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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro Escola Nacional de Botânica Tropical Mestrado Profissional em Biodiversidade em Unidade de Conservação Trabalho de Conclusão Distribuição espacial e fatores de ameaça à sobrevivência da ariranha (Pteronura brasiliensis) (Carnivora: Mustelidae) Luciana Gosi Pacca Berardi Rio de Janeiro 2015

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Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Escola Nacional de Botânica Tropical

Mestrado Profissional em

Biodiversidade em Unidade de Conservação

Trabalho de Conclusão

Distribuição espacial e fatores de ameaça à sobrevivência da

ariranha (Pteronura brasiliensis)

(Carnivora: Mustelidae)

Luciana Gosi Pacca Berardi

Rio de Janeiro

2015

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I

Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro

Escola Nacional de Botânica Tropical

Mestrado Profissional em

Biodiversidade em Unidade de Conservação

Distribuição espacial e fatores de ameaça à sobrevivência da

ariranha (Pteronura brasiliensis)

(Carnivora: Mustelidae)

Luciana Gosi Pacca Berardi

.

Orientador: Dr. Ronaldo Gonçalves Morato

Coorientadora: Dra. Lara Gomes Côrtes

Rio de Janeiro

2015

Trabalho de Conclusão apresentado ao

Programa de Mestrado Profissional em

Biodiversidade em Unidades de

Conservação da Escola Nacional de

Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas

Jardim Botânico do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção

do título de Mestre em Biodiversidade em

Unidades de Conservação.

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II

Distribuição espacial e fatores de ameaça à sobrevivência da

ariranha (Pteronura brasiliensis) (Carnivora: Mustelidae)

Luciana Gosi Pacca Berardi

Trabalho de Conclusão apresentado ao Programa de Mestrado Profissional em

Biodiversidade em Unidades de Conservação da Escola Nacional de Botânica

Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em

Biodiversidade em Unidades de Conservação.

Aprovada por:

Prof. Dr. Ronaldo Gonçalves Morato (Orientador) ______________________

Profª. Dra. Marinez Ferreira de Siqueira______________________________

Profª. Dra. Kátia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz _____________

Em __/__/ 20__

Rio de Janeiro

2015

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III

Berardi, Luciana Gosi Pacca. B483d Distribuição espacial e fatores de ameaça à sobrevivência da ariranha

(Pteronura brasiliensis) (Carnivora: Mustelidae). / Luciana Gosi Pacca Berardi. – Rio de Janeiro, 2015.

XI, 86 f:il.28cm. Trabalho de conclusão (Mestrado Profissional em Biodiversidade

em Unidades de Conservação) – Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro / Escola Nacional de Botânica Tropical, 2015.

Orientador: Ronaldo Gonçalves Morato.

Bibliografia. 1. Conservação de espécies. 2. Pteronura brasiliensis. 3.

Modelagem de distribuição. I. Título. II. Escola Nacional de Botânica Tropical.

CDD 639.93098

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IV

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao meu orientador, Prof. Dr. Ronaldo Gonçalves Morato, que

desde o primeiro contato foi muito atencioso e gentil, sempre mantendo um excelente

diálogo, com muita disposição, que me acolheu para uma ótima parceria, bastante

produtiva e de muito aprendizado!

À minha coorientadora, Dra. Lara Gomes Côrtes, pela incrível parceria, dedicação e

tempo que passamos juntas durante este processo, pela ajuda e acompanhamento em

campo e pela maravilhosa amizade, que vem dos tempos do Tocantins, com direito a

muitas aventuras e muito aprendizado!

Agradeço às professoras Dra. Marinez Ferreira de Siqueira e Dra. Kátia Ferraz

pelos ensinamentos e inspirações do mundo da modelagem e por terem aceitado fazer parte

da banca examinadora deste trabalho.

Agradeço à coordenação do Programa Biodiversidade em Unidades de

Conservação da Escola Nacional de Botânica do Rio de Janeiro, pela iniciativa de

incentivar o Mestrado Profissional na área ambiental, da qual a gestão 2013/2014 ofereceu

excelentes disciplinas, com ótimos professores que contribuíram grandemente para minha

formação.

Agradeço ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio/MMA) por apoiar a parceria deste programa de pós-graduação com o Instituto

Nacional de Botânica do Rio de Janeiro (JBRJ/MMA) e à Diretoria de Pesquisa, Avaliação

e Monitoramento, que através da Coordenação-Geral de Manejo para Conservação

financiou as expedições à campo para a realização deste trabalho.

Agradeço à Cintia Camila Angelieri pela essencial ajuda com o bias grid, à

Caroline Nóbrega pela disponibilização do script para o cálculo das métricas de avaliação

no programa R e ao Tiago Castro Silva pela fundamental ajuda com a variável dos

remanescentes do INPE.

Agradeço imensamente aos colaboradores de registros de Pteronura brasiliensis

que os coletaram em campo e gentilmente os disponibilizaram para este trabalho:

Emanuela Evangelista, Natália Mundim Tôrres, Thiago Orsi Laranjeiras, Lívia de Almeida

Rodrigues, Havana Maduro, Renata Bocorny de Azevedo, Marcelo Henrique de Carvalho,

Bruno de Campos Souza, Romério Briglia, Érika Fujisaki, Moreno Martins, Wanieulli

Pascoal Nascimento, Samuel Nienow, Rainor Mansur, Sérgio Morato, Ana Paula Lustosa,

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V

Leidiane Brusnello Diniz, Whaldener Endo, Frederico Martins, Selma Onuma e Cláudia

Rocha-Campos.

Agradeço aos meus amigos e colegas de equipe de trabalho da Estação Ecológica

de Maracá: Bruno de Souza Campos, Benjamim Bordallo da Luz, Marcelo Henrique de

Carvalho, Nilva Pereira Viana, Fernando Robert e Jaquelice Guerra, pelo ótimo trabalho

que construímos, pelo apoio e compreensão durante o desenvolvimento deste trabalho.

Agradeço à Lívia de Almeida Rodrigues pela introdução ao mundo das ariranhas,

pela capacitação, ajuda e acompanhamento em campo e pelo apoio durante todo o

desenvolvimento do trabalho. À Renata Bocorny de Azevedo pelo acompanhamento e

ajuda em campo e pelas produtivas conversas durante a construção deste trabalho. Ao

Claudiomiro Parente, excelente piloto de embarcação fluvial, que foi imprescindível para a

realização das expedições a campo.

Agradeço a todos colegas de mestrado, principalmente Mariana Fava Cheade,

Rafael Ferreira Costa, Priscila Costa, Vinícius Melo, Leidiane Diniz e Lívia Abdalla pela

parceria e apoio durante as disciplinas e aventuras no Rio de Janeiro.

Agradeço a minha família, em especial mamma que sempre se preocupou com

minha formação e me conduziu da melhor forma ao mundo e ao meu querido Juks, pela

força, paciência, carinho e incentivo com as ariranhas!

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VI

Resumo Geral

A modelagem de distribuição de espécies é uma ferramenta muito poderosa para

obtenção de respostas para questões de ecologia e conservação da biodiversidade e pode

ser aplicada no planejamento e nas ações de gestão para políticas públicas. Neste estudo,

testamos se a inclusão de uma variável de cobertura de uso do solo nos processos de

modelagem de distribuição potencial de espécies geraria modelos com maior capacidade

para prever a distribuição potencial de Pteronura brasiliensis (ariranha) em Roraima e na

América do Sul. Testamos ainda se a inclusão de uma correção de viés de amostragem

geraria modelos com maior capacidade de predição na América do Sul. Usamos TSS, AUC

e taxa de omissão, como métricas de avaliação e realizamos validação externa, com

registros independentes. Os testes estatísticos foram ANOVA de medidas repetidas e

ANOVA two-way de medidas repetidas. A adição de variáveis de cobertura do solo tanto

para Roraima, como para a América do Sul não apresentou diferença significativa no

desempenho da distribuição potencial da ariranha. Esta espécie foi apontada como espécie-

chave para programas de conservação e controle de qualidade do habitat no estado, bem

como para monitoramento da biodiversidade nas unidades de conservação. Concluímos

que os modelos gerados com a correção do viés de amostragem demonstraram melhor

desempenho na América do Sul. Enfatizamos a importância de se trabalhar o

tendenciamento de coleta dos registros usados nos procedimentos de modelagem.

Indicamos áreas prioritárias para conservação da ariranha e para realização de inventários.

Ressaltamos a imprescindível importância das matas ciliares para a conservação da

espécie.

Palavras chave: Pteronura brasiliensis, modelagem de distribuição de espécies,

conservação.

Abstract

The species distribution modeling is a powerful tool for obtaining answers to

questions of ecology and biodiversity conservation and can be applied in planning and

management actions for public policy. In this study, we tested whether the inclusion of a

land use variable in potential species distribution modeling processes generate models with

greater capacity to predict the potential distribution Pteronura brasiliensis (giant otter) in

Roraima and South America. We also tested if the inclusion of a sampling bias correction

would generate models with greater predictive ability in South America. We used TSS,

AUC and omission rate as evaluation metrics and we performed external validation with

independent records. Statistical tests were ANOVA repeated measures and two-way

ANOVA for repeated measures. The addition of a land cover variables to Roraima abd to

South America showed no significant difference in the performance of potential

distribution of the giant otter. This species has been identified as key species for

conservation programs and habitat quality control in Roraima as well as for monitoring of

biodiversity in protected areas. We concluded that models generated with the correction of

sampling bias demonstrated better performance in South America. We emphasize the

importance of correcting the bias that may occur in records’s data used in the modeling

procedures. We indicate priority areas for conservation and conducting inventories for

giant otter. We stress the essential importance of riparian forests for the conservation of the

species.

Keywords: Pteronura brasiliensis, species distribution modeling, conservation.

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VII

LISTA DE TABELAS

Capítulo 1

Tabela 1. Composição de variáveis ambientais de cada grupo testado.

Tabela 2. Valores da área total de adequabilidade ambiental e média de porcentagem de

acertos pela validação externa para os três grupos de variáveis.

Capítulo 2

Tabela 1. Métodos usados para os quatro testes metodológicos de viés de amostragem e

teste da inclusão da variável de uso do solo, GlobCover (ESA, 2009) com o método Cross-

validation.

Tabela 2. Métodos usados para os quatro testes metodológicos de viés de amostragem e

teste da inclusão da variável de uso do solo, GlobCover (ESA, 2009) com o método de

partição espacial

Tabela 3. Valores de área total de adequabilidade ambiental e média de porcentagem de

acertos pela validação externa para os três grupos de variáveis.

Tabela 4. Resultados da validação externa, tamanhos de áreas e valores de maiores e

menores adequabilidades para filtragem espacial e bias grid.

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VIII

LISTA DE FIGURAS

Introdução Geral

Figura 1. Ariranhas (Pteronura brasiliensis) no Rio Uraricoera, Estação Ecológica de

Maracá, Roraima, norte da Amazônia, Brasil.

Capítulo 1

Figura 1. Localização de Roraima na América do Sul (A). Área de estudo, mostrando os

limites políticos de Roraima e as bacias hidrográficas dos rios Branco e Jauaperi (B).

Figura 2. Localização geral do trajeto das saídas a campo no estado de Roraima (A). Visão

aproximada dos trajetos percorridos nas quatro expedições e as duas Unidades de

Conservação, em verde: 1)Trajeto em azul, expedição ESEC Maracá/Rio Uraricoera,

passando pelo sul da ESEC Maracá; 2) Trajeto em verde, expedição Rio Parimé e

afluentes; 3)Trajeto em rosa, expedição FLONA Roraima; 4)Trajeto em vermelho,

expedição de validação, no Rio Tacutu e Rio Branco (B).

Figura 3. Registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis em Roraima.

Figura 4. Avistamento direto (A) Avistamentos indiretos (B, C, D e E) de Pteronura

brasiliensis.

Figura 5. Modelo Médio Ponderado somente com as variáveis físicas e climáticas (A).

Modelo Médio Ponderado com adição da variável GlobCover (ESA, 2009) (B).Modelo

Médio Ponderado com adição da variável criada a partir dos dados do INPE, 2009 (C)

Figura 6. O modelo de incerteza considerando o desvio padrão das adequabilidades dos

cinco modelos gerados pelo grupo 1.

Capítulo 2

Figura 1. Registros de ocorrência de ariranha usados nos procedimentos de modelagem

para a América do Sul.

Figura 2. Sem bias grid, sem a variável GlobCover (A). Com bias grid, sem a variável

GlobCover, em destaque, modelo escolhido (B). Sem bias grid, com a variável GlobCover

(C). Com bias grid, com a variável GlobCover (D).

Figura 3. Modelo de incerteza, considerando o desvio padrão das adequabilidades dos

modelos gerados com bias grid e sem a variável GlobCover (cross-validation).

Figura 4. Unidades de Conservação e adequabilidade ambiental potencial para ariranha na

América do Sul

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IX

Figura 5. Unidades de Conservação estaduais e federais e adequabilidade ambiental

potencial para ariranha no Brasil.

Figura 6. Unidades de Conservação Federais e Estaduais com e sem registros conhecidos

de ariranha. Várias unidades sem registro apresentaram muito alta adequabilidade

potencial para ocorrência da espécie e são indicadas para realização de inventários.

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X

SUMÁRIO

Agradecimentos............................................................................................................IV

Resumo.........................................................................................................................VI

Abstract........................................................................................................................VI

Lista de tabelas.............................................................................................................VII

Lista de figuras.............................................................................................................VIII

Introdução Geral............................................................................................................01

Referências Bibliográficas.............................................................................................07

Capítulo 1

1.0 Introdução.................................................................................................................10

2.0. Material e Métodos..................................................................................................12

2.1. Área de estudo e registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis.....................12

2.2. Seleção de variáveis..............................................................................................16

2.3. Viés de amostragem..............................................................................................18

2.4. Método de modelagem, avaliação e validação......................................................19

3.0.Resultados.................................................................................................................21

4.0. Discussão..................................................................................................................26

Referências bibliográficas...............................................................................................30

Capítulo 2

1.0. Introdução..................................................................................................................36

2.0. Material e Métodos....................................................................................................38

2.1. Área de estudo e registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis.......................38

2.2. Seleção de variáveis................................................................................................40

2.3. Viés de amostragem................................................................................................43

2.4. Algoritmo e procedimentos de modelagem............................................................44

2.5. Avaliação de desempenho dos modelos.................................................................46

2.6. Análises estatísticas................................................................................................47

2.7. Pós-modelagem.......................................................................................................47

3.0 Resultados...................................................................................................................48

4.0. Discussão....................................................................................................................55

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XI

Material Suplementar 1....................................................................................................66

Material Suplementar 2....................................................................................................71

Referências bibliográficas................................................................................................72

Considerações finais.........................................................................................................84

Referências bibliográficas.................................................................................................86

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1

1. Introdução Geral

Pteronura brasiliensis (Zimmerman, 1780), conhecida como ariranha ou onça

d´água, é a maior das espécies da subfamília Lutrinae (Carnívora: Mustelidae) e é

endêmica da América do Sul (Carter & Rosas, 1997) (Figura 1). Possui como uma de suas

principais características manchas brancas na porção ventral do pescoço, pernas curtas, pés

grandes e dedos completamente unidos por uma membrana interdigital, podendo alcançar

de 25 a 35 kg e ter de 100 a 180 cm de comprimento (Eisenberg & Redford, 1999).

Bigodes faciais longos e numerosos se projetam a partir do focinho, testa e têmporas os

quais devem ser altamente sensíveis, a fim de facilitar a localização da presa em águas

turvas, quando a visão é prejudicada (Duplaix 1980).

Pteronura brasiliensis é um dos maiores predadores das florestas tropicais e áreas

alagáveis da América do Sul (Utreras et al., 2005). De hábito alimentar piscívoro,

especializada em capturar peixes em águas rasas (Duplaix, 1980; Laidler, 1984; Rosas et

al., 1999) a ariranha se alimenta majoritariamente de peixes, muitos de alto valor

econômico e de interesse para a população humana. Os Caracídeos – piranhas, pacu,

curimatã, e matrinxã - (Characidade, Serrasalmidae e Curimatidae), os Perciformes

(Cichlidae) – tucunarés e cará - e os Siluriformes – bagres - (Carter & Rosas, 1997; Cabral

et al., 2010) compõem o que a espécie consome, o que chega a ser até um décimo de sua

massa corporal em peixe por dia (Duplaix, 1980; Carter et al., 1999). Quando a abundância

de peixe é baixa, a ariranha pode se alimentar de crustáceos, pequenas cobras, pequenos

jacarés (Duplaix, et. al., 2008) e até, com menor frequência, de mamíferos (Cabral et al.,

2010).

Pteronura brasiliensis está classificada pela IUCN como Em Perigo (EN) pelo

critério A3cd. Isso significa, segundo Groenendijk, et al. (2005), que a redução do tamanho

populacional de ariranhas será igual ou superior a 50%, em um prazo de três gerações da

espécie que representa, aproximadamente, 21 anos. Atualmente é um dos mamíferos mais

ameaçados da América do Sul (Pickles et al., 2012). No Brasil, a Portaria nº 444/2014 do

Ministério do Meio Ambiente a reconhece como ameaçada de extinção, categoria

vulnerável, e a espécie já estava incluída na lista brasileira de espécies ameaçadas de

extinção desde 1989 (IBAMA, 1989).

Acredita-se que atualmente a espécie esteja extinta em Minas Gerais, Rio de

Janeiro, Santa Catarina (Biodiversitas, 2008) e Rio Grande do Sul (Fontana et al., 2003;

Biodiversitas, 2008). Em São Paulo (Bressan et al., 2009) e Paraná (Paraná 2010) é

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2

classificada como criticamente ameaçada (Biodiversitas, 2008) e regionalmente extinta no

Espírito Santo (Passamani & Mendes 2007).

Adicionalmente, a espécie ainda está incluída desde 1973 no apêndice I (Species

Threatened with Extinction) da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da

Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES). É a categoria mais restritiva

contra a comercialização tanto de espécimes vivos quanto dos produtos provenientes de

seu abate (CITES, 2008).

Apesar da ariranha ser classificada como ameaçada em todas as listas oficiais

nacionais e internacionais, ainda é muito limitado o entendimento à respeito das exigências

ecológicas, distribuição geográfica e área de vida da espécie (Utreras et al., 2005).

