introdução orçamento e contabilidade...
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Projeto Pós-graduação
Curso MBA em Administração Pública e Gerência de
Cidades
Disciplina Contabilidade Pública
Tema O orçamento público e o seu relacionamento com a
contabilidade aplicada ao Setor Público
Professor Marinei Abreu Mattos
Introdução
A Administração Pública, para conseguir promover o bem-estar social e
continuar oferecendo à sociedade os serviços públicos e os investimentos
necessários para atender a demanda da sociedade, necessita auferir receitas. A
fim de atender as demandas, acaba gerando dispêndios.
O ato de auferir receitas e gerar despesas é caracterizado por estudiosos
na área de Gestão Pública como atividade financeira do Estado.
Orçamento e contabilidade pública
Assista à videoaula da professora antes de iniciarmos os nossos estudos.
(vídeo disponível no material on-line)
Conforme Junior (2008), a atividade financeira do Estado corresponde ao
desempenho das atividades políticas, sociais, econômicas, administrativas,
entre outras; é o que constitui sua finalidade precípua, com finalidade de atender
a demandas sociais. Consiste, ainda, em obter, criar, gerir e despender o
dinheiro indispensável ao custeio das necessidades públicas.
A atividade financeira do Estado é desempenhada ou desenvolvida em
quatro áreas:
Receita Pública – obter
Despesa Pública – despender
Orçamento Público – gerir
Crédito Público – criar
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Devemos compreender que “o crédito público é um dos processos pelos
quais o Estado pode obter uma receita pública.” Podemos usar como exemplo
um empréstimo, o qual necessariamente deverá ser reembolsado.
Orçamento público
Conforme Kohama (2008), “o governo tem como responsabilidade
fundamental dar o melhor nível dinâmico de bem-estar à coletividade”. Para que
isso ocorra, o ente público irá se utilizar de planejamento para direcionar seus
esforços.
Para que o governo consiga alcançar os objetivos planejados, deverá se
nortear pela Lei n. 4.320/64 e pela Lei complementar n. 101/2000, conhecida
popularmente como Lei de Responsabilidade Fiscal. Em seu artigo primeiro,
no parágrafo primeiro, essa lei estabelece normas de finanças públicas:
§ 1º. A responsabilidade da gestão fiscal pressupõe a ação planejada
e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes
de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de
metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência aos
limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de
despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívida
consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por
antecipação de receita, concessão de garantia e inscrição em restos a
pagar. (Lei complementar n. 101/2000).
Podemos concluir que o gestor público deve controlar e monitorar os
recursos que estão sobre sua administração para que não afete o equilíbrio fiscal
das contas públicas. Dessa forma, necessita acompanhar o planejamento do
orçamento público, não se esquecendo de que todas as suas ações devem estar
pautadas principalmente nas restrições ou nas limitações da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Diante da argumentação apresentada, podemos aferir que:
O orçamento é o instrumento de que dispõe o Poder Público para
expressar, em determinado período, seu programa de atuação,
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discriminando a origem e o montante dos recursos a serem obtidos,
bem como a natureza e o montante dos dispêndios a serem efetuados
(JUNIOR, 2013).
A elaboração do orçamento público é direcionado por políticas públicas,
instrumentos públicos e atende ao mandamento constitucional.
Fonte: Adaptado de Corbary (2013).
Plano Plurianual (PPA)
O plano plurianual é um plano de médio prazo, por meio do qual se
procura ordenar as ações do governo que levam ao atingimento dos objetivos e
das metas fixados para um período de quatro anos ao nível do governo federal
e, também, de quatro anos ao nível dos governos estaduais e municipais.
A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada,
as diretrizes, os objetivos e as metas da Administração Pública para as despesas
de capital e outras decorrentes e, também, para aquelas relativas aos programas
de duração continuada (KOHAMA, 2008).
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Devemos, ainda, evidenciar que existe na nossa Constituição dispositivos
a serem contemplados na instituição do plano plurianual, complementada pela
Lei de Responsabilidade Fiscal (KOHAMA, 2008).
