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INTEGRAÇÃO DAS LIGAÇÕES POBREZA-AMBIENTE NO PLANEAMENTO DO DESENVOLVIMENTO: Um Manual para Profissionais Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente do PNUD-PNUMA O Ambiente em Prol dos ODM

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  • INTEGRAO DAS LIGAES POBREZA-AMBIENTE NO PLANEAMENTO DO DESENVOLVIMENTO:

    Um Manual para Profissionais

    Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente do PNUD-PNUMA

    O Ambiente em Prol dos ODM

  • INTEGRAO DAS LIGAES POBREZA-AMBIENTE NO PLANEAMENTO DO DESENVOLVIMENTO:

    Um Manual para Profissionais

    Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente do PNUD-PNUMA

    O Ambiente em Prol dos ODM

  • A Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente (IPMA) do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) um programa global liderado pela ONU que apoia os esforos nacionais para a integrao das ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional. A IPMA proporciona apoio financeiro e tcnico a parceiros governamentais para a implementao de programas institucionais, de reforo de capacidades e para a realizao de actividades que abordam os aspectos de pobreza-ambiente num contexto especfico.

    O documento Integrao das Ligaes Pobreza-Ambiente no Planeamento do Desenvolvimento: Um Manual para Profissionais tambm est disponvel online no stio www.unpei.org.

    Publicado em Maro de 2009 2009 PNUD-PNUMAISBN: 978-92-807-2962-7Nmero de projecto: DRC/1084/NAProduzido pelo Fundo Pobreza-Ambiente do PNUD-PNUMADirectores da Publicao: Philip Dobie e John HorberryRedactora/Coordenadora do Projecto: Sophie De ConinckEdio: Nita Congress, John Dawson e Karen HolmesPaginao: Nita CongressTraduo: Strategic Agenda

    Fotos da capa: Trabalhadores na colheita de borracha das rvores, Tailndia C. PetratPNUMA; Pescadores no Parque Nacional de Banc dArguin, Mauritnia Mark Edwards/Still Pictures

    Fotos dos cabealhos dos captulos:1. Criana a regar uma rvore de um projecto de reflorestao, aldeia de Barsalogho, Burkina Faso

    Mark Edwards/Still Pictures2. Mulher aymara a vender vegetais, El Alto, Bolvia Sean Sprague/Still Pictures3. Famlia nmada a instalar um painel solar na sua ger, Zuunmod, prximo de Ulan Bator, Monglia

    Hartmut Schwarzbach/argus/Still Pictures4. Mulher a secar malaguetas ao sol, Madhya Pradesh, ndia Joerg Boethling/Still Pictures5. Homem a transportar gua e comida atravs de uma rea inundada, Chibuto, Moambique Per-

    Anders PetterssonPNUMA/Still Pictures6. Trabalhadoras agrcolas na colheita de trigo, Rajasto, ndia Mark Edwards/Still Pictures7. Mulher em canoa junto a zona de explorao madeireira, Nigria Mark Edwards/Still Pictures

    Todos os valores monetrios mencionados neste relatrio so US$ (dlares americanos), excepto onde especificado em contrrio. O termo bilio neste relatrio refere-se a um milho de milhes

    Esta publicao pode ser reproduzida, no todo ou em parte e sob qualquer forma, para fins educativos ou no-lucrativos, sem autorizao especial do detentor dos direitos de propriedade intelectual, desde que a fonte seja expressamente reconhecida. O Fundo Pobreza-Ambiente do PNUD-PNUMA ficaria grato por receber uma cpia de qualquer publicao que use esta como fonte. No poder ser feita qualquer utilizao desta publicao para revenda ou quaisquer outros fins comerciais sem prvia auto-rizao, por escrito, do PNUD e do PNUMA.

    Os pontos de vista expressos nesta publicao so da responsabilidade dos seus autores e no reflec-tem necessariamente os pontos de vista do PNUD e do PNUMA. A designao das entidades geogrfi-cas neste relatrio e a apresentao do material nele contido no pressupem a expresso de qualquer tipo de opinio por parte do editor ou das organizaes participantes relativamente situao jurdica de qualquer pas, territrio ou zona ou das suas autoridades, ou relativamente delimitao das suas fronteiras ou dos seus limites.

    Embora tenham sido feitos esforos razoveis para assegurar a correco factual e a referenciao apropriada do contedo desta publicao, o PNUD e o PNUMA no aceitam responsabilidade pela exactido ou pela integralidade do dito contedo e no sero responsveis por quaisquer perdas ou danos que possam resultar, directa ou indirectamente, da utilizao do contedo desta publicao ou da confiana no mesmo, incluindo a sua traduo para idiomas que no o ingls.

    www.unpei.org

  • v

    Tabela de Contedos

    Agradecimentos vii

    Prefcio ix

    Captulo 1. Acerca do Manual 11.1 Propsito 21.2 Pblico-alvo 21.3 Estrutura 3

    Captulo 2. Compreender a Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente 52.1 Definir a Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente 62.2 Explorar as Ligaes Pobreza-Ambiente 72.3 A Importncia do Capital Natural para a Riqueza dos Pases de Baixo

    Rendimento 112.4 Importncia das Alteraes Climticas para a Integrao das Questes de Pobreza-

    Ambiente 12

    Captulo 3. Uma Abordagem Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente 133.1 Abordagem Programtica 143.2 Papel dos Intervenientes da Comunidade de Parceiros de Desenvolvimento 19

    Captulo 4. Encontrar os Pontos de Entrada e Apresentar a Argumentao 254.1 Avaliaes Preliminares: Compreender as Ligaes Pobreza-Ambiente 264.2 Avaliaes Preliminares: Compreender os Contextos Governamentais,

    Institucionais e Polticos 304.3 Consciencializao e Criao de Parcerias 354.4 Avaliao das Necessidades Institucionais e de Capacidades 384.5 Implementao de Mecanismos de Trabalho para a Integrao Sustentada 40

  • vi

    Captulo 5. Integrar as Ligaes Pobreza-Ambiente nos Processos Polticos 455.1 Utilizao de Avaliaes Integradas dos Ecossistemas para Recolha de Dados

    Concretos Especficos do Pas 465.2 Utilizao de Anlises Econmicas para Recolha de Dados Concretos Especficos

    do Pas 505.3 Influenciar os Processos Polticos 585.4 Desenvolvimento e Quantificao de Custos das Medidas Polticas 665.5 Fortalecimento das Instituies e das Capacidades: Aprender fazendo 70

    Captulo 6. Enfrentar o Desafio da Implementao 756.1 Incluso das Questes de Pobreza-Ambiente no Sistema de Monitorizao

    Nacional 766.2 Oramentao e Financiamento de Medidas Polticas em Matria de Pobreza-

    Ambiente 806.3 Apoio de Medidas Polticas aos Nveis Nacional, Sectorial e Subnacional 896.4 Fortalecimento das Instituies e das Capacidades: Estabelecimento da Integrao

    das Questes de Pobreza-Ambiente como Prtica Normalizada 92

    Captulo 7. Concluso e Rumo a Seguir 97

    Abreviaturas e Acrnimos 99

    Glossrio 101

    Referncias 111

    ndice 117

    Caixas2.1 Factos e Nmeros que Exemplificam as Ligaes Pobreza-Ambiente 72.2 Integrao da Adaptao s Alteraes Climticas no Planeamento do

    Desenvolvimento Nacional 123.1 Lista de Verificao do Progresso na Integrao das Questes de Pobreza-

    Ambiente 173.2 Iniciativas das Naes Unidas e seu Contributo Potencial para a Integrao das

    Questes de Pobreza-Ambiente 234.1 Importncia dos Servios dos Ecossistemas para o Bem-Estar Humano

    e o Crescimento Econmico Favorvel aos Pobres: Exemplos de Pases Seleccionados 27

    4.2 Compreender as Ligaes Pobreza-Ambiente: Vozes da Comunidade 284.3 Perguntas de Orientao para Avaliao das Ligaes Pobreza-Ambiente 294.4 Importncia do Envolvimento dos Intervenientes: Estratgia Nacional para o

    Crescimento e a Reduo da Pobreza, Repblica Unida da Tanznia 334.5 Perguntas de Orientao para Avaliao dos Contextos Governamental,

    Institucional e Poltico 34

  • vii

    4.6 Envolvimento Inovador dos Meios de Comunicao para a Consciencializao: Campanha No Pulverizao Prematura do Vietname 36

    4.7 Perguntas de Orientao para a Implantao de Mecanismos de Trabalho 435.1 Porqu a Necessidade de Avaliaes Integradas dos Ecossistemas? 465.2 De que Forma as Alteraes Climticas Afectam os Servios dos

    Ecossistemas? 475.3 Modelao das Alteraes Climticas 485.4 Avaliao da Cordilheira Setentrional, Trindade e Tobago 495.5 Exemplos da Elevada Razo Benefcio/Custo da Despesa Pblica no

    Ambiente 535.6 Estimativa do Valor dos Servios de Proteco Costeira pelos Ecossistemas de

    Mangues: Um Exemplo de Orissa, ndia 545.7 Utilizao da Avaliao Ambiental Estratgica para Incorporar as Ligaes Pobreza-

    Ambiente nos Processos da Estratgia de Reduo da Pobreza do Gana 615.8 Integrao das Ligaes Pobreza-Ambiente no Processo da Estratgia de

    Desenvolvimento Econmico e Reduo da Pobreza do Ruanda 635.9 Integrao das Ligaes Pobreza-Ambiente no Processo de Preparao do DERP do

    Bangladesh 645.10 Processo de Quantificao de Custos para uma Interveno de Avaliao de

    Qualidade da gua 695.11 Visitas de Intercmbio: Repblica Unida da Tanznia ao Uganda; do Uganda ao

    Ruanda 705.12 Papel da Formao Formal na Influncia sobre os Processos Polticos:

    Burkina Faso and Qunia 716.1 Critrios de Seleco para Indicadores de Pobreza-Ambiente 796.2 Integrao e Monitorizao de Indicadores de Pobreza-Ambiente no mbito da

    EDERP do Ruanda 796.3 Incentivos s Instituies Ambientais para a Participao no Processo do Quadro

    da Despesa a Mdio Prazo 816.4 Financiamento das reas Protegidas da Nambia 856.5 Dados Concretos Conduzem a Oramentos Maiores para as Instituies

    Ambientais 856.6 Receitas Acrescidas Conduzem a Maiores Oramentos para as Instituies

    Ambientais 876.7 Avaliao Ambiental Estratgica do Turismo Mexicano 896.8 Avaliao de Medidas Polticas: Instrumentos Econmicos Direccionados para a

    Energia, a gua e a Agricultura, para Benefcio dos Pobres no Uganda 906.9 Qunia: Integrao do Ambiente no Planeamento do Desenvolvimento ao Nvel

    Distrital 926.10 Fortalecimento das Instituies e Capacidades Atravs dos Processos de