Animais de hábito alimentar piscívoro, as ariranhas são indicadoras da qualidade do

ecossistema aquático e são consideradas bioindicadores de ambientes saudáveis, bem como

espécie-chave, pois seu desaparecimento reflete em diferentes níveis tróficos, com

influência em toda a cadeia alimentar (Groenendijk, 1998; Dourojeanni & Jorge Pádua,

2001). A sobrevivência da ariranha pode nos ajudar no planejamento e na gestão do uso do

território, nos processos de ocupação humana e na exploração dos recursos naturais.

Segundo Duplaix et al., (2008), Pteronura brasiliensis vive em águas calmas de

rios, riachos, lagos e pântanos de florestas tropicais de baixa altitude, com alta abundância

de alimento, onde haja barrancos de pouca inclinação para a criação de refúgios, com a

presença de vegetação densa e preservada. Para Duplaix (1980) estes dois últimos fatores

possuem grande relevância para sua ocorrência, e aponta ainda alguma preferência da

espécie por rios de água preta e de fundos arenosos ou rochosos. Segundo Carter & Rosas

(1997), a ariranha ocorre em planícies inundáveis de até 300m de altitude.

As preocupações atuais de grande ameaça para a ariranha são aquelas que se

referem à destruição de habitat, como atividades de exploração madeireira, de mineração,

construção de barragens para hidroelétricas, desmatamento, poluição de diversas fontes dos

corpos d´água e crescimento urbano (Carter & Rosas, 1997), não podendo deixar de lado

exploração de hidrocarbonetos, sobre pesca, colonização humana ao longo dos cursos

d´água, turismo desordenado (Groenendijk, 1998), as doenças de animais domésticos e a

caça ocasional (Groenendijk et. al., 2005; Duplaix et. al., 2008).

Historicamente, a ariranha ocorria em todos os países da América do Sul, com

exceção do Chile. No território nacional, ocorria desde o Rio Grande do Sul, até a

Amazônia (Biodiversitas, 2008). Dados de distribuição da espécie precisam ainda de mais

informações e estudos, mas neste momento, acredita-se que as ariranhas sejam raras no

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3

Equador, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Peru, e na porção ocidental da Amazônia

brasileira. Acredita-se que os últimos grandes redutos de ariranhas sejam na Guiana,

Suriname e Guiana Francesa, embora quase não haja dados para o último país (Duplaix et

al., 2008). Populações de ariranhas são geralmente pequenas, isoladas ou estão em declínio

em grande parte do território brasileiro, porém no Pantanal e na bacia Amazônica ocorrem

em grandes populações (Rosas et al., 2008), ainda que no Pantanal a espécie seja

categorizada como Em Perigo (EN) e na Amazônia ela pareça apresentar uma distribuição

heterogênea com dados insuficientes de sua distribuição (ICMBio, 2010).

Para Soberón & Peterson, (2005), o método mais comum usado em modelagem de

distribuição de espécies ou modelagem de nicho ecológico é conhecido como abordagem

correlativa, onde dados de ocorrência de espécies espacializados e dados ambientais

explícitos são combinados para que algoritmos específicos possam construir uma

representação matemática do nicho da espécie. Os dados ambientais disponíveis devem

apenas representar o sub-espaço das condições e não o nicho completo da espécie, já que é

bem plausível que os pontos de ocorrência amostrados representem áreas em que as

condições sejam favoráveis, no entanto, podem existir outras áreas com condições

análogas, mas que a presença da espécie é inibida por interações interespecíficas (Soberón,

2007) ou por barreiras que impeçam seu acesso (Peterson et al., 2011).

O conceito de “nicho” é um aspecto essencial para se trabalhar com modelos de

distribuição de espécie, o qual foi ganhando diferentes interpretações ao longo dos anos,

conforme o estudo de modelagem preditiva foi evoluindo. Como consequência, vários

conceitos de nicho existem. Uma razão pela qual "nicho" adquiriu uma verdadeira gama de

significados é que desde a primeira vez que foi usado os ecologistas têm aplicado o termo

para analisar uma questão muito complexa, a fim de saber quais combinações de fatores

ambientais permitem uma espécie de existir em uma determinada região geográfica ou uma

determinada comunidade biótica e quais os efeitos que a espécie tem sobre aqueles fatores

ambientais (Peterson et al., 2011).

O primeiro a adotar a palavra “nicho ecológico ou ambiental” foi Grinnell, em

1924, que estabeleceu a relação da espécie com características ambientais, considerando

variáveis fundamentalmente cenopoéticas e relevantes ao entendimento de propriedades

ecológicas e geográficas em grande escala (Peterson, 2003). Grinnell (1924) definiu “nicho

ecológico” como sendo a última unidade de distribuição ocupada por uma única espécie,

sem levar em consideração a presença de interações com outras espécies, considerando

somente os locais que possuem as condições ambientais necessárias para uma espécie

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4

sobreviver. Em 1927, Elton revisou o conceito de nicho e o descreveu como o papel

funcional de um organismo em uma comunidade, medido em escala local, com enfoque

nas interações bióticas, principalmente dentro da cadeia trófica e na dinâmica de recursos-

consumidor, que Hutchinson (1978) definiu como variáveis bionômicas. Ambas as classes

de nichos são relevantes para a compreensão da distribuição dos indivíduos de uma espécie

(Soberón, 2007).

Mais tarde, Hutchinson (1957) atribuiu um viés matemático ao conceito de nicho

ecológico e o identificou como a soma de todos os fatores ambientais que agem em

determinado organismo, o definindo como: “Hipervolume n-dimensional limitado pelas

interações com outros organismos, que envolve todas as respostas fisiológicas às condições

do meio e depende da disponibilidade de recursos, sob as quais as populações apresentam

taxa de crescimento positivo”.

Além disso, Hutchinson distinguiu o nicho em fundamental (fisiológico ou

potencial) e realizado (ecológico, atual). O fundamental é definido sem referência às

variáveis bióticas, seriam condições ambientais que permitiriam o crescimento e a

reprodução da espécie. Já o realizado é definido como o nicho fundamental reduzido pela

interação (competição) entre espécies (Soberón, 2007). De uma forma geral, Hutchinson

definiu o nicho como uma propriedade da espécie e não do ambiente (Pulliam, 2000).

Portanto, se faz relevante o embasamento na teoria do nicho e o conhecimento sobre a

ecologia e biologia da espécie na interpretação e discussão dos resultados de modelos

dentro de um cenário conservacionista (De Marco Júnior & De Siqueira, 2009).

Como Pteronura brasiliensis é uma espécie primariamente terrestre, adaptada à

captura de alimento em ambiente aquático, ela é susceptível às transformações e

perturbações que ocorrem nos dois ecossistemas em que está inserida (Isola & Benavides,

2001). Por ocupar o mais alto nível trófico é uma das primeiras espécies a desaparecer

quando o ambiente explorado é alterado ou contaminado (Parera, 1996). Ariranhas

requerem habitat aquáticos altamente produtivos, os quais são rapidamente erodidos em

áreas desmatadas e poluídas. Por esses motivos, a ariranha pode ser definida como ótima

indicadora da qualidade do ambiente. (Barnett et al., 2000). Regiões que abrigam ariranhas

são, sem exceção, intocadas, sem perturbações e não poluídas (Groenendijk, 1998).

Portanto, identificar áreas onde existam condições ambientais apropriadas é essencial para

o planejamento de projetos de conservação, a fim de manter a diversidade dos processos

ecológicos, preservar altas densidades de espécies e para manter a conectividade ecológica

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(Clément, et al., 2014). Conservar a ariranha é conservar os processos ecológicos inerentes

à existência humana.

A fim de avaliar com mais precisão como a destruição do habitat é impactante para

a espécie no momento presente e no futuro, nós precisamos urgentemente entender a

distribuição atual e o status populacional da ariranha (Groenendijk et al., 2005).

A modelagem de distribuição de espécies como ferramenta nas iniciativas de planos

de conservação possui um papel importante e estratégico (Ferraz et al., 2012). Modelos de

distribuição potencial de espécies, que correlacionam a ocorrência das espécies com

variáveis ambientais, são instrumentos que contribuem na gestão dos recursos naturais

porque auxiliam na identificação de áreas prioritárias para conservação; na avaliação de

ameaças locais; na definição de áreas prioritárias para criação de unidades de conservação;

no planejamento do manejo dos recursos e no estabelecimento de ações para restauração

ecológica (Franklin, 2009). Portanto, compreender a relação entre condições ambientais e

distribuição potencial de espécies é fundamental para a elaboração de estratégias

adequadas para a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas baseadas em

modelagem preditiva (Ferraz et al., 2012).

Em resumo, o que se pretende com este trabalho é: 1) gerar um mapa de

distribuição potencial de Pteronura brasiliensis, em Roraima e na América do Sul; 2)

testar a hipótese de que a inclusão de uma variável de cobertura de uso do solo nos

processos de modelagem de distribuição potencial de espécies gera modelos com maior

capacidade para prever a distribuição potencial de Pteronura brasiliensis em Roraima,

norte da Amazônia; 3) testar a hipótese de que a inclusão de uma correção do viés de

amostragem nos processos de modelagem de distribuição potencial de espécies gera

modelos com maior capacidade para prever a distribuição potencial de Pteronura

brasiliensis na América do Sul; 4) identificar áreas prioritárias para conservação e

realização de inventários, em Roraima, América do Sul e no Brasil, no âmbito do Plano de

Ação Nacional da ariranha.

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Figura 1. Ariranhas (Pteronura brasiliensis) no Rio Uraricoera, Estação Ecológica de

Maracá, Roraima, norte da Amazônia, Brasil.

Foto: Luciana Pacca

Foto: Líva Rodrigues

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CAPÍTULO 1 - Distribuição espacial potencial de Pteronura brasiliensis em

Roraima, norte da Amazônia.

1. Introdução

A modelagem de distribuição de espécies como ferramenta nas iniciativas de planos

de ação para a conservação de espécies ameaçadas de extinção possui um papel importante

e estratégico (Ferraz et al., 2012). O método mais comum usado em modelagem de

distribuição de espécies (MDS) ou modelagem de nicho ecológico (MNE) é conhecido

como abordagem correlativa, em que os registros de ocorrência de espécies distribuídos no

espaço geográfico e dados ambientais da ecologia da espécie são combinados para que

algoritmos específicos possam construir uma representação matemática do nicho da

espécie (Soberón & Peterson, 2005). O primeiro uso da palavra “nicho” foi feito por

Joseph Grinnell em 1924, para se referir à posição ecológica de um animal no mundo. O

autor referiu-se ao "nicho ecológico ou ambiental", como a distribuição final de uma

"espécie ou subespécie” (Vandermeer, 1972).

As MDS são instrumentos que contribuem na gestão dos recursos naturais porque

auxiliam na identificação de áreas prioritárias para conservação; na avaliação de ameaças

locais; na definição de áreas prioritárias para criação de unidades de conservação; no

planejamento do manejo dos recursos e no estabelecimento de ações para restauração

ecológica (Franklin, 2009). Portanto, compreender a relação entre condições ambientais e

distribuição potencial de espécies é fundamental para a elaboração de estratégias

adequadas para a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas baseadas em

modelagem preditiva (Ferraz et al., 2012).

A fim de obter boas estratégias de manejo, é importante conhecer sobre a dinâmica

populacional da espécie em estudo, assim como os requerimentos das tendências de

habitat. No entanto, obter tais informações em nível regional ou nacional é muitas vezes

complicado por fatores financeiros e logísticos, sobretudo na região dos trópicos, onde o

conhecimento de muitas espécies ainda é bastante deficiente (Cuarón, 2000),

especialmente em relação a mamíferos de grande porte (Rocha & Dalponte, 2006; Costa et

al., 2004). Para superar esses problemas, a modelagem de distribuição potencial de

espécies tem sido utilizada como uma importante ferramenta em diversas áreas da ecologia

(Zimmerman et al., 2010), sendo particularmente relevante para a biologia da conservação,

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por fornecer respostas rápidas que são necessárias frente a uma crise de biodiversidade

(Soule, 1985).

Uso antrópico do solo, como agricultura, reflorestamento e urbanização, é a

principal forma de distúrbio em áreas adequadas para ocorrência de espécies e assim, o

mapeamento do uso do solo é comumente considerado por agências de planejamento, de

forma que dados de cobertura da terra tem-se tornado cada vez mais importantes na

caracterização requerida para modelagem global de mudanças ambientais (Foley et al.,

2005). Além disso, categorias de vegetação ou comunidades de plantas representam classes

e estruturas de habitat para animais e plantas e têm sido amplamente usadas como variáveis

preditoras em trabalhos de modelagem de distribuição potencial de espécies (Franklin,

2009).

Como as atividades de gestão humana alteraram a dinâmica natural de espécies

dentro dos ecossistemas, espera-se que modelos exclusivamente bioclimáticos forneçam

previsões cada vez mais ineficientes de distribuição das espécies (Araújo et al., 2001).

Uma possibilidade para compensar tais fatores induzidos pelo homem é a de incluir nos

modelos de distribuição de espécies variáveis que se esperam resumir fatores importantes

que afetam as distribuições locais de espécies (Thuiller et al., 2004). Leyequien et al.,

(2007) fazem uma revisão de estudos que usaram dados de sensoriamento remoto para

avaliar distribuição e riqueza que vários grupos taxonômicos, dentre os quais, mamíferos.

Eles concluem que a abordagem mais promissora para a avaliação, monitoramento,

previsão e conservação da diversidade da fauna parece ser a coesão de produtos de

sensoriamento remoto e dados auxiliares com modelos ecológicos de biodiversidade.

Morato et al., (2014) usaram várias variáveis de paisagem, dentre elas, a variável

GlobCover (ESA, 2009) para identificar áreas potencialmente adequadas de ocorrência,

assim como delinear áreas prioritárias para conservação da onça pintada no Bioma

Caatinga, e chegaram a um método válido para ações práticas de conservação, que

inclusive pode ser usado para outros grupos de carnívoros.

Grandes carnívoros também são frequentemente propostos como espécies focais ao

se avaliar a conectividade da paisagem, devido os seus requisitos em ocupar grandes áreas

e porque sua dispersão através da paisagem é frequentemente limitada por áreas de alto

desenvolvimento humano (Noss, et al., 1996; Thiel, 1985 apud Morato, et al., 2014). A

permeabilidade da paisagem para a migração de espécies não só é explicada pelas barreiras

físicas, mas também é fortemente influenciada por aspectos de história de vida das espécies

(Tischendorf, & Fahrig, 2000). A persistência de populações de Pteronura brasiliensis

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(ariranha) tem mostrado ser fortemente influenciada pela a habilidade de dispersão dos

indivíduos de se moverem através da paisagem (Schenck et al., 2002), portanto, manter

tais características da paisagem, como a vegetação ciliar, é provável que sejam importantes

para a espécie em habitats fragmentados (Norris & Michalski, 2009).

Como Pteronura brasiliensis é uma espécie primariamente terrestre, adaptada à

captura de alimento em ambiente aquático, ela é susceptível às transformações e

perturbações que ocorrem nos dois ecossistemas em que está inserida (Isola & Benavides,

2001). Por ocupar o mais alto nível trófico é uma das primeiras espécies a desaparecer

quando o ambiente explorado é alterado ou contaminado (Parera, 1996). Ariranhas

requerem habitat aquáticos altamente produtivos, os quais são rapidamente erodidos em

áreas desmatadas e poluídas. Assim, a ariranha pode ser definida como ótima indicadora da

qualidade do ambiente (Barnett et al., 2000), uma vez que regiões que abrigam ariranhas

são, geralmente intocadas, sem perturbações e não poluídas (Groenendijk, 1998).

Portanto, o presente estudo objetiva 1) obter um mapa de distribuição potencial de

Pteronura brasiliensis para Roraima; 2) testar a hipótese de que a inclusão de uma

variável de cobertura de uso do solo gera modelos com maior poder preditivo na

distribuição potencial de Pteronura brasiliensis em Roraima, norte da Amazônia.

2. Material e Métodos

2.1. Área de estudo e registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis.

O limite adotado como área de estudo foi o estado de Roraima, no extremo norte da

Amazônia brasileira, que quase coincide com as bacias hidrográficas do Rio Branco e do

Rio Jauaperi, conforme ilustra figura 1.

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A)

B)

Figura 1. Localização de Roraima na América do Sul (A). Área de estudo, mostrando os

limites políticos de Roraima e as bacias hidrográficas dos rios Branco e Jauaperi (B).

Com o objetivo de se conseguir registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis

(ariranha) para realizar os procedimentos de modelagem e análises de validação

posteriores, foram realizadas expedições a campo no norte do estado de Roraima, onde não

se conhecia registros precisos da espécie.

A primeira expedição, ESEC Maracá/Rio Uraricoera, ocorreu entre os dias 23 a 27

de março de 2013, em um trecho do Rio Uraricoera, principal tributário do Rio Branco,

limite entre os municípios Amajari e Alto Alegre, ao norte de Roraima. A maior parte dos

registros de ariranha encontrada ocorreu dentro do percurso realizado ao sul da Estação

Ecológica de Maracá, ambiente formado por um grande arquipélago, que compõe um

emaranhado de labirintos do rio Uraricoera entre centenas de ilhas e ilhotas e constituem o

braço Maracá, margem direita do rio. Dentro dos limites da UC, a mata ciliar é florestal

densa, muito bem preservada e o dossel se limita, em média, a cinco metros de altura. A

medida que o rio Uraricoera desce a leste e sai da ESEC, a ocupação humana aumenta,

assim como o uso e exploração de suas margens.

A segunda expedição, no Rio Parimé e afluentes, ocorreu entre os dias 8 a 10 de

julho de 2013, período de cheia na região, época em que o rio é navegável. O rio Parimé é

um dos tributários do rio Uraricoera e passa pelo município de Pacaraima, a nordeste do

estado de Roraima. O ambiente é predominantemente de lavrado (Barbosa et al., 2005),

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termo regional que caracteriza a vegetação como arbóreo-arbustiva não florestal, com áreas

campestres e lagos intermitentes. A mata ciliar é a única mata mais densa, geralmente bem

preservada, com dossel de, em média 3 metros de altura.

