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IPEA Assim como se verifica em relação à educação básica, a implantação da educação superior no Brasil ocorreu de forma tardia, inclusive em relação à maioria dos países latino- americanos (Cunha, 1980). Enquanto as primeiras universidades da América remontam ao século XVI, a primeira universidade fundada no Brasil data do século XX. Certamente, este atraso em relação aos vizinhos americanos, aliado à longa duração da escravidão, constituem fatores que explicam em parte a posição de desvantagem do Brasil em relação àqueles países (Pinto, 2004). De acordo com Pinto, o modelo privatista de expansão da educação superior não é abrangente o suficiente, pois inibe o ingresso de afrodescendentes e pobres.De fato, quando se comparam as proporções destes dois grupos em instituições públicas e privadas, verifica-se que sua incidência é maior nas primeiras. No entanto, o estudo elaborado por este autor é anterior à implantação do Programa Universidade para Todos (ProUni), de modo que, nos últimos anos, tem crescido a proporção de afrodescendentes e de estudantes de baixa renda nas instituições de ensino privadas. O aumento da demanda e o acirramento da concorrência por vagas na educação superior pública podem ser parcialmente explicados pela ampliação do número de concluintes do ensino médio na década de 1990. De acordo com Catani e Hey (2007), o Estado se encontrava despreparado para atender a

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IPEA

Assim como se verifica em relao educao bsica, a implantao da educao superior no Brasil ocorreu de forma tardia, inclusive em relao maioria dos pases latino-americanos (Cunha, 1980). Enquanto as primeiras universidades da Amrica remontam ao sculo XVI, a primeira universidade fundada no Brasil data do sculo XX.

Certamente, este atraso em relao aos vizinhos americanos, aliado longa durao da escravido, constituem fatores que explicam em parte a posio de desvantagem do Brasil em relao queles pases (Pinto, 2004).De acordo com Pinto, o modelo privatista de expanso da educao superior no abrangente o suficiente, pois inibe o ingresso de afrodescendentes e pobres.De fato, quando se comparam as propores destes dois grupos em instituies pblicas e privadas, verifica-se que sua incidncia maior nas primeiras. No entanto, o estudo elaborado por este autor anterior implantao do Programa Universidade para Todos (ProUni), de modo que, nos ltimos anos, tem crescido a proporo de afrodescendentes e de estudantes de baixa renda nas instituies de ensino privadas.O aumento da demanda e o acirramento da concorrncia por vagas na educao superior pblica podem ser parcialmente explicados pela ampliao do nmero de concluintes do ensino mdio na dcada de 1990. De acordo com Catani e Hey (2007), o Estado se encontrava despreparado para atender a esse aumento da demanda, tendo assim optado por abrir espao para a atuao do setor privado.

Tal entendimento havia sido formulado por Corbucci (2004), quando diz ter havido certa desregulamentao do setor, no que se refere flexibilizao dos requisitos para a criao de cursos e instituiesO acesso educao superior na faixa etria de 18 a 24 anos mais que dobrou no perodo 2000-2010. A proporo destes jovens que declararam ter tido acesso a este nvel de ensino era de apenas 9,1% no ano inicial deste perodo, mas ao final atingia 18,7% do total. Por sua vez, a taxa de frequncia lquida nesta faixa etria, que abrange apenas os que estavam regularmente matriculados, ampliou-se de 7,4% para 14% no mesmo perodo.A diferena entre ambas as taxas correspondia s pessoas que tinham frequen-tado algum curso superior, com ou sem concluso deste. Em 2010, este contingente era de 1,1 milho de pessoas, sendo que 61% destas obtiveram o diploma de curso superior.Se, por um lado, o primeiro indicador contempla de forma mais abrangente o acesso educao superior, por outro, mostra que parcela significativa dos jovens chega a ingressar neste nvel de ensino, mas, por razes diversas, no consegue lograr sua concluso.

A expanso das matrculas em cursos de graduao presenciais foi bastante intensa entre 1998 e 2003, perodo no qual a taxa de crescimento anual nunca foi inferior a 9%. No entanto, a partir de 2004, houve certo arrefecimento, de modo que os incrementos anuais retornaram ao patamar do perodo anterior.

Apesar de a educao superior ser considerada o nvel de ensino adequado faixa etria de 18 a 24 anos, constata-se que 52% desta coorte, em 2010, sequer haviam concludo o ensino mdio. Portanto, estavam inabilitados para o ingresso na educao superior, pela simples falta do pr-requisito legal.3 O acesso educao superior segundo a renda As condies socioeconmicas, em particular a renda, tm sido apontadas como fator de alta correlao com o desempenho educacional dos estudantes.

No caso do acesso educao superior que, via de regra, ocorre com o advento da maioridade, a necessidade de gerar renda e ingressar no mercado de trabalho pode constituir empecilho continuidade nos estudos. Assim como foi mencionado, tal situao agravada pelo fato de que parcela significativa dos jovens brasileiros no consegue concluir o ensino mdio na idade adequada, o que dificulta ainda mais a continuidade nos estudos mediante ingresso na educao superior.

Apesar de a oferta de vagas na educao superior ter sido significativamente ampliada durante o perodo 2000-2010, ao ser desagregada pelas macrorregies e, no interior destas, por capitais e cidades do interior, constata-se que as oportunidades de acesso a este nvel de ensino ainda so bastante desiguais.A primeira evidncia que respalda tal afirmao refere-se relao entre demanda potencial e ofertas de vagas. Tal como foi mencionado, considerou-se o contingente de jovens de 18 a 24 anos que concluram o ensino mdio como proxyda demanda poten-cial por educao superior. Ainda que se reconhea o fato de que, em um contexto no qual predomina a oferta privada, a insuficincia de renda pode constituir fator limitante do acesso a este nvel de ensino, parte-se da premissa de que todo jovem que tivesse

concludo o ensino mdio seria um potencial demandante.

ipeA p.24

Demanda potencial e vagas ofertadas na educao superior

Apesar de a oferta de vagas na educao superior ter sido significativamente ampliada

durante o perodo 2000-2010, ao ser desagregada pelas macrorregies e, no interior

destas, por capitais e cidades do interior, constata-se que as oportunidades de acesso a

este nvel de ensino ainda so bastante desiguais.

A primeira evidncia que respalda tal afirmao refere-se relao entre demanda

potencial e ofertas de vagas. Tal como foi mencionado, considerou-se o contingente de

jovens de 18 a 24 anos que concluram o ensino mdio como proxyda demanda poten-cial por educao superior. Ainda que se reconhea o fato de que, em um contexto no

qual predomina a oferta privada, a insuficincia de renda pode constituir fator limitante

do acesso a este nvel de ensino, parte-se da premissa de que todo jovem que tivesse

concludo o ensino mdio seria um potencial demandante.