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO)
Tem a finalidade de nortear a elaboração dos orçamentos anuais –
compreendidos aqui o orçamento fiscal, o orçamento de investimento das
empresas e o orçamento da seguridade social –, de forma a adequá-los às
diretrizes, aos objetivos e às metas da Administração Pública, estabelecidos no
Plano Plurianual.
A LDO compreenderá as metas e as prioridades da Administração
Pública, incluindo as despesas de capital para exercícios financeiros
subsequentes, e orientará a elaboração da Lei Orçamentária Anual. Disporá,
ainda, sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de
aplicação das agências financeiras e oficiais de fomento (KOHAMA, 2008).
Lei de Orçamentos Anuais (LOA)
Tem como finalidade viabilizar a concretização das situações planejadas
no Plano Plurianual e transformá-las em realidade, obedecendo a Lei de
Diretrizes Orçamentárias.
Elabora-se o orçamento anual, onde são programadas as ações a serem
executadas. A Lei Orçamentária Anual compreenderá:
Orçamento Fiscal;
Orçamento de investimento;
Orçamento da Seguridade Social (KOHAMA, 2008).
Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro
poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual ou sem lei que
autorize essa inclusão, sob crime de responsabilidade.
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O artigo 5º da Lei de Responsabilidade Fiscal traz disposições que devem
ser contempladas na elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual,
conforme a seguir:
Deve ser compatível com o Plano Plurianual e com a Lei de Diretrizes
Orçamentárias;
Deve conter o demonstrativo da compatibilidade da programação dos
orçamentos com os objetivos e as metas constantes no Anexo de Metas
Fiscais da LDO;
Será acompanhado de demonstrativo do efeito sobre as receitas e as
despesas decorrentes e isenções, anistias, remissões, subsídios e
benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia, bem como das
medidas de compensação à renúncia de receitas e ao aumento de
despesas obrigatórias de caráter continuado;
Deve conter reservas de contingências, que podem ser calculadas
utilizando-se o percentual sobre a receita corrente líquida destinada ao
atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais
imprevistos;
Deve conter todas as despesas relativas à dívida pública, mobiliária ou
contratual, e as receitas que as atenderão constarão na Lei Orçamentária
Anual;
Deve conter o refinamento da dívida pública, que constará
separadamente, e as de crédito adicional;
É vedado consignar crédito com finalidade imprecisa ou dotação ilimitada;
Não consignará dotação para investimento com duração superior a um
exercício financeiro que não esteja no Plano Plurianual ou em lei que
autorize a sua inclusão.
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Podemos aferir que os instrumentos PPA, LDO e LOA possibilitam que o
gestor público oriente suas ações visando contemplar o que foi planejado no
orçamento. Atingindo, dessa forma, as metas definidas e demonstrando, por
meio da contabilidade, os resultados auferidos pelos gestores públicos.
Relevância da contabilidade no ciclo orçamentário
Segundo Kohama (2008), a contabilidade é um instrumento que
proporciona à administração as informações e os controles necessários à melhor
condução dos negócios públicos. Por meio dela, os atos e os fatos da
Administração Pública são registrados.
Os atos e os fatos administrativos registrados pela contabilidade permitem
que os gestores elaborem padronizações, comparações e análises,
possibilitando os riscos nas tomadas decisões.
Isso quer dizer que a contabilidade pública deve abastecer de
informações todo o processo de planejamento e orçamentação e, em especial,
as etapas que compõem o ciclo orçamentário: a elaboração, o estudo e a
aprovação, a execução e a avaliação dos resultados, assim como o controle e o
processo de divulgação da gestão realizada (KOHAMA, 2008).
Devemos observar que a contabilidade tornou-se a principal fonte de
informativo dos instrumentos da chamada “Transparência da Gestão Fiscal”, a
qual ocorre por meio da divulgação dos instrumentos de gestão e o relatório
contábil.
Segundo um dos pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal, o ente público
deve realizar uma divulgação ampla dos instrumentos de gestão fiscal, inclusive
em meios eletrônicos de acesso público. Os instrumentos divulgados são:
Os planos;
Orçamentos e leis de
diretrizes orçamentárias;
As prestações de contas e o
respectivo parecer prévio;
O relatório resumido da
execução orçamentária;
Relatório de gestão fiscal;
Relatórios Contábeis;
Balanço Patrimonial;
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Balanço Financeiro;
Balanço Orçamentário;
Demonstrações das
Variações Patrimoniais;
Demonstração do Fluxo de
Caixa;
Demonstração das Mutações
do Patrimônio Líquido;
Notas explicativas.
