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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018 1 Narrativas Imersivas no Telejornalismo: Experiências e Limites 1 Edna de Mello SILVA 2 Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP RESUMO A Realidade Virtual (VR) como potencializadora de imersão tem sido explorada em narrativas não-ficcionais principalmente no ambiente do ciberjornalismo. A proposta deste artigo é discutir como as narrativas imersivas são utilizadas no âmbito do telejornalismo, explorando suas principais características e formas de produção. Os procedimentos metodológicos incluem a revisão de literatura com o estudo das correntes teóricas e conceituais, bem como a análise de conteúdo do corpus analisado, cujo recorte inclui experiências de programas telejornalísticos nacionais e estrangeiros. Os resultados apontam para o debate sobre os limites e possibilidades da narrativa imersiva como marcas da inovação no jornalismo. PALAVRAS-CHAVE: telejornalismo; imersão; realidade virtual; realidade aumentada; narrativas imersivas. INTRODUÇÃO A emergência das tecnologias digitais suscitou mudanças importantes nas rotinas de produção e de consumo das informações jornalísticas. Inseridas no contexto da cibercultura, as empresas jornalísticas iniciaram um processo de experimentação de novos formatos para apresentação de notícias e de incorporação de novas linguagens narrativas. Neste cenário, com a popularização dos smartphones e dos tablets a incorporação destas ferramentas na apuração, na produção e na distribuição de conteúdos jornalísticos tem sido constante. Essas mudanças estruturais influenciam também a forma como os espectadores recebem as informações ancoradas nos produtos 1 Trabalho apresentado no GP Telejornalismo, XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Docente do Curso de Design Educacional da UNIFESP, docente colaboradora do PPGCOM/UFT, coordenadora do GP Telejornalismo. E-mail: [email protected].

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Joinville - SC – 2 a 8/09/2018

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Narrativas Imersivas no Telejornalismo: Experiências e Limites1

Edna de Mello SILVA2

Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP

RESUMO

A Realidade Virtual (VR) como potencializadora de imersão tem sido explorada em

narrativas não-ficcionais principalmente no ambiente do ciberjornalismo. A proposta

deste artigo é discutir como as narrativas imersivas são utilizadas no âmbito do

telejornalismo, explorando suas principais características e formas de produção. Os

procedimentos metodológicos incluem a revisão de literatura com o estudo das correntes

teóricas e conceituais, bem como a análise de conteúdo do corpus analisado, cujo recorte

inclui experiências de programas telejornalísticos nacionais e estrangeiros. Os resultados

apontam para o debate sobre os limites e possibilidades da narrativa imersiva como

marcas da inovação no jornalismo.

PALAVRAS-CHAVE: telejornalismo; imersão; realidade virtual; realidade aumentada;

narrativas imersivas.

INTRODUÇÃO

A emergência das tecnologias digitais suscitou mudanças importantes nas rotinas

de produção e de consumo das informações jornalísticas. Inseridas no contexto da

cibercultura, as empresas jornalísticas iniciaram um processo de experimentação de

novos formatos para apresentação de notícias e de incorporação de novas linguagens

narrativas. Neste cenário, com a popularização dos smartphones e dos tablets a

incorporação destas ferramentas na apuração, na produção e na distribuição de conteúdos

jornalísticos tem sido constante. Essas mudanças estruturais influenciam também a forma

como os espectadores recebem as informações ancoradas nos produtos

1 Trabalho apresentado no GP Telejornalismo, XVIII Encontro dos Grupos de Pesquisas em Comunicação, evento

componente do 41º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Docente do Curso de Design Educacional da UNIFESP, docente colaboradora do PPGCOM/UFT, coordenadora do

GP Telejornalismo. E-mail: [email protected].

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audiovisuais, como é o caso do jornalismo televisivo. Uma proposta concernente a esse

novo contexto relaciona-se ao uso da realidade aumentada e da realidade virtual como

narrativas imersivas, que no telejornalismo se apresenta como elementos capazes de

potencializar a relação com o telespectador ao ampliar os limites da tela e diminuir a

distância com o fato.

