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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica INNOCENZO SCANDIFFIO Interação aresta/peça no fresamento de perfis complexos: influência na força de usinagem, vida da ferramenta e rugosidade da peça CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

INNOCENZO SCANDIFFIO

Interação aresta/peça no fresamento de perfis

complexos: influência na força de usinagem,

vida da ferramenta e rugosidade da peça

CAMPINAS

2016

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Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de

Engenharia Mecânica da Universidade Estadual

de Campinas como parte dos requisitos exigidos

para obtenção do título de Doutor em Engenharia

Mecânica, na Área de Materiais e Processos de

Fabricação.

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Dedicatória:

Dedico este trabalho à minha querida esposa Mirna, e aos meus filhos Felipe e Matheus,

pelo incentivo na conclusão deste trabalho e abnegação dos momentos de comunhão.

À minha mãe Angela e ao meu pai Giuseppe (in memoriam) por mostrar-me o caminho da

sinceridade e honestidade.

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Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Anselmo Eduardo Diniz, que com muito empenho e dedicação mostrou-me os

caminhos a serem seguidos.

Ao Prof. Dr. Adriano Fagali de Souza pelo empenho na coorientação do trabalho.

À Faculdade de Tecnologia SENAI “Roberto Mange” pelo apoio e disponibilização dos

equipamentos.

Aos colegas do Departamento de Engenharia de Fabricação (DEMM – UNICAMP) por me

ajudarem em diversos aspectos da tese.

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...não que, por nós mesmos,

sejamos capazes de pensar

alguma coisa, como se partisse

de nós; pelo contrário, a nossa

suficiência vem de Deus.

2 Co 3:5

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Resumo

A manufatura de moldes e matrizes representa uma grande parte dos custos de produção do

produto final. O fresamento é um dos processos mais utilizados para a fabricação dos moldes e

matrizes e, frequentemente, devido às limitações da operação, um processo de polimento manual

é requerido para a obtenção do acabamento ideal. Mesmo utilizando-se as modernas tecnologias

de fresamento em altas velocidades, que confere menor rugosidade à superfície, o polimento

manual é ainda necessário, gerando maiores custos e erros geométricos ao produto. Portanto, o

processo de fresamento de perfis complexos de moldes e matrizes ainda tem muito a ser estudado

e melhorado a fim de se reduzir o tempo gasto com o processo de polimento. Um ponto ainda não

plenamente estabelecido é a influência do ângulo de contato entre a ferramenta e a peça nos

esforços de corte e na qualidade da superfície usinada. Quando se copia um perfil complexo, este

ângulo varia, fazendo também variar o diâmetro efetivo de corte, a velocidade de corte, as

componentes da força de usinagem e, consequentemente, a rugosidade da peça usinada. Além

disso, quando a direção de avanço é no sentido descendente, as forças se comportam de maneira

diferente de quando esta direção é ascendente. Este trabalho contribui para a solução deste

problema. Foram fresadas superfícies planas com 3 diferentes inclinações e superfícies semi-

cilíndricas, de aço ferramenta temperado (AISI D6 – 60 HRc) com ferramenta de ponta esférica,

a fim de se analisar o comportamento das forças de usinagem, a rugosidade da peça e a vida da

ferramenta. As principais conclusões foram: a) com o corte ascendente as forças radiais e

tangenciais oscilam bastante, fazendo com que a rugosidade da peça seja prejudicada; b) quando

o centro da ferramenta tem contato com a peça, o esforço de corte na direção axial da ferramenta

é muito grande devido à deformação plástica da superfície causada pela baixíssima velocidade

média de corte (no centro da fresa a velocidade de corte é zero), e embora ocorra maior

conformação plástica, os resultados de vida de ferramenta e rugosidade apresentaram melhores

valores.

Palavras-Chave: Estratégias de usinagem; Fresamento de moldes; Fresamento de aço

endurecido.

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Abstract

A large part of the final product production costs lie on the manufacture of molds and dies.

Milling is one of the most used processes for the manufacture of molds and dies although, due to

operational constraints, a manual polishing process is often required to obtain an optimal finish.

Even modern technologies using high speed milling, offering less roughness to the workpiece,

still need manual polish, which means increase on production costs and geometric errors to the

product. Therefore, milling process for complex shapes of dies and molds need to be studied and

improved in order to reduce time spent on finishing process. One aspect still not fully established

is the influence of the contact angle between the tool and the workpiece regarding the cutting

forces and quality of machined surface. When a complex shape is copied, the lead angle varies,

which makes the effective cutting diameter, the cutting speed, the components of machining

forces to vary as well and, consequently, the roughness of the machined workpiece. Even more,

when the feed direction is on a descendant path, forces perform differently than when this

direction is on an ascendant path. This work contributes for the solution of this difficulty. Plain

surfaces on hardened tool steel (AISI D6 – 60 HRc) with ball end mill were milled with 3

different inclinations and semi-cylindrical surfaces, in order to analyze machining forces

performance as well as surface roughness and tool life. Main conclusions were: a) in ascendant

cutting, radial and tangential forces fluctuate a lot, causing the workpiece roughness is harmed. b)

when the center of the tool contacts the workpiece, the cutting force in the axial direction of the

tool is very large due to the surface plastic deformation caused by the very low average cutting

speed (in the center of the mill, cutting speed is zero), and although greater plastic deformation

occurs, the results for tool life and roughness showed better values.

Keywords: Machining strategies; Milling of molds; Milling of hardened steel.

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Lista de Ilustrações

Figura 1.1 - Custo de Fabricação de Moldes de Injeção Plástica (Boujelbene et al., 2004) .......... 18

Figura 2.1 - Fresamento discordante e concordante ....................................................................... 24

Figura 2.2 - Processo de fresamento em acabamento .................................................................... 26

Figura 2.3 - Lead angle e tilt angle (Ozturk et al., 2009) ............................................................... 26

Figura 2.4 - Fresamento em contorno e fresamento em cópia (Sandvik, 2002) ............................ 27

Figura 2.5 - Fresas para fabricação de matrizes e moldes (Sandvik Coromant, 2006) Adaptado . 34

Figura 2.6 - Desempenho em diferentes ferramentas de corte em HSM do aço AISI D2 (adaptado

de Fallboëhmer et al., 2000) ........................................................................................................... 37

Figura 2.7 - Posição relativa entre a aresta de corte e a peça na saída do corte ............................. 42

Figura 2.8 - Área do segmento de corte com chatter (Ning et al., 2001) ....................................... 45

Figura 2.9 - Área do segmento de corte estável (Ning et al., 2001) ............................................... 46

Figura 2.10 - Sobremetal proveniente da usinagem em desbaste em formas complexas (Souza,

2004) ............................................................................................................................................... 50

Figura 2.11 - Desbastes com ferramentas de topo reto e esférico (Souza, 2004) .......................... 51

Figura 2.12 - Topografia e camadas superficiais de uma peça usinada (Nicola, 2008) ................. 52

Figura 2.13 - Rugosidade de uma superfície plana após a usinagem (Sandvik, 1999) .................. 56

Figura 2.14 - Formato do contato ferramenta/peça (Souza, 2004) ................................................. 57

Figura 2.15 - Alteração do ponto de contato de uma ferramenta de topo esférico (Souza, 2004) . 58

Figura 2.16 - Alteração do ponto de contato de uma ferramenta de topo esférico no corte

descendente e corte ascendente (Scandiffio et al. 2016) ................................................................ 59

Figura 3.1 - Trajetória circular utilizadas nos experimentos .......................................................... 62

Figura 3.2 - Trajetória linear .......................................................................................................... 62

Figura 3.3 - Trajetória Circular mantendo o mesmo ponto de contato da ferramenta ................... 62

Figura 3.4 - Centro de Usinagem 5 eixos Hardinge XR 600 5AX – 1ª fase dos experimentos ..... 64

Figura 3.5 - Centro de Usinagem 5 eixos DMG eVo 40 – 2ª fase dos experimentos .................... 65

Figura 3.6 - Sistema de medição de desgaste da ferramenta .......................................................... 65

Figura 3.7 - Rugosímetro digital Mitutoyo .................................................................................... 66

Figura 3.8 - Regiões de medição de rugosidade ............................................................................. 66

Figura 3.9 - Dinamômetro – Kistler ............................................................................................... 67

Figura 3.10 - Amplificador de sinal multicanal – Kistler .............................................................. 67

Figura 3.11 - Determinação da força de corte, força radial e força axial ....................................... 68

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Figura 3.12 - Fresa utilizada nos experimentos .............................................................................. 69

Figura 3.13 - Corpo de prova utilizado nos experimentos ............................................................. 70

Figura 4.1 - Vida da ferramenta - Fase 1 ........................................................................................ 72

Figura 4.2 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 3 eixos descendente .......................... 74

Figura 4.3 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 3 eixos ascendente ............................ 74

Figura 4.4 - Superfície de saída da ferramenta – Usinagem 3 eixos descendente ......................... 76

Figura 4.5 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 3 eixos ascendente ............................ 76

Figura 4.6 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 5° descendente .................................. 77

Figura 4.7 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 5° ascendente .................................... 77

Figura 4.8 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 5° descendente .................................. 79

Figura 4.9 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 5° ascendente .................................... 79

Figura 4.10 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 45° descendente .............................. 80

Figura 4.11 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 45° ascendente ................................ 80

Figura 4.12 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 45° descendente .............................. 82

Figura 4.13 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 45° ascendente ................................ 82

Figura 4.14 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 85° descendente .............................. 83

Figura 4.15 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 85° ascendente ................................ 83

Figura 4.16 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 85° descendente .............................. 84

Figura 4.17 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 85° ascendente ................................ 84

Figura 4.18 - Fresamento ascendente. Componentes: a) Fax (força axial); b) Fr (força radial); c)

Ft (força tangencial); d) força axial amplificada; e) força radial amplificada e f) força tangencial

amplificada ..................................................................................................................................... 86

Figura 4.19 - Fresamento descendente. Componentes: a) Fax (força axial); b) Fr (força radial); c)

Ft (força tangencial) d) força axial amplificada; e) força radial amplificada e f) força tangencial

amplificada ..................................................................................................................................... 87

Figura 4.20 - Usinagem Descendente: Fax e a ponta da ferramenta envolvida no corte previnem a

vibração .......................................................................................................................................... 89

Figura 4.21 - Rugosidade – 3 eixos descendente e ascendente ...................................................... 92

Figura 4.22 - Rugosidade – Usinagem com inclinações de 5°, 45° e 85° (descendente e

ascendente) ..................................................................................................................................... 92

Figura 4.23 - Vida da ferramenta – fase 2 ...................................................................................... 94

Figura 4.24 - Força axial, força radial e força tangencial – 5° descendente .................................. 95

Figura 4.25 - Força axial, força radial e força tangencial – 5° ascendente .................................... 95

Figura 4.26 - Força axial, força radial e força tangencial – 45° descendente e ascendente ........... 96

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Figura 4.27 - Força axial, força radial e força tangencial – 85° descendente e ascendente ........... 96

Figura 4.28 - Superfície da folga da ferramenta – 5° descendente ................................................ 99

Figura 4.29 - Superfície da folga da ferramenta – 5° ascendente .................................................. 99

Figura 4.30 - Superfície de saída da ferramenta – 5° descendente .............................................. 101

Figura 4.31 - Superfície de saída da ferramenta – 5° ascendente ................................................ 101

Figura 4.32 - Superfície da folga da ferramenta – 45° descendente ............................................ 102

Figura 4.33 - Superfície da folga da ferramenta – 45° ascendente .............................................. 102

Figura 4.34 - Superfície de saída da ferramenta – 45° descendente ............................................ 103

Figura 4.35 - Superfície de saída da ferramenta – 45° ascendente .............................................. 103

Figura 4.36 - Superfície da folga da ferramenta – 85° descendente ............................................ 104

Figura 4.37 - Superfície da folga da ferramenta – 85° ascendente .............................................. 104

Figura 4.38 - Superfície de saída da ferramenta – 85° descendente ............................................ 105

Figura 4.39 - Superfície de saída da ferramenta – 85° ascendente .............................................. 105

Figura 4.40 - Rugosidade apresentada em todos os experimentos da fase 2 ............................... 106

Figura 4.41 - Comportamento da força axial – fase 2 .................................................................. 107

Figura 4.42 - Perfil de rugosidade a) 5° descendente b) 5° ascendente - fase 2 .......................... 108

Figura 4.43 - Perfil de rugosidade a) 45° descendente b) 45° ascendente - fase 2 ...................... 109

Figura 4.44 - Componente Ft a) 45° descendente b) 45° ascendente - fase 2 .............................. 109

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Lista de Tabelas

Tabela 2-1 - Classificação do processo de fresamento (Hioki, 2006) ............................................ 23

Tabela 2-2 - Classificação dos aços para ferramentas (Silva e Mei, 1988) ................................... 32

Tabela 2-3 - Fatores que influenciam a rugosidade (Çolak et al., 2007) ....................................... 54

Tabela 3-1 - Estratégias de usinagem utilizadas nos experimentos ............................................... 63

Tabela 3-2 - Composição química do aço AISI D6 (Sousa et al., 2008) ....................................... 70

Tabela 4-1 - Variação de vida/diâmetro efetivo ............................................................................. 85

Tabela 4-2 - Parâmetros de usinagem – fase 2 ............................................................................... 93

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Lista de Abreviaturas e Siglas

CAD – Computer Aided Design

CAM – Computer Aided Manufacturing

CNC – Comando Numérico Computadorizado

HSM – High Speed Machining

fz – Avanço por Aresta (mm/aresta)

ae – Penetração de trabalho (mm)

ap – Profundidade de usinagem (mm)

vc – Velocidade de Corte (m/min)

vB – Desgaste frontal (mm)

PVD – Deposição física a vapor

CVD – Deposição química a vapor

HRc – Dureza Rockwell

TiN – Nitreto de titânio

TiCN – Carbonitreto de titânio

TiAlN – Nitreto de titânio-alumínio

Si3N4 – Nitreto de silício

PCBN – Nitreto de boro cúbico policristalino

Al2O3 – Óxido de alumínio

REF - Raio efetivo de corte (mm)

RF – Raio da ferramenta (mm)

RP – Raio da peça (mm)

α – Ângulo de inclinação da parede em relação ao plano de trabalho (°)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 17

1.1 Objetivos .......................................................................................................... 20

1.2 Estrutura do trabalho ........................................................................................ 20

2 REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................. 22

2.1 Usinagem por fresamento ................................................................................. 22

2.2 Métodos de fresamento .................................................................................... 22

2.2.1 Fresamento de matrizes e moldes .................................................................. 24

2.3 Materiais para matrizes e moldes ..................................................................... 31

2.4 Ferramentas de corte ........................................................................................ 33

2.4.1 Fresas para fabricação de matrizes e moldes ................................................ 33

2.4.2 Materiais para fresas ...................................................................................... 34

2.4.3 Coberturas para ferramentas de corte ............................................................ 35

2.4.4 Vida da ferramenta em fresamento de matrizes e moldes ............................. 35

2.4.5 Mecanismos e tipos de desgaste da ferramenta ............................................. 39

2.5 Formação do cavaco no fresamento ................................................................. 44

2.6 Força de usinagem e vibração no fresamento de matrizes e moldes ................ 46

2.7 Obtenção de formas complexas no fresamento ................................................ 49

2.8 Qualidade superficial ........................................................................................ 52

2.8.1 Rugosidade .................................................................................................... 53

2.9 Contato ferramenta-peça .................................................................................. 56

3 EQUIPAMENTOS, MATERIAIS E MÉTODOS ................................................. 61

3.1 Materiais e equipamentos utilizados ................................................................ 64

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 71

4.1 - Primeira Fase dos Experimentos .................................................................... 71

4.1.1 - Vida da ferramenta – Etapas 1 e 2 .............................................................. 71

4.2 Análise dos desgastes das ferramentas ............................................................. 73

4.3 Força de corte – Primeira fase de experimentos .............................................. 85

4.3.1 Componentes da força de usinagem .............................................................. 85

4.4 Rugosidade – Primeira Fase de Experimentos ................................................. 90

4.5 Vida da ferramenta – Segunda Fase dos Experimentos ................................... 93

4.6 Rugosidade – Fase 2 ....................................................................................... 105

4.7 Força de corte – Fase 2 ................................................................................... 110

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5 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 114

6 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................. 116

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1 INTRODUÇÃO

As exigências impostas pelo mercado globalizado fazem com que qualidade e tempo de

resposta ao mercado sejam características fundamentais para a sobrevivência dos produtos.

Para que essas características sejam atendidas, vários fatores associados à fabricação de

matrizes e moldes têm evoluído para atender essa demanda, como as máquinas, as

ferramentas, os processos e os materiais.

Com a mudança do tempo de resposta dos mercados, o ciclo de vida dos produtos tem

diminuído bastante, fazendo com que o prazo para obsolescência se torne cada vez menor

(Bauco, 2003).

A usinagem de alta velocidade (HSM - High Speed Machining) tem atraído bastante

atenção como uma tecnologia de fabricação avançada nos últimos anos devido a inúmeras

vantagens, tais como altas taxas de remoção, custo mais baixo, excelente precisão dimensional

e qualidade superficial, baixa força de corte e a capacidade da máquina usinar materiais

endurecidos. Recentemente, HSM tem sido amplamente aplicado em áreas como automotiva,

aeroespacial, fabricação de moldes e indústrias de defesa (Wang, et al., 2013).

A usinagem em alta velocidade caracteriza-se por sua produtividade (quando comparado

com outros processos de fabricação de matrizes e moldes), acabamento da peça aceitável e

excelentes tolerâncias dimensionais. Com o uso desta tecnologia é

possível a execução da usinagem final, em muitos casos sem a necessidade de operações

posteriores de acabamento como a retificação e o polimento. Entre os diferentes processos de

usinagem de alta velocidade, o mais utilizado é o de fresamento (Dolinsek et al., 2004).

As investigações em usinagem em fresamento de material endurecido estão

estabelecidas em quatro direções: mecanismo de desgaste da ferramenta, qualidade de

acabamento da peça, mecanismo de formação do cavaco e usinagem de materiais endurecidos.

Todas essas pesquisas estão direcionadas a um único objetivo comum que é a determinação

das velocidades de usinagem em uma condição economicamente viável (Dolinsek et al.,

2004).

A fabricação e testes de novas matrizes e moldes podem ser fundamentais para atender a

demanda e tempo de entrega do produto. A fabricação de componentes para a indústria

automobilística exige moldes complexos que podem custar até US$ 500 mil com tempo de

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fabricação entre 6 a 9 meses (Altan et al., 2001). Considerando a velocidade com que as

mudanças ocorrem em vários segmentos da indústria, muitas empresas são forçadas a

fabricarem produtos com alta qualidade e baixo custo, buscando a plena satisfação dos

clientes. A capacidade das empresas de se adequarem às mudanças do mercado e de tomarem

decisões com rapidez são práticas fundamentais para a manutenção no mercado (Capla, 2006).

Vários segmentos da indústria moderna dependem de matrizes e moldes como o

processo de injeção de plástico, forjamento, sinterização, estampagem e fundição (Oliveira,

2007). Matrizes e moldes, geralmente são compostos por geometrias complexas que podem

ser confeccionados com material de elevada dureza, o que torna a usinagem um processo com

elevado nível de dificuldade. Além disso, a qualidade do molde afeta diretamente a qualidade

das peças produzidas.

A técnica de fabricação das matrizes e moldes tem um papel importante no custo final da

ferramenta. A figura 1.1 mostra uma estimativa de custos envolvidos na fabricação de moldes.

Este levantamento foi feito no ano de 2004, mas muito provavelmente a realidade da

fabricação de moldes e matrizes nos dias atuais não se distancia muito do que está mostrado

nesta figura. Nota-se que a fabricação do molde representa 30% do custo total de fabricação de

peças feitas de plástico, enquanto o material representa somente 5%. Com isso, a usinabilidade

do material escolhido para a fabricação do molde tem forte influência no custo final da

ferramenta (Boujelbene et al., 2004).

Custo de Injeção 25%

Outros 5%

Aço para Molde 5%

Fabricação do Molde

30%

Projeto e Simulação

10%

Plástico Granulado 25%

Figura 1.1 - Custo de Fabricação de Moldes de Injeção Plástica (Boujelbene et al., 2004)

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19

Com isso, o estudo de novas técnicas de fabricação de matrizes e moldes tem se tornado

essencial na indústria de fabricação moderna, visando atender a demanda de mercado. Uma

técnica que cada vez mais vem sendo usada é a usinagem de matrizes e moldes em alta

velocidade (HSM) por ser um processo que produz com facilidade os perfis mais complexos e

com bom acabamento.

O conceito de usinagem HSM não depende exclusivamente de uma máquina de usinagem

com alta velocidade de corte e do material da ferramenta, mas também de um bom software de

CAD para o modelamento do produto e de um software de CAM para simulação de usinagem e

geração do programa para a fabricação (Oliveira, 2007).

O termo usinagem com altas velocidades (HSM) sugere que o tempo de usinagem seja bem

menor, quando comparado com usinagem convencional. Entretanto, isto não é verdade porque

quando se utiliza HSM baixos avanços e profundidades de usinagem são usados, resultando em

uma pequena taxa de remoção de material, quando comparada com o fresamento convencional.

Porém, o tempo de usinagem é menor quando comparado com o processo de acabamento de

matrizes e moldes que vinha sendo utilizado até o advento do fresamento HSM, que é a

eletroerosão. Outras melhorias que a técnica HSM introduz estão relacionadas à melhora do

acabamento minimizando o processo de polimento (Marcondes, 2003). Esta técnica caracteriza-

se pela utilização de ferramentas (fresas) de pequeno diâmetro (D) para que se possam copiar

pequenos raios do perfil da matriz. A largura fresada ae usualmente é bem pequena, da ordem de

poucos décimos de milímetros, fazendo com que a relação ae/D seja também pequena, apesar do

baixo valor do diâmetro da fresa. Com isso, tem-se pequeno ângulo de contato da fresa com a

peça em cada revolução, o que faz com que a temperatura da ferramenta seja baixa, o que

possibilita o uso de altas velocidades de corte. Como o diâmetro é pequeno e a velocidade alta, a

rotação da fresa tem que ser muito alta. Além disso, como o ângulo de contato é pequeno, o

avanço por dente (fz) tem que ser mais alto que os valores usuais utilizados em fresamento de

acabamento, para que não se tenha espessura de cavaco (h) muito pequena e, assim, pressão de

corte muito alta. Assim, com rotação alta e avanço por dente alto, a velocidade de avanço é muito

alta. Daí que surge o nome “high speed machining” ou “usinagem em alta velocidade”. Não

porque a remoção de cavaco seja alta (ela é baixa devido aos baixos valores de ae e profundidade

de usinagem – ap), mas porque as velocidades de avanço e de corte, bem como a rotação da

ferramenta são muito altas.

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Outro fator importante na fabricação de matrizes e moldes é a rugosidade da peça. A

rugosidade obtida na operação de acabamento na usinagem é o que determina o tempo que será

utilizado para a operação posterior de polimento da matriz. Portanto, uma operação de

acabamento com parâmetros de corte adequados minimizará ou mesmo eliminará o tempo de

polimento do molde.

