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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Curitiba - PR – 26 a 28/05/2016
A Publicidade Gerada a Partir da Saga Harry Potter1
Caroline Ribeiro2
Julia Mantovani3
Patricia Schiffer4
Débora Pinto Pinheiro de Matos5
Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR
Resumo
Os filmes podem ser considerados apenas filmes, ou podem ser convidados para dentro
da vida das pessoas, e, para isso, precisa-se da Publicidade. Neste trabalho, buscamos
apresentar as estratégias de marketing envolvidas na geração de Publicidade dos livros e
filmes da Saga Harry Potter, assim como seus resultados no mercado e na sociedade.
Para tanto, estudamos a fundo a história por trás da história, desde a vida da autora J. K.
Rowling, passando pela enorme fama de sua obra, até as consequências geradas no
mundo. Pretende-se provar que a Publicidade não serve apenas como meio de
propagação de informações em diferentes plataformas, mas também como algo que
possa permitir à diversas pessoas um desejo em comum, neste caso, o desejo de se sentir
parte de algo.
Palavras-chave: Cinema; Harry Potter; Publicidade; Merchandising; J.K. Rowling.
Ao longo do sucesso crescente do cinema, a publicidade percebeu uma
oportunidade de usufruir desse sucesso, seja antecedendo os filmes, nos trailers, ou
incorporada nos filmes, através do Mershandising Editorial, em que podemos recordar
algumas cenas onde uma marca foi a protagonista por alguns minutos. Porém nem
sempre essa publicidade é explicita, marcando presença apenas em nosso inconsciente,
influenciando muitas vezes em nossas compras sem nem percebermos.
O gênero fantasia é um dos mais queridos do público, pois lida com o não
existente, criando assim uma maior vontade de pertencer ao mundo da fantasia. A
1 Trabalho apresentado no DT 2 - Publicidade e Propaganda do XVII Congresso de Ciências da Comunicação na
Região Sul realizado de 26 a 28 de maio de 2016.
2 Estudante do 5º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da PUC-PR, email:
3 Estudante do 5º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da PUC-PR, email: [email protected] 4 Estudante do 5º semestre do Curso de Publicidade e Propaganda da PUC-PR, email: patrí[email protected] 5 Orientadora do trabalho. Professora do Curso de Publicidade e Propaganda da PUC-PR, email:
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fantasia lida desde criaturas místicas até o subgênero de ficção científica, que lida com a
tecnologia do futuro.
Alguns dos mais conhecidos são:
Branca de Neve e os Sete Anões – 1937 – O primeiro filme
dos maiores clássicos da Disney conta a história de Branca, uma
jovem que fica aos cuidados de sua madrasta após a morte de seu pai,
o rei.
Fonte: https://filmow.com/branca-de-neve-e-os-sete-anoes-t1271/
O Mágico de Oz - 1939 – Dirigido por Victor Fleming, conta
a história de uma garota de Kansas, que após passar por um tornado,
vai parar em mundo diferente com bruxas e fadas, enquanto tenta
encontrar o caminho para casa.
Fonte: https://filmow.com/o-magico-de-oz-t1642/
Mary Poppins – 1964 – Dirigido por Robert Stevenson, conta
a história de uma babá diferente que aparece para ajudar uma família
depois que Jane desenha a babá perfeita.
Fonte:https://filmow.com/mary-poppins-t2886/
Star Wars - 1977 - Dirigido por George Lucas, com sete
filmes, os três primeiros episódios giram em torno da juventude de
Anakin Skywalker enquanto os outros três nos mostram como Anakin
muda para o lado negro da força e se torna Darth Vader.
Fonte: https://filmow.com/star-wars-episodio-iv-uma-nova-esperanca-t1068/
De Volta Para o Futuro – 1985 - O filme, dirigido por Robert
Zemeckis, conta a história de Marty McFly que acaba indo para o
passado, conhecendo seus futuros pais e acaba fazendo sua mãe se
apaixonar por ele, criando assim um paradoxo temporal. De Volta Para
o Futuro conta com mais dois filmes.
Fonte: https://filmow.com/de-volta-para-o-futuro-t380/
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Matilda - 1996 – Conta a história de uma menina que possui
poderes mágicos e é maltratada por sua família. Ela recorre aos seus
poderes e à sua professora favorita para consolo. Filme dirigido por
Danny DeVito.
