introdutorio merleau ponty

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Fenomenologia e Existência:Uma Leitura de Merleau-Ponty Newton Aquiles von Zuben (*) "Oinacabamento de uma filosofia do inacabamento é duplamente desconcertante".Paul Ricoeur Tal afirmação,por ocasião da morte de Merleau-Ponty,traduz o quanto ficou abala da a Filosofia contemporânea pela brusca interrupção da notável obra do mais autêntico e ao mesmo tempo mais profundamente original discípulo da filosofia husserliana.Merleau-Ponty,talvez mais que qualquer filósofo de sua geração,manifestou com vigor qualidades primordiais de autêntico filósofo:a perplexidade diante do mundo e o anseio constante em reaprender a ver este mundo.O caráter inacabado de sua obra não é definido.unicamente pela inesperada interrupção causada pela morte prematura (l96l),mas o próprio Merleau- Ponty não deixou de insistir (aliás,como seu mestre Husserl já o fineza),no "caráter incoativo da filosofia",do incessante recomeçar da tarefa filosófica que recusa toda cristalização da obra em sistema acabado e fechado.De fato,ele via no inacabamento da fenomenologia,da qual foi e permanece ainda,pelas suas obras,um dos mais brilhantes representantes,não um sinal de fracasso,de indefinição,mas sim o reconhecimento de sua fertilidade e de sua verdadeira tarefa,a saber: 'revelar o mistério do mundo e o mistério da razão".(1) A leitura de Merleau-Ponty não só se,justifica pela relevância de sua contribuição para muitos problemas filosóficos atuais,mas sobretudo porque através dela entramos no próprio processo da Filosofia,cuja tarefa é,segundo Merleau-Ponty,que reaprendamos a ver o mundo. (Prefácio,pág.XV).De fato,como afirma Merleau-Ponty no Eloge de Ia philosophie,:"filosofar é procurar,é,implicar que há coisas para se ver e se dizer". Outros filósofos da existência utilizaram o método fenomenológico, chegando mesmo a entrelaçar Fenomenologia e Existencialismo.Porém em nenhum deles se encontram articuladas,de modo tão explícito e harmônico,a Fenomenologia e a existência como em Merleau-Ponty. Neste texto não tenho a intenção de resumir o pensamento de Merleau- Ponty.Seria demasiadamente pretensioso,dado o âmbito deste trabalho. Proponho uma breve leitura da "carta-programa",o prefácio à Fenomenotogia da Percepção,onde Merleau-Ponty expõe sua concepção de filosofia que ele denominou Fenomenologia,retomando por sua conta e reassumindo por força de sua criatividade as trilhas de Husserl.Na verdade,podemos até afirmar que,através dos breves parágrafos deste

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Introdução a Merleau-Ponty

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Fenomenologia e Existncia: Uma Leit

Fenomenologia e Existncia: Uma Leitura de Merleau-PontyPRIVATE

Newton Aquiles von Zuben (*)

"O inacabamento de uma filosofia do inacabamento duplamente desconcertante". Paul Ricoeur

Tal afirmao, por ocasio da morte de Merleau-Ponty, traduz o quanto ficou abala da a Filosofia contempornea pela brusca interrupo da notvel obra do mais autntico e ao mesmo tempo mais profundamente original discpulo da filosofia husserliana. Merleau-Ponty, talvez mais que qualquer filsofo de sua gerao, manifestou com vigor qualidades primordiais de autntico filsofo: a perplexidade diante do mundo e o anseio constante em reaprender a ver este mundo. O carter inacabado de sua obra no definido. unicamente pela inesperada interrupo causada pela morte prematura (l96l), mas o prprio Merleau-Ponty no deixou de insistir (alis, como seu mestre Husserl j o fineza), no "carter incoativo da filosofia", do incessante recomear da tarefa filosfica que recusa toda cristalizao da obra em sistema acabado e fechado. De fato, ele via no inacabamento da fenomenologia, da qual foi e permanece ainda, pelas suas obras, um dos mais brilhantes representantes, no um sinal de fracasso, de indefinio, mas sim o reconhecimento de sua fertilidade e de sua verdadeira tarefa, a saber: 'revelar o mistrio do mundo e o mistrio da razo". (1)

A leitura de Merleau-Ponty no s se, justifica pela relevncia de sua contribuio para muitos problemas filosficos atuais, mas sobretudo porque atravs dela entramos no prprio processo da Filosofia, cuja tarefa , segundo Merleau-Ponty, que reaprendamos a ver o mundo. (Prefcio, pg. XV). De fato, como afirma Merleau-Ponty no Eloge de Ia philosophie,: "filosofar procurar, , implicar que h coisas para se ver e se dizer".

Outros filsofos da existncia utilizaram o mtodo fenomenolgico, chegando mesmo a entrelaar Fenomenologia e Existencialismo. Porm em nenhum deles se encontram articuladas, de modo to explcito e harmnico, a Fenomenologia e a existncia como em Merleau-Ponty.

