introduÇÃo À numismÁtica romana

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INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA José Ruivo

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INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA. José Ruivo. Os achados monetários no registo arqueológico. Tipos de achados monetários Tesouros Classificam-se de forma genérica em quatro categorias, definidascom base nas circunstâncias e nas intenções que presidiram à acumulação - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

José Ruivo

Page 2: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Os achados monetários no registo arqueológico

Tipos de achados monetários

1)TesourosClassificam-se de forma genérica em quatro categorias, definidas com

base nas circunstâncias e nas intenções que presidiram à acumulação • Tesouros de urgência • Tesouros de aforro• Tesouros perdidos de forma fortuita• Tesouros abandonados voluntariamente

2) Achados isolados• Moedas achadas ocasionalmente• Moedas achadas no decurso de escavações

Page 3: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Tesouros de urgência• Constituídos por moedas reunidas num curtíssimo espaço de

tempo e ocultadas devido a situações de instabilidade política ou social (guerras, razias, tumultos ...). Por vezes incluem também outros objectos de valor (jóias, lingotes de metal precioso, etc.).

• são importantes pelo facto de as moedas que deles fazem parte reflectirem, com alguma fidelidade, o numerário em circulação no momento da ocultação

• importância para os estudos de circulação monetária e de

história política e social

Regra geral, este é o tipo de depósito que chega até nós em maior número, circunstância explicável pelo facto de a conjuntura que originou o encobrimento ter tornado com frequência impossível a sua recuperação.

Page 4: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Tesouro de Frome (Somerset, Reino Unido: 52503 moedas (c. 160 kg): c. 293 d.C.

Page 5: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Tesouros de aforro

Correspondem a uma acumulação de riqueza realizada pelo proprietário ao longo do tempo. Inclusivamente, alguns são o resultado da poupança realizada por gerações sucessivas

•Possuem, por norma, carácter selectivo, incorporando os espécimes melhor conservados e de maior valor intrínseco e ignoram os restantes;

•fornecem, com alguma frequência, exemplares raros e de boa conservação;

Page 6: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Principal limitação:

• não reproduzem com fidelidade o tipo de numerário corrente no período durante o qual se processou a acumulação;

Geralmente são recuperados pelo aforrador ou pelos herdeiros, daí que o seu número tenda a ser inferior ao dos tesouros de urgência. Circunstâncias mais ou menos excepcionais, implicando o súbito desaparecimento do proprietário (morte por acidente, doença, conflito, ...), podem estar na origem da sua perda definitiva.

Page 7: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Tesouros resultantes de perda fortuita• correspondem, geralmente, ao conteúdo de bolsas ou de

pequenos sacos de moedas, perdidos acidentalmente. O seu valor pode divergir consoante as circunstâncias

• são relativamente abundantes

• são, de um modo geral, representativos da circulação monetária do período em questão.

A dificuldade reside em saber se estes conjuntos foram efectivamente perdidos ou, pura e simplesmente, abandonados de forma voluntária pelos seus proprietários, dado o reduzido poder de compra de alguns deles.

Page 8: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Tesouros abandonados voluntariamente ou cuja deposição se encontra associada a um ritual

• são geralmente depósitos com carácter fundacional, votivo ou funerário (a utilização do termo tesouro aplicada a este tipo de achado é algo excessiva

• pressupõe um abandono voluntário das moedas que os constituem, efectuado num único momento (depósitos fundacionais e funerários) ou fruto de uma acção que se prolonga no tempo (moedas achadas em santuários, fontes, poços ou outros locais de culto, que podem documentar acumulações realizadas ao longo de séculos)

• são, com frequência, constituidos por peças já desmonetizadas:- a sua importância enquanto elemento de datação é relativa - o seu interesse para os estudo de circulação monetária é muito reduzido.

Nota: os depósitos recolhidos em contexto funerário não documentam necessariamente o ritual do óbolo a Caronte.

Page 9: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Achados isolados1) Moedas achadas ocasionalmente

Têm uma importância relativa. Funcionam como indicador cronológico relativo para a ocupação de determinado sítio.