Fonte: https://filmow.com/matilda-t7428/
O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel – 2001 –
Dirigido por Peter Jackson, este filme ganhador de Oscars conta a
história de um Hobbit que recebe o fardo de destruir o Um Anel.
Possui mais cinco filmes em sua franquia.
Fonte: https://filmow.com/o-senhor-dos-aneis-a-sociedade-do-anel-t840/
Piratas do Caribe - A Maldição do Pérola Negra – 2003 –
Dirigido por Gore Verbinski. O enredo segue o Capitão Jack
Sparrow, Will Turner e Elizabeth Swan, enquanto eles tentam
quebrar a maldição do ouro asteca. Possui mais três filmes.
Fonte: https://filmow.com/piratas-do-caribe-a-maldicao-do-perola-negra-t934/
As Crônicas de Nárnia – O Leão, a Feiticeira e o Guarda-
Roupa – 2005 – Conta a história de quatro irmãos que entram em
um guarda-roupa mágico que os transporta para um mundo irreal.
Dirigido por Andrew Adamson.
Fonte: https://filmow.com/as-cronicas-de-narnia-o-leao-a-feiticeira-e-o-guarda-
roupa-t207/
Os Vingadores – 2012 – Os heróis Homem de Ferro, Thor,
Capitão América, Hulk, Viúva Negra e Gavião Arqueiro se unem
contra Loki, o meio irmão de Thor, que quer comandar o planeta
Terra. Dirigido por Joss Whedon.
Fonte: https://filmow.com/os-vingadores-the-avengers-t15324/
Fantasia é com certeza um dos gêneros que mais chama atenção, mas por que
isso acontece? Primeiramente devemos analisar o psicológico do consumidor, que busca
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uma nova forma de vivência como uma fuga momentânea de sua vida corrida e
estressante. O consumidor típico deste gênero normalmente demonstra alguns desejos
de trazer a sensação de relacionamento que encontra nas histórias para a sua vida. Tanto
elementos emocionais quanto físicos se tornam parte da pessoa, saindo do script para o
dia a dia.
Por exemplo, pessoas que gostariam de ser super-heróis, de fazer parte de uma
aventura mais significativa, ou, nesse caso, de fazer magia como Harry Potter, tendem a
procurar filmes com esse enredo.
Uma forma de pôr em prática esse desejo é disponibilizada pela publicidade na
forma de compra e venda. O merchandising oferece diversas maneiras de viver a
experiência, mesmo sendo apenas um produto já é o bastante para algumas pessoas,
enquanto para outras ir a eventos e fazer cosplays lhes dá uma maior satisfação.
Dentre os filmes de maior bilheteria da história residem vários filmes do gênero
fantasia:
Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_filmes_de_maior_bilheteria
O sucesso dos livros e filmes da Saga Harry Potter se deu por diversos motivos,
como estratégias de marketing, elementos emocionais, grande interesse do público-alvo,
etc. Mas o que houve depois deste sucesso também colaborou imensamente para o
crescimento constante da Marca Harry Potter. Propagandas de outros produtos e lugares
utilizaram conceitos diretamente do universo do bruxinho como ‘carona’ para o sucesso,
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assim como diferentes livros, filmes e séries de televisão que se tornaram acostumados
a criar referências e paródias dessa história que todos acabamos conhecendo.
Com relação às estratégias de marketing utilizadas na criação desta marca, se
destacam tanto ideias clássicas que se encontram em livros de marketing pelo mundo
quanto ideias ousadas que tinham grande chance de falha. Tudo começa com um bom
produto, pois marketing inteligente não é o bastante para a produção de um sucesso
mundial se estivermos lidando com um produto ruim. Os livros de Harry Potter
atendiam perfeitamente às expectativas de seu público, além de conseguirem ser
diferentes das outras obras do mesmo gênero de fantasia que este público-alvo já
conhecia bem demais.
O envolvimento emocional se torna crucial na construção de marcas,
necessitando de algo que a autora Susan Gunelius chama de ‘Os 3 S’s’ em seu artigo
The Marketing Magic Behind Harry Potter, que consiste de estabilidade,
sustentabilidade e segurança (stability, sustainability and security) que fazem com que o
cliente, no caso leitores do mundo inteiro, se sintam conectados à história além de
apenas um livro que leem para relaxar, fazendo com que o público queira sempre mais.
