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ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE COMPLEXOS ATIVOS Ariane Chimin Diante de muitos estudos validados cientificamente, várias espécies vegetais apresentaram expressivas atividades farmacológicas. Dentro desses estudos, estão os processos de fracionamento de extratos vegetais com o isolamento de substâncias ativas. Para o isolamento de compostos consideravelmente de maior interesse utiliza-se, atualmente, a cromatografia líquida de alta eficiência acoplada a espectrofotômetro de ultravioleta e espectrômetro de massas ou de ressonância magnética nuclear. Este resultado é dado em função dos dados espectrais obtidos. 1 Mas também, podem ser utilizados outros métodos para o isolamento de complexos ativos, como a cristalização fracionada, sublimação, destilação fracionada, destilação pelo vapor de água sobreaquecido, filtração por géis, eletrodiálise, e eletroforese. 2 1. PARTIÇÃO POR SOLVENTES O fracionamento de um extrato vegetal pode ser iniciado através da partição por solventes orgânicos de polaridade crescente ou através da partição ácido-base. A partição envolve uma dissolução seletiva e distribuição entre as fases de dois solventes imiscíveis. Esse fenômeno pode ser aplicado visando à separação de componentes de uma mistura. Cada substância apresenta um coeficiente de partição ou distribuição, o qual está relacionado com a concentração de cada um dos componentes em cada fase. Quando o volume total de solvente utilizado na

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ISOLAMENTO E PURIFICAÇÃO DE COMPLEXOS ATIVOS

Ariane Chimin

Diante de muitos estudos validados cientificamente, várias espécies vegetais

apresentaram expressivas atividades farmacológicas. Dentro desses estudos, estão

os processos de fracionamento de extratos vegetais com o isolamento de

substâncias ativas. Para o isolamento de compostos consideravelmente de maior

interesse utiliza-se, atualmente, a cromatografia líquida de alta eficiência acoplada

a espectrofotômetro de ultravioleta e espectrômetro de massas ou de ressonância

magnética nuclear. Este resultado é dado em função dos dados espectrais obtidos.1

Mas também, podem ser utilizados outros métodos para o isolamento de

complexos ativos, como a cristalização fracionada, sublimação, destilação

fracionada, destilação pelo vapor de água sobreaquecido, filtração por géis,

eletrodiálise, e eletroforese. 2

1. PARTIÇÃO POR SOLVENTES

O fracionamento de um extrato vegetal pode ser iniciado através da partição

por solventes orgânicos de polaridade crescente ou através da partição ácido-base.

A partição envolve uma dissolução seletiva e distribuição entre as fases de dois

solventes imiscíveis. Esse fenômeno pode ser aplicado visando à separação de

componentes de uma mistura. Cada substância apresenta um coeficiente de

partição ou distribuição, o qual está relacionado com a concentração de cada um

dos componentes em cada fase. Quando o volume total de solvente utilizado na

partição é dividido em partes, obtêm-se melhores rendimentos de extração. Neste

método de extração líquido/líquido é utilizado um funil de separação.1

2. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS

Os métodos cromatográficos são os mais utilizados atualmente nos

processos de separação e isolamento de compostos ativos, mas podem servir

também para identificar e analisar misturas (cromatografia preparativa) e

substâncias isoladas (cromatografia analítica). A fase estacionária pode estar

empacotada em coluna (aberta ou fechada) ou compor uma superfície plana, como

na cromatografia em papel e cromatografia em camada delgada.

Em geral, a técnica cromatográfica compreende as seguintes etapas:

- montagem da coluna ou placa: disposição correta da fase estacionária ou

suporte e preparação da fase móvel;

- aplicação da amostra;

- desenvolvimento: passagem da fase móvel (solvente) através da fase

estacionária;

- revelação/visualização: localização das diferentes zonas de separação dos

compostos e/ou

- extração das substâncias retidas na fase estacionária.

