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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO – DAYSE MARIA PINHEIRO MOTA – TITULAR DA VARA DA COMARCA DE CAJAZEIRAS, ESTADO DA PARAÍBA. URGENTE! MANUEL MAXIMIANO DE MELO, brasileiro, casado, aposentado, portador da cédula de identidade número XXXXXXXX - SSP/PB, e cadastrado no CPF número XXXXXXXXXXX, residente e domiciliado à Rua José Alberto Lopes Rodrigues, 170, Vila Nova II, Cajazeiras – PB; por conduto da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA PARAÍBA, através de seu Advogado, infra-assinado, vem, pela presente, perante Vossa Excelência propor: AÇÃO DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA COM PEDIDO DE LIMINAR Em face de LUCIANO SOARES DE MELO, brasileiro, solteiro, operador de máquinas, portador da cédula de identidade número XXXXXXXX - SSP/PB, cadastrado no CPF número XXXXXXXXXXXXXX, residente e domiciliado à Rua José Alberto Lopes Rodrigues, 170, Vila Nova II, Cajazeiras – PB, e do MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS - PB, com sede à Rua Juvêncio Carneiro, nº 253, Centro, Cajazeiras – PB; pelos motivos de fato e de direito expostos a seguir: PRELIMINARMENTE Em sede de preliminar, a promovente pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita, assegurado pela Constituição Federal 1 e Lei Federal nº. 1.060/50, haja vista não possuir recursos suficientes para custear as despesas processuais e 1 CF/88 – ARTIGO 5º - LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO – DAYSE MARIA PINHEIRO MOTA – TITULAR DA 3ª VARA DA COMARCA DE CAJAZEIRAS, ESTADO DA PARAÍBA.

URGENTE!

MANUEL MAXIMIANO DE MELO, brasileiro, casado, aposentado, portador da cédula de identidade número XXXXXXXX - SSP/PB, e cadastrado no CPF número XXXXXXXXXXX, residente e domiciliado à Rua José Alberto Lopes Rodrigues, 170, Vila Nova II, Cajazeiras – PB; por conduto da DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA PARAÍBA, através de seu Advogado, infra-assinado, vem, pela presente, perante Vossa Excelência propor:

AÇÃO DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA

COM PEDIDO DE LIMINAR

Em face de LUCIANO SOARES DE MELO, brasileiro, solteiro, operador de máquinas, portador da cédula de identidade número XXXXXXXX - SSP/PB, cadastrado no CPF número XXXXXXXXXXXXXX, residente e domiciliado à Rua José Alberto Lopes Rodrigues, 170, Vila Nova II, Cajazeiras – PB, e do MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS - PB, com sede à Rua Juvêncio Carneiro, nº 253, Centro, Cajazeiras – PB; pelos motivos de fato e de direito expostos a seguir:

PRELIMINARMENTE

Em sede de preliminar, a promovente pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita, assegurado pela Constituição Federal1 e Lei Federal nº. 1.060/50, haja vista não possuir recursos suficientes para custear as despesas processuais e honorários advocatícios sem prejuízo de seu sustento e de sua família, para tanto, faz juntar a este petitório afirmação de pobreza.

O artigo 4º da Lei Federal nº. 1.060/50 determina, de forma nada vacilante, que basta a juntada de declaração de hipossuficiencia da

1 CF/88 – ARTIGO 5º - LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;

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parte, na própria petição inicial para a concessão da gratuidade da justiça, in verbis:

Art. 4º A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não está em condições de pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família.

DOS FATOS

O Requerente alega que seu filho Luciano é usuário e dependente de substâncias químicas e/ou entorpecentes, já tendo consumido, entre outras, maconha, cola, “crack” e cocaína, todas associadas ao álcool.

Alega, também, que decorrente de sua dependência química, repetidas vezes furtou bens de valores de sua própria casa para vendê-los a fim de adquirir tóxicos para seu consumo. Na verdade, não há mais bens, pois o mesmo se desfez de tudo.

O usuário é operador de retro escavadeira, e, antes de ser usuário de drogas, era extremamente requisitado na região de Cajazeiras, vindo a auferir lucros superiores à R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por mês. Em vista do vício, não consegue mais trabalhar.

O usuário chegou a apoderar-se de uma moto de um antigo empregador para trocá-la por drogas, eis que aquele teve de resgatá-la em uma “boca de fumo” perante um traficante conhecido por “Nêna”.

Após perder este emprego, conseguiu trabalhar numa empresa chamada “TRATORCOLT” com sede em Bonito de Santa Fé, não durando muito tempo em virtude de chegar para trabalhar várias vezes alterado, além de se apoderar de máquinas da empresa para realizar trabalhos “clandestinos” no intento de conseguir mais droga.

Destaque-se, por oportuno, que o usuário era casado e possui dois filhos menores, LUAN ALEXANDRE DE MELO com oito anos e FRANCISCO LUCAS ALEXANDRE DE MELO com apenas três anos. Após toda essa situação sua esposa o abandonou, também, segundo ela, por o mesmo ter chegado a utilizar drogas na frente dos filhos.

Conforme ficha expedida pelo CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) desta cidade, o mesmo reconhece que precisa de ajuda, mas nunca procurou tratamento, pelo que, pugna-se por esta medida constritiva.

DO DIREITO

DA NECESSIDADE DA MEDIDA:

O Autor pleiteia a intervenção do Poder Judiciário para internação compulsória do primeiro Requerido em clínica especializada para tratamento da dependência em drogas e em álcool, POR SER ESTA A ÚNICA

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MEDIDA EFICAZ DE PROTEÇÃO A SUA SÁUDE.

O direito do Requerido está amparado no artigo 4º da Lei 10.216/01, a internação constitui uma das alternativas de assistência a pessoas portadoras de transtornos mentais.  Sendo a responsabilidade pelo custeamento da internação responsabilidade do Município Requerido, consoante estabelecido no artigo 196 da Constituição Federal.

Ademais, o dever dos entes estatais de disponibilizar adequado tratamento de saúde vem expresso no artigo 23 da Constituição Federal, e é compartilhado pela União, pelos Estados e pelos Municípios, sendo todos solidariamente responsáveis.

Em relação aos Municípios, ainda, há previsão expressa na Constituição da República de atribuição e responsabilidade a prestação do atendimento à saúde. Diz o artigo 30, inciso VII, da Constituição Federal que “Compete aos Municípios: (...) prestar, em cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população”.

Trata-se da garantia dos direitos fundamentais à saúde e à dignidade humanas, pois é consabido que o uso contínuo de álcool e de drogas ilícitas, como a maconha e o crack, tornam o paciente dependente física e psicologicamente e trazem consequências drásticas tanto para ele com também para toda a sua família e para a sociedade.

A dependência química ao álcool e a drogas ilícitas é certamente a pior doença social epidêmica já enfrentada pela humanidade, pelos danos irreversíveis que causa à saúde do paciente, mas também pela destruição dos vínculos familiares, base da convivência humana, e deterioração do tecido social, uma vez que, para satisfazerem o vício, os dependentes infernizam a vida dos familiares, furtam, roubam, matam.

A dependência química aflige igualmente a todas as pessoas, independente de idade, cor, raça, sexo, religião, classe social, e a todos os povos. E apesar da sua trágica dimensão, os governos exitam, de forma muito perigosa, a enfrentá-la, como é o caso do Brasil, onde os governos se sucedem mas ninguém dá a tenção devida à questão.

A saúde é um dos direitos fundamentais garantidos a todos pela Constituição Federal (art. 6º), na categoria de direitos sociais, que são os seguintes: educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, e assistência aos desamparados (art. 7º, CF).

A Carta Magna (art. 196) determina que é dever do Estado garantir esse direito a todos, mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Para a concretização desse direito, a Lei Maior (art. 198) criou o Sistema Único de Saúde – SUS, que, conforme ensina JOSÉ AFONSO

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DA SILVA2, é integrado por uma rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços de saúde, e constitui o meio pelo qual o Poder Público deve cumprir o seu dever na relação jurídica de saúde, que tem no polo ativo qualquer pessoa e a comunidade, já que o direito à promoção e à proteção da saúde é também um direito coletivo.

Segundo o autor, o Sistema Único de Saúde implica ações e serviços de instituições e órgãos públicos federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta, regendo-se pelos princípios da descentralização, com direção única em cada esfera de governo, do atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas (mas sem prejuízo dos serviços assistenciais), e da participação da comunidade, que confirma seu caráter de direito social pessoal, de um lado, e de direito social coletivo, de outro.

Por outro lado, a Carta Magna (art. 1º, III) tutela a dignidade da pessoa humana, como princípio fundamental. JOSÉ AFONSO DA SILVA3 leciona que a dignidade é atributo intrínseco, da essência da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a qualquer preço. Que não admite substituição equivalente. Assim, a dignidade entranha esse confunde com a própria natureza do ser humano.

A dignidade da pessoa humana é um desses conceitos a priori, um dado preexistente a toda experiência especulativa, tal como a própria pessoa humana. A Constituição, reconhecendo sua existência e sua eminência, transformou-a num valor supremo da ordem jurídica, quando a declara como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil constituída em Estado Democrático de Direito.

Se é fundamento, diz o autor, é porque se constitui num valor supremo, num valor fundante da República, da Federação, do País, da Democracia e do Direito. Portanto, não é apenas um princípio da ordem jurídica, mas o é também da ordem política, social, econômica e cultural. Daí sua natureza de valor supremo, porque está na base de toda a vida nacional.

E conclui afirmando que a dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida.

No caso em tela, o paciente se encontra em tamanho estado de vulnerabilidade, com a saúde já profundamente comprometida e expondo seriamente a própria vida, bem como o bem-estar físico, mental e social dos seus familiares, e o Poder Judiciário deve assumir seu relevante papel, dando efetividade a esses direitos fundamentais e garantindo a proteção da pessoa e da coletividade.

Até porque, o caminho das drogas é largamente conhecido

2 SILVA, JOSÉ AFONSO DA. Comentário contextual à constituição. 2ª ed., de acordo com a

EmendaConstitucional nº 52 de 08.3.2006, - São Paulo: Malheiros Editores, 03.2006, p. 770.

3 SILVA, JOSÉ AFONSO DA. Comentário contextual à constituição. 2ª ed., de acordo com a

EmendaConstitucional nº 52 de 08.3.2006, - São Paulo: Malheiros Editores, 03.2006, p. 38.

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por todos, e não faz sentido algum que se aguarde o seu desfecho trágico, – o paciente passar a cometer crimes violentos para conseguir a droga –, para só então agir.

Nesse diapasão, o Código Civil (art. 4º, II) estabelece que os ébrios habituais e os viciados em tóxicos são relativamente incapazes para praticarem os atos da vida civil, e que estão sujeitos a curatela (art. 1.767, III).

O Decreto-Lei nº 891/1938, que aprovou a lei de fiscalização de entorpecentes, classifica a toxicomania ou a intoxicação habitual por substancias entorpecentes como doença de notificação compulsória, através de decisão judicial, e regulamenta a possibilidade de internação compulsória ou voluntária dos toxicômanos ou dos intoxicados habituais, por inebriantes em geral ou bebidas alcoólicas, in verbis:

Art. 27. A toxicomania ou a intoxicação habitual, por substâncias entorpecentes, é considerada doença de notificação compulsória, em caráter reservado, à autoridade sanitária local.

Art. 28. Não é permitido o tratamento de toxicômanos em domicílio.

Art. 29. Os toxicômanos ou os intoxicados habituais, por entorpecentes, por inebriantes em geral ou bebidas alcoólicas, são passíveis de internação obrigatória ou facultativa por tempo determinado ou não.

§ 1º A internação obrigatória se dará, nos casos de toxicomania por entorpecentes ou nos outros casos, quando provada a necessidade de tratamento adequado ao enfermo, ou for conveniente à ordem pública. Essa internação se verificará mediante representação da autoridade policial ou a requerimento do Ministério Público, só se tornando efetiva após decisão judicial.

(...)

§ 3º A internação facultativa se dará quando provada a conveniência de tratamento hospitalar, a requerimento do interessado, de seus representantes legais, cônjuge ou parente até o 4º grau colateral inclusive.

(...)

§ 6º A internação se fará em hospital oficial para psicopatas ou estabelecimento hospitalar submetido à fiscalização oficial.

E a Lei nº 10.216/2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, prescreve o seguinte:

Art. 1º Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou qualquer outra.

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Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão formalmente cientificados dos direitos enumerados no parágrafo único deste artigo.

Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de transtorno mental:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades;

II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade;

III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração;

IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;

V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária;

VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;

VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento;

VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis;

IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.

Art. 3º É responsabilidade do Estado o desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais, com a devida participação da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.

Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos.

Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação psiquiátrica:

I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário;

II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e

III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça.

Art. 9º A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários.

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Nesse diapasão, os Tribunais têm decidido pela internação compulsória para tratamento contra a drogadição, consoante se lê abaixo4:

TJRJ-094596) AGRAVO DE INSTRUMENTO. OBRIGAÇÃO DE FAZER. DIREITO À SAÚDE E À VIDA DO PACIENTE. INTERNAÇÃO EM NOSOCÔMIO PARA TRATAMENTO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA. DECISÃO QUE ANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA. CABIMENTO. 1. O caso em análise gira em torno de matéria afeta à preservação do direito à vida e à saúde, tangenciando inclusive o mínimo existencial. A Teoria da Reserva do Possível não autoriza o ente federado a se evadir do cumprimento de norma constitucional que visa efetivar um direito erigido à categoria jurídica de direito fundamental. O art. 196 do Texto Fundamental prescreve que a saúde é direito de todos e dever do Estado. 2. Encontrando-se o paciente em situação de dependência química a ponto de necessitar de internação compulsória, conforme atestado em laudo médico, caracteriza-se sua incapacidade para os atos da vida civil, nos termos do art. 4º, II, do Código Civil, justificando-se sua representação independente de procedimento formal de interdição para poder exigir a satisfação de seu direito à saúde perante o Estado. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO COM FULCRO NO ART. 557, CAPUT, DO CPC. (Agravo de Instrumento nº 0011482-57.2011.8.19.0000, 17ª Câmara Cível do TJRJ, Rel. Marcia Alvarenga. j. 16.03.2011).

DO CABIMENTO DA MEDIDA TUTELA ANTECIPADA SEM A PRÉVIA OITIVA DAS PARTES

A antecipação da tutela sem a prévia oitiva das partes está prevista no art. 461 do CPC e justifica-se pela urgência e gravidade do caso.

Com efeito, a fumaça do bom direito reside nas própria declarações do paciente, feitas na presença dos seus familiares, de que há anos é usuário de álcool, de maconha e de crack, de que hoje vive em situação de mendicância na cidade de Cajazeiras/PB, que já se submeteu a outras internações e tratamentos, sem êxito.

E o perigo da demora, que justifica a concessão liminar da medida, reside no fato de que este não consiga retornar ao seu convívio social normal, onde detinha uma profissão com boa remuneração bem como pelo fato de não poder mais prover uma assistência digna aos seus dois filhos menores, agravados pelo fato de o mesmo ter se separado, ou seja, está, gradativamente perdendo sua família, trazendo transtornos e sofrimentos para seus familiares.

Além disso, seu pai e sua mãe são pessoas idosas, que não suportam a luta diária com o filho, estando inclusive sujeitos a reações violentas por parte dele.

4 JURIS PLENUM OURO, Caxias do Sul: Plenum, n. 22, Novembro. 2011. 1 dvd (Repositório autorizado de

jurisprudência pelo STF, STJ, TRF da 1ª, 4ª e 5ª Regiões e TST).

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O art. 461 do CPC determina que, na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou mediante justificação prévia, citado o réu (§3º).

O juiz poderá, na concessão da liminar da tutela, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando-lhe prazo razoável para o cumprimento do preceito (§4º).

Observe-se que, diante da urgência do caso e da suficiência da prova constituída, – declarações do paciente e da família –, torna-se prescindível a apresentação da indicação médica para tratamento de dependência química na inicial, principalmente, porque será produzida durante a internação, consoante entendimento jurisprudencial5:

TJRS-543596) APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO À SAÚDE. PEDIDO DE AVALIAÇÃO E INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE DEPENDENTE QUÍMICO. DESNECESSIDADE DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. 1. Considerando que a pretensão consiste justamente em que seja realizada, inicialmente, avaliação médica compulsória, pois o dependente químico não se submeterá a esta voluntariamente - como é comum nestes casos, eis que sequer admite sua dependência, tampouco a necessidade de tratamento -, é desnecessária pré-constituída de indicação médica para tratamento de dependência química. 2. É certo que para que se proceda a internação compulsória, deve, necessariamente, haver indicação médica para tanto. No entanto, se a parte autora não possui meios de comprovar previamente a necessidade de internação, mas postula a produção desta prova, deve ela ser oportunizada no curso do processo. DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível nº 70041029232, 8ª Câmara Cível do TJRS, Rel. Luiz Felipe Brasil Santos. j. 01.09.2011, DJ 08.09.2011).

Assim, impõe-se a urgente concessão da medida, determinando a internação compulsória do paciente em instituição especializada no tratamento de dependência química.

DA COMPETÊNCIA DO JUIZO DE FAMILIA

No caso em apreço pede-se a medida para internação compulsória do requerido em razão de sua atual incapacidade de discernimento para atuar com autonomia de vontade; o requerido nega-se a

5 JURIS PLENUM OURO, Caxias do Sul: Plenum, n. 22, Novembro. 2011. 1 dvd (Repositório autorizado de

jurisprudência pelo STF, STJ, TRF da 1ª, 4ª e 5ª Regiões e TST).

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se submeter ao tratamento médico necessário para o restabelecimento de sua saúde mental, embora não esteja munido de plena capacidade de tomar tal decisão.

Nesse sentido, vale consignar que o artigo 1.777 do Código Civil traz a possibilidade/dever de se promover a internação do interdito em estabelecimento adequado, até que haja recuperação de sua saúde mental que lhe permita voltar ao convívio doméstico e social.

Também é importante asseverar que a profilaxia mental, a assistência e a proteção à pessoa e aos bens dos psicopatas por doença mental, toxicomania ou intoxicação habitual também encontra guarida no Decreto nº 24.559/34 e no Decreto-Lei nº 891/38.

O art. 32 do Decreto-Lei nº 891/38 estabelece que a competência para deliberar sobre a internação é do “Juízo de Órfãos”, de modo que atualmente tal competência é das Varas de Família.

Nesse sentido o Conflito de Competência nº 70007364599 - RS (3.12.03, Rel. Desª. Maria Berenice Dias), “não há como negar que a demanda principal diz respeito à capacidade da pessoa quando se busca, pela via da internação compulsória, sua proteção”.

No mesmo TJRI, o Dr. Ney Wiedmann Neto, atuando na 6ª Câmara Cível, em decisão monocrática (CC 70007999360, 20.1.04), sinalou que a ação que objetiva internação compulsória perquire, direta ou indiretamente, com o estado ou capacidade da pessoa. Em tais condições, considerando que o objetivo da demanda diz com matéria afeta ao Direito de Família, manifesto-me pela declinação de competência para uma das Câmaras integrantes do 4º Grupo Cível.

Em recentes e festejados julgados, proferiu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA EM QUE SE DISCUTE A CAPACIDADE E ESTADO DA PESSOA. COMPETÊNCIA DA VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES. Cuidando-se de ação em que se discute o estado e a capacidade civil de pessoa alcoolista, compete ao juízo especializado da vara de família e sucessões o processamento e julgamento do feito, ainda que, no pólo passivo, figure ente público. Precedentes deste Tribunal. Desacolheram o conflito de competência. (Conflito de Competência Nº 70054915608, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 28/08/2013)

(TJ-RS - CC: 70054915608 RS , Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Data de Julgamento: 28/08/2013, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 04/09/2013)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. DIREITO DE FAMÍLIA. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA DE DEPENDENTE QUÍMICO. A questão ora debatida diz respeito ao estado e à capacidade da pessoa,

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matéria atinente ao direito de família, portanto, não há falar em competência da 10ª Vara da Fazenda Pública, sendo competente para processamento e julgamento do feito a 8ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Porto Alegre. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA PROCEDENTE. (Conflito de Competência Nº 70058965302, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 19/03/2014)

(TJ-RS - CC: 70058965302 RS , Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Data de Julgamento: 19/03/2014, Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 25/03/2014)

DO PEDIDO

Ante o exposto, a DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DA PARAÍBA, por seu defensor que a esta subscreve, no uso de suas atribuições legais, ex vi da legislação citada preambularmente, nos interesses do requerente, requer:

a) defira-se a tutela antecipada, sem prévia oitiva das partes, para cumprimento pelo MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS, através de seu representante legal, ou quem o substitua, determinando a imediata internação de LUCIANO SOARES DE MELO, para que se submeta compulsoriamente, pelo tempo que for necessário, a tratamento contra dependência química em instituição adequada a ser designada por Vossa Excelência ou pela conveniência do Município requerido;

b) nomeie-se curador especial para LUCIANO SOARES DE MELO, acima qualificado, nos termos dos arts. 4º, II, e 9º, I, do Código Civil, por ser relativamente incapaz, o qual, pleiteia-se nesse ato que seja seu pai, ora requerente;

c) na hipótese de não-cumprimento imediato da tutela antecipada, imponha-se multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), a ser paga pelo Município, sem prejuízo da responsabilização criminal da autoridade que der causa a desobediência (art. 461, §5º, CPC);

d) cumprida a tutela antecipada, citem-se LUCIANO SOARES DE MELO, acima qualificado, através do seu curador especial, e o MUNICÍPIO DE CAJAZEIRAS/PB, através da Procuradoria Municipal, para, querendo, contestarem a presente ação, observando-se o disposto nos arts. 188 e 300 do CPC, sob pena de revelia;

e) A intimação do ilustre representante do Ministério Público para que se manifeste no presente feito;

f) A gratuidade das custas processuais, nos termos

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da lei e da declaração de hipossuficiente inclusa;e

g) Finalmente requer a intimação pessoal do Defensor Público que oficia perante este juízo para todos os termos e atos do processo (artigo 128, inciso I, da Lei Complementar Federal 080/94 e art. 5º, parágrafo 5º, da Lei Federal nº 1060/50).

Protesta pela produção posterior de todas as provas admitidas em direito, especialmente inquirição de testemunhas, juntada de documentos e exames periciais que se fizerem necessários.

Dê-se à causa o valor, para efeitos meramente fiscais, de R$1.000,00 (mil reais).

Termos em que,Pede deferimento.

Cajazeiras, 06 de junho de 2014.

ADVOGADORhafael Sarmento Fernandes

OAB/PB 17.319