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INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL NO ÂMBITO DO ESTUDO
DAS PROPRIEDADES POROELÁSTICAS DAS ROCHAS
Samuel Pedrosa Guerreiro
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Geológica e de Minas
Juri
Presidente: Prof. Dr. António Jorge Gonçalves de Sousa
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Matilde Mourão de Oliveira Carvalho Horta Costa e Silva
Vogal: Prof. Dr. Pedro Calé da Cunha Lamas
Outubro de 2013
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I. Agradecimentos
No final deste trabalho, pretendo manifestar o meu sincero agradecimento a todos aqueles que
de algum modo deram o seu contributo para que esta dissertação fosse realizada.
Primeiramente, agradeço à Professora Doutora Matilde Costa e Silva a maneira como orientou
a minha investigação. A sua cordialidade e disponibilidade permanentes, os ensinamentos
transmitidos e o espírito crítico construtivo com que analisou o meu trabalho foram as notas
dominantes da sua orientação. Sinto-me igualmente grato pela liberdade de acção que me permitiu, a
qual foi decisiva para o meu desenvolvimento técnico e pessoal.
Em segundo lugar, agradeço ao Engenheiro Gustavo Paneiro a partilha de conhecimentos e o
apoio prestado na execução dos ensaios laboratoriais e tratamento de resultados, mas também pela
disponibilidade e empenho manifestados nesses momentos, que contribuíram activamente para a
realização e enriquecimento deste trabalho.
Deixo também um agradecimento à Geóloga Ângela Pereira pela utilidade das informações
facultadas acerca das amostras utilizadas e prontidão com que me recebeu.
Agradeço ao Senhor Paulo Fernandes pela colaboração, tempo e apoio dispendidos na
execução dos ensaios, mas também pelas sugestões na resolução de problemas técnicos
relacionados.
Deixo também uma palavra de agradecimento aos Colegas e Amigos que me apoiaram e
instigaram desde o ínicio deste curso.
Por fim, desejo agradecer aos meus Pais e irmão, pelo seu amor e carinho manifestados em todos os
momentos e por terem compreendido e aceitado sempre a necessidade de tantos outros mais
ausentes.
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II. Resumo
A presente dissertação tem como objectivo estudar, experimentalmente, o efeito dos estados
de tensão e pressão de injecção de água na variação das propriedades poroelásticas das rochas,
pretendendo-se apresentar evidências da importância de se considerar tais propriedades como
variáveis dinâmicas, uma vez que quer a produção de hidrocarbonetos, quer a extracção de minerais
produzem significativas alterações nos parâmetros de deformabilidade, resistência, porosidade e
permeabilidade dos maciços rochosos.
A metodologia laboratorial consistiu no recurso a uma célula de compressão triaxial
convencional que após devidamente adaptada permitiu testar diferentes condições de ensaio,
referentes a diferentes pressões de confinamento e de injecção de água. Em cada ensaio, fez-se
aumentar a tensão axial até à rotura e, simultaneamente, foram registando-se os valores necessários
à determinação das propriedades poroelásticas (parâmetros de deformabilidade, porosidade,
permeabilidade, velocidade das ondas P e emissões acústicas) da rocha estudada: calcários
microbialitos, considerados como “análogos” ao Pré-sal brasileiro em Portugal.
Os resultados obtidos evidenciam que todas as propriedades poroelásticas da rocha estudada
dependem não só da magnitude da tensão axial, como também da pressão de injecção de água e de
confinamento, sobretudo desta última. Deste modo, constatou-se que o sucesso de actividades
antrópicas que envolvam alterações de estados de tensão, nomeadamente a produção de fluidos,
abertura de cavidades, estabilização de estruturas geológicas e contenção de resíduos perigosos,
devem levar em consideração o efeito dessas perturbações nas propriedades das rochas.
Palavras –chave
Pré-sal
Ensaios triaxiais
Propriedades poroelásticas
Resistência
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III. Abstract
This work intends to experimentally investigate the effect of stress states and injection water
pressure in the variation of the poroelastic properties of rocks. It’s also of interest to show the
importance of considering these properties as dynamic variables since either the hydrocarbon
production or mineral exploitation produces a great variation of the strength parameters, deformation,
porosity and permeability of rock masses.
The experimental methodology consisted in using a standard triaxial cell (two main stresses
equal to each other) which allowed performing different test conditions, defined by a value of confining
pressure and another one of injection water pressure. For each experiment it was increased the axial
stress till the macroscopic failure and, simultaneously, they were being recorded the values needed for
the calculation of the poroelastic properties (strength parameters, porosity, permeability, P-wave
velocities and acoustic emissions) of the studied rock: Microbialites Limestones considered as
“equivalent” to the brazilian “Pre-salt” in Portugal.
The results highlighted that all the poroelastic properties depend not only on the axial stress, but
also on the injection water pressure and confining pressure, mostly on this last one. Thus, it was found
that the success of anthropogenic activities involving stress state disturbance, namely fluid production,
cavities opening, geologic structures stabilization and dangerous waste disposal, must take into
account the effect of those disturbances on rock properties.
Keywords Pre-salt
Triaxial tests
Poroelastic properties
Strength
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IV. Índice Geral
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 12
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................................... 15
2.1. Alteração de estados de tensão em reservatórios ................................................................ 15
2.2. Enquadramento geológico do Pré-sal brasileiro ................................................................... 16
2.3. Propriedades poroelásticas ................................................................................................... 18
2.3.1. Propriedades físicas ...................................................................................................... 19
2.3.2. Propriedades mecânicas ............................................................................................... 22
2.4. Ensaios triaxiais ..................................................................................................................... 24
2.5. Estudos anteriores sobre a influência de tensões nas propriedades das rochas ................. 26
2.5.1. Células triaxiais.............................................................................................................. 26
2.5.2. Influência da trajectória de tensões ............................................................................... 27
2.5.3. Influência da composição mineralógica, grau de cimentação e estrutura dos poros ... 38
2.5.4. Influência da porosidade e permeabilidade iniciais ....................................................... 39
2.5.5. Influência de pressão neutra na permeabilidade .......................................................... 41
2.5.6. Influência do grau de heterogeneidade sedimentar ...................................................... 42
3. AMOSTRAS, EQUIPAMENTOS E METODOLOGIA ................................................................... 45
3.1. Amostras ................................................................................................................................ 45
3.2. Equipamentos ........................................................................................................................ 48
3.2.1. Célula triaxial ................................................................................................................. 48
3.2.2. Dispositivo de carregamento axial (Prensa) .................................................................. 50
3.2.3. Sistema de medição e registo de extensões ................................................................. 51
3.2.4. Equipamento de injecção de água pressurizada .......................................................... 52
3.2.5. Sistema de medição e registo do tempo de propagação de ondas longitudinais ......... 53
3.2.6. Sensores de emissões acústicas .................................................................................. 53
3.3. Metodologia ........................................................................................................................... 54
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................................... 61
4.1. Estudo da influência da pressão de confinamento e pressão de injecção de água nas
propriedades poroelásticas ............................................................................................................... 62
4.2. Estudo da relação entre propriedades poroelásticas ............................................................ 68
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 73
5.1. Conclusão .............................................................................................................................. 73
5.2. Propostas para trabalhos futuros .......................................................................................... 75
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 76
6
V. Lista de Figuras
Figura 2.1 - Mapa de localização das bacias sedimentares da margem Leste Meridional brasileira. O
polígono em azul (delimitado pelo pontilhado em azul), representa as rochas reservatório do “Pré-sal”,
segundo Estrella, 2008. Os limites das bacias são definidos pelas linhas pretas pontilhadas ........... 17
Figura 2.2 - Ilustração de diferentes índices de porosidade ............................................................... 19
Figura 2.3 - Ilustração dos diferentes métodos de cálculo do módulo de Young a partir de uma curva
tensão vs. extensão .............................................................................................................................. 23
Figura 2.4 - Emissão acústica por acção de uma pressão triaxial numa amostra de granito porfiróide
(dimensões 100 x 50 mm). (a) Fase primária, (b) Fase secundária, (c) Fase de nucleação, (d) Fase de
rotura total ............................................................................................................................................ 24
Figura 2.5 - Representação esquemática do sistema de carregamento triaxial verdadeiro ............... 27
Figura 2.6 - Compressão hidrostática: tensão efectiva média versus (a) redução de porosidade, (b)
permeabilidade, (c) velocidade das ondas P e (d) velocidade das ondas S, durante compressão
hidrostática ........................................................................................................................................... 28
Figura 2.7 - Regime frágil (dilatância): tensão efectiva média versus (a) redução de porosidade, (b)
permeabilidade, (c) velocidade das ondas P e (d) velocidade das ondas S, para dois ensaios de
compressão triaxial (não hidrostática) com pressões de confinamento de 12 e 30 MPa ..................... 30
Figura 2.8 - Regime dúctil ou semi-frágil (compactação): tensão efectiva média versus (a) redução de
porosidade, (b) permeabilidade, (c) velocidade das ondas P e (d) velocidade das ondas S, para
quatro ensaios de compressão triaxial (não hidrostática) com pressões de confinamento de 50, 70, 90
e 110 MPa ............................................................................................................................................. 31
Figura 2.9 - Variação das velocidades de propagação das ondas P e S com a pressão efectiva
média, durante os testes hidrostáticos, para vários ângulos de propagação ....................................... 32
Figura 2.10 - Evolução da porosidade e permeabilidade do arenito Rothbach em função da tensão
efectiva média sob um estado de tensão triaxial. (A) Regime cataclástico (165 MPa de pressão
efectiva de confinamento). O gráfico menor à esquerda representa a tensão de corte vs. deformação
axial. A escala é de 0-20% para a deformação e de 0-350 MPa para a tensão de corte; (B) Regime
frágil (5 MPa de pressão efectiva de confinamento). Notar a diferença de escala, comparada com a
figura (A). A escala é de 0-6% para a deformação e de 0-80 MPa para a tensão de corte ................ 33
Figura 2.11 - Alteração de permeabilidade no arenito Red Wildmoor durante carregamento e
descarregamento hidrostático .............................................................................................................. 34
7
Figura 2.12 - Alteração de permeabilidade no arenito Red Wildmoor durante carregamento triaxial
sob diferentes pressões de confinamento ............................................................................................ 34
Figura 2.13 - Redução da porosidade de um arenito em função do aumento da tensão efectiva
média, usando 3 diferentes trajectórias de tensão, isotrópica (linha a cheio), uniaxial (a tracejado
grosso) e carregamento proporcional (a tracejado fino) ...................................................................... 35
Figura 2.14 - Variação da permeabilidade sob diferentes trajectórias de tensão num arenito de
reservatório ............................................................................................................................................ 36
Figura 2.15 - Efeito da direcção de carga (axial ou radial) na permeabilidade axial do arenito
Castlegate ............................................................................................................................................ 37
Figura 2.16 - Redução relativa de permeabilidade sob aumento de pressão hidrostática de 3,45 para
34,5 MPa ............................................................................................................................................... 40
Figura 2.17 - Evolução da permeabilidade (k) das rochas com o aumento do carregamento aplicado
............................................................................................................................................................... 41
Figura 2.18 - Efeito da pressão neutra na permeabilidade do arenito Croslands Hill sob diferentes
trajectórias de tensão (hidrostática, triaxial e triaxial verdadeira) ......................................................... 42
Figura 2.19 - Gráficos de relação entre carga axial, permeabilidade, etapa (step) de carregamento e
número de emissões acústicas (AE) para um provete com índice de homogeneidade (m) de 1,5 ..... 43
Figura 2.20 - Mapas sequenciais de localização de fontes de EA (assinaladas com círculos) durante
rotura do provete (m = 1,5) da Figura 2.19 (para localização das etapas “steps”, ver Figura 2.19). A
dimensão dos círculos indica a magnitude das EA .............................................................................. 43
Figura 2.21 - Curva tensão vs. extensão axial, localização de fracturas (“zona degradada”) e
permeabilidade espacial para cada estágio de ensaio (a-h) ................................................................ 44
Figura 3.1 - Localização do afloramento da Formação de Cabaços na Praia de Pedrógão (Leiria)
onde foram recolhidas as amostras de calcários microbialitos ............................................................. 45
Figura 3.2 - Localização do estrato de Pré-sal no afloramento da Formação de Cabaços, a diferentes
escalas................................................................................................................................................... 46
Figura 3.3 - Ilustração de um corpo de prova após carotagem, já identificado (à esquerda) e corpo de
prova aberto após rotura (à direita) ....................................................................................................... 47
Figura 3.4 - Representação esquemática do conjunto geral de uma célula triaxial convencional (célula
de Hoek) ................................................................................................................................................ 48
8
Figura 3.5 - Componentes básicos da célula triaxial (à esquerda) e respectivo conjunto geral (à
direita) .................................................................................................................................................... 49
Figura 3.6 - Dispositivo de carregamento axial (à esquerda) e pormenor da respectiva unidade de
controlo (à direita) .................................................................................................................................. 50
Figura 3.7 - Model P3 Strain Indicator and Recorder recente (à esquerda) e antigo (à direita) .......... 51
Figura 3.8 - Representação esquemática da constituição geral de um extensómetro de resistência
eléctrica de comprimento lo. .................................................................................................................. 51
Figura 3.9 - Esquema representativo da ELE Pressure Test 1700 (à esquerda) e respectivo
equipamento real utilizado (à direita) ................................................................................................... 52
Figura 3.10 - Esboço do equipamento utilizado: Ultrasonic Testing .................................................... 53
Figura 3.11 - Ilustração do dispositivo experimental utilizado no estudo das emissões acústicas ..... 54
Figura 3.12 - Pormenor da disposição dos extensómetros eléctricos, dois axiais e um transversal, a
um provete de ensaio ........................................................................................................................... 57
Figura 3.13 - Colação de silicone na célula triaxial para vedar a saída de água pressurizada .......... 57
Figura 3.14 - Destaque da posição dos transdutores de ondas P, à esquerda, e posição dos
transdutores de emissões acústicas (a vermelho), entrada de óleo de confinamento (a amarelo) e de
água (a azul), à direita ........................................................................................................................... 58
Figura 3.15 - Visão geral do conjunto de montagem do ensaio ........................................................... 59
Figura 4.1 - Tensão axial vs. (a) extensões (axiais e transversais), (b) velocidades das ondas P, (c)
redução de porosidade, (d) nível de água na bureta, (e) permeabilidade, (f) somatório de emissões
acústicas, (g) coeficiente de Poisson e (h) módulo de Young ............................................................. 65
Figura 4.2 - Curva típica tensões vs. extensões num ensaio à compressão uniaxial e
correspondentes variações do módulo de Young, coeficiente de Poisson e variação volumétrica ..... 68
9
VI. Lista de Tabelas
Tabela 3.1 - Resumo das condições de ensaio adoptadas ................................................................. 56
Tabela 4.1 - Resumo das condições de ensaio adoptadas para cada provete validado .................... 62
Tabela 4.2 - Valores das propriedades poroelásticas em função da tensão axial σ (MPa) e fases de
Bieniawski, para cada condição de ensaio .......................................................................................... 69
10
VII. Lista de Símbolos e Abreviaturas
Ainda que ao longo do texto se refira o significado da maioria dos símbolos e notações utilizados,
apresenta-se de seguida uma listagem dos mais relevantes.
– porosidade
– volume de vazios
– volume total
– massa saturada do provete
– massa seca do provete
– caudal
– área da secção transversal do provete
– comprimento da trajectória de fluxo
– peso específico do fluido
– viscosidade do fluido
– perda de carga hidráulica por unidade de comprimento no sentido do escoamento
– diferença de pressão entre extremidades da trajectória de fluxo
– conductividade hidráulica
– permeabilidade
– permeabilidade vertical
– permeabilidade horizontal
– velocidade de propagação das ondas P
– velocidade de propagação das ondas S
– trajectória de tensões
– tensão
– tensão principal máxima
11
– tensão principal intermédia
– tensão principal mínima
– tensão neutra ou intersticial
− tensão efectiva
pressão de confinamento
pressão de injecção de água
– módulo de Young
– extensão axial
– extensão transversal
– extensão volumétrica
– coeficiente de Poisson
– diâmetro
– emissões acústicas
– Institutional Society of Rock Mechanics
IST – Instituto Superior Técnico
– Laboratório de Geomecânica do IST
12
1. INTRODUÇÃO
São muitas as acções levadas a cabo no âmbito dos vários campos da Ciência e da
Engenharia responsáveis pela variação dos estados de tensão actuantes sobre os corpos geológicos
em que essas actividades são implementadas. Estas, por sua vez, podem conduzir a alterações mais
ou menos significativas das propriedades desses mesmos corpos. De entre as propriedades de maior
interesse na área da Engenharia de Petróleos e de Minas, destacam-se a porosidade e a
permeabilidade. Ainda assim, o estudo e o conhecimento de outras propriedades físicas, como a
velocidade de propagação de ondas sísmicas, e das propriedades resistentes dos materiais
rochosos, podem ser igualmente bastante úteis.
No âmbito do campo da Engenharia de Minas, e até certo ponto também da Engenharia Civil, o
cohecimento das referidas propriedades é crucial em projectos que envolvam a abertura de
cavidades, como túneis e poços, no controlo da fracturação hidráulica, na estabilidade de taludes de
rochas, minas e barragens e nas operações de desmonte de rochas com explosivos. No caso da
Engenharia de Petróleos, a porosidade e a permeabilidade estão directamente associadas à
productividade e lucratividade de um reservatório de hidrocarbonetos; a resistência e a velocidade de
propagação das ondas sísmicas são importantes para o estudo da estabilidade dos maciços ou para
a análise da existência de danos nas paredes dos poços.
Além da aplicabilidade do estudo das referidas propriedades no contexto da Engenharia de
Minas e de Petróleos, é igualmente oportuno destacar a importância do seu conhecimento no âmbito
da Engenharia do Ambiente. No domínio da Engenharia Ambiental, as propriedades das rochas, em
particular a porosidade e a permeabildade, são relevantes em estudos e projectos de remediação de
solos contaminados, bem como na contenção, superficial ou subterrânea, de resíduos perigosos.
A importância do estudo das principais propriedades físicas e mecânicas é evidente ao nível de
diferentes áreas da Ciência e da Engenharia. No entanto, no presente trabalho, procura efectuar-se
um estudo focado na Engenharia de Minas e de Petróleos. Devido à maior magnitude das alterações
de tensões no campo da Engenharia de Petróleos (ou de reservatórios de hidrocarbonetos) e
subsquentemente, pela existência de um número muito mais significativo de estudos, a presente
investigação acabará por debruçar-se maioritariamente sobre esse campo da engenharia. Seja como
for, é de ressalvar que as conclusões daí resultantes serão igualmente válidas para as demais áreas
que se ocupam do entendimento das mesmas propriedades. Finalmente, é oportuno referir que
apesar da permeabilidade ser a propriedade mais recorrentemente abordada na bibliografia
encontrada, a evidente relação entre esta propriedade e as demais que interessam a esta
investigação faz com que facilmente se estabeleçam as conclusões desejadas.
