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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa Integrado de Ps-Graduao em Biologia Tropical e Recursos Naturais
FENOLOGIA DA FLORAO, POLINIZAO E SISTEMA REPRODUTIVO DE
DUAS ESPCIES SIMPTRICAS DE INGA NA AMAZNIA CENTRAL
EDUARDO CRISTO DE OLIVEIRA BARROS
Manaus, Amazonas
Dezembro, 2007
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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa Integrado de Ps-Graduao em Biologia Tropical e Recursos Naturais
FENOLOGIA DA FLORAO, POLINIZAO E SISTEMA REPRODUTIVO
DE DUAS ESPCIES SIMPTRICAS DE INGA NA AMAZNIA CENTRAL
EDUARDO CRISTO DE OLIVEIRA BARROS
Orientador: Dr. ANTONIO CARLOS WEBBER
Co-orientadora: Dra. ISABEL CRISTINA MACHADO
Dissertao apresentada ao Programa
Integrado de Ps-Graduao em
Biologia Tropical e Recursos Naturais
do convnio INPA/UFAM como parte
dos requisitos para obteno do ttulo de
Mestre em CINCIAS BIOLGICAS,
rea de concentrao em BOTNICA.
Manaus, Amazonas
Dezembro, 2007
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Barros, Eduardo Cristo de Oliveira
Fenologia da florao, polinizao e sistema reprodutivo de duas espcies simptricas de Inga na
Amaznia Central / Eduardo Cristo de Oliveira Barros Manaus: INPA/UFAM
2007.
xiv, 84 p. ilust.
Dissertao de Mestrado rea de Concentrao em Botnica
1. Floresta Amaznica 2. Inga 3. esfingofilia 4. psicofilia 5. Sistema reprodutivo.
CDD 19 ed. 583.322
Sinopse:
A fenologia reprodutiva, a ecologia da polinizao e o sistema reprodutivo de Inga edulis e I. stipularis
foram analisados em uma rea de floresta de terra firme na Amaznia Central, em que foi comparado
o grau de similaridade entre os seus visitantes florais e o perodo de florao. Analises microscpicas
foram utilizadas para avaliar o sistema reprodutivo de ambas as espcies e procurou-se determinar
quais fatores proporcionam o excesso de absciso floral.
Palavras-chave:
Inga, biologia floral, fenologia reprodutiva, tubo polnico, auto-incompatibilidade de ao tardia,
floresta de terra firme.
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Aos meus pais Jazon Maurcio e
Isabel Cristo a quem tudo devo;
Aos meus irmos Paulo, Catarina e Jazon Filho
pelo apoio, considerao e respeito;
Ao meu sobrinho caro,
por deixar minha vida mais alegre;
A minha noiva Lvia Moraes,
pelos oito anos de sincera companhia.
Dedico
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AGRADECIMENTOS
Deus por iluminar meus caminhos durante todos os dias de minha vida;
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia em convnio com a Universidade
Federal do Amazonas pelo apoio oferecido para a realizao do curso de mestrado em
Botnica;
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) pela
concesso da bolsa de estudos;
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), pelo apoio
financeiro;
A comunidade Fazenda Experimental (UFAM), pelo suporte logstico para a realizao
deste trabalho, em especial ao Dr. Marcos Antnio;
Durante os dois anos de Mestrado me tornei amigo de pessoas com quem convivi e
trabalhei. Portanto, gostaria de deixar registrado aqui meus sinceros agradecimentos:
Ao meu orientador Dr. Antonio Carlos Webber pelo apoio, pacincia e por suas
importantes sugestes e tempo dedicado em todas as etapas deste trabalho;
A minha Co-orientadora Dra. Isabel Cristina Machado pela disponibilidade e valiosas
sugestes para a realizao deste trabalho;
Dra. Ana Virgnia Leite pelo entusiasmo, sugestes e pela ajuda durante as
interminveis anlises de microscopia de fluorescncia;
Ao Dr. Thierry Gasnier (UFAM) pelo auxlio com as anlises estatsticas;
Ao Laboratrio de Citogentica Vegetal (UFPE) por disponibilizar aparelhagem
indispensvel para a realizao desse trabalho;
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v
Aos integrantes do Laboratrio de Biologia Floral e Reprodutiva (Polinizar) (UFPE),
em especial a Msc. Tarcila Nadia pela pacincia e ajuda;
Ao Robson Rodrigues pelos excelentes momentos vividos em Manaus, convvio
domstico e amizade que ir se perdurar por anos e anos;
Liliane Nomia pelo convvio enriquecedor que vem desde os tempos de CCB at os
de repblica manauara. Obrigado pela sua amizade de longa data;
A todos os funcionrios da Fazenda Experimental da UFAM, pelo excelente convvio e
constante aprendizado, em especial ao Pavo, Piau e Deisivaldo pela indispensvel
ajuda durante o trabalho de campo;
Aos colegas de turma Andr Junqueira, Karla Ferreira, Liliane Noemia, Mrio
Fernandez, Mrio Terra, Rafael Assis, Sejana Rosa, Tatiana Andreza e Thaysa Moura
pelo excelente convvio, solidariedade e amizade.
Sonia Maciel, pela amizade e por me fazer aprender que a vida deve ser sempre sem
estresse;
Neide pela ajuda imprescindvel ao longo desses anos de curso. Obrigado pelo apoio
nas horas mais necessrias;
Gisele (Gis) e Alessandra (Al), pelas longas horas de conversas, amizade e auxlio
em tudo que precisei.
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RESUMO GERAL A fenologia reprodutiva, a biologia floral os sistemas de polinizao e de reproduo de
Inga edulis Mart. e Inga stipularis D.C. foram estudados, respectivamente, em uma rea
de floresta de terra firme localizada na Fazenda Experimental da Uiversidade Federal do
Amazonas (UFAM), Manaus, AM (23857,6S 60311W), no perodo de novembro
de 2006 a novembro de 2007. As flores de I. edulis e I. stipularis constituem unidades
de polinizao do tipo pincel, sendo a atrao visual exercida pelos numerosos estames
livres. Essas so hermafroditas, ssseis, actinomorfas e pentmeras. O padro de
florao do tipo contnuo em I. edulis e anual em I. stipularis. As flores de I. edulis e
I. stipularis produzem nctar desde boto, acumulando at 26,5l e 3,7l com
concentrao mdia de 13,5% e 12,5 % respectivamente. Em ambas as espcies o nctar
continuamente secretado mesmo aps repetidas extraes. Oito espcies de
esfingdeos e duas espcies de beija-flores foram os principais polinizadores de I. edulis.
Dezesseis espcies de borboletas foram os polinizadores primrios de I. stipularis. As
abelhas Melipona fulva e Megachile sp visitaram flores de ambas as espcies, porm
foram considerados polinizadores ocasionais. Apesar da similaridade floral, as duas
espcies de Inga estudadas apresentam perodos de atividade floral distintos,
provocando divergncia entre o sistema de polinizao, sendo I. edulis uma espcie
tipicamente esfingfila e I. stipularis uma espcie psicfila. De acordo com os
resultados obtidos com os experimentos do sistema reprodutivo, observou-se que ambas
as espcies no formam frutos a partir de autopolinizaes manuais e espontneas e que
o percentual de formao de frutos provenientes de polinizaes cruzadas em I. edulis e
I. stipularis (5% e 21%) superior ao da polinizao aberta (1% e 7%),
respectivamente. As anlises de crescimento de tubos polnicos por meio de
microscopia de fluorescncia revelaram que apenas uma pequena frao dos tubos
atinge os vulos de I. edulis com 8 e 12 horas aps as polinizaes, sendo encontrado o
maior percentual de tubos penetrando as micrpilas dos vulos tanto de I. edulis como
de I. stipularis 24 horas aps as polinizaes. O ritmo de chegada dos tubos nos vulos
oriundos de autopolinizaes e de polinizaes cruzadas semelhante nas duas
espcies. Os baixos ndices de formao de frutos em I. edulis e I. stipularis
provavelmente so decorrentes do elevado ndice de geitonogamia promovido pelos
polinizadores e pelo sistema de auto-incompatibilidade de ao tardia ocorrente nessas
espcies.
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GENERAL ABSTRACT
The reproductive phenology, the floral biology and the pollination and breeding systems
of Inga edulis Mart. and Inga stipularis D.C, were studied respectively in an area of
land forest, located in the UFAM Experimental Farm, Manaus, AM (238'57,6"S
603'11"W), from November/2006 to November, 2007. The flowers of Inga edulis and
Inga stipularis constitute a pollination unit like a brush, whose visual attraction is
exerted by numerous free stamens. Their flowers are hermaphrodite, spike,
actinomorphic and pentamerous. The flowering pattern is continual for I. edulis and
annual for I. stipularis. The flowers of I. edulis and I. stipularis produce nectar from the
bud phase accumulating until 26,5l and 3,7l with a mean concentration of 13,5% and
12,5 % respectively. In both species, the nectar is replaced after repeated extractions.
Eight species of hawkmonths and two of hummingbirds were the main pollinators of I.
edulis. Sixteen species of butterflies, but ten of the family Hesperiidae and three of the
family Papilionoidae were the primary pollinators of I. stipularis. The bees Melipona
fulva and Megachile sp visited flowers of both species, however, they were considered
occasional pollinators. Despite the fact that the floral similarity, the two Inga species
studied presented a distinct period of floral activity, which caused a divergence in the
pollination systems, nevertheless, the I. edulis is a typical sphingophilous species and I.
stipularis a psychophilous. The results showed that both species do not set fruit from
self-pollination and that the percentage of fruit set proceeding from cross-pollination in
I. edulis and I. stipularis (5% and 21%) eas superior to the open pollination (1% and
7%) respectively. The analyses of pollen tube growth by means of fluorescence
microscopy disclosed that only a small fraction of the tube reaches the ovules of I.
edulis 8 and 12 hours after pollination, but found the greater percentile of tubes
penetrating micropyles of the ovules of I. edulis as of I. stipularis 24 hours after
pollinations. The arrival speed of the tubes in the ovules deriving from self-pollination
and cross-pollination is similar in both species. The low indices of fruit set in I. edulis
and I. stipularis probably is results from the raised index of geitonogamy promoted by
the pollinators and the late-acting self-incompatibility occurring in these species.