A contabilidade aplicada ao setor pública busca, enquanto instrumento de
gestão, controlar tanto as operações financeiras quanto as patrimoniais. Assim,
realiza o registro, o controle, a análise e a interpretação de todos os atos e fatos
da Administração Pública.
Podemos entender, ainda, que a contabilidade voltada à área pública
evidenciará a posição ou a situação de todos que, de algum modo, arrecadam
receitas, efetuam despesas, gerenciam ou administram bens ou recursos
públicos.
Para a compreensão do ciclo orçamentário, devem ser observadas as
etapas do processo que contemplam o orçamento como: elaboração, estudo e
aprovação, execução e avaliação.
Elaboração
A elaboração do orçamento deve contemplar as diretrizes orçamentárias,
compreendendo a fixação de objetivos concretos para o período previsto. Deve
ser observado e mensurado o cálculo de recursos humanos, materiais e
financeiros, necessários à sua perfeita materialização e concretização.
O trâmite da elaboração do orçamento ocorre da seguinte forma: o poder
executivo deverá enviar o projeto de lei orçamentária ao poder Legislativo dentro
dos prazos estabelecidos.
Conforme Kohama (2008), no âmbito federal, o prazo termina em 31 de
agosto, e o Estado de São Paulo deve obedecer o prazo de até dia 30 de
setembro; já os municípios devem obedecer o prazo estabelecido na sua Lei
Orgânica.
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Estudo e aprovação
É de competência do poder legislativo. O seu significativo está
configurado na necessidade de que o povo, por meio dos representantes,
intervenha na decisão das próprias aspirações, bem como na maneira de
alcançá-las.
Segundo Kohama (2008), o poder executivo deverá enviar o projeto de lei
orçamentária ao poder legislativo dentro dos prazos estabelecidos; entretanto,
até o encerramento da sessão legislativa, o poder legislativo deverá devolvê-lo
para sanção.
Execução
É a etapa do clico orçamentário que corresponde à concretização anual
dos objetivos e das metas determinados para o setor público no processo de
planejamento integrado e implica a mobilização de recursos humanos, materiais
e financeiros.
Conforme Kohama (2008), a etapa de execução deve, necessariamente,
fundamentar-se na programação – não apenas para ajustar-se às orientações
estabelecidas no orçamento aprovado, mas também para alcançar a máxima
racionalidade possível na solução de problemas que decorrem da
impossibilidade de se fazer uma previsão exata sobre detalhes ligados à
execução das modificações produzidas nas condições vigentes à época da
elaboração do orçamento.
Avaliação
Para Kohama (2008), a etapa de avaliação refere-se à organização, aos
critérios e aos trabalhos destinados a julgar o nível dos objetivos fixados no
orçamento e as modificações nele ocorridas durante a execução. Corresponde,
ainda, à eficiência com que se realizam as ações empregadas para tais fins e o
grau de racionalidade na utilização dos recursos correspondentes.
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Princípios orçamentários: universalidade, equilíbrio e
transparência
Conforme Junior (2013), “os princípios orçamentários visam estabelecer
regras norteadoras básicas, a fim de conferir racionalidade, eficiência e
transparência para os processos de elaboração, execução e controle do
orçamento público”.
O referido autor ainda esclarece o alcance dos princípios orçamentários:
“Válidos para os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de todos os entes
federativos – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – são estabelecidos
e disciplinados por normas constitucionais, infraconstitucionais e pela doutrina”
(JUNIOR, 2013).
O Manual de Contabilidade aplicada ao setor público apresenta nove
princípios orçamentários.
Unidade ou totalidade
Previsto, de forma expressa, pelo caput do art. 2 da Lei n. 4.320, de 1964,
determina a existência de orçamento único para cada um dos entes federados –
União, Estados, Distrito Federal e Municípios –, com a finalidade de se evitarem
múltiplos orçamentos paralelos dentro da mesma pessoa política.