Na presente dissertação pretende-se, por via laboratorial, estudar a influência da variação do
estado de tensão nas propriedades poroelásticas das rochas. De entre tais propriedades destacam-
se as fisícas – porosidade, permeabilidade e velocidades de ondas acústicas longitudinais (tipo P) – e
as mecânicas – módulo de Young, coeficiente de Poisson e resistência à compressão triaxial. A
evolução destes parâmetros é analisada em simultâneo com a monitorização das emissões
acústicas. Pretende-se ainda identificar nos gráficos obtidos as diferentes fases do comportamento
13
mecânico típico de rochas sujeitas a compressão uniaxial e averiguar visualmente a existência de
eventuais relações entre as propriedades estudadas.
Nesse sentido foram realizados ensaios convencionais de compressão triaxial, para diferentes
pressões de confinamento e pressões neutras. Para tal usaram-se provetes cilíndricos provenientes
de rochas carbonatadas de particular interesse para a engenharia de reservatórios de
hidrocarbonetos: Calcários Microbialitos integrantes da Formação de Cabaços (Leiria), considerados
como “análogos” ao Pré-sal brasileiro em Portugal.
O equipamento que permitiu a realização destes ensaios foi uma célula triaxial convencional
existente no Laboratório de Geomecânica do Instituto Superior Técnico (LABGEOMEC). Antes de
cada ensaio, esta célula foi previamente adaptada à finalidade do presente estudo, já que foi
concebida apenas para a determinação dos parâmetros de deformabilidade dos materiais rochosos
ensaiados. Deste modo, um dos objectivos deste trabalho de investigação consistiu também no
desenvolvimento das adaptações necessárias no equipamento utilizado.
A dissertação está organizada em 5 capítulos.
O capítulo 1 constitui a presente Introdução, na qual se definem o problema e objectivos da
dissertação, se faz uma descrição dos diversos capítulos e, por último, se apresentam as principais
limitações do estudo.
O capítulo 2 – Revisão Bibliográfica – apresenta uma compilação bibliográfica de informação já
publicada estruturada em cinco subcapítulos. O primeiro subcapítulo, Introdução, constitui uma
abordagem mais detalhada do problema em estudo; o segundo, Enquadramento Geológico do Pré-
sal brasileiro, explica a origem e localização actual das unidades de Pré-sal brasileiro e descreve de
forma sucinta a evolução cronológica de exploração destas unidades; o terceiro, Propriedades
Poroelásticas, define as propriedades que são objecto de estudo na dissertação, mencionando
formas de determinação das mesmas em laboratório; o quarto, Ensaios Triaxiais, descreve as
tipologias de ensaios triaxiais e apresenta a metodologia de execução dos mesmos; o quinto e último,
Estudos Anteriores sobre a Influência de Tensões nas Propriedades das Rochas, constitui o “Estado
da Arte”, onde se apresentam as principais conclusões obtidas no âmbito de trabalhos já publicados e
que manifestaram ser relevantes para este estudo.
O capítulo 3 – Materiais, Equipamentos e Metodologia – encontra-se dividido em três
subcapítulos. No primeiro subcapítulo, Materiais, faz-se o enquadramento geológico-geográfico das
amostras ensaiadas e tecem-se considerações acerca da preparação dos corpos de prova para os
ensaios. Seguidamente, no subcapítulo Equipamentos, descrevem-se os equipamentos utilizados e
alguns detalhes de montagem dos mesmos. Por fim, o terceiro subcapítulo, Metodologia, descreve a
metodologia experimental adoptada no laboratório, destacando as principais limitações encontradas e
as condições de ensaio escolhidas.
O capítulo 4 – Resultados e Discussão – apresenta os resultados experimentais obtidos e a
respectiva discussão. O primeiro subcapítulo foca-se no estudo influência da pressão de
confinamento e pressão de injecção de água nas propriedades em estudo. O segundo subcapítulo
caracteriza-se pela identificação das diferentes fases do típico comportamento mecânico das rocha
14
sujeitas a ensaios de compressão uniaxial e, por último, pelo averiguamento da existência de
eventuais relações entre as referidas propriedades.
O capítulo 5, Conclusões, apresenta uma súmula dos resultados obtidos. Segue-se um
subcapítulo, Propostas para Trabalhos Futuros, onde se começa por apontar as recomendações que
derivam directamente do estudo, mas referindo também outras de âmbito mais geral ou de carácter
mais teórico.
Os resultados deste estudo encontram-se sobretudo condicionados por limitações a nível dos
equipamentos utilizados. A célula não foi concebida para estudos que envolvam a utilização de água,
nomeadamente estudos de permeabilidade ou de pressão neutra não nula, pelo que o sucesso do
estudo estará condicionado pela introdução de pequenas modificações ou adptações desse
equipamento. De qualquer modo, não será possível aplicar pressões de confinamento e de injecção
de água que superem as potencialidades oferecidas pelos equipamentos e respectivas modificações
introduzidas.
Por outro lado, a tipologia do dispositivo de carga axial (prensa não rígida) utilizada não permite
que se efectuem medições fiáveis das propriedades de interesse após a rotura macroscópica dos
provetes, pelo que não serão apresentados resultados relativos a essa fase de ensaio.
Por último, o facto de o estudo recorrer a amostras de conveniência, nomeadamente
fragmentos de rocha de dimensão relativamente reduzida que se encontravam desprendidos da
rocha origem e portanto mais expostos a agentes de meteorização que esta última, inviabiliza a
obtenção de resultados generalizáveis às verdadeiras unidades consideradas “análogas” ao Pré-sal
brasileiro em Portugal. Além disso, o facto de estas unidades manifestarem uma marcada anisotropia
e heterogeneidade, e de não ser possível, na maioria dos casos, identificar a orientação in situ das
amostras recolhidas (à sua escala), poderá estar na origem de discrepâncias mais ou menos
significativas entre os resultados obtidos para cada amostra ensaiada, dependendo da sua posição
na célula triaxial.
15
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Alteração de estados de tensão em reservatórios
Ainda que existam alguns estudos que demonstrem a marcada dependência das propriedades
das rochas em relação às variações dos estados de tensão, normalmente, os engenheiros de
reservatórios não levam em consideração o efeito das tensões in situ na produção, considerando que
a permeabilidade é constante durante a produção de petróleo (Soares et al., 2002).
No entanto, a assumpção anterior não corresponde à realidade dos reservatórios petrolíferos.
De facto, durante a fase de produção de um poço, é induzido um decréscimo das pressões neutras e
um subsequente aumento das tensões efectivas. Por sua vez, verifica-se uma compactação
(diminuição do volume dos poros ou da matriz) associada a uma deformação irreversível da estrutura
da rocha que é responsável pela diminuição da permeabilidade e recuperação de hidrocarbonetos.
A produtividade de um reservatório, seja de hidrocarbonetos ou de quaisquer outros fluidos,
depende essencialmente da porosidade, da permeabilidade e da “compressibilidade” dos poros da
rocha. No entanto, estas propriedades são fortemente dependentes da alteração do estado de tensão
a que o corpo está sujeito. Rhett & Teufel (1992) afirmam que uma boa gestão de reservatórios
requer a determinação da trajectória de tensões através da medição do estado tensional sob
condições iniciais de reservatório e, do mesmo modo, periodicamente durante a produção.
A alteração do estado de tensão a que um corpo geológico está sujeito pode resultar da
abertura de cavidades, da injecção ou produção de fluidos e ainda da ocorrência de eventos
tectónicos e variações de temperatura a que aquele é submetido.
A redução da porosidade e da permeabilidade – e, consequentemente, o aumento da
velocidade das ondas sísmicas – sob o ponto de vista geológico, pode ter origem a dois níveis
distintos: a cimentação natural dos poros por outros minerais e a compactação induzida por diversas
actividades antrópicas, como a perfuração ou a produção (e injecção) de fluidos.
De facto, um dos problemas mais conhecidos associados ao efeito da mecânica das rochas, à
escala dos reservatórios, é precisamente a sua compactação e subsequente subsidência da
superfície terrestre (Fjaer et al., 2008). De entre os principais problemas operacionais ligados à
subsidência destacam-se o risco de inundações no campo de actividade, a segurança da plataforma,
o colapso do revestimento dos furos e ainda a ocorrência de eventos sísmicos. Apesar de não ser
muito recorrente, a subsidência pode gerar graves problemas. Assim sendo, é necessário para a
indústria em questão prever possíveis compactações e subsidências, para que as plataformas e os
revestimentos sejam convenientemente projectados e ainda, entre outros motivos, para que se
adoptem estratégias apropriadas de perfuração e de injecção e produção de fluidos (Fjaer et al.,
2008).
A compressibilidade e o subsequente mecanismo de produção depende substancialmente da
rigidez do corpo rochoso. Assim, as rochas brandas, de menor dureza, são caracterizadas por uma
maior compressibilidade dos poros, sendo a produção predominantemente induzida pela
compactação dos poros. Pelo contrário, nas rochas mais rígidas (com um módulo de rigidez,
16
aproximadamente, 10 GPa), e portanto menos compressíveis, o principal mecanismo de produção é a
compressibilidade dos fluidos dos poros.
Além disso, o decréscimo de pressão neutra resultante da produção, que como se viu pode
induzir fenómenos de compactação, é igualmente responsável por alterar a porosidade,
permeabilidade e anisotropia da permeabilidade, o que terá implicações futuras ao nível da
recuperação.
A compactação, muitas vezes, está intimamente relacionada com o conceito de dano
mecânico. Este conceito pode ser definido pela degradação irreversível da resistência ou rigidez da
rocha e alteração das suas propriedades de fluxo, como resultado de mudanças permanentes do
arranjo dos grãos, que por sua vez, estão associadas a deformações plásticas (Dusseault & Gray,
1992). O dano mecânico pode manifestar-se de duas formas distintas: pelo bloqueio da trajectória
dos fluidos com partículas finas resultantes desse processo, diminuindo a permeabilidade, ou pela
quebra do cimento, permitindo uma circulação mais livre dos fluidos.
2.2. Enquadramento geológico do Pré-sal brasileiro
Neste capítulo é feita uma breve abordagem ao enquadramento geológico das formações
rochosas que constituem o designado “Pré-sal” existente ao longo da margem Leste Meridional
brasileira, já que os ensaios experimentais se debruçaram sobre uma tipologia de rocha considerada
“análoga” a essas formações – calcários microbialitos integrantes da Formação de Cabaços. Na
Figura 2.1 é possível visualizar um mapa de localização das bacias sedimentares da referida margem
Leste Meridional brasileira.
Segundo Estrella (2008), o Pré-sal é uma unidade de rocha reservatório de composição
calcária ligada a acções microbianas. Através de conclusões da análise de testes geológicos, em
Novembro de 2007, a Petrobras relata o seguinte: “…As rochas do Pré-sal são reservatórios que se
encontram abaixo de uma extensa camada de sal, que abrange o litoral do Estado do Espírito Santo
até Santa Catarina, ao longo de mais de 800 km de extensão por até 200 km de largura, em lamina
de água que varia de 1500 m a 3000 m e soterramento entre 3000 e 4000 metros…”.
O Pré-sal é, portanto, uma rocha de natureza carbonática. As rochas carbonáticas são um tipo
de rocha sedimentar, de origem química ou bioquímica, compostas maioritariamente por minerais
carbonáticos. Os principais minerais carbonáticos são a calcite e aragonite (CaCO3) e a dolomite
(CaMg (CO3) 2). Dentro das rochas carbonáticas distinguem-se duas variedades: as detríticas, que
apresentam na sua constituição grãos aloquímicos (ex. oólitos, oóides e bioclastos), e as orgânicas
(reef rocks), consistindo em depósitos in situ constituídos por organismos sésseis.
Os reservatórios do Pré-sal formaram-se entre 123 e 113 milhões de anos e a sua origem está
relacionada com o processo de fragmentação do Gondwana (Estrella, 2008). Esta fragmentação
consistiu na separação das duas placas tectónicas sobre as quais se localizam os actuais continentes
de África e América (do Sul). A zona de afastamento entre estes dois continentes corresponde ao
designado Atlântico Sul, muito referido no âmbito do estudo do Pré-sal.
17
Figura 2.1 - Mapa de localização das bacias sedimentares da margem Leste Meridional brasileira. O
polígono em azul (delimitado pelo pontilhado em azul), representa as rochas reservatório do “Pré-sal”, segundo
Estrella, 2008. Os limites das bacias são definidos pelas linhas pretas pontilhadas. Fontes: BDEP, Nov. 2009 e
Estrella, 2008
Antes da formação destas rochas calcárias, houve um período de intenso tectonismo e
fragmentação do Gondwana. Estes movimentos abriram fossas com direcções NNE-SSW que foram
preenchidas por água, formando lagos com profundidades e composições diferenciadas. Num
determinado momento, houve condições para a proliferação de fitoplânctons nesses lagos, que
depois de mortos foram soterrados, vindo a formar os folhetos geradores de petróleo e gás (Estrella,
2008).
A evolução da dinâmica da crosta conduziu à interligação desses lagos com um oceano
próximo, formando um golfo estreito e alongado. Uma vez instaladas condições de relativa
estabilidade tectónica, este golfo criou condições ambientais adequadas para que florescessem
organismos microbianos que iriam formar as rochas carbonáticas constituintes dos reservatórios do
Pré-sal (Estrella, 2008).
18
A pesquisa de reservatórios de hidrocarbonetos abaixo da camada de sal (Pré-sal) iniciou-se
na bacia de Sergipe-Alagoas, em 1963 (Milani & Araujo, 2003). Nas décadas de 1970 e 1980, com a
perfuração de mais de 150 poços em águas rasas nas bacias de Campos e Espírito Santo (Simões
Filho, 2008 – citado em Papaterra, 2010), foram descobertas acumulações em reservatórios
carbonáticos (coquinas) atribuídos ao andar Barremiano (Castro, 2006). Porém, não se atingiu uma
produção comercial, devido ao reduzido volume de tais descobertas.
Em Angola, a produção comercial de hidrocarbonetos, em grande escala, em reservatórios de
origem lacustre no intervalo Pré-sal, ocorre desde a década de 1970, na sua margem continental da
região offshore de Cabinda (Lomando, 1998 – citado em Papaterra, 2010).
Em 2004, os avanços nas técnicas de processamento de dados sísmicos possibilitaram a
retoma das pesquisas por reservatórios de hidrocarbonetos na bacia de Santos, Brasil. Nessa altura,
foram então descobertas importantes acumulações de petróleo leve e gás natural nas bacias de
Santos e Campos. A partir daí, novas descobertas e poços foram feitos, constituindo o Pré-sal,
actualmente, uma das reservas mais importantes a nível mundial. Em Portugal, a presença de rochas
com características semelhantes às do Pré-sal brasileiro verifica-se directamente em afloramentos da
Formação de Cabaços (Leiria, Portugal). É esta semelhança que resulta no interesse por aprofundar
o estudo e conhecimento, ainda bastante insipientes, sobre a rocha considerada como análoga ao
Pré-sal brasileiro em Portugal. Esta formação será oportunamente descrita na secção 3.1.
2.3. Propriedades poroelásticas
Algumas propriedades das rochas têm uma importância particular no planeamento, execução e
custo dos projectos de engenharia onde se observam modificações do estado de tensão in situ dos
maciços rochosos neles envolvidos.
Os critérios mais correntes de classificação do "material rocha" baseiam-se, na sua maioria,
nos parâmetros módulo de elasticidade ( ), resistência à compressão simples ( ) e velocidade de
propagação das ondas sísmicas do tipo P e S ( ), por serem, por um lado, valores que
facilmente podem ser obtidos através de ensaios e, por outro, por caracterizarem de modo
significativo o comportamento elástico da rocha. Os parâmetros anteriormente mencionados
dependem de outros, como a porosidade e a permeabilidade. O estudo das emissões acústicas é
igualmente relevante neste trabalho.
Nesta secção, com base na literatura existente, são definidas e apresentadas as metodologias
para a determinação em laboratório das principais propriedades poroelásticas das rochas:
propriedades físicas (porosidade, permeabilidade e velocidade das ondas sísmicas do tipo P e S) e
mecânicas (parâmetros de deformabilidade e emissões acústicas).
19
2.3.1. Propriedades físicas
2.3.1.1. Porosidade
As rochas são constituídas por aglomerados de minerais, que formam a matriz rochosa, e por
espaços vazios disseminados por essa matriz. No estudo da porosidade, porém, a importância recai
sobre o estudo dos vazios.
Os vazios podem corresponder a poros (porosidade granular) e/ou a fissuras (porosidade
fissural). A porosidade granular é geralmente a que permite maiores acumulações de fluidos; a
porosidade fissural, embora não possibilite normalmente armazenar significativas quantidades de
fluidos, é igualmente importante já que consiste em trajectórias de maior permeabilidade, por onde
existe maior facilidade de migração dos fluidos. Neste trabalho, não será feita distinção entre as duas
tipologias de vazios e assumir-se-à sempre que o conceito genérico de porosidade se refere ao
somatório das porosidades granular e fissural.
A porosidade em rochas carbonáticas é dependente da textura, estrutura (fabric) e geometria
de fracturas (Ahr, 2008) (ver Figura 2.2).
Figura 2.2 - Ilustração de diferentes índices de porosidade. Fonte: USP, Brasil (2012)
Em termos numéricos, a porosidade ( ) é dada pela razão entre o volume de vazios ( ) de
uma amostra de rocha e o seu volume total ( ), sendo geralmente expressa em percentagem:
A nível da engenharia de reservatórios no presente estudo, o interesse recai sobre a
porosidade efectiva, pois é aquela que reflecte o grau de intercomunicação entre os vazios,
permitindo a circulação dos fluidos. A porosidade efectiva é definida pela razão entre o volume de
vazios conectados e o volume total da rocha. Daqui por diante, a porosidade efectiva será
simplesmente designada de porosidade.
A nível laboratorial, existem algumas metodologias de determinação da porosidade de uma
rocha. A metodologia mais seguida é a definida pela ISRM (Brown, 1981). De acordo com esta,
começa-se por saturar, a vácuo, o corpo de prova com um dado fluido de peso volúmico (g/cm³),
obtendo-se a massa saturada . O valor da massa seca é conseguido colocando o corpo de
prova numa estufa a aproximadamente 100ºC, deixando-se, após esse período, que o corpo arrefeça
num dessecador durante 30 minutos. Posteriormente, conhecendo o volume total do corpo ( ), é
possível calcular a porosidade efectiva:
20
O cálculo da variação percentual da porosidade ( ) de uma amostra sujeita a um estado de
tensão, o que interessa para este estudo, é dado pela razão entre a variação da extensão volumétrica
( ) e o volume total ( ) da amostra:
2.3.1.2. Permeabilidade
São inúmeras as investigações que dão conta da forte influência de tensões na
permeabilidade, uma das propriedades mais importantes no âmbito do estudo de Engenharia de
Reservatórios.
Na Geomecânica, a permeabilidade caracteriza a facilidade de escoamento de um fluido
através de um meio rochoso. É o arranjo dos constituintes da parte sólida das rochas e não
simplesmente a sua composição, que fundamentalmente determina a permeabilidade da rocha
(Bruno, 1994).
O estado de tensão instalado na rocha influencia consideravelmente a sua permeabilidade. O
aumento das tensões de compressão provoca o fecho das fissuras e a diminuição da permeabilidade,
mas, a partir de um certo limite, o aumento das tensões pode iniciar o aparecimento de novas
fracturas provocando o aumento da permeabilidade. A variação da permeabilidade da rocha pode
também ser consequência da pressão da água que circula nos seus vazios e descontinuidades: o
aumento da pressão da água tende a abrir as fissuras, aumentando a permeabilidade.
