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Dissertação de Mestrado Integrado em Medicina

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto

Título: Novo paradigma nos conceitos Lesão renal aguda e Doença renal crónica: um

processo patológico contínuo

Autor: Inês Ramos Genésio1

Orientador: Dr.ª Josefina Maria Sousa Santos Lascasas2

Afiliação: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), Universidade do

Porto; Centro Hospitalar do Porto; Rua de Jorge Viterbo Ferreira n.º 228, 4050-313

Porto, Portugal

1 Aluna do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina, Instituto de Ciências Biomédicas

Abel Salazar, Universidade do Porto; número de aluno: 201201182. Endereço

eletrónico: [email protected]

2 Assistente Hospitalar Graduado de Nefrologia do HGSA-CHP; Professora Convidada

de Semiologia Médico-Cirúrgica do MIM do ICBAS/HGSA-CHP

Maio, 2018

Assinatura da autora: Inês Ramos Genésio:

_____________________________________________________________________

Assinatura do orientador: Dr.ª Josefina Maria Sousa Santos Lascasas:

_____________________________________________________________________

Data: __/__/___

i

Agradecimentos:

À Dr.ª Josefina Santos, orientadora da tese, agradeço a rapidez e pragmatismo com que respondeu sempre às minhas dúvidas, guiando-me na estruturação da dissertação.

ii

Resumo

Introdução: A Lesão renal aguda (LRA) e a Doença renal crónica (DRC) estão interligadas,

sendo pensadas como um contínuo de processo patológico. A sua abordagem engloba: a

interligação de fatores de risco, fisiopatologia da progressão renal, Doença renal aguda

(DRA), recuperação da função renal e estratégias de medicina preventiva.

Objetivo: Revisão bibliográfica da literatura recente relativa aos conceitos de LRA, DRC e

DRA. Com a divulgação desta informação pretendemos aumentar a consciencialização da

problemática de que um número significativo de doentes, após um episódio de LRA,

apresentem perda permanente da função renal, desenvolvendo, a longo prazo, DRC.

Métodos: Foi utilizada a base de dados Pubmed e utilizados os termos de pesquisa: acute

Kidney Injury; renal Insufficiency, Chronic; pathologic process; recovery of function;

preventive medicine. Foram revistos artigos publicados entre 2006 e 2018, entre os quais

foram selecionados 55 artigos científicos. Além disso, foram consultados os seguintes 6

documentos: 3 Guidelines, USRDS Annual Data Report, dados do Gabinete do Registo da

Doença Renal Crónica da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, bem como da Rede

Nacional de Especialidade Hospitalar de Referenciação.

Desenvolvimento: A LRA é um fator de risco para o desenvolvimento de DRC e a DRC é

um fator de risco para LRA. Recentemente, tem-se abordado estas doenças como um

contínuo, através da progressão de um processo fisiopatológico, realçando-se os

mecanismos de epigenética e hipóxia, pelas suas implicações terapêuticas. O conceito de

DRA tem sido introduzido, englobando o período após LRA, com evidência de lesão e/ou

perda de função renal, durante 7 a 90 dias. O reconhecimento da DRA, nomeadamente,

do estadio 0, fundamenta a importância de uma definição uniforme de recuperação da

função renal, após episódio de LRA. Estratégias de medicina preventiva incluem o papel

dos biomarcadores, sua aplicabilidade na avaliação médica, meses após LRA, nos

Cuidados de Saúde Primários e Secundários.

Conclusão: A identificação de doentes, no estadio 0 de DRA, enfatiza a importância de

elaboração de algoritmos estruturados, uma vez que que nem todos os doentes após LRA,

irão ter seguimento por especialidade de Nefrologia. Futuramente, são necessários mais

estudos sobre o complexo mecanismo da fisiopatologia, da progressão da LRA para DRC,

e seus intervenientes, de modo, a compreender o seu potencial benefício terapêutico.

Palavras-chave: Lesão Renal Aguda; Doença Renal Crónica; Processo Patológico;

Recuperação da Função; Medicina Preventiva;

iii

Abstract

Introduction: Acute renal injury (AKI) and Chronic renal disease (CRD) are interconnected,

being thought of as a continuum of a pathological process. Its approach includes: the

interconnection of risk factors, pathophysiology of renal progression, acute renal disease

(ARD), recovery of renal function and preventive medicine strategies.

Objective: A recent review on the concepts of AKI, CKD and ARD. With this information

we intend to increase awareness of the fact that a significant number of patients after an

episode of AKI have permanent loss of renal function developing long-term CKD.

Methods: The Pubmed database was used and the following search terms were used:

acute Kidney Injury; renal Insufficiency, Chronic; pathologic process; recovery of function;

preventive medicine. We reviewed articles published between 2006 and 2018, among which

were selected 55 scientific articles. A further 6 documents were also consulted as: 3

Guidelines, USRDS Annual Data Report, data from the Gabinete do Registo da Doença

Renal Crónica da Sociedade Portuguesa de Nefrologia, as well as the Rede Nacional de

Especialidade Hospitalar de Referenciação.

Development: LRA is a risk factor for the development of CKD and CKD is a risk factor for

the development of AKI. Recently, these diseases have been approached as a continuum,

through the progression of a pathophysiological process, underling the mechanisms of

epigenetics and hypoxia, due to their therapeutic implications. Thus, the concept of ARD

has been introduced, including the period after AKI, with evidence of acute and subacute

injury and/or loss of renal function for 7 to 90 days. Recognition of ARD, namely stage 0,

underlies the importance of a uniform definition of recovery of renal function after AKI.

Preventive medicine strategies include the role of biomarkers, their applicability in the

clinical evaluation, months after AKI, in Primary and Secondary Health Care.

Conclusion: The identification of patients at stage 0 of ARD emphasizes the importance of

elaborating structured algorithms, since not all patients after AKI will be followed up by

specialty of Nephrology. Further studies on the complex mechanism of pathophysiology of

the progression of AKI to CKD and its participants are needed in order to understand its

potential therapeutic benefit.

Key-words: Acute Kidney Injury; Renal Insufficiency, Chronic; Pathologic Process;

Recovery of Function; Preventive Medicine;

iv

Lista de abreviaturas

LRA- Lesão renal aguda

DRC- Doença renal crónica

DRA-Doença renal aguda

KDIGO- Kidney Disease: Improving Global Outcomes

RIFLE- Risk, Injury, Failure, Loss, End-stage kidney disease.

AKIN- Acute Kidney Injury Network

Crs- Creatinina sérica

ADQI- Acute Disease Quality Initiative

IECAS- Inibidores da enzina de conversão da angiotensina

ARAII- antagonistas dos recetores de angiotensina II

TFG- Taxa de filtração glomerular

NIA-Nefrite intersticial aguda

EUA- Estados Unidos da América

TSR-Terapêutica de substituição renal

Pmp-per million population

IRA- Insuficiência Renal Aguda

NTA- Necrose Tubular Aguda

ICD-9-CM- International Classification of Diseases,Ninth Revision, Clinical Modification