Tamanho sucesso vai, então, tomar proporções próprias e começar a ‘trabalhar’
de volta para você, no sentido de que as pessoas, sem nenhum tipo de incentivo ou
motivo real, vão começar a comentar e falar sobre seu produto para outras pessoas,
gerando uma bola de neve de sucesso que consegue ainda mais sucesso. O marketing
boca-a-boca conta muito para a marca, pois o receptor não se sente ‘emboscado’ com a
informação se ela vem de alguém que ela gosta e confia, justamente o contrário, a
pessoa se sente ainda mais inclinada a atender à influência alheia, pois acredita no
julgamento desta outra pessoa.
A Internet se tornou base dos fãs de Harry Potter, onde comentavam e pediam
sempre mais, criando a marca do seu próprio jeito. Este aproveitamento da marca nas
mãos dos fãs pode ser assustador, mas traz mais sucesso do que se o público for
impedido de propagar estas ideias, como quase aconteceu com este caso, pois J. K.
Rowling e sua editora americana começaram a enviar cartas para que os donos de blogs,
fãs, escritores de fanfics e criadores de fanart parassem, mas elas rapidamente
perceberam que permitir aos consumidores o controle da conversa sobre o produto na
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Internet, era muito mais poderoso do que tentar pará-los. Hoje, a quantidade de sites
sobre Harry Potter está estimada em milhares e em diferentes línguas, incluindo
informações, quizzes, imagens, vídeos, podcasts, concursos e merchandising.
Até mesmo controvérsias podem ser utilizadas ao seu favor quando se lida com
marketing. As implicações de grupos religiosos diversos de que Harry Potter era
impróprio para as crianças, pois pretendia as envolver com bruxaria, somente
estimularam ainda mais a curiosidade das pessoas em relação a tanta confusão,
aumentando o público de leitores por pura curiosidade.
Quanto maior o público-alvo, maior será o buzz de comentários e indicações do
seu produto, portanto versões dos livros de Harry Potter com capas diferentes são
disponibilizadas até hoje, buscando sempre alguém que ainda não foi atingido. A versão
mais eficaz foi o box com capas mais ‘adultas’ e sérias, criando uma base de fãs adultos
que não conheciam a história, adultos que conheciam mas acreditavam ser apenas para
crianças e até mesmo adultos que queriam ler mas não queriam andar por aí com livros
com capas infantis.
Fonte: businessinsider.com/jk-rowling-business-methods-2011-7?op=1
Provocar, então, estes fãs que produzem mais e mais referências ao produto a
cada dia, faz com que eles comentem com curiosidade e antecipação aos vazamentos de
informações, a realização de eventos promocionais e o segredo do que vem pela frente,
o que leva o sucesso da marca ao topo. A equipe de marketing de Harry Potter ficou
melhor aos poucos nos teasers, criando uma excitação constante em seu público.
A forma mais conhecida de provocar ânimo em fãs de uma saga é o pré-
lançamento, mais tarde, nos filmes, a pré-estreia, começando pelo quarto livro da série,
Harry Potter e o Cálice de Fogo. Pessoas apareceram em livrarias do mundo todo
vestidas como o personagem principal para esperar até a meia-noite, quando a venda
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dos livros novos seria liberada, fazendo com que as livrarias tivessem que pedir mais
cópias dos livros por medo que não fossem o suficiente para atender tamanha demanda.
A ideia funcionou tão bem que o sétimo e último livro da saga, Harry Potter e as
Relíquias da Morte, se tornou o livro mais rapidamente vendido na história, de acordo
com o The New York Times, com mais de 11 milhões de cópias vendidas nas primeiras
vinte e quatro horas.