A base da teoria (ou lei) do escoamento em meios granulares porosos foi estabelecida por
Darcy e é válida no regime de escoamento laminar, com velocidade constante, num meio poroso
homogéneo e isotrópico. A unidade de permeabilidade é a de área, sendo comum designá-la por
darcy (D) ou milidarcy (mD). Deste modo, considerando a condutividade hidráulica dependente da
natureza do meio e propriedades dos fluidos – densidade e viscosidade – que o atravessam, a Lei de
Darcy pode ser escrita como se segue:
Onde é o caudal (m³/s); , a permeabilidade intrínseca (m² ou D); , a densidade do fluido;
, a viscosidade do fluido (Pa );
, a perda de carga hidráulica e A, a área da secção transversal
de fluxo (m²).
21
O conceito de permeabilidade intrínseca, muitas vezes designada apenas de permeabilidade, à
semelhança do que será feito neste trabalho, não considera as propriedades dos fluidos que
atravessam a rocha, levando em consideração apenas as propriedades do meio poroso.
A partir da Lei de Darcy, anteriormente exposta, a seguinte equação pode ser obtida para a
determinação laboratorial da permeabilidade k das amostras:
Onde é o caudal; , o comprimento da trajectória de fluxo (equivalente ao comprimento do
provete); , a viscosidade do fluido; P, a diferença de pressão entre as extremidades da trajetória de
fluxo (faces opostas do provete) e A, a área da secção transversal do provete.
2.3.1.3. Velocidade das ondas sísmicas
As ondas sísmicas, também designadas por ondas ultra-sónicas ou acústicas, correspondem a
perturbações mecânicas que se propagam como ondas elásticas através de um material. Essa
propagação ocorre como resultado da transferência de energia cinética entre sucessivas partículas
materiais.
As ondas sísmicas são um importante método indirecto de prospecção geológica, já que a sua
propagação está intimamente relacionada com as propriedades do meio que atravessam, permitindo
conhecer a estrutura subterrânea. De facto, a velocidade de propagação das ondas acústicas
depende das propriedades elásticas e da densidade do material, as quais, por sua vez, dependem de
outras propriedades como a porosidade (Fjaer et al., 2008). É esta teórica relação evidente entre
porosidade, permeabilidade e velocidade das ondas que despoleta o interesse em estudá-las em
simultâneo.
A velocidade de propagação das ondas acústicas pode ser significativamente afectada
(redução) pela existência de descontinuidades, especialmente se estas se encontrarem não
preenchidas. Assim, a velocidade das ondas pode ser utilizada para detectar a presença e até
mesmo a abundância de descontinuidades. O estudo desta propriedade permite identificar a
ocorrência de fracturações da rocha ou rotura dos poços, ou simplesmente a ocorrência de
deformações volumétricas mais ou menos significativas.
Os dois tipos de ondas sísmicas que são geralmente do interesse da engenharia e da geologia
de engenharia são as ondas do tipo P (primárias ou longitudinais) e as do tipo S (secundárias ou
transversais). Como sugere a designação de cada uma destas, as ondas P são as que se propagam
mais rapidamente, em que as partículas do corpo vibram na direcção de propagação da onda e as
ondas S, mais lentas, as partículas vibram na direcção perpendicular à de propagação.
A determinação laboratorial da velocidade de propagação das ondas sísmicas pode realizar-se
através de dois métodos.
O primeiro método requer a existência de uma fonte de geração de vibração (o emissor) e um
receptor desse mesmo sinal. Conhecendo a distância ( ) que medeia estes dois sistemas – o emissor
22
e o receptor – e o intervalo de tempo ( ) que a onda demora a percorrer a referida distância, a
velocidade de propagação da onda ( ) vem dada por:
O segundo método baseia-se no conhecimento da densidade ( ) e parâmetros de
deformabilidade da rocha, nomeadamente o módulo de Young ( ) e coeficiente de Poisson ( ). A
determinação laboratorial da velocidade das ondas sísmicas do tipo P ( ) e S ( ), através desta
metodologia, é realizada através das seguintes fórmulas que derivam (Kolsky, 1963) da Lei de Hooke:
2.3.2. Propriedades mecânicas
2.3.2.1. Parâmetros de deformabilidade
Os parâmetros elásticos são geralmente determinados recorrendo a ensaios de compressão
uniaxial, embora tal também seja possível recorrendo a ensaios triaxiais standard, desde que se siga
a metodologia descrita na secção 2.4.
O módulo de Young ( ), também designado por módulo de deformabilidade ou de elasticidade,
é uma medida de deformabilidade da rocha. Em termos numéricos, é geralmente dado pelo declive
da curva tensão vs. extensão (curva σ-ε) na região elástica:
O coeficiente de Poisson ( ) é uma medida da expansão transversal em relação à contracção
longitudinal da amostra. Assim, numericamente, é dado pela razão entre o declive de ambas as
curvas tensão vs. extensão (axial e transversal):
As definições acima baseiam-se na simplificação de que a resposta tensão-deformação é
linear, o que não se verifica na realidade. Assim, destacam-se as seguintes alternativas comummente
aceites para a determinação do módulo de Young (Figura 2.3):
23
Módulo inicial, dado pelo declive do troço inicial da curva σ-ε;
Módulo da secante, medido pelo declive da recta definida por dois pontos pré-definidos da
curva σ-ε;
Módulo da tangente, baseado no declive da tangente para uma dada percentagem da tensão
máxima de pico.
Figura 2.3 - Ilustração dos diferentes métodos de cálculo do módulo de Young a partir de uma curva
tensão vs. extensão. Adaptado de Fjaer et al., 2008
2.3.2.2. Emissões acústicas
A partir de testes de carregamento laboratoriais levados a cabo por Kaiser (1950), citado em
Lopes (2009), observou-se que quando as amostras eram sujeitas a cargas superiores às tensões
anteriormente experimentadas, essas começavam a produzir emissões acústicas. Assim, este
fenómeno tem sido largamente utilizado na determinação de estados de tensão in situ (Fjaer et al.,
2008).
Além do campo de aplicação referido anteriormente, as emissões acústicas servem também
como auxiliar na interpretação de sonic logs e medições sísmicas, no estabelecimento de correlações
com a resistência da rocha e, em última instância, na avaliação da diferença entre os módulos de
deformabilidade estático e dinâmico (Fjaer et al., 2008).
As emissões acústicas são ondas elásticas transientes que resultam de bruscas variações
localizadas do estado de tensão numa amostra. Em materiais porosos, como as rochas, a variação
súbita do estado de tensão pode estar associada ao crescimento de fracturas pré-existentes e/ou ao
colapso dos poros ou grãos da rocha (Fjaer et al., 2008).
Em particular, à escala laboratorial e à temperatura ambiente, a fissuração, a nucleação e a
propagação de fracturas são consideradas as principais fontes de EA (Lockner, 1993). A localização
(espacial e temporal) das emissões acústicas permite visualizar a evolução da fractura da fase inicial
até à rotura macroscópica (Xinglin et al., 2004), como se apresenta na Figura 2.4.
24
Figura 2.4 - Emissão acústica por acção de uma pressão triaxial numa amostra de granito porfiróide
(dimensões 100 x 50 mm). (a) Fase primária, (b) Fase secundária, (c) Fase de nucleação, (d) Fase de rotura
total. Adaptado de Xinglin et al., 2004
2.4. Ensaios triaxiais
Neste subcapítulo abordam-se as principais metodologias adoptadas na execução dos ensaios
triaxiais.
Os ensaios triaxiais podem ser realizados sob diferentes condições de drenagem: condições
drenadas ou não drenadas.
Em condições drenadas, os orifícios existentes nos pistões de carregamento são abertos
durante os ensaios, sendo possível manter a pressão neutra a um determinado nível pretendido. Na
maioria das vezes, os referidos orifícios encontram-se abertos para a atmosfera, o que faz com que a
pressão neutra seja nula e as tensões efectivas igualem as tensões totais (Fjaer et al, 2008). No
presente estudo, apenas um dos orifícios (o de saída) foi mantido à pressão atmosférica; o outro
serviu para a entrada de água pressurizada no interior da célula. Nestes casos, a menos que se
disponha de um manómetro que permita efectuar medições da pressão neutra, apenas é possível
conhecer o valor da pressão de água nas extremidades do provete. Deste modo, ao longo deste
trabalho, será feita referência não à designação de “pressão neutra” mas à de “pressão de injecção
de água”.
Em condições não drenadas, os fluidos não têm a possibilidade de migrar do interior da
amostra, de modo que a pressão neutra aumenta durante o carregamento da amostra. São ensaios
menos utilizados, essencialmente aplicados a rochas de muito baixa permeabilidade, como xistos ou
argilitos.
A nível laboratorial, cada ensaio de mecânica das rochas está associado a determinadas
condições de tensão, ou seja, a uma determinada trajectória de tensões. Deste modo, é possível
simular diferentes tensões e determinar a influência de cada uma delas nas propriedades
poroelásticas das rochas.
25
A trajectória de tensões é definida pela razão da variação entre a tensão efectiva mínima ( ) e
a tensão efectiva máxima ( ), a partir das condições iniciais de reservatório. É geralmente denotada
por K e vem, matematicamente, definida por:
A trajectória de tensões pode variar entre 0 e 1. Uma trajectória unitária (K = 1) corresponde a
um ensaio drenado de compressão triaxial hidrostática. Uma trajectória nula (K = 0) representa um
ensaio drenado com tensão de confinamento constante, podendo, portanto, tratar-se de um ensaio de
compressão uniaxial (ou simples) ou triaxial convencional (também designado por axissimétrico ou
standard). Os ensaios triaxiais convencionais são muito comuns, nomeadamente na avaliação da
estabilidade de furos ou outras cavidades. Em geral, a metodologia destes testes consiste em
aumentar as duas tensões principais mínimas (tensão ou pressão de confinamento) e a máxima até
um determinado nível pré-estabelecido e a partir daí aumentar apenas a tensão máxima até à rotura,
mantendo as mínimas constantes. Uma simplificação dos ensaios triaxiais, são os ensaios não
confinados, geralmente designados por uniaxiais. Como sugere a designação, a tensão axial é
aumentada até à rotura, mantendo a tensão mínima (pressão de confinamento) nula.
Os ensaios hidrostáticos são geralmente realizados para determinar o módulo volumétrico (bulk
modulus) da rocha. Como se viu, representam a parte prévia dos ensaios triaxiais, sendo o aumento
das tensões principais indiferenciado (carregamento isotrópico) até à rotura. Tanto o ensaio
hidrostático como o triaxial standard, exceptuando o uniaxial, podem ser conduzidos sob condições
drenadas ou não drenadas (Fjaer et al., 2008).
Outro teste comummente usado, como por exemplo em estudos de estabilidade de fundações,
mas também na engenharia de reservatórios, para simular a compactação durante a produção e a
compressibilidade da rocha, é o teste edométrico (Fjaer et al., 2008). É executado em condições de
compressão uniaxial com constrangimento lateral (ausência de deformação lateral) da amostra.
Por último, destaca-se o ensaio triaxial verdadeiro. Sabe-se que as rochas estão sujeitas a
estados de tensão in situ em que as três tensões principais são diferentes entre si. A aplicação de
três tensões independentes a nível laboratorial, por meio de ensaios triaxiais verdadeiros, é de
máximo interesse na simulação de condições reais. Contudo, devido à maior complexidade inerente à
realização destes ensaios, o conhecimento do efeito de estados de tensão verdadeiros na variação
das propriedades das rochas é ainda muito insipiente e nem sempre possível de realizar
laboratorialmente.
Daqui por diante, entenda-se um ensaio triaxial como um teste triaxial convencional. Sempre
que se pretenda fazer referência a um ensaio hidrostático ou triaxial verdadeiro, serão essas as
designações consideradas. Do mesmo modo, sempre que nada for dito em contrário, supõe-se que
os ensaios são do tipo de compressão e realizados em condições drenadas.
26
2.5. Estudos anteriores sobre a influência de tensões nas propriedades
das rochas
Este subcapítulo apresenta os principais ensaios e resultados experimentais já publicados no
âmbito do estudo do efeito das tensões nas propriedades das rochas. A apresentação dos resultados
encontra-se organizada em grupos distintos. Cada grupo corresponde a um determinado factor que
mostrou poder influenciar, mais ou menos significativamente, a taxa de variação daquelas
propriedades no decorrer da aplicação de tensões. No primeiro grupo (secção 1.5.2), o factor cuja
influência nas propriedades das rochas se estuda é a trajectória de tensões; no segundo (secção
1.5.3), a composição mineralógica, grau de cimentação e estrutura dos poros; no terceiro (secção
1.5.4), a permeabilidade e porosidade iniciais; no quarto (secção 1.5.5), a pressão neutra e; no quinto
(secção 1.5.6), o grau de heterogeneidade.
2.5.1. Células triaxiais
Os primeiros ensaios a propósito do estudo do efeito de tensões nas propriedades das rochas-
reservatório debruçam-se apenas sobre estados tensionais hidrostáticos. A relação entre tensões e
essas propriedades é, no entanto, bastante variável. Estudos anteriores mencionam factores como a
trajectória de tensões, a composição mineralógica, o grau de heterogeneidade, o grau de cimentação,
a estrutura e forma dos poros da rocha, de forma a explicar tal variabilidade.
A percepção de que estados de tensão in situ se afastavam consideravelmente da condição
hidrostática, na maioria dos casos, levou a que na década de 90 se intensificasse a realização de
ensaios sob estados de tensão não hidrostática, particularmente os designados ensaios triaxiais
verdadeiros.
Os primeiros ensaios triaxiais verdadeiros forma realizados em provetes cilíndricos, por Handin
et al. (1967) e em provetes cúbicos por Mogi (1970), Gau et al. (1983) e Amadei & Robison (1986) e
Esaki & Kimura (1989). Esta tipologia de ensaios caracteriza-se pela aplicação das três tensões
principais, de modo independente, às faces dos corpos de prova.
Mogi (1970) deverá ter sido o primeiro autor a criar um equipamento que permitia a aplicação
de três tensões uniformes e independentes entre si, tendo inclusive demonstrado que a resistência da
rocha é função da tensão principal intermédia.
Entretanto, até aos dias de hoje, novas células triaxiais verdadeiras têm vindo a ser
desenvolvidas e modificadas. Cada uma delas é indicada para diferentes geometrias de corpos de
prova e permite a aplicação de valores de tensão máxima distintos. Algumas células, além de
permitirem a medição de parâmetros mecânicos (resistência e deformabilidade), permitem também
determinar algumas propriedades petrofísicas das rochas, como a permeabilidade e a velocidade de
propagação das ondas acústicas P e S. Um exemplo desse tipo de equipamento é o sistema de
carregamento triaxial desenvolvido depois de King et al. (1995), por Al-Harthey et al. (1998a),
apresentado na Figura 2.5.
27
Figura 2.5 - Representação esquemática do sistema de carregamento triaxial verdadeiro depois de King
et al., 1995. Adaptado de Al-Harthy et al., 1998a
2.5.2. Influência da trajectória de tensões
Estudos anteriores, no âmbito do estudo da influência da compactação sobre a permeabilidade
e a velocidade de propagação de ondas sísmicas nas rochas, referem que as deformações
volumétricas, as propriedades de fluxo e as propriedades elásticas estão intimamente relacionadas, já
que todas elas dependem de um número limitado de parâmetros intrínsecos como a porosidade,
densidade de fracturas e propriedades elásticas da matriz e fluidos que compõem a rocha (Fortin et
al., 2005).
Observações de campo e ensaios laboratoriais constataram, recentemente, a formação de
bandas de compactação em arenitos porosos (Mollema & Antonellini, 1996; Olsson & Holcomb, 2000;
Bésuelle, 2001; Klein et al., 2001).
Por um lado, Vajdova et al. (2005) e Holcomb & Olsson (2003) mostraram que a
permeabilidade através de bandas de compactação era geralmente reduzida uma ou duas ordens de
grandeza, podendo funcionar essas bandas como barreiras à passagem de fluidos. Contudo, Zhu &
Wong (1997) constataram que não existia uma relação directa entre a evolução da permeabilidade e
as deformações volumétricas durante a compactação de arenitos.
Por outro lado, Scott et al. (1993) mostraram que a velocidade de propagação das ondas
acústicas era claramente afectada durante a deformação de arenitos porosos. Porém, mais uma vez,
a relação entre porosidade (deformação volumétrica) e as propriedades elásticas parece não ser
linear, devido à ocorrência de dois fenómenos competitivos. O primeiro fenómeno é referente ao dano
mecânico da rocha (1995), associado à rotura dos grãos que a constituem, que é responsável pela
diminuição da velocidade das ondas sísmicas; o segundo, verificado por Schumbnel et al. (2005),
corresponde ao fecho das (micro)fracturas e compactação induzidos pelo aumento da tensão média
actuante, registando-se um aumento da velocidade.
28
Com base nestas investigações, Fortin et al. (2005) estudaram pela primeira vez a evolução
simultânea de deformação volumétrica, velocidade de ondas acústicas e permeabilidade num
conjunto de provetes retirados de uma amostra do arenito Bleurswiller com 25 % de porosidade.
Foram realizados ensaios de compressão triaxial (hidrostática e triaxial convencional) para diferentes
pressões de confinamento, 12, 30, 50, 70, 90, 110 MPa, com pressão neutra constante de 10 MPa. O
estudo procurava averiguar a eventual existência de correlações entre as referidas variáveis e ainda
associar observações microestruturais ao modo de rotura dos corpos de prova.
A primeira etapa de ensaios realizou-se sob condições de compressão hidrostática. Os
resultados obtidos encontram-se resumidos na Figura 2.6, onde é possível, em função da tensão
efectiva média, individualizar seis domínios de diferente resposta mecânica das amostras testadas:
A0-A1, A1-P*, P*-A2, A2-A3, A3-A4 e A4-A5.
Figura 2.6 - Compressão hidrostática: tensão efectiva média versus (a) redução de porosidade, (b)
permeabilidade, (c) velocidade das ondas P e (d) velocidade das ondas S, durante compressão hidrostática.
Adaptado de Fortin et al., 2005
Segundo os mesmos autores, o troço não-linear inicial da curva (A0-A1) corresponde ao fecho
das fracturas pré-existentes na rocha, verificando-se, consequentemente um aumento da velocidade
29
das ondas P e S até à tensão efectiva média de 50 MPa. Durante esta fase a permeabilidade
mantém-se constante (k ≈ 2,45 x m²).
Na região sucessiva (A1-P*), a porosidade e a permeabilidade manifestam um decréscimo
linear, ao passo de que a velocidade das ondas atinge o seu valor máximo (próximo de 3900 m/s,
para as ondas P e 2275 m/s, para as ondas S). Atingido o ponto P*, começam a observar-se
aceleradas compactações anelásticas, verificando-se grandes deformações para pequenos
incrementos de tensão aplicada. Como consequência, é observável um acentuado decréscimo quer
da velocidade das ondas acústicas e da porosidade, quer da permeabilidade em quase uma ordem
de grandeza.
Porém, a partir do ponto A2, observa-se uma discrepância entre a evolução da porosidade e da
velocidade das ondas: ao passo de que a primeira propriedade continua a diminuir, a segunda
aumenta. Este comportamento deve-se à actuação dos dois micromecanismos competitivos. O
primeiro mecanismo, relativo ao rotura dos grãos e à subsequente redução da porosidade,
predominando na zona P*-A2, está associado a um decréscimo das velocidades das ondas sísmicas;
o segundo, relativo ao colapso dos poros e à diminuição da porosidade, sendo predominante na zona
A2-A3, corresponde a um aumento das mesmas velocidades. A permeabilidade, à semelhança da
porosidade, mantém a tendência de decréscimo com o aumento da tensão efectiva média aplicada.
