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COORDENAÇÃO GERAL Celso Fernandes Campilongo Alvaro de Azevedo Gonzaga André Luiz Freire ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP TOMO 5 DIREITO TRIBUTÁRIO COORDENAÇÃO DO TOMO 5 Paulo de Barros Carvalho Maria Leonor Leite Vieira Robson Maia Lins Editora PUCSP São Paulo 2019

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  • COORDENAÇÃO GERAL

    Celso Fernandes Campilongo

    Alvaro de Azevedo Gonzaga

    André Luiz Freire

    ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP

    TOMO 5

    DIREITO TRIBUTÁRIO

    COORDENAÇÃO DO TOMO 5

    Paulo de Barros Carvalho

    Maria Leonor Leite Vieira

    Robson Maia Lins

    Editora PUCSP

    São Paulo

    2019

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    1

    PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

    DE SÃO PAULO

    FACULDADE DE DIREITO

    DIRETOR

    Pedro Paulo Teixeira Manus

    DIRETOR ADJUNTO

    Vidal Serrano Nunes Júnior

    ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP | ISBN 978-85-60453-35-1

    CONSELHO EDITORIAL

    Celso Antônio Bandeira de Mello

    Elizabeth Nazar Carrazza

    Fábio Ulhoa Coelho

    Fernando Menezes de Almeida

    Guilherme Nucci

    José Manoel de Arruda Alvim

    Luiz Alberto David Araújo

    Luiz Edson Fachin

    Marco Antonio Marques da Silva

    Maria Helena Diniz

    Nelson Nery Júnior

    Oswaldo Duek Marques

    Paulo de Barros Carvalho

    Raffaele De Giorgi

    Ronaldo Porto Macedo Júnior

    Roque Antonio Carrazza

    Rosa Maria de Andrade Nery

    Rui da Cunha Martins

    Tercio Sampaio Ferraz Junior

    Teresa Celina de Arruda Alvim

    Wagner Balera

    TOMO DE DIREITO TRIBUTÁRIO | ISBN 978-85-60453-48-1

    A Enciclopédia Jurídica é editada pela PUCSP

    Enciclopédia Jurídica da PUCSP, tomo V (recurso eletrônico)

    : direito tributário / coords. Paulo de Barros Carvalho, Maria Leonor Leite Vieira, Robson Maia Lins - São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2018

    Recurso eletrônico World Wide Web Bibliografia. O Projeto Enciclopédia Jurídica da PUCSP propõe a elaboração de dez tomos.

    1.Direito - Enciclopédia. I. Campilongo, Celso Fernandes. II. Gonzaga, Alvaro. III. Freire,

    André Luiz. IV. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    2

    IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA

    Maria Rita Ferragut

    INTRODUÇÃO

    Neste artigo trataremos do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial

    Urbana – IPTU, previsto no art. 156, I, da Constituição Federal.

    O IPTU é o único imposto sobre a propriedade cuja instituição e cobrança é

    atribuída aos Municípios, revelando-se de extrema importância para os orçamentos

    municipais, tendo em vista que, nas pequenas cidades, a receita advinda do ISS e do ITBI

    costuma ser pouco representativa.

    Importante característica desse imposto é trazida pelo § 1º do art. 156 da

    Constituição, que trata da progressividade. Pela norma, o imposto poderá ser progressivo

    em razão do valor, localização e uso do imóvel, exercendo importante função extrafiscal

    na medida em que alíquotas menores incidirão sobre propriedades igualmente menores,

    não localizadas em áreas melhor estruturadas e que exerçam a função social.

    Por fim, o IPTU encontra-se previsto nos arts. 32 a 34 do Código Tributário

    Nacional – CTN.