Na terceira expedição, no Igarapé Preto, dentro da Floresta Nacional de Roraima

(FLONA Roraima), município de Alto Alegre, norte do estado, não houve registros. A

saída de campo foi de somente um dia (25/05/2013), pois a forte chuva atrapalhou a

logística, a navegabilidade e a segurança dos participantes. Apesar do esforço de 8 horas,

acredita-se que possíveis registros indiretos possam ter sido apagados devido à chuva e a

capacidade de detecção dos observadores, limitada.

A quarta expedição, realizada do dia 24 a 28 de março de 2014, percorreu parte do

rio Tacutu e rio Branco, nos municípios de Pacaraima e Boa Vista. Nesta expedição foram

coletados registros para validação externa dos modelos.

Todas as expedições foram realizadas em barcos de alumínio com motores 25HP a

uma velocidade média de 10 km/h, a qual permitia o avistamento direto de animais assim

como o encontro de vestígios. Em média, foram oito horas de observações por dia,

totalizando 40 horas de esforço amostral e 280 km percorridos, para a primeira expedição,

25 horas e 130 km percorridos para a segunda, 8 horas e 30m km percorridos para a

terceira e36 horas e 320 km percorridos para a quarta, aproximadamente.

Todos os avistamentos diretos e indiretos foram fotografados e tiveram a

coordenada geográfica coletada com GPS Garmim 62s, em DATUM WGS84. Medidas da

largura e altura do barranco em relação à linha d´água de tocas e acampamentos

encontrados foram feitas, assim como medidas da altura e largura da entrada das tocas. A

transparência da água foi mensurada com o uso de um Disco de Secchi em locais onde

foram realizados avistamentos diretos. O material suplementar 1 traz as informações sobre

os registros coletados e figura 2 mostra um mapa com os percursos de todas as expedições.

Registros adicionais foram cedidos por colegas do Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Sócio Ambiental (ISA) e

pesquisadores que atuaram ou atuam no estado. Finalmente, uma extensa revisão de

literatura também foi realizada para obtenção de novos registros.

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Figura 2. Localização geral do trajeto das saídas a campo no estado de Roraima (A). Visão

aproximada dos trajetos percorridos nas quatro expedições e as duas Unidades de

Conservação, em verde: 1)Trajeto em azul, expedição ESEC Maracá/Rio Uraricoera,

passando pelo sul da ESEC Maracá; 2) Trajeto em verde, expedição Rio Parimé e

afluentes; 3)Trajeto em rosa, expedição FLONA Roraima; 4)Trajeto em vermelho,

expedição de validação, no Rio Tacutu e Rio Branco (B).

Em Roraima, antes da realização do presente estudo, a ariranha foi estudada por

Evangelista, (2004) e Evangelista & Rosas, (2011a,b) na Reserva Xixuaú, na bacia do Rio

Jauaperi, no sul do estado. Restrepo, (2009) realizou dissertação de mestrado sobre

aspectos ecológicos da ariranha no Parque Nacional do Viruá, baixo Rio Branco, também

no sul do estado. No norte do estado, há uma citação Ad libitum da espécie na Estação

Ecológica de Maracá (Mendes Pontes et al, 2010). O mapeamento dos registros de

ocorrência de ariranha em Roraima usados no presente estudo é mostrado na figura 3.

Na resolução de um quilômetro, pode-se dizer que os registros possuem boa

precisão geográfica uma vez que todos foram coletados diretamente em campo com

equipamento GPS, em que o erro médio é de aproximadamente 80m. Também apresentam

boa resolução temporal por terem sido coletados em anos próximos entre si (de 2009 a

2014) e boa precisão taxonômica, já que a espécie foi reconhecida por pessoas

qualificadas.

Gu

ian

a In

gle

sa

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Figura 3. Registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis em Roraima.

2.2 Seleção de variáveis

Foram obtidas variáveis físicas e climáticas no site WORLDCLIM

(http://www.worldclim.org/current), das quais aquelas que demonstraram menor

colinearidade entre si, valor de 0.7, através do índice de correlação de Pearson, foram

avaliadas para serem selecionadas, baseadas na ecologia da espécie (tabela 1). Três grupos

de variáveis foram rodados com o algoritmo Maxent (Phillips et al., 2006), para teste da

inclusão de uma variável de uso do solo, dos quais o primeiro grupo era composto apenas

por variáveis físicas e climáticas retiradas do site WORLDCLIM (grupo controle). O

segundo e terceiro grupos também continham tais variáveis, adicionadas de variável de uso

do solo (tratamento). No segundo grupo o uso do solo foi incorporado como variável

categórica GlobCover, (http://due.esrin.esa.int/globcover/) e ao terceiro, uma camada

contínua, criada a partir de dados de remanescentes de vegetação nativa do INPE

(http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php.), em que corpos d´água também foram

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inseridos. As duas variáveis de uso do solo são de 2009, de modo que foi considerado o

uso de registros somente a partir desse ano. A tabela 1 mostra a composição de variáveis

de cada grupo testado.

Tabela 1. Composição de variáveis ambientais de cada grupo testado.

Grupos Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3

Variáveis

ambientais

Temperatura media

anual; Precipitação do

mês mais seco;

Altitude; Declividade;

Densidade e Distância

de drenagem.

Todas as variáveis

mencionadas no

grupo 1 + a variável

categórica

GlobCover, 2009

Todas as variáveis

mencionadas no grupo 1

+ uma variável contínua,

dos remanescentes

florestais e água,

mapeados pelo INPE,

2009.

Dados climáticos interpolados espacialmente referentes às chamadas superfícies

climáticas (Hijmans et al., 2005) são amplamente usados como variáveis de entrada nos

modelos de distribuição de espécies (Buermann et al. 2008; Franklin, 2009). Destas, duas

variáveis foram selecionadas, temperatura média anual e precipitação do mês mais seco, as

quais estão relacionadas com a vazão dos rios (Schmidt & Mattos, 2013) e apresentaram

baixa colinearidade entre si. Em áreas que possuem diferenças sazonais de vazão, a defesa

dos territórios pela ariranha é contínua na época da seca, os quais aparentemente são

abandonados durante a época da cheia, pois as ariranhas deslocam-se para a floresta

inundada para explorar um maior recurso de peixes (Duplaix, 1980; Carter & Rosas, 1997;

Duplaix, 2002). Assim, assumimos tais variáveis serem importantes para a resposta da

distribuição da ariranha, além de terem sido consideradas em estudos anteriores de grandes

mamíferos, como lontra (Rheingantz et al., 2014) e onça pintada (Morato et al., 2014).

Sendo a ariranha um animal associado a corpos d´água, foi considerado importante

adicionar ao conjunto de variáveis a distância de drenagem, criada a partir do shape de

drenagem da ANA (http://metadados.ana.gov.br/geonetwork/srv/pt/main.home) e a

densidade de drenagem, gerada a partir da aplicação de um algoritmo de interpolação

espacial (Kernel), derivada das imagens SRTM (Shuttle Radar TopographicMission)

(htp://www.dpi.inpe.br/Ambdata/densidade.php)

Duplaix (1980) sugere que os fatores-chave que influenciam a preferência de

habitat da ariranha são a declividade do barranco, cobertura de vegetação preservada e fácil

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acesso a igarapés ou áreas pantanosas, bem como uma abundância de presas vulneráveis

em águas relativamente rasas. Palmeirim et al., (2014) usaram, dentre outras variáveis, a

declividade para avaliar a escolha de habitat de grupos de ariranha no reservatório de

Balbina (AM) e verificou uma maior concentração de registros indiretos da espécies em

locais com maior declividade, portanto, assumimos ser importante incluir tal variável neste

estudo.

Segundo Carter & Rosas (1997), a ariranha ocorre em planícies inundáveis

de até 300m de altitude, portanto, também consideramos a altitude para ser incluída na

análise, além da mesma não ter apresentado colinearidade com as demais.

De acordo com Duplaix (1980), a disponibilidade de alimento e ambientes

adequados para construção de refúgios, com cobertura vegetal densa e preservada e declive

suave, são fatores que possuem grande relevância para ocorrência de P. brasiliensis, assim,

foram escolhidas duas variáveis de uso do solo: a variável categórica GlobCover (ESA,

2009) e a outra, uma variável quantitativa criada a partir de dados de taxa de desmatamento

do PRODES (INPE, 2009).

2.3 Viés de amostragem

Em estudos de ecologia é muito comum obter registros de qualquer espécie que não

refletem todas as condições ambientais onde a espécie ocorre. O viés ocorre por diversos

motivos, principalmente devido a erros de detectabilidade, que podem estar relacionados

ao observador, à época do ano, ao método utilizado, ao comportamento da espécie, às

condições climáticas encontradas no campo, e também devido à falta de delineamento

amostral, amostragem por parcelas conglomeradas ou estratificadas, amostragem aleatória

ou viciadas (Elith et al., 2010).

Visando reduzir os efeitos de viés de amostragem, foi criado e usado para este

estudo um bias grid (Elith et al., 2010), através do tutorial de Tingley & Clements (2013),

que pode ser usado no Maxent (Phillips et al., 2006), cuja estrutura é uma superfície de

área de ponderação da localização dos pontos de ocorrência e da distância entre cada um

deles, considerando também a capacidade de dispersão da espécie em estudo. Nós

assumimos a capacidade de dispersão da ariranha como sendo de 20 km (Rosas & Carter,

1997). Esta superfície permite reduzir vieses nos dados em relação ao espaço geográfico

devido ao tendenciamento de coleta (Elith et al., 2010), podendo evitar resultados e

interpretações não acuradas em estudos de modelagem de distribuição de espécies. Pontos

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espacialmente próximos (clusters) em algumas áreas e ausência de registros em outras

podem levar a um viés ambiental e tendem a levar o modelo a um sobre ajuste

(overfitting). Os valores da ponderação do bias grid são altos em áreas densamente

amostradas e baixos em regiões pouco amostradas de modo que os valores das células

refletem o esforço amostral e dão um peso para os dados aleatório de background

utilizados para a modelagem (Fourcade et al., 2014).

2.4. Método de modelagem, avaliação e validação

O Maxent (Maximum Entropy) (Phillips et al., 2006) foi o algoritmo utilizado para

caracterizar a adequabilidade ambiental da ariranha. Segundo De Marco Júnior & Siqueira

(2009) este é um dos modelos mais complexos: é uma técnica de aprendizagem-automática

(machine-learning) que estima a distribuição mais próxima à distribuição uniforme sob a

restrição de que os valores esperados para cada variável ambiental estejam de acordo com

os valores empíricos observados nos pontos de ocorrência. Dentre as várias vantagens do

programa apontadas por Phillips et al., (2006), estão a possibilidade de espacializar a

distribuição potencial de uma espécie, mesmo que predita, permitindo o uso conjunto a

outras informações espacializadas de uso da terra (categóricas ou contínuas), como a

localização de remanescentes florestais e de áreas de pressão humana, através de

ferramentas de informação geográfica e, adicionalmente, necessita apenas de dados de

presença.

Com o intuito de avaliar os modelos gerados, foi usado o método cross-validation

com cinco partições, mil iterações, portanto, dos 53 registros únicos totais, 20% foi para

teste em cada partição. Foi escolhido o método cross-validation, pois com ele é possível

usar os mesmos registros para treino e teste nos três experimentos, tornando-os

comparáveis entre si. O limiar adotado foi o ponto que otimiza a maior sensibilidade e

menor especificidade da curva do ROC (Liu et al., 2005) e a avaliação do desempenho dos

modelos foi feita através do e AUC (Mason & Graham, 2002) e TSS - True Skill Statistic

(Allouche et al., 2006), gerados no programa R Studio (2010), disponibilizado por

Caroline Nóbrega. O teste de validação que adota valores de AUC, de forma geral, segue

como indicadores da qualidade do modelo elencados segundo Metz, (1986): excelente (0,9

‒ 1); bom (0,8 ‒ 0,9); médio (0,7 ‒ 0,8); ruim (0,6 ‒ 0,7); muito ruim (0,5 ‒ 0,6). Já o TSS

é o cálculo da sensibilidade mais a especificidade menos 1 e varia de -1 a 1. Ambas as

métricas se baseiam na matriz de confusão.

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A análise estatística realizada foi ANOVA de medidas repetidas, já que se tratam de

três conjuntos de partições de registros idênticas a serem analisadas. Assim, se existir

efeito do tratamento (inclusão variável do solo, seja da GlobCover, seja a dos

remanescentes do INPE) no desempenho dos modelos gerados, o valor das métricas

observadas deve ser significantemente maior do que o esperado apenas por acaso.

Cada grupo de variáveis gerou cinco modelos, provenientes de cinco partições que

apresentaram baixos erros de omissão (Siqueira et al., 2009). Após o corte do limiar, o

modelo binário resultante foi multiplicado pelo original e atribuímos pesos de acordo com

os respectivos valores de TSS de cada modelo e fizemos uma média, criando assim

modelos médios ponderados para cada grupo de variável (Marmion et al., 2009). Além

disso, calculamos a área de adequabilidade potencial para ocorrência de ariranha de cada

um dos modelos médios ponderados finais.

Segundo Franklin (2009), de uma maneira geral, uma melhor validação de modelos

preditivos é feita quando são usados registros externos novos ou independentes, registros

estes não usados para estimar os parâmetros ou para gerar o modelo. Tendo isso em

consideração, foi realizada a validação externa dos modelos gerados, oriundos dos três

grupos de variáveis. Testou-se a capacidade de predição dos registros externos por meio de

ANOVA de medidas repetidas.

Para Giannini et al.,(2012), o ideal é planejar o levantamento de registros externos

em diferentes níveis de adequabilidade ambiental para se obter informações mais

completas sobre o tamanho da área de ocorrência da espécie. Desta forma, foram visitadas

áreas onde os modelos indicavam média e alta adequabilidade ambiental para ocorrência

da ariranha e assim, registros novos e independentes foram coletados para a validação. As

ausências não foram averiguadas, pois é muito comum haver problemas de detectabilidade

em campo, como já citado acima, e ainda, por se tratar de um animal que possui alta

dispersão, especialmente por diferenças sazonais e devido a busca de abrigo e alimento

(Utreras et al., 2005; Leuchtenberger et al., 2013), poderia resultar em dados equivocados

de ausência.

Após as análises, um grupo de variável foi escolhido como aquele que melhor

representa a distribuição potencial da ariranha no estado de Roraima e foi criado um

modelo de incerteza (Pearson et al., 2006) considerando o desvio-padrão das

adequabilidades dos cinco modelos daquele grupo. Calculou-se ainda a extensão da área de

ocorrência potencial da ariranha no estado e nas unidades de conservação para as

adequabilidades iguais e/ou superiores a 0,5 e a 0,8.

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3. Resultados

Inicialmente, foram reunidos, 81 registros de ariranha, dos quais 57 são de

avistamento direto de indivíduo ou grupo de ariranhas, e 24 de avistamentos indiretos,

como latrinas, tocas ou acampamentos (Figura 4). O material suplementar 1 traz a planilha

completa de todos os registros e informações pertinentes. Deste total, 53 registros de

ocorrência são únicos, em resolução espacial de 1km, nos limites adotados como área de

estudo (máscara), o estado de Roraima

Trinta registros de ariranha foram coletados durante as expedições a campo através

da Chamada Interna ICMBio/DIBIO 2013, 25 foram por colaboradores que os coletaram

diretamente em campo, entre os anos de 2012 e 2013, 13 são provenientes do trabalho de

Restrepo (2009) e 13 registros foram disponibilizados por Emanuela Avangelista que os

coletou no ano de 2012.

A segunda expedição a campo foi realizada inteiramente em ambiente de lavrado,

denominação regional para savana (Barbosa et al., 2005), ambiente caracterizado por

vegetação arbóreo-arbustiva não florestal, com áreas campestres e lagos intermitentes. Não

havia, até então, conhecimento na literatura de registros de ariranha neste ambiente, mas

durante nossa saída a campo, mesmo tendo sido realizada em época de cheia, quando os

rios são navegáveis, mas a detectabilidade da espécie passa ser mais difícil, conseguimos

obter seis registros, inclusive de avistamento direto.

Considerando o que se tinha de registros conhecidos na bibliografia, houve um

incremento de 500% no total de pontos de coordenadas geográficas conhecidas para a

espécie para o estado de Roraima, fato que promove uma melhora significativa nos

resultados da modelagem para análise da adequabilidade ambiental da ariranha e o

conhecimento de sua distribuição na região.

Os três grupos de variáveis geraram valores muito semelhantes tanto de AUC,

como de TSS. Os três grupos tiveram valores de média do AUC entre 0,82 e 0,83 e,

segundo critério estabelecido por Metz (1986), valores de AUC entre 0,8 e 0,9 possuem

boa capacidade preditiva. Já para as médias de TSS de cada grupo, os valores variaram

menos ainda, entre 0,613 a 0,618 e, segundo Allouche, et al., (2006) valores de 0,6 a 1,0

podem ser considerados com boa capacidade preditiva.

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Figura 4. Avistamento direto (A) Avistamentos indiretos (B, C, D e E) de

Pteronura brasiliensis.Fotos: Luciana Pacca

B) Pegada

D) Acampamento

C) Latrina E) Toca

A) Avistamento direto

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Portanto, os valores apresentados pelos três grupos são bons, mas não

destacam nenhum grupo de variável como de melhor desempenho, o que nos sugere que,

através dessas métricas, o tratamento de incluir uma variável não alterou a capacidade

preditiva. Os resultados da avaliação estatística destas métricas corroboram estas

informações haja vista que não houve diferença significativa entre os grupos analisados

(TSS F(2,8)=2.063, gl = 2, p=0,190 e para AUC, F(2,8)=4.184, gl = 2, p= 0,571).

Os modelos médios ponderados de cada grupo de variável são apresentados na

figura 5. Aquele que incluiu a variável GlobCover (grupo 2) possui uma área total de

adequabilidade potencial de ocorrência da ariranha mais restrita em relação aos demais, em

seguida, o modelo com a variável dos remanescentes florestais (grupo 3) e por fim, aquele

das climáticas (grupo 1), que apresentou a maior área.