    Desenvolvimento Nacional 95

    Figuras2.1 Exemplos de Ligaes Pobreza-Ambiente Positivas e Negativas 82.2 Ligaes entre os Servios dos Ecossistemas, o Bem-Estar Humano e a Reduo da

    Pobreza 93.1 A Abordagem Programtica Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente 15

  • viii

    3.2 Relacionamento da Abordagem Programtica com o Ciclo de Planeamento do Desenvolvimento Nacional 15

    3.3 Papis dos Vrios Intervenientes na Consecuo dos Efeitos Ambientais Favorveis aos Pobres 20

    4.1 Componentes dos Contextos Governamental, Institucional e Poltico 304.2 Dimenses do Desenvolvimento de Capacidades 394.3 Estrutura de Gesto do Programa da Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente do

    Malawi 415.1 Alinhamento da Abordagem Analtica com o Quadro Poltico Global 626.1 Instrumentos de Planeamento e Oramentao no Uganda 816.2 Assimetrias do Domnio sobre os Processos do DERP e do Oramento 82

    Quadros2.1 Contributo do Ambiente para a Consecuo dos ODM 102.2 Distribuio da Riqueza Nacional por Tipo de Capital e Grupo de

    Rendimento 113.1 Desafios e Oportunidades no Trabalho com Actores Governamentais 213.2 Desafios e Oportunidades no Trabalho com Actores No-Governamentais 224.1 Possveis Pontos de Entrada para Integrao das Ligaes Pobreza Ambiente no

    Planeamento do Desenvolvimento Nacional 324.2 Resumo: O que implica Encontrar os Pontos de Entrada e Apresentar a

    Argumentao? 445.1 Principais Passos na Definio e Utilizao de Dados Econmicos Especficos do

    Pas 575.2 Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente no Processo de Desenvolvimento

    de Polticas 655.3 Medidas Polticas Ambientais, por Categorias 665.4 Passos Principais no Desenvolvimento de Medidas Polticas em Linha com um

    Documento de Poltica 695.5 Abordagens ao Fortalecimento Institucional e de Capacidades: Aprender

    fazendo 725.6 Oportunidades para Fortalecimento Institucional e de Capacidades na Integrao

    das Ligaes Pobreza-Ambiente nos Processos Polticos 735.7 Resumo: O que Abrange a Integrao nos Processos Polticos? 746.1 Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente no Processo Oramental 886.2 Passos Principais na Implementao de Medidas Polticas 916.3 Resumo: O que Abrange o Cumprimento do Desafio da Implementao? 96

  • Agradecimentos

    A preparao deste manual foi possvel graas ao apoio financeiro providenciado pelos nossos parceiros de desenvolvimento: a Cooperao para o Desenvol-vimento da Blgica, o Ministrio dos Negcios Estrangeiros da Dinamarca, o Ministrio dos Negcios Estrangeiros da Irlanda, a Comisso Europeia, o Ministrio dos Negcios Estrangeiros da Noruega, o Ministrio dos Negcios Estrangeiros e da Coopera-o de Espanha, a Agncia de Proteco Ambiental da Sucia, a Agncia de Cooperao para o Desenvolvimento Internacional da Sucia e o Ministrio para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido.

    A orientao foi produzida graas aos contributos e partilha de experincias de pro-fissionais com actividade em pases em desenvolvimento que enfrentam o desafio da integrao das questes de pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional. Gostaramos de reconhecer, em particular, os contributos de elementos do Buto, do Burkina Faso, do Qunia, do Malawi, do Mali, da Mauritnia, de Moambique, do Ruanda, do Uganda, da Repblica Unida da Tanznia e do Vietname.

    O manual foi desenvolvido pelo Fundo Pobreza-Ambiente do PNUD-PNUMA, sob a direco de Philip Dobie e John Horberry. Sophie De Coninck coordenou a investigao e a redaco, com a ajuda de Miia Toikka e Caitlin Sanford e em ntima colaborao com colegas da Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente (IPMA) do PNUD-PNUMA: Jonathan Duwyn, Gabriel Labbate, Razi Latif, Angela Lusigi, Nara Luvsan, Henrieta Martonakova, Sanath Ranawana, David Smith, Louise Sorensen e Paul Steele.

    Devemos agradecimentos a todos os colaboradores que participaram na reviso do manual e, em particular, a Steve Bass (International Institute for Environment and Development), Yatan Blumenthal (PNUMA), Peter Brinn (Agreco), Paul Driver (Consultor), Sergio Feld (PNUD), Marianne Fernagut (Envalue), Alex Forbes (IPMA Qunia), Linda Ghanim (PNUD), Mounkaila Goumandakoye (PNUMA), Peter Hazelwood (Instituto dos Recursos Mundiais), Rose Hogan (IPMA Uganda), Usman Iftikhar (PNUD), Joseph Opio-Odongo (PNUD), Jean-Paul Penrose (Consultor), Kerstin Pfliegner (Consultora), Esther Reilink (PNUMA), Nilvo Silva (PNUMA) e Dechen Tsering (PNUMA).

    ix

  • x

    Tambm gostaramos de agradecer a Nita Congress, que idealizou e editou o manual; Noah Scalin, que desenhou a capa; e John Dawson e Karen Holmes, que editaram a orientao.

    Estamos certos de que o manual beneficiaria com outros contributos e experincias par-tilhadas por profissionais ao nvel nacional. Quaisquer comentrios ou questes devem ser dirigidos a:

    [email protected] Poverty-Environment FacilityUN Gigiri Compound, United Nations AvenueP.O. Box 30552-00100, Nairbi, Qunia

  • Prefcio

    Omundo tem falado acerca de desenvolvimento sustentvel e alvio da pobreza desde h muito tempo. Mais de duas dcadas se passaram desde que o Relatrio Brundtland de 1987 apresentou pela primeira vez uma viso do desenvolvimento sustentvel a ser alcanado, em parte, pela integrao da gesto ambiental no planea-mento econmico e na tomada de decises. Tendo em conta os impactos provveis das alteraes climticas sobre os mais pobres e mais vulnerveis do mundo e as presses sem precedentes sobre os ecossistemas mundiais e a sua capacidade de sustentar um padro de vida crescente para milhares de milhes de habitantes humanos, a necessi-dade de acelerar a integrao do ambiente nos esforos de reduo da pobreza nunca foi maior.

    A experincia continua a demonstrar o contributo vital que uma melhor gesto ambien-tal pode dar para melhorar as oportunidades de sade, bem-estar e subsistncia, espe-cialmente dos pobres. Para criar o tipo de mundo que queremos, combater a pobreza, promover a segurana e preservar os ecossistemas de que as pessoas pobres dependem para a sua subsistncia, o crescimento econmico e a sustentabilidade ambiental favo-rveis aos pobres devem ser inequivocamente colocados no mago das polticas, dos sistemas e das instituies que nos so mais fundamentais.

    Uma forma de o fazer atravs do processo que se tornou conhecido como integrao pobreza-ambiente. Esta visa essencialmente integrar as ligaes entre o ambiente e a reduo da pobreza nos processos e instituies governamentais, mudando assim a prpria natureza da sua cultura e das suas prticas de tomada de deciso. Normalmente, tal integrao deve ocorrer no mbito da estratgia de desenvolvimento ou da reduo da pobreza do pas e do modo como ela aborda aspectos da tomada de deciso econmica. Desta forma, podemos colocar os imperativos paralelos do crescimento econmico favorvel aos pobres e da sustentabilidade ambiental no centro de tudo o que fazemos.

    Este manual est concebido para servir como um guia para os activistas e profissio-nais envolvidos na meticulosa tarefa de integrar as ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional. O manual explora um volume substancial de experincias ao nvel dos pases e as muitas lies aprendidas pelo Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento e pelo Programa das Naes Unidas para o Ambiente no seu trabalho com os governos especialmente com os ministrios de planificao, das finanas e do ambiente para apoio dos esforos de integrao das complexas inter-relaes entre a reduo da pobreza e a gesto ambiental melhorada

    xi

  • xii

    no planeamento e na tomada de decises nacionais. O manual tira tambm partido do conhecimento e da experincia de outros actores do desenvolvimento, em particular a Parceria Pobreza-Ambiente.

    Temos esperana de que os profissionais da integrao das questes de pobreza- ambiente tanto aqueles que j embarcaram nesta viagem, como aqueles que s agora comeam a pensar no desafio que os espera considerem este guia til. Pretendemos que ele seja no apenas um repositrio de informao e auxlio, mas tambm, e espe-cialmente, uma fonte de incentivo e inspirao na realizao de uma misso que por vezes arrojada, ocasionalmente frustrante, mas de importncia vital para o bem-estar futuro dos pobres e dos mais vulnerveis do planeta.

    Angela CropperFuncionria ResponsvelDiviso de Cooperao RegionalPrograma das Naes Unidas para o

    Meio Ambiente

    Veerle VandeweerdDirectoraGrupo do Ambiente e da EnergiaPrograma das Naes Unidas para o

    Desenvolvimento

  • 1

    As famlias pobres dependem desproporcionalmente dos recursos naturais e do ambiente para a sua subsistncia e o seu rendimento. Os pobres esto mais vul-nerveis aos desastres naturais, como as secas e as inundaes, e aos impactos contnuos das alteraes climticas. Numa escala mais ampla, recursos naturais como as florestas e as pescas desempenham um papel mais significativo no rendimento nacional e na riqueza das economias menos desenvolvidas.

    Assim, um ambiente saudvel e produtivo contribui significativamente para o bem- estar humano e o desenvolvimento econmico favorvel aos pobres. Os ecossistemas intactos e funcionais proporcionam servios como o fornecimento de alimentos, gua, combustvel e fibra ou a regulao do clima dos quais as naes e os povos dependem para a obteno de rendimentos da agricultura, das pescas, da silvicultura, do turismo e de outras actividades. O uso sustentvel destes servios do ecossistema e activos de recursos naturais cada vez mais reconhecido como um factor fundamental para que o desenvolvimento econmico e a melhoria do bem-estar humano sejam duradouros e como uma condio necessria para alcanar os Objectivos de Desenvolvimento do Milnio (ODM). Estas e outras ligaes pobreza-ambiente so exploradas com maior pormenor no captulo 2.

    Captulo1

    Acerca do Manual

  • Cap

    tulo

    1.

    Ace

    rca

    do M

    anua

    l

    2

    1.1 PropsitoO propsito deste manual proporcionar orientao prtica, passo a passo, acerca do modo como os governos e outros actores nacionais podem integrar as ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional. Definimos aqui a integrao das questes de pobreza-ambiente como o processo iterativo de integrar ligaes pobreza-ambiente nos processos de formulao, oramentao e implementao de polticas aos nveis nacio-nal, sectorial e subnacional. um esforo plurianual e pluripartido fundamentado na contribuio do ambiente para o bem-estar humano, o crescimento econmico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM. Envolve o trabalho com um leque de actores governamen-tais e no-governamentais, bem como com outros actores no campo do desenvolvimento.