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viii
SUMRIO
Pgina
SINOPSE.......................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTOS....................................................................................................iv
RESUMO GERAL ..........................................................................................................vi
GENERAL ABSTRACT..................................................................................................vi
LISTA DE TABELAS......................................................................................................x
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... xii
1. INTRODUO.............................................................................................................1
2. REVISO BIBLIOGRFICA......................................................................................2
2.1 A Subfamlia Mimosoideae................................................................................. 2
2.2 Biologia floral e sndromes de polinizao na subfamlia Mimosoideae............ 3
2.3 Flores em excesso vs. sucesso reprodutivo ......................................................... 3
2.4 Sistema reprodutivo e auto-incompatibilidade de ao tardia (LSI) .................... 4
3. OBJETIVOS..................................................................................................................6
3.1 Geral .................................................................................................................... 6
3.2 Especficos........................................................................................................... 6
4. MANUSCRITOS
4.1 Fenologia reprodutiva e sistemas de polinizao divergentes em duas espcies
simptricas de Inga Mill. (Fabaceae Mimosoideae) na Amaznia Central............... 8
ABSTRACT.............................................................................................................. 9
RESUMO .................................................................................................................. 9
INTRODUO ...................................................................................................... 10
MATERIAL E MTODOS .................................................................................... 11
rea de Estudo ................................................................................................... 11
Delineamento amostral ....................................................................................... 11
Fenologia Reprodutiva ................................................................................... 11
Biologia floral................................................................................................. 12
Produo de Nctar......................................................................................... 12
Visitantes florais e disponibilidade polnica................................................... 13
Material botnico............................................................................................ 14
RESULTADOS....................................................................................................... 14
Fenologia Reprodutiva ................................................................................... 14
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ix
Biologia floral................................................................................................. 15
Dinmica da produo de nctar .................................................................... 16
Visitantes florais e disponibilidade polnica................................................... 17
DISCUSSO........................................................................................................... 21
Fenologia Reprodutiva ................................................................................... 21
Biologia floral................................................................................................. 22
Dinmica da produo de nctar .................................................................... 23
Visitantes florais e disponibilidade polnica................................................... 25
Agradecimentos....................................................................................................... 28
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................... 29
4.2 Limitao de polinizadores e mecanismo de auto-incompatibilidade como
causas da baixa formao de frutos em duas espcies simptricas de Inga Mill.
(Fabaceae Mimosoideae) na Amaznia Central...................................................... 50
ABSTRACT............................................................................................................ 51
RESUMO ................................................................................................................ 51
INTRODUO ...................................................................................................... 52
MATERIAL E MTODOS .................................................................................... 53
rea de Estudo ................................................................................................... 53
Delineamento amostral ....................................................................................... 53
Sistema reprodutivo........................................................................................ 53
Sucesso reprodutivo........................................................................................ 55
Material Botnico ........................................................................................... 55
RESULTADOS....................................................................................................... 55
Sistema reprodutivo........................................................................................ 56
Sucesso reprodutivo........................................................................................ 56
DISCUSSO........................................................................................................... 57
Sistema reprodutivo........................................................................................ 57
Sucesso reprodutivo........................................................................................ 58
Agradecimentos....................................................................................................... 62
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.................................................................... 63
5.CONCLUSES GERAIS ............................................................................................72
6.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................................75
ANEXO ...........................................................................................................................80
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x
LISTA DE TABELAS
Capitulo 1
Tabela 1: Mdias dos nmeros de polades por antera, por flor, gros de plen por
polades, gros de plen por flor, nmero de vulos por flor, comprimento dos
elementos florais (mm) e viabilidade polnica (%) de Inga edulis e I. stipularis.
Tabela 2: Visitantes de Inga edulis em uma rea de floresta de terra firme na Anaznia
Central com as respectivas freqncias durante o estgio da florao, freqncia de
visitas, perodo de atividade, recurso coletado e resultado da visita. I = incio da
florao; P = pico da florao; F = fim da florao; MC = muito comum; C = comum; R
= raro; D = diurno; Cr = crepuscular; N = noturno; Ne = nctar; P = plen; Po =
polinizador; Pi = pilhador.
Tabela 3: Visitantes de Inga stipularis em uma rea de floresta de terra firme na
Amaznia Central com as respectivas freqncias durante o estgio da florao,
freqncia de visitas, recurso coletado e resultado da visita. I = incio da florao; P =
pico da florao; F = fim da florao; MC = muito comum; C = comum; R = raro; Ne =
nctar; P = plen; Po = polinizador; Pi = pilhador.
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Capitulo 2
Tabela 1: Nmero mdio de gros de plen por flor, vulos por flor, razo plen/vulo
(P/O), razo semente/ vulo (S/O), razo fruto/flor (Fr/F) e nmero mdio de gros de
plen por poldes/nmero mdio de vulos por flor em Inga edulis e I. stipularis.
Tabela 2: Resultados dos experimentos do controle e das polinizaes manuais, eficcia
reprodutiva e polinizao seletiva de Inga edulis e I. stipularis na Fazenda Experimental
da UFAM, municpio de Manaus, AM.
Tabela 3: Incidncia de vulos penetrados pelos tubos polnicos 8, 12 e 24 horas aps as
polinizaes manuais e cruzadas em Inga edulis e Inga stipularis.
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xii
LISTA DE FIGURAS
Capitulo 1 Figura 1: Localizao da Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas
(UFAM) (Composio RGB Landsat, 2003 Siglab/INPA).
Figura 2: A Mdias de temperatura e precipitao mensais histricas da cidade de
Manaus, AM; B e C Intensidade da florao e da frutificao de Inga edulis e I.
stipularis, respectivamente, no perodo de novembro/2006 a novembro/2007 na fazenda
Experimental da UFAM, municpio de Manaus, AM. = mdia de temperatura em
(A), intensidade da florao em (B) e (C); = intensidade da frutificao em (B) e (C);
= precipitao mdia mensal em (A).
Figura 4: hbito (A e D), aspecto geral da Inflorescncia (B e E) e polade (100x) (C e
F) de Inga edulis; e Inga stipularis, respectivamente, na Fazenda Experimental da
UFAM, municpio de Manaus, AM.
Figura 5: Volume e concentrao de nctar acumulado em flores de Inga edulis (A) e I.
stipularis (B) submetidas a apenas uma extrao 20 e 12 horas aps a antese na Fazenda
Experimental da UFAM, municpio de Manaus, AM. = Volume em (l) e =
concentrao de acares em (%).
Figura 6: Produo de nctar em Inga edulis (A) e I. stipularis (B) em grupos de flores
submetidas a repetidas extraes. = Volume em (l) e = concentrao de
acares em (%).
Figura 7: Somatrio da produo de nctar de flores submetidas a extraes peridicas
em relao ao nctar produzido de flores submetidas h apenas uma extrao. =
somatrio do volume de nctar re-secretado; = Volume de nctar submetido a apenas
uma extrao.
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xiii
Figura 8: Percentual de visitas s flores de Inga edulis (A) e I. stipularis (B) dos
principais grupos de polinizadores no incio, pico e fim de florao, realizados na
Fazenda Experimental da UFAM, municpio de Manaus, AM. = esfingdeos; =
beija-flores; = borboletas; = abelhas.
Figura 9: Disponibilidade polnica em relao freqncia de visitas em flores de Inga
edulis (A) e Inga stipularis (B) na Fazenda Experimental da UFAM, municpio de
Manaus, AM. = Freqncia de esfingdeos em (A) e de borboletas da famlia
Hesperiidae em (B); = Freqncia de beija-flores em (A) e de borboletas da famlia
Papilionidae em (B); = disponibilidade polnica.
Figuras 10-15: Visitantes florais de Inga edulis Mart. (Fabaceae Mimosoideae), na
Fazenda Experimental da UFAM, municpio de Manaus, AM. 10. Tetragona goettei;
11. Polybia liliacea; 12. Porphyrogenes passalus; 13. Unzela japix; 14. Aellopos
ceculus; 15. Thalurania furcata .
Figuras 16-21: Visitantes florais de Inga stipularis D.C. (Fabaceae Mimosoideae), na
Fazenda Experimental da UFAM, municpio de Manaus, AM. 16. Quadrus cerialis; 17.
Entheus bombus; 18. Tarsoctenus papias; 19. Stalachtis calliope; 20. Parides arcas
mylotes; 21. Ornidia obesa.
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xiv
Capitulo 2
Figura 1: Tempo de absciso das flores que foram polinizadas com plen de apenas um
doador ( ) e de trs doadores diferentes ( ). A = Inga edulis e B = Inga stipularis.
Figuras 2-7: Microscopia de fluorescncia de tubos polnicos em Inga edulis Mart.
(Fabaceae Mimosoideae). 2 polades germinando no estigma; 3 tubos polnicos no
primeiro tero do estilete 4h aps a polinizao; 4 e 5 tubos polnicos provenientes de
autopolinizaes penetrando os vulos aps 12h; 6 polinizao cruzada 24h; 7 auto-
polinizao 24h.
Figura 8-11: Microscopia de fluorescncia de tubos polnicos em Inga stipularis D.C.
(Fabaceae Mimosoideae). 8 e 9 polades germinando no estigma e no primeiro tero
do estilete 12h aps a polinizao; 10 auto-polinizao 24h; 11 polinizao cruzada
24h.
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1
1. INTRODUO
A floresta amaznica composta por uma srie de formaes vegetais que so
floristicamente muito distintas, o que proporciona uma grande riqueza de espcies e
resulta em uma das maiores biodiversidades do planeta. Em razo da sua extenso
territorial, grande diversidade florstica e dificuldade de acesso a maior parte das reas,
muitas regies tm sido pouco exploradas botanicamente (Leito Filho 1987). Estima-se
que aproximadamente 18.000 espcies de angiospermas estejam distribudas ao longo
da bacia amaznica (Gentry et al. 1997).
A alta diversidade de padres florais encontradas nas florestas tropicais midas
est associada ocorrncia de diferentes tipos de recompensas florais (Leppik 1968,
Faegri & Pjil 1979, Ramirez et al. 1990) indicando a presena de diferentes
polinizadores, algumas vezes bem especializados como, por exemplo, as abelhas
Anthophoridae e Euglossini as quais polinizam flores que oferecem leos, perfumes ou
resinas como recursos (Vogel 1974, Armbruster 1984).