De acordo com o processo no qual se baseia a separação dos componentes

da mistura a ser analisada, a cromatografia líquida divide-se em quatro espécies:

a) cromatografia de partição: separação dos componentes de uma mistura

baseada nos seus coeficientes de partição entre dois solventes imiscíveis que

formam as fases móvel e estacionária;

b) cromatografia de adsorção: a fase estacionária sólida que é constituída

por partículas finas de adsorventes polares ou apolares é utilizada para adsorver os

componentes da solução analisada, onde o componente que for mais atraído pelo

adsorvente será deslocado pela fase móvel de forma mais lenta;

c) cromatografia de troca iônica: baseia-se na troca de íons entre a fase

móvel e resinas, as quais contém grupos funcionais do tipo ácido sulfônico (resina

catiônica ou trocadora de ânions). Então esta cromatografia é aplicada na

separação apenas de substâncias contendo grupamentos ionizáveis, como por

exemplo, aminoácidos e alcalóides;

Exemplo de cromatografia de troca iônica:

d) cromatografia de exclusão ou de filtração molecular: é baseada no

tamanho das moléculas do soluto que passam através da fase estacionária, a qual é

constituída por um gel poroso. Este gel não permite que as moléculas maiores

passem pelos poros, e assim, são arrastadas pela fase móvel. Já as moléculas

menores, que conseguem atravessar estes poros da fase estacionária são retidas por

um tempo mais longo no interior da coluna. Os géis utilizados são derivados do

dextrano, conhecido comercialmente como Sephadex.

Há várias técnicas de cromatografia líquida, que se diferenciam pelos

equipamentos utilizados e pelo tipo de material usado como fase estacionária.

A cromatografia gasosa (CG) serve para separar componentes a partir de

misturas de compostos voláteis. Obtém-se como resultados, produtos de baixo

ponto de ebulição, originados se substâncias não voláteis através de reações

químicas com derivados do silano. A combinação com um sistema de

espectrometria de massas, é muito útil para separar e identificar estruturas, como

por exemplo, componente de óleos voláteis.

Exemplo de um espectro de cromatografia gasosa (óleo da canela):

A cromatografia líquida em coluna é uma das técnicas mais utilizadas para a

separação ou isolamento de constituintes de extratos vegetais; além de ser muito

versátil, pois podem ser utilizadas colunas de diferentes tipos e dimensões, assim

como combinações de diversas fases móveis e estacionárias. Essa técnica pode ser

realizada em colunas de vidro, sob pressão atmosférica, ou com equipamentos

especiais que permitem trabalhar com pressões maiores, o que consequentemente

aumenta a velocidade e a eficiência do processo de separação.

A cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE ou HPLC – High

Performance Liquid Chromatography) requer uma pressão alta e fluxo livre de

pulsações, pois utiliza colunas contendo o suporte, que é a fase estacionária,

formado por partículas extremamente finas (3 a 10 µm), esféricas ou irregulares,

homogêneas e densamente compactadas, que oferecem grande resistência ao fluxo

da fase móvel. Isto permite que a fase móvel flua a uma velocidade razoável

através da coluna, e por este motivo a CLAE é uma técnica mais cara. Utilizando

equipamentos mais simples, pode-se trabalhar com pressões inferiores, como na

cromatografia líquida a vácuo ou ainda com a cromatografia líquida de média

pressão. Os suportes mais empregados são substâncias inorgânicas como gel de

sílica e alumina (óxido de alumínio), utilizadas geralmente na separação de

compostos lipofílicos. Também se utiliza para suporte materiais orgânicos como

celulose, poliamida e géis de dextrano quando se quer a separação de substâncias

hidrofílicas, como aminoácidos e açúcares. E ainda, existem os materiais

modificados quimicamente, como a celulose acetilada ou gel de sílica substituído

por cadeias orgânicas alifáticas de C8 a C18 que também podem ser utilizados

como suportes. Separações cromatográficas em que a fase móvel é apolar e a fase

estacionária é polar são denominadas de separações em fase normal, enquanto

sistemas com fase móvel polar e fase estacionária apolar constituem as separações

em fase reversa ou RP (reversed phase).