    O manual apresenta uma abordagem programtica da integrao das ligaes pobreza- ambiente no planeamento do desenvolvimento levada a cabo pela Iniciativa Pobreza- Meio Ambiente (IPMA), um esforo conjunto do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que fornece apoio financeiro e tcnico aos pases para a integrao das ques-tes de pobreza-ambiente. A abordagem baseia-se, em grande parte, na experincia da IPMA decorrente do auxlio a governos de todo o mundo na integrao das ligaes pobreza-ambiente, sobretudo em frica e na regio sia-Pacfico, bem como em experi-ncias seleccionadas de outros actores do desenvolvimento, particularmente membros da Parceria Pobreza-Ambiente. A abordagem visa proporcionar um modelo flexvel que possa ser adaptado s circunstncias nacionais para orientar a escolha das activi-dades, das tcticas, das metodologias e das ferramentas para enfrentar a situao especfica de cada pas. Compreende os seguintes componentes:

    Encontrar os pontos de entrada e apresentar a argumentao de suporte

    Integrar as ligaes pobreza-ambiente nos processos polticos

    Enfrentar o desafio da implementao

    O envolvimento dos intervenientes ocorre ao longo de todo o processo, desde o incio at ao desenvolvimento, implementao e monitorizao das polticas. Cada compo-nente sucessivo explora o trabalho anterior, mas a cronologia no fixa. Em vez disso, a integrao das ligaes pobreza-ambiente um processo iterativo em que as actividades podem ocorrer em paralelo ou numa ordem diferente da apresentada aqui, de acordo com as prioridades e necessidades especficas de um pas.

    1.2 Pblico-alvoO pblico-alvo do manual constitudo sobretudo pelos activistas do processo de inte-grao e pelos profissionais ao nvel nacional.

    Os activistas so profissionais que assumem o papel de defesa da integrao das con-sideraes sobre pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento aos nveis nacional, sectorial e subnacional. Entre eles, incluem-se decisores de alto nvel e fun-cionrios governamentais que operam como embaixadores da integrao das ques-tes de pobreza-ambiente.

    Os profissionais incluem intervenientes do Estado (afectos ao gabinete do chefe de Estado, organismos do ambiente, das finanas e do planeamento, organismos secto-riais e subnacionais, partidos polticos, parlamento, gabinete nacional de estatstica e sistema judicial), actores no-governamentais (sociedade civil, instituies acad-micas, sectores dos negcios e da indstria, pblico em geral, comunidades locais

  • Captulo 1. Acerca do M

    anual

    3

    e comunicao social) e actores do desenvolvimento nos campos do ambiente, do desenvolvimento e da reduo da pobreza.

    Existe uma audincia secundria constituda por funcionrios de agncias das Naes Unidas, incluindo coordenadores residentes das Naes Unidas e equipas nacionais envolvidas com os governos na rea das prioridades nacionais de desenvolvimento. O seu trabalho envolve frequentemente a integrao das ligaes pobreza-ambiente, e este manual visa fornecer informao e orientao, subsidiando esses esforos.

    1.3 EstruturaO manual est dividido em vrios captulos, conforme descrito abaixo. Os captulos podem ser lidos individualmente, de acordo com os interesses e as necessidades do utilizador, consultando outras seces do manual conforme necessrio. As mensagens essenciais so destacadas ao longo do texto, sendo apresentados numerosos exemplos.

    O captulo 2 descreve os conceitos fundamentais relacionados com a integrao das ligaes pobreza-ambiente, incluindo o contributo do ambiente para o bem-estar humano, o crescimento econmico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM.

    O captulo 3 apresenta uma viso geral pormenorizada da abordagem de integrao, descrevendo as vrias actividades envolvidas em cada um dos seus trs componentes. destacado o papel dos intervenientes e da comunidade de desenvolvimento, incluindo experincias e iniciativas do PNUD e do PNUMA.

    Os captulos 4 a 6 detalham os trs componentes da abordagem programtica. Cada captulo apresenta uma orientao passo a passo, fornece referncias e casos ilustrativos e conclui com as consecues esperadas e exemplos.

    O captulo 4 proporciona orientao para a preparao de um esforo de integrao, que visa encontrar os pontos de entrada no planeamento nacional do desenvolvimento e apre-sentar a argumentao aos decisores responsveis pela integrao das questes de pobreza- ambiente. Explica como realizar actividades relevantes, incluindo avaliaes iniciais da natu-reza das ligaes pobreza-ambiente; compreender os contextos governamental, institucional e poltico do pas; consciencializar e criar parcerias no mbito do governo e para alm dele; avaliar as necessidades institucionais e de capacidade; e desenvolver acordos de trabalho para um esforo sustentado com vista integrao das questes de pobreza-ambiente.

    O captulo 5 descreve como integrar as ligaes pobreza-ambiente num processo pol-tico. Inclui orientao sobre como recolher dados concretos especficos do pas, usando tcnicas como avaliaes dos ecossistemas e anlises econmicas integradas. Propor-ciona tambm informaes sobre como usar esses dados concretos para influenciar os processos polticos e desenvolver e quantificar medidas polticas.

    O captulo 6 oferece orientao sobre como enfrentar o desafio da implementao. Aborda os modos de integrao das ligaes pobreza-ambiente nos sistemas nacionais de monito-rizao; de envolvimento com os processos de oramentao e garantia de financiamento das medidas polticas; de apoio das medidas polticas aos nveis nacional, sectorial e subna-cional; e de fortalecimento das instituies e capacidades para sustentao do esforo.

    O captulo 7 conclui e avana com algumas propostas ao PNUD-PNUMA e aos seus par-ceiros para trabalhos futuros na rea da integrao das questes de pobreza-ambiente.

    O manual contm ainda uma lista de abreviaturas e acrnimos, um glossrio e uma seco de referncias.

  • 5

    mbito Define a integrao das questes de pobreza-ambiente (seco 2.1)

    Explica por que motivo a integrao das ligaes pobreza-ambiente importante para o bem-estar humano, o crescimento econmico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM (seco 2.2)

    Destaca o contributo do capital natural para a riqueza dos pases de baixo rendimento (seco 2.3) ) e a importncia das alteraes climticas para a integrao das questes de pobreza-ambiente (seco 2.4)

    Mensagens Essenciais A integrao das questes de pobreza-ambiente um processo iterativo, plurianual e

    pluripartido

    O ambiente contribui significativamente para o bem-estar humano, o crescimento econ-mico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM

    O capital natural representa uma parcela relativamente maior da riqueza dos pases de baixo rendimento

    A adaptao s alteraes climticas uma parte constituinte da integrao das questes de pobreza-ambiente

    Captulo2

    Compreender a Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente

  • Cap

    tulo

    2.

    Com

    pree

    nder

    a In

    tegr

    ao

    das

    Que

    ste

    s de

    Pob

    reza

    -Am

    bien

    te

    6

    2.1 Definir a Integrao das Questes de Pobreza-AmbienteO desenvolvimento sustentvel depende, em grande medida, do sucesso da integrao do ambiente no planeamento e tomada de decises econmicas, um processo conhe-cido como integrao ambiental. Os esforos iniciais, nos anos 90, para a integrao do ambiente no planeamento nacional por exemplo, atravs de documentos de estra-tgia de reduo da pobreza (DERP) visavam assegurar que as decises e os planos econmicos levassem em conta as prioridades ambientais e abordassem o impacto das actividades humanas sobre os servios e activos ambientais.

    Dados concretos sugerem que essas tentativas iniciais de integrar o ambiente no plane-amento nacional tiveram sucesso varivel. Uma srie de anlises influentes do Banco Mundial mostrou que a maioria dos DERP adoptado pelos pases mais pobres do mundo nos anos 90 no abordou suficientemente o contributo do ambiente para a reduo da pobreza e o crescimento econmico (Boj e Reddy 2003; Boj et al. 2004).

    Os governos nacionais e os actores do desenvolvimento reagiram, dedicando maior ateno integrao do ambiente nos DERP, com particular ateno para a integrao das ligaes pobreza-ambiente, e apresentando a argumentao para abordar o con-tributo do ambiente para o bem estar humano, o crescimento econmico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM perante os ministrios responsveis pelo planeamento do desenvolvimento nacional.

    Embora a integrao ambiental e a integrao das questes de pobreza-ambiente se pos-sam sobrepor em determinadas circunstncias, a ateno tem-se centrado, nos ltimos anos, no objectivo fundamental da reduo da pobreza e no contributo fulcral que uma melhor gesto ambiental pode dar para o melhoramento dos meios de subsistncia e das oportunidades dos pobres e de outros grupos vulnerveis, incluindo as mulheres as populaes marginalizadas.

    Estes esforos assumiram uma urgncia particular medida que o auxlio para o desen-volvimento assume cada vez mais a forma de apoio oramental e sectorial geral, com menor ajuda econmica reservada para projectos ambientais especficos. Nunca houve maior necessidade de demonstrar aos rgos financeiros e de planeamento o valor da atribuio de uma parte dos escassos recursos disponveis para o melhoramento da gesto ambiental como estratgia fundamental para beneficiar os pobres e reduzir a pobreza.

    Definio: Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente

    O processo iterativo de integrao das ligaes pobreza-ambiente nos processos de formulao, oramentao e implementao de polticas aos nveis nacional, secto-rial e subnacional. um esforo plurianual e pluripartido que envolve o trabalho com actores governamentais (afectos ao gabinete do chefe de Estado, rgos do ambiente, das finanas e do planeamento, rgos sectoriais e subnacionais, partidos polticos, parlamento, gabinete nacional de estatstica e sistema judicial), actores no-governa-mentais (sociedade civil, instituies acadmicas, sectores dos negcios e da indstria, pblico em geral, comunidades e comunicao social) e actores do desenvolvimento.

  • Captulo 2. Compreender a Integrao das Q

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    2.2 Explorar as Ligaes Pobreza-AmbienteO bem-estar das pessoas pobres pode ser muito melhorado atravs de uma melhor gesto do ambiente. Apresentamos abaixo alguns conceitos que ajudam a explicar a natureza das ligaes pobreza-ambiente, demonstrando o contributo do ambiente para o bem-estar humano, o crescimento econmico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM.

    A caixa 2.1 apresenta factos e nmeros seleccionados sobre as ligaes pobreza- ambiente. Outros exemplos so fornecidos ao longo do manual (consultar especialmente os captulos 4 e 5). A amplitude e a diversidade destes exemplos sublinham o impor-tante contributo do ambiente para o bem-estar humano e a reduo da pobreza.

    No Bangladesh, mais de 95% da populao esto dependentes de combustveis slidos, como carvo vegetal e lenha, para as suas necessidades de energia.

    Na Bolvia, mais de 80% das pessoas que vivem em reas rurais so pobres, o que as torna parti-cularmente vulnerveis ao ambiente do qual dependem os seus meios de subsistncia.