SOFA- Sequential Organ Failure Assessment

DNA- deoxyribonucleic acid

RNA - ribonucleic acid

miRNA- micro ribonucleic acid

HIF- Hypoxia-inducible factor

GNCC- Glomerulonefrite celular crescêntica

MAT- Microangiopatia trombótica

USF- Unidade de Saúde Familiar

MDRD- Modification of Diet in Renal Disease

NGAL- Neutrophil gelatinase-associated lipocalin

IL- Interleucina

SNS-Sistema Nacional de Saúde

ROC-Receiver Operating Characteristic

v

Conteúdo

1. Introdução…………………………………………………………………………..........1

1.1 Objetivo…………………………………………………………………………..1

1.2 Metodologia…………………………………………………………………......1

2. Lesão Renal Aguda………………………………………………………………..........2

2.1 Definição…………………………………………………………………………2

2.2 Epidemiologia…………………………………………………………………....2

2.3 DRC como fator de risco para LRA……………………………………………2

2.4 Proteinúria como fator de risco para LRA…………………………………….3

3. Doença Renal Crónica…………………………………………………………………..3

3.1 Definição………………………………………………………………………….3

3.2 Epidemiologia…………………………………………………………………….4

3.3 LRA como fator de risco da DRC……………………………………...............4

3.4 LRA como fator de progressão da DRC……………………………………….6

3.5 Mortalidade da LRA na DRC……………………………………………………6

4. Processo patológico contínuo…………………………………………………............7

4.1 Relação de causalidade da LRA e DRC……………………………………….8

4.2 Fisiopatologia da evolução da LRA para DRC………………………………...9

5. Doença Renal Aguda…………………………………………………………………......11

5.1 Definição …………………………………………………………………………..11

5.2 Recomendação de classificação em estadios………………………………....11

5.3 Recuperação da função renal……………………………………………………11

5.4 Etiologias da DRA………………………………………………………………....12

6. Medicina Preventiva……………………………………………………………………….13

6.1 Biomarcadores renais……………………………………………………………..13

6.2 Período máximo de primeira avaliação médica após resolução de LRA……15

6.3 Cuidados de Saúde Primários e Secundários……………………………….....16

7. Conclusão……………………………………………………………………………………18

8. Apêndice……………………………………………………………………………………..20

9. Referências Bibliográficas………………………………………………………………..30

vi

Índice de Tabelas

Tabela I- Critérios RIFLE para LRA……………………………………………….................20

Tabela II- Critérios AKIN para LRA………………………………………………………........21

Tabela III- Critérios KDIGO para LRA…………………………………………………………22

Tabela IV- Critérios KDIGO para DRC………………………………………………………...23

Tabela V- Critérios de Causalidade de Hill…………………………………………………....25

Tabela VI- Recomendações do grupo ADQI dos estadios de DRA………………………..26

Tabela VII-Guia da frequência de monitorização (número de vezes por ano), segundo TFG e categoria de albuminúria………………………………………………………………..27

Tabela VIII-Guia para referenciação para nefrologia segundo TFG e albuminúria………28

vii

Índice de Figuras

Figura 1- LRA e DRC como síndromes interconectados…………………………………..24

Figura 2- Proposta de algoritmo de seguimento de doentes com LRA estadio 2-3, após hospitalização.………………………………………………………......................................29

1

1. Introdução

Vários estudos estabelecem a ligação bidirecional entre Lesão renal aguda (LRA) e

Doença renal crónica (DRC). Recentemente, têm sido abordadas como doenças contínuas,

introduzindo-se, um novo conceito: Doença renal aguda (DRA). Este último, engloba, os

doentes que após um episódio de LRA, apresentem em curso, um processo patológico

renal.

1.1 Objetivo

O objetivo desta dissertação é através da revisão bibliográfica da literatura relativa à

interligação de conceitos de LRA e DRC, aumentar a consciencialização da problemática

de que um número significativo de doentes, após um episódio de LRA, desenvolvem, a

longo prazo, DRC sendo necessário adotar estratégias de medicina preventiva.

1.2 Metodologia

O material bibliográfico está limitado pela data de publicação (entre 2006 e Abril de

2018) e língua (idiomas em Português e Inglês). Pontualmente foram usados 3 artigos mais

antigos, dado a sua importância nesta área, com datas de publicação de 1965, 2002 e

2004. A metodologia usada terá por base uma pesquisa de artigos na base de dados

bibliográfica MEDLINE-Pubmed, tendo sido empregues as seguintes palavras-chave

recorrendo ao descritor MeSH: acute kidney injury; renal insufficiency, chronic; pathologic

process; recovery of function; preventive medicine. Foram também incluídos referências

dos artigos analisados.

A revisão bibliográfica contempla 61 referências: 55 artigos científicos, entre os

quais 33 artigos originais (com inclusão de modelos animais e humanos (população adulta

e pediátrica)), 19 artigos de revisão, 2 meta-análises/revisão sistemática, e 1 comentário

da Sociedade Canadiana de Nefrologia, relativamente à Guideline da KDIGO. Além disso,

6 documentos foram também consultados como: 3 Guidelines, USRDS Annual Data

Report, dados do Gabinete do Registo da Doença Renal Crónica da Sociedade Portuguesa

de Nefrologia e da Rede Nacional de Especialidade Hospitalar de Referenciação. Os

parâmetros usados na avaliação e, posterior descrição, dos artigos foram: critérios de LRA,

DRC, DRA, recuperação da função renal, bem como duração de seguimento e número da

população estudada.

2

2. Lesão Renal Aguda

2.1 Definição

Em 2012, Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO)1 reforçou a

necessidade de uma única definição de LRA, conjugando, assim, os critérios Risk, Injury,

Failure, Loss, End-stage kidney disease (RIFLE)2, de 2004) e Acute Kidney Injury Network

(AKIN)3, de 2007). (Tabela I e II) KDIGO1 define LRA através dos seguintes critérios

funcionais: aumento da creatinina sérica (Crs) em pelo menos 0,3 mg/dl, dentro de 48

horas, ou aumento de pelo menos 50%, dentro de 7 dias, ou volume urinário inferior a 0,5

ml/Kg/h, em 6 horas. Não apresenta critérios estruturais, estando dividida em 3 estadios.1

(Tabela III) O grupo Acute Disease Quality Initiative (ADQI)4 define LRA persistente, pela

presença de critérios KDIGO de LRA, para além das 48 horas.4 De salientar, que algumas

doenças renais podem ter um curso progressivo, que culmina em DRC, nomeadamente,

glomerulonefrite aguda rapidamente progressiva ou nefropatia diabética não

diagnosticada, sendo incorretamente classificadas como LRA, na ausência de Crs basal.5

2.2 Epidemiologia

A LRA é reconhecida como um problema de saúde pública.6 A sua incidência tem

aumentado dado o maior reconhecimento, envelhecimento populacional, número

crescente de comorbilidades e uso de fármacos nefrotóxicos. A sua epidemiologia é

variável, podendo afetar 7 a 22% dos doentes internados7 e, aproximadamente 50% dos

doentes que se encontram em unidades de cuidados intensivos.4

2.3 DRC como fator de risco para LRA

Múltiplos fatores de risco têm sido estabelecidos8, sendo semelhantes aos

identificados para a DRC, nomeadamente, idade avançada9, diabetes mellitus e

hipertensão.8 Segundo a KDIGO1 as causas da LRA podem ser divididas em fatores de

exposição e suscetibilidade. A DRC, doenças crónicas e idade avançada são exemplos de

fatores de suscetibilidade1, sendo o fator de risco mais importante de LRA, a DRC pré-

existente.9

Em 2011, Pannu N et al. 10 estudaram em 43 008 doentes o risco de desenvolvimento

de LRA (definida por critérios AKIN), em função dos níveis de base da Crs. A incidência e

a severidade da LRA aumentaram consoante o declínio da função renal.10 Desta forma,

3

doentes com DRC podem estar sujeitos a desenvolver decréscimos transitórios na função

renal consistentes com LRA. Alguns mecanismos explicativos são: falência na

autorregulação e efeitos laterais da medicação (por exemplo com: diuréticos, agentes anti

hipertensores, incluindo, inibidores da enzina de conversão da angiotensina (IECAS) ou

antagonistas dos recetores de angiotensina II (ARAII)). Além disso, alterações fisiológicas

relacionadas com a idade, que resultam da senescência renal, incluem, o decréscimo da

taxa de filtração glomerular (TFG) e perda da reserva renal, existindo predisposição, não

só para DRC, como também para episódios de LRA.9

2.4 Proteinúria como fator de risco para LRA

A Proteinúria, nomeadamente a albuminúria, pode ser considerada um marcador de

disfunção endotelial, permitindo identificar subgrupos de doentes com aumento de lesão

microvascular.11 Em 2011, Huang TM et al.12 avaliaram a associação entre LRA com TFG

e proteinúria em 1052 doentes, após cirurgia cardíaca. O risco de LRA aumentou

consoante a severidade da proteinúria (detetada pela tira teste ou razão

albumina/creatinina). O risco de LRA em doentes com TFG preservada e proteinúria

moderada foi semelhante ao de doentes com DRC estadio 3 sem proteinúria. Da mesma

forma, doentes com DRC estadio 3 e proteinúria moderada apresentaram risco comparável

ao de doentes com DRC estadio 4 sem proteinúria.12

3. Doença Renal Crónica

3.1 Definição

KDIGO13 define DRC através de critérios estruturais e funcionais, com duração superior

a 3 meses. Marcadores de lesão renal incluem um ou mais dos seguintes aspetos:

albuminúria, história de transplante renal, alterações histológicas, imagiológicas e do

sedimento urinário. Em termos de parâmetros de função renal, DRC enquadra-se numa

TFG inferior a 60 ml/min por 1.73m2, correspondendo ao intervalo de categoria de TFG

entre estadio 3a e estadio 5.13 (Tabela IV)

Limitações desta definição passam pela escolha arbitrária do período de 3 meses.