Exemplo de um espectro de HPLC:

A cromatografia em camada delgada (CCD) é uma técnica bastante

utilizada para análise de extratos vegetais brutos e também para avaliar o resultado

de um processo de separação. Ocasionalmente, pode-se utilizar também a CCD

para fins preparativos, e nesse caso, com camadas suporte que comportem uma

quantidade maior de amostra, então com maior espessura. Há vários tipos de

suportes, que podem ser usados tanto de fase normal como reversa, variando com a

polaridade dos componentes da amostra a analisar. As placas para CCD podem ser

produzidas no próprio laboratório, mas devem facilitar o espalhamento uniforme

da suspensão aquosa do suporte sobre as placas de vidro. O método de preparação

manual tem a vantagem de ser bastante econômico, mas requer certa prática, e

pode ser bastante satisfatório em algumas análises de rotina, principalmente

quando os suportes mais comuns. As placas industriais devem estar padronizadas

quanto ao tamanho das partículas do suporte, à espessura da camada (0,025 cm

para fins analíticos e 0,2cm para fins preparativos) e à ativação do suporte,

possibilitando resultados mais reprodutíveis do que com as placas preparadas

manualmente. Os suportes podem conter indicadores fluorescentes em 254 nm,

com a especificação F254, geralmente sobre base de vidro, celulóide ou alumínio.

As duas últimas, além de inquebráveis, possibilitam que se recortem as placas em

tamanho menor, se desejado. O desenvolvimento da CCD ocorre em uma cuba

fechada, previamente saturada com a fase móvel. A aplicação das amostras nas

cromatoplacas é feita a partir de soluções concentradas, onde a aplicação é feita

com capilares a uma distância adequada das bordas laterais, inferior, e entre as

amostras. Quando se deseja isolar uma substância de uma mistura, CCD

preparativa, pode ser utilizado um número maior de placas com a mesma amostra,

que é aplicada em linha ou barra.1

Exemplo de cromatografia em camada delgada:

3. CRISTALIZAÇÃO FRACIONADA

São feitas cristalizações sucessivas pela evaporação parcial dos solventes,

por aquecimentos, ou pelo acréscimo de outros solventes, em pequenos volumes,

que sejam miscíveis para diminuir a solubilidade dos compostos analisados. Estes

cristais são separados por decantação, filtração ou centrifugação. 2

4. SUBLIMAÇÃO

Esta técnica é utilizada para isolar alguns constituintes naturais, como por

exemplo, cantaridina, ácido benzóico, compostos antraquinônicos. É pouco

utilizada nos métodos extrativos no exame de fármacos, e seu valor reside na

purificação de compostos químicos já isolados anteriormente.2

Exemplo de sublimação:

5. DESTILAÇÃO FRACIONADA

É utilizada na separação de componentes líquidos, de modo que não haja

alterações nas estruturas moleculares pela ação do calor. Então esta técnica é

realizada a baixas temperaturas, a pressões reduzidas, e em atmosfera de azoto. Os

líquidos são transformados, dessa maneira, em cristais muito fáceis de purificar. É

mais usual para misturas de compostos com estruturas análogas, inclusive

isômeros espaciais.2

6. DESTILAÇÃO PELO VAPOR DE ÁGUA SOBREAQUECIDO

Usado para separar compostos com tensões de vapor elevadas, como ácidos

alifáticos de pequenos pesos moleculares, óleos essenciais, alcalóides da cicuta,

tabaco.2

7. FILTRAÇÃO POR GÉIS

É uma técnica baseada na grandeza das moléculas e na sua capacidade de

passagem através de glóbulos de géis muito pequenos (de poliestireno, acetato de

vinilo, sílica ou vidro, exceto materiais que determinem fenômenos de adsorção).

O glóbulo de vidro é o mais estável.

