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Page 1: ISSN 0102-0099 Dezembro, 2004 - Agência Embrapa de ... · Embrapa Milho e Sorgo - Caixa Postal 151 CEP 35701-970 ... tipo de hospedeiro e da longevidade do unidade de área varia

114ISSN 0102-0099Dezembro, 2004Sete Lagoas, MG

Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

Controle Biológico da lagartado cartucho do milhoSpodoptera frugiperda utilizando o parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum

Ivan CruzMárcio Antonio Resende Monteiro

Spodoptera frugiperda conhecida na fase Variando de 26 a 1.500 ovos.

larval como lagarta-do-cartucho, é a principal opraga da cultura do milho no Brasil e, nos Sob temperaturas variando entre 25 e 30 C,

últimos anos, vem aumentando de o período de incubação dura em torno de

severidade em várias áreas cultivadas. Entre três dias. Em temperaturas inferiores a

os motivos apontados para esse aumento de essas, esse período pode alongar-se até 8-

importância da praga, podem ser citados o 10 dias. Findo o período de incubação,

desequilíbrio biológico, pela eliminação de eclodem as lagartas, que começam a

seus inimigos naturais, e também o aumento alimentar-se dos tecidos verdes,

da exploração da cultura, que é cultivada em ocasionando o sintoma de danos

várias regiões brasileiras, em duas safras característico denominado "folhas

anuais. Dessa maneira, livre dos inimigos raspadas". À medida que a larva cresce, ela

naturais e com a disponibilidade de alimento dirige-se para a região do cartucho, onde

durante o ano todo, a praga tem amplas ocasiona severos danos, se não for

condições de sobrevivência. O inseto controlada.

também ataca e causa danos a várias outras

culturas de importância econômica, como o Apesar do cartucho ser o local onde

algodão, arroz, alfafa, amendoim, abóbora, normalmente se verifica a sua presença, a

batata, couve, espinafre, feijão, repolho, praga pode ocasionar danos em várias

sorgo, trigo e tomate. outras partes da planta, como os pendões,

as espigas e raízes adventícias. O período

A mariposa coloca seus ovos em massa, larval varia em função da temperatura.

geralmente na folha do milho. Uma massa Durante o verão, quando a temperatura é

possui em média cerca de 100 ovos. mais elevada, o ciclo larval pode ser

Ph.D., Entomologia. Embrapa Milho e Sorgo - Caixa Postal 151 CEP 35701-970 Sete Lagoas, MG E-mail:

[email protected]

M.S. Fitotecnia. Embrapa Milho e Sorgo - Caixa Postal 151 CEP 35701-970 Sete Lagoas, MG

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2Controle Biológico da lagarta do cartucho do milho Spodoptera frugiperda

utilizando o parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum.

completado em cerca de 15 dias. dietas artificiais e da utilização de

hospedeiros alternativos. Estes dois

Portanto, durante a época mais quente do processos proporcionam um grande número

ano, por exemplo, numa temperatura média de insetos de boa qualidade e com idade oacima de 25 C, o ciclo total do inseto pode conhecida. A utilização desses hospedeiros

ser completado em menos de 30 dias, alternativos é vantajosa, devido ao baixo

possibilitando a essa espécie a produção de custo de criação, facilidade do processo e

várias gerações durante o ano. alta capacidade de reprodução. Hospedeiros

alternativos são aqueles que proporcionam o

Controle Biológico desenvolvimento de uma espécie parasita de

A Embrapa Milho e Sorgo vem procurando forma semelhante à de seu hospedeiro

novas alternativas de controle da lagarta-do- preferencial. Os insetos mais utilizados como

cartucho e foram identificados, na própria hospedeiros alternativos para a criação de

natureza, insetos que, além de não vespinhas são: Cocyra cephalonica,

prejudicarem as lavouras, alimentam-se de Sitotroga cerealella e Anagasta kuehniella.