O teste de validação dos modelos com oito novos registros independentes,

coletados com GPS, demonstrou que não houve diferença significativa entre os modelos

gerados a partir de cada um dos três grupos de variáveis (F(2,14)= 0,227 gl=2, p=0.726),

sendo que dois dos três modelos apresentaram 91,67% de acerto dos registros externos. A

tabela 2 mostra as extensões em área de adequabilidade potencial ambiental e as médias de

acurácia (% de acertos) de cada grupo de variáveis.

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A)

B)

C)

Figura 5. Modelo Médio Ponderado somente com as variáveis físicas e climáticas (A).

Modelo Médio Ponderado com adição da variável GlobCover (ESA, 2009) (B).Modelo

Médio Ponderado com adição da variável criada a partir dos dados do INPE, 2009 (C)

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Tabela 2. Valores da área total de adequabilidade ambiental e média de porcentagem de

acertos pela validação externa para os três grupos de variáveis.

Grupos de variáveis

Área total de

adequabilidade

ambiental (Km²)

Validação externa

Acurácia

( % acertos)

Grupo 1 (var. físicas e climáticas) 33.628 91.67

Grupo 2 (adição var. Globcover) 28.444 88.34

Grupo 3 (adição var. remanes. INPE) 32.275 91.67

Como não houve diferença significativa para nenhuma das avaliações feitas entre

os três grupos de variáveis, selecionamos como modelo final aquele gerado a partir das

variáveis físicas e climáticas (figura 5 A), pois com um menor número de variáveis foi

capaz de obter o mesmo desempenho. O mapa de incerteza (desvio padrão) indicou que há

baixa variação da adequabilidade potencial entre os modelos do grupo 1, já que a maior

parte da área potencial apresentou baixos valores de desvio padrão (em azul), enquanto

áreas mais periféricas tiveram uma variação maior (em vermelho) (Figura 6).

Figura 6. O modelo de incerteza considerando o desvio padrão das adequabilidades dos

cinco modelos gerados pelo grupo 1.

Para o modelo final escolhido (grupo 1) a área com adequabilidade de até 0,5

totalizou 29.832 Km² em todo o estado e 3.285 Km² nas unidades de conservação. Já para

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adequabilidades iguais ou superiores a 0,8, a área total do estado foi de 671 Km² e de

46Km² para as unidades. De uma forma geral, as unidades com maior área de

adequabilidade são: ESEC Niquiá, ESEC Caracaraí e PARNA Viruá, todas no sul do

estado, baixo rio Branco.

4. Discussão

Foi verificado que a inclusão de variáveis de uso do solo não melhorou o

desempenho preditivo dos modelos. Do mesmo modo, Staib & Schenck (1994) em um

estudo realizado no sudeste do Peru, na Reserva da Biosfera de Manu, constataram que

variáveis de habitat, como cobertura de vegetação de lagos, geralmente não estão

estatisticamente relacionadas à densidade populacional da ariranha. Thuiller et al., (2004)

em um estudo que avaliou a influência da inclusão de uma variável de uso do solo na

melhora da capacidade preditiva em modelos bioclimáticos para espécies de plantas,

anfíbios, répteis, aves e mamíferos também concluíram que não houve melhora na

previsão, nem na acurácia dos modelos gerados.

Em relação ao modelo de distribuição potencial de ariranha escolhido, pode ser

observada uma ausência predita a noroeste e nordeste de Roraima, porém há um vazio de

registros nestas áreas. Por esta região, estende-se a Serra de Pacaraima, que chega a ter

mais de 2.700m de altitude (IBGE, 2014), o que possivelmente tenha contribuído para este

resultado, já que ariranhas ocorrem em altitudes não superiores a 300 metros (Cartes e

Rosas, 1997) Ali, há áreas indígenas remotas, com navegabilidade e logística complexa

para seu acesso, o que resultou em ausência de coletas, e por este motivo, seria importante

a realização de inventário na área para verificação. Por outro lado, a sudeste do estado,

onde também há vazio de registros, todos os modelos indicaram várias áreas de baixa à alta

adequabilidade potencial para ocorrência de ariranha, onde também seria indicada a

realização de inventário, inclusive, pela maior facilidade de acesso.

Os principais rios do estado, como rio Tacutu, rio Uraricoera, rio Branco, rio

Jauaperi e rio Xeruiní, são apontados como alta adequabilidade por todos os modelos, este

último seria local indicado para novos inventários, onde não há registros da espécie. Nos

dois primeiros rios não havia registro para a espécie, até o presente estudo. As áreas de

alta adequabilidade apontadas por todos os modelos são áreas fundamentalmente de baixa

altitude, associados a rios e praias, justificado pelo habitat preferido pelas ariranhas, de até

300 metros de altitude (Carter & Rosas, 1997). A maior altitude de registro encontrada em

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Roraima foi de 138 metros e as classes de uso do solo mais frequentes dos registros usados

na calibração dos modelos foram: “Floresta latifoliada ombrófila ou semi-decídua (>5m)

fechada a aberta (>15%)”, “Corpos de água” e “Campos abertos ou vegetação florestal

em solos regularmente inundados ou empapados ”.

Ariranhas pareceram ser seletivas em relação ao uso de elementos da paisagem

disponíveis durante a estação seca em um estudo realizado no Pantanal, em que a maioria

dos grupos escolheu áreas com floresta, provavelmente devido aos barrancos cobertos por

vegetação perto de corpos d´água para construção de tocas e acampamentos

(Leuchtenberger et al., 2013). Isso também foi observado em Roraima, pois em todos os

locais onde os registros foram coletados durante as expedições havia vegetação ciliar

preservada. Até mesmo em Boa Vista, embora houvesse movimentação de embarcações e

maior densidade humana, foram encontrados registros indiretos logo em frente a orla da

capital do estado, no Rio Branco.

Como modelos criados a partir de variáveis bioclimáticas assumem estar em

equilíbrio com as distribuições de espécies e as condições do ambiente atual, eles ficam

sujeitos a exagerarem na distribuição da espécie sob estudo, que dependendo da sua

ecologia e biologia, pode ser altamente afetada por atividades humanas e,

consequentemente, pode estar ausente em áreas indicadas como potencialmente adequadas

(Araújo, 2003). Este problema deveria ser particularmente grave em regiões onde uma

relação negativa entre a ocorrência de espécies e densidade da população humana é

relatada (Thuiller et al., 2004).

Roraima é um dos Estados mais conservados do País, com apenas 6% de sua

superfície territorial desmatada e com a maior parte de suas nascentes protegidas no

interior de Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Essas características representam

uma vantagem estratégica para o estado na elaboração de um modelo de desenvolvimento

com base no uso sustentável dos recursos naturais e no pagamento por serviços ambientais,

capaz de aliar o desenvolvimento econômico com a valorização da diversidade

socioambiental (ISA, 2011).

Além disso, grandes carnívoros têm especial importância para a conservação

biológica por diversas razões. Eles vivem em densidades mais baixas do que as espécies de

suas presas e, portanto, são mais vulneráveis à extinção. São predadores de topo de cadeia

alimentar e sua presença depende de que diversos outros níveis tróficos abaixo se

mantenham intactos. São indicadores de perturbações ecológicas, já que mudanças na

reprodução e tamanho de população são mais fáceis de monitorar do que àquelas em suas

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presas ou nas plantas. Além disso, grandes carnívoros são “espécies bandeiras”, capazes de

atrair atenção e recurso (Caro & Durant, 1995 apud Pereira, 2004).

Assim, a ariranha pode ser vista como uma espécie chave não só para o

planejamento do estado, mas também para a Amazônia e para o Brasil. Medidas de gestão

locais e regionais de habitat já foram executadas para a ariranha em outros países, tais

como as que foram implementadas no zoneamento das Áreas Protegidas em Madre de

Dios, no sudeste do Peru, e os planos de gestão implementados nos lagos do Parque

Nacional de Manu. Estas medidas promoveram a redução da pressão humana sobre os

habitats-chave da espécie, com o objetivo de manter a qualidade dos ambientes e

maximizar o sucesso reprodutivo ariranha (Groenendijk et al., 2014) e podem servir como

exemplo para Roraima, uma vez que as ameaças à espécie estão presentes em nível local e

regional no Estado, como o aumento da mineração, o desmatamento por madeira e para

abertura de áreas para plantio e pasto, assim como a instalação de hidrelétricas e novas

estradas (ISA, 2011). Segundo dados do PRODES (Projeto de Monitoramento da Floresta

Amazônica por Satélites), entre o período de agosto de 2012 a julho de 2013, Roraima

registrou aumento de 49% no desmatamento, equivalente a 22 campos de futebol, ou,

aproximadamente 185 Km² a mais de área desmatada, em relação ao mesmo período entre

2011 a 2012. Para 2014, antes mesmo do término do ano, a taxa de desmatamento já é de

63Km² a mais de área desmatada em relação a 2013 (PRODES, 2014).

Regiões que abrigam ariranhas são, geralmente, sem perturbações e não poluídas

(Groenendijk, 1998) e, portanto, identificar áreas onde existam condições ambientais

apropriadas é essencial para o planejamento de projetos de conservação, a fim de manter a

diversidade dos processos ecológicos, preservar altas densidades de espécies e para manter

a conectividade ecológica (Clément et al., 2014).

Por fim, a crescente importância e grande utilidade dos modelos de distribuição

potencial de espécies nas mais diversas áreas da Ciência (Franklin, 2009; Peterson et al.,

2011) já são bem conhecidas no meio acadêmico. Segundo Guisan et al., (2013), para se

construir modelos de distribuição potencial de espécies apropriados a fim de orientar de

forma mais eficaz as ações de conservação, modeladores precisam entender melhor o

processo de decisão e os tomadores de decisão precisam dar retorno aos modeladores em

relação ao uso real de modelos de distribuição de espécies para apoiar decisões de

conservação. Agora, cada vez mais será essencial que os pesquisadores e tomadores de

decisão dialoguem entre si e trabalhem juntos para que haja evolução tanto do

conhecimento científico gerado como para a implementação de ações de conservação. Em

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Roraima, é possível adotar medidas de conservação tendo como foco a ariranha e

consequentemente a proteção de vegetação ciliar, o monitoramento da qualidade da água e

do estoque de peixes, o que traria diversos benefícios a curto e longo prazo não só para a

espécie, mas para a população humana.

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CAPÍTULO 2 – Distribuição espacial potencial de Pteronura brasiliensis na

América do Sul, identificação de áreas prioritárias para sua conservação e realização de

inventários.

1. Introdução

A modelagem de distribuição de espécies é uma ferramenta fundamental para

diversas aplicações em ecologia, biogeografia e ciência da conservação, entre outras

(Elith et al., 2006; Franklin, 2009; Phillips et al., 2009; Peterson et al., 2011). Para

tanto, existem muitos aspectos a serem considerados em um estudo de modelagem

como escala, extensão da área de estudo, desenho amostral, resolução geográfica e

temporal, além da definição das variáveis ambientais, algoritmo, formas de calibração e

validação dos modelos (Franklin, 2009; Elith & Leathwick, 2009), e ainda enfatizamos

a correção do viés de amostragem, que, segundo Fourcade et al., (2014) não é muito

frequente nos estudos de modelagem de distribuição de espécies e tem sido

surpreendentemente mal abordada nos trabalhos, apesar da sua importância crucial.

Os efeitos do viés de amostragem podem ser fundamentais para a precisão dos

modelos de distribuição potencial de espécies gerados a partir de conjuntos de dados

apenas de presença (Phillips et al., 2009), mas as opções para corrigir o viés de

amostragem nem sempre são aplicadas (Yackulic et al., 2012; Fourcade et al., 2014). A

qualidade do modelo pode ser fortemente afetada se o espaço ambiental apropriado para

uma espécie está ausente ou mal representado no conjunto de dados (Bystriakova et al.,

2012). Esta é uma questão crítica, especialmente para profissionais que precisam de

previsões robustas e confiáveis, tais como praticantes da conservação da biodiversidade

(Fourcade et al.,2014).

Métodos complexos têm sido bastante usados em modelagem de distribuição de

espécies os quais possuem parâmetros de difícil interpretação e foram desenvolvidos no

campo da inteligência artificial e da estatística, em que o Maxent (maximum entropy)

(Phillips et al., 2006) é o de uso geral, e tem sido chamado tanto de método de

aprendizagem de máquina (machine learning) como de método estatístico (Franklin,

2009).

A máxima entropia (maximum entropy), que é distribuição multivariada das

condições de habitat adequado em função do espaço ambiental, estima uma distribuição

mais uniforme e mais espalhada possível (Phillips et al., 2006). O Maxent tem

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despertado grande interesse, pois mostrou apresentar melhores valores de acurácia

quando comparado com outros algoritmos de dados de presença (Elith et al., 2006), já

que foi especificamente desenvolvido para usar apenas tais dados e para superar

problemas de pequenas amostras mal distribuídas (Franklin, 2009). No entanto, o

Maxent é sujeito ao sobre ajuste que gera baixa transferabilidade e dependência de

limiar, quando há viés de amostragem (Peterson, 2007).

Kramer-Schadt et al., (2013) ressaltam o Maxent como uma ferramenta

poderosa para o estudo de modelagem de distribuição potencial de espécies e destacam

a importância de se tentar corrigir o viés de amostragem para ajudar a reduzir os erros

de omissão e comissão e, portanto, melhorar a acurácia dos modelos, contribuindo

assim para a conservação das espécies e gestão da biodiversidade.

Boria et al., (2014) também usaram o Maxent e testaram o desempenho de

modelos para a distribuição potencial de um pequeno mamífero de Madagascar com três

diferentes conjuntos de dados: registros não filtrados, registros espacialmente filtrados

em 10Km e registros parcialmente filtrados. Os modelos feitos com o conjunto de dados

filtrados foram superiores aos dos outros conjuntos de dados para todas as métricas

avaliadas. Syfert et al., (2014) incorporaram um bias grid nos procedimentos de

modelagem para se corrigir o viés de amostragem de três espécies de samambaias,

usando o algoritmo Maxent e enfatizam a importância de se reduzir o viés de

amostragem geográfico, sempre que possível, em conjuntos de dados usados para

calibrar modelos de distribuição potencial de espécies, ressaltando a eficácia e

essencialidade de correção do viés de amostragem quando se usa este algoritmo.

A ariranha (Pteronura brasiliensis) está classificada pela IUCN como Em Perigo

(EN) pelo critério A3cd. Isso significa, segundo Groenendijk, et al., (2005), que a

redução do tamanho populacional de ariranhas será igual ou superior a 50%, em um

prazo de três gerações da espécie que representa, aproximadamente, 21 anos.

Atualmente é um dos mamíferos mais ameaçados da América do Sul (Pickles et al.,

2012), de onde é endêmica e possui ampla distribuição geográfica (Carter & Rosas,

1997; Duplaix et al., 2008). A ariranha possui registros de ocorrência mal distribuídos

espacialmente pelo continente, com aglomerados próximos a centros de pesquisas, áreas

com alguma facilidade de acesso e em lugares onde há grandes empreendimentos.

Assim, a ariranha é uma espécie ideal para se testar redução de viés de amostragem,

uma vez que os dados disponíveis são enviesados.

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Uso antrópico do solo, como agricultura, reflorestamento e urbanização, é a

principal forma de distúrbio em áreas adequadas para ocorrência de espécies e assim, o

mapeamento do uso do solo é comumente considerado por agências de planejamento, de

forma que dados de cobertura da terra tem-se tornado cada vez mais importantes na

caracterização requerida para modelagem global de mudanças ambientais (Foley et al.,

2005). Além disso, categorias de vegetação ou comunidades de plantas representam

classes e estruturas de habitat para animais e plantas e têm sido amplamente usadas

como variáveis preditoras em trabalhos de modelagem de distribuição potencial de

espécies (Franklin, 2009).

A ariranha dependente de boas condições ambientais para se estabelecer

(Groenendijk et al., 1998; Isola & Benavides, 2001; Duplaix et al., 2008), onde haja

vegetação ciliar bem preservada (Duplaix, 1980; Carter & Rosas, 1997; Lima et al.,

2012) e por isso, julgamos ser uma boa espécie para testar sua ocorrência com variável

de uso do solo.

Neste capítulo, será gerado o mapa de distribuição espacial potencial de

Pteronura brasiliensis na América do Sul e serão identificadas áreas prioritárias para a

realização de novos inventários e para a conservação da espécie no continente e, no

âmbito do Plano de Ação Nacional da Ariranha (ICMBio, 2010), no Brasil.

Adicionalmente, será testada a hipótese de que a inclusão de um procedimento

para correção de viés de amostragem aos procedimentos de modelagem aumenta a

capacidade de predição da distribuição potencial de Pteronura brasiliensis na América

do Sul e, ainda, que a inclusão da variável de uso do solo GlobCover aumenta a

capacidade preditiva dos modelos gerados.

2. Material e métodos

2.1. Área de estudo e registros de ocorrência de Pteronura brasiliensis

Definimos como área de estudo a América do Sul, considerando a distribuição

histórica de Pteronura brasiliensis (Duplaix et al., 2008). Para reunião e organização de

registros, foram realizadas quatro expedições a campo no norte do estado de Roraima,

onde não se conhecia registros precisos da espécie. Além disso, uma busca na literatura

disponível foi feita, assim como foram realizadas consultas a pesquisadores e colegas,

que gentilmente colaboraram e disponibilizaram seus registros. Ao todo, foram reunidos

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1429 registros, contudo, na resolução espacial usada de 1 Km, obtivemos 665 registros

únicos (Figura 1). Os registros foram disponibilizados por 17 colaboradores, pela

empresa Norte Energia, pela empresa T Engenharia e Sistemas Ltda – TEES, no âmbito

do Contrato nº 61/2013, processo nº 02070.001100/2013-88, contratada pela

COAPRO/DIBIO/ICMBio, por expedições realizadas a campo no estado de Roraima e

por artigos científicos.

Correspondência temporal deve existir entre dados de ocorrência e variáveis

ambientais (Phillips et al., 2006) para que um fenômeno de interesse biogeográfico ou

ecológico seja capturado de forma adequada (Peterson et al., 2011). Desta maneira,

priorizou-se usar registros mais atuais possíveis, de forma que a maioria dos registros

deste estudo (80,6%) é do período entre os anos de 2009 e 2014, ou seja, dos últimos

cinco anos, considerados recentes. Algumas variáveis ambientais são mais estáticas que

outras, de modo que estas mudam lentamente (como as climáticas e topográficas),

enquanto que outras são mais dinâmicas (como as de uso do solo) (Peterson et al.,

2011).