Neste texto no tenho a inteno de resumir o pensamento de Merleau-Ponty. Seria demasiadamente pretensioso, dado o mbito deste trabalho. Proponho uma breve leitura da "carta-programa", o prefcio Fenomenotogia da Percepo, onde Merleau-Ponty expe sua concepo de filosofia que ele denominou Fenomenologia, retomando por sua conta e reassumindo por fora de sua criatividade as trilhas de Husserl. Na verdade, podemos at afirmar que, atravs dos breves pargrafos deste prefcio, ficamos entendendo Husserl e a prpria Fenomenologia como estilo de pensamento que est procura do sentido do sujeito, do mundo, da Histria e da prpria Filosofia.

Este prefcio nos coloca na trilha da idia que Merleau-Ponty tinha de Fenomenologia e nos mostra como se articulam a Fenomenologia e a existncia apresentando em projeto as linhas principais de sua Fenomenologia existencial, ao mesmo tempo que, anuncia o cunho mais nitidamente ontolgico de sua obra escrita aps a Fenomenologia da Percepo, publicada posteriormente com o ttulo de O Visvel e o Invisvel.

Embora breve, o texto do prefcio encerra inmeras questes de grande relevncia, que proponho englobar em 2 tpicos: -"A concepo da Fenomenologia como mtodo" e "Os principais temas da Fenomenologia e sua articulao com a existncia".

I. A concepo da Fenomenologia como mtodo

til apontar as principais influncias que marcaram a reflexo de Merleau-Ponty. A este respeito A. Robinet apresenta uma observao interessante. Diz ele: "A matriz hegeliana e fenomenol6gica de sua reflexo demasiado evidente e reconhecida para que no se tenha, de incio, descrito esta situao em funo de trs H: Hegel, Husserl, Heidegger'. (Merleau-Ponty, p. 671 1970).

Em 1936, o prprio Merleau-Ponty publica um trabalho Existence et dialetique, no qual faz uma autoconfisso intelectual reconhecendo sua filiao a Hegel. Em artigo publicado vinte anos depois, "O existencialismo de Hegel", Merleau-Ponty reconhece que '"Hegel est na origem de tudo o que se 'realizou de grande em Filosofia h um sculo - p. ex., o marxismo, Nietzsche, a Fenomenologia, o Existencialismo alemo, a Psicanlise -; ele inaugura a tentativa de explorar o irracional e integr-lo em uma razo ampliada, tentativa que permanece a tarefa de nosso sculo. Ele o inventor desta razo mais compreensvel que o entendimento que, capaz de respeitar a variedade e a singularidade dos psiquismos, das civilizaes, dos mtodos de pensamento e a contingncia da Histria, no renuncia, no entanto, a domin-los a fim de os conduzir prpria verdade ", (Sens et non-sens, p. l pag.110). Ler e interpretar Hegel , para Merleau-Ponty, tomar posio sobre todos os problemas filosficos, polticos e religiosos de nosso sculo. Do texto citado pode-se apreender as preocupaes herdadas de Hegel: a relevncia do irracional, a proposta de uma razo ampliada mais compreensiva que o entendimento, e o respeito ao individual e ao contingente. "Pode se falar de um Existencialismo de Hegel, continua Merleau-Ponty, no sentido em que ele no se prope encadear conceitos, mas revelar a lgica imanente da experincia humana em todos os seus setores". Alm disso, "o homem no (para Hegel) unia conscincia que possui claramente seus prprios pensamentos, mas uma vida dada a si-prpria, uma vida que procura compreender-se a si mesma. Toda Fenomenologa do Esprito descreve. este esforo que o homem faz para se recuperar a si mesmo". (Idem, p. 113).

A influncia mais marcante foi, no entanto, exercida pela obra de Husserl. Merleau-Ponty no o considerava um chefe, mas um mestre. A um chefe no se pode superar. E mais, superar um mestre no significa simplesmente destru-lo, recusar o momento de sua obra, e 'sim, "recomear seu esforo, reassumir, mais que suas teses, o movimento de sua reflexo'. ("Sobre a Fenomenologia,da linguagem", em Sinais, p. 123).

Ao fazer Fenomenologia, Merleau-Ponty no pretende abordar um problema de escola. Ele realmente reassume, a seu modo, o ltimo Husserl, mais facilmente identificado com a poca do Lebenswelt.

Merleau-Ponty entendeu que, para se conhecer a Fenomenologia de Husserl, importa, em primeiro lugar, no considerar cada uma de suas obras isoladamente, e no ver nelas a aplicao sucessiva decisiva e um mtodo original a temas diversos, ou uma seqncia de pontos de vista onde se exprimiria, de modo sempre novo, uma mesma intuio fundamental. Devemos, ao contrrio, ver nela um esforo paciente para levar claridade uma viso de incio obscura, tateante, de modo que as ltimas obras so, em grande medida, indispensveis compreenso das primeiras. (Cf. Thevenaz, De Husserl M. Ponty, p. 37).