Quando aplicado, na associação entre LRA e DRC, implicaria que todos os casos de DRC

seriam, potencialmente, classificados como LRA, no início. Além disso, alguns casos de

LRA (como por exemplo, Nefrite intersticial Aguda (NIA)), apresentam completa resolução,

mas lenta. Assim, estas patologias podem ser, incorretamente, classificadas como DRC,

uma vez que persistem por mais de 90 dias.5

4

3.2 Epidemiologia

Entre 2011 e 2014 a prevalência da DRC, nos Estados Unidos da América (EUA), na

população com mais de 20 anos foi de 14,8% (estadio 1 a 2) e 7,2% (estadio 3 a 5), sendo

o estadio 3 o mais prevalente.14 Entre 2008 a 2009 foi conduzido um estudo populacional

por Vinhas J et al.15, em Portugal, com 5167 doentes entre os 20 e 79 anos de idade, tendo-

se obtido uma prevalência de DRC estadio 3 de 5,6%, estadio 4 de 0,3% e estadio 5 de

0,18%. A incidência da DRC estadio 5 pode ser determinada pela prevalência da DRC e

acesso a terapêutica de substituição renal (TSR).15 Portugal apresenta uma das taxas mais

elevadas de incidência (218,9 per million population (pmp) em 201316; 230,08 pmp em

201717) e prevalência de TSR (1749 ppm, em 201316; 1965,07 ppm em 201717), tanto a

nível europeu16, como a nível mundial.14

3.3 LRA como fator de risco para DRC

O prévio dogma de que o prognóstico é excelente para doentes que recuperam de LRA

pode não ser universalmente correto, dado que a DRC está a emergir como uma

consequência da LRA11,correlacionando-se, a longo prazo, com complicações

cardiovasculares e mortalidade.8 Em 2012, num estudo de Bucaloiu I et al.18 de 30 207

sobreviventes que tiveram alta ao fim de 90 dias, 1610 apresentaram LRA (definida por

aumento de 50% da Crs basal) tendo sido emparelhados com um grupo de controlo de

3652 doentes sem LRA. O seguimento foi de 3,3 e 3,4 anos, para o grupo com LRA prévia

e grupo de controlo, respetivamente, tendo-se obtido os seguintes resultados: DRC foi

desenvolvida em 52,24% dos doentes com LRA, comparativamente, 33,35% obtidos, no

grupo controlo. A taxa de incidência anual de desenvolvimento de DRC foi de 28,1 e 13,1

por 1000 doentes no grupo com LRA prévia e no grupo de controlo, respetivamente.18

3.3.1 Evidência na idade adulta

Evidências semelhantes, mas com variações na estatística obtida, foram

reportadas, em 2009, numa investigação de Amdur R et al.19 que permitiu seguir 113 272

doentes com pelo menos 20 anos de idade. 44 377 tinham DRC estabelecida e 63 491

foram hospitalizados por Enfarte Agudo do Miocárdio ou pneumonia (grupo de controlo).

Do grupo restante, 5058 foram diagnosticados com Insuficiência Renal Aguda (IRA) por

etiologia não relacionada com Necrose Tubular Aguda (NTA) e 346 com NTA. LRA foi

definida através da International Classification of Diseases,Ninth Revision, Clinical

5

Modification (ICD-9-CM), englobando os códigos de IRA e NTA. O seguimento durou,

aproximadamente 6 anos, sendo que, a progressão para DRC estadio 4 foi superior no

grupo com IRA e NTA, relativamente, ao grupo de controlo: 20% em doentes com NTA e

13,2% em doentes com IRA. A progressão para DRC no grupo com NTA, ocorreu até 20

meses após o episódio, comparativamente aos restantes, em que, ao fim de 5 anos, ainda,

se evidenciava progressão. Sublinha-se, assim, a presença de consequências relevantes

perante o diagnóstico de LRA, nomeadamente, de NTA.19

Focando na população de doentes com TSR, em 2009, Lo L et al.20 avaliaram 562

076 sem LRA e 703 com LRA e TSR (definida por ICD-9-CM). 30 dias após o episódio,

evidenciou-se que apenas 49% do grupo com LRA sobreviveram, não apresentando DRC

estadio 5, contrastando, com os 99% sobreviventes do grupo sem LRA. Episódio de LRA

com necessidade de TSR, associou-se a um risco superior em 28 vezes, na progressão

para DRC estadio 4 ou estadio 5.20

3.3.2 Evidência na idade pediátrica

Evidências semelhantes foram obtidas na idade pediátrica.(21,22) Em 2012,

Mammen C et al.21 avaliaram 126 crianças que sobreviveram a LRA (segundo critérios

AKIN), com um seguimento durante 1, 2 ou 3 anos após o episódio. A proporção de doentes

com DRC após LRA foi de 10,3% existindo correlação com o estadio de LRA prévia (4,5%

em LRA estadio 1, 10,6% em estadio 2 e 17,1% em estadio 3).21 A idade pediátrica é uma

população alvo de estudo importante na causalidade entre LRA e DRC, uma vez que não

possuem as comorbilidades presentes nos adultos. Crianças que sobrevivem a episódio

de LRA apresentam, a longo prazo, DRC, como evidenciado pelo desenvolvimento de

hipertensão, microalbuminúria e TFG reduzida22, sublinhando-se, assim, a necessidade de

detetar doença subclínica, de modo a impedir a sua progressão.23

3.3.3 Influência das características de um episódio LRA na progressão para

DRC

Em 2016, Heung M et al.24 consideraram 104 764 doentes com LRA (definida por

critérios KDIGO), com posterior seguimento, durante 1 ano. A severidade da LRA

correlaciona-se com a probabilidade de desenvolver DRC estadio 3 ou superior: 30,7% em

doentes com LRA estadio 1, 26,7% em doentes com LRA estadio 2 e 47,6% em doentes

com LRA estadio 3,verificando-se que o risco está presente mesmo em formas ligeiras de

LRA, como estadio 1. O risco de desenvolvimento de DRC estadio 3 ou superior aumentou,

6

progressivamente, com a duração da LRA, antes da recuperação, sendo que, mesmo uma

recuperação rápida (inferior ou igual a 2 dias) é um fator de risco.24 Em 2011, Thakar C et

al.25 avaliaram 3679 doentes diabéticos que procuraram atendimento médico (incluídos os

hospitalizados ou não, com ou sem LRA (definida por critérios AKIN), entre 1999 e 2004,

com posterior seguimento até 2008. Após a alta hospitalar por um episódio de LRA, 30%

tiveram pelo menos 2 novos episódios de LRA, evidenciando-se o efeito de múltiplos

episódios: a cada episódio de LRA, duplicava o risco de DRC estadio 4.25

3.4 LRA como fator de progressão da DRC

A progressão da DRC pode-se associar com o nível da TFG, albuminúria, idade, sexo,

raça, elevação da pressão arterial, hiperglicemia, dislipidemia, tabagismo, obesidade,

patologia cardiovascular e exposição a agentes nefrotóxicos.13 LRA sobreposta com DRC

promove o desenvolvimento de DRC estadio 5.26

Em 2009, Amdur R et al.19 verificaram que 24,7% dos indivíduos com DRC prévia

(definindo por DRC estadio 3, 4, 5 ou com necessidade de diálise a longo prazo), após

episódio de LRA, progrediram para DRC estadio 4.19 Evidências das consequências da

LRA em doentes com DRC foram também reportadas por Wu VC et al.26 em 2011.