Nas regies tropicais, alm da grande variedade de sndromes de polinizao,
associadas enorme diversidade de flores (Endress 1994), existem segundo Newstrom
et al. (1994) uma ampla diversidade de padres fenolgicos, embora o perodo e a
durao de eventos como a florao e a frutificao sejam poucos conhecidos para
muitas espcies ocorrentes nestes ecossistemas.
Os sistemas reprodutivos de espcies tropicais tm sido estudados salientando
aspectos relacionados ao fluxo gnico, sucesso reprodutivo e especiao em algumas
populaes e comunidades de plantas (Bawa 1980, Bawa et al. 1985, Gibbs 1990, Ibarra
Manriquez & Oyama 1992, Bullock 1995). As caractersticas reprodutivas, os sistemas
sexuais e de polinizao tambm tm sido relacionados com a dinmica florestal em
processos sucessionais e de fragmentao (Gibbs 1990, Ibarra Manriquez & Oyama
1992).
Portanto, a manuteno da elevada diversidade de polinizadores na floresta
essencial para que as espcies possam continuar a se reproduzir regularmente e no haja
um declnio e at extino local dessas populaes a longo prazo. A biologia da
polinizao pode fornecer dados para resolver a vrias questes relacionadas
manuteno do fluxo gnico intraespecfico, sucesso reprodutivo, partilha e competio
por polinizadores e tambm sobre conservao de habitats naturais afetados por
processos de fragmentao (Machado & Lopes 2003).
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2
Esta dissertao est dividida em dois captulos que abordam as estratgias
ecolgicas e reprodutivas de duas espcies simptricas de Inga na Amaznia Central. O
primeiro captulo aborda os aspectos referentes fenologia reprodutiva, biologia floral,
dinmica da produo de nctar e visitantes florais de Inga edulis Mart. e Inga stipularis
DC.
O segundo captulo dedicado ao sistema e ao sucesso reprodutivo de I. edulis e
I.stipularis, enfatizando o percentual de frutos formados a partir da atuao de
polinizadores e de experimentos controlados. No final desse captulo h uma discusso
sobre as diferentes adaptaes florais utilizadas por I. edulis e I. stipularis e como isso
influencia no sucesso reprodutivo dessas espcies.
2. REVISO BIBLIOGRFICA
2.1 A Subfamlia Mimosoideae
Segundo Polhill et al. (1981), a famlia Fabaceae compreende 650 gneros e
18000 espcies, sendo a terceira mais diversa entre as plantas com flores. Largamente
distribuda em ambos os hemisfrios, esta famlia possui elevada importncia
econmica, ocupando um lugar de destaque entre as Angiospermas (Arroyo 1981),
constituindo uma importante fonte de alimentos para polinizadores e para muitos
animais, inclusive o homem (Leppik 1966).
Durante muitos anos a famlia Fabaceae foi dividida em trs subfamlias
distintas: Caesalpinioideae, Mimosoideae e Faboideae (Barroso 1978, Joly 1991).
Entretanto, a circunscrio de Fabaceae e a sua diviso em subfamlias tem sido alvo de
divergncias entre os diferentes autores, como por exemplo, os que se baseiam em
dados macromoleculares e cladsticos que tentam reconhecer as Leguminosas como
uma nica famlia (Souza & Lorenzi 2005).
Trabalhos como os de Ribeiro et al. (1999) e Souza & Lorenzi (2005) estimam
que a subfamlia Mimosoideae tem aproximadamente 60 gneros e 3000 espcies que
so distribudas em cinco tribos com hbitos que variam de rvores, arbustos, ervas e
lianas. Sua abrangncia geogrfica principalmente pantropical e subtropical, com a
maior diversidade nos gneros Acacia, Mimosa e Inga, sendo esse ltimo neotropical
apresentando cerca de 400 espcies (Pennington 1997, Ribeiro et al. 1999).
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3
2.2 Biologia floral e sndromes de polinizao na subfamlia Mimosoideae
De acordo com Endress (1994), as flores da subfamlia Mimosoideae e em
particular do gnero Inga, geralmente so actinomorfas, arranjadas em formato de
pincel e so agrupadas em densas inflorescncias racemosas. As flores possuem
perianto inconspcuo, filetes longos e finos com anteras diminutas. O gineceu formado
por um longo estilete que conecta o ovrio unilocular ao estigma que, em geral, possui
dimenses mnimas (Faegri & Pijl 1979). Em muitas espcies de Inga, os gros de
plen esto arranjados em polades de nmero constante por antera e com nmero
constante de micrsporos (Endress 1994).
Nessa subfamlia possvel encontrar uma grande variedade de tipos florais
generalistas ou especialistas quanto ao sistema de polinizao. Em muitas das espcies
de Parkia e Mimosa, por exemplo, as densas inflorescncias funcionam como uma
estrutura floral nica e apesar de possurem flores diminutas e serem visitadas por
animais como abelhas, beija-flores e mariposas, esto estritamente adaptadas
polinizao por morcegos (Baker & Harris 1957, Gould 1978, Hopkins 1984, Vogel et
al. 2005).
Por outro lado, muitas espcies de Inga, que tm flores maiores possuem uma
morfologia que torna de fcil acesso visitao para uma grande variedade de
polinizadores (Endress 1994). Koptur (1983) encontrou morcegos, beija-flores,
esfingdeos e vrias espcies de abelhas como polinizadores eficientes de uma nica
espcie de Inga na Costa Rica. Feinsinger (1978) por sua vez, destacou a importncia de
beija-flores como polinizadores efetivos de espcies de Inga que tambm eram visitadas
por outros animais. J a polinizao por morcegos em representantes do gnero foi
tambm observada por Vogel (1968), Croat (1979) e Koptur (1984).
2.3 Flores em excesso vs. sucesso reprodutivo
O primeiro autor a relatar a produo excessiva de flores e o aborto destas em
diversas famlias de Angiospermas foi Darwin (1877) apud Bawa & Webb (1984) e
ultimamente este fenmeno continua sendo estudado por autores como, Stephenson
(1981), Bawa & Webb (1984), Koptur (1984), Bawa & Buckley (1989), Burd (1998) na
tentativa de determinar que fatores acarretam tal processo. Por se constituir em uma das
mais amplas famlias de plantas com flores, representantes de Fabaceae foram estudadas
com relao ao excesso de flores produzidas e a baixa quantidade de frutos formados
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4
(Bawa & Webb 1984, Koptur 1984, Bawa & Buckley 1989). Bawa & Webb (1984)
propem a limitao do polinizador, a limitao de recursos e a seleo sexual como
fatores que esto diretamente associados ao aborto de flores, frutos e sementes em
muitas famlias de plantas, inclusive nas Fabaceae.
Segundo Gentry (1974), Janzen (1977) e Stephenson (1979) a grande
quantidade de flores produzida pelas plantas funcionariam como display de atrao
para os animais visitantes, acarretando uma fidelidade entre a planta e o polinizador. No
entanto, a limitao do polinizador pode ocorrer para espcies que apresentam baixa
densidade populacional, curto perodo de florao ou sobreposio desta fenofase com
outras espcies que ocorram simpatricamente (Udovic 1981).
A limitao de recursos, segundo Stephenson (1981) a principal causa de
aborto de flores e frutos nas Fabaceae. De acordo com este autor, mesmo se todas as
flores forem polinizadas com plen apropriado para a fertilizao, a planta pode ser
incapaz de maturar todos os frutos devidio a restries fisiolgicas. Essa hiptese
reforada por Pate & Farrington (1981) e Wyatt (1982), ao postularem que a
probabilidade de determinada flor formar fruto est relacionada com a sua posio na
inflorescncia, j que frutos em desenvolvimento na base da inflorescncia poderiam
agir como limitantes de metablitos para frutos que poderiam se formar no pice.
De acordo com o princpio de Bateman (Charnov 1979) esperado na seleo
sexual que o sucesso reprodutivo paterno seja limitado pela capacidade dos gametas
masculinos em acessar os gametas femininos e por outro lado, o sucesso reprodutivo
materno provavelmente limitado pela deficincia em prover recursos para os embries
(Janzen 1977). Dessa forma, abortos so presumidos para indicar diferentes estratgias
reprodutivas. Uma grande frao da absciso floral suposta para servir somente
funo masculina (Udovic 1981). Muitos trabalhos indicaram que um nmero excessivo
de flores em espcies hermafroditas pode ser interpretado como uma maneira de
aumentar o sucesso reprodutivo masculino e disponibilizar recursos para visitantes
florais (Janzen 1977, Primack 1979, Wyatt 1982).
2.4 Sistema reprodutivo e auto-incompatibilidade de ao tardia (LSI)
Segundo Arroyo (1981) a famlia Fabaceae apresenta diversos tipos de sistema
reprodutivo sendo a auto-incompatibilidade proporcionalmente menos freqente entre
as Papilionoidae do que nas outras duas subfamlias, em que vrios gneros como
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Phaseolus, Canavalia, Centrosema e Pisum, foram considerados autocompatveis. Por
outro lado, a subfamlia Mimosoideae apresenta o maior nmero de gneros auto-
incompatveis, tais como Inga, Albizia, Calliandra, Enterolobium e Pithecellobium
(Arroyo 1981, Koptur 1984). Poucas espcies foram testadas com relao ocorrncia
de agamospermia e ainda no est claro se este tipo de sistema reprodutivo raro nesta
famlia. Segundo Randell (1970) e Arroyo (1981) tal fenmeno documentado apenas
para algumas espcies do gnero Cassia.
Evidncias de que um mecanismo de auto-incompatibilidade com base
gentica, em certas espcies, ocorra dentro do ovrio existem h mais de 40 anos, desde
a publicao dos trabalhos pioneiros de Cope (1962) em Theobroma cacao
(Sterculiaceae). A enorme discrepncia existente entre o que se conhece atualmente
sobre a auto-incompatibilidade de ao tardia (LSI) e outros sistemas de auto-
incompatibilidade se deve em grande parte ao sistema de auto-incompatibilidade de
ao tardia ter sido por muito tempo considerado um fenmeno raro na natureza
(Nettancourt 1977).