    SUMÁRIO

    Introdução ......................................................................................................................... 2

    1. Competência tributária para a instituição do IPTU ................................................. 3

    2. Regra-matriz de incidência tributária do IPTU ....................................................... 4

    2.1. Critério material .......................................................................................... 5

    2.2. Critério temporal ......................................................................................... 6

    2.3. Critério espacial ........................................................................................... 6

    2.4. Critério quantitativo .................................................................................... 8

    2.4.1. Alíquota ........................................................................................... 8

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    3

    2.4.2. Progressividade, capacidade contributiva e o IPTU ........................ 9

    2.4.3. Planta Genérica de Valores ........................................................... 12

    2.4.4. IPTU Predial e Territorial: constitucionalidade da diferenciação de

    alíquotas ......................................................................................... 12

    2.4.5. Base de Cálculo ............................................................................. 13

    2.5. Critério pessoal .......................................................................................... 14

    3. Imunidade .............................................................................................................. 14

    4. Isenção................................................................................................................... 15

    Referências ..................................................................................................................... 16

    1. COMPETÊNCIA TRIBUTÁRIA PARA A INSTITUIÇÃO DO IPTU

    Nos termos do art. 156, I, da Constituição Federal, o IPTU, incidente sobre a

    propriedade de imóveis localizados dentro das áreas urbanas dos Municípios, é de

    competência dos Municípios e do Distrito Federal.

    Competência tributária é norma jurídica de estrutura, veiculada em patamar

    constitucional, que prescreve a permissão para as pessoas políticas (União, Estados,

    Distrito Federal e Municípios) legislarem sobre matéria tributária.

    As normas de estrutura que circunscrevem o objeto da competência normativa

    demarcam o campo material possível para a criação de novas normas jurídicas,

    representado pelo conjunto de fatos, situações ou relações objeto da disciplina jurídica

    sobre as quais as normas podem constituir permissões, obrigações ou proibições.

    Cabe à norma de competência indicar o sujeito da enunciação. É ele que deve

    desempenhar o ato ou conjunto de atos necessários à produção válida de normas no

    sistema jurídico. É também essa norma que vincula, por meio de uma relação jurídica, o

    sujeito competente e os demais sujeitos de direito. No cerne desse vínculo encontra-se a

    possiblidade de editar normas sobre uma matéria qualquer.

    Portanto, no que diz respeito ao imposto objeto desse artigo, cabem aos

    Municípios e ao Distrito Federal instituir o imposto por meio de lei ordinária (regra-matriz

    de incidência tributária), bem como promover todas as demais alterações que se fizerem

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    4

    necessárias.

    2. REGRA-MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA DO IPTU

    Nas palavras do Professor Paulo de Barros Carvalho,1 “a criação de um esquema

    seguro para dar parâmetros racionais à tributação, com fundamento em estrutura lógica,

    permitiu à Ciência do Direito Tributário colaborar na limitação da vontade arrecadatória

    do legislador. A regra-matriz veio à lume, justamente, para instaurar critérios seguros,

    permitindo identificar a natureza do tributo e relacioná-la com o regime jurídico que

    querem lhe impor”.

    Regra-matriz de incidência tributária é norma jurídica – significação organizada

    numa estrutura lógica hipotético-condicional (juízo implicacional), construída pelo

    intérprete a partir do direito positivo, seu suporte físico. Tem por função regular condutas

    intersubjetivas.

    Difere das demais normas existentes no direito positivo apenas em virtude de

    seu conteúdo, que descreve um fato típico tributário e prescreve a relação obrigacional

    que se estabelece entre os sujeitos ativo e passivo, tendo por objeto o pagamento de uma

    prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, não

    decorrente de ato ilícito (tributo).

    É formada, internamente, por um antecedente que contempla os critérios

    material, espacial e temporal. No consequente, é formada pelo critério pessoal (sujeitos

    ativo e passivo) e pelo critério quantitativo (base de cálculo e alíquota).