Manter o sucesso requer consistência, pois assim que o enorme público de fãs se
torna fiel, não se pode fazer nada que possa quebrar ou prejudicas este laço entre marca
e cliente, ou o cliente pode abandonar o conceito para procurar outra marca que siga
suas expectativas. J.K. Rowling teve a oportunidade de expandir sua marca ainda mais e
escolheu negar a proposta para protegê-la, quando o McDonalds sugeriu usar seu
bruxinho nas refeições McLanche Feliz, com brindes de Harry Potter e afins. A marca
Harry Potter cumpriu a sua promessa e fidelidade e continuou a crescer. No artigo The
Marketing Magic Behind Harry Potter, Susan Gunelius descreve o sucesso do
marketing utilizado em Harry Potter da seguinte forma:
Harry Potter é o exemplo perfeito da verdade fundamental das marcas: os
consumidores constroem as marcas, não suas companhias. Marketers podem
empurrar seus consumidores na direção certa, mas no fim, são os consumidores
que vivem a marca, fazem-na deles, criam envolvimento emocional com ela, se
tornam fiéis a ela, e são responsáveis pelo sucesso ou falha dela. (GUNELIUS,
2010).
Fonte: pt.slideshare.net/SusanGunelius/harry-potter-the-story-of-a-global-business-phenomenon
A história da própria autora se tornou interessante, fazendo com que, em 2011,
um filme sobre sua história como mãe solteira com o sonho de ser uma escritora
emocionou milhares ao trazer de vez a magia de Harry Potter à vida, Magic Beyond
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Words: The JK Rowling Story mostrou às pessoas toda a jornada de vida de Joanne
Rowling, seus amigos, pais, dificuldades, inspirações e, por fim, o nascimento de uma
das maiores marcas, que mais conquistaria o mundo para sempre.
Para manter a marca viva, em junho de 2010, após a estreia do sexto filme, foi
aberto o Wizarding World of Harry Potter, o parque temático do bruxinho no Universal
Studios, em Orlando, aumentando em 20% o público do parque geral apenas seis meses
depois da inclusão do parque de Harry Potter. Antes da abertura do parque, porém,
Cindy Gordon, da Universal Studios, disse para apenas sete pessoas sobre a construção
de um parque de Harry Potter em Orlando. Vinte e quatro horas depois, 350 milhões de
pessoas ao redor do mundo já haviam ouvido a notícia. Apenas sete pessoas.
Já em 2012, após o “fim” de Harry Potter, com a estreia do oitavo e último filme,
J.K. Rowling surpreendeu e emocionou fãs do mundo todo ao anunciar um site em que
os fãs poderiam reviver com ainda mais detalhes as histórias de seus livros como se
fossem realmente parte deles, comprando materiais no Beco Diagonal como Harry,
tendo uma varinha específica diferente da dos outros e até ter a chance de fazer um teste
para saber qual seria a sua casa de Hogwarts, entre a favorita Grifinória, Sonserina,
Corvinal e Lufa-Lufa. O site chamado de Pottermore ‘estrearia’ no dia do aniversário da
autora, o mesmo dia que Harry, 31 de julho.
O site funciona como os livros, um ‘conjunto’ de acontecimentos por ano, ou
seja, na sua estreia, apenas o primeiro livro estava disponível para jogar, novamente
provocando as pessoas que teriam que lidar com a curiosidade por um ano até poder
continuar a jornada juntamente com Harry e seus amigos. Em suas duas primeiras
semanas ativo, o site teve 22 milhões de visitas, sete milhões de contas, sendo que cada
visitante tinha acesso à em média 47 páginas, ficando nelas por, pelo menos, 25
minutos. Até hoje, Rowling publicou textos com novidades jamais vistas pelos fãs no
site, ao mesmo tempo em que os próximos livros e jogos se tornam disponíveis.
Mas os fãs queriam mais, então foi aberto em Londres o The Making of Harry
Potter, que tornava literal todos os bastidores que os fãs já conheciam dos livros como
A Magia do Cinema, de Brian Sibley e Harry Potter: Das Páginas para a Tela, de Bob
McCabe. Em um tour por estúdios reais de filmagem assim como maquetes, figurinos,
arte conceitual e adereços usados nos filmes.
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Ao fim do passeio por vários lugares conhecidos pelos fãs dentro do castelo de
Hogwarts assim como casas de outros personagens e até mesmo um pequeno cinema
com um recado dos atores principais, as pessoas se dirigem a uma loja de
merchandising de Harry Potter, assim como tantas que se encontram no parque em
Orlando, onde o público encontra de tudo, desde imitações dos doces que os bruxinhos
comem durante toda a história até o vestido do Baile de Inverno da Hermione, o que,
para os fãs, é realmente uma experiência incrível.