Dessa forma, todas as receitas previstas e as despesas fixadas em cada
exercício financeiro devem integrar um único documento legal dentro de cada
esfera federativa: a Lei Orçamentária Anual (Manual do STN, 2013).
Universalidade
Estabelecido, de forma expressa, pelo caput do art. 2 da Lei n. 4.320, de
1964, recepcionado e normatizado pelo §5 do art. 165 da Constituição Federal,
determina que a LOA de cada ente federado deverá conter todas as receitas e
as despesas de todos os poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações
instituídas e mantidas pelo Poder Público (Manual do STN, 2013).
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Anualidade ou periodicidade
Estipulado, de forma literal, pelo caput do art. 2 da Lei n. 4.320, de 1964,
delimita o exercício financeiro orçamentário: período de tempo ao qual a previsão
das receitas e a fixação das despesas registradas na LOA irão se referir.
Segundo o art. 34 dessa mesma lei, o exercício financeiro coincidirá com
o ano civil, ou seja, de 1 de janeiro a 31 de dezembro de cada ano (Manual do
STN, 2013).
Exclusividade
Previsto no §8 do art. 165 da Constituição Federal, estabelece que a LOA
não conterá dispositivos estranhos à previsão da receita e à fixação da despesa.
Ressalvam-se dessa proibição a autorização para a abertura de crédito
suplementar e a contratação de operações de crédito, nos termos da lei (Manual
do STN, 2013).
Orçamento bruto
Previsto pelo art. 6 da Lei n. 4.320, de 1964, obriga a registrarem-se
receitas e despesas na LOA pelo valor total e bruto, vedadas quaisquer
deduções (Manual do STN, 2013).
Legalidade
Apresenta o mesmo fundamento do princípio da legalidade aplicado à
Administração Pública, segundo o qual cabe ao Poder Público fazer ou deixar de
fazer somente aquilo que a lei expressamente autorizar, ou seja, se subordina
aos ditames da lei.
A CF/88, em seu art. 37, estabelece os princípios da Administração
Pública, dentre os quais o da legalidade e, no seu art. 165, estabelece a
necessidade de formalização legal das leis orçamentárias:
“Art. 165 - Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão:
I – o plano plurianual;
II – as diretrizes orçamentárias;
III – os orçamentos anuais (Manual do STN, 2013)”
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Publicidade
Princípio básico da atividade da Administração Pública no regime
democrático que está previsto no caput do art. 37 da CF/88. Justifica-se
especialmente pelo fato de o orçamento ser fixado em lei, sendo esta a que
autoriza os poderes a execução de suas despesas (Manual do STN, 2013).
Transparência
Aplica-se, também, ao orçamento público, pelas disposições contidas nos
artigos 48, 48-A e 49 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que determinam ao
governo:
Divulgar o orçamento público de forma ampla à sociedade;
Publicar relatórios sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal;
Disponibilizar, para qualquer pessoa, informações sobre a arrecadação
da receita e a execução da despesa (Manual do STN, 2013).
Não vinculação (não afetação) da receita de impostos
O inciso IV do art. 167 da CF/88 veda vinculação da receita de impostos
a órgão, fundo ou despesa, salvo exceções estabelecidas pela própria
Constituição Federal:
Art. 167 - São vedados:
[...] IV - a vinculação de receita de impostos a órgãos, fundo ou
despesa, ressalvada a repartição do produto da arrecadação dos
impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos
para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e
desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da
administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos
arts. 198, §2, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações
de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, §8, bem
como o disposto no §4 deste artigo; (Redação dada pela Emenda
Constitucional n. 42, de 19.12.2003);
[...] §4. É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos
impostos a que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que
tratam os arts. 157, 158 e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia
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ou contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta.
(Incluído pela Emenda Constitucional n. 3, de 1993). (Manual do STN,
2013).
A exposição dos princípios orçamentários pelo Manual de Contabilidade
aplicada ao setor público tem foco principal nortear ou estabelecer diretrizes
orientadoras na elaboração e na execução do mesmo pelos gestores públicos.