    Como é sabido, a regra-matriz de incidência tributária permite estudar o tributo

    na sua integridade constitutiva, percebendo os elementos essenciais à incidência

    tributária, quais sejam, circunstâncias de espaço e tempo em que o tributo se torna devido,

    a modalidade de fato que se ajusta à hipótese normativa, quem deve pagar, quem deve

    receber, como deve ser calculado o valor da obrigação tributária. Essa é a abordagem de

    maior alcance operacional, pois, como assina Paulo de Barros Carvalho em preciosa lição,

    oferece todas as informações imprescindíveis à aplicação da norma tributária no caso

    1 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método, pp. 589-590.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    5

    concreto.2

    2.1. Critério material

    O critério material do IPTU é ser proprietário, ter o domínio útil ou a posse do

    bem imóvel.

    Proprietário, nos termos do art. 1.228 do Código Civil, é aquele que tem a

    faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer

    que injustamente a possua ou detenha.

    A propriedade, antes considerada direito subjetivo absoluto, atualmente ressurge

    sob outra concepção, ao aliar a função social às faculdades de usar, gozar e dispor.

    O princípio da função social relativiza o individualismo que marcou o tratamento

    do direito de propriedade que se tinha até o Código Civil de 2002. A propriedade não

    deixou de ser direito subjetivo tutelado pelo ordenamento jurídico, mas a função social

    alterou a estrutura e o regime jurídico do respectivo direito, atuando sobre o seu conceito

    e o seu conteúdo.

    A propriedade que não cumpre sua função social não pode ser tutelada pelo

    ordenamento, que submete os interesses patrimoniais aos princípios fundamentais. Nessa

    medida, a Constituição garante o direito de propriedade, desde que este exerça sua função

    social.

    Já domínio útil é a ingerência direta sobre a coisa, ou seja, o gozar, dispor, usar

    e reaver o bem.

    A posse, por sua vez, encontra-se prevista no art. 1196 do Código Civil:

    “considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum

    dos poderes inerentes à propriedade”.

    Infere-se, portanto, que posse é o exercício, pleno ou não, dos poderes inerentes

    à propriedade.

    A legislação associa posse a exercício. A despeito de todo o dissenso doutrinário

    acerca da conceituação da posse e da sua natureza jurídica, que não nos cabe nesse

    momento aprofundar, a posse pode ser definida como um poder que alguém exerce sobre

    2 Idem, p. 590.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

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    a coisa; direito real subjetivo de usar, gozar e dispor de uma determinada coisa. É fato

    que, considerado em si mesmo, gera efeitos jurídicos, razão pela qual tal exercício goza

    tanto de proteção legal contra terceiros (como ocorrem nas ações possessórias), como

    reconhecimento, que pela passagem do tempo, outorga aos possuidores o direito de

    adquirir a propriedade, através da ação de usucapião.

    Nesse contexto, registramos que a doutrina3 e a jurisprudência4 já se

    posicionaram entendendo que não é qualquer posse que autoriza a exigência do imposto,

    mas tão somente aquelas em que o possuidor se comporta como legítimo proprietário do

    imóvel. Por isso, o locatário, o comodatário e outros que a esses se assemelhem não são

    contribuintes do IPTU.

    Considerando que o domínio útil e a posse são atributos intrínsecos a um direito

    maior, que é o direito de propriedade, tem-se que o CTN não ultrapassou o limite

    constitucional.

    2.2. Critério temporal

    Por critério temporal deve-se entender o momento em que a ocorrência do fato

    de repercussão jurídica é relevante, competindo à lei ordinária a sua fixação. No IPTU, o

    critério temporal é verificado no primeiro dia de janeiro de cada ano.

    O próprio princípio da anterioridade tributária (art. 150, III, “b” e “c”, da

    Constituição), ao qual o IPTU se submete, contribui para afastar qualquer periodicidade

    inferior a um ano. Assim, se a lei que vier a majorar este tributo só poderá incidir no

    exercício financeiro seguinte ao de sua entrada em vigor, o valor da propriedade predial

    e territorial urbana do contribuinte somente poder ser aferido anualmente.

    A cobrança, por sua vez, ocorre por meio do envio de carnê aos contribuintes,

    documento que formaliza o lançamento de ofício a que o imposto está sujeito.