1.1 Objetivos

Este trabalho tem como objetivo principal definir qual a melhor estratégia de usinagem de

acabamento de aço endurecido (descendente ou ascendente, corte com variação do diâmetro

efetivo de contato da ferramenta ao longo da passada ou corte com 4 eixos de programação a fim

de se manter o diâmetro efetivo constante ao longo da passada) para se fresar uma superfície

circular convexa.

Como objetivo secundário tem-se a análise e avaliação do desempenho da usinagem em

termos de forças de usinagem, rugosidade da peça e vida da ferramenta em fresamento de aço

temperado (60 HRc) utilizando ferramenta com ponta esférica em operações de acabamento de

superfícies circulares convexas.

1.2 Estrutura do trabalho

A estrutura do trabalho apresenta a seguinte divisão:

Capítulo 1 – Introdução sobre a importância da produtividade na fabricação de

matrizes e moldes

Capítulo 2 – Revisão da literatura – nesse capítulo serão apresentados estudos

realizados por outros autores sobre fresamento de matrizes e moldes, materiais para

ferramentas e materiais para matrizes e moldes.

Capítulo 3 – Procedimentos experimentais – nesse capítulo serão descritos os

equipamentos, ferramentas e metodologia utilizadas para a realização dos experimentos.

Capítulo 4 - Resultados e discussão – nesse capítulo serão apresentados e discutidos

os resultados obtidos nos experimentos.

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Capítulo 5 – Conclusão e sugestões para trabalhos futuros – nesse capítulo será

apresentada a conclusão sobre o trabalho e sugestões para aprofundamento dos resultados.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Usinagem por fresamento

O fresamento é um processo de usinagem que tem como objetivo produzir superfícies com

as mais variadas formas geométricas com o auxílio de uma ferramenta denominada fresa. Para a

execução do processo são necessários dois movimentos básicos: rotação da ferramenta e avanço

do material contra a superfície cortante da ferramenta (Ferraresi, 1977). O processo de

fresamento é comumente utilizado na fabricação de matrizes e moldes tanto em operações de

desbaste, devido à alta taxa de remoção de material, quanto em operações de acabamento, devido

à facilidade de produzir superfícies complexas.

Com o surgimento das máquinas-ferramentas equipadas com comando numérico

computadorizado (CNC) e a evolução dos programas de CAM, as ferramentas têm capacidade de

se deslocar praticamente em todas as direções. Com a integração dos programas de CAD/CAM,

as geometrias geradas no processo de fresamento ganharam maior flexibilidade quanto à

complexidade, fazendo com que a superfície da peça a ser usinada ficasse limitada pela

capacidade geométrica das ferramentas utilizadas nesse processo e pela máquina-ferramenta.

2.2 Métodos de fresamento

Existem muitas variantes para o processo de fresamento. A classificação do processo de

fresamento depende da forma da ferramenta, contato da ferramenta com a peça e direção da

usinagem. Segundo Diniz et al., (2014), Köenig, (1981), Stemmer, (2005) e Hioki, (2006) o

processo de fresamento pode ser classificado conforme a tabela 2.1.

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Tabela 2-1 - Classificação do processo de fresamento (Hioki, 2006)

No processo de fresamento, conforme a posição dos dentes ativos da fresa, pode-se

classificar a operação de fresamento como fresamento tangencial, quando os dentes ativos da

fresa estão na superfície cilíndrica; e fresamento frontal, quando os dentes ativos da fresa estão na

superfície frontal da ferramenta (Diniz et al., 2014).

Outra característica muito importante no processo de fresamento tangencial está

relacionada ao movimento da peça em relação à ferramenta. O fresamento tangencial pode ser

concordante ou discordante. No fresamento concordante o sentido do movimento de avanço é o

mesmo do sentido de rotação da fresa e no fresamento discordante o movimento de avanço da

peça é contrário do movimento de rotação da fresa conforme mostra a figura 2.1 (Diniz et al.,

2014).

Classificação do processo de fresamento

Forma da ferramenta e

cinemática

Plano

Circular

Geração

Forma perfil

Sentido de rotação e avanço da

peça

Concordante

Discordante

Disposição da aresta ativa Tangencial

Frontal

Com relação à estratégia Contorno

Cópia

Ascendente

Descendente

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No processo de usinagem por fresamento, devido ao fato de que o corte é intermitente, o

desempenho da ferramenta pode ser comprometido. O corte intermitente se dá em função da

ferramenta ser rotativa e, assim, cada aresta de corte em cada revolução passa por uma fase ativa,

na qual acontece a remoção do material, e uma fase passiva em que não ocorre a remoção de

material. Devido a essas variações cíclicas, tanto de temperatura como de choques mecânicos, a

ferramenta no processo de fresamento está mais sujeita a desgastes prematuros, avarias

mecânicas e térmicas, podendo ocorrer prematuramente uma falha catastrófica da ferramenta

(Bombonato et al., 2008).

2.2.1 Fresamento de matrizes e moldes

Segundo Fallboëhmer et al. (2000), moldes e matrizes são ferramentas utilizadas em

processos de injeção de plástico, fundição com a utilização de moldes metálicos, em forjamento e

em estampagem. Uma matriz, além da cavidade que dá forma à peça processada, contem

também vários outros componentes que garantem o alinhamento, aquecimento, resfriamento e

ejeção do produto.

A forma geométrica dos produtos finais tem uma forte influência na atração do consumidor.

Portanto, formas geométricas complexas têm sido usadas cada vez mais com esse objetivo. Para

atender a essa demanda, o processo de fresamento de matrizes e moldes (integrados com sistemas

CAD/CAM) é uma tecnologia muito utilizada para esse fim.

Conforme Altan et al. (2001) e Coldwell et al. (2003) os maiores desafios das indústrias de

fabricação de moldes são: redução de custos e, consequentemente, do preço final, redução dos

Figura 2.1 - Fresamento discordante e concordante

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tempos de fabricação, falta de mão de obra qualificada para projeto e produção, concorrência

internacional e interna.

Um dos métodos de fabricação de matrizes e moldes, nas fases de semi-acabamento e

acabamento, é a usinagem por eletroerosão, tanto a fio como de penetração, principalmente

quando se usina aços-ferramentas de elevada dureza. O processo de usinagem por eletroerosão

gera superfície com bom acabamento e também excelente precisão dimensional. Apresenta, por

outro lado, baixa produtividade, mas em contrapartida, não é necessário a presença do operador

na máquina durante todo o tempo da usinagem. A produtividade do processo está mais

relacionada com a condutividade elétrica do material do que com a dureza do material usinado

(Dewes et al., 1997).

Entretanto, o processo de eletroerosão já não é mais o único na fabricação de matrizes e

moldes. Atualmente, com a evolução das máquinas para usinagem e das ferramentas de corte, o

processo de fresamento passou a ter condições de usinar materiais com elevada dureza.

Comparando-se o processo de eletroerosão com o processo de fresamento, nota-se que o

fresamento apresenta maior produtividade, ou seja, o volume de material removido por minuto no

fresamento é maior. Outra desvantagem do processo por eletroerosão é que, no processo por

penetração (o mais usual nas operações de semi-acabamento e acabamento de matrizes e moldes)

deve-se produzir o eletrodo para a fabricação da superfície, gerando um aumento no tempo de

produção e também nos custos. No processo por eletroerosão também deve-se usar um fluido

dielétrico, que além de causar problemas ambientais no momento do seu descarte, pode

incendiar-se (Kacelj et al., 2004) (Dewes et al., 1997). Outra desvantagem do processo de

usinagem por eletroerosão, em relação ao fresamento, é a formação da camada refundida branca

na peça, que além de apresentar alta dureza, pode apresentar várias imperfeições como trincas,

microtrincas e alta tensão residual. Essas características apresentadas em peças fabricadas pelo

processo de eletroerosão são indesejadas e podem ocasionar a falha prematura do componente

usinado (Oliveira, 2006).

A figura 2.2 mostra um esquema do processo de fresamento em acabamento com fresas de

topo esférica, que são as ferramentas mais utilizadas no fresamento de acabamento de matrizes e

moldes, já que, na grande maioria das vezes, as superfícies das peças são complexas, impossíveis

de serem usinadas com fresas de topo reto. Pode-se observar na figura o sistema de coordenadas

X, Y e Z e as variáveis envolvidas no processo.

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No processo de fresamento com ferramentas com ponta esférica, o ângulo entre o eixo da

fresa e uma perpendicular à superfície da peça usinada pode sofrer variações. Estas variações de

inclinações podem ocorrer em dois sentidos: perpendicular à direção de avanço e paralelo à

direção de avanço. O ângulo formado entre o eixo da ferramenta e uma reta perpendicular à peça

na direção de avanço é denominado lead angle e o ângulo formado entre o eixo da ferramenta e

uma reta perpendicular à peça na direção perpendicular ao avanço é denominado tilt angle,

conforme mostra a figura 2.3.

Dentre as técnicas de fresamento em acabamento de matrizes e moldes, podem-se destacar

os métodos de fresamento em contorno e fresamento em cópia, conforme mostra a figura 2.4. No

fresamento de contorno, a fresa percorre a geometria da cavidade em níveis, ou seja, após o

Figura 2.2 - Processo de fresamento em acabamento

Figura 2.3 - Lead angle e tilt angle (Ozturk et al., 2009)

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mergulho da ferramenta no eixo Z, a ferramenta descreve a geometria da cavidade utilizando os

eixos X e Y. Esta técnica permite transições suaves e contato constante das arestas da ferramenta.

A usinagem em fresamento de contorno permite que a velocidade de corte seja controlada com

mais facilidade, visto que a variação do diâmetro efetivo da ferramenta se dá de passada para

passada e não em uma mesma passada, como ocorre no caso do fresamento em cópia.

Para o método de fresamento em cópia, o contato da ferramenta com a peça sofre variações

ao longo da passada da ferramenta sobre a peça, provocando variações na carga e direção de

trabalho e, consequentemente, redução da vida da ferramenta de corte (Sandvik, 2002).

O fresamento em cópia pode ser ascendente ou descendente de acordo com a direção de

avanço da ferramenta. Toh (2004) realizou em seu trabalho testes com estratégias de usinagem

ascendente e descendente, com o objetivo de verificar qual estratégia apresentava melhor

resultado com relação à qualidade superficial. Esses testes foram realizados em um centro de

usinagem vertical com alta velocidade de corte. Para retirar o cavaco da região de corte, foi

utilizado um jato de ar de alta pressão dirigido diretamente na região de corte. Para a realização

dos ensaios, os corpos de prova foram preparados com aço AISI H13, que é um aço-ferramenta

para trabalho a quente, com dureza de 52 HRc. As ferramentas utilizadas para esse experimento

foram fresas com ponta esférica de metal duro com grão ultrafino com uma camada de cobertura

(Al,Ti)N. O diâmetro das ferramentas utilizado nos experimentos foi 10 mm e o balanço da

ferramenta foi de 60 mm. Todas as ferramentas tinham 6 arestas cortantes. Para realização desses

experimentos, os corpos de prova foram inclinados a 75° e utilizado diferentes estratégias de

usinagem, nas direções ascendente e descendente. A velocidade de corte utilizada foi 400 m/min

e avanço por dente de 0,1 mm. Esses testes comprovaram que a operação de fresamento em

Figura 2.4 - Fresamento em contorno e fresamento em cópia (Sandvik, 2002)

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cópia descendente apresentou pior acabamento da peça. Outro ponto observado é que a

rugosidade da peça aumenta quando se emprega um caminho de ferramenta em contorno

descendente devido ao fluxo lateral do material. Portanto, esses experimentos comprovam que,

independentemente das condições da ferramenta de corte, a usinagem em cópia em simples

direção ascendente apresentou melhor textura da superfície quando comparado com as

orientações de contorno. Segundo o autor, o melhor resultado na condição em cópia ascendente

aconteceu devido à menor angulo de contato da ferramenta com a peça.

Segundo Toh (2006), a escolha correta do caminho da usinagem no processo de fresamento

com alta velocidade pode aumentar o volume de cavaco produzido, conseguindo tempo de

usinagem menor. Ele chegou a este resultado em ensaios de fresamento de um aço-ferramenta

para trabalho a quente AISI H13 com 52 HRc e ferramenta de corte de metal duro com grão

ultrafino, 6 arestas de corte e coberturas de (Al,Ti) N. A estratégia raster, ou seja, deslocamento

da ferramenta em linhas paralelas, foi a que apresentou maior vida da ferramenta e maior

profundidade de usinagem axial e a estratégia offset, que desenvolve uma trajetória com linhas

paralelas acompanhando o perfil da peça, foi a que apresentou menor vida da ferramenta. Este

resultado provavelmente aconteceu devido principalmente à excessiva vibração causada pelo

aumento da força de corte, devido ao repentino aumento do volume de cavaco causado pela

mudança da direção do caminho da ferramenta. O autor concluiu que quando se deseja maior

vida da ferramenta, alta taxa de remoção de material e tempo de usinagem mais curto, a estratégia

de usinagem raster apresentou resultados mais favoráveis.

Souza et al. (2014b) testaram cinco diferentes estratégias de acabamento em fresamento de

superfícies convexas circulares. Para os experimentos, os autores fabricaram cinco cavidades com

sobremetal de 0,2 mm para a operação de acabamento. Os principais objetivos deste trabalho

eram avaliar a qualidade da superfície após o processo de fresamento, qualidade da superfície

após o polimento manual, tempo real de usinagem e uma simples análise do custo de fabricação

de cada cavidade. Para todos os experimentos, os parâmetros de corte foram mantidos, com

exceção do caminho da ferramenta e o avanço lateral (ae). As ferramentas utilizadas foram fresas

de metal duro com ponta esférica com 6 mm de diâmetro com cobertura de Nitreto de

Titânio/Alumínio (TiAlN) e rotação de 18000 rpm. O centro de usinagem utilizado foi um Deckel

Maho DMU60 com alta velocidade de corte. Todos os corpos de provas foram usinados com

estratégias 3 eixos, sem a utilização de fluido de corte. O material utilizado como corpo de prova

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foi um aço-ferramenta AISI P20 com, aproximadamente 30 HRc, fixado diretamente sobre a

mesa do centro de usinagem. Os autores comprovaram neste trabalho que a rugosidade não é

somente afetada pelos parâmetros de corte, tais como velocidade de corte e avanço por dente,

mas também é fortemente influenciado pela estratégia de usinagem e trajetória da ferramenta. Os

autores comprovaram que as estratégias 3D offset, que é uma estratégia que desenvolve linhas

paralelas acompanhando o perfil geométrico da peça, e espiral apresentaram melhores resultados.

A diferença entre estas duas estratégias ocorreu devido à orientação de início e fim de usinagem.

Na estratégia espiral a usinagem iniciou-se na parte superior da geometria e foi descendo até a

superfície do fundo e a estratégia 3D offset iniciou a usinagem na superfície do fundo e terminou

no topo da geometria. Entre essas duas estratégias ocorreram diferenças entre o diâmetro efetivo

de corte da ferramenta. A usinagem ascendente, ou seja, quando a trajetória inicia na superfície

do fundo e termina no topo da geometria, apresentou valores de rugosidade menores. Portanto, o

diâmetro de contato entre a ferramenta e a peça tem influência significativa na rugosidade. Outro

resultado apresentado pelos autores é que a escolha correta da trajetória de ferramenta pode

resultar uma economia de 88% no tempo de usinagem e 40% no custo de polimento do molde,

quando comparado com as estratégias que apresentaram piores resultados.

Tonshoff e Camacho (1989) verificaram a influência da variação do tilt angle e do lead

angle no desgaste de flanco. O material utilizado nos experimentos foi um aço X38CrMoV51. As

ferramentas utilizadas foram fresas de metal duro P25 com ponta esférica e 12 mm de diâmetro e

dois balanços de ferramentas diferentes, 95 mm e 50 mm. Os parâmetros de usinagem utilizados

foram: ap = 0,5 mm, ae = 0,219 mm, fz = 0,1 mm e rotação de 3000 rpm. Os lead angles

utilizados variaram de - 60° a 60°. Os autores relataram lascamentos na região da ponta da

ferramenta na usinagem com lead angle pequeno. Lascamentos ocorreram também na

extremidade posterior do flanco quando o lead angle era zero (eixo da ferramenta perpendicular à

direção de avanço) e para valores de lead angle maiores que 10°. Este fenômeno foi atribuído a

vibrações mais elevadas provocadas por uma grande carga radial. O risco de lascamento da

ferramenta diminuiu quando o balanço da ferramenta foi reduzido e também quando foram

escolhidas as condições de cortes favoráveis. Neste trabalho os autores mostraram também que o

corte descendente apresentou uma boa superfície fresada devido à força de corte ser maior na

direção do eixo da ferramenta. O corte ascendente pode causar vibrações e, consequentemente, a

quebra da ferramenta. Os autores mostraram também no trabalho a influência do tilt angle no erro

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dimensional. Os ângulos que apresentaram vantagens foram entre -20° e 0°. Ficou comprovado

neste trabalho que com o aumento do tilt angle, as cargas laterais também aumentam e as cargas

axiais diminuem.

Ozturk et al. (2009) investigaram a influência do lead angle e tilt angle sobre a qualidade

do acabamento e também estabeleceram algumas condições para evitar o envolvimento da parte

central da ferramenta variando estes ângulos. Os autores mostraram que, com a mesma taxa de

remoção de material, a força de corte e a estabilidade do processo podem ser consideravelmente

diferentes quando existe a variação destes ângulos. De acordo com os autores, o centro da

ferramenta fica em contato com a peça somente quando o lead angle é negativo. Tem-se lead

angle negativo quando a ferramenta está inclinada no sentido contrário ao avanço (oposto ao que

está mostrado na figura 2.3). Em um corte em cópia de uma superfície circular convexa, como a

que foi utilizada neste trabalho, lead angle negativo ocorre quando se realiza corte descendente.

Assim os ângulos negativos devem ser evitados sempre que possível. Os ângulos negativos

somente devem ser utilizados quando a acessibilidade da ferramenta sobre a superfície a ser

usinada requer inclinação negativa. Os autores afirmaram também que o lead angle e o tilt angle

devem ser zero para minimizar os erros de forma das peças, já que as componentes de força

radial e tangencial são minimizadas nestas condições de inclinação, o que minimiza a flexão da

ferramenta. As inclinações do lead angle e tilt angle alteram a dinâmica do fresamento em 5

eixos com ferramentas de ponta esférica e a combinação de inclinação destes ângulos pode

aumentar o limite de estabilidade do processo em até quatro vezes.

Souza et al. (2014c) analisaram as influências do caminho da ferramenta na força de

usinagem, em fabricação de superfícies complexas com fresas de ponta esférica. A ferramenta

utilizada foi uma fresa de metal duro com ponta esférica de 16 mm de diâmetro e duas arestas de

corte. O material do corpo de prova foi um aço AISI P20 com, aproximadamente, 30 HRc de

dureza. As velocidades de corte utilizadas foram: 220 m/min, 330 m/min e 440 m/min, avanço

por dente da fresa 0,1 mm, profundidade de usinagem 0,8 mm e penetração de trabalho de 0,3

mm. As usinagens ocorreram nas condições ascendentes e descendentes em um corpo de prova

de forma circular convexa com raio de 27 mm. Os autores observaram que as componentes

cartesianas da força de usinagem foram muitos similares em todas as velocidades de cortes

ensaiadas, somente com diferentes magnitudes e quanto maior a velocidade de corte, menor a

força de usinagem. Os resultados mostram também que a ponta da ferramenta está engajada no

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corte na trajetória descendente quando o ângulo entre uma reta perpendicular à tangente à curva

da superfície da peça no ponto de contato com a ferramenta e uma reta horizontal está entre 67° e

90° (lead angle entre 0° e 23°). Isso pôde ser notado nos gráficos devido ao aumento da força

nesta região. No corte ascendente a ponta da ferramenta atua no corte somente quando este

ângulo é 90°. Fora da região entre 90° e 67°, a força decresce gradativamente em função do

aumento do diâmetro efetivo de corte. No corte descendente, quando a ponta da ferramenta está

em contato com o corte, a velocidade de corte é zero e, consequentemente, o material da peça

sofre deformação plástica. Os autores concluíram neste trabalho que ao longo da trajetória da

ferramenta, o contato da ferramenta com a peça altera a todo o momento. Esta alteração do

contato implica em alteração no sentido da força, causando a flexão da ferramenta e,

consequentemente, o desvio geométrico da superfície usinada. Concluiu-se também que a

usinagem ascendente apresentou a melhor opção para fresamento devido à força de corte ser,

aproximadamente, 50% menor, quando comparado com a usinagem descendente.

2.3 Materiais para matrizes e moldes

Uma classificação exata de aço-ferramenta é praticamente impossível, visto que qualquer

material utilizado para a fabricação de uma ferramenta pode ser classificado como tal. Da mesma

maneira, os aços considerados aços-ferramenta pelos seus produtores, são comercializados para

aplicações diversas, que não somente a de fabricar ferramentas. A classificação dos aços feita por

meio de composição química, como no caso da classificação SAE/ABNT, pode não ser viável,

visto que os aços mais ligados podem sofrer mudanças na composição sem que as características

de emprego se alterem (Silva & Mei, 1988).

Vários tipos de aços podem ser utilizados para fabricação de matrizes e moldes. Dentre eles

os mais comuns são: AISI H11, AISI H12, AISI H13, AISI D2, AISI D3, AISI D6 entre outros.

A tabela 2.2 mostra uma classificação de aços mais comuns considerados aços para ferramentas.

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Tabela 2-2 - Classificação dos aços para ferramentas (Silva e Mei, 1988)

O aço para ferramenta AISI D6, utilizado como corpo de prova neste trabalho, é um aço

para trabalho a frio com elevada dureza após tratamento térmico e boa estabilidade geométrica

durante o tratamento térmico. Devido a estas características, é indicado para operações de

conformação e corte a frio e, portanto, muito utilizado para produção de matrizes e moldes

(Chiaverini, 1982).

O aço AISI D6 apresenta a seguinte composição média: C = 2,1%, Cr = 11,5%, W = 0,7% e

V = 0,2% (Sousa et al., 2008).

O aço AISI D6 apresenta temperabilidade elevada e excelente resistência a abrasão,

podendo atingir dureza após a têmpera e revenimento entre 58 a 62 HRc. A usinabilidade do aço

W – Aços temperáveis em água

S – Aços resistentes ao choque

AÇOS PARA FINS ESPECIAIS

L – Tipo baixa liga

F – Tipo carbono tungstênio

P – Aços para moldes

AÇOS PARA TRABALHOS A FRIO

O – Aços temperáveis em óleo

A – Aço média liga, temperáveis ao ar

D – Aço alto carbono, alto cromo

AÇOS PARA TRABALHO A

QUENTE

H1 – H19 – Ao cromo

H20 – H39 – Ao tungstênio

H40 – H59 – Ao molibdênio

AÇOS RÁPIDOS

T – Ao tungstênio

M – Ao molibdênio

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AISI D6 é baixa principalmente no estado temperado (Chiaverini, 1982). Os principais elementos

de liga do aço D6 são:

Carbono (C): é o elemento principal para a formação de carbonetos complexos e é

responsável pela dureza e resistência ao desgaste (Chiaverini, 1982). Segundo Ferraresi

(1977), quanto maior o teor de carbono, maior a quantidade de austenita retida na

têmpera, exigindo temperaturas mais elevadas e tempos mais longos de revenimento.

