introdução neoliberalismo

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Introdução Pode-se definir o neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. O neoliberalismo é uma prática econômica que renuncia a intervenção do Estado na economia e deixa o mercado se auto- regular com total liberdade. As privatizações e a livre concorrência são características deste tipo de pensamento. Características do neoliberalismo Há pouca intervenção do governo no mercado de trabalho, há uma política de privatização de empresas estatais, livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização, abertura da economia para a entrada de multinacionais, adoção de medidas contra o protecionismo econômico, desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para facilitar o funcionamento das atividades econômicas, diminuição do tamanho do estado, tornando-o mais eficiente, posição contrária aos impostos e tributos excessivos, aumento da produção, como objetivo básico para atingir o desenvolvimento econômico, contra o controle de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é suficiente para regular os preços, a base da economia deve ser formada por empresas privadas, defesa dos princípios econômicos do capitalismo.

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neoliberalismo

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Page 1: Introdução Neoliberalismo

Introdução

Pode-se definir o neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas

capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta

doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o

crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país.

O neoliberalismo é uma prática econômica que renuncia a intervenção do Estado na economia

e deixa o mercado se auto-regular com total liberdade. As privatizações e a livre concorrência

são características deste tipo de pensamento.

Características do neoliberalismo

Há pouca intervenção do governo no mercado de trabalho, há uma política de privatização de

empresas estatais, livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização, abertura

da economia para a entrada de multinacionais, adoção de medidas contra o protecionismo

econômico, desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para

facilitar o funcionamento das atividades econômicas, diminuição do tamanho do estado,

tornando-o mais eficiente, posição contrária aos impostos e tributos excessivos, aumento da

produção, como objetivo básico para atingir o desenvolvimento econômico, contra o controle

de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é

suficiente para regular os preços, a base da economia deve ser formada por empresas

privadas, defesa dos princípios econômicos do capitalismo.

A economia neoliberal, sofre críticas de que só beneficia as grandes potências econômicas e

empresas multinacionais. Os países pobres ou em processo de desenvolvimento, como o Brasil

sofrem com os resultados de uma política neoliberal. Nestes países, são apontadas como

causas do neoliberalismo: desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e

dependência do capital internacional.

Porém, há pontos positivos neste sistema, uma vez que é capaz de proporcionar o

desenvolvimento econômico e social de um país, deixando a economia mais

competitiva, proporcionando o desenvolvimento tecnológico e, através da livre

concorrência, faz os preços e a inflação caírem, pois é o mercado que dita as regras e

conduz a produção.

Page 2: Introdução Neoliberalismo

Na economia liberal clássica, os povos não seriam excluídos eternamente: a

pobreza seria uma situação transitória e logo as populações poderiam alcançar um

padrão de vida melhor que, por sua vez, seria resultado do "transbordamento" do

excesso de riquezas das populações mais abastadas.

Porém, na prática, não é assim que ocorre. Muito pelo contrário: os "excluídos" são

parte integrante da sociedade, e vemos que cada vez mais as desigualdades

aumentam.

Concepções neoliberais nas políticas sociais brasileiras

ASSISTENCIA SOCIAL

Na atualidade, os neoliberais até reconhecem a necessidade da prestação de auxílio aos mais

pobres, necessitados e incapacitados para o trabalho, mas se recusam a aceitar a instituição de

mecanismos que garantam a efetivação de políticas sociais enquanto um direito humano.

Diante disso, a idéia central nas políticas de cunho neoliberal é o fortalecimento da

mercantilização dos serviços sociais, sob o argumento de que as políticas sociais causam

distorções nas regras do livre funcionamento do mercado. Nessa perspectiva, as políticas

sociais seriam causadoras de preguiça e/ou falta de iniciativa e a melhor forma de estimular o

bom funcionamento da sociedade seria a mercantilização, isto é, as pessoas devem pagar

pelos serviços para que estes sejam de fato “valorizados”. Ou seja, o mercado e não o Estado é

visto como o espaço apropriado para a efetivação dos serviços sociais e a intervenção do

Estado somente deve ocorrer em última instância. Seguindo essa lógica, os que não podem

pagar pelos serviços devem antes de tudo comprovar a inexistência de meios financeiros

próprios para ter acesso a tais serviços. Por isso, políticas sociais neoliberais caracterizam-se

Page 3: Introdução Neoliberalismo

pelo alto grau de seletividade, com a exigência de comprovação da pobreza, ou melhor, de

atestados de pobreza, sem contar que os benefícios devem ser bastante reduzidos, garantindo

assim estímulo ao trabalho.