No obstante, Seavey & Bawa (1986), numa primeira reviso sobre trabalhos
que indicavam barreiras do sistema de incompatibilidade operando no ovrio,
salientaram que a LSI um fenmeno bastante comum nas angiospermas, e postularam
diferentes tipos de LSI: (1) quando a inibio dos tubos incompatveis tem lugar aps a
penetrao dos vulos, mas sem que ocorra a singamia; (2) quando a rejeio dos tubos
polnicos incompatveis se processa aps a formao do zigoto; (3) quando se sabe que
a reao de incompatibilidade ovariana, mas se desconhece os detalhes histolgicos do
processo de rejeio.
Evidncias da auto-incompatibilidade de ao tardia na subfamlia
Papilionoideae foram encontradas por Gibbs & Sassaki (1998) com Dalbergia
miscolobium, por Prychid et al. (1998) com Strongylodon macrobotrys e por Rodriguez-
Raio et al. (1999) com Cytisus multiflorus. Na subfamlia Caesalpinioideae, por Bawa
& Webb (1984) com Caesalpinia eriostachys, por Lewis & Gibbs (1999) com
Caesalpinia calycina, por Gibbs et al. (1999), com Hymenaea stigonocarpa e por
Freitas & Oliveira (2002) com Copaifera langsdorffii. Por fim, na subfamlia
Mimosoideae por Koptur (1984) para sete espcies de Inga, por Seavey & Bawa (1986)
com Acacia retinoides e por Chamberlain (1998) com Calliandra calothyrsus.
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3. OBJETIVOS 3.1 Geral
Descrever a biologia floral, a polinizao e o sistema reprodutivo de Inga edulis
e Inga stipularis.
3.2 Especficos 1- Estabelecer o perodo de florao e frutificao das espcies e identificar a
tendncia dos padres fenolgicos;
2- Determinar os sistemas de polinizao e descrever o comportamento dos
animais visitantes, identificando seu papel como polinizadores ou
pilhadores, analisando as interaes planta/polinizador;
3- Definir o sistema reprodutivo das duas espcies.
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4.1 CAPTULO 1
Fenologia reprodutiva e sistemas de polinizao divergentes em duas espcies
simptricas de Inga Mill. (Fabaceae Mimosoideae) na Amaznia Central
(Manuscrito a ser enviado para o peridico Revista Brasileira de Botnica)
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8
Fenologia reprodutiva e sistemas de polinizao divergentes em duas espcies
simptricas de Inga Mill. (Fabaceae Mimosoideae) na Amaznia Central
EDUARDO CRISTO DE OLIVEIRA BARROS 1,4, ANTONIO CARLOS WEBBER2
& ISABEL CRISTINA MACHADO3
Ttulo resumido: Fenologia e polinizao de duas espcies de Inga
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia, Programa Integrado de Ps-Graduao em
Biologia Tropical e Recursos Naturais (Botnica).
2. Universidade Federal do Amazonas, Departamento de Biologia, Estrada do Contorno, 3000,
69077-000, Manaus, AM, Brasil
3. Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Botnica, 50372-970, Recife, PE, Brasil.
4. Autor para correspondncia: [email protected]
mailto:[email protected] -
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ABSTRACT (Reproductive phenology and divergent pollination systems in two sympatric species of Inga Mill. (Fabaceae Mimosoideae) in Central Amazon). The reproductive phenology, the floral biology and the pollination systems of Inga edulis Mart. and Inga stipularis D.C, were studied respectively in an area of land forest, located in the UFAM Experimental Farm, Manaus, AM (238'57,6"S 603'11"W), from November/2006 to November, 2007. The flowers of Inga edulis and Inga stipularis constitute a pollination unit like a brush, whose visual attraction is exerted by numerous free stamens. Their flowers are hermaphrodite, spike, actinomorphic and pentamerous. The flowering pattern is continual for I. edulis and annual for I. stipularis. The flowers of I. edulis and I. stipularis produce nectar from the bud phase accumulating until 26,5l and 3,7l with a mean concentration of 13,5% and 12,5 % respectively. In both species, the nectar is replaced after repeated extractions. Eight species of hawkmonths and two of hummingbirds were the main pollinators of I. edulis. Sixteen species of butterflies, but ten of the family Hesperiidae and three of the family Papilionoidae were the primary pollinators of I. stipularis. The bees Melipona fulva and Megachile sp visited flowers of both species, however, they were considered occasional pollinators. Despite the fact that the floral similarity, the two Inga species studied presented a distinct period of floral activity, which caused a divergence in the pollination systems, nevertheless, the I. edulis is a typical sphingophilous species and I. stipularis a psychophilous. Key words Inga, reproductive phenology, nectar, sphingophily, psychophily, Amazon rain forest. RESUMO (Fenologia reprodutiva e sistemas de polinizao divergentes em duas espcies simptricas de Inga Mill. (Fabaceae Mimosoideae) na Amaznia Central). A fenologia reprodutiva, a biologia floral e os sistemas de polinizao de Inga edulis Mart. e Inga stipularis D.C., foram estudados em uma rea de floresta de terra firme, localizada na Fazenda Experimental da UFAM, Manaus, AM (23857,6S 60311W), no perodo de novembro de 2006 a novembro de 2007. As flores de I. edulis e I. stipularis constituem unidades de polinizao do tipo pincel, sendo a atrao visual exercida pelos numerosos estames livres. Essas so hermafroditas, ssseis, actinomorfas e pentmeras. O padro de florao do tipo contnuo em I. edulis e anual em I. stipularis. As flores de I. edulis e I. stipularis produzem nctar desde boto, acumulando at 26,5l e 3,7l com concentrao mdia de 13,5% e 12,5 % respectivamente. Em ambas as espcies o nctar re-secretado aps repetidas extraes. Oito espcies de esfingdeos e duas espcies de beija-flores foram os principais polinizadores de I. edulis. Dezesseis espcies de borboletas, sendo dez da famlia Hesperiidae e trs da famlia Papilionoidae foram os polinizadores primrios de I. stipularis. As abelhas Melipona fulva e Megachille sp visitaram flores de ambas as espcies, porm foram considerados polinizadores ocasionais. Apesar da similaridade floral, as duas espcies de Inga estudadas apresentam perodos de atividade floral distintos, provocando divergncia entre o sistema de polinizao, sendo I. edulis uma espcie tipicamente esfingofila e I. stipularis uma espcie pscicfila. Palavras-chave Inga, fenologia reprodutiva, nctar, esfingofilia, psicofilia, Floresta Amaznica.
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INTRODUO
As caractersticas florais sejam elas morfolgicas, fisiolgicas ou ecolgicas
esto relacionadas aos vetores de polinizao e o estudo desses atributos pode auxiliar
na inferncia dos grupos de polinizadores (Faegri & Pjil 1979, Endress 1994, Proctor et
al. 1996). Essa soma de particularidades caracteriza as sndromes florais (Faegri & Pjil
1979), as quais constituem um importante meio para subsidiar estudos de ecologia da
polinizao.
As espcies de Inga Mill. apresentam uma srie de caractersticas florais
similares como, flores brancas com perianto inconspcuo, arranjadas em forma de pincel
com anteras expostas, antese noturna e nctar como recompensa (Faegri & Pjil 1979,
Endress 1994). Alguns destes aspectos sugerem que o gnero se encaixa na sndrome de
quiropterofilia e/ou esfingofilia (sensu Faegri & Pijl 1979), o que foi corroborado nos
trabalhos de Vogel (1968) com Inga sessilis e Howell & Burch (1974) com Inga sp.
Entretanto, o gnero pode ser considerado generalista, uma vez que a estrutura
floral no especializada, admitindo visitas de diferentes grupos de animais. Koptur
(1983) encontrou morcegos, esfingdeos, beija-flores e abelhas como eficientes
polinizadores de Inga brenesii, I. mortoniana, I. punctata e I. quaternata. Alm disso, a
importncia dos beija-flores como polinizadores eficazes de algumas espcies de Inga
foi enfatizada por Snow & Snow (1972), Toledo (1975), Feinsinger (1978) e Arroyo
(1981).
Ao mesmo tempo, Inga interessante sob o ponto de vista da biologia floral uma
vez que suas flores possuem gros de plen, na maioria das vezes, agrupados em
polades (Endress 1994), possuem reduzida superfcie estigmtica, pequena quantidade
de vulos, nectrios na regio do gineceu e so polinizadas por um espectro muito
amplo de animais (Arroyo 1981, Koptur 1983, Endress 1994).
O gnero Inga possui cerca de 400 espcies de distribuio neotropical (Ribeiro
et al. 1999, Souza & Lorenzi 2005). Na Amaznia Central, o de maior
representatividade entre as Leguminosas, com 32 espcies encontradas na Reserva
Adolpho Ducke (Ribeiro et al. 1999). Em geral, so rvores de sub-dossel ou de sub-
bosque com folhas compostas, pinadas, com um nectrio extrafloral entre cada par de
fololos que so sempre opostos (Pennington 1997).
Em virtude da enorme importncia das interaes mutualsticas entre as plantas e
seus polinizadores para a percepo dos processos evolucionrios e ecolgicos (Faegri
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& Pijl 1979, Proctor et al. 1996), este trabalho teve por objetivos analisar
comparativamente o perodo de florao e frutificao, os aspectos da biologia floral, a
dinmica da produo de nctar, os sistemas de polinizao, o fluxo polnico e o
comportamento dos animais visitantes s flores de Inga edulis Mart. e Inga stipularis
DC.
Dessa forma, espera-se contribuir para um maior conhecimento ecolgico de
espcies simptricas do gnero, uma vez que, apesar de sua importncia, estudos que
tratam desses aspectos em florestas tropicais midas, em especial na Amaznia, ainda
so incipientes.
MATERIAL E MTODOS rea de Estudo
A coleta de dados foi realizada na Fazenda Experimental da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, AM, (23857S 60311W), em uma rea de
floresta de terra firme localizada no Km 38 da BR-174 (Figura 1). Com cerca de 3000
ha, a rea localiza-se em uma regio de floresta ombrfila densa, caracterizada pelo
relevo acidentado, com trechos de encostas acentuadas e variao altitudinal de 96
metros entre os plats e as regies mais baixas (RADAMBRASIL 1978). A estrutura
florstica definida principalmente pelo tipo de solo e relevo, geralmente formando uma
seqncia de quatro tipos de floresta: plat, vertente, campinarana e baixio (Ribeiro et
al. 1999).