2) Moedas achadas no decurso de escavaçõesOs achados de moedas em contexto de escavação podem revelar-se de grande importância para a interpretação dos sítios arqueológicos. No entanto, a quantidade e a qualidade das moedas recolhidas num sítio e, consequentemente, a nossa interpretação, podem ser condicionadas por diversos aspectos.

Partindo do princípio de que as moedas perdidas num sítio reproduzem as moedas em circulação ou as guardadas na época da perda (ainda que estas últimas não estivessem momentaneamente disponíveis para serem perdidas), devem ter-se em atenção os seguintes pressupostos:

Page 10: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

• quanto maior for o valor da moeda perdida, maior será o esforço despendido na sua recuperação. Este critério tem, contudo, de ser relativizado em função do grau de riqueza do proprietário. Só uma ínfima percentagem das moedas que circularam num determinado sítio foram efectivamente perdidas e chegaram até nós. O valor monetário das moedas perdidas é, regra geral, muito baixo;

• uma moeda isolada é mais facilmente perdida quando muda de mãos com muita frequência. O ouro e a prata, devido ao seu elevado valor, tendem a ser entesourados e apenas mudam de mãos nas grandes transacções. Pelo contrário, as pequenas denominações estão constantemente a mudar de mãos, pelo que uma maior percentagem acabará fatalmente por ser perdida;

• o tamanho e o metal de uma moeda têm influência directa na sua recuperação, tornando-a mais fácil ou mais difícil. O mesmo sucede hoje durante o processo de escavação: pequenas moedas podem passar despercebidas a um arqueólogo ou a um auxiliar menos atento ou menos experiente;

Page 11: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

• numa escavação bem conduzida o número de moedas recolhidas aproxima-se bastante do das moedas perdidas acidentalmente e não recuperadas ou mesmo descartadas;

• a vida de uma moeda pode ser muito curta ou muito longa, variando em função de diversas circunstâncias (perda acidental, descarte, reutilização), podendo estender-se por vários séculos:

Naufrágio de Cabrera III (c. 267 d.C.): das 967 moedas de bronze que constituiriam a caixa da embarcação, c. 25% são anteriores a 192

Page 12: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

• as moedas de uma escavação parcelar e as moedas recolhidas superficialmente constituem uma mostra aleatória das moedas perdidas no sítio:

- no primeiro caso, a quantidade e a qualidade dos achados dependem de aspectos como a cronologia dos estratos ou a funcionalidade da área escavada: os níveis de circulação de uma domus fornecerão menos moedas que os níveis de circulação de uma área comercial.

- no que respeita aos achados ocasionais de superfície, a não ser que disponhamos de um número muito elevado de moedas, a amostra é ainda mais circunstancial. De qualquer modo, a ausência de indicação estratigráfica não permite estabelecer o horizonte de circulação das numismas.

• As datações a partir dos achados de moedas devem ser feitas com muita prudência e conjugadas com outros materiais datáveis (no Castelo da Lousa as cerâmicas importadas sugerem um abandono entre o câmbio de era e 10 d.C., mas as moedas mais recentes não vão além de 25 a.C.)

Page 13: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoI. República

A moeda aparece em Roma por volta de 320-280 a.C.

-Aes signatum (bronze)

-Aes grave (bronze)

-Moeda romano-campaniense (prata e bronze)

Page 14: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoI. República

Cerca de 212 a.C., no contexto da Segunda Guerra Púnica, é alterado o sistema monetário, doravante assente no denário (prata) e no asse (bronze) e respectivos submúltiplos, relacionados entre si em função do seu valor intrínseco. O sistema do denário vigorará até à época de Augusto.

O ouro é cunhado esporadicamente, em situações extremas (2ª guerra púnica, guerras civis: Mário vs Sula e César vs pompeianos)

Page 15: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoI. República

• De 212 a.C. até meados do séc II a.C. assiste-se a um predomínio da cunhagem do bronze, em particular do asse

• a cunhagem do bronze é interrompida por Sulla em 82 a.C.

