAS TRIBUTADAS. ART. 9º, §
2º, ALÍNEA B, DO DECRETO-LEI N. 406/68. 1. O Decreto-Lei n. 406/68 foi
recepcionado como lei complementar pela Constituição da República. Precedentes:
Recursos Extraordinários ns. 236.604 e 220.323. 2. O disposto no art. 9º, § 2º, alínea b, do
Decreto-Lei n. 406/68 não contraria a Constituição da República. 3. Recurso extraordinário
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não conhecido" (RE 262.598, de que fui Redatora do acórdão, Primeira Turma, DJ
28.9.2007). E: "CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ISS. CONSTRUÇÃO CIVIL. D.L.
406/68, art. 9º, § 2º, a e b. I. - Dedução do valor dos materiais e subempreitadas no cálculo
do preço do serviço. D.L. 406/68, art. 9º, § 2º, a e b: dispositivos recebidos pela CF/88.
Citados dispositivos do art. 9º, § 2º, cuidam da base de cálculo do ISS e não configuram
isenção. Inocorrência de ofensa ao art. 151, III, art. 34, ADCT/88, art. 150, II e 145, § 1º,
CF/88. RE 236.604-PR, Velloso, Plenário, 26.5.99, RTJ 170/1001. II. - RE conhecido e
provido. Agravo improvido" (RE 214.414-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma,
DJ 29.11.2002). Nesse sentido, em casos análogos, foram proferidas as seguintes decisões
monocráticas: RE 548.522, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 12.2.2008, trânsito em julgado em
25.2.2008; RE 525.479, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 16.10.2007, trânsito em julgado em
26.10.2007; e RE 518.276, Rel. Min. Eros Grau, DJ 9.3.2007, trânsito em julgado em
21.3.2007. 5. Dessa orientação jurisprudencial divergiu o acórdão recorrido. 6. Pelo
exposto, dou provimento ao recurso extraordinário (art. 557, § 1º-A, do Código de Processo
Civil e art. 21, § 2º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal), ficam invertidos
os ônus da sucumbência. Publique-se. Brasília, 29 de outubro de 2009. Ministra CÁRMEN
LÚCIA Relatora.
Para respaldar esse entendimento, ainda se referindo sobre o decreto-lei 408/68, o
Supremo Tribunal federal dispõe, em recentíssimo julgado RE 467.450/MG, Min. Carmen
Lúcia, julgamento de 02/09/2009, DJE 17/09/2009, vejamos o excerto:
TRIBUTÁRIO. ISSQN. ART. 9º, § 2º, “A”, DO DL N. 406/68. RECEPÇÃO COM
STATUS DE LEI COMPLEMENTAR. MATERIAIS E PRODUTOS. EXCLUSÃO DA
BASE DE CÁLCULO DO ISSQN. HIPÓTESE DE NÃO INCIDÊNCIA.
1. A jurisprudência da Suprema Corte firmou entendimento de que o Decreto-Lei n.
406/68 foi recepcionado com o status de lei complementar, em virtude de sua
compatibilidade com a nova ordem constitucional, consoante intelecção do § 5º do art.
34 do ADCT.
2. O ISSQN incidia sobre prestação de serviços, logo a exclusão de produtos e
materiais, eventualmente utilizados no desempenho da atividade, tão somente adéqua a
base de cálculo do tributo a sua hipótese de incidência.
3. Parecer pelo conhecimento e provimento do recurso”
Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO.
4. Razão jurídica assiste à Recorrente.
5. O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que o art. 9º, § 2º,
alíneas a e b, do Decreto-Lei n. 406/68 é compatível com a Constituição da República
de 1988.
Ainda, em se tratando do STF temos os seguintes julgados:
TRIBUTÁRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS – ISS. EMPRESAS DE
CONSTRUÇÃO CIVIL. DEDUÇÃO DO VALOR DE SUBEMPREITADAS
TRIBUTADAS. ART. 9º, § 2º, ALÍNEA B DO DECRETO-LEI N. 406/68.
1. O Decreto-lei n. 406/68 foi recepcionado como lei complementar pela Constituição
da República. Precedentes: Recursos Extraordinários ns. 236.604 e 220.323.
2. O disposto no art. 9º, § 2º, alínea b do Decreto-lei n. 406/68 não contraria a
Constituição da República.
3. Recurso extraordinário não conhecido” (RE 262.598, de minha relatoria, Primeira
Turma, DJ 28.9.2007).
8
...
CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ISS. CONSTRUÇÃO CIVIL. D.L. 406/68, art.