    2.3. Critério espacial

    3 Ver: CEZAROTI, Guilherme. A incidência do IPTU sobre propriedade com limitações de uso. IPTU – aspectos jurídicos relevantes, p. 233. Ver ainda: COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à constituição de 1988 – sistema tributário. 4 RESP 117.771/SP e RESP 172.522/SP.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

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    A princípio, o critério espacial do imposto é a zona urbana do Município em que

    o imóvel se encontra.

    O CTN, no § 1º do art. 32, define o que é zona urbana, justamente para

    diferenciá-la da zona rural, sobre a qual há incidência do Imposto Territorial Rural (ITR).

    Assim, para uma zona ser considerada urbana e, portanto, passível de cobrança do IPTU,

    deve possuir pelo menos dois dos melhoramentos descritos em referido artigo,

    construídos ou mantidos pelo Poder Público. São eles:

    (i) meio-fio ou calçamento, com canalização de águas pluviais;

    (ii) abastecimento de água;

    (iii) sistema de esgotos sanitários;

    (iv) rede de iluminação pública, com ou sem posteamento para distribuição

    domiciliar;

    (v) escola primária ou posto de saúde a uma distância máxima de 3 (três)

    quilômetros do imóvel considerado.

    Ainda, nos termos do § 2º do mesmo art. 32, a lei municipal pode considerar

    como área urbana as áreas urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de

    loteamentos aprovados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indústria ou

    ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas taxativamente como

    urbanas.

    Por fim, não poderíamos deixar de mencionar que por um segundo motivo o

    Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial 1.112.646/SP, considerou que

    a regra “localização fora da zona urbana” não é absoluta, ao entender que terrenos

    localizados em zona urbana – portanto, a princípio sujeitos à incidência do IPTU –

    sujeitam-se ao ITR, se a destinação do imóvel for rural. Confira-se a ementa de referida

    decisão:

    “TRIBUTÁRIO. IMÓVEL NA ÁREA URBANA. DESTINAÇÃO

    RURAL. IPTU. NÃO-INCIDÊNCIA. ART. 15 DO DL 57/1966.

    RECURSO REPETITIVO. ART. 543-C DO CPC. 1. Não incide IPTU,

    mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que

    comprovadamente utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola,

    pecuária ou agroindustrial (art. 15 do DL 57/1966). 2. Recurso Especial

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

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    provido. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução

    8/2008 do STJ.”

    Com isso, é possível ter um imóvel em área urbana que possua duas ou mais das

    características previstas em lei para a incidência do IPTU, mas não incidir este imposto,

    e sim ITR quando estiver presente a condição de “destinação rural do imóvel”.

    2.4. Critério quantitativo

    O critério quantitativo indica os fatores que conjugados exprimem o valor

    pecuniário da dívida. É normalmente composto por base de cálculo e alíquota.

    2.4.1. Alíquota

    A alíquota é o critério legal, em regra expresso em percentagem (%). No caso do

    IPTU, a alíquota aplicada o Município de São Paulo varia de 1% a 1,5%, nos termos

    da Lei 6.989/1966, que sofreu diversas alterações, em especial, pela Lei 15.889/2013.

    Esta legislação estabelece que:

    1. para os imóveis construídos utilizados exclusiva ou predominantemente

    como residência, o imposto é calculado à razão de 1% do valor venal, com

    acréscimos e descontos definidos por faixas de valor venal; e

    2. para os demais imóveis construídos e terrenos, o imposto é calculado à

    razão de 1,5% do valor venal, com acréscimos e descontos também

    definidos por faixas de valor venal.

    A Constituição permitiu, no art. 182, II, § 4º, a utilização de alíquotas maiores

    para imóveis em desacordo com o plano diretor urbano, pretendendo elevar a tributação

    sobre tais imóveis, com a finalidade de desestimular o aproveitamento errôneo do solo

    urbano.