Cromo (Cr): este elemento de liga, juntamente com o carbono, é o principal responsável

pela alta temperabilidade, tornando possível o seu endurecimento completo (Ferraresi,

1977).

Tungstênio (W): a principal característica deste elemento é conferir dureza a quente, ou

seja, o aço com este elemento de liga adquire estabilidade em alta temperatura

(aproximadamente 600° C).

Vanádio (V): principal formador de carbonetos estáveis e melhora a temperabilidade dos

aços e dureza a quente. Também tem como finalidade evitar o crescimento do grão,

refinando-o (Chiaverini, 1982).

2.4 Ferramentas de corte

2.4.1 Fresas para fabricação de matrizes e moldes

Fresas são ferramentas multicortantes com arestas cortantes dispostas simetricamente ou

assimetricamente em torno de um eixo. As fresas podem apresentar diversos formatos, fazendo

com que a operação de fresamento tenha notória versatilidade em termos geométricos (Diniz et

al., 2014).

A operação de fresamento tem se tornado um método de usinagem cada vez mais universal,

com os mais diferentes tipos de máquinas, controles e ferramentas de corte. As máquinas que

mais utilizam as operações de fresamento são os centros de usinagem comandados

numericamente, com 3 a 5 eixos de programação. Devido à complexidade geométrica de algumas

superfícies são necessários diferentes tipos de ferramentas (Sandvik Coromant, 1994). A figura

2.5 mostra os tipos de fresas mais utilizados em operações de fresamento de matrizes e moldes.

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Na usinagem de matrizes e moldes, frequentemente superfícies de perfis complexos têm

que ser produzidas. Assim, a maioria das ferramentas que produzem o semi-acabamento e o

acabamento destas superfícies tem aresta circular. Portanto, quando o corte é realizado com 3

eixos de programação (a inclinação da ferramenta em relação à mesa da máquina não muda ao

longo de sua trajetória), a porção da aresta que realiza o corte varia à medida que a ferramenta

percorre a superfície a ser cortada, fazendo com que o diâmetro efetivo de corte varie e, com isso,

a velocidade de corte também varie, já que a rotação da ferramenta usualmente permanece

constante ao longo da trajetória.

2.4.2 Materiais para fresas

As principais propriedades necessárias a um material de ferramenta de usinagem são:

dureza a quente, resistência ao desgaste, tenacidade e estabilidade química (Diniz et al., 2014).

Algumas dessas características são opostas, como por exemplo, a tenacidade e a dureza e

resistência ao desgaste. Quando se faz algo para aumentar a tenacidade de uma ferramenta, em

geral, perde-se em termos de dureza a quente e resistência ao desgaste e vice-versa. Portanto, é

importante avaliar as características do processo para se escolher um material de ferramenta, a

fim de que ela tenha uma vida economicamente viável.

Para as operações de fresamento, um material para ferramenta amplamente utilizado é o

metal duro, que é um produto da metalurgia do pó. Ferramentas de metal duro têm alto grau de

resistência ao desgaste e dureza a quente quando comparada as de aço rápido, mas quando

comparada ao nitreto de boro cúbico (CBN) e à cerâmica, é menos resistente (Fallboëhmer et al.,

2000; Aslan, 2005). O metal duro é um material para ferramenta bastante atrativo, já que algumas

Figura 2.5 - Fresas para fabricação de matrizes e moldes (Sandvik Coromant, 2006) Adaptado

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classes de metal duro possuem elevada tenacidade, e outras, elevada resistência ao desgaste e

dureza a quente. Atualmente são produzidos metal duro com microgrãos (tamanho de grão menor

que 1 m), o que faz o material adquirir maior dureza como também maior tenacidade. As

ferramentas de metal duro com microgrãos também têm menor condutividade térmica, ou seja,

absorve menos o calor gerado no processo (Diniz et al., 2014).

2.4.3 Coberturas para ferramentas de corte

A fim de aumentar a dureza e as condições das superfícies de saída e de folga da

ferramenta, as ferramentas de metal duro são usualmente revestidas com TiN, TiAlN, TiCN por

deposição física a vapor (PVD) ou deposição química a vapor (CVD). As ferramentas de corte

utilizadas em máquinas de alta velocidade de corte (HSM) são nitreto de boro cúbico (CBN) e

Si3N4, para usinagens de ferro fundido e ferramentas de metal duro revestido de TiN e TiCN para

aços até 42 HRc. Metal duro com microgrãos e cobertura de TiAlN é frequentemente utilizada

para usinagens de aço liga com dureza maior que 42 HRc. As ferramentas de CBN com arestas

preparadas podem ser utilizadas em aplicações especiais, como usinagens de materiais com

dureza entre 60 a 65 HRc (Aslan, 2005).

2.4.4 Vida da ferramenta em fresamento de matrizes e moldes

Segundo Diniz et al. (2014), a vida da ferramenta é o tempo que a mesma trabalha

efetivamente no material, até que não tenha mais capacidade de corte. Quando a ferramenta

atinge essa condição, a mesma deve ser afiada ou substituída. As ferramentas devem ser

substituídas quando atingem desgaste em proporções elevadas, quando não permitem mais a

obtenção de tolerâncias apertadas, quando causam aumento das forças de usinagem de tal

maneira a gerar vibrações excessivas no processo e quando, devido ao valor do desgaste, receia-

se a quebra da aresta.

Aslan (2005) realizou experimentos de vida da ferramenta na usinagem do aço X210Cr12,

que é um aço ferramenta para trabalho a frio, em operações de fresamento de topo com

ferramentas de metal duro com cobertura, cermet com cobertura, cerâmica (Al2O3) e CBN. O

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material da peça estava temperado com dureza de 62 HRc. Foi medido o desgaste de flanco após

a remoção de um volume de cavaco de 1200 mm3. Embora as ferramentas de metal duro com

cobertura e o cermet com cobertura tenham sido testadas com velocidade de corte de 50 m/min e

as ferramentas de cerâmica e CBN com velocidades de corte de 200 m/min, as primeiras ficaram

completamente desgastadas e apresentaram vida muito mais curta em comparação às ferramentas

de CBN e cerâmica a base de Al2O3. O desgaste de flanco das ferramentas de metal duro com

cobertura de TiCN e TiAlN foi de 0,72 mm e somente com cobertura de TiCN apresentou

desgaste de 0,79 mm. A ferramenta de cermet com cobertura de TiAlN apresentou desgaste de

0,55 mm. Por outro lado as ferramentas de cerâmica e CBN apresentaram desgaste de flanco de

0,08 mm e 0,02 mm respectivamente.

Oliveira (2007) comparou a vida da ferramenta com relação ao tempo de usinagem e área

usinada, usando dois tipos de materiais para ferramentas para fresar: o metal duro P25 e cermet

(P10), ambos com e sem cobertura multicamada de TiN/TiCN. Os parâmetros de usinagem

foram: vc = 300 m/min, fz = 0,20 mm, ae = 0,5 mm, ap = 0,25 mm e a inclinação da superfície

usinada em relação ao eixo da ferramenta de 45°. As fresas utilizadas nos experimentos eram

com ponta esférica. O material usinado foi um aço ABNT D2 com 61 HRc de dureza. A

ferramenta que obteve melhor resultado foi o metal duro com cobertura multicamada de

TiC/TiCN, seguido do cermet sem cobertura. Quando comparado o mesmo tipo de ferramenta,

com cobertura e sem cobertura, foi observado que a vida da ferramenta de metal duro com

cobertura foi 3,8 vezes maior quando comparado com a vida do mesmo material de ferramenta

sem cobertura. Esse resultado mostra que as ferramentas com cobertura resistem melhor aos

desgastes por abrasão, devido à maior dureza da cobertura e por difusão, devido ao menor

coeficiente de atrito oferecido pela cobertura. Quando comparadas as duas ferramentas de cermet,

ficou comprovado que os resultados se invertem. A vida de ferramenta de cermet sem cobertura

foi 1,7 vezes maior quando comparado com o cermet com cobertura de TiN/TiCN. Uma hipótese

para explicação desse resultado é a fragilização do substrato do cermet causada pelo processo de

deposição, mesmo quando o processo ocorre a 480°C (processo PVD). Quando comparadas as

ferramentas de metal duro com cobertura e o cermet sem cobertura, que são as ferramentas que

produziram melhores resultados na fabricação de matrizes e moldes, as ferramentas de metal duro

tem uma vida 2,1 vezes maior do que o cermet sem cobertura. Segundo o autor, isso deve ter

ocorrido devido à composição química, tamanho de grão e microgeometria da aresta de corte.

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Fallboëhmer et al. (2000) testaram três diferentes tipos de materiais da peça e dois materiais

diferentes de ferramentas de fresamento. Os aços para ferramentas testados foram o AISI H13,

AISI P20 e AISI D2. As ferramentas utilizadas foram metal duro com cobertura de TiN e PCBN.

A ferramenta utilizada foi uma fresa de ponta esférica de 25,4 mm de diâmetro. As velocidades

de corte testadas foram 60 m/min, 90 m/min, 150 m/min, 210 m/min e 550 m/min para as

ferramentas de PCBN e para a ferramenta de metal duro recoberto a velocidade de corte testada

foi 60 m/min. Os parâmetros de corte foram ap = 0,25 mm, ae = 0,75 mm e fz = 0,7 mm com

critério de fim de vida da ferramenta de VBmáx = 0,15 mm. A usinagem feita no aço para

ferramenta D2 obteve menor vida das ferramentas, quando comparados com a usinagem dos aços

para ferramenta H13 e P20. A maior área usinada por vida da ferramenta foi de 90 cm2 , com

velocidade de corte de 150 m/min. Com velocidade de corte de 60 m/min, a vida da ferramenta

foi duas vezes maior com PCBN quando comparado com metal duro com cobertura de TiN.

Quando a velocidade de corte foi aumentada para 150 m/min, a vida da ferramenta de PCBN

aumentou 65%, mas com velocidade de corte de 550 m/min a vida da ferramenta foi a menor

quando comparado com todos os ensaios. A figura 2.6 mostra os resultados dos experimentos

feito por Fallboëhmer, et al (2000).

Oliveira (2007) comprovou que em operações de fresamento em acabamento do aço ABNT

H13 com 50 HRc de dureza, utilizando ferramenta de metal duro da classe P20A (ISO H20) com

cobertura de TiAlN depositada pelo processo PVD, com ae = 0,25 mm, fz = 0,15 mm e vc = 250

m/min, para a ferramenta atingir um desgaste de flanco VBB = 0,1 mm foram necessários 400

minutos de usinagem. Como a velocidade de corte é o parâmetro que tem a maior influência no

0

20

40

60

80

100

TIN PCBN2

Vc = 60 m/min

Vc = 90 m/min

Vc =150 m/min

Vc = 210 m/min

Vc = 550 m/min

Áre

a U

sin

ada

Material da ferramenta

Figura 2.6 - Desempenho em diferentes ferramentas de corte em HSM do aço AISI D2 (adaptado de Fallboëhmer et al.,

2000)

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desgaste da ferramenta, o autor fez experimentos aumentando a velocidade de corte para 520

m/min. Com essa velocidade de corte, utilizando critério de fim de vida VBB = 0,20 mm, a

ferramenta suportou 480 minutos de usinagem. Esses resultados demonstram que vidas muito

longas da ferramenta podem ser obtidas em operações de matrizes e moldes fabricados com este

tipo de aço. Oliveira (2007) testou também em seu trabalho o comportamento da ferramenta de

metal duro da classe P10A (ISO H10) com cobertura de TiAlN, e comprovou que este tipo de

ferramenta tem um comportamento excelente para a usinagem em acabamento de matrizes e

moldes de aço ABNT H13 no estado endurecido (50HRc).

Bauco (2003) estudou o processo de usinagem de matriz (aço AISI H13) alterando os

parâmetros de corte e a ferramenta. Nos ensaios realizados, foi utilizada uma fresa de pastilhas

redondas com diâmetro D = 32 mm com 3 arestas. Nos primeiros ensaios a pastilha utilizada foi

RCKT 12 GC 4040 (ISO P40) com velocidade de corte de 140 m/min e velocidade de avanço de

513 mm/min. O tempo de usinagem do corpo de prova para essa condição foi de 20 horas. A

ferramenta e os parâmetros de usinagem foram alterados conforme descrito a seguir: velocidade

de corte foi aumentada para 190 m/min, as pastilhas de metal duro da classe P40 foram

substituídas por pastilhas da classe ISO P30, que é uma classe que resiste melhor ao calor, e a

velocidade de avanço foi alterada para 696 mm/min. Com a mudança dos parâmetros e das

pastilhas, a usinagem que era feita em 20 horas passou a ser feita em 15 horas, ou seja, uma

redução de 25% no tempo de usinagem, sem comprometer a qualidade final da matriz.

Diniz et al. (2004) analisaram o desempenho de insertos redondos de metal duro e cermet

em operações de fresamento em semi-acabamento de aço SAE H13 com dureza de 50 HRc.

Neste trabalho foi avaliada a influência do penetração de trabalho (ae), velocidade de corte (vc) e

avanço por aresta de corte da ferramenta (fz) em relação à vida do inserto. Neste trabalho foi

testado também a possibilidade de utilização de mínima quantidade de lubrificante (MQL) como

alternativa à usinagem a seco. Os materiais para ferramentas utilizados foram o cermet sem

cobertura classe H10 e duas classes de metal duro ISO P40, com tamanho de grão de 5µm e H15

com tamanho de grão menor que 1µm. As coberturas para ferramentas de metal duro foram para

o inserto ISO P40 - TiN + TiCN + Al2O3 e para o inserto ISO H15 cobertura de TiCN. As

ferramentas de cermet apresentaram vida mais longa entre todas as ferramentas testadas. O

desgaste de flanco apresentado por esse material para ferramentas foi mais regular, enquanto as

ferramentas de metal duro apresentaram microlascamentos e desgaste de flanco na aresta de

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corte. Entre os parâmetros de corte experimentados, a velocidade de corte foi o parâmetro que

mais influenciou na vida da ferramenta, seguido pelo penetração de trabalho, e por último pelo

avanço por dente. Os valores de rugosidade média ficaram próximos a 0,8 µm (Ra) o que pode ser

considerado um valor de rugosidade aceitável para operações de semi-acabamento. Como última

conclusão deste trabalho, a técnica de mínima quantidade de lubrificante (MQL) não apresentou

melhores resultados quando comparados com o corte a seco, tanto em vida da ferramenta como

em rugosidade da peça.

2.4.5 Mecanismos e tipos de desgaste da ferramenta

A seleção correta da ferramenta, seu material bem como sua geometria, é fundamental para

alcançar o máximo de produtividade durante as operações de usinagem. Em operações de

usinagem, as condições não são padronizadas, especialmente no que se refere aos dados de corte

e estabilidade geral. Caso alguns desses fatores não estejam adequadamente escolhidos, a vida

ideal da ferramenta não será alcançada. Vibrações e falta de rigidez no porta-ferramenta e no

dispositivo de fixação da peça contribuem para o desgaste prematuro da ferramenta de corte

(Sandvik Coromant, 1994).

Segundo Alauddin et al. (1995), a ferramenta pode chegar ao fim de sua vida por vários

motivos: desgaste da ferramenta, lascamento da ferramenta, surgimento de trincas na aresta de

corte, deformação plástica da aresta e por falha catastrófica. Os fatores que normalmente

influenciam na vida da ferramenta são: velocidade de corte (vc), avanço (f), profundidade de

usinagem (ap), penetração de trabalho (ae), fluido de corte, rigidez do sistema, material da peça,

material da ferramenta e geometria da ferramenta.

A interação entre ferramenta, peça e o cavaco normalmente provoca o desgaste da

ferramenta, bem como outros danos, tais como lascas e fissuras térmicas e mecânicas. Os

mecanismos causadores de desgastes da ferramenta são a formação de aresta postiça de corte,

abrasão mecânica, difusão, atrito, a variação da carga térmica e mecânica e os choques entre a

ferramenta e a peça de trabalho (Sandvik, 1994).

Segundo Trent e Wright (2000), a abrasão é incentivada quando o material da peça a ser usinada

contém partículas duras. Diniz et al. (2014) relatam que embora a abrasão possa incentivar o

desgaste de flanco e o desgaste de cratera, este mecanismo tem maior influencia no desgaste de

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flanco devido a superfície de folga da ferramenta estar em contato com um elemento rígido que é

a peça, enquanto a superfície de saída da ferramenta (onde ocorre o desgaste de cratera) ocorre o

deslizamento e adesão do cavaco, que é um elemento flexível. A capacidade da ferramenta

resistir ao desgaste de abrasão está relacionada com a sua dureza. O desgaste da ferramenta

provocado pelo mecanismo de abrasão geralmente apresenta sulcos abrasivos paralelos à direção

do fluxo do material (Sandvik, 1994).

O mecanismo de desgaste por attrition ocorre geralmente em baixas velocidades de corte,

quando o fluxo de cavaco é irregular na superfície de saída da ferramenta. O mecanismo de

attrition pode ser descrito como uma aderência cíclica, onde partículas da ferramenta são

removidas pela continuidade do movimento de escorregamento entre as duas superfícies

(cavaco/ferramenta ou ferramenta/peça). Como estas partículas são bastante duras, ao se atritarem

com outras regiões da ferramenta, incentivam o desgaste da ferramenta por abrasão. Para que

ocorra o mecanismo de desgaste por attrition, o fluxo do cavaco deve ser irregular. O fluxo

irregular de cavaco é incentivado pelo corte intermitente, profundidade de usinagem irregular e

vibração. As áreas desgastadas pelo mecanismo de attrition tem aparência áspera (Trent e

Wright, 2000; Machado et al., 2011; Hashemipour, 1988).

Segundo Machado et al. (2011), o mecanismo de desgaste da ferramenta por difusão

envolve a transferência de átomos de um metal para outro. Este mecanismo é dependente da

temperatura, da duração do contato e da afinidade físico-química dos metais envolvidos (Diniz et

al., 2014).

Este mecanismo de desgaste é o principal responsável pela craterização da ferramenta em

altas velocidades de corte, devido a superfície de saída oferecer condições necessárias para a

ocorrência da difusão, ou seja, alta temperatura devido à zona de cisalhamento secundário

(também chamado de zona de fluxo) e aderência que aumenta o tempo de contato da ferramenta

com o cavaco. No entanto, este mecanismo também pode incentivar o desgaste de flanco caso

ocorra adesão nesta superfície. O aumento da velocidade de corte causa um acréscimo do

desgaste por difusão. Como a difusão acontece em nível atômico, as ferramentas desgastadas por

difusão apresentam aparências lisas (Trent e Wright, 2000; Machado et al., 2011; Diniz et al.,

2014).

Variações bruscas de temperatura (choque térmico) geram tensões térmicas. Para um

material de baixa tenacidade, tais como a cerâmica, um ciclo de tensões térmicas podem resultar

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na fratura. Para materiais dúcteis, um elevado número de ciclos térmicos é tolerado antes da falha

(Sandvik, 1994).

A ferramenta usada em operações de fresamento sofre choques térmicos a cada revolução.

O rápido aquecimento e arrefecimento da ferramenta, uma vez que entra e sai da peça de trabalho

em cada rotação pode provocar grandes diferenças de temperatura entre a aresta de corte e a

maior parte do inserto, causando trincas perpendiculares à aresta de corte. O aumento destas

fissuras pode resultar no lascamento e a quebra da aresta de corte (Johnson, 1996). Trent e

Wright (2000) afirmam que a outra causa do aparecimento destas fissuras é o processo alternativo

de expansão e contração das camadas ferramenta, quando estas são aquecidas e resfriadas a cada

revolução. O uso de fluidos de corte à base de água em operações de fresamento geralmente

aumenta variação de temperatura e, consequentemente, ocorre um aumento das trincas térmicas.

Esta é a razão para a maior vida da ferramenta em operações de fresamento sem a utilização de

fluido de corte.

Os choques mecânicos também são frequentes em operações de fresamento devido à

característica do processo, e isso pode também gerar trincas, lascamentos e, consequentemente, a

quebra da aresta de corte. Devido este fator, é necessário escolher uma ferramenta de corte com

dureza suficiente e também posicionar a ferramenta adequadamente em relação à peça, a fim de

tornar os choques menos prejudiciais para a ferramenta (Diniz et al., 2014).

Em operação de fresamento de material endurecido, quando os choques mecânicos são

mais intensos, uma ferramenta duplo negativa é mais recomendada, no entanto também pode ser

utilizada uma geometria positiva-negativa, a fim de aumentar a resistência ao choque da

ferramenta (Sandvik, 1994).

O lascamento da ferramenta pode ocorrer também quando a ferramenta sai do corte em

cada revolução. Pekelharing (1984) investigou o comportamento no plano primário de

cisalhamento e observou que ele gira e torna-se negativo quando a aresta de corte deixa o corte.

Pekelharing (1984) chamou este processo de “foot forming”. O cisalhamento negativo resultante

da rotação do plano de corte primário causa a variação da velocidade do cavaco. Este é um

processo com rápida alteração: em um momento, ocorre tensão de tração, e logo a seguir, tensão

de compressão; isso causa lascamento e quebra da ferramenta se ela não tiver tenacidade

suficiente. O ângulo formado entre a aresta de corte e a peça quando a aresta deixa o corte é

importante para minimizar o lascamento. Ângulo de saída negativo (figura 2.7 A) e positivo

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(figura 2.7 C) são favoráveis, enquanto a posição da ferramenta alinhada com o centro, (figura

2.7 B – ângulo de saída =0°) gera na aresta de corte da ferramenta de fresamento uma tensão

desfavorável, devido ao fato que na saída da aresta de corte a espessura de corte é a máxima.

Wojciechowski e Twardowski, (2012) compararam em operação de fresamento com fresa

de ponta esférica a vida da ferramenta de pastilhas de metal duro com cobertura de TiAlN com

fresas de nitreto de boro cúbico (CBN). Os experimentos foram realizados em aço temperado

com dureza de, aproximadamente, 60 HRc, mantendo constante o ângulo de inclinação da

superfície e avanço por dente da fresa. Além do material da ferramenta, somente a velocidade de

corte foi variada. A pesquisa revelou que o mecanismo de desgaste predominante para a

ferramenta de CBN, independente da velocidade de corte, foi o desgaste abrasivo. A ferramenta

de metal duro apresentou falha catastrófica da ponta, com velocidade de corte de 500 m/min.

Segundo os autores, as ferramentas de metal duro com cobertura de TiAlN podem apresentar

maior vida quando comparado com ferramentas de CBN. Em seus experimentos, Wojciechowski

e Twardowski (2012) mostraram que na usinagem de material X155CrVMo12-1 em velocidades

de corte entre 100 m/min a 300 m/min, as ferramentas de metal duro com cobertura de TiAlN

apresentaram vida significativamente maior quando comparada com as das ferramentas de CBN.

Segundo os autores, nestas condições o uso de ferramenta de CBN deve ser evitado devido ao

fato de o material a ser trabalhado permanecer duro e frágil em baixas velocidades de corte (estas

velocidades são consideradas baixas para o uso do CBN), o que, por sua vez, pode causar intenso

desgaste abrasivo e também o lascamento da ferramenta de CBN. Foi verificado também nesse

trabalho que nessa faixa de velocidades de corte, independentemente do material da ferramenta

utilizado, o mecanismo de desgaste predominante foi o abrasivo.