O solo cido e pobre em nutrientes, do tipo latossolo amarelo lico. O clima
predominante na regio quente e mido, correspondente ao clima Am na classificao
de Kppen. A temperatura do ar tem valores mnimos de 25 C e mximos de 28 C nos
meses de seca. A precipitao mdia anual de 2100 mm (Figura 2A), com umidade
relativa do ar sempre alta (84% a 90%) correspondendo os meses de maior umidade aos
de maior incidncia de chuvas (RADAMBRASIL 1978).
Delineamento amostral Fenologia Reprodutiva As observaes de campo realizaram-se no perodo de novembro de 2006 a
novembro de 2007. A fenologia da florao e da frutificao foi acompanhada
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quinzenalmente em dez indivduos de Inga edulis e sete de I. stipularis. Para todos os
indivduos foram observadas as seguintes fenofases segundo indicaes de Morellato et
al. (1990): a) emisso de botes; b) flores; c) frutos verdes e d) frutos em disperso,
descritos por notas de intensidade, com 0 (zero) indicando ausncia da fenofase e 1, 2, 3
presena da fenofase, respectivamente nos intervalos de 1% a 25%, 26% a 50% e 51% a
100% dos ramos que apresentaram a fenofase descrita (adaptado de Fournier 1974). O
padro fenolgico das espcies foi determinado a partir da classificao de Gentry
(1974) e Newstrom et al. (1994).
Biologia floral
Em ambas as espcies foram tomadas aleatoriamente 10 inflorescncias de 10
indivduos, nas quais foram realizadas observaes quanto morfologia, tamanho e cor
das flores, horrio, seqncia e durao da antese, localizao e tipo de recompensa
floral e, seqncia de abertura das flores. Com auxlio de um paqumetro, registrou-se o
comprimento do clice, da corola, do androceu e do gineceu, a partir de material fixado
em lcool 70%.
A receptividade do estigma foi testada em 10 flores de I. edulis e I. stipularis em
diferentes indivduos no incio da antese e em intervalos de 12 e 24 horas aps a
abertura floral pelo mtodo de atividade peroxidsica (H2O2) (Kearns & Inouye 1993).
Para determinao dos locais de emisso de odor, 10 flores previamente
ensacadas de diferentes indivduos aps a antese foram imersas em soluo (1:1000) de
vermelho neutro (Vogel 1990), sendo em seguida lavadas com gua corrente e
analisadas quanto s regies coradas.
O percentual de gros de plen potencialmente viveis foi estimado com a
tcnica de colorao do citoplasma utilizando-se carmim actico 2% (Radford et al.
1974), em 10 botes em pr-antese, sendo a contagem dos gros realizada em
microscpio ptico, com utilizao de lamnula milimetrada. Foram considerados
viveis os gros de plen que apresentaram colorao vermelha escura e inviveis os
gros que se apresentavam fracamente corados ou incolores.
Produo de Nctar
Para cada espcie, o volume e a porcentagem de acares do nctar foram
avaliados, respectivamente, com auxlio de microseringa (Microliter 10l) e
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refratmetro de bolso (Atago 0-90%) em vinte flores de 10 indivduos diferentes, as
quais foram isoladas em sacos de papel semi-impermevel para evitar o contato com os
visitantes florais.
As medidas foram realizadas em dois grupos de flores. No primeiro grupo, dez
flores de diferentes inflorescncias (n=10) de I. edulis e I. stipularis foram submetidas a
uma nica extrao realizada 20h e 12h, respectivamente, aps a antese floral (volume
acumulado de nctar). No segundo grupo, 10 flores de diferentes indivduos foram
submetidas a extraes peridicas com intervalos de 2 horas. As extraes foram
realizadas no incio da antese at a senescncia floral, totalizando 12 extraes em I.
edulis e seis em I. stipularis.
Visitantes florais e disponibilidade polnica
Informaes quanto identidade do visitante, freqncia, horrio,
comportamento, recurso floral procurado e resultado da visita (polinizao ou
pilhagem), foram obtidas por meio de observaes diretas no campo, totalizando 80
horas para I. edulis e 60 horas para I. stipularis. Devido s diferenas no horrio de
antese de ambas as espcies, tais observaes foram realizadas no perodo diurno e
noturno para I. edulis e durante o dia para I. stipularis.
Em funo da freqncia de visitas, os visitantes florais foram classificados em
muito comuns MC (20visitas/hora), comuns C (entre 10 e
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sobre lmina histolgica, coradas com carmim actico e as polades contadas com
auxlio de um microscpio ptico.
Material botnico
Ramos frteis de Inga edulis e I. stipularis foram coletados e herborizados de
acordo com as tcnicas usuais e depositados no Herbrio do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amaznia (INPA n 220263 e 220262), respectivamente, como espcimes
testemunho.
RESULTADOS Fenologia Reprodutiva
No incio das observaes, em novembro de 2006, os indivduos de Inga edulis
selecionados para o estudo encontravam-se floridos, e o pico de florao ocorreu nos
meses de maro, maio e junho de 2007 (Figura 2B). Esta espcie apresenta flores tanto
na estao chuvosa quanto na seca, sendo observado que apenas em dezembro/janeiro e
julho/agosto os indivduos estiveram completamente sem flores.
Do mesmo modo, a frutificao aconteceu ao longo do ano em todos os
indivduos de I. edulis, entretanto, a maior produtividade dessa fenofase foi observada
nos meses de janeiro e maio (Figura 2C). O processo de amadurecimento dos frutos
ocorreu trs a quatro meses aps os mesmos serem formados, todavia, houve registro de
frutos que levaram at oito meses para iniciar o processo de disperso.
Em Inga stipularis, a florao se estendeu por cerca de oito meses (de dezembro
a julho). A emisso de botes teve incio no ms de dezembro, com pico em
fevereiro/maro, prolongando-se esta fenofase at o ms de julho. Flores em antese
iniciaram em fevereiro, com maior intensidade entre os meses de abril e maio (Figura
3B). Ambos os fatores observados, emisso de novas inflorescncias e alta produo de
flores coincidiram com os meses de maior precipitao para a regio (Figura 2A). Aps
o perodo de maior produtividade desta fenofase, evidenciou-se uma reduo abrupta na
produo de flores em agosto (Figura 3B).
A frutificao de I. stipularis pde ser quantificada no incio das observaes em
novembro de 2006, ocasio em que havia grande quantidade de frutos verdes em todos
os indivduos investigados (Figura 3B). A alta produtividade apresentada decresceu nos
meses seguintes, estando os indivduos completamente sem frutos no ms de fevereiro.
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Em 2007, o desenvolvimento dos frutos teve incio em meados de setembro, perodo de
baixa pluviosidade, atingindo maturidade nos meses de novembro e dezembro (Figura
3B). Em razo das altas taxas de predao e/ou disperso atribuda aos bandos de
macacos da espcie Pithecia monacchus, vulgarmente conhecidos como parauacus, os
frutos maduros de Inga stipularis no puderam ser quantificados.
Biologia floral
Inga edulis e I. stipularis apresentam inflorescncias racemosas axiais do tipo
cacho (Figura 4B e 4E), com mdia de 26 flores (3,2; n=30) por inflorescncia para I.
edulis e 42 flores (3,3; n=30) para I. stipularis. O nmero de flores que se abre por dia,
por inflorescncia, em I. edulis em mdia 1,5 (0,68; n=30), raramente abrindo-se trs
ou quatro e em I. stipularis de 2,5 (1,2; n=30). As dimenses das partes florais de
ambas as espcies esto resumidas na tabela 1.
As flores de I. edulis e I. stipularis so hermafroditas, ssseis, actinomorfas,
pentmeras, com clice gamosspalo e corola gamoptala (Figuras 4B e 4E). O clice e
a corola de colorao verde e verde-clara, respectivamente, com spalas e ptalas de
textura aveludada, em virtude da presena de tricomas filiformes em suas superfcies.
O androceu branco, polistmone, formado em mdia por 50 (1,9; n=10)
estames em I. edulis e 30 (2,9; n=30) em I. stipularis, os quais so longos e finos
sendo fusionados na base formando um tubo estaminal estreito onde fica armazenado o
nctar. As anteras so dorsifixas possuindo deiscncia longitudinal. Os gros de plen
esto agrupados formando polades. Cada antera apresenta oito polades, as quais
apresentam em mdia 30 (2,9; n=50) gros de plen em I. edulis e 16 (1,2; n=50) em
I. stipularis (Figura 4C e 4F). O percentual mdio de gros de plen viveis na fase de
pr-antese de 95,4% para I. edulis e 98,6% para I. stipularis.
O gineceu em ambas as espcies apresenta estigma puntiforme e papiloso, o qual
conectado ao ovrio por um longo e fino estilete de colorao branca. O ovrio
unicarpelar e pluriovulado contendo em mdia 26 (3,0; n=30) vulos em I. edulis e 16
(2,5; n=30) em I. stipularis, ambos com placentao parietal marginal.
O processo de antese em I. edulis vespertino, iniciando por volta das 14h
estando s flores completamente abertas s 17h. J em I. stipularis a antese floral
matutina, com incio por volta das 5h estando s flores totalmente abertas s 8h. Para
ambas as espcies no existe variao temporal na seqncia de abertura das flores, uma
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vez que na populao todos os botes comeam a abrir simultaneamente no mesmo
horrio. Em geral, as flores possuem longevidade de 24-28h em I. edulis e de 18-24h em
I. stipularis.
Em ambas as espcies as flores apresentam protoginia parcial, uma vez que no
incio da antese o estigma encontra-se receptivo e as anteras fechadas. A deiscncia das
anteras ocorre 2-3h aps a abertura floral em I. edulis e 2-5h em I. stipularis. A
receptividade do estigma permanece durante todo perodo de antese em ambas as
espcies. As flores exalam odor suave e adocicado, mais intensamente nas primeiras
oito horas da antese para as duas espcies, sendo detectada a presena de osmforos na
borda e na parte interna da corola, nos tricomas localizados no perianto, no tubo
estaminal e em pontos espaados dos filetes e do estilete.