O troço A3-A4 corresponde à fase de fim de carregamento (relaxamento), aos 245 MPa,
registando-se uma diminuição da porosidade e permeabilidade e um aumento das velocidades das
ondas P e S. Tais observações evidenciam a ocorrência de fenómenos característicos do regime de
viscoelasticidade.
Finalmente, a amostra é lentamente descarregada (A4-A5), observando-se o comportamento
contrário ao descrito na fase precedente: a permeabilidade aumenta de 2,6 x para 6,2 x
m², e a velocidade das ondas P e S, como resultado da abertura das fracturas criadas durante a
rotura dos grãos e o colapso dos poros, diminui quase 25 % e 45 %, respectivamente.
A segunda série de ensaios realizou-se sob condições triaxiais convencionais, tendo-se
aplicado pressões de confinamento (Pc) de 12 e 30 MPa, que são caracterizadoras de um regime
frágil, onde a rotura é do tipo macroscópica. Os resultados obtidos encontram-se representados na
Figura 2.7, sendo possível individualizar três domínios e comparar os dados deste série de ensaios
com os anteriores (em condições hidrostáticas de tensão).
Em ambos os casos (Pc = 12 e 30 MPa) e à semelhança da situação observada em condições
hidrostáticas, o primeiro troço corresponde ao fecho das microfissuras, pelo que a velocidade das
ondas aumenta e a porosidade e permeabilidade diminuem ligeiramente. Após este troço, a resposta
mecânica das amostras é linear.
O ponto C’ marca o ínicio do fenómeno de dilatância, registando-se um ligeiro decréscimo da
porosidade e da velocidade das ondas P e S. A fase final de dilatância, por sua vez, está associada à
rotura macroscópica da rocha, observando-se uma redução brusca dos valores das propriedades
mencionadas. No caso de Pc = 30 MPa, porém, não são visíveis alterações de permeabilidade, o que
está concordante com a variação da porosidade (praticamente nula).
30
Figura 2.7 - Regime frágil (dilatância): tensão efectiva média versus (a) redução de porosidade, (b)
permeabilidade, (c) velocidade das ondas P e (d) velocidade das ondas S, para dois ensaios de compressão
triaxial (não hidrostática) com pressões de confinamento de 12 e 30 MPa. Adaptado de Fortin et al., 2005
Ao contrário do caso anterior (Pc = 12 e 30 MPa), na terceira série de ensaios, para pressões
de confinamento entre 50 e 110 MPa, verificou-se que o modo de rotura estava associado a uma
apreciável redução anelástica da porosidade, com a formação das designadas “bandas de
compactação”, não sendo agora possível identificar superfícies de rotura macroscópica. Estas
bandas, originadas uma vez atingido o ponto C*, estão também associadas a reduções drásticas da
permeabilidade e da velocidade das ondas acústicas, como se pode visualizar na Figura 2.8.
Assim, constata-se que a grande diferença entre o regime frágil, manifestado para pressões de
confinamento de 12 e 30 MPa, e o regime dúctil (ou semi-frágil), para pressões de 50 a 110 MPa, na
fase final de ensaio, reside na forte redução da porosidade e permeabilidade neste último caso, ao
passo de que no primeiro não são praticamente registadas alterações nos valores dessas
propriedades. Em ambos os regimes, porém, verifica-se uma diminuição significativa da velocidade
das ondas sísmicas.
31
Figura 2.8 - Regime dúctil ou semi-frágil (compactação): tensão efectiva média versus (a) redução de
porosidade, (b) permeabilidade, (c) velocidade das ondas P e (d) velocidade das ondas S, para quatro ensaios
de compressão triaxial (não hidrostática) com pressões de confinamento de 50, 70, 90 e 110 MPa. Adptado de
Fortin et al., 2005
Ora, considerando os estudos levados a cabo no presente artigo, foi possível concluir que
apesar de os três parâmetros estudados manifestarem um comportamento coerente entre eles, esses
não são linearmente correlacionáveis entre si, devido à ocorrência de dois micromecanismos
competitivos que precisam de ser quantificados de forma mais precisa: a rotura dos grãos e o colapso
dos poros.
Estudos sobre a influência do estado tensional hidrostático sobre a velocidade de propagação
de ondas sísmicas P e S, para vários ângulos de propagação, foram conduzidos no âmbito da Tese
de Mestrado de Lopes (2009). A pressão efectiva foi aumentada, continuamente, de 5 a 95 MPa,
seguida de uma descompressão até à pressão mais baixa. Os resultados referentes ao ensaio,
podendo ser visualizados na Figura 2.9, evidenciam um aumento da velocidade de propagação das
ondas com o aumento da tensão efectiva, sendo esse aumento mais pronunciado na fase inicial de
carregamento.
32
Figura 2.9 - Variação das velocidades de propagação das ondas P e S com a pressão efectiva média,
durante os testes hidrostáticos, para vários ângulos de propagação. Lopes, 2009
Com vista à identificação da ocorrência de colapso dos poros das rochas, Soares et al. (2002)
também realizaram ensaios de compressão triaxial com medição simultânea da permeabilidade e da
velocidade das ondas P, aplicando diferentes trajectórias de tensão. Os ensaios foram executados
recorrendo a um calcário dúctil, heterogéneo e de alta porosidade (20-35 %), proveniente da Bacia de
Campos, Brasil. Apesar da diferença de composição mineralógica entre a rocha deste estudo e a do
de Fortin et al. (2005), os resultados obtidos são concordantes, à excepção de que Soares et al.
(2002) mencionam a ocorrência de uma diminuição significativa da permeabilidade no troço inicial do
gráfico tensão vs. extensão.
David et al. (1994) também estudaram o efeito da tensão na porosidade e permeabilidade em
arenitos de porosidades entre 14 e 35 %. É de notar o caso particular do arenito Rothbach
(porosidade de 23 %), testado sob um estado de tensão hidrostático que, em termos daquelas
propriedades e à excepção do troço inicial correspondente ao fecho das microfissuras do corpo de
prova (em que se registou um decréscimo significativo da permeabilidade), manifestou um
comportamento bastante concordante com o descrito no estudo de Fortin al et. (2005).
À semelhança de Fortin et al. (2005), também Zhu & Wong (1997) analisaram a evolução da
porosidade e permeabilidade numa série de arenitos durante a fase de transição do regime frágil para
o cataclástico. Estes arenitos tinham porosidades iniciais compreendidas entre 14 e 35 %, tal como
os arenitos das investigações de David et al. (1994). Basicamente, os corpos sujeitos a um regime
frágil, caracterizado por uma baixa pressão de confinamento, sofreram nessa fase um notável
aumento da porosidade e uma diminuição da permeabilidade; pelo contrário, nos corpos em regime
dúctil, onde as pressões de confinamento eram maiores, registou-se uma diminuição quer da
porosidade, quer da permeabilidade. Estes resultados encontram-se apresentados na Figura 2.10.
33
Figura 2.10 - Evolução da porosidade e permeabilidade do arenito Rothbach em função da tensão
efectiva média sob um estado de tensão triaxial. (A) Regime cataclástico (165 MPa de pressão efectiva de
confinamento). O gráfico menor à esquerda representa a tensão de corte vs. deformação axial. A escala é de 0-
20% para a deformação e de 0-350 MPa para a tensão de corte; (B) Regime frágil (5 MPa de pressão efectiva de
confinamento). Notar a diferença de escala, comparada com a figura (A). A escala é de 0-6% para a deformação
e de 0-80 MPa para a tensão de corte. Adaptado de Azevedo, 2005
Zhu & Wong (1997) explicam a evolução díspare entre a porosidade e a permeabilidade no
regime frágil como resultado do aumento de tortuosidade induzida pela dilatância do corpo. Como
consequência, verifica-se um aumento da porosidade e uma diminuição da permeabilidade, uma vez
que aumenta o percurso dos fluidos no meio em estudo.
Esta tendência, porém, não é observada para o arenito de menor porosidade (14,5 %) testado,
o Darley Dale. Deste modo, Zhu & Wong (1997) sugerem um limite de porosidade de 15 %, abaixo do
qual a permeabilidade, em vez de diminuir, aumenta durante a dilatância.
O modo de rotura nos dois regimes é distinto. No regime frágil verifica-se a formação de uma
banda de cisalhamento (superfície de rotura) que atravessa o corpo de prova, registando-se
dilatância; no regime dúctil apenas é observado um forte estado de compactação, não sendo visível
uma rotura macroscópica da amostra.
Holt (1990) realizou um conjunto de ensaios sob condições hidrostáticas e não hidrostáticas de
tensões em amostras de um arenito de afloramento (Red Wildmoor) caracterizado por alta porosidade
34
(25 %) e alta permeabilidade. A partir dos resultados obtidos (Figura 2.11 e Figura 2.12) foi possível
concluir que a diminuição da permeabilidade, devido ao aumento da tensão aplicada, é mais
significativa para estados de tensão não hidrostáticos. Estes resultados foram posteriormente
confirmados por King et al. (2001).
Figura 2.11 - Alteração de permeabilidade no arenito Red Wildmoor durante carregamento e
descarregamento hidrostático. Adaptado de Holt, 1990
Figura 2.12 - Alteração de permeabilidade no arenito Red Wildmoor durante carregamento triaxial sob
diferentes pressões de confinamento. Adaptado de Holt, 1990
De notar que uma comparação entre os ensaios triaxiais não hidrostáticos realizados por Fortin
et al. (2005) levam a concluir que, uma vez atingido o ponto C (transição do domínio elástico para o
plástico), a redução da porosidade, permeabilidade e velocidade das ondas P e S tende a ser tanto
mais pronunciada quanto maior for a pressão de confinamento aplicada. Esta tendência pode ser
percepcionada através das anteriores Figura 2.7 e Figura 2.8.
35
Popp & Kern (2000) também demonstraram que nos casos em que existam condições para o
aumento da permeabilidade durante ensaios de compressão triaxial, esse aumento tende a ser mais
significativo para pressões de confinamento menores.
Não obstante, Holt et al. (2003), citado em Fjaer et al. (2008), demonstraram que a redução da
porosidade durante o carregamento é praticamente independente da trajectória de tensão, tal como
sugere a Figura 2.13. Esta conclusão apenas perde validade para rochas de elevada porosidade, em
que a dano do corpo de prova pode provocar uma permanente redução da porosidade (Holt et al.,
2000, citado em Fjaer et al., 2008).
Figura 2.13 - Redução da porosidade de um arenito em função do aumento da tensão efectiva média,
usando 3 diferentes trajectórias de tensão, isotrópica (linha a cheio), uniaxial (a tracejado grosso) e
carregamento proporcional (a tracejado fino). Holt et al., 2003, citado em Fjaer et al. 2008
Azeemuddin et al. (1995) realizaram ensaios triaxiais com duas rochas distintas de alta
porosidade (18 %): o calcário Indiana e o arenito Berea. Com o aumento da tensão de corte, o
calcário manifestou um comportamento dúctil, caracterizado por uma redução contínua da
permeabilidade e o arenito, uma diminuição inicial da permeabilidade e um aumento posterior, após o
início da dilatância. As mesmas conclusões já haviam sido obtidas por Morita et al. (1992).
Esta observação, referente ao comportamento do arenito Berea, contraria os resultados obtidos
nos trabalhos oportunamente mencionados de Zhu & Wong (1995) e Holt (1990). De facto, estes
últimos autores, para rochas com porosidades superiores a 15 %, relataram unicamente a existência
de uma redução da permeabilidade com o aumento da tensão. Tal contradição não parece poder ser
explicada satisfatoriamente.
Estudos executados por Rhett & Teufel (1992) procuraram estudar a influência de diferentes
trajectórias de tensão (1,00; 0,75; 0,50; 0,25 e 0,15) na permeabilidade de arenitos de dois
reservatórios do Mar do Norte, com porosidades compreendidas entre 13 e 20 %. Os autores
constataram que a permeabilidade do reservatório pode ser severamente afectada pela trajectória de
tensão. Como se pode visualizar na Figura 2.14, o aumento da permeabilidade foi superior para
trajectórias menores, situações em que a tensão de corte é mais elevada, promovendo a ocorrência
de dilatância ao invés de bandas de compactação. Esta é, aliás, a explicação de Rhett & Teufel
36
(1992) para os dados obtidos. Resultados análogos foram obtidos por Ferfera et al. (1997), os quais
apontam o efeito de compensação entre a compactação e a dilatância como promotor do aumento da
permeabilidade com a redução da trajectória de tensão.
Figura 2.14 - Variação da permeabilidade sob diferentes trajectórias de tensão num arenito de
reservatório. Adaptado de Rhett & Teufel, 1992
Bruno et al. (1991) investigaram a influência da anisotropia de tensões na permeabilidade de
três arenitos distintos, todos eles fracamente cimentados. Os ensaios foram conduzidos sob
condições triaxiais com tensões aplicadas até 15 MPa. Partindo-se de um estado hidrostático
equivalente a uma pressão de 3 MPa, aumentou-se apenas ou a tensão axial ou a tensão radial, de
forma a estudar o efeito de cada uma destas tensões na permeabilidade axial da rocha. Observou-se
que no caso da aplicação da tensão radial, perpendicular à direcção de fluxo, a diminuição da
permeabilidade foi mais significativa comparativamente com a direcção axial que, praticamente, não
induziu alterações na permeabilidade. A Figura 2.15 refere-se a um dos arenitos testados, o
Castlegate (porosidade média de 26% e permeabilidade de 900 mD), e apresenta o comportamento
descrito anteriormente.
Segundo Bruno (1994), a redução diferencial da permeabilidade deve-se à orientação da
microfissuração induzida pela tensão. Devido ao facto de as microfissuras de tracção se
desenvolverem predominantemente na direcção paralela à de fluxo, em casos de significativa tensão
de corte, a permeabilidade nessa direcção pode até mesmo aumentar, já que passa a existir um
efeito compensatório da compactação.
Um estudo intensivo conduzido por Heffer & Dowokpor (1990) e Heffer et al. (1994), citados em
Azevedo (2005), permitiu concluir que a anisotropia de tensões conduz a anisotropias de
permeabilidade. Assim, a estratégia de perfuração de poços, injectores ou produtores, deve
considerar as direcções das tensões principais, já que delas depende a permeabilidade e a produção.
37
Figura 2.15 - Efeito da direcção de carga (axial ou radial) na permeabilidade axial do arenito Castlegate.
Adaptado de Bruno et al., 1991
Morita el al. (1992) mostraram, através de ensaios triaxiais usando o arenito Berea, à
semelhança de Bruno et al. (1991), que a permeabilidade na direcção axial se mantém praticamente
constante durante grande parte do referido ensaio, ao passo de que na direcção transversal, diminui.
Na iminência da rotura macroscópica, porém, a rocha dilata e ambas as permeabilidades aumentam
consideravelmente.
Recorrendo a arenitos de baixa porosidade (12 %) e baixa permeabilidade (0,1 mD) e medindo
e (permeabilidade vertical e horizontal, respectivamente) para diferentes trajectórias de tensão,
Khan & Teufel (2000) verificaram que a direcção de maior permeabilidade era a direcção paralela à
de tensão máxima. Além disso, a anisotropia de permeabilidade aumenta à medida que os ensaios se
afastam da condição hidrostática de tensões. Em particular, para trajectórias de tensão nulas,
situação em que se acentua a abertura ou fecho preferencial das microfissuras, a permeabilidade
transversal diminui e a axial, de um modo global, aumenta.
Heiland (2003) debruçou-se sobre o estudo da influência da tensão de corte na permeabilidade
de um arenito de baixa porosidade (entre 6 e 9 %). Para tal recorreu a uma célula de compressão
triaxial convencional, aplicando pressões de confinamento até 20 MPa, sob diferentes taxas de
deformação axial. Os resultados obtidos evidenciam um decréscimo inicial da permeabilidade,
induzido pela compactação, e um acréscimo da mesma uma vez atingido o início da dilatância do
corpo de prova. Contudo, o valor da permeabilidade inicial apenas foi recuperado no domínio de pós-
rotura.
Um estudo precedente, da autoria de Zoback & Byerlee (1975), realizado com o granito
Weasterly (muito baixa porosidade) e sob condições de pressão de confinamento efectiva de 140 e
38
390 MPa, evidenciou um aumento da permeabilidade de aproximadamente 3 vezes, como resultado
da aplicação de tensões de corte na ordem de 80 % da resistência de pico.
Comparando os resultados de Heiland (2003a) e Zoback & Byerlee (1975) e os anteriores de
Zhu & Wong (1997), é possível concluir que arenitos de baixa porosidade inicial (inferior a 15 %) têm
um comportamento intermédio entre as rochas cristalinas e os arenitos de elevada porosidade.
2.5.3. Influência da composição mineralógica, grau de cimentação e estrutura dos
poros
Ao contrário da generalidade dos sólidos, as rochas são materiais porosos que incorporam
diferentes escalas e estruturas de poros – tais como poros básicos, fracturas de diversas escalas e
vazios resultantes da ausência de contacto local entre os grãos minerais que constituem o material
rochoso – nos quais o fluido presente pode ser água, óleo ou gás. Assim, o estudo da permeabilidade
deve levar em consideração a estrutura dos poros (Shangxian & Shangxu, 2005). De facto, ainda de
acordo com os autores acima citados, o decréscimo de permeabilidade ou porosidade é mais
significativo nas rochas fracturadas que nas rochas porosas. De qualquer modo, não considerando a
estrutura dos poros, a variação da permeabilidade com a alteração do estado de tensões é maior que
a variação da porosidade.
De facto, nos trabalhos de Ostermier (1993, 1996, 2001), sob condições hidrostáticas de
tensões, observou-se que a redução relativa da permeabilidade em turbiditos do Golfo do México é
geralmente cerca de quatro a cinco vezes superior à redução da porosidade, tal como já havia sido
verificado por outros autores.
Outras investigações realizadas no âmbito do estudo da variação de porosidade durante a
depleção de um reservatório demonstram que, na maioria dos casos, a redução da porosidade devido
a esse factor, a depleção, é bastante reduzida – tipicamente inferior a 1 % (Fjaer et al., 2008). É
também expectável que as alterações no valor dessa propriedade sejam heterogéneas, não só
devido à heterogeneidade da rocha, mas também devido à geração de deformações localizadas da
rocha.
Com o intuito de estudar o efeito do grau de cimentação e dimensão dos poros na
permeabilidade de rochas, Davis & Davis (2001) conduziram um conjunto de ensaios de compressão
hidrostática em arenitos de reservatório não-consolidados (porosidade > 25 %) e consolidados
(porosidade < 20 %). Os resultados permitiram concluir que a taxa de redução da permeabilidade é
função da estrutura dos poros. Em rochas não consolidadas, a referida taxa é superior para poros
maiores; em rochas consolidadas, a redução é mais significativa para poros menores.
Bruno et al. (1991) concluíram também que a diminuição da quantidade e resistência do
cimento tende a aumentar a sensibilidade da permeabilidade em relação às tensões. De facto, o
arenito Kern River, praticamente não consolidado, mostrou ser o mais sensível à tensão; observações
contrárias foram feitas em relação ao arenito Salt Wash, o mais fortemente cimentado.
