integração regional na américa do sul ufabc – políticas públicas sul- americanas (ppsa), 2015...
TRANSCRIPT
Integração regional na América do Sul
UFABC – Políticas Públicas Sul-Americanas (PPSA), 2015
Prof. Dr. Igor Fuser
Regionalismo: tendência mundial
• Acordos regionais de integração: componente essencial da economia mundial da atualidade
Referência:• União Europeia: Tratado de Roma (1957)Impulso a partir do final da década de 1980:• Tendência de regionalização da economia global:
iniciativas do final dos 80s: Área de Cooperação Econômica do Pacífico-APEC; EUA-Canadá (depois Nafta), ampliação da EU; Organização de Cooperação de Xangai(China, Rússia,Ásia Central)
Dados interessantes (2008)
Exportações dentro/fora de acordos regionais dentro foraUnião Europeia (27 países) 67 33Nafta (EUA,Méx, Canadá) 49 51Asean/APEC 25 75Mercosul 17 83Comunidade Andina 7 93
Vantagens da integração comercial
• Divisão de trabalho + eficiente (especialização)• Maior produção: economia de escala pela
ampliação dos mercados• Melhor posição de barganha no plano global• Mobilidade de fatores econômicos (capital, mão
de obra, tecnologia, matérias-primas, energia)• Coordenação de políticas• Atração de investimentos externos
Desvantagens da integração
• Renúncia a receitas fiscais oriundas das taxas cobradas sobre as importações/exportações
• Redução da soberania: perda da capacidade estatal de decidir sozinho sobre uma série de variáveis econômicas
• Impactos negativos da concorrência externa sobre empresas e trabalhadores
Os tipos de integração econômica
• Zona de livre-comércio• União aduaneira (tarifa externa comum)• Mercado comum (livre circulação de todos os
fatores de produção, políticas comuns para quase todas as áreas da economia)
• União econômica e monetária
Integração na AL: primeira tentativa
• 1960: ALALC (Associação Latino-Americana de Livre-Comércio)
• Contexto: desenvolvimentismo• Objetivo: criação de um mercado comum
regional, a partir da formação de uma zona de livre comércio no prazo de 12 anos
• Meios: desmantelamento de medidas protecionistas; negociação multilateral, produto a produto, de rebaixas tarifárias
Pq a Alalc fracassou:• Enfoque comercialista: a maioria dos membros só almeja
ampliar as exportações, sem a busca do desenvolvimento conjunto
• Protecionismo: a lógica da Importação por Substituição de Importações levava a rejeitar a concorrência de outros países da região
• Onda de ditaduras militares após 1964 (desconfiança entre regimes democráticos e autoritários; instabilidade política)
• Pós-Alalc: ALADI (Associação Latino-Americana de Integração), 1980
Comunidade Andina de Nações(CAN) (ex-Pacto Andino)
• Fundado em 1969 (Cartagena): Chile, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela
• Área de livre-comércio• 1976: Chile se retira• 2006: Saída da Venezuela, após os acordos
bilaterais de comércio do Peru e da Colômbia com os Estados Unidos
• Impasse: Bolívia e Equador no Mercosul?
O fracasso da Alca (Área de Livre Comércio das Américas)
• 1990: George Bush: Iniciativa para as Américas• 1994: Clinton: início das negociações da Alca
(prazo de conclusão: até o final de 2004)• Objetivo dos EUA: “garantir às empresas dos
EUA um território que se estende desde o Ártico até a Antártida e o livre acesso sem nenhum obstáculo aos nossos produtos, serviços, tecnologias e capitais por todo o hemisfério” (Colin Powell, secretário de Estado dos EUA)
Na prática, a Alca...• reduz os custos das corporações dos EUA instaladas na
América Latina (menos impostos, menor custo trabalhista)• estimula a “relocalização” de fábricas em áreas de mão-de-
obra mais barata, leis trabalhistas e ambientais + frouxas• rebaixa os salários dos trabalhadores estadunidenses• facilita a circulação irrestrita dos produtos entre as filiais das
grandes empresas• favorece empresas mais internacionalizadas na competição
com rivais mais dependentes do contexto local• Modelo: maquiladoras do México (negativo); exportações de
frutas e madeiras do Chile (positivo)
E a Alca previa ainda:
• Aceitação de todas as exigências dos EUA em- Propriedade intelectual- Compras governamentais- Abertura de serviços (ensino, saúde...)- “Proteção dos investimentos”- Tribunais estrangeiros em caso de divergênciaSem vantagens da União Europeia: livre trânsito de trabalhadores, compensações regionaisA grande crítica: perpetuação das assimetrias
As divergências em torno da Alca
• De um lado: grupos exportadores e empresas internacionalizadas;
• Do outro: setores menos globalizados e mais dependentes do mercado interno; exportadores regionais; sindicatos
Maior apoio: nos países + dependentes da exportação de primáriosDúvidas/resistência: países + industrializados (Brasil e Argentina, com economias menos integradas à esfera comercial dos EUA)
Br/Arg: Choque de posições
• A favor da Alca: exportadores brasileiros e argentinos com chances de > acesso ao mercado dos EUA (soja, laranja, aço, sapatos, carne, couros, algodão)