Dinmica da produo de nctar
O nctar produzido no nectrio discide localizado logo acima do receptculo
floral e armazenado dentro do tubo formado pela fuso dos filetes. Em I. edulis, o nctar
j comea a ser produzido antes mesmo da flor estar completamente aberta,
apresentando volume e concentrao mdios de nctar acumulado por flor de,
respectivamente, 3,76l (2,2) e 15,75% (2,2) (Figura 5A).
Em Inga stipularis a produo de nctar tambm tem incio com o processo de
antese, entretanto, os valores de volume acumulados so inferiores aos de I. edulis, com
mdia de apenas 0,3l ( 0,12) por flor. A porcentagem de acares tambm diminui,
mas sem diferenas significativas em relao a I. edulis, com mdia de 13,5% ( 2,5)
(Figura 5B).
Em I. edulis e I. stipularis, os grupos de flores que foram submetidas repetidas
extraes de nctar tiveram valores crescentes de volume a partir do incio da antese, s
7h para I. stipularis e s 14h para I. edulis atingindo o pico de produo s 11h e s 22h,
respectivamente, com volumes de 0,8l (0,13) e 4,3l (2,6) (Figuras 6A e 6B).
A porcentagem de acares no nctar por sua vez, teve seu valor mais elevado
na primeira extrao s 14h com 19% (1,4) para I. edulis e s 11h para I. stipularis
com 15% (1,0). Posteriormente, tanto o volume quanto a concentrao apresentaram
valores decrescentes at cessar a produo s 19h em I. stipularis (Figura 6B) e s 14h
do dia seguinte em I. edulis (Figura 6A). O somatrio dos volumes de nctar acumulado
e com repetidas extraes de I. edulis e I. stipularis esto evidenciados na figura 7.
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Visitantes florais e disponibilidade polnica
Ambas as espcies de Inga receberam diferentes grupos de animais visitantes s
suas flores. Vinte espcies foram observadas visitando as flores de I. edulis, sendo oito
de esfingdeos, cinco de borboletas, trs de beija-flores, trs de abelhas e uma de vespa
(Tabela 2). Inga stipularis apresentou nmero de visitantes semelhante, 23 espcies no
total, sendo 16 borboletas, trs abelhas, dois beija-flores, uma vespa e uma mosca
(tabela 3).
Das oito espcies de esfingdeos que visitaram as flores de I. edulis, seis foram
consideradas polinizadores efetivos, uma vez que durante o pico e no final da florao,
esses animais foram os visitantes mais regulares (Figura 8A), sendo Erinnyis ello ello
(Linnaeus 1758) e Pachylia syces syces (Hbner 1819) os visitantes mais freqentes.
Por outro lado, Protambulyx strigilis (Linnaeus 1771), Enyo lugubris lugubris
(Linnaeus 1771), Pachygonia caliginosa (Boisduval 1870) e Unzela japix japix (Cramer
1776) (Figura 13), foram observados com maior freqncia nos perodos de maior
intensidade e nos finais de florao. A maior incidncia de visitas pelas seis espcies
ocorreu s 18:30h, perodo em que as flores ainda apresentavam anteras indeiscentes
(Figura 9A). A partir das 20h at s 4h da manh do dia seguinte, o nmero de visitas
foi mais ou menos constante, com um aumento s 6h (Figura 9A). Ao longo desse
perodo, os esfingdeos foram os agentes responsveis pela retirada de
aproximadamente 60% das polades (Figura 9A). Suas visitas eram rpidas (menos de 1
segundo), com nmero mdio de 7 visitas por flor por indivduo, acarretando moderado
ndice de geitonogamia. Esses animais ao se aproximarem da flor, tocam com a
espirotromba e com toda a parte ventral do corpo os numerosos estames e o estigma,
realizando a polinizao de modo eficiente. Conseqentemente, carregam grande
quantidade de polades em seus corpos para outros indivduos prximos e mais
afastados.
Duas espcies de esfingdeos diurnos, Aellopos titan titan (Cramer 1777) e
Aellopos ceculus (Cramer 1777) foram registradas realizando visitas s flores de I.
edulis. Aellopos titan titan foi visto apenas no incio da florao realizando visitas em
flores do segundo dia s 14h. Um fato interessante ocorreu vrias vezes no momento
das visitas, em que, ao entrarem em contato com o inseto, as flores caam, fazendo com
que o esfingdeo imediatamente passasse para outra flor do mesmo indivduo. s 17h,
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incio do crepsculo, Aellopos ceculus foi observado nas flores realizando um elevado
nmero de visitas (n=63) em um nico indivduo. A espcie apresentava
comportamento agressivo, expulsando borboletas e abelhas que se aproximavam das
flores no mesmo perodo.
As cinco espcies de borboletas que visitaram as flores de I. edulis pertencem
famlia Hesperiidae. As borboletas Porphyrogenes passalus passalus (Herrich-Schffer
1869) (Figura 12), Hesperiidae sp1 e Hesperiidae sp2 em virtude do maior tamanho em
relao Hesperiidae sp3 e Phanus sp., ocasionalmente tocavam as estruturas
reprodutivas no momento em que pousavam na flor para retirar nctar. Hesperiidae sp3
foi a borboleta mais freqente e Phanus sp. a mais rara, ambas pilhadoras de nctar uma
vez que ao pousarem na corola, entravam em contato apenas com os longos filetes.
O contrrio ocorre para I. stipularis, em que 16 espcies de borboletas, sendo 10
espcies pertencentes famlia Hesperiidae, trs de Papilionidae, duas de Riodinidae e
uma de Lycaenidae (Tabela 3), foram considerados os polinizadores primrios dessa
espcie. As visitas tiveram incio s 7h, horrio em que foi registrado o maior nmero
de visitas, com uma freqncia constante durante toda manh at s 13h. Nesse perodo,
cerca de 70% das polades so levadas pelas borboletas (Figura 9B). A partir das 14h,
registrou-se um declnio no nmero de visitas, que cessou s 18h (Figura 9B).
As espcies Stalachtis calliope (Linnaeus 1758) (Figura 19), Parides triopas
(Godart 1819) e Tarsoctenus papias (Hewitson 1857) (Figura 18) foram as borboletas
mais raras, aparecendo apenas no incio, pico e final de florao, respectivamente. As
borboletas mais freqentes foram Quadrus cerialis (Stoll 1782) (Figura 16), Entheus
bombus (Austin, Mielke & Steinhauser 1997) (Figura 17), Astraptes sp, Hesperiidae sp8
(Hesperiidae), Parides aeneas (Linnaeus 1758) e Parides arcas mylotes (Bates 1861)
(Papilionidae) (Figura 20), sendo encontradas forrageando em indivduos de I. stipularis
ao longo de todos os estgios da florao.
As borboletas, ao pousarem nas flores (exceto as espcies de Parides),
apoiavam-se na inflorescncia, posicionando-se acima dos estames e estigmas das flores
abertas, momento em que realizavam a polinizao e coletavam nctar. Na maioria das
vezes as visitas so rpidas, possivelmente em virtude do baixo volume de nctar
encontrado nas flores, o que acarreta uma alta taxa de visitas s flores de um mesmo
indivduo.
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As espcies de Parides pairavam diante das flores e introduziam sua probscide
no tubo estaminal para coletar o nctar, momento em que alm da probscide, tocavam
os estames com as pernas e a regio ventral do abdmen. Igualmente o ndice de
geitonogamia alto.
Hylocharis saphirina (Gmelin 1788) e Thalurania furcata (Gmelin 1788),
ambos ( e ) (Figura 15) foram as espcies de beija-flores consideradas como os
visitantes diurnos mais freqentes de I. edulis, responsveis por mais de 90% das visitas
realizadas s flores no incio da florao (Figura 9A). Para ambas as espcies, o
comportamento de visita foi semelhante ao se aproximar das flores, retiravam nctar
introduzindo rapidamente (menos de 2 segundos) o bico dentro do tubo estaminal,
momento em que tocavam com o pescoo e s vezes com a garganta as anteras e o
estigma. Em mdia, as visitas eram realizadas em 10 flores de um mesmo indivduo por
Thalurania furcata e em seis flores por Hylocharis saphirina.
As visitas tiveram incio s 13h, horrio em que as flores ainda estavam em
estgio de boto. O fluxo de visitas aumentava na medida em que as flores iam abrindo,
atingindo um pico de nmero de visitas s 17h. Entretanto, apesar das flores estarem
abertas, as anteras encontravam-se fechadas, e, dessa maneira, os beija-flores atuavam
apenas como pilhadores no incio da antese de I. edulis. No dia seguinte, as visitas
tinham inicio s 05h30min da manh e se prolongavam at s 10h. Nesse perodo, o
nmero mdio de flores visitadas por indivduo de Thalurania furcata e Hylocharis
saphirina era de 14 e 8, respectivamente. O aumento no nmero de visitas deve-se
provavelmente a baixa quantidade de nctar ofertada por flor nesse horrio, o que
proporciona tambm, um alto grau de geitonogamia.
Portanto, os beija-flores Thalurania furcata e Hylocharis saphirina atuam como
polinizadores primrios de I. edulis no incio da florao e como polinizadores
secundrios no pico e no final, porm, apenas no perodo de 8 s 11h da manh,
ressalvando que, a partir do pico de florao, 75% das polades so retiradas pelos
esfingdeos durante a noite anterior (Figura 9A).
O beija-flor Phaethornis ruber (Linnaeus 1758) foi visto uma nica vez em um
indivduo de I. edulis s 16h tomando nctar de flores ainda em processo de antese.
Como as anteras nesse horrio ainda esto indeiscentes, esta ave, mesmo tocando nas
partes reprodutivas das flores, no as polinizava, sendo dessa forma considerado
pilhador.
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Em I. stipularis, duas espcies de beija-flores, Amazilia versicolor (Vieillot
1818) e Thalurania furcata, foram observadas visitando esporadicamente as flores
apenas no pico da florao. Amazilia versicolor apresentou comportamento do tipo
trapline visitando as flores no incio da manh, s 8h e no final da tarde s 16h.
Entretanto, esse beija-flor foi responsvel por apenas 5% das visitas, atuando como
polinizador ocasional de I. stipularis. Thalurania furcata foi visto somente uma vez, em
60h de observaes, visitando as flores no incio da manh.