    No Burkina Faso, 92% da fora de trabalho activa esto empregues na agricultura e nas pescas; por conseguinte, dependem da gesto sustentvel desses recursos para o seu bem-estar.

    Na Amrica Latina e no Sudeste Asitico, 100% dos pobres que vivem com menos de $1 por dia esto expostos poluio do ar interior.

    Na regio central do Vietname, na sequncia de desastrosas inundaes em Novembro de 1999, os agregados familiares pobres foram os mais lentos a recuperar e no tiveram meios para recrutamento de mo-de-obra para limpeza dos campos e retorno produo agrcola.

    Fonte: PNUD et al. 2005.

    Caixa 2.1 Factos e Nmeros que Exemplificam as Ligaes Pobreza-Ambiente

    O Contributo do Ambiente para a Subsistncia, a Resilincia, a Sade e o Desenvolvimento EconmicoAs ligaes pobreza-ambiente podem ser conceptualizadas de vrias maneiras, nomea-damente em termos do relacionamento com os meios de subsistncia, da resilincia aos riscos ambientais, da sade e do desenvolvimento econmico.

    Meios de subsistncia. Os ecossistemas proporcionam servios (incluindo servios de abastecimento, como o fornecimento de alimentos e gua doce, servios de regu-lao, como a regulao do clima e da qualidade da gua e do ar, servios culturais, como a diverso e a apreciao esttica, e servios de apoio necessrios para produzir todos os outros servios do ecossistema, como a formao do solo) de que as pessoas pobres dependem de forma desproporcional para o seu bem-estar e as suas necessi-dades bsicas. As populaes dependem do ambiente para obteno de rendimento em sectores como a agricultura, as pescas, a silvicultura e o turismo, atravs de mer-cados formais e informais. Os meios de subsistncia podem ser sustentveis ou no, dependendo da maneira como o ambiente gerido.

    Resilincia aos riscos ambientais. As pessoas pobres so mais vulnerveis aos desastres naturais, como inundaes e secas, aos efeitos das alteraes climticas e a outros choques ambientais que ameaam os seus meios de subsistncia e minam a segurana dos alimentos. O melhoramento das formas como so geridos os recursos ambientais, como as florestas, aumenta a resilincia das pessoas pobres e dos seus meios de subsistncia aos riscos ambientais.

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    Sade. As condies ambientais esto por trs de uma parte significativa dos riscos sanitrios para as pessoas pobres. Os factores de risco ambientais, como a exposio laboral a produtos qumicos e a poluio do ar interior por utilizao caseira de combus-tveis slidos, esto presentes em mais de 80% das doenas regularmente citadas em relatrios da Organizao Mundial de Sade. Globalmente, quase um quarto de todas as mortes e da carga total de doenas no mundo pode ser atribudo ao ambiente. Tor-nando o ambiente mais saudvel, poderiam ser evitados, por ano, 13 milhes de mor-tes (Prss-stn e Corvalan 2006). O melhoramento da sade resultante das melhores condies ambientais tambm contribuiria para melhoramentos nos meios de subsis-tncia, no desenvolvimento econmico e na resilincia aos riscos ambientais.

    Desenvolvimento econmico. A qualidade ambiental contribui, directa e indirecta-mente, para o desenvolvimento econmico e o emprego. Esses contributos so parti-cularmente importantes nos pases em desenvolvimento, em sectores como a agricul-tura, a energia, a silvicultura, as pescas e o turismo.

    As ligaes pobreza-ambiente so dinmicas e especficas em relao ao contexto, reflectindo a localizao geogrfica, a escala e as caractersticas econmicas, sociais e culturais dos indivduos, dos agregados familiares e dos grupos sociais. Em particular, o sexo e a idade do chefe de famlia (homem ou mulher, adulto ou jovem) so factores fun-damentais que influenciam as ligaes pobreza-ambiente.

    As ligaes pobreza-ambiente podem ser positivas ou negativas, criando crculos vir-tuosos ou viciosos para a preservao ambiental e a reduo da pobreza (figura 2.1). Embora possam ser necessrias contrapartidas, a integrao das questes de pobreza- ambiente visa conseguir o melhor equilbrio entre a preservao ambiental e a reduo da pobreza, para o benefcio dos pobres e a sustentabilidade ambiental a longo prazo.

    Preservao Ambiental

    Reduo da Pobreza

    Figura 2.1 Exemplos de Ligaes Pobreza-Ambiente Positivas e Negativas

    Ganho-Perda

    Gesto ambiental que exclui as comunidades locais (por exemplo, ausncia de partilha de benefcios, deslocao de comunidades)

    Ganho-Ganho

    Meios de subsistncia susten-tveis (por exemplo, gesto sustentvel da agricultura, da silvicultura, das pescas e do ecos-sistema, adaptao s alteraes climticas)

    Perda-Perda

    Gesto ambiental inexistente ou inadequada, afectando negativa-mente os pobres (por exemplo, falta de adaptao s alteraes climticas, condies de sade ambiental ms)

    Perda-Ganho

    Meios de subsistncia de curto prazo (por exemplo, excesso de pastoreio, excesso de pesca, desflorestao)

    Servios do Ecossistema e Bem-Estar HumanoConforme realado no contexto dos meios de subsistncia (discutido acima), os seres humanos dependem dos ecossistemas para uma ampla variedade de servios. Uma fer-ramenta til para analisar as ligaes pobreza-ambiente a Avaliao Ecossistmica do

  • Captulo 2. Compreender a Integrao das Q

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    REGIONAL

    LOCAL

    Motores directos das alteraes Mudanas na utilizao e na

    cobertura das terras locais Introduo ou remoo de espcies Adaptao e uso da tecnologia Recursos externos (por exemplo, uso de

    fertilizantes, controlo de pragas, irrigao) Colheita e consumo de recursos Alteraes climticas Motores naturais, fsicos e biolgicos

    (por exemplo, evoluo, vulces)

    Motores indirectos das alteraes Demogrfico Econmico (por exemplo, globalizao,

    comrcio, mercado e quadro poltico) Sociopoltico (por exemplo, administra-

    o, quadro institucional e jurdico) Cincia e tecnologia Cultural e religioso (por exemplo,

    crenas, opes de consumo)

    Bem-estar humano e reduo da pobreza Material bsico para uma vida boa Sade Boas relaes sociais Segurana Liberdade de escolha e de aco

    GLOBAL

    Estratgias e intervenes.Fonte: MA 2005.

    Servios dos ecossistemas Aprovisionamento (por exemplo,

    alimentos, gua, fibra, combustvel) Regulao (por exemplo, regulao

    do clima, da gua, das doenas) Cultural (por exemplo, espiritual,

    esttico, diverso, educao) Apoio (por exemplo, produo

    primria, formao do solo)

    Vida na terra Biodiversidade

    curto prazolongo prazo

    Figura 2.2 Ligaes entre os Servios dos Ecossistemas, o Bem-Estar Humano e a Reduo da Pobreza

    Milnio, uma avaliao cientfica avanada, conduzida por mais de 1.300 peritos de todo o mundo entre 2001 e 2005, sobre o estado e as tendncias dos ecossistemas mundiais e os servios que eles proporcionam. A avaliao analisou as consequncias da alterao dos ecossistemas para o bem-estar humano e as suas concluses proporcionam uma base cientfica para a aco de conservao dos ecossistemas e para assegurar que os seus servios so usados de uma forma sustentvel.

    A figura 2.2, extrada da Avaliao Ecossistmica do Milnio, representa o relacionamento entre a gesto ambiental e a reduo da pobreza. Conforme mostrado na figura, as mudan-as nos motores indirectos das alteraes dos ecossistemas (canto superior direito), como a populao, a tecnologia e o estilo de vida, produzem efeitos sobre os motores directos das alteraes (canto inferior direito), como a captura de peixe ou o uso de fertilizantes. As alteraes resultantes nos ecossistemas e nos servios que eles fornecem (canto infe-rior esquerdo) afectam o bem-estar humano (canto superior esquerdo). Estas interaces ocorrem transversalmente s escalas do tempo e do espao. Por exemplo, um aumento na procura de madeira numa regio pode conduzir a uma perda de cobertura florestal noutra regio, o que, por sua vez, pode produzir uma maior frequncia ou intensidade das

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    inundaes ao longo de um trecho local de rio. escala global, os padres de produo e consumo e as emisses de gases com efeito de estufa de um pas contribuem para as alte-raes climticas e, indirectamente, afectam pases e povos de todo o mundo, em particular os mais pobres. Podem ser aplicadas diferentes estratgias e intervenes em muitos pon-tos deste quadro, para elevar o bem-estar humano e conservar os ecossistemas (MA 2005).

    A Relevncia das Ligaes Pobreza-Ambiente para a Consecuo dos ODMO contributo do ambiente para a reduo da pobreza e o bem-estar humano pode igual-mente ser expresso sob o ponto de vista dos ODM, conforme mostrado no quadro 2.1.

    Objectivo Ligaes pobreza-ambiente

    Pobreza

    1. Erradicar a po-breza e a fome extremas

    As estratgias dos meios de subsistncia e a segurana alimentar dos agregados familiares pobres costumam depender directamente da sade do ecossistema e da produtividade e da diversidade dos servios que ele proporciona

    Os agregados familiares pobres no tm, frequentemente, direitos seguros sobre a terra, a gua e os recursos naturais, nem acesso adequado informao, aos mercados e aos direitos de participao nas decises que afectam o seu acesso a recursos e a sua utilizao dos mesmos, limitando assim a sua capacidade de usarem os recursos ambientais de forma sustentvel para melhorarem os seus meios de subsistncia e o seu bem-estar

    A vulnerabilidade aos riscos ambientais como as inundaes, as secas e os impactos das alte-raes climticas minam as oportunidades de subsistncia e as estratgias de adaptao das pessoas, limitando assim a sua aptido para se elevarem acima da pobreza ou evitarem cair nela

    Gnero e Ins-truo

    2. Alcanar a ins-truo primria universal

    3. Promover a igualdade de g-nero e capacitar as mulheres

    A degradao ambiental contribui para um fardo acrescido para as mulheres e as crianas (espe-cialmente as meninas) quanto ao tempo necessrio para recolher gua e lenha, reduzindo-lhes assim o tempo disponvel para instruo ou actividades geradoras de rendimento

    A incluso do ambiente no currculo da escola primria pode influenciar o comportamento dos jovens e dos seus pais, apoiando assim os meios de subsistncia sustentveis

    As mulheres tm frequentemente um papel limitado na tomada de decises, desde o nvel co-munitrio at formulao de polticas nacionais, que impede que a sua voz seja efectivamente ouvida, em particular no que se refere s suas preocupaes ambientais

    As mulheres tm frequentemente direitos desiguais e acesso inseguro terra e aos recursos naturais, o que limita as suas oportunidades e aptides para acesso a activos produtivos