Figura 2.7 - Posição relativa entre a aresta de corte e a peça na saída do corte

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Liu et al. (2002) testaram em seu trabalho o desgaste das ferramentas no processo de

usinagem em alta velocidade de corte em fresamento. Os materiais de ferramentas utilizados

foram nitreto de boro cúbico (CBN), metal duro com cobertura, cerâmica e metal duro com

microgrãos. Os materiais de peças utilizados foram: ferro fundido e aço carbono AISI 1045

temperado. Os resultados mostram que os tipos de desgaste das ferramentas apresentaram

comportamentos diferentes. Os principais mecanismos de desgastes mecânicos foram atrito,

aderência (ou attrition) e difusão. Na usinagem em aço AISI 1045 temperado com ferramenta de

metal duro com microgrãos ocorreu o desgaste de cratera. O desgaste de cratera, em velocidades

de corte convencionais, ocorre a uma pequena distância da aresta de corte, mas em altas

velocidades de corte este tipo de desgaste ocorre adjacente à aresta de corte, devido a área de

contato do cavaco com a superfície de saída da ferramenta ser pequena, o que faz com que a força

de corte fique concentrada na adjacência da aresta de corte, incentivando assim o desgaste nesta

região. A dureza do material da ferramenta diminui devido à alta temperatura em função da alta

velocidade de corte, o que incentiva o desgaste difusivo na superfície de saída da ferramenta.

Portanto, quando se utilizou ferramenta de metal duro com microgrãos em alta temperatura de

corte, os mecanismos de desgastes predominantes são: abrasão, difusão, aderência (ou attrition) e

deformação plástica. A ferramenta de cerâmica apresentou melhores resultados, quando

comparada com a ferramenta de metal duro com microgrãos, devido à alta resistência à

temperatura e ao desgaste, características fundamentais na usinagem em alta velocidade. Para as

usinagens em ferro fundido com ferramenta de cerâmica pura (Al2O3), os autores observaram

dois tipos de lascamentos das ferramentas: a) lascamentos ao longo da aresta principal de corte,

tendo como principal causa a fadiga mecânica da aresta de corte; b) lascamentos na forma de

concha na superfície de saída da ferramenta, que pode levar a uma cavidade na superfície de

saída.

Koshy et al. (2002) identificaram em seu trabalho as condições de usinagem adequadas e

também os mecanismos de desgaste em operações de fresamento em alta velocidade de corte em

aço AISI D2 com 58 HRc e AISI H13 com 52 HRc. As ferramentas utilizadas foram fresas com

ponta esférica de 12 mm e 16 mm de diâmetro e fresa de facear com 32 mm de diâmetro. Os

materiais para ferramentas utilizados foram inteiriças de metal duro, insertos de metal duro,

cermet e PCBN. A profundidade de usinagem (ap) foi 1 mm e o penetração de trabalho (ae) foi de

0,5 mm. Os autores concluíram que as usinagens com ferramentas inteiriças de metal duro e

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insertos de metal duro apresentaram pouca diferença em termos de vida da ferramenta. Uma

análise dos padrões de desgaste de flanco indicou que microlascamentos, aderência e a abrasão

foram os mecanismos responsáveis pelo desgaste da ferramenta. A ferramenta de PCBN

apresentou fratura da aresta de corte. Os valores de vida da ferramenta na usinagem do aço AISI

D2 apresentaram menores valores quando comparado ao aço AISI H13, provavelmente devido à

maior dureza do aço AISI D2 e também composição química adversa. Os valores de rugosidade

apresentaram valores entre 1 a 6 µm (Ra) para ferramentas de metal duro com ponta esférica e 0,1

a 0,2 µm (Ra) para as fresas de topo de PCBN.

2.5 Formação do cavaco no fresamento

No processo de fresamento, a aresta de corte da ferramenta penetra na peça removendo uma

parcela de material em cada rotação da fresa e, logo a seguir, sai da peça. Devido a este corte

intermitente, típico do fresamento, pode-se destacar duas características: variação dos esforços de

corte e da temperatura e variação de espessura do cavaco (Capla, 2006). Por isso, a formação do

cavaco no processo de fresamento é um fator de extrema importância.

Em usinagem de metais sempre se deseja alcançar as maiores taxas de remoção de cavaco,

com alto grau de automação, sem supervisão humana e com qualidade de peça usinada. Isso

requer um processo bastante estável, que envolve desde a precisão dimensional, passando pelo

acabamento da peça, como também a vida da ferramenta (Ning et al., 2001). Para manter a

usinagem estável, deve-se dar muita atenção à formação e ao controle do cavaco para facilitar sua

remoção e não causar danos à ferramenta e à peça.

No fresamento HSM de aço endurecido, os cavacos são formados de forma segmentada e a

morfologia da sua formação é um resultado da variação das condições de corte, as quais

dependem principalmente de:

Características mecânicas, térmicas e termoquímicas do material usinado;

Condições de corte;

Mudanças nas características tribológicas na interface ferramenta/cavaco;

Comportamento dinâmico do sistema máquina e ferramenta e a sua ligação com o

processo de corte (Dolinsek et al., 2004).

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A área da seção transversal do cavaco em usinagem de perfis circulares com ferramenta de

ponta esférica permanece a mesma durante toda a trajetória. Entretanto, os cavacos gerados no

início do corte são diferentes dos cavacos gerados no final do corte, devido à alteração do contato

ferramenta/peça. Os cavacos podem ter forma de agulhas ou forma de cavacos enrolados, com

geometria semelhante a um cone (Souza, 2004), dependendo da região da aresta de corte que tem

contato com a peça e, consequentemente, do ângulo de inclinação entre o eixo da fresa e uma

tangente à superfície em usinagem. Souza (2004) também comprovou que os cavacos podem não

sofrer alteração com a variação da velocidade de corte.

Ning et al. (2001) classificaram em seus experimentos os tipos de cavacos encontrados em

usinagem de fresamento HSM. Os parâmetros de usinagem utilizados nos experimentos foram:

de 10.000 a 30.000 rotações por minuto (rpm), profundidade de usinagem desde 0,1 mm a 0,8

mm e avanço por dente da fresa (fz) desde 0,025 mm a 0,05 mm. O material usinado foi um aço

ferramenta AISI H13 temperado com dureza de 55 HRc. A ferramenta utilizada foi uma fresa de

topo com ponta esférica de 12 mm de diâmetro de metal duro com cobertura de TiAlN. A

usinagem foi feita com a ferramenta na posição perpendicular à peça e sem adição de fluido de

corte. Os cavacos classificados nesse trabalho foram: cavaco completo, cavaco estável, cavaco

crítico e cavaco severo. O cavaco crítico ocorreu em situação com vibração e com vibração auto-

excitada (chatter - figura 2.8) e o tipo de cavaco completo em situações de usinagens estável

(figura 2.9). O cavaco formado em situações de usinagem estável tem forma similar a um cone.

Esse comportamento foi atribuído ao segmento de corte da fresa esférica. A formação do cavaco

ocorre em uma calota esférica. Nesse caso, o mecanismo de desgaste encontrado foi o desgaste de

flanco e o maior desgaste ocorreu na região da ferramenta que atingiu maior velocidade de corte.

Nas operações em que ocorreram vibrações e chatter, produziu-se um cavaco instável com o

formato de agulha, provocando algumas marcas na superfície da peça.

Figura 2.8 - Área do segmento de corte com chatter (Ning et al., 2001)

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Souza et al. 2014a analisaram a forma do cavaco em usinagem de matriz. O material

usinado foi AISI P20 temperado com aproximadamente 30 HRc de dureza com geometria

circular e a máquina ferramenta utilizada foi um centro de usinagem high-speed com rotação

máxima de 24000 rpm. A ferramenta utilizada foi uma fresa de ponta esférica de 16 mm de

diâmetro, o avanço por aresta (fz) foi 0,1 mm, a penetração de trabalho (ae) foi 0,3 mm e

profundidade de usinagem (ap) de 0,8 mm. Os autores observaram um processo de usinagem

instável quando o centro da ferramenta estava envolvido no corte, fazendo com que os cavacos

fossem quebrados e a rugosidade apresentou valores elevados. Os cavacos apresentaram formas

diferentes durante o percurso da usinagem. No início da usinagem, quando a posição angular de

ferramenta em relação a peça foi de 85°, os cavacos apresentaram forma de agulha e no final da

usinagem, quando a posição angular da ferramenta em relação à peça era de 5°, os cavacos

apresentaram forma de cone. De acordo com Ning et al. (2001) o cavaco do tipo agulha é

formado quando o processo apresenta instabilidade e o cavaco com forma de cone indica que o

processo de usinagem foi mais estável.

Outro fato a ser notado em fresamento com fresa de topo de ponta esférica é que em

usinagens de geometrias complexas, o diâmetro efetivo de corte varia constantemente. Isso faz

com que a velocidade de corte varie também. Uma região que pode ser considerada crítica é o

centro da ferramenta, pois como o diâmetro dessa região é zero, a velocidade de corte também é

zero, consequentemente, nessa região não ocorre o corte do material e sim a deformação plástica

do material, causando acréscimo nas forças de usinagem (Scandiffio et al. 2016).

2.6 Força de usinagem e vibração no fresamento de matrizes e moldes

Em usinagem de matrizes e moldes com fresas de ponta esférica, as forças de usinagem

sofrem grandes variações na intensidade e na direção devido à geometria dos moldes, à rotação

do eixo da máquina e à variação do ponto de contato da ferramenta com a peça. Fan e Loftus

Figura 2.9 - Área do segmento de corte estável (Ning et al., 2001)

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(2007) relataram que a variação da força pode causar desgaste prematuro da ferramenta, como

também gerar acabamentos com qualidade insatisfatória. Essas variações não são benéficas para a

ferramenta e também para a qualidade da superfície usinada.

Segundo Ribeiro (2007), a variação de forças no processo de usinagem pode causar a

flexão da ferramenta, gerando imperfeições no acabamento e na tolerância dimensional. Portanto,

tanto o acabamento da superfície quanto a tolerância dimensional são fortemente afetadas pela

flexão da ferramenta, que é causada pela variação de forças de corte e pela rigidez da fresa (que

depende, dentre outras coisas, da relação diâmetro/comprimento em balanço). Para minimizar a

flexão, deve-se encontrar a melhor relação entre o comprimento e o diâmetro da fresa, a

profundidade de usinagem (ap) e a penetração de trabalho (ae). A escolha ideal desses parâmetros

reduzem as forças de corte e minimizam a flexão da ferramenta.

Durante as operações de usinagem ocorrem deformações nas estruturas das máquinas

devido às forças de corte, que podem influenciar a qualidade das peças e causar vibrações

(Oliveira, 2007).

Hiramoto et al. (2005) descrevem um modo de reduzir as deformações e minimizar as

vibrações. A proposta é projetar a máquina para que o fuso de esferas recirculantes fique

posicionado no centro de gravidade da estrutura móvel da máquina. O resultado de simulações e

testes em protótipos físicos mostram que a aplicação desses conceitos minimizam as vibrações

induzidas pelas acelerações e desacelerações durante a usinagem.

Kang et al. (2001) estudaram as características de usinagem por fresamento em planos

inclinados de 15°, 30° e 45° utilizando quatro tipos diferentes de caminhos para ferramenta em

fresamento concordante. As trajetórias adotadas para este ensaio foram: fresamento em cópia

descendente e ascendente, fresamento em contorno descendente e ascendente. Neste estudo, os

autores determinaram a alteração da velocidade de corte em planos inclinados, devido à alteração

do diâmetro efetivo e examinaram também a inter-relação entre a velocidade de corte e a força de

corte em fresamento com 3 eixos. Após a obtenção das características de corte, tais como a força

de corte, forma do cavaco, forma e rugosidade da superfície, o desgaste da ferramenta foi

avaliado em função da inclinação da superfície. O material do corpo de prova utilizado foi um

aço com alta dureza (58 HRc) tratado termicamente. O material da ferramenta foi metal duro com

cobertura de AlTiN, fresa de ponta esférica com diâmetro de 10 mm, duas arestas e balanço de

50 mm. O avanço por aresta (fz) foi 0,2 mm, as profundidades de usinagem adotadas (ap) foram

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0,2 e 0,4 mm e penetração de trabalho de 0,4 mm com rotação de 8000 rpm. Os autores

verificaram que, em operações de fresamento com três eixos com fresas de ponta esférica, a

variação da força de corte é inversamente proporcional à variação da velocidade de corte e esta,

por sua vez, tem influência na vida da ferramenta. Na medida em que a velocidade de corte

aumenta, a força de corte diminui e vice-versa. As trajetórias que apresentaram menores vidas

das ferramentas foram as trajetórias vertical descendente e ascendente, devido à vibração no eixo

da ferramenta, que incentiva microlascamentos e desgaste de flanco. A trajetória da ferramenta

horizontal descendente com a superfície inclinada 15° não é um método de usinagem satisfatório,

devido ao centro da ferramenta estar envolvido no corte e, consequentemente, a velocidade de

corte ser zero.

Em seu trabalho, Aguiar et al. (2013) avaliaram a rugosidade da peça e a vida da ferramenta

em usinagem com alta velocidade de corte. O material da peça foi o aço AISI H13 temperado e

revenido com dureza de 50 HRc. As ferramentas utilizadas eram inteiriças de metal duro e com

pastilhas intercambiáveis e diâmetro de 8 mm da classe H (ISO). As ferramentas de metal duro

tinham cobertura de TiAlN depositada pelo processo PVD. Os autores verificaram que o desgaste

da ferramenta não foi um problema, pois as ferramentas apresentaram vidas maiores que 400

minutos na maioria das condições testadas. Neste experimento, o desgaste foi responsável pelo

aumento do batimento da ferramenta, no entanto, o maior batimento não aumentou a rugosidade

na maior parte dos ensaios. O experimento realizado com a ferramenta de 8 mm de diâmetro de

metal duro inteiriça e coeficiente de esbeltez (L3/D

4 onde L é o balanço da ferramenta e D seu

diâmetro), que é o índice que avalia quanto uma barra comprida é mais ou menos vulnerável ao

efeito de flambagem, de 45 foi exceção entre as experiências. Neste caso, o segundo harmônico

da frequência de passagem de dentes foi uma frequência com alto valor da função de resposta em

frequência (FRF) que levou à ocorrência de instabilidade da ferramenta. Esta instabilidade

aumentou a rugosidade da superfície quando comparado com os outros experimentos, mas,

apesar desta instabilidade, a ferramenta utilizada neste experimento não foi danificada. Utilizando

índice de esbeltez 20, independentemente do diâmetro da ferramenta, é possível realizar

operações de acabamento, atingir alta qualidade de superfície e longa vida da ferramenta. Outro

resultado apresentado nesse trabalho é que o principal responsável pelo aumento da rugosidade

foi a condição dinâmica em que a usinagem foi realizada, já que em todas as condições

analisadas, apenas aquela que apresentou chatter foi a que apresentou valores elevados de

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rugosidade em níveis inaceitáveis para matrizes e moldes. Além da elevada vida da ferramenta

obtida nos experimentos, a principal conclusão deste trabalho é que peças com boa qualidade de

rugosidade da peça podem ser produzidas com fresas de grande balanço. Para que esse resultado

seja alcançado, o segundo harmônico da frequência de passagem de dente no processo de

fresamento não deve coincidir com o pico da FRF para evitar a ocorrência de instabilidade

durante o processo.

2.7 Obtenção de formas complexas no fresamento

O processo de produção de uma matriz ou molde requer a utilização de várias tecnologias

desde o projeto até a usinagem final da cavidade. Podem-se destacar as tecnologias CAD

(Desenho Assistido por Computador), CAM (Manufatura Assistida por Computador), DNC

(Comando Numérico Direto) e a máquina com comando numérico (CNC). Além disso, os centros

de usinagem utilizados para o fresamento de moldes e matrizes frequentemente não são as usuais

máquinas-ferramentas com 3 eixos de programação, mas máquinas com 5 eixos e mais diversas

outras características que máquinas CNC utilizadas para produção não possuem.

O ciclo de produção das matrizes e moldes pode ser dividido em três fases distintas: projeto

do produto, projeto do molde e fabricação do molde (Souza, 2004).

Conforme (Souza, 2004), o processo tradicional para manufatura de matrizes e moldes

envolve as seguintes etapas:

Desbaste: a operação de desbaste de matrizes e moldes pelo processo de fresamento

ocorre, normalmente, com fresas de topo reto ou com ponta esférica, no qual a ferramenta

mergulha no eixo Z e percorre a trajetória geométrica da matriz utilizando os eixos X e Y.

Esse tipo de usinagem em fresamento é denominado “usinagem com 2 ½ eixos”. Nesta

etapa, deve-se deixar um sobremetal para o acabamento. A figura 2.10 mostra a

comparação entre o desbaste com fresa de topo reto e fresa com ponta esférica. Nota-se na

figura que no desbaste com fresa de topo reto, devido à limitação geométrica, a superfície

gerada contém mais irregularidades quando comparado com o desbaste com fresa com

ponta esférica. Esta operação é frequentemente realizada com a peça ainda no estado

dúctil, isto é, antes do tratamento térmico.

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Alívio de cantos e pré-acabamento: essa operação tem como objetivo uniformizar a

quantidade de material para posterior acabamento. Esta operação deve ser utilizada

quando o desbaste ocorrer com ferramenta que apresente limitações geométricas para

geração do perfil final.

Acabamento por fresamento: essa operação tem como objetivo remover todo o

sobremetal deixado pelas operações de desbaste e pré-acabamento. A ferramenta a ser

utilizada nessa etapa não deve ter limitação para a definição da geometria final. Na

maioria das vezes esta operação é realizada com fresas de ponta esférica. Esta operação é

realizada com a peça já tratada termicamente, isto é, já no seu estado endurecido.

Operações manuais de acabamento: após a operação de usinagem por fresamento,

geralmente as matrizes ou moldes devem passar pelos processos de retificação ou

polimento para eliminar as imperfeições deixadas pelas operações de usinagem. Essas

operações são elaboradas manualmente e geralmente são realizadas por ferramenteiros.

Segundo Beard (1997) e Gomes & Silva (2003), a quantidade de material que deve ser

deixada para o acabamento deve ser uniforme. A quantidade não uniforme do material para

acabamento é prejudicial para o processo devido ao fato de que essas variações de quantidade de

material influenciam no acabamento final da superfície, principalmente em usinagens em altas

velocidades de corte.

A figura 2.11 mostra uma peça com diferentes graus de curvatura e a matéria-prima para a

elaboração da peça. Quando o desbaste é realizado com fresa de topo reto, ficam visíveis

transições bruscas de sobremetal a ser retirado na operação de acabamento no formato de escada

(figura 2.11B). A figura 2.11C mostra o desbaste nas mesmas condições de usinagem com a

Figura 2.10 - Sobremetal proveniente da usinagem em desbaste em formas complexas (Souza, 2004)

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utilização de ferramenta de topo esférica. Nota-se na figura 2.11C que com a utilização de

ferramenta de topo esférico, a geometria da peça fica mais bem definida restando uma quantidade

menor de material para o acabamento.

Conforme Silva (2000) e Sandvik (2002), quando a usinagem é feita com fresa de ponta

esférica, deve-se optar pela usinagem de baixo para cima (ascendente). Dessa forma, a ponta da

ferramenta não fica em contato com a peça, o diâmetro efetivo fica maior, e consequentemente, a

velocidade de corte fica mais favorável. Segundo Capla (2006), quando a usinagem é feita de

cima para baixo (descendente) ocorre a conformação do material da peça. Nesta condição de

usinagem, quando a ponta da ferramenta fica em contato com a peça, o diâmetro efetivo de corte

é zero e, consequentemente, a velocidade de corte é zero, não ocorrendo o corte do material e sim

a conformação. A deformação plástica ocorre com maior intensidade na usinagem de peças em

planos com inclinações menores, devido ao contato do centro da fresa com a peça, ocasionando

aumento da rugosidade. Esta deformação também aumenta o risco do lascamento da ferramenta.

Para Gomes (2001), a variação da quantidade de material em forma de escada é prejudicial

para a operação de acabamento. Essa variação na geometria pode causar variação na força, flexão

da ferramenta e, como consequência, menor vida da ferramenta. Essas escadas podem influenciar

negativamente a geometria da peça e também o acabamento. Com a utilização de ferramentas de

Figura 2.11 - Desbastes com ferramentas de topo reto e esférico (Souza, 2004)

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topo esférico já na operação de desbaste, a transição entre os passes é menor e o volume do

sobremetal deixado para o acabamento é menor e mais uniforme.

2.8 Qualidade superficial

As superfícies das peças resultado dos processos de usinagem geralmente apresentam uma

estrutura superficial que pode ser dividida em três camadas bem distintas: camada superficial

externa, camada superficial interna e área não afetada pelo processo de usinagem.

A camada superficial apresenta basicamente o material encruado, ou seja, material que

sofreu algum tipo de deformação a frio resultante da remoção de material na camada vizinha que

se transformou em cavaco. Na área não afetada encontra-se o material base da peça conforme

mostra a figura 2.12 (Nicola, 2008).

A fim de atender as especificações do projeto, uma superfície deve possuir certas

características tecnológicas e geométricas. Segundo Nicola (2008), os desvios de forma podem

ser classificados em seis diferentes ordens: 1ª ordem – desvios de forma, 2ª ordem – ondulação,

3ª, 4ª e 5ª ordem – rugosidade e 6ª ordem – estrutura reticulada do material.

Figura 2.12 - Topografia e camadas superficiais de uma peça usinada (Nicola, 2008)

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2.8.1 Rugosidade

Superfícies isentas de erros de geometria e marcas características dos processos são

impossíveis de serem obtidas. Todas as superfícies contêm erros de geometria, que são

considerados macrogeométricos e marcas de fabricação, que são considerados desvios

microgeométricos (Agostinho, 1977; Novaski, 1996). Portanto, após a fabricação obtêm-se uma

superfície efetiva, ou seja, superfície resultado do processo de usinagem empregado.

O acabamento superficial é um fator importante na avaliação da qualidade dos produtos e

principalmente em matrizes e moldes. A rugosidade média em Ra é o parâmetro mais utilizado

para determinar a rugosidade. Várias características são influenciadas pela rugosidade, incluindo

a resistência ao desgaste por atrito, transmissão de calor, capacidade de distribuição e retenção de

lubrificante, capacidade de aderir a camadas protetoras e a resistência à fadiga. Com isso, pode-se

afirmar que a rugosidade afeta vários atributos funcionais do produto e é afetada por vários

fatores ligados ao processo de usinagem como pode ser visto na tabela 2.3 (Çolak et al., 2007).

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Tabela 2-3 - Fatores que influenciam a rugosidade (Çolak et al., 2007)

Fatores que influenciam na rugosidade

Parâmetros de usinagem

Cinemática do processo

Penetração de trabalho

Profundidade de usinagem

Avanço

Velocidade de corte

Ângulos das ferramentas

Fluido de corte

Propriedades da ferramenta

Material

Forma geométrica

Raio de ponta

Resistência ao desgaste

Propriedades do material Dureza

Usinabilidade

Fenômenos do corte

Acelerações

Forma do cavaco

Vibrações

Contato da ferramenta/peça

Variação da força de corte

Equipamento

Rigidez da máquina

Rigidez do sistema de fixação da peça

Rigidez do sistema de fixação da ferramenta

A rugosidade teórica da peça após a usinagem, que é um parâmetro geométrico dependente

do avanço e da forma da ponta da fresa, pode ser calculada em função do perfil e movimento

efetuado pela ferramenta. No entanto, os valores reais de rugosidade apresentam diferenças

consideráveis quando comparado com o teórico. Os fatores que causam essas diferenças estão

relacionados a erros de deslocamento da ferramenta (vibração) e mudança no perfil da ferramenta

em função do desgaste (Vivancos et al., 2004). A deformação plástica da porção de material da

peça vizinha àquela que se transformou em cavaco (típica da operação de fresamento com fresas

de ponta esférica quando o centro da fresa tem contato com a peça) também é um fator que causa

esta diferença.