Constatou-se que doentes com DRC, mesmo com recuperação renal (definida por Crs à

alta hospitalar, inferior a 50% em relação ao valor basal) apresentaram um risco superior

de necessidade de diálise, a longo prazo, comparado com doentes sem DRC prévia e sem

recuperação renal (Crs superior a 50%, em relação ao valor basal, ou necessidade de

diálise à alta hospitalar).26

3.5 Mortalidade da LRA na DRC

LRA e DRC estão associados ao aumento de mortalidade. Contudo, alguns estudos

têm revelado um decréscimo na mortalidade quando a LRA ocorre em doentes com DRC

prévia.11 Em 2006, Waikar S et al.27 analisaram 6 162 149 altas hospitalares durante 15

anos (dividido entre 3 períodos, com 5 anos de seguimento). A mortalidade da população

com IRA (identificada através de códigos ICD-9-CM) e DRC prévia foi inferior,

comparativamente, aos doentes sem DRC. A mesma correlação foi obtida na população

de doentes que tiveram IRA e necessidade de diálise.27 Evidências semelhantes foram

reportadas num estudo de Prescott G et al.(2007),28 com foco em 809 doentes que

receberam TSR por IRA. A população alvo de estudo foi posteriormente dividia em 2

7

grupos: Grupo A (inclusão de doentes, com por exemplo, ausência de valores basais de

Crs ou inferiores a 150 µmol/l) e Grupo B (presença de rins pequenos e/ou DRC prévia). A

mortalidade aos 10 e 90 dias foi superior no grupo A: 30% e 50%, respetivamente, sendo

no grupo B de 20% e 43%.28

No entanto, a literatura não é concordante.11 Em 2011, num estudo de Wu CV et al.26,

9425 doentes admitidos na Unidade de Cuidados Intensivos, por cirurgia major, foram

incluídos na análise (sobreviventes a episódio de LRA, segundo os critérios RIFLE): 351

apresentavam DRC prévia e 8882 não. Após seguimento durante 4,76 anos a incidência

anual de mortalidade foi de 5,9; 14,0 e 16,7 por cada 100 pessoas, em doentes sem DRC,

com DRC e DRC estadio 5. As complicações pós-cirúrgicas podem ter induzido uma

cascata inflamatória, influenciando a sobrevida após a alta hospitalar.26

Embora não exista nenhum mecanismo explicativo para este potencial benefício, em

termos de mortalidade, alguns fatores devem ser considerados.11 Kinsey G et al.29, em

2010, recorrendo a modelos animais, sujeitos a uma pré-condição (isquemia renal

bilateral), demonstraram uma atenuação, nestes modelos, do número de neutrófilos e

macrófagos.29 Evidências semelhantes foram reportadas por Venugopal V et al.30 em

humanos, com 78 doentes, sujeitos a cirurgia de bypass arterial coronário (divididos em 2

grupos: com e sem pré-condição isquémica). Doentes sujeitos a pré-condição isquémica

apresentaram um decréscimo da incidência de LRA estadio 1 (segundo critérios AKIN),

comparativamente ao grupo de controlo (3% ao invés de 25%, respetivamente). Porém,

LRA estadio 3 não foi evidenciada em nenhum dos grupos, sendo que LRA estadio 2 foi

observada em 8% dos doentes englobados no protocolo, não se verificando casos no grupo

controlo.30 Outro ponto considerar é que a identificação de LRA em doentes com DRC

poderá modificar os cuidados prestados a estes doentes, traduzindo-se na procura da

consulta por especialidade mais cedo, como sugerido, em 2009, num estudo de Khosla N

et al.31 com 618 doentes. Indivíduos com episódio de LRA e DRC prévia tinham menor

severidade de lesão (manifestado por um baixo score de Sequential Organ Failure

Assessment (SOFA)), apresentando uma consulta de nefrologia mais cedo,

nomeadamente, de 2 dias, comparativamente a doentes sem patologia renal prévia.31

4. Processo Patológico contínuo

LRA e DRC partilham fatores de risco e modificadores de doença.9 (Figura 1) Após,

LRA pode-se desenvolver DRC(9,32) e DRC é um importante fator de risco para LRA. Estas

8

doenças estão interligadas9, sendo pensadas como síndromes associados, formando um

contínuo de doença4. Propõe-se a seguinte consideração: a redução da TFG como

entidade clínica, com diferente iniciação e expressão ao longo do tempo, incluído 3 fases

da doença (iniciação, reparação e consequências a longo prazo). Diferenças na severidade

da lesão, balanço na reparação adaptativa e mal adaptativa determinam as consequências

clínicas.33

4.1 Relação de causalidade entre LRA e DRC

Em 1965, os critérios de Hill34 (Tabela V) permitiram examinar a existência de

causalidade entre uma exposição e uma doença.34 Aplicando os critérios à definição de

LRA como causa de DRC, evidencia-se a presença de vieses (doentes com mais

comorbilidades têm mais consultas de seguimento), classificação incorreta (dificuldade em

discriminar LRA como episódio isolado ou progressão da doença renal) e variáveis

confundidoras (ambas as patologias têm fatores de risco e antecedentes clínicos

semelhantes (especificidade)).35

Embora a associação entre LRA e DRC apresente plausibilidade biológica, pressupõe

que os alvos de estudo sejam indivíduos, sem patologias prévias e, que após lesão renal,

sejam seguidos, a longo prazo, para avaliar evidência de DRC. No entanto, existem casos

de DRC sem prévio episódio de LRA. Na verdade, se a LRA promove perda da função

renal, condicionando DRC, modelos similares devem ser observados e reprodutíveis numa

variedade de estudos (consistência).35 Contudo, em 2009, num estudo de Ibrahim H et al.36

com 3698 dadores de rins sem hipertensão ou diabetes mellitus com TFG superior a 80

ml/min/1.73m2, concluiu-se que a maioria dos indivíduos teriam, a longo prazo, TFG de

pelo menos 60 ml/min/ 1.73m2, com ausência de albuminúria. Além disso, dadores de rins

não tiveram, a longo prazo, uma incidência de DRC estadio 5, superior à população em

geral.36

Atendendo à história natural da doença (coerência), questiona-se se um risco menor

de DRC deverá ocorrer perante a prevenção da LRA, sendo que episódio de LRA acontece

semanas, meses ou mesmo anos antes da DRC (temporalidade). Contudo, a agudização

de um evento crónico não segue essa premissa.35 A severidade da LRA e a sua frequência

podem estar associados a maior probabilidade de DRC.(24,25,35) (força da associação e

gradiente biológico), sendo que, tal como o enfarte agudo do miocárdio pode condicionar

insuficiência cardíaca, poderá a LRA preceder a DRC (analogia). Por fim, em modelos

9

animais a lesão permanente após LRA foi demonstrada (experimentação). Contudo, em

alguns animais, particularmente, mais novos, a recuperação completa foi possível, sem

disfunção renal ou fibrose.35 No parecer de Hsu37estes critérios poderão ser irrealistas e

incompatíveis com a prática clínica, dado que seriam necessários estudos prospetivos e

randomizados de acordo com as várias causas de LRA, com posterior seguimento,

levantando questões éticas.37

4.2 Fisiopatologia da evolução da LRA para DRC

4.2.1 Balanço da reparação adaptativa e maladapativa após episódio de LRA

A LRA é considerada uma condição pró-inflamatória7 e sinais que são protetores

nos estadios iniciais podem promover ou impedir a recuperação da lesão, em estadios

tardios. Uma variedade de processos patológicos são iniciados, sendo que a alteração da

arquitetura tecidual promove interações entre as estruturas e o microambiente. A

combinação de insuficiência vascular, hipertensão glomerular e fibrose intersticial promove

a perpetuação e progressão de lesão. Outros fatores iniciados são: desregulação dos

mecanismos de apoptose, sinalização pró-inflamatória sustentada, progressão de perda

dos capilares, perturbação de mecanismos normais do ciclo celular9, fenómenos genéticos

e epigenéticos. Desta forma, o curso da lesão renal com reparo do dano ou a progressiva

perda de massa e função renal8 depende do balanço dos mecanismos de reparação

adaptativa ou maladaptativa.9

Após um episódio de LRA poderá ocorrer uma reparação adaptativa caracterizada

por uma: proliferação tubular, uma histologia com túbulos preservados, glomérulos e

microvasculatura sem fibrose e mudança de fenótipo de macrófagos de M1 (pró-

inflamatório) para M2 (pró-reparação), culminando numa resolução. Por outro lado, poderá

ocorrer uma reparação maladaptativa isto é: dissociação dos capilares, persistência dos

macrófagos com fenótipo M1 e ciclo celular interrompido em G2/M. Por fim, com a

continuidade de lesão renal os pericitos adotam um fenótipo de fibroblastos, com sucessiva

deposição de colagénio intersticial. Além disso, perda tubular, secreção de fatores pró-

fibróticos, persistência de macrófagos e insuficiência vascular também estão presentes

numa lesão renal progressiva.38

10

4.2.1.1 Papel da epigenética na transição de LRA para DRC

Epigenética relaciona-se com alterações da expressão genética ou fenótipo celulares39,

sem alteração da sequência de DNA (deoxyribonucleic acid)8, sendo as regulações mais

comuns: metilação de DNA, acetilação/desacetilação e expressão de sequências de RNA