A única variável que poderia haver uma mudança durante os últimos anos, usada

neste estudo, é a GlobCover, de uso do solo, cujo o ano de criação é 2009. Os registros

anteriores a 2009 representam apenas 10,6% do total. Com o intuito de utilizar esses

registros, foram analisadas quais as três classes de uso do solo (GlobCover - ESA,

2009) eram mais frequentes nos registros recentes (a partir de 2009) e utilizamos apenas

registros antigos que ocorreram nestas três classes (Floresta latifoliada ombrófila ou

semi-decídua (>5m) fechada a aberta (>15%), corpos de água e campos abertos ou

vegetação florestal em solos regularmente inundados ou empapados). Constatamos que

as classes de uso do solo em que todos os pontos de ocorrência antigos (anteriores a

2009) foram registrados são as mesmas dos registros recentes, portanto, não foi

necessário deslocá-los.

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Figura 1. Registros de ocorrência de ariranha usados nos procedimentos de

modelagem para a América do Sul.

Os registros sem informação de data representam a minoria dos registros total,

8,8%. Segundo Franklin, (2009), estes deveriam ser desconsiderados para se evitar

problemas de análise por conta do lapso temporal, a menos que sejam validados. A

validação desses registros foi a mesma realizada com os anteriores a 2009, e ainda, para

referendar o uso desses registros, o Otter Specialist Group, grupo de especialistas de

espécies de lontras da IUCN (International Union for Conservation of Nature), os

considera como ocorrências corretas de Pteronura brasiliensis (comum. pessoal).

2.2. Seleção de variáveis

Dados climáticos interpolados espacialmente referentes às chamadas superfícies

climáticas (Hijmans et al., 2005) são amplamente usados como variáveis de entrada nos

modelos de distribuição de espécies (Buermann et al., 2008; Franklin, 2009). Destas,

duas variáveis foram selecionadas: temperatura média anual e sazonalidade de

precipitação (http://www.worldclim.org/), as quais apresentaram baixa colinearidade

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entre si, no valor de 0.7, através do índice de correlação de Pearson, calculado no

Programa BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007).

A sazonalidade de precipitação está associada à ecologia da ariranha já que, de

uma forma geral, áreas de ocorrência de espécies são sujeitas a inundação sazonal que

influencia significativamente na utilização de recursos (Parera, 1996). Duplaix (1980)

aponta também que fatores de sazonalidade afetam a distribuição e biomassa de

populações de peixes e a escolha de habitat da ariranha se deve, principalmente, a

acessibilidade a locais adequados para pesca durante todo o ano. Nos períodos de seca,

os animais tendem a explorar canais de rios principais, onde encontram maior

disponibilidade de alimento e espaço. Já nos períodos de cheia, deixam áreas alagadas e

vão em busca de ambientes conveniente para abrigarem-se (Duplaix, 1980; Parera,

1996; Carter & Rosas, 1997). A temperatura média anual foi uma das variáveis

apontadas por Frederico et al., (2014) para representar a variação nos períodos

hidrológicos na Amazônia e também está associada à distribuição de peixes

continentais. Desta forma, assumimos a variável sazonalidade de precipitação e

temperatura média anual como variáveis importante para a distribuição da ariranha.

As ariranhas são excepcionalmente bem adaptadas à vida em habitats aquáticos

nas planícies tropicais da América do Sul e são encontradas em rios, riachos, lagos,

reservatórios, pântanos, bem como florestas inundadas durante a estação chuvosa

(Groenendijk et al., 2005). Desta maneira, sendo a ariranha um animal profundamente

associado a corpos d´água, foi considerado importante adicionar ao conjunto de

variáveis a distância de drenagem criada a partir do shape de hidrologia da USGS

(http://water.usgs.gov/maps.html) bem como a variável de acumulação de fluxo d´água

(http://hydrosheds.cr.usgs.gov/dataavail.php), que é definida pelo total de área rio acima

(em número de células) que drenam para cada célula. A camada de direção de drenagem

é usada para definir quais células são consideradas para cada célula alvo, portanto, o

número de células acumuladas é essencialmente uma medida da bacia hidrográfica a

montante (Hydro SHEDS, 2006). Esta seria uma variável análoga à ordem dos rios,

usada por Frederico et al. (2014) para a distribuição potencial de peixes continentais.

Duplaix (1980), Utreras et al., (2005) e Palmeirim et al, (2014) sugerem que a

declividade seja um fator importante na seleção de habitat por ariranha, sendo esta

incluída no presente estudo. Adicionalmente, ariranhas parecem ocorrer em planícies

inundáveis de até 300m de altitude (Carter & Rosas, 1997). Sendo assim, incluímos

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como variáveis a inclinação do terreno, tendo sido retiradas do site da USGS

(https://lta.cr.usgs.gov/HYDRO1K)

Os tipos de água na Amazônia, onde está a maioria dos registros da espécie,

dependem da origem geológica dos rios (McClain & Naiman, 2008) e o tipo de solo se

demonstrou importante para definir a distribuição de peixes continentais (Frederico et

al., 2014), que são o principal recurso alimentar da ariranha (Cabral et al., 2010).

Duplaix, (1980), em um estudo realizado na Guiana, aponta que a ariranha foi

particularmente favorecida em riachos de águas pretas, assim denominada pela água

apresentar coloração marrom escuro com materiais húmicos, derivados da

decomposição da vegetação. A água preta é mais transparente do que corpos de água

branca, onde a visibilidade é de apenas alguns centímetros, devido a uma alta

concentração de sedimentos (Groenendijk, 1998). Por outro lado, Staib & Schenck

(1994), constataram no sudeste do Peru, que ariranhas preferiam as lagoas marginais aos

rios de água branca ou "cochas", que caracteristicamente não têm curso, com

profundidade menos variável e os peixes são abundantes devido à alta produção

primária (comparação com corpos de água preta) e devido a uma maior concentração de

nutrientes.

Além disso, enfatizando a importância de se utilizar uma variável de tipos de

solo nos modelos, Palmeirim et al., (2014) usaram textura e dureza do solo como

variáveis para avaliar quantitativamente as preferências de habitat da ariranha no

reservatório de Balbina (AM) e verificaram que a maioria das tocas e acampamentos

ocorreram em solos mais maleáveis, com maiores proporções de argila, e com um nível

moderado de dureza, características que presumivelmente fazem o solo ser mais fácil de

escavar. Neste caso, Franklin (2009) sugere que variáveis indiretamente relacionadas à

distribuição da espécie devem ser utilizadas, como o tipo de solo (Dijkshoorn et al.,

2005) no presente estudo.

Em um estudo realizado por Leuchtenberger et al., (2013), no Pantanal, grupos

de ariranha foram seletivos quanto à escolha de área de vida em relação à composição

da paisagem durante as estações secas, quando rios com vegetação florestal preservada

foram mais intensamente utilizados em relação a outras características da paisagem. No

entanto, elas pareceram ser menos seletivas durante as estações chuvosas. Segundo os

autores, a escolha por áreas florestais durante estação seca, pela maioria dos grupos de

ariranha monitorados, está provavelmente relacionada ao uso dos barrancos dos rios

com vegetação ciliar preservada para a construção de tocas e acampamentos. Isso

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também foi observado em outros trabalhos (Carter & Rosas, 1997; Duplaix, 1980; Lima

et al., 2012). Barrancos de rios cobertos por vegetação são menos afetados pela erosão e

devem oferecer mais proteção às tocas contra predadores (Lima et al., 2012), o que

justificaria o uso de variável uso do solo (ESA, 2010 -

http://due.esrin.esa.int/globcover/).

De acordo com Duplaix (1980), a disponibilidade de alimento e ambientes

adequados para construção de refúgios, com cobertura vegetal densa e preservada e

declive suave, são fatores que possuem grande relevância para ocorrência de P.

brasiliensis. Para verificar se a inclusão de uma variável de uso do solo geraria modelos

com melhor desempenho para a distribuição potencial da ariranha, foi escolhida a

variável de uso do solo GlobCover (ESA, 2010), muito usada em trabalhos de

modelagem de distribuição de espécies (ver Plano de Ação Nacional da Onça Pintada -

ICMBio, (2010); Ferraz et al., 2010; Wilting et al., 2010; ; Ferraz et al., 2012; Morato

et al., 2014). A variável GlobCover representa composições globais de uso e cobertura

da terra captadas durante o ano de 2009, a partir da composição mensal das bandas do

sensor MERIS, a bordo do satélite ENVISAT com resolução espacial de 300m (ESA,

2009).

Portanto, conforme justificado, os modelos foram feitos com as variáveis

temperatura média anual, sazonalidade de precipitação, altitude, declividade, distância

de drenagem, acumulação de fluxo d´água, solos e testados com e sem a variável de uso

do solo, GlobCover.

2.3.Viés de amostragem

Uma das premissas da modelagem potencial de espécies sustenta que em todo

experimento deverá existir suficiência amostral dos dados (Phillips et al.,2009). No

entanto, viés espacial geralmente leva a viés ambiental por causa de uma maior

representação de certas características ambientais relativas, frequentemente, aos

registros mais acessíveis e áreas mais inventariadas (Franklin, 2009; Peterson et al.,

2011). Assim, a diferença entre registros de ocorrência disponíveis e amostragem dos

backgrounds (pontos de dados retirados aleatoriamente da área de estudo) pode

conduzir a modelos imprecisos que por sua vez podem levar a decisões de gestão

inadequadas (Phillips et al., 2009). Embora o viés de amostragem seja um problema

comum na modelagem de distribuição de espécies, em particular em estudos com

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44

Maxent (Peterson et al., 2011), correções para esta questão foram apenas recentemente

abordadas (Phillips et al., 2009, Kramer-Schadt et al., 2013; Boria et al., 2014;

Fourcade et al., 2014; Barnes et al., 2014), e pouca atenção tem sido dada à avaliação

de estratégias para corrigir amostragem irregular ou comparar a sua eficácia (Phillips et

al., 2009; Yackulic et al., 2012).

Com o intuito de se tentar corrigir o problema, foi criado e usado um bias grid

(Elith et al., 2010), através do tutorial de Tingley & Clements (2013), que pode ser

usado no Maxent (Phillips et al., 2006; Phillips et al., 2009), cuja estrutura é uma

superfície de área de ponderação da localização dos pontos de ocorrência e da distância

entre cada um deles, considerando também a capacidade de dispersão da espécie em

estudo. Esta superfície permite reduzir vieses nos dados em relação ao espaço

geográfico devido ao tendenciamento de coleta (Elith et al., 2010), podendo evitar

resultados e interpretações não acuradas em estudos de modelagem e distribuição de

espécies.

O bias grid utiliza um kernel de distância Gaussiana ponderada com base em

registros de presença e capacidade de dispersão da espécie (Exp (- ([DISTANCE] ^2) /

(2 * SD ^2)), onde SD é o desvio padrão da equação Gaussiana, ou o raio de dispersão

da espécie (Elith et al., 2010) o qual consideramos ser de 20 Km (Rosas & Carter,

1997). O distance é a distância entre os registros de presença e os pontos de

background, dos quais foram utilizados 10.000 pontos. Como resultado, o arquivo de

viés possui maiores valores onde há registros de ocorrência e menores em regiões mais

distantes destas áreas, representando áreas muito ou pouco amostradas, respectivamente.

Por fim, assim como utilizado por Kramer-Schadt et al., (2013), fizemos uma correção

na superfície de bias grid para que resultasse em uma diferença de, no máximo, 100

vezes entre o menor e o maior esforço amostral na área de estudo.

2.4. Algoritmo e procedimentos de modelagem

O algoritmo usado foi o Maxent (versão 3.3.3.k; Phillips et al., 2006) que utiliza

o princípio de entropia máxima para relacionar somente dados de presença com

variáveis ambientais afim de estimar nicho Grinneliano da espécie e sua distribuição

geográfica potencial (Phillips et al., 2006; Soberón, 2007; Peterson et al., 2011).

Segundo Elith et al., (2006), o Maxent é popular porque é fácil de usar e é considerado

eficiente em produzir resultados robustos com amostras de dados escassos, irregulares e

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45

com pequenos erros de localização, tanto que suas características levaram-no a ser

considerado um dos melhores algoritmos de modelos de distribuição de espécies em

termos de desempenho preditivo (Wisz et al., 2008).

Primeiramente, para ajuste dos modelos, foi usado o método de partição “cross

validation” com dez partições, mil iterações e parâmetros padrão do Maxent, sendo

20% dos registros usados para teste. Em um segundo momento, os mesmo ajustes foram

utilizados, com a adição do arquivo bias grid à modelagem. Estes dois conjuntos de

modelos, foram feitos ainda com e sem a inclusão da variável de uso do solo, Globcover

(ESA, 2009). Assim, foram gerados quatro tratamentos, sendo que em todos os

procedimentos metodológicos foram utilizados os mesmos conjuntos de registros para

treino e teste para a geração dos modelos, para efeito de comparação (Tabela 1).

Tabela 1. Métodos usados para os quatro testes metodológicos de viés de amostragem e

teste da inclusão da variável de uso do solo, GlobCover (ESA, 2009) com o método

Cross-validation.

Crossvalidation Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3 Tratamento 4

Correção de

viés de

amostragem Não

Não

Sim (bias

grid)

Sim (bias

grid)

Variável de

uso do solo Sim Não Sim Não

A fim de se testar o poder da transferabilidade dos modelos, estes mesmos

conjuntos de tratamentos foram repetidos para partições espaciais pela mediana da

latitude e longitude (Peterson et al., 2007; Bahn & McGill, 2013), de modo que, na

calibração dos modelos, um grupo foi tido como registros de treino e o outro de teste e

vice-versa. Assim, buscamos gerar um forte tendenciamento de coleta e testamos se os

tratamentos de correção de viés de amostragem teriam um maior sucesso na capacidade

preditiva dos modelos (Tabela 2).

Tabela 2. Métodos usados para os quatro testes metodológicos de viés de amostragem e

teste da inclusão da variável de uso do solo, GlobCover (ESA, 2009) com o método de

partição espacial. Partição espacial Tratamento 1 Tratamento 2 Tratamento 3 Tratamento 4

Correção de

viés de

amostragem

Não

Não

Sim (bias

grid)

Sim (bias

grid)

Variável de

uso do solo Sim Não Sim Não

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46

Para muitas aplicações, os resultados preditivos proporcionados pela modelagem

de distribuição de espécies devem ser convertidos em um mapa de presença ou

ausência, de modo que um limiar indicativo de presença de espécies deve ser

estabelecido (Jimenez & Lobo, 2007). Para isso, o limiar adotado no presente estudo foi

aquele ponto em que é otimizado o maior valor de sensibilidade e o menor de

especificidade na curva do ROC (Fielding & Bell, 1997), um limiar de abordagem

objetiva, que maximiza o ajuste entre o observado e a distribuição predita e é o valor do

ponto na curva ROC que é mais próximo do canto superior esquerdo (0,1) no gráfico

ROC (Liu et al., 2005).

2.5. Avaliação do desempenho dos modelos

Com o intuito de avaliar o desempenho dos modelos, calculamos as métricas de

avaliação AUC – Area Under Curve (Fielding & Bell, 1997), que é independente do

limiar a qual tem sido amplamente usada na literatura de modelagem de distribuição de

espécies (Elith et al., 2006; Franklin, 2009; Giannini et al., 2012) e TSS - True Skill

Statistic (Allouche et al., 2006), uma métrica dependente do limiar, mais simples e

recentemente utilizada (Kuemmerlen et al., 2014; Tôrres et al., 2012), a qual foi

utilizada na criação dos modelos médios ponderados (Marmion et al., 2009). Ambas as

métricas de avaliação são oriundas da matriz de confusão (Giannini et al., 2012) e foram

geradas no programa R Studio (2010), construído especialmente para este fim, com os

seguintes pacotes carregados: Presence/Absence, Raster, Rgdal e Dismo.

A área sob a curva (area under the curve - AUC) na plotagem do ROC

representa uma medida geral de desempenho do modelo em todos os limiares e pontos

fortes da previsão. Especificamente, AUC varia entre 0 e 1, e resume a habilidade maior

do modelo em prever locais de presença do que locais de ausência (Peterson, et al.,

2011). Já o TSS é o cálculo da sensibilidade mais a especificidade menos 1 e varia de -1

a 1.

Foi verificada ainda a taxa de erro de omissão por meio da quantificação da

proporção de presenças observadas na área de ausência predita (Under Prediction Rate -

UPR , Barbosa et al., 2013), ou, em outras palavras, é o número de registros de

presença na área predita como ausência, dividido pelo número total de registros de

presença. Portanto, quanto menor o número obtido, mais acertos o modelo fez.

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Por fim, foi feita uma validação externa dos modelos gerados, com onze

registros de ocorrência independentes (distantes no mínimo 20km entre si, considerado

como a capacidade de dispersão média da ariranha), nos estados do Pará, Tocantins,

Rondônia e Roraima, obtidos por colaboradores entre os anos de 2012 e 2014 e cedidos

posteriormente às modelagens realizadas. Segundo Araújo et al., (2005) e Peterson et

al., (2011) é importante enfatizar a importância da necessidade da independência dos

dados usados na calibração e na validação externa, para permitir uma avaliação rigorosa

das predições apontadas nos modelos.

Os valores de adequabilidade correspondente de cada registro externo foram

extraídos dos modelos médios ponderados, apenas daqueles feitos pelo “cross

validation”, através da ferramenta extract multi value to points, presente no Arc Map

10.1, relativos a cada tratamento.

2.6 Análises estatísticas

O efeito da inclusão da variável de uso do solo (Globcover) e da utilização de

correção de viés de amostragem no desempenho dos modelos (bias grid) foi testado por

meio de ANOVA two-way de medidas repetidas, comparando os valores das métricas

de AUC, TSS e taxa de erro de omissão no Programa R Studio (2010), através do script

acessado em http://www.uni-kiel.de/psychologie/rexrepos/posts/anovaMixed.html#

mixed-effects com os seguintes pacotes carregados: AICcmodavg, lme4, multcomp,

nlme, pbkrtest e car. O teste da validação externa foi ANOVA de medidas repetidas,

feito no programa STATISTICA, apenas para o tratamento “cross-validation”. As

análises foram feitas separadamente para os modelos gerados pela partição “cross

validation” e para a partição espacial, uma vez que o intuito foi avaliar o desempenho

em cenários de viés de amostragem baixo ou muito alto, mas já sabíamos que a partição

espacial teria pior desempenho.