Recentemente, os fãs que continuam exercendo seu amor por Harry Potter
mesmo anos após a estreia do último filme receberam a grande notícia de que mais
filmes do universo de Hogwarts estão a caminho. Spin-Off do original, Animais
Fantásticos e Onde Habitam será uma trilogia contando a história de um livro à parte de
Harry Potter. O livro é sobre um magizoologista que cataloga a fauna de criaturas
mágicas em suas viagens e cujos estudos estão no livro que era usado por Harry Potter
em Hogwarts e se passa 70 anos antes da história de Potter. Com estreia prevista em
2016, a trilogia já confirmou o ator ganhador de Oscar Eddie Redmayne como
protagonista.
Mesmo quatro anos após a estreia do último filme, convenções, novos filmes,
parques, eventos, passeios, propagandas, jogos, entre outros, garantem a vivência
entendida dos fãs que criaram laços tão fortes com este universo.
Tanto sucesso adquirido em uma só marca faz com que outras marcas peguem
carona em seu conceito fazendo referências e paródias até mesmo no mundo da
propaganda.
A Crisol Bookstore têm uma
campanha que mostra um Harry diferente,
em uma moto, estiloso, com o slogan
“Imagine-o como quiser. Leia”, mostrando
que quando se lê, transporta-se para outro
mundo, do jeito que você quiser, quase
como a própria magia do que se está lendo.
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A Coca Cola convidou alguns executivos de
importantes empresas para assistir ao filme no cinema.
O convite em si era um cartão vazio, sem texto, um
cartão mágico. Quando se esfregava um pano molhado
por cima, aparecia o texto convidando-os. A empresa
conseguiu trazer a experiência mágica do filme para
seus consumidores.
A Marani Eyewear percebeu um
legado bastante específico da saga Harry
Potter e o utilizou em sua campanha. Trata-se
de uma escola em que um aluno parecido com
Potter transforma seu professor em um sapo
gigante. Lê-se no slogan “Nunca tire sarro de
uma criança. Ainda mais se ela usar óculos”.
A Playstation utilizou uma imagem
de Harry com óculos ao lado de uma
imagem dele sem óculos, demonstrando
que no Blu-ray incluso no novo
Playstation 3, a qualidade da imagem seria
melhor, o que faria as pessoas deixarem de
lado os óculos. Todas estas utilizam Harry
e seus conceitos marcantes para promover
suas próprias marcas, e não para promover o próprio bruxo.
Fonte de todas as campanhas: thisisnotadvertising.wordpress.com/2011/09/27/harry-potter-in-advertising/
Assim como nas propagandas, outras plataformas também utilizam o sucesso de
Harry Potter como muleta em suas obras. Quando se está assistindo a um filme que
ainda não sabe se gostou ou não e alguma referência a algo que você gosta acontece,
imediatamente você se anima e acaba gostando mais do filme em questão. Sabendo
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disso e sabendo do enorme público crescente de Harry Potter, autores de livros, filmes e
séries de televisão já utilizaram e ainda utilizam referências e paródias de todos os tipos,
remetendo ao bruxo mais conhecido da atualidade.
Em ‘O Diabo Veste Prada’, por exemplo, a personagem principal, em dado
momento, precisa buscar uma versão manuscrita não publicada do sétimo livro de Harry
Potter para sua chefe. Tanto livros adultos e sérios como este quanto livros de Meg
Cabot ou da série Percy Jackson, que são livros Young Adult, contém diversas
referências a Harry Potter.
No filme ‘Sim Senhor’, Jim Carrey e seus amigos vão a uma festa de Harry
Potter em que todos estão vestidos como diversos personagens, enquanto em ‘O Pior
Trabalho do Mundo’, Tom Felton, ator do Draco Malfoy em Harry Potter aparece em
uma festa e o outro personagem só consegue conversar com ele fazendo referências,
mostrando a dificuldade que temos em dissociar os atores de Harry Potter de seus
personagens, afinal, os vimos crescer nos filmes enquanto alguns de nós crescemos ao
mesmo tempo em que eles, formando laços emocionais fortes.