    Sade

    4. Reduzir a mor-talidade infantil

    5. Melhorar a sade materna

    6. Combater o VIH/SIDA, a malria e as grandes doenas

    As doenas relacionadas com a gua e o saneamento (como a diarreia) e as infeces respira-trias agudas (devidas, sobretudo, poluio do ar interior) so duas das causas principais da mortalidade infantil abaixo dos cinco anos

    Os danos na sade das mulheres, decorrentes da poluio do ar interior ou do transporte de cargas pesadas de gua e lenha, podem fazer com que elas fiquem menos aptas para o parto e corram maior risco de complicaes durante a gravidez

    A malria, que segundo as estimativas mata, por ano, um milho de crianas com menos de cinco anos, pode agravar-se em consequncia da desflorestao, da perda de biodiversidade e da m gesto da gua

    At um quarto da carga mundial de doenas est ligado a factores ambientais sobretudo a po-luio do ar e da gua, a falta de saneamento e as doenas transmitidas por vectores; as medidas de preveno de danos para a sade por causas ambientais so to importantes (e, frequente-mente, mais eficientes em termos de custos) como o tratamento das doenas resultantes

    Os riscos ambientais, como os desastres naturais, as inundaes, as secas e os efeitos das alteraes climticas em curso, afectam a sade das pessoas e podem ameaar a vida

    Parceria para o desenvolvi-mento

    8. Desenvolver uma parceria global para o de-senvolvimento

    Os recursos naturais e a gesto ambiental sustentvel contribuem para o desenvolvimento eco-nmico, as receitas pblicas, a criao de trabalho decente e produtivo e a reduo da pobreza

    Os pases em desenvolvimento, especialmente os pequenos Estados insulares, tm necessidades especiais de apoio ao desenvolvimento, incluindo a capacidade acrescida para se adaptarem s alteraes climticas e para enfrentarem outros desafios ambientais, como a gesto da gua e dos resduos

    Fontes: Adaptado de DFID et al. 2002 e OMS 2008.

    Quadro 2.1 Contributo do Ambiente para a Consecuo dos ODM

  • Captulo 2. Compreender a Integrao das Q

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    Grupo de rendimento

    Capital natural Capital produzido Capital intangvel

    Total$ per

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    parcela$ per

    capita% da

    parcela$ per

    capita% da

    parcela

    Pases de baixo rendimento 1.925 26 1.174 16 4.434 59 7.532

    Pases de mdio rendimento 3.496 13 5.347 19 18.773 68 27.616

    Pases de alto rendimento da OCDE 9.531 2 76.193 17 353.339 80 439.063

    Mundo 4.011 4 16.850 18 74.998 78 95.860

    Fonte: Banco Mundial 2006.Notas: Todos os valores em dlares esto s taxas de cmbio nominais. Os Estados petrolferos no esto includos. OCDE: Organizao de Cooperao e de Desenvolvimento Econmicos.

    Quadro 2.2 Distribuio da Riqueza Nacional por Tipo de Capital e Grupo de Rendimento

    2.3 A Importncia do Capital Natural para a Riqueza dos Pases de Baixo RendimentoUm outro aspecto significativo do contributo do ambiente para o bem-estar humano e o crescimento econmico favorvel aos pobres centra-se no papel do capital natural na riqueza das naes, especialmente nos pases de baixo rendimento. Os recursos naturais, particularmente a terra agrcola, os minerais do subsolo e a madeira e outros recursos da floresta, constituem uma parcela relativamente maior da riqueza nacional nas economias menos desenvolvidas (Banco Mundial 2006). Consequentemente, os pases de baixo rendimento esto mais dependentes dos recursos naturais para o seu bem-estar (quadro 2.2).

    Os decisores devem ter em mente a importncia da qualidade ambiental e dos recursos naturais como activos de capital que podem ser mantidos ou realados atravs de uma gesto saudvel ou esgotados atravs de uma gesto errada. Assim, a apreciao de for-mas de aperfeioar a gesto e o uso de recursos ambientais tem de ser parte integrante do planeamento do desenvolvimento nacional. A importncia central do capital natural na maioria das economias em desenvolvimento aponta para a natureza desafiadora da integrao das ligaes pobreza-ambiente, tendo em conta os elevados riscos econmi-cos e polticos e as prioridades frequentemente incompatveis de vrios intervenientes relativamente ao acesso, uso e controlo dos activos ambientais.

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    Analisar a vulnerabilidade de um pas aos impactos das alteraes climticas um aspecto essen-cial da integrao das ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional. Entre as questes que os decisores tm de tomar em considerao esto os efeitos das altera-es climticas sobre a pobreza e o crescimento e as estratgias potenciais para a adaptao aos impactos das alteraes climticas no imediato e a longo prazo.

    Os tipos de efeitos possveis das alteraes climticas e a sua gravidade variaro em funo do pas e da regio. A integrao eficaz das questes de pobreza-ambiente deve, no mnimo, fazer o seguinte:

    Identificar os grupos populacionais, as regies e os sectores actualmente em maior risco (por exemplo, devido pobreza, falta de desenvolvimento ou existncia de degradao dos recursos naturais)

    Considerar o grau em que as estratgias de desenvolvimento e os programas sectoriais actuais esto vulnerveis variabilidade climtica e analisar as opes para reforar a sua resilincia

    Explorar formas de factorizar os impactos das alteraes climticas projectadas nas decises de planeamento do desenvolvimento para minimizar o risco e aumentar a resilincia

    Os desafios para a integrao das questes de pobreza-ambiente so: aumentar a consciencializa-o dos decisores quanto s alteraes climticas, identificar os aspectos das economias nacionais mais sensveis aos riscos e vulnerabilidades actuais e desenvolver a capacidade nacional para uma anlise contnua dos riscos futuros e das estratgias de adaptao potenciais.

    Caixa 2.2 Integrao da Adaptao s Alteraes Climticas no Planeamento do Desenvolvimento Nacional

    2.4 Importncia das Alteraes Climticas para a Integrao das Questes de Pobreza-AmbienteMuitos dos pases que esto a sentir os maiores impactos decorrentes das alteraes climticas so pases de baixo rendimento. Nesses pases, a gesto ambiental melho-rada pode reduzir o impacto e melhorar a recuperao dos eventos climticos extremos (McGuigan, Reynolds e Wiedmer 2002). A caixa 2.2 apresenta alguns aspectos funda-mentais da integrao das ligaes entre a reduo da pobreza e a adaptao s altera-es climticas no planeamento do desenvolvimento nacional.

  • 13

    mbito Prope uma abordagem programtica integrao das questes de pobreza-ambiente

    (seco 3.1)

    Discute o papel dos intervenientes e da comunidade de desenvolvimento (seco 3.2)

    Mensagens Essenciais A integrao bem sucedida exige, acima de tudo, o envolvimento de muitos interve-

    nientes, cujos vrios esforos podem ser fortalecidos e articulados pela adopo de uma abordagem programtica

    A abordagem um modelo flexvel que ajuda a orientar a escolha das actividades, tcti-cas, metodologias e ferramentas para abordar a situao especfica de um pas

    A cronologia da abordagem no rgida e h muitas interligaes entre as actividades

    Os activistas que assumem a liderana variaro de pas para pas e, possivelmente, ao longo do processo

    A colaborao prxima com actores do desenvolvimento vital para assegurar a relevn-cia e a eficcia da iniciativa e para obter apoio poltico, tcnico e financeiro

    Captulo3

    Uma Abordagem Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente

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    3.1 Abordagem Programtica A meta da integrao das questes de pobreza-ambiente incorporar o contributo do ambiente para o bem-estar humano, o crescimento econmico favorvel aos pobres e a consecuo dos ODM na actividade nuclear do governo, nas estratgias globais de desenvolvimento nacional e reduo da pobreza e no planeamento e investimento secto-riais e subnacionais.

    A abordagem programtica que a Iniciativa Pobreza-Meio Ambiente do PNUD-PNUMA recomenda para a integrao das ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desen-volvimento nacional compreende trs componentes:

    Encontrar os pontos de entrada e apresentar a argumentao, o que estabelece o cenrio para a integrao

    Integrar as ligaes pobreza-ambiente nos processos polticos, o que se centra na integrao das ligaes pobreza-ambiente num processo poltico em curso, como um DERP ou uma estratgia sectorial, com base nos dados concretos especficos do pas

    Enfrentar o desafio da implementao, o que visa assegurar a integrao das ligaes pobreza-ambiente nos processos de oramentao, implementao e monitorizao

    A figura 3.1 apresenta as actividades que podem ocorrer ao longo do esforo de integrao.

    O uso desta abordagem pode ajudar a priorizar os esforos de integrao num contexto nacional especfico e a ver mais claramente como as diferentes actividades e tcticas podem ser combinadas para alcanar os efeitos pretendidos nas vrias fases da concep-o ou da implementao do planeamento do desenvolvimento (figura 3.2). Alm disso, pode ajudar os programas estruturais adoptados pelos governos a alcanar uma inte-grao eficaz ao longo de um perodo de tempo sustentado explorando, muitas vezes, actividades mais diversas e mais breves adoptadas por diversos intervenientes.

    Conforme realado no captulo 1, esta abordagem programtica deve ser considerada um modelo flexvel para ajudar a orientar a escolha das actividades, tcticas, meto-dologias e ferramentas numa situao especfica de um pas. Dependendo do contexto e do progresso colectivo feito at data no que se refere integrao das questes de pobreza-ambiente no pas, algumas actividades podem ser implementadas de uma forma acelerada ou preteridas; a sua sequncia to-pouco rgida. Cada componente baseia-se nas actividades precedentes e nos trabalhos realizados no pas. O processo iterativo, com mui-tas interligaes entre as actividades. O envolvimento dos detentores de interesses, a coordenao com a comunidade de desenvolvimento e o fortalecimento institucional e de capacidades tm lugar em todas as fases, desde o incio at ao desenvolvimento, implementao e monitorizao de polticas.

    Exemplos: Abordagem Iterativa

    O desenvolvimento de indicadores de pobreza-ambiente baseia-se nas metas defi-nidas em documentos de polticas, ao mesmo tempo que integra as questes de pobreza- ambiente nos processos polticos.

    O sistema de monitorizao visa fornecer informao integrao das ligaes pobrez- ambiente nos processos polticos.

    A oramentao depende do desenvolvimento e da quantificao das medidas polticas.