Na usinagem de superfícies inclinadas com ferramentas de ponta esférica, a rugosidade é

determinada em duas direções. Transversal e longitudinal à direção de avanço. O valor da

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rugosidade teórica no sentido transversal à direção de avanço (direção da profundidade radial de

usinagem - ae) é influenciada pela profundidade de usinagem (ap) pela profundidade radial da

usinagem (ae), pela inclinação da peça a ser usinada e pelo raio da ferramenta (Oliveira, 2007). A

rugosidade teórica transversal pode ser descrita pela equação 1:

onde:

incr.ap = profundidade de usinagem (mm)

α = ângulo de inclinação da parede em relação ao plano de trabalho (°)

Re = raio efetivo da ferramenta (mm)

No sentido longitudinal os fatores que influenciam a rugosidade são: o avanço por dente

(fz) e o raio efetivo de corte da ferramenta (REF), medido paralelamente ao plano de trabalho. O

raio efetivo de corte é o raio da ferramenta no ponto de contato com a peça e é influenciado pela

inclinação da parede da peça em relação à ferramenta (Oliveira, 2007). A rugosidade no sentido

longitudinal pode ser descrita pela equação 2:

onde:

fz = avanço por dente

REF = raio efetivo de corte

A figura 2.13 mostra a ilustração da superfície teórica obtida no processo de fresamento

com ferramenta de ponta esférica, em função do avanço por dente (fz) e da penetração de trabalho

(ae) em superfícies planas. Na figura 2.13(a) o avanço por dente é menor que a espessura da

penetração e na figura 2.13(b), a espessura de penetração é semelhante ao avanço por dente.

(Eq. 1)

(Eq. 2)

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2.9 Contato ferramenta-peça

Durante a usinagem em fresamento (3 eixos) de superfícies cilíndricas com fresas de topo

com ponta esférica, a interface da ferramenta com a peça se altera constantemente. Com isso o

diâmetro efetivo também se altera e, consequentemente, a velocidade de corte. A condição que se

pode considerar crítica é quando a ferramenta atua no material da peça com a região central,

obtendo-se assim, velocidade de corte igual à zero. Portanto nessa situação de contato da

ferramenta com a peça existe mais tendência à conformação plástica do material da peça ao invés

de cisalhamento do material.

Segundo Souza (2004), em usinagens de matrizes com ferramentas de ponta esférica, em

casos em que o centro da ferramenta permanece em contato com o corte, a superfície usinada

apresenta inconvenientes mais relevantes que o esperado (tensão residual, forma geométrica,

rugosidade da peça, etc), gerando superfícies com baixa qualidade e altas forças de corte. Devido

a esse comportamento, este autor sugere em seu trabalho que, quando possível, não se deve

trabalhar com a ferramenta de ponta esférica na posição perpendicular à superfície usinada e sim

inclinando-se a peça ou a ferramenta. Quando possível, é interessante utilizar máquinas CNC

com 4 ou 5 eixos para evitar que a ferramenta trabalhe na posição perpendicular em relação à

superfície usinada. A figura 2.14 mostra o formato do contato da ferramenta/peça e a variação do

diâmetro efetivo ao longo da trajetória da ferramenta (Souza, 2004).

Figura 2.13 - Rugosidade de uma superfície plana após a usinagem (Sandvik, 1999)

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Em trajetórias circulares da ferramenta, conhecendo os diâmetros de corte mínimo e

máximo, é possível definir o diâmetro efetivo da ferramenta em cada região. Uma expressão

matemática foi desenvolvida por Souza (2004) para se obter o diâmetro efetivo de corte em

função da posição específica da ferramenta em uma trajetória circular. Utilizando a lei dos

cossenos, obtém-se a equação 3:

Com isso, o ângulo ξ pode ser obtido pela equação 4, a seguir:

Onde:

RP = raio da peça

RF = raio da ferramenta

ap = profundidade de usinagem

(Eq. 3)

(Eq. 4)

Figura 2.14 - Formato do contato ferramenta/peça (Souza, 2004)

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Segundo Souza (2004), obtendo-se o ângulo ξ e sabendo-se a posição da ferramenta em

relação à peça, o ângulo pode ser determinado (++ξ=90°). Desta forma, pode-se calcular o

raio efetivo máximo através da equação 5.

Segundo Diniz et al. (2014), no fresamento tangencial o cavaco tem a forma de uma

vírgula, com a espessura de corte variando de zero a um valor máximo no fresamento discordante

e de um valor máximo a zero no fresamento concordante. O ângulo de contato do dente com a

peça pode-se calcular através da equação 6.

No processo de fresamento de matrizes e moldes, as inclinações das superfícies sofrem

constantes alterações. A operação de usinagem em acabamento de matrizes e moldes é realizada

com ferramenta de topo esférico e, devido à variação do ponto de contato da ferramenta (fresa)

com a peça (matriz ou molde), o diâmetro efetivo de corte sofre constantes alterações. Com a

alteração do diâmetro efetivo de corte, a velocidade de corte também é alterada podendo causar

acabamento irregular. A figura 2.15 mostra as variações do ponto de contato em uma passagem

da ferramenta na peça (Souza, 2004).

(Eq. 5)

(Eq. 6)

Figura 2.15 - Alteração do ponto de contato de uma ferramenta de topo esférico (Souza, 2004)

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Outro ponto que pode ser notado é que no corte ascendente o diâmetro efetivo é maior

quando comparado com o corte descendente, quando comparada a mesma posição angular

(Scandiffio et al., 2016). A figura 2.16 mostra a ferramenta na mesma posição angular nos cortes

descendente e ascendente, e a seção transversal do cavaco.

Segundo Chan et al. (2003), no processo de usinagem por fresamento, a variação do

carregamento na ferramenta sofre constantes alterações. Devido a essas variações, os autores

sugerem que o contorno em regiões côncavas não seja usinado na mesma operação de desbaste de

regiões planas e convexas. O objetivo é evitar que ocorram grandes variações de carregamento na

ferramenta de usinagem. Estudo realizado por Toh (2003) recomenda, em operações de desbaste,

que o valor da profundidade de usinagem (ap) seja maior do que a penetração de trabalho (ae). Em

experimentos com operação de fresamento de aço AISI H13 com 52 HRc de dureza, utilizando

fresa de metal duro sólido com diâmetro de 10 mm e com cobertura de AlTiN, foram testadas três

níveis de profundidade axial de usinagem (ap), com 10, 15 e 20 mm, com avanço por dente da

fresa (fz) de 0,067mm e profundidade radial de usinagem (ae) de 0,5 mm. Com o aumento da

profundidade de 10 mm para 20 mm, houve um decréscimo da vida da ferramenta, mas a taxa de

remoção de material dobrou e a vida da ferramenta não foi reduzida pela metade, mostrando que

a alteração é economicamente viável.

Em operações de desbaste, a escolha do diâmetro ideal para a fresa é bastante relevante.

Normalmente, deve-se escolher um diâmetro que ofereça maior robustez para o processo. Por

outro lado, em operação de desbaste em fresamento, é melhor utilizar diâmetros de ferramentas

relativamente pequenos, mantendo a velocidade de corte e aumentando a taxa de avanço. Com

Figura 2.16 - Alteração do ponto de contato de uma ferramenta de topo esférico no corte descendente e corte

ascendente (Scandiffio et al. 2016)

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essa escolha é possível minimizar os degraus provenientes do processo de desbaste e, mesmo que

o tempo da operação de desbaste aumente, nas operações de pré-acabamento e acabamento, os

tempos são reduzidos (Altan et al., 2001).

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3 EQUIPAMENTOS, MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos foram divididos em duas fases. Na primeira fase a fresa copiava o perfil

da peça (circular) utilizando 3 eixos. Nesta condição, o diâmetro efetivo da ferramenta alterava

constantemente na medida em que a ferramenta copiava o perfil. Para esta fase, foram testadas as

condições ascendentes e descendentes com rotação fixa com mesma penetração de trabalho e

mesma profundidade de usinagem. Na fase 2, o perfil da peça foi o mesmo (circular) mas foi

utilizado o 4° eixo da máquina, portanto foi mantida a inclinação da ferramenta em relação à

peça, a fim de manter o diâmetro de contato da fresa com a peça constante ao longo da trajetória

da ferramenta. Nesta fase, foram testadas inclinações da ferramenta em relação à peça de 5°, 45°

e 85°. Na fase 2, os parâmetros de usinagem foram os mesmos, com exceção da velocidade de

corte que nesta fase foi mantida a 160 m/min, portanto com a mudança do diâmetro efetivo, a

rotação do eixo da máquina também foi alterada. A primeira fase dos ensaios foi executada em

um centro de usinagem com 5 eixos, mas com limitação de rotação, portanto para a segunda fase

foi utilizado um centro de usinagem com alta rotação (high speed).

Para a realização da primeira fase dos experimentos, foram realizados ensaios com

trajetória circular da ferramenta tanto ascendente como descendente (Figura 3.1), com a

ferramenta na posição vertical, visto que na fabricação de matrizes a maiorias das trajetórias são

circulares. Uma segunda etapa desta primeira fase, que tinha como objetivo verificar qual o

ângulo entre ferramenta e peça que mais danifica a ferramenta, usinou-se superfícies planas da

peça com inclinação de 5°, 45° e 85° em relação ao eixo da ferramenta e a trajetória da

ferramenta era linear ascendente ou descendente (Figura 3.2). Na segunda fase dos experimentos,

com o uso do 4° eixo da máquina (eixo de rotação da mesa), manteve-se o mesmo ponto de

contato da ferramenta com o corpo de prova com estratégias circulares tanto ascendentes como

descendentes (Figura 3.3). Nesta condição, testou-se 3 ângulos de inclinação entre ferramenta e

peça ("lead angle"), 5°, 45° e 85°. Para todas as estratégias ensaiadas foram usadas usinagem no

sentido concordante, ver tabela 3.1. Para o final de vida da ferramenta, foi determinado que

quando o desgaste de flanco da ferramenta (VB) atingisse 0,2 mm ou quando ocorresse falha

catastrófica da ferramenta o experimento seria interrompido. Os parâmetros de corte utilizados

nos experimentos foram: Rotação do eixo árvore (rpm) 7162 para as estratégias 1 a 8, para as

estratégias 9 a 14 manteve-se a velocidade de corte de 160 m/min. Em todos os ensaios foram

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mantidos constantes o avanço por dente da fresa (fz) 0,1 mm, a profundidade de usinagem (ap) 0,2

mm e a penetração de trabalho (ae) de 0,3 mm. Para as estratégias 9 a 14 as rotações foram 23362

rpm, 10394 rpm, 5992 rpm, 3761 rpm, 3346 rpm e 3183 rpm respectivamente. Todas as

estratégias de usinagem foram executadas a seco, ou seja, não foi utilizado fluido de corte. Em

todos os experimentos foram realizados réplicas. Se os resultados de vida da ferramenta entre um

experimento e sua réplica fossem mais de 20% diferentes entre si, uma tréplica era realizada.

Figura 3.1 - Trajetória circular utilizadas nos experimentos

Figura 3.2 - Trajetória linear

Figura 3.3 - Trajetória Circular mantendo o mesmo ponto de contato da ferramenta

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Após a realização dos experimentos foi verificado a rugosidade em vários pontos do corpo

de prova, na direção perpendicular à trajetória da ferramenta. Após a realização dos experimentos

foi avaliada a força de corte com ferramenta no fim de vida e com a ferramenta nova nos eixos X,

Y e Z.

O objetivo da pesquisa é comparar o desempenho da ferramenta no processo de fresamento

de aço endurecido utilizando estratégias de usinagem diferentes. Foi avaliado também a

rugosidade e forças de corte. Com os resultados, espera-se que os fabricantes de matrizes e

moldes possam escolher a estratégia de usinagem que apresenta menor desgaste de ferramenta,

com resultados de rugosidade e forças de corte satisfatórios.

Tabela 3-1 - Estratégias de usinagem utilizadas nos experimentos

Estratégia Condição de Usinagem

Estratégia 1 Estratégia circular com corte descendente (CD)

Estratégia 2 Estratégia circular com corte ascendente (CA)

Estratégia 3 Estratégia linear com corte descendente e peça inclinada 5° em relação à

horizontal (LD5)

Estratégia 4 Estratégia linear com corte ascendente e peça inclinada 5° em relação à

horizontal (LA5)

Estratégia 5 Estratégia linear com corte descendente e peça inclinada 45° em relação à

horizontal (LD45)

Estratégia 6 Estratégia linear com corte ascendente e peça inclinada 45° em relação à

horizontal (LA45)

Estratégia 7 Estratégia linear com corte descendente e peça inclinada 85° em relação à

horizontal (LD85)

Estratégia 8 Estratégia linear com corte ascendente e peça inclinada 85° em relação à

horizontal (LA85)

Estratégia 9 Estratégia circular com corte descendente e lead angle 5° (CD5)

Estratégia 10 Estratégia circular com corte ascendente e lead angle 5° (CA5)

Estratégia 11 Estratégia circular com corte descendente e lead angle 45° (CD45)

Estratégia 12 Estratégia circular com corte ascendente e lead angle 45° (CA45)

Estratégia 13 Estratégia circular com corte descendente e lead angle 85° (CD85)

Estratégia 14 Estratégia circular com corte ascendente e lead angle 85° (CA85)

Fase 1

Fase 2

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3.1 Materiais e equipamentos utilizados

Os experimentos da 1ª fase dos ensaios foram realizados em um centro de usinagem de 5

eixos da marca Hardinge modelo XR 600 5AX (Figura 3.4), com potência máxima de 24kW e

capacidade máxima de rotação do eixo árvore de 12.000 rpm com sistema de fixação da

ferramenta ISO BT 40. A máquina possui avanço rápido de 36 m/min para os eixos X e Y e 32

m/min para o eixo Z, disponível no laboratório de usinagem da Faculdade de Tecnologia SENAI

“Roberto Mange” – Campinas – SP. A máquina é equipada com o CNC Heidenhain iTNC 530. A

máquina possui sistema apalpador da marca RENISHAW para determinação do comprimento da

ferramenta e para referenciamento da matéria-prima na mesa da máquina.

A 2ª fase dos experimentos foi realizada no laboratório de usinagem da Faculdade de

Engenharia Mecânica da UNICAMP. Nesta fase dos experimentos, foi utilizado um centro de

usinagem 5 eixos da marca DMG modelo eVo 40 com alta rotação (Figura 3.5) e sistema de

fixação da ferramenta HSK-A63. Para esta fase dos experimentos, foi mantido o diâmetro efetivo

de contato da fresa com a peça e, consequentemente, foi mantida constante a velocidade de corte

Figura 3.4 - Centro de Usinagem 5 eixos Hardinge XR 600 5AX – 1ª fase dos experimentos

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em 160 m/min para todos os experimentos. Portanto, cada vez que o lead angle era alterado, a

rotação do eixo árvore variava também. Devido à variação do diâmetro efetivo de corte, a rotação

da ferramenta variou de 3183 a 23362 rpm. Como a rotação variava de um ensaio para o outro

com avanço por dente constante, a velocidade de avanço também variava. Assim, o ensaio que

usou lead angle de 5o, como tinha diâmetro efetivo menor, usava maior rotação e, assim,

velocidade de avanço maior, com consequente menor tempo de corte para uma passada. O

inverso ocorreu quando o lead angle foi de 85o.

Para a medição do desgaste da ferramenta, foi utilizado um microscópio acoplado a uma

câmera de captura de imagem da MoticCam e software Motic Image Plus 2.0 (Figura 3.6).

Figura 3.5 - Centro de Usinagem 5 eixos DMG eVo 40 – 2ª fase dos experimentos

Figura 3.6 - Sistema de medição de desgaste da ferramenta

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Para a obtenção da rugosidade, foi utilizado um rugosímetro digital da marca Mitutoyo

modelo Surftest SJ 201 (Figura 3.7) montado em uma base magnética da marca Mitutoyo para

facilitar a inclinação da ponta do rugosímetro. As rugosidades foram avaliadas na direção

perpendicular a trajetória da ferramenta (perpendicular à direção de avanço). Os parâmetros de

medição utilizados foram Ra e Rz com cut off de 0,8 mm.

Para a avaliação da rugosidade, foram determinadas algumas regiões no corpo de prova. As

regiões foram classificadas como região 1, região 2 e região 3 conforme mostra a figura 3.8. Na

fase 1 a rugosidade foi avaliada a cada oito minutos de usinagem; na fase 2 como a velocidade de

avanço foi alterada, a rugosidade foi avaliada a cada 25 milímetros de penetração de trabalho da

ferramenta. Para superfícies planas a rugosidade foi avaliada em vários pontos da superfície

escolhidos aleatoriamente. Para a elaboração dos gráficos, foi avaliada a rugosidade no momento

em que a ferramenta estava no início da vida (ferramenta nova).

Figura 3.7 - Rugosímetro digital Mitutoyo

Figura 3.8 - Regiões de medição de rugosidade

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Para avaliação das forças de usinagem (Fx, Fy e Fz), foi utilizado um dinamômetro da marca

Kistler, modelo 9257 (Figura 3.9). Foi utilizado também um amplificador de carga multicanal da

marca Kistler, modelo 5019, conforme mostra a figura 3.10.

Para a aquisição dos dados das forças de usinagem do dinamômetro, foi utilizada uma placa

de aquisição A/D National Instruments PCI-6025E conectada a um computador contendo um

software LabVIEW versão 8.5. Os dados de força de usinagem foram coletados em uma taxa de

10.000 pontos por segundo, para as estratégias 1 a 8 e para as estratégias 9 a 14 foram coletados a

uma taxa de 30.000 pontos por segundo devido às maiores rotações atingidas na fase 2 dos

experimentos.

As componentes da força de usinagem foram avaliadas com o objetivo de verificar o

comportamento da rugosidade da peça e desgaste da ferramenta. Neste trabalho a componente axial

da força de usinagem é a própria Fz (componente axial da força fornecida pelo dinamômetro). A força

de corte (Fc) é a componente da força de usinagem no plano tangencial à direção de corte. A força de

Dinamômetro

Figura 3.9 - Dinamômetro – Kistler

Figura 3.10 - Amplificador de sinal multicanal – Kistler

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corte é a componente responsável pelo desgaste da ferramenta e consumo de energia durante a

usinagem. A componente radial (Fr) é responsável pela flexão da ferramenta. Neste trabalho a força

de corte (Fc) e a força radial (Fr) foram calculadas utilizando as componentes cartesianas Fx e Fy

obtidas a partir do dinamômetro e a posição da aresta de corte ao longo da trajetória conforme mostra

a figura 3.11. A força de corte (Fc) e a força radial (Fr) foram calculadas pelas equações 7 e 8

respectivamente.

Fc = Fact x cos α’ (Eq. 7)

Fr = Fact x sen α’ (Eq. 8)

Fz = Força axial (Fax)

Em todos os ensaios foram utilizadas ferramentas de ponta esférica de 16 mm de diâmetro

fixada em um suporte ISO BT 40 (Hardinge modelo XR 600 5AX) e HSK-A63 (DMG eVo 40).

O balanço da ferramenta utilizado em todos os experimentos foi 120 mm. O código das pastilhas

é R216F-16 40 E-L. As pastilhas eram de metal duro da classe H10 com cobertura de (Ti,Al)N.

As pastilhas foram montadas em um porta-ferramentas com haste de aço e código R216F-

16A16S-063, conforme figura 3.12.

Figura 3.11 - Determinação da força de corte, força radial e força axial

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As ferramentas desgastadas (no estado de fim de vida) foram levadas ao Microscópio

Eletrônico de Varredura (MEV) da marca Zeiss, modelo EVO MA15 do Departamento de

Engenharia de Materiais da Faculdade de Engenharia Mecânica (UNICAMP), para determinar os

mecanismos de desgastes ocorridos nos experimentos.

Os programas de comando numérico utilizados nos ensaios foram gerados com a utilização

do software de CAM TopSolid 7. O modelamento dos corpos de prova foi feito no software

SolidWoks 2014.

O material dos corpos de prova utilizados nos ensaios foi um aço AISI D6 temperado, que é

um aço para trabalho a frio com elevada temperabilidade. Este aço é utilizado para a fabricação

de matrizes para corte, estampagem e embutimento, punções de alta solicitação, pentes para

laminação de roscas, fieiras para trefilação e etc. Outra característica do aço AISI D6 é a alta

resistência mecânica e ao desgaste devido à presença de carbonetos duros de cromo que fazem

com que este aço tenha alta resistência à deformação (Silva & Mei, 1988). Embora, após a

têmpera, a dureza desse material pode chegar a 62 HRc, a dureza superficial do material usado

nos ensaios foi de 60 HRc. A tabela 3.2 mostra a composição química do aço AISI D6.

Figura 3.12 - Fresa utilizada nos experimentos

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Tabela 3-2 - Composição química do aço AISI D6 (Sousa et al., 2008)

A figura 3.13 mostra foto de corpo de prova utilizado nos experimentos.

Composição química do aço D6

C Cr V W

2,1%

11,5% 0,2% 0,7%

Figura 3.13 - Corpo de prova utilizado nos experimentos

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 - Primeira Fase dos Experimentos

4.1.1 - Vida da ferramenta – Etapas 1 e 2

Segundo Diniz et al. (2014), a vida da ferramenta é o tempo que a mesma trabalha

efetivamente no material, até que não tenha mais capacidade de corte. Quando a ferramenta

atinge essa condição, a mesma deve ser afiada ou substituída. As ferramentas devem ser

substituídas quando atingem desgaste em proporções elevadas, quando não permitem mais a

obtenção de tolerâncias apertadas, quando os desgastes causam aumento excessivo das forças de

usinagem e quando, devido ao valor do desgaste, receia-se a quebra da aresta.

A figura 4.1 mostra a vida da ferramenta nas estratégias de 1 a 8 (primeira fase dos

experimentos). A análise da vida da ferramenta nas outras estratégias experimentadas (segunda

fase) será feita posteriormente ainda neste trabalho, devido ao fato de terem sido feitas em

máquinas diferentes e com diferentes velocidades de corte. Nos experimentos, as estratégias

ímpares foram as descendentes e as estratégias pares foram as ascendentes. Nota-se na figura 4.1

que as estratégias circulares apresentarem maiores vidas da ferramenta. Nestas estratégias, o

desgaste da aresta é distribuído em toda a aresta, devido à trajetória da ferramenta durante o

corte, ao contrário das estratégias lineares, em que o contato da aresta com peça se dá somente

em uma porção da aresta, incentivando o desgaste naquele local. Na estratégia de usinagem

circular com 3 eixos descendente (estratégia 1), a ferramenta inicia o corte com a região central

em contato com a peça, e como a velocidade de corte na região central da ferramenta é zero,

ocorre grande solicitação de força na direção axial (eixo Z) (ver figuras 4.18 e 4.19, que serão

discutidas em item mais a frente). Embora não seja a condição ideal, nessa condição, a usinagem

demonstrou um comportamento bastante estável e, consequentemente, fez com que a vida da

ferramenta fosse aproximadamente 2 vezes maior quando comparada com o corte ascendente e

estratégia circular. No corte ascendente, o diâmetro de contato ferramenta-peça (diâmetro efetivo)

é maior que no corte descendente e somente no ponto mais alto da trajetória é que o centro da

ferramenta entra em contato com a peça. Este maior diâmetro faz com que a velocidade de corte

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efetiva também seja maior. Esta poderia ser uma das causas da menor vida da ferramenta no corte

ascendente. Ainda neste capítulo isto será discutido em maior detalhe.