Ao colocar a solução, as macromoléculas conservam-se no topo das

colunas, e as que conseguem atravessar, que são as menores, ficam retidas um

pouco nos poros do gel, retardando assim a velocidade de escoamento. As maiores

são as que aparecem primeiro no líquido afluente, pois passam imediatamente

pelas colunas.

As fases móveis são líquidos de pequena viscosidade capazes de dissolver

as substâncias que devem ser separadas. Alguns exemplos são a água, tolueno,

benzeno, clorofórmio.

Este método não tem utilidade quando os compostos forem análogos, pois

as substâncias são separadas pelos diferentes pesos moleculares.2

8. ELETRODIÁLISE

Esta técnica é importante na extração e purificação de substâncias

ionizáveis, porém não se pode dizer que é um método de isolamento. Utiliza

membranas semipermeáveis que separam as tinas contendo os eletrodos e o

eletrólito, e a solução analisada é colocada na tina conveniente. É usada uma

corrente contínua, de intensidade fraca, a fim de aumentar a velocidade da diálise,

que em geral leva algumas horas.

9. ELETROFORESE

É semelhante à cromatografia em papel, embora os princípios sejam

diferentes. Folhas de papel dispostas verticalmente são percorridas por um

eletrólito ininterruptamente, e o campo elétrico fica estabelecido entre os eletrodos

dispostos lateralmente. São recolhidas diferentes frações na extremidade das folhas

de papel. É empregado na análise de macromoléculas dos prótidos, sobre diversos

suportes.2

Exemplo de eletroforese:

VERIFICAÇÃO DA PUREZA DA AMOSTRA

As farmacopéias estabelecem genericamente, valores de quaisquer fatores

que possam interferir na pureza de uma droga vegetal. São analisados critérios

como a presença de elementos estranhos à droga, teor de umidade, contaminação

microbiológica e parasitária, resíduos de pesticidas e de metais pesados. 1

A pureza das substâncias isoladas também pode ser determinada analisando

suas propriedades físico-químicas como, ponto de fusão e de ebulição, índice de

refração e de polarização, infravermelho, ultravioleta e cromatogramas. 2

- Pesquisa de elementos estranhos

Algumas impurezas estão frequentemente presentes em drogas vegetais, que

podem ser órgãos da própria planta, diferentes do farmacógeno, como por

exemplo, restos de caules em flores de camomila; fragmentos de outras plantas,

como gramíneas e ervas daninhas; ou materiais de outra origem, como areia ou

terra em raízes e caules, mesmo quando são cultivadas e tratadas adequadamente.

São fatores considerados impurezas desde que não caracterizem falsificação ou

adulteração do material.

A Farmacopéia Brasileira (1988) inclui ainda, como impurezas, a presença

de fungos, insetos e outros materiais contaminantes. A OMS (WHO, 1992)

acrescenta que os materiais devem estar livres de organismos patogênicos. As

Farmacopéias Alemã e Britânica incluem, ainda, outras impurezas de origem

animal.

A Farmacopéia Brasileira (1988) e, também, a Organização Mundial de

Saúde (WHO, 1992), classificam os elementos estranhos em três grupos:

a) partes do organismo ou organismos dos quais a droga deriva, acima do

limite de tolerância especificado na monografia, com exceção daqueles

incluídos na definição e descrição da droga;

b) quaisquer organismos, porções ou produtos de organismos além

daqueles especificados na definição e descrição da droga em sua

respectiva monografia;

c) impurezas de natureza mineral não inerentes à droga, tais como pedras,

areia ou terra.

Para as Farmacopéias Alemã e Britânica são considerados elementos

estranhos:

a) partes da planta, que não correspondam ao farmacógeno descrito na

monografia farmacopéica;

b) partes de outras plantas ou elementos de origem mineral.