  • Captulo 3. Um

    a Abordagem

    Integrao das Questes de Pobreza-A

    mbiente

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    Figura 3.1 A Abordagem Programtica Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente

    Encontrar os pontos deentrada e apresentar a

    argumentao

    Integrar as ligaespobreza-ambiente

    nos processos polticos

    Enfrentar o desaoda implementao

    Envolvimento dos intervenientes e coordenao nombito da comunidade de desenvolvimento

    Actores governamentais, no-governamentais e do desenvolvimento

    Compreender as ligaespobreza-ambiente

    Compreender os contextosgovernamentais, institucionais

    e polticos

    Consenso e empenhamentonacionais

    Avaliao de necessidadesMecanismos de funcionamento

    Aprender fazendo Integrao comoprtica normalizada

    Avaliao integrada dosecossistemas

    Anlise econmica

    Nveis nacional (DERP/ODM),sectorial e subnacional

    Incluso das questes depobreza-ambiente no

    sistema de monitorizao

    Nveis nacional,sectorial e subnacional

    Nveis nacional,sectorial e subnacional

    Desenvolvimento e quanti-cao de medidas polticas

    Fortalecimento das instituiese capacidades

    Fortalecimento das instituiese capacidades

    Fortalecimento das instituiese capacidades

    Apoio de medidas polticas

    Apoio nanceiro paramedidas polticas

    Oramentao e nanciamento

    Indicadores e recolha de dados

    Recolha de dados concretosespeccos do pas

    Inuncia sobre os processospolticos

    Avaliaes preliminares

    Consciencializao ecriao de parcerias

    Figura 3.2 Relacionamento da Abordagem Programtica com o Ciclo de Planeamento do Desenvolvimento Nacional

    Integrar as ligaespobreza-ambiente nos

    processos polticos

    Denio da agendaEncontrar os

    pontos de entradae apresentar aargumentao

    Enfrentar o desaoda implementao

    Formulaode polticas

    Implementaoe monitorizao

    PLANEAMENTO DODESENVOLVIMENTO

    NACIONAL

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    Esta abordagem tambm proporciona um quadro para a integrao de questes ambien-tais especficas como as alteraes climticas, a gesto de produtos qumicos, a gesto sustentvel da terra, o consumo e a produo sustentveis e a gesto dos recursos hdri-cos no planeamento do desenvolvimento nacional. A caixa 3.1 fornece uma lista de verificao dos efeitos a alcanar atravs da aplicao da abordagem.

    Encontrar os Pontos de Entrada e Apresentar a Argumentao Este grupo de actividades define o cenrio para a integrao. Inclui actividades concebi-das para ajudar os pases a identificar efeitos ambientais favorveis aos pobres e pontos de entrada no processo de planeamento do desenvolvimento, bem como os que visam apresentar uma argumentao forte a favor da importncia da integrao das questes de pobreza-ambiente. Consiste assim no trabalho de implantao inicial que deve ter lugar antes de ser promovida uma iniciativa de integrao plena. As actividades funda-mentais incluem o seguinte:

    Realizao de avaliaes preliminares. A integrao das ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional comea pela execuo de avaliaes sobre a natureza das ligaes pobreza-ambiente e a vulnerabilidade s alteraes cli-mticas no pas, e de outras avaliaes que alargam o entendimento dos contextos governamentais, institucionais e polticos do pas. Isso envolve identificar os efeitos ambientais favorveis aos pobres que se pretende beneficiar e os factores de adminis-trao, institucionais e de desenvolvimento que afectam o planeamento e a tomada de decises aos nveis nacional, sectorial e subnacional. igualmente importante compreender os processos do governo, dos doadores e da sociedade civil que do forma s prioridades de desenvolvimento. Estas avaliaes preliminares possibilitam que os pases identifiquem os pontos de entrada certos e os possveis activistas para a integrao das questes de pobreza-ambiente.

    Consciencializao e criao de parcerias. As avaliaes preliminares descritas acima fornecem a informao necessria para consciencializar os decisores e desen-volver argumentos convincentes para parcerias internas ao governo e para alm dele. Desde o incio, a prioridade o envolvimento com os ministrios das finanas e do planeamento responsveis pelo desenvolvimento econmico e a chamada das insti-tuies ambientais para o processo de planeamento.

    Avaliao das instituies e capacidades. A complementar as avaliaes prelimina-res esto as avaliaes rpidas de necessidades institucionais e de capacidades. Esta actividade ajuda os pases a conceberem uma melhor iniciativa de integrao das questes de pobreza-ambiente, enraizada nas capacidades institucionais nacionais e locais.

    Implantao de mecanismos de funcionamento. O estabelecimento de acordos de funcionamento que possam sustentar um esforo a longo prazo para integrar as liga-es pobreza-ambiente uma actividade preparatria essencial. Envolve assegurar o empenhamento da parte dos participantes dos ministrios do planeamento e das finanas e daqueles que pertencem a agncias relacionadas com o ambiente. Os acor-dos feitos devem ser conducentes criao de um consenso entre os vrios partici-pantes na integrao das questes de pobreza-ambiente.

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    Encontrar os Pontos de Entrada e Apresentar a Argumentao

    9 Os pontos de entrada acordados para a integrao das questes de pobreza-ambiente e o respectivo guia de implementao tido em conta no plano de trabalho para a fase seguinte do esforo

    9 Os ministrios fulcrais (por exemplo, ambiente, finanas, planeamento, sectores-chave) rele-vantes para os pontos de entrada acordados so membros da comisso directiva ou da equipa operacional do esforo de integrao das questes de pobreza-ambiente

    9 Os activistas das questes de pobreza-ambiente articulam-se com os mecanismos de coorde-nao de doadores internos do pas

    9 As actividades a implementar em colaborao com as finanas e planeamento ou os minist-rios sectoriais relevantes includas no plano de trabalho para a fase seguinte do esforo

    Integrar as Ligaes Pobreza-Ambiente nos Processos Polticos

    9 Os dados concretos (especficos do pas) recolhidos sobre o contributo do ambiente para o bem-estar humano e o crescimento econmico favorvel aos pobres

    9 As ligaes pobreza-ambiente includas nos documentos de trabalho produzidos durante o processo poltico direccionado (por exemplo, os documentos produzidos pelos grupos de tra-balho do DERP ou os processos de planeamento sectorial e subnacional relevantes)

    9 A sustentabilidade ambiental includa como prioridade nos documentos de polticas conclu-dos do processo poltico direccionado (por exemplo, DERP, estratgia dos ODM, plano sectorial ou subnacional relevante)

    9 As medidas polticas para integrar as ligaes pobreza-ambiente quantificadas pelas finanas e pelo planeamento ou pelos ministrios sectoriais e rgos subnacionais

    Enfrentar o Desafio da Implementao

    9 Indicadores de pobreza-ambiente ligados aos documentos de polticas do planeamento do desenvolvimento nacional integrados no sistema nacional de monitorizao

    9 Dotaes oramentais aumentadas para medidas polticas para a rea de pobreza-ambiente de ministrios e rgos subnacionais no ligados ao ambiente

    9 Despesas pblicas aumentadas para medidas polticas para a rea de pobreza-ambiente de ministrios e rgos subnacionais no ligados ao ambiente

    9 Contributos de doadores internos ao pas aumentados para questes de pobreza-ambiente

    9 Integrao das questes de pobreza-ambiente estabelecida como prtica normalizada nos pro-cessos, procedimentos e sistemas governamentais e administrativos (por exemplo, circulares convocatrias oramentais, anlises sistemticas da despesa pblica com o ambiente e outros procedimentos e sistemas administrativos)

    Efeitos a Longo Prazo

    9 Fortalecimento de instituies e capacidades para a integrao das questes de pobreza- ambiente a longo prazo

    9 Condies para o melhoramento simultneo na sustentabilidade ambiental e realce da redu-o da pobreza

    Caixa 3.1 Lista de Verificao do Progresso na Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente

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    Integrar as Ligaes Pobreza-Ambiente nos Processos PolticosEste componente da abordagem programtica est relacionado com a integrao das ligaes pobreza-ambiente num processo poltico e nas medidas polticas resultantes. O esforo aponta para um processo poltico especfico como um plano de desenvolvi-mento nacional ou uma estratgia sectorial previamente identificado como um ponto de entrada. As suas actividades baseiam-se nos trabalhos anteriores, especialmente nas avaliaes preliminares, na consciencializao e na criao de parcerias e incluem o seguinte:

    Recolha de dados concretos especficos do pas. So empreendidos estudos anal-ticos direccionados, que complementam e exploram as avaliaes preliminares, para descoberta de dados concretos acerca da natureza das ligaes pobreza-ambiente no pas. Estes estudos desenvolvem mais argumentos que fundamentam a importncia da integrao das questes de pobreza-ambiente e ajudam a analisar o problema sob diferentes perspectivas. Tais estudos podem incluir avaliaes e anlises econmicas integradas dos ecossistemas, usando grandes volumes de dados nacionais para escla-recer os contributos especficos do ambiente e dos recursos naturais para a economia nacional e o bem-estar humano no pas.

    Os efeitos provveis das alteraes climticas devem ser integrados nestes estudos, fazendo uso de anlises adicionais, como avaliaes de vulnerabilidade e de adaptao, e tomando em considerao as lies e os contedos aprendidos durante o desenvolvi-mento das comunicaes nacionais e dos programas de aco de adaptao nacionais no mbito da Conveno Quadro das Naes Unidas para as Alteraes Climticas.

    Influncia sobre processos polticos. A recolha de dados concretos especficos do pas proporciona uma base slida para os esforos de influncia sobre os processos polticos visados. Equipados com tais dados concretos, os profissionais esto mais aptos a identificar prioridades e elaborar os argumentos necessrios para terem maior impacto no processo poltico visado (como um DERP, uma estratgia dos ODM ou um plano sectorial) e nos documentos associados. Isto exige ateno ao alinhamento com os mecanismos de administrao que do forma ao processo poltico, o que pode implicar o envolvimento com grupos de trabalho e intervenientes institucionais e a coordenao com doadores relevantes. O resultado do processo poltico visado deve incluir metas e objectivos estratgicos e especficos dos sectores, sustentados em pla-nos especficos de implementao.

    Desenvolvimento e quantificao de medidas polticas. Uma vez integradas as liga-es pobreza-ambiente no documento de poltica, os esforos de integrao continuam com o desenvolvimento e a quantificao inicial dos custos das medidas polticas. Estas medidas podem ser intervenes sistmicas (como medidas fiscais) ou podem ter um mbito mais limitado, como intervenes sectoriais (que visem, por exemplo, a legislao agrcola, a promoo das energias renovveis ou a conservao de reas pro-tegidas) ou intervenes subnacionais (que visem uma regio especfica do pas).

    Fortalecimento das instituies e das capacidades. O fortalecimento institucional e de capacidades ocorre ao longo da iniciativa de integrao e realizado atravs de um reforo tctico de capacidades, que inclui a partilha de resultados analticos, resumos de polticas, aprendizagem no trabalho e tipos mais formais de formao. Alm disso, os projectos de demonstrao podem ilustrar no terreno o contributo do ambiente para a economia, ao mesmo tempo que fortalecem as instituies e capaci-dades nacionais.