Ruistuen et al. (1999), procurando estudar o efeito da depleção no comportamento mecânico e
hidráulico das rochas, conduziram ensaios triaxiais em dois arenitos distintos: o Etive, fracamente
39
cimentado (porosidade de 25 %) e o Tarbot, mais cimentado (porosidade de 21 %). Os resultados
obtidos foram claramente distintos. O arenito menos cimentado apresentou uma redução de
permeabilidade para todas as trajectórias de tensão e o mais cimentado apenas para trajectórias não
nulas (associadas a menores tensões de corte). No entanto, para as trajectórias de tensões maiores,
foi no arenito mais cimentado que a redução de permeabilidade foi mais significativa. Esta última
observação contradiz os resultados previamente obtidos por Bruno et al., (1991).
Estudos da autoria de Jia-Jyun Dong et al. (2010) conduzidos no âmbito do estudo da
influência da composição mineralógica na porosidade e permeabilidade de um arenito e um argilito
demonstraram que a permeabilidade do argilito era mais sensível à pressão de confinamento efectiva
em relação ao arenito, possivelmente devido à existência de microfracturas no argilito. No entanto, no
que se refere à porosidade, ambas as rochas manifestaram uma sensibilidade semelhante à
alteração da pressão confinante, tendo a redução do valor de porosidade sido na ordem de 10-20%
quando se aumentou a referida pressão de 3 para 120 MPa. No âmbito do mesmo ensaio
experimental, constatou-se que parte da redução da permeabilidade e porosidade registada durante a
fase de carregamento é irreversível durante a fase de descarga.
É oportuno ainda notar que também Fortin et al. (2005) haviam constatado que o arenito
testado, o Bleurswiller, não apresentava os mesmos valores de resistência à compressão hidrostática
que outros arenitos, nomeadamente os arenitos Diemelstadt e Bentheim, apesar de possuirem os três
aproximados tamanho dos grãos e porosidade inicial. A referida resistência à compressão isotrópica
mostrou variar entre 135 MPa no arenito Bleurswiller e 390 MPa no arenito Bentheim. Segundo Fortin
et al. (2005), a explicação para tal discrepância de valores reside no facto de a composição mineral
de um arenito ser um parâmetro-chave no controlo da pressão efectiva para a qual se dá o início do
colapso dos poros.
2.5.4. Influência da porosidade e permeabilidade iniciais
A taxa de produção é largamente dependente da permeabilidade da rocha. A permeabilidade
pode variar de modo significativo devido a heterogeneidades e fracturas, já que constituem barreiras
ou canais de circulação preferencial de fluidos. Do ponto de vista microscópico a permeabilidade é
controlada pelos seguintes parâmetros: porosidade, dimensão e forma dos poros e dos grãos, e
tortuosidade.
Ao contrário de Holt et al. (1990), citado em Azevedo (2005), Kilmer et al. (1987) efectuou
ensaios de compressão hidrostática (com aumento de pressão de 3,45 para 34,5 MPa) em arenitos
de baixa (1 mD) e muito baixa permeabilidade (0,01 mD), tendo sido observada uma diminuição da
permeabilidade de 50% e de 80 a 99 %, respectivamente.
A comparação entre os resultados de Kilmer et al. (1987) e Holt (1990) levam a considerar que
a redução da permeabilidade é maior em rochas de baixas permeabilidade e porosidade iniciais, onde
a permeabilidade se deve essencialmente a fracturas e a poros estreitos facilmente fechados pela
aplicação de estados de tensão. Tal observação, visível na Figura 2.16, foi suportada através de
40
diversos estudos anteriores levados a cabo por outros autores, nomeadamente Fatt & Davis (1952),
Vairogs et al. (1971), Yale (1984) e Scutjens et al. (2004).
Figura 2.16 - Redução relativa de permeabilidade sob aumento de pressão hidrostática de 3,45 para 34,5
MPa. Adaptado a: dados de Kilmer et al. (1987) (△); Yale (1984) (□); e Holt (1990) (◊)
De modo inverso, segundo Holt (1990), Bruno (1994) e Sarda et al.(1998), casos em que se
observa redução da permeabilidade durante o ensaio, incluindo durante a rotura, são mais
observados em rochas de elevadas porosidade e permeabilidade iniciais, e em condições de relativa
elevada pressão de confinamento. Tal redução pode ser explicada pela ocorrência de colapso dos
grãos, criando uma barreira ou, como sugerido por Holcomb & Olsson (2003), pela formação e
propagação de uma banda de compactação horizontal contendo grãos esmagados.
Yale & Crawford (1998) realizaram um conjunto de ensaios de compressão triaxial, com
diferentes trajectórias de tensões, para estudar a influência da porosidade inicial na permeabilidade.
Para tal usaram calcários de porosidade variável entre 14 e 42 %. Concluíram que rochas de menor
porosidade inicial tendiam a apresentar aumentos mais significativos de valores de permeabilidade,
como resultado da microfissuração e rotura por cisalhamento. Em estudos anteriores, estes autores
haviam também observado que, para rochas de alta porosidade inicial, a permeabilidade era
dependente da trajectória de tensão, sendo que os ensaios que se afastavam mais da condição
hidrostática de tensões, apresentavam reduções mais acentuadas de permeabilidade.
De modo contrário, é de notar que Rhett & Teufel (1992) e Ferfera et al. (1997) haviam
demonstrado que a redução de permeabilidade nas rochas era maior em ensaios conduzidos sob
estados de tensão hidrostáticos.
Estudos qualitativos acerca da influência do estado de tensão na evolução da permeabilidade
de uma rocha da autoria de Ferfera et al. (1997) permitem sintetizar as principais observações que
foram igualmente feitas por outros autores a esse nível. Tal evolução pode ser dividida em três fases
distintas (ver Figura 2.17): a primeira fase, em que há decréscimo acentuado não linear de
permeabilidade, devido ao fecho das microfissuras; a segunda fase, associada à deformação elástica
41
dos poros, resultando numa diminuição linear de permeabilidade e; a terceira fase, no domínio pós-
elástico (plástico), em que pode haver aumento (dilatância) ou redução de permeabilidade
(compactação). Os dois comportamentos descritos que a rocha pode assumir dependem da
porosidade inicial da rocha. No caso das rochas de alta porosidade, o dano mecânico provoca o
movimento de grãos que se depositam na garganta dos poros, conduzindo ao estreitamento dos
canais de fluxo e à redução da permeabilidade (Zhu & Wong, 1995). Nas rochas de baixa porosidade,
em que há baixa conectividade entre os poros da rocha, o dano é caracterizado por gerar
fissuramento do corpo, aumentando a permeabilidade devido ao aumento da referida conectividade
entre os poros.
Figura 2.17 - Evolução da permeabilidade (k) das rochas com o aumento do carregamento aplicado,
segundo Ferfera et al., 1997. Adaptado de Azevedo, 2005
2.5.5. Influência de pressão neutra na permeabilidade
Al-Harthy et al. (1998b) realizaram duas séries de ensaios recorrendo ao equipamento de
compressão triaxial verdadeiro já oportunamente apresentado (Figura 2.5). Na primeira série de
ensaios estudaram o efeito da pressão neutra na permeabilidade para diferentes trajectórias de
tensão, encontrando-se os resultados apresentados na Figura 2.18. Estes autores verificaram que o
aumento da pressão neutra conduz ao aumento da permeabilidade, sendo maior a variação no caso
hidrostático de tensões. Esta observação permite concluir que o efeito da pressão neutra na
permeabilidade depende da trajectória de tensão.
42
Figura 2.18 - Efeito da pressão neutra na permeabilidade do arenito Croslands Hill sob diferentes
trajectórias de tensão (hidrostática, triaxial e triaxial verdadeira). Adaptado de Al-Harthy et al., 1998b
2.5.6. Influência do grau de heterogeneidade sedimentar
Além de estudarem o efeito da anisotropia de tensões na permeabilidade, através de ensaios
triaxiais verdadeiros, Crawford & Swart (1994) analisaram o efeito das heterogeneidades litológicas
nessa mesma propriedade. Observaram que a oscilação e complexidade do comportamento da
permeabilidade em função da tensão é tanto maior quanto mais heterogénea for a rocha. Para rochas
mais homogéneas, porém, a permeabilidade tende claramente a diminuir, especialmente a sua
componente horizontal.
Hudson & Tang (2010) realizaram ensaios triaxiais que procuravam relacionar tensões axiais
com permeabilidade e emissões acústicas (EA) em rochas (grau de homogeneidade de 1,5). Os
respectivos resultados apresentam-se na Figura 2.19, onde é possível notar que existe uma relação
entre o nível de tensão axial e a permeabilidade da amostra. A zona correspondente ao fecho das
microfissuras não se encontra representada.
É possível observar que a permeabilidade decresce na zona elástica (sobretudo no início desta
fase) devido ao carregamento e começa a aumentar ligeiramente na região plástica (pré-rotura),
como resultado da propagação das microfracturas. Na fase que segue à de tensão máxima de pico, a
permeabilidade aumenta drasticamente, já que ocorre a formação e coalescência de macrofracturas.
A rotura macroscópica está associada a um número muito significativo de EA e resulta numa rápida
queda da tensão axial.
43
Figura 2.19 - Gráficos de relação entre carga axial, permeabilidade, etapa (step) de carregamento e
número de emissões acústicas (AE) para um provete com índice de homogeneidade (m) de 1,5. Adaptado de
Hudson & Tang, 2010
A sequência de mapas de localização das fontes de EA durante o processo de carregamento
axial é apresentada na Figura 2.20. Observa-se que até cerca de 85 % da tensão de pico, as EA
estão distribuídas ao longo do provete, o que indica que há uma deformação uniforme da amostra até
este nível de tensão (ver Figura 2.20a). A Figura 2.20b evidencia que, no momento (step) 58 as EA
se localizam sobretudo na zona de nucleação. Esta zona corresponde ao local onde ocorre,
posteriormente, a rotura macroscópica, como sugere a Figura 2.20c.
Figura 2.20 - Mapas sequenciais de localização de fontes de EA (assinaladas com círculos) durante rotura
do provete (m = 1,5) da Figura 2.19 (para localização das etapas “steps”, ver Figura 2.19). A dimensão dos
círculos indica a magnitude das EA. Hudson & Tang, 2010
Segundo os mesmos autores, Hudson & Tang (2010), uma análise da Figura 2.19 e 2.20
permite constatar que embora o crescimento de fracturas se possa iniciar para baixos níveis de
tensão devido à existência de heterogeneidades, grandes variações de permeabilidade ocorrem
44
apenas quando o nível de tensão é suficientemente elevado para criar trajectórias de fluxo
conectadas entre si (fluxo contínuo). Estas variações dos valores de permeabilidade devido à
iniciação, propagação e coalescência de fracturas para estados de tensão de compressão foi relatada
por vários investigadores e está de acordo com as bem conhecidas curvas de comportamento
mecânico das rochas durante os ensaios de compressão uniaxial.
Yuan & Harrison (2005), citados em Hudson & Tang (2010), recorreram a modelos para
demonstrar o desenvolvimento da curva completa tensão vs. extensão, a degradação mecânica da
rocha e a evolução da permeabilidade (ver Figura 2.21). Verifica-se que o desenvolvimento mais
acentuado de fracturas (associadas à degradação ou dano mecânico) ocorre após se atingir a tensão
máxima de pico. Além disso, a permeabilidade é significativamente mais elevada nas zonas da
amostra que correspondem à localização preferencial das referidas fracturas.
Figura 2.21 - Curva tensão vs. extensão axial, localização de fracturas (“zona degradada”) e
permeabilidade espacial para cada estágio de ensaio (a-h). Adaptado de Yuan & Harrison (2005) citados em
Hudson & Tang (2010)
45
3. AMOSTRAS, EQUIPAMENTOS E METODOLOGIA
No terceiro capítulo são descritos os materiais, os equipamentos e os detalhes de montagem
dos mesmos, e a metodologia utilizados nesta investigação experimental.
3.1. Amostras
A investigação laboratorial conduzida no âmbito deste trabalho baseou-se no recurso a um
único tipo de rochas. Tratam-se de calcários microbialitos do Jurássico superior (Oxfordiano),
apresentam aspecto folheado e integram a Formação de Cabaços. As amostras que serviram esta
pesquisa foram recolhidas nas imediações do afloramento rochoso desta formação, o qual intersecta
a Praia de Pedrogão (ver Figura 3.1), pertencente ao concelho e distrito de Leiria, Portugal.
Figura 3.1 - Localização do afloramento da Formação de Cabaços na Praia de Pedrógão (Leiria) onde
foram recolhidas as amostras de calcários microbialitos
Estas rochas (calcários microbialitos) foram sugeridas como “análogas” dos reservatórios
carbonatos do Pré-sal brasileiro (Bacia de Santos), ainda que existam outras tipologias de calcários
na região de Leiria que possam também ser consideradas “análogas” a esses mesmos reservatórios.
De ora avante, os calcários microbialitos utilizados nos ensaios experimentais serão,
simplificadamente, designados de “Pré-sal”.
Como já oportunamente referido, o interesse particular pelo estudo do Pré-sal brasileiro
prende-se com a sua importância enquanto rocha reservatório de uma das maiores reservas de
hidrocarbonetos descobertas a nível mundial, nos últimos anos. Deste modo, em Portugal, a
46
Formação de Cabaços vem apontada como uma das potenciais unidades geradoras de
hidrocarbonetos.
A Formação de Cabaços, apesar de amplamente conhecida na Bacia Lusitânica, surge em
afloramento de reduzida expressão espacial e vertical nesta região, localizando-se em zona afectada
por falhas e está inserida em mancha cartográfica que, na Folha 26-D e respectiva Notícia Explicativa
(Zbyszewski & Almeida, 1960), integra o conjunto globalmente atribuído às Formações de Montejunto
(Oxfordiano médio e superior) e de Alcobaça (Kimmeridgiano) (Azerêdo et al., 2010).
Os vários níveis que compõem o afloramento da Formação de Cabaços correspondem a
calcários argilo-detríticos (localmente brechóides), margas, arenitos e arenitos brechóides, todos em
geral ferruginosos. Os níveis calcários e margosos contêm carófitas e ostracodos, geralmente
abundantes, gastrópodes, bivalves e, no topo, Heteroporella lusitanica (Ramalho, 1970); a fauna de
ostracodos é típica de águas doces-salobras, como a maioria das espécies também identificadas
nesta Formação (Azerêdo et al., 2010).
Na Figura 3.2 é destacada, a diferentes escalas, a localização do estrato de Pré-sal no
afloramento da Formação de Cabaços na Praia de Pedrógão.
Figura 3.2 - Localização do estrato de rocha análoga ao Pré-sal brasilerio no afloramento da Formação de
Cabaços, a diferentes escalas
As amostras recolhidas, cerca de duas dezenas, consistiram em blocos de Pré-sal, de forma
irregular, que se encontravam desprendidos da correspondente rocha origem e cujas dimensões
médias rondavam 20 a 30 cm de diâmetro.
A preparação dos provetes, a partir das amostras recolhidas, realizou-se no Laboratório de
Geomecânica do Instituto Superior Técnico (LABGEOMEC), seguindo as normas da ISRM.
Os provetes foram cortados em forma cilíndrica, recorrendo a uma caroteadora, de modo que
os seus diâmetro e comprimento os possibilitassem de serem utilizados na célula triaxial dos ensaios.
Deste modo, obtiveram-se provetes com 40 mm de diâmetro e 84 mm de comprimento. Estas
dimensões garantiam um diâmetro e comprimento pelo menos 10 vezes superiores à dimensão do
maior grão da amostra e comprimento de onda, como estabelecem as normas.
Os topos foram cortados segundo planos paralelos entre si e perpendiculares ao eixo dos
provetes, tendo-se também procurado garantir a ausência de quaisquer irregularidades, de modo a
47
assegurar uma distribuição uniforme das cargas aplicadas. É igualmente relevante a colocação da
célula triaxial no centro do prato inferior do dispositivo de carregamento, pela mesma razão.
As amostras recolhidas foram observadas, em termos de imperfeições – nomeadamente veios
e descontinuidades –, para que se pudesse escolher a direcção de corte dos provetes. Esta
observação, bem como a realização de fotografias de todos os provetes, é também útil no auxílio à
interpretação de resultados nas fases posteriores.
É de notar a variabilidade geológica que pode existir entre rochas sedimentares carbonáticas
do mesmo tipo, mesmo quando pertencentes ao mesmo estrato. A origem, a intensidade e tempo de
actuação dos agentes de transporte, o ambiente de deposição e as alterações físico-químicas, que
afectam a composição, compactação e cimentação, bem como a posterior exposição aos agentes de
meteorização, podem variar bastante para o mesmo tipo de rocha, especialmente em camadas de
grande extensão longitudinal. É, portanto, expectável que se possa registar alguma variabilidade
entre as propriedades que são objecto deste estudo, já que são condicionadas pelos factores
supracitados.
Em particular, é de notar que as amostras utilizadas se encontravam fortemente sujeitas a
processos de meteorização física e química pelo facto de os blocos, já de dimensões relativamente
reduzidas, se encontrarem expostos a agentes como o sol, chuva, vento, acção dos seres vivos e
períodos de alternância entre emersão-imersão em água salgada do mar. De facto, nalguns casos,
houve dificuldade na carotagem das amostras devido ao estado de fracturação e alteração em que já
se encontravam.
Após a realização dos provetes, estes foram devidamente referenciados (através da letra P,
seguida de um número), de modo a que se pudesse estabelecer uma identificação unívoca dos
mesmos. Na Figura 3.3 apresenta-se um destes provetes, quer antes do ensaio, quer após a rotura,
sendo perceptível a heterogeneidade do mesmo.
Figura 3.3 - Ilustração de um corpo de prova após carotagem, já identificado (à esquerda) e corpo de
prova aberto após rotura (à direita)
48
3.2. Equipamentos
De entre os equipamentos utilizados nos ensaios destacam-se os seguintes: o sistema de
compressão triaxial, constituído pela célula triaxial convencional (ou célula de Hoek), dispositivo de
carregamento axial (prensa) e macaco hidráulico, o de medição e registo de extensões, o de
introdução de água pressurizada no interior da célula, e os de registo de velocidade de propagação
de ondas longitudinais e de emissões acústicas.
3.2.1. Célula triaxial
Na realização dos ensaios recorreu-se a uma célula triaxial convencional adaptada a provetes
cilíndricos. Este equipamento, daqui em diante designado simplesmente de célula triaxial, permite
aplicar estados tensionais em que duas das tensões principais são independentes e outras duas são
sempre iguais entre si, como por exemplo: ≠ = .
O conjunto geral da célula triaxial, como se apresenta na Figura 3.4 , compreende os seguintes
componentes básicos: corpo da célula (1), tampas (inferior e superior; 2), pistões de carga, com
extremidades do tipo esférico (3-5) e manga de vedação de borracha (ou, simplesmente, manga ou
camisa; 6). À excepção da camisa, todos os restantes componentes são feitos de aço inoxidável.
Figura 3.4 - Representação esquemática do conjunto geral de uma célula triaxial convencional (célula de
Hoek). Adaptado de: www.controls-group.com
A Figura 3.5 mostra os componentes básicos da célula triaxial utilizada nos ensaios (à
esquerda) e ilustra uma visão em perspectiva do respectivo conjunto geral (à direita).