Vê-se também na figura 4.1 que as estratégias 3 e 4 (corte linear e 5º de inclinação entre o

eixo da fresa e uma reta normal à superfície da peça) tiveram vidas de ferramenta maiores que as

outras estratégias lineares. As razões para isto podem ser duas: a) menor diâmetro efetivo da

ferramenta e, consequentemente, menor velocidade de corte; b) maior estabilidade do processo já

que, com pequeno ângulo de inclinação, a força axial é maior, o que força a ferramenta contra a

peça causando menor flexão da ferramenta e menor vibração. Há que se notar ainda que,

comparando as estratégias 5 com a 7 (inclinação de 45º e de 85º, respectivamente, ambos no corte

descendente) e 6 com a 8 (inclinação de 45º e de 85º, respectivamente, ambos no corte

ascendente), as vidas da ferramenta são próximas. Isto aponta para o fato de que a velocidade de

corte não foi tão influente na vida da ferramenta, já que com 85º o diâmetro efetivo e a

velocidade de corte são maiores que com 45º. Uma hipótese para explicar a pouca influência da

velocidade de corte na vida da ferramenta é que o ângulo de contato aresta-peça em cada

revolução da ferramenta é muito pequeno (e diminui a medida que o “lead angle” aumenta), o

que faz com que a temperatura da ferramenta não cresça muito em cada contato com a peça,

mesmo que a velocidade de corte seja alta.

159

78

112

42 28

21 26 20

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Estratégia 1 Estratégia 2 Estratégia 3 Estratégia 4 Estratégia 5 Estratégia 6 Estratégia 7 Estratégia 8

Vid

a d

a Fe

rram

en

ta -

min

uto

s

Figura 4.1 - Vida da ferramenta - Fase 1

CD

CA

LD5

LA5

LD45 LA45 LD85 LA85

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Nota-se também na figura 4.1 que todas as estratégias testadas na condição descendente

apresentaram vida da ferramenta maior com acréscimo entre 25% até 165%, quando comparado

com a usinagem ascendente. Entre as estratégias lineares, a usinagem com a superfície inclinada

a 85° obteve o pior resultado, provavelmente devido às vibrações, que incentivaram o desgaste da

ferramenta, comprometendo a vida da ferramenta e a rugosidade da superfície usinada. Como

será mostrado no item 4.3, o corte ascendente gerou maior variação da força ao longo da

trajetória da ferramenta (vibração), o que influenciou a rugosidade da peça, como mostrado no

item 4.4. Em outras palavras, a direção de avanço da ferramenta (se descendente ou ascendente)

teve maior influência em sua vida que a velocidade de corte.

Concluindo a análise da figura 4.1, pode-se verificar que, baseado nos resultados obtidos

nos cortes lineares, quando o corte circular de uma superfície similar à utilizada nestes ensaios é

realizado, a ferramenta chega ao fim de sua vida principalmente pelo desgaste/avaria causado

quando a aresta de corte tem contato com a peça na região em que o diâmetro da ferramenta é

próximo do máximo. Isto aponta para o fato de que, se o corte for feito em 4 eixos (isto é, se o

“lead angle” for mantido constante), pelo menos em termos de vida da ferramenta, a inclinação a

ser utilizada entre o eixo da ferramenta e uma reta perpendicular à superfície, deve ser o menor

possível (menor “lead angle”).

4.2 Análise dos desgastes das ferramentas

A figura 4.2 mostra a aresta da ferramenta utilizada na usinagem com 3 eixos descendente

(corte circular). Nota-se nesta figura que a ferramenta sofreu desgaste de flanco, que é o tipo de

desgaste mais comum nos processos de usinagem. Observa-se também na figura 4.2 que a aresta

de corte apresentou microlascamentos. Na região destes microlascamentos verificou-se, via

análise EDS, sempre a presença de tungstênio (W) que está presente no substrato do inserto. Isto

mostra que o microlascamento removeu a camada de cobertura da ferramenta. Estes

microlascamentos com certeza incentivaram o crescimento do desgaste de flanco. Em algumas

regiões da aresta de corte da ferramenta nota-se a presença de ferro, que está presente no material

da peça. Embora não tenha ocorrido com tanta intensidade quanto no corte ascendente, pode-se

afirmar (a julgar pela presença de Fe na região desgastada) que no corte descendente ocorreu,

além dos microlascamentos, o mecanismo de aderência.

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A figura 4.3 mostra a aresta da ferramenta utilizada na usinagem com 3 eixos ascendente.

Pode-se observar na figura 4.3 que a ferramenta sofreu desgaste de flanco e, devido à presença de

material da peça na aresta da ferramenta em quantidade maior que no corte descendente, pode-se

concluir que o principal mecanismo causador do desgaste foi à aderência (atrition). Embora o

material da peça esteja temperado e, portanto, com baixa ductilidade, ocorreu adesão do material

da peça na ferramenta devido à vibração. Essa vibração gerou um fluxo de cavaco irregular e

ocasionou a extrusão do material deformado na região de formação do cavaco entre a peça e a

ferramenta, propiciando as condições ideais para o aparecimento do mecanismo de aderência.

Segundo Diniz et al. (2014), para que o mecanismo de aderência ocorra na superfície de

folga da ferramenta, o material da peça, na forma de cavaco, deve ser extrudado entre a aresta de

Figura 4.2 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 3 eixos descendente

Figura 4.3 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 3 eixos ascendente

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corte da ferramenta e a peça. O mecanismo de aderência pode ser incentivado por outro

fenômeno que inicia o processo de desgaste, removendo as camadas de cobertura da ferramenta e

propiciando a ocorrência da aderência, uma vez que o contato agora se dá contra um material (o

substrato da ferramenta) que tem maior coeficiente de atrito que a cobertura. O mecanismo de

desgaste por aderência pode ocorrer tanto em baixas como em altas velocidades de corte, desde

que ocorra o fluxo irregular de cavaco. Como será visto no item 4.3, durante os experimentos

ocorreu vibração, principalmente no corte ascendente, gerando instabilidade no processo e

criando espaço para que a extrusão de material entre a aresta de corte e a peça ocorra,

incentivando assim a aderência que acelerou o desgaste da ferramenta. Souza (2004) comprovou

em seu trabalho que a variação do ponto de contato da ferramenta (com ponta esférica) com a

peça, faz com que as componentes de forças se alterem de sentido no decorrer da usinagem. Em

usinagem de superfícies complexas com ferramentas de ponta esférica, as componentes de forças

se alteram constantemente, contribuindo assim para a instabilidade do processo.

Ainda com relação às figuras 4.2 e 4.3 (corte descendente e corte ascendente), pode-se

notar que a direção de avanço influenciou a taxa de formação do desgaste, mas não influenciou

no tipo e mecanismo de desgaste, pois ambos (ascendente e descendente) apresentaram desgaste

de flanco, com microlascamentos e aderência (attrition).

Na usinagem ascendente, a ferramenta inicia o corte com o diâmetro máximo (velocidade

de corte maior) e ao longo da usinagem o diâmetro efetivo da ferramenta foi diminuindo,

diminuindo também a velocidade de corte, até atingir o centro da ferramenta.

Como será visto no item 4.3, o corte ascendente gerou maior vibração, o que incentivou o

desgaste/avaria da ferramenta, já que tanto os microlascamentos quanto o processo de attrition

são incentivados pela vibração. Assim, a vida da ferramenta nos cortes ascendentes foi menor que

nos cortes descendentes, como já visto. Outro fator que poderia ter acelerado os mecanismos de

desgaste no corte ascendente é a maior velocidade de corte gerada pelo maior diâmetro de

contato. Ocorre, porém, que os mecanismos de desgaste/avaria que ocorreram para as duas

direções de corte (microlascamentos e “attrition”) não são fortemente incentivados pela

velocidade de corte. Além disso, quando se usinou peças planas com “lead angle” de 45º e 85º,

viu-se que a direção de avanço foi mais influente que a velocidade de corte na vida da

ferramenta. Portanto, não foi a maior velocidade de corte da direção ascendente e sim a maior

vibração que causou a menor vida da ferramenta utilizada nesta direção de avanço.

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As figuras 4.4 e 4.5 mostram arestas de corte desgastadas em uma vista das superfícies de

saída das ferramentas que realizaram cortes descendente e ascendente, respectivamente,

estratégias 1 e 2. Vê-se nestas figuras que o corte ascendente provocou um maior número de

microlascamentos na aresta de corte que o corte descendente, fazendo com que a aresta de corte

que realizou o corte descendente ao fim de sua vida tivesse um formato bem mais próximo do

original que a aresta que realizou o corte ascendente. Esta é mais uma indicação de que foi a

vibração da ferramenta que provocou a aceleração do desgaste/avaria da ferramenta e, assim,

conduziu a ferramenta ao fim de sua vida mais rapidamente. Outro ponto digno de nota nestas

figuras é que não houve desgaste de cratera.

As figuras 4.6 e 4.7 mostram as arestas das ferramentas utilizadas na usinagem linear com a

peça inclinada 5° nas direções descendente e ascendente. Nessas estratégias, as vibrações foram

Figura 4.4 - Superfície de saída da ferramenta – Usinagem 3 eixos descendente

Figura 4.5 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 3 eixos ascendente

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bem menores que em outras condições devido aos pequenos valores de força no plano

perpendicular ao eixo da ferramenta. Como visto anteriormente, a força axial está na direção de

maior rigidez do sistema, resistindo assim às vibrações e resultando num processo mais estável.

Nessas estratégias, a componente axial da força apresentou valores mais elevados quando

comparados com a mesma componente obtida nas estratégias com a peça inclinada 45° e 85°,

como será visto no item 4.3.

Pode-se notar também nas figuras 4.6 e 4.7 que o desgaste está mais próximo ao centro da

ferramenta no corte descendente, já que o diâmetro de contato nesta estratégia é menor do que no

corte ascendente.

Na estratégia descendente, o diâmetro efetivo de corte da ferramenta foi de 2,18 mm e no

corte ascendente foi 4,90 mm. Essa variação de diâmetro representa 125% de aumento da

Figura 4.6 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 5° descendente

Figura 4.7 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 5° ascendente

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velocidade de corte na estratégia em 5° ascendente quando comparada com a estratégia em 5°

descendente. Com isso, não se pode afirmar que o aumento da velocidade de corte foi fator

decisivo para a diminuição da vida da ferramenta, visto que na estratégia descendente a vida da

ferramenta foi 165% maior do que a estratégia ascendente. Em um fresamento convencional, um

aumento de 125% da velocidade de corte ocasionaria uma diminuição bem maior da vida da

ferramenta. O fator determinante para a menor vida da ferramenta foi a maior incidência de

vibração no corte ascendente.

Nota-se nas figuras 4.6 e 4.7 que o tipo de desgaste da ferramenta foi semelhante, mas

ocorreram em regiões distintas da ferramenta. O tipo de desgaste predominante para as

estratégias 5° descendente e 5° ascendente foi o desgaste de flanco com alguma aderência de

material. Conforme mostram as figuras 4.6 e 4.7, ocorreram microlascamentos e aderência

(attrition), mas não com tanta intensidade quanto nas estratégias de usinagem circulares

descendentes e ascendentes. Há que se notar que com esta inclinação da ferramenta e com

consequente pequena velocidade de corte, a deformação plástica do material é incentivada,

facilitando assim fenômenos do tipo “fluxo lateral de cavaco”, i.e, facilitando a extrusão do

material da peça/cavaco entre ferramenta e peça. Com isso, a adesão de material na superfície de

folga tem condições de ocorrer.

A figura 4.8 mostra a superfície de saída da ferramenta utilizada na estratégia de usinagem

com a peça inclinada 5° na condição descendente. Pode-se observar nesta figura que ocorreram

microlascamentos na aresta de corte, fazendo com que a ferramenta perdesse sua forma original.

A figura 4.9 mostra a superfície de saída da ferramenta utilizada na estratégia de usinagem

com a peça inclinada 5° na condição ascendente. Nota-se nesta figura que a aresta de corte sofreu

vários microlascamentos, levando a ferramenta a perder a forma original. Na região da

ferramenta mais próxima ao centro, os microlascamentos prevaleceram devido à alta força axial e

baixa velocidade de corte. Nesta condição, o material da peça sofreu mais deformação plástica do

que corte, causando os microlascamentos e incentivando o desgaste por abrasão.

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Pode-se verificar nestas duas figuras que neste caso, apesar da ferramenta que foi utilizada

no corte ascendente apresentar mais lascamentos quando comparada com a que foi utilizada no

corte descendente, esta diferença não foi tão grande quanto aquela que ocorreu nos cortes

circulares (figuras 4.4 e 4.5), nas quais vê-se que o corte ascendente provocou muito mais

lascamentos na ponta da ferramenta que o corte descendente.

As figuras 4.10 e 4.11 mostram as arestas de corte das ferramentas utilizadas nas usinagens

com superfícies inclinadas a 45° nas direções descendente e ascendente, respectivamente. As

estratégias 45° descendente e ascendente apresentaram o mesmo tipo de desgaste (desgaste de

flanco) e mesmo mecanismo causador de desgaste (aderência – “attrition”). O resultado da

análise em microscopia eletrônica de varredura (MEV) com a utilização de espectroscopia de

energia dispersiva (EDS) mostra que na aresta de corte existe a presença de ferro e cromo, o que

comprova a aderência de material da peça na ferramenta. Este material aderido é ciclicamente

arrancado da ferramenta pelo movimento relativo entre aresta e peça e, ao ser removido, leva

Figura 4.8 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 5° descendente

Figura 4.9 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 5° ascendente

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partículas da ferramenta consigo, gerando desgaste. Essas partículas são extremamente duras e ao

se atritarem com regiões da ferramenta mais a frente, causam ainda mais desgaste de flanco da

ferramenta pelo mecanismo de abrasão. O fato de por debaixo da camada aderida verificar-se a

presença de material do substrato da ferramenta (W e Co) é mais um fator a indicar a presença do

attrition. Vê-se nas figuras 4.10 e 4.11 que uma porção grande da região desgastada está coberta

com material da peça e outra porção é formada do material do substrato. Já não se tem mais

camada de cobertura, o que prova que a remoção da camada aderida provocou desgaste.

Conforme Diniz, et al. (2014), Santos e Sales (2007) e Machado et al. (2011), o mecanismo

de attrition ocorre geralmente em baixas velocidades de corte e quando ocorre alguma

instabilidade na ferramenta ou peça. Machado et al. (2011) relatam que embora o attrition seja

Figura 4.10 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 45° descendente

Figura 4.11 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 45° ascendente

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um mecanismo de desgaste característico de baixas velocidades de corte, pode ocorrer também

em altas velocidades de corte. Se o fluxo de material sobre a superfície de saída e de folga da

ferramenta for irregular, o mecanismo de attrition pode ocorrer também em altas velocidades. A

área desgastada por attrition geralmente tem aparência irregular. Durante os ensaios elaborados

com a peça inclinada a 45°, notou-se que ocorreram vibrações, principalmente na estratégia

ascendente (ver item 4.3), propiciando a condição ideal para o surgimento do mecanismo de

desgaste por attrition.

Nota-se na figura 4.11 que na usinagem com a peça inclinada a 45° na estratégia

ascendente, a aderência do material foi maior quando comparado com a condição descendente.

Provavelmente ocorreu devido às maiores vibrações fazendo com que o cavaco tenha fluxo

irregular e propiciando a extrusão do material entre a ferramenta e a peça. Este material

extrudado é que adere à superfície de folga da ferramenta, causando o attrition. Em outras

palavras, a maior vibração acelerou o mecanismo de desgaste. A variação do diâmetro efetivo,

quando comparadas as estratégias ascendente e descendente, foi de 60%. O diâmetro efetivo com

esta inclinação da peça para a usinagem descendente foi 8,5 mm e para a usinagem ascendente foi

13,54 mm. Com isso, a velocidade de corte na estratégia ascendente foi maior, quando

comparada com a da estratégia descendente. É impossível se afirmar se esta maior velocidade de

corte foi também responsável pela aceleração do mecanismo de aderência (attrition), uma vez

que Trent e Wright (2000) afirmam que o mecanismo de “attrition” ocorre em velocidades

moderadas, isto é, não precisa de velocidades de corte altas para ocorrer. Provavelmente, o maior

incentivador do desgaste da ferramenta foi a vibração da ferramenta no plano perpendicular ao

seu eixo, como já citado anteriormente. Como será visto no item 4.3, houve mais vibração no

corte ascendente e, assim, o mecanismo de attrition foi estimulado, fazendo com que a vida da

ferramenta nesta estratégia fosse mais curta.

A vida da ferramenta, na estratégia descendente, foi aproximadamente 33% maior quando

comparada com a da estratégia ascendente. Este é mais um indicativo que não foi a maior

velocidade de corte a causadora do desgaste mais rápido e, consequentemente, da menor vida do

corte ascendente. Em um fresamento convencional, uma variação de 60% da velocidade de corte

causaria uma diminuição muito maior da vida da ferramenta.

As figuras 4.12 e 4.13 mostram as superfícies de saída das ferramentas utilizadas nas

usinagens com a peça inclinada a 45 ° nas estratégias descendente e ascendente. Pode-se notar

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nestas figuras que a forma da ponta da ferramenta sofreu alguma variação em relação à forma da

ponta original, causada por micro lascamentos e aderência de material do cavaco, mas tais

variações foram bem menores que aquelas ocorridas quando se usinou com trajetória circular,

principalmente no corte ascendente.

As figuras 4.14 e 4.15 mostram as arestas de corte utilizadas na estratégia de usinagem com

a superfície inclinada 85° nas condições descendente e ascendente, respectivamente. Vê-se de

novo nestas figuras que as regiões desgastadas apresentaram porções com material da peça

aderido e porções com substrato da ferramenta exposto. Isto aponta para o fato que o mecanismo

de desgaste não mudou com relação ao corte com inclinações de peça 5º e 45º, isto é, o principal

Figura 4.12 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 45°

descendente

Figura 4.13 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 45°

ascendente

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83

mecanismo de desgaste foi o attrition incentivado pela vibração ocorrida. De novo, a vida da

ferramenta do corte ascendente foi mais curta porque nesta estratégia a ferramenta vibra mais.

As figuras 4.16 e 4.17 mostram as superfícies de saída das ferramentas utilizadas nas

estratégias de usinagem com a peça inclinada 85° nas direções ascendente e descendente. Pode-se

notar de novo nas figuras 4.16 e 4.17 que a forma da ponta da ferramenta sofreu alguma variação

em relação à forma da ponta original, causada por microlascamentos e aderência de material do

cavaco, mas tais variações foram bem menores que aquelas ocorridas quando se usinou em

trajetória circular em 3 eixos principalmente no corte ascendente. Na estratégia descendente o

diâmetro efetivo foi 15,22 mm e na estratégia ascendente foi 16 mm. A variação do diâmetro

efetivo de corte da ferramenta entre as estratégias descendente e ascendente foi de 5%. A

Figura 4.14 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 85°

descendente

Figura 4.15 - Superfície de folga da ferramenta - Usinagem 85°

ascendente

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estratégia descendente teve uma vida da ferramenta maior 30% quando comparada com a

ascendente. Novamente, esta variação de vida da ferramenta mostra que não foi a velocidade de

corte a responsável pela variação deste resultado entre os cortes descendente e ascendente.

Afinal, a variação de vida entre estes cortes foi muito similar ao que ocorreu na estratégia linear

com inclinação da peça a 45º (ver tabela 4.1), porém, no corte com inclinação de 85º a variação

de diâmetro efetivo (e, consequentemente, a variação da velocidade de corte) foi muito menor

que com inclinação de 45º.

Figura 4.16 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 85°

descendente

Figura 4.17 - Superfície de saída da ferramenta - Usinagem 85°

ascendente

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85

Tabela 4-1 - Variação de vida/diâmetro efetivo

Estratégias Maior Vida Variação da vida %

Maior Ø efetivo Variação Ø efetivo

5° descendente 5° ascendente

5° descendente

165% 5° ascendente 125%

45° descendente 45° ascendente

45° descendente

33% 45° ascendente 60%

85° descendente 85° ascendente

85° descendente

30% 85° ascendente 5%

4.3 Força de corte – Primeira fase de experimentos

4.3.1 Componentes da força de usinagem

As componentes Fax, Fc e Fr são apresentadas de acordo com a trajetória da ferramenta

durante a usinagem com trajetórias descendentes e ascendentes. A figura 4.18 mostra essas

componentes, em operação de fresamento nas trajetórias ascendentes. Geralmente as forças

aumentam no final da trajetória, quando o lead angle se aproxima do ângulo zero. Quando a

ferramenta atua nesta região, o diâmetro efetivo é muito pequeno e, portanto, a velocidade de

corte é extremamente baixa, às vezes atingindo zero. A redução da velocidade de corte aumenta

as forças. Quando o lead angle é zero, o eixo da ferramenta fica perpendicular à superfície

usinada e a força axial aumenta consideravelmente. No corte ascendente, o lead angle no início

da usinagem é 90° e no final da trajetória, esse mesmo ângulo é 0°. Devido à variação deste

ângulo, a componente axial (fig. 4.18a) aumenta aproximadamente 11 vezes quando comparado o

início e o final da trajetória circular.

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As figuras 4.18b e 4.18c mostram as componentes de força radial e tangencial. Nota-se

nestas figuras que ocorreu uma vibração de baixa frequência. Em função da taxa de amostragem

em relação à rotação da ferramenta, pôde-se determinar que a vibração de baixa frequência

aconteceu em um período de aproximadamente 50 passagens de aresta de corte da ferramenta, ou

seja, aproximadamente 25 rotações da ferramenta. Esta vibração de baixa frequência permaneceu

em toda a trajetória da ferramenta e esse comportamento teve grande influência na rugosidade da

superfície (como será visto no item 4.4 deste trabalho) e desgaste da ferramenta, como já foi visto

nos itens 4.1 e 4.2. As figuras 4.18d, 4.18e, 4.18f mostram uma vista ampliada das componentes

das forças axial, radial e tangencial. Nota-se na figura que o comportamento das forças axial e

radial é mais uniforme quando comparado com a força tangencial o que comprova que nesta

estratégia ocorreram vibrações.

A figura 4.19 mostra as componentes da força de usinagem na estratégia descendente.