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    Enfrentar o Desafio da ImplementaoO conjunto final e mais sustentado das actividades do esforo de integrao centra-se no objectivo de tornar operacional a integrao das questes de pobreza-ambiente atravs do envolvimento nos processos de oramentao, implementao e monitorizao. Estas actividades visam assegurar que a integrao das questes de pobreza-ambiente se estabelea como prtica normalizada no pas e incluem o seguinte:

    Integrao das ligaes pobreza-ambiente no sistema de monitorizao. TA inte-grao destas ligaes no sistema nacional de monitorizao possibilita que um pas acompanhe as tendncias e o impacto das polticas, bem como questes emergentes tais como as alteraes climticas. Com base nas metas e nos objectivos especficos de sectores, includos no DERP ou em documentos de polticas similares, as priori-dades fundamentais so: conceber indicadores de pobreza-ambiente apropriados, fortalecer a recolha e a gesto de dados e integrar plenamente as ligaes pobreza- ambiente no sistema nacional de monitorizao.

    Oramentao favorvel integrao das questes de pobreza-ambiente e finan-ciamento da mesma. Esta actividade implica o envolvimento nos processos de ora-mentao, para assegurar que os mesmos incorporem o valor econmico do contri-buto do ambiente para a economia nacional e o crescimento econmico favorvel aos pobres, e que as medidas polticas associadas integrao das questes de pobreza- ambiente sejam financiadas. O governo tambm precisa de desenvolver opes de financiamento, incluindo intervenes para melhorar a base financeira interna para instituies e investimentos ambientais.

    Apoio de medidas polticas aos nveis nacional, sectorial e subnacional. Esta acti-vidade envolve a colaborao com rgos sectoriais e subnacionais, para reforar as suas capacidades de integrar as ligaes pobreza-ambiente no seu trabalho e imple-mentar eficazmente medidas polticas a vrios nveis.

    Fortalecimento das instituies e das capacidades. No sentido de fortalecer as ins-tituies e as capacidades a longo prazo, vital estabelecer a integrao das questes de pobreza-ambiente como prtica normalizada nos processos, procedimentos e siste-mas governamentais e administrativos a todos os nveis.

    3.2 Papel dos Intervenientes da Comunidade de Parceiros de DesenvolvimentoUma integrao bem sucedida requer o envolvimento de muitos intervenientes, que abrangem actores governamentais e no-governamentais e a mais ampla comunidade de parceiros de desenvolvimento (incluindo agncias das Naes Unidas) em actividade no pas. Centrando-se nos efeitos ambientais favorveis aos pobres a serem alcanados, um esforo de integrao deve basear-se na anlise cuidadosa e na compreenso dos papis dos diferentes intervenientes nos processos de desenvolvimento do pas, bem como no modo de melhor os complementar, conforme expresso na figura 3.3. Isto inclui a consciencializao acerca do facto de os intervenientes terem diferentes interes-ses e de alguns poderem no dar tanto apoio como outros integrao das questes de pobreza-ambiente, gesto melhorada do ambiente e s reformas favorveis aos pobres. vital compreender o que motiva os vrios intervenientes e determinar como elaborar a argumentao apropriada que apele aos diferentes interesses.

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    Apoio ao desenvolvimento (por exemplo, tcnico e nanceiro)

    Planeamento dodesenvolvimento nacional

    (por exemplo, formulao, oramentaoe nanciamento de polticas)

    Tomada de decises privadas(por exemplo, comportamentos

    e investimentos)

    Comunidade deparceiros de

    desenvolvimento

    Actoresgovernamentais

    (por exemplo, rgos doambiente, das nanas

    e do planeamento,rgos sectoriais e

    subnacionais)

    Actoresno-governamentais

    (por exemplo, sociedadecivil, sectores dos

    negcios e da indstria,pblico em geral e

    comunidades locais)

    Efeitos ambientaisfavorveis aos pobres Meios de subsistncia Resilincia a riscos

    ambientais Sade Desenvolvimento

    econmico

    Figura 3.3 Papis dos Vrios Intervenientes na Consecuo dos Efeitos Ambientais Favorveis aos Pobres

    Actores Governamentais e No-GovernamentaisO esforo de integrao envolve a cooperao de muitos actores governamentais, cada um dos quais levanta desafios e oportunidades significativos ao longo do processo (qua-dro 3.1).

    Uma deciso inicial, de carcter vital, a de determinar qual o organismo governamen-tal que conduzir o esforo de integrao. Devido relao estreita entre a integrao das questes de pobreza-ambiente e o planeamento do desenvolvimento nacional, os ministrios do planeamento ou das finanas, em colaborao com as instituies ambientais, sero geralmente uma escolha lgica.

    Os actores no-governamentais podem desempenhar um papel fundamental na promo-o da integrao das ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional, e entre eles podem encontrar-se activistas poderosos. O envolvimento destes actores, incluindo as comunidades locais, uma parte integrante de uma iniciativa de integrao e deve ocorrer ao longo de todo o esforo. Os desafios que podem ser encon-trados no envolvimento com actores no-governamentais incluem a falta de conscien-cializao, a fraqueza de capacidades e a conflituosidade de interesses em relao s medidas polticas na rea de pobreza-ambiente (quadro 3.2).

    Comunidade de Desenvolvimento

    Harmonizao, Alinhamento e Coordenao

    De acordo com a Agenda de Acra para a Aco (2008), a Declarao de Paris sobre a eficcia da Ajuda (2005) e a Declarao de Roma sobre a Harmonizao (2003), os actores do desenvolvimento esto a esforar-se para aumentarem a harmonizao, o ali-nhamento e a coordenao do seu apoio aos governos dos pases em desenvolvimento (Banco Mundial 2008; OCDE 2005: Harmonizao da Ajuda). importante assegurar que os esforos de integrao sejam incorporados nos mecanismos de coordenao dos doadores. Isto inclui o envolvimento com grupos de doadores e doadores individuais relevantes para assegurar que as operaes de integrao estejam em linha com os prin-cpios de harmonizao, alinhamento e coordenao acordados para o pas.

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    Actor Desafios Oportunidades

    Gabinete do chefe de Estado

    Tem muitas prioridades a tratar

    Pode enfrentar conflitos de interesses

    Converter este actor num activista

    Fazer com que assuma um papel de liderana no esforo de integrao

    Partidos polticos Falta de envolvimento directo no planea-mento do desenvolvimento

    Podem ter uma conscincia limitada das questes relacionadas com o ambiente

    Podem enfrentar conflitos de interesses

    Usar o processo eleitoral para criar consciencia-lizao sobre questes de pobreza-ambiente

    Fazer dessas questes um tema das campanhas polticas

    Parlamento Frequentemente sem envolvimento em todas as fases do planeamento do desen-volvimento nacional

    Pode ter uma conscincia limitada das questes relacionadas com o ambiente

    Pode enfrentar conflitos de interesses

    Potenciar o seu papel legislativo

    Fomentar o seu papel de activismo, especial-mente para a oramentao

    Cooperar com (ou ajudar a criar) comisses para questes de pobreza-ambiente (por exem-plo, o acesso a terras)

    Sistema judicial Pode ter uma conscincia limitada das questes relacionadas com o ambiente

    Pode haver falta de aplicao das leis

    Pode enfrentar conflitos de interesses

    Desenvolver sinergias com as leis relativas boa administrao (por exemplo, corrupo, comrcio ilegal, evaso fiscal)

    rgos das finanas e do planeamento

    As ligaes com as instituies ambientais podem ser fracas

    O ambiente pode no ser visto como uma prioridade para o desenvolvimento econ-mico e a reduo da pobreza

    Converter estes rgos em activistas (por exem-plo, atravs de secretarias permanentes)

    Fazer com que assumam um papel de liderana no esforo (com instituies ambientais)

    Desenvolver sinergias com medidas de recolha de receitas (por exemplo, combate corrupo, evaso fiscal)

    Instituies ambientais

    As capacidades financeiras, humanas e de liderana podem ser fracas

    Podem estar centradas em projectos e no no planeamento do desenvolvimento

    Podem ter uma abordagem centrada na proteco e no no uso sustentvel do ambiente

    Utilizar os seus conhecimentos, inclusive na monitorizao e nas alteraes climticas

    Desenvolver o seu potencial para assumirem vrios papis (por exemplo, activismo, coorde-nao)

    Desenvolver sinergias (por exemplo, com as obrigaes relativas a acordos ambientais multilaterais)

    Ministrios sectoriais e rgos subnacionais

    Podem ter capacidades fracas no que se refere ao ambiente

    A falta de financiamento dos rgos subna-cionais pode levar ao excesso de explorao de recursos naturais

    As unidades ambientais no esto habitual-mente bem relacionadas com o planeamen-to do desenvolvimento

    Apoi-los no cumprimento dos seus papis no planeamento do desenvolvimento

    Fazer uso do facto de alguns destes rgos lidarem directamente com activos ambientais (por exemplo, pescas, silvicultura)

    Incentiv-los a integrar as ligaes pobreza- ambiente nos planos e oramentos

    Gabinete nacional de estatstica

    A recolha e a gesto de dados so frequen-temente fracas

    Os dados sobre pobreza-ambiente no so, geralmente, captados por inquritos regulares

    A capacidade para produzir informaes relevantes para as polticas pode ser fraca

    Desenvolver indicadores de pobreza-ambiente e integr-los no sistema nacional de monitori-zao

    Reforar a capacidade de recolha, gesto e an-lise de dados sobre ligaes pobreza-ambiente

    Quadro 3.1 Desafios e Oportunidades no Trabalho com Actores Governamentais

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    Actor Desafios Oportunidades

    Organizaes da sociedade civil

    As capacidades podem ser fracas, especialmente no que se refere ao envolvi-mento no planeamento do desenvolvimento nacional

    Frequentemente sem envolvimento em todas as fases do planeamento do desenvolvimento nacional

    Fazer uso dos seus conhecimentos, incluindo a abordagem das questes de gnero relacionadas com o ambiente

    Ajudar a reflectir as realidades locais e dar voz a elementos da comunidade

    Fomentar o seu papel na recolha e partilha de informaes e na consciencializao (dos responsveis pela formulao de polticas s comunidades locais)

    Incentiv-los no seu papel de vigilantes (ou seja, na promoo da transparncia e da responsabilizao)

    Convert-los em activistas pela integrao das questes de pobreza-ambiente

    Instituies acadmicas e de investiga-o

    Podem estar desligadas dos processos de planea-mento do desenvolvimento nacional

    A capacidade para produzir informaes relevantes para as polticas pode ser fraca

    Fazer uso da sua experincia, particularmente no que diz respeito recolha de dados, anlise das ligaes pobreza-ambiente e recolha de dados concretos especficos do pas

    Promover equipas interdisciplinares

    Promover a cooperao Sul-Sul e Norte-Sul (abordagens gemina-das)

    Negcios e indstria

    Podem entender a gesto e a legislao ambientais (por exemplo, as avaliaes de impacto ambiental) como uma barreira s suas actividades

    Atenuar o efeito das suas actividades que tm um grande impacto na pobreza e no ambiente (por exemplo, minerao, silvicultura, abastecimento de gua)

    Fazer uso dessa grande fonte de conhecimento

    Fazer uso dessa grande fonte de investimento

    Centrar atenes na eficincia dos recursos e no consumo e na produo sustentveis (por exemplo, energia sustentvel, eficin-cia da gua, gesto integrada de resduos)

    Pblico em geral, comu-nidades locais e agricultores e pescadores em pequena escala

    A capacidade para fazerem ouvir as suas vozes pode ser fraca ou inexistente

    Geralmente desligados dos processos de planeamen-to do desenvolvimento nacional

    Incluir os grupos mais pobres da populao

    Integrar as vozes dos mais pobres ao definir os efeitos do esforo de integrao das questes de pobreza-ambiente

    Fazer uso do seu conhecimento sobre questes de pobreza-am-biente ao nvel popular

    Meios de co-municao

    Podem ter falta de conhe-cimento e ateno s ques-tes de pobreza-ambiente

    Podem ter falta de liberda-de de expresso

    Fazer uso do seu papel na formao de opinies, tanto dos deciso-res como do pblico em geral

    Trabalhar com eles para incentivar o envolvimento pblico no planeamento do desenvolvimento nacional

    Colaborar com eles para fazer chegar a mensagem ao nvel comu-nitrio

    Proporcionar-lhes informao cientfica e relacionada com as polticas

    Quadro 3.2 Desafios e Oportunidades no Trabalho com Actores No-Governamentais

    Apoio Poltico, Financeiro e Tcnico

    A colaborao e o dilogo estreitos com os vrios actores do desenvolvimento so vitais, no somente para assegurar a relevncia e a eficcia da iniciativa de integrao, mas tambm para obter apoio poltico e financeiro.