Os valores de adequabilidade extraídos de cada modelo médio ponderado, do

método “cross validation”, correspondente aos registros externos foram analisados pelo

teste estatístico ANOVA de medidas repetidas.

2.7. Pós-modelagem

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Cada tratamento gerou dez modelos e lhes foram atribuídos pesos com os

respectivos valores de TSS, criando assim modelos médios ponderados (Marmion et al.,

2009) para cada tratamento com o “cross validation”. Além disso, foi calculado o

tamanho das áreas de adequabilidade potencial para ocorrência de ariranha de cada um

dos modelos médios ponderados destes tratamentos. Criamos ainda um modelo de

incerteza considerando o desvio-padrão das adequabilidades preditas para cada um

destes tratamentos, objetivando avaliar a variação das predições, bem como estabelecer

propostas de ações de conservação mais adequadas em cada caso.

Após as análises, um método foi escolhido como aquele que melhor representa a

distribuição potencial da ariranha na América do Sul. Posteriormente, a rede de

unidades de conservação de todos os países do continente (UNEP-WCMC, 2012) foi

sobreposta ao mapa final, para verificar quanto da área de distribuição potencial está

dentro das áreas protegidas sul americanas.

Para o Brasil, calculou-se o quanto de adequabilidade potencial foi indicada por

bioma e, no âmbito do Plano Nacional da Ariranha, a rede nacional de unidades de

conservação federais (ICMBio, 2014) e estaduais (MMA, 2014) foi sobreposta ao mapa

final, com o mesmo objetivo feito para a América do Sul. Além disso, foram

identificadas as unidades de conservação federais com e sem registros de ariranha

conhecidos, sendo que aquelas unidades com adequabilidade ambiental potencial para

sua ocorrência foram indicadas para a realização de inventários. Além disso, trabalhos

identificados na literatura científica disponível que relatam ocorrência atual de ariranha,

na América do Sul e no Brasil, puderam validar o modelo escolhido, assim como

pudemos identificar lacunas de conhecimento e indicar locais para a realização de

inventários fora de UCs.

3. Resultados

Utilizando a partição “cross-validation”, a hipótese de que a inclusão de uma

correção de viés de amostragem melhoraria a capacidade preditiva dos modelos foi

corroborada, uma vez que houve diferença significativa para todas as métricas de

avaliação testadas (AUC: F(1,18) = 344.5 , Df=9, p<0.001; TSS F(1,18) = 102.7, Df=9,

p<0.001; taxa de erro de omissão: F(1,18) = 20.87, Df=9, p<0.001 e validação externa

(F(1,10) =21.397, gl=10, p<0.001), sugerindo que a utilização do bias grid seja um

tratamento positivo para o desempenho dos modelos. Os valores dos modelos sem o

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bias grid foram, em média, 1.2 vezes maiores do que aqueles com o bias grid, para a

métrica TSS; 1.1 vezes para a métrica AUC e o dobro para a taxa de erro de omissão. Já

para a validação externa, os modelos com bias grid foram, em média, duas vezes

maiores em relação aos sem bias grid. Portanto, os modelos sem bias grid apresentaram

valores superiores para as métricas AUC e TSS, mas ainda muitos próximos aos

valores dos modelos com bias grid e para a taxa de erro de omissão e validação externa

a diferença chegou a ser maior.

Já para a hipótese de que a inclusão da variável de uso do solo melhoraria a

capacidade preditiva do modelo, não houve diferença significativa quanto às métricas

TSS (F(1,18) = 2,105, Df=9, p=0.181) e taxa de erro de omissão (F(1,18) = 0.858 , Df=9,

p=0.378), mas para AUC, a diferença foi significativa (F(1,18) = 20.45, Df=1, p=0.001).

Entretanto, o efeito da interação também foi significativo devido principalmente aos

maiores valores de AUC quando não houve correção do viés de amostragem, uma vez

que, em média, o efeito da correção do viés de amostragem foi 23 vezes maior que o

efeito da inclusão da variável do uso do solo.

Ainda em relação à adição da variável de uso do solo (GlobCover) nos

tratamentos, sem considerar a correção de viés de amostragem, a diferença foi

significativa para a validação externa (F(1,10) = 5.259, Df=10, p<0.05), porém, a variável

de uso do solo não traz diferenças significativas quando se utiliza a correção do viés de

amostragem (F(1,10)=0.606, gl=10, p=0.454), ou seja, o maior efeito entre tratamentos é

devido à utilização do bias grid (Tabela 3)

O intuito da partição espacial dos registros foi o de que houvesse um aumento do

viés de amostragem no espaço geográfico e assim esperava-se que este viés, com a

adição do bias grid aos procedimentos de modelagem, fosse corrigido. No entanto,

observou-se que os modelos com partição espacial não apresentaram boa

transferabilidade e mesmo com a inclusão do bias grid aos procedimentos de

modelagem, a hipótese de que a inclusão da correção de viés de amostragem melhoraria

o desempenho dos modelos foi refutada, já que não houve diferença significativa entre

modelos com e sem bias grid, considerando os valores de TSS (F(1,6) = 0.011, Df=3,

p=0.924); AUC: (F(1,6) = 3.783, Df=3, p=0.147) e taxa de erro de omissão: (F(1,6) = 1.44,

gl=3, p=0.316).

Para esta mesma partição, a adição da variável GlobCover também não alterou a

capacidade preditiva dos modelos gerados, uma vez que o resultado estatístico não deu

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significativo para as três métricas avaliadas (TSS: F(1,6) = 5.362 , Df=3, p=0.104; AUC:

F(1,6) = 3.605, Df=3, p=0.154; taxa de erro de omissão: F(1,6) =3.627, Df=3, p=0.153).

Modelos médios ponderados da partição “cross-validation” de cada teste são

apresentados na figura 2A, B, C e D. O modelo sem o bias grid e com a variável

GlobCover possui área de adequabilidade potencial de ocorrência da ariranha mais

restrita em relação aos demais enquanto que aquele que apresentou a maior área foi o

tratamento em que o bias grid e a variável GlobCover foram inclusos. Aqueles modelos

que tiveram a inclusão do bias grid tiveram mais acertos na validação externa. Os

valores máximos de adequabilidade variaram de 0.91 a 0.93 e os mínimos de 0.004 a

0.02 (Tabela 3). Os mapas mostram as divisões políticas dos países da América do Sul

bem como dos estados da federação brasileira.

Já que a hipótese de que a inclusão de uma correção de viés de amostragem

melhoraria a capacidade preditiva dos modelos foi corroborada e a de que a inclusão da

variável de uso do solo também melhoraria foi refutada pela maioria das avaliações

realizadas, selecionamos o como mapa final da distribuição atual da ariranha para a

América do Sul aquele feito com a correção de viés de amostragem (bias grid) e sem a

inclusão da variável de uso do solo GlobCover (Figura 2B).

Tabela 3. Valores de área total de adequabilidade ambiental e média de

porcentagem de acertos pela validação externa para os quatro tratamentos.

Tratamentos

Área total de

adequabilidade

ambiental (Km²)

Validação externa

( % acertos)

Maior valor de

adequabilidade

Menor valor de

adequabilidade

Com BIAS GRID Com GlobCover 3.897.912 81.8 0.917 0.029

Com BIAS GRID Sem GlobCover 3.650.731 81.8 0.931 0.026

Sem BIAS GRID Com GlobCover 548.737 63.6 0.936 0.004

Sem BIAS GRID Sem GlobCover 679.149 36.4 0.916 0.011

Além dos modelos médios ponderados, também foi criado um modelo de

incerteza (Figura 3) considerando o desvio padrão dos modelos daquele teste

considerado o melhor modelos médios, o com bias grid e sem a variável GlobCover.

Este apresenta as áreas de maior e menor variação de adequabilidade. De uma forma

geral, houve pouca variação entre as adequabilidades dos modelos do tratamento com

bias grid e sem a variável GlobCover..

A área total de adequabilidade potencial da ariranha ficou em 3.650.731 Km², ou

20,46% da área total da América do Sul. Dentro dos limites das unidades de

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Conservação do continente, esta adequabilidade totaliza em 633.610 Km² (figura 4) ou

17,35% do que foi indicado como potencialmente adequado.

Considerando somente o Brasil, para o âmbito do Plano Nacional de

Conservação da Ariranha, a área total de adequabilidade potencial da ariranha é de

2.291.459 Km². Essa área se encontra principalmente no bioma amazônico, com

85,21% do total. No Cerrado há 8.77% de adequabilidade potencial, no Pantanal,

4.74% e na Mata Atlântica, 1,28%. Ao considerarmos todas as unidades de conservação

estaduais e federais do país, observamos uma área de 583.001km² de adequabilidade

potencial dentro dos limites dessas unidades, ou 25.44% do que foi indicado como

adequado para a área total do país, já excluindo eventuais sobreposições das UCs (figura

5) e 16% do total potencialmente adequado da América do Sul. A única UC municipal

considerada foi a APA de Xeruiní (RR), por ser a única com uma extensão compatível

para a escala usada. As demais UCs municipais, além da maior parte se localizar no sul

e sudeste do país, possuem extensões pouco significativas.

Identificamos na literatura as unidades de conservação federias e estaduais com

e sem registro de ariranha (figura 6), as unidades com registro conhecido para a espécie

podem ser consultadas no material suplementar 2.

Dessas unidades de presença conhecida para ariranha, o modelo foi capaz de

prever 95% delas. Nos 5% restantes, que equivalem a duas unidades, houve erro de

omissão: ESEC Rio Acre (AC) e ESEC Iquê (MT). Para as unidades sem registro

conhecido de ariranha, 30 encontram-se em áreas de muito alta adequabilidade

ambiental potencial, as quais são indicadas para realização de inventários.

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A)

B)

C)

D)

Figura 2. Sem bias grid, sem a variável GlobCover (A). Com bias grid, sem a variável

GlobCover, em destaque, modelo escolhido (B). Sem bias grid, com a variável

GlobCover (C). Com bias grid, com a variável GlobCover (D).

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Figura 3. Modelo de incerteza, considerando o desvio padrão das

adequabilidades dos modelos gerados com bias grid e sem a variável GlobCover (cross-

validation).

Figura 4. Unidades de Conservação e adequabilidade ambiental potencial para ariranha

na América do Sul

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Figura 5. Unidades de Conservação estaduais e federais e adequabilidade ambiental

potencial para ariranha no Brasil.

Figura 6. Unidades de Conservação Federais e Estaduais com e sem registros

conhecidos de ariranha. Várias unidades sem registro apresentaram muito alta

adequabilidade potencial para ocorrência da espécie e são indicadas para realização de

inventários.

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4. Discussão

Foi verificado que o uso de correção para o viés de amostragem (bias grid)

gerou modelos com melhor capacidade preditiva, segundo a análise das métricas

utilizadas. Syfert et al., (2013) descobriram que a correção de viés de amostragem

geográfico leva a grandes melhorias na qualidade do ajuste do modelo, mas para os

autores não resolveu inteiramente o problema, pois predições feitas com dados em

clusters (aglomerado de registros) foram inferiores, mesmo depois da correção com o

bias grid. A aglomeração espacial muitas vezes resulta na autocorrelação de resíduos do

modelo (ou seja, autocorrelação espacial) e afeta a qualidade do modelo por inflar a sua

precisão e render estimativas enganosas dos parâmetros (Kuhn, 2007) por isso a

importância de se tentar corrigir o viés de amostragem durante os procedimentos de

modelagem.

Assim, se muitos registros de uma espécie estão muito perto entre si

espacialmente, devido ao agrupamento de registros de amostragem de ocorrência, estes

podem ser filtrados através da remoção de registros estabelecendo uma determinada

distância (Araújo & Guisan, 2006). Para esta distância, é necessário levar em conta as

realidades biológicas da espécie em questão, tais como os movimentos de migração e

ocupação de área de vida (Peterson et al., 2011). Desta forma, também foi realizado um

breve experimento de correção de viés de amostragem, com a filtragem de registros em

20 Km no espaço geográfico com os mesmos dados usados nos experimentos já

mencionados (com e sem bias grid) para a distribuição potencial da ariranha na

América do Sul. Constatamos que ambos os métodos de correção de viés de

amostragem podem trazer bons resultados para o melhor desempenho dos modelos.

Segundo Phillips et. al., (2009) o viés de amostragem pode ser solucionado

através da diminuição do número de registros de ocorrência em regiões sobre

amostradas utilizando filtragem espacial. Mas para Kramer-Schadt et. al., (2013) este

método pode levar a uma grande redução no número de registros, o que aumenta o risco

de que se gerar modelos estatisticamente ruins. A fim de averiguar esta questão,

realizamos o teste de filtragem dos mesmos registros usados nos testes anteriores e os

mesmo procedimentos: usamos o método de calibração “cross-validation”, dez

partições, mil iterações e realizamos uma filtragem de registros em 20 km no espaço

geográfico, considerado como valor médio de dispersão da Pteronura brasiliensis

(Carter e Rosas, 1997).

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56

Este procedimento foi realizado de modo que apenas um registro tenha sido

considerado neste raio de forma aleatória, portanto, de 665 registros usados nos testes

anteriores, obtivemos 175 neste. Como esperado, embora o número de registros tenha

caído a quase um quarto do total original, nos 665 registros haviam muitos aglomerados

de registros (os chamados clusters), e assim, acredita-se que os registros selecionados

ainda representem a espécie no espaço geográfico, mas com a melhora no viés

ambiental e geográfico.

Os modelos gerados foram avaliados pelas métricas AUC, TSS, taxa de erro de

omissão e validação externa. Realizamos comparação entre os tratamentos com inclusão

do bias grid e a filtragem espacial em questão, fim de avaliar os dois métodos de

correção de viés de amostragem. O teste estatístico realizado para o TSS foi Mann-

Whitney U Test, pois como não houve homogeneidade de variância, assim, optou-se por

realizar um teste não paramétrico. Entretanto, há o problema de que todo teste não

paramétrico tem menor poder na identificação da diferença (diferenças pequenas podem

não ser detectadas).

Assim, para uma hipótese de que haveria diferença significativa entre os dois

métodos, esta não foi corroborada para a métrica TSS (U= 47.00, df=18, p=0.820596).

As demais métricas foram analisadas pelo Teste T pareado, em que as métricas de taxa

de omissão e validação externa não apresentaram diferença significativa (taxa de erro de

omissão: t = 1.16934; gl= 18, p= 0.257518; validação externa T= 0.548714, gl=20, p=

0.589275) e somente a métrica AUC apontou diferença (T= 2.44873, gl = 18, p <

0.5000). Os resultados são apresentados na tabela 4.

Tratamentos

Área total de

adequabilidade

ambiental (Km²)

Validação externa

( % acertos)

Maior valor de

adequabilidade

Menor valor de

adequabilidade

Filtro Com Globcover 2.770274 100 0.949 0.004

Filtro Sem Globcover 2.094.391 100 0.961 0.004

Com bias grid Com GlobCover 3.897.912 81.8 0.917 0.029

Com bias grid Sem GlobCover 3.650.731 81.8 0.931 0.026

Tabela 4. Resultados da validação externa, tamanhos de áreas e valores de maiores e

menores adequabilidades para filtragem espacial e bias grid

Concluímos que o tanto a inclusão do bias grid quanto a filtragem espacial são

bons métodos para correção de viés de amostragem e enfatizamos a importância de se

realizar algum procedimento para tal correção em trabalhos de modelagem de

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distribuição de espécies, assim como apontado por Phillips et al., (2009); Yackulic et

al., (2012); Fourcade et al., (2014).

Vale ressaltar que, em ambos os testes de correção de amostragem, houve a

consideração da capacidade de dispersão e área de vida da ariranha, o que traz uma

característica da história de vida da espécie para dentro do modelo, de forma que tanto o

bias grid como a filtragem de registros espaciais não são definidos somente por meio

estatístico. Entretanto, a definição de área de vida (em inglês, home range) é bem

complexa e abstrata. Para Powell & Mitchell (2012) área de vida é um conceito que

envolve ecologia e comportamento do animal e provê informações essenciais sobre a

localização dos recursos necessários à sua sobrevivência. Para os autores, as áreas de

vida diferem entre os animais de diferentes espécies, entre indivíduos da mesma espécie

e até mesmo entre indivíduos ao longo do tempo, como as diferentes estações do ano. E

de fato, segundo Duplaix, (1980), durante a estação chuvosa, as ariranhas parecem

abandonar seus territórios para seguirem desovas de peixes em florestas inundadas e

áreas alagadas, bem como para procurarem áreas mais elevadas para instalarem suas

tocas e acampamentos.

Embora saibamos muito pouco sobre a intensidade e a extensão das áreas de

florestas inundadas usadas por grupos de ariranhas durante a estação chuvosa, isso deve

depender de complexas interações entre clima e padrões hidrológicos, bem como dos

níveis de inundação e a extensão do uso da floresta inundada por peixes.

Especificamente no caso das ariranhas, a análise sobre área de vida é complicada pelo

fato dela ser uma espécie anfíbia, ou seja, são animais que usam não só os corpos

d´água, onde caçam e se dispersam como também ocupam vários tipos de habitats

associados a esses corpos d´água, onde constroem suas tocas, acampamentos e latrinas

(Utreras, et al., 2005), aliado a ampla flutuação sazonal e variação do nível da água e à

drástica mudança na estrutura da paisagem, torna a tarefa de determinar o tamanho da

área de vida da ariranha ainda mais complexo.

Usamos o algoritmo Maxent, que tem demostrado bom desempenho, mesmo

com dados com viés de amostragem. Em um extenso estudo realizado por Elith et al.,

(2006) foram comparados 16 métodos de modelagem de 226 espécies em seis regiões

do mundo. O estudo concluiu que os "melhores" modelos eram aqueles capazes de

fornecer respostas altamente complexas, tais como os métodos de aprendizado de

máquina, tal qual o Maxent. Wisz et al., (2008) testaram 12 algoritmos com três

tamanhos de amostras e verificaram que aquele baseado na máxima entropia (Maxent)

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teve o melhor poder preditivo em todas as dimensões das amostras, se mostrando muito

menos sensível ao tamanho da amostra.