A quantidade de amostra a ser analisada é estabelecida de acordo com a

granulometria ou o tipo de farmacógeno empregado. A amostra é inicialmente

pesada (geralmente entre 100 e 500g), separando-se através de exame visual,

inicialmente sem auxílio de lupa e, posteriormente, empregando uma lente de

aumento (6x), os elementos estranhos. O percentual de elementos estranhos não

deve exceder a 2% (m/m), a não ser quando especificado diferentemente na

monografia.1

- Pesquisa de constituintes químicos indesejáveis

A verificação da presença de constituintes químicos vegetais indesejáveis é

preconizada em algumas monografias farmacopéicas como um dos critérios de

pureza da amostra. Na análise de frutos de erva-doce (Pimpinella anisum L.), é

indicada a realização da reação com hidróxido de potássio e verificação do

desprendimento de odor desagradável (de urina de rato), o qual caracteriza a

presença de coniina, um alcalóide tóxico presente em frutos de cicuta (Conium

maculatum L.), os quais já foram encontrados como contaminantes de amostras de

erva-doce.

Erva-doce Cicuta

As cascas frescas de cáscara-sagrada (Rhamnus purshiana DC.) possuem,

predominantemente, antronas e diantronas na forma reduzida, as quais podem

causar irritação da mucosa gástrica, vômitos, cólicas e diarréia sanguinolenta. É

preconizada a secagem das cascas em corrente de ar quente ou o seu

armazenamento por um ano antes do uso, pois estes procedimentos permitem a

oxidação destes compostos. Portanto, na análise de amostras de cáscara-sagrada, a

presença de antronas indica que o material ainda não está adequado para o uso.

Cáscara

As aflatoxinas são substâncias tóxicas produzidas pelo fungo Aspergillus

flavus, sendo recomendado, com ênfase para drogas oleaginosas, a análise dessas

substâncias, paralelamente com a verificação da contaminação por

microrganismos, através de metodologia por CCD para a determinação da presença

de aflatoxinas.

Aspergillus flavus

A pesquisa de substâncias químicas indesejáveis pode ser realizada através

de reações químicas de caracterização ou por métodos cromatográficos. A

Farmacopéia Alemã (1991) indica a CCD como método de determinação da pureza

em várias monografias.1

- Determinação do teor de cinzas

Impurezas inorgânicas não-voláteis podem estar presentes nas amostras, o

que significa que as mesmas estão contaminadas. Para a pesquisa dessas

impurezas, determina-se o teor de cinzas. O material é colocado em cadinho de

porcelana ou de platina e quantitativamente incinerado, até peso constante.

Frequentemente é preconizado o tratamento prévio da amostra com ácido sulfúrico

(cinzas sulfatadas), o que aumenta a reprodutibilidade do método, sendo então, o

mais indicado para drogas vegetais. Esses ensaios são realizados em triplicata, e as

técnicas são detalhadamente descritas nas Farmacopéias.

Recomenda-se no caso de farmacógenos, a determinação das cinzas

insolúveis em ácido clorídrico, permitindo, por exemplo, a verificação de

contaminantes como resíduo de terra ou areia em raízes. Para essa análise podem

ser utilizadas também as metodologias de cinzas sulfatadas ou de cinzas não

tratadas.1

- Determinação do teor de umidade

O desenvolvimento de microrganismos em matérias-primas vegetais pode

ser originário do excesso de umidade das mesmas, pois essa umidade permite a

ação de enzimas que degradam os constituem químicos vegetais. O teor de

umidade estabelecido nas diferentes farmacopéias varia entre 8 e 14%, com poucas

exceções especificadas nas monografias.

Podem ser utilizados vários métodos. A Farmacopéia Brasileira (1988)

preconiza os métodos gravimétricos, da destilação azeotrópica e volumétrico (Karl

Fischer). O método gravimétrico, também descrito nas Farmacopéias Britânica e

Alemã e pela OMS, é mais adequadamente denominado perda por dessecação.