(ribonucleic acid) não codificantes.39 Bechtel W et al.40, em 2010, recorrendo a modelos

animais, pretenderam demonstrar que uma modificação epigenética, em particular, a

hipermetilação, se associa a fibrinogénese renal. A ativação sustentada de fibroblastos,

está associada a hipermetilação do promotor RASAL1 (inibidor de RAS que apresenta

citocinas de guanina semelhantes a humanos e ratos). A ausência da metilação de

RASAL1 correlaciona-se com reparação fisiológica, enfatizando-se a hiperatividade de

RAS como alvo terapêutico, sendo necessário mais estudos que explorem a capacidade

anti fibrótica dos inibidores de RAS.40 Por outro lado, miRNAs (microRNAs) são pequenas

moléculas de RNA não codificante que atuam como reguladores, dado a sua ligação à

região 3´ do mRNA.41 Em 2012, Ichii O et al.41 recorrendo a modelos animais,

demonstraram uma expressão elevada de miR-146 a/b (principalmente de miR-146a), em

modelos com DRC, verificando-se a existência de lesão (glomerular e intersticial), fibrose

intersticial e atrofia tubular.41

4.2.1.2 Papel da hipóxia na transição da LRA para DRC

A hipóxia, para além de ser um mediador de LRA, quando persistente, tem um papel na

patogénese da progressão da LRA para DRC42, estando a hipóxia tubulointesticial

presente na DRC estadio 5.43 Após uma adaptação maladpatativa, mecanismos de

progressão renal, como perda da microvasculatura, proliferação dos fibroblastos e

deposição do colagénio, promovem a hipóxia.38 Hypoxia-inducible factor (HIF) é um fator

de transcrição que regula a resposta adaptativa contra a hipóxia, através do aumento de

angiogénese, proliferação celular, glicólise, eritropoiese e redução da apoptose, inflamação

e fibrose.43 Apresenta 2 subunidades, α e β, tendo HIF-α 2 isoformas: HIF-1α (expressa

nas células epiteliais tubulares) e HIF-2 α (expressa nas células endoteliais e

intersticiais).42 Por um lado, em 2018, um estudo de Wang H et al.44 com modelos animais,

demonstrou o efeito protetor do HIF-1α, aquando episódio de LRA. Animais que receberam

terapêutica com HIF-1α apresentaram inibição da apoptose celular, proteção glomerular e

sobrevivência global aumentada.44 Por outro lado, em 2009, um estudo de Kolyada A et

al.45 com 241 doentes com LRA revelou uma associação entre polimorfismos genéticos

11

HIF-1α (nomeadamente com o genótipo TT) com uma maior necessidade de diálise e

falência multiorgânica.45 Desta forma, mais estudos devem ser realizados antes que HIF

possa ser usado como alvo terapêutico em doentes com LRA.42

5. Doença Renal Aguda

5.1 Definição

KDIGO1 definiu DRA através de critérios funcionais (LRA ou TFG inferior a 60

ml/min/1,73 m2 ,por um período inferior a 3 meses, ou redução da TFG de pelo menos 35%

ou aumento da concentração da Crs superior a 50 %, por um período inferior a 3 meses) e

estruturais (lesão renal por menos de 3 meses).Desta forma, KDIGO reconhece LRA como

um subconjunto de DRA e tanto a LRA, como a DRA sem LRA, podem ser sobrepostas

com DRC.1

Recentemente, o grupo ADQI4 define DRA como um espetro de lesão aguda e

subaguda e/ou perda de função renal, durante 7 a 90 dias. A DRA pode evoluir com

recuperação renal, recorrência da LRA, progressão e/ou morte. Embora, DRA que persista

para além de 90 dias seja considerada DRC, não é considerada um estadio pré-DRC, mas

sim pós-LRA, formando um contínuo de doença, englobando os doentes cuja a lesão

fisiopatológica renal está em curso. Além disso, LRA persistente frequentemente evolui

para DRA.4

5.2 Recomendação de classificação em estadios

O grupo ADQI4 propôs 4 estadios englobando, no estadio 0 (subgrupos A, B e C),

doentes que sobreviveram a episódio de LRA, que não apresentem critérios de LRA ou

DRA estadio 1, isto é, representa uma recuperação parcial de LRA. Os 3 estadios de LRA

(segundo critérios KDIGO) correspondem aos estadios 1, 2 e 3 de DRA, respetivamente.4

(Tabela VI)

5.3 Recuperação da função renal

Reversibilidade, após um quadro de LRA, dentro de 48 a 72 horas está associada a

melhor prognóstico do que LRA de longa duração.4 Desta forma, ADQI4 propôs a duração

de 48 horas para definir rápida reversão após um episódio de LRA. Embora, não exista

nenhuma definição de recuperação renal uniforme de LRA e DRA4, a definição mais

comum é a ausência de critérios de LRA46, isto é, um retorno do nível de Crs para o valor

12

basal ou próximo8, sendo uma recuperação parcial caracterizada pelo decréscimo no

estadio de LRA.46 A definição ideal de recuperação renal deve: quantificar a perda de

função renal pré-existente, bem como a reserva e função renal, no momento.4

Reserva da função renal caracteriza-se pela capacidade do rim, em aumentar a

TFG em resposta a um estímulo fisiológico ou patológico. A sua quantificação pode ser

essencial para detetar a suscetibilidade inicial a lesão aguda ou crónica.46 Contudo,

estimativas da TFG refletem alterações funcionais tardias e, não, alterações arquitetónicas

iniciais, que permitem identificar lesão renal.23 Por fim, estes conceitos permitiram reduzir

os casos de recuperação completa, aumentando, assim, casos de doentes com

recuperação parcial. 46

5.3.1 Padrões de recuperação renal

Em 2017, Kellum J et al.47 avaliaram 16 968 doentes com LRA (segundo critérios

KDIGO estadio 2 e 3), tendo sido identificado 5 padrões de recuperação renal. A

reversibilidade de um episódio de LRA foi definida pela ausência dos critérios de LRA e

recuperação foi definida pela reversão na alta hospitalar. Doentes que recuperaram,

aquando alta hospitalar, podem ser divididos em: reversão sustentada inicial (dentro de 7

dias) (26,6%); reversão sustentada tardia (após 7 dias) (9,7%) e reversão inicial com

recidiva de LRA (22,5%). Por outro lado, doentes que não recuperaram, foram divididos

em doentes que: reverteram inicialmente o quadro clinico, com recidivas de LRA (14,7%)

ou em doentes que nunca apresentaram reversão (26,5%). 41,2% dos doentes não

recuperaram, à alta hospitalar, apresentando uma sobrevida inferior,47sublinhando-se,

assim, a importância da monitorização dos indivíduos após LRA.46

5.4 Etiologias da DRA

Em 2014, um estudo Chinês48, com 303 doentes, com diagnóstico histológico de NTA,

NIA, glomerulonefrite crescêntica celular (GCC), microangiopatia trombótica aguda (MAT)

e lesões complexas (combinação de pelo menos 2 tipos histológicos anteriormente

mencionados), constatou que 90,1% se enquadravam nos critérios KDIGO de DRA dos

quais 65,3% foram classificados como tendo LRA. Evidenciou-se uma diferente distribuição

das etiologias, nomeadamente, a definição de LRA enquadrou-se em todos os doentes

com lesões complexas e em 79,2 % dos doentes com NTA, 57,0% com NIA; 64,0% com

13

GNCC; 50,0% com MAT. Os critérios de DRA sem LRA caracterizaram 15,6% de NTA,

36,4% NIA, 25, 7% GNCC e 18,2% MAT.48

Por um lado, DRA pode ocorrer sem evidência clínica, representando um período após

LRA, com implicações no diagnóstico e necessidades de guias clínicas, de modo a orientar

o seguimento e cuidados destes doentes.4 Por outro lado, não se sabe se a DRA

representa uma entidade patofisiológica, diagnóstica, terapêutica ou prognóstica,49 sendo

necessário estudar as lacunas de informação antes que esta terminologia seja aplicada na

prática clínica.4 Vários síndromes clínicos, incluindo glomerulonefrite rapidamente

progressiva, doença ateroembólica, obstrução do trato urinário, partilham características

da DRA.49

6. Medicina Preventiva

A transição de cuidados corresponde a uma oportunidade para reduzir o impacto da

LRA a longo prazo,22 sendo o período da DRA crucial para alterar a história natural da

doença renal.4 Atuar ao nível dos modificadores de doença (severidade da LRA, número

de episódios, duração da LRA e proteinúria) e fatores de risco (idade, raça, fatores

genéticos, hipertensão, diabetes mellitus e síndrome metabólico) pode permitir intervir nos

resultados, sejam eles eventos cardiovasculares, progressão da DRC, diminuição da

qualidade de vida ou morte.4 (Figura 1) Em Portugal, há necessidade de aumentar a

prevenção e articulação com as Unidades de Saúde Familiares (USFs), dado que a

prevenção primária, em articulação com a prevenção secundária, são os pilares de uma

intervenção eficaz, com gestão adequada e equilibrada desses recursos. 50

6.1 Biomarcadores renais

6.1.1 Creatinina sérica

Doentes com LRA podem não apresentar registo de Crs basal.1 Nessa situação,

KDIGO1 recomenda que uma estimativa deva ser determinada através da Modification of