    Nestes casos, o IPTU será utilizado como instrumento para desestimular

    comportamentos definidos em lei e o imposto será utilizado prioritariamente em caráter

    extrafiscal.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

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    2.4.2. Progressividade, capacidade contributiva e o IPTU

    Segundo o Prof. Roque Carrazza,5 princípio jurídico é um enunciado lógico

    implícito ou explícito, que, por sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência

    nos vastos quadrantes do Direito e, por isso mesmo, vincula, de modo inexorável, o

    entendimento e a aplicação das normas jurídicas que com ele se conectam”.

    A Constituição Federal pode ser compreendida como uma ordem de valores,

    composta por princípios e regras, que nada mais são do que normas jurídicas. Pela

    supremacia da Constituição, a observância dos princípios é uma exigência que se impõe

    a todos os órgãos do Estado.

    Princípio significa fundamento, ponto de partida. Isso não significa que seu

    conteúdo esteja pronto. Como toda norma, depende da construção do intérprete. Mas

    princípios são postulados fundamentais que informam a interpretação e aplicação das

    normas jurídicas, e têm como função importantíssima a de servir de integração para o

    sistema, permitindo soluções onde exista falha ou lacuna normativas.

    Diante do Texto Constitucional, quem confere o status de princípio a um

    comando normativo é a dogmática jurídica. O que diferencia princípios das demais regras

    é que eles são portadores de elevada carga axiológica, a ponto de informar a produção e

    interpretação de diversas outras normas.

    Nos termos do art. 145, § 1º, da Constituição, todos os impostos,

    independentemente de seu caráter real ou pessoal, devem guardar relação com a

    capacidade contributiva do sujeito passivo.

    De acordo com o princípio da capacidade contributiva, sempre que possível, os

    impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a possibilidade econômica do

    contribuinte.

    Como decorrência da igualdade tributária, o princípio da capacidade contributiva

    impõe, por sua natureza subjetiva, que a base de cálculo dos tributos seja mensurada

    conforme o potencial contributivo de cada indivíduo, distribuindo-se a carga tributária

    equitativamente, numa medida de justiça fiscal. Já sob o seu viés objetivo, o princípio

    5 CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário, pp. 32 e 35.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    10

    exige do legislador impositivo a leitura da materialidade constitucional como a

    possibilidade de tributar unicamente eventos representativos de riqueza, que respeitem o

    mínimo vital e a manutenção da atividade produtiva e que não gerem efeitos

    confiscatórios.

    Capacidade econômica é essencial, mas não suficiente para a tributação, por

    conta justamente de ser necessário a ela somar-se a aptidão para contribuir. Rubens

    Gomes de Sousa6 define-a como a “soma de riqueza disponível depois de satisfeitas as

    necessidades elementares de existência, riqueza essa que pode ser absorvida pelo estado

    sem reduzir o padrão de vida do contribuinte e sem prejudicar as suas atividades

    econômicas”.

    Capacidade contributiva, assim, requer a preservação do mínimo vital, nesta

    rubrica compreendidos não só os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal

    aos indivíduos (vale dizer, saúde, educação e propriedade), mas também aqueles

    assegurados às entidades econômicas (ou seja, livre iniciativa e livre concorrência).

    Considerando o princípio de que ora tratamos, bem como os impostos

    considerados “diretos” (ou seja, os que não repercutem, como o IPI e o ICMS), será

    legítima a adoção de alíquotas progressivas mesmo antes da EC 42/2003, conforme já

    decidiu o Supremo Tribunal Federal, no RE 562.045-RG/RS e no Agravo Regimental no

    RE 720.945, dentre outros.

