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Introdução
Pode-se definir o neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas
capitalistas que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta
doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este princípio garante o
crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país.
O neoliberalismo é uma prática econômica que renuncia a intervenção do Estado na economia
e deixa o mercado se auto-regular com total liberdade. As privatizações e a livre concorrência
são características deste tipo de pensamento.
Características do neoliberalismo
Há pouca intervenção do governo no mercado de trabalho, há uma política de privatização de
empresas estatais, livre circulação de capitais internacionais e ênfase na globalização, abertura
da economia para a entrada de multinacionais, adoção de medidas contra o protecionismo
econômico, desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para
facilitar o funcionamento das atividades econômicas, diminuição do tamanho do estado,
tornando-o mais eficiente, posição contrária aos impostos e tributos excessivos, aumento da
produção, como objetivo básico para atingir o desenvolvimento econômico, contra o controle
de preços dos produtos e serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é
suficiente para regular os preços, a base da economia deve ser formada por empresas
privadas, defesa dos princípios econômicos do capitalismo.
A economia neoliberal, sofre críticas de que só beneficia as grandes potências econômicas e
empresas multinacionais. Os países pobres ou em processo de desenvolvimento, como o Brasil
sofrem com os resultados de uma política neoliberal. Nestes países, são apontadas como
causas do neoliberalismo: desemprego, baixos salários, aumento das diferenças sociais e
dependência do capital internacional.
Porém, há pontos positivos neste sistema, uma vez que é capaz de proporcionar o
desenvolvimento econômico e social de um país, deixando a economia mais
competitiva, proporcionando o desenvolvimento tecnológico e, através da livre
concorrência, faz os preços e a inflação caírem, pois é o mercado que dita as regras e
conduz a produção.
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Na economia liberal clássica, os povos não seriam excluídos eternamente: a
pobreza seria uma situação transitória e logo as populações poderiam alcançar um
padrão de vida melhor que, por sua vez, seria resultado do "transbordamento" do
excesso de riquezas das populações mais abastadas.
Porém, na prática, não é assim que ocorre. Muito pelo contrário: os "excluídos" são
parte integrante da sociedade, e vemos que cada vez mais as desigualdades
aumentam.
Concepções neoliberais nas políticas sociais brasileiras
ASSISTENCIA SOCIAL
Na atualidade, os neoliberais até reconhecem a necessidade da prestação de auxílio aos mais
pobres, necessitados e incapacitados para o trabalho, mas se recusam a aceitar a instituição de
mecanismos que garantam a efetivação de políticas sociais enquanto um direito humano.
Diante disso, a idéia central nas políticas de cunho neoliberal é o fortalecimento da
mercantilização dos serviços sociais, sob o argumento de que as políticas sociais causam
distorções nas regras do livre funcionamento do mercado. Nessa perspectiva, as políticas
sociais seriam causadoras de preguiça e/ou falta de iniciativa e a melhor forma de estimular o
bom funcionamento da sociedade seria a mercantilização, isto é, as pessoas devem pagar
pelos serviços para que estes sejam de fato “valorizados”. Ou seja, o mercado e não o Estado é
visto como o espaço apropriado para a efetivação dos serviços sociais e a intervenção do
Estado somente deve ocorrer em última instância. Seguindo essa lógica, os que não podem
pagar pelos serviços devem antes de tudo comprovar a inexistência de meios financeiros
próprios para ter acesso a tais serviços. Por isso, políticas sociais neoliberais caracterizam-se
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pelo alto grau de seletividade, com a exigência de comprovação da pobreza, ou melhor, de
atestados de pobreza, sem contar que os benefícios devem ser bastante reduzidos, garantindo
assim estímulo ao trabalho.
TRABALHADORES
Em se tratando do Brasil, adotou-se o método da atuação “focalizada” para atender aos
comprovadamente pobres, os quais devem ser obrigatoriamente “cadastrados” e
“identificados” enquanto pobres. A atuação “focalizada” e “emergencial” não reconhece as
políticas sociais como um direito, pois as mesmas são desenhadas e formuladas para
apresentar um caráter provisório e passageiro. Esse tipo de proposta tem o apoio intelectual
de vários organismos internacionais, especialmente do Banco Mundial.
Além disso, os neoliberais propagam conceitos (barreiras) e obstáculos culturais para dificultar
a aceitação das políticas sociais enquanto um direito humano. Um exemplo disso são as atuais
discussões acerca do Bolsa Família. Esse Programa é visto por parte do senso comum, das
elites e da mídia brasileira como responsável por acomodação, dependência, preguiça e/ou
falta de iniciativa. Um exemplo desse tipo de análise em relação ao referido Programa pode
ser percebido através da seguinte afirmação: “Essa forma de atuação do Estado favorece o
comodismo, o imobilismo, a preguiça mental e a manutenção de um ciclo vicioso de
dependência, presa fácil para o enfraquecimento da democracia, com cidadãos aguardando a
presença de seu protetor e oferecendo em troca apoio acrítico”.
Em outras palavras, os argumentos apresentados revelam a clássica desconfiança e o
preconceito dos setores mais privilegiados da sociedade brasileira em relação aos pobres.
Seguindo essa lógica, os pobres “usariam” o Estado para seus fins pessoais, acomodar-se-iam,
havendo, sobretudo um grande estímulo à preguiça. Pior do que isso é a idéia de que haveria
“a manutenção de um ciclo vicioso de dependência”. Ora, esse argumento é uma afronta aos
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direitos sociais, à cidadania, uma vez que no Brasil nunca tivemos um sistema de proteção
social que garantisse a manutenção de qualquer forma de dependência. O Estado brasileiro
nunca garantiu qualquer proteção social que justificasse a idéia da manutenção de
dependência. Aliás, essa terminologia reflete aquilo que Roberto Schwarz (1981) chama de
“idéias fora do lugar”, pois adota-se acriticamente o receituário neoliberal da burguesia dos
Estados Unidos e da Europa para justificar a falta de intervenção do Estado na garantia dos
direitos sociais básicos.