Inga edulis e I. stipularis compartilham duas das trs espcies de abelhas que
visitam suas flores. Melipona fulva (Lepeletier 1836) (Apidae) e Megachile sp
(Megachilidae) so visitantes espordicos s flores de ambas as espcies, nas quais
coletavam nctar e plen. Essas abelhas foram observadas durante a manh realizando
visitas. Com movimentos rpidos e circulares em torno dos estames, essas abelhas
coletavam plen com o aparelho bucal, transferindo ainda na flor, para as pernas
posteriores as polades retiradas das anteras. Aps a coleta de plen, desciam at o tubo
estaminal para tomar nctar e depois seguiam para outra flor. Alm de Melipona fulva e
Megachile sp, foi observada a abelha Tetragona goettei (Friese 1900) (Apidae) em I.
edulis (Figura10) e a abelha Plebeia minima (Gribodo 1893) (Apidae) em I. stipularis.
Tetragona goettei retirava nctar das flores de I. edulis sem tocar em momento algum
nas partes reprodutivas da flor. Plebeia minima retirava as polades de I. stipulars,
antera por antera. Dessa maneira, como o estigma fica localizado alguns milmetros
acima do nvel dos estames, Plebeia minima no realizava a polinizao.
As vespas Polybia liliacea (Fabricius 1804) (Vespidae) e Synoeca surinama
(Linnaeus 1767) (Vespidae) visitaram as flores de I. edulis e I. stipularis
respectivamente. Polybia liliacea foi vista apenas uma vez em 80 horas de observao
retirando nctar das flores de I. edulis durante o perodo das 16h. Essa vespa durante
essa visita no realizou a polinizao uma vez que a flor j se encontrava em estgio de
absciso, com os estames murchos e sem polades (Figura 11). A vespa Synoeca
surinama foi mais freqente nas flores de I. stipularis realizando, ocasionalmente, a
polinizao. Ao pousar na inflorescncia, essa espcie realizava movimentos circulares
em torno de vrias flores sem, no entanto, coletar nctar ou plen. Essa vespa foi mais
freqente no incio da florao, no sendo mais observada no final.
A mosca Ornidia obesa (Fabricius 1775) (Syrphidae) foi observada coletando
nctar das flores de I. stipularis no pico de florao (Figura 21). Durante o pouso, essa
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mosca no tocava as anteras nem o estigma. Voava para outra inflorescncia no mesmo
indivduo e realizava o mesmo comportamento, visitando dessa forma uma mdia de 10
inflorescncias. A mosca s foi observada no pico da florao durante a manh, no
sendo mais observada no perodo da tarde nem no final da florao, sendo portanto
pilhadora de nctar.
DISCUSSO Fenologia Reprodutiva
A florao de Inga edulis, de acordo com a classificao de Newstrom et al.
(1994) do tipo contnua, com a maioria dos indivduos da populao em florao,
porm, pode haver intervalos breves brief breaks de perodos sem flores. Segundo
classificao de Gentry (1974), I. edulis apresenta florao do tipo estado constante
(steady-state), atravessando tanto a estao chuvosa quanto a seca, uma vez que a
florao se estende ao longo dos 12 meses do ano, com picos de dois a trs meses de
intervalo com intensidades diferentes.
No entanto, a maior produo de flores ocorreu nos meses de maio e junho, o
que corresponde ao final da estao chuvosa, a semelhana do encontrado por Falco &
Clement (2000) para essa mesma espcie tambm no municpio de Manaus. Para Janzen
(1967), a reduo da umidade do solo e da atmosfera pode agir como um sinal para
induzir a florao de espcies neotropicais, o que proporcionaria condies favorveis
aos polinizadores, como ausncia de chuvas pesadas que possam danificar as flores,
derrub-las ou diluir seu nctar.
O perodo de frutificao de I. edulis foi o evento fenolgico de maior durao.
Esse extenso perodo pode ser explicado pela hiptese de McKey (1975) apud Howe &
Smallwood (1982), em que plantas tropicais com longos perodos de frutificao,
limitam a produo de frutos maduros, com polpas suculentas e poucas sementes
grandes. Deste modo, I. edulis pode ser denominada como planta de alto investimento,
j que sua frutificao estendida para evitar que um nmero limitado de dispersores se
saciem, promovendo assim, maior disperso de sementes ao longo do tempo por
forrageadores eficientes (Howe & Smallwood 1982).
A florao de Inga stipularis do tipo anual (sensu Newstrom et al. 1994), ou
do tipo cornucpia (sensu Gentry 1974), estendendo-se por oito meses sem
interrupes, com o pico nos meses de abril e maio, havendo produo de flores de
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janeiro a meados de julho, perodo correspondente estao chuvosa, o que demonstra
certo grau de sazonalidade.
Segundo Van Schaik et al. (1993), a produtividade das plantas potencialmente
limitada por fatores abiticos como gua, luz, minerais etc. Como I. stipularis iniciou a
florao nos meses de maior precipitao, enquadra-se no postulado por Morellato &
Leito-Filho (1992), em que com o aumento da pluviosidade, h um aumento na
decomposio da serrapilheira e como este processo disponibiliza os nutrientes
necessrios para a vegetao, provvel que esta espcie inicie suas atividades
reprodutivas em virtude desse acrscimo de umidade no ambiente.
J a frutificao de I. stipularis ocorreu nos meses de menor precipitao da
regio. Para Bawa (1983) e Primack (1987), esse tipo de padro fenolgico pode
favorecer certas espcies, uma vez que a menor incidncia de chuvas pesadas pode
contribuir para disperso das sementes e o estabelecimento de novas plntulas em
ecossistemas tropicais midos.
O perodo de florao pode servir como mecanismo de isolamento na especiao
de plantas e a competio por polinizadores pode atuar como fora seletiva,
estabelecendo e mantendo a divergncia sobre o perodo de florao de espcies
vegetais simptricas (Gentry 1974, Campbell 1985, Gottsberger 1986, Newstrom et al.
1994). Em I. edulis e I. stipularis, existe um perodo de sobreposio na florao que
entre os meses de maro a julho. Entretanto, como as espcies apresentam sndromes e
vetores de polinizao distintos, no h competio por polinizadores, o que, caso
houvesse, poderia, segundo Koptur (1984), ocasionar alteraes no sucesso reprodutivo
das espcies.
Biologia floral Nas duas espcies de Inga estudadas a separao temporal da antese com flores
abrindo apenas em um perodo do dia foi tambm reportada por Koptur (1983) na Costa
Rica para Inga mortoniana, I. oerstediana e I. quaternata. Tambm, o mecanismo floral
da dicogamia foi observado por Koptur (1983) para seis das sete espcies de Inga
estudadas. Nessas espcies, as flores apresentam protandria, em que apenas a fase
masculina funcional nas primeiras horas da antese.
Em Inga edulis e I. stipularis, tambm ocorre dicogamia, entretanto, ambas as
espcies so protognicas. Como na protoginia apenas o estigma est funcional, as flores
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abertas ficam impossibilitadas de serem autopolinizadas nas primeiras horas,
favorecendo a ocorrncia da polinizao cruzada (Koptur 1983, 1984).
Uma vez que a florao ocorre ao longo de vrios meses do ano havendo um
perodo de sobreposio entre Inga edulis e I. stipularis, a separao em vetores de
plen distintos acontece em decorrncia do comportamento floral divergente
apresentados pelas duas espcies. Geralmente, as flores do gnero Inga possuem antese
noturna, porm, so visitadas por um grande espectro de animais tanto noturnos como
morcegos, esfingdeos e mariposas, quanto diurnos como beija-flores e borboletas
(Snow & Snow 1972, Salas 1974 apud Arroyo 1981, Toledo 1975, Feinsinger 1978,
Koptur 1983).
Inga edulis por apresentar antese noturna e diurna, cor branca, flor tipo pincel,
baixo volume e concentrao de nctar e moderado aroma adocicado, recebeu visitas de
vrios animais como beija-flores, borboletas e abelhas, entretanto, pode ser considerada
uma espcie tipicamente esfingfila (sensu Faegri & Pijl 1979), uma vez que foi
primariamente polinizada por mariposas da famlia Sphingidae.
Por outro lado, Inga stipularis apresenta antese diurna, com flores brancas do
tipo pincel, apresentando numerosos estames que servem como atrativo visual e formam
o tubo estaminal que armazena a reduzida quantidade de nctar. Esta espcie que possui
um aroma quase imperceptvel, tambm foi visitada por beija-flores abelhas e moscas,
todavia, teve como polinizadores primrios borboletas, principalmente da famlia
Heperiidae e Papilionidae, sendo, portanto caracterizada como uma espcie psicfila
(sensu Faegri & Pijl 1979).
Apesar de ambas as espcies possurem morfologia floral pouco especializada e
serem visitadas por um amplo espectro de animais (Koptur 1983), as flores apresentam
os estames fusionados formando um tubo onde fica armazenado o nctar. O tubo
estaminal, o qual est totalmente recoberto pelo perianto em ambas as espcies, pode
estar associado proteo do nctar, excluindo a presena de animais oportunistas que
possam vir a usufruir desse recurso (Faegri & Pijl 1979).
Dinmica da produo de nctar
O nctar considerado atrativo floral primrio por Faegri & Pijl (1979),
servindo como alimento para muitos animais que visitam as flores repetidamente,
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podendo promover a polinizao cruzada (Faegri & Pijl 1979, Proctor et al. 1996). O
baixo volume de nctar encontrado nas flores de Inga edulis e I. stipularis induz os
animais a realizar visitas a diversas flores seqencialmente, acarretando geitonogamia
ou a ocorrncia de polinizao cruzada.
Inga edulis produziu nctar em um perodo de 22h, com volume variando entre
0,3 a 4,3l, havendo tambm variao no volume e na porcentagem ao longo da noite e
do dia seguinte abertura das flores (Figura 6A). Essa variao pode ser controlada por
fatores fisiolgicos da planta, entretanto, Corbet et al. (1979) sugerem que essa variao
na porcentagem parece ser mais influenciada pelas condies climticas, por exemplo,
umidade relativa, que difere durante a noite e o dia, afetando a produo de nctar em
flores de tubo curto como as do gnero Inga.
Durante o perodo de atividade floral, I. edulis recebeu visitas de abelhas,
borboletas e principalmente de esfingdeos e beija-flores. O nctar nessa espcie
apresentou concentrao mdia de 14,5% que fica abaixo dos valores encontrados por
Baker & Baker (1983) Baker et al. (1998), Gottsberger et al. (1984) e Perret et al.