49
Figura 3.5 - Componentes básicos da célula triaxial (à esquerda) e respectivo conjunto geral (à direita)
A célula triaxial utilizada destina-se a provetes de 42 mm de diâmetro máximo. Além dos
componentes acima enumerados, possui uma válvula que permite a purga de ar, a qual serve
também para a aplicação de pressões de confinamento por meio da entrada de óleo no interior da
célula, conseguida através de um macaco hidráulico. O macaco está acoplado a um manómetro
digital, de precisão 0,1 MPa, que permite efectuar leituras do valor da referida pressão de
confinamento.
A camisa serve para isolar o provete do óleo de confinamento, as tampas para fixarem a
camisa (impedindo, assim, a fuga de óleo sob pressão) e os pistões constituem o meio através do
qual os carregamentos provenientes da prensa são transmitidos ao corpo de prova.
Os pistões podem possuir um canal interior para entrada ou saída de fluidos, o que pode
interessar em ensaios com pressão neutra não nula e/ou de permeabilidade. Nesse caso, o fluido é
injectado num dos pistões (numa das faces do provete), por meio de uma mangueira que o liga ao
equipamento de injecção (sob pressão), e percola até ao pistão da face oposta, atravessando a
amostra. É a diferença de pressão entre as duas faces que promove o fluxo, já que a face oposta à
de injecção se encontra aberta à pressão atmosférica. Por outro lado, o corpo da célula possui um
orifício (oil inlet) para aplicação de uma pressão de confinamento.
A célula triaxial apresentada não se encontrava em condições de ser imediatamente utilizada.
O interesse em introduzir água sob pressão no interior da célula exigiu que se recorresse a um
material com propriedades vedantes. É de referir que este equipamento apenas permite efectuar
medições de permeabilidade na direcção axial. Por outro lado, devido a questões de disponibilidade
espacial no conjunto geral da célula para introduzir os dispositivos de medição de deformações
(extensómetros eléctricos), constatou-se a necessidade de realizar uns rasgos ao longo de todo o
comprimento do pistão superior.
Todas as actividades experimentais foram desenvolvidas no Laboratório de Geomecânica do
IST (LABGEOMEC).
50
3.2.2. Dispositivo de carregamento axial (Prensa)
Utilizou-se uma prensa ELE modelo Compact, com 1560 kN de capacidade de carga, que
permite a aplicação de carregamentos axiais. Pode, portanto, ser usada em ensaios de compressão
uniaxial ou de compressão triaxial desde que, neste último caso, se disponha também de uma célula
triaxial (já oportunamente descrita).
Este equipamento possibilita a determinação da resistência à compressão uniaxial do corpo de
prova (rocha ou argamassa), bem como do módulo de elasticidade E e coeficiente de Poisson .
Na Figura 3.6 apresenta-se a prensa utilizada e o pormenor da unidade de controlo de carga.
Figura 3.6 - Dispositivo de carregamento axial (à esquerda) e pormenor da respectiva unidade de controlo
(à direita). Fonte: ELE Digital
A prensa liga-se no interruptor 3 (on-off). O carregamento é feito através do controlo da
alavanca 1, mantendo o circuito do óleo fechado, girando-se para tal o manípulo 2 no sentido horário.
O descarregamento, por sua vez, é conseguido girando-se o manípulo no sentido contrário (anti-
horário).
A alavanca 1 pode ser colocada na posição “máximo” ou “mínimo”, consoante a velocidade de
carregamento pretendida seja maior ou menor, respectivamente. Em geral, na fase prévia de ajuste
da célula triaxial aos pratos da prensa, dada a ordem de grandeza dos deslocamentos (dos pratos)
pretendidos, recorre-se à posição “máximo”; posteriormente, na fase de realização do ensaio
propriamente dito, passa-se para a posição “mínimo”, já que os deslocamentos são muito inferiores
aos da fase precedente. Além do movimento entre as posições “máximo-mínimo”, a alavanca 1 é
dotada de movimento rotacional, para que se possa controlar com maior precisão a velocidade de
carregamento, especialmente durante o decorrer dos ensaios.
O anteriormente referido valor da velocidade de carregamento, pace (KN/s), é definido pela
ISRM, dependendo do diâmetro do provete, e pode ser visualizado (e alterado) no visor digital da
prensa. O visor apresenta ainda os valores de carga axial (kN) no decorrer dos ensaios, incluindo o
respectivo valor máximo registado, bem como a existência de desvios em relação à velocidade
programada, por meio de simbologia.
51
3.2.3. Sistema de medição e registo de extensões
As extensões resultantes da aplicação de carregamentos nos ensaios laboratoriais foram lidas
e registadas por um Model P3 Strain Indicator and Recorder recente e outro mais antigo (Figura 3.7).
Trata-se de um equipamento portátil, alimentado a bateria e destina-se ao uso extensómetros de
resistência eléctrica. Tem precisão de 1 με e aceita conexões do tipo full- half- and quarter-
Wheatstone bridge, tendo-se recorrido à última tipologia.
Figura 3.7 - Model P3 Strain Indicator and Recorder recente (à esquerda) e antigo (à direita)
Os extensómetros podem ser mecânicos, ópticos, acústicos ou eléctricos; por limitações
relacionadas com a utilização da célula triaxial, optou-se pelos eléctricos.
Os extensómetros de resistência eléctrica (ou simplesmente eléctricos) consistem numa grelha
(filamento) condutora extremamente sensível que é colada, embebida ou impressa numa pequena
porção de material isolante (papel ou plástico), de maneira a acompanhar as deformações deste
último (Figura 3.8).
Figura 3.8 - Representação esquemática da constituição geral de um extensómetro de resistência
eléctrica de comprimento lo. Fonte: Tokyosokki Ken Kyujo Co., Ltd
A medição de deformações é assim possível devido à alteração de geometria do filamento que
constitui o extensómetro, a qual se reflecte num aumento ou diminuição de resistência à passagem
de corrente eléctrica. Por sua vez, essa variação de resistência traduz-se num determinado valor de
52
deformação que é lido no equipamento anterior. A sensibilidade de um extensómetro à variação de
resistência eléctrica unitária, que depende do tipo de material que forma o filamento, é definida pelo
gage factor (GF).
É de referir, porém, que os extensómetros de resistência eléctrica são também sensíveis a
variações de temperatura. Para anular este indesejável efeito sobre as medições efectuadas,
recorrem-se a outros pares de extensómetros (de igual resistência e gage factor), designados por
compensadores.
Por fim, destaca-se a importância das configurações de pontes. São estas configurações, com
uma fonte de energia eléctrica e diferença de potencial conhecida, que permitem medir diferenciais
tão pequenos na resistência deste tipo de extensómetros.
3.2.4. Equipamento de injecção de água pressurizada
Recorreu-se a um equipamento de injecção de água pressurizada, a ELE Pressure Test 1700,
que serve para induzir fluxos de água através das amostras ensaiadas.
Trata-se de um sistema que permite injectar água, a pressão constante, até um valor máximo
de 1700 KPa.
A Figura 3.9 apresenta, respectivamente, um esquema representativo do equipamento e
Pressure Test 1700 utilizado.
O equipamento é ligado no botão on-off (5) e o controlo do valor de pressão de injecção de
água é feito através da rotação do manípulo (1). O equipamento possui um recipiente (capacidade de
1 L; 2) que é cheio com água desareada e o canal (9) serve de pressurizador dessa água através do
óleo introduzido previamente no orifício (7). A saída de água faz-se pelas válvulas (3). A partir da
válvula (8) é possível libertar as bolhas de ar aprisionadas no interior do recipiente e através da
válvula (6) faz-se a recarga com a água desareada.
Figura 3.9 - Esquema representativo da ELE Pressure Test 1700 (à esquerda) e respectivo equipamento
real utilizado (à direita). Fonte: ELE International 2005
53
3.2.5. Sistema de medição e registo do tempo de propagação de ondas longitudinais
A determinação do tempo de propagação das ondas sísmicas longitudinais ou do tipo P (ou
simplesmente ondas P) através de provetes de rocha fez-se recorrendo a um equipamento de ultra-
som (Ultrasonic Testing).
A partir dos valores dos tempos registados é possível calcular a respectiva velocidade de
propagação das ondas P, e ainda o módulo de elasticidade dinâmico dessas amostras.
O Ultrasonic Testing (Figura 3.10) é constituído por 2 transdutores piezoeléctricos, um emissor
e um receptor de ondas P, com frequência predominante em torno de 55 KHz. Estes transdutores são
ligados a uma central de registo do tempo compreendido entre a emissão e a recepção do sinal.
Para a execução do ensaio posiciona-se estavelmente cada um dos transdutores em faces
opostas (topos) do provete. De forma a garantir um contacto adequado, é previamente aplicado um
filme de vaselina entre esses dois materiais de natureza distinta, os transdutores e o provete.
Figura 3.10 - Esboço do equipamento utilizado: Ultrasonic Testing. Gama, 1998
Antes do início de cada ensaio é recomendável verificar se o equipamento se encontra
calibrado. Para tal lê-se o tempo de propagação das ondas P no provete padrão (referenciado com o
nº 1 na Figura 3.10). A calibração é conseguida rodando o parafuso de calibração (nº 8 na Figura
3.10), usando uma chave de fendas, até se atingir o valor 51 μs (valor padrão).
Os registos dos tempos de propagação das ondas P, lidos no visor digital do equipamento,
bem como das dimensões dos provetes, recorrendo a uma craveira, devem ser guardado para
cálculos futuros.
3.2.6. Sensores de emissões acústicas
O acompanhamento das emissões acústicas, originadas pela alteração do estado de tensão a
que um corpo está sujeito, permite observar, temporal e espacialmente, a evolução da fracturação
desde a escala microscópica até à de rotura macroscópica.
A monitorização das emissões acústicas neste estudo fez-se recorrendo a dois transdutores
piezocerâmicos (PZC), cada um deles ligado a um amplificador e um sistema de aquisição,
54
processamento e visualização dos dados recebidos, como é possível observar na Figura 3.11. Os
sensores (transdutores) são acoplados à superfície da amostra (ou da célula triaxial contendo a
amostra) e encaminham as ondas acústicas para o referido sistema de aquisição de dados, após
melhoramento do sinal nos amplificadores.
Figura 3.11 - Ilustração do dispositivo experimental utilizado no estudo das emissões acústicas
3.3. Metodologia
Os testes laboratoriais levados a cabo neste trabalho consistiram em sujeitar corpos de prova a
estados de tensão triaxiais variáveis e em medir, simultaneamente, as principais propriedades de
interesse na caracterização mecânica das rochas. Para a aplicação dos estados de tensão variáveis
recorreu-se a uma célula triaxial convencional (não verdadeira). Este equipamento permite aplicar
duas tensões principais independentes entre si.
De entre as propriedades de interesse para este trabalho, como já oportunamente enumeradas
em capítulo anteriores, destacam-se as seguintes: porosidade, permeabilidade, velocidade de
propagação de ondas sísmicas do tipo P, parâmetros de deformabilidade (E e ) e emissões
acústicas. A medição e registo destas propriedades foi possível graças ao acoplamento dos vários
equipamentos à referida célula triaxial.
Neste estudo, fez-se sempre variar (aumentando-a) a tensão vertical, mantendo constantes as
duas tensões principais horizontais, correspondentes à também designada pressão de confinamento.
O estudo experimental foi sempre conduzido sob o mesmo tipo (triaxial convencional) e programa de
ensaio. O programa de ensaio consistiu, para cada experiência, em aumentar a pressão de
confinamento até ao valor pretendido e em fixar a tensão axial também nesse valor, de modo a que
se iniciassem os ensaios em condições hidrostáticas de tensões, possibilitando a determinação dos
parâmetros de deformabilidade, tal como sugere a secção 2.4 – Ensaios Triaxiais.
À excepção das emissões acústicas, todas as restantes propriedades foram registadas
manualmente, a intervalos regulares de força axial da prensa de 2 kN. Este intervalo foi estabelecido
55
com base no valor da força de rotura do provete e no número recomendável de ensaios para a
traçagem das curvas tensão vs. deformação. A velocidade de carga (pace), segundo as normas da
ISRM e para o diâmetro (D) dos provetes em estudo, deve estar compreendida entre 0,5-1 MPa/s.
Ora, multiplicando o valor médio desse intervalo (0,75 MPa/s) pelo valor da secção transversal dos
provetes ( D²/4), obtém-se uma velocidade de carga de 0,6 kN/s (valor a introduzir através das
opções do visor da prensa utilizada).
Os primeiros ensaios realizados procuraram simplesmente permitir registos de permeabilidade
e deformações (axiais e transversais) e validar os equipamentos e metodologias de ensaio. O
sucesso destes primeiros ensaios não foi imediato, devido a diversos problemas que foram sendo
encontrados resultantes de limitações da célula triaxial e extensómetros itilizados. De facto, a célula
triaxial não foi concebida para que se pudessem introduzir fluxos de água sob pressão e efectuar
medições de permeabilidade. O primeiro problema encontrado foi precisamente o de vedar a célula
com um material que não permitisse a fuga da água injectada sob pressão dentro da célula, pelo que
se procurava simultaneamente um material resistente e não poroso. Por outro lado, importava
garantir que o material fosse de fácil aplicação e remoção (não definitivo), já que não se pretendia
realizar apenas um ensaio, mas um número que fosse representativo para o presente estudo.
Após algumas tentativas em solucionar as limitações acima descritas, recorrendo a materiais
que se revelaram ineficazes, passou a utilizar-se, sistematicamente, silicone. Foram usados dois tipos
de silicone: um de secagem normal e mais resistente, e um silicone de secagem rápida, que embora
menos resistente, permitia reduzir a duração dos “tempos-mortos”.
O segundo problema encontrado, embora não fosse sistemático como o anterior, estava
relacionado com os extensómetros. Para determinados valores de pressão de confinamento,
sobretudo para valores mais elevados, embora bastante variáveis dependendo do ensaio, os
extensómetros ficavam inoperacionais, não permitindo que fossem feitas leituras de extensões.
Pensou-se que os extensómetros que se estavam a utilizar pudessem não ser adequados às
dimensões do provete. Nesse sentido, testaram-se outros tipos de extensómetros eléctricos.
Contudo, apesar de se ter encontrado a tipologia de extensómetros que parecia melhor se ajustar aos
ensaios laboratoriais, em alguns casos o problema persistia.
Mais tarde, a percepção de que, em algumas ocasiões, ambos os pares de extensómetros
(axiais e transversais) perdiam a sua operacionalidade simultaneamente, levou a considerar-se a
hipótese de que poderia existir uma limitação no funcionamento do equipamento de registo das
extensões dos provetes. Assim, optou-se por recorrer a um segundo equipamento de registo, de
forma a que cada um desses dois equipamentos apenas efectuasse medições referentes a um dos
pares de extensómetros (ou os axiais ou os transversais).
Embora este último procedimento tivesse permitido resolver o referido problema na maioria dos
ensaios, pontualmente, o par de extensómetros transversais ou o par de axiais (especialmente este
último) perdia a sua funcionalidade no decorrer do ensaio. De modo a minimizar esta limitação,
decidiu-se começar a utilizar-se um par de extensómetros transversais, mas dois pares de
extensómetros axiais. A colocação de dois pares transversais, além dos referidos anteriormente, não
foi concretizada devido a limitações de tempo e complexidade de montagem que tal procedimento
56
requereria. De qualquer modo, esta solução final já permitiu obter resultados satisfatórios, pelo que se
manteve sempre esta última metodologia.
No decorrer dos primeiros ensaios, constatou-se também que os valores de pressão de
injecção de água (Pw) e pressão de confinamento (Pc) estavam limitados, inferior e superiormente,
pelo desempenho funcional de alguns materiais, nomeadamente do silicone e dos extensómetros.
Relativamente a Pw, estabeleceu-se um limite máximo com base no respectivo valor que
conduzia ao rompimento do silicone, levando à fuga da água injectada sob pressão e
consequentemente ao decréscimo da pressão neutra. O limite mínimo dependia do valor para o qual
deixava de verificar-se fluxo de água através do provete, impossibilitando a medição de
permeabilidades.
Em relação a Pc, o limite máximo foi estabelecido com base na funcionalidade dos
extensómetros e na existência de fluxo de água a atravessar a amostra. Ora, sendo que o aumento
de conduz ao fecho dos vazios das rochas, dificultando (ou mesmo impedindo) o fluxo de água e,
em alguns casos, a inoperacionalidade dos extensómetros, impôs-se um limite máximo. O limite
mímino para Pc estabeleceu-se a partir da verificação do respectivo valor para o qual se começava a
registar um fluxo de água anormalmente elevado, o que indiciava a forte probabilidade de passar a
existir um fluxo através da zona compreendida entre a camisa e o provete.
Constatou-se que os valores limites de Pw eram 50 e 100 KPa e de Pc, 1,0 e 2,5 MPa. É de
notar, porém, que o limite superior de Pw poderia ser aumentado se o tempo de secagem fosse
superior. Tendo em conta os objectivos propostos para o presente estudo e a disponibilidade de
tempo, optou por realizar-se sempre o mesmo programa de ensaios e as condições que são
apresentadas na Tabela 3.1.
Tabela 3.1 - Resumo das condições de ensaio adoptadas
O número de ensaios a realizar diariamente foi estabelecido com base no tempo mínimo de
secagem do silicone.
Uma vez superadas as limitações dos equipamentos encontradas ao longo do trabalho
experimental e fixadas as condições de ensaio, estabeleceu-se uma metodologia final a seguir em
todos esses ensaios, a qual se encontra descrita nos parágrafos seguintes.
Todos os provetes foram obtidos por meio de carotagem de amostras de Pré-sal, colhidas na
Praia de Pedrogão (Leiria), de acordo com as normas estabelecidas pela ISRM. À medida que se
57
foram obtendo os provetes, procedeu-se à sua saturação em água desareada – o mesmo fluido
usado para fluxo durante as medições de permeabilidade –, por um período de pelo menos 24 horas.
Posteriormente, procede-se à colagem dos extensómetros eléctricos num dos provetes
previamente saturados, como se ilustra na Figura 3.12. O provete é revestido com fita isoladora (para
minimizar o contacto com a água no interior da célula triaxial) e se coloca no interior de uma camisa e
este último conjunto dentro da célula triaxial.
Figura 3.12 - Pormenor da disposição dos extensómetros eléctricos, dois axiais e um transversal, num
provete de ensaio
Após esta fase, aplica-se o silicone nas zona de contacto entre os pistões e o corpo da célula
(zona por onde se poderá dar a fuga de água pressurizada), como se ilustra na Figura 3.13,
aguardando-se algumas horas (dependendo do tipo de silicone) pela sua secagem. Findo o tempo de
secagem, coloca-se a célula triaxial na prensa hidráulica e ajusta-se, por meio da aplicação de uma
carga muito reduzida, os pratos metálicos desta última à célula, assegurando um alinhamento
adequado. Este procedimento garante também a estabilidade da célula durante as próximas
operações.
Figura 3.13 - Colocação de silicone na célula triaxial para vedar a saída de água pressurizada
De seguida, quando se liga o equipamento de registo de extensões, deve verificar-se se os
compensadores se encontram operacionais e que são também eles ligados a esse equipamento, e
que o tipo de ponte e gage factor se ajustam ao ensaio em questão.