No método gravimétrico determina-se o percentual de material volatilizado

após a dessecação, caracterizado assim como de simples execução. No caso de

plantas contendo, por exemplo, elevado teor de óleo volátil, o percentual de perda

de massa poderá ser consideravelmente maior. É recomendada a utilização de 2 a

5g de material rasurado (no máximo 3 mm; frutos, mesmo de dimensões inferiores,

devem ser rasurados ou quebrados), secagem em estufa entre 100 a 105ºC por 5h e

resfriamento, em dessecador, por 1h, porém a técnica pode variar de uma

farmacopéia para outra. O ciclo de aquecimento-resfriamento é repetido até peso

constante ou até que a diferença entre duas pesagens sucessivas não exceda a 5mg.

Como alternativa, podem ser empregadas balanças acopladas à sistema de secagem

por irradiação infravermelha. Ainda há outra técnica farmacopéica que prescreve a

manutenção do material vegetal em dessecador, sob pentóxido de fósforo, à

pressão atmosférica e temperatura ambiente, utilizada geralmente para drogas

contendo resinas ou substâncias voláteis que sofrem alteração do estado físico de

100 a 105ºC, originando uma massa disforme após a secagem em estufa. Também

pode ser recomendado processos sob pressão reduzida.

A quantidade de água presente no vegetal pode ser determinada pelo

método de destilação azeotrópica, onde o material é destilado juntamente com

tolueno ou xileno. É utilizada uma aparelhagem específica, variando o modelo de

acordo com a Farmacopéia. Lou (1980) apresenta uma tabela comparativa entre os

modelos apresentados nas Farmacopéias Americana, Chinesa, Européia, da

Alemanha Oriental e Rússia, concluindo que os modelos das Farmacopéias

Européia e da Alemanha Oriental apresentam o melhor desenho. A Farmacopéia

Brasileira, 4ª edição, preconiza o aparelho proposto por Dean e Stark. A técnica

consiste em destilar, inicialmente, 200ml de tolueno saturado com água,

adicionado de 2ml de água, por 2h. Após o resfriamento, faz-se a medida do

volume de água destilada. A seguir, adiciona-se material vegetal a ser analisado e

alguns fragmentos de material inerte poroso, aquecendo-se brandamente por 15

min. Destila-se a um fluxo determinado. Após o término da destilação da água,

lava-se o condensador com tolueno e destila-se por mais 5 min. Ao final do

procedimento há a separação das fases e o volume de água é medido no tubo

coletor, desconta-se o volume inicial e calcula-se o percentual de água na amostra.1

- Pesquisa de contaminantes microbiológicos

Fungos e bactérias, geralmente provenientes do solo, pertencentes à

microflora natural de certas plantas podem estar presentes na drogas vegetais ou

podem ser até mesmo introduzidas durante a manipulação. Dependendo das

condições de manuseio, secagem e armazenamento, a contaminação pode se

intensificar pelo desenvolvimento de microrganismos viáveis.

A determinação dos limites de toleráveis é discutida por vários países,

sendo freqüentemente aceitos os valores estabelecidos para alimentos. A

Farmacopéia Européia estabelece para as drogas vegetais os seguintes critérios:

a) drogas que serão submetidas a tratamento que pode conduzir a uma

redução do número de microrganismos, antes do uso, como por

exemplo, com água fervente:

Microrganismos aeróbios

viáveis (totais)

≤ 107 bactérias aeróbias

≤ 105 fungos /g ou /ml

Escherichia coli ≤ 102 /g ou /ml

b) Outras preparações vegetais:

Microrganismos aeróbios

viáveis (totais)

≤ 105 bactérias aeróbias

≤ 104 fungos /g ou /ml

Enterobactérias e outras

bactérias gram-negativas

≤ 103 /g ou /ml

Ausência de Escherichia

coli

1g ou 1ml

Ausência de Salmonella 10g ou 10ml

A Farmacopéia Brasileira não estabelece limites específicos para drogas

vegetais, sendo detalhadamente descritos os métodos de filtração por membrana,

contagem em placa ou em tubos múltiplos, aplicáveis à contagem de

microrganismos viáveis em produtos que não necessitam cumprir com o teste de

esterilidade.