9º, § 2º, a e b. I. - Dedução do valor dos materiais e subempreitadas no cálculo do preço
do serviço. D.L. 406/68, art. 9º, § 2º, a e b: dispositivos recebidos pela CF/88. Citados
dispositivos do art. 9º, § 2º, cuidam da base de cálculo do ISS e não configuram isenção.
Inocorrência de ofensa ao art. 151, III, art. 34, ADCT/88, art. 150, II e 145, § 1º, CF/88.
RE 236.604-PR, Velloso, Plenário, 26.5.99, RTJ 170/1001. II. - RE conhecido e
provido. Agravo improvido” (RE 214.414-AgR, Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda
Turma, DJ 29.11.2002).
.....
Nesse sentido, em casos análogos, foram proferidas as seguintes decisões monocráticas:
RE 548.522, Rel. Min. Carlos Britto, DJ 12.2.2008, trânsito em julgado em 25.2.2008;
RE 525.479, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 16.10.2007, trânsito em julgado em
26.10.2007; e RE 518.276, Rel. Min. Eros Grau, DJ 9.3.2007, trânsito em julgado em
21.3.2007.
6. Dessa orientação jurisprudencial divergiu o acórdão recorrido.
7. Pelo exposto, dou provimento ao recurso extraordinário (art. 557, § 1º-A, do Código
de Processo Civil e art. 21, § 2º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).
Ficam invertidos os ônus da sucumbência.”
Mais recentemente, em agosto de 2010, O Supremo Tribunal Federal, através da
ministra Ellen Grace, deu provimento ao Recurso Extraordinário 60.3497 entendeu a nível de
constitucionalidade que a dedução era possível.
3. O Posicionamento das prefeituras
Importante destacar que consulta efetuada a prefeitura de Belo Horizonte, já depois
dos efeitos da Lei Complementar 116/2003, Seqüência/Ano -147/2006 a prefeitura responde
aos contribuintes o seguinte:
4) Pode deduzir da base de cálculo do imposto, para os serviços de construção e
reforma, o valor dos materiais aplicados, ainda que eles consistam em 100% da nota
fiscal?
4)Sim, nos termos do art. 9º da Lei 8725, observadas as prescrições do art.1º do Dec.
11.956/2005.
Disponível em:
http://www.fazenda.pbh.gov.br/internet/consultas/resultadoform.asp?FormMode=Edita
O Município de São Paulo também adota o mesmo posicionamento, conforme
veremos em seguida:
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ISS - São Paulo - Construção Civil - Como devo proceder na emissão da nota fiscal no caso
de uma empresa de construção civil que cobra o montante a ser recebido (material +
serviço). Como devo emitir a nota fiscal?
Embora a empresa de construção civil emita a nota fiscal de serviços da prefeitura para
cobrança do valor total material e mão-de-obra), a quantia relativa ao material aplicado será
deduzida da base de cálculo do ISS, conforme determina o artigo 7º § 2º da Lei
Complementar nº 116-2003.
Fundamento Legal: artigo 7º § 2º da Lei Complementar 116-2003
Disponível no site: http://www.vrscontabil.com.br/v3/mostra_duvidas.asp?id=29
O município de Fortaleza assim dispõe no seu site oficial:
Base de Cálculo
A base de cálculo do imposto devido por empresa ou pessoa e esta esquiparada é o preço do
serviço, incorporando-se à mesma os materiais envolvidos na prestação do serviço, salvo no
caso dos serviços de construção civil, em que podem ser deduzidos os valores dos materiais
empregados na obra.
http://www.fazenda.pbh.gov.br/internet/consultas/resultadoform.asp?FormMode=Edita.
Já alguns municípios como o de Uberaba-MG através do RE 1.140.491, e o município de
Santo André-SP através do RE 926.339, por exemplo, mantém a cobrança sem a permissão de
deduções.
4 – Do Problema da Retenção Tributária e dos Estágios de Execução da Obra
Muitos municípios determinam que os tomadores de serviços (contratantes) efetuem
mensalmente a retenção e recolhimento do ISSQN. Assim, em resumo, cabe ao tomador, a
princípio, reter o imposto e recolher à fazenda municipal. A questão fundamental aqui é
definir qual será o valor a ser descontado do contribuinte analisando uma situação hipotética
pode-se observar o seguinte:
Valor integral do contrato: R$ 1.000.000,00
Discriminação do Contrato:
Serviços de construção civil R$ 600.000,00
Materiais aplicados R$ 400.000,00
Considerando que o contribuinte somente poderá definir a sua base de cálculo após
efetuar, no mês, o levantamento dos materiais adquiridos, e considerando que ao final do
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primeiro mês o contribuinte realizou 10% (dez por cento) da obra, e onde exista uma
proporção direta entre a realização das receitas e incidência de custos correspondentes
teríamos a seguinte situação:
Valor de 10% da realização do contrato: R$ 100.000,00
Discriminação do Contrato:
Serviços de Construção Civil 10% R$ 60.000,00
Materiais aplicados 10% R$ 40.000,00
Assim o contribuinte deveria, com base em seus controles de apuração utilizar a base
de cálculo do imposto R$ 20.000,00. Considerando a alíquota de 5% (cinco por cento)
encontraremos o resultado de R$ 1.000,00 de imposto.