POBREZA
Além disso, esses argumentos liberais valorizam demasiadamente a ética do trabalho, o
sistema econômico e suas estruturas funcionais, enquanto que as necessidades reais dos
cidadãos, principalmente dos pobres, aparecem em último plano. Argumentando na mesma
linha, Pedro Demo (1997) destaca que preferir direitos sociais ao emprego resultaria em um
sistema parasitário, uma exclusão do mercado, haja vista que fora do mercado não há
salvação. Da mesma forma, Ivo (2004) ressalta que a dimensão do trabalho deve ser entendida
como uma forma concreta de reprodução e inserção social, sem haver uma “distenção da
relação entre proteção social e emprego”. Entretanto, para José de Souza Martins (2002), os
argumentos acima expostos não propõem nada de novo, mas apenas a extensão do velho, dos
mecanismos de reprodução das relações sociais. Para o referido autor, a proposta de inserção
no mercado de trabalho como única forma de inclusão social significa a volta da
mercantilização das relações sociais, ou seja, a exploração do trabalhador pelos patrões.
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CARTÃO DA BOLSA FAMÍLIA FEDERAL
Critica-se o Bolsa Família, com muita veemência, pelo fato de os pobres não serem obrigados a
trabalhar para o auferimento do benefício. Nos últimos tempos, algumas famílias pobres
deixaram até de trabalhar, diga-se de passagem, em atividades degradantes por causa do
Bolsa Família e de outros programas sociais. Ademais, muitos analistas do Bolsa Família
destacam seu cunho “emergencial” e “paliativo”, como uma porta de saída em direção à
autonomia e à emancipação.
Vale ressaltar que a obrigação em garantir os direitos sociais é do Estado e não do mercado. O
Estado tem o dever de garantir “saúde e bem-estar, especialmente alimentação, vestuário,
habitação, assistência médica e os serviços sociais necessários” a todos que estão sob sua
jurisdição, conforme destaca a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. O
significado prático das obrigações do Estado resulta pelo simples fato de que cada pessoa tem
direito a um nível de bem-estar, sobretudo o acesso à alimentação como um direito universal,
independentemente de fatores preconcebidos ou preconceituosos, sejam eles a acomodação,
a dependência e/ou ao comodismo. Para Piovesan (2005), o caráter da universalidade
ultrapassa qualquer contrapartida, devendo ser assegurado a todos os seres humanos,
independente de qualquer pré-requesito ou algo do gênero, assim, “(...) chama pela extensão
universal dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único
para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente
moral, dotado de unicidade existencial e dignidade”.
PROGRAMA BOLSA FAMILIA
Além disso, vários teóricos destacam, com muita propriedade, os problemas de inclusão de
famílias pobres e miseráveis no Bolsa Família, principalmente a “falta de registro civil”, ou seja,
documentos pessoais para o devido “cadastro” e “identificação”. Ademais, o número máximo
de cotas de benefícios para cada município limitam o auferimento do Programa e ratificam a
concepção de política social focalizada. Sob a ótica dos direitos humanos, o Programa Bolsa
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Família, que pretende garantir o Direito à Alimentação no Brasil, deve ser acessível a todos que
dele necessitarem, independentemente do fato das pessoas possuírem “identificação” e
“cadastro”, além de possibilitar uma alimentação em quantidade e qualidade suficientes. Para
garantir isso, o Programa deveria imediatamente aumentar o valor da transferência, pois a
mesma não possibilita uma alimentação de qualidade como também não é suficiente em
quantidade.
FOME E ANGÚSTIA
Com a introdução dos Programas de Transferência de Renda, o Estado brasileiro começa a
adotar os passos que os países desenvolvidos seguiram no combate à fome e à miséria. Já em
1961, a Alemanha, por exemplo, criou um programa denominado auxílio social, que mudou de
nomenclatura em 2005 para Arbeitslosengeld II, o qual tem contribuído decisivamente para
que nesse país não exista fome e miséria. A diferença em relação ao Brasil é que o Programa
Arbeitslosengeld II da Alemanha é concebido como um direito, ou seja, acessível a todas as
pessoas e famílias .
Assim como no Brasil, existem pessoas na Alemanha que recusam determinados trabalhos,
sobretudo os de caráter degradante e preferem viver dos benefícios do Programa
Arbeitslosengeld II. Como esse auxílio é orientado sob a ótica dos direitos, ou seja, não existem
condicionalidades, as pessoas podem dele usufruir enquanto não encontrarem outra
possibilidade que julgarem mais digna. Assim, a introdução de Programas de Transferência de
Renda no Brasil é um passo importante na efetivação e garantia dos direitos sociais básicos.
Por isso, o Bolsa Família não pode ser interpretado como um simples mecanismo causador de
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comodismo e dependência, mas como uma pré-condição para a realização da cidadania da
população. Os direitos sociais precisam ser entendidos como um fim em si mesmo na
sociedade, sendo função da economia e do mercado, mediante o pagamento de impostos ao
Estado, estar a serviço da realização da cidadania plena. Precisamos, antes de tudo,
compreender o princípio da universalidade, respeitar as opções do outro e cobrar as
responsabilidades na garantia e efetivação dos direitos do Estado e não do mercado. No centro
de nossa análise devem estar as pessoas sujeitas de direito, a cidadania ao invés das estruturas
políticas e econômicas.