A Organização Mundial da Saúde também diferencia limites, de acordo com

o destino do material, apresentando alguns valores diferentes da Farmacopéia

Européia. As técnicas de determinação da carga microbiana estão descritas na

publicação da Organização Mundial da Saúde, bem como nas farmacopéias.1

- Pesquisa de agrotóxicos ou pesticidas

Neste grupo são considerados diferentes produtos empregados no combate a

organismos danosos às plantas, como: raticidas (contra ratos, camundongos e

outros roedores); inseticidas (contra vários insetos e alguns artrópodos); herbicidas

(contra ervas indesejáveis) e fungicidas (contra os diferentes tipos de fungos). O

grupo químico das substâncias é o que determina qual a técnica de análise a ser

utilizada. Segundo a estrutura ou composição química, a OMS apresenta a

classificação das substâncias mais freqüentemente empregadas (hidrocarbonetos

clorados e agrotóxicos correlatos, derivados clorados do ácido fenoxiacético,

organofosforados, carbamatos, ditiocarbamatos, inorgânicos, de origem vegetal e

outros).

A contaminação acidental de plantas silvestres que crescem em áreas

próximas à cultivo agrícola intensivo, o emprego impróprio dessas substâncias em

culturas de plantas medicinais ou o tratamento inadequado das drogas

armazenadas, são grandes fatores para a presença de agrotóxicos nas drogas

vegetais. Entre os diversos produtos, os hidrocarbonetos clorados e alguns

organofosforados possuem ação residual prolongada, os demais possuem,

geralmente, uma ação residual muito curta. Portanto, a OMS recomenda,

principalmente no caso de matérias-primas de origem duvidosa, a realização de

testes para a verificação da presença ou quantificação de organoclorados.

Os limites toleráveis de agrotóxicos, semelhantemente à contaminação

microbiana, também estão diretamente relacionados às regulamentações para

alimentos. Porém considerando que as plantas medicinais geralmente sofrem

algum tipo de processamento, como a extração, estes limites podem ser diferentes.

Ali (1987) estudou o teor de pesticidas organoclorados em 45 lotes de 15 espécies

e demonstrou que os chás preparados a partir dessas drogas continham entre 3 e

67% do teor do agrotóxico encontrado no material de partida. Em 90% das drogas

o teor encontrado no chá foi inferior a 25% do teor original. Schilcher et. Al.

(1987) demonstraram que, dependendo das características do agrotóxico, bem

como do tipo de extração e solvente extrator, o percentual extraído pode variar, por

exemplo, de 1% (p,p-DDT em extrato aquoso) a 89% (HCH em um extrato

diclorometano) do teor encontrado na droga.

Outros estudos realizados mostram que muitas preparações medicinais de

origem vegetal são empregadas por períodos prolongados, então é recomendado o

estabelecimento de limites específicos para plantas medicinais, a partir das

determinações da FAO (Food and Agriculture Organization) e a OMS. A

Farmacopéia Européia define limites máximos toleráveis para 34 pesticidas em

drogas vegetais. No Brasil, como existem parâmetros específicos para drogas

vegetais, podem ser utilizados, como orientação, os critérios contidos na relação de

substâncias com ação tóxica sobre animais e plantas, cujo registro pode ser

autorizado no Brasil, em atividades agropecuárias e produtos domissanitários,

publicada originalmente através da Portaria 10/SVS de 08/03/85, D.O.U. de

14/03/85, e reatualizada constantemente pelo Ministério da Saúde ou na Portaria

685/SVS de 27/08/98, republicada em 24/09/98, que determina os princípios gerais

para o estabelecimento de níveis máximos de contaminantes químicos em

alimentos.