Diet in Renal Disease (MDRD), assumindo, a TFG basal de 75 mL/min por 1.73 m2.1

Recorrendo a esta abordagem doentes, previamente diagnosticados com LRA, poderão

apresentar DRC.5

Em contexto agudo, Crs necessita de 2 a 3 dias para aumentar o seu valor, estando

dependente de taxas de produção e libertação do músculo esquelético.51 Limitações da

14

Crs passam pelo seu aumento mais tardio, em relação a novos biomarcadores.52

Atualmente, a normalização após um episódio de LRA pode tornar-se evidente com o

recurso a Crs. 7 Apesar dos seus valores elevados serem úteis na deteção de alterações

da filtração glomerular, a sua correlação com a progressão da LRA é baixa.53

Em 2017, Ravn B et al.54 compararam medições de Crs e Cistatina C, de 3077

internados na Unidade de Cuidados Intensivos. Analisando as TFGs (aquando alta

hospitalar e um ano após o seguimento) de 743 doentes (sem LRA) concluiu-se que Crs

sobrestimou TFG em todas as categorias de DRC, ao invés da Cistatina C que não

apresentou diferença ,estaticamente significativa, entre a categoria de TFG de 30 a 60

mL/min por 1.73 m2. Por último, com base em medições, aquando alta hospitalar, Cistatina

C identificou 628 doentes a mais, com TFG inferior a 60 mL/min por 1.73 m2

,comparativamente, à Crs sugerindo-se, assim, a implicação da Cistatina C para o

seguimento de doentes de elevado risco para DRC.54

6.1.2 Papel dos novos biomarcadores na progressão da LRA para DRC

Os biomarcadores renais são responsáveis por detetar lesão renal intrínseca ou

inflamação na LRA, sendo a sua possível aplicação na progressão de LRA, um objetivo

futuro,53 bem como num diagnóstico de LRA mais cedo.52 Apesar do uso de novos

biomarcadores estar limitado a investigação científica, Cistatina C e Neutrophil gelatinase-

associated lipocalin (NGAL) tem sido disponível, em alguns hospitais.52 Em 2016,

abordando o papel de biomarcadores como Cistatina C e NGAL, um estudo de Beitland S

et al.55 com 195 doentes evidenciou que concentrações urinárias de Cistatina C e NGAL

foram superiores nos doentes com LRA (definida por critérios KDIGO) à admissão e, ao

fim de 3 dias, bem como nos doentes que não sobreviveram, ao fim de 6 meses.55 Focando

no seu papel de avaliação da progressão de lesão, Greenberg J et al.53 ,em 2018,

avaliaram 408 crianças sujeitas a cirurgia de bypass cardiopulmonar. 43% apresentaram

LRA (definida por critérios AKIN), sendo que 16% tinham critérios de progressão (definida

pelo agravamento do estadio de LRA ou persistência de LRA estadio 3). Níveis plasmáticos

de Interleucina (IL), IL-8 apresentaram a maior associação com progressão a LRA,

verificando-se, também, correlação com NGAL, IL-1, IL-2, IL-6, IL-10, IL- 13 e IL-18.53

15

6.2 Período máximo de primeira avaliação médica após resolução de LRA

6.2.1 Avaliação médica 3 meses após LRA

Segundo KDIGO1 a avaliação médica deve ocorrer 3 meses após a resolução da LRA,

novo episódio de LRA ou agravamento de DRC pré-existente.1 Se o doente apresentar

DRC, a frequência da sua monitorização depende da TFG e níveis de albuminúria. (Tabela

VII) Devemos orientar para nefrologia nas seguintes circunstâncias: LRA ou queda abrupta

da TFG; TFG inferior a 30 ml/min/1,73 m2; achado consistente de albuminúria significativa;

progressão de DRC; alterações do sedimento urinário; hipertensão refratária com 4 ou mais

agentes anti hipertensores; alterações persistentes dos níveis de potássio; nefrolitíase

recorrente e doença hereditária renal.13 (Tabela VIII)

Se os doentes não tiverem DRC considerar estes, como tendo risco aumentado de

DRC1, devendo ser orientados para programa de seguimento, para redução de risco com

obtenção, periodicamente, de valores de marcadores de lesão renal e estimação da TFG.56

A intensidade da vigilância deve ser proporcional ao risco4 com um período de seguimento

calculado individualmente, exigindo uma vigilância apertada nos doentes com LRA severa

(por exemplo, com necessidade de TSR)49 , doentes com DRA severa ou persistente e

comorbilidades que aumentem o risco de DRC (por exemplo: diabetes mellitus e/ou

proteinúria).4

A avaliação da função renal após LRA deve incluir medições de Crs, TFG e proteinúria,

de modo a avaliar as consequências de LRA e necessidade de consulta de especialidade.46

No que concerne a obtenção de medição de Crs, em 2014, Matheny M et al.57 mediram

este marcador em 10 995 doentes, após alta hospitalar por LRA (baseado na definição de

AKIN estadio 1). Após 3 e 12 meses, a Crs foi medida em 68,7% e 85,3% dos doentes,

respetivamente. Apenas 4,9% dos doentes não apresentaram medição de Crs, ao fim de

um ano de vigilância.57

6.2.2 Papel da recuperação da função renal na primeira avaliação médica

Atendendo que LRA seguida de DRC é tipicamente um evento tardio, o custo-

benefício da avaliação de todos os doentes com LRA, aos 3 meses, ainda não está

estabelecido.49 Em 2015, uma investigação de Kirwan C et al.58, descrita posteriormente

nesta dissertação, evidenciou TFG basais superiores e valores de Crs basais inferiores em

16

relação aos obtidas, à alta hospitalar, e 3 a 6 meses após LRA, não se tendo verificado

diferença significativa entre TFG e Crs aquando alta hospitalar e 3 a 6 meses após.58 Em

2016, Ponce D et al.59 analisou 509 doentes com LRA estadio 3 (critérios AKIN) e

seguimento a cada 3 meses, durante o primeiro ano, a cada 6 meses, no segundo ano e,

posteriormente, anualmente. Recuperação da função renal foi definida pelo quociente entre

TFG aquando alta hospitalar e TFG de referência. A TFG aumentou 6 meses após alta,

tornando-se similar à TFG basal, permanecendo estável, no primeiro ano.59 Resultados,

sugerem, no entanto, que a recuperação renal não deva ser avaliada, antes dos 6 meses,

após episódio de LRA.5

6.3 Cuidados de Saúde Primários e Secundários

6.3.1 Cuidados de Saúde prestados de acordo com as diferentes especialidades

médicas

Num estudo de Kirwan C et al.58 de um total de 219 doentes com LRA que realizaram

TSR, 182 foram propostos para seguimento após alta hospitalar. Da população de doentes

que compareceu (142), apenas 55% tiveram uma medição dos valores da Crs na primeira

consulta (tempo mediano de 6 semanas). Contudo, 57% da população de estudo inicial