TRABALHADORES

Em se tratando do Brasil, adotou-se o método da atuação “focalizada” para atender aos

comprovadamente pobres, os quais devem ser obrigatoriamente “cadastrados” e

“identificados” enquanto pobres. A atuação “focalizada” e “emergencial” não reconhece as

políticas sociais como um direito, pois as mesmas são desenhadas e formuladas para

apresentar um caráter provisório e passageiro. Esse tipo de proposta tem o apoio intelectual

de vários organismos internacionais, especialmente do Banco Mundial.

Além disso, os neoliberais propagam conceitos (barreiras) e obstáculos culturais para dificultar

a aceitação das políticas sociais enquanto um direito humano. Um exemplo disso são as atuais

discussões acerca do Bolsa Família. Esse Programa é visto por parte do senso comum, das

elites e da mídia brasileira como responsável por acomodação, dependência, preguiça e/ou

falta de iniciativa. Um exemplo desse tipo de análise em relação ao referido Programa pode

ser percebido através da seguinte afirmação: “Essa forma de atuação do Estado favorece o

comodismo, o imobilismo, a preguiça mental e a manutenção de um ciclo vicioso de

dependência, presa fácil para o enfraquecimento da democracia, com cidadãos aguardando a

presença de seu protetor e oferecendo em troca apoio acrítico”.

Em outras palavras, os argumentos apresentados revelam a clássica desconfiança e o

preconceito dos setores mais privilegiados da sociedade brasileira em relação aos pobres.

Seguindo essa lógica, os pobres “usariam” o Estado para seus fins pessoais, acomodar-se-iam,

havendo, sobretudo um grande estímulo à preguiça. Pior do que isso é a idéia de que haveria

“a manutenção de um ciclo vicioso de dependência”. Ora, esse argumento é uma afronta aos

Page 4: Introdução Neoliberalismo

direitos sociais, à cidadania, uma vez que no Brasil nunca tivemos um sistema de proteção

social que garantisse a manutenção de qualquer forma de dependência. O Estado brasileiro

nunca garantiu qualquer proteção social que justificasse a idéia da manutenção de

dependência. Aliás, essa terminologia reflete aquilo que Roberto Schwarz (1981) chama de

“idéias fora do lugar”, pois adota-se acriticamente o receituário neoliberal da burguesia dos

Estados Unidos e da Europa para justificar a falta de intervenção do Estado na garantia dos

direitos sociais básicos.

POBREZA

Além disso, esses argumentos liberais valorizam demasiadamente a ética do trabalho, o

sistema econômico e suas estruturas funcionais, enquanto que as necessidades reais dos

cidadãos, principalmente dos pobres, aparecem em último plano. Argumentando na mesma

linha, Pedro Demo (1997) destaca que preferir direitos sociais ao emprego resultaria em um

sistema parasitário, uma exclusão do mercado, haja vista que fora do mercado não há

salvação. Da mesma forma, Ivo (2004) ressalta que a dimensão do trabalho deve ser entendida

como uma forma concreta de reprodução e inserção social, sem haver uma “distenção da

relação entre proteção social e emprego”. Entretanto, para José de Souza Martins (2002), os

argumentos acima expostos não propõem nada de novo, mas apenas a extensão do velho, dos

mecanismos de reprodução das relações sociais. Para o referido autor, a proposta de inserção

no mercado de trabalho como única forma de inclusão social significa a volta da

mercantilização das relações sociais, ou seja, a exploração do trabalhador pelos patrões.