Mais recentemente, o filme ganhador de Oscar, Boyhood, que conta a história da
infância à adolescência de um garoto, sendo filmado no intervalo de 12 anos, mostra
perfeitamente o que é ser fã de Harry Potter em suas referências. Primeiro, quando as
crianças são pequenas, vemos uma cena de sua mãe lendo um dos livros para elas, que
adoram a história. Depois, com elas um pouco maiores, vemos os personagens
comprando o mais novo livro de Harry Potter, vestidos como eles. Referencias como
estas fazem com que fãs que estejam assistindo ao filme se identifiquem ainda mais
com ele, relembrando suas próprias memórias e revisitando seus sentimentos.
O programa de comédia Saturday Night Life, que muda de elenco a cada semana
para parodiar um pouco da cultura Americana, também já teve um episódio especial de
Harry Potter, incluindo os três personagens principais. Muitas séries de televisão já
fizeram referência a Harry Potter, como The Office, Parks And Recreation, The
Simpsons, House, Supernatural, Doctor Who, Friends, entre outros.
Mas eventos, parques, tatuagens, propagandas e referências não são o bastante
para o fã que realmente quer se sentir parte de um universo tão vasto quanto este.
Acontece, então, um boom no merchandising, em que pessoas compram todo tipo de
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objeto relacionado a Harry Potter, seja para presentear uma criança, brincar no
Halloween, colecionar, fazer cosplays (Costume Play – representar um personagem a
caráter), criar paródias de suas cenas favoritas, entre outros. Quanto maior o leque de
opções de objetos, mais cresce o público que busca comprá-los.
No site da Warner, nos parques, em lojas online, tanto nacionais quanto
internacionais, em lojas de brinquedos. Harry Potter aparece em todo lugar. Com opções
para todos os tamanhos e idades, desde lençóis e adereços para a casa até varinhas dos
personagens e suas roupas, tudo vira produto.
Fonte: partycity.ca/product/boys+harry+potter+costume.do
pinterest.com/lindab08/my-harry-potter-board/
writerformisfits.blogspot.com.br/2014/10/top-ten-tuesday-books-and-characters.html
pinterest.com/comealongkec/starkid/
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Ao redor do mundo pessoas de todas as idades e culturas por algum motivo
sentem que falta algo, e acabam buscando este algo colecionando objetos, fazendo
cosplay, como o da personagem Luna Lovegood, na figura, ou criando paródias, como o
A Very Potter Musical, um musical baseado na história do bruxo e feito por um grupo de
teatro chamado Starkid. Os vídeos dos atos e cenas foram para o Youtube, onde
conquistaram tantos fãs que mais dois musicais sequenciais foram criados, A Very
Potter Sequel e A Very Potter Senior Year.
Existem muitas outras paródias, curtas e musicais baseados em Potter na
internet, como Potter Puppet Pals, que conta com curtas histórias engraçadas
envolvendo diversos personagens diferentes e, seu vídeo mais conhecido, The
Mysterious Ticking Noise, que, de tão famoso, gerou suas próprias paródias. Todos estes
exemplos demonstram o poder que o público tem de expandir uma marca criando
formas de marketing de graça, em que não recebem nada em troca pelos ‘serviços’, mas
fazem-no mesmo assim, por amor à Saga.
Para termos noção da quantidade de pessoas com interesse nessas diferentes
formas de conexão com um filme ou uma história, elaboramos um questionário
quantitativo sobre os produtos relacionados a Harry Potter e seus motivos de compra.
Com 41 respostas, percebemos que 95,1% das pessoas já sentiram vontade de comprar
algum produto da Saga Harry Potter, contra 4.9% que optaram pelo ‘Não’.
Vinte e seis pessoas já compraram mais de uma vez, enquanto sete não
compraram, mas pretendem, três compraram apenas uma vez e quatro nunca
compraram. Uma delas escolheu a opção ‘outro’ e escreveu “Já, compraria mais mil
vezes se achasse coisas diferentes das que eu já tenho”. É interessante analisar a
diferença entre pessoas que compraram apenas uma vez com as que o fizeram mais
vezes, mostrando novamente essa sede destes fãs por mais e mais.