Do ponto de vista analítico, esses ensaios são relativamente complexos,

devido à grande variedade de substâncias, bem como a sua instabilidade e as

pequenas quantidades a serem detectadas. O conhecimento da origem geográfica

do plantio ou a da coleta pode auxiliar no estabelecimento dos possíveis agentes

empregados. Geralmente são empregados métodos cromatográficos, especialmente

cromatografia gasosa (CG) e cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE). O

assunto é discutido detalhadamente em documentos da OMS, com diversas

técnicas de análise, assim como outras publicações específicas.1

- Pesquisa de metais pesados

A presença de metais pesados em plantas medicinais pode ser decorrente de

fatores como poluentes ambientais ou resíduos de agrotóxicos. Estudos realizados

na Alemanha demonstraram que plantas silvestres apresentaram variações nos

teores de contaminação, especialmente por chumbo, maiores do que as plantas

cultivadas. Em análise farmacêutica, o termo “metal pesado” tem sido utilizado

para descrever, principalmente, o chumbo, o arsênio, o cádmio, o cobre e o

mercúrio, elementos cuja ingestão deve ser restrita devido a seus efeitos tóxicos.

Há divergências no estabelecimento de limites de tolerância para esses

elementos em plantas medicinais nas legislações. Algumas consideram adequados

os limites determinados para alimentos, outras, no entanto, entendem que as drogas

vegetais devem seguir os mesmos critérios fixados para as demais matérias-primas

farmacêuticas e medicamentos. Estudos da FAO/WHO estabeleceram como

tolerável a ingestão semanal de, no máximo, 3000µg de chumbo ou 500µg de

Pb/dia, juntamente com a alimentação e água. Admitindo que 20% desse total

(100µg de Pb/dia) poderia advir na ingestão de medicamentos, Hartke (1986)

apresenta uma tabela relacionando a dose diária de medicamento, com o limite

máximo de Pb. Sendo assim, o limite deve ser mais rigoroso quanto maior a dose

diária ingerida.

Correlação entre a ingestão diária de medicamento e o limite máximo de Pb

Ingestão diária do

medicamento

Dose diária máxima de Pb Limite máximo para o

teor de Pb

100g 100g 1 ppm

10g 50g 5 ppm

1g 25g 25 ppm

0,1g 10g 100 ppm

0,01g 1g 1000 ppm

No caso das plantas medicinais, os procedimentos usuais de extração de

drogas vegetais são capazes de extrair percentuais que variam de 3% a 48% do teor

de metais pesados presentes na droga. E em alguns casos, existem possibilidades

tecnológicas que permitem a descontaminação do vegetal.

Segundo Schilcher et al. (1987), os métodos de análise farmacopéica

tradicionais, baseados nos ensaios-limite, não são seletivos para metais pesados

específicos, e ainda apresentam pouca sensibilidade e baixa precisão. Os autores

preconizam como metodologias adequadas a espectrofotometria de absorção

atômica, espectrometria de emissão atômica ou voltometria inversa.1

REFERÊNCIAS:

1- SIMÕES, C. M. O. et al. FARMACOGNOSIA da planta ao medicamento. 1ed. pag. 173 – 215. Florianópolis / Porto Alegre: UFSC / UFRGS, 1999. 2- COSTA, A. F. Farmacognosia. Vol. II. 4 ed. Pág. 1063 – 1075. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1994. - Disponível em: http://www.geocities.com/rainforest/2038/diversos/metais2.jpg Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://www.elsalvador.com/guanicidas Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://jata.vampula.net/kasvio/html/myrkkykeiso.htm Acesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://www.folkpartiet.se/upload/bilder/illustrationer/planta.jpgAcesso em: 06/05/2006 - Disponível em: http://licitação.uol.com.br/img/comprimido.jpgAcesso em: 06/05/2005 - Disponível em: http://www.ual.es/investigacion/purifi6.gifAcesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.chem.wky.edu/research/lynn/HPLC.jpgAcesso em: 13/05/2005 - Disponível em: http://www.consciencia.net/agrotoxicosAcesso em: 13/05/2005

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