• a partir de c. 150-140 a.C., aumentam de forma considerável as emissões de denários (pagamento dos estipêndios)

Page 16: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoI. República

141 a.C. - o denário é reavaliado,passando a valer 16 asses (marca -X-)

Page 17: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoII. Alto Império

c. 27 a.C.- Augusto estabiliza o peso do aureus (7,70-7,85g) e do denário (3,75-3,80g), com uma ratio ouro/prata de 1:12

1 Au =25 D

c. 23 a.C. – inicia-se a cunhagem de moeda divisionária, necessária às transações do quotidiano. Passam a ser emitidas as seguintes denominações:

sestércio, oricalco (c. 25gdupôndio, oricalco (busto radiado a partir de Nero - c. 11g)

asse, cobre (c. 11 g) quadrante, cobre (c. 3 g)

Page 18: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoII. Alto Império

Augusto concentra em Lugdunum a cunhagem do ouro e da prata (proximidade das minas hispânicas e do limes do Reno) e instala uma casa da moeda auxiliar para o bronze.

Page 19: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoII. Alto Império

Calígula centralizou a cunhagem do ouro e da prata em Roma, fechou as casas da moeda urbanas da Hispânia (excepto Ebusus), assim como outras casas da moeda locais que emitiam moeda de bronze no Ocidente do Império

Penúria da moeda divisionária de bronze no Ocidente

cunhagem de moeda de imitação ou de necessidade (Cláudio I)

• copiam-se protótipos do ano 41 (Anv: TI CLAVDIVS CAESAR AVG P M TR P IMP, sem a titulatura P P (Pater Patriae), só introduzida em 50 d.C.• cunhagens com deficiente apuro estilístico, tipos e legendas descentrados• peso por regra inferior ao das moedas oficiais• a denominação mais copiada é o As (70%), seguida do Dp (25%) e do Hs (5%)

Page 20: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

R/ Spes Augusta

R/ Ceres Augusta

As imitações do numerário de Cláudio I

SESTÉRCIO Oficial

DUPÔNDIO

Imitações

Page 21: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

R/ Minerva

R/ Libertas Augusta

R/ Constantiae Augusti

ASSES Oficiais Imitações

Page 22: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoIII. O Baixo Império

O Império em crise: da criação do antoniniano à reforma de Aureliano

• Queda progressiva do peso do aureus

• Septímio Severo (192-211 d.C.) reduz o teor de fino do denário para 500‰. A sua cunhagem é praticamente abandonada por meados do séc. III

• Quebra na produção da moeda divisionária de bronze (asses e dupôndios) e redução ponderal do sestércio. A sua cunhagem termina por volta de 270

Page 23: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

III. O Baixo ImpérioO Império em crise: da criação do antoniniano à reforma de Aureliano

• A criação do antoniniano: em 215 d.C. Caracala cria uma nova moeda de prata, o antoniniano, com valor de 2 denários e c.de 5g de peso. Abandonado em 218, é reintroduzido em 238 (Balbino e Pupieno).

A sua desvalorização será imparável: de um teor de fino de c. 500‰ em 238 chega-se a c. 20-30‰ em 270

Page 24: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

III. O Baixo Império

O Império em crise: da criação do antoniniano à reforma de Aureliano

• Aumento do número de casas da moeda em laboração entre inícios do séc. III e 268 :

- 238: batem moeda Roma e Antioquia (9 oficinas)

- 270: a cunhagem distribui-se por sete casas da moeda (33 oficinas)

Page 25: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

III. O Baixo ImpérioO Império em crise: da criação do antoniniano à reforma de Aureliano

• A partir de 259 inicia-se uma reorganização interna das casas da moeda, nas quais laboram um número cescente de oficinas, individualizadas por marcas colocadas no reverso das moedas:

– //–

X –//– — —//XII

— —//—

P, S, T, Q, V, VIA, B, , Z, H, N, X, XI, XIIetc.