Quando perguntamos por que estas pessoas tinham ou não vontade de comprar
estes produtos tão específicos em uma questão de múltipla escolha, 29 responderam que
são fãs da saga enquanto 20 optaram pela opção que dizia “Porque quero me sentir parte
da história”. O consumidor típico dos filmes de gênero fantasia, mais especificamente
destes livros e filmes, mostra que precisa muito de uma forma maior de vivência com a
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obra, ao invés de apenas lê-la e assisti-la. Oito outros são colecionadores e/ou
cosplayers, enquanto apenas três não comprariam, pois somente gostam dos filmes.
Vinte e duas pessoas responderam que comprariam sim mais produtos, outros
nove disseram que estão sempre comprando outras coisas, quando podem. Já cinco
responderam ‘Talvez’ e dois afirmaram que comprariam apenas os mais baratos. Apenas
uma pessoa respondeu que não compraria outro produto da linha Harry Potter.
Perguntamos, então, onde seus produtos foram comprados, em busca de
informações sobre pessoas que encontram estes produtos tão singulares em lojas
brasileiras comparado às pessoas que compram em lojas estrangeiras ou em parques e
eventos oficiais da saga. Dezessete delas compram em lojas brasileiras, tanto físicas
quanto online, enquanto apenas cinco optam por lojas estrangeiras. Duas pessoas
responderam que compraram seus produtos em parques oficiais, como o de Orlando.
Doze pessoas nos disseram que adquiriram seus objetos de Harry Potter pela
última vez há mais de um ano, já nove o fizeram no ano passado, sete nos últimos seis
meses, outros sete nunca o fizeram enquanto quatro pessoas compraram produtos da
saga Harry Potter pela última vez no último mês, de abril.
Baseando-nos na pergunta anterior e na possibilidade de que várias pessoas
ainda comprem produtos baseados nesta história, finalizamos questionando se os
respondentes pretendem comprar objetos como os citados no futuro. Recebemos então
37 afirmativas, mais de 90%.
Quatro anos se passaram desde o chamado ‘fim’ de Harry Potter, e quatro
pessoas compraram produtos deste tema apenas no último mês. Outras trinta e sete
pretendem comprar mais e mais no futuro, quem sabe próximo? Uma marca bem
sucedida não vem apenas de um produto físico ou de uma empresa de tecnologia. Uma
marca pode se tornar forte mesmo surgindo numa ideia na cabeça de uma jovem
escritora mãe que viajava de trem e imaginou um garoto de óculos com uma cicatriz
esquisita. A marca Harry Potter é um dos melhores exemplos, até hoje, de uma marca
com a dosagem certa de marketing, mas também de uma marca com a dosagem certa de
liberdade criativa da parte dos fãs. O medo de deixar que seu público tome conta de sua
obra deve existir, porém nunca ser totalmente impedido.
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Os escritores, roteiristas, diretores, artistas, atores, marqueteiros, publicitários, e,
por fim, fãs fizeram com que esta história se tornasse muito maior do que ela jamais
poderia se tornar, sendo somente um livro esquecido em uma prateleira. Harry Potter se
tornou uma experiência, uma real vivência por anos e de diversas formas diferentes, se
encaixando na vida das pessoas de uma forma que somente as melhores marcas
realmente conseguem.
Depois de livros, filmes, parques, propagandas, referências, eventos, e, por fim,
objetos de colecionadores, a única conclusão que se pode tirar de tudo isto é a de que
essa história, assim como sua marca, está longe de acabar.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: < http://www.businessinsider.com/jk-rowling-business-methods-2011-7?op=1>.
Acesso em 25 de mai. 2015.
CHAVES, A. Cinema, Tv, Publicidade Cinematográfica. São Paulo: Ed. Do Autor, 1987.
COVALESKI, R. Cinema, Publicidade, Interfaces. São Paulo: Ed. Rogerio Covaleski, 2009.
GUNELIUS, S. The Marketing Magic Behind Harry Potter. Disponível em: < http://www.entrepreneur.com/article/217564>. Acesso em 25 de mai. 2015.
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SIBLEY, B. Harry Potter: A Magia do Cinema. São Paulo: Ed. Panini, 2011.
MCCABE, B. Harry Potter: Das Páginas Para a Tela. São Paulo: Ed. Panini, 2011.