ionline.pt 27 de julho de 2016

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OBSERVATÓRIO CONTRA A FRAUDE Fraude na Saúde A Fraude na Saúde é um tema que muito tem vindo à discussão na praça pública nos últimos tempos, sempre foi tema mas hoje através dos inúmeros estudos e quantifi- cações apresentados assumiu uma maior base sustentada de discussão. Assim sendo, ainda este mês soube- mos que no Serviço Nacional de Sa- úde (SNS), através da Unidade de Exploração de Informação (UEI), a equipa ao Serviço do Ministério da Saúde especializada na deteção de atos fraudulentos nos últimos 4 anos procedeu ao envio de 573 processos para investigação, envolvendo 432 médicos, 189 prestadores de servi- ços e seis utentes, estimando que o Estado em igual período tenha sido lesado em 943 milhões de euros. Dos casos detetados destacam-se o roubo de receitas e de vinhetas mé- dicas, a prescrição abusiva de me- dicamentos com níveis elevados de comparticipação do Estado e a fal- sificação de receitas sem conheci- mento dos médicos, para compra de medicamentos em várias farmácias de uma determinada região. Dest- acam-se ainda as vendas fictícias de medicamentos (a prescrição pelo médico em nome de vários utentes com registo da dispensa dos medi- camentos nas farmácias, sem que a venda tenha sido feita de facto aos doentes) e uma grande percentagem de receitas, emitidas por um só mé- dico, dispensadas numa farmácia muito mais distante do que as exis- tentes perto do consultório desse Filipe Pontes clínico. Para além desta unidade, existe o centro de controlo e monitorização do SNS (ex-centro de conferência de faturas) a funcionar desde 2010. Aqui cerca de uma centena de fun- cionários já viram passar 536 mi- lhões de documentos em seis anos. Sendo que a totalidade das faturas conferidas somam 10,7 mil milhões de euros. Esta base de dados resul- tante da conferência de faturas em cinco áreas (receitas médicas, meios complementares de diagnóstico e terapêutico e serviços de diálise, de cuidados respiratórios domiciliários e de cuidados continuados inte- grados), é sem dúvidas a principal ferramenta ao dispor da UEI para o combate à fraude. Permitindo nos últimos 4 anos a poupança de 172,8 milhões de Euros para o Estados: 111,9 resultantes de irregularidades descobertas em faturas de medica- mentos e 60,9 milhões nas restantes quatro áreas. As principais falhas são a falta de assinatura do médico, do utente e do farmacêutico e erros de cálculo do valor da compartici- pação dos medicamentos pelas far- mácias. Neste histórico de processo destaca- se, pela notoriedade atingida, o pro- cesso “remédio Santo” em que 16 dos 18 arguidos foram condenados. Esperando-se deste processo e de outros idênticos o efeito dissuasor da velha máxima que o crime com- pensa e que de uma vez por todas se criminalize as fraudes, responsabili- zando os seus autores e melhorando os controlos. Publicado no Jornal i Online no dia 27/07/2016 A equipa ao Serviço do Ministério da Saúde especializada na deteção de atos fraudu- lentos nos últimos 4 anos procedeu ao envio de 573 processos para investigação, envolvendo 432 médicos, 189 prestadores de serviços e seis utentes, estimando que o Estado em igual período tenha sido lesado em 943 milhões de euros

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OBSERVATÓRIO CONTRA A FRAUDE

Fraude na Saúde

A Fraude na Saúde é um tema que muito tem vindo à discussão na praça pública nos últimos tempos, sempre foi tema mas hoje através dos inúmeros estudos e quantifi-cações apresentados assumiu uma maior base sustentada de discussão.Assim sendo, ainda este mês soube-mos que no Serviço Nacional de Sa-úde (SNS), através da Unidade de Exploração de Informação (UEI), a equipa ao Serviço do Ministério da Saúde especializada na deteção de atos fraudulentos nos últimos 4 anos procedeu ao envio de 573 processos para investigação, envolvendo 432 médicos, 189 prestadores de servi-ços e seis utentes, estimando que o Estado em igual período tenha sido lesado em 943 milhões de euros. Dos casos detetados destacam-se o roubo de receitas e de vinhetas mé-dicas, a prescrição abusiva de me-dicamentos com níveis elevados de comparticipação do Estado e a fal-sificação de receitas sem conheci-mento dos médicos, para compra de medicamentos em várias farmácias de uma determinada região. Dest-acam-se ainda as vendas fictícias de medicamentos (a prescrição pelo médico em nome de vários utentes com registo da dispensa dos medi-camentos nas farmácias, sem que a venda tenha sido feita de facto aos doentes) e uma grande percentagem de receitas, emitidas por um só mé-dico, dispensadas numa farmácia muito mais distante do que as exis-tentes perto do consultório desse

Filipe Pontes

clínico.Para além desta unidade, existe o centro de controlo e monitorização do SNS (ex-centro de conferência de faturas) a funcionar desde 2010. Aqui cerca de uma centena de fun-cionários já viram passar 536 mi-lhões de documentos em seis anos. Sendo que a totalidade das faturas conferidas somam 10,7 mil milhões de euros. Esta base de dados resul-tante da conferência de faturas em cinco áreas (receitas médicas, meios complementares de diagnóstico e terapêutico e serviços de diálise, de cuidados respiratórios domiciliários e de cuidados continuados inte-grados), é sem dúvidas a principal ferramenta ao dispor da UEI para o combate à fraude. Permitindo nos últimos 4 anos a poupança de 172,8 milhões de Euros para o Estados: 111,9 resultantes de irregularidades descobertas em faturas de medica-mentos e 60,9 milhões nas restantes quatro áreas. As principais falhas são a falta de assinatura do médico, do utente e do farmacêutico e erros de cálculo do valor da compartici-pação dos medicamentos pelas far-mácias.Neste histórico de processo destaca-se, pela notoriedade atingida, o pro-cesso “remédio Santo” em que 16 dos 18 arguidos foram condenados. Esperando-se deste processo e de outros idênticos o efeito dissuasor da velha máxima que o crime com-pensa e que de uma vez por todas se criminalize as fraudes, responsabili-zando os seus autores e melhorando os controlos.

Publicado no Jornal i Online no dia 27/07/2016

A equipa ao Serviço do Ministério da Saúde especializada na deteção de atos fraudu-lentos nos últimos 4 anos procedeu ao envio de 573 processos para investigação, envolvendo 432 médicos, 189 prestadores de serviços e seis utentes, estimando que o Estado em igual período tenha sido lesado em 943 milhões de euros