O primeiro Husserl, aquele das Investigaes das Idias, das Meditaes cartesianas rejeitado por Merleau-Ponty. Ele elabora uma renovao da Fenomenologia que deixa de ser uma pretenso de cincia estrita para se tornar uma orientao para o irrefletido. Ao mesmo tempo ele reassume, a seu modo a reduo fenomenolgica, que em vez de nos conduzir a um Ego puro deve levar-nos a um sujeito encarnado, situado no mundo que antecede a reflexo. Merleau-Ponty retorna ao Lebenswelt, ao mundo da vida, s coisas mesmas como o bero do sentido.

O segundo Husserl, para Merleau-Ponty, longe de conduzr necessariamente ao Idealismo, contm em germe os temas centrais de uma filosofia existencial. Merleau-Ponty no poderia ser mais enftico ao afirmar que, se a Fenomenologia considerada como o estudo das essncias, ela tambm uma filosofia que recoloca as essncias na existncia. A presuno idealista que aparece nessa definio contrasta com as novas aquisies da postura existencial. "Longe de ser, como se acreditava, a frmula de uma filosofia idealista, a reduo fenomenolgica aquela de uma filosofia existencial'. (Prefcio, p. IX). Pode-se mesmo ver na filosofia de Merleau-Ponty a realizao da reduo fenomenolgica, e neste processo de reduo, a noo de intencionalidade exerce um papel singular. A intencionalidade deixa de ser a propriedade da conscincia para ser caracterstica de um sujeito voltado ao mundo. (Prefcio, p. VIII).

"Que Fenomenologia?", pergunta Merleau-Ponty. " o estudo das essncias', uma "filosofia que recoloca as essncias na existncia'; "uma filosofia para a qual no se pode compreender o homem e o mundo seno a partir de sua facticidade"; " uma filosofia transcendental" que coloca entre parnteses, para se compreend-las, as afirmaes da atitude natural; mas tambm a filosofia para qual o mundo sempre "dj l" antes da reflexo. alm disso "a tentativa de uma descrio direta de nossa experincia tal como , sem levar em conta a sua gnese psicolgica e as explicaes causais do cientista.

A Fenomenologia para Merleau-Ponty permaneceu longo tempo no estado de comeo de problema. Como podemos compreender isso? Renunciando a encar-la como uma moda ou um mito; - reconhecendo que a carncia de definio clara e decisiva por parte daqueles que a fundaram e a enriqueceram com suas reflexes e obras, significa exatamente isso: ela um constante recomear, um problema, ela est sempre em estado de aspirao. Podemos compreender isso, se considerarmos que a Fenomenologia "se deixa praticar e reconhecer como estilo, se deixa reconhecer como movimento" e, alm disso, se entendermos que "em ns mesmos que encontraremos a unidade da Fenomenologia e seu verdadeiro sentido' (Prefcio, p. II); se conseguirmos 'articular deliberadamente os famosos temas fenomenolgicos como eles se articularam espontaneamente na vida" (idem). Podemos perceber desde j qual o sentido da Fenomenologia para Merleau-Ponty. Seu destino como nova maneira de filosofar depende da sua articulao com a existncia concreta. Assim, entendemos como Merleau-Ponty, partindo do pressuposto hegeliano de que se deve comear pela facticidade existencial fenomenal humana, toma como ponto de partida o fenmeno do' comportamento e nele erige a percepo como contato primeiro com o mundo. E mais, como neste marco de facticidade se procede a uma transformao da subjetividade- que at o momento era caracterizada como conscincia que se abre ao mundo objetivo e, no caso de Husserl, como, conscincia reduzida, constituda. Merleu-Ponty vai at raiz da subjetividade com sua concepo do corpo-sujeito, corpo este que estabelece com o mundo uma relao pr-objetiva, pr-consciente, de carter dialtico, de, modo algum causal ou constituinte: fazer do corpo o sujeito da percepo no significa ceder ao impulso do empiricismo, mas antes tomar partido contra o racionalismo cmplice do empirismo no sentido de se ligarem ao pensamento causal. "Rejeitamos o formalismo da conscincia e fizemos do corpo o sujeito da percepo". (Phnomnologie de Ia perception, p. 260). A este corpo-sujeito iro unir-se dialeticamente muitos outros momentos: a ao, o conhecimento e outras afeies. Por esta concepo do corpo-sujeito, Merleau-Ponty recusa e supera, alm disso, o rgido dualismo cartesiano, da res cogitans e res extensa. Para Merleau-Ponty, "a relao do sujeito e do objeto no esta relao de conhecimento de que falava o idealismo clssico e no qual o objeto aparece sempre como constitudo pelo sujeito, mas uma relao de ser segundo a qual, paradoxalmente, o sujeito seu corpo, seu mundo e sua situao, e de certa forma estabelece com estes uma permuta". ("La querelle de l'existentialisme" em Sens et non-sens, p. 125).