• Contra a Alca: Grupos industriais e financeiros + ligados ao mercado interno e com relações vantajosas com o setor público (compras)
• Resistência popular: campanha continental contra a Alca
Alca perde impulso
• 1994: Brasil propõe a Alcsa (Área de Livre Comércio da América do Sul)
• Pós-2001: Escalada protecionista de George W. Bush: negativa do Congresso em aprovar o “fast track”, Farm Bill (subsídios agrícolas)
• 2005: arquivamento na reunião de cúpula de Mar del Plata (Argentina)
• Alternativa dos EUA: acordos bilaterais de livre comércio: Chile, Colômbia, Peru
Mercosul: antecedentes• 1969: Tratado do Rio da Prata• 1978: Tratado de Cooperação Amazônica• 1985: Declaração de Iguaçu: aproximação Brasil/Arg. c/ base
na complementaridade das cadeias produtivas (e ñ a lógica livre-cambista)
• 1988: Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento (Br/Arg). Meta: mercado comum no prazo de 10 anos
• Contexto: crise econômica, busca de alternativas perante a formação de blocos regionais; enfoque nacional-desenvolvimentista
Mercosul – Impulso inicial (1991/1998)
• Tratado de Assunção (26/3/91)• Programa de liberalização comercial amplo• Gestão intergovernamental (Conselho)• Grupos de trabalho, Comissão Parlamentar
Conjunta• Visão restrita ao comércio: Menem, Collor,
FHC• Entendido com etapa na construção da Alca
Resultados do período inicial
• Crescimento do comércio intra-bloco: 400%• Exportações brasileiras para sócios do Mercosul
chegam a 17% do total; Argentino se torna o 2º maior mercado p/produtos brasileiros
• 1994: Protocolo de Ouro Preto: Tarifa Externa Comum e personalidade jurídica internacional
• 1998: Protocolo de Ushuaia: compromisso democrático (adesão de Chile, Bolívia....)
Os anos de crise: 1998-2002• Janeiro/1999: desvalorização do real (35%) expõe os
problemas da assimetria Brasil/Arg.• Argentina: salvaguardas contra produtos brasileiros• Crises econômicas da Rússia e do Sudeste da Ásia• Com agravamento da crise na Argentina, governo argentino
cogita saída do Mercosul. Tarifas para importação de bens de consumo final (até 35%) e tarifa zero para importação de bens de capital
• Dezembro/2001: crise política na Arg: troca de presidente(s) e de modelo econômico; fim da paridade peso/dólar viabiliza retomada do Mercosul
Período atual: integração negociada
• Comércio intra-bloco volta a crescer• Adoção de enfoque menos comercialista, com foco em
objetivos sociais e desenvolvimento• Parlamento/Mercosul (Parlasul): 18 reps. por país• Acordos setoriais Br/Arg: indústria automotiva,
eletrodomésticos• 2004: Fundo de Convergência Estrutural (Focem), com
recurso doados pelo Brasil (70%) e Argentina (37%)• Ingresso da Venezuela• Acordos em educação: reconhecimento mútuo de diplomas,
Universidade da Integração Latinoamericana
Problemas estruturais do Mercosul• Assimetria Brasil/Argentina• Insatisfação dos sócios menores (desigualdade na distribuição dos
benefícios)• Baixo grau de institucionalização• Desinteresse da elite brasileira, mais voltada para a inserção global;
soberanismo brasileiro• Expectativa difusa de maior contribuição do Brasil – e o temor da
hegemonia brasileira (expansão agressiva das empresas transnacionais brasileiras no Cone Sul)
• Conflitos decorrentes da inserção subordinada à economia global (papeleras no Uruguai)
• Postura ambígua do Brasil (líder regional x global trader)
Brasil: visões opostas sobre integração
• Visão globalista: integração profunda não é desejável: objetivo deve ser a inserção global (Brasil como global player)
• Compromissos do Mercosul são vistos como obstáculo a acordos com países do Norte
• Destaque às dificuldades da integração regional: atritos com Argentina, conflito Br/Bolívia do gás
• Forte resistência ao ingresso da Venezuela• Proposta: rebaixamento oficial do Mercosul, com sua
volta à condição de área de livre-comércio
Visão regional-desenvolvimentista
• Elevada prioridade à integração• Estratégia para dotar a América do Sul de
capacidade de negociação internacional• Reconhecimento das assimetrias, políticas
coordenadas (regional-desenvolvimentismo)• Ênfase na infraestrutura (integração energética,
rodovias)• “A solução para os impasses do Mercosul é mais
Mercosul” (Celso Amorim)
Brasil: saldos comerciais com a América do Sul (em US$ bilhões)
• 1991: 0,74• 1992: 3,13• 1993: 3,68• 1994: 2,70• 1995: 0,33• 1996: -0,42• 1997: 0,95• 1998: 0,98• 1999: 0,60• 2000: 0,25
• 2001: 0,99• 2002: -0,14• 2003: 2,52• 2004: 6,44• 2005: 10,50• 2006: 11,79• 2007: 13,39• 2008: 14,22• 2009: 7,89• 2010: 11, 36
UNASUL- União das Nações da América do Sul
• IIRSA: Brasília, 2000• Comunidade de Nações
Sul-Americanas (2004)• 2007: Unasul• Além do comércio:
finanças, infraestrutura, comunicação, energia, transporte, educação, saúde, C&T, defesa
-IIRSA vira Consiplan (Conselho S-A de Infra e Planejamento)
-NAFR –Nova Arquitetura Financeira Regional; Banco do Sul
-Conselho Sul-Americano de Defesa (CSD)
Sede em Quito (Equador)