Nesta estratégia a região central da ferramenta fica em contato com o corpo de prova no início da

usinagem e nesta região a velocidade de corte é zero. Pode-se observar também na figura 4.19

que a magnitude das componentes da força é muito alta no início da usinagem, ou seja, quando o

Figura 4.18 - Fresamento ascendente. Componentes: a) Fax (força axial); b) Fr (força radial); c) Ft (força tangencial); d) força axial

amplificada; e) força radial amplificada e f) força tangencial amplificada

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lead angle é próximo de zero. Provavelmente esse comportamento deve ter ocorrido devido a

diversos fatores: i) no início da usinagem o diâmetro efetivo da ferramenta e a velocidade de

corte são muito pequenos; ii) o ângulo de contato da ferramenta com a peça em uma rotação da

fresa é maior devido ao menor diâmetro efetivo; e iii) além da força necessária para a remoção do

cavaco, a ferramenta também tem que vencer a força necessária para a deformar plasticamente o

material devido à baixa ou nula velocidade de corte nesta região.

Observa-se algumas mudanças de direção nas componentes Fc e Fr, mostradas nas figuras

4.19b e 4.19c, devido à alteração do contato da ponta da ferramenta com a superfície usinada.

Entretanto, esta estratégia de usinagem propiciou uma estabilidade muito maior quando

comparado com a estratégia ascendente, como mostrado nas figuras 4.18b e 4.18c e esse

resultado mostra um comportamento contrário ao relatado na literatura. Não se vê nas figuras

4.19b e 4.19c aquela variação de força de baixa frequência que se viu nas figuras 4.18b e 4.18c.

O resultado desta estabilidade, apresentado no corte descendente, propiciou superfícies com

melhor acabamento e também maior vida da ferramenta conforme será mostrado no item 4.4.

Figura 4.19 - Fresamento descendente. Componentes: a) Fax (força axial); b) Fr (força radial); c) Ft (força tangencial) d) força axial

amplificada; e) força radial amplificada e f) força tangencial amplificada

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As figuras 4.19d, 4.19e, 4.19f mostram uma vista ampliada das componentes das forças

axial, radial e tangencial. Nota-se na figura que o comportamento da força axial é mais uniforme

quando comparado com as forças radial e tangencial, o que mostra sinais de vibração. Quando

compara-se a usinagem descendente com a ascendente, nota-se que a usinagem ascendente

apresentou maiores vibrações devido a irregularidade do sinal.

Souza et al. (2014a) testaram o fresamento de superfícies cilíndricas de aço AISI P20 (30

HRc) com ferramentas de ponta esférica, usando estratégias descendente e ascendente. Neste

trabalho foi constatado que a força axial (Fax), no início da usinagem descendente, foi 10% maior

quando comparado com a força radial (Fr). No final da trajetória da ferramenta, a força radial (Fr)

apresentou valores 20% maiores quando comparado com a força axial (Fax). Este resultado

mostra que a variação do diâmetro efetivo de corte e também da velocidade de corte, que ocorre

durante a trajetória de ferramenta, ocasiona a mudança da direção da força de usinagem

resultante. Pode-se também verificar neste trabalho que não ocorreram vibrações significativas na

usinagem do material P20, tanto na estratégia descendente como na ascendente.

Por outro lado, no presente trabalho que estudou o processo de fresamento de aço AISI D6

com ferramenta de ponta esférica, a força axial (Fax) foi aproximadamente 3 vezes maior do que a

força radial (Fr) no início da usinagem no corte descendente. No final da trajetória da usinagem, a

força radial (Fr) e a força de corte (Fc) foram ligeiramente maiores que a força axial (Fax). Na

usinagem em fresamento com ferramenta de ponta esférica do aço AISI D6, à medida que o lead

angle diminui, a força axial aumenta e, quando esse ângulo é próximo de zero, a força axial é

muito maior quando comparada com a força de corte e força radial. A força radial e a força de

corte são responsáveis pela flexão e vibração da ferramenta.

Souza et al. (2014a) verificaram que na usinagem do aço AISI P20 quando o lead angle era

próximo de zero, ou seja, quando a ponta da ferramenta estava na região do corte e,

consequentemente, com a ocorrência de deformação plástica, a força axial foi aproximadamente

4 vezes maior quando comparada com a ferramenta posicionada com lead angle próximo de 90°

(máximo diâmetro efetivo e apenas a remoção do cavaco sem deformação plástica significativa).

Na usinagem do aço AISI D6, a força axial diminuiu aproximadamente 15 vezes a partir do

lead angle de 90° até 0° (início e final do caminho da ferramenta) como pode ser visto na figura

4.19a. O fenômeno de deformação plástica é muito mais intenso no fresamento de aço D6 com 60

HRc do que no fresamento de aço AISI P20 com 30 HRc. Essa relação pode ser observada entre

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89

o material e o efeito da deformação plástica. A relação de dureza entre os materiais é 2 vezes e a

força axial teve uma variação de 3,75 vezes na comparação do corte destes dois materiais

A figura 4.20 mostra a variação força axial na estratégia de usinagem circular descendente.

Pode-se observar na figura que, no início da usinagem, a força axial obteve sempre valores

positivos, não retornando para o ponto zero entre os intervalos de atuação das arestas de corte da

ferramenta. Nesta região o diâmetro efetivo de corte é muito pequeno e o ângulo de contato da

ferramenta é muito grande, fazendo com que sempre uma parte da ferramenta estivesse na região

do corte. Com isso pode-se afirmar que a ponta da ferramenta esteve sempre em contato com a

peça e nesta região ocorreu, além do corte de material, deformação plástica, fatores que

impediram que a força axial chegasse a zero. Durante o decorrer da trajetória de usinagem, o lead

angle foi aumentando e o corte tornou-se intermitente. Pode-se notar na figura que, no decorrer

da trajetória de usinagem, a força axial chegou a zero nos intervalos de atuação entre uma aresta e

outra.

Na usinagem ascendente a força axial não teve o mesmo comportamento, quando

comparado com o corte descendente, devido ao diâmetro efetivo de corte ser maior e a ponta da

ferramenta não estar envolvida no corte durante toda a trajetória.

Figura 4.20 - Usinagem Descendente: Fax e a ponta da ferramenta

envolvida no corte previnem a vibração

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Devido aos fatores mencionados, a estratégia de usinagem descendente iniciou o corte em

uma condição estável (força na direção axial não provoca flexão da ferramenta) e esta

estabilidade foi mantida até o final da usinagem.

Por outro lado, na estratégia ascendente a usinagem teve início em uma condição

desfavorável à estabilidade devido ao maior diâmetro efetivo da ferramenta e, consequentemente,

maiores forças radial e tangencial quando comparadas com a força axial, como pode ser visto na

figura 4.18. Com maiores força radial e tangencial, condições ideais para excitação de vibração, a

ferramenta flexionou no início do corte, gerando vibração, que permaneceu até o final da

trajetória de usinagem.

Além da oscilação de força no intervalo entre a ação de cada aresta de corte, foi observada

uma vibração de baixa frequência, aproximadamente a cada 25 revoluções da ferramenta. Esta

vibração de baixa frequência pode ter sido gerada pela dificuldade da ferramenta cisalhar o

material devido à flexão da mesma. Na estratégia ascendente, a força axial aumenta

consideravelmente no final da trajetória, o que favoreceu a redução da flexão da ferramenta, mas,

mesmo esta redução da flexão não foi suficiente para eliminar a vibração de baixa frequência.

Porém, observou-se diminuição dos valores de rugosidade nesta região, como será visto no item

4.4.

Com estes resultados pode-se afirmar que quando a ponta da ferramenta está atuando no

corte e, consequentemente, a força axial é muito maior do que a força de corte e força radial, a

ponta da ferramenta pressiona a peça e esta condição impede a flexão da ferramenta, gerando um

processo de usinagem mais estável.

4.4 Rugosidade – Primeira Fase de Experimentos

A figura 4.21 mostra a rugosidade nas estratégias de usinagem circular nas condições

descendentes e ascendentes. Para a avaliação da rugosidade, a superfície do corpo de prova foi

dividida em três regiões, conforme mostrado na figura 3.8.

Nota-se que os valores de rugosidade na região 1, quando comparado o corte ascendente e

descendente, são semelhantes. Na região 1 na condição descendente, a ferramenta atua com a

região central causando deformação plástica do material da peça. Nesta condição a velocidade de

corte nesta região é zero, prevalecendo assim a conformação do material da peça. Esta condição

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91

de usinagem faz com que a força axial aumente consideravelmente, quando comparado com a

estratégia ascendente (ver figuras 4.18 e 4.19).

No fresamento ascendente, embora o diâmetro efetivo de corte seja pequeno, o centro da

ferramenta não está envolvido no corte, ocasionando menor força axial (ver figuras 4.18 e 4.19)

quando comparado com a usinagem descendente.

Os resultados apresentados na figura 4.21 mostram que a variação da força no sentido axial

não causa variações na rugosidade, pois a força axial não induz à flexão da ferramenta. Pode-se

notar também na figura 4.21 que na usinagem descendente, a região 1 apresentou rugosidade

maior quando comparada com as outras duas regiões do corpo de prova. Este resultado se deve ao

fato da presença da deformação plástica e da baixa (ou nula) velocidade de corte nesta região. A

medida que a ferramenta descreve a trajetória de usinagem, a velocidade de corte aumenta devido

à variação do diâmetro efetivo, cessando assim a deformação plástica e, portanto, a rugosidade

diminui.

No fresamento ascendente, a rugosidade apresentou maiores valores nas regiões 2 e 3,

quando comparado com a usinagem descendente. Na usinagem ascendente, a ferramenta inicia o

corte com o diâmetro máximo e esta condição favorece a vibração de baixa frequência, como

ilustrado na figura 4.18, o que explica os maiores valores de rugosidade no fresamento

ascendente. Quando a ferramenta atinge a região 1 a ferramenta corta com diâmetro e velocidade

muito pequenas e a força axial aumenta consideravelmente. Assim, nesta região a rugosidade

passa a ser semelhante à obtida no corte descendente. A figura 4.18 mostra que a vibração de

baixa frequência ocorreu também durante o corte na região 1 (no final da trajetória da

ferramenta), mas como a componente axial é elevada, as forças radial e tangencial não

conseguem defletir a ferramenta e, consequentemente, as rugosidades apresentaram valores

semelhantes, tanto no corte ascendente e descendente.

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A figura 4.22 mostra a rugosidade nas usinagens com inclinação de 5°, 45° e 85° na direção

perpendicular à trajetória da ferramenta. Pode-se notar na figura que em todas as inclinações as

usinagens ascendentes apresentaram valores de rugosidade maiores. Provavelmente esse

resultado se deve à menor força axial apresentada nas usinagens ascendente. Como mostrado

anteriormente, quando a força axial apresenta maiores valores, a rugosidade tende a ser menor,

devido à força axial estar na direção de maior rigidez da máquina.

0,38

0,47

0,17

0,73

0,22

0,58

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

LD5 LA5 LD45 LA45 LD85 LA85

Ru

gosi

dad

e -

Ra

(µm

)

Figura 4.21 - Rugosidade – 3 eixos descendente e ascendente

Figura 4.22 - Rugosidade – Usinagem com inclinações de 5°, 45° e 85° (descendente e ascendente)

0,56

0,15 0,24

0,52

0,72

0,51

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

Região 1 Região 2 Região 3

Ru

gosi

dad

e-R

a (µ

m)

Descendente Ascendente

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4.5 Vida da ferramenta – Segunda Fase dos Experimentos

A figura 4.23 mostra a vida das ferramentas nas estratégias de usinagem utilizadas nos

experimentos. Em todos os experimentos o desgaste da ferramenta se dá somente em uma porção

da aresta devido à manutenção do ângulo de contato da ferramenta com a peça ao longo de uma

passada. Em todas as estratégias descendentes (5°, 45° e 85°) os diâmetros efetivos de corte

são menores quando comparado com as estratégias ascendentes, mas a velocidade de corte foi

mantida em todos os experimentos. Nota-se na figura que a estratégia que apresentou melhor

resultado foi a usinagem com inclinação de 5° na condição descendente. Nesta condição de

usinagem o contato da ferramenta com a peça se dá em um diâmetro muito pequeno (ver tabela

4.2), gerando alta força de corte na direção axial da ferramenta. Na verdade, apesar da tabela 4.2

mostrar que o diâmetro efetivo é 2,18 mm, o contato da ferramenta se estende desde o diâmetro

zero (contato do centro da ferramenta com a peça) até este diâmetro efetivo.

Então, a velocidade de corte média ao longo do contato é menor que a apontada na tabela

4.2. Na região central da ferramenta a velocidade de corte é zero, portanto ocorre conformação do

material da peça, gerando uma condição desfavorável para o processo. Esta estratégia de

usinagem demonstrou uma condição bastante estável e, mesmo que as componentes radial e

tangencial da força de usinagem tenham apresentado valores mais elevados quando comparados

com outras estratégias, a maior força axial manteve a estabilidade do processo e,

consequentemente, fez com que a vida da ferramenta fosse maior e a rugosidade apresentasse

menores valores, quando comparado com outras estratégias. Uma análise das componentes da

força de usinagem será realizada mais a frente.

Tabela 4-2 - Parâmetros de usinagem – fase 2

Fase 2 5° descendente 5° ascendente 45° descendente 45° ascendente 85° descendente 85° ascendente

Diâmetro efetivo

de corte (mm)

2,18 4,90 8,50 13,54 15,22 16,00

Rpm 23362 10394 5992 3761 3346 3183

Velocidade de

avanço - vf

(mm/min)

4672 2079 1198 752 669 637

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Nota-se também na figura 4.23 que a única inclinação da ferramenta que apresentou melhor

resultado na estratégia descendente em comparação com a ascendente foi a estratégia com 5° de

inclinação, embora nesta condição de usinagem tenha ocorrido vibrações de baixa frequência,

como será mostrado no item 4.6. Em outras inclinações (45° e 85°) as estratégias descendentes

apresentaram vida semelhante ou pior quando comparada com a ascendente. Comparando-se as

figuras 4.24 e 4.25 (figuras que mostram as componentes axial, radial e tangencial da força de

usinagem para os cortes descendente e ascendente com 5o de inclinação), vê-se que o corte

descendente apresentou maiores variações das componentes da força de usinagem que o corte

ascendente. Portanto, não foi a vibração da ferramenta que fez o corte ascendente ter menor vida

da ferramenta quando a inclinação da ferramenta era de 5°. O maior fator de influência neste caso

foi a menor velocidade média do corte descendente. Como visto, a velocidade foi calculada de tal

maneira a ser a mesma para todos os ensaios levando em conta o diâmetro efetivo. Porém, a

variação do diâmetro de contato é muito grande nos cortes com 5° de inclinação (em especial no

corte descendente), fazendo com que o diâmetro médio de contato no corte descendente fosse

bem menor que no corte ascendente. Esta também é a razão para que o corte descendente com 5°

de inclinação da ferramenta gerasse a vida mais longa da ferramenta dentre todos os ensaios. Este

ensaio é que realizava o corte com a menor velocidade de corte média. Já nos cortes com 45° e

Figura 4.23 - Vida da ferramenta – fase 2

3477

2696

2341

3086

1916 1916

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

CD5 CA5 CD45 CA45 CD85 CA85

Vo

lum

e d

e m

ate

rial

re

mo

vid

o (

mm

3)

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85° de inclinação da ferramenta, a variação percentual do diâmetro ao longo do contato da

ferramenta com a peça foi menor, fazendo com que a diferença entre as velocidades médias dos

cortes ascendentes e descendentes não fosse tão grande. Assim, outros fatores influenciaram na

vida da ferramenta e, consequentemente, a vida da ferramenta no corte descendente com estas

inclinações não foi maior que no corte ascendente. Os resultados de vida da ferramenta com a

manutenção da velocidade de corte foram diferentes dos ensaios com a variação da velocidade de

corte mostrados no item 4.1, o que comprova a importância deste parâmetro para o processo

(primeira fase dos experimentos). Naquele item, com a variação da velocidade de corte, à medida

que a ferramenta percorria a trajetória circular da peça em função da alteração do diâmetro

efetivo e a manutenção do avanço por dente (fz), todas as estratégias descendentes apresentaram

melhores resultados quando comparadas com as ascendentes. Já com a manutenção da velocidade

de corte e do avanço por dente (fz), a única estratégia descendente que apresentou melhor

resultado foi com inclinação de 5°. Isto comprova a importância da velocidade de corte na vida

da ferramenta.

Nas estratégias descendentes com inclinações de 45° e 85°, a vida da ferramenta pode ter

sido influenciada pela variação das forças tangencial e radial. Na usinagem ascendente, as forças

Figura 4.24 - Força axial, força radial e força tangencial – 5° descendente

Figura 4.25 - Força axial, força radial e força tangencial – 5° ascendente

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tangencial e radial apresentaram menor variação durante a usinagem e também valores

ligeiramente inferiores, quando comparados com os das estratégias descendentes, como podem

ser visto nas figuras 4.26 e 4.27. Estes resultados influenciaram positivamente a vida da

ferramenta.

As maiores variações na vida da ferramenta quando se compara os cortes ascendente e

descendente ocorreram nas estratégias com lead angle de 5° e 45°. Nas estratégias com lead

Figura 4.26 - Força axial, força radial e força tangencial – 45° descendente e ascendente

Figura 4.27 - Força axial, força radial e força tangencial – 85° descendente e ascendente

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angle de 85° (ascendente e descendente), a variação do diâmetro efetivo foi a menor dentre as

estratégias (cerca de 5%). Como a velocidade de corte foi mantida e a variação do diâmetro

efetivo foi pequena, as forças tangencial e radial apresentaram valores semelhantes e, com isso,

não ocorreu alteração na vida da ferramenta, quando comparada a estratégia ascendente com a

descendente.

Concluindo a análise da figura 4.23, pode-se verificar que, quanto maior o diâmetro efetivo

(quanto maior a inclinação da ferramenta em relação à peça), menor a vida da ferramenta, em

especial no corte descendente, mesmo mantendo-se constante a velocidade de corte. Esse

resultado foi também verificado nos ensaios com usinagem em superfície plana (ver item 4.1).

Isto se deve a dois fatores: a) a variação maior do diâmetro de contato que ocorre quando o

diâmetro efetivo é menor - este fator, como já citado foi mais importante quando se teve 5° de

inclinação; b) a diminuição da estabilidade da ferramenta - a medida que se aumentou o ângulo

de inclinação da ferramenta, a componente axial (direção rígida) da força diminuiu (ver figuras

4.24 a 4.27). Com isto, apesar das forças tangencial e radial também terem diminuído, tem-se

maior vibração da ferramenta porque ficou mais fácil para as forças perpendiculares ao eixo da

ferramenta fleti-la para o lado, dada a menor força axial. Isto influenciou negativamente a vida da

ferramenta. Este fator foi mais importante quando se passou de 45° para 85° de inclinação da

ferramenta.

Portanto, em termos de vida da ferramenta, quando se for usinar uma superfície circular

convexa com diâmetro efetivo constante (isto é, com programação em 4 eixos) sempre que

possível, a inclinação entre o eixo da ferramenta e uma reta perpendicular à superfície da peça

usinada deve ser a menor possível (menor lead angle).

A figura 4.28 mostra a superfície de folga da ferramenta na usinagem com lead angle de 5°

descendente. Nota-se nesta figura que o desgaste predominante foi o desgaste de flanco que é o

tipo de desgaste mais comum durante o processo de usinagem. Observa-se também na figura 4.28

que ocorreu aderência do material da peça na aresta da ferramenta. Isto é comprovado pela

análise EDS que mostra que o material predominante desta camada aderida é o ferro (que está

presente no material da peça usinada). Foi encontrado também cromo (elemento de liga do aço

AISI D6) e alumínio que é parte da cobertura da ferramenta. Nota-se na figura 4.28 que o

mecanismo de desgaste predominante foi o mecanismo de aderência. Segundo Trent e Wright

(2000), o mecanismo de desgaste por aderência pode ocorrer tanto em baixas como em altas

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velocidades de corte, desde que ocorra fluxo irregular de cavaco. Nesta estratégia, as forças

tangencial e radial apresentaram vibrações de baixa frequência (figura 4.24), o que propicia a

condição favorável para o desgaste por attrition. Esta vibração gerou um fluxo irregular de

cavaco, causando a extrusão do material da peça na região de formação do cavaco entre

ferramenta e peça e a subsequente aderência deste material extrudado na superfície de folga da

ferramenta. O mecanismo de aderência pode ser incentivado por outro fenômeno que inicia o

processo de desgaste, que pode ser responsável pela remoção da cobertura da ferramenta,

aumentando assim o atrito da ferramenta em contato com a peça. Mas pode-se concluir que, na

usinagem com lead angle de 5° e estratégia descendente, o mecanismo de desgaste predominante

foi a aderência (attrition).

A figura 4.29 mostra a superfície de folga da ferramenta utilizada nos experimentos com

lead angle de 5° na condição ascendente. Nota-se na figura que ocorreu pouca aderência do

material da peça na superfície de folga da ferramenta (quando comparada com a usinagem

descendente). Outro fato que pode ser notado é que, na análise de EDS, embora na superfície da

ferramenta haja a presença de ferro e cromo (que são materiais presentes no corpo de prova), o

material predominante foi o tungstênio. Com isso pode-se deduzir que, embora tenha ocorrido

aderência (em menor proporção do que no corte descendente), ocorreram também

microlascamentos que contribuíram para a remoção da cobertura da ferramenta, fazendo com que

o substrato ficasse exposto. Estes microlascamentos incentivaram o desgaste de flanco, fazendo

com que a vida da ferramenta chegasse ao fim. Outro fato que pode ser notado nas figuras 4.28 e

4.29 é que o desgaste da ferramenta ocorreu em regiões distintas. No corte descendente, o

desgaste da ferramenta ficou mais próximo do centro quando comparado com o corte ascendente.

Isso comprova que na usinagem descendente a remoção do material da peça, devido ao menor

diâmetro efetivo médio, envolveu, além do corte, também a conformação de material e na

usinagem ascendente não ocorreu a conformação do material da peça devido ao fato de o centro

da ferramenta não estar envolvido no corte, ou se ela ocorreu, foi em menores proporções.

Considerando que o desgaste ocorre em regiões distintas da aresta de corte, quando compara-se o

corte descendente com o ascendente, pode-se sugerir como opção uma estratégia mista visando

um aumento na vida da ferramenta, isto é, a ferramenta cortaria em uma passada com corte

descendente concordante e na próxima com corte ascendente discordante. Embora a vida da

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ferramenta no corte discordante seja menor, a estratégia mista é uma alternativa viável em função

da redução do tempo passivo.

Ainda com relação às figuras 4.28 e 4.29, pode-se notar que a direção do avanço

influenciou a evolução do desgaste da ferramenta, mas o mecanismo de desgaste permaneceu o

mesmo tanto na usinagem ascendente como na descendente. Portanto, as duas estratégias

apresentaram desgaste de flanco, com microlascamentos e aderência (attrition). Porém, no corte

ascendente os microlascamentos foram mais importantes que o attrition na formação do desgaste

de flanco da ferramenta.

A figura 4.30 mostra a aresta de corte desgastada em uma vista da superfície de saída da

ferramenta utilizada nos experimentos com lead angle de 5° descendente. Nota-se nesta figura

que na região mais próxima ao centro da ferramenta ocorreu aderência do material da peça na

Figura 4.28 - Superfície da folga da ferramenta – 5° descendente

Figura 4.29 - Superfície da folga da ferramenta – 5° ascendente

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superfície de saída da ferramenta. Ao longo da aresta, o material predominante, comprovado pela

análise de EDS, foi o tungstênio. Isto comprova que o substrato da ferramenta ficou exposto.