E mais, se a Fenomenologia uma filosofia transcendental, que para explicar a atitude natural deve suspender as afirmaes desta, no se deve considerar aquela atitude transcendental como uma atitude que suprime a atitude natural, mas sim que conta com ela, j que a supresso do mundo 'material suporia, de imediato uma aceitao do idealismo, o que rejeitado por Merleau-Ponty. Alis, a prpria posio de Husserl em suas ltimas obras onde prope a volta ao Lebenswelt.

E se a Fenomenologia " a ambio de uma filosofia em ser cincia estrita" (Prefcio, p. II), continua Merleau-Ponty, " ela tambm uma resenha do espao, de tempo, do mundo 'vivido' '. (Idem). Em Exprience et jugement, Husserl afirmou: 'O retorno ao mundo da experincia o retorno ao mundo da vida, isto , ao mundo no qual ns j vivemos sempre e que constitui o solo de toda operao de conhecimento e de toda determinao cientfica" (p. 47-48 ).

Merleau-Ponty erige o Lebenswelt como o ponto de partida de sua Filosofia, ao mesmo tempo que reconhece este retorno ao mundo da vida" como a contribuio mais importante da filosofia husserliana. (Cf. As Cincias do Homem e a Fenomenologia).

A partir destes esclarecimentos apresentados por Merleau-Ponty sobre sua noo de fenomenologia, podemos compreender a importncia dos principais temas do mtodo fenomenolgico tal como apresentou Merleau-Ponty: a volta s coisas mesmas como a finalidade mesma da Fenomenologia; a reduo fenomenolgica. que ir revelar-nos nossa abertura ao mundo (intencionalidade) e aos outros. (intersubjetividade).

2. Os principais temas da Fenomenologia e sua articulao com a existncia

2.1. O retorno s coisas mesmas

Logo no incio do "Prefcio", Merleau-Ponty apresenta o que ele afirma ser a tarefa da Fenomenologia: "ll s'agit de dcrire et non pas d'expliquer ni d'analyser" (p. II). A Fenomenologia visa a descrever as coisas e no sua explicao ou anlise como uma realidade em si. E logo em seguida, Merleau-Ponty parece estabelecer um conflito entre Filosofia e Cincia. "Este primeiro lema que Husserl atribui Fenomenologia incipiente de ser uma 'psicologia descritiva' ou de retornar s coisas mesmas , de incio, o desmentido da cincia. (Idem). Muitos interpretaram tal expresso como a presena de um subjetivismo fenomenolgico em face de um objetivismo cientfico. Ou ainda como a recusa em se levar em conta as contribuies da cincia. O prprio Merleau-Ponty esclarece sua posio com o intuito de evitar novos equvocos. Tal desmentido visa, ao contrrio, no cincia enquanto tal, mas ao pretendido carter absoluto das teorias empiristas, que, assim como o intelectualismo, pressupem, sem explicitar, aquilo que julgam. "A Filosofia no cincia, porque a cincia acredita poder sobrevoar seu objeto, tendo por adquirida a correlao do saber e do ser, ao passo que a Filosofia o conjunto das questes onde aquele que questiona ele prprio, posto em causa pela questo". (Visvel e Invisvel, p. 37), H um desmentido, ento, da cincia, na medida em que se considere esta como a exterioridade mtua das partes, ligadas por certas relaes de causalidade, o que conduz ao ocultamente de nossas relaes com as coisas: o que, alis, fica claro na prpria estrutura do comportamento. E, continua Merleau-Ponty, "eu no sou o resultado do entrelaamento de causalidades mltiplas que determinam meu corpo ou meu "psiquismo".. . "Tudo o que sei a respeito do mundo, mesmo pela cincia, eu o sei a partir de uma viso minha ou de uma experincia de mundo sem a qual os smbolos da cincia no significariam nada'. (Prefcio, p. II).

O retorno s coisas no se identifica, pois, com o voltar ao objeto da cincia, nem com o voltar-se para dentro de si, para o interior da conscincia, a um subjetivismo. Mas, que ento? 'Retornar s coisas mesmas voltar-se para este mundo prvio a todo conhecimento, do qual o conhecimento fala sempre e com relao ao qual toda determinao cientfica abstrata, significativa e ' dependente, assim como a geografia com relao paisagem onde apreendemos de incio o que uma floresta, um campo, um riacho". (Idem, p. III). a volta ao mundo anterior reflexo, volta ao irrefletido, ao mundo vivido, sobre o qual o universo da cincia construdo.