Diante desta problematização, este artigo busca compreender de que forma as

empresas de televisão, em seus programas jornalísticos, têm empregado esses novos

formatos e o que essas linguagens podem oferecer ao telespectador enquanto narrativas

imersivas. Para tanto, o estudo se articula com a revisão de literatura em torno dos

conceitos de Jornalismo Imersivo, de Realidade Virtual e de Realidade Aumentada que

compõem o estrato das narrativas imersivas no jornalismo televisivo. A partir daí,

elencou-se uma lista das empresas midiáticas de referência nacional e internacional que

no período de 2014 a 2018 apresentaram conteúdos com técnicas de vídeos 360 graus ou

mencionaram elementos de jornalismo imersivo. Como parte da pesquisa empírica,

apresenta-se a análise de experiências de uso destas linguagens em noticiários

jornalísticos televisivos, destacando as primeiras experiências de produções das

emissoras CNN (EUA), BBC (Inglaterra), Record TV e SBT (Brasil) com narrativas

imersivas. No decorrer do trabalho exploramos as dimensões conceituais das propostas e

trazemos elementos sobre os usos e limites aplicados à produção e ao consumo de

produtos jornalísticos televisivos, tendo em vista a experiência do telespectador.

Jornalismo imersivo: um conceito em construção

Para falarmos de jornalismo imersivo temos que citar os trabalhos realizados por

De la Peña et al (2010, p. 291) que cunhou o conceito relacionando-o a uma produção de

notícias num formato no qual as pessoas poderiam obter experiências em primeira pessoa

em eventos ou situações descritas em narrativas jornalísticas.

A ideia fundamental do jornalismo imersivo é permitir que o participante

realmente entre em um cenário criado para representar a notícia. [...] O

participante pode entrar na história em uma das várias formas: como si mesmo,

um visitante que ganha acesso em primeira mão para uma versão virtual da

locação onde a história está ocorrendo, ou por meio da perspectiva de um

personagem implicado na notícia. Seja visitando o espaço como a si mesmo ou

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como um sujeito na narrativa, o participante vivencia uma experiência sem

precedentes com imagens e sons, e possivelmente, os sentimentos e emoções que

acompanham as notícias. (DE la PEÑA, 2010, p. 292).

Nas experiências de De la Peña (2012), a sensação de imersão era provocada por

meio da participação do espectador/jogador num cenário de representação digital animada

em 3D, onde o espectador era representado por um avatar digital, obtendo o ponto de vista

do mundo à sua volta pelos olhos desse avatar, embora os movimentos sejam de seu corpo

real. Um dos projetos da jornalista, Hunger in Los Angeles, foi exibido no Festival

Sundance de Cinema, em 2012, obtendo boa receptividade do público. Hunger apresenta

um cenário em animação digital em que o participante presencia o momento em que um

homem passa mal numa fila de distribuição de alimentos na cidade americana de Los

Angeles, Califórnia. Os espectadores “participantes” “entram” na narrativa como

espectadores interagindo com a cena, após colocarem um dispositivo com visor e fones

de ouvido (fig. 1).

Fig. 1 – Captura de tela de um trecho de Hunger in Los Angeles

Fonte: Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=SSLG8auUZKc>. Acesso em 21 jun 2017.

Para Seijó et al (2018, p. 63) a narrativa imersiva baseia-se tanto nas técnicas de

realidade virtual e de gravação de vídeos em 360º, recursos estes que combinados ou

independentes entre si, permitem produzir produtos de não ficção que envolvem o recptor

num cenário virtual em que ele pode interagir em tempo real. Os autores destacam que

estas técnicas têm transformado por completo as narrativas jornalísticas e não ficcionais.

“Nos casos de produtos gravados em 360 graus ou de produções tridimensionais com

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realidade virtual, a chave é a ilusão ou sensação de presença física do receptor num mundo

narrativo” (tradução nossa).