(124/219) tiveram medição de Crs, entre 3 a 6 meses, realizada noutro hospital ou em

cuidados de saúde primários. De realçar, que 12% da população convidada para

seguimento, foi referenciada, posteriormente, para nefrologia, tendo a medição de Crs sido

obtida em todos os doentes.58

Com o intuito de avaliar o impacto na sobrevivência nos cuidados prestados a doentes

com LRA por diferentes especialidades, Harel Z et al. (2013)60 analisaram 3877 doentes

com LRA que necessitaram de diálise. Não existiram diferenças significativas, no que

concerne, a sobrevivência, ao fim de 2 anos, entre os doentes que foram observados por

um clínico geral, em comparação com os doentes que tiveram consultas de Cardiologia

e/ou Medicina Interna. Contudo, o benefício na sobrevivência foi superior se seguimento

por Nefrologia, após hospitalização.60

6.3.1.1 Seguimento por Nefrologia após LRA

O seguimento por Nefrologia está associado a maior qualidade de vida, incluindo,

melhores recursos de saúde e maior consistência no acompanhamento. A consulta de

17

nefrologia, até 90 dias após alta hospitalar, por episódio de LRA, com necessidade de

diálise, foi associada a um risco de mortalidade 24% menor, ao fim de 2 anos. Por um lado,

o benefício de seguimento inicial por nefrologia (maior sobrevivência) foi superior nos

doentes sem consulta de nefrologia prévia à hospitalização, ou seja, é mais pronunciado

em doentes com doença renal de novo, dado a gestão inicial da patologia e suas

complicações. Por outro lado, doentes que já eram seguidos por nefrologia podem

apresentar doença renal com complicações e múltiplas patologias, sendo o benefício de

consulta por especialidade atenuado. Seguimento por nefrologia, foi associado a uma

maior probabilidade de realização de diálise, sugerindo-se que indivíduos com doença

renal avançada são, preferencialmente, referenciados para esta especialidade.60

Recomenda-se um acesso universal a cuidados nefrológicos, sendo que qualquer

doente com indicação para avaliação e tratamento nefrológico pode aceder, habitualmente,

com facilidade a estes cuidados. Em Portugal, em 2015 existiam 11,5 nefrologistas por

cada 1000 casos de DRC estadio 5, sendo desta forma fulcral, contribuir para o

rejuvenescimento e o redimensionamento das equipas dos Serviços de Nefrologia do

Sistema Nacional de Saúde (SNS).50

6.3.2 Proposta de algoritmo de seguimento após hospitalização por LRA

Kirwan et al.58 e Göcze I et al.46 propuseram algoritmos de seguimento de doentes

com LRA estadio 2 e 3. Após LRA estadio 2 ou 3, avaliação médica deve incluir medições

de Crs, TFG e proteinúria46e, de acordo, com o compromisso renal,58(Crs superior a

2mg/dl58 ou TFG inferior a 60 ml/min/1,73 m2 46) avaliar entre 2 a 4 semanas ou 3 meses,

após a alta hospitalar.58 Perante função renal estável e um seguimento de 6 a 12 meses,

1 de 3 cenários podem ser possíveis: referenciação para Cuidados de Saúde Primários se

DRC estadio 1 a 3; seguimento por especialidade de Nefrologia se DRC 4-5; ausência de

DRC, sendo estes doentes considerados uma população de risco.46 (Figura 2) Desta forma,

melhorar o conhecimento dos clínicos sobre as consequências adversas da LRA é fulcral,

uma vez que a maioria desses doentes não irão ser avaliados por nefrologistas,24 evitando-

se o subdiagnóstico e subtratamento.60

6.3.3 Proposta de modelo de equação de risco de progressão para DRC

Aquando alta hospitalar poderá ser útil identificar, através de programas informáticos,

quais os sobreviventes que após episódio de LRA apresentem elevado risco de progressão

para DRC.61 Em 2011, Chawla L et al. 61 desenvolveram 3 modelos de equação de risco,

18

com o foco na população de LRA e sucessiva progressão para DRC estadio 4. A primeira

fase do estudo incluiu 5351 Veteranos com LRA sem DRC prévia, num período de 5 anos.

De seguida, foi incluído um grupo controlo constituído por 11 589 doentes com diagnóstico

de enfarte agudo do miocárdio ou pneumonia.61

Na hipótese de modelo primário de equação foram usadas diversas variáveis (como

por exemplo: idade, raça, tempo em risco (período desde o diagnóstico até ao fim de

seguimento ou morte) e diabetes mellitus), tendo-se evidenciado, na população de doentes

com LRA, uma curva de Receiver Operating Characteristic (ROC) de 0.82. De modo a

simplificar o modelo primário, foi desenvolvido um modelo secundário com as seguintes

variáveis: idade, tempo em risco, média da Crs e albumina séricas à admissão,

demonstrando-se uma curva de ROC de 0.81, nos doentes com LRA. Doentes com

pontuação superior, ao ponto de coorte, -2.2, apresentaram um risco de DRC estadio 4 de

3,76. Um modelo alternativo foi desenvolvido incorporando os critérios RIFLE, necessidade

de diálise, TFG basal e albumina, apresentando uma curva de ROC menor (0.77).61

Embora, todos os modelos apresentassem boa reprodutibilidade com curva ROC

de pelo menos 0,81, na população de controlo, limitações do estudo passam pelo o foco,

na população de Veteranos, não sendo representativo de outras populações, como sexo

feminino, bem como de doentes com DRC prévia (dado a sua exclusão no estudo). É

necessário posterior validação com recalibração, para outras populações, antes da sua

aplicação na estratificação de sobreviventes após episódio de LRA.61

7. Conclusão

KDIGO definiu os conceitos de LRA e DRC recorrendo a valores de Crs, débito urinário

e TFG. Nos últimos anos, vários artigos originais e de revisão demonstraram a relação

bidirecional entre LRA e DRC, realçando-se um contínuo de doença desde o episódio de

LRA até DRC. Recentemente, o grupo ADQI propôs uma classificação em estadios da

DRA. A identificação de doentes com DRA, nomeadamente no estadio 0, enfatiza a

importância de elaboração de algoritmos estruturados, para doentes que após LRA não

apresentem DRC, à semelhança das guias de seguimento para doentes renais crónicos,

já existentes.

Limitações desta dissertação passam pela necessidade de demonstrar a

progressão de LRA em DRC, através dos critérios de causalidade de Hill. Além disso, é

19

fulcral o uso de conceitos uniformes, nomeadamente, de LRA e DRC à luz das guidelines

em vigor, KDIGO, bem como, de recuperação renal. Este último ponto é fundamental para

validar resultados de estudos que sugerem que a recuperação renal não deva ser avaliada

antes dos 6 meses.

Em suma, doentes com episódio de LRA apresentam risco de DRC, existindo

correlação com o número de episódios, severidade e duração. A adoção de medidas de

Medicina Preventiva é crucial, uma vez que nem todos irão ter acesso a consulta por

Nefrologistas. Futuramente, são necessários mais estudos sobre o complexo mecanismo

da fisiopatologia da progressão da LRA para DRC e seus intervenientes, nomeadamente

de, miRNAS e HIF, de modo a compreender o seu potencial benefício na terapêutica da

LRA e consequente, proteção para progressão para DRC.

20

8. APÊNDICE

Tabela I- Critérios RIFLE para LRA

RIFLE

Creatinina sérica (Crs)

Débito urinário

Risk

Aumento de 1,5x de Crs Ou

Diminuição de >25% da TFG

<0,5 mL/kg/ h x 6 horas

Injury

Aumento de 2x de Crs Ou

Diminuição de >50% da TFG

<0,5 mL/Kg/ h x12 horas

Failure

Aumento de 3x de Crs Ou

Diminuição de >75% da TFG Ou

Crs >= 4 mg/dl (com um aumento >= 0,5

mg/dL)

<0,3 mL/Kg/h x24horas OU

Anúria x 12 horas

Loss Persistência de Insuficiência renal aguda = perda de

função renal > 4 meses

End Stage Kidney Disease Insuficiência renal crónica terminal > 3 meses

Adaptado de Bellomo R et al. (2004)2.

Legenda: Creatinina sérica (Crs); taxa de filtração glomerular(TFG).

21

Tabela II- Critérios AKIN para LRA

AKIN

Estadio

Creatinina sérica (Crs)

Débito urinário

1 Aumento de 1,5x a 2,0x de Crs

OU Aumento de Crs >=0,3

mg/dl

<0,5 mL/kg por h > 6 horas

2 Aumento de 2,0x a 3,0x de Crs.

<0,5 mL/Kg por h > 12 horas

3 Aumento de > 3,0x de Crs Ou

Aumento de Crs >= 4,0 mg/dl (com um aumento agudo de pelo menos 0,5

mg/dL)

<0,3 mL/Kg por h em 24 horas

Ou Anúria em 12 horas

Iniciação de TSR.

Adaptado de: Mehta R et al. (2007). 3

Legenda: Creatinina sérica (Crs) ; terapêutica de substituição renal (TSR).

22

Tabela III – Critérios KDIGO para LRA

Adaptado de: KDIGO Acute Kidney Injury Work Group (2012).1

Legenda: Creatinina sérica (Crs); terapêutica de substituição renal (TSR).