Este retorno ao mundo da vida leva, como conseqncia, a rejeitar a relao cognoscitiva apresentada tanto pelo empiricismo quanto pelo intelectualismo. Para Merleau-Ponty, tanto Descartes quanto Kant introduzem na relao cognoscitiva uma conscincia testemunho desta inesma relao. "Descartes e principalmente Kant libertaram o sujeito ou a conscincia, fazendo ver que eu no poderia apreender nenhuma coisa como existente se primeiramente no me sentisse existindo no ato de apreend-la.. . ". (Prefcio, p. III). Alm disso, afirmar a supremacia da conscincia sobre o objeto reconhecer que o objeto aparece atravs da atitude sinttica do sujeito. Isso nada mais que afirmar que a relao cognoscitiva parte da existncia prvia de uma conscincia da relao e que constitui o objeto. A conscincia no se resume na tarefa de construir o mundo real em mundo, da reflexo. Admitir isso negar a nossa abertura essencial ao mundo, negar a percepo. O real -um tecido slido, diz MerleauPonty; ele no espera nossos juzos para se anexar os fenmenos mais surpreendentes nem para rejeitar nossas imaginaes mais verossmeis". (Prefcio, p. V).

Assim entendemos a descrio como conseqncia da percepo. Esta "no uma cincia do mundo, no mesmo um ato, uma tomada de posio deliberada, ela o fundo sobre ' o qual todos os atos se destacam e ela pressuposta por eles". ( Prefcio p., V). Se o " real deve ser descrito e no construdo ou constitudo quer dizer que no posso identificar a percepo s snteses que pertencem ordem do juzo, dos atos e da predicao'. (Idem I p. IV) E o mundo deixa de ser um objeto constitudo (como o para a cincia), para transformar-se na base, o meio natural e o campo de todos os meus pensamentos e de todas as minhas percepes explcitas. De novo, vemos claramente a importncia atribuda por Merleau-Ponty nossa abertura ao mundo, o que leva negao do solipsismo. "A verdade no habita o .'homem interior', ou antes no h homem interior, o homem est no mundo e no mundo que ele se conhece". (Prefcio, p. V)

O retorno s coisas ento a recuperao do nascimento do sentido do Lebenswelt. Isso se torna possvel pela reduo fenomenolgica que ir nos esclarecer justamente esta abertura ao mundo e ao outros.

2.2. A reduo fcnomenolgica

No h certamente nenhuma outra questo sobre a qual Husserl tenha dedicado mais tempo para compreender ele prprio, assim como nenhuma questo sobre a qual tenha voltado mais vezes, j que a problemtica da reduo ocupa nos inditos um lugar importante". (Prefcio, p. V).

Com esta observao Merleau-Ponty se une maioria dos intrpretes de Husserl que vem na reduo um dos pontos crticos da fenomenologia e, talvez, um dos mais difceis. (Cf. Van Breda. "La reduccin fenomenolgica", em Cahiers de Royaumont, Buenos Aires, 1968, p. 269-278. De Waelhens. Une philosophie de l'ambigit, p. 89 e seguintes). Merleau-Ponty sentiu a ambigidade ou a enigmaticidade da reduo, Mesmo assim pode-se afirmar que a postura fenomenolgica de Merleau-Ponty est estruturada sobre o fundo da reduo. Uma leitura atenta da Fenomenologia da Percepo mostra isso claramente.

Em Husserl, a reduo aparece sob formas diversas, segundo a prpria evoluo de seu pensamento. No incio de sua carreira ele entendeu a reduo fenomenolgica como a colocao entre parnteses da existncia facticial das coisas. Deste modo, ele permanecia preso a um duplo pressuposto racionalista. Em primeiro lugar ele acreditava que a existncia separvel do sentido das coisas, ou que a existncia no um predicado. Em seguida, que a existncia passvel de dvida. Husserl a concebia como sujeita dvida Tal concepo vlida no mbito epistemolgico do sculo XIX, na perspectiva de uma conscincia/interioridade, fechada sobre si mesma, que representa um "exterior". Tal tese da conscincia como representao, tese racionalista, ela prpria submetida reduo. Trata-se de um segundo aspecto da reduo que se manifesta no lema "retorno s coisas mesmas", como j vimos, que prescreve ao fenomen6logo voltar-se s coisas "naturais" tais como aparecem antes de qualquer deformao ou alterao produzida pela Filosofia ou pelo saber cientfico. (Husserl, Ides I, p. 103.) Como vimos, Merleau-Pqnty argumenta que a concepo cientfica se fundamenta sobre a experincia do mundo natural do qual ela no seno explicitao. E mais, com a evoluo do pensamento de Husserl, esta idia da conscincia como representao se tornar superada e proscrita com a introduo da noo de intencionalidade. Assim a existncia facticial no mais passvel de dvida, mas participa da certeza da pr6pria conscincia. (Cf. De Waelhens, op. cit., p. 90.).

Em suma, o objetivo primeiro da reduo fenomenolgica , como apresenta o primeiro volume das Ides, mostrar a necessidade de um elemento puro que possa servir de ponto de partida para um pensamento radical, um fundamento absoluto do conhecimento, a saber: o cogito, graas noo de intencionalidade como Sinngebung, operao ativa de significao, orientada para o cogitatum.