    Vejamos parte do voto do Ministro Ricardo Lewandowski, nos autos do RE

    562.045, in verbis:

    “Antes de adentrar ao cerne da discussão, convém assentar que a

    progressividade é uma das formas pelas quais a graduação dos tributos é

    levada a efeito pelo Estado. Não se deve, todavia, confundir “seletividade”

    – técnica aplicável aos impostos reais – com “progressividade”, sistemática

    que usualmente é empregada para modular os impostos pessoais. Nesta, as

    alíquotas aumentam em função do valor da base de cálculo, onerando mais

    pesadamente aqueles que possuem maior capacidade econômica, de forma

    proporcional à sua riqueza. Já naquela, as alíquotas variam em razão dos

    objetos tributados, tendo em mira a realização de determinada política

    fiscal, de modo a estimular ou desestimular a produção ou o consumo de

    6 SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributária, p. 95.

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    11

    certos bens. A função essencial da progressividade consiste em dar

    concreção ao princípio da capacidade contributiva de modo a promover a

    justiça social em matéria tributária, servindo como importante instrumento

    de desconcentração da riqueza.

    Coerentemente com tal entendimento, o dispositivo constitucional em tela

    estabelece que a graduação dos impostos somente pode ser levada a efeito

    se guardar relação com a capacidade contributiva do sujeito passivo. Tal

    liame, como é sabido, melhor se evidencia nos tributos de natureza pessoal,

    ao menos do ponto de vista da proporcionalidade e razoabilidade da

    exação. O texto constitucional - como ressaltou o STF nos julgados acima

    referidos – é expresso ao determinar que a graduação dos impostos há

    fazer-se “segundo a capacidade econômica do contribuinte”, facultando-se

    à administração tributária, para conferir efetividade a tal desiderato,

    identificar, respeitados os direitos individuais, e nos termos da lei, o

    patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas daqueles que irão

    suportá-lo.

    [...] Assim, vê-se, que, além da progressividade, prevista no § 1º do art.

    145, aplicável aos impostos de natureza pessoal, o constituinte admitiu-a,

    pontualmente, para alguns impostos reais, sempre buscando a obtenção de

    efeitos extrafiscais, a saber:

    i) no art. 153, § 4º, I, quanto ao Imposto sobre Propriedade Territorial

    Rural – ITR, “como forma de desestimular a manutenção de propriedades

    improdutivas”;

    ii) no art. 156, § 1º, I, incluído pela Emenda Constitucional 29/2000,

    relativamente ao Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana

    - IPTU, como faculdade, conferida ao legislador municipal, de estabelecer

    a progressividade com base no valor do imóvel para, no entender de Hugo

    de Brito Machado, “de desestimular vultosas imobilizações de recursos em

    terrenos para fins meramente especulativos, dificultando o crescimento

    normal das cidades”; e

    iii) no art. 182, § 4º, II, também quanto ao IPTU, sob a modalidade de

    progressividade no tempo, como instrumento de política urbanística,

    objetivando assegurar o cumprimento da função social da propriedade, de

    modo a exigir “do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    12

    ou não utilizado que promova seu adequado aproveitamento”.

    2.4.3. Planta Genérica de Valores

    A planta genérica de valores consiste em uma tabela onde estão descritos todos

    os critérios concretos dos métodos de avaliação utilizados para se chegar ao valor venal

    dos imóveis. É na planta genérica que está definida a valorização dos imóveis de cada rua

    do Município. Ali se define, por exemplo, quantos reais por metro quadrado vale cada

    imóvel situado em determinada rua. Há ainda na planta de valores a valoração de outros

    fatores, seja dos terrenos, seja das edificações. A aplicação desses fatores em fórmulas

    definidas na própria planta genérica, em conjunto com os dados do cadastro imobiliário,

    terá como consequência a apuração do valor venal dos imóveis.

    A elaboração da planta genérica de valores deve ser feita criteriosamente pelo

    Município, para que se alcance um valor venal em valores bem próximos aos que são

    praticados pelo mercado, evitando-se, assim, insatisfação do contribuinte quanto aos

    imóveis superavaliados, ou evasão de receita, nas hipóteses de imóveis subavaliados.