Foi concluído também que a inclusão da variável GlobCover não apresentou

efeito na capacidade preditiva dos modelos gerados. Outro estudo que avaliou a

influência da inclusão de uma variável de uso do solo na melhora da capacidade

preditiva em modelos bioclimáticos para espécies de plantas, anfíbios, répteis, aves e

mamíferos também concluiu que não houve melhora na previsão, nem na acurácia dos

modelos gerados (Thuiller et al., 2004). Correspondência temporal deve existir entre

dados de ocorrência e variáveis ambientais (Phillips et al. 2006; Peterson et al., 2011)

fato que temos que tomar mais cuidado ao se incluir variáveis de uso do solo aos

procedimentos de modelagem, já que as mesmas são muito dinâmicas e variam mais

rapidamente ao longo do tempo. No entanto, mesmo tendo sido feita a validação

temporal dos registros para a variável GlobCover, esta não apresentou diferença

significativa no desempenho dos modelos.

Foi observado que os modelos com bias grid, com ou sem a variável GlobCover,

apresentaram maiores áreas totais de adequabilidade em relação aos sem bias grid. Os

com GlobCover, a área foi sete vezes maior e os sem esta variável, cinco vezes maior,

aproximadamente. Os modelos gerados com bias grid tiveram menores valores de

AUC, o que já era esperado, já que, segundo Lobo, et al., (2008), AUC é dependente do

tamanho da área predita no modelo.

A aplicação da métrica de avaliação AUC tem gerado algumas discussões na

literatura de modelagem preditiva de distribuição (Lobo et al., 2008, Jiménez-Valverde,

2011). O fato de a análise ROC dar o mesmo peso aos erros de omissão e sobreprevisão

(Peterson et al., 2008) e do tamanho da área de estudo em relação à distribuição

conhecida da espécie influenciar bastante na taxa de ausência que foi predita de forma

correta pelo modelo (Giannini et al., 2012) são destacados como os principais

problemas da métrica. Sendo assim, os autores recomendam cautela no seu uso, mas até

o presente momento, o AUC mostra-se o teste mais amplamente utilizado pelos

pesquisadores (Pearson et al., 2006; Elith et al., 2006; Giannini et al., 2012).

Os valores de TSS (True Skill Statistics) (Allouche et al., 2006; Thuiller et

al., 2009) de todos os modelos foram considerados bons, mas aqueles gerados com bias

grid foram superiores e apresentaram diferença estatística significativa no uso da

correção de viés de amostragem. TSS é uma medida direta da sensibilidade e

especificidade do modelo, gerado através da matriz de confusão e os valores iguais ou

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inferiores a zero indicam modelos com desempenho não melhor do que seria o aleatório

(Tôrres et al., 2012). Ou seja, é uma forma de avaliar se o modelo é diferente do acaso,

o que de fato foi o observado com todos os modelos gerados. O TSS tem sido proposto

como métrica alternativa para se avaliar o desempenho de modelos e tem sido

recentemente mais utilizada (Kuemmerlen et al., 2014; Tôrres et al., 2012). No entanto,

Jiménez-Valverde (2011) salienta que qualquer método que combine erros de omissão e

sobreprevisão em uma única medida está sujeito aos mesmos problemas conceituais que

a AUC.

Outro resultado importante foi que os modelos com bias grid apresentaram

maiores taxas de acertos para a validação externa em relação aos sem correção de viés

de amostragem. De acordo com Elith et al., (2006) e Franklin, (2009) um passo

importante para a melhoria da avaliação do desempenho do modelo, que, aliás tem sido

raramente usada na previsão de distribuição de espécies, é a utilização de dados

independentes para validação. Já os modelos sem bias grid apresentaram uma taxa de

erro de omissão maior quando comparados com os com bias grid. A taxa de erro de

omissão (Under Prediction Rate - UPR) (Barbosa et al., 2013) refere-se à proporção de

presenças observadas na área de ausência predita. Portanto, os modelos gerados com o

bias grid apresentaram menos erros de omissão.

O sobre ajuste (ou overfitting) ocorre porque modelos podem ser super

parametrizados (isto é, modelos de alta complexidade) e/ou haver tamanhos de amostras

insuficientes ou enviesadas (Peterson et al., 2011). O viés de amostragem leva a um

sobre ajuste nos modelos, pois cada registro atribui um peso aos valores das variáveis

presentes naquele pixel, onde se encontra cada registro, assim, áreas com muitos

registros levam a modelos tendenciosos. Isso dá suportes aos melhores resultados

obtidos para os modelos com correção do viés de amostragem quando analisadas as

outras métricas de avaliação, como a taxa de erro de omissão e a validação externa.

Outro aspecto avaliado nos modelos foi a capacidade de transferabilidade dos

mesmos. O fato de termos adicionado aos experimentos com a partição espacial tanto

uma correção do viés de amostragem (bias grid) como a variável de uso do solo,

GlobCover, não apresentou efeito na correção do tendenciamento de coleta, já que este

foi muito acentuado, não apresentando uma boa transferabilidade, o que indica a

possibilidade e necessidade de ainda melhorar este método. Transferibilidade refere-se

à ideia de aplicar um modelo desenvolvido em uma paisagem para outra paisagem ou

para outro período de tempo na mesma área (Araújo e Rahbek 2006). Para Peterson et

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al., 2007 transferabilidade também é a capacidade de um modelo em prever

distribuições de espécies em regiões amplas e não amostradas.

Sempre que for necessário, a avaliação de transferibilidade é uma ferramenta útil

que complementa as medidas de desempenho do modelo e seleção de métodos

existentes. No entanto, o procedimento tem algumas limitações claras (Wenger &

Olden, 2012).

O desafio em se alcançar alta transferibilidade é o de desenvolver modelos que

não tenham overfitting na região da calibração e que considerem a extrapolação com

cautela, quando necessária. Dividir os registros em treino e teste não só dá uma

impressão de bom ajuste do modelo aos dados, mas também da sua capacidade de

prever com novos dados e, portanto, sua habilidade de ter boa transferibilidade

(Peterson et al., 2011).

Para Wenger & Olden, (2012), nos últimos anos, as avaliações de

transferibilidade em trabalhos de modelagem de distribuição de espécies têm usado duas

partições de validação cruzada, como foi feito neste presente estudo. Segundo eles, isso

deve ser excessivamente conservador para muitas aplicações. Por outro lado, a

validação cruzada com mais de 10 partições pode ser muito liberal, portanto, os autores

recomendam de 3 a 10 partições para a maioria das aplicações.

O modelo de distribuição potencial gerado para a ariranha no presente trabalho

(Figura 2B) pode ainda atender uma das ações demandadas no Plano de Ação Nacional

(PAN) da Ariranha (ICMBio, 2010), que constitui na definição da distribuição potencial

da ariranha não só na América do Sul, mas no Brasil e na indicação de locais para novos

inventários. O mapa de incerteza apresenta a variação das adequabilidades das partições

do experimento escolhido, o qual mostrou baixa variação e pode auxiliar de forma

complementar na definição de áreas para inventário ou criação de unidades de

conservação. As maiores variações estão no norte da Amazônia, na Venezuela, onde

não se tem muitos registros da espécie e no nordeste do Brasil, em região do Bioma

Caatinga, onde não são conhecidos registros da espécie.

As áreas de maior adequabilidade e menor incerteza são os países Guiana,

Suriname e Guiana Francesa, os quais tiveram a maior parte de seus territórios cobertos

com alguma adequabilidade. Norte da Bolívia, nordeste do Peru, extremo oeste do

Equador, sul e sudoeste da Colômbia, norte e noroeste do Paraguai e várias regiões da

Venenzuela foram apontadas com algum grau de adequabilidade ambiental potencial

para ocorrência da espécie, embora para este último o grau de incerteza tenha sido

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maior. As áreas de mais alta adequabilidade apontadas estão no Paraguai, Peru,

Colômbia, Suriname e Guiana.

Ao se investigar áreas de ocorrências de ariranha na América do Sul,

verificamos alguns estudos sobre a espécie os quais foram indicadas pelo modelo como

áreas com adequabilidade ambiental potencial para sua ocorrência: a leste do Equador,

(Utreras et al., 2005), em áreas protegidas e áreas remotas da Bolívia (Pickles, et al.

2011; Ten et al., 2001; Gonzales Jiménez, 1997; Fraser et al., 1993), em duas unidades

de conservação a sudeste do Peru (Schenk & Staib, 1994a,b; Groenendijk et al., 2014) e

norte deste país (Tramm, 2014), no Suriname (Duplaix, 1980), na Guiana Inglesa

(Barnett et al. 2000; Laidler, 1984), a sul (Portocarrero-Aya et al., 2009) e nordeste da

Colômbia (Javier Díaz & Sánchez, 2002). Áreas indicadas pelo modelo como sem

adequabilidade ambiental potencial, mas de distribuição histórica da espécie são o sul

do Paraguai, norte da Argentina, onde há antigos relatos de ariranha neste local (Parera,

1992; Beccaceci, & Waller, 2000) e Uruguai, onde acredita-se que a espécie esteja

localmente extinta (Duplaix, et al. 2008).

O modelo aponta ainda algumas áreas de alta adequabilidade, como o norte da

Amazônia brasileira, englobando o norte do estado do Amazonas, nordeste do Pará,

quase todo o estado de Roraima e a região do Rio Araguaia, na divisa dos estados do

Tocantins, Mato Grosso e Goiás, bem como o oeste do estado do Mato Grosso do Sul,

na região do Pantanal.

No Brasil, provavelmente onde mais tenham ocorrido estudos sobre ariranhas no

país tenha sido na região do Pantanal, em que o modelo indicou adequabilidade

ambiental potencial nas áreas estudas por Leuchtenberger et al., (2014); Leuchtenberger

et al., (2013); Leuchtenberger & Mourão, (2009); Ribas & Mourão, (2004); Ribas,

(2004); Tomás et al., (2000) e Schweizer, (1992), para citar alguns exemplos. O mesmo

ocorreu em áreas da Amazônia brasileira, em que o modelo indicou adequabilidade

ambiental potencial onde houve estudos sobre a espécie: no estado do Amapá (Oliveira,

et al., 2015; Michalski et al., 2012), no Amazonas (Lima et al., 2012; Palmerim et al.

2014, Cabral et al. 2010; Rosas et al., 2007; Rosas et al., 2003) e em Roraima

(Evangelista, 2004 e Evangelista & Rosas, 2011a,b) e Rondônia (Damasceno, 2007). Há

indicação pelo modelo de adequabilidade ambiental potencial para ocorrência de

ariranha na transição Amazônia e Cerrado, no arco do desmatamento, no estado do

Mato Grosso, estudado por Norris & Michalski, (2009). No Cerrado, provavelmente o

principal reduto de ariranhas está no rio Araguaia, onde há indicação de muito alta

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adequabilidade ambiental potencial, onde inclusive há um projeto de monitoramento da

espécie no Parque Estadual do Cantão.

Tais verificações validam o modelo e nos permitem identificar áreas com lacuna

de conhecimento e, consequentemente, apontar áreas para realização de inventários para

a espécie e assim, conhecer melhor sua distribuição atual.

O último registro conhecido da espécie na bacia do rio Paraná é de 1998 (Braga

et al., 1998) onde está o Parque Nacional Ilha Grande. No entanto, os gestores da

unidade não têm conhecimento da espécie na UC atualmente (comunic. Pess.). O

modelo não apontou áreas de adequabilidade para a região, no entanto, há uma demanda

do PAN Ariranha em se confirmar ou não a distribuição da espécie ali, mas é possível

que a mesma esteja localmente extinta.

Os dados primários gerados pelos inventários compõem uma das ferramentas

mais importantes na tomada de decisões a respeito do manejo de áreas naturais (Silveira

et al., 2010). Dados precisos de distribuição da ariranha ainda estão sendo acumulados,

por isso, muitas áreas ainda devem ser exploradas com a realização de inventários.

Segundo as indicações de adequabilidade ambiental potencial no modelo,

algumas áreas são indicadas na América do Sul. Acredita-se que alguns indivíduos

possam ocorrer no Paraguai (Duplaix et al., 2008), onde seria indicada a realização de

inventários nas regiões norte e nordeste deste país, nas áreas de fronteira com o estado

do Mato Grosso do Sul. Ariranhas são consideradas muito raras no Equador (Duplaix et

al., 2008), onde inventários poderiam ser indicados no rio Napo e seus afluentes, assim

como no Parque Nacional Cuyabeno, a leste do país, . São consideradas escassas na

Bolívia, Peru, Colômbia e Venezuela (Duplaix et al., 2008), onde seriam indicados

inventários no extremo sudeste e região de centro ao norte da Bolívia; leste do Peru, na

região da Reserva Nacional Pacaya-Samiria; na área central da Colômbia, na região do

Parque Nacional Serrania de la Macarena e na Reserva Natural Nukak; e finalmente, na

área centro norte da Venezuela, ao longo do rio Orinoco, na região dos Parques

Nacionais Santos Luzardo e Aguaro-Guariquito. Nesses países a espécie encontra-se

descontínua e com populações reduzidas (Carter & Rosas, 1997). Acredita-se que os

últimos grandes redutos de ariranha, provavelmente sejam na Guiana, Suriname e

Guiana Francesa, embora quase não haja dados para o último país (Duplaix et al.,

2008), portanto, expedições a campo a esses países são extremante recomendadas.

Inventários de ariranha na Amazônia seriam indicados ao longo do médio e

baixo rio Negro e afluentes, com destaque para o rio Cuiuni, rio Cauarés e rio Culeiras.

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Seriam ainda no rio Solimões e afluentes da margem esquerda e baixo rio Madeira e

afluentes. No rio Amazonas com destaque para alguns afluentes: rio Trombetas, rio

Nhamundá, rio Urubu, rio Abacaxis, rio Preto da Eva, e rios dos Oeiras. O Alto Xingu,

com destaque para os afluentes: rio Arraias, rio Trairão e rio Auaiá-miçu. O rio Xeruini,

ao sul de Roraima, apresentou alta adequabilidade por toda sua extensão, trata-se de um

rio bastante procurado para pesca esportiva.

No Cerrado, alguns afluentes do rio Araguaia são indicados para serem

inventariados, com destaque para o rio Formoso, rio Tapirapé, rio Ariari, rio das Mortes

e rio Cristalino. Na região do Pantanal, a indicação é para o rio Lourenço, rio Taquari e

rio Alegre, assim como toda a área de fronteira com a Bolívia.

Dentre as unidades de conservação federais, a Resex Terra Grande Pracuúba

(PA), Flona de Caxiuanã (PA), Resex Gurupá-Melgaço (PA), Flona de Saracá-Taquera

(PA), Resex Ipaú-Anilzinho (PA), RDS Itatupã-Baquiá (PA), Resex Arióca Pruanã

(PA), Resex Verde para Sempre (PA), Resex Renascer (PA), Resex Rio Unini (AM),

Resex Auatí-Paraná (AM) Resex Auatí-Paraná (AM), ESEC Caracaraí (RR), FLONA

Anauá (RR) e Resex Rio Cajari (AP) apresentaram muito alta adequabilidade ambiental

potencial para ocorrência de ariranha, sendo extremamente indicadas para realização de

inventários. Dentre as estaduais, aquelas que apresentaram muito alta adequabilidade e

por isso também são muito recomendadas para realização de inventários estão: APA da

margem direita do Rio Negro (AM), APA da margem esquerda do Rio Negro (AM),

APA de Presidente Figueiredo (AM), RDS Uatuma (AM), RDS Canumã (AM), RDS

Rio Madeira (AM), RDS Piagaçu-Purus (AM), Floresta Estaduais: Maués, de Faro e

Trombetas (PA), APA do Lago de Tucuruí (PA), APA Ilha do Bananal/Cantão (TO),

Parque Estadual do Guirá (MT), RPPN Fazenda Santa Sofia (MT), RPPN Santa Cecília

II (MT), APA Baixo Rio Branco (RR) e APA Xeriuini (RR), sendo esta última,

municipal.

Indicações para criação de unidades de conservação seriam prioritariamente na

região do Pantanal, nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde atualmente

há poucas e pequenas áreas protegidas. O mesmo é possível afirmar para o Cerrado,

onde apenas 9,4% do seu território está legalmente protegido (Garcia et al., 2001).

Unidades de conservação seriam indicadas por toda a bacia do rio Araguaia, no

Tocantins e Goiás e região do alto Xingu, no estado do Mato Grosso.

As ameaças à ariranha em qualquer região do país são crescentes e, de uma

forma geral, estão ligadas às atividades que acarretam principalmente em

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desmatamento, ocupação das matas ciliares e poluição dos recursos hídricos. Em todos

os biomas onde a espécie ocorre, há atividades com essas consequências. O desafio é

fazer com que tais atividades sejam bem planejadas e geridas, não só visando o

benefício econômico, mas que também contemple premissas básicas de respeito à

natureza e às comunidades locais.

Expansão da pecuária e das indústrias de soja na Amazônia tem causado

aumento das taxas de desmatamento e que em breve demandarão construção de

rodovias para as regiões mais conservadas. Outra preocupação é a atividade de

exploração depredatória de mineração na região, em que acarreta poluição do ar e do

solo, contaminação das águas superficiais e subterrâneas por detritos tóxicos,

mortandade de peixes e desmatamento, sem considerar falta de responsabilidade social

por parte das grandes empresas mineradoras (Casara, 2003). Não poderíamos deixar de

citar ainda as construções de hidrelétricas na região, que além de gerarem grandes áreas

desmatadas para enchimento dos lagos, promovem declínio das populações de diversos

organismos, dentre os quais, diversas espécies de peixes, dentre outras consequências,

como a emissão de gases do efeito estufa, principalmente gás carbônico (CO2) e metano

(CH4) (Fearnside, 2013). As barragens criam o acesso a áreas remotas e a composição

de espécies das populações de peixes são severamente afetadas, interrompendo rotas

migratórias, alterando profundamente as condições hidrológicas, assim como a

qualidade da água em longo prazo, acarretando em prejuízos às populações de ariranha

(Cárter & Rosas, 1997).