Merleau-Ponty, por sua parte, no aceita esta atitude da reduo fenomenolgica, como atitude idealista de um idealismo transcendental, pois ela refletiria a ruptura entre a conscincia e o cogitatum. "A reduo apresentada como o retorno a uma conscincia transcendental diante da qual o mundo se estende numa transparncia absoluta"... (Prefcio, p. V.).

Merleau-Ponty busca atingir uma autntica reflexo radical ou .tenomenolgica que sirva como meio de tomar conscincia de nossa relao ao mundo, de fazer aparecer o mundo. Ele no entende que a finalidade da reduo- seja a de nos retirar do mundo para uma conscincia pura. Ao contrrio, a reduo no deve ser considerada como um empreendimento idealista, uma volta reflexiva- a um mbito interior, ao "homem interior" de Santo Agostinho, mas sim como uma frmula de uma filosofia existencial.

A estrutura da reflexo radical ou fenomenolgica tem finalidades bem precisas: antes de tudo, superar o solipsismo de cunho intelectualista; em seguida, superar o fato da construo do objeto por parte do sujeito defendida pelo intelectualismo, afirmando enfaticamente, contra esta posio intelectualista, a preexistncia do ' mundo sobre a reflexo. "A tarefa de uma reflexo total ... consiste, de modo paradoxal, em reencontrar a experincia refletida do mundo, para recolocar nela a atitude de verificao e as operaes refletidas, e para fazer parecer a reflexo como uma das possibilidades de meu ser.' (Phnomnologie de Ia Perceptionl p. 278-279.) O mtodo fenomenolgico fornece o meio para refletir sobre esta reflexo, uma reflexo do 2.1 grau, mostrando que ela se refere ao irrefletido. "Se a reflexo no sair de si mesma no poder ser considerada verdadeira, como reflexo tambm necessita se conhecer como reflexo-sobre-um-irrefletido, e conseqentemente como uma mudana de estrutura de nossa existncia (idem p. 76).

E finalmente, mantendo como elemento fundamental o compromisso da conscincia e sua intencionalidade, Merleau-Ponty afirma claramente: "0 Cogito deve me descobrir em situao. (Prefcio, .p. VII.).

A reflexo reconhece no irrefletido o seu fundamento. E a reduo a nica forma de reflexo que no anula o irrefletido mas o manifesta. Para Merleau-Ponty, mais que para qualquer outro fenomenlogo, a colocao entre parnteses do mundo operada pela reduo significa desvelamento e surgimento do mundo-enquanto tal. V-se por a que a conscincia no mais primeira. "0 verdadeiro transcendental o mundo" (Phnomnologie de la Perception, p. 418) e no o ser (como para Heidegger), ou conscincia (para Sartre). Pela reduo, tal como a concebe Merleau-Ponty, superada a noo de conscincia fechada sobre si, tida como ponto de partida e garantia primordial do conhecimento. A conscincia se torna abertura ao outro como a si mesma. Merleau-Ponty nos ensinou reconhecer nela "o projeto de mundo, destinada ao mundo, um mundo que ela no abarca e nem possu, mas em direo ao qual ela no cessa de se dirigir". (Prefcio, p. XIII.) E, do mesmo modo, tambm, reduo nos mostrou o mundo tal como ele , antes de qualquer retorno sobre ns mesmos. "0 mundo no aquilo que eu penso, mas aquilo que vivo, sou aberto ao mundo, me comunico indubitavelmente com ele, mas no o possuo, ele inesgotvel". (Prefcio, p. XII.).

2.3. A intencionalidade

Desde o inicio do pargrafo onde aborda a noo de intencionalidade, Merleau-Ponty faz uma observao importante, a saber: que ela s compreensvel pela reduo. E mais, dizer que "toda conscincia conscincia de alguma coisa" no propriamente uma novidade. Como anota Merleau-Ponty, Kant em sua Refutao do Idealismo mostrou que "a percepo interior impossvel sem a percepo exterior, que o mundo, como conexo de fenmenos, est antecipado na conscincia de minha unidade, o meio para mim de me realizar como conscincia" ' (Prefcio, p. XII.) "Aquilo, porm", diz Merleau-Ponty, "que distingue a intencionalidade da relao kantiana com um objeto possvel a unidade do mundo, antes de ser colocada pelo conhecimento, e em um ato de identificao expresso vivida como j feita ou " j a ". (Prefcio, p. XII.) Assim, a atividade de conhecimento propriamente dita no mais primeira, em sentido absoluto.

A noo de intencionalidade aparece em Husserl na "Primeira Investigao" na "Quinta Investigao" e nas Idias. (Cf. Recherches Logiques, 2 tomos, PUF, Paris; e Ides directrices pour une Phnomnologie. Ed. Gallimard, Pars.).