    2.4.4. IPTU Predial e Territorial: constitucionalidade da diferenciação de alíquotas

    Prédio é a edificação permanentemente incorporada ao solo, que serve para a

    habitação ou para o exercício de quaisquer atividades, inclusive esportivas. Assim, além

    das casas, dos edifícios de apartamento, das garagens etc., também são prédios os campos

    de futebol, as pistas de atletismo, as quadras de tênis etc., justamente porque exigem

    construções, ainda que apenas no nível do solo e do subsolo. E por exclusão, o imóvel

    sem qualquer aproveitamento ou edificação (solo sem benfeitorias) será, inclusive para

    fins de IPTU, terreno.

    A diferenciação de alíquotas para imóveis construídos (predial) e terrenos/glebas

    (territorial), localizados na zona urbana e sujeitos ao pagamento do IPTU, não encontra

    qualquer óbice constitucional, e tem sido permitida pela jurisprudência. Vários são os

    motivos para se considerar válida a diferenciação de alíquotas entre imóveis edificados

    ou não.

    Primeiramente, não se trata de progressividade de alíquotas, na medida em que

  • ENCICLOPÉDIA JURÍDICA DA PUCSP DIREITO TRIBUTÁRIO

    13

    não há graduação de percentuais de acordo com a elevação do valor venal do imóvel

    tributado. Em segundo lugar, inexiste qualquer dispositivo constitucional que imponha

    uma alíquota única para a cobrança do IPTU. Por fim, inexiste limitação constitucional,

    imposta ao legislador municipal, que impeça a previsão de mais de uma alíquota para o

    IPTU.

    Não há que se falar, ainda, em tratamento desigual entre contribuintes na mesma

    situação fática, ou, de outra forma, em violação ao princípio da isonomia. As

    características de cada propriedade (imóvel construído ou não, terreno localizado em zona

    de alta ocupação urbana ou não) põem em categorias diferenciadas os contribuintes

    proprietários dos diferentes imóveis, evidenciando que eles não se encontram em situação

    equivalente.

    Há de se lembrar, diante das normas constitucionais, que, não havendo qualquer

    afronta às disposições constitucionais expressas ou postas em leis complementares, os

    Municípios podem exercer sua competência tributária plenamente, sendo válidas todas as

    disposições que não impliquem afronta a regras ou princípios constitucionais.

    Por fim, a diferenciação de alíquotas para contribuintes em situações diversas é

    prática da atividade tributária de todos os entes federados. Têm-se, como exemplos, as

    alíquotas do ISS, variáveis conforme a atividade desenvolvida, ou as alíquotas do Imposto

    sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), conforme o tipo de veículo

    automotor, e as alíquotas do Imposto sobre a Renda, diversas para pessoas físicas e

    jurídicas.

    2.4.5. Base de Cálculo

    Entende-se por base de cálculo o aspecto dimensível da hipótese de incidência.

    Ao lado da função mensuradora, a base de cálculo confirma, afirma ou infirma o aspecto

    material do antecedente normativo.

    Nos termos do art. 33 do CTN, a base de cálculo do IPTU é o valor venal do

    imóvel, não se considerando o valor dos bens móveis mantidos, em caráter permanente

    ou temporário, no imóvel, para efeito de sua utilização, exploração, aformoseamento ou

    comodidade.

    O valor venal de um imóvel é o preço de venda, levando-se em consideração o

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    terreno acrescido de suas edificações, estimado por critérios técnicos prescritos em lei

    municipal. É o valor provável do imóvel, aquele que o bem alcançaria para compra e

    venda à vista, conforme as condições usuais do mercado imobiliário.

    O valor venal do imóvel, por ser a base de cálculo do imposto e um dos critérios

    da regra-matriz de incidência, só pode ser fixado ou majorado por lei.

    O que se pode estabelecer por meio de ato do Poder Executivo é a atualização

    monetária do imposto, a teor do disposto no § 2º, do art. 97 do CTN. Via de regra, cabe à

    Administração apurar o correto valor do imóvel, o que normalmente é feito através da

    elaboração da Planta Genérica de Valores. Permite-se também algumas vezes que o

    contribuinte faça declaração do valor do seu bem para efeitos de cadastramento. A

    Administração Pública, porém, tem o dever de apurar o correto valor do imóvel,

    comparando-o, se for o caso, com o valor declarado.