No entanto, Junior (2008) destaca três princípios que considera premissas
fundamentais, as quais devem ser contempladas na elaboração e na execução
orçamentária:
Princípio da universalidade
Foi estabelecido, de forma expressa, pelo caput do art. 2 da Lei n.
4.320/64, recepcionado e normatizado pelo §5 do art. 165 da CF/88 e determina
que a LOA de cada ente federado deverá conter todas as receitas e despesas
de todos os poderes, órgãos, entidades, fundos e fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público (JUNIOR, 2008).
Princípio do equilíbrio
Deve haver compatibilidade entre receita e despesa, de forma que as
contas públicas não sejam afetadas por déficits. O equilíbrio formal do orçamento
é observado quando a lei orçamentária prevê receitas e fixa despesas em
montantes iguais. O equilíbrio material está mais ligado à execução equilibrada
do orçamento do que à sua publicação com montantes iguais de receita e
despesa (JUNIOR, 2008).
Princípio da transparência
Aplica-se ao orçamento público, pelas disposições contidas nos artigos
48-A e 49 da Lei de Responsabilidade Fiscal, que determinam ao governo:
divulgar o orçamento público de forma ampla à sociedade; publicar relatórios
sobre a execução orçamentária e a gestão fiscal; disponibilizar, para qualquer
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pessoa, informações sobre a arrecadação da receita e a execução da despesa
(JUNIOR, 2008).
Receitas públicas
Dentre os diversos fatores que são utilizados pelo ente público, alguns
merecem destaque, como é o caso da receita pública.
Mas o que vem a ser receita pública?
Podemos definir como o conjunto de recursos que o estado arrecada de
forma compulsória da sociedade, com vistas a fazer frente às despesas
correntes, e de capital decorrentes do cumprimento de suas funções.
Ainda podemos compreender que as receitas públicas são as entradas de
recursos necessários para a manutenção das atividades do ente público,
entendimento que, por sua vez, está previsto no orçamento público.
No manual emitido pelo STN sobre contabilidade pública, é exposto um conceito
mais amplo sobre as receitas dentro das perspectivas orçamentárias:
Em sentido amplo, os ingressos de recursos financeiros nos cofres do
estado denomina-se receitas públicas, registradas como receitas
orçamentárias, quanto representam disponibilidades de recursos
financeiros para o erário, ou ingressos extraorçamentários, quanto
representam apenas entradas compensatórias”.
Podemos perceber que o conceito exposto no manual é bastante
abrangente, em virtude das situações que podem ocorrer de entrada de recursos
nos cofres públicos.
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Para efetivo reconhecimento da receita, a mesma passa por algumas
etapas, conforme a figura a seguir:
Alguns estudiosos discutem as etapas de reconhecimento da receita, pois
consideram que deve ser feita uma distinção entre uma etapa que antecede a
previsão da receita, ou seja, o planejamento da receita. Assim, devemos
destacar que o planejamento da receita é previsto na LOA, onde são
descritas suas metodologias e disposições, sendo que a LRF também
aborda sobre o assunto.
No entanto, para facilitar, vamos seguir a abordagem utilizada no Manual
de Contabilidade aplicada ao setor público, até para compreender a interligação
das etapas de planejamento e previsão.
As etapas da receita, ou também conhecidos como estágios,
correspondem ao momento da execução da receita no processo de realização
(BERNARDONI; CRUZ, p. 67, 2010). A seguir iremos abordar as etapas da
receita.
Previsão: É compreendida como a etapa de previsão da arrecadação da
receita orçamentária contemplada na Lei Orçamentária Anual e, também,
atendendo às disposições constantes na LRF.
Receita
(planejamento e previsão)
Lançamento Recolhimento Arrecadação
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Lançamento: O art. 53 da Lei no 4.320/1964 define o lançamento como
ato da repartição competente, que verifica a procedência do crédito fiscal
e a pessoa que lhe é devedora e inscreve o débito desta. Por sua vez,
para o art. 142 da Lei n. 5.172/66, do Código Tributário Nacional (CTN),
lançamento é o procedimento administrativo que verifica a ocorrência do
fato gerador da obrigação correspondente, determina a matéria tributável,
calcula o montante do tributo devido, identifica o sujeito passivo e, sendo
o caso, propõe a aplicação da penalidade cabível. Uma vez ocorrido o fato
gerador, procede-se ao registro contábil do crédito tributário em favor da
fazenda pública, em contrapartida a uma variação patrimonial
aumentativa.