No entanto, uma vez determinado que o tomador do serviço efetuará a retenção do
mesmo tributo, e como o mesmo tomador não tem como administrar o controle de fluxo de
materiais do contribuinte, é muito comum a retenção ser efetuada pela sua totalidade, ou seja,
5% (cinco por cento) de R$ 60.000,00, perfazendo um total de R$ 3.000,00.
Assim, se faz necessário que o contribuinte observe com atenção não somente os
aspectos relacionados à tributação em si, mas as conseqüências que possam advir de um
processo de substituição tributária ou antecipação tributária o que poderia resultar num ônus
decorrente da ampliação de sua base de tributação.
5 – As Alternativas Para os Contribuintes
Muitas prefeituras aceitam que uma simples discriminação na nota fiscal dispondo o
que são materiais e o que são serviços é suficiente para permitir a retenção do tributo.
Normalmente essas discriminações são feitas e embasadas no termo contratual, aplicado
proporcionalmente a sua realização, e outras como a prefeitura de Recife exige que sejam
efetuados controles específicos. Em qualquer caso os levantamentos efetuados pelos
contribuintes sempre estarão sujeitos a ratificação pelas fazendas municipais.
Em outras situações, dependendo da legislação municipal, é necessário que se faça um
consulta fiscal preventiva, evitando problemas de ordem fiscalizatória.
Em algumas outras situações o remédio jurídico mais apropriado seria o Mandado de
segurança, desde que esgotados os recursos na esfera administrativa ou também uma ação
ordinária com antecipação de tutela.
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O importante é que com as constantes manifestações do Supremo Tribunal Federal a
respeito do assunto sejam utilizados pelos mais diversos contribuintes todos os meios
permitidos no bom direito de forma a estabelecer a verdade no que concerne a lógica
tributária e o espírito legislativo, observadas as disposições constitucionais e
infraconstitucionais.
Conclusão
Uma rápida verificação a respeito do texto constitucional parece evidenciar o
entendimento do Supremo Tribunal federal no que concerne ao entendimento de que a norma
dispõe de maneira objetiva sobre a incidência tributária com exclusão de sua base de cálculo
os materiais que são utilizados na prestação de serviços. A Lei Complementar 116/2003
conduz a uma interpretação de que os materiais utilizados na Construção Civil, quer sejam
produzidos pelo contribuinte fora do local da prestação de serviços ou quer sejam fornecidos
ao contratante, estão fora da base de cálculo da tributação do ISSQN.
Pode-se perceber que o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, portanto,
equivoca-se sobre o aspecto da constitucionalidade e da própria interpretação da lei
complementar 116/2003. E que este entendimento sequer está corroborado pelas principais
prefeituras do país em nível de arrecadação que já entendiam anteriormente e continuam a
entender que os materiais utilizados na construção civil deverem ser excluídos da base de sua
tributação.
O problema da interpretação do Superior Tribunal de Justiça se relaciona basicamente
à extensão interpretativa de sua súmula 167, e esse posicionamento vem sido revisto pelo
Supremo Tribunal Federal com excelência, fazendo prevalecer acima de tudo a ordem
constitucional aplicada ao direito tributário.
Além desses pressupostos, no entanto, é importante que os contratantes estabeleçam
de maneira clara e objetiva todos os materiais e componentes que irão ser consumidos no
processo de prestação de serviços, com adequado destaque dos elementos que fazem a
composição do preço, quer seja mão de obra, quer seja materiais aplicados ou consumidos no
processo de produção. Muitas das vezes as formatações contratuais podem levar aos governos
municipais o entendimento de que pela ausência de uma correta discriminação o serviço
deverá ser integralmente tributado.
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REFERÊNCIAS
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2005.
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São Paulo: Atlas, 2005.
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2008.
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municipais. 5.ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009.
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http://www.sefin.fortaleza.ce.gov.br/tributos_municipais/gerados/iss.asp. Acesso em
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YAMADA, Camila Barboza. Base de cálculo do ISS incidente sobre obras de construção
civil com fornecimento de materiais. Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2603, 17 ago.
2010. Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/17199. Acesso em: 24 maio 2011.
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Agradecimentos2
2 Agradeço a todos que contribuíram na construção desta pesquisa, especialmente à minha família e aos diversos
companheiros de estudo.