    Avaliando de ofício o valor do imóvel ou comparando-o com o valor declarado

    pelo contribuinte, a Administração deve levar em conta a localização, a existência de

    serviços públicos, as possibilidades do comércio e, sobretudo, o valor de alienações

    recentes de imóveis idênticos na mesma localidade. Em caso de divergência entre o valor

    declarado pelo contribuinte e o real valor do imóvel, o Município pode arbitrar o valor,

    ato esse submetido à contestação do contribuinte.

    2.5. Critério pessoal

    O sujeito ativo (titular do direito subjetivo de exigir a prestação pecuniária) é a

    União Federal. Já o sujeito passivo é o contribuinte, ou seja, a pessoa física ou jurídica,

    proprietária ou detentora do domínio útil ou a posse do bem rural (conforme art. 34 do

    CTN), que tem por domicílio tributário o Município de localização do imóvel, vedada a

    eleição de qualquer outro.

    Além disso, é considerado responsável pelo crédito tributário o sucessor, a

    qualquer título, nos termos dos arts. 128 a 133 do CTN.

    3. IMUNIDADE

    Atendidos os requisitos constitucionais, são imunes do Imposto Predial e

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    Territorial Urbano:

    Os imóveis integrantes do patrimônio da União, Estados, Municípios,

    Distrito Federal, autarquias e fundações instituídas e mantidas pelo Poder

    Público (CF, art. 150, VI, a e §2º);

    Os templos de qualquer culto (CF, art. 150, VI, b);

    Os imóveis integrantes do patrimônio dos partidos políticos, inclusive suas

    fundações; do patrimônio das entidades sindicais dos trabalhadores; das

    instituições de educação e assistência social, sem fins lucrativos e

    atendidos os requisitos da lei (CF, art. 150, VI, c); e das instituições de

    Educação e de Assistência Social.

    Referidos imóveis deverão, ademais, cumprir com dois requisitos: (i) o imóvel

    objeto do pedido deve ser integrante do patrimônio da entidade e (ii) ser utilizado nas

    finalidades essenciais da entidade.

    Por fim, as entidades não poderão distribuir parcelas de seu patrimônio ou de

    suas rendas a qualquer título, bem como deverão aplicar seus recursos integralmente no

    país, na manutenção de seus objetivos institucionais e manter escrituração de suas receitas

    e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.

    4. ISENÇÃO

    Por ser um tributo municipal, a isenção varia de acordo com cada Município. A

    título de exemplo, consideremos a isenção vigente em São Paulo, em 2017, para o

    aposentado, pensionista ou beneficiário de renda mensal vitalícia:

    Não possuir outro imóvel no município;

    Utilizá-lo como residência;

    Rendimento mensal que não ultrapasse 5 (cinco) salários mínimos no

    exercício a que se refere o pedido;

    O imóvel deve fazer parte do patrimônio do solicitante; e

    O valor venal do imóvel seja de até R$ 1.176.311,00 (um milhão, cento e

    setenta e seis mil e trezentos e onze reais).

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    REFERÊNCIAS

    BARRETO, Aires Fernandino. Base de cálculo, alíquota e princípios

    constitucionais. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 1998.

    CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 28. ed.

    São Paulo: Malheiros Editores, 2012.

    CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 6. ed.

    São Paulo: Saraiva, 2008.

    CEZAROTI, Guilherme. A incidência do IPTU sobre propriedade com

    limitações de uso. IPTU – aspectos jurídicos relevantes. Marcelo Magalhães Peixoto

    (coord). São Paulo: Quartier Latin, 2002.

    COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Comentários à constituição de 1988 –

    sistema tributário. Rio de Janeiro: Forense, 1990.

    SOUSA, Rubens Gomes de. Compêndio de legislação tributária. Edição

    póstuma. São Paulo: Resenha Tributária, 1981.