Domínguez diferencia o ‘jornalismo de imersão’ do jornalismo imersivo. Para a

autora, a imersão no jornalismo é uma prática de investigação do repórter, fundamental

para o relato da notícia. Com essa técnica o repórter se aprofunda nos temas que pretende

reportar, ganha a confiança das fontes, de forma a vivenciar uma imersão naquela

realidade. Já no jornalismo imersivo digital para conseguir a sensação de imersão nos

novos formatos de notícias passa pela integração da potência visual da interface com a

possibilidade de interagir com o relato. Diz ela:

A interação com a tela está implícita em qualquer atividade que se faça com o

computador, posto que a execução das ações implica mover a seta e clicar com o

mouse. Mas a ação no jornalismo imersivo tem uma matriz qualitativa porque

está associada à experimentação da história. Por este motivo, a interação não é

meramente funcional e sim, narrativa. (DOMÍNGUEZ, 2013, p. 78)

Os jornais impressos foram os primeiros a investir no jornalismo imersivo. O

diário Des Moines Register, da cidade de Des Moines, Iowa (EUA) lançou em 22 de

setembro de 2014 o primeiro vídeo imersivo com câmeras 360º para ser acessado em seu

site, Harvest of Change, reportando a vida numa comunidade rural que convive com os

desafios da agricultura num país tecnológico.

Fig. 2 – Captura de tela do site do Jornal Des Moines Register da reportagem “Harvest of Change”

Fonte: Disponível em: < https://www.desmoinesregister.com/pages/interactives/harvest-of-change/>.

Acesso em 24 jun 2018.

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A partir dessa iniciativa várias empresas de comunicação começaram a investir

em conteúdos imersivos, oferecendo produções especiais para seus leitores e

telespectadores de forma complementar a seus conteúdos específicos, num contexto

transmidiático.

Quadro 1 – Estreia do JI nas empesas de comunicação

Fonte: SEIJO, 2016, p. 415.

Da mesma forma, no contexto brasileiro as empresas de comunicação passaram a

diversificar e produzir projetos em que, principalmente, o vídeo 360 º ganhava destaque,

sendo apresentado como paradigma da realidade virtual.

Quadro 2 – Estreia do JI nas empresas brasileiras

Globo 04 de dezembro de 2015

Record 24 de julho de 2016

Band 22 de agosto de 2016

Estadão 06 de dezembro de 2016

Diário de Pernambuco 24 de fevereiro de 2017

Folha 07 de março de 2017

SBT 04 de maio de 2017

Rede TV 28 de junho de 2017

UOL 24 de outubro de 2017

Fonte: Elaboração Própria

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Formatos do Jornalismo Imersivo: a Realidade Virtual e a Realidade Aumentada

Em termos gerais, podemos entender a realidade virtual como um cenário

construído digitalmente que permite ao usuário acompanhar uma ação como se fosse

espectador ou personagem da narrativa. Para Kirner e Siscoutto (2007, p.4), a realidade

virtual se constitui como “uma nova geração de interface, usando representações

tridimensionais mais próximas da realidade do usuário, que permite romper a barreira da

tela, além de possibilitar interações mais naturais.”

Neste contexto, os vídeos 360 graus representam uma nova fase desse cenário ao

permitir a exploração do ambiente em que as imagens foram gravadas de maneira a

possibilitar ao espectador uma visão além da tela convencional. Nesta experiência, o

receptor por sua própria iniciativa pode escolher quais caminhos seguir espacialmente,

explorando novas dimensões da imagem apresentada, apesar desse roteiro ter sido

previamente capturado por uma câmera. A ampliação dos ângulos de imagens

possibilitada pelos vídeos 360º torna-se possível em virtude das imagens capturadas

serem sobrepostas num continuum indo além das possibilidades das antigas fotografias

panorâmicas. Ângulos inusitados como os detalhes do teto de um teatro, a plateia de um

show, as pessoas atrás do cinegrafista, diferentes imagens podem ser exploradas pelos

espectador, oferecendo a sensação de presença e de autonomia, diferente das reportagens

tradicionais em que o enquadramento escolhido pelo cinegrafista define o que se pode ver

na tela.

O formato do vídeo de 360º é o produto imersivo que tem sido mais ofertado pelos

canais de comunicação, seja em forma de reportagens ou de transmissões ao vivo. Como

sua produção é de relativo baixo custo, bastando apenas substituir a câmera tradicional

pelo novo equipamento e editar as imagens com softwares apropriados ou simplesmente

fazer a transmissão em tempo real, os vídeos 360 º vêm sendo apresentados como

produtos de jornalismo imersivo relacionados à realidade virtual.