58
Posteriormente, colocam-se os transdutores de medição do tempo de propagação das ondas
P, previamente calibrados, e de emissões acústicas devidamente posicionados sobre a superfície da
célula triaxial (ver Figura 3.14). Em concreto, relativamente às ondas acústicas, o emissor e o
receptor das ondas, na impossibilidade de os introduzir directamente em contacto com o provete
rochoso, tal como se fez neste estudo, devem ser instalados sobre os pistões da célula triaxial
segundo o mesmo eixo vertical, medindo e anotando-se a distância entre eles.
Figura 3.14 - Destaque da posição dos transdutores de ondas P, à esquerda, e posição dos transdutores
de emissões acústicas (a vermelho), entrada de óleo de confinamento (a amarelo) e de água (a azul), à direita
O passo seguinte consiste em encher de água desareada o interior da célula triaxial, ligando-
se, para tal a Pressure Test 1700 (com uma pressão mínima) à célula por meio de uma mangueira,
como se ilustra na Figura 3.14.
De seguida, aplica-se a pressão de confinamento pré-estabelecida (ver Figura 3.14),
recorrendo a um macaco hidráulico (óleo), mantendo a mangueira de entrada de água desacoplada à
célula, para que a pressão da água induzida por Pc possa dissipar-se sem danificar o silicone.
Posteriormente, aplica-se a tensão axial ( ) equivalente ao valor de Pc, de modo a iniciarem-se os
ensaios em condições hidrostáticas de tensões, como sugerem as especificações da secção 2.4. Por
fim, aplica-se a pressão de injecção de água Pw pré-definida. É de acautelar que tanto como Pw
devem ser aumentadas de forma muito gradual, de forma a evitar picos de sobrepressão que possam
romper o silicone, perdendo-se a função de vedante necessária à realização dos ensaios. Estas
conclusões foram estabelecidas com base em observações efectuadas ao longo dos primeiros
ensaios.
Os últimos passos consistem na ligação de uma outra mangueira, previamente acoplada a uma
bureta de elevada precisão, ao orifício do pistão oposto ao de injecção de água, e no accionamento
de todos os equipamentos de medição das propriedades de interesse.
59
A Figura 3.15 apresenta uma visão geral do conjunto de montagem dos equipamentos
utilizados nos ensaios experimentais.
Figura 3.15 - Visão geral do conjunto de montagem do ensaio
É importante referir que entre cada uma das etapas anteriormente descritas, se deve verificar a
resistência de todos os pares de extensómetros utilizados, dado que se tratam de materiais bastante
sensíveis e cuja inoperacionalidade inviabiliza a realização dos ensaios. Além disso, todos os
provetes devem ser fotografados antes e após a realização do ensaio, registando-se a presença de
eventuais anomalias ou outro tipo de aspectos relevantes (como, por exemplo, a direcção de
carotagem face à de deposição sedimentar) que possam ser observados e auxiliar numa futura
análise de resultados.
Após aguardar-se o tempo necessário ao estabelecimento de um regime estacionário de água
e à estabilização dos valores das extensões, o ensaio deve ser imediatamente iniciado.
Durante o ensaio, o qual é conduzido até à rotura macroscópica dos provetes, devem ser
efectuados registos dos seguintes parâmetros: força axial (kN), tempos (s), extensões, tempo de
propagação das ondas P (μs) e nível de água na bureta (ml). A partir destes registos é possível,
posteriormente, determinar todos os parâmetros de interesse.
Em particular, conhecendo as extensões (axiais e transversais) em função da força axial
aplicada, determinam-se os parâmetros elásticos (E e ν). Para efeitos de cálculo destes parâmetros
considerou-se o método da secante (ver secção 1.3.2.1), definindo-se os dois pontos necessários ao
uso do método correspondentes a 1/3 e 1/2 da tensão de rotura (domínio elástico). As tensões (σ)
são calculadas dividindo a força axial (F) pela secção transversal (A) das amostras (σ = F/A).
Também conhecendo o tempo de propagação das ondas P ( ), sabendo a distância entre o
emissor e receptor das referidas ondas ( ), a sua velocidade de propagação ( ) em cada um dos
diferentes materiais que atravessam (à excepção do meio em que se pretende determinar essa
velocidade) e o comprimento de cada um dos materiais por elas atravessados ( e ), é possível
calcular a velocidade de propagação das ondas P na amostra ensaiada recorrendo à equação
60
apresentada na secção 2.3.1.3. Dado que as ondas atravessam dois materiais de natureza diferente
(aço e rocha) e que apenas interessa determinar a velocidade de propagação no provete rochoso
( ), aquela equação pode apresentar-se como se segue:
Sendo:
No que respeita à medição da permeabilidade, dispondo da diferença de níveis de água na
bureta para um determinado intervalo de tempo de ensaio, calcula-se o fluxo ou caudal de água que
atravessa a amostra. Por sua vez, é possível determinar a permeabilidade k usando a equação
seguinte, que é derivada da Lei de Darcy oportunamente referida na secção 2.3.1.2:
Onde é o fluxo; , o comprimento da trajectória de fluxo (equivalente ao comprimento do
provete); , a viscosidade do fluido de circulação na amostra; Δ , a diferença de pressão entre as
extremidades da trajectória de fluxo (faces opostas do provete) e , a área da seção transversal do
provete.
É oportuno ressalvar que corresponde ao valor lido directamente no equipamento injector
de água sob pressão numa das extremidades do provete, uma vez que a extremidade oposta à de
entrada de água se encontra aberta para a atmosfera e, portanto, à pressão atmosférica.
61
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este capítulo apresenta os resultados obtidos nos ensaios triaxiais convencionais realizados
com a rocha “análoga” ao Pré-sal brasileiro em Portugal, integrante da Formação de Cabaços (Leiria),
já oportunamente descrita. Os resultados correspondem à evolução das propriedades poroelásticas
dessa rocha durante a fase de carregamento (aumento de tensão axial), para diferentes pressões de
injecção de água e confinamento. As propriedades poroelásticas ou parâmetros estudados são os
seguintes: parâmetros de deformabilidade (módulo de Young e coeficiente de Poisson), velocidade de
propagação das ondas P, porosidade, permeabilidade e emissões acústicas.
Em seguida, é adoptada a convenção de que tensões compressivas e correspondentes
extensões (associadas a compressão) são positivas. As pressões de injecção de água e de
confinamento são designadas, respectivamente, por Pw e Pc (onde Pc ). As designações
“axial” e “transversal” referem-se a direcções de posicionamento da amostra na célula triaxial e não à
orientação das mesmas in situ. Por último, sempre que nada for dito em contrário, assume-se a
designação simplificada de “tensão” como sendo a tensão principal máxima σ (axial) no âmbito da
execução dos referidos ensaios triaxiais.
Seguindo sempre o mesmo programa de ensaios – o triaxial convencional – testaram-se 24
provetes, tendo sido utilizados 8 provetes para cada pressão de confinamento: Pc = 1 MPa, Pc = 1,5
MPa e Pc = 2,5 MPa. Para cada um destes três grupos de pressão de confinamento distinta,
adoptaram-se duas pressões de injecção de água (Pw = 50 kPa ou Pw = 100 kPa), o que perfez seis
condições de ensaio diferentes. Assim, a mesma condição de ensaio foi testada recorrendo a um
conjunto de 4 provetes.
É de ressalvar que para alguns provetes não são apresentados registos de todas as
propriedades de interesse para o estudo, devido à perda de operacionalidade dos respectivos
equipamentos de medição durante os ensaios ou por assumirem um comportamento que se afastava
consideravelmente dos demais ensaios realizados sob as mesmas condições, tendo sido
descartados. Por esta razão, de forma a aumentar a representatividade do estudo realizado,
executou-se uma nova série de ensaios com provetes provenientes das amostras restantes em
laboratório. Nesta fase, procurou repetir-se as condições de ensaio em que os resultados se
apresentavam mais díspares, para averiguar a eventual inviabilidade de alguns dos resultados
obtidos. A Tabela 4.1 permite visualizar em que condições, em termos de pressão de confinamento e
pressão neutra, foram testados todos os provetes utilizados nos ensaios laboratoriais cujos resultados
se consideraram válidos.
62
Tabela 4.1- Resumo das condições de ensaio adoptadas para cada provete validado
Pc (MPa) Pw (kPa) Provetes
1,0 50 P10, P13, P15, P16, P39
100 P14, P12, P33, P35, P36, P40
1,5 50 P20, P22, P24, P27
100 P23, P25, P26, P31, P37, P38
2,5 50 P17, P29, P30, P32
100 P7, P18, P19, P21
Efectuaram-se medições de porosidade dos provetes utilizados nos ensaios, e obtiveram-se
valores que variam entre 1,2 e 2,8 %.
4.1. Estudo da influência da pressão de confinamento e pressão de
injecção de água nas propriedades poroelásticas
Em primeiro lugar, procede-se à tentativa de análise simultânea de ambas as variáveis que
definiram as condições de cada ensaio realizado. Esta metodologia de análise de resultados reveste-
se de interesse, já que cada teste laboratorial foi realizado em condições definidas por um valor de
pressão de confinamento e outro de injecção de água.
Na Figura 4.1 apresentam-se os gráficos relativos ao estudo de cada propriedade, para as seis
condições ensaio distintas adoptadas. É de referir que para o estudo das emissões acústicas apenas
foi possível obter dois registos completos, já que o facto de se utilizar um dispositivo de carregamento
(prensa não rígida) que produzia vibrações cujas magnitudes interferiam com os registos daquela
propriedade, inviabilizou a realização de um estudo mais abrangente.
As deformações medidas para pressões de confinamento de 1,0, 1,5 e 2,5 MPa são
características daquelas ocorridas em regime frágil. Após se atingir a tensão axial máxima (situação
correspondente ao ponto de maior ordenada dos gráficos), ocorre rotura macroscópica por corte,
típica de amostras ensaiadas em regime frágil.
Em relação à Figura 4.1(a) observa-se que, de um modo geral, o aumento da pressão de
confinamento é acompanhado dum aumento da tensão máxima de pico (resistência à compressão
triaxial) e de uma diminuição da deformação transversal da amostra, sobretudo visível nas fases
finais do ensaio. Além disso, a taxa de deformação é superior (e também mais instável) para a menor
pressão de confinamento, Pc = 1,0 MPa. Por sua vez, o aumento da pressão de injecção de água
parece tender a aumentar não só a tensão de pico, como também a taxa de deformações (axiais e
transversais); exceptua-se o caso em que Pc = 1,5 MPa e Pc = 2,5 MPa, para a primeira e segunda
observações anteriores, respectivamente.
A Figura 4.1(b) mostra que o aumento da pressão de confinamento tende a conduzir a uma
diminuição da velocidade das ondas P; em particular, os maiores valores desta propriedade
63
(considerando todas as fases do ensaio) atingem-se para Pc = 1 MPa e os menores, para Pc = 2,5
MPa. Porém, esta observação apenas é válida para Pw = 100 kPa, não sendo possível observar
nenhuma tendência para Pw = 50 KPa. Outra observação díspare reside no comportamento final
destes gráficos: para Pc = 2,5 MPa, a velocidade das ondas P aumenta (ou mantém) e para Pc = 1
MPa, diminui. A análise da variável pressão de injecção de água não permite estabelecer uma
tendência clara entre esta e a velocidade das ondas P.
(a)
(b)
64
(c)
(d)
(e)
(e)
65
Figura 4.1- Tensão axial vs. (a) extensões (axiais e transversais), (b) velocidades das ondas P, (c)
redução de porosidade, (d) nível de água na bureta, (e) permeabilidade, (f) somatório de emissões acústicas, (g)
coeficiente de Poisson e (h) módulo de Young
(f)
(g)
(h)
66
Relativamente ao terceiro gráfico (Figura 4.1(c)) verifica-se que o aumento da primeira variável
(Pc), faz com que a dilatância se inicie mais precocemente (i.e. para menores percentagens da
tensão de pico) e que aumente o valor de porosidade (volume) final da amostra (exceptuando para o
gráfico relativo à condição definida por Pc = 1 MPa e Pw = 100 kPa, o qual manifesta um
comportamento anómalo, não tendo sido considerado nesta análise). Além disso, observou-se que o
único caso em que o volume incial não é recuperado (nem mesmo na fase de pré-rotura) é
correspondente a Pc = 2,5 MPa. No que se refere à segunda variável (Pw), o aumento desta parece
traduzir-se também num início de dilatância mais antecipado e numa diminuição do volume final da
amostra, especialmente para Pc = 1 MPa, tal como seria de esperar pelo andamento das respectivas
curvas tensão vs. extensão (axial e transversal).
Uma análise da Figura 4.1(d), em termos de pressão de confinamento, não permite traçar uma
tendência geral dos gráficos relativos a cada condição de ensaio, como se fez para alguns dos casos
anteriores. É apenas observável que a variação (aumento) do nível de água na bureta, durante a fase
inicial do ensaio, é mais significativa para Pc = 1 MPa; como consequência, na Figura 4.1(e) observa-
se que a permeabilidade inicial é superior para esta condição. Por outro lado, a descida do nível de
água, registada no final de alguns ensaios, é mais pronunciada para Pw = 100 kPa; em termos de
permeabilidade, para este valor de pressão de água, a permeabilidade inicial e a respectiva taxa de
redução ao longo do ensaio apresentam-se mais baixas, comparativamente com a situação
equivalente a Pw = 50 kPa.
Uma análise da Figura 4.1(f) evidencia que ambas as curvas tensão vs. somatório de emissões
acústicas apresentam um comportamento muito semelhante. Durante a fase compreendida entre o
ínicio do ensaio e cerca de dois terços da tensão máxima de pico ocorrem poucos eventos de
emissões acústicas; após esta fase, verifica-se um aumento acentuado da taxa de emissões
acústicas, a qual se mantém aproximadamente constante até à rotura macroscópica das amostras
(inclusive após rotura, como se pode observar numa das curvas).
Em seguida é apresentada uma discussão dos resultados obtidos, a qual será realizada em
duas fases diferentes: primeiramente, apenas considerando a pressão de confinamento como
variável (fixando a pressão de injecção de água) e, posteriormente, tomando apenas a pressão de
injecção de água como variável (fixando a pressão de confinamento).
Os resultados obtidos, quer para uma ou outra variável, de um modo geral são suportados pela
bibliografia disponível consultada.
A tensão de rotura, tal como se observa neste estudo, é proporcional à pressão de
confinamento pela generalidade das teorias de rotura, nomeadamente a de Mohr-Coulomb. Além
disso, para pressões de confinamento menores, a amostra assume maior liberdade para se deformar
na direcção transversal, mas também na axial, pelo que os resultados estão de acordo com o
expectável.
Em relação aos resultados obtidos para a velocidade de propagação das ondas P, acredita-se
que o aumento da pressão de confinamento ao traduzir-se num aumento da pressão neutra, conduz a
uma diminuição da área de contacto entre os grãos constituintes da rocha. Esta justificação serve
67
apenas para o caso em que Pw = 100 kPa, já que para Pw = 50 kPa foram obtidos resultados
diferentes.
A redução de porosidade depende da relação entre extensões (axiais e transversais),
aumentando com a diminuição da razão entre extensões transversais e axiais. Ora, observando-se
extensões transversais muito mais significativas para Pc = 1,0 MPa (para os mesmos valores de
extensões axiais), seria de esperar que o aumento de volume da amostra se iniciasse muito mais
precocemente que para as outras condições de maior pressão de confinamento, tal como se
observou nos resultados obtidos. Em particular, o volume final das amostras para condições de Pc =
2,5 MPa é significativamente menor que para Pc =1,5 MPa. A discussão de resultados considerada
para a porosidade pode ser estendida à análise do coeficiente de Poisson, uma vez que estas duas
propriedades dependem dos mesmo parâmetros, nomeadamente das extensões axiais e
transversais. De facto, é perfeitamente notável a semelhança de comportamento de ambos os
gráficos a que estas propriedade se referem. Em relação ao módulo de Young, dado que a taxa de
extensões axiais é sensivelmente constante ao longo de todo o ensaio, à excepção da fase final (pré-
rotura), esta propriedade apresenta valores concordantes com esse andamento descrito. Por último, é
de notar que na fase final de ensaio o coeficiente de Poisson tende a aumentar consideravelmente,
ao passo de que o módulo de Young apresenta o comportamento inverso (de um modo geral diminui
bruscamente). Esta tendência deve-se ao facto de nessa etapa de ensaio, as deformações
aumentarem marcadamente, mas com maior expressão para as deformações transversais.
Em relação à permeabilidade, a taxa de variação desta propriedade, bem como o respectivo
valor máximo, parece ser superior para pressões de confinamento menores. Segundo Holt (1990),
seria expectável que a redução de permeabilidade fosse superior para pressões de confinamento
mais elevadas. Contudo, esta comparação foi estabelecida a partir de arenitos de elevada porosidade
inicial e pressões de confinamento superiores em quase uma ordem de grandeza, pelo que se
considera que se mantém a validade dos resultados deste trabalho.
Pelo contrário, Bruno et al. (1991) e Morita et al. (1984) constataram que a aplicação de
tensões radiais (ou de confinamento) levavam à diminuição muito significativa da permeabilidade na
direcção axial, especialmente na fase inicial de ensaio. Tais observações servem de suporte às
efectudas no presente estudo, onde para pressões de confinamento maiores, a permeabilidade axial
no início do ensaio se mostrou mais reduzida que para pressões menores.
Na última fase do ensaio, a permeabilidade assume valores negativos. Estes valores surgem
como resultado da descida do nível de água na bureta utilizada para efeitos de cálculo dos valores
desta propriedade, como já referido. Assim, não foi possível percepcionar se nesta fase a
permeabilidade da rocha tenderia a diminuir ou a aumentar.
Sabe-se que o aumento da pressão neutra, que é proporcional à pressão de injecção de água
na amostra, conduz à diminuição das tensões efectivas, já que parte do carregamento passa a ser
suportado pela água, aliviando a “matriz” rochosa. Do mesmo modo, quer as deformações, quer a
tensão de pico são controladas pelas tensões efectivas e não pelas tensões totais (Fjaer et al., 2008).
Este fenómeno explica a razão pela qual a taxa de extensão transversal nas últimas etapas de ensaio
e a tensão de pico das amostras são superiores para a maior pressão de injecção de água, Pw = 100
68
kPa. Analogamente, vem justificado o facto de a redução de porosidade, que é determinada pela
relação entre extensões transversais e axiais, ser mais elevada para Pw = 50 kPa (na fase final do
ensaio).
Para a velocidade das ondas P, os resultados não podem ser justificados satisfatoriamente.
Acredita-se que o facto desta propriedade depender de vários parâmetros (densidade, módulo de
Young e coeficiente de Poisson) que se sabe que variam dependendo das condições de ensaio, pode
estar na origem das discrepâncias verificadas.
Pelo estudos de Al-Harthy et al., 1998b, a permeabilidade tende a aumentar com o aumento da
pressão neutra. Contudo, é de notar que a conclusão destes autores se baseou na análise de uma
rocha diferente (um arenito), provavelmente com uma porosidade muito superior, e para um intervalo
de pressões neutras superiores que não contemplam as adoptadas neste estudo. Como justificação
para o observável nos resultados obtidos neste trabalho, poder-se-á considerar que pressões de
água mais elevadas tenderão a gerar tipologias de escoamento que possam conduzir ao entupimento
de algumas das trajectórias de fluxo, diminuindo assim a permeabilidade. Além disso, é de salientar
que, segundo Crawford & Swart (1994), quanto mais heterogénea for a rocha, mais complexa e
imprevisível tende a ser a evolução da permeabilidade. Ora, sendo a rocha utilizada neste trabalho,
na maior parte dos casos, significativamente heterogénea, é expectável que se verifique algum
“desvio” na evolução desta propriedade com o aumento da tensão.