Page 26: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

III. O Baixo ImpérioO Império em crise: da criação do antoniniano à reforma de Aureliano

A produção massiva de antoninianos sem qualquer valor entre 260 e 274 vai deixar uma marca indelével nos sítios arqueológicos com ocupação romana do Baixo Império-Emissões do Império Central-Emissões do Império das Gálias-Divo Claudio

Interpretação arqueológica:perdas fortuitas vs descartes

Page 27: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Os Divo Claudio

Divo Claudio oficiais vs

Divo Claudio irregulares

• Módulo• Peso• Qualidade da gravura• Presença de vestígios de prata

Page 28: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O Império das Gálias (260-274)

Page 29: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

III. O Baixo ImpérioO Império em crise: da reforma de Aureliano a 305

A Reforma de Aureliano (274)-Criação de uma nova moeda radiada, o aurelianus, com um peso de c. 4g, fabrico cuidado, módulo grande e um teor de fino de 50‰ (XX, XXI, XX•I, KA)

Fracasso da reforma: as novas moedas são imediatamente retiradas da circulação - entesouramento -, continuando a circular os maus antoninianos dos anos 260-274 (Lei de Gresham)

- Criação de uma moeda laureada (denário)

Page 30: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

A Reforma de 294 - Criação do argenteus, em prata, com um teor de fino de 800‰ (similar ao denário de Nero)

III. O Baixo ImpérioO Império em crise: da reforma de Aureliano a 305

- Criação do neoantoninianus, uma pequena moeda radiada, em bilhão (similar ao antoniniano)

- Estandardização dos tipos monetários

- criação do nummus (follis), uma moeda de bilhão com busto laureado, um teor de fino de 40‰ e um peso de cerca de 10 g (similar ao asse augustano)

Page 31: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoIII. Baixo Império

O século IV - Das reformas ao colapso do sistema monetário

Reorganização das casas da moeda

• Criação do solidus (c. 4,50 g) e da siliqua (c. 3,4g)

O período constantiniano

Page 32: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O sistema monetário romanoIII. Baixo Império

O século IV - Das reformas ao colapso do sistema monetário

307-348: Redução ponderal do nummus, cunhado de forma massiva

O período constantiniano

Page 33: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Principais tipos dos bronzes constantinianos

SOLI INVICTO COMITI PROVIDENTIA AVGG/CAESS

GLORIA EXERCITVS (2 estdts) GLORIA EXERCITVS (1 estdt)

CONSTANTINOPOLIS 330-340

VRBS ROMA 330-340

VICTORIAE DD AVGG Q NN 347-348

335-340330-335

313-319 324-330

Page 34: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O século IV - Das reformas ao colapso do sistema monetário

348: Constâncio II e Constante reformam a moeda de bronze, com a criação do AE2 (4,20-5,20g), e do AE3 (2,60g)

355: é introduzido uma pequena moeda de bronze, o AE4

AE3 (17-21 mm)

AE2 (21-25 mm)

AE4 (13-17 mm)

Page 35: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

O século IV - Das reformas ao colapso do sistema monetário

A partir de inícios do séc. V, cunha-se, sobretudo, numerário em ouro (solidi e tremisses) e prata (siliquae e milliarenses).

Ao nível do bronze cunham-se pequenas quantidades de moeda, de forma esporádica, essencialmente AE4 e minimi (módulo ≤ 12 mm).

As últimas emissões romanas que chegaram à Hispânia em volume significativo datam de 393-395 (AE2 Gloria Romanorum).

383: criação do tremis (1,50g), com o valor de 1/3 do solidus

Page 36: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Principais tipos monetários de meados do séc. IV

FEL TEMP REPARATIO (Galera) FEL TEMP REPARATIO (Cavaleiro)

FEL TEMP REPARATIO (Cavaleiro) VICTORIAE DD NN AVG ET CAES

SPES REIPVBLICE

AE2350-355

AE2350-355

AE3353-361

AE2350-353

AE4355-363

Page 37: INTRODUÇÃO À NUMISMÁTICA ROMANA

Principais tipos monetários de finais do séc. IV

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AE2

REPARATIO REIPVB (378-387) GLORIA ROMANORVM (393-395)

AE4 VOT V MVLT X (378-383) VOT V (383-392)

SALVS REIPVBLICAE (383-395) VICTORIA AVGGG (375-387)