O outro formato de realidade virtual utilizado pelo jornalismo são as

representações digitais tridimensionais relacionadas a cenários ou acontecimentos

noticiosos, podendo contar com depoimentos e áudios reais, como por exemplo, a

proposta de Nonny De la Peña, Hunger in L.A., mencionada anteriormente. Para Seijó et

al (2018, p. 65), “a diferença fundamental entre ambos formatos se baseia em que os

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produtos 360 graus permitem ao receptor ver tudo ao seu redor a partir de um ponto fixo,

já nas representações tridimensionais o usuário pode interagir com o ambiente (tradução

nossa)”.

Já no caso da Realidade Aumentada, as construções imagéticas em diferentes

dimensões são incorporadas ao mundo real, de forma a criar uma outra realidade. “Na

prática, a realidade aumentada é uma apresentação de dados em sobreposição de dados

em sobreposição ao mundo real, cujos elementos físicos são “aumentados” (ou

acrescentados) por elementos produzidos por computador.” (ROCHA, 2017, p. 412).

O usuário pode interagir com a realidade aumentada de forma multissensorial

(audição, olfato, visão) em tempo real com o que lhe é apresentado. Na RA o cenário real

e os objetos virtuais se mantém com a mesma configuração mesmo com a movimentação

do usuário no ambiente real. Diante das múltiplas possibilidades de integração entre o

ambiente real e a realidade virtual, Milgram et al. (1994) propuseram o “Reality-Virtuality

Continuum”, representado pelo diagrama (fig.3), no qual temos nos extremos os

ambientes exclusivamente real e exclusivamente real, entre eles, na interseção estaria a

chamada Mixed Reality ou Realidade Mista, a realidade aumentada estaria mais próxima

da realidade Mista.

Fig. 3 – Diagrama de Milgram

Fonte: Milgram e Kishino. In: BRAGA, 2012.

No telejornalismo, a Realidade Aumentada tem sido utilizada principalmente nos

cenários dos telejornais e nas revistas eletrônicas jornalísticas. Por meio de inserções de

representações digitais tridimensionais, o telespectador assiste a objetos criados

digitalmente no mesmo plano que os ambientes reais, como no caso do Jornal Nacional

(fig. 4).

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Fig. 4 – Cenário do Jornal Nacional com Realidade Aumentada

Fonte: Captura de tela. Vídeo. Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=k32Dk_NfdfM&t=86s

Consumo das produções de telejornalismo imersivo

Considerando que o telejornalismo é transmitido por aparelhos televisivos, as

produções imersivas dependem de outros suportes para serem consumidas. Além disso, o

consumo simultâneo de televisão e de recursos imersivos em outras plataformas pode

dispersar a atenção do conteúdo informativo.

As produções de telejornalismo imersivo baseadas em vídeos 360º podem ser

assistidas no computador, porém com limitações de navegação e de sensação de imersão.

Já nos smartphones ou tablets alguns recursos podem ser agregados dependendo do

modelo do equipamento ou do aplicativo.

Sem dúvida alguma, a sensação de imersão e de presença é mais intensificada com

o uso de equipamentos como os óculos de Realidade Virtual ou do Google Cardboard. Já

as produções de realidade aumentada, no caso do telejornalismo, podem ser vistas pela

televisão.

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Fig. 5 – Imagem vista por óculos de RV

Fonte: Captura de tela. Running with France’s wild horses (CNN News)

Procedimentos Metodológicos e análises

Nesta pesquisa, após a revisão de literatura por meio da pesquisa bibliográfica,

estabelecemos os primeiros critérios para iniciar uma pesquisa exploratória nos sites das

emissoras, redes sociais e notícias em jornais sobre a presença de conteúdos imersivos

nas emissoras de televisão nacionais. O período estudado foi de julho de 2014, ano de

início das primeiras experiências de jornalismo imersivo em outros países, a julho de

2018, data atual. Desta forma, foi possível organizar todas as primeiras produções de

telejornalismo imersivo relacionadas às cinco principais emissoras brasileiras: Globo,

SBT, Record, Band e RedeTV! (fig.5).