4.2. Estudo da relação entre propriedades poroelásticas
A última etapa da análise de resultados procura identificar, nos gráficos relativos a cada uma
das seis condições de ensaio adoptadas (ver Figura 4.1), as principais fases do comportamento
mecânico típico de uma rocha e, posteriormente, averiguar visualmente a existência de eventuais
relações entre as propriedades poroelásticas das amostras estudadas.
A curva típica de comportamento mecânico (curva tensão vs. extensão) de uma rocha, obtida a
partir de um ensaio de compressão uniaxial, bem como as correspondentes variações do módulo de
Young, coeficiente de Poisson e volume encontram-se representadas na Figura 4.2.
Figura 4.2 - Curva típica tensões vs. extensões num ensaio à compressão uniaxial e correspondentes
variações do módulo de Young, coeficiente de Poisson e volume. Rocha, 1985
69
Neste momento é de notar que os ensaios deste trabalho foram executados sob condições de
pressão de confinamento não nula, ao contrário do que sucede num ensaio de compressão uniaxial.
Por essa razão, ressalva-se desde já que poder-se-ão observar algumas diferenças entre os
resultados obtidos e os teoricamente expectáveis para ensaios naquelas condições (compressão
uniaxial).
Através de uma observação do conjunto de gráficos (de cada propriedade) para cada condição
de ensaio testada é possível, analogamente ao proposto por Rocha (1985), identificar quatro fases
que delimitam diferentes tipos de comportamento da amostra (também frequentemente designadas
por fases de Bieniawski). Cada uma destas fases corresponde a um intervalo de valores
característicos de tensão axial. A Tabela 4.2 apresenta os valores das propriedades estudadas em
função da tensão axial σ (MPa), com indicação (a cores distintas) das diferentes fases referidas.
Estes valores serviram de base para a obtenção dos gráficos ilustrados na anterior Figura 4.1.
Tabela 4.2 - Valores das propriedades poroelásticas em função da tensão axial σ (MPa) e fases de Bieniawski,
para cada condição de ensaio
70
Uma análise do diagrama tensão vs. extensão permite constatar que é durante a primeira fase
(Fase I) que se regista a menor taxa de variação da extensão transversal com o aumento de tensão;
contrariamente, a extensão axial mantém a taxa de crescimento análoga às das fases sucessivas. É
também nesta fase que as taxas de aumento de velocidade das ondas P e de redução de porosidade
da amostra são mais pronunciadas, e a permeabilidade assume o valor máximo.
A seguir, na Fase II, observa-se um trecho rectilíneo quer para as extensões axiais, quer para
as transversais. As taxas de aumento de velocidade das ondas P e redução de porosidade são
constantes com a tensão aplicada, embora sejam inferiores à da fase precedente. Os valores mais
elevados de permeabilidade atingem-se durante estas duas primeiras etapas.
Na fase seguinte (Fase III), o diagrama tensão vs. extensão mantém o andamento rectilíneo em
termos de extensões axiais, mas a taxa de crescimento das extensões transversais acentua-se,
sobretudo na fase final do trecho que lhe corresponde. A velocidade das ondas continua a aumentar
de forma constante, embora a uma taxa ligeiramente inferior à do trecho anterior. A porosidade
continua a diminuir, mas uma taxa progressivamente menor, até que, a partir da Fase III, se inverte
esta tendência; nesse momento, atinge-se o valor máximo de redução de porosidade, sendo essa
redução equivalente a 0,46 % do valor de porosidade inicial (antes do ensaio) em termos médios. No
final desta fase, a permeabilidade é praticamente nula, atingindo o valor mínimo.
No último trecho (Fase IV), ambas as extensões, transversais e axiais (sobretudo as primeiras),
passam a crescer mais rapidamente com o aumento do nível de tensão. A velocidade das ondas P
continua a aumentar até praticamente ao final do referido trecho, momento em que se inverte o
andamento, de tal modo que se passa a observar um ligeiro decréscimo de velocidade na iminência
da rotura, na maioria dos casos apresentados. Nesta fase, a porosidade vai aumentando
progressivamente, até que, também para aquele nível de tensão, se observa um aumento brusco do
volume da amostra; no final do ensaio (representado pelo último ponto dos gráficos), o volume final é
sempre, na generalidade, superior ao volume inicial (antes do início do ensaio), apesar da rocha
continuar comprimida.
71
Os resultados obtidos aparentam uma satisfatória concordância com o expectável. De seguida,
discutem-se estes resultados, procurando-se averiguar, simultaneamente, a eventual existência de
relações entre as propriedades estudadas.
Como consequência do fecho das microfracturas, seria à partida de esperar que o diagrama
tensão vs. extensão (axial e transversal) apresentasse um trecho inicial ligeiramente curvo. Porém,
esta tendência não foi observada no andamento das extensões axiais. O facto de se ter iniciado o
ensaio em condições hidrostáticas de tensões, o que teria conduzido ao fechamento prévio parcial
das microfracturas poderá justificar a ausência de curvatura em relação ao gráfico dessas extensões.
Ora, dado que a taxa de variação da extensão axial, nesta fase inicial, se mantém constante e a da
extensão transversal é a menor registada durante todo o ensaio, o valor do coeficiente de Poisson
sofre um incremento nesta mesma fase. De modo análogo, devido ao fecho das microfracturas, é
nesta fase que a redução de porosidade e aumento da velocidade de propagação das ondas são
mais significativos.
Na Fase II, observa-se uma andamento rectilíneo de ambas as curvas de extensão (axial e
transversal), pelo que se espera que o módulo de deformabilidade e coeficiente de Poisson sejam
constantes. A taxa de redução de porosidade continua a aumentar, ainda que a um ritmo mais lento
que no ínicio do ensaio; consequentemente, a velocidade de propagação das ondas sísmicas
também continua a aumentar, mas uma taxa inferior. A permeabilidade (ao depender da porosidade,
como sugere Fjaer et al. 2008), deverá também decrescer ao longo desta fase, à semelhança do que
se verificou nos resultados obtidos.
Na Fase III, caracterizada pelo início da microfracturação, observa-se um aumento progressivo
da taxa de crescimento das extensões transversais, ao passo de que as extensões axiais se mantém
constantes. Esta situação traduz-se num módulo de Young constante, mas num aumento progressivo
do coeficiente de Poisson, como se pôde observar. Como consequência do aumento da taxa de
crescimento das extensões transversais (em relação às axiais), vai-se registando uma redução de
porosidade sucessivamente menos pronunciada, até que, no final do trecho da terceira fase, o
volume se torna estacionário (podendo mesmo começar a aumentar, dependendo do nível de
extensão transversal atingido, tal como se verificou nos resultados deste trabalho). É,
consequentemente, nesta fase que se atinge o valor mínimo de porosidade. Ainda assim, à
semelhança das observações efectuadas nos estudo de Shangxian & Shangxu (2005) e Ostermier
(1993, 1996 e 2001), a redução relativa de permeabilidade é sempre mais significativa que a redução
de porosidade. Em particular, segundo Fjaer et al. (2008) a redução de porosidade,
independentemente da trajectória de tensões, é tipicamente inferior a 1 %; de facto, neste estudo,
não considerando o gráfico que apresentava um comportamento anómalo (referente às condições Pc
= 1,0 MPa e Pw = 100 kPa), verificou-se que a redução (máxima) de porosidade era de 0,8 %.
A fase final (Fase IV), é caracterizada pelo acentuar do volume fracturado, verificando-se um
aumento significativo dos valores das extensões axiais e tranversais, em especial destas últimas.
Assim, o volume da amostra vai aumentando, sendo o respectivo valor final superior ao incial (apesar
da amostra continuar comprimida). Este fenómeno de aumento de volume na vizinhança ou iminência
da rotura macroscópica é conhecido por dilatância, traduzindo-se frequentemente numa diminuição
72
da velocidade de propagação das ondas sísmicas, em virtude do elevado número de fracturas
desenvolvidas durante esta fase. O trecho desta fase termina quando se atinge o valor máximo de
tensão, momento em que se criam fracturas com dimensões da ordem de grandeza das dimensões
da amostra (fracturas macroscópicas).
Os resultados precedentes são, de um modo geral e analisando as diferentes fases como um
todo, satisfatoriamente suportados pelos estudos levados a cabo por diversos autores,
nomeadamente por Fortin et al. (2005). Estes autores observaram também, para pressões de
confinamento de 12 e 30 MPa, os seguintes aspectos no comportamento geral dos gráficos dos seus
trabalhos: grande relação entre a variação de porosidade e permeabilidade; aumento de velocidade
das ondas sísmicas e redução de porosidade mais significativos no início do ensaio, quando ocorre o
fechamento de microfracturas; apreciável aumento de volume da amostra após o início do fenómeno
de dilatância, que assinala a iminência de rotura (comportamento também sugerido por Ferfera et al.,
1997, para rochas de baixa porosidade incial) e; ocorrência de rotura por cisalhamento ou corte
(caracterizada por uma superfície de rotura que atravessa o provete). É apenas de ressalvar que,
segundo Fortin et al. (2005), seria de esperar que o início de redução da velocidade das ondas P se
desse para níveis de tensão mais baixos (mais afastados da tensão máxima de pico). No entanto, há
que notar que não só se tratam de rochas de natureza diferente, como também as condições de
ensaio, em particular as pressões de confinamento, são diferentes. Além disso, é de referir que os
trabalhos de Soares et al. (2002), sob calcários dúcteis e heterogéneos, também conduziram a
resultados semelhantes aos de Fortin et al. (2005), à excepção de se ter registado um significativo
decréscimo de permeabilidade na fase inicial, servindo estes mesmos resultados de suporte adicional
áqueles que foram obtidos neste estudo. As velocidades das ondas P, segundo a Lopes (2009),
tendem sempre a aumentar durante o carregamento hidrostático, sendo este aumento mais
pronunciado na fase inicial de ensaio. Contudo, a taxa de crescimento das ondas P, no estudo deste
autor, mostrou ser significativamente mais reduzida que a observável neste trabalho. O facto de os
estudo de Lopes (2009) se terem debruçado sobre rochas diferentes (de origem magmática) e sobre
um estado de tensões hidrostático, pode explicar as referidas diferenças. Relativamente à
permeabilidade, são vários os autores que se referem a uma diminuição dessa propriedade durante
os ensaios triaxiais, com excepção para a fase final, correspondente ao início da fracturação da rocha
(Heiland, 2003; Holt, 1990; Zhu & Wong, 1997; Azeemuddin et al., 1995; Ferfera et al., 1997).
73
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1. Conclusão
O estudo conduzido nesta dissertação objectivou analisar de que forma as propriedades
poroelásticas das rochas, em particular uma rocha “armazém” de hidrocarbonetos em Portugal
(calcários microbialitos análogos ao Pré-sal brasileiro), podem ser influenciadas pela variação da
magnitude das tensões nela actuantes. Realizaram-se ensaios de compressão triaxial, recorrendo a
uma célula triaxial convencional, simulando diferentes condições de ensaio.
As actividades antrópicas envolvendo os maciços rochosos, no âmbito de diversas áreas da
Ciência e Engenharia, traduzem-se frequentemente em perturbações dos estados de tensão pré-
existentes. Estas perturbações podem conduzir a significativas deformações, frequentemente
irreversíveis (associadas ao dano mecânico), que por sua vez podem alterar em grande escala as
propriedades poroelásticas das rochas.
Com este trabalho percepcionou-se que a alteração das condições de ensaio, determinadas
por um valor de pressão de confinamento e de injecção de água, é relevante em estudos que
envolvam o conhecimento das propriedades das rochas. Além disso, independentemente das
condições de ensaio, observou-se a existência de uma relação evidente entre as diversas
propriedades tal como sugere a bibliografia consultada (Fjaer et al., 2008; Hudson & Tang, 2010;
Soares et al., 2002; entre outros)
Em relação ao estudo da primeira variável, a pressão de confinamento, verificou-se que as
taxas de deformações, em especial das transversais e sobretudo nas últimas fases de ensaio, eram
significativamente superiores para a pressão de confinamento mais baixa. Deste modo, é para este
valor de pressão de confinamento que se começa a verificar um aumento de volume (dilatância) mais
precocemente. A permeabilidade e a velocidades das ondas P mostraram-se, de um modo geral,
mais elevadas para menores valores da referida pressão; estas observações parecem ser justificadas
pelo facto de ocorrer uma redução do índice de vazios mais significativa, no caso da primeira
propriedade, e pela diminuição da pressão neutra e consequente aumento do contacto entre os grãos
constituintes da rocha, no caso da segunda. A tensão máxima de pico (ou resistência à compressão
triaxial) mostrou-se superior para maiores pressões de confinamento, tal como sugere, a título de
exemplo, a teoria de rotura de Mohr-Coulomb.
Os resultados obtidos no estudo da segunda variável, a pressão de injecção de água,
evidenciam a ocorrência de deformações (nas fases finais de ensaio) e tensões de pico ligeiramente
superiores para a pressão mais elevada (100 kPa). A pressão neutra, que é superior para pressões
de injecção de água maiores, conduz a uma redução das tensões efectivas (as quais controlam a
deformabilidade e resistência da rocha). O valor máximo de redução de porosidade e a velocidade de
propagação das ondas P são, de um modo geral, superiores para a pressão de água mais elevada.
Os resultados anteriores demonstram que uma vez que os maciços geológicos são sensíveis à
alteração dos estados de tensão, é relevante manter a pressão neutra, nessas formações, tão
próxima quanto possível do respectivo valor inicial. Uma solução prática, por exemplo, passa pela
74
injecção de fluidos (simultânea à extracção) nos referidos maciços, sendo essa uma prática
recorrente no âmbito da engenharia de reservatórios.
Apesar de ambas as variáveis estudadas poderem induzir variações significativas nas
propriedades poroelásticas das rochas, foi a variável “pressão de confinamento” que evidenciou mais
marcadamente essa situação.
Uma comparação entre as fases do comportamento das curvas apresentadas no subcapítulo
4.2 e a curva típica de comportamento mecânico à compressão uniaxial (e correspodentes variações
dos parâmetros de deformabilidade), revelam uma grande proximidade entre ambas, sendo
igualmente possível identificar fortes relações entre as propriedades estudadas. É na primeira fase
que se observa a menor taxa de extensões transversais e as maiores taxas de aumento da
velocidade das ondas P e de redução de porosidade, situações estas motivadas pelo fechamento das
microfracturas da rocha. Na segunda fase, o comportamento da rocha é elástico e as propriedades
variam menos significativamente com a tensão aplicada. A terceira fase é essencialmente
caracterizada pelo aumento da taxa de deformações transversais, o que se traduz na estagnação (ou
mesmo aumento) da porosidade. Na quarta fase, caracterizada pela propagação instável de
microfracturas, a rocha deforma-se a taxas superiores às das etapas precedentes, especialmente em
termos de deformações transversais; esta situação, sobretudo visível no final desta fase (iminência de
rotura) traduz-se no aumento de volume da amostra e diminuição da velocidade das ondas P.
Ainda que tenha sido possível estabelecer conclusões satisfatórias, considera-se que um maior
número de ensaios deverá ser realizado, a fim de clarificar, por exemplo, o andamento (ou valores) do
gráfico referente ao estudo da redução de porosidade para a condição definida por Pc = 1,0 MPa e
Pw = 100 kPa, já que o comportamento deste se apresentou fortemente alterado pela ocorrência de
registos aparentemente anómalos.
É importante notar, porém, que uma relação directa entre as propriedades das rochas e o
estado de tensão não é ainda conhecida, no sentido em que o efeito das tensões nessas
propriedades deverá depender de diversos factores, entre eles: mecânicos, petrofísicos e magnitude
e trajectória de tensões. Esta conclusão foi estabelecida através dos estudos realizados pelos vários
autores mencionados ao longo do texto desta dissertação, sendo muitos deles contraditórios. Na
realidade, os grãos que constituem a parte sólida das rochas podem manifestar comportamentos a
nível microscópico muito distintos, nomeadamente (Han & Dussealt, 2003): sofrer mudanças de
forma, no domínio elástico; girar, deslizar e rearranjar-se; sofrer fracturamento ou esmagamento,
associados à deformação plástica e; bloquear a garganta dos poros devido ao movimento de
partículas desalojadas por deformação de cisalhamento.
Contudo, é relevante notar que foi possível verificar que a maioria dos gráficos referentes às
propriedades estudadas apresentam um comportamento que é concordante com a generalidade dos
resultados obtidos pelos autores mencionados na bibliografia consultada (em particular, Fortin et al.,
2005; Soares et al. 2002; Holt, 1990; Hudson & Tang, 2010), nomeadamente os gráficos relativos à
redução de porosidade, permeabilidade e emissões acústicas. Assim, constata-se que o fenómeno
físico que serve de explicação dos resultados obtidos para pressões de confinamento mais elevadas
é igualmente válido para pressões mais baixas (como as adoptadas neste trabalho).
75
Neste estudo não foi possível, na maioria dos casos, percepcionar visualmente a orientação
das amostras no campo. No entanto, na análise do efeito de tensões nas propriedades poroelásticas
das rochas, esta informação é relevante na obtenção de resultados mais fiáveis e representativos,
pelo que, sempre que possível, deverá ser levada em consideração.
Em jeito de conclusão final, pode dizer-se que os conhecimentos provenientes de
investigações conduzidas no âmbito do estudo da influência de tensões nas propriedades das rochas
se encontram ainda numa fase insipiente, existindo ainda um campo muito vasto que deverá
continuar a ser explorado em linhas de investigação futuras.
5.2. Propostas para trabalhos futuros
As principais limitações encontradas no decorrer da presente investigação estão relacionadas
com a tipologia de célula triaxial utilizada. Deste modo, propõe-se que, futuramente, se realizem os
ensaios triaxiais laboratoriais recorrendo a uma célula como a que se encontra em fase de montagem
no LABGEOMEC, a qual apresenta as vantagens seguidamente enumeradas:
aumentar a magnitude das pressões de confinamento e pressões neutras;
dispor de um dispositivo de carregamento rígido e cujas vibrações produzidas durante o seu
funcionamento não afectem o registo das propriedades de interesse, nomeadamente das emissões
acústicas;
medir simultaneamente todas as propriedades estudadas, através de um sistema de leituras
automáticas, garantindo maior precisão nos registos efectuados.
Pretende-se com estas melhorias efectuar simulações e previsões mais realistas das condições
in situ em que se inserem as amostras testadas.
Por fim, propõe-se ainda que se estude mais detalhadamente as emissões acústicas, já que
esta propriedade está associada às diferentes fases do comportamento mecânico das rochas (Xinglin
Lei et al., 2004; Hudson & Tang, 2010), o que poderia permitir explicar mais satisfatoriamente a
variação das restantes propriedades estudadas. A nível de campo, o estudo das emissões acústicas
é relevante porque possibilita, por exemplo, avaliar o dano mecânico induzido pela produção de
hidrocarbonetos e prever a ocorrência de eventuais colapsos das formações geológicas.
76
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