Recolhimento: É a transferência dos valores arrecadados à conta
específica do Tesouro, responsável pela administração e pelo controle da
arrecadação e programação financeira, observando-se o princípio da
unidade de tesouraria ou de caixa, conforme determina o art. 56 da Lei n.
4.320/64.
Arrecadação: Corresponde à entrega dos recursos devidos ao Tesouro
pelos contribuintes ou devedores, por meio dos agentes arrecadadores
ou instituições financeiras autorizadas pelo ente. Vale destacar que,
segundo o art. 35 da Lei n. 4.320/64, pertence ao exercício financeiro as
receitas nele arrecadadas, o que representa a adoção do regime de caixa
para o ingresso das receitas públicas.
Origem da receita
Conforme o Manual de Contabilidade, as receitas públicas são
classificadas em categorias econômicas da seguinte forma: receitas correntes e
receitas de capital, com vistas a identificar a natureza da procedência das
receitas no momento em que ingressam no orçamento público.
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A lei n. 4320/64 descreve os códigos para as receitas correntes e de
capital:
O esquema a seguir apresenta a categorização da receita conforme sua
origem:
Receitas correntes: são definidas como o conjunto de receitas tributárias –
impostos, taxas e contribuições de melhorias –, somadas às receitas
patrimoniais, industriais e receitas diversas, mais os recursos obtidos
mediante a transferência para a aplicação em despesas correntes
(ASSUMPÇÃO, 2011, p. 83).
Receitas de capital: são aquelas provenientes de operações de crédito e de
amortização de empréstimos e financiamentos, resultado da alienação do
patrimônio e ainda transferências previamente vinculadas a despesas de
capital (ASSUMPÇÃO, 2011, p. 85).
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Já estudamos que o orçamento é um instrumento relevante para qualquer
tipo de empresa, seja pública ou privada, pois é um instrumento de planejamento
e controle do fluxo de recursos a disposição do ente público. Dessa forma, a
receita é um dos recursos controlados pelo orçamento que tem um impacto sobre
a situação patrimonial para fins contábeis – quanto ao impacto na situação
líquida patrimonial, a receita pode ser “efetiva” ou “não efetiva”.
Conforme o Manual de Contabilidade (2013):
Em sentido amplo os ingressos de recursos financeiros nos cofres do
Estado denominam-se receitas públicas, registradas como receitas
orçamentárias, quando representam disponibilidades de recursos
financeiros para o erário, ou ingressos extraorçamentários, quando
representam apenas entradas compensatórias. Em sentido estrito,
chamam-se públicas apenas as receitas orçamentárias.
Despesas públicas
A despesa pública constitui-se nos gastos públicos. “É por meio desta que
o governo estabelece uma série de prioridades no que se refere à prestação de
serviços públicos básicos, aos investimentos em prol do interesse geral da
comunidade e ao custeio de diferentes setores da administração”
(BERNARDONI e CRUZ, 2011, p. 94).
Conforme estudamos anteriormente, o orçamento é o instrumento usado
pelo ente público para controlar alguns fatores que são essenciais para que o
mesmo consiga cumprir seus objetivos, que é atender a sua função social.
Receita orçamentária efetiva: aquela que, no momento do reconhecimento
do crédito, aumenta a situação líquida patrimonial da entidade.
Receita orçamentária não efetiva: aquela que não altera a situação líquida
patrimonial no momento do reconhecimento do crédito e, por isso, constitui
fato contábil permutativo, como é o caso das operações de crédito.
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Devemos compreender, portanto, que a despesa pública é o conjunto de
dispêndios realizados pelos entes públicos para o funcionamento e a
manutenção dos serviços públicos prestados à sociedade.
Para fins contábeis, a despesa orçamentária pode ser classificada quanto
ao impacto na situação líquida patrimonial em:
Natureza da despesa orçamentária
As despesas públicas são classificadas em: categoria econômica, grupo
de natureza da despesa e elemento de despesa.