Na "Primeira Investigao", a intencionalidade colocada no mbito da expresso. A palavra para Husserl sempre significativa, no pode ser reduzida a seu carter fsico. H uma unidade entre o som verbal e a inteno significativa. A este propsito Levinas assinala que "relao de intencionalidade nada tem a ver com as relaes entre objetos reais. ' essencialmente o ato de atribuir um sentido (Sinngebung). A exterioridade do objeto representa a prpria exterioridade daquilo que pensado com relao ao pensamento que o visa. O objeto constitui, assim, um momento inelutvel do prprio fenmeno de sentido". (Levinas, En dcouvrant l'existence avec Husserl et Heidegger, p. 22.) Deste modo, continua Levinas, "a intencionalidade designa uma maneira para o pensamento de conter idealmente outra coisa que ela mesma". (Idem, p. 22.) Sendo a conscincia uma visada daquilo que' ela no , o seu ato de expresso no pode se identificar com aquilo que ela exprime.

Na "Quinta Investigao", Husserl estabelece a noo de intencionalidade, partindo de trs noes da conscincia: I) a conscincia como consistncia fenomenolgica do real, do eu emprico como entrelaamento das vivncias psquicas na unidade de seu curso; 2) a conscincia como percepo interna das vivncias psquicas prprias; e 3) a conscincia como nome coletivo para a dita classe de atos psquicos ou vivncias intencionais. (Cf. Recherches Logiques, tomo 2, p.141 e seguintes.) Na terceira noo de conscincia, Husserl deixa de lado os limites impostos por Brentano ao ato psquico para ceder o lugar vivncia intencional. Brentano apresenta vrias caractersticas do ato psquico; Husserl, porm, retm s duas: a que afirma o carter referencial ou intencional da conscincia, e aquela na qual Brentano afirma que os atos psquicos ou so representaes ou repousam em representaes. Husserl, alis, ir rejeitar a concepo da conscincia representativa. O mbito limitado deste trabalho no nos permite, entretanto, um aprofundamento desta questo. Isso no significa, no entanto, negar sua relevncia.

No Prefcio, Merleau-Ponty aponta que Husserl distingue a, intencionalidade de ato, (a de nossos juzos e nossas tomadas de posio voluntrias) e a intencionalidade operante, "aquela que faz a unidade natural e antepredicativa do mundo e de nossa vida, que aparece em nossos desejos, em nossas apreciaes, em nossa paisagem, mais claramente que no conhecimento objetivo". (p. XIII.) Esta noo ampliada de intencionalidade permite distinguir a compreenso fenomenolgica da inteleco clssica. Merleau-Ponty retoma a intencionalidade husserliana desvinculada de seu carter solipsisita. Alm disso, tal distino entre intencionalidade de ato e intencionalidade operante no pode ser concebida no mbito de uma conscincia pura. "Trata-se com a intencionalidade, observa o prof. De Waelhens, de reconhecer que a conscincia ou o eu so abertura, disposio ao outro, negao do repouso em si mesma e sobre si mesma, e, portanto, de certo modo, negatividade. Que a conscincia, em outros termos, no uma interioridade pura, mas que ela deve ser compreendida como sada de si" (1)*. Assim, entende a preocupao obstinada de Merleau-Ponty em negar a idia de uma conscincia representativa, preocupao, alis, como j disse, presente em Husserl. Ainda a este propsito, De Waelhens nos relembra a nfase com que na obra Da essncia da verdade Heidegger tambm rejeita conscincia representativa e concebe o comportamento' como abertura. (Cf. artigo citado, p. I 19.).

Conforme Merleau-Ponty, devemos "reconhecer a conscincia como projeto do mundo que ela no abarca nem possui, mas em direo ao qual ela no cessa de se dirigir". (Prefcio p. XII-XIII.)

A intencionalidade operante identfica-se com toda atividade do sujeito que deixou de ser propriedade de uma conscincia isolada e constituinte, a prpria abertura ao mundo de um sujeito carnal, corporal. Na verdade, a caracterstica primordial de nossa relao com o mundo no a percepo predicativa, mas a percepo carnal, corporal. "Deve-se, portanto, desde que se resolveu identificar, como se deve, conscincia e intencionalidade, resolver-se tambm a rejeitar a identificao da conscincia com a transparncia, deve-se resolver a conceber, de imediato e irredutivelmente, o ser consciente como um ente real, isto , como uma conscincia radicalmente encarnada". (Artigo citado, p. 123.)

Para Merleau-Ponty, a intencionalidade urna relao dialtica onde surge o sentido. "Porque estamos no mundo, estamos condenados ao sentido e no podemos fazer nada ou nada dizer que no tenha um nome na histria." (Prefcio P. XIV.) E ser o mundo da percepo que se nos revelar como o "bero das significaes, sentido de todos os sentidos e o solo de todos os pensamentos". (Phnomnologie de la Perception, p. 492.) O sentido surge de nossa relao com o mundo e com os outros. E, para Merleau-Ponty, este sentido inextricavelmente misturado com o no-sentido, uma vez que a reduo no jamais completa.