(2001) para espcies esfingfilas, cujo limite inferior de 16% e o superior de 24%.
J os valores de concentrao preferidos pelos beija-flores bastante varivel,
oscilando entre 8,5% - 30% (Percival 1974, Baker 1975, Buzato et al. 2000, Perret et al.
2001). Feinsinger (1978) aponta que para um beija-flor de 4,5g so necessrios 640l
dirios de nctar para suprir suas necessidades metablicas. A baixa concentrao de
acares no nctar de I. edulis e principalmente o baixo volume podem explicar a alta
taxa de geitonogamia promovida pelos beija-flores, uma vez que necessrio um
nmero alto de visitas a cada forrageio em decorrncia do baixo volume de nctar por
flor encontrado nessa espcie.
A anlise de vrias espcies de plantas neotropicais, inclusive do gnero Inga,
polinizadas por morcegos revelou que os valores de concentrao de nctar oscilaram
entre 6,5% - 20% (Vogel 1968, Koptur 1983, Hopkins 1984, Helversen 1993, Machado
et al. 1998, Gribel et al. 1999, Perret et al. 2001, Vogel et al. 2005). Entretanto, apesar
de possuir concentrao semelhante a espcies tipicamente quiropterfilas, no foi
registrado a visita de morcegos s flores de I. edulis durante o perodo de observao.
Inga stipularis foi principalmente polinizada por borboletas, embora tambm
tenha reccebido visitas de beija-flores, de abelhas e de uma espcie de mosca. Assim
como em Inga edulis, I. stipularis apresentou uma baixa porcentagem de acares no
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nctar, entretanto esse valor semelhante ao padro de espcies psicofilas (12% - 44%)
de acordo com Percival (1965), Baker (1975) e Wolff (2006).
Como existe sobreposio de valores das concentraes de acares no nctar
entre espcies que so polinizadas por abelhas, borboletas, esfingdeos e beija-flores, a
baixa concentrao evidenciada no nctar de I. edulis e I. stipularis pode explicar a
variedade de animais visitando suas flores ao longo do dia e da noite.
Os valores de volume de nctar foi oito vezes maior em flores submetidas a
vrias extraes dessa substncia, quando comparado a flores submetidas a apenas uma
extrao, sendo semelhante aos resultados encontrados por Koptur (1983) para Inga
brenesii, I. puncata, I. mortoniana e I. oerstediana. Esse resultado indica que existe por
parte da flor um mecanismo de economia na produo de nctar, sendo a quantidade de
nctar produzida possivelmente diretamente proporcional freqncia de visitas,
aumentando medida que eleva o nmero de visita. Por outro lado, na ausncia de
polinizadores e/ou pilhadores, as flores cessam ou produzem uma quantidade de nctar
significativamente inferior das flores que esto expostas a visitas peridicas (Koptur
1983).
Visitantes florais e disponibilidade polnica
As mariposas da famlia Sphingidae e os morcegos vm sendo apontados como
os principais grupos de animais polinizadores de espcies de Inga, uma vez que suas
flores so noturnas e adaptadas polinizao por estes animais (Vogel 1968, Howell &
Burch 1974, Silberbauer-Gottsberger & Gottsberger 1975, Koptur, 1983, Endress 1994).
Os esfingdeos, como outros lepidpteros, tm importante papel na disperso de plen
de vrias espcies de plantas, devido ao hbito alimentar nectarvoro das formas adultas
desses animais (Motta 1993).
Inga edulis foi efetivamente polinizada por seis das oito espcies de esfingdeos
que visitaram as flores. As espcies Erinnyis ello ello e Pachylia syces syces em virtude
das altas taxas de visitas s flores, foram considerados os principais dispersores de plen
dessa espcie no presente estudo. Protambulyx strigilis, Enyo lugubris lugubris,
Pachygonia caliginosa e Unzela japix japix tambm foram seus polinizadores
primrios, entretanto suas visitas foram restritas ao pico e ao final da florao. Apenas
Aellopos titan titan e Aellopos ceculus no foram considerados polinizadores, uma vez
que Aellopos titan titan visitava as flores em processo de absciso, j sem plen e
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Aellopos ceculus que visitava as flores no perodo em que apenas a fase feminina estava
funcional.
Os esfingdeos so responsveis por cerca de 75% do fluxo polnico na
populao estudada de I. edulis. Apesar da baixa quantidade de frutos formados
(manuscrito II), a alta freqncia de visitas aliada ao baixo nmero de flores visitadas
em um mesmo indivduo responsvel pelo sucesso reprodutivo dessa espcie. Essa
relao positiva entre as flores de Inga e a esfingofilia deve-se ao fato de que essas
espcies apresentam uma convergncia no padro morfolgico que est fortemente
adaptada polinizao por essas mariposas (sensu Faegri & Pjil 1979, Koptur 1983).
O alto ndice de flores produzidas pelas espcies de Inga estudadas serve de
atrao e disponibiliza recurso de fcil acesso aos beija-flores, que podem de acordo
com Snow & Snow (1972), Wolf et al. (1976) e Feinsinger (1978), serem eficientes
vetores de plen de espcies que apresentam esse padro na florao.
Segundo Linhart (1973) e Stiles (1975) ocorrem dois tipos de estratgia
alimentar entre os beija-flores, territorialidade e linha de captura (trapline), revelado
pelo distinto padro de forrageio. Na territorialidade, o beija-flor estabelece uma rea de
alimentao com plantas prximas defendendo-as de outras espcies de aves que se
aproximem. Na linha de captura, o beija-flor segue uma rota regular de visita a plantas
isoladas entre si.
Como I. edulis uma espcie com antese noturna e diurna, teve como visitantes
florais os beija-flores Hylocharis saphirina e Thalurania furcata, ambos apresentando
comportamento territorialista. No incio da antese, as flores de I. edulis so visitadas
pelos beija-flores, entretanto, apesar de tocar nas partes reprodutivas da flor durante
suas visitas, as aves no realizavam a polinizao, uma vez que as anteras esto
fechadas. Em flores abertas do dia anterior, os beija-flores atuam como polinizadores
ocasionais, j que 75% das polades j tm sido retiradas pelos esfingdeos durante a
noite anterior.
Esse baixo ndice de polinizao agravado pela territorialidade, que diminui o
fluxo de plen de uma determinada populao, uma vez que fica delimitada uma rea
explorada pelos beija-flores. Stiles (1981) comenta que o efeito da territorialidade na
polinizao cruzada depende da rea de abrangncia e do nmero de indivduos vegetais
da populao. Como a maioria das espcies de Inga so auto-incompativeis (Arroyo
1981, Koptur 1984), o comportamento territorialista de Hylocharis saphirina e
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Thalurania furcata pode causar um efeito negativo na formao de frutos em I. edulis.
Todavia, nos meses de novembro/2006 a maro/2007 os esfingdeos no foram
observados nas flores de I. edulis, sendo os beija-flores polinizadores primrios dessa
espcie durante esse perodo.
Inga stipularis recebeu visitas espordicas dos beija-flores Amazilia versicolor e
Thalurania furcata que apresentaram comportamento em linha de captura durante suas
visitas. Thalurania furcata foi observado apenas uma vez durante 60h de observao e
Amazilia versicolor tambm foi um visitante raro, sendo ambos considerados como
polinizadores ocasionais de I. stipularis.
As cinco espcies de borboletas visitantes s flores de I. edulis, todas da famlia
Hesperiidae no contribuem para o fluxo polnico em virtude dos seus tamanhos em
relao ao das flores e da baixa freqncia de visitas. Por outro lado, as borboletas so
responsveis por mais de 80% da freqncia dos animais que visitam as flores de
I.stipularis ao longo de sua florao. De acordo com a freqncia e com o
comportamento de visita, todas as borboletas da famlia Hesperiidae e Papilionoidae
foram consideradas polinizadores. Entretanto, Tarsoctenus papias (Hesperiidae),
Parides triopas (Papilionoidae) e Stalachtis calliope (Riodinidae) foram pouco
freqentes s flores, sendo polinizadores ocasionais de I. stipularis. Espcies de
borboletas da famlia Papilionoidae so freqentemente encontradas em flores tambm
visitadas por beija-flores. Um exemplo dessa associao de visitantes, alm deste
trabalho, o de Caesalpinia pulcherrima, cujas flores so visitadas principalmente por
borboletas Papilionoidae e Pieridae e por beija-flores (Cruden & Hermann-Parker
1979).
Wiklund et al. (1979) hipotetizam que as borboletas evoluram como um grupo
de parasitas alimentando-se do nctar de flores sem, entretanto, poliniz-las. Wiklund
et al. (1979) e Murphy (1984) sugerem que nas zonas temperadas as borboletas so
polinizadores pouco eficientes. Na mesma direo, Machado & Sazima (1987)
assinalam a pequena contribuio das borboletas como polinizadores de espcies de
plantas tropicais, sugerindo uma modificao da sndrome de psicofilia (sensu Faegri &
Pjil 1979). Entretanto, I. stipularis apresentou-se como uma espcie exclusivamente
psicfila, aparentando ser altamente dependente das borboletas para o fluxo polnico e a
conseqente formao de sementes, uma vez que essa espcie no forma frutos por
autopolinizaes (manuscrito II).
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Agradecimentos Ao MSc. Robson Rodrigues pelo auxlio no trabalho de campo. Aos
Drs. Mario Con Haft (INPA), Mrcio Oliveira (INPA), Rosemary Vieira (TEAM/INPA)
e Andr Freitas (Unicamp) pela gentileza na identificao das espcies de beija-flores,
abelhas e borboletas, respectivamente. Dra. Catarina Motta (INPA) pela identificao
das espcies de esfingdeos. Ao Dr. Thierry Gasnier (UFAM) pelo auxlio com as
anlises estatsticas. Ao Dr. Marcos Antnio (UFAM) por permitir o desenvolvimento
deste trabalho na Fazenda Experimental da UFAM. Ao Laboratrio de Biologia Floral e
Reprodutiva (Polinizar) (UFPE). Ao CNPq pela concesso da bolsa de mestrado e a
CAPES pelo apoio financeiro.
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