No entanto, devemos esclarecer que existe o desdobramento da despesa
orçamentária por modalidade de aplicação, cuja finalidade é indicar se os
recursos são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da
mesma esfera de governo ou por outro ente da Federação e suas respectivas
entidades, eliminando a duplicidade de recursos por ocasião da consolidação
dos balanços públicos (ASSUMPÇÃO, 2011, p. 103).
A natureza da despesa será complementada pela informação gerencial
denominada modalidade de aplicação, a qual tem por finalidade indicar se os
recursos são aplicados diretamente por órgãos ou entidades no âmbito da
mesma esfera de Governo ou por outro ente da Federação e suas respectivas
entidades. O objetivo é, precipuamente, possibilitar a eliminação da dupla
contagem dos recursos transferidos ou descentralizados (Manual, STN, 2013).
Estrutura da natureza da despesa orçamentária
Os artigos 12 e 13 da Lei n. 4.320/64 tratam da classificação da despesa
orçamentária por categoria econômica e elementos. Assim, como na receita
Despesa orçamentária efetiva: aquela que, no momento de sua realização,
reduz a situação líquida patrimonial da entidade.
Despesa orçamentária não efetiva: aquela que, no momento da sua
realização, não reduz a situação líquida patrimonial da entidade e constitui
fato contábil permutativo.
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orçamentária, o art. 8 estabelece que os itens da discriminação da despesa
mencionada no art. 13 serão identificados por números de código decimal, na
forma do Anexo IV da referida lei, atualmente consubstanciados na Portaria
Interministerial STN/SOF n. 163/2001 e constantes desse manual.
O conjunto de informações que constitui a natureza de despesa
orçamentária forma um código estruturado que agrega a categoria econômica, o
grupo, a modalidade de aplicação e o elemento. Essa estrutura deve ser
observada na execução orçamentária de todas as esferas de governo.
O código da natureza de despesa orçamentária é composto por seis
dígitos, desdobrado até o nível de elemento ou, opcionalmente, por oito dígitos,
contemplando o desdobramento facultativo do elemento: a classificação da
reserva de contingência, bem como a reserva do regime próprio de Previdência
Social. Quanto à natureza da despesa orçamentária, serão identificadas com o
código “9.9.99.99”, conforme estabelece o parágrafo único do art. 8 da Portaria
Interministerial STN/SOF n. 163/2001.
O elemento de despesa tem por finalidade identificar os objetos de gasto,
tais como vencimentos e vantagens fixas, juros, diárias, material de consumo,
serviços de terceiros prestados sob qualquer forma, subvenções sociais, obras
e instalações, equipamentos e material permanente, auxílios, amortização e
outros que a Administração Pública utiliza para a consecução de seus fins.
A descrição dos elementos pode não contemplar todas as despesas a
eles inerentes, sendo, em alguns casos, exemplificativa (STN, Manual, 2013):
Exemplo 1: Grupo de natureza da despesa
1. Pessoal e encargos sociais;
2. Juros e encargos da dívida;
3. Outras despesas correntes;
4. Investimentos;
5. Inversões financeiras;
6. Amortização da dívida.
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Exemplo 2: Elemento de despesa
1. Aposentadorias do RPPS, reserva remunerada e reforma dos
militares;
2. Pensões do RPPS e do militar;
3. Contratação por tempo determinado;
4. Outros benefícios previdenciários do servidor ou militar;
5. Outros.
Etapas da despesa orçamentária
Assim como a receita, a despesa também tem estágios, que são previstos
pela na Lei n 4.320/64: empenho, liquidação e pagamento. Confira!
Empenho
Segundo o art. 58 da Lei n. 4.320/64, é o ato emanado de autoridade
competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não
de implemento de condição. Consiste na reserva de dotação orçamentária para
um fim específico (CHAVES; JUNIOR, 2013).
O empenho será formalizado mediante a emissão de um documento
denominado “nota de empenho”, no qual deve constar o nome do credor, a
especificação do credor e a importância da despesa, bem como os demais dados
necessários para o controle da execução orçamentária (JUNIOR, 2013).