3. Concluso

"A mais importante aquisio da Fenomenologia sem dvida ter unido o extremo subjetivismo e o extremo objetivismo em suas noes de mundo ou da racionalidade". (Prefcio, p. XV.) A noo de mundo tal como foi retomada por Merleau-Ponty se tornou inegavelmente uma das principais contribuies da Fenomenologia para o pensamento filosfico contemporneo. O mundo fenomenolgico, para Merleau-Ponty, no o ser puro "mas o sentido que transparece na interseo de minhas experincias com as do outro, pela engrenagem de umas sobre as outras; ele , pois, inseparvel da subjetividade e da intersubjetividade, que faz sua unidade pela retomada de minhas experincias passadas em minhas experincias presentes, da experincia do outro na minha." (Prefcio,_ p. XV.).

E' ao mundo que devemos creditar nossa "condenao ao sentido", no como, contemplao ou construes de significados, mas como inerncia na ao histrica e poltica, "A verdadeira filosofia a de reaprender a ver o mundo ... Ns temos em mos nossa sorte, tornamo-nos responsveis por nossa histria por meio da reflexo, mas tambm por uma deciso em que engajamos nossa vida e 'nos dois casos trata-se de um ato violento que se verifica ao se exercer." (Prefcio, p. XVI.).

A tarefa da Fenomelonogia revelar este mundo vivido antes de ser significado, mundo onde estamos, solo de nossos encontros com o outro, onde se descortinam nossa histria, nossa.s aes, nosso engajamento, nossas decises.

Que me seja permitido, para concluir, transcrever um trecho escrito por Ricoeur em seu livro Histria e Verdade, que revela a importncia, o sentido e o alcance da noo de mundo, noo que se aproxima daquela de Merleau-Pont'y, que assegurou enfaticamente Filosofia a tarefa de ns reaprendermos a v-lo.

"0 mundo", afirma Ricoeur, "no mais a unidade de um objetivo abstrato, de uma forma da razo, mas o horizonte mais concreto de nossa existncia. Pode-se tornar isso sensvel de maneira muito elementar: ao nvel da percepo que se destaca esse horizonte nico de nossa vida de homem. A percepo a matriz comum de todas as atitudes. no mundo percebido, no mundo que envolve minha existncia carnal, que se erguem os laboratrios e se realizam os clculos do sbio, as casas, as bibliotecas, os museus,e s igrejas. Os 'objetos' da cincia esto nas 'coisas' do mundo: os tomos e os eltrons so estruturas que do conta deste mundo-vivido-por-mim-carne-e-esprito. O prprio sbio s lhes determina a situao pelos instrumentos que v, toca, ouve, como v o Sol erguer-se e deitar-se; como ouve uma exploso, como toca uma flor ou um fruto. Tudo se realiza neste mundo. tambm nesse mundo-de-minha-vida que uma esttua bela, que uma morte herica, que uma prece humilde. neste mundo-de-minha-vida, e no o mundo da cincia, que transfigurado em criao aos olhos do salmista: so as rvores que 'batem palmas' e no os eltrons ou os neutrons. A doutrina da criao que os judeus elaboraram partindo de sua f no Senhor da Histria, partindo de sua experincia da Aliana, um prosseguimento do mundo da percepo e no do mundo da cincia; o mundo onde o Sol se ergue e se pe, onde os animais suspiram pela gua das fontes; esse inundo primordial que se transfigura em Palavra criadora. nesse sentido que o mundo-de-minha-vida o hmus de todos os meus atos, o solo de todas as minhas atitudes, a camada primordial, anterior, a toda multiplicidade cultural".

"Mas que significa isso? - Essa unidade tambm no a posso aprender, dominar, entend-la e express-la em um discurso coerente. Pois essa camada primordial de toda experincia a realidade prvia de todas as circunstncias; ela "sempre-j-antes" e chego tarde demais para exprimir. O mundo a palavra que tenho na ponta da lngua e que jamais pronunciarei; est presente, mas apenas comeo a proferi-la, j se tornou mundo do cientista, mundo do artista e mundo de tal artista: mundo de Van Gogh, de Czanne, de Matice, de Picasso.

"A unidade do mundo por demais preliminar para poder ser possuda, por demais vivida para ser sabida. Desaparece, mal reconhecida. talvez por isso que uma fenomenologia da percepo, que aspirasse a dar-nos a filosofia de nosso-estar-no-mundo, algo to difcil quanto a, busca do paraso. A unidade do mundo a partir da qual se desdobrara' todas as atitudes apenas o horizonte de todas essas atitudes."

(*) Publicado em Temas Fundamentais de Fenomenologia. So Paulo. Editora Moraes. 1984.

Newton Aquiles von Zuben

Doutor em Filosofia - Universit de Louvain

Professor Titular - Faculdade de Educao da UNICAMP

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