KDIGO

Estadio

Concentração de

Creatinina sérica (Crs)

Débito Urinário

1 Crs 1,5- 1,9x nível Ou

Aumento Crs >= 0,3 mg/dl

<0,5 ml/kg/hr por 6-12 horas

2 Crs 2,0-2,9x < 0,5 ml/kg/hr por >= 12 horas

3 Crs 3,0x Ou

Aumento Crs >= 4,0 mg/dl Ou

Iniciação de TSR Ou

Em doentes <18 anos, decréscimo da TFG até < 35ml/min por 1,73 m2

< 0,3 ml/kg/hr por >= 24 horas

Ou Anúria por >= 12 horas

23

Tabela IV – Critérios KDIGO para DRC

Adaptado de: Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group.(2013).13

Legenda: Taxa de filtração glomerular (TFG); Prognóstico da DRC segundo categorias de TFG e albuminúria. Verde: baixo risco; Amarelo: risco moderadamente aumentado; Laranja: elevado risco; Vermelho: muito elevado

Categorias de albuminúria

A1

A2

A3

Normal a ligeiramente aumentado

Moderadamente aumentado

Severamente aumentado

Categorias de TFG(ml/min/1,73 m2) <30 mg/g <3 mg/mmol

30-300 mg/g 3-30 mg/mmol

>300 mg/g >30 mg/mmol

1 Lesão Renal com TFG normal ou aumentada

>= 90

2 Lesão Renal com decréscimo de TFG ligeira

60-89

3a Decréscimo ligeiro a moderado de TFG

45-59

3b Decréscimo moderado a severo da TFG

30-44

4 Decréscimo severo da TFG

15-29

5 Doença renal em estadio terminal

<15

24

Modificadores de doença:

✓ Severidade, duração da LRA

✓ Estadio da DRC ✓ Número de episódios ✓ Proteinúria

Figura 1 – LRA e DRC como síndromes interconectados

Adaptado de: Chawla L et al.(2014).9

Legenda: Lesão Renal Aguda (LRA) e Doença Renal Crónica (DRC) partilham fatores de risco e modificadores de doença. DRC pode-se desenvolver após LRA, sendo que DRC é um importante fator de risco para o desenvolvimento de LRA. LRA, DRC ou as duas patologias em conjunto podem contribuir para o aumento de patologias cardiovasculares, progressão no decréscimo de função renal e diminuição da qualidade de vida.

Fatores de risco

✓ Idade ✓ Raça ou grupo étnico ✓ Fatores genéticos ✓ Hipertensão arterial ✓ Diabetes mellitus ✓ Síndrome metabólico

Consequências

✓ Patologias cardiovasculares e renais( DRC Estadio 5)

✓ Redução da qualidade de vida

✓ Morte

Lesão

Renal

Aguda

Doença

Renal

Crónica

25

Tabela V- Critérios de Causalidade de Hill

Adaptado de: Hill (1965) 34e Rifkin D et al.(2012).35

Força de associação A força de associação pode tornar a relação de causalidade mais provável.

Consistência A associação pode ser replicada, por vários autores, em vários estudos em diferentes locais e circunstâncias.

Especificidade Uma única causa produz o efeito, sem outros mecanismos explicativos.

Temporalidade A causa (exposição) deve preceder o efeito (doença).

Gradiente dose-resposta O aumento da exposição correlaciona-se com a incidência e magnitude do efeito.

Plausibilidade A associação está de acordo com a biologia e patologia à luz dos conhecimentos atuais.

Coerência A associação estabelecida não deve divergir com os conhecimentos da história natural e biologia da doença.

Experimentação Com base em estudos experimentais, pode-se averiguar se a relação de associação pode ser prevenida ou mitigada.

Analogia O efeito de fatores semelhantes pode ser considerado noutras populações.

26

Tabela VI - Recomendações do grupo ADQI dos estadios de DRA

Adaptado de: Chawla L et al.(2017). 4

Legenda: Creatinina sérica (Crs); terapêutica de substituição renal (TSR).

Estadio 0

Estadio 0A Ausência de critérios B ou C- Sem evidência de

lesão ou perda de função renal, após episódio de

LRA.

Apresentam risco para eventos a longo prazo.

Estadio 0B Níveis de Crs regressaram ao basal.

Apresentam evidência

de lesão renal contínua, reparação e/ou

regeneração ou perda de reserva renal.

Estadio 0B/C Níveis de Crs não regressaram ao basal.

Apresentam evidência

de lesão renal contínua, reparação e/ou regeneração.

Estadio 0C Crs elevados mas < 1,5x.

Estadio 1 Níveis de Crs 1,5 a 1,9x

Estadio 2 Níveis de Crs 2,0 a 2,9x

Estadio 3 Níveis de Crs 3,0x Ou

Aumento de pelo menos 4,0 mg/dL

Ou Necessidade de TSR

27

Tabela VII- Guia da frequência de monitorização (número de vezes por ano), segundo TFG e categoria de albuminúria.

Categorias de albuminúria

A1

A2

A3

Normal a ligeiramente aumentado

Moderadamente aumentado

Severamente aumentado

Categorias de TFG(ml/min/1,73 m2) <30 mg/g <3 mg/mmol

30-300 mg/g 3-30 mg/mmol

>300 mg/g >30 mg/mmol

1 Lesão Renal com TFG normal ou aumentada

>= 90 1 se DRC

1 2

2 Lesão Renal com decréscimo de TFG ligeira

60-89 1 se DRC 1 2

3a Decréscimo ligeiro a moderado de TFG

45-59 1 2 3

3b Decréscimo moderado a severo da TFG

30-44 2 3 3

4 Decréscimo severo da TFG

15-29 3 3 4+

5 Doença renal em estadio terminal

<15 4+ 4+ 4+

Adaptado de: Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group.(2013) 13

Legenda: taxa de filtração glomerular (TFG); A coloração representa o risco de progressão por intensidade.

28

Tabela VIII- Guia para referenciação para nefrologia segundo TFG e albuminúria

Categorias de albuminúria

A1

A2

A3

Normal a ligeiramente aumentado

Moderadamente aumentado

Severamente aumentado

Categorias de TFG(ml/min/1,73 m2) <30 mg/g <3 mg/mmol

30-300 mg/g 3-30 mg/mmol

>300 mg/g >30 mg/mmol

1 Lesão Renal com TFG normal ou aumentada

>= 90

Monitorização Referenciação*

2 Lesão Renal com decréscimo de TFG ligeira

60-89 Monitorização Referenciação*

3a Decréscimo ligeiro a moderado de TFG

45-59 Monitorização Monitorização Referenciação

3b Decréscimo moderado a severo da TFG

30-44 Monitorização Monitorização Referenciação

4 Decréscimo severo da TFG

15-29 Referenciação* Referenciação Referenciação

5 Doença renal estadio terminal

<15 Monitorização Referenciação Referenciação

Adaptado de: Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO) CKD Work Group. (2013).13

Legenda: taxa de filtração glomerular (TFG); Asterisco(*) representa as situações em que os clínicos podem discutir com o serviço de nefrologia dependendo, dos acordos locais, para monitorização e referenciação.

29

Figura 2- Proposta de algoritmo de seguimento de doentes com LRA estadio 2-3,

após hospitalização.

Adaptado de : Kirwan C et al. (2015)58 e Göcze I et al. (2017)46

Legenda: Lesão Renal Aguda (LRA); Terapêutica de Substituição Renal (TSR); Doença Renal

Crónica (DRC); Compromisso renal significativo definido por Creatinina sérica (Crs) superior a 2

mg/dl ou Taxa de filtração glomerular (TFG) <60 mL/min/1,73 m2; Reavaliação médica da função

renal deve incluir medição da creatinina sérica Crs. TFG e proteinúria.

Admissão hospitalar por

LRA estadio 2-3/ TSR durante hospitalização

Compromisso renal significativo

Sim

Medição de Crs dentro de

2-4 semanas

Seguimento por Nefrologista

Frequência do seguimento de acordo com decisão

clínica

Seguimento de episódio de

LRA

Reavaliação médica

Não

Seguimento de episódio de LRA

3 meses após a alta

Função renal estável

Não

Reavaliação médica

Seguimento por

Nefrologista

Seguimento de episódio

de LRA

Reavaliação médica

Seguimento de episódio

de LRA

Sim

Reavaliação médica entre 6 a 12 meses após

DRC estadio

4-5

Reavaliação médica

Seguimento por Nefrologia

Seguimento de episódio de LRA

Reavaliação médica

DRC 1-3

Cuidados de Saúde Primários

Sem DRC

Doentes em risco

Aquando alta hospitalar medição de: Crs,TFG e proteinúria

30

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