Provavelmente, a remoção da cobertura da ferramenta foi incentivada pela vibração de baixa

frequência, observada nesta estratégia de usinagem (figura 4.24). Na região central da ferramenta

a velocidade de corte é zero, portanto, nesta região a remoção do material da peça ocorreu por

conformação.

O material do corpo de prova apresentava elevada dureza (60 HRc), e consequentemente,

pouca ductilidade. Mesmo com esta situação desfavorável, ocorreu a adesão de material sobre a

superfície de folga da ferramenta devido à extrusão do material entre a ferramenta e a peça. Outro

fator que incentivou a aderência foi a deformação plástica do material devido à baixa velocidade

de corte na região central da ferramenta.

A figura 4.31 mostra a aresta de corte desgastada na superfície de saída da ferramenta, da

usinagem com lead angle de 5° ascendente. Pode-se notar também nesta figura que ocorreram

microlascamentos ao longo da aresta. Pela análise de EDS, pôde-se observar que ocorreu pequena

adesão do material da peça, devido à pequena presença de ferro. Os outros materiais

predominantes são o tungstênio, titânio e alumínio, presentes na camada de cobertura da

ferramenta. Isto comprova que a exposição do substrato da ferramenta em algumas regiões da

aresta, embora tenha ocorrido devido à presença de microlascamentos ao longo da aresta, não foi

intensa, pois ainda se tinha muito material da cobertura da ferramenta presente na região de

desgaste. Os microlascamentos na aresta de corte também contribuíram para que a ferramenta

perdesse a sua forma original. Na estratégia com lead angle de 5° ascendente, o gráfico de força

não apresenta as vibrações de baixa frequência com a mesma intensidade das que foram

observadas na usinagem descendente (figura 4.25), mas devido à presença de microlascamentos,

pode-se afirmar que nesta estratégia ocorreram também vibrações.

Conforme relatado anteriormente, ocorreu variação do diâmetro efetivo de corte quando

comparado os cortes descendente e ascendente. O desgaste da ferramenta utilizada no corte

descendente ocorreu mais próximo do centro do inserto, quando comparado com o corte

ascendente, mas o tipo do desgaste foi semelhante para as duas estratégias. O tipo de desgaste

predominante foi o desgaste de flanco com alguma aderência de material (atrittion). Com o lead

angle de 5°, a velocidade de corte é muito pequena (ou zero em algumas regiões) e com isto a

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deformação plástica é incentivada, facilitando a extrusão do material entre a ferramenta e a peça.

Esta condição favorece a adesão e, consequentemente, o atrittion.

As figuras 4.32 e 4.33 mostram as superfícies de folga das ferramentas utilizadas nos

ensaios com lead angle de 45° nas direções descendente e ascendente, respectivamente. Nestas

figuras pode-se notar que o tipo de desgaste predominante foi o desgaste de flanco e o

mecanismo causador de desgaste foi também a aderência (attrition). As arestas mostradas nas

figuras 4.32 e 4.33 foram analisadas em microscopia eletrônica de varredura (MEV) com a

utilização de espectroscopia de energia dispersiva (EDS). Nestas arestas pode-se notar que existe

a presença de ferro e cromo, que são materiais encontrados no corpo de prova, o que comprova a

Figura 4.30 - Superfície de saída da ferramenta – 5° descendente

Figura 4.31 - Superfície de saída da ferramenta – 5° ascendente

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aderência do material da peça na ferramenta. Esse material é removido ciclicamente da

ferramenta pelo movimento relativo entre a aresta de corte e a peça. Esta remoção leva partículas

da ferramenta incentivando o desgaste.

Nota-se também nas figuras que em algumas regiões foi encontrado o material do substrato

da ferramenta (tungstênio), não sendo encontrado o material da cobertura da ferramenta, o que

prova que a remoção do material da peça aderido na ferramenta provocou o desgaste. Os gráficos

de força gerados pelos ensaios com o lead angle de 45° mostram que no corte descendente a

força axial apresentou valores mais elevados quando comparado com o corte ascendente (figura

4.26), mas a variação da força foi menor, o que comprova a maior estabilidade nesta condição.

Outro fato que pode ser notado no gráfico de força (figura 4.26) é que no corte descendente a

força axial apresentou valores mais elevados, como também as forças tangencial e radial,

favorecendo o mecanismo de desgaste por attrition. Provavelmente estes fatores podem ter

contribuído para a menor vida da ferramenta apresentada no corte descendente (ver figura 4.23).

Figura 4.32 - Superfície da folga da ferramenta – 45° descendente

Figura 4.33 - Superfície da folga da ferramenta – 45° ascendente

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As figuras 4.34 e 4.35 mostram as superfícies de saída das ferramentas utilizadas nos

ensaios com lead angle 45° nas estratégias descendente e ascendente, respectivamente. As figuras

mostram que a aresta de corte da ferramenta sofreu alguma variação em relação a sua forma

original, causada pelos microlascamentos e aderência do material da peça, provavelmente

incentivado pelo attrition.

As figuras 4.36 e 4.37 mostram as arestas de corte (vistas da superfície de folga) utilizadas

na estratégia de usinagem com a superfície inclinada 85° nas condições descendente e

ascendente. Nota-se nestas figuras que as regiões desgastadas apresentam porções do material da

Figura 4.34 - Superfície de saída da ferramenta – 45° descendente

Figura 4.35 - Superfície de saída da ferramenta – 45° ascendente

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peça aderido na superfície e também a presença do material do substrato da ferramenta. Isto

comprova que o mecanismo de desgaste apresentado nesta estratégia é o mesmo apresentado nos

outros ensaios, isto é, o principal mecanismo de desgaste foi o attrition incentivado pela vibração

ocorrida nesta estratégia. A vida da ferramenta não apresentou diferença quando comparados os

cortes descendente e ascendente (ver figura 4.23), provavelmente devido à pequena variação de

diâmetro efetivo entre os cortes descendentes e ascendentes (aproximadamente 5%).

As figuras 4.38 e 4.39 mostram as superfícies de saída das ferramentas utilizadas nas

estratégias de usinagem com lead angle de 85°, nas direções descendente e ascendente. Nota-se

nas figuras que a forma da aresta de corte da ferramenta foi alterada em função dos

microlascamentos e aderência do material da peça. Embora a superfície de saída da ferramenta na

estratégia ascendente apresente lascamentos maiores, a vida da ferramenta não foi afetada,

quando comparada às estratégias com lead angle de 85° descendente. Esta inclinação da

Figura 4.36 - Superfície da folga da ferramenta – 85° descendente

Figura 4.37 - Superfície da folga da ferramenta – 85° ascendente

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ferramenta apresentou piores valores de vida da ferramenta (ver figura 4.23) devido ao maior

diâmetro efetivo ter contribuído para o surgimento de vibrações, incentivando os

microlascamentos e aderência, com isso acelerando o desgaste da ferramenta.

4.6 Rugosidade – Fase 2

Conforme descrito anteriormente, a rugosidade foi avaliada na direção perpendicular à

trajetória da ferramenta no início de sua vida útil. A rugosidade máxima teórica foi calculada pela

equação 2 e obteve-se a rugosidade teórica de 1,4µm. A figura 4.40 mostra as rugosidades

Figura 4.38 - Superfície de saída da ferramenta – 85° descendente

Figura 4.39 - Superfície de saída da ferramenta – 85° ascendente

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obtidas em todos os experimentos. A figura mostra que a variação do lead angle e a direção da

usinagem (ascendente e descendente) influenciou diretamente a rugosidade. Pode-se notar na

figura que as únicas estratégias que apresentaram valores de rugosidade adequados para

usinagem de matrizes e moldes, conforme Souza, et al. (2014b), foram as estratégias com lead

angle de 5° e 45° nas condições descendentes. Nestas duas condições, as rugosidades

apresentadas foram apenas um pouco maior do que o valor teórico. Nas outras condições de

usinagem os valores de rugosidade obtidos nos experimentos foram bem maiores que o teórico,

comprovando que a rugosidade foi influenciada por alguma instabilidade no processo.

O efeito de sulcamento (ploughing) não influenciou na rugosidade, visto que a condição de

usinagem com lead angle de 5° na condição descendente apresentou menores valores de

rugosidade, resultado oposto ao trabalho apresentado por Souza et al. (2014a), que investigou o

processo de fresamento com ferramenta de ponta esférica na usinagem do aço AISI P20 com 30

HRc. O sulcamento (ploughing) ocorre mais severamente com lead angle 5° descendente, pois

quando o lead angle é zero, o centro da ferramenta está na região de corte. No sentido

descendente, a componente axial da força (que está na direção mais rígida do sistema) é elevada,

conforme mostrado na figura 4.24, e parte do material da peça é conformado. Este fato pode ser

notado na figura 4.41. No corte ascendente, a ferramenta é puxada para fora do eixo árvore e a

2,00

7,84

1,55

6,67 7,03 6,77

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

6,00

7,00

8,00

9,00

10,00

CD5 CA5 CD45 CA45 CD85 CA85

Ru

gosi

dad

e e

m R

z (µ

m)

Figura 4.40 - Rugosidade apresentada em todos os experimentos da fase 2

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razão entre Fy (que é uma composição das componentes mostradas Fr e Ft) e Fax é mais elevada,

o que aumenta a possibilidade da ferramenta fletir e, consequentemente, vibrar. No corte

descendente, a ferramenta é empurrada contra o eixo-árvore da máquina e a relação entre Fy e Fax

apresenta menores valores quando comparado com a usinagem ascendente, o que torna a flexão

da ferramenta mais difícil.

Quando o lead angle se aproxima de 90°, o vetor normal à superfície usinada torna-se

perpendicular ao eixo da ferramenta. Nesta condição a ponta da ferramenta não está envolvida no

corte e a direção de avanço (ascendente ou descendente) não influencia a rugosidade.

A figura 4.42 mostra o perfil de rugosidade nas estratégias com lead angle de 5° nas

estratégias descendente a ascendente. Nota-se na figura 4.42 que o perfil de rugosidade

apresentado no corte descendente é mais irregular quando comparado com o corte ascendente,

mas apresenta menores valores de rugosidade. Nota-se também na figura que a distância entre

picos de rugosidade na estratégia ascendente foi exatamente o valor da penetração de trabalho

(ae=0,3mm), uma vez que a rugosidade foi avaliada perpendicularmente à direção de avanço.

Para explicar esta ocorrência, é necessário avaliar as figuras 4.24 e 4.25. Pode-se ver nestas

figuras que a força mostrada no corte descendente apresentou um comportamento com maiores

irregularidades, quando comparado com o corte ascendente, provavelmente devido ao fenômeno

de sulcamento (ploughing) que ocorre no corte descendente. Como relatado anteriormente, a

Figura 4.41 - Comportamento da força axial – fase 2

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maior razão entre Fax e Fy aconteceu no corte descendente. O maior valor de Fy não causou

maior valor de rugosidade, mas causou um perfil de rugosidade com maiores irregularidades

conforme pode ser visto na figura 4.42. Para a usinagem ascendente, a flexão da ferramenta foi

maior devido à menor relação entre Fax e Fy (o que fez a ferramenta penetrar mais

profundamente no material), mas sempre apresentou valores semelhantes em todas as revoluções

da ferramenta, o que fez a rugosidade apresentar valores elevados, mas com perfil regular (figura

4.42 b).

Um fenômeno muito semelhante aconteceu para a rugosidade obtida no experimento com

lead angle de 45 °, conforme mostra a figura 4.43. O corte descendente apresentou um perfil

mais irregular em termos de distância entre os picos, mas com menores valores. Mais uma vez, a

distância entre os picos no corte ascendente era igual ao valor da penetração de trabalho (ae=0,3

mm). Nesta estratégia a deformação plástica e o ploughing não ocorrem, uma vez que o centro da

ferramenta não está envolvido no corte. Na usinagem ascendente, a força axial apresenta menores

valores (ver figura 4.26) e os valores de Fy crescem. Com isso, a razão entre Fax e Fy apresenta

menores valores na usinagem ascendente.

Figura 4.42 - Perfil de rugosidade a) 5° descendente b) 5° ascendente - fase 2

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Portanto, a flexão da ferramenta durante a usinagem ascendente era maior e não se alterou

com a revolução ferramenta. Para o corte ascendente, a ferramenta sempre trabalhou com um

maior desvio, mas com comportamento constante. A ferramenta trabalhou mais fletida

penetrando no material, causando um perfil de rugosidade mais profundo e, consequentemente,

Figura 4.43 - Perfil de rugosidade a) 45° descendente b) 45° ascendente - fase 2

Figura 4.44 - Componente Ft a) 45° descendente b) 45° ascendente - fase 2

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gerando o alto valor de rugosidade da superfície obtido nesta condição. As irregularidades do

perfil obtido com o corte descendente podem ser atribuídas à variação dos valores da componente

Fy, que foi causada pela variação da posição da ferramenta cada vez que uma aresta tocava a

peça (figura 4.44 a).

Os piores valores de rugosidade da peça foram obtidos quando o lead angle foi de 85 °.

Não há nenhuma diferença significativa de Fy (composição de Ft e Fr) entre 45 ° e 85 ° (figuras

4.26 e 4.27), mas as estratégias com lead angle de 85 ° tiveram a menor força axial (Figura 4.27).

Portanto, a rugosidade superficial elevada obtida nos experimentos com este lead angle é devido

ao baixo valor da componente axial da força. Quando o componente axial da força é elevado

(como quando foi utilizada 5o de lead angle) é mais difícil fletir a ferramenta em um plano

perpendicular ao eixo da ferramenta. Com valores pequenos de força axial, mesmo pequenas

forças perpendiculares ao eixo da ferramenta causam flexão da ferramenta e, consequentemente,

prejudicam o acabamento da superfície.

Portanto pode-se concluir que para obtenção de baixos valores de rugosidade em operações

de fresamento de superfícies complexas, mantendo constante o diâmetro de contato da ferramenta

com a peça e também a velocidade de corte, é necessário que a força tangencial seja pequena, de

modo a ter baixa flexão da ferramenta. Além disso, elevada força axial também contribui para

minimizar a flexão da ferramenta. Esta menor flexão pôde ser observada nas estratégias com lead

angle de 5° e 45° ambas no corte descendente. Para isto, o corte de uma matriz em ambiente

industrial com máquina de 5 eixos de programação, pode ser feito variando o lead angle entre

estes dois valores de tal forma a distribuir o desgaste da ferramenta em uma porção maior da

aresta de corte, independentemente da geometria da peça.

4.7 Força de corte – Fase 2

Conforme mostrado na figura 4.24, pode-se notar que o comportamento da força foi

bastante instável, provavelmente devido à vibrações de baixa frequência ocorrido na estratégia

com 5° descendente. Essas vibrações, que se evidenciavam pela variação dos componentes da

força de usinagem apresentaram um período aproximado de 48 voltas da ferramenta.

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Pode-se notar também na figura 4.24 que a força axial atingiu maiores valores, quando

comparado com a estratégia ascendente (figura 4.25), provavelmente devido ao diâmetro efetivo

ser menor e, consequentemente, maior ângulo de contato. Outra justificativa da força de corte ser

maior no corte descendente é que nesta condição de usinagem tem-se maior deformação plástica

do material devido ao menor diâmetro efetivo.

Esta maior força axial conferiu ao processo maior rigidez e, consequentemente, influenciou

a vida da ferramenta, mostrando ser a estratégia mais indicada quando o principal objetivo é

maior vida da ferramenta.

Conforme apresenta a figura 4.25, nota-se que o comportamento da força foi mais estável

no corte ascendente, quando comparado com a estratégia com mesmo lead angle na condição

descendente. Outro fato que pode ser notado é que a vibração de baixa frequência ocorreu

aproximadamente a cada 110 voltas da ferramenta, mostrando uma intensidade menor quando

comparado com o corte descendente. O perfil de rugosidade apresentado nesta estratégia (item

4.7) apresentou um comportamento bastante regular, ficando claro que o perfil de rugosidade foi

gerado pela penetração de trabalho (ae) em passadas sucessivas, visto que a rugosidade foi

avaliada na direção perpendicular à trajetória da ferramenta. Outro fato que pode ser notado é que

quanto menor a força axial, maior a probabilidade do surgimento de instabilidades que

comprometem a vida da ferramenta. Na estratégia descendente (figura 4.24), a força axial

apresentou valores acima de 600N e na estratégia ascendente (figura 4.25) esses valores ficaram

próximos de 400N.

Quanto maiores as forças tangencial e radial, maior a flexão da ferramenta. Na estratégia de

usinagem descendente essas forças apresentaram maiores valores de pico, mas com um

comportamento bastante irregular (acima de 600N – figura 4.24) e na usinagem ascendente essas

forças apresentaram valores próximos de 400 N, mas com um comportamento mais regular

quando comparado com o corte descendente. Na condição de usinagem descendente, o perfil de

rugosidade gerado é bastante irregular e na usinagem ascendente o perfil mostra nitidamente a

aresta de corte atuando sobre o material (a distância entre picos de rugosidade é exatamente a

profundidade radial ae = 0,3 mm). Analisando os resultados de vida da ferramenta (figura 4.23),

pode-se afirmar que as vibrações de baixa frequência não influenciaram negativamente a vida da

ferramenta, devido à maior vida ter ocorrido na estratégia com inclinação de 5° descendente.

Comparando o corte descendente com o ascendente com lead angle de 5°, o corte descendente

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apresentou maior vibração de baixa frequência e teve maior amplitude da força, mas teve menor

rugosidade, apresentando um perfil de rugosidade irregular (item 4.7). Provavelmente, a

rugosidade apresentou menores valores, na estratégia 5° descendente, devido à flexão da

ferramenta promover um achatamento dos picos de rugosidade. Assim, a vibração de baixa

frequência influenciou negativamente no perfil de rugosidade, mas influenciou positivamente no

valor da rugosidade. Com isso pode-se deduzir que a vibração de baixa frequência não tem

influência significativa na rugosidade da peça e na vida da ferramenta.

Segundo Diniz et al. (2014), a rugosidade pode ser influenciada pela vibração, pelo

diâmetro da ferramenta, pela penetração de trabalho (ae) e pela deformação plástica do material

(fluxo lateral de cavaco). Comparando os cortes descendente e ascendente com lead angle de 5°,

o corte descendente apresentou pior resultado em termos de vibração (vibração de baixa

frequência) e nesta condição a deformação plástica ocorre com mais intensidade, mas mesmo

assim apresentou melhores resultados de rugosidade e vida de ferramenta. Portanto, a usinagem

com lead angle de 5° com estratégia descendente é mais indicada que com estratégia ascendente.

Conforme mostrado na figura 4.26, a força axial na estratégia descendente apresentou

maiores valores e com comportamento mais uniforme quando comparado com a usinagem

ascendente quando o lead angle foi 45o. Esse comportamento já era esperado visto que na

usinagem descendente o diâmetro efetivo é 59% menor (quando comparado com a ascendente), o

que sugere maior deformação plástica do material a ser usinado. Em termos de rugosidade, a

usinagem descendente apresentou valores 200% menores. As maiores forças tangencial e radial

apresentadas na estratégia descendente justificam a menor vida apresentada nesta estratégia

(cerca de 31% menor).

Ainda com relação à força de usinagem, a figura 4.27 mostra como nas estratégias

anteriores, que a usinagem descendente apresentou força axial ligeiramente maior, quando

comparado com a usinagem ascendente quando o lead angle foi 45o. Outro fato que pode ser

notado na figura é que na estratégia ascendente as forças tangencial e radial apresentaram

comportamento mais estável quando comparado com a usinagem descendente, mas esta

estabilidade não gerou benefícios na vida e na rugosidade, visto que os resultados apresentados

não mostram diferença significativa (figuras 4.23 e 4.40).

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Em termos de força de usinagem, pode-se notar um comportamento mais estável nas

estratégias ascendentes e com menores valores. Mesmo assim, não apresentaram valores de vida

e rugosidade que pudessem justificar a indicação de utilização destas estratégias.

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5 CONCLUSÃO

Baseado no exposto neste trabalho, pode-se concluir, para condições similares àquelas aqui

testadas, que:

A maioria das estratégias descendentes das fases 1 e 2 apresentaram maior vida da

ferramenta devido à ferramenta iniciar o corte em uma condição com maior rigidez.

A estratégia de usinagem com trajetória circular 5 ° descendente (fase 2) apresentou maior

vida da ferramenta entre todas as estratégias experimentadas.

Nos cortes das superfícies planas com inclinações de 45° e 85° as vidas foram menores,

quando comparadas com as das inclinações de 5°, devido ao aumento da velocidade de corte ter

maior influência na vida da ferramenta do que a diminuição da deformação plástica.

As estratégias descendentes apresentaram maiores forças axiais devido ao diâmetro efetivo

de corte ser menor quando comparado com o das estratégias de usinagem ascendente.

Os resultados deste trabalho mostram que na usinagem de material endurecido com fresa de

ponta esférica, o centro da ferramenta em contato com a peça aumenta a vida da ferramenta e

melhora a rugosidade da superfície usinada, contradizendo as recentes descobertas relatadas na

literatura.

Em usinagens de superfícies cilíndricas, sempre que possível, pode-se utilizar uma

estratégia com variação de lead angle, pois esta variação distribui o desgaste ao longo da aresta

de corte.

Comparando as estratégias de usinagem com manutenção do lead angle, pode-se concluir

que a melhor estratégia para usinagem de material endurecido e superfície complexa é usando

estratégia descendente com o menor lead angle possível, mantendo constante o diâmetro de

contato da ferramenta, e consequentemente, velocidade de corte constante. Para esta condição, é

necessário uma máquina ferramenta com 4 ou 5 eixos. Esta condição, além de apresentar maior

vida da ferramenta, também apresentou menores valores de rugosidade, devido ao alto valor de

força axial. Outro ponto favorável nesta condição de usinagem é que a velocidade de avanço

aumenta significativamente em função da manutenção de velocidade de corte, reduzindo assim o

tempo de usinagem.

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A maior vibração ocorrida nos cortes ascendentes foi responsável pela menor vida da

ferramenta.

Todas as estratégias testadas apresentaram o mesmo tipo de desgaste (desgaste de flanco) e

o mesmo mecanismo de desgaste (adesão/ attrition). A vibração da ferramenta que ocorreu no

fresamento ascendente simplesmente acelerou o mecanismo de desgaste e encurtou a vida útil da

ferramenta.

As rugosidades tiveram comportamento aleatório devido à vibrações no início de corte da

ferramenta, mas geralmente as estratégias de usinagem descendentes apresentaram menores

valores de rugosidade.

Na usinagem com 5 eixos, o sulcamento (ploughing) gerou uma força axial maior que a

força radial, ocasionando menores valores de rugosidade, menores vibrações da ferramenta e,

consequentemente, maior vida da ferramenta. Esta condição gerou um processo de usinagem

mais estável em fresamento de aço endurecido.

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6 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Como sugestão para trabalhos futuros mantendo essa linha de pesquisa, recomenda-se:

Testar uma estratégia de usinagem mista, ou seja, ascendente e descendente no mesma

estratégia;

Nas mesmas condições de usinagem, testar outros balanços de ferramentas;

Fazer testes similares aos realizados neste trabalho, mas com superfícies côncavas;

Analisar a influência do valor e do perfil da rugosidade na vida do molde ou matriz.

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