Page 5: Introdução Neoliberalismo

CARTÃO DA BOLSA FAMÍLIA FEDERAL

Critica-se o Bolsa Família, com muita veemência, pelo fato de os pobres não serem obrigados a

trabalhar para o auferimento do benefício. Nos últimos tempos, algumas famílias pobres

deixaram até de trabalhar, diga-se de passagem, em atividades degradantes por causa do

Bolsa Família e de outros programas sociais. Ademais, muitos analistas do Bolsa Família

destacam seu cunho “emergencial” e “paliativo”, como uma porta de saída em direção à

autonomia e à emancipação.

Vale ressaltar que a obrigação em garantir os direitos sociais é do Estado e não do mercado. O

Estado tem o dever de garantir “saúde e bem-estar, especialmente alimentação, vestuário,

habitação, assistência médica e os serviços sociais necessários” a todos que estão sob sua

jurisdição, conforme destaca a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. O

significado prático das obrigações do Estado resulta pelo simples fato de que cada pessoa tem

direito a um nível de bem-estar, sobretudo o acesso à alimentação como um direito universal,

independentemente de fatores preconcebidos ou preconceituosos, sejam eles a acomodação,

a dependência e/ou ao comodismo. Para Piovesan (2005), o caráter da universalidade

ultrapassa qualquer contrapartida, devendo ser assegurado a todos os seres humanos,

independente de qualquer pré-requesito ou algo do gênero, assim, “(...) chama pela extensão

universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único

para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente

moral, dotado de unicidade existencial e dignidade”.

PROGRAMA BOLSA FAMILIA

Além disso, vários teóricos destacam, com muita propriedade, os problemas de inclusão de

famílias pobres e miseráveis no Bolsa Família, principalmente a “falta de registro civil”, ou seja,

documentos pessoais para o devido “cadastro” e “identificação”. Ademais, o número máximo

de cotas de benefícios para cada município limitam o auferimento do Programa e ratificam a

concepção de política social focalizada. Sob a ótica dos direitos humanos, o Programa Bolsa

Page 6: Introdução Neoliberalismo

Família, que pretende garantir o Direito à Alimentação no Brasil, deve ser acessível a todos que

dele necessitarem, independentemente do fato das pessoas possuírem “identificação” e

“cadastro”, além de possibilitar uma alimentação em quantidade e qualidade suficientes. Para

garantir isso, o Programa deveria imediatamente aumentar o valor da transferência, pois a

mesma não possibilita uma alimentação de qualidade como também não é suficiente em

quantidade.

FOME E ANGÚSTIA

Com a introdução dos Programas de Transferência de Renda, o Estado brasileiro começa a

adotar os passos que os países desenvolvidos seguiram no combate à fome e à miséria. Já em

1961, a Alemanha, por exemplo, criou um programa denominado auxílio social, que mudou de

nomenclatura em 2005 para Arbeitslosengeld II, o qual tem contribuído decisivamente para

que nesse país não exista fome e miséria. A diferença em relação ao Brasil é que o Programa

Arbeitslosengeld II da Alemanha é concebido como um direito, ou seja, acessível a todas as

pessoas e famílias .

Assim como no Brasil, existem pessoas na Alemanha que recusam determinados trabalhos,

sobretudo os de caráter degradante e preferem viver dos benefícios do Programa

Arbeitslosengeld II. Como esse auxílio é orientado sob a ótica dos direitos, ou seja, não existem

condicionalidades, as pessoas podem dele usufruir enquanto não encontrarem outra

possibilidade que julgarem mais digna. Assim, a introdução de Programas de Transferência de

Renda no Brasil é um passo importante na efetivação e garantia dos direitos sociais básicos.

Por isso, o Bolsa Família não pode ser interpretado como um simples mecanismo causador de

Page 7: Introdução Neoliberalismo

comodismo e dependência, mas como uma pré-condição para a realização da cidadania da

população. Os direitos sociais precisam ser entendidos como um fim em si mesmo na

sociedade, sendo função da economia e do mercado, mediante o pagamento de impostos ao

Estado, estar a serviço da realização da cidadania plena. Precisamos, antes de tudo,

compreender o princípio da universalidade, respeitar as opções do outro e cobrar as

responsabilidades na garantia e efetivação dos direitos do Estado e não do mercado. No centro

de nossa análise devem estar as pessoas sujeitas de direito, a cidadania ao invés das estruturas

políticas e econômicas.