Em face desta crescente pressão, uma estratégia de conservação abrangente para

a bacia Amazônica seria proteger áreas que permitiriam conectividade entre populações

de ariranhas através das matas ciliares ainda bem preservadas. Em 2050, a com a atual

tendência de expansão agrícola, um total de um quarto das 382 espécies de mamíferos

perderá mais que 40% de suas áreas de vida em floresta (Soares-Filho et al., 2006).

No Cerrado, um dos maiores ‘hotspots’ para a conservação da biodiversidade

mundial, com alto nível de endemismo, possui há 35 anos atividades já consolidadas de

pecuária com pastagens plantadas e cultivo de grãos anuais os quais destruíram metade

de sua vegetação original (Klink & Machado, 2005). O grande desafio, não só para

ariranha, mas para toda a biodiversidade do bioma é conciliar uso da terra e conservação

de seus ecossistemas.

O Pantanal, uma das maiores áreas alagáveis do planeta e de incrível diversidade

biológica, enfrenta sérias ameaças como perda de habitat que tem dado lugar a grandes

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extensões de pastagens, com uso de gramíneas exóticas, caça, queimadas, instalações de

hidrelétricas e poluição (Harris et al., 2005). Ariranhas requerem habitat aquáticos

altamente produtivos, os quais são rapidamente erodidos em áreas desmatadas e

poluídas. Por ocupar o mais alto nível trófico é uma das primeiras espécies a

desaparecer quando o ambiente explorado é alterado ou contaminado (Parera, 1996).

É sabido que as zonas ripárias têm sido consideradas como corredores

ecológicos extremamente importantes para o movimento da fauna na paisagem. Estes

corredores podem viabilizar conectividade entre áreas protegidas e fragmentos

remanescentes, permitindo o fluxo de indivíduos e genes entre populações, aumentando

a probabilidade de sobrevivência ao longo prazo e assegurando a manutenção de

processos ecológicos e evolutivo (Ayres et al., 2005) não só da ariranha, mas de toda a

comunidade. As matas ciliares possuem uma importância crucial para todo o

ecossistema, funcionando como reguladoras dos fluxos hídricos, de nutrientes e de

sedimentos e ainda mantém uma estreita relação com os habitats adjacentes (Marinho-

Filho & Gastal, 2001). Além disso, são fundamentais para o controle à erosão nas

margens dos rios, para a redução dos efeitos de enchentes; minimizam o calor e o

equilíbrio térmico da água (Lima & Zakia, 2001), servindo de excelente refúgio com

sombra e água à toda fauna. Deste modo, Lima et al. (2012); Norris & Michalski,

(2009); Groenendijk, (1998); Carter & Rosas, (1997) ressaltam a importância das

margens dos rios para ariranhas, indicando que essas áreas são habitats essenciais para a

sua conservação.

Estes aspectos possuem vantagens óbvias para a vida humana, mas que

infelizmente têm sido ignorados pela gestão pública, haja vista o desenvolvimento de

legislações que flexibilizam a exploração das margens dos rios e outras incoerências

para a gestão ambiental, como a Lei Federal nº lei 12651/2012, que institui o novo

Código Florestal, a Lei Complementar nº 153/2009 , do estado de Roraima, a Lei

15.684/2015, do estado de São Paulo e a Lei 16.342/2014, que estabelece o Código

Estadual de Meio Ambiente de Santa Catarina para citar alguns exemplos.

O novo código florestal flexibiliza a recuperação de APPs (Áreas de Preservação

Permanente) desmatadas até o ano de 2008, inclusive as matas ciliares, em propriedades

consideradas consolidadas. A Lei Complementar nº 153/2009 estabelece nova Área de

Preservação Permanente (APP) no Rio Branco, o maior rio do estado, de 500 para

apenas 50 metros. Como o Rio Branco tem mais de mil metros de uma margem a outra,

proteger apenas 50 metros de margem significa reduzir a APP para menos de um

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vigésimo de sua largura, colocando em risco a saúde do rio (ISA, 2010). Já a Lei

estadual 15.684/15 afirma que proprietários ou possuidores de imóveis rurais que

realizaram supressão de vegetação nativa são dispensados de promover a recomposição,

compensação ou regeneração para os percentuais de Reserva Legal, entre outras

incongruências. A Lei 16.342/2014 apresenta diversas inconstitucionalidades em vários

artigos que vão contra o novo Código Florestal federal (Lei 12.651). Exemplos como

estes são infelizmente crescentes e alarmantes, fato que invariavelmente futuras

gerações serão prejudicadas.

São necessárias ainda ações que trabalhem as relações entre pescadores e

populações de ariranhas. É importante que se analise possíveis conflitos, conforme

identificado por Oliveira et al. (2015), em que os autores sugerem que haja uma

considerável sobreposição espacial e temporal de atividades de ariranhas e de

pescadores locais na região do Amapá e que isso deve ser considerado para a realização

de uma gestão eficaz de conservação, sobre tudo em locais como esta região, de rápido

desenvolvimento.

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MATERIAL SUPLEMENTAR 1

LONGITUDE LATITUDE TIPO DE AVISTAMENTO DATA LOCAL COLETOR ALTITUDE (m)

-61.587209 3.318659 G1 avistam 5 indiv 24/03/2013 13:10 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 122.15

-61.587116 3.318858 toca 24/03/2013 13:35 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 123.05

-61.490021 3.350739 latrina 24/03/2013 17:34 Rio Apuí ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 103.98

-61.493623 3.352561 G2 avistam 5 indiv 24/03/2013 17:43 Rio Apuí ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 98.97

-61.496788 3.352759 toca 24/03/2013 17:57 Rio Apuí ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 97.36

-61.498464 3.349537 G2 avistam 5 indiv 25/03/2013 10:56 Rio Apuí ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 97.15

-61.51207 3.342443 acampamento 25/03/2013 11:41 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 93.73

-61.531515 3.344387 acampamento 25/03/2013 12:18 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 101.61

-61.525345 3.31648 G 3 avistam 2 indiv 25/03/2013 17:28 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 106.36

-61.525835 3.316321 pegadas 25/03/2013 17:52 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 104.65

-60.609539 3.401163 fezes e toca 27/03/2013 09:48 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 74.26

-60.58935 3.370658 pegadas 27/03/2013 11:31 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 78.6

-60.588888 3.369506 pegadas 27/03/2013 11:42 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 79.05

-60.586569 3.356087 acampamento 27/03/2013 14:49 Rio Uraricoera ESEC Maracá Luciana Pacca & Lívia Rodrigues 85.45

-60.93709 3.672437 G1 avistam 2 indiv 8/7/2013 19:23 Rio Parimé Luciana Pacca & Renata Bocorny 88.71

-60.93468 3.675288 latrina 9/7/2013 10:10 Rio Parimé Luciana Pacca & Renata Bocorny 95.82

-60.935332 3.679199 duas latrinas 9/7/2013 11:02 Rio Parimé Luciana Pacca & Renata Bocorny 94.78

-60.93415 3.676743 latrina 9/7/2013 11:13 Rio Parimé Luciana Pacca & Renata Bocorny 93.59

-60.897403 3.669709 G2 avistam 3 indiv 9/7/2013 12:25 Rio Parimé Luciana Pacca & Renata Bocorny 90.26

-60.811484 3.59477 acampamento 9/7/2013 18:44 Rio Parimé Luciana Pacca & Renata Bocorny 82.88

-60.751827 3.588729 latrina 10/7/2013 11:50 Igarapé Capivara Luciana Pacca & Renata Bocorny 87.83

-60.533727 3.163749 acampamento 24/03/2014 12:13 Rio Uraricoera Luciana Pacca & Lara Côrtes 84.75

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-60.409753 3.113844 latrina 24/03/2014 15:04 Rio Tacutu Luciana Pacca & Lara Côrtes 86

-60.300074 3.38561 latrina 25/03/2014 11:44 Rio Tacutu Luciana Pacca & Lara Côrtes 81.94

-60.557089 2.887742 latrina 26/03/2014 15:19 Rio Uraricoera Luciana Pacca & Lara Côrtes 80.26

-60.718742 2.70281 toca e latrina 27/03/2014 10:47 Alto Rio Branco Luciana Pacca & Lara Côrtes 69.41

-60.719612 2.701689 latrina 27/03/2014 11:41 Alto Rio Branco Luciana Pacca & Lara Côrtes 76.61

-60.784845 2.611292 latrina 27/03/2014 16:13 Alto Rio Branco Luciana Pacca & Lara Côrtes 81.01

-60.840648 2.467206 latrina 28/03/2014 09:36 Alto Rio Branco Luciana Pacca & Lara Côrtes 62.61

-60.836941 2.45001 latrina 28/03/2014 10:35 Rio Mucajaí Luciana Pacca & Lara Côrtes 65.82

-60.866648 2.43786 latrina 28/03/2014 12:23 Rio Mucajaí Luciana Pacca & Lara Côrtes 58.18

-61.25027778 1.184722222 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 88.60741935

-61.23333333 1.175555556 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.24083333 1.152222222 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.23944444 1.118888889 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.24777778 1.195277778 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.23583333 1.181944444 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.23305556 1.175277778 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.25027778 1.139722222 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.25194444 1.016944444 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.2525 1.059444444 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.25222222 1.037222222 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.25194444 1.010833333 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -61.26555556 0.978333333 avistamento 2009 Médio Rio Branco Restrepo, D. 2009 -60.98461944 1.426436111 avistam 5 indiv 2013 Médio Rio Branco Colab. Havana Maduro (ICMBio) -60.98236944 1.365694444 avist 1 ind 2013 Médio Rio Branco Colab. Havana Maduro (ICMBio)

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-61.626775 2.936452778 avistamento 2013 Igarapé Preto Colab. Rainor Mansur (ICMBio) -61.56426944 2.974402778 avistamento 2013 Igarapé Preto Colab. Rainor Mansur (ICMBio) -61.55318611 2.930630556 avistamento 2013 Igarapé Preto Colab. Rainor Mansur (ICMBio) -61.65697222 0.817527778 avistamento 2013 Médio Rio Branco Colab. Romério Briglia (ICMBio) -61.67340556 0.726080556 avistamento 2013 Médio Rio Branco Colab. Romério Briglia (ICMBio) -61.68777778 1.233611111 avistamento 2013 Médio Rio Branco Colab. Romério Briglia (ICMBio) -61.65277778 0.838555556 avist 1 ind 2013 Médio Rio Branco Colab. Érica Fujisaki (ICMBio) -61.65333333 0.887944444 avist 1 ind 2013 Médio Rio Branco Colab. Érica Fujisaki (ICMBio) -61.87446999 -0.968211903 avistamento 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.88141732 -1.322466536 avist 2 ind 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.87720619 -1.344516652 avistamento 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.7402361 -1.3672333 avist 2 ind 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.87178 -1.1043277 avistamento 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.8562222 -0.9790277 avistamento 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.7963002 -0.14091958 avist 3 ind 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.769 0.295430067 avistamento 2013 Baixo Rio Branco Colab.Thiago Laranjeiras (ICMBio) -61.850361 1.0700555 avist 1 ind 2013 Baixo Rio Branco Colab. Renata Azevedo (ICMBio) -61.9615 1.1738611 avist 1 ind 2013 Baixo Rio Branco Colab. Renata Azevedo (ICMBio) -61.36258836 0.968908686 avistam 7 indiv 2013 Baixo Rio Branco Colab. Marcelo de Carvalho (ICMBio) -61.8445 2.46427 avistam 2 indiv 2013 Rio Apiaú Colab. Moreno Martins (ISA) -61.578777 -0.788718 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.568329 -0.806611 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.565228 -0.790324 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.56036 -0.815355 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz)

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-61.522068 -0.742658 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.540368 -0.769149 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.579288 -0.844512 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.561273 -0.813078 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.561395 -0.813259 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.570553 -0.787122 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.565829 -0.793975 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.579317 -0.784137 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.564698 -0.794695 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.578881 -0.777456 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.570903 -0.802852 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz) -61.567148 -0.800158 avistamento 2012 Baixo Rio Jauaperi Colab. Emanuela Evangelista (Ass Amaz)

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MATERIAL SUPLEMENTAR 2

Unidades de Conservação com presença de ariranha conhecida na literatura.

Unidades de Conservação Fonte UF Competência

1 PARNA Jaú ICMBio, 2010 AM Federal

2 REBIO Uatumã ICMBio, 2010 AM Federal

3 REBIO Abufari ICMBio, 2010 AM Federal

4 PARNA Anavilhanas ICMBio, 2010 AM Federal

5 PARNA Campo Amazônicos ICMBio, 2010 AM Federal

6 REBIO Jaru ICMBio, 2010 RO Federal

7 REBIO Guaporé ICMBio, 2010 RO Federal

8 PARNA Araguaia ICMBio, 2010 TO Federal

9 REBIO Rio Trombetas ICMBio, 2010 PA Federal

10 PARNA Serra do Pardo ICMBio, 2010 PA Federal

11 ESEC Terra do Meio ICMBio, 2010 PA Federal

12 PARNA Jamanxim ICMBio, 2010 PA Federal

13 FLONA Carajás ICMBio, 2010 PA Federal

14 FLONA Tapajós ICMBio, 2010 PA Federal

15 FLONA Altamira ICMBio, 2010 PA Federal

16 REBIO Lago Piratuba ICMBio, 2010 AP Federal

17 PARNA Cabo Orange ICMBio, 2010 AP Federal

18 ESEC Rio Acre ICMBio, 2010 AC Federal

19 RESEX Lago do Cedro em Goiás ICMBio, 2010 GO Federal

20 PARNA Pantanal Matogrossense ICMBio, 2010 MT Federal

21 ESEC Iquê ICMBio, 2010 MT Federal

22 ESEC Taiamã ICMBio, 2010 MT Federal

23 ESEC Maracá presente estudo RR Federal

24 FLONA Roraima presente estudo RR Federal

25 PARNA Serra da Mocidade, presente estudo RR Federal

26 ESEC Niquiá presente estudo RR Federal

27 PARNA Viruá Restrepo, 2009 RR Federal

28 PARNA Montanhas de

Tumucumaque

Lima et al., 2008 AP Federal

29 FLONA Purus ICMBio, 2009 AM Federal

30 FLONA Jamari IBAMA, 2005 RO Federal

31 APA Meandros do Rio Araguaia Cabral et al., 2011 TO Federal

32 FLONA Amapá Oliveira, et al., 2015 AP Federal

33 RDS Amanã Lima et al., 2012 AM Estadual

34 RESEX Catuá-Ipixana SDS, 2007 AP Estadual

35 RDS Uacari Rosas-Ribeiro et al.,

2012

AM Estadual

36 RDS do rio Iratapuru Lima et al., 2008 AP Estadual

37 Parque Estadual do Cantão Silveira & Almeida,

2007

TO Estadual

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Considerações finais

Concluiu-se que, para Roraima, região que possui, de uma forma geral, matas

ciliares muito bem preservadas por seu território, a adição de variáveis de cobertura do

solo não apresentou diferença significativa no desempenho dos modelos de distribuição

potencial da ariranha.

Acreditamos que como a ariranha é um animal associado essencialmente a rios e

praias, as variáveis físicas incluídas no primeiro grupo (físicas e climáticas) já

aumentaram a capacidade preditiva do modelo. Além disso, Roraima é um dos estados

mais bem preservados do Brasil, em que 83% de seu território é composto de floresta e

17% de savanas, sendo que sua maior parte ainda se encontra com a cobertura vegetal

nativa (Rosa-Freitas et al, 2010). Este fato é positivo para o planejamento e para

políticas públicas do Estado que poderia adotar a ariranha como foco de programas de

monitoramento da qualidade do habitat e de medidas em seu Zoneamento Ecológico

Econômico (ZEE), assim como na gestão das Unidades de Conservação, para

monitoramento da biodiversidade.

O modelo gerado para o estado considerou apenas parte da distribuição da

ariranha, sendo necessário avaliar se as variáveis de uso do solo podem melhorar o

desempenho de modelos de distribuição que incluem regiões com elevada fragmentação

e conversão de vegetação ciliar, que é a situação mais comum em outros estados

brasileiros. Na América do sul como um todo, a variável do uso do solo testada não

apresentou diferença significativa no desempenho dos modelos e avaliamos que as

mesmas devam ser preferencialmente usadas na pós modelagem.

Já os testes de correção de viés de amostragem foram significativos e os

consideramos importantes de serem explorados, sobretudo em países pouco estudados e

megadiversos, como Brasil.

Consideramos as métricas de avaliação taxa de omissão e validação externa

significativas em nossas análises e recomendamos o uso das mesmas além das já

normalmente usadas, TSS (True Test Statistic) e AUC (Area Under the Curve), esta

última, mais frequentemente usada (Elith et al., 2006; Franklin, 2009). A métrica taxa

de omissão é interessante, pois não demanda cálculos complexos, podendo ser feita

manualmente de forma simples e testa o quanto que o modelo não conseguiu prever de

área predita para registros conhecidos. A validação externa ou validação de campo,

sempre que possível, é o melhor teste que se pode fazer para avaliar o desempenho do

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modelo (Giannini et al., 2012) a qual corresponde à capacidade do modelo para prever

dados independentes (Peterson, et al., 2011).

O planejamento aliado à conservação da biodiversidade traria benefícios não só

às ariranhas, mas para todos os organismos, inclusive o ser humano. Assim como o

recomendado por Groenendijk et al, (2014) os esforços para conservação da ariranha

deveriam estar concentrados na preservação de corredores de recursos hídricos e mata

ciliar associada, garantindo o fluxo gênico e manutenção a longo prazo das populações.

A legislação deve atender o interesse público e garantir a boa manutenção das áreas de

preservação permanente, em especial as matas ciliares, que poderiam compor corredores

ecológicos com áreas protegidas e assegurar os serviços ambientais para a sociedade.

Em tempos de escassez hídrica, é mais que urgente aliar conservação de matas

ciliares através de políticas públicas e planejamento territorial. É necessário que se

tenha recursos financeiros e de pessoal para realização de inventários, pois não há outra

maneira de se confirmar a distribuição da espécie e consequentemente de se promover

estratégias para sua conservação. Ressaltamos necessidade de confrontar a distribuição

da ariranha com planejamentos de outros setores governamentais, a fim de permitir o

estabelecimento de áreas de menor conflito para conservação e populações mais

vulneráveis da espécie.

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