    A despesa dos doadores com o ambiente no tem acompanhado o ritmo dos aumentos globais nos oramentos da ajuda. Alm disso, a despesa dos doadores com o ambiente no tem sido to coordenada como os esforos noutros sectores (Hicks et al. 2008). A

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    Iniciativa de Apoio aos ODM do PNUD. A iniciativa est concebida para mobilizar rapidamen-te o apoio tcnico do PNUD e do sistema das Naes Unidas, no sentido de ajudar os governos nacionais a alcanarem os ODM. Proporciona aos pases uma lista de servios que podem ser adaptados ao contexto de desenvolvimento e s exigncias de cada pas, nacional e localmente, em trs reas focais: diagnsticos, avaliaes de necessidades e planeamento, baseados nos ODM; alargamento do acesso a opes polticas, incluindo a quantificao de custos; e reforo da capa-cidade nacional para a consecuo de objectivos.

    Caixa 3.2 Iniciativas das Naes Unidas e seu Contributo Potencial para a Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente

    (continuao)

    falta de coordenao e adeso dos doadores reduz o mbito de uma abordagem mais estratgica e unificada gesto ambiental e reduo da pobreza. Para desenvolver um programa de integrao plenamente eficaz, necessrio criar e incorporar o apoio para a integrao das questes de pobreza-ambiente em grupos de doadores que trabalham em diferentes sectores ou reas (por exemplo, as alteraes climticas).

    A longo prazo, a colaborao com actores do desenvolvimento pode conduzir a um nmero acrescido de actores que adiram iniciativa e contribuam com fundos para a integrao sustentada atravs de vrios instrumentos por exemplo, sob a forma de uma abordagem de amplitude sectorial.

    Um esforo de integrao das questes de pobreza-ambiente tambm beneficia com os conhecimentos tcnicos dos doadores, das organizaes no-governamentais (ONG) internacionais e das instituies de investigao activas nas reas do ambiente, do desenvolvimento e da reduo da pobreza.

    Naes Unidas

    A cooperao, a coordenao e a harmonizao entre as agncias das Naes Unidas so importantes para aumentar a eficcia e para obter apoio poltico para o seu trabalho no pas. Quando uma ou vrias agncias das Naes Unidas apoiarem uma iniciativa de inte-grao das questes de pobreza-ambiente, o programa deve ser incorporado no Quadro das Naes Unidas para o Auxlio ao Desenvolvimento, no Programa One UN (quando aplicvel) e nos programas de trabalhos das agncias participantes (UNDG 2007).

    Como agncia das Naes Unidas lder na rea do desenvolvimento e da reduo da pobreza, o PNUD est numa posio estratgica para promover a integrao no planea-mento do desenvolvimento nacional junto do governo e de outros parceiros. No mbito do PNUD, importante assegurar que a reduo da pobreza e as prticas energticas e ambientais sejam envolvidas nesse esforo. Outras agncias das Naes Unidas activas no pas so igualmente parceiros potenciais, devido aos seus conhecimentos tcnicos e aos seus programas e redes existentes.

    Os profissionais que trabalham na integrao das ligaes pobreza-ambiente podem procurar associar-se s iniciativas das Naes Unidas descritas na caixa 3.2.

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    Caixa 3.2 Iniciativas das Naes Unidas e seu Contributo Potencial para a Integrao das Questes de Pobreza-Ambiente (continuao)

    Parceria do PNUD-PNUMA sobre as Alteraes Climticas e o Desenvolvimento. A parceria visa ajudar os pases em desenvolvimento a alcanarem o desenvolvimento sustentvel perante um clima em mudana. Tem dois objectivos nucleares: incorporao da adaptao s alteraes climticas nos planos de desenvolvimento nacional e nos quadros de cooperao das Naes Unidas e ajuda aos pases para que acedam ao financiamento de carbono e a tecnologias mais limpas. A parceria integra as preocupaes com as alteraes climticas nas estratgias de desen-volvimento nacional atravs de uma abordagem por trs vias, que envolve as estratgias de desenvolvimento nacional, a programao das Naes Unidas para o pas e os projectos-piloto.

    Iniciativa de Parceria do PNUD-PNUMA para a Gesto Segura de Produtos Qumicos. A parceria ajuda os pases a avaliarem os seus regimes nacionais para a gesto segura de produtos qumicos, a desenvolverem planos para abordar as lacunas desses regimes e a melhorarem a integrao das prioridades da gesto segura de produtos qumicos na agenda do discurso e do planeamento do desenvolvimento nacional. A parceria est actualmente activa no Uganda, na Antiga Repblica Jugoslava da Macednia and Zmbia.

    Programa de Consumo e Produo Sustentveis do PNUMA. O programa centra-se na promo-o do consumo e da produo sustentveis entre decisores pblicos e privados. As actividades visam facilitar o processamento e o consumo de recursos naturais de uma forma ambientalmente mais sustentvel ao longo de todo o ciclo de vida. Ao faz-lo, o trabalho contribui para dissociar o crescimento na produo e no consumo do esgotamento de recursos e da degradao ambiental. A abordagem oferece numerosas oportunidades, tais como a reduo de custos de produo, a criao de novos mercados e empregos, a preveno da poluio e o salto para tecnologias eficientes e competitivas.

    Programa Colaborativo das Naes Unidas sobre a Reduo de Emisses Causadas pela Desflorestao e pela Degradao das Florestas nos Pases em Desenvolvimento (UN-REDD). Este programa uma colaborao entre a Organizao das Naes Unidas para a Alimentao e a Agricultura, o PNUD e o PNUMA, que visa gerir as florestas de uma forma sustentvel para que beneficiem as comunidades e contribuam para reduzir as emisses de gases com efeito de estufa. O objectivo imediato avaliar se as estruturas de pagamento e o apoio capacidade podem criar os incentivos para garantir redues duradouras e mensurveis das emisses e, em simultneo, manter os outros servios dos ecossistemas que as florestas proporcionam. O programa procura estabele-cer respostas e contributos de todo o governo para as estratgias nacionais, no sentido de reduzir as emisses da desflorestao e da degradao das florestas.

    Iniciativa Pobreza Meio-Ambiente do PNUD-PNUMA. A IPMA d apoio aos programas lidera-dos pelos pases para a integrao das ligaes pobreza-ambiente no planeamento do desenvol-vimento nacional. data da publicao, a IPMA estava a trabalhar no Burkina Faso, no Buto, no Malawi, no Mali, na Mauritnia, em Moambique, no Qunia, na Repblica Unida da Tanznia, no Ruanda, no Uganda e no Vietname. A iniciativa apoia os pases ao longo do esforo de integrao, desde a execuo das avaliaes preliminares ao apoio s medidas polticas. Os pases podem aceder a auxlio financeiro e tcnico para implementarem equipas nacionais dedicadas, basea-das na(s) instituio(es) liderada(s) pelo governo, e executarem actividades para a abordagem da situao especfica do pas. A abordagem da IPMA proporciona um quadro para a integrao conjunta de vrias questes ambientais como as alteraes climticas, a gesto de produtos qu-micos, a gesto sustentvel da terra, o consumo e a produo sustentveis e a gesto dos recursos hdricos.

  • 25

    mbito Proporciona orientao sobre a avaliao das ligaes pobreza-ambiente (seco 4.1)

    Discute as avaliaes dos contextos governamentais, institucionais e polticos de um pas (seco 4.2)

    Analisa a consciencializao e a criao de parcerias (seco 4.3)

    Introduz as avaliaes de necessidades institucionais e de capacidades (seco 4.4)

    Destaca os acordos de trabalho para um esforo de integrao sustentado (seco 4.5)

    Mensagens Essenciais Identificao dos efeitos ambientais favorveis aos pobres sobre os quais se devem

    centrar atenes e dos pontos de entrada para a integrao das questes de pobreza- ambiente no planeamento do desenvolvimento nacional

    Consciencializao e desenvolvimento de parcerias com vista a apresentar a argumenta-o a favor da integrao

    Envolvimento desde o incio com os ministrios das finanas e do planeamento e cha-mada das instituies ambientais para os processos de planeamento do desenvolvimento nacional

    Compreender quais os actores institucionais que tm papis fundamentais e que podem estar dispostos a defender a integrao das questes de pobreza-ambiente

    Captulo4

    Encontrar os Pontos de Entrada e Apresentar a Argumentao

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    4.1 Avaliaes Preliminares: Compreender as Ligaes Pobreza-Ambiente Habitualmente, o primeiro passo de um esforo de integrao das questes de pobreza- ambiente empreender uma avaliao preliminar da situao ambiental e socioeco-nmica do pas. O objectivo determinar a natureza das ligaes pobreza-ambiente no pas. Uma outra meta definir os efeitos ambientais favorveis aos pobres sobre os quais se deve centrar o esforo de integrao das questes de pobreza-ambiente e desenvolver argumentos para comear a apresentar a argumentao a favor de tal inicia-tiva. Atravs desta avaliao, os actores envolvidos na iniciativa de integrao comeam a aperfeioar o seu entendimento da perspectiva do seu prprio sector ou organizao subnacional dos desafios ambientais do pas, das ligaes pobreza-ambiente e da sua relevncia para as prioridades nacionais.

    AbordagemEstas avaliaes preliminares das ligaes pobreza-ambiente baseiam-se sobretudo na informao existente. Por conseguinte, a sua execuo inclui a recolha de informao de fontes existentes e a mobilizao dos conhecimentos locais. Seguidamente, apresenta-mos alguns dos elementos a considerar:

    Estado do ambiente. Anlise e recolha de informao sob