Embora o art. 61 da Lei n. 4.320/1964 estabeleça a obrigatoriedade do
nome do credor nesse documento, em alguns casos, como na folha de
pagamento, torna-se impraticável a emissão de um empenho para cada credor,
tendo em vista o número excessivo de credores (servidores) (JUNIOR, 2013).
Caso não seja necessária a impressão da nota de empenho, o empenho
ficará arquivado em banco de dados, em tela com formatação própria e modelo
oficial, a ser elaborado por cada ente da Federação em atendimento às suas
peculiaridades (JUNIOR, 2013).
Quando o valor empenhado for insuficiente para atender à despesa a ser
realizada, o empenho poderá ser reforçado. E caso o valor do empenho exceda
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o montante da despesa realizada, o empenho deverá ser anulado parcialmente.
Ele será anulado totalmente quando o objeto do contrato não tiver sido cumprido,
ou ainda no caso de ter sido emitido incorretamente (JUNIOR, 2013).
Os empenhos podem ser classificados em:
Ordinário: é aquele utilizado para as despesas de valor fixo e
previamente determinado, cujo pagamento deve ocorrer de uma única
vez;
Estimado: é aquele utilizado para despesas cujo montante não pode ser
determinado previamente, por exemplo: os serviços de fornecimento de
água e energia elétrica etc.;
Global: é aquele utilizado para despesas contratuais ou outras de valor
determinado, sujeita a parcelamento, como os compromissos decorrentes
de alugueis.
Liquidação
Conforme o art. 63 da Lei n. 4.320/64, a liquidação consiste na verificação
do direito adquirido pelo credor, tendo por base os títulos e os documentos
comprobatórios do respectivo crédito. Tem por objetivo apurar:
Art. 63 - A liquidação da despesa consiste na verificação do direito
adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos
comprobatórios do respectivo crédito. §1° Essa verificação tem por fim
apurar: I – a origem e o objeto do que se deve pagar; II – a importância
exata a pagar; III – a quem se deve pagar a importância, para extinguir
a obrigação.
As despesas com fornecimento ou com serviços prestados terão por
base: §2º A liquidação da despesa por fornecimentos feitos ou serviços
prestados terá por base: I – o contrato, ajuste ou acordo respectivo; II
– a nota de empenho; III – os comprovantes da entrega de material ou
da prestação efetiva do serviço. (BRASIL, Lei n. 4.320/64).
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Pagamento
O pagamento consiste na entrega de numerário ao credor por meio de
cheque nominativo, ordens de pagamentos ou crédito em conta; apenas pode
ser efetuado após regularizar a liquidação da despesa.
A Lei n. 4.320/64, em seu art. 64, define a ordem de pagamento como o
despacho exarado por autoridade competente, determinando que a despesa
liquidada seja paga. A ordem de pagamento só pode ser exarada em
documentos processados pelos serviços de contabilidade.
Síntese
Hoje você entendeu a importância de estudarmos o orçamento público e
a contabilidade pública. Aprendemos que a atividade financeira do Estado é
desempenhada ou desenvolvida em quatro áreas: a receita pública, a despesa
pública, o orçamento público e o crédito público.
Conhecemos as políticas públicas e os programas do governo, assim
como os princípios orçamentários e entendemos q relevância da contabilidade
no ciclo orçamentário.
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Referências
ANGÉLICO, J. Contabilidade Pública. São Paulo: Atlas, 2006.
BRASIL. Lei n. 4.320/64, de 17 de março de 1964. Estatui normas gerais de
Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da
União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal.
_____. Lei Complementar n. 101/00, de 4 de maio de 2000. Estabelece normas
de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na Gestão Fiscal e dá
outras providências.
_____. Resolução CFC n. 1.111/07, de 29 de novembro de 2007. Aprova o
Apêndice II da Resolução CFC nº. 750/93 sobre os Princípios de Contabilidade.
IUDÍCIBUS, S. de; MARION, J.C. Contabilidade comercial: atualizado
conforme novo Código Civil. 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2006.
JUNIOR, O. D. L. C. Contabilidade pública e o plano de contas obrigatório a
partir de 2013. 2013.
MATTOS, M. A.; CORBARY, E.; FREITAG, V. da C. Contabilidade societária.
Curitiba: Ibpex, 2012.
STN. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público. 5 ed., Brasília,
2011.