ovos e larvas dessa praga, constituindo-se

em seus inimigos naturais, realizando o que Para a criação do Trichogramma na Embrapa

se denomina controle biológico. Milho e Sorgo, utilizam-se como hospedeiro

alternativo ovos de Anagasta kuehniela,

Vespa Trichogramma conhecida como a traça-das-farinhas, que é

As vespinhas do grupo Trichogramma uma pequena mariposa, de coloração cinza-

parasitam os ovos de várias ordens de escura, cujo ciclo de vida dura em torno de

insetos e podem ser multiplicadas em 40 dias.

laboratório de maneira fácil e econômica,

utilizando-se, para isso, hospedeiros Liberação da Vespinha no campoalternativos. Fatores que afetam a eficiência

Os fatores que afetam a eficiência do

A fêmea adulta da vespinha coloca seus parasitóide liberado artificialmente no campo

ovos no interior dos ovos do hospedeiro. são os seguintes: número de insetos

Todo o desenvolvimento do parasitóide se liberados, densidade da praga, espécie ou

passa dentro do ovo da praga. O parasitismo linhagem de Trichogramma liberada, época e

pode ser verificado cerca de quatro dias número de liberações, método de

após a postura, pois os ovos parasitados distribuição, fenologia da cultura, número de

tornam-se enegrecidos. O ciclo de vida do outros inimigos naturais presentes e

parasitóide é, em média, de dez dias (Figura condições climáticas.

1).

O número de ovos parasitados por Quantidade por hectare

fêmea depende da espécie do parasitóide, do A quantidade de insetos a ser liberada por

tipo de hospedeiro e da longevidade do unidade de área varia em relação à

adulto. A fecundidade do hospedeiro é densidade populacional da praga. Em média,

função do suprimento alimentar, da para a cultura do milho, tem-se liberado

disponibilidade do hospedeiro, da cerca de 100.000 indivíduos por hectare.

temperatura e da atividade da fêmea, sendo

variável de 20 a 120 ovos por fêmea. Cada biolaboratório tem o sua maneira de

Ciclo de vida da vespinha no interior de fabricar as cartelas contendo as Vespinhas,

ovos do hospedeiro alguns colocam em capsulas fechadas cerca

de 2000 ovos parasitados, outros as

A criação das vespinhas teve grande impulso colocam em cartelas com numero de ovos

nos últimos 20 anos, através do uso de parasitados variando de 40.000 a 60.000.

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3Controle Biológico da lagarta do cartucho do milho Spodoptera frugiperda

utilizando o parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum.

emergência dos adultos. Deve-se recortar as

Número de liberações cartelas que já vem previamente

Dependendo do fluxo de entrada da praga na quadriculada; em 20 pequenas quadrículas.

área, especialmente em locais onde o Quando for observada a emergência dos

desequilíbrio biológico é evidente, às vezes primeiros adultos, leva-se o material para o

serão necessárias novas liberações, o que campo (quadriculas de cartela previamente

deve ser feito sempre após constatada a cortadas), colocando-as na bainha da planta

presença de mariposas na área. (Ponto de inserção da folha no colmo).

Método de liberação Pontos de liberaçãoLiberação das vespinhas no campo. Quanto mais uniforme for a liberação dos

Para liberar o parasitóide, existem vários insetos, melhor será a eficiência do controle.

métodos, um deles é através da liberação Na utilização de cartelas com insetos

das vespinhas adultas já emergidas. Para próximo à emergência, os pontos de

isso, utilizam-se recipientes de plástico ou de liberação variam de 40 a 60 por hectare.

vidro, de 1,6 a 2 litros de capacidade, onde Nesse caso, as cartelas são subdivididas de

são colocadas as cartolinas com os ovos acordo com o número de pontos a ser

parasitados (duas a seis cartelas de 150 liberado, e em seguida distribuídas nos

cm²). Os recipientes devem ser pontos estabelecidos.

acondicionados com um pano preto, preso

por um elástico ou goma. Algumas horas Época de liberaçãoapós a emergência dos adultos, os A distribuição do Trichogramma pretiosum

recipientes são levados ao campo, onde são, no campo deve ser sincronizada com o

intermitentemente abertos e fechados, a aparecimento dos primeiros ovos e/ou

medida que se percorre o local de liberação, adultos da praga. As liberações devem ser

calibrando o passo dos operários de tal repetidas com uma freqüência semanal ou

maneira a cobrir uniformemente o campo. menor intervalo, dependendo do grau de

No dia seguinte os recipientes devem infestação dos ovos da praga. A época

novamente ser levados ao local, para correta de se iniciar as liberações, a

distribuição do material restante que freqüência em mantê-las e a quantidade

emergiu, depositando, cuidadosamente, no empregada são fatores fundamentais para

final, as cartelas sobre as plantas. Essa garantir a eficácia do controle biológico com

segunda liberação deve ser realizada em o Trichogramma. É muito importante fazer

sentido contrário à do primeiro dia. É avaliações antes e depois das liberações,

necessário que o operário aproxime o para qualificar o comportamento do

máximo a boca do recipiente da planta, para parasitóide e poder medir sua ação

facilitar o encontro dos adultos com as reguladora. Dessa maneira, pode-se também

folhas da mesma. fazer os ajustes necessários. Se possível,

deve ser realizada a distribuição de ovos em

Quando se usa a técnica de levar o pontos estratégicos, para se determinar o

recipiente aberto todo o tempo, ele deve índice de parasitismo. Caso contrário, fazer

estar na posição horizontal, com a boca em essa determinação coletando-se ovos da

direção contrária àquela em que se caminha, população natural da praga. Por

deixando que as vespinhas saltem, amostragem, a avaliação da eficiência

aproximando-se o recipiente o máximo poderá também ser complementada através

possível da planta. da avaliação dos danos às espigas, através

de escala de danos.

Outro método de distribuição é através da

colocação da própria cartela, antes da

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ComunicadoTécnico, 114

Comitê de Publicações

Presidente: Jamilton Pereira dos Santos

Secretário-Executivo: Frederico Ozanan M. Durães

Membros: Antônio Carlos de Oliveira, Arnaldo Ferreira

da Silva, Carlos Roberto Casela, Fernando Tavares

Fernandes e Paulo Afonso Viana

Exemplares desta edição podem ser adquiridos na:

Embrapa Milho e Sorgo

Endereço: Caixa Postal 151

35701-970 Sete Lagoas, MG

Fone: (31) 3779-1000

Fax: (31) 3779-1088

E-mail: [email protected]

1ª edição

1ª impressão (2004): 200 exemplares

Expediente Supervisor editorial: Antônio Carlos de Oliveira

Revisão de texto: Dilermano Lúcio de Oliveira

Tratamento das ilustrações: Tânia Mara A. Barbosa

Editoração eletrônica: Tânia Mara A. Barbosa

Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

Controle Biológico da lagarta do cartucho do milho Spodoptera frugiperda

utilizando o parasitóide de ovos Trichogramma pretiosum.

Cuidados na liberação temperaturas do que as fêmeas, embora

1. As espécies de Trichogramma são temperaturas abaixo de 20ºC tenham

fototrópicas positivas por isto, apresentam reduzido a capacidade de dispersão delas.

máxima atividade de oviposição durante o 3. Ao fazer as liberações, é indispensável ter

dia; portanto, podem estar muito sujeitas em conta a direção do vento, o excesso de

aos efeitos tóxicos da aplicação de radiação solar (calor) e a presença de

inseticidas não seletivos. chuvas.

2. A eficiência do Trichogramma no campo 4. Para maior eficiência do parasitóide, é

também é afetada pelas condições necessária a redução ou a eliminação do uso

climáticas. Tem-se verificado, para algumas de inseticidas químicos. Se for preciso, em

espécies, que a umidade relativa não tem alguma situação, deve-se selecionar

efeito na sobrevivência e na capacidade de produtos menos tóxicos e continuar

dispersão do parasitóide na faixa de 33 a liberando os parasitóides dois ou três dias

92%. Também a ação do vento, em após, incrementando a dose e a frequência,

velocidades menores que 3,6 m/seg, não para restaurar o equilíbrio biológico.

tiveram influência na dispersão das fêmeas. 5. A integração das liberações com outras

A taxa de dispersão (cm/min) do parasitóide, medidas culturais, microbiológica, físicas e

em ambos os sexos, aumenta com a mecânicas podem aumentar a eficiência

elevação da temperatura. Os machos geral do controle.

parecem ser mais sensíveis às altas