A partir destes primeiros resultados, deu-se início à análise das produções de cada

um dos programas jornalísticos televisivos com produções imersivas, elencando como

categorias de análise: o tempo da produção, o formato de notícia jornalística adotado, os

planos utilizados nas imagens, os detalhes do som e a plataforma onde a produção é

disponibilizada ao telespectador, com base nas técnicas de Análise de Conteúdo (Bardin,

1997).

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No infográfico abaixo, relacionamos os temas e o ano de veiculação das primeiras

produções de telejornalismo imersivo realizadas por emissoras de televisão brasileiras.

Fig.5 – Infográfico

Fonte: Elaboração Própria

A partir dos dados coletados foi possível inferir que as emissoras brasileiras

iniciaram suas produções de telejornalismo imersivo pouco mais de um ano após as

primeiras experiências estrangeiras. Para exemplificar as diferenças entre as iniciativas

nacionais e de outros países escolhemos descrever neste trabalho exemplos de produções

da CNN News (EUA), BBC News (Inglaterra), do SBT Brasil e do Domingo Espetacular

(Record), que passamos a apresentar a seguir.

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PR

OG

.

TÍT

UL

O

ÁUDIO

IMAGEM

PLATAFORMA

TEMPO/

FORMATO

Running with France´s Wild Horses

CN

N N

EW

S

Narração (off)

Sonora (off)

Trilha (BG e Sobe

som)

Plano Sequência

Uso de Drones

Plano Conjunto

Vídeo 360º

Aplicativo

Portal

2´21

Nota

Coberta

Celebrate the Summer Solstice at Stonehence

CN

N

NE

WS

Narração (off)

Som direto

Trilha (BG e Sobe

som)

Grande Plano Geral

Uso de Drones

Vídeo 360º

Aplicativo

Portal

01’34

Nota

Coberta

Damming the Nile

BB

C N

EW

S

Repórter (off)

Som direto

Trilha (BG e Sobe

Som)

Grande Plano Geral

Plano Conjunto

Drones

Time Lapse

Repórter sai da tela

Portal

YouTube

Aplicativo

12’33

Reportagem

Um Dia em Paraisópolis

DO

MIN

GO

ES

PE

TA

CU

LA

R

Som Direto (BG)

Sonora

Trilha (Sobe som)

Off (depoimento)

Plano Geral

Plano Conjunto

Grafismo

Câmera fica

Vídeo 360º

Facebook

5’30

Reportagem

(como TV)

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Fonte: Elaboração Própria

Discussão dos resultados e considerações

A partir dos resultados encontrados na análise dos materiais foi possível inferir

que no telejornalismo as produções imersivas são consumidas no processo transmidiático,

uma vez que outras plataformas são utilizadas para a fruição dos vídeos.

Em termos de linguagem, a maioria dos vídeos 360º graus são produzidos com

formatos jornalísticos televisivos, destacando-se a nota coberta e a reportagem como

principais modelos. As imagens, mesmo consumidas sem óculos especiais, possuem mais

detalhes do que os vídeos tradicionais, possibilitando ao espectador que explore ângulos

diferentes do ambiente em que ocorre o acontecimento noticiado. O fato de oferecer novas

possibilidades de exploração de imagens não significa diretamente que há mais

informação. Algumas imagens oferecem detalhes visuais que não agregam valor à notícia,

como no exemplo da reportagem sobre a comunidade de Paraisópolis em que poderia ser

visto detalhes da rua, sem nenhuma informação a respeito.

PR

OG

.

TÍT

UL

O

ÁUDIO

IMAGEM

PLATAFORMA

TEMPO/

FORMATO

O Maior Espetáculo da Terra

DO

MIN

GO

ES

PE

TA

CU

LA

R

Som Direto (BG)

Sonora

Trilha (BG/Sobe

som)

Off (depoimento)

Travelling

Grande Plano Geral

Plano Conjunto

Câmera fixa

Vídeo 360º

Facebook

6’10

Reportagem

Batalha de Mossul (Iraque)

SB

T B

RA

SIL

Som Direto

Sonora (Trad.off)

Off (depoimento)

Off Repórter

Grafismo

Câmera fixa

Passagem

Vídeo 360º

Facebook

7’40

Reportagem

Realidade

Mista

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Uma técnica que favoreceu o consumo do vídeo 360º foi utilizada pela BBC

News. No vídeo o repórter saía do quadro durante ‘a passagem’, obrigando o espectador

a experimentar outros ângulos da imagem a fim de acompanhar a narrativa. A todo

momento, novos movimentos do repórter e dos entrevistados convidavam o espectador a

explorar as novas possibilidades.

As produções nacionais são as que mais se assemelham aos formatos jornalísticos

televisivos tradicionais. Aspectos como o enquadramento com câmera fixa, a narração

em “off” do repórter e o registro do som direto são detalhes que fornecem mais

legitimidade à narrativa informativa, no entanto deixam de despertar a impressão de que

se trata de algo novo.

O tamanho dos vídeos também possibilita algumas interpretações. No caso da

CNN News, as produções são sempre curtas, com imagens mais produzidas, no formato

de mini-documentários. São vídeos que são marcados pelas informações visuais

panorâmicas e a sensação de imersão é acentuada pelo uso de trilhas musicais. Há pouca

informação relacionada à notícia como um todo, prevalecendo o conteúdo estético sobre

o jornalístico. Já a BBC News aposta em vídeos longos, com riqueza de detalhes

informativos, seja com inserção de elementos gráficos, com a presença de repórter em

cena, uso de imagens produzidas por drones, num formato de reportagem em série. Em

termos de recursos são as produções mais completas estudadas durante a coleta dos dados.

No caso das produções nacionais, o grande destaque são os vídeos do SBT Brasil.

Os vídeos 360º estão integrados à reportagem tradicional, de forma que podem ser

consumidos também na televisão, com a diferença de que nas outras plataformas os

vídeos apresentarão mais detalhes. Desta forma, se mantém a audiência da televisão,

oferecendo o mesmo conteúdo na outra plataforma. Podemos considerar que essas

produções se aproximam da realidade mista, uma vez que mantém conjugados os dois

universos.

Em relação ao acesso às produções imersivas do telejornalismo, a maioria delas

são oferecidas nas plataformas de redes sociais em que o Facebook se destaca. O

YouTube também é utilizado para oferecer esses conteúdos. No caso da CNN News e da

BBC News são oferecidos também aplicativos especiais para o consumo das produções,

o que não ocorre nas emissoras nacionais. Ressalta-se que o compartilhamento dos vídeos

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pelas redes sociais pode possibilitar o alcance de novas audiências e o engajamento maior

do público.

Salientamos que esta pesquisa se encontra em andamento. O recorte apresentado

neste artigo faz parte das primeiras leituras de análise do Corpus. Em trabalhos futuros

esperamos aprofundar os aspectos narrativos das produções imersivas, a relação do

telespectador com a experiência de imersão e os novos formatos de notícias inspirados

pelas tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual que estão estabelecendo este

novo momento que nomeamos como fase do Telejornalismo Imersivo.

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BRAGA, Marta Cristina Goulart. Diretrizes para o design de mídias em realidade aumentada:

situar a aprendizagem colaborativa online. Tese (doutorado). Universidade Federal de Santa

Catarina. Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Florianópolis,

SC, 2012. 1 v.

DE la PEÑA, N. et al. Immersive Journalism: Immersive Virtual Reality for the First-Person

Experience of News. Presence. Cambridge. Massachussets Institute of Technology. Vol.19, nº 4,

p. 291-301. Agosto de 2010.

DOMÍNGUEZ, E. Periodismo inmersivo: Fundamentos para una forma periodística basada en

la interfaz y la acción. Tesis doctoral. Barcelona: Universitat Ramon Llull (Comunicación), 2013.

KIRNER, C; SISCOUTTO, R. A. Fundamentos de Realidade Virtual e Aumentada. Porto

Alegre: Editora SBC, 2007. Disponível em: < http://www.ckirner.com/download/livros/Livro-

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REIS, A. B. Mundos virtuais e jornalismo imersivo: uma resenha histórica e conceptual.

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REPORTAGEM da Record em vídeo 360 atinge 1 milhao de visualizações no facebook.

Disponível em: <https://noticias.r7.com/domingo-espetacular/reportagem-da-record-em-

video-360-atinge-1-milhao-de-visualizacoes-no-facebook